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CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROCEDIMENTO AVOCADO N° 1.00005/2018-23 Relator: Conselheiro LUCIANO NUNES MAIA FREIRE Requerente: Conselho Nacional do Ministério Público Requerido: JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃO Membro do Ministério Público do Estado do Piauí Adv.: ÁLVARO VILARINHO BRANDÃO – OAB/PI nº 9914 E M E N T A PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR AVOCADO APÓS PROVOCAÇÃO DA CORREGEDORIA NACIONAL. MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ. PRELIMINARES REJEITADAS. ELEMENTOS PROBATÓRIOS SUFICIENTES À CONDENAÇÃO DO PROCESSADO PELA INFRAÇÃO IMPUTADA. PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO ADMINISTRATIVA DISCIPLINAR PARA APLICAÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO. FATOS TIPIFICADOS NA LEI PENAL COMO CRIME. VIOLAÇÃO DO DEVER DE MANTER ILIBADA CONDUTA PÚBLICA E PARTICULAR. CONDUTA INCOMPATÍVEL COM O EXERCÍCIO DO CARGO. 1. Trata-se de Processo Administrativo Disciplinar instaurado no âmbito do Ministério Público do Estado do Piauí e avocado pelo CNMP, no uso das atribuições que lhe foram conferidas pelo artigo 130-A, §2º, III, da Constituição Federal, em razão da morosidade excessiva da unidade ministerial de origem em dar regular prosseguimento ao feito, decorrente de sucessivas declarações de suspeição, gozo de férias e da falta de quórum às sessões de julgamento do Processo Administrativo nº 02/2014. 2. Prescrição afastada. O fato imputado ao membro ministerial requerido também configura crime, razão pela qual o prazo prescricional da respectiva ação disciplinar tem por parâmetro o estabelecido na lei penal (artigo 109 do Código Penal), conforme determina o artigo 142, § 2º, da Lei nº 8.112/90, independentemente da sorte da ação criminal. Precedentes do Egrégio Supremo Tribunal Federal: RMS n. 31.506/DF AgR, 1ª T., DJe 26.3.2015; MS n. 24.013/DF, Plenário, DJ 1.7.2005; RMS n. 30.965/DF, 2ª T., DJe 26.10.2012; RMS n. 33.858, 2ª T., DJe 18-12-2015. 3. Preliminar de nulidade por excesso de prazo superada. Segundo enunciado de súmula 592, do Superior Tribunal de Justiça, “o excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade se houver 1/26 ORIGINAL DO DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE POR: LUCIANO NUNES MAIA FREIRE, EM 26/06/2018 19:15:28 (HORARIO DE BRASILIA) ENDERECO PARA VERIFICACAO DO DOCUMENTO ORIGINAL: http://elo.cnmp.mp.br/pages/verificarDocumento.seam?chave=sfyUZl

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CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

PROCEDIMENTO AVOCADO N° 1.00005/2018-23

Relator: Conselheiro LUCIANO NUNES MAIA FREIRE

Requerente: Conselho Nacional do Ministério Público

Requerido: JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃOMembro do Ministério Público do Estado do Piauí

Adv.: ÁLVARO VILARINHO BRANDÃO – OAB/PI nº 9914

E M E N T A

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR AVOCADO APÓSPROVOCAÇÃO DA CORREGEDORIA NACIONAL. MEMBRO DOMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ. PRELIMINARESREJEITADAS. ELEMENTOS PROBATÓRIOS SUFICIENTES ÀCONDENAÇÃO DO PROCESSADO PELA INFRAÇÃO IMPUTADA.PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO ADMINISTRATIVA DISCIPLINARPARA APLICAÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO. FATOS TIPIFICADOS NALEI PENAL COMO CRIME. VIOLAÇÃO DO DEVER DE MANTERILIBADA CONDUTA PÚBLICA E PARTICULAR. CONDUTAINCOMPATÍVEL COM O EXERCÍCIO DO CARGO. 1. Trata-se de Processo Administrativo Disciplinar instaurado no âmbito doMinistério Público do Estado do Piauí e avocado pelo CNMP, no uso dasatribuições que lhe foram conferidas pelo artigo 130-A, §2º, III, daConstituição Federal, em razão da morosidade excessiva da unidadeministerial de origem em dar regular prosseguimento ao feito, decorrente desucessivas declarações de suspeição, gozo de férias e da falta de quórum àssessões de julgamento do Processo Administrativo nº 02/2014.2. Prescrição afastada. O fato imputado ao membro ministerial requeridotambém configura crime, razão pela qual o prazo prescricional da respectivaação disciplinar tem por parâmetro o estabelecido na lei penal (artigo 109 doCódigo Penal), conforme determina o artigo 142, § 2º, da Lei nº 8.112/90,independentemente da sorte da ação criminal. Precedentes do EgrégioSupremo Tribunal Federal: RMS n. 31.506/DF AgR, 1ª T., DJe 26.3.2015; MSn. 24.013/DF, Plenário, DJ 1.7.2005; RMS n. 30.965/DF, 2ª T., DJe26.10.2012; RMS n. 33.858, 2ª T., DJe 18-12-2015.3. Preliminar de nulidade por excesso de prazo superada. Segundo enunciadode súmula 592, do Superior Tribunal de Justiça, “o excesso de prazo para aconclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade se houver

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demonstração de prejuízo à defesa”. Ausência de prova de prejuízo à defesa noâmbito deste processo administrativo disciplinar. A toda evidência, osprincípios do contraditório e da ampla defesa foram devidamente prestigiados,uma vez que a instrução probatória fora integralmente refeita frente a esteConselho Nacional por ocasião da avocação, sendo, inclusive, dispensados osatos instrutórios praticados na origem.4. O conjunto probatório produzido nos autos é firme no sentido de que oProcurador de Justiça processado, na noite do dia 13 de dezembro de 2013, naAvenida Presidente Kennedy em Teresina/PI, ao conduzir o veículo marcaToyota modelo Corolla, placas NIO-3495, em estado de embriaguez, colidiucom o veículo Honda Civic, placas LVX-5447 e empreendeu fuga do local emseguida e, mesmo após ser interceptado, desferiu um tapa no rosto do condutordeste veículo e resistiu à ordem dos policiais militares.5. A produção probatória levada a cabo por este Conselho Nacional resultouna coleta de elementos suficientes à condenação do processado pela infraçãoimputada. O depoimento das testemunhas policiais militares e da vítima, orelatório de ocorrência policial, o ofício expedido pelo Delegado Plantonista eo vídeo gravado durante a abordagem policial ao membro do MinistérioPúblico confirmam, de maneira inequívoca, os fatos apontados na portariainaugural.6. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido deque a embriaguez na condução de veículo automotor, até mesmo para finspenais, prescinde do exame de alcoolemia (teste do bafômetro), de sorte queoutros elementos de prova, tais quais a prova testemunhal e as imagens emvídeos, são aptas a comprovar a infração penal, situação que se verifica naespécie dos autos.7. Fatos que se encontram também sob apuração no âmbito criminal (AçãoPenal nº 2018.0001.000091-0), ainda pendente de recebimento pelo órgãojudiciário competente.8. É sabido por todos que, na qualidade de membro do Ministério Público, oProcurador de Justiça processado tem o dever de manter ilibada condutapública e particular (art. 43, I, Lei 8.625/93; art. 82, I, LOMP/PI), sob pena decometimento de infração funcional caracterizada pelo descumprimento dedever legal, bem como diante da prática de ato incompatível com o exercício docargo (artigos 154 e 150, II, LOMP/PI). Deve-se observar que a boa conduta éimpositiva para qualquer cidadão, e, tratando-se de um agente de Estado, aobservância a padrão ético de conduta é ainda mais evidente, mormente demembro do Ministério Público, instituição constitucional incumbida da defesada ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuaisindisponíveis (artigo 127 da Constituição Federal).9. Procedência da pretensão disciplinar para aplicação da penalidade desuspensão, nos termos do artigo 154, in fine c/c artigo 155, ambos da

