Upload
tccfarmaciafef
View
15.136
Download
7
Embed Size (px)
DESCRIPTION
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS
LUIS AUGUSTO VITORINO GALON TATYANE MILAN DOS SANTOS
WILLIAM ALMEIDA CANATO
ANEMIA FALCIFORME
FERNANDÓPOLIS 2012
LUIS AUGUSTO VITORINO GALON
TATYANE MILAN DOS SANTOS
WILLIAM ALMEIDA CANATO
ANEMIA FALCIFORME
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
Banca Examinadora do Curso de Graduação em
Farmácia da Fundação Educacional de
Fernandópolis como exigência parcial para obtenção
do título de bacharel em farmácia.
Orientadora: Prof. Ms. Vânia Luiza Ferreira Lucatti
Sato
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS
FERNANDÓPOLIS – SP
2012
LUIS AUGUSTO VITORINO GALON
TATYANE MILAN DOS SANTOS
WILLIAM ALMEIDA CANATO
ANEMIA FALCIFORME
Trabalho de conclusão de curso aprovado como
requisito parcial para obtenção do título de bacharel
em farmácia.
Aprovado em: __ de novembro de 20__.
Banca examinadora Assinatura Conceito
Prof. Ms. Vânia Luiza Ferreira Lucatti
Sato
Prof. Ms.Daiane Fernanda Pereira
Mastrocola
Profª. Dra. Maria Elisa Furlan
Gandini Castanheira
Prof. Ms. Vânia Lucatti Ferreira Sato
Presidente da Banca Examinadora
Dedicamos este trabalho primeiramente a
Deus, pois sem ele, nada seria possível, e
nossos sonhos não seriam concretizados.
Aos nossos pais, e familiares que sempre
nos deram apoio, e estiveram presentes
acreditando em nosso potencial, nos
incentivando na busca de nossos sonhos,
novas realizações e descobertas.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente queremos agradecer a nossa orientadora Prof. Ms. Vânia
Luiza Ferreira Lucatti Sato, por disponibilizar seu tempo e passar todo seu
conhecimento para o sucesso da realização desse trabalho.
Aos pais que mesmo estando longe, deram todo o apoio necessário e o
incentivo para concretização desse sonho.
Parabenizar ao desempenho de todos do grupo para concretização do
trabalho, onde todos desempenharam seu papel nesse trabalho.
“Um dia a gente descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida. Nossas duvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar...”
William Shakespeare
RESUMO
A anemia falciforme é uma doença monogênica codominante autossômica comum em todo o mundo entre a população negróide, com elevada incidência no Brasil, devido à miscigenação de sua população. Desta forma o objetivo geral ao desenvolver este estudo foi identificar as principais peculiaridades que envolvem a anemia falciforme, bem como o diagnóstico e o tratamento. Na anemia falciforme ocorre à substituição da base nitrogenada adenina por timina no sexto códon do gene da globina beta no cromossomo 11, levando a substituição de ácido glutâmico pela valina. A ocorrência da modificação estrutural causa alterações nas propriedades físico-químicas da molécula da hemoglobina no estado desoxigenado. Com estas alterações na estrutura da molécula de hemoglobina, ocorre o processo de falcização, que contribuem para uma sobrevida diminuída das hemácias, e as alterações imunológicas e vasculares levam a uma susceptibilidade aumentando as infecções, as lesões osteoarticulares, dactilite, osteomielite, síndrome torácica aguda e ao comprometimento funcional dos órgãos. O diagnóstico baseia-se no hemograma, prova de falcização, solubilidade e eletroforese de hemoglobina, onde a principal característica é a presença da HbS. Para o tratamento são fundamentais medidas preventivas, no sentido de diminuir as conseqüências da anemia falciforme, crises de falcização e susceptibilidade às infecções. Uma vez que não existe tratamento específico, o Hidroxiuréia tem sido eficaz, aumentando a quantidade de HbFetal, diminuindo a polimerização da hemoglobina e consequentemente o fenômeno de vaso-oclusão.
Palavra-chave: Anemia Falciforme. Diagnóstico. Tratamento
ABSTRACT
Falciform anemia is a common autosomal codomitant monogenic disease in all the world between the negroid population, with high incidence in Brazil, due to the miscegenation of its population. Thus, the general objective in developing this study was to identify the main peculiarities which involve falciform anemia, as well as its diagnosis and treatment. In falciform anemia the substitution of adenine nitrogen based for thymine in the sixth codon of the beta gene in the chromosome 11, leading to the substitution of the glutamic acid for valine. The occurrence of the structural modification causes alterations in the physical-chemical properties of the hemoglobin molecule in the deoxygenated stage. With these alterations in the structure of the hemoglobin molecule, the sickling process occurs, which contribute to a reduced survival of RBCs, and the immune and vascular alterations lead to a susceptibility in increasing infections, osteoarticular lesions, dactilite, osteomyelitis, acute chest syndrome and the functional organ commitment. The diagnosis is based on CBC, sickling proof, solubility and hemoglobin electrophoresis, where the main characteristic is the presence of HbS. Preventive measures are essential to the treatment, in the sense of reducing the consequences of falciform anemia, sickling crisis and susceptibility to infections. Once there is no specific treatment, the hydroxyurea has been effective, increasing the quantity of HBFetal, diminishing hemoglobin polymerization and consequently thevaso-occlusion phenomenon. Key words: Falciform anemia. Diagnosis. Treatment.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Proporção de nascidos vivos diagnosticados com doença falciforme pelo Programa de Triagem Neonatal (PNTN).
20
Tabela 2 - Proporção de nascidos vivos diagnosticados com o traço falciforme pelo PNTN.
21
Tabela 3 - Alterações fisiopatológicas em diferentes níveis nas doenças falciformes
29
LISTA DE FIGURAS OU GRÁFICOS
Figura 1 - Hemoglobina Hb 16
Figura 2 - Cluster do gene beta e alfa globina dos cromossomo 11 e 16 18
Figura 3 - Hemoglobina normal e indivíduos normais 22
Figura 4 - Padrão de herança anemia falciforme e traço falciforme 23
Figura 5 - Bases fundamentais do curso clínico da anemia falciforme 25
Figura 6 - Fosfolipídios da membrana celular, eritrócito falciforme e normal 26
Figura 7 - Eritrócito aderindo ao endotélio vascular 27
Figura 8 - Ressonância magnética de paciente com anemia falciforme 31
Figura 9 - Dactilite em criança com anemia falciforme 32
Figura 10 - Esplenomegalia 36
Figura 11 - Úlcera crônica no maléolo medial 40
Figura 12 Microscopia óptica de esfregaço obtido de amostra de sangue com diagnóstico de anemia falciforme
44
Figura 13 Resistência Globular osmótica 45
Figura 14 Teste de falcização positivo 46
Figura 15 Eletroforese alcalina em acetato de celulose 47
Figura 16 Eletroforese ácida de hemoglobinas em gel de agarose 50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AF – Anemia Falciforme
ALT – Alanina Aminotransferase
AST – Aspartato Aminotransferase
AVC – Acidente Vascular Cerebral
α – Alfa
β – Beta
DF – Doenças Falciformes
DNA – Ácido Desoxirribonucleico
GTP – Guanosina trifosfato
HbA – Hemoglobina Normal
HbS – Hemoglobina Falciforme
HPLC – Cromatografia liquida de alta eficiência
MO – Medula óssea
NO – Oxido Nítrico
OMS – Organização Mundial da Saúde
PAP – Pressão Arterial Pulmonar
STA – Síndrome Torácica Aguda
TN – Triagem Neonatal
VO – Vaso-oclusão
VCM – Volume Corpuscular Médio
VHS – Velocidade de Hemossedimentação
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1 HEMOGLOBINA ..................................................................................................... 16
1.1 EPIDEMIOLOGIA DA HB S ............................................................................. 18
1.2 PADRÃO DE HERANÇA DA HbS .................................................................... 21
1.3 FISIOPATOLOGIA ........................................................................................... 24
1.4 QUADRO CLÍNICO .......................................................................................... 29
1.4.1 Anemia ....................................................................................................... 30
1.4.2 Lesões Osteoarticulares ............................................................................ 30
1.4.3 Síndrome Torácica Aguda (STA) ............................................................... 33
1.4.4 Crises Dolorosas em Ossos e Articulações ............................................... 34
1.4.5 Crise Aplásicas .......................................................................................... 34
1.4.6 Sequestro Esplênico .................................................................................. 35
1.4.7 Doença Pulmonar Crônica ......................................................................... 36
1.4.8 Doença Biliar ............................................................................................. 37
1.4.9 Sequestro Hepático ................................................................................... 37
1.4.10 Doença Hepática Crônica ........................................................................ 38
1.4.11 Doença Cardiovascular ............................................................................ 38
1.4.12 Doença do Sistema Nervoso Central ....................................................... 39
1.4.13 Doença Renal .......................................................................................... 39
1.4.14 Úlceras de Perna ..................................................................................... 40
1.4.15 Deficiência no Crescimento e Desenvolvimento ...................................... 41
1.4.16 Priapismo ................................................................................................. 41
1.4.17 Infecções ................................................................................................. 42
1.5 DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME ................................................... 43
1.5.1 Hemograma ............................................................................................... 43
1.5.2 Reticulócitos .............................................................................................. 44
1.5.3 Bilirrubina ................................................................................................... 44
1.5.4 Teste de Solubilidade e Resistência Globular Osmótica ........................... 45
1.5.5 Teste de falcização .................................................................................... 46
1.5.6 Eletroforese de Hemoglobina Alcalina e Ácida .......................................... 46
1.5.7 Biologia Molecular ...................................................................................... 49
1.5.7 Triagem Neonatal ...................................................................................... 51
1.6 TRATAMENTO ................................................................................................ 51
1.7 PREVENÇÃO................................................................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
14
INTRODUÇÃO
Para Soto-Blanco (2012): a anemia é uma patologia caracterizada
pela redução da concentração de hemoglobina no sangue, acarretando uma
deficiência no transporte de O2 para os tecidos.
