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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · paralisia cerebral ou encefalopatia crônica infantil sugerida por Freud ... Em geral, está relacionada a lesões no cérebro

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O Ensino De Ciências Na Busca De Diferentes Alter nativas

Avaliativas Para Incluir As Diferenças: estudo de caso

Autora: Iraquel Ribeiro¹

Orientadora: Profª. Drª Maria Silvia Bacila Winkeler²

RESUMO

Este artigo discute a avaliação de um estudante com paralisia cerebral na área de Ciências, matriculado no 7º ano do ensino fundamental. O mesmo decorre de uma pesquisa exploratória e descritiva que buscou através de um estudo de caso, analisar o processo de aquisição de conhecimentos pelo aluno e suas dificuldades acadêmicas no processo ensino-aprendizagem diante dos conteúdos desenvolvidos em sala. A partir daí, então, cogitou-se a possibilidade de elaborar estratégias avaliativas que possibilitassem ao educando atingir suas metas na disciplina de Ciências. Para a coleta de dados usou-se os seguintes instrumentos de pesquisa:1) Análise da documentação escolar e particular do aluno; 2) entrevista com os responsáveis pelo aluno; 3) questionários direcionados à equipe pedagógica, gestor e professores; 4) análise do material didático do aluno; 5) observação do aluno em sala. A metodologia escolhida foi a do portfólio de aprendizagem. Os resultados revelaram que algumas das dificuldades enfrentadas pelo aluno em sala de aula são decorrentes de sua deficiência físico-motora e não cognitiva necessitando portanto, de um olhar mais apurado por parte dos profissionais que o atendem. Outro aspecto determinante foi a necessidade do coletivo escolar estar melhor orientado e capacitado para saber lidar com as “diferenças”, através de parcerias com outras áreas da saúde como ( psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia etc...) e tecnológica, para assim, poderem desenvolver um trabalho pedagógico de qualidade voltado à real necessidade do aluno, pois essa é uma tarefa de toda sociedade e não somente da educação.

Palavras-chave: Aprendizagem. Avaliação. Conhecimento. Dificuldades. Paralisia Cerebral.

______________________

¹ Professora da disciplina de Ciências da Rede Estadual de Ensino do Parará, participante do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE – 2013).

² Orientadora do PDE – 2013. Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Curitiba-Paraná.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo constitui parte de uma pesquisa qualitativa e exploratória

realizada no âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. A

mesma contemplou o Projeto de Intervenção Pedagógica, a Produção Didático-

Pedagógica, a Implementação do Projeto no Colégio e o GTR- Grupo de Trabalho

em Rede.

A pesquisa relatada faz parte de um estudo de caso, cuja finalidade é

entender como avaliar na disciplina de Ciências um aluno com Paralisia Cerebral.

A mesma dividiu-se em duas etapas: A primeira tendo como objetivos: 1) analisar a

documentação escolar do aluno para obter informações precisas sobre suas

necessidades e limitações acadêmicas e físicas; 2) obter informações precisas

sobre o educando, seu desenvolvimento cognitivo, emocional, escolar, familiar e

social. A segunda etapa teve como objetivos a confecção de um caderno e um

portfólio de aprendizagem para: 1) analisar quais conteúdos de Ciências poderiam

ser introduzidos no currículo do aluno com PC; 2) saber que recursos seriam

necessários para favorecer a sua aprendizagem; 3) definir qual a função do

professor de Ciências neste processo de aprendizagem; 4) descobrir quais os

limites de aprendizagem na disciplina de Ciências para o aluno PC ou ECINP.

Utilizou-se como instrumento de pesquisa a leitura de documentos citados

nos objetivos da primeira etapa, assim como análise do material didático do aluno e

observação comportamental do mesmo em sala durante as aulas. Através da

pesquisa percebeu-se a importância do coletivo escolar estar de fato preparado

com (materiais pedagógicos, informações, capacitações, apoio de especialistas etc )

para o recebimento de alunos com necessidades educativas especiais. Contribuíram

para a fundamentação da pesquisa autores como Carvalho (2008); Farrell (2008);

Gil, (1946); Israel, 2010; Leite e Prado, 2004 (caracterização da paralisia cerebral

como deficiência físico-motora); Edler, 2008; Pan, 2008; Stainback e Stainback,

1947 (suportes teóricos na questão da inclusão) e outros que muito colaboraram

com o acervo de conhecimentos e a realização da pesquisa aqui relatada.

2. DEFICIÊNCIA X NECESSIDADE EDUCATIVA ESPECIAL

O processo de inclusão deve estender-se a todos os educandos com ou

sem deficiência. Os envolvidos neste processo devem aprimorar conceitos e

conhecer características referentes aos mesmos, evitando assim preconceitos pré-

estabelecidos. É preciso lembrar que nem toda criança com deficiência tem

necessidade educativa especial, assim como nem todo aluno com necessidade

educativa especial possui uma deficiência. A deficiência não constitui a criança

como um todo.

De acordo com o (Decreto 5.296/2004)

Art. 4º - Deficiência física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.

