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IMAGENS DO INCONSCIENTE EM BUSCA DO ESPAÇO COTIDIANO | NO REINO DAS MÃES | A BARCA DO SOL

Programação de cinema do IMS-RJ de agosto/2012

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Programação de cinema do IMS-RJ de agosto/2012

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Imagens do InconscIente em busca do espaço cotIdIano | no reIno das mães | a barca do sol

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São três artistas. Três internos do Hospital Psiquiátrico Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional. São internos de longa data. Fernando Di-niz, Adelina Gomes, Carlos Pertuis. Todos eles com internações que são anteriores à fundação do Museu de Imagens do Inconsciente. O inter-namento do Fernando Diniz foi no fim da década de 1930, 1937 se não me engano. O de Carlos Pertuis foi em 1939. Adelina foi internada no começo da década de 1940. Eles vão frequentar o Museu de Imagens do Inconsciente, serviço de terapia ocupacional e reabilitação que a doutora Nise da Silveira mantinha e que tem sua origem numa experiência na cadeia em que ela esteve com Graciliano Ramos e tantos outros compa-nheiros.

A experiência não está contada em Memórias do cárcere, mas foi a forma de manter vivo o espírito das pessoas na cadeia. No cárcere, ela desen-volveu um método: a valorização da criatividade. Trabalhando, criando, produzindo, a pessoa fica mais forte para resistir a todos aqueles embates – a tortura, o amesquinhamento da pessoa humana, a dor física e todas as questões que estão por trás disso e fazem as pessoas perderem até a orientação do espaço. Nasceu ali, no cárcere, a ideia que vai ser aplicada pela doutora Nise: fazer com que as pessoas façam coisas perto de outras pessoas. Pintura, desenho, modelagem. Pincéis, barro, tintas, papel. Coisas assim, que permitam a expressão do mundo interior. E no Museu de Ima-gens do Inconsciente ela vai ter a oportunidade de catalogar, estudar tudo isso, estabelecer casos clínicos, estabelecer uma visão mais consequente do próprio trabalho dela, que vai se desenvolvendo de um aspecto empírico a uma etapa superior onde ela passa a compreender teoricamente essas questões.

O argumento do filme é dela. São três casos clínicos. Três histórias de vida. Eu procuro apenas criar um instrumento cinematográfico para que isso se torne claro.

Há muito tempo estou tentando fazer esses filmes. Trabalhamos durante anos no roteiro, desde 1974. Tinha a seleção de quadros e - um negócio muito complicado - deveria cronometrar cada plano: seis segundos para um quadro, oito segundos para outro, ou dez segundos... enfim, todo um

LEON HIRSZMAN | CRISE E BELEZA

Montagem de depoimentos de Leon

Hirszman feitos em 1983, a

Alex Viany, para o livro O processo do Cinema Novo,

e em 1984, a Carlos Augusto Calil e

Claudio Bojunga, para a revista

Filme Cultura

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Fernando Diniz, Em busca do espaço cotidiano. Para Leon, “o mito da criação: a ideia do caos, da criação, do retorno ao caos e de novo à luta pela criação. Fernando busca recuperar um espaço cotidiano sob a forma de um quadro. É uma luta constante contra o caos, um caos vivenciado como uma questão de amor. Fernando submerge como uma autodefesa, para viver no inconsciente”.

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relógio teve de ser montado. A finalidade não é a obtenção de prazer es-tético, que é o objetivo final da arte cinematográfica. Esse filme pretende ser educativo, servir de base a uma discussão, embora não exclua o campo da estética.

Acho que é a primeira vez que se coloca um processo singular, o estudo de imagens em processo, sucessivas, as séries. Não uma única pintura, não um desenho só, mas o estudo de uma série de imagens. Aqui a gente monta cinco, seis quadros, em série, com uma construção precisa, que não é artís-tica – se fosse, a montagem poderia ser mais solta. Fundamental levar em conta as questões da expressão artística desses pintores.

Não são filmes voltados para a exibição comercial na televisão ou em cine-mas. Foram feitos a partir de uma combinação nítida, clara, entre nós. São filmes para pessoas que efetivamente trabalham na área do inconsciente – médicos, psicólogos, antropólogos, artistas – pessoas que de uma forma ou de outra trabalhem com isso. São filmes de caráter cultural, à disposição das universidades, dos cursos, das fundações de arte, dos centros de pes-quisa, onde quer que seja possível desenvolver o estudo, o acesso aos casos dessas três pessoas escolhidas entre alguns dos gênios que frequentaram o Museu de Imagens do Inconsciente – porque existem outros gênios que se formaram no trabalho do Museu de Imagens do Inconsciente.

Gostaria que os três filmes fossem vistos separadamente. Se possível, que houvesse uma discussão entre um e outro. Se houver fôlego, eles poderiam ser vistos sucessivamente, como uma trilogia, numa duração total de três horas e vinte minutos. O primeiro, sobre Fernando Diniz, é o caso mais “social”. O segundo, sobre Adelina Gomes, aprofunda um caso que traz importantes revelações sobre o caráter mitológico das imagens do incons-ciente, é o caso Dafne-Adelina, o mito da transformação. O terceiro filme ficou sendo um desafio. É sobre Carlos Pertuis, que possui uma obra ex-tensíssima.