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LOMP/PI, diante da manifesta e grave violação ao dever de manter ilibadaconduta pública e particular (artigo 82, I, LOMP/PI) e da patente infraçãofuncional de conduta incompatível com o exercício funcional (artigo 150, II,LOMP/PI).9. Considerados a natureza e a gravidade da infração, os danos dela advindosao serviço público e os antecedentes funcionais do requerido, razoável eproporcional a fixação do prazo de duração de 60 (sessenta) dias para apenalidade aplicada, qual seja, suspensão não remunerada.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos, o Conselho, por unanimidade,

rejeitou as preliminares e julgou procedente o Procedimento Avocado para determinar

a aplicação da pena de suspensão por 60 (sessenta) dias ao Procurador de Justiça do

Ministério Público do Estado do Piauí, Dr. JOSÉ RIBAMAR DA COSTA

ASSUNÇÃO, nos termos do voto do Relator.

Brasília-DF, 26 (vinte e seis) de junho de 2018.

(assinado digitalmente)LUCIANO NUNES MAIA FREIRE

Conselheiro Relator

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PROCEDIMENTO AVOCADO N° 1.00005/2018-23

Relator: Conselheiro LUCIANO NUNES MAIA FREIRE

Requerente: Conselho Nacional do Ministério Público

Requerido: JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃOMembro do Ministério Público do Estado do Piauí

Adv.: ÁLVARO VILARINHO BRANDÃO – OAB/PI nº 9914

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Procedimento Avocado que tem por objeto o Processo

Administrativo Disciplinar nº 02/2014, instaurado originariamente no Ministério

Público do Estado do Piauí em face do Procurador de Justiça JOSÉ RIBAMAR DA

COSTA ASSUNÇÃO, membro daquela unidade ministerial da federação.

Apura-se a responsabilidade funcional do acusado pelos fatos ocorridos

no dia 13 de dezembro de 2013, na Avenida Presidente Kennedy, em Teresina/PI,

ocasião na qual o Procurador de Justiça JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃO,

ao conduzir veículo automotor supostamente em estado de embriaguez, teria colidido

com o veículo dirigido pelo Sr. JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTO

e empreendido fuga do local em seguida e, mesmo após ser interceptado, teria

desferido um tapa no rosto desse condutor, se recusado a arcar com os danos causados

e, ainda, teria oposto resistência à ordem dos policiais militares.

Em homenagem aos princípios da ampla defesa e do contraditório,

determinei nova citação do processado para apresentar defesa prévia, no prazo

regimental (fls. 256/257).

Devidamente citado no dia 03 de março de 2018 (fls. 264/265), o

requerido constitui advogado à fl. 267.

Em sede de defesa prévia, sustentou, preliminarmente, a prescrição da

pretensão punitiva disciplinar, assim como a declaração de nulidade por excesso de4/26

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prazo para a conclusão do processo disciplinar, subsidiariamente, requereu a oitiva da

testemunha MARCELO BRUNO PEREIRA DE OLIVEIRA (fls. 272/290). Na

ocasião, também juntou aos autos representações que Sua Excelência ofereceu em

desfavor do jornalista JOSÉ DE ARIMATEIA AZEVEDO (fls. 293/296), dos

jornalistas/repórteres DANIEL SILVA, FÁBIO CARVALHO, POLIANA OLIVEIRA,

LÍDIA BRITO (fls. 297/302), dos policiais militares Soldado GERSON LIMA

DAMIÃO, Sargento BURLAMAQUI e Capitão PESSOA (fls. 303/316), do Delegado

de Polícia Civil do Estado do Piauí JAMES GUERRA JÚNIOR e do Secretário de

Segurança Pública ROBERT RIOS MAGALHÃES (fls. 317/320), bem como o termo

de declaração do Sr. MARCELO BRUNO PEREIRA DE OLIVEIRA (fls. 344/347) e

matérias jornalísticas (fls. 348/349).

Na sequência, determinei o aproveitamento parcial dos atos praticados no

processo administrativo originário, a compreender a portaria inaugural e os atos a ela

antecedentes. Ademais, afastei as preliminares de prescrição e de nulidade por excesso

de prazo para conclusão do processo. Na ocasião, designei as diligências instrutórias, a

partir do agendamento da oitiva da testemunha arrolada pela defesa (Sr. MARCELO

BRUNO PEREIRA DE OLIVEIRA), bem como das testemunhas arroladas na portaria

inaugural (EVANDRO DA SILVA LIMA, JAMES RANYERE GRANCINDO DO

NASCIMENTO e LÚCIO DE SOUSA BURLAMAQUI) e, por fim, do interrogatório

do acusado (fls. 370/379).

Às fls. 407/409, indeferi, motivadamente, o pedido de adiamento da

instrução apresentado pela defesa.

Com efeito, nos dias 08, 09 e 10 de maio de 2018, foram ouvidas a

vítima JAMES RANYERE GRANCINDO DO NASCIMENTO, as testemunhas

EVANDRO DA SILVA LIMA e LUCIO DE SOUSA BURLAMAQUI e foi

interrogado o acusado (fls. 427/438). Diante da ausência injustificada da testemunha

arrolada pela defesa, com o seu consentimento, o depoimento prestado na origem por

MARCELO BRUNO PEREIRA DE OLIVEIRA foi admitido como prova emprestada.

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Ao final, foi fornecida mídia digital com a íntegra dos depoimentos à defesa (fl. 435).

Às fls. 445/448, foram juntadas certidões criminais expedidas a respeito

do acusado, a pedido da defesa.

Às fls. 450/1211, foram juntados aos autos os assentamentos funcionais

do Procurador de Justiça requerido, em cumprimento ao previsto no artigo 100 do

RI/CNMP.

Pessoalmente intimado no dia 12/06/2018 para apresentar alegações

finais (fl. 1216/1217), o prazo regimental de 10 dias decorreu in albis.

Em seguida, o requerido e seu advogado constituído nos autos foram

devidamente intimados da inserção deste procedimento na pauta da 11ª Sessão

Ordinária de 2018, a ser realizada no dia 26 de junho, para, querendo, apresentar

sustentação oral (fls. 1223/1228).

É o relatório; passo ao voto.

V O T O

I – DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

DISCIPLINAR

Alega o requerido que a persecução disciplinar em comento se encontra

fulminada pela prescrição, por haver subsunção da falta supostamente praticada ao

disposto no artigo 82, I da Lei Complementar nº 12/19931 e, portanto, seria punível, no

máximo, com a penalidade de censura, nos termos do artigo 154 da Lei Orgânica do

Ministério Público do Estado do Piauí2, a qual prescreve no prazo de 1 (um) ano

1Artigo 82. São deveres dos membros do Ministério Público, além de outros previstos em Lei:I – manter ilibada conduta pública e particular.

2Artigo 154. A pena de censura será aplicada reservadamente, por escrito, em caso de reincidência em falta jápunida com advertência ou de descumprimento de dever legal, se a infração não exigir a aplicação de pena maisgrave.

Parágrafo único – A pena de censura impossibilitará a inclusão em lista de promoção por merecimento,6/26

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(artigo 162, I, LC nº 12/19933).

