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 O uso de mapas conceituais no processo de pesquisa de Moda – Uma análise metodológica dos Cadernos de Inspirações para o Design de Moda. The use of concept maps in the process of fashion research – A methodological analysis of Trends Books for the fashion design. MOREIRA MONÇORES, Aline Mestre em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Palavras chaves: moda, tendências, mapas c onceituais. Resumo: O presente artigo pretende descrever a experiência do uso de mapas conceituais no processo de pesquisa para a identificação de tendências de curto e médio prazo em comportamento de consumo em moda, e a proposta destes como uma ferramenta metodológica de apoio à construção de Cadernos de Inspirações. Key words: fashion, trends, concept maps.  Abstract: The present article intends to describe the experience with the use of conceptual maps in the process of fashion research for identification trends of short and average stated period in consumption behavior, and to consider these as a methodological tool of support to the Trends Books. Introdução Atualmente os departamentos de desenvolvimento de produtos nas indústrias ligadas ao setor de Moda preocupam-se em atingir os desejos de seus consumidores e compreender os hábitos, a formação de grupos, os gostos e os movimentos culturais dos quais estes consumidores são adeptos. Porém, ao mesmo tempo, estas empresas do mercado de Moda buscam ampliar mercados, imprimir “identi dade” ao produto, diversificar a produção, “personalizar a marca”, entre outros. Todas estas exigências contribuem para que o Departamento de Design de Moda (ou desenvolvimento de produto) seja fortalecido como um setor estratégico na empresa, assim, as informações e diretri zes adotadas em relação ao produto são, cada vez mais, alvo da atenção empresarial. O departamento de Design tornou-se, portanto, um centro criativo onde as estratégias empresariais são traduzidas em produto. Isto exige da equipe de trabalho um domínio maior das técnicas de estímulo à criatividade, da capacidade de in vestigação, da análise e da interpretação de i nformações que possam exercer influência sobre o mercado, o c onsumidor, o produto ou a empresa em que atuam. Este trabalho criativo em geral precisa ser orientado, ou seja, a criação livre e abstrata passa a perder espaço para uma criação focada, com objetivos finais claros, que é alimentada por uma base de dados. Esta base de dados, por sua vez, requer um levantamento e uma análise criteriosa que privilegie a inovação. Entretanto, o trabalho com a criatividade orientada não busca limitar o criador, ou mesmo, tolher seus ímpetos, apenas guiá-lo na tentativa de alcanç ar o seu objetivo final (que, geralmente, trata-s e do desenvolvimento de um “novo” 1  produto ou linha de produtos). Todas estas etapas, do levantamento de dados até a execução seriada de um produto demandam “tempo”, o que a maioria das empresas não possuem. Também se faz necessário reunir o máximo de “inteligência” 2  apresentada pelo grupo envolvido com o processo de criação. O que se quer dizer aqui é que, em muitos casos, o grupo apresenta grande potencial de inovação devido ao repertório individual dos envolvidos, porém, existe, em geral, uma dificuldade em apreender e convergir este potencial individual para um fim comum de modo a favorecer o grupo ou o trabalho a ser executado.

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O uso de mapas conceituais no processo de pesquisa de Moda – Uma análise metodológica dosCadernos de Inspirações para o Design de Moda.

The use of concept maps in the process of fashion research – A methodological analysis of Trends Books for the fashion design.

MOREIRA MONÇORES, AlineMestre em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Palavras chaves: moda, tendências, mapas conceituais.

Resumo:O presente artigo pretende descrever a experiência do uso de mapas conceituais no processo de pesquisa para aidentificação de tendências de curto e médio prazo em comportamento de consumo em moda, e a proposta destes comouma ferramenta metodológica de apoio à construção de Cadernos de Inspirações.

Key words: fashion, trends, concept maps.

 Abstract:

The present article intends to describe the experience with the use of conceptual maps in the process of fashionresearch for identification trends of short and average stated period in consumption behavior, and to consider these as

a methodological tool of support to the Trends Books.

