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PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS PARA PREVENÇÃO DO BULLYING SOBRE AS

PERSPECTIVAS DOS ESTUDANTES DAS 5ª SÉRIES DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Autora: Cléia Albertina Mariotto Pereira1

Orientador: Flávio Donizete Batista2

RESUMO

Este artigo é requisito obrigatório de qualificação integrante do Programa de

Desenvolvimento Educacional - PDE. O tema abordado no presente trabalho é

“Prevenção do bullying nas 5ª séries do Ensino Fundamental do Colégio Estadual

Reynaldo Massi - EFMP.” Esta pesquisa é o relato dos resultados das leituras

referente ao tema, da participação nos diversos cursos ofertados pelo programa via

Instituição de Ensino Superior (IES), dos encontros com o professor orientador da

IES e da implementação do projeto na referida escola. A busca de novas estratégias

para trabalhar o bullying no espaço escolar tem sido uma busca constante da

maioria das escolas, por ser um problema que traz consequências arrasadoras no

desenvolvimento das crianças. Neste contexto, os objetivos do projeto são: detectar

indícios de bullying entre os estudantes das quintas séries do Colégio Estadual

Reynaldo Massi, em Diamante do Norte, no Estado do Paraná, e consequentemente

elaborar processos pedagógicos para a sua prevenção no âmbito escolar. Para

atingir os objetivos propostos serão utilizadas diferentes estratégias, como

questionário com estudantes e professores, vídeos, grupos de estudos, orientação

oral e escrita, pesquisas na internet e produção de histórias em quadrinho sobre o

tema.

Palavras-chave: Bullying; Comportamento; Escola. 1 Professora da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná, lotada no Colégio Estadual Reynaldo Massi em Diamante do

Norte. Professora de Rede Municipal de Educação de Diamante do Norte, lotada na Escola Municipal Antonio Francisco de

Souza. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Graduada em Pedagogia pela Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau. Especialização em Metodologia e Prática de Ensino pela Universidade

Norte do Paraná.

2 Professor do Colegiado de Pedagogia da UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná, FAFIPA – Campus de Paranavaí.

Mestre em Educação pela UEL – Universidade Estadual de Londrina.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ - UNESPAR - CAMPUS DE PARANAVAÍ

Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí

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ABSTRACT

This article is a mandatory requirement for qualification and parcel of Educational Development Program - PDE. The theme selected and discussed in this work is "Prevention of bullying in fifth grade of elementary school in State College Reynaldo Massi - EFMP." This research is the report of the results of the readings on the topic of participation in the various courses offered by the program for IES, meetings with the teacher guiding the IES and the implementation of the project at school. The search for new strategies to work bullying at school has been a constant search for most schools; it is a problem that brings devastating consequences on children's development. In this context, the project objectives are: signs of bullying among students from fifth grade Reynaldo Massi State School in Diamante do Norte of Paraná State, and consequently develop pedagogical processes for its prevention in schools. To achieve the proposed objectives will be used different strategies, such as questionnaire with students and teachers, videos, study groups, oral and written guidance, internet research and production of comic books on the subject. Keywords: Bullying; Behavior; School.

1 INTRODUÇÃO

Bullying é um problema tão antigo quanto à própria instituição denominada

escola. Mas somente nas últimas décadas o interesse pelo tema tem aumentado

significativamente no mundo todo. No Brasil, foi a Associação Brasileira de Proteção

a Infância e ao Adolescente (Abrapia) que realizou as primeiras pesquisas sobre o

tema. Bullying pode ser definido como um conjunto de intimidação, agressão física e

psicológica e abuso sistemático de poder. No ambiente escolar, o bullying muitas

vezes é confundido por pais e educadores como uma simples brincadeira, no

entanto, segundo pesquisas pode acarretar danos irreparáveis às suas vítimas

como: isolamento, queda do rendimento escolar, anorexia e bulimia, fobia escolar e

social, transtornos do pânico, alterações emocionais, depressão, abandono escolar

e, em alguns casos mais graves, pode-se observar quadro de esquizofrenia e

suicídio. Diante desses dados tão alarmantes, e sabendo que a escola é a base

como também a responsável direta pela formação de seus estudantes, pois ela os

prepara, os orienta, os socializa e os encaminham para integrar-se na sociedade

com respeito, dignidade e assim poder realizar seus objetivos de vida com êxito,

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então ela tem o compromisso e a obrigação de prevenir, reduzir e evitar o bullying,

para melhor contribuir com a formação de uma cultura de não violência na

sociedade. A luta antibullying tem que fazer parte do cotidiano das escolas e a

cooperação de toda comunidade escolar é fundamental para desenvolver o objetivo

desse trabalho que é buscar estratégias pedagógicas para combater esse mal que

vem se alastrando pelas escolas de todo o país, conhecido como bullying.