Segundo Gallo da Rocha (2004): a anemia falciforme é uma anemia
hemolítica hereditária (hemoglobinopatia qualitativa), que ocorre
predominantemente na população negra.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os limites mínimos
permitidos ao nível do mar são de 14g/dL para homens, 12g/dL para
mulheres e 11g/dL para crianças e grávidas (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
Para esclarecer o termo anemia como um sinal e não propriamente
como uma doença é necessário conhecer a anemia tanto sob o ponto de vista
laboratorial e fisiopatológico (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
Sob o ponto de vista um indíviduo pode desenvolver anemia apenas
por falta de produção de hemoglobina ou de glóbulos vermelhos, por excesso
de destruição de eritrócitos ou perda de sangue.
As anemias por diminuição de produção são conseqüências de algum
problema no órgão formador de sangue, a medula óssea, ou, quando a
medula é sadia e não disponibiliza elementos e nutrientes para uma
eritropoiese ótima, que é processo na qual são originados os glóbulos
vermelhos, ou de defeitos genéticos ou adquiridos que impedem a formação
do heme ou da falta eritropoietina, hormônio estimulador da formação de
eritrócitos. As doenças medulares que ocasionam anemias ocorrem ou por
ausência de células precursoras (anemia aplástica), ou por invasão da
medula por células leucêmicas metastáticas ou fibrose (OLIVEIRA E POLI
NETO, 2004).
As anemias por aumento de destruição (hemolítica) são
caracterizadas pela diminuição do tempo de vida média do eritrócito na
circulação. São divididos em dois grupos:
Hemólise por mecanismo, a diminuição do tempo de sobrevida na
circulação se deve, a problemas extras corpusculares (extra-eritrócitos),
15
como nas doenças auto-imunes, incompatibilidade materno-fetal, transfusões
de sangue, tóxicas, como as causadas por micro-organismos como bactérias
ou vírus.
Hemólise causada por mecanismos hereditários nos quais alterações
por mutações ou deleções, resultam em produções proteínas defeituosas ou
em excesso, ou mesmo em determinadas produções de proteínas, gerando
assim algum defeito que seja no eritrócito (ARAÚJO et al., 2001).
A anemia falciforme se enquadra neste subtipo, onde uma mutação de
ponto no cromossomo 11 causa a substituição do ácido glutâmico pela valina.
Desta forma o objetivo geral ao desenvolver este estudo foi identificar
as principais peculiaridades que envolvem a anemia falciforme, considerando
ser esta uma doença que atinge grande parte da população brasileira, que se
origina de diferentes povos negros.
A escolha pela abordagem quanto a anemia falciforme ocorreu devido
ao interesse em pesquisar uma patologia que tem como aspecto principal a
característica racial, posto que o Brasil é um país essencialmente
caracterizado pela miscigenação de diferentes raças, especialmente, a negra,
que é a principal vítima desta doença.
A metodologia utilizada para desenvolver este estudo foi
essencialmente de pesquisa bibliográfica, ou seja, estudo teórico com base
em dados secundários já trabalhados, sendo que para melhor abranger a
compreensão sobre o tema foi desenvolvida uma análise qualitativa.
O fato de que as doenças falciformes causam outros problemas de
saúde, como, por exemplo, doenças renais; pulmonares; hepáticas e
cardiovasculares evidencia a necessidade de tratar esta doença sob o
enfoque científico, buscando identificar os fatores que geram estes
problemas, qual o melhor diagnóstico a ser utilizado e o tratamento.
Outro importante tema apresentado neste estudo se relacionou ao
diagnóstico da anemia falciforme, considerando o hemograma; reticulócitos;
bilirrubina; desidrogenase láctica; teste de solubilidade; teste de resistência
osmótica; teste de falcização; eletroforese de hemoglobina a lcalina e ácida e
o teste do pezinho como os principais métodos diagnósticos.
16
1 HEMOGLOBINA
Segundo Gallo da Rocha (2004): “a hemoglobina (Hb) é uma molécula
de proteína composta de dois pares de cadeias globínicas, polipeptídicas.
Cada cadeia contém uma molécula heme que é responsável pelo transporte
de oxigênio”.
Galiza Neto e Pitombeira (2003) esclarece que: “a Hb é a proteína
respiratória presente no interior dos eritrócitos dos mamíferos que tem como
principal função o transporte de oxigênio (O2) por todo o organismo”.
A sua estrutura (figura1) é de uma proteína esferóide, globular,
formada por quatro subunidades iguais duas a duas, composta de dois pares
de cadeias globínicas, polipeptídicas, sendo um par denominado de cadeias
do tipo alfa e outra do tipo não-alfa. Sua estrutura é quimicamente unida a
um núcleo prostético de ferro, a ferroprotoporfirina IX (heme), que detém a
propriedade de receber ou liberar o O2 nos tecidos (OLIVEIRA E POLI NETO,
2004).
FIGURA 1- Hemoglobina (Hb). Representação da estrutura quaternária da hemoglobina, possui quatro cadeias polipeptídicas, duas cadeias alfa e duas cadeias beta. Cada cadeia polipeptídica contém um grupo prostético heme ao qual se liga o O2, formando o tetrâmero da Hb. FONTE: http://www.kacr.or.kr/img/gene_expression/hemoglobin.jpg
E graças à alta reatividade do ferro e grande afinidade pelo CO2 que
este pode ser transportado para todos os tecidos do corpo, incorporando-se
17
em varias reações celulares e participando da produção de energia oxidativa
(OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
Segundo Gallo da Rocha (2004): “a cadeia beta (β) possui 146
aminoácidos, e a cadeia alfa (α) 141. Sendo esta uma molécula de proteína a
qual contém toda a informação genética do ser humano em sua estrutura do
Ácido Desoxirribonucleico (DNA).
Ainda sobre a função da hemoglobina:
A função da hemoglobina é carrear o oxigênio para os tecidos. Ca da molécula de hemoglobina carreia quatro moléculas de oxigênio, cada qual ligada a um dos grupos heme, quanto totalmente saturada. A estrutura tetramétrica da hemoglobina é essencial para o transporte de oxigênio. A molécula tem duas conformações associadas com os estados oxigenado e desoxigenado. Durante a oxigenação, as duas cadeias beta se movem juntas, levando a uma maior avidez pelo oxigênio. .Qualquer alteração estrutural na cadeia globínica pode interferir com o movimento molecular normal e assim, modificar a capacidade de liberação de oxigênio pela molécula de hemoglobina (GALLO DA ROCHA, 2004).
Durante o desenvolvimento humano nas fases embrionária, fetal e
após o nascimento, encontramos seis tipos diferentes de Hb. As
hemoglobinas expressas na fase embrionária são: Gower1, Gower2 e
Portland que deixam de ser produzidas no início da fase fetal quando
predomina e expressão da hemoglobina fetal (HbF). À medida que se
aproxima o nascimento, a síntese da hemoglobina do adulto (HbA) aumenta
compensando a diminuição da HbF. Ao nascer encontramos cerca de 60% de
HbF e ao longo dos primeiros seis meses a HbA passa a predominar. Em
adultos normais, encontramos somente 1% da HbF do total da hemoglobina
(ZAGO E PINTO, 2007).
O gene da betaglobina está localizado na região cromossômica 11,
com uma extensão superior a 60kb, onde se observam no sentido 5’3’,
enquanto que o gene alfa-globina está localizado na região cromossômica 16,
num segmento de DNA. Estes genes (figura 2) duplos são responsáveis pela
codificação das cadeias globinicas alfa (ZAGO E PINTO, 2007).
18
FIGURA 2- Cluster do gene beta e alfa globina nos cromossomos 11 e 16 Representação esquemática, mostrando na parte superior o locus da beta-globina que está no cromossomo 11 e na parte inferior o locus da alfa-globina que está no cromossomo 16. FONTE: Adaptado por Bank A, 2005.
Embora essencial para a vida, por ser responsável pela oxigenação
dos tecidos, ao longo dos milhões de anos, pressões evolutivas regionais
levaram a expressão preferencial de genes anormais para as cadeias
globínicas. Os dois grupos de alterações hereditárias na molécula de Hb são
as hemoglobinopatias estruturais, sendo as variantes HbS, C e E as mais
freqüentes; e as por alterações quantitativas de síntese de cadeia globina ou
talassemias, onde encontramos a talassemia, alfa, beta e gama ou também a
heditariedade da Hemoglobina Fetal (TELEN, 2007).
1.1 EPIDEMIOLOGIA DA HbS
A anemia falciforme é uma doença monogênica mais comum em todo
mundo.Esta doença surgiu nos países do centro-oeste africano, da Índia e do
leste da Ásia, há cerca de 50 a 100 mil anos, entre os períodos paleolít ico e
mesolítico (GALIZA NETO E PITOMBEIRA, 2003).