No Decreto nª 3.298 de 1999 da legislação brasileira, deficiência é

Art. 3…: - Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I - Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

Segundo os PCN (BRASIL,1998) o termo necessidade educativa especial

somente se refere a dificuldades de aprendizagem.

3. INCLUSÃO E ENSINO REGULAR

No Brasil, desde a década de 90, busca-se cumprir o que diz a lei quanto à

colocação de todas as crianças com ou sem deficiência na rede regular de ensino. A

lei (9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, prevê:

Art. 4o III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino.

Mas, incluir é muito mais que simplesmente cumprir leis. A inclusão requer

além da garantia de permanência no ambiente escolar, também o direito aos

recursos dos quais o educando necessita para ter acesso ao conhecimento.

[...] colocar crianças com necessidades especiais na escola regular apenas para que a Lei seja cumprida é uma atitude intolerável. E não há garantia para que a educação inclusiva não se torne tão ou mais excludente que a educação exclusiva praticada fora da escola regular (PAN, 2008. p. 19 ).

Os alunos com necessidades educativas especiais precisam de um

aprendizado que não se restrinja somente a parte acadêmica , mas que seja capaz

de conduzi-los ao alcance do domínio das barreiras que os impedem de levar uma

vida mais humana e digna de ser vivida, garantindo-lhes autonomia, sucesso e

respeito as suas potencialidades e necessidades.

Segundo (NOVAES, 1970) aprendemos não só para saber ou ter

conhecimento de certos fatos, mas, sobretudo, para nos adaptarmos e ser inserido

ao meio.

4. PARALISIA CEREBRAL

4.1 Definição

Patologia descrita em 1843 por William John Little ao estudar crianças com

quadro de espasticidade.

Com a utilização de termos diferentes ao longo do tempo as definições de

paralisia cerebral ou encefalopatia crônica infantil sugerida por Freud em 1897,

sofreram diversas variações advindas de vários autores.

Israel e Bertoldi (2010, p.77) “consideram a paralisia cerebral ou

encefalopatia crônica não progressiva, como uma das causas comuns de

deficiência físico- motora que mais prejudica a relação da criança com o meio”.

Segundo Leite e Prado 2004, p. 41) a definição mais adotada pelos

especialistas é de 1964 que caracteriza a PC como “um distúrbio permanente,

embora não invariável, do movimento e da postura, devido a defeito ou lesão não

progressiva do cérebro no começo da vida.”

Para eles a paralisia cerebral designa “um grupo de afecções do sistema

nervoso central (SNC) da infância, não progressivo e que apresenta distúrbios

ligados a motricidade. É caracterizada por alteração dos movimentos controlados ou

posturais dos pacientes, devido a uma lesão, danos ou disfunção do SNC, não

sendo considerado doença progressiva ou degenerativa”.

4.2 Etiologia e Causas

As encefalopatias crônicas da infância diferem nas etiologias e quadros

clínicos mas, apresentam em comum o dano crônico causado ao sistema nervoso

central das crianças. Entretanto, existem pacientes em que as afecções se

agravam lenta e rapidamente e outros onde há tendência à regressão espontânea,

maior ou menor, com o passar do tempo.

Dentre as causas mais comuns estão as provenientes de fatores: perinatais:

durante o parto por redução ou falta de oxigênio; Pós-natais: queda, afogamento,

febre alta(≥39ºc), meningite, trauma, envenenamento, entre outras.

4.3 Sintomas

Os mais observados são: perda de controle dos movimentos e atividade

reflexa aumentada; alcance limitado de movimentos; pernas rígidas e/ou imóveis;

controle insuficiente da cabeça; dificuldade de articulação; epilepsia ( afetando cerca

de um terço das crianças com paralisia cerebral ); problemas de percepção visual.

4.4 Incidência

Nos países desenvolvidos a incidência de quadros de encefalopatias

moderadas e severas variam de: 1,5 a 2,5 por 1000 nascidos vivos, e no geral,

incluindo todas as formas, 7:1000. Calcula-se que haja cerca de 2/1000 crianças em

idade escolar freqüentando centros de reabilitação nos países desenvolvidos. Na

Inglaterra, admite-se a existência de 1,5/1000 pacientes. Nos EUA, de 550 a 600 mil

pacientes com aumento de 20 mil novos casos a cada ano. E no Brasil, por falta de

estudos conclusivos, calcula-se que exista uma incidência elevada devido aos

poucos cuidados com as gestantes.

4.5 Tipos de Padrões de Movimento e Tônu s

Segundo Leite e Prado (apud ISRAEL, 2004. p.78-79) a paralisia cerebral da

criança pode ser:

• Espástica: quando apresenta rigidez ao movimento; tende a desenvolver

deformidades ósseas porque o músculo espástico não tem crescimento

normal. No total, cerca de 75% de pessoas com PC apresentam esse

padrão.

• Hipotônica: quando o tônus – grau de tensão ou resistência ao movimento ou

manutenção de postura – em um músculo está anormalmente reduzido;

geralmente envolvendo redução da força muscular e o aspecto flácido na

pessoa com PC.

• Discinésica (atetóide, distonia, coreoatetose): movimentos involuntários e

descontrolados em geral por lesões neurológicas específicas em estruturas

de gânglios da base (partes do SNC).