2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS

2.1 Marco legal e a educação

Vamos analisar inicialmente a Educação brasileira no marco legal amparado

pela Constituição Brasileira de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Conhecer a legislação brasileira sobre a educação pública se torna imprescindível

para poder entender suas demandas e a falta de aplicabilidade de suas regras na

sociedade escolar brasileira, no tocante ao bullying. No artigo 21 há a definição da

Educação:

Artigo 21: A Educação escolar está composta por: (...) Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e seu acesso é direito para todos os brasileiros (BRASIL, 1996).

Na definição do artigo acima encontramos as divisões da educação

brasileira, com a explicitação de que ela deverá ser garantida para todos os

cidadãos. Porém se não houver garantias para estar na escola sem sofrer com atos

de bullying haverá o aumento do abandono escolar e outras implicações, como a

desestabilização emocional dos estudantes. Ainda na Constituição constatamos que,

como consta no artigo 208, “é dever do Estado a progressiva universalização da

gratuidade do Ensino até o Nível Médio (Brasil, 1996)”. Segue a lei expondo que é

dever do Estado propiciar uma educação gratuita. Porém, não seria também dever

do Estado evitar casos de bullying que levam ao abandono escolar?

Sabemos que a Educação brasileira apresenta uma legislação bastante

evoluída no tema relacionado com a educação para a formação de valores da

cidadania. Um dos princípios e fins da educação nacional (BRASIL, 1996) é garantir

o exercício da cidadania por meio da qualificação advinda do estudo. Mesmo tendo

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uma legislação avançadíssima, se não começarmos a nos preocupar com o

problema crescente do bullying sofreremos com a evasão escolar e com o aumento

da violência no ambiente da escola.

Seguindo com a análise do marco legal da educação pública brasileira

igualmente encontramos que ela não poderá jamais ser discriminatória:

Art. 3º. O ensino será administrado com base nos seguintes princípios: (...) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; (...) respeito a liberdade e apreço a tolerância (...) (BRASIL, 1996).

O que é mais discriminador e intolerante que o bullying? Os propósitos

teóricos da educação brasileira são muito avançados, preocupados com a formação

progressista do educando; entretanto é pesaroso verificar que a preocupação com o

bullying, fenômeno presente na educação contemporânea, ainda não tenha tido a

atenção das autoridades educacionais do nosso país. Assim como a preocupação

garantida no artigo da Constituição:

Artigo 35 – O ensino médio, etapa final da educação básica com duração mínima de três anos, terá como finalidades: a preparação básica para o trabalho e para a formação da cidadania do educando (...); O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (BRASIL, 1996).

Esses princípios dificilmente serão realizados em ambientes escolares com

predominância do bullying, pois o desenvolvimento de autonomia intelectual,

formação ética e pensamento crítico com pressão, agressão física e moral é

praticamente impossível. Ainda o artigo abaixo nos contempla:

Artigo 36 – O currículo do ensino médio observará as seguintes diretrizes: (...) o processo histórico da transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; Domínio dos conhecimentos de filosofia e de sociologia necessários para o exercício da cidadania (...) (BRASIL, 1996).

Dos Santos (2005, p. 43) nos ensina que esse modelo funciona tão somente

nos códigos legais. Porém consideramos que deve existir de fato e não ficar restrito

somente no papel, que aceita tudo. Com o bullying podemos sofrer o abandono

escolar e essas crianças correm o risco de buscar essa “educação” somente nas

ruas, se associarmos com a falta de estrutura de algumas famílias das escolas

públicas, de baixa renda.