19
Desde que foi descoberta até os dias atuais ocorreu um importante
avanço em seu diagnóstico e tratamento porém, os motivos que levaram a
mutação do gene de Hb normal (HbA) para o gene de hemoglobina S, ainda
são desconhecidos, bem como, ainda não foi encontrada uma cura para este
mal que afeta milhões de pessoas em todo o mundo (GALIZA NETO E
PITOMBEIRA, 2003).
A preocupação com a anemia falciforme no Brasil é uma questão que
envolve a construção de sua população e o processo de miscigenação, pois,
segundo Batista e Andrade (2008): O Brasil apresenta população com
diferentes origens raciais e como diversificados graus de miscigenação em
suas respectivas regiões.
As hemoglobinopatias são alterações que resultam da estrutura ou da
síntese das cadeias da Hb, podendo ser representadas pelas síndromes
falciformes ou pelas talassemias, sendo as principais enfermidades genéticas
em todo o mundo (BANDEIRA et al., 2007).
Assim, ainda segundo Batista e Andrade (2008), dentre as diversas
hemoglobinopatias hereditárias que acometem a população brasileira em
todas as regiões do Brasil é preciso citar a anemia falciforme, com presença
mais acentuada nas regiões em que existe a predominância de negros nas
gerações antepassadas.
Embora as anemias falciformes estejam presentes em todo o mundo:
[...] a anemia falciforme é a doença hereditária mais prevalente no Brasil, chegando a acometer 0,1% a 0,3% da população negroide, com tendência a atingir parcela cada vez mais significante da população devido ao alto grau de miscigenação em nosso país. As regiões onde a condição tanto de portador quanto de doente é mais prevalente são Sudeste e Nordeste (RAMALHO, 1986 apud BANDEIRA, 2007).
Para Loureiro e Rozenfeld (2005), em todo mundo aproximadamente
7% da população sofre com estes transtornos das hemoglobinas, sendo que
tanto problemas com a talassemias ou doenças falciformes quando não
diagnosticadas precocemente, podem levar à morte ainda nos primeiros anos
de vida.
Muito embora as manifestações clínicas destas doenças aconteçam
ainda no primeiro ano de vida, estas são contínuas e se estendem por toda a
vida, apresentando variabilidade nas intensidades e frequências destes
20
sintomas, especialmente, as crises de dor vaso-oclusivas. Para Loureiro e
Rozenfeld (2005) outras intercorrências de relevância clínica são a síndrome
torácica aguda, e as infecções bacterianas, que com a crise dolorosa levam a
internações hospitalares, morbidade e morte.
No Brasil a maior incidência de mortes causadas por doenças
falciformes ocorre até os 29 anos de idade, com predominância de 37,5% em
menores de 9 anos. Neste sentido, considerando o elevado grau de letalidade
destas doenças tem-se a sua gravidade e necessidade de atenção da saúde
pública (LOUREIRO E ROZENFELD, 2005).
Dados do Programa Nacional de Triagem Neonatal, mostram que, no estado
da Bahia, a incidência da doença falciforme é de 1:650, enquanto a do traço
falciforme é de 1:17, entre os nascidos vivos. No Rio de Janeiro, 1:1200 para a
doença e 1:21 de traço. Em Minas Gerais, é na proporção de 1:1400 com doença e
de 1:23 com traço falciforme (tabela 1 e 2). Com base nos dados, calcula-se que
nascem por ano, no Brasil, 3.500 crianças com doença falciforme e 200 mil
portadores de traço, isso corresponde ao nascimento de uma criança com AF para
cada mil recém-nascidos vivos. Atualmente, estima-se que tenhamos de 20 a 30 mil
brasileiros portadores da DF, isso permite tratar essa doença como problema de
saúde pública no Brasil (SIMÕES et al., 2010).
Tabela 1. Proporção de nascidos vivos diagnosticados com doença falciforme pelo
Programa de Triagem Neonatal (PNTN).
Estados Proporções de nascidos vivos
Bahia 1:650 Rio de Janeiro 1:1200 Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais e Goiás 1:1400 Espírito Santo 1:1800 São Paulo 1:4000 Mato Grosso do Sul 1:5850 Rio Grande do Sul 1:11000 Santa Catarina e Paraná 1:13500
Fonte: SIMÕES et al., 2010.
21
Tabela 2: Proporção de nascidos vivos diagnosticados com o traço falciforme pelo
PNTN.
Estados Proporções de nascidos vivos
Bahia 1:17 Rio de Janeiro 1:21 Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais e Goiás 1:23 Espírito Santo, Goiás 1:25 São Paulo 1:35 Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina 1:65
Fonte: SIMÕES et al., 2010.
1.2 PADRÃO DE HERANÇA DA HbS
Descrito na literatura médica por Herrick em 1910, a Anemia
Falciforme é uma doença hereditária, monogênica, de herança, codominante
autossômica, ou seja, a heterozigose não causa doença mais é detectável; a
homozigose ou a heterozigose combinada com outro mutante do gene da β-
globina é necessária para a doença. A substituição do ácido glutâmico pela
valina no sexto aminoácido da cadeia de β-globina (βS 6 GluVal) resulta na
HbS. A substituição de uma adenina (A) por uma timina (T), GAGGTG no
sexto códon do gene da globina β (NAOUM, 2004).
Os haplóticos têm sido marcadores úteis para estudos antropólogos e
para definição do fluxo de alelos βS em populações humanas. O haplóticos
βS tem sido estudado em diferentes regiões do mundo, os principais são:
África Ocidental, República Centro-Africana à África Oriental, Centro-Sul,
Senegal, Costa Ocidental Africana, Arábia Saudita e Índia. Apesar das
manifestações clínicas da anemia falciforme serem monogênica são
extremamente variáveis de individuo para individuo não havendo um
consenso na literatura sobre a relação desta variabilidade com os diferentes
haplótipos (NAOUM, 2004).
De acordo com Kikuchi (1999), a prevalência da AF, na população em
geral, é de um para mil recém-nascidos, sendo uma doença genética
22
hereditária, que apresenta elevado índice de morbimortalidade, tendo como
principal característica o fato de que os glóbulos vermelhos, perdem sua
forma bicôncava e adquirem um formato em forma de foice distorcido.
Conforme Brasil (2002): “hemoglobina normal é chamada de A e os
indivíduos normais são considerados AA, porque recebem uma parte do pai e
outra da mãe.” Neste sentido, se observa a figura 3:
FIGURA 3 – Hemoglobina normal e indivíduos normais FONTE: BRASIL, 2002.
A doença é um gene recessivo ou seja precisa do gene do pai e da
mãe para herdar a AF, encontrado freqüentemente em uma variação de 2,0%
a 6,0% na população brasileira em geral e, elevado índices de 6,0% a 10,0%
no caso da população negra (ASSIS, 2010).
Como na população brasileira é comum o casamento entre pessoas
negras e, ambos com traço falciforme, ocorrem de acordo com Kikuchi
(1999), um índice de aproximadamente 25,0% de probabilidade da geração
de filhos com anemia falciforme.
Pela alta frequência do gene da hemoglobina HbAS é comum a união
dessa pessoas entre si, são em geral, casais portadores do traço falciforme,
que apresentam probabilidade de 25%, de gerarem filhos com anemia
falciforme.
Quanto à probabilidade de filhos com a AF, se observa o desenho na
Figura 4:
23
FIGURA 4 – Padrão de herança anemia falciforme e traço falciforme FONTE: PERIN et al., 2000.
Ao observar a figura 4 se analisa que mesmo os pais tendo traço
falciforme 25,0% dos filhos podem ser normais, enquanto 50,0% podem ter o
traço falciforme e 25,0% desenvolverem a anemia falciforme, observa-se a
concepção apresentada em Brasil (2002), de que na pessoa que não possui o
traço ou a anemia falciforme a hemoglobina produzida é normal e chama-se
A e, na Anemia Falciforme (AF), a hemoglobina produzida é anormal e
denomina-se S. Assim, o filho que recebe uma hemoglobina A e outra S dos
pais, passa a ser chamado de “traço falcêmico”, sendo representado por AS ,
e aquele que possui a AF tem como representação SS.
Avalia-se que os indivíduos que possuem o traço falcêmico, podem ter
filhos normais, portadores deste traço e também da doença. Importante citar
que o portador do traço falcêmico não possui a doença AF, isto porque o
traço não é a doença, o que gera a possibilidade de filhos normais (BRASIL,
2002)
24
1.3 FISIOPATOLOGIA
Segundo Zago e Pinto (2007), a hemoglobina A desempenha
importante papel no organismo, atuando no transporte de oxigênio dos
pulmões para os tecidos e, no transporte do gás carbônico até os pulmões.
Com relação à hemoglobina S, de acordo com Batista e Andrade
(2008), esta constitui a mutação da hemoglobina A, formada a partir da
substituição de uma base nitrogenada adenina por timina (GAC GTT), no
sexto códon do cromossomo 11 codificando o aminoácido valina no lugar do
acido glutâmico, na posição 6 da cadeia beta globina.
Para Batista e Andrade (2008), a ocorrência da modificação estrutural,
causa alterações nas propriedades físico-químicas da molécula da
hemoglobina no estado desoxigenado. Segundo Brasil (2002), com estas
alterações na estrutura da molécula de hemoglobina, ocorre o processo de
falcização, que vem a ser a mudança da forma normal da hemácia para forma
de foice.