• Atáxica: falta de coordenação motora e equilíbrio. Em geral, está relacionada

a lesões no cérebro (parte do SNC) ou nas vias cerebelares, que têm como

função principal controlar o equilíbrio e coordenar os movimentos, como o

andar (marcha atáxica) com déficit de equilíbrio e incoordenação de

movimentos alterados rápidos.

• Mista: combinação de manifestações anteriores, correspondendo,

geralmente a movimentos distônicos e córeoatetóides ou à combinação

de ataxia com plegia (sobretudo diplegia).

4.6 Tipos de Acometimento Corporal Na Deficiência F ísico-Motor

Quadro 1 – Tipos de Acometimento Corporal na DFM

Sufixos Acometimento

Problema Físico-Motor

Plegia= paralisia na

qual a pessoa não tem

movimento nem

sensibilidade na região

envolvida.

Monoplegia

(monoparesia)

Um membro envolvido.

Paresia= redução de

movi- mentos em sua

precisão e amplitude

com redução da força

muscular.

Hemiplegia

(hemiparesia)

Um lado(hemídio ou dimídio) do

corpo é acometido, podendo

ser o lado esquerdo ou o

direito).

Parestesia= alteração

da sensibilidade.

Diplegia (diparesia)

Os membros superiores

apresentam melhor função do

que os membros inferiores

envolvidos.

Paraparesia= redução

do movimento ou

motricidade das

pernas(membros

inferiores).

Triplegia (triparesia)

Três membros são envolvidos.

Hemiparesia= redução

de movimento de um

lado ou hemídio

corporal.

Paraplegia (paraparesia)

Somente os membros inferiores

são envolvidos.

Tetraplegia ou

quadriplegia

(tretaparesia ou

quadriparesia)

Os quatros membros estão

igualmente comprometidos,

bem como o tronco.

Fonte: Israel e Bertoldi ( 2010, p. 78).

A paralisia cerebral pode apresentar-se associada à deficiência intelectual,

presença de convulsões ou epilepsia, dificuldade de falar ou alimentar-se e

problemas respiratórios ou sensoriais (visão e audição).

Devido à grande diversidade de quadros clínicos e sequelas físico-motoras

presentes nas crianças com PC torna-se muitas vezes difícil especificar as

necessidades educativas especiais que apresentará cada educando.

5. Metodologia

Foi aplicada uma pesquisa com abordagem qualitativa que se pautou em um

estudo de caso.

Respeitando as normas da ética em pesquisa com seres humanos cabe

salientar que os dados dos sujeitos de pesquisa serão mantidos em sigilo, não

sendo reveladas suas identidades, assim como as informações. Portanto o aluno

objeto de estudo será chamado aqui de Miguel.

As informações para o referido estudo foram comunicadas por meio de um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos informantes.

Avaliar alunos com necessidades educativas especiais não é uma tarefa fácil.

Exige além de informações e estratégias diferenciadas, também a participação de

todo o coletivo escolar, da família e do próprio educando integrados no mesmo

objetivo.

[...] é necessário que os professores conheçam a diversidade e a complexidade dos diferentes tipos de deficiência física, para definir estratégias de ensino que desenvolvam o potencial do aluno. De acordo com a limitação física apresentada é necessário utilizar recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação buscando viabilizar a participação do aluno nas situações prática vivenciadas no cotidiano escolar, para que o mesmo, com autonomia, possa otimizar suas potencialidades e transformar o ambiente em busca de uma melhor qualidade de vida. (BRASIL, 2006. p. 29).

Para tentar responder a questão norteadora “ Como avaliar na disciplina de

Ciências um aluno com paralisia cerebral”, buscou-se através desta pesquisa de

abordagem qualitativa , respostas que se pautaram em um estudo de caso.

De acordo com (Gil 1946, p.5)

“estudo de caso é uma estratégia que tem como objetivo a investigação e produção de um conhecimento mais amplo das partes que compõem um caso, num campo específico com princípios e regras a serem observadas ao longo da investigação. O mesmo envolve etapas de formulação, delimitação do problema, seleção de amostra, determinação dos procedimentos para coleta e análise de dados e modelos para sua interpretação. Podendo ser utilizados métodos ou técnicas de coleta de dados como: observação, entrevista e análise de documentos”.

O presente estudo foi realizado com um aluno de onze anos que possui

paralisia cerebral e apresenta deficiência física neuromotora com

comprometimentos que afetam o seu desenvolvimento motor, limitando o andar, a

coordenação de braços, pernas e fala. O mesmo é estudante em um colégio

estadual, localizado na região metropolitana de Curitiba, que atende atualmente

cerca de 1.400 alunos, sendo que no período diurno funcionam as séries finais do

ensino fundamental e no período noturno o ensino médio e profissionalizante.

Fizeram parte da pesquisa 16 participantes entre (pais, gestor, pedagogo e

professores) que aceitaram participar anonimamente.

A coleta de dados iniciou-se no segundo semestre de 2013, após finalizado o

Projeto de Intervenção Pedagógica e iniciada a Produção Didático-Pedagógica, à

ser implementa no primeiro semestre de 2014, com a escolha do eixo estruturante

“ Astronomia ”.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p.63)

entende-se o conceito de Conteúdos Estruturantes como conhecimentos de grande

amplitude que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina

escolar.