Os filmes são narrados através dos próprios quadros que eles pintaram expressando seus mundos interiores. É um processo seletivo, evidente, guiado pelo argumento da doutora Nise. Os quadros aparecem e vão re-velando as idas e vindas, vão refletindo o processo de cada um desses ar-tistas, mostrando quando se despontencializa, quando se bota para fora, na pintura, os fantasmas interiores. Despotencializados, eles vão permitir

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Adelina GomesNo reino das mães“Adelina é o caso da mulher que mata os proprios instintos simbolizados num gato para recuperar a vida animal na pintura, passando pela vida vegetal”, diz Leon. “É um processo mitologico que passa pelo ‘vegetar‘ um caso que traz importantes revelações sobre o caráter mitológico das imagens do inconsciente: é o caso Dafne-Adelina, o mito da transformação”.

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que as forças auto-curativas, que a doutora Nise acredita que existam, se manifestem. Então, as forças auto-curativas da psique podem exercer o papel, se não de cura, de mudança da pessoa que está perdida na esqui-zofrenia: o inconsciente invadiu o ego frágil, destroçado. São pessoas que sofreram muito e que viveram nas enfermarias – naquele negócio de cho-que elétrico e de droga, que o sujeito toma para perder a agressividade, a criatividade. Fica aquela coisa arredondada. Nestas enfermarias, você não houve nada. É aquele silêncio. As pessoas dopadas, mesmo. Entende? A doutora Nise desde sempre tinha outra opinião: despotencializar criando energia, criando. Não a lobotomia, como se fazia antes. Não. Nada desse negócio que ainda hoje se faz de maneira sofisticada. Isso não é revelado, mas existe esse negócio: a química, toda a química que se usa para entor-pecer os internos. Ali é um depósito de presos – entende? Com grades. A Juliano Moreira... é um depósito de pobres, de pessoas que eles conside-ram crônicos; não têm mais volta. É terrível. Filmei lá também. Mas não é um documentário de denúncia, é um filme científico, didático, com uma parte que observa a realidade da instituição, a questão social.

Acho que foi em 1968 num seminário lá no Engenho de Dentro sobre o mito de Dionísio. Havia na época um clima de leituras de Wilhelm Rei-ch, de uma literatura dita pós-freudiana, uma grande efervescência cultu-ral. Era uma coisa bem brasileira. Mário Pedrosa acompanhava o trabalho de Nise da Silveira há anos. Ferreira Gullar já havia me dito que se tratava de uma coisa extraordinária. Eu fui lá e assisti a uma leitura das Bacantes com Rubens Correa e Domitila do Amaral. Em seguida, a doutora Nise falou e mostrou os álbuns com os trabalhos dos pintores. Tudo com aquele rigor dela, uma pessoa extraordinária, cheia de força e de afeto. Uma pes-soa que não discrimina, mas que também cobra a burrice e a inoperância dos orgãos do poder público na questão da saúde mental. É uma alagoana da melhor qualidade, em que o rigor não impede o vôo.

Depois, não perdi mais o contato com seu trabalho. Naquela época, na-quela situação repressiva, chegar perto da loucura era uma atitude saudá-vel. Fiquei amigo da doutora Nise e pensamos um dia tornar possível um trabalho conjunto sobre os ditos esquizofrênicos que frequentavam desde 1946 a seção de terapia ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II no Engenho de Dentro – mais tarde, o Museu de Imagens do Inconsciente.

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Carlos Pertuis, A barca do sol Para Leon Hirszman um filme difícil de fazer, porque se tratava de “abordar um caso que não era uma terapia acabada. Nesse caso, a doutora Nise não se coloca diante dele nem como terapeuta. Ela diz que os terapeutas de Carlos foram os dois cães, primeiro Sultão, depois Sertanejo. Falar desse universo fragmentado foi bastante difícil, tanto para Nise, quanto para mim”.

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O primeiro filme, então, Fernando Diniz, Em busca do espaço cotidiano. Um negro, filho de uma empregada doméstica baiana, que busca recupe-rar um espaço cotidiano sob a forma de um quadro – é a pintura em luta constante contra o caos, um caos vivenciado como uma questão de amor, uma questão de paixão, a identificação com uma classe superior dentro da ilusão do sofrimento, da submissão, e da identidade com a mãe, por quem ele tinha grande respeito. Fernando submerge como uma autodefesa, para viver no inconsciente. Mas não é um grande mergulho, é algo mais no nível do cotidiano. A linguagem verbal, a expressão corporal e as relações de autovalorização do tipo ter um quarto só para ele são mostradas no fil-me. Ele tinha passado por um depósito na Juliano Moreira – e isso sem nenhum diagnóstico médico.