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Mazzoni (2002) confirma a falta de cumprimento da legislação existente, pois

afirma que se pode constatar os problemas seculares perdurando até nossos dias. O

Brasil tem uma das mais amplas e completas legislações para a proteção dos

menores em idade escolar, entretanto sobre o fenômeno recente do bullying ainda

fica um vácuo e o número de crianças e adolescentes expostos a esse tipo de

violência é cada dia maior nas escolas do Brasil. Com políticas educacionais

corretas, os ajustes institucionais adequados e as prioridades de políticas sociais

estabelecidas, o Brasil estará capacitado para cuidar, alimentar e enviar todas suas

crianças e adolescentes a uma escola sem bullying.

2.2 Sobre a violência

Um dos maiores desafios da humanidade, postergado ao século XXI, é o de extirpar as principais causas que ameaçam a construção da cultura da paz, dentre as quais se destaca a violência. Infelizmente, estamos vivendo uma época em que a violência se torna cada vez mais presente em todos os segmentos sociais (FANTE, 2005, p.20).

Não há como negar que vivemos tempos difíceis, em que a violência e a

agressividade imperam e ameaçam a todos nós. A Organização Mundial de Saúde -

(OMS, 2002), declara a violência como um problema crescente da saúde pública em

todo mundo, devido as suas sequelas, sejam para os indivíduos, famílias,

comunidades ou países de forma geral, sendo reconhecida nas últimas décadas

como um fator de risco para o desenvolvimento humano. Segundo a OMS (2002), a

violência constitui-se na utilização intencional da força ou poder físico, por ameaça

ou de fato, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou

comunidade que resulta em ou tem alta probabilidade de resultar em ferimentos,

morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação.

A violência ocorre quando em uma situação de interação, um ou vários

infratores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a

uma ou mais pessoas em graus variáveis seja em sua integridade moral, em suas

posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. Podemos definir a violência

de duas formas: a violência física que se caracteriza pela agressão de corpos,

mutilação, mortes, etc., e a violência simbólica, aquela que é camuflada, mas agride

os direitos humanos, que marginaliza e mutila psicologicamente como preconceitos,

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discriminações sociais de classe, sexo, etnia, o autoritarismo reinante nas relações

entre as pessoas e outras mais que desembocam na violência física de uma forma

ou de outra.

Hobbes (1999), afirma que numa situação em que os homens vivem sem

outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força, a vida

do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta. A violência, em sua

expressão mais exacerbada, aproxima-se dessa condição que idealmente existiria

antes do pacto de proteção mútua, fundamento da sociedade e do estado. Ele define

violência como uma expressão que designa o fenômeno social de comportamento

deliberadamente transgressor e agressivo, apresentado pelo conjunto dos cidadãos

ou por parte deles. E diz que suas manifestações mais evidentes são os altos

índices de criminalidade grave.

Numa tentativa de usar um conceito que sirva como referência em nosso

trabalho, violência é a palavra que empregaremos para denominar a série de atos

intencionais que se caracteriza pelo uso da força, em situações de conflito,

transgressão às leis que visam ao bem comum e predomínio da crueldade sobre a

solidariedade no convívio humano.

2.3 Conceito de bullying

O bullying pode ser definido como um conjunto de atitudes de intimidação,

agressão física e psicológica e abuso sistemático de poder. O termo bullying

compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que

ocorre sem motivações evidentes, adotadas por um ou mais estudantes contra

outro(s) e executadas dentro de uma relação desigual de poder.

A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a

superioridade física para intimidar alguém. Também adota o aspecto de adjetivo,

referindo-se a “valentão”, “tirano”. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia

bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo

de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações

interpessoais. O bullying sempre existiu no contexto escolar, pois há muitos anos os

valentões roubam lanches, agridem os mais fracos, entretanto o fenômeno passou a

ser observado com maior atenção por pedagogos e psicólogos do meio escolar há

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pouco tempo. E a devida importância ao bullying como comportamento agressivo e

violento, é bastante recente no meio escolar.

Embora não haja dados oficiais, a prática de atazanar colegas, muitas vezes

confundidas por pais e educadores como uma simples brincadeira já envolve 45%

dos estudantes brasileiros, segundo estimativas do Centro Multidisciplinar de

Estudos e Orientação (2003) sobre o bullying, com sede em Brasília. O índice está

acima da média mundial, que variaria entre 6% e 40%.