Procurando responder a questão norteadora desta pesquisa fez-se necessário

seguir mais de um procedimento em momentos diferentes, utilizando para isso uma

metodologia de pesquisa-ação científica, na qual foram sendo analisadas as fases

pelas quais o estudo passaria no primeiro momento.

5.1.2 Fase exploratória: Nesta fase foram utilizadas algumas dinâmicas

para melhor compreensão e percepção de como as pessoas percebiam o objeto de

estudo, suas possibilidades e impossibilidades acadêmicas e físicas. Também

informações sobre seu desenvolvimento cognitivo, emocional, escolar, familiar e

social. Para o levantamento dos dados foram utilizados os seguintes

procedimentos/instrumentos de pesquisa: 1) análise da documentação escolar e

particular do aluno; 2) entrevista com os responsáveis pelo aluno; 3) questionários

direcionados à equipe pedagógica, gestor e professores; 4) análise do material

didático do aluno; 5) observação do aluno em sala.

5.1.3 Fase de Planejamento da Intervenção : A partir das dinâmicas

realizadas na fase exploratória, criou-se no primeiro momento um portfólio

particular do aluno, onde foram arquivadas todas as informações obtidas através dos

instrumentos acima citados.

Portfólio particular é uma coleção de registros escritos particulares e confidenciais a respeito do aluno como telefone, históricos familiares, médicos, relatos narrativos de professores, pedagogos etc., para que os profissionais que lidam com o educando possam de forma confidencial conhecer os limites e possibilidades acadêmicas do sujeito com o qual desempenham seu trabalho. E que fornecem evidências do progresso do aluno à medida que o tempo passa.(SHORES e GRACE,2001).

Para o segundo momento planejou-se a confecção de um Diário e um

Portfólio de Aprendizagem, para melhor atender as necessidades do aluno.

Shores e Grace (2001, p.59.) “consideram o diário de aprendizagem um

registro contínuo, escrito pelo aluno e professor , de novas descobertas e de novos

entendimentos de desempenho e que são importantes porque: envolvem o

professor e o aluno em discussões rápidas; propiciam individualização do

planejamento curricular; proporcionam uma oportunidade regular para escrever

comentários a respeito das ideias e dos interesses do aluno, preparando-o para

realizar registros escritos mais longos e motiva-os a descobrirem novas maneiras de

envolverem-se no trabalho”.

E portfólio de aprendizagem :

uma coleção do aluno. Nele os trabalhos escolhidos pelo aluno para sua montagem, fornecem ao professor maiores e melhores informações sobre seu progresso e suas necessidades, contribuindo dessa forma com o mesmo na busca de novos métodos para suprir as defasagens do educando e permitir que sua aprendizagem se efetue (SHORES e GRACE, 2001).

5.1.4 Fase de Intervenção: a implementação da fase de intervenção

iniciou-se na primeira semana do mês de fevereiro, onde o projeto foi apresentado

na semana de estudos pedagógicos à todo o coletivo escolar, e após também aos

responsáveis pelo aluno, ao aluno objeto de estudo e aos outros educandos da

turma para ciência de todos.

Primeiro momento

Neste momento foi distribuído um caderno universitário para cada aluno, para

que se pudesse desta forma ter melhor controle sobre o desenvolvimento dos

mesmos e uma melhor organização dos conteúdos referentes à disciplina de

Ciências.

Segundo momento

Foi confeccionado o Diário de Aprendizagem do aluno. Nesse momento

optou-se por utilizar folhas avulsas para melhor comodidade do educando. Nelas

constavam os dados de identificação do estabelecimento de ensino, do aluno e

questionamentos referentes a sua aprendizagem, para posterior avaliação.

Os registros feitos pelo aluno nos diários de aprendizagem necessitaram ser

reescritos pela professora por se apresentarem confusos, devido a dificuldade

motora apresentada pelo mesmo.

Terceiro momento

No terceiro momento houve a confecção do portfólio de aprendizagem. Foi

Solicitado aos responsáveis o apoio destes na confecção do mesmo, sendo

prontamente atendida. Escolheu-se como material para confecção do portfólio, uma

pasta com elástico, onde o aluno deveria somente encapá-la de acordo com sua

preferência. Devido as suas dificuldades motoras adotou-se tal procedimento para

facilitar a movimentação do mesmo ao lidar com seus guardados.

A confecção do portfólio de aprendizagem foi estendida à toda turma,

oportunizando –lhes mais um instrumento como forma de avaliação.

Após serem confeccionados os instrumentos propostos na produção didático-

pedagógica, iniciou-se o desenvolvimento dos conteúdos.

Ao iniciar o desenvolvimento dos conteúdos optou-se entregar ao aluno os

textos digitados para serem colados no caderno, ficando sob sua responsabilidade

somente a cópia dos exercícios e a resolução dos mesmos. Mas, verificou-se que

ao tentar resolvê-los o mesmo debruçava sobre o caderno acabando por

arrancar as folhas , devido ao esforço que fazia. Fez-se então, necessário trocar o

caderno por uma pasta com plásticos onde todo conteúdo era colado em folha sulfite

e anexado na mesma, o que deu melhores resultados.