Sustenta a defesa que o processo administrativo disciplinar limitou-se a

tratar exclusivamente de violação do dever funcional previsto no artigo 82, I, da LC nº

12/93, razão pela qual não seria possível dilatar o prazo prescricional, por meio do

expediente previsto no artigo 162, parágrafo único, da LOMP/PI, o qual prevê:

Artigo 162, parágrafo único. A falta, também prevista na lei penal como crime,prescreverá juntamente com este.

Não merece prosperar a alegação defensiva.

Não há que se falar em prescrição da pretensão punitiva disciplinar a ser

eventualmente imposta ao processado, pois o fato imputado ao requerido também

configura crime.

Importa observar que a Portaria Inaugural deste Processo Administrativo

Disciplinar descreve condutas, em tese, tipificadas no artigo 306 do Código de

Trânsito Brasileiro e nos artigos 129 e 329, ambos do Código Penal, a seguir

transcritos:

Código de Trânsito Brasileiro. Artigo 306. Conduzir veículo automotor comcapacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou deoutra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pelaLei nº 12.760, de 2012)Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibiçãode se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Código Penal. Lesão CorporalArtigo 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:Pena – detenção, de três meses a um ano.

ResistênciaArtigo 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça afuncionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestandoauxílio:Pena – detenção, de dois meses a dois anos.

pelo prazo de um ano, a contar da data de sua imposição.3Artigo 162. Prescreverá:

I – em um ano a falta punível com admoestação verbal, advertência ou censura.7/26

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Desta feita, capitulada a infração administrativa como ilícito penal, o

prazo prescricional da respectiva ação disciplinar tem por parâmetro o estabelecido na

lei penal (artigo 109 do Código Penal), conforme determina o artigo 142, § 2º, da Lei

8.112/90, independentemente da instauração de ação criminal. Nesse sentido,

impende trazer à baila o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REGÊNCIA:CPC/1973. AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E INDIGNIDADE NA FUNÇÃOPÚBLICA. PENA DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. PRESCRIÇÃO DAPRETENSÃO PUNITIVA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA CAPITULADACOMO CRIME: PRAZO PRESCRICIONAL PREVISTO NA LEI PENAL.PRECEDENTES. INDEPENDÊNCIA RELATIVA ENTRE AS INSTÂNCIASPENAL E ADMINISTRATIVA. PROPORCIONALIDADE NA APLICAÇÃO DAPENA: ATO VINCULADO. PRECEDENTES. CONSTITUCIONALIDADE DAPENA DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA (ART. 134 DA LEI N.8.112/1990). PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DEFATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO MANDADO DE SEGURANÇA.RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA DESPROVIDO.(RMS 33937, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em06/09/2016, DJe-246 21-11-2016)

Com efeito, o egrégio Supremo Tribunal Federal acata a orientação de

que bastaria a capitulação da infração administrativa como crime para ser considerado

o prazo prescricional previsto na lei penal, como assentado nos seguintes julgados:

Mandado de Segurança n. 24.013/DF, Redator para o acórdão o Ministro

SEPÚLVEDA PERTENCE, Plenário, DJ 1.7.2005; Agravo Regimental no Recurso

Ordinário em Mandado de Segurança n. 31.506/DF, Relator o Ministro ROBERTO

BARROSO, Primeira Turma, DJe 26.3.2015; Recurso Ordinário em Mandado de

Segurança n. 30.965/DF, CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe 26.10.2012.

O fato imputado ao Recorrente caracteriza, ao menos, o crime previsto

no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, atraindo-se a incidência da norma

contida no § 2º do art. 142 da Lei n. 8.112/1990, segundo a qual se determina a

consideração do prazo prescricional previsto na lei penal: oito anos na espécie vertente

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(art. 109, inc. IV, do Código Penal).

Cumpre frisar que, no mesmo sentido, já decidiu este Conselho Nacional,

no julgamento da Revisão de Processo Disciplinar nº 1.00112/2016-2 e do Processo

Administrativo Disciplinar nº 1.00075/2016-65. Vejamos:

“A preliminar de prescrição foi rejeitada, uma vez que o prazoprescricional é o previsto na legislação penal, em virtude de a condutaconfigurar, em tese, crime. É irrelevante se o processo foi instauradoalém do prazo prescricional previsto na Lei Orgânica para apurar aconduta infracional” (RPD nº 1.00112/2016-2, Relator ConselheiroWALTER DE AGRA JÚNIOR, DJ 13/06/2016).

“(…) Preliminar de prescrição afastada. Na hipótese de a infraçãodisciplinar também se constituir em infração penal, deve prevalecer oprazo prescricional fixado pela lei penal, conforme previsto no artigo149, § 2º da LOMP/MA. O prazo prescricional diferenciado encontrajustificativa suficiente na gravidade da infração disciplinar, razão pelaqual se revela desnecessário subordinar a incidência da norma estatutáriaà exigência da ação penal em curso, em concomitância com o PAD.Precedentes do egrégio Supremo Tribunal Federal: RMS nº 31.506/DFAgR, 1ª T., DJe 26.03.2015; MS nº 24.013/DF, Plenário, DJ 1.7.2005;RMS nº 30.965/DF, 2ª T., DJe 26.10.2012; RMS nº 33.858, 2ª T., DJe 18-12-2015” (PAD nº 1.00075/2016-65, Relator Conselheiro SÉRGIORICARDO DE SOUZA, DJ 08/11/2016).

Tampouco a inocorrência de trânsito em julgado da sentença

condenatória na esfera penal mostra-se relevante, pelo princípio da independência

relativa entre as instâncias administrativa e penal, a significar a atuação simultânea das

esferas, sem afetarem-se umas às outras, ressalvadas as hipóteses de reconhecimento,

na esfera criminal, da inexistência do fato ou da negativa de autoria (Mandado de

Segurança n. 25.880/DF, Relator o Ministro EROS GRAU, Plenário, DJ 16.3.2007;

Recurso Extraordinário com Agravo com Repercussão Geral n. 691.306/MS, Relator o

Ministro CEZAR PELUSO, Plenário Virtual, DJe 11.9.2012; Embargos de Declaração

no Agravo de Instrumento n. 521.569/PE, Relatora a Ministra ELLEN GRACIE,

Segunda Turma, DJe 14.5.2010; Mandado de Segurança n. 21.708, Redator para o

acórdão o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, Plenário, DJ 18.5.2001; Mandado de

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Segurança n. 22.438, Relator o Ministro MOREIRA ALVES, Plenário, DJ 6.2.1998), o

que não ocorreu na espécie vertente.

Adicionalmente, cumpre frisar que foi proposta a respectiva ação penal

em desfavor do Procurador de Justiça requerido em relação aos mesmos fatos

reportados neste feito disciplinar (Ação Penal nº 2018.0001.000091-0), imputando-

lhes os crimes do artigo 306, CTB e 329, CP, ainda pendente de recebimento pelo

órgão judiciário competente4.

Cumpre salientar que a lesão corporal não foi objeto da ação penal, tendo

em vista se tratar de crime de ação penal pública condicionada à representação, em

relação a qual renunciou o ofendido, em virtude de acordo para reparação dos danos

materiais ao veículo automotor por ele conduzido firmado com o requerido.