IntroduçãoAtualmente os departamentos de desenvolvimento de produtos nas indústrias ligadas ao setor de Modapreocupam-se em atingir os desejos de seus consumidores e compreender os hábitos, a formação de grupos,os gostos e os movimentos culturais dos quais estes consumidores são adeptos. Porém, ao mesmo tempo,estas empresas do mercado de Moda buscam ampliar mercados, imprimir “identidade” ao produto,diversificar a produção, “personalizar a marca”, entre outros. Todas estas exigências contribuem para que oDepartamento de Design de Moda (ou desenvolvimento de produto) seja fortalecido como um setorestratégico na empresa, assim, as informações e diretrizes adotadas em relação ao produto são, cada vezmais, alvo da atenção empresarial.

O departamento de Design tornou-se, portanto, um centro criativo onde as estratégias empresariais sãotraduzidas em produto. Isto exige da equipe de trabalho um domínio maior das técnicas de estímulo àcriatividade, da capacidade de investigação, da análise e da interpretação de informações que possam exercerinfluência sobre o mercado, o consumidor, o produto ou a empresa em que atuam. Este trabalho criativo emgeral precisa ser orientado, ou seja, a criação livre e abstrata passa a perder espaço para uma criação focada,com objetivos finais claros, que é alimentada por uma base de dados. Esta base de dados, por sua vez, requerum levantamento e uma análise criteriosa que privilegie a inovação. Entretanto, o trabalho com a criatividadeorientada não busca limitar o criador, ou mesmo, tolher seus ímpetos, apenas guiá-lo na tentativa de alcançaro seu objetivo final (que, geralmente, trata-se do desenvolvimento de um “novo”1 produto ou linha deprodutos).

Todas estas etapas, do levantamento de dados até a execução seriada de um produto demandam “tempo”, oque a maioria das empresas não possuem. Também se faz necessário reunir o máximo de “inteligência” 2 apresentada pelo grupo envolvido com o processo de criação. O que se quer dizer aqui é que, em muitoscasos, o grupo apresenta grande potencial de inovação devido ao repertório individual dos envolvidos,porém, existe, em geral, uma dificuldade em apreender e convergir este potencial individual para um fimcomum de modo a favorecer o grupo ou o trabalho a ser executado.

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Foi justamente mediante a uma situação semelhante à descrita acima: falta de tempo, a necessidade deatender novas demandas3 e reunir de forma proveitosa o máximo de inteligência do grupo que o mapaconceitual foi utilizado no processo de pesquisa de Moda do caso a ser analisado a seguir.

-O Caderno de InspiraçõesO Caderno de Inspirações4, que tomo como estudo de caso, surgiu no ano de 1985 com o objetivo de setornar um material de consulta e apoio para os confeccionistas no desenvolvimento de produtos de Moda.Após diversas modificações, hoje sua apresentação gráfica e o seu conteúdo informativo buscam traçar umperfil do mercado contemporâneo e a identificar quais as influências do mesmo sobre a Moda e suasmanifestações. Procura, através de uma re-interpretação, adaptar formas e conceitos ao mercado nacional.

O conteúdo informativo do Caderno tem como proposta estimular o designer de Moda a montar panoramasvirtuais5 com foco em determinado segmento de mercado. Para tanto, o Caderno procura reunir umferramental teórico e iconográfico de diversas áreas do design, passando pela Arte e até questões sociais.

O Caderno de Inspirações hoje é composto por: textos (de apresentação e temáticos), imagens que formamambientes conceituais (também chamadas de ambiências), desenhos técnicos de peças do vestuário, desenhosartísticos, dicas para o leitor aprofundar a pesquisa (chamado de “saiba mais”), além da citação das fontes

pesquisadas (bibliografia). Suas abordagens temáticas fazem uso da cultura nacional como pano de fundo, ouenredo, permitindo a apresentação de tendências de Moda e consumo, ditas globais, em uma linguagemregional.