Com o uso do notebook em sala percebeu-se que o aluno demonstrou um

interesse maior na resolução das atividades. Mas, como apresentasse um pouco de

dificuldade no domínio do instrumento também fez-se necessário a presença de um

tutor junto ao mesmo para ajudá-lo na resolução das atividades. Nesta fase também

foram identificadas as potencialidades e necessidades educacionais mais críticas

do aluno, seu grau de desempenho e de participação nas várias atividades e

ambientes.

No decorrer do desenvolvimento do projeto algumas medidas pedagógicas se

fizeram necessárias e foram adotadas para melhor articular o processo ensino-

aprendizagem, adequando-se ao nível de desenvolvimento cognitivo do aluno, tais

como: linguagem adequada a compreensão do educando e a série ( diálogo

individualizado ), problematização de conteúdos, atividades lúdicas e tecnológicas

(laboratórios de ciências e informática).

Também foram utilizadas técnicas e instrumentos diferenciados para melhor

avaliar o educando como: 1) produção de atividades impressas utilizando

exercícios de resolução mais objetivos; 2) Participação em atividades de sala e

casa; 3) utilização do notebook em sala para resolução das atividades, leitura de

textos e realização de pesquisas; 4) confecção de maquetes como planetário e

montagem de um foguete; 5) uso do portfólio e o caderno de aprendizagem

também como instrumentos de avaliação.

Nas atividades enviadas para casa pode-se perceber as dificuldades

enfrentadas pelos pais com relação a resolução das mesmas. Uma vez que não

conseguem entender claramente o que o filho fala( fazem deduções). Por isso

passou-se a enviar-lhes por escrito de forma minuciosa o que deveria ser realizado,

como realizar e qual o objetivo pretendido com tal atividade.

Quanto a realização de trabalhos práticos ( maquetes ) e escritos( pesquisas),

os pais procuravam a escola para saber como deveriam ser realizados e como

ajudarem o filho no desenvolvimento e confecção dos mesmos.

Nesta fase de intervenção desenvolveu-se também o GTR- Grupo de

Trabalho em Rede, o qual contou com a participação de dezesseis professores

concluintes.

5.1.5 Fase de Avaliação: Nesta fase foram reutilizadas algumas dinâmicas

utilizadas na fase exploratória (2013 ), para verificação das mudanças e avanços

alcançados pelo educando no decorrer do desenvolvimento do projeto, pois o

mesmo no ano de 2014, passou a estudar com professores que na grande parte

eram novos para ele. São elas: 1) questionários direcionados à equipe pedagógica e

professores; 2) análise do material didático do aluno; 3) observação do aluno em

sala.

RESULTADOS OBTIDOS

Em posse do material coletado durante o período da aplicação do estudo foi

possível fazer uma comparação dos avanços alcançados pelo educando e perceber

suas reais necessidades acadêmicas.

1. Análise da Documentação Escolar e Particular do Aluno

Antes da aplicação do projeto foi analisado um laudo psicopedagógico do

sujeito em questão, onde foi possível compreender a partir dos dados que o Miguel

possui boa concentração, memória e raciocínio na realização de suas atividades;

bom desenvolvimento em cálculos ( 4 operações ). Lê, escreve e interpreta

situações problemas; muita dificuldade para comunicar-se oralmente, mas faz leitura

e interpretação de textos. Na escrita, devido a defasagem em sua área motora, as

vezes não se consegue entender o que escreve; dificuldades em sua coordenação

motora global. Na área sócio afetivo, tem bom desenvolvimento, porém dificuldades

na comunicação e as vezes vergonha de repetir sua fala. Quando alguém não o

compreende, prefere não falar. Faz troca de letras – fonemas ( erros ortográficos )

devido a sua fala. Foi recomendado acompanhamento com fonoaudiólogo e uso

de computador para realização de suas atividades. Necessita de incentivos para

valorização do seu EU.”

Ao submeter-se a uma nova triagem diagnóstica psicopedagógica Miguel

revelou-se interessado e participativo. Mas, segundo análise dos profissionais do

HC, seu nível de desenvolvimento está abaixo do esperado para sua idade e

escolaridade, tanto em matemática quanto na leitura, escrita e compreensão de

texto. Percebeu-se também dificuldades na área auditiva imediata e raciocínio

lógico.

Moraes* (2013, p.659) “ considera que o olhar direcionado a avaliação de

alunos com deficiência na rede regular de ensino não pode ser somente

pedagógico mas, precisa ser estruturado e integrado com políticas de saúde para

acontecer de verdade. É preciso que em determinados momentos os profissionais

da educação interajam, por exemplo, com a psicologia e a medicina”.

2. Entrevista com os responsáveis pelo aluno

No começo da vida acadêmica de Miguel a expectativa inicial de seus pais

era restrita pois, não imaginavam que ele pudesse até mesmo ser alfabetizado. Sua

aprendizagem era lenta e devido a seu problema motor possuía uma caligrafia

ilegível.