O processo primário deste evento é a polimerização ou gelificação da desoxi HbS. Sob desoxigenação, em razão da presença da valina na posição 6, estabelecem-se contatos intermoleculares que seriam impossíveis na hemoglobina normal e que dão origem a um pequeno agregado de hemoglobina polimerizada. Os agregados maiores alinham-se em fibras paralelas, formando um gel de cristais chamados tactóides. As células com tactóides assumem forma de foice, clássicas de anemia falciforme. Sob desoxigenação parcial, podem existir pequenas quantidades de polímeros sem anormalidades morfológicas visíveis. Este fenômeno é reversível com a oxigenação, desde que a membrana da célula não esteja definitivamente alterada. Quando isto ocorre, formam-se os eritrócitos irreversivelmente falcizados, que permanecem deformados independentemente do estado da HbS intracelular (BRASIL, 2002).
A propriedade de deformação das células falciformes são
determinadas pela extensão da polimerização da HbS e pela concentração de
HbS . A presença de HbF, por exemplo, interfere na polimerização da HbS.
Adicionalmente, o grau de desidratação celular, o pH devido ao edema
celular causado pela desoxigenação, o tempo de trânsito dos glóbulos
vermelhos na microcirculação, influenciam na polimerização (ZAGO E PINTO,
2007).
25
FIGURA 5 – Bases fundamentais do curso clínico da anemia falciforme.
FONTE: LOBO, MARRA E SILVA, 2007.
Depois de repetidos episódios de falcização, as células falciformes
tendem a perder K+ e água, tornando-se desidratadas. Os principais
mecanismos destas perdas ocorrem pela ativação excessiva do canal de
transporte dos íons potássio e cloro (K+, Cl-), estimulados pela acidificação,
pelo edema celular (este canal está muito ativo nos reticulócitos, onde a
desidratação desempenha papel importante na formação das células densas)
e pelo canal de Gardos, devido ao aumento da concentração de íons Cálcio
(Ca++). Isto resulta no aumento da concentração da hemoglobina corpuscular
média (CHCM) facilitando a polimerização que se intensifica com a falência
da bomba de Cálcio/ATPase, alterando a permeabilidade da membrana
eritrocitária, sendo esse processo deletério a principal causa dos eritrócitos
que se tornam irreversivelmente falcizados (ZAGO E PINTO, 2007).
O papel da rigidez dos eritrócitos falcizados, tradicionalmente
considerada como necessária e suficiente para a oclusão da
microvasculatura e, por conseguinte, para as manifestações veno-oclusivas
características da AF, tem sido bastante discutido. Uma série de alterações
em moléculas de adesão, e seu papel no fenômeno vaso-oclusivos (VOs)
26
foram recentemente revisados. Foi observada a expressão anormal das
proteínas como anquirina, banda 3, espectrina, VLA-4 e CD36 na membrana
celular dos reticulócitos falcêmicos; e de moléculas que promovem o aumento
da adesão ao endotélio como o fator de Von Willebrand, trombospondina,
fibronectina, integrina α5β3, ICAM-1 (intercelular cell adhesion molecule),
laminima, e VCAM-1 (vascular cell adhesion factor). O fenômeno de adesão
de eritrócitos falciformes com a laminima via receptor de BCAM/LU (basal cell
adhesion molecule) nos pacientes com AF foi também caracterizado.
Adicionalmente, a fosfatidilserina (PS), molécula de adesão presente em
maior quantidade na parte interna da membrana celular das hemácias
normais, está expressa na membrana das hemácias falciformes (TELEN,
2007).
FIGURA 6- Fosfolipídios da membrana celular – eritrócito falciforme e normal. FONTE: www.ciencianews.com.br
Esta expressão confere ao glóbulo vermelho um potencial de adesão
celular três vezes maiores que as hemácias normais e está implicada na
geração da trombina ativando a cascata da coagulação na crise vaso oclusiva
27
(VO). Na microcirculação, a ativação das plaquetas com a expressão da P-
selectina (CD36p) favorece a ligação com o endotélio e com os neutrófilos via
PSGL-1 e αvβ3 (CD61), receptor de vitrocentina. Esta ativação plaquetária
aumenta ainda mais a afinidade da GP 1b-IX-V pelo fator de von Willebrand e
da GP IIb-IIIa pelo fibrinogênio, retroalimentando a ativação da coagulação
(TELEN, 2007).
A hipóxia tecidual decorrente da VO desencadeia fenômenos
inflamatórios, que são tão mais intensos quanto maior a necrose tecidual. A
presença de citocinas inflamatórias na microambiente lesado também
aumenta a expressão de molécula de adesão estimulando, entre outras
interações, a quimiotaxia dos leucócitos. A lesão vascular se acentua pela
liberação de H2O2 liberada por estes fagócitos (ZAGO et al., 2004).
Em modelo animal de AF, o fenômeno da vaso-oclusão foi observado
dinamicamente e parece acontecer a partir da adesão dos glóbulos
vermelhos falcizados ou não, de leucócitos ou plaquetas entre si no endotélio
vascular (figura 7) refutando a teoria antes aceita havendo uma obstrução
mecânica pelo formato anormal do eritrócito (TELEN, 2007).
FIGURA 7- (1) O eritrócito falciforme adere ao endotélio vascular anormal; (2) Hemólise. Estes fatores resultam num estado pró-inflamatório manifestado em parte pela adesão de leucócitos (3) e agregação plaquetária (6). O aumento da endotelina-1 e seqüestro do NO pela hemoglobina livre resulta num aumento do tônus vascular (4). O estreitamento do lúmen vascular acontece secundário a proliferação de célula múscular lisa e fibroblasto na íntima (5). O resultado final é vasculopatia (7) e oclusão (8) FONTE: Adaptado por Switzer e cols 2006.
28
A hemólise parece também desempenhar um papel significativo na
fisiopatogenia da doença falciforme. É sabido que leva à liberação de
hemoglobina no plasma e esta converte o óxido nítrico (NO) em nitrato
inativo. Paralelamente, a lise de eritrócitos libera arginase que destrói L -
arginina, substrato para a produção de NO, contribuindo na diminuição da
concentração de NO. O NO é importante cofator da enzima guanilase-ciclase,
responsável pela conversão de GTP (trifosfato de guanonisa) em cGMP
(monofosfato de guanina cíclica) responsável pelo relaxamento dos músculos
lisos vasculares e vasodilatação. A baixa bioavaliabilidade de NO altera a
homeostasia vascular, aumentando a ativação plaquetária e a adesão de
moléculas ao endotélio, levando ao desvio do balanço constrição-
relaxamento em direção a uma maior vaso-constrição, facilitando a oclusão
vascular (BUCHANAN et al., 2004).
Ainda discutindo os aspectos que envolvem as consequências da
anemia falciforme ao organismo humano, tem-se a compreensão de Galiza
Neto e Pitombeira (2003), que alguns sintomas são comuns aos pacientes
com AF. Como, por exemplo, crises álgicas e hemolíticas, síndrome torácica
aguda, seqüestro esplênico, priapismo, insuficiência renal crônica, acidente
vascular cerebral e o enrijecimento da membrana celular com alterações
físico-químicas na estrutura da hemácia.
Como se observa na Figura 7, segundo Lobo, Marra e Silva (2007), a
forma da célula causa a isquemia da microcirculação da medula óssea,
ocorre ainda lesão tecidual e percepção de intensa dor, com sensações de
queimação ou dormência. Assim, considera-se a existência de alterações
fisiopatológicas causadas pelas células falciformes, como se observa na
Tabela 3.
29
TABELA 3 – Alterações fisiopatológicas em diferentes níveis nas doenças
falciformes
Nível Fenômenos ou alterações
Molecular e celular Mutação da hemoglobina Polimerização da Hb desoxigenada Falcização Alterações de membrana
Tecidos e órgãos Adesão celular ao endotélio Hipóxia local Isquemia Inflamação Lesão microvascular Ativação da coagulação Depleção de NO
Organismo (paciente) Dor Anemia hemolítica Insuficiência de múltiplos órgãos
FONTE: ZAGO E PINTO, 2007.
1.4 QUADRO CLÍNICO
A AF é uma anemia hemolítica hereditária, grave, caracterizada pelo
inicio das manisfetações clínicas a partir dos 4-6 meses de vida e uma maior
incidência em indivíduos da raça negra. Além da rigidez dos glóbulos
vermelhos afoiçados, que contribuem para uma sobrevida diminuída das
hemácias, as alterações imunológicas e vasculares levam a uma
susceptibilidade aumentando as infecções, as lesões osteoarticulares,
dactilite, osteomelite, síndrome torácica aguda e ao comprometimento
funcional dos órgãos. Tal morbi-mortalidade determina a diminuição na
expectativa de vida dos portadores da AF (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
30
1.4.1 Anemia
Os pacientes com anemia falciforme apresentam um aumento da bilirrubina
indireta, hiperplasia eritróide na medula óssea e elevação dos reticulócitos. O
elevado “tumover” celular eritróide leva a carência de folato e aumento a
susceptibilidade a crises aplásticas. O grau de anemia é variável de paciente para
paciente, geralmente com níveis de hemoglobina em torno de 7g/dl.
As crises hemolíticas, o sequestro esplênico e a aplasia podem levar à
queda abrupta destes níveis, colocando a vida dos pacientes em risco.
A anemia crônica, independentemente do componente vascular desta
patologia, pode levar à insuficiência cardíaca e acentuar a deficiência funcional de
vários órgãos (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
1.4.2 Lesões Osteoarticulares
De acordo com Gallo da Rocha (2004), quando a pessoa é acometida
pela anemia falciforme, comumente ocorrem complicações esqueléticas, as
quais podem levar a morbidade grave.