-Os Mapas ConceituiasConforme mencionado anteriormente, foi devido a um impasse do grupo que desenvolve o Caderno deInspirações em reunir idéias em prol de um objetivo comum que foi adotado o uso dos mapas conceituais. Aequipe, composta por seis profissionais atuantes em diferentes áreas da Moda6 foi designada para reformulara metodologia utilizada no desenvolvimento de pesquisa da publicação.Porém, mesmo com exaustivasreuniões a equipe não conseguia chegar a um consenso sobre a nova metodologia a ser adotada.

Vendo a dificuldade que a equipe enfrentava em definir uma nova linha de trabalho, a diretoria da empresaconvocou profissionais de outros setores a contribuírem no processo de identificação de possíveis

alternativas que fossem satisfatórias à instituição e ao grupo. Após algumas tentativas fracassadas, o grupofoi apresentado aos mapas conceituais por um profissional da área de engenharia. Apesar do estranhamentoinicial, a ferramenta pareceu interessante e adequada a complexidade do trabalho.

Os Mapas Conceituais (ou Mentais) foram desenvolvidos por Joseph Novak, da Universidade de Cornell, nadécada de 70, que teve como base a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel. O conceito principalutilizado por Novak é que a “aprendizagem é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona de

maneira substantiva (não literal) e não arbitrária a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do

indivíduo” (MOREIRA, 1983). Sendo assim, o mapa se apresenta como um recurso gráfico que permite“visualizar a estrutura e as interligações entre os conceitos de um certo domínio de conhecimento ou entreum conjunto de informações” (BRUNO e FELIPECKI, 2005).

Os mapas (e sua representação gráfica) são construídos pelos indivíduos, à mão ou virtualmente, neles são

expressos idéias, conceitos ou questões por meio de desenhos ou palavras, que são hierarquizados einterligados de acordo com os critérios de relevância do executor. Estas interligações e hierarquiasestabelecidas descrevem o sentido das relações existentes entre cada item, ainda na visão do executor domapa. Ao final, temos uma imagem que representa os conhecimentos ou as questões do indivíduo executorsobre um determinado tema, ou seja, visualizamos o seu “modelo” conceitual sobre determinado assunto.

No caso que este artigo analisa o modelo de mapa conceitual utilizado é o “orientado”, que segue algunspassos pré-definidos: durante a construção do mapa os executores são orientados para estabelecerem erepresentarem no mapa uma idéia ou questão central que será o assunto abordado pelo mapa. Logo a seguir,os executores são sugeridos a estabelecerem, segundo seus critérios, os pontos secundários relativos àquestão central. Este processo de identificação de graus de importância chegará até a fase de descrição das

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atividades existentes ou requeridas para que o tema central do mapa possa ser atingido, implementado,melhorado, etc. Com a imagem finalizada é possível realizar uma leitura na qual identificamos a cadeia devalor dos indivíduos e do grupo (a partir da análise das similaridades e oposições).

Este exercício permite aos indivíduos explicitarem seus conhecimentos prévios, registrarem e relacionaremos diversos conjuntos de idéias que surgem simultaneamente e a sintetizar informações. Além disso, podeestimular a memória, pode servir como apoio no desenvolvimento de estruturas complexas (como textoslongos, web sites, hipertextos e outros), facilitar a interação em projetos cooperativos, viabilizar a gerênciade conhecimentos em equipes, diagnosticar dificuldades e estimular a criatividade7.

-A Pesquisa A pesquisa que era desenvolvida para a publicação “Caderno de Inspirações” tem como base principal aconsulta em periódicos, web sites, livros, material técnico e m monitoramento de eventos (específicos deModa ou representativos quanto a novos comportamentos sociais). Contudo, o que se observou é que haviauma grande dificuldade em reunir e, principalmente, analisar tantos dados em prazos satisfatórios à demandaapresentada pela Instituição que a desenvolve. Outro ponto crítico é que o conhecimento adquirido durante operíodo de levantamento de dados por cada pesquisador acabava sendo parcialmente perdido na segunda fasedo trabalho (de análise e interpretação das informações). Pois, era difícil apresentar argumentos de defesa