Nessa ordem de ideias, o prazo prescricional é, a teor do artigo 162,

parágrafo único, da Lei Orgânica do MP/PI, o previsto na lei penal, ou seja, de 08 anos

em relação à suposta prática do crime previsto no artigo 306 do CTB (embriaguez ao

volante), de 04 anos em relação à suposta prática do crime previsto no artigo 129 do

CP (lesão corporal) e de 04 anos em relação à suposta prática do crime previsto no

artigo 329 do CP (resistência). Sendo certo que tais lapsos temporais não

transcorreram entre a data dos fatos (13/12/2018) e a data da instauração do presente

processo administrativo disciplinar (27/06/2014) e entre essa data e o presente

julgamento5.

Destarte, afasto a preliminar de prescrição sustentada pela defesa.

4Segundo consulta processual realizada no dia 07/06/2018 no sítio oficial do Tribunal de Justiça do Estado doPiauí, na data de 10 de janeiro de 2018, os autos foram distribuídos por sorteio. Porém, em virtude de sucessivasdeclarações de suspeição, o recebimento (ou não) da denúncia não fora apreciado. No dia 24/05/2018, o Pleno doegrégio Tribunal de Justiça do Estado do Piauí determinou a redistribuição dos autos à 6ª Vara Criminal daComarca de Teresina/PI, que é a competente para processar crimes de trânsito, considerando recente precedentedo colendo Supremo Tribunal Federal sobre a restrição da prerrogativa de foro para condutas descritas comocrimes que não se relacionam com as funções do cargo público. Logo após, no dia 05/06/2018, foi protocolizadapetição elo advogado constituído do Procurador de Justiça JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃO. Este é oúltimo lançamento constante da movimentação processual da Ação Penal nº 2018.0001.000019-0. No mesmosentido, certidão de fl. 448.5Artigo 163. A prescrição começa a correr: I – do dia em que a falta for cometida; II - do dia em que tenhacessado a continuidade ou permanência, nas faltas continuadas ou permanentes. Parágrafo único. Interrompem aprescrição a instauração de processo administrativo e a citação para ação de perda de cargo.

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II – DA PRELIMINAR DE NULIDADE POR EXCESSO DE PRAZO PARA

CONCLUSÃO DO PROCESSO

Sustenta a defesa, em síntese, que o processo administrativo disciplinar

deve ser concluído dentro de sessenta dias, prorrogável por mais trinta dias, nos termos

do artigo 175, da LOMP/PI. Ocorre que o respectivo prazo não foi observado, uma vez

que o feito foi instaurado no dia 27 de junho de 2014 e até a presente data não foi

concluído.

A irresignação não merece prosperar.

Conforme pacífica jurisprudência dos Tribunais Superiores, o excesso de

prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar não é causa de sua

nulidade quando não demonstrado prejuízo à defesa do acusado.

A esse respeito, colaciono arestos proferidos pelo excelso Supremo

Tribunal Federal e pelo colendo Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PROCESSO ADMINISTRATIVODISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO. ATO DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. EXCESSO DE PRAZO PARA A INSTRUÇÃO DO PAD.NÃO OCORRÊNCIA. NOVA INSTRUÇÃO PROCESSUAL APÓS ORELATÓRIO DA COMISSÃO PROCESSANTE. POSSIBILIDADE.AUSÊNCIADE COISA JULGADA ADMINISTRATIVA. DESCRIÇÃO ADEQUADA DOSFATOS. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. AMPLA DEFESAGARANTIDA. PROPORCIONALIDADE DA PENA DE DEMISSÃO.RECURSO ORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Ressalvada ahipótese de prescrição, não é necessariamente, de per se, nulo o processoadministrativo disciplinar por causa do decurso do prazo máximo de 140dias para sua conclusão. Precedentes. 2. É possível a autoridade julgadorabaixar os autos do processo administrativo disciplinar em diligência a fim defazer prevalecer o princípio da verdade material. 3. Nos termos do art. 168 daLei 8.112, a autoridade julgadora do processo administrativo disciplinar nãose vincula ao relatório da comissão processante. 4. A portaria inicial doprocesso administrativo disciplinar deve garantir que a descrição dos fatosseja feita de modo a permitir o exercício do direito de defesa em relação aosfatos e não à imputação eventualmente indicada. Precedentes. 5. Ao prever a

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demissão do servidor que incorre em ato de improbidade administrativa, oEstatuto dos Servidores da União faz remissão às condutas tipificadas na leide improbidade administrativa, razão pela qual, nessa qualidade, podem serapuradas e punidas pela própria Administração. Precedentes. 6. Nos termosdo Decreto 5.483, de 30 de junho de 2005, a evolução patrimonial quecaracteriza a improbidade administrativa é apurada por meio da competentesindicância patrimonial, que tem por objetivo a prova dadesproporcionalidade da evolução patrimonial, conforme previsão constantedo art. 9º, VII, da Lei 8.429. A desproporcionalidade implica, como presunçãorelativa, ato de enriquecimento ilícito. 7. Nos casos de demissão por atodoloso de improbidade administrativa, a proporcionalidade da pena, porexigir reapreciação de aspectos fáticos, não é admitida na via estreita domandado de segurança. Precedentes. 8. Recurso ordinário a que se negaprovimento. (RMS 33666, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Relator p/Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 31/05/2016,DJe-201 21-09-2016)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSOPRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. FALTA GRAVE. EXCESSO DEPRAZO PARA A CONCLUSÃO DO PAD. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO.CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. WRIT NÃOCONHECIDO. 1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e oSuperior Tribunal de Justiça, por sua Terceira Seção, diante da utilizaçãocrescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a suaadmissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela viarecursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, deofício, nos casos de flagrante ilegalidade. 2. Não se verifica nulidade emdecorrência do excesso de prazo para a conclusão do processo disciplinar,quando incapaz de trazer prejuízo ao exercício de defesa pelo apenado.Precedentes. 3. In casu, não há comprovação de eventual prejuízo causado àdefesa pelo fato de o PAD não ter sido concluído no prazo estabelecido pelalegislação estadual pertinente. 4. Habeas corpus não conhecido. (HC373.733/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTATURMA, julgado em 02/05/2017, DJe 05/05/2017)

Tão remansoso é o entendimento que recentemente o egrégio Superior

Tribunal de Justiça editou a Súmula 592, segundo a qual “o excesso de prazo para a

conclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade se houver

demonstração de prejuízo à defesa”.

Destarte, ausente prova de prejuízo à defesa no âmbito deste processo

administrativo disciplinar, não há nulidade a ser reconhecida. Ao contrário, a toda

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evidência, os princípios do contraditório e da ampla defesa foram devidamente

prestigiados, uma vez que a instrução probatória fora integralmente refeita frente a este

Conselho Nacional por ocasião da avocação, sendo dispensados os atos instrutórios

praticados na origem.

Cumpre salientar, eminentes Conselheiros, que este processo

administrativo disciplinar tramitou perante o Ministério Público do Estado do Piauí

entre 24 de junho de 2014 e 14 de novembro de 2017, até ser avocado por este

Conselho Nacional, em virtude das sucessivas alegações de suspeição e impedimento

por parte dos membros do MP/PI designados para constituir a Comissão Processante.

Portanto, o presente PAD tramitou na origem por mais de 03 (três) anos, sem que

houvesse o devido processamento e julgamento.

Sendo assim, afasto a preliminar de nulidade por excesso de prazo.

III – DO MÉRITO

Conforme consta na Portaria nº 1214 de 27 de junho de 2014, verificou-

se que, no dia 13 de dezembro de 2013, o Procurador de Justiça do Ministério Público

do Estado do Piauí, Dr. JOSÉ RIBAMAR DA COSTA ASSUNÇÃO, realmente,

conduziu veículo marca Toyota modelo Corolla, placas NIO-3495, em estado de

embriaguez, colidiu com o veículo Honda Civic, placas LVX-5447, dirigido pelo Sr.

JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTO, empreendeu fuga do local em

seguida, e, após ser interceptado, desferiu um tapa no rosto do condutor desse veículo

e se recusou a arcar com os danos causados e, ainda, resistiu à ordem policial, fatos

ocorridos na Avenida Presidente Kennedy, em Teresina/PI.

O acervo probatório dos autos demonstra, de forma coesa e segura, a

autoria e a materialidade da falta funcional descrita na Portaria nº 1214, de 27 de junho

de 2014, de sorte que a procedência do pedido disciplinar é medida imperiosa.

A vítima JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTO

asseverou que:

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“(…) em 13 de dezembro daquele ano, em torno das 20h, estavajuntamente com sua namorada e cunhado fazendo um retorno naavenida quando ocorreu o acidente; que o carro do requerido nãoparou, afirmou que seguiu e interceptou seu carro para que parasse;nesse momento o requerido insistiu em arrancar com o carro, e odeclarante desceu do carro e pediu para que o Procurador parasse ocarro para tentar resolver; esse desferiu um tapa no rosto da vítima,ficando marca vermelha. O membro estava sozinho e visivelmenteembriagado, descendo com dificuldade do carro. A vítima chamou apolícia e quando os policias chegaram o Procurador tentou agredir ospoliciais. Todos foram levados para a delegacia, lá apareceu a esposa eo filho do requerido, que em conversa informal garantiu a vítima querestituiria o seu prejuízo. No dia seguinte entrou em contato com o filhodo requerido e este afirmou que não arcaria com os custos do carro poiso pai era maior de idade e responsável pelos seus atos. Sobre os vídeos,afirmou que pediu para namorada filmar. Ouviu dizer que naquele dia orequerido tinha saído de uma confraternização. Afirmou que ospoliciais convidaram o requerido para fazer teste de alcoolemia e estese negou. Relatou que encaminhou o vídeo para um site, e o requerido,para reparar o dano do seu carro, exigiu que a vítima fizesse umaretratação pública sobre o ocorrido. Que foi um acordo, e o fez parareparar o prejuízo do seu carro que tinha sido grande. Depois daretratação o dano foi reparado e pegou o dinheiro com um advogado. Questionado pela defesa a vítima afirmou: que teve necessidade de“trancar” o carro do Dr. Ribamar pois percebeu que ele estava tentandofugir. Que desceu do carro, e o carro do requerido estava em baixavelocidade, com vidro abaixado, e conseguiu tirar a chave do carro,impedindo que ele fugisse. Que o requerido ficou agressivo depois queele tirou a chave do carro. Depois que os policiais chegaram por algummotivo o Procurador ficou violento e por isso o Sargento mandoualgemá-lo. Várias pessoas estavam no local assistindo o ocorrido. Sósoube que ele era Procurador de Justiça na Central da Polícia. Que nolocal do acidente conversou com o requerido e esse deu o número detelefone da esposa e ele mesmo ligou para ela avisando do ocorrido.Que na delegacia percebeu que o delegado estava se sentindo em umasituação complicada e nenhum exame foi feito, todos foram liberados”(mídia acostada aos autos – fl. 438).

Em consonância à versão apresentada pela vítima, um dos Policiais

Militares que atendeu a ocorrência, o Cabo EVANDRO DA SILVA LIMA, confirmou

que o requerido estava visivelmente embriagado, exaltado e que ofereceu resistência

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à ordens emanadas pelas autoridades policiais. Vejamos:

“(…) que o requerido estava bastante agressivo e visivelmente embriagado; que xingava os policiais, mas não agrediu fisicamentenenhum policial; que o requerido se negou a fazer o teste dobafômetro; que o requerido em momento nenhum se identificou comoProcurador, e como esse se negou a ir para delegacia ficando aindamais agressivo, teve que ser algemado; que dentro da delegacia,inclusive, o requerido continuava os agredindo verbalmente; quealgemaram o Procurador porque estavam em apenas 2 policiais e oacusado estava muito nervoso, por isso ficaram com receio de ocorreralgo mais grave; que quando chegaram no local o tapa já havia sidodesferido na vítima, mas não percebeu marcas no rosto dessa; que nãotinha conhecimento que o irmão da vítima era policial militar; quesempre são acionados quando há violência, e ele mesmo chamou aviatura de trânsito; quando chegou no local o acusado estava próximoao seu carro, afastado da vítima e algumas pessoas ao redor; queestavam trocando ofensas mas não presenciaram vias de fato entre aspartes; que a própria vítima afirmou ter tirado a chave do carro doProcurado; os curiosos estavam bastante próximos ao acidente; nãosoube identificar o responsável pela colisão pois o acidente não haviaocorrido naquele local; não houve procedimento nessa ocorrência; nãoé conhecedor das Prerrogativas dos Membros do Ministério Público;que no dia tentaram conversar várias vezes com o requerido, mas eleestava muito arredio e que como ele estava muito alterado tiveram quese juntar todos os policiais para conseguirem algemá-lo; na Central dePolícia, o delegado conversou com todos policiais envolvidos, e foideterminado que não poderia ser feito o flagrante por se tratar demembro do Ministério Público; que na delegacia não ficou nadaregistrado, não foi realizado nenhum Procedimento na delegacia”(mídia acostada aos autos fl. 438).

Na mesma linha, o Subtenente LÚCIO DE SOUSA BURLAMAQUI

aduziu o seguinte:

“que foi chamado pelo COPOM para atender fazer registro e umaperícia de acidente de veículos; que ao chegar ao local notou oProcurador bastante alterado e com certeza embriagado; solicitou adocumentação do carro, mas não foi atendido pelo requerido;convidou para fazer exame de alcoolemia, também não foi aceito;afirmou que o requerido se negava a atender as providências de praxe,o que o fez acionar o CPU; que o Procurador usava de palavras de

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baixo calão e se tornou ainda mais agressivo; foi quando o capitãoresolveu algemá-lo, pois estava querendo atingir os policiais; que ocomportamento do policial foi em prol da segurança de todos, opróprio requerido e dos policiais; informou que não houve excessos notratamento dos policiais com o Procurador; que assim que chegou aolocal soube que havia ocorrido o tapa, que haviam testemunhas nolocal que confirmaram o que foi relatado pela vítima; que conduziu ocarro do Procurador do local do acidente até a Central, e a esposa doProcurador foi no mesmo veículo, momento em que relatou nãoaguentar mais viver com o requerido por este comportamento(palhaçada) se apresentar reiteradamente; quando chegou no local orequerido estava sozinho próximo ao seu carro; soube que se tratavade um Procurador através da vítima; que recolheu a CNH dorequerido e registrou a negativa da realização do exame de alcoolemia;que depois desse dia nunca foi procurado por qualquer pessoarelacionada ao Procurador. Não sabe informar se a vítima tem algumparente policial; que ao chegar no local o policial percebeu que oProcurador se encontrava ao lado do carro, afastado da outra parte quese encontrava na calçada, que tinham curiosos, em torno de 12 pessoas.Relatou que quando chegou já existia uma guarnição policial no local.Não presenciou nenhuma agressão física contra a vítima, maspresenciou a tentativa de agressão do Procurador aos outros policiais.Não sabe informar se a esposa do requerido já estava no local quandochegou. Afirmou também que o requerido não tinha condições de fazeracordo por causa do seu estado de ânimo. Inclusive mencionou que aesposa do requerido falou diversas vezes que este era uma autoridade,que era Procurador de Justiça. Não estava com o aparelho para fazer oteste no local do acontecido. Quem deu a ordem de prisão foi o Capitão,mas não se recorda quem o algemou. Na Central de Flagrante foisolicitado o exame de alcoolemia, mas não sabe dizer se o requerido foiautuado naquele dia, pois saiu da Central após os procedimentosadministrativos para atender outras ocorrências. Que realizou umAuto de Infração, mas não há necessidade colocar observação sobre anecessidade de realização de exame de sangue, mencionou que há umaGuia em separado” (mídia acostada aos autos fl. 438).