Por não conseguir entender o processo da tabuada, o aluno não

demonstrava interesse pela disciplina de matemática. Devido a dificuldade de

comunicação entre aluno e professor, professor e aluno a mãe solicitou à equipe

pedagógica que o filho fosse retido na série em que se encontrava, tendo seu pedido

recusado .

Ao término do projeto, os pais percebem que ainda há muitas barreiras à serem

vencidas pelo filho, mas segundo eles, apesar de sua caligrafia apresentar-se um

pouco confusa, já conseguem ler alguma coisa escrita por Miguel, quando o

mesmo copia sem pressa e com calma. Para eles, o filho já progrediu bastante em

algumas situações. Apesar de lento, seu aprendizado, acreditam que ele possa

avançar mais se estimulado e obtiver acesso aos tratamentos especializados de

que necessita, por exemplo, fonoaudiólogo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares – estabelece

estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais

e configura a educação especial como “elemento integrante e indistinto do sistema

educacional” e que realiza-se transversalmente, em todos os níveis de ensino,

nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagógica devem

_______________________

* MORAES, B. M.Membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro da 1ª Promotoria de

Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação da Capital. Integrante da Comissão Permanente

de Educação(COPEDUC) – Grupo Nacional de Direitos Humanos(GNDH) do Conselho Nacional de

Procuradores-Gerais(CNPG), Coautora do Curso de direito da criança e do adolescente – aspectos

teóricos e práticos, Ed. Lumen Juris.

respeitar a diversidade dos alunos, a exigir diferenciações nos atos pedagógicos

que contemplem as necessidades educacionais de todos" (BRASIL, 1998.p.21).

3 . Questionários direcionado à equipe pedagógica

A coleta de dados contou com a participação de duas pedagogas . Para

diferenciá-las, as mesmas foram identificadas como: pedagoga 1 (2013) e

pedagoga 2 (2014).

As duas profissionais responderam a um questionário com questões

envolvendo a área cognitiva, familiar e social do aluno e também aspectos

pedagógicos relacionados ao professor, ambiente de trabalho e conhecimentos

referentes a necessidades educativas especiais, com ênfase na Paralisia Cerebral.

Pedagoga 1:

Segundo a profissional, Miguel participava das atividades propostas para a

turma, mas registrava os conteúdos com certa dificuldade, não se fazendo

compreender tanto pela parte escrita como pela oralidade pelos professores devido

ao seu problema motor. Interagia bem com os professores, funcionários e colegas

de classe e deles tinha sempre a colaboração principalmente nas propostas de

trabalho.

Os professores, cientes do laudo psicopedagógico do aluno, alteravam a

forma de trabalhar. Eram orientados a propor formas de apresentação dos

conteúdos que favorecessem a aprendizagem de todos, buscando o envolvimento

do aluno com os colegas. Como instrumento de auxílio o aluno dispunha de um

“notebook” para seu uso exclusivo e os professores contavam com DVD, TV,

Datashow e Aparelho de Som.

Como o currículo era bastante extenso, nem sempre as condições de trabalho

específicas de sala de aula permitiam seguir uma sequência planejada, sendo

necessário mudar a forma de ensinar e o planejamento. Essa mudança é

necessária, pois nem todos os alunos aprendem da mesma forma e ao mesmo

tempo e os alunos que apresentam condições especiais tanto física quanto mental

no colégio, sempre tiveram bom relacionamento com colegas, professores,

funcionários e com a comunidade. Percebe-se nos relacionamentos um sentimento

de proteção e cuidado.

O colégio buscando manter à todos informados sempre abordou a questão da

deficiência, suas causas e conseqüências dentro do currículo de Ciências e

Biologia. As formas de inclusão, relacionamento e integração de forma

interdisciplinar em todas as disciplinas.

A família do educando está sempre voltada e preocupada com o

desenvolvimento do mesmo, levando-o à participar duas vezes na semana da sala

multifuncional em outro colégio, com atividades voltadas para o desenvolvimento de

suas habilidades motoras.

A profissional sente-se bem preparada para dar suporte aos professores que

atendem crianças com necessidades educativas especiais.

Pedagoga 2

Para a profissional o ambiente educacional tenta acolher da melhor forma as

necessidades de Miguel, mas nem sempre têm material disponível para o mesmo..

Nem todos os professores conhecem minuciosamente o laudo

psicopedagógico de Miguel. Em sala, procuram usar metodologias que englobem

todos os alunos. Para auxiliar e facilitar a realização de suas tarefas o aluno faz

uso de um notebook durante as aulas. Todos da comunidade escolar procuram

acolher com respeito o aluno.

A pedagoga não se sente cem por cento preparada para dar suporte aos

professores que atendem crianças com necessidades educativas especiais, mas

dentro de suas possibilidades, procura buscar sempre orientações adequadas e

exatas para poder repassar aos professores quando é abordada sobre o tema.

Neste ano, Miguel não freqüentou a sala de apoio multifuncional. O

relacionamento da família com a comunidade escolar continua dentro do esperado.

Sempre que são chamados ao colégio comparecem e se disponibilizam a colaborar

com a aprendizagem do filho, auxiliando a equipe pedagógica e professores de

acordo com suas possibilidades acadêmicas.