Essas definições deixam claros os danos sérios que o bullying pode

acarretar às suas vítimas. Não pode ser esquecido que para o bullying acontecer

são necessárias atitudes agressivas intencionais e repetitivas, entre diferentes (por

exemplo, mais fortes fisicamente sobre os mais fracos), em que as vítimas não têm

capacidade de defesa, ficando excluído do convívio social de um grupo.

2.4 Características do bullying

Segundo os ensinamentos de Fante (2005, p. 16 e 21), podemos verificar

que os atos de bullying entre os estudantes apresentam determinadas

características comuns, como as demonstradas a seguir:

Comportamento deliberado e danoso, produzido de forma repetitiva num

período prolongado de tempo contra uma mesma vítima;

Apresenta uma relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa

da vítima;

Não há motivo evidente;

Acontece de forma direta, por meio de agressões físicas (bater, chutar,

tomar pertences) e verbais (apelidos de maneira pejorativa e

discriminatória, insultar, constranger);

De forma indireta, caracteriza-se pela disseminação de rumores

desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da

vítima de seu grupo social.

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2.5 Consequências do bullying

O ambiente escolar pode se tornar totalmente contaminado quando não há

intervenções efetivas contra o bullying. Todos os estudantes envolvidos direta ou

indiretamente podem ser afetados de forma negativa, passando a demonstrar e

experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Dependendo das características

individuais, o estudante que é alvo de bullying pode nunca superar os traumas

vividos na escola, ou fazê-lo parcialmente e crescer com sentimentos negativos,

especialmente perdendo a autoestima, ou ainda apresentando dificuldades de

relacionamento, tornando antissocial, agressivo, inseguro, tenso, deprimido,

estressado, ansioso, temeroso, apresentar dores em diversas partes do corpo,

podendo chegar a atitudes extremas, como passar a consumir álcool, utilizar drogas

ilícitas e até mesmo cometer suicídio.

3 QUESTÕES METODOLÓGICAS

Segundo Fante (2005, p. 28 e 29), bullying é um conjunto de atitudes

agressivas, intencionais, repetitivas que ocorrem sem motivo evidente, praticado por

um ou mais pessoas contra outro(s), causando angústia, sofrimento e dor. Apelidos

pejorativos, insultos, intimidações, gozações, ridicularização, hostilização são

algumas das manifestações do comportamento bullying que leva a exclusão.

Sabendo que não existem soluções simples para combater o bullying, por ser

um problema complexo e de diversas causas, a escola para obter êxito, tem que agir

rapidamente desenvolvendo estratégias de redução e combate a esta violência.

Para analisar a realidade escolar e social onde se desenvolveu a pesquisa em

questão, ampliar as mudanças pretendidas a partir dos resultados obtidos e atingir

os objetivos propostos neste trabalho, os procedimentos adotados foram

questionários para os estudantes e professores das séries pesquisadas, observação

escrita de aulas práticas, teóricas e recreio, pesquisa na internet, vídeos, grupo de

estudos e produção de histórias em quadrinho sobre o tema.

A amostra de referência para o estudo foi composta de 42 estudantes

matriculados nas 5ª séries do ensino fundamental, do período vespertino do Colégio

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Estadual Reynaldo Massi do município de Diamante do Norte – PR, com as idades

entre 10 e 13 anos e 9 professores que ministram aulas nas referidas turmas.

Inicialmente, antes de fornecer qualquer informação sobre o tema a ser

trabalhado para não viciar a amostra, foi aplicado um questionário fechado com a

participação dos estudantes, para coletânea de dados e para perceber o

entendimento deles sobre o tema bullying.

Após análise dos questionários, percebeu-se que os resultados obtidos foram

alarmantes pelo alto índice de possíveis vítimas de bullying nas turmas, porque dos

42 pesquisados, 22 já foram vítimas e 35 já presenciaram colegas sofrendo algum

tipo de agressão mencionada no questionário, por mais de uma vez.