Fernando Diniz é o mito da criação: a ideia do caos, da criação, do retorno ao caos e de novo à luta pela criação – o mito de Deus que tenta fazer sucessivamente algo cujo resultado não lhe agrada.

O segundo filme No reino das mães. O caso da Adelina atinge níveis da mitologia mesmo. É sobre a transformação de uma mulher que, depois de se reduzir a vegetal, recupera sua condição de ser humano feminino. Antes ela se identificava com gatos, com vegetais. Ela consegue despontencia-lizar isso expressando-se na pintura, vendo o fantasma, presente nela, da própria mãe, que, muito forte, castrou, impediu um amor dela. A presença da castração do amor, do impedimento do amor, e da força da mãe, nos casos de esquizofrenia são tremendos. São muito fortes mesmo, muito presentes. Adelina mata os próprios instintos, simbolizados num gato, para recuperar a vida animal na pintura, passando pela vida vegetal. É um processo mitológico que passa pelo “vegetar”. Moça pobre, filha de cam-poneses, com o curso primário e alguma formação manual, tímida e sub-missa a mãe, nunca havia namorado até os 18 anos de idade. Apaixona-se por um homem que não é aceito pela mãe. Sujeita-se e vai aos poucos se retraindo até que um dia estrangula a gata de estimação da casa, da qual ela gostava muito. Adelina nega-se como mulher matando a gata, e se refugia na loucura. Isso com grande agressividade, tanto que só seis anos mais tarde ela vai conseguir representar gatas – uma gata-bailarina e uma gata-mãe, com tetas à mostra.

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Estrela de oito pontasA participação de Fernando Diniz no filme de Leon Hirszman despertou nele o interesse pelo movimento da imagem. Passou a pintar e desenhar peixes-cinema, luas-cinema. estrelas-cinema. Finalmente fez um desenho animado com a participação de Marcos Magalhães. Marcos passou para Diniz a técnica da animação: “Eu mostrei para ele a parte técnica e ele me ensinou muito sobre a percepção do movimento”.

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Nossa abordagem teve de ser muito cuidadosa, era o acesso a um tesouro que a doutora Nise nos propiciou por uma questão de confiança, por já ter de certa forma participado da feitura de São Bernardo, quando aprendi com ela coisas que eu não pude aprender na convivência com o texto de Graciliano. É preciso levar um certo tempo para se admitir que a razão não é uma ideia conflituada com o sentimento – isto é, para não colocar a razão em oposição ao sentimento.

O terceiro filme: A barca do sol. Carlos Pertuis foi um sábio. Estou falando de maneira rosseliniana, como se estivesse diante de um São Francisco de Assis, assim como Rosselini em Francesco giullare di Dio (1950) que se coloca com a maior humildade diante do santo. Pertuis é esse pequeno franciscano, andando ali pelo hospital, acompanhado por seu cão, com quem conversava normalmente, assim como nós estamos conversando agora. Mas ele não conversava com os outros, sua linguagem era ininteli-gível, cheia de neologismos. O caminho para o entendimento era seu cão. Se o cão se machucava, ele desenvolvia a linguagem verbal para exigir de alguém o remédio adequado e fazer o curativo na pata do animal.

Homens do porte de Mário Pedrosa começaram a reconhecer nele algu-ma coisa além do artista. Seu caso ilustra a dolorosa busca da consciência pela humanidade através das lendas – aqui, a pintura do mito de Mithra, deus persa que está em conexão com a estrela e o touro, prenúncio de um tema que ganhará relevo na grande riqueza de símbolos solares de Car-los Pertuis. É a revelação do mundo arqueológico da psique – elementos arcaicos na arqueologia histórica que estão presentes em cada um de nós. Daí a importância do conhecimento, da educação, do estudo dos mitos. A gente normalmente não estuda nada disso – para muitos jovens ‘mito’ é sinônimo de mentira.

Nise tem razão quando diz que nenhuma palavra pode iludir a questão do momento criativo de Carlos Pertuis, sua intensidade, sua premonição – nada pode ser feito. Nem as imagens dão conta disso. Essa impressão de inconclusão também está ligada ao fato de que Carlos morreu em 1977. Ele nasceu em 1910, era filho de imigrantes franceses, seu avô trabalhou na instalação da Light, no Rio de Janeiro. Quando seu pai morreu, Car-los ficou com a responsabilidade da casa e tudo foi muito difícil para ele. Ainda jovem tem uma experiência de iluminação interna. A doutora Nise

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Moacyr arte bruta de Walter Carvalho. Um documentário sobre o pintor que, isolado do mundo exterior, numa casa pobre com a mãe e familiares, passa o dia desenhando figuras do inconsciente: fauna e flora, santos e beatos, visões com referências anatômicas desconhecidas carregadas de sensualidade e erotismo.