[...] a inclusão requer discussões que envolvam toda a sociedade e não somente o âmbito escolar. A formação dos professores deve ocorrer de acordo com o contexto social em que irão ensinar, tendo como parceiros: pais , serviços de saúde e sociais especializados.( PAN, 2008.p.132).

4. Questionário direcionado ao gestor

Dificuldades encontradas para a efetivação da inclusão de alunos com

necessidades educativas especiais no ensino regular antes e depois do projeto:

A falta de investimento em espaço físico e humano é a dificuldade mais

determinante ao acolhimento dos educandos com necessidades educativas

especiais no ensino regular. É um direito de todos freqüentar escola pública de

qualidade. As barreiras precisam ser superadas para acabar com a segregação e se

perceber a riqueza que os alunos especiais trazem para as classes comuns. Faz-se

urgente investimentos em estrutura e principalmente em profissionais especializados

trabalhando junto às instituições escolares, auxiliando os profissionais da

educação. As políticas públicas para inclusão precisam de fortalecimento na

implementação legal.

[...] é preciso antes de incluir no meio escolar os historicamente segregados e eliminados pelo preconceito , respeitá-los como seres humanos em toda a sua totalidade, investindo em medidas que promovam sensibilização e difusão de práticas qualificadas, direcionadas as comunidades escolares e as famílias como um todo.(MORAES, 2013. p.653).

5. Questionários direcionados aos professores

Ao iniciar o ensino fundamental II ( 6º ano ) Miguel apresentou-se como um

aluno participativo, presente, interessado, determinado e crítico. Acompanhava os

conteúdos, interpretava e compreendia-os com ajuda do professor. Na leitura e

escrita, apresentava dificuldade para se fazer compreender devido a sua

deficiência físico-motora, necessitando de um tempo maior na realização de suas

tarefas. Relacionava-se bem com os colegas do colégio. Tinha dificuldade em

aceitar “não” como resposta para algumas coisas. As vezes apresentava-se

frustrado por não conseguir que sua funcionalidade motora acompanhasse seu

cognitivo. Nos cálculos necessitava de ajuda para interpretação e montagem dos

problemas solicitados. Sempre que não entendia a resolução de alguma atividade

solicitava a explicação do professor.

Ao frequentar o sétimo ano, Miguel continuou apresentando certa dificuldade

na escrita e fala devido a sua deficiência físico-motora, mas sua caligrafia

apresentou melhoras, já sendo possível conseguir se fazer entender na parte

escrita. Em algumas disciplinas necessitou da ajuda do professor para interpretar e

compreender melhor os conteúdos enunciados dos exercícios e também de um

tempo maior na realização dos mesmos. Em alguns momentos demonstrou-se

agitado, desanimado e desestimulado pedindo com frequência para ir ao banheiro

em momentos inoportunos e em todas as aulas. Ao sair, aproximava-se de outras

salas ficando encostado na parede ouvindo a explicação do professor. Na realização

das atividades envolvendo cálculos o aluno procurava ouvir a explicação da

professora e resolver seus exercícios sem ajuda da mesma, no início.

Os professores quando solicitados à realizar algo novo que foge ao domínio tradicional, sentem-se inadequados e carentes de formação, informação, apoio e técnicas. Necessitando portanto, muitas vezes serem envolvidos assim como os demais funcionários em assistência técnica e práticas inclusivas, em locais diferenciados que tenham implementado o processo de inclusão, para aumentarem suas habilidades, observando, conversando e moldando suas práticas através do contato com pessoas mais experientes (STAINBACK e STAINBACK, 1947).

6. Análise do material didático do alun o

Analisando os materiais didáticos utilizados em sala, constatou-se que Miguel

fazia uso apenas do livro didático de Ciências adotado pela instituição de ensino,

sem nenhuma adaptação diferenciada que facilitasse o seu manuseio pelo

mesmo. Na questão do registro de conteúdos, o educando copiava do quadro

normalmente sem nenhum instrumento facilitador que minimizasse o desconforto

gerado pelo seu problema motor. Os conteúdos registrados no caderno não eram

finalizados e não possuiam sequência. Quanto aos trabalhos solicitados pela

professora, Miguel copiava qualquer assunto do livro sem que o mesmo tivesse

relação com o tema solicitado.

Estando envolvido com o projeto, o aluno passou a fazer uso em sala do

notebook contando com o apoio de um aluno-tutor ao seu lado para auxiliá-lo em

suas necessidades. Devido ao seu problema motor, não se fez uso de caderno na

disciplina de Ciências. Seus conteúdos passaram a ser digitados pela professora e

pelo aluno sendo colocados em saquinhos plásticos e organizados em uma pasta o

que muito ajudou-o em questão de organização. Seus trabalhos práticos (maquetes,

pesquisas etc...) passaram a ser realizados com mais interesse e entregues de

acordo com o tema solicitado, pois os responsáveis pelo mesmo buscaram uma

aproximação maior com o coletivo escolar na intenção de contribuir mais com a

aprendizagem do filho.