Em seguida, foi feita uma pesquisa com todos os professores que ministram

aulas nas 5ª séries do período vespertino. Foi utilizado o instrumento questionário

para coletar informações sobre o entendimento que o professor tem sobre o assunto

e se há incidência de casos de bullying nas referidas turmas. Verificou-se que de

uma maneira geral, os educadores têm uma boa percepção dos conflitos e

exclusões que ocorrem dentro da sala de aula, estão preocupados com o problema,

e tentam resolvê-los, no entanto, muitas vezes de forma paliativa. Isso evidencia a

necessidade de uma formação cada vez mais efetiva, com a participação em cursos

que abordem o tema, propiciando um conhecimento aprofundado das

características, de medidas preventivas, das causas e consequências para que os

educadores lidem de forma mais adequada com o fenômeno bullying.

É perceptível que o bullying acontece, na maioria das vezes, no ambiente

escolar. Diante disso, o maior problema enfrentado é falta de conscientização e o

despreparo dos profissionais da educação para lidar com o problema.

Na sequência, deu-se a observação escrita dos espaços sala de aula e do

pátio no recreio, de forma que foi constatado que as turmas, de uma maneira geral,

são indisciplinadas, sem limites, não respeitam os colegas, se agridem verbalmente

o tempo todo com apelidos pejorativos, palavrões, gozações entre outras formas

ofensivas.

Diante dos dados obtidos e após análise, foi introduzido o tema bullying aos

estudantes que foram receptivos ao assunto e muitos já tinham conhecimento

através da mídia, o que favoreceu o debate. Eles participaram ativamente da

discussão, emitiram suas opiniões e relataram casos que haviam presenciado.

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Com um conhecimento maior sobre o tema, os estudantes fizeram uma

pesquisa na internet dos casos de vítimas de bullying. Apresentaram sugestões de

vídeos para os colegas, fizeram questionamentos, demonstrando um maior

amadurecimento para abordar o tema.

Mediante o término dessa fase, foi proposto aos estudantes que produzissem,

em grupo, história em quadrinhos para dar oportunidade ao estudante de manifestar

através de desenhos o seu entendimento sobre bullying.

4. CONCLUSÃO

A violência nos últimos anos vem se alastrando por todo o mundo,

acarretando consequências desastrosas em todos os setores da sociedade mundial.

Diante desta temática, não podemos excluir as escolas do Brasil, em particular o

Colégio Estadual Reynaldo Massi – EPMP, onde foi desenvolvido o projeto em

questão.

A realização deste artigo se voltou para a temática da importância de elaborar

processos pedagógicos para prevenção do bullying no âmbito escolar, trazendo a

identificação, o estudo e a discussão do tema no meio do alunado.

Não existe uma solução fácil para eliminar o bullying na escola. Cabe escola

desenvolver estratégias e metodologias adequadas às diferentes séries e aos

diferentes contextos históricos-sociais. É importante que ações sejam adotadas

rapidamente, pois quanto antes a escola intervir maiores são as chances de se obter

resultados satisfatórios

Nesse contexto, pesquisar, estudar e discutir o tema com os estudantes

apresentou-se como uma boa estratégia, visto que eles, a partir do conhecimento do

tema, suas características e consequências, passaram a adquirir um autocontrole de

suas atitudes para com os seus colegas e consequentemente uma redução do

índice de violência no espaço escolar, como pode ser constatado na pesquisa

realizada.

É importante a cautela e o compromisso de toda a comunidade escolar diante

de qualquer indício a prática de bullying, e que os professores, pais e demais

membros da comunidade escolar estejam em alerta permanente para imediatamente

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buscar soluções, sempre com o intuito de transformar a escola em um lugar seguro,

saudável e amistoso.

Sabemos que as perspectivas de ação para prevenção do bullying não são

das mais fáceis, mas se tem claro que sem o engajamento de todos os envolvidos

no processo educacional, isto é, escola, família e sociedade, torna-se impossível o

combate ao bullying dentro das instituições escolares.

Como proposta, com base nos dados coletados, verificou-se que uma das

estratégias mais eficazes, foi a escola promover grupo de estudos e debates

envolvendo professores, equipe pedagógica, pais e estudantes, sempre com o

objetivo de buscar soluções para enfrentamento do bullying no ambiente escolar.