Destarte, a prova oral produzida no decorrer da instrução é unânime no

sentido de que o Procurador de Justiça conduziu o seu veículo em intenso estado de

embriaguez e, além disso, causou acidente de trânsito, empreendeu fuga do local em

seguida, e, após ser interceptado pela vítima, desferiu-lhe um tapa no rosto, recusou-se

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a arcar com os danos causados e, ainda, resistiu à ordem policial, fatos ocorridos na

Avenida Presidente Kennedy, em Teresina/PI.

Aliados às evidências trazidas pela prova oral, encontra-se o vídeo do

momento em que o Procurador de Justiça foi conduzido à Delegacia de Polícia, de

sorte a corroborar a resistência do requerido à atuação dos policiais militares (fl. 12,

Pedido de Providência nº 17/2014 – MP/PI).

Além disso, a título de prova documental, tem-se o Ofício nº

048.161/CF/2013, segundo o qual o Delegado Plantonista FÁBIO FREIRE DE

ALBUQUERQUE declara que:

“os militares EVANDRO DA SILVA LIMA e GERSON LIMADAMIÃO apresentaram nesta Central [de Flagrantes], já por volta das22 horas, uma pessoa que os mesmos imaginavam ser procurador, ouseja, advogado público, este senhor estaria guiando o veículo dele, e naAvenida Kennedy, na saída do Extra, colidiu com o veículo do sr.JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTO (...).Neste sentido, os militares entendendo ser o caso de prisão emflagrante por Embriaguez ao Volante de um Advogado Público otrouxeram a esta Central de Flagrante, a antes do início de qualqueroitiva, ou exame, ou mesmo análise do caso, logo ao chegar nestaCentral, o filho do suposto autor da Embriaguez, o senhor Procuradorda República ALEXANDRE ASSUNÇÃO, apresentou-nos aidentificação funcional demonstrando se tratar na verdade doProcurador de Justiça do Estado do Piauí, o senhor JOSÉ RIBAMARDA COSTA ASSUNÇÃO (…), então de imediato informamos VossaSenhoria por telefone, sobre o fato e da impossibilidade de apuraçãonesta Central, o que Vossa Excelência concordou de imediato edeterminou que circunstanciássemos neste ofício o fato eencaminhássemos para Vossa Excelência, sendo o mesmo liberado eentregue ao seu filho ALEXANDRE ASSUNÇÃO, nos termosconstitucionais vigentes.Dentre as testemunhas apresentadas pelos militares constaram dentreoutras pessoas a senhora CRISTIANE MARQUES MAGALHÃES (…) ea inda a vítima JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTOalega que teria filmado toda a conduta do Procurador de Justiça queconfirmaria a suposta Embriaguez, aliada aos relatos testemunhais,salvo melhor juízo.Portanto, nos termos constitucionais e da Lei Orgânica do Ministério

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Público, Lei 8625/93, que determina: “Artigo 40. Constituemprerrogativas dos membros do Ministério Público, além de outrasprevistas na Lei Orgânica: (…) III – ser preso somente por ordemjudicial escrita, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que aautoridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas, acomunicação e a apresentação do membro do Ministério Público aoProcurador-Geral de Justiça”. Como se trata de suposto ilícito penalafiançável a apuração cabe à Procuradoria-Geral de Justiça do Estadodo Piauí, salvo melhor juízo, não cabendo prisão em flagrante.Além do que não há nenhum prejuízo à apuração posterior, pois deacordo com o artigo 306 da Lei de Trânsito, no § 2º, a verificação dodisposto neste artigo poderá ser obtida mediante vídeo, provatestemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado odireito à contraprova” (fl. 43, Pedido de Providências nº 17/2014 –MP/PI).

No mesmo sentido, no Relatório de Ocorrência Policial nº 23921 (fl. 44,

PP nº 17/2014), registrou-se que “ao ser confirmado ser Promotor de Justiça, antes do

início de qualquer oitiva ou perícia, nos termos constitucionais e da Lei Orgânica do

Ministério Público, Lei 8625/93, artigo 40, III, não cabe prisão em flagrante de crime

afiançável, sendo o caso encaminhado [por] ofício circunstanciado ao Delegado Geral

para os termos legais”.

Portanto, restou claro que o requerido, que se encontrava sozinho,

alterado e oferecia manifesta resistência à atuação policial, não logrou se identificar

como membro do Ministério Público, razão pela qual foi conduzido pelas autoridades

policiais à Delegacia de Polícia, justificadamente.

Tão logo identificado como membro do Ministério Público, o que se deu,

precisamente, quando, já na Delegacia, a identificação do processado foi devidamente

demonstrada por seu filho, o Procurador da República ALEXANDRE ASSUNÇÃO,

as autoridades policiais agiram de sorte a preservar as prerrogativas funcionais

inerentes ao cargo de Procurador de Justiça, nos moldes legalmente exigidos. Assim

sendo, tratando-se de crime afiançável, a ocorrência foi registrada, o requerido foi

prontamente liberado e os autos encaminhados ao Ministério Público para

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providências cabíveis. Para avalizar o procedimento policial, cito a lição doutrinária de

Renato Brasileiro6:

“Por sua vez, nos exatos termos da Lei Orgânica Nacional do MinistérioPúblico (Lei nº 8.625/93), constituem prerrogativas dos membros doMinistério Público ser preso somente por ordem judicial escrita, salvoem flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará, noprazo máximo de vinte e quatro horas, a comunicação e a apresentaçãodo membro do Ministério Público ao Procurador-Geral de Justiça(artigo 40, inciso III). Ademais, quando, no curso de investigação,houver indício da prática de infração penal por parte do membro doMinistério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeteráimediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos aoProcurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento àapuração (Lei nº 8625/93, artigo 41, parágrafo único).Como se percebe pela leitura dos dispositivos legais, no tocante àprisão em flagrante, há expressa restrição quanto aos crimesafiançáveis. Essa ressalva quanto à prisão em flagrante por crimesinafiançáveis não significa, no entanto, que essas autoridades estejampenalmente isentas por eles. Apesar de não ser possível a prisão emflagrante em crimes afiançáveis, a ocorrência deve ser registrada, eposteriormente encaminhada à Presidência do Tribunal a que estivervinculado o juiz, ou ao respectivo Procurador-Geral, em se tratando demembros do Ministério Público” (destaque inserido).

A despeito da contundência das provas supramencionadas e da lisura do

procedimento adotado, em sua defesa pessoal (interrogatório – mídia de fl. 438), o

processado insiste em sustentar que seria a real vítima do caso e que, a despeito de ter

proposto um acordo, não foi ouvido pela vítima e tampouco pelos policiais militares,

os quais lhe dispensaram “péssimo” tratamento.

Na mesma linha, encontra-se o depoimento do taxista MARCELO

BRUNO PEREIRA DE OLIVEIRA, única testemunha arrolada pela defesa (fls.