Ainda segundo Gallo da Rocha (2004), os portadores de anemia
falciforme possuem em geral casos de problemas ósseos e nas articulações
devido a três causas, são elas: Hiperplasia da medula óssea que causa
distorções e alterações de crescimento, principalmente no crânio, vértebras e
ossos longos; obstruções vasculares, causadora de infarto na metáfise e
diáfise dos ossos e à necrose da cabeça do fêmur ou úmero e infecções
ósseas bacterianas causando a osteomielite ou artrite séptica.
31
Sobre a hiperplasia medular reativa, tem-se:
Em indivíduos sadios, a medula óssea vermelha se converte em medula gordurosa durante a infância, iniciando-se nas regiões distais do esqueleto apendicular e caminhando para as regiões proximais, nos paciente com anemia falciforme, o espaço medular tende a preservar a medula vermelha, podendo sofrer expansão devida ao aumento da demanda hematopoética causado pela anemia (YANAGUIZAWA, 2008).
Para Gallo da Rocha (2004), ocorrem alterações na coluna vertebral
que podem levar a fraturas, (figura 8) em que os ossos são de modo
frequente comprometidos, devido à doença falciforme e as lesões que podem
ser o resultado de hiperplasia de medula óssea, ocasionando infarto ósseo.
FIGURA 8 – Ressonância magnética de paciente com anemia falciforme FONTE: YANAGUIZAWA et al., 2008.
Observa-se segundo Yanaguizawa et al. (2008), que na ressonância
magnética aparece a predominância da cor vermelha na medula óssea,
apresentando-se como um hipossinal difuso da medula óssea nas sequências
ponderadas.
Daltro et al. (2008), esclarece que, a osteonecrose da cabeça femoral
incide em 10% a 30% da população falcêmica. Quando não ocorre o
tratamento adequado, há redução do fluxo sanguíneo na cabeça “[...] femoral
provoca degeneração na arquitetura trabécular, colapso do osso subcondral e
artrose secundária, em até 70% dos casos.
Para Gallo da Rocha (2004), em pessoas com anemia falciforme é
comum ocorrer um processo de necrose da cabeça do fêmur, constituindo-se
em uma degeneração e substituição do núcleo ósseo, devido a um infarto
32
ósseo, estes tipos de necroses ocorrem nos ossos justa-articulares, e são
consequências da ocorrência de tromboses dos vasos, causadoras de dores
e destruição das articulações. De acordo com dados de estudos tem-se que
os sintomas podem ser súbitos, e geralmente estão associados a
traumatismos, com dor intensa que causa limites na movimentação dos
pacientes. A dactilite é também conhecida como a síndrome mão-pé como se
apresenta na Figura 9:
FIGURA 9 – Dactilite em criança com anemia falciforme, também conhecida como síndrome mão-pé, a dactilite é uma complicação vaso-oclusiva aguda caracterizada por dor e edema no dorso das mãos ou dos pés (ou ambos simultaneamente), por vezes acompanhados de calor e eritema local. FONTE: www.hemoglobinopatias.com.br
De acordo com Gallo da Rocha (2004), esta síndrome mão-pé vem a
ser uma manifestação que ocorre nas mãos e nos pés de crianças com idade
inferior a 4 anos. Sua causa são as crises vaso-oclusivas, se apresenta com
um quadro de dor nos metacarpos, metatarsos e falanges das mãos e dos
pés, causa ainda edema no dorso das mãos e dos pés e se estende até os
dedos. Sobre a osteomielite tem-se:
A susceptibilidade aumentada a infecções dos pacientes com anemia falciforme, incluindo a osteomielite, está relacionada a vários mecanismos (hipoesplenismo, alteração do sistema complemento e áreas de necrose óssea). A osteomielite é mais comum na região diafisária dos ossos longos, em particular do fêmur, da tíbia e do úmero. O mic roorganismo mais encontrado é Salmonella, seguido por S. aureus e bacilos entéricos Gram-negativos (YANAGUIZAWA et al., 2008).
33
Conforme salientam Ferraz e Murao (2007), o paciente com anemia
falciforme e acometido de osteomielite causada por infecções de
microorganismos, apresenta dentre os diversos sintomas a dor, edema
eritema, febre e alterações sanguíneas.
1.4.3 Síndrome Torácica Aguda (STA)
Os pacientes que possuem anemia falciforme apresentam inúmeras
complicações agudas e crônicas nos pulmões, sendo estes o maior órgão-
alvo (Di NUZZO et al., 2004).
Para Gallo da Rocha (2004), uma das complicações frequentes de
quem possui a AF é a síndrome torácica aguda (STA), que se caracteriza
pelo surgimento de um infiltrado pulmonar, com dores torácicas, ocorrendo
com um percentual de 40% destas pessoas.
Conforme Araújo:
É importante ressaltar que cerca de 50% dos pacientes não são internados por STA e no decorrer da internação desenvolvem seus sinais e sintomas, sendo mais comum a admissão por fenômenos vaso-oclusivos. Portanto a crise álgica pode ser um pródomo da síndrome torácica aguda (ARAÚJO et al., 2011).
A STA é uma doença que apresenta como manifestação clínica a
febre, dor torácica pleurítica, dor abdominal, tosse, infiltrado pulmonar e
hipóxia e, ocorre com maior frequência em crianças, em um percentual de
25,0%, enquanto que nos adultos é aproximadamente 8,0% (GALLO DA
ROCHA, 2004).
As hemácias dos pacientes com AF, de acordo com Di Nuzzo e
Fonseca (2004), alcançam os vasos pulmonares, estando desoxigenada, com
polímeros de HbS, no caso das artérias pulmonares estas apresentam um
número maior de hemácias afoiçadas, se comparadas a outros leitos
vasculares, o que acaba contribuindo para oclusão vascular nestes
pacientes.
34
1.4.4 Crises Dolorosas em Ossos e Articulações
Moreira (2012), afirma que as crises dolorosas em ossos e
articulações são constantes nos pacientes que sofrem de AF, sendo que isto
ocorre devido a obstrução da micro circulação, que se origina no afoiçamento
das hemácias, estas crises álgicas ocorrem de forma inesperada e interferem
diretamente na qualidade de vida dos pacientes.
O quadro álgido pode ocorrer de três formas: agudo, subagudo ou
crônico, podendo ainda ser acompanhado de febre com edema e calor na
área afetada. Dentre os ossos do corpo humano os mais acometidos são a
tíbia, fêmur e úmero, no entanto, qualquer osso do organismo pode ser
vitimado pelas crises dolorosas (DALTRO, 2008).
As crises se constituem nos eventos mais freqüentes aumentando a
grande morbidade. Os indivíduos mais afetados costumam precisar de
hospitalização freqüentes, para analgesia intra venosa diversas vezes ao
longo de um ano. É comum a adição de opiáceos e isso se constituem em um
fator adicional de morbidade. As crises podem ser desencadeadas por
infecções, frio ou calor acentuado, exercícios físicos ou por estresse psíquico
(NAOUM, 2004).
1.4.5 Crise Aplásicas
Perin et al. (2000), consideram que a crise aplásica consiste em
parada transitória da eritropoese, que se caracteriza por quedas abruptas dos
níveis de hemoglobina, também pela queda no número de reticulócitos e dos
precursores eritróides presentes na medula óssea.
Conforme salienta Perin et al. (2000), embora existam diversos tipos
de infecções que afetam a eritropoese é comum que o causador seja o
parvovírus B19, o qual invade os progenitores eritróides em proliferação, o
que explica a sua importância na anemia falciforme.
35
“A infecção pelo parvovírus B19 em seres humanos foi descrita inicialmente em 1975 por Cossart et al.; posteriormente Patisson et al. E Serjeant et al., em 1981, o indicaram como agente desencadeante da crise aplástica nos pacientes portadores de doença falciforme. Único membro da família Parvoviridae reconhecido atualmente como patogênico para o homem, o parvovírus B19 pertence ao gênero Erythrovirus devido ao seu tropismo por células eritróides. Trata-se de um DNA vírus, cujo receptor, o globosídeo (Gb4) ou antígeno P, um glicoesfingolípidio neutro de membranas está presente nas células da linhagem vermelha em grande quantidade, além de também estar presente em onze tecidos humanos, fato este que justificaria algumas manifestações menos usuais da infecção como miocardite, hepatite, artrite, trombocitopenia”. (BORSATO et al., 2000).
De acordo com Perin et al. (2000), um percentual de 68,0% das crises
aplásica em crianças com anemia falciforme são ocasionadas por infecção
por parvovírus B19, sendo menos frequente em adultos devido aos anticorpos
protetores. Ressaltam ainda que outros fatores como a necrose da medula
óssea, com febre, dor óssea,diminuição no numero de reticulócitos chamado
de reticulocitopenia e resposta leucoeritroblástica são causas de crises
aplásica, enquanto que a depressão medular, resultante de uma deficiência
de ácido fólico, especialmente durante o final da gravidez, pode causar uma
crise megaloblástica (PERIN et al., 2000).
1.4.6 Sequestro Esplênico
Para Dover (2003), o sequestro esplênico é caracterizado por súbito
aprisionamento de sangue no baço, é uma complicação aguda com alto
potencial de gravidade, gerando elevado índice de morbimortalidade em
pacientes com AF.
Aponta ainda que o sequestro esplênico:
Caracteriza-se pela diminuição da concentração de hemoglobina igual ou maior a 2g/dL comparada ao valor basal do paciente, aumento da eritropoiese e das dimensões do baço. Manifesta -se clinicamente com choque hipovolêmico e pode estar associado a infecções virais ou bacterianas. Sua incidência é variável conforme a região estudada, é mais frequente dos 3 meses aos 5 anos de idade (BRUNIERA, 2007).