Sabemos que as ações de combate referentes a esse problema são praticamente

sem custo e que o comprometimento e envolvimento de todos é o caminho mais fácil

para obtenção de êxito na prevenção e erradicação dessa violência nas escolas.

A violência envolve toda a sociedade e não pode ser vista como um problema

apenas da escola, pois ela desempenha um papel primordial na construção de um

mundo melhor e na formação da cultura da não violência. Por outro lado, a escola é

espaço importantíssimo de enfrentamento do problema, porque ela tem como

compromisso resgatar alguns valores como tolerância, respeito às diferenças, ao

amor e a solidariedade. Enfim preparar seus estudantes para conviver numa

sociedade, exercendo de forma plena e respeitosa seus direitos de cidadão.

5 REFERÊNCIAS

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SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes com medo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:

Objetiva, 2008.

6. ANEXOS.

6.1 Questionário aplicado aos alunos.

1- Nome da escola que você estuda.

2- Sexo

( ) masculino ( ) feminino

3- Idade ___________

4-Você estuda na 5ª série _________

5- Você já presenciou algum colega sendo agredido dentro da escola sem motivo?

( ) sim ( ) não

6- Se você respondeu sim a pergunta anterior, assinale com um X quais agressões

você presenciou.

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( ) agressões físicas ( chute,tapa,etc.) ( ) agressões verbais (palavrões, apelidos,etc.) ( ) ameaças ( ) discriminação (cor,classe social,etc.) ( ) humilhação ( ) perseguição ( ) ofensas ( ) intimidação ( ) roubo ( ) exclusão ( ) agressão

7- Você já foi vítima de algum tipo de agressão dentro da escola?

( ) sim ( ) não

8- Se você respondeu sim na pergunta anterior, assinale com um X quais agressões

você sofreu.

( ) agressões físicas ( chute,tapa,etc.) ( ) agressões verbais (palavrões, apelidos,etc.) ( ) ameaças ( ) discriminação (cor,classe social,etc.) ( ) humilhação ( ) perseguição ( ) ofensas ( ) intimidação ( ) roubo ( ) exclusão ( ) agressão 9- Você se sente bem dentro da escola?

( ) sim ( ) não

10- Você se sente seguro dentro da escola?

( ) sim ( ) não

11- Qual o seu local preferido na escola?

( ) Sala de aula ( ) Pátio ( ) Sala da direção ( ) Refeitório ( ) Quadra ( ) Banheiro

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( ) Outro

12- Qual local da escola você menos gosta?

( ) Sala de aula ( ) Pátio ( ) Sala da direção ( ) Refeitório ( ) Quadra ( ) Banheiro ( ) Outro

13- Você se sente seguro na entrada e na saída da escola?

( ) sim ( ) mais ou menos ( ) não

14- Onde você se sente mais seguro na escola?

( ) Sala de aula ( ) Pátio ( ) Sala da direção ( ) Refeitório ( ) Quadra ( ) Banheiro ( ) Outro

15- Você já deixou de ir a escola por medo de algum colega?

( ) nunca ( ) uma vez ( ) mais de uma vez

6.2 Questionário aplicado aos professores.

1-Nome da escola que você atua.

2- Sexo

( ) masculino ( ) feminino

3-Há quantos anos você exerce como educador? __________________

4-Você já presenciou algum caso de bullying na sua sala de aula? Qual?

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5-Você tem conhecimento de algum aluno(a) que abandonou a escola por sofrer

bullying?

6- Você tem conhecimento ou suspeita de algum aluno(a) que frequenta a escola,

esteja sendo vítima de bullying?

7-Como você acha que o professor deve reagir quando ocorre o bullying na sua

presença?

8-De acordo com as atitudes do professor em sala de aula, você acha que ele pode

aumentar ou diminuir a incidência de bullying? Justifique a sua resposta?

9- Você a credita que os alunos vítimas de bullying tem mais dificuldade de

aprender? Por quê?

10-Apesar de sempre ter existido, o bullying tem sido muito divulgado nesses últimos

meses pela mídia, devido a sérios casos ocorrido dentro do âmbito escolar. Você

como educador(a) tem pesquisado sobre o assunto? Justifique a sua resposta?