430/432), o qual, devidamente intimado, não compareceu ao depoimento designado na

instrução do procedimento a este Conselho Nacional. Cumpre frisar que o referido

taxista não se encontrava presente no momento do acidente e apenas chegou ao local

6DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume único. 4ª Ed. 2016. Editora Juspodium. pp.1174.

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depois que a ocorrência já se encontrava deflagrada, a pedido da esposa do requerido.

Ocorre, porém, que as provas orais e documentais, inclusive em vídeo,

são nitidamente incompatíveis com a tese defensiva: restou evidente a embriaguez do

processado na ocasião dos fatos, a lesão corporal provocada ao ofendido e a resistência

às ordens policiais.

É cediço que, mesmo na esfera penal, admite-se que a embriaguez ao

volante seja comprovada por outros meios de prova, a exemplo do exame clínico, da

perícia, de vídeo ou de prova testemunhal. Nesse sentido, cito precedente do egrégio

Superior Tribunal de Justiça:

Com o advento da Lei nº 12.760/2012, o art. 306 do Código de TrânsitoBrasileiro foi alterado de forma a tornar dispensável a realização doteste do bafômetro para a constatação do estado de embriaguez docondutor do veículo. Assim, a alteração da capacidade psicomotora docondutor do veículo poderá ser verificada mediante exame clínico,vídeo, prova testemunhal ou outros meios de provas admitidos,observado o direito à contraprova (STJ. 5ª Turma. HC 322.611/RS, Rel.Min. Felix Fischer, julgado em 01/10/2015).

É o caso dos autos, eminentes Conselheiros. Muito embora o requerido

tenha se negado a submeter-se ao exame de alcoolemia, a embriaguez na condução do

veículo automotor restou sobejamente comprovada a partir dos depoimentos colhidos

das testemunhas e da vítima, do vídeo e, ainda, do teor do Relatório de Ocorrência

lavrado pelos Policiais Militares.

Cumpre ressaltar que o próprio requerido, em seu interrogatório, chegou

a confirmar que, no dia dos fatos, saiu para jantar e “tomou uma taça de vinho” (mídia

de fl. 438). Além disso, salta aos olhos que familiar do requerido, sob testemunho dos

militares, asseverou que “não aguentavam mais o comportamento (palhaçada) se

apresentar reiteradamente”, referindo-se à embriaguez do referido membro do

Ministério Público.

Adicionalmente, insta salientar que foi proposta ação penal em desfavor

do Procurador de Justiça requerido em relação aos mesmos fatos reportados neste feito

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disciplinar (Ação Penal nº 2018.0001.000091-0), ainda pendente de recebimento pelo

órgão judiciário competente.

Portanto, restou comprovado que, no dia 13 de dezembro de 2013, o

Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do Piauí, Dr. JOSÉ RIBAMAR

DA COSTA ASSUNÇÃO, conduziu veículo marca Toyota modelo Corolla, placa

NIO-3495, em estado de embriaguez, colidiu com o veículo Honda Civic, placas LVX-

5447, dirigido pelo Sr. JAMES RANYERE GRACINDO DO NASCIMENTO,

empreendeu fuga do local em seguida, e, após ser interceptado, desferiu um tapa no

rosto do condutor deste veículo e se recusou a arcar com os danos causados e, ainda,

resistiu à ordem policial, fatos ocorridos na Avenida Presidente Kennedy, em

Teresina/PI, e que deflagram faltas funcionais previstas no artigo 82, I, na forma do

artigo 154 c/c artigo 150, II, todos da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do

Piauí, ante a manifesta incompatibilidade da conduta, inclusive na esfera particular,

com o exercício do cargo.

É sabido por todos que, na qualidade de membro do Ministério Público,

o Procurador de Justiça processado tem o dever de manter ilibada conduta pública e

particular (art. 43, I, Lei 8.625/93; art. 82, I, LOMP/PI), sob pena de cometimento de

infração funcional caracterizada pelo descumprimento de dever legal, bem como

diante da prática de ato incompatível com o exercício do cargo (artigos 154 e 150, II,

LOMP/PI).

Deve-se observar que a boa conduta é impositiva para qualquer cidadão,

e, tratando-se de um agente de Estado, a observância a padrão ético de conduta é ainda

mais evidente, mormente de membro do Ministério Público, instituição constitucional

incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais

e individuais indisponíveis (artigo 127 da Constituição Federal).

Nesse cenário, diante da missão constitucional que lhe fora designada, é

inevitável que o comportamento do membro do Ministério Público, quer na atividade

funcional, quer no âmbito privado, deve ser de tal ordem que não o exponha – ou, via

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reflexa, a Instituição – ao juízo de reprovação da coletividade, e haverá de

corresponder o tanto quanto possível, a um exemplo positivo para os colegas, para os

servidores e para a sociedade.

A propósito, digna de menção é a preciosa análise de Emerson Garcia,

advertindo que “algumas dessas regras de conduta que os integrantes do Parquet

têm o dever de praticar ou de ser abster de praticar, estão diretamente

relacionadas ao exercício da função, outras à mera existência do vínculo unindo o

agente à Instituição”.

Preconiza aquele doutrinador que responderão pelas faltas cometidas fora

do serviço, pois, notadamente, quaisquer condutas em desacordo com a lei praticadas

por integrantes dessa categoria especial de agentes políticos – fiscais do ordenamento

jurídico e defensores dos direitos fundamentais (art. 127 da Constituição) – atraem um

elevado grau de reprovabilidade social pelo exemplo negativo que projetam,

colaborando de modo particularmente interno para erodir a imagem institucional e

trazer descrédito à função pública exercida, além do prejuízo à autoridade, ao

prestígio, ao bom nome e à confiança adquirida no curso de sua evolução história.

Nesse sentido, não se pode perder de vista que o comportamento do

membro do Ministério Público, no âmbito público ou privado, reverbera na Instituição,

conduzido a sociedade (razão de ser do órgão ministerial) à descrença e ao descrédito

nos serviços ministeriais. Salta aos olhos a nocividade provocada pelo comportamento

do processado aos valores patrocinados pela Instituição, cujos reflexos negativos na

sociedade são reais, em face do fato ter ocorrido em via pública, bem como diante da

veiculação do caso por matérias jornalísticas (fls. 04/11, PP 17/2014).

Com efeito, deve o representante do MP pugnar pela observância de

princípios de estatura constitucional, de modo que a sua conduta deve corresponder,

tanto quanto possível, a um exemplo a ser seguido pelos demais membros da

sociedade. A propósito do tema, registro precedente do egrégio Superior Tribunal de

Justiça no bojo do qual foi assentada punição a membro do Ministério Público por

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infrações ao CTB até menos gravosas do que aquelas objeto da presente apuração:

“Recurso ordinário em mandado de segurança. Membro do MinistérioPúblico. Pena disciplinar de censura. Conduta incompatível com afunção. Infração ao Código de Trânsito. Condução de veículoautomotor com registro de restrição junto ao RENAVAM, sem carteirade habilitação e impingindo velocidade acima do permitido.Comportamento atentatório da ética funcional ao ser encaminhado àdelegacia. Observância dos princípios constitucionais da ampla defesae do contraditório. Ausência de direito líquido e certo. Recursodesprovido. 1. O indiciado se defende dos fatos que lhe são imputados enão de sua classificação legal, de sorte que a posterior alteração dacapitulação legal da conduta, ou até mesmo a ausência de indicação dosdispositivos legais supostamente violados na Portaria inaugural, nãotem o condão de inquinar de nulidade o Processo AdministrativoDisciplinar; a descrição dos fatos ocorridos, desde que feita de modo aviabilizar a defesa do acusado, afasta a alegação de ofensa ao princípioda ampla defesa. 2. Não há qualquer violação da cláusula do devidoprocesso legal, na qual se inserem a ampla defesa e o contraditório,inclusive porque, da análise dos documentos acostados aos autos, pode-se verificar que o recorrente efetivamente exerceu seu direito de defesa,apresentando documentos, defesa escrita e prestando declarações. 3.Imposta a partir de elementos convincentes da postura desprestigiosado impetrante em relação à ética funcional, aferidos em procedimentorealizado em harmonia com os princípios embasadores da atividadesancionadora da Administração, não há qualquer ilegalidade naaplicação de censura ao impetrante; ao contrário, sua penalizaçãoevidencia-se coerente, inclusive, com os postulados daproporcionalidade e da razoabilidade, elementos integrativos daextensõ da legalidade do ato disciplinar. 4. Recurso improvido, emconsonância com o parecer ministerial. (STJ, RO em MS nº 24465/PE,Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 27/04/09, destaqueinserido).