36
Ainda de acordo com Dover (2003), existe um elevado índice de
reincidência do sequestro esplênico, neste sentido, é preciso que seja
realizado um tratamento preventivo.
FIGURA 10 – Esplenomegalia. FONTE: Manual da Anemia Falciforme, Ministério da Saúde (2002).
1.4.7 Doença Pulmonar Crônica
Castro (1996) relata em seu estudo que existem doenças pulmonares
crônicas nos pacientes de AF, como é o caso da hipertensão pulmonar, a
qual tem como causa a elevação da pressão arterial e da resistência vascular
pulmonar.
Segundo dados apresentados por Anthi et al. (2007), a patogênese da
hipertensão pulmonar quando relacionada a AF se apresenta multifatorial, ou
seja, são diversos os fatores que se encontram envolvidos, como a hemólise,
os baixos níveis de óxido nítrico, hipóxia crônica, tromboembolismo, além de
doenças hepáticas crônicas e asplenia.
Na interpretação de Machado (2007), o diagnóstico da hipertensão
pulmonar é realizado com a elevação sustentada da pressão arterial
pulmonar (PAP) em 25 mmHg em repouso e 30 mmHg em exercício. Sendo
importante que este diagnóstico seja executado precocemente, visto que as
37
doenças crônicas pulmonares são as que ocasionam maiores prejuízos ao
bem estar dos pacientes com AF, inclusive mais elevados índices de
mortalidades, principalmente nos adultos.
1.4.8 Doença Biliar
De acordo com Di Nuzzo et al. (2004), a hemólise crônica é uma das
principais características da anemia falciforme, constituindo-se um fator de
risco de elevado grau de importância para o desenvolvimento da litíase biliar.
Ocorre a formação de cálculos biliares, devido a destruição prematura
dos eritrócitos falcizados; ao acúmulo dos seus precursores e precipitação
dos sais biliares, bem como a hiperbilirrubinemia indireta crônica. A hemólise
é a principal causa de colelitíase em crianças e adolescentes (GUIMEIRO et
al., 2007).
1.4.9 Sequestro Hepático
Conforme Traina e Saad (2007), os pacientes com AF podem
apresentar um quadro de alterações hepáticas sejam elas agudas ou
crônicas, mas acompanhadas de dores. No caso das agudas, estas são
caracterizadas por “[...] dor no quadrante superior direito e icterícia. O
diagnóstico diferencial inclui crise aguda de falcização hepática, sequestro
hepático, colestase intra-hepática, colelitíase, coledocolitíase, colecistite e
hepatite viral aguda. [...]”.
Segundo Hernandez et al. (1989), o sequestro hepático tem como
característica dores nos quadrantes superiores direito; hepatomegalia; queda
no hematócrito; aumento dos reticulócitos e pouca alteração das enzimas
hepáticas.
De acordo com Lee e Chu (1996) ocorre a reversão do sequestro
hepático, com conseqüente liberação de hemácias à circulação sanguínea
38
pode resultar em um aumento dos níveis de hemoglobina, hipervolemia e
hiperviscosidade.
1.4.10 Doença Hepática Crônica
Pessoas com AF podem apresentar alterações agudas causadas pelo
processo de falcização caracterizadas por dor no quadrante superior direito e
icterícia, as alterações hepáticas crônicas são freqüentemente causadas pela
hemólise crônica e múltiplas transfusões. Os repetidos infartos e seqüestros
menores, subclínicos, na vascularização hepática acabam por determinar a
substituição fibrosa do parênquima. Adicionalmente a prevalência de
hepatites virais, particularmente a hepatite C, está bastante aumentada neste
grupo de pacientes submetidos a transfusão de sangue frequentes.
AF pode estar relacionada ao acumulo de ferro (hemossiderose), vem
sendo reconhecida como um fator muito importante na determinação da
hepatopatia grave (TRAINA et al., 2007).
1.4.11 Doença Cardiovascular
A cardiomegalia devido à sobrecarga cardíaca pela anemia crônica,
oclusões recorrentes das arteríolas pulmonares e hemossiderose cardíaca é
bastante frequentes nos adultos. As doenças cardiovasculares não são
comuns nas pessoas com doenças falciformes, no entanto, exis tem dados
registrados com casos altamente graves, causando o aumento da
morbimortalidade (GUALANDRO et al., 2007).
Na avaliação Tsironi e Aessopos (2005), existe frequentes queixas
dos pacientes com doenças falciformes de palpitações, dispnéia ao fazer
esforços físicos e, em casos menos frequentes dores torácicas, sendo que o
infarto agudo do miocárdio é raro, porém é possível sua ocorrência.
39
1.4.12 Doença do Sistema Nervoso Central
Hosni et al. (2008), citam que os doentes falciformes podem ter
problemas como doenças do sistema nervos central, como as complicações
do sistema nervoso central, principalmente na forma de cefaléias,
convulsões, hemiplegia e acidentes vasculares cerebrais (AVC)
O AVC é uma das piores complicações do anemia falciforme, cerca de
5% a 10% das crianças, poderão desenvolver AVC, a prevalência em
pacientes brasileiros com AF é de 9,1%.
Os infartos cerebrais ocorrem mais em crianças, nos adultos
predominam a hemorragia cerebral, os níveis baixo de hemoglobina e a
contagem de granulócitos e plaquetas, leva a lesões de grandes artérias
cerebrais, havendo um estreitamento acentuado ou oclusão completa das
artérias: carótida, cerebral média e inferior, isso têm sido apontados como
fatores de risco para AVC (OHENE et al., 1998).
1.4.13 Doença Renal
A Nefropatia é comum dentre os pacientes com doença falciforme,
atinge aproximadamente 1/3 dos adolescentes e adultos, além de ser uma
das importantes causas de mortalidade entre adultos (MAGALHÃES, 2007).
As alterações renais na doença falciforme começam na infância,
devido a anemia crônica, fluxo sanguíneo aumentado, e eventos de veno-
oclusão, o aumento da filtração glomerular, pode ser identificado nos
primeiros anos de vida, na forma homozigótica SS (MAGALHÃES, 2007).
A hipostenúria é o defeito renal mais comum no paciente falcêmico é
a hipostenúria, que é uma dificuldade do rim em conter urina, tornando o
paciente falcê mais sensível a desidratação que é um fator que leva a crises
de vaso-oclusão, levando a noctúria no adulto e à enurese na criança
(GALLO DA ROCHA, 2004).
40
1.4.14 Úlceras de Perna
A úlcera de perna é uma complicação que ocorre com maior freqüência em
pacientes homozigotos SS, do sexo masculino acima de 10 anos de idade. Depende
vários fatores seu aparecimento como fenômeno de vaso-oclusão, hipóxia tecidual,
hemólise, fatores genéticos, são dolorosas e podem ser únicas ou múltiplas, a maior
ocorrência são em áreas com menor tecido subcutâneo e pele fina, como a região
maleolar externa e interna, tibial anterior. Pode aparecer espontaneamente ou em
conseqüência de pequenos traumas, a recorrência é freqüente e processo de
cicatrização pode ser lenta (PALADINO et al., 2007).
O processo de vaso-oclusão, provoca hipóxia tecidual e necrose da região
do tornozelo, os leucócitos e as plaquetas também participam do processo de
vasoclusão, liberando mediadores de inflamação, isso faz com que ocorra adesão
da hemácia, diminuindo o fluxo de sangue e provocando dano tecidual (PALADINO
et al., 2007).
FIGURA 11: Úlcera crônica no maléolo medial, com aspecto de úlcera nervosa FONTE: PALADINO et al., 2007.
41
1.4.15 Deficiência no Crescimento e Desenvolvimento
A partir dos 2 anos de idade, a criança portadora de AF apresenta um
retardo no crescimento somático que afeta a altura e o peso e que
progressivamente aos 18 anos (ZAGO, 2004).
A doença falciforme tem profundo efeito na saúde óssea, pois a
hiperplasia de medula óssea promove expansão nos espaços medulares dos
ossos longos, afilamento dos ossos corticais e assim provavelmente
resultando em fragilidade óssea, assim, contribuindo para o
comprometimento do crescimento e as anormalidades antropométricas
vistas em crianças pré-puberais (VERISSIMO, 2007).
Os determinantes do comprometimento do crescimento e da
maturação esquelética e sexual ainda não estão totalmente esclarecidos e
provavelmente são multifatoriais. Função endócrina anormal, anemia crônica,
gasto energético secundário ao trabalho cardiovascular aumentado, alta
reposição eritropoiética, ingestão nutricional inadequada ou outros fatores
nutricionais podem contribuir assim para o crescimento e maturação
(VERISSIMO, 2007).
1.4.16 Priapismo
O priapismo é uma ereção dolorosa e prolongada não acompanhada
por desejo ou estimulo sexual, pode se manifestar na infância ou
adolescência persistente por mais de quatro horas. O fluxo de sangue local
lento, viscoso, desoxigenado, leva à oclusão vascular, ocorrendo edema e
inflamação, devido ao afoiçamento das hemácias (GALLO DA ROCHA, 2004).
42
1.4.17 Infecções
As infecções freqüentes nos indivíduos com AF.Como conseqüência da
asplenia, haverá uma maior susceptibilidade a infecções por organismos
encapsulados, notadamente o Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e o pneumococo
(DI NUZZO et al., 2004).