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descreve assim a experiência: “Carlos há vários anos vinha sendo dilace-rado por conflitos pessoais. Esses conflitos sugavam a energia do ego que ia se enfraquecendo e já começava a vacilar. Certa manhã, raios de sol incidiram sobre o pequeno espelho do seu quarto. Brilho extraordinário que deslumbrou-o, e surgiu diante dele uma visão cósmica: o ‘planetário de Deus’, segundo suas palavras. Gritou, chamou sua família, queria que todos vissem também aquela maravilha que ele estava vendo. Foi interna-do no mesmo dia no velho hospital da praia Vermelha. Isso aconteceu em setembro de 1939. Carlos tinha 29 anos”.

Sua mãe recomendou o internamento e ele ficou lá o resto da vida. E aí é a instituição que cria o louco – isso é óbvio. É ela quem despersonali-za, vestindo-lhe um uniforme, recusando-lhe até mesmo um armário. In-teiramente dominado pelas forças do inconsciente e sem qualquer apoio para a reconstrução de seu ego, naufraga, torna-se um crônico (...)

Numa sociedade competitiva feroz e preconceituosa, o louco é aquele cara que atrapalha. É preciso dizer que Carlos circulava, saía com o cão, ia ver desfiles de escolas de samba, frequentava sessões espíritas. Mas a regra das instituições comuns é colocar o louco no torpor, torpor imposto para que as forças defensivas das pessoas, que gritam e negam aquela dor e desejam ser como os outros, fiquem entorpecidas pelas drogas, pelos calmantes destinados a conter a energia. A ideologia clínica dominante corta a possi-bilidade de uma relação afetiva que pode ser agressiva. O filme tenta dizer que é preciso trabalhar com isso.

Carlos apresenta o geometrismo mais completo, belo e inteiro do Brasil. Ele viaja a paragens que ainda não estão sondadas pela arte. Carlos é um navegador. E acompanhar isso e difícil. Você começa a ver os quadros dele e só vê obras-primas. Na vigésima, ou você viaja ou fica sufocado. Carlos e inapelável: há pessoas que vão dormir, se refugiar, se proteger de suas ima-gens. Ele tem certamente uma metafísica, pois durante sua vida manteve alguma outra relação além dos poderes normais dos sentidos e daquilo que aparece de imediato. Era um camarada religioso.

Um caso semelhante ao seu, citado pela doutora Nise, foi o de Jacob Bo-ehme (1575-1624), sapateiro de profissão como Carlos, que teve uma visão e tornou-se um dos precursores do calvinismo. Boehme também

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O senhor do labirinto: de Geraldo Motta“A fantasia não é exatamente uma fuga da realidade. É um modo de entendê-la” – coloquei esta frase de Lloyd Alexander no final” diz o diretor, “porque acredito que existe um modelo de conhecimento do mundo, uma forma de entendimento que só pode ser atingida pela arte”. O filme tem Flávio Bauraqui no papel de Arthur Bispo do Rosário.

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descobriu ‘a profunda e básica estrutura das coisas’ no brilho de um prato de estanho e, depois de outros êxtases, escreveu obras que tratam de questões do tipo ‘Deus está em movimento ou parado?’ Mas enquanto Boehme entra para a História, Carlos entra para o hospício. Nosso sapateiro tenta então descobrir, no Engenho de Dentro, um método para resistir e, sob condi-ções difíceis, manter sua humanidade, sua unidade pessoal. O aprendizado dentro de uma prisão é uma forma de resistência. Carlos passa internado quase 40 anos. Ele gostava de pintar. Muitos dos seus trabalhos foram, aliás, queimados nos primeiros anos de internação. O espaço da cultura vigente não podia permitir aquela expressão. No Museu ele vai conse-guir este espaço. Existem catalogadas nada menos do que 21.700 obras de Carlos Pertuis. Tudo feito com lápis de cera, desenhado nervosamente, de pé. Nos últimos anos Carlos pintava de pé...

Para uma pessoa como eu, que normalmente tem uma visão unitária em seus filmes, uma visão articulada, falar sobre esse universo fragmentado foi bastante difícil. Foi difícil tanto para a doutora Nise, quanto para mim, fazer um tal filme. O desafio era aceitar o fragmento, a terapia não acabada – assumir uma visão aberta, explosiva, de identificação com o fascínio do inconsciente, com a aventura da arte, a aventura da loucura. Navegar com isso tudo, aceitar isso como crise e como beleza.

O geometrismo “completo, belo, inteiro, de Carlos, o navegador”

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OS FILMES DE AGOSTO

Na estrada

A velha dos fundos

Mulher à tarde

Autografia

No programa deste mês, de quarta 1 até a quinta 9: dois filmes de Walter Salles, Diários de motocicleta e Na estrada;

de sexta 10 até a quinta 16: Mulher à tarde, de Affonso Uchoa, e Histórias que só existem quando lembradas, de Julia Murat;

de sexta 17 até a quinta 30: A velha dos fundos, de Pablo Meza; na quinta 23 e na sexta 24 os filmes de Uchoa, Murat e Meza se exibem em um programa especial Imagens do insconsciente, mostra paralela à expo-sição de desenhos e pinturas de Emygdio e de Raphael, exibe a partir da sexta 10: a trilogia de Leon Hirszman, Em busca do espaço cotidiano, No reino das mães e A barca do sol; os documentários Moacyr arte bruta, de Walter Carvalho, e Gotas de chuva sobre a grama, de Gina Ferreira; o desenho animado Estrela de oito pontas, de Marcos Magalhães e Fernando Diniz; e, em pré estreia, a ficção O senhor do labirinto, de Geraldo Motta. A mostra promove ainda dois debates: no sábado 18 com Walter Mello, depois da exibição de Em busca do espaço cotidiano, e no sábado 25 com Geraldo Motta e Flavio Bauraqui, depois da exibição de O senhor do labirinto.