dos itens considerados relevantes diante da quantidade e diversidade do material levantado.A segunda etapa do trabalho consistia exatamente, em redistribuir e agrupar por afinidades estas informaçõesa partir de critérios estabelecidos, gerando grupos temáticos. Estes grupos ainda apresentavam um volumeconsiderável de dados o que fazia com que a equipe descartasse os dados que ainda não haviam passado poruma análise prévia, ou mesmo, que pareciam não serem relevantes, apesar de previamente selecionados.Todavia, alguns destes dados descartados apresentavam-se primordiais após o avanço das etapas de trabalhoe com o passar do tempo, ou seja: quando o trabalho já se aproximava das etapas finais. Nesse momento, aspossibilidades de alteração do formato proposto do trabalho eram mínimas, pois o produto (Caderno deInspirações) já se encontrava em desenvolvimento por terceiros ou em acabamento final.

Diante destes problemas operacionais, resolvemos adotar o modelo de mapas conceituais para a execução daatividade de pesquisa em uma tentativa de minimizar erros e ganhar corpo qualitativo no conteúdo das

informações8

. Entretanto, a equipe mostrou-se resistente ao uso da nova ferramenta, considerando-ainadequada ao trabalho. Diante deste fato, deu-se início a uma investigação das prováveis razões destarecusa, junto à coordenação do projeto editorial. Acabamos por concluir, que este comportamento eraprovocado, principalmente (não considerando questões pessoais), pelo estilo gestor da Instituição que,informalmente, normaliza padrões de comportamento. E isto acaba por desencorajar novas atitudescomportamentais dos indivíduos contribuindo para uma postura de resistência ao novo em diversas esferasda corporação.

O artigo não pretende com isso, entrar em uma discussão sobre comportamento humano, sociologia dotrabalho ou psicologia nas organizações. O estudo apenas busca evidenciar uma característica que é comumhá muitas empresas e, que, em instituições de ensino e pesquisa, como o caso analisado aqui, podem gerarbarreiras que comprometem a execução de projetos. Por coincidência, a referida instituição passava porreformulações nas análises de seus recursos humanos e de sua postura diante deles, pretendendo, a médio e

longo prazo, alcançar um perfil "empreendedor" na organização9. Segundo Dolabela (1999), um"empreendedor" é o sujeito capaz de identificar um objeto de interesse, de entendê-lo, de detectaroportunidades, focar de modo diferente suas ações, imaginar e definir um contexto e, sobretudo, planejar.Assim, segundo Bruno e Felipecki, "quanto melhor a imaginação de uma pessoa, mais efetivo será o plano

que poderá produzir ".

Levando-se em consideração que imaginação está diretamente associada ao ato criativo e, que, o ato criativoé base para o desenvolvimento de novos produtos e processos no design, concluímos que planejar é umaação criativa. Isto significa dizer que desenvolver projetos em design seja qual for a área (moda, gráfico,web...), é uma ação que envolve simultaneamente abstração e imaginação com análise e experimentação. E,foi por este viés que o uso dos mapas mentais nos pareceu adequado, além do mais, os mapas são conhecidos

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como uma "ferramenta analítica", logo contribuiriam ao principal problema da equipe: a análise de umgrande volume de informações.

Outro ponto relevante para compreensão da importância do experimento de novos métodos de análise einterpretação de tendências para o campo da Moda, é o fato de que "hoje a entendemos (a moda) como

cultura" e "o grande movente dos estudos, em todos os níveis, é o trabalho com a interdisciplinaridade "10, amobilidade e a noção de rede. Pois atualmente, criar produtos em moda não é apenas estudar formas ouponderar usabilidades, mas sim traduzir o contemporâneo e, quiçá, novas configurações sociais em objetosconsumíveis, e desejáveis. E, finalmente, a palavra tendência precisa deixar de ser vista como um sinônimode "adivinhação" para tornar-se um mecanismo de estudo para a formação de cenários prospectivos, já que, éimportante para todo o campo do design.