Essas infecções são acompanhadas de acidose, hipóxia e desidratação,
podem desencadear e intensificar as crises de falcização, por que favorecem a
produção de citocinas inflamatórias, aumentando, assim, a expressão das moléculas
de adesão endoteliais e a adesão das células falciformes e dos polimorfonucleares
no endotélio vascular.
Foi observado em estudos com pacientes portadores de AF, um risco 25
vezes maior de desenvolver infecções por salmonelas, especialmente em crianças
maiores e adultos (DI NUZZO et al., 2004).
43
1.5 DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME
Baseia-se nos achados da hemoglobina, prova de falcização,
solubilidade, eletroforese, exames com técnicas genéticas moleculares, entre
outros.
1.5.1 Hemograma
O hemograma normalmente revela anemia na maioria das vezes
normocrômica e normocítica (podendo ser hipocrômica e eventualmente
macrocítica), além de sinais indiretos de hemólise caracterizados por
hiperbilirrubinemia indireta e reticulocitose. Leucocitose com neutrófila
moderada não necessariamente relacionada à infecção e trombocitose
completam o quadro hematológico, notadamente durante as crises vaso-
oclusivas. Plaquetopenia pode ocorrer em quadros de sequestro esplênico
(ZAGO, 2004).
O esfregaço de sangue periférico, mostrado na f igura 12, também é
bastante útil, podendo apresentar anisopoiquilocitose e policromasia. São
observadas alterações morfológicas dos eritrócitos, com a presença de
células afoiçadas, assim como eritroblastos em várias etapas maturativas e
um número apreciável de eritrócitos falcêmicos irreversíveis (OLIVEIRA E
POLI NETO, 2004).
44
FIGURA 12 – Microscopia óptica de esfregaço obtido de amostra de sangue com diagnóstico de anemia falciforme (a) células com Hb S na forma discóide – SS; (b) --- momento inicial da polimerização caracterizada pela condensação de HbS numa parte da célula discóide densa – SS; (c) célula falciforme irreversível – SS. FONTE: www.hemoglobinopatias.com.br
1.5.2 Reticulócitos
Os reticulócitos são eritrócitos jovens, a reticulocitose é comum na
doença falciforme, é um marcador biológico no grau da eritropoiese, utiliza-se
a técnica de contagem de reticulócitos para estabelecer a interação do
genótipo de HbS com talassemia alfa (NAOUM, 1999).
1.5.3 Bilirrubina
Como relata Naoum (1997), a bilirrubina é o principal produto do
metabolismo do grupo heme da Hb, 70% são provenientes da destruição dos
eritrócitos velhos, 15% de fontes hepáticas, e 15% é devido a destruição de
eritrócitos defeituosos na medula óssea.
Nas doenças falciformes, a excessiva quantidade de eritrócitos
defeituosos, faz com que ocorra sua destruição precoce, e eleva a
45
concentração de bilirrubina indireta para valores acima 5mg/dL (NAOUM,
1997).
1.5.4 Teste de Solubilidade e Resistência Globular Osmótica
O teste de solubilidade baseia-se na insolubilidade característica da
HbS. As hemoglobinas normais (Hb A e A2), são solúveis, em soluções de
alta molaridade, a hemoglobina S é desoxigenada e forma polímeros
insolúveis, impossibilitando sua absorção, ocorrendo a insolubilidade da
hemoglobina S (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
O exame de resistência globular osmótica, é utilizado para observar a
resistência dos glóbulos vermelhos em uma solução salina tamponada,
diluída a 0,36% (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
Resultados positivos não são observados as linhas pretas, não há
hemólise dos eritrócitos, no resultado negativo são observadas as linhas
pretas, havendo hemólise total ou parcial dos eritrócitos (OLIVEIRA E POLI
NETO, 2004).
FIGURA 13: Resistência Globular osmótica em solução de NaCl a 0,36%.
FONTE: NAOUM, 1999.
46
1.5.5 Teste de falcização
O teste de falcização, é um teste em que os eritrócitos que contem
hemoglobina S, quando desoxigenados pela adição de uma substância
redutora, como metabissulfito de sódio, adquirem a forma de foice, porém o
teste não permite distinguir a anemia falciforme dos demais estados
falciformes (OLIVEIRA E POLI NETO, 2004).
FIGURA 14: Teste de falcização positivo em portador de traço falcif orme (HbAS)
FONTE: (NAOUM, 1997).
1.5.6 Eletroforese de Hemoglobina Alcalina e Ácida
A detecção efetiva das diversas formas de Doenças Falciformes requer um
preciso diagnóstico, baseada principalmente em técnicas eletroforéticas na
separação dos componentes do sistema por meio de aplicação de um campo
elétrico. A anormalidade química da HbS era devida à substituição do ácido
glutâmico pela valina, na posição número 6 da cadeia beta, produzindo a perda de
duas cargas negativas por molécula de Hb, tornando a HbS menos negativa em
relação a hemoglobina A. Está mudança de carga faz com que a HbS se mova
lentamente em direção ao ânodo em eletroforese alcalina e ácida, quando
comparada com a HbA (NAOUM, 1999).
47
A detecção mais sensível da HbSS, se faz por eletroforeses em soluções
tampões com pH alcalino (8,0-9,0) sobre suportes de acetato de celulose e gel
amido (NAOUM, 1999).
FIGURA 15: Eletroforese alcalina de hemoglobinas em acetato de celulose, pH 8.6.
FONTE: (NAOUM, 1999).
.
No casos de associação da HbS com variantes de HbS, como por exemplo a
HbC, a associação de técnicas eletroforéticas alcalina e ácida é decisiva para o
correto diagnóstico. Pacientes com anemia falciforme (homozigotos) apresentam
cerca de 2 a 20% de HbF, 2 a 4% de HbA2 e o restante é HbS. A HbA não é
detectada a menos que o paciente tenha sido transfundido nos últimos 4 meses
(NAOUM, 1999).
A eletroforese em ágar-citrato ou ágar-fosfato, de pH ácido, é o melhor meio
para comprovação da HbS, permite diferenciar com nitidez a HbAS da HbAD, as
HbS e HbD se movem na mesma posição em eletroforeses alcalinas, porém no pH
ácido a HbS é mais lenta que a HbD.
O portador heterozigoto do gene hemoglobina S é assintomático. No
entanto, seu diagnostico é de grande importância para evitar cruzamentos com
outros portadores AS promovendo o nascimento de pacientes com anemia
falciforme, e também, entre AS e portadores do gene AC ou talassêmico, o que
poderia resultar em pacientes com doenças SC ou microdrepanocitose,
respectivamente. Estes indivíduos apresentam um hemograma normal, com
morfologia eritróide normal; falciteste positivo (devido possuírem de 30 a 45% de
HbS, o que é suficiente para tornar os eritrócitos em forma de foice – nas condições
48
de baixa tensão de O2 no teste in vitro); teste de solubilidade positivo; e eletroforese
em pH alcalino, em fitas de acetato de celulose apresenta mancha na posição A e
outra S, confirmadas na eletroforese em ágar ácido pH 6,2 onde se verifica posições
em A e outra na posição S (NAOUM, 2004).
Já o portador de doença SC apresenta quadro de anemia hemolítica crônica
de grau moderado e casos mais graves, podendo inclusive apresentar episódios de
oclusão vascular e infarto, como na anemia falciforme (SS). Apesar de os níveis de
hemoglobina S e C serem equivalentes, o gene βs parece ter uma expressão
fenotípica maior que o gene βc. Deste modo, alguns pacientes podem apresentar
quadros semelhantes ao de anemia falciforme, apesar de relativamente mais
brandos. Estes pacientes apresentam anemia do tipo normo/normo; reticulócitos 3 a
10% morfologia eritrocitária pode apresentar drepanócitos, células em alvo,
policromasia e pontilhado basófilo. Seu diagnostico diferencial é feito por
eletroforese de hemoglobina. A eletroforese alcalina demostra uma mancha em uma
posição que pode corresponder às hemoglobinas C ou A2. A outra mancha aparece
em uma posição que corresponde às hemoglobinas S ou D. A confirmação de que
se trata realmente de doença SC, é feita eletroforese em ágar (NAOUM E BONINI-
DOMINGOS, 2007).
Segundo Naoum e Bonini-Domingos (2007) o diagnóstico laboratorial da
anemia falciforme deve ser feito ao nascimento, de preferencia, por técnicas
sensíveis de eletroforese de hemoglobinas devido à presença, nessa época da vida,
de alta porcentagem de hemoglobina fetal no sangue.
No entanto, solução prática e econômica que vem sendo apontada desde a
década de 70, é a inclusão da pesquisa da hemoglobina S dentre os exames de
rotina das gestantes brasileiras, o que se pode ser feito por teste de solubilidade,
que são exames simples que utilizam reagentes baratos e não exigem qualquer
aparelhagem especializada. Dessa forma, o exame eletroforético do sangue do
recém-nascido, que pode inclusive ser feito com amostra de sangue do cordão
umbilical, ficará restringido aos filhos das heterozigotas com traço falciforme, já que
essa é uma das condições genéticas indispensáveis para o nascimento de uma
criança homozigota com anemia falciforme (NAOUM E BONINI-DOMINGOS, 2007).