Portanto, é evidente que, ao praticar os fatos descritos na Portaria CG-

MPPI nº 1214 de 27 de junho de 2014, o processado, Dr. JOSÉ RIBAMAR DA

COSTA ASSUNÇÃO, violou a ordem jurídica, a qual, na qualidade de Procurador de

Justiça, tem o mister constitucional de prestigiá-la.

Diante do exposto, resta devidamente caracterizada a falta funcional

imputada ao processado, correspondente à conduta incompatível com o exercício do

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cargo e à violação do dever funcional de manter ilibada conduta pública e particular,

nos termos dos artigos 150, II, e 82, I, respectivamente, da LOMP/PI, enseja a

aplicação da pena de suspensão, nos termos dos artigos 154, in fine e 155, da

LOMP/PI.

IV – DA CONCLUSÃO

Em face do exposto, comprovadas a autoria e a materialidade de conduta

em flagrante descompasso com o padrão de comportamento funcional imposto ao

membro do Ministério Público, nos moldes previstos nos artigos 82, II c/c 154, in fine

e 150, II c/c artigo 155, todos da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do

Piauí (infração grave de violação ao dever de manter ilibada conduta pública e

particular e conduta incompatível com o exercício do cargo), aplico a PENA DE

SUSPENSÃO ao Procurador de Justiça JOSÉ RIBAMAR DA COSTA

ASSUNÇÃO, destacando que a defesa foi incapaz de desconstruir o roteiro de ações

irregulares narradas na PORTARIA CG-MPPI n. 1214 de 27 de junho de 2014.

DA DOSIMETRIA DA SANÇÃO

Quanto à dosimetria da sanção, devem ser consideradas a grave natureza

e a substancial gravidade da infração, uma vez que a falta funcional em comento

corresponde a fato previsto como infração penal de médio porte, conduta severamente

repreendida pelo MP/PI7. Certamente que a conduta do requerido se encontra em

manifesta violação à função constitucionalmente atribuída ao Ministério Público no

tocante à defesa da ordem jurídica. Ademais, a embriaguez ao volante, o tratamento

agressivo dispensado ao ofendido e a oposição do requerido às ordens policiais,

inclusive por intermédio de xingamentos e ameaças dirigidas às autoridades policiais

que atenderam à ocorrência, fatos amplamente noticiados na mídia local, ocasionaram

ofensa direta à credibilidade da instituição ministerial perante a sociedade piauiense, o

7Disponível em: <https://www.portalodia.com/noticias/piaui/82-dos-crimes-de-transito-sao-de-embriaguez-ao-volante,-indica-mp-pi-317241.html>; <http://www.folhadetimon.com.br/noticia/2670/82-dos-crimes-de-transito-sao-de-embriaguez-ao-volante-indica-mp-pi..html>. Data de acesso 14 junho 2018.

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que, por sua vez, configura situação danosa à prestação do serviço ministerial, em

muito calcado na legitimidade e na confiança perante os cidadãos.

Por fim, verifico que os antecedentes do processado não são favoráveis,

uma vez que o Procurador de Justiça em comento já sofreu pena de censura, por ter

praticado fatos equiparados aos delitos previstos no artigo 147 (ameaça) e artigo 150, §

4º, III (invasão a domicílio), ambos do Código Penal e, portanto, por ter infringido os

artigos 82, I c/c artigo 150, II, da LOMP/PI (PAD Portaria nº 220/94). Além disso,

também já foi penalizado com advertência (PAD Portaria nº 03/84). Por fim, no PAD

nº 01/2002, instaurado por representação dos advogados GERARDO ALVES DE

ALMEIDA, JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO MENDES e MAURO GONÇALVES

DO REGO MOTA, o requerido sofreu afastamento cautelar por 90 dias, porém, ao

final, a pretensão punitiva disciplinar foi fulminada pelo advento da prescrição. Tais

fatos encontram-se especificados, sobretudo às fls. 496/500, 550/554, fls. 586/588, fls.

677/692, 709/735, 741/792, fls. 793/796, fls. 797/803 e 854/855.

Nessa linha de entendimento, saliento que a jurisprudência do egrégio

Superior Tribunal de Justiça adota o sistema da perpetuidade para valorar os

antecedentes em matéria criminal (5ª Turma, AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min.

REYNALDO SOARES DA FONSECA, julgado em 01/09/2015; 6ª Turma, HC

240.022/SP, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, julgado em

11/03/2014), entendimento que deve ser aplicado ao direito administrativo

sancionador, sobretudo à luz das peculiaridades do regime estatuário no que tange à

busca da verdade real e à efetivação do interesse público.

Ademais, cumpre mencionar que, com base no histórico funcional do

requerido, o Conselho Superior negou-lhe a promoção para o cargo de Procurador de

Justiça, decisão, no entanto, reformada pelo Colégio de Procuradores por 5 votos a 4,

em sessão realizada no dia 10 de agosto de 2010 (fls. 1093/10988). Na oportunidade,

foram elencados os procedimentos, as representações, as sindicâncias e os processos

8 Disponível na íntegra: <http://www.mppi.mp.br/internet/phocadownload/colegio/Atas/2010/extrato%20da%20ata%20de%20reunio%20ordinria%20do%20dia%2010%20agosto.pdf>. Acesso em 14 junho 2018.

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administrativos disciplinares instaurados em desfavor do requerido e destacou-se que:

“Por fim, o Relator faz alusão a informações que não geraramreclamações formais na Corregedoria, mas que também reforçam aconclusão de que o RECORRENTE não mantém ilibada condutapública e particular, como, por exemplo, os seus não raros episódios deembriaguez. Na verdade, o comportamento inadequado doRECORRENTE ganhou conotações de notoriedade, permitindo-seafirmar que, se atualmente ainda se encontra no exercício de suasatribuições ministeriais sem uma punição mais severa, tal fato se deveà falta de estrutura com que historicamente conviveu a Corregedoriado Ministério Público do Piauí, sem condições mínimas de proceder ainvestigações mais profundas em relação às faltas funcionaiscometidas pelo recorrente”.

Em conclusão, com base no artigo 151, § 1º c/c artigos 155 e 156, todos

da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Piauí, fixo o prazo de

SUSPENSÃO em 60 (SESSENTA) DIAS, com “a perda dos vencimentos e

vantagens do cargo”, lapso temporal suficiente e necessário em face dos fatos apurados

nestes autos.

É como voto, Senhores Conselheiros.

Brasília-DF, 26 (vinte e seis) de junho de 2018

(assinado eletronicamente)

LUCIANO NUNES MAIA FREIRE

Conselheiro Relator

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