Seguros, então, da possibilidade de êxito com a ferramenta, optou-se por uma nova abordagem junto àequipe. O grupo foi dividido segundo suas especialidades e assim, as tarefas relativas ao material gráficoforam redistribuídas. A partir de então, o mapa conceitual foi aplicado com as três pessoas que ficaramresponsáveis pelo alinhamento conceitual da pesquisa. Em resumo, a estrutura de trabalho foi remodelada,conforme abaixo:

- todo o grupo pesquisou informações gerais (seis pessoas).-cada pesquisador identificou o que era relevante dentro das informações gerais que foram encaminhadaspara o grupo de alinhamento conceitual.- O grupo de alinhamento conceitual, foi constituído por três profissionais (uma socióloga, uma designer euma psicóloga).

Após a leitura do material recebido, cada integrante do grupo de alinhamento conceitual foi convidado ainiciar a execução de um primeiro mapa, levando em consideração tudo o que haviam lido e o que, em suasopiniões, era mais significativo. Foram orientadas a considerarem questões amplas como: novas formataçõessociais, mudanças de valores e pesquisas científicas que pudessem implicar no comportamento humano.Essas diretrizes foram escolhidas em conjunto, de acordo com o conceito conhecido como Macro-tendências11. Cada profissional executou o mapa em um ambiente diferente, sem haver a troca deinformações entre ambas.

O terceiro passo tomado foi a comparação dos mapas. Visto que todas leram o mesmo material pré-analisadopelo grupo anterior, o que se pôde verificar foi a grande semelhança entre as imagens. Os temas centrais esub-temas apresentavam poucas diferenças e se desenvolviam de modo similar. Este resultado fez com quenovos mapas fossem desenvolvidos, porém com outras abordagens, procurando esmiuçar as atividadessubseqüentes.

O primeiro resultado percebido após a mudança no processo de análise das informações, foi a nítida reduçãode tempo. A etapa de análise, que era executada no prazo de quinze a vinte dias Útil de trabalho, em geral,com o uso dos mapas teve seu tempo reduzido para no máximo dez dias. O segundo resultado, foram asinter-relações entre a,s diferentes temáticas. Assuntos antes considerados irrelevantes ganharam força esignificado por que estavam presentes nas linhas de interligação de duas ou mais temáticas principais,passando a serem considerados temas de fundo ou sustentação, responsáveis por determinada estrutura da

rede de conhecimento do mapa.

E por fim, a similaridade das imagens conceituais dos mapas evidenciou que apesar das diferenças nasabordagens de cada pesquisador todos entendiam as mesmas temáticas como relevantes ou de importânciaconsiderável. Este fato mostrou para a equipe que havia sim um alinhamento ideológico que não eraevidenciado por meio das explanações e dos textos. Em suma, todos queriam chegar ao mesmo fim, porém,por caminhos tão distintos que acabavam por criarem conflitos e uma falsa impressão de terem objetivosopostos dificultando a comunicação e o entendimento entre o grupo.

O que se conclui, após um levantamento de informações em algumas publicações, sobre o assunto"tendência" é que o estudo no campo da moda ainda é fortemente baseado no conhecimento empírico e que

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poucas abordagens metodológicas foram feitas sobre este assunto. Assim, os profissionais que lidam comesta atividade pouco experimentam novas formas de análise, interpretação, comprovação e validação doestudo. Isto contribui para difundir uma visão superficial sobre o tema ("tendência") relacionando-o,comumente, a uma técnica de "adivinhação" sistematizada.