Palavra e imagem, mostra de filmes do diretor português Miguel Gonçalves Mendes, tem início na quarta-feira 29;

E a partir da sexta-feira 31, uma seleção de progra-mas do Festival Filmambiente.

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QUARTA 1 14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)On the Road ainda não havia sido publicado na América do Norte quando, em janeiro de 1952, dois estudantes de medicina saíram da Argentina para percorrer a América do Sul de motocicleta, experiência contada por Ernesto no livro Mi primer gran viaje, diários de motocicleta. “Duas narrativas e formação”, diz Walter. Ernesto e Alberto, são “o ponto de partida de uma transformação social e política que afetou o continente sul-americano”; Sal e Dean, “o início de uma ruptura no comportamento, nos costumes de uma sociedade. Essas duas vertentes ganharam, de maneiras diferentes, outras fronteiras”. 16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) Nova York, final dos anos 40: a vida do jovem escritor Sal Paradise é inteiramente transformada pela amizade com Dean Moriarty, um jovem libertário e contagiante, recém-chegado do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou. Juntos, Sal e Dean cruzam os Estados Unidos à procura deles mesmos. A viagem é também a história de um bando de jovens extraordinários, Bull, Camille, Carlo e Jane, que se libertaram do conformismo conservador de sua época para seguir seus próprios caminhos, impactando gerações até os dias de hoje. Baseado em On the Road, de Jack Kerouac,.

QUINTA 2 14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

SEXTA 314h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

SÁBADO 414h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) de Wim Wenders (Alemanha, 2011. 103’)

DOMINGO 514h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

TERCA 714h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

QUARTA 814h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

QUINTA 914h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’)

16h30 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

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SEXTA 10

14h00 : Mulher à tardede Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’) Três mulheres em uma casa. Vivem juntas, mas separadas. Histórias mínimas, cotidianas. “Uma espécie de anti-dramaturgia, sem grandes acontecimentos, sem trama e sem drama. Blocos de situações que conduzem a imagens estáticas” diz o diretor. “No princípio de cada um, letreiros que se assemelham a títulos de quadros que retratam figuras femininas na pintura ocidental: Mulher com a cabeça entre as mãos e Mulher deitada enquanto a noite cai são alguns exemplos. A cena final dos blocos é uma ilustração do escrito nesses letreiros, de modo que os escritos são como títulos dos quadros finais de cada bloco. E nesses quadros, nessas imagens de conclusão das cenas, podemos ver a imobilidade que figura o rosto e o mundo de cada uma. A imobilidade de uma vida oprimida em meio à necessidade de mudanças, e a dificuldade em dar o primeiro passo de transformação”. Mulher à tarde, diz o diretor, “pinta os pequenos momentos e se dedica a eternizar o comum e a vida cotidiana. Ao pintar a vida dessas três mulheres perdidas entre questões existenciais e tarefas cotidianas, o filme afirma sua crença no poder do pequeno gesto e na grandeza das histórias mínimas.”

15h30 : Imagens do inconsciente Moacyr arte brutade Walter Carvalho (Brasil, 2004. 74’)Um registro de sete dias em casa de Moacyr, um pintor que vive num recanto do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em condições de pobreza. Isolado numa casa com a mãe e familiares, que cultivam uma lavoura de subsistência, ausente do mundo exterior, passa o dia desenhando e pintando com lápis de cera o que vem de sua imaginação. São um gesto do seu inconsciente, desenhos de um universo particular da chapada: seres humanos, fauna e flora, visões, religião, sexo. Figuras de santos e beatos. Visões com referências anatômicas desconhecidas, carregadas de sensualidade e erotismo.

16h50 : Mulher à tardede Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

18h15 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)“Tive a ideia quando, em Mato Grosso do Sul, conheci uma vila em que o cemitério local estava fechado. Se alguém morresse, tinha de ser enterrado numa cidade a sete horas de distância. Pensei em fazer um filme sobre uma senhora que não podia ser enterrada na própria terra”. Daí nasceu esse filme com um título apanhado de uma cena que chegou a ser filmada mas não ficou na versão final, conta a diretora. É uma conversa entre dois personagens: “um deles diz que tem coisas que só existem quando lembradas o outro responde que tem outras que a gente só vê com os olhos fechados. Quando a cena foi cortada na montagem, resolvi colocar a frase no título, Histórias que só existem quando lembradas”. A ação se passa em Jotuomba, uma cidade fictícia ambientada no Vale do Paraíba, onde, na década de 1930, grandes fazendas de café foram à falência e cidade até então ricas tornaram-se quase cidades fantasmas. Nela vive Madalena, a velha padeira, presa à memória de seu marido morto e enterrado no cemitério, hoje trancado. A chegada de uma jovem fotógrafa modifica o cotidiano de Madalena e de toda a cidade.