[...] é necessário que os professores conheçam a diversidade e a complexidade dos diferentes tipos de deficiência física, para definir estratégias de ensino que desenvolvam o potencial do aluno. De acordo com a limitação física apresentada é necessário utilizar recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação buscando viabilizar a participação do aluno nas situações prática vivenciadas no cotidiano escolar, para que o mesmo, com autonomia, possa otimizar suas potencialidades e transformar o ambiente em busca de uma melhor qualidade de vida. (BRASIL, 2006. p. 29).

7. Observação do aluno em sala.

Observando Miguel em sala, percebeu-se que é um aluno bastante

participativo, educado e querido por todos. Permanece atento durante todo tempo

em que o professor está explicando o conteúdo ou corrigindo atividades. Quanto à

sua aprendizagem, nota-se que o mesmo tem dificuldade em escrever (caligrafia

bastante confusa) não permitindo muitas vezes que se interprete o que está escrito.

Copia textos e atividades do quadro de forma lenta, não finalizando-os.

Diante dos conteúdos ou atividades ditados pelo professor fica ansioso, pois

não consegue copiar com rapidez deixando palavras incompletas.

Troca letras: P/B; F/V. Nas palavras com encontro consonantal envolvendo " R",

como por exemplo: Prato, coloca a vogal antes da consoante. Exemplo: Parto.

Apesar de suas dificuldades motoras, demonstra bastante interesse em realizar suas

atividades. Interpreta textos oralmente, necessitando se fazer ouvir mais de uma

vez para ser compreendido. Gosta de desenhar ( bastante criativo ), ler histórias

(Mônica e Cebolinha ) e de participar das aulas práticas no laboratório de Ciências.

Com a aplicação do projeto, Miguel passou a fazer uso do notebook em sala. Em

determinados momentos, verificou-se que o mesmo procurava transferir para o

colega (tutor) as suas obrigações acadêmicas distraindo-se com as atitudes

impróprias de seus colegas ou desviando o interesse para os jogos inseridos no

notebook. Diante de tal situação demonstrada pelo aluno, alguns professores em

conversa com a equipe pedagógica e pais, optaram pela retirada do aparelho de

sala alegando que o educando não estava mais se esforçando na realização de

suas atividades. O mesmo distraia-se acessando diversos jogos e não mais

interagindo e participando das aulas.

De acordo com (Farrel 2008,p. 83) “a maioria das crianças com paralisia cerebral

possuem inteligência no nível médio. Dependendo do grau de incapacidade do

aluno, ele pode precisar de auxílio e/ou de equipamentos adaptados para tarefas

práticas”.

Considerações Finais

Partindo do objetivo em analisar o processo de aquisição de conhecimentos

na área de Ciências de um aluno com paralisia cerebral, buscou-se delinear

conteúdos , instrumentos , limites e funções do professor de Ciências nesse

processo. Os resultados revelaram: existência de incompatibilidade no nível de

desenvolvimento acadêmico idade/escolaridade do aluno; importância da inter-

relação entre a educação e saúde em áreas como psicologia, medicina entre

outras, na avaliação das limitações do educando; necessidade em associar

teoria/prática através de visitas junto a instituições que desempenham trabalhos

pedagógicos voltados á temática da inclusão, para ampliação de conhecimento e

busca de novas metodologias que venham proporcionar a valorização dos seres

humanos envolvidos, (aluno/professor).

O aluno com necessidade educativa especial, objeto de estudo nesta

pesquisa, demonstrou que é capaz sim de aprender. O mesmo pode não

apreender todo o conhecimento formal ensinado , mas consegue assimilar boa

parte dele. A pesquisa possibilitou também analisar e avaliar o cuidado que deve

existir por parte dos professores/educadores em se fazer uma análise qualitativa

dos conteúdos que sejam significativos ao aluno, instrumentos, metodologia e

tempo apropriado a sua aprendizagem, antes da montagem de qualquer

planejamento, respeitando as suas reais necessidades e limitações. Limitações

estas que só podem ser definidas analisando caso a caso, pois as lesões são

individuais.

Para conviver com as “diferenças” é preciso conhecê-las. E para conhecê-las é

preciso buscar conhecimento, pois só através dele poderemos entender e aceitar

que não somos e nunca seremos “iguais”. Precisamos enxergar no outro a

igualdade que nos aproxima e não as diferenças que nos afastam.

“Somos diferentes e queremos ser assim e não uma cópia malfeita de

modelos considerados ideais. Somos iguais no direito de sermos, inclusive,

diferentes “! (CARVALHO, 2008, p. 22)

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm.

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Medicina - UNIFESP-EPM.

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12_1/paralisia_cerebral. Acesso em 17 out. 2014.

NOVAES, Maria Helena. Psicologia Escolar .Universidade do Texas.Editora

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Nacionais : terceiro e quarto ciclos, apresentação dos temas transversais. Secretaria

de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 436p.

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passo para professores. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001.

STAINBACK, S & STAINBACK, W. Inclusão: Um guia para educadores . Porto

Alegre: Artes Médicas Sul, 1947.

REFERÊNCIA DE FIGURAS

Figura 1: Diversidade Social

Fonte: JAOUHARI, Anice, 2013.