Entretanto, é importante pensar que por integrarmos uma sociedade baseada no consumo precisamos buscarlinhas conceituais que possam orientar o trabalho dos designers com foco no mercado futuro e que isto é, nãosó, um fator de diferenciação como também uma ferramenta estratégica para o posicionamento de marcas eprodutos a médio e longo prazo. Sendo assim, o artigo entende que divulgar a experiência com os mapasmentais é a possibilidade de permitir a reflexão sobre esta e outros meios de pesquisar e analisar informaçõesque possam servir de base para projetos de designo É, também, uma contribuição para desmistificarmos omundo das "tendências". Pois, pesquisar tendências é uma atividade importante que permite "repensar, emnossos estudos e pesquisas de moda, as necessidades sociais, as estratégias culturais e de mercado, aidentidade do produto, a identidade da marca e dos ambientes que a marca freqüenta " (CASTILHO eMARTINS,2005).

Notas

1

“Novo” aqui não é entendido como algo inédito, necessariamente, mas sim como algo que carrega traços inovadorespara um determinado mercado, grupo de consumidores ou empresa.2 Inteligência aqui significa um repertório individual dos componentes da equipe de trabalho que seja de contribuiçãoqualitativa ao todo do processo de pesquisa e análise das informações coletadas.3 Principalmente as relativas ao entendimento do consumidor de Moda.4 O nome completo da publicação é “Caderno de Inspirações para o Design de Moda – SENAI CETIQT”.5 Abstrações que levam a criação de ambientes mentais que são sugeridos através d epalavras e imagens contidas noCaderno.6 A equipe possui: uma socióloga, uma artista plástica, uma psicóloga e duas designers de Moda, sendo uma delasespecializada em padronagem e estamparia. Todas com ampla experiência em Moda.7 BRUNO e FELIPECKI, 2005.8 É importante ressaltar que o produto, apesar de ser fruto de um trabalho de pesquisa, tem um fim comercial e prático:ele precisa ser vendido a profissionais do setor de moda que trabalham com criação e desenvolvimento de produto e,para tanto, precisa ter um alto nível de credibilidade em suas informações, pois será usado como ferramenta de apoio napesquisa destes profissionais do mercado.9Este objetivo institucional para o presente artigo serve apenas como confirmação de que as atitudes de "resistência aonovo" eram já normalizadas pelos seus membros.10 CASTILHO e MARTINS, 2005.11 Mais informações em CALDAS, 2004 e VINCENT-RICARD, 1989.

Bibliografia

BAXTER, M. Projeto de Produto: guia prático para o projeto de novos produtos. São Paulo: EdgardBlucher, 2000.BRANNON, E. L. Fashion Forecasting . New York: Fairchild Publications, 2005 BRUNO, F. S. E FILIPECKI, A. T. P. Identificação de barreiras organizacionais ao desenvolvimento decompetências intra-empreendedoras, In: Rio de Janeiro: Revista Inteligência Empresarial, VoI. 2, p. 24 a37 2005.CALDAS, D. Observatório de Sinais: teoria e prática da pesquisa de tendências. Rio de Janeiro: Senac

Rio, 2004.CASTILHO, K. E MARTINS, M.M. Discursos da Moda, semiótica e Design. São Paulo: AnhembiMorumbi, 2005.DAVIS, M. A Nova Cultura do Desejo. São Paulo: Record Editora, 2003.DESCHAMPS, J. F., NA Y AK, P. R. Produtos Irresistíveis. São Paulo: Makron Books, 1999.DOLABELA, F. Oficina do empreendedor: a metodologia de ensino que ajuda a transformarconhecimento em riqueza. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.LIPOVETSKY, G. O Império do Efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.MOREIRA, M.A. Uma abordagem cognitivista ao ensino da Física: a teoria de aprendizagem de DavidAusubel como sistema de referência para a organização do ensino de ciências. Porto Alegre: Editora daUniversidade, UFRGS, 1983.

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PERNA, R. Fashion Forecasting: a mystery or a method?. New York: Fairchild Publications, 1987.VINCENT-RICARD, F. As espirais da Moda. São Paulo: Paz e Terra, 1989.VINKEN, B. Fashion Zeitgeist: trends and cycles in the fashion system. New York: Berg, 2005.

Autor

Aline Moreira Monçores - alinemor2(@,yahoo.com.br ou [email protected]