20h00 : Imagens do inconsciente Fernando Diniz Em busca do espaço cotidiano de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 80’)“Três histórias de vida, três casos clínicos. Procurei uma linguagem cinematográfica que permitisse narrar os filmes a partir dos próprios trabalhos pintados pelos artistas”, explica o realizador. “O primeiro caso é o mais ‘social’: Fernando, filho de uma empregada doméstica baiana, busca recuperar um espaço cotidiano sob a forma de um quadro - é a pintura em luta constante contra o caos, um caos vivenciado numa questão de amor. Fernando submerge como uma auto-defesa para viver no inconsciente, mas não é um grande mergulho, é algo mais no nível do cotidiano”

Programa sujeito a aterações. Confira a programação completa em www.ism.com.br

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SÁBADO 1114h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

18h00 : Imagens do inconsciente Estrela de oito pontas de Marcos Magalhães e Fernando Diniz (Brasil, 1996. 12’)Despertado o interesse pelo cinema na filmagem de Em busca do espaço cotidiano, Fernando Diniz pintou uma série de “figuras-cinema” e em seguida realizou esse desenho animado em parceria com Marcos Magalhães.Gotas de chuva sobre a gramade Gina Ferreira (Brasil, Brasil, 1996. 12’ )“Quando eu era criança, único btinquedo que eu tiha era a grama e a gota de chuva”, diz Fernando Diniz (em texto parcialmente lido por Caio Blat) neste documentário em torno da pintura que dá título ao filme.Entrada franca

18h30 : Imagens do inconsciente Adelina Gomes. No reino das mães de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 55’)Adelina Gomes, moça pobre, filha de camponeses, com o curso primário e alguma formação manual, tímida e submissa à mãe, nunca havia namorado até os 18 anos de idade. Aí apaixonou-se por um homem que não foi aceito pela mãe. Sujeitou-se e foi, aos poucos, se retraindo até que um dia estrangulou a gata, da qual gostava muito. Matando a gata, Adelina se negava como mulher, refugiando-se na loucura com grande agressividade.

20h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

DOMINGO 1214h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

18h00 : Imagens do inconsciente Carlos Pertuis. A barca do sol de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 70’)“Dilacerado por conflitos pessoais” Carlos, viu “certa manhã, raios de sol sobre o pequeno espelho do seu quarto (...) e surgiu diante dele uma visão cósmica: o ‘Planetário de Deus’, segundo suas palavras. Gritou, chamou a família, queria que todos vissem também aquela maravilha que ele estava vendo. Foi internado no mesmo dia no velho hospital da Praia Vermelha. Carlos tinha então 29 anos”. Sua mãe recomendou o internamento, e ele ficou lá o resto da vida.

20h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

QUARTA 15 14h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

18h00 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

20h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

QUINTA 1614h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

18h00 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

20h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)Adelina Gomes, No reino das mães

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SEXTA 1714h00 e 16h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)Dois moradores de um edifício de Buenos Aires. Rosa, de 81 anos, e Marcelo, um jovem estudante de medicina sem dinheiro e sem amigos. Ele se decidira a voltar para sua cidade natal, no interior da Argentina, quando Rosa o convida a ir morar com ela, sem pedir nada em troca a não ser a companhia do rapaz. “A ideia surgiu quando eu li um anúncio no jornal de uma senhora que queria alugar um quarto em seu apartamento para um estudante em troca apenas de ter uma companhia”, conta o diretor. Os personagens nasceram dessa notícia e de suas memórias. “Quando adolescente, trabalhei em um supermercado em que me relacionava com pessoas mais velhas. Todas elas me inspiraram para desenvolver o personagem da senhora Rosa.”

18h00 : Imagens do inconsciente Carlos Pertuis. A barca do sol de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 70’)

20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

SÁBADO 1814h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

16h00 : Imagens do inconsciente Fernando Diniz. Em busca do espaço cotidiano de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 80’)

Sessão seguida de debate com Walter Mello

20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

DOMINGO 1914h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

16h00 : Imagens do inconsciente Adelina Gomes. No reino das mães de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 55’)

18h00 e 20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

Três histórias de solidão,

três filmes de produção independente,

três jovens diretores reunidos

nas sessões da quinta 23 e da sexta 24:

Histórias que só existem quando lembradas,

de Júlia Murat, Mulher à tarde, de Affonso Uchoa,

e A velha dos fundos, de Pablo Meza.

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TERÇA 2114h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

16h00, 18h00 e 20h00: A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

QUARTA 2214h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

16h00, 18h00 e 20h00: A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

QUINTA 2314h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

18h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

20h00: A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

SEXTA 2414h30 : Mulher à tarde de Affonso Uchoa (Brasil, 2011. 70’)

16h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

18h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

SÁBADO 2514h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

16h00 : Imagens do inconsciente O senhor do labirinto de Geraldo Motta (Brasil, 2010. 80’)

Sessão seguida de debate com Geraldo Motta e Flavio Bauraqui.

Em 1938, após um delírio, Arthur Bispo do Rosário apresentou-se a um mosteiro que o encaminhou para o Hospital dos Alienados na Praia Vermelha. Diagnosticado como esquizofrênico-paranóico, foi internado na Colônia Juliano Moreira, e lá, a partir da década de 1960, construiu várias miniaturas e principalmente bordados, tudo com materiais rudimentares. Criou cerca de mil peças, entre roupas e lençóis bordados. O filme, para contar a história de Bispo do Rosário (Flávio Bauraqui), usa como fio condutor o “encantamento do guarda Wanderley (Irandhir Santos) pela obra e pelo discurso de Bispo”. Outro fio condutor é “a noção da vida como sendo precária e a de que não somos regidos apenas pela razão” , diz o diretor. “Coloquei uma frase de Lloyd Alexander no final – A fantasia não é exatamente uma fuga da realidade. É um modo de entendê-la – porque acredito que existe um modelo de conhecimento do mundo que não é da ordem do intelecto, uma forma de entendimento que só pode ser atingida pela arte”

20h00 : Imagens do inconsciente Carlos Pertuis. A barca do sol de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 70’) Gotas de chuva sobre a gramade Gina Ferreira (Brasil, Brasil, 1996. 12’ )

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DOMINGO 2614h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

16h00 : Imagens do inconsciente Fernando Diniz. Em busca do espaço cotidiano de Leon Hirszman (Brasil, 1984. 80’)Estrela de oito pontas de Marcos Magalhães e Fernando Diniz (Brasil, 1996. 12’)

18h00 e 20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

TERÇA 2814h00 e 16h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

18h00 : Histórias que só existem quando lembradas de Júlia Murat (Brasil, 2011. 98’)

20h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

QUARTA 2914h00, 16h00 e 18h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

20h00 : Palavra e imagem | Autografia Miguel Gonçalves Mendes (Portugal, 2004. 103’)Documentário sobre o poeta e pintor Mário Cesariny, falecido em 2006 aos 83 anos, considerado o principal representante do surrealismo português. Depois de conhecer André Breton, em 1947, em Paris, volta a Portugal e cria o Grupo Surrealista de Lisboa, centro de um protesto libertário contra o regime salazarista. Mais tarde funda o “antigrupo Os surrealistas”. Sua obra é dominada por um constante sentido de experimentação e contestação a comportamentos institucionalizados. Para Miguel Cintra Ferreira, em nota publicada no jornal Expresso, o filme de Miguel Gonçalves Mendes, que tem como fio condutor do filme o poema Autografia, não procura “documentar ou ‘documentar-nos’ sobre o poeta surrealista que lhe dá vida e corpo, antes deixa Cesariny expor-se na sua forma acesa, na sua maneira livre e ativa, como se escrevesse um poema”.

QUINTA 3014h00, 16h00 e 18h00 : A velha dos fundos (La vieja de atrás) de Pablo Meza (Argentina, Brasil, 2010. 115’)

20h00 : Palavra e imagem | Dona Nieves, de Miguel Gonçalves Mendes (Portugal, 2002. 30’)A proximidade cultural entre Portugal e a Galícia. Na filmagem em Deva, Dona Nieves, natural da aldeia, torna-se o centro da ação. Falado em galego, com legendas em português.Curso de silêncio de Miguel Gonçalves Mendes e Vera Mantero (Portugal, 2007. 35’)O universo da romancista Maria Gabriela Llansol, que vê a forma tradicional de contar histórias e construir narrativa como algo que apaga o nosso poder de imaginação.

SEXTA 3114h00 : Imagens do inconsciente | Moacyr arte brutade Walter Carvalho (Brasil, 2004. 74’)

16h00 : Festival Fimambiente | 2012, Tempo de Mudança (2012, Time for Change) de João Amorim (EUA, Brasil, França, México, Suiça, 2011. 85’)O jornalista Daniel Pinchbeck, autor do livro 2012: o retorno do Deus Quetzalcoatl, em busca de um novo paradigma que integre a sabedoria das culturas arcaicas com métodos científicos. Depoimentos dos cantores Sting e Gilberto Gil, do cientista Buckminster Fuller e a atriz Ellen Paige. Um documentário voltado para o nascimento de uma cultura em que a colaboração substitui competição, e a exploração da psique e do espírito substitui o materialismo que levou o mundo à situação em que se encontra.

18h00 : Festival Fimambiente | Oceanos (Océans), de Jacques Perrin e Jacques Cluzaud (França, Suiça, Espanha, 2010.104’)Um docu/drama ecológico, filmado em diferentes partes do planeta. Parte thriller, parte meditação sobre as maravilhas que estão desaparecendo no mundo subaquático. 20h00 : Palavra e imagem | José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes (Portugal, 2010. 90’)A viagem do elefante, livro em que Saramago narra as desventuras de um paquiderme transportado da corte de D. João II à do austríaco arquiduque Maximiliano, é o ponto de partida para esse retrato da relação entre José Saramago e Pilar del Rio.

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“O inconsciente é como um oceano. De vez em quando con-seguimos pescar uma imagem. Mas quando estive em Zurich, levei uma exposição daqui. Lá, tive uma entrevista com Jung, graças à intervenção da secretária particular dele. Eu e Jung, assim frente a frente, como você e eu estamos aqui. Então eu disse que estava muito pouco satisfeita com o meu trabalho no hospital psiquiátrico. E ele calado, fumando cachimbo. Comecei a ficar meio encabulada de estar falando com uma pessoa calada, fumando cachimbo diante de mim. Eu achava o trabalho no Hospital Psiquiátrico muito torturante, muito distante do indivíduo. De repente, Jung tira uma baforada do cachimbo e me pergunta: ‘Você estuda mitologia?’ Eu achei a pergunta completamente desbaratada. Mas respondi: ‘Não, professor, mitologia não faz parte do currículo de meus estudos. O que eu conheço de mitologia são referências dispersas, em literatura. Um estudo propriamente, de mitologia, eu nunca fiz’. Então Jung me falou: ‘E como é que você pretende entender os delírios de seus doentes e as pinturas que eles fazem sem conhecer mitologia? Es-sas pinturas vêm do fundo da psique, do inconsciente. E a lingua-gem do inconsciente é a linguagem mitológica. A linguagem lógica vem depois. É preciso estudar linguagens outras, mais profundas’. Quando voltei de Zurich, a primeira pessoa que eu encontro é a D. Elza, monitora do ateliê, que me diz: ‘Estou muito intri-gada com essa pintura da Adelina. Ela me disse que queria ser flor’. Então fui acompanhando esse trabalho e fui vendo que ela re-vivia o mito de Dafne. Adelina foi o primeiro caso mitológico que eu estudei”.

Nise da Silveira [Depoimento para o jornal Rioartes, ano 2, nº 10, junho de 1993.]

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Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Telefone: (21) 3284-7400

www.ims.com.br

De terça a domingo das 11h às 20hAcesso a portadores de necessidades especiais. Estacionamento gratuito no local.

Café WiFi.

Como chegar as seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS:

158 – Central-Gávea (via Praça Tiradentes, Flamengo, São Clemente)

170 – Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, Largo do Machado, São Clemente)

592 – Leme-São Conrado (via Rio Sul, São Clemente)

593 – Leme-Gávea (via Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)

Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea

Curadoria: José Carlos Avellar. Coordenação do IMS - RJ: Elizabeth Pessoa. Assessoria de coordenação: Laura Liuzzi. Capa : Imagens do inconsciente de Leon Hirszman Quarta capa : O senhor do labirinto de Geraldo Motta

Ingressos

Na estrada, Diários de motocicleta Histórias que só existem quando lembradas Mulher à tarde e A velha dos fundos Terça, quarta e quinta: R$16,00 (inteira) e R$8,00 (meia) Sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 18,00 (inteira) R$ 9,00 (meia)

Para as sessões das mostras Imagens do inconsciente, Palavra e imagem e do Festival FilmAmbiente: R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia)

Capacidade da sala: 113 lugares.

Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com

De sexta 31 de agosto até a quinta 6 de setembro, o Festival Filmambiente exibe no cinema do Instituto Moreira Salles dois programas da competição de filmes curtos e uma seleção de suas mostras informativas:

Panorama reúne filmes que discutem soluções e esperanças para um futuro mais verde e sustentável – entre eles 2012, tempo de mudança, de João Amorim, Confissões de um eco-terrorista, de Peter Brown, e Mãe, cuidando de sete bilhões, de Christophe Fauchère, que discute o controle da natalidade.

Cotidiano de Alto Risco reúne filmes sobre os riscos que grandes indústrias impõem à saúde humana e ao meio ambiente – entre eles, Asfixiado, de Kathleen Mullen, Pilhagem das minas, de Ariel Guntern, e Pig Business, de Tracy Worcester, sobre a indústria de carne de porco nos Estados Unidos.

O programa de cinema de julho tem o apoio da

Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro,

da Cinemateca da Embaixada da França,

do Arquivo Nacional e do Museu de Imagens do

Inconsciente. O programa conta ainda com a parceria do

Espaço Itaú de Cinema, da Videofilmes,

da www.revistacinetica.com.br

e da Associação Brasileira de Cineastas.

FilmAmbiente

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AGOSTO 2012o senhor do labIrInto | estrela de oIto pontas gotas de chuVa sobre a gramamoacYr arte bruta | Imagens do InconscIente