49
1.5.7 Biologia Molecular
Lorenzi (2003) ressalta ainda que no diagnostico pré-natal dessa
hemoglobina pode ser feito através de biologia molecular, utilizando técnica
recombinante de DNA em células do liquido amniótico ou das vilosidades crônicas,
que permite o reconhecimento dos genes da cadeia beta da globina (βa, normal, ou
βs, da anemia falciforme). Endonucleases de estrição são enzimas que quebram o
DNA em múltiplos fragmentos. Uma enzima de restrição em particular chamada de
MStll quebra um fragmento do gene da globina. Para realizar a análise, os
fragmentos de DNA, depois da digestão do DNA das células do liquido amniótico,
são separados de acordo com o tamanho por eletroforese em gel de agarose,
transferidos para papel de nitrocelulose e permita-se que reaja com uma prova
marcada radioativamente. A prova vai se ligar (anelar) apenas àquele fragmento de
DNA no papel de nitrocelulose com sítios complementares de base. A posição da
prova radioativa ligada, visualizada por auto-radiografia, permite que se faça a
distinção entre o fragmento 1,2-quilobase do gene β normal do fragmento 1,4-
quilobase de um gene βs. Desse modo, pode ser evitado o nascimento de indivíduos
monozigóticos (HbSS) (NAOUM, 2004).
Os exames de raio-X simples, a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética são importantes para o estudo e diagnostico de lesões óssea
ou virais nos pacientes (YANAGUIZAWA, 2008).
O fenômeno de falsificação, que leva ao infarto ósseo e a osteonecrose é
responsável pelas principais alterações óssea descritas na anemia falciforme essas
alterações, segundo Lorenzi (2003) podem ser observadas na radiografia simples já
na faixa dos 6 meses aos 2 anos de idade, período em que pode ocorrer a síndrome
da mão-pé, na qual infartos dos pequenos ossos tubulares levam a substituição da
medula óssea pelo tecido fibroso.
Para os programas preventivos de DF, utilizam-se eletroforese clinica e
ácida. Os testes de solubilidade para a triagem de Doenças Falciformes são
desaconselhados, tendo em vista que através deles não podemos distinguir
indivíduos AS, SS ou SC, além disso, em neonatos estes testes costumam
apresentar-se negativos devido à pequena concentração da HbS. Entretanto, podem
50
ser utilizados como testes de confirmação de HbS após eletroforese alcalina
(BANDEIRA et al., 2007).
O diagnostico da AF é firmado pela eletroforese de Hb, em acetato de
celulose em pH alcalino, descrita por ocasião da descoberta da HbS por Linus
Pauling em 1949. Atualmente, técnicas de reação da polimerase em cadeia (PCR) e
a eletroforese por HPCL (Cromatografia líquida de alta performance) são utilizados
para a detecção pré-natal e o screening neo-natal (no sangue do cordão umbilical ou
teste do pezinho), respectivamente (MENDONÇA et al., 2009).
FIGURA 16 - Eletroforese ácida de hemoglobinas em gel de agarose. (1) Hb AS em sangue de recém-nascido; (2) Hb AS; (3) Hb AA. FONTE (NAOUM, 1999).
51
1.5.7 Triagem Neonatal
A triagem neonatal (TN), conhecida também como “Teste do pezinho”,
tem o objetivo de diagnosticar precocemente as doenças falciformes, que
habitualmente apresentam sintomas no período neonatal, devido a presença
de hemoglobina fetal (HbF), em concentrações superiores às encontradas
nos adultos, que é de 1% a 2%. Após este período ocorre a estabilização na
produção de globinas. O diagnóstico precoce da anemia falciforme, através
da triagem neonatal, permite o acompanhamento dos pacientes antes das
manifestações e dos sintomas, permitindo a prevenção das complicações e
seqüelas, o ideal é que a amostra de sangue colhida do recém-nascido, seja
entre 48 horas e sete dias após o nascimento, sendo aceitável até o 30º dia
(GALISA NETO E PITOMBEIRA, 2003).
Estas medidas reduzem em média de 30%, para 1%, a mortalidade
associada a anemia falciforme, principalmente devido a infecções, a profilaxia
medicamentosa inclui a administração de antibióticos, recomanda-se a vacina
antipneumocócica (DI NUZZO et al., 2004).
1.6 TRATAMENTO
O tratamento dos pacientes com AF se trata de um diagnóstico preciso,
principalmente na prevenção e cuidados médicos.Porém não há tratamento
específico das doenças falciformes. São fundamentais medidas preventivas,
no sentido de diminuir as consequências da AF, crises de falcização e
susceptibilidade às infecções (BATISTA et al., 2005).
O tratamento profilático consiste nas seguintes medidas:
Imunização: Deve ser realizado como toda criança, principalmente
contra agentes virais e bacterianos, pneumococos, Haemophilus influenze,
Hepatite B, a septicemia por esses agentes são f reqüentes na doença
falciforme (BRASIL, 2002).
52
Administração de penicilina profilática: reduz a morbidade e
mortalidade de infecções bacterianas em crianças abaixo de 5 anos de idade
(BATISTA et al., 2005).
Hidratação: A desidratação e hemoconcentração precipitam crises
vaso-oclusivas. Os doentes falciformes são susceptíveis à desidratação pela
incapacidade de concentrar a urina e consequente perde excessiva de água,
é importante a hidratação, principalmente, durante episódios febris, calor
excessivo, ou situações que há diminuição do apetite (BRASIL, 2002)
Nutrição: Indivíduos com doenças falciformes estão sujeitos a
carência de folato, que pode estar relacionada aos maiores riscos de
trombose e à má formação do tubo neural, no primeiro bimestre de gestação.
Para prevenção da deficiência de ácido fólico, é recomendada a
suplementação (BRASIL, 2002)
Educação e higiene: O frio é um fator desencadeante das crises de
falcização, a utilização de meias de algodão e sapatos protege os tornozelos
de possíveis traumas, que podem causar úlceras de perna. Medidas de
higiene são fundamentais na prevenção de complicações como infecções que
podem ocorrer crises vaso-oclusivas (BRASIL, 2002).
Terapia transfusional: A queda da hemoglobina pode precipitar
descompensação da função cardiorrespiratória colocando em risco a vida do
paciente, isso torna a transfusão de sangue um recurso de grande
importância (BATISTA et al.,2005). É indicado em lesões neurológicas
graves, em caso de acidente vascular cerebral (AVC), síndrome torácica
aguda, crises aplásticas, crises de seqüestro esplênico, priapismo,
septicemia, gestação e cirurgia. Deve sempre hidratar o paciente, pois a
hemoconcentração causada pelas transfusões aumentam as crises vaso
oclusivas (BRASIL, 2002).
Analgésicos: São fundamentais para o tratamento das crises de dor,
porém seu uso deve ser cauteloso e adequado (BRASIL, 2002).
Hidroxiuréia: Agente quimioterápico capaz de aumentar a produção da
Hb fetal, ocasionando um efeito inibidor sobre a polimerização intracelular,
diminuindo os fenômenos vaso-oclusivo, e também o menor grau de
hemólise. A HbF é mais ávida pelo O2, tem o potencial de diminuir o grau de
de desoxigenação, diminuindo assim o fenômeno de afoiçamento e os
53
sintomas agudos e crônicos da AF. Pacientes que utilizam hidroxiuréia
apresentaram melhora na síndrome torácica aguda e no priapismo
(CANÇADO et al., 2002).
Estudo tem demonstrado que a hidroxiuréia pode, também, reduzir a
contagem de granulócitos, monócitos e plaquetas, e ainda reduzir a
expressão de moléculas de adesão na superfície dos eritrócitos. Estas
células quando elevadas, são um fator de risco para a medula óssea, pois
permitem interações adesivas entre as células endoteliais e leucócitos,
estimulam plaquetas a liberar citosinas que contribuem para adesão celular
(BANDEIRA et al., 2004).
54
1.7 PREVENÇÃO
O aconselhamento genético na doença falciforme tem o objetivo
assistencial e educativo de permitir indivíduos ou famílias na tomada de
decisões a respeito da procriação, exercendo também uma função
preventiva, que depende da consciência dos casais que apresentam a
possibilidade de gerar filhos com doença falciforme. Esses indivíduos são
conscientizados, sem serem privados dos seus direitos. As decisões tomadas
devem ser livres e pessoais, sem qualquer influência externa, por parte de
profissionais ou instituições (RAMALHO, 2007).
O aconselhamento genético deve ser fornecido de forma
individualizada, resguardando a privacidade dos casais envolvidos.
Vários aspectos de informações devem ser levado em considerações
tanto emocional, como intelectual, é necessário que essas informações sejam
fornecidas por profissionais habilitados e com grandes experiências dentro
dos padrões éticos e científicos.
Os casais devem receber todas as informações necessárias , para
que possam tomar decisões conscientes a respeito da procriação, além do
risco genético entre si, informações sobre o tratamento disponível e sua
eficiência,a importância do diagnóstico precoce, para melhora a qualidade de
vida (RAMALHO, 2007).
O único tratamento curativo é o transplante de medula óssea. No
entanto, o conhecimento de que vários pacientes têm uma evolução clínica
mais benigna torna a escolha por esta alternativa terapêutica, de grande
morbimortalidade e, bastante difícil (BANDEIRA et al., 2004).
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os estudos observados com base nesse trabalho de
revisão da literatura, observados que a AF é uma doença hereditária que
apresenta elevado índice de morbimortalidade da população afetada,
causando muito sofrimento e dores aos acometidos. Assim, embora a
medicina seja uma ciência em potencial processo evolutivo, existem
doenças falciformes que ainda não possuem um tratamento ou uma cura
definitiva, o diagnóstico preciso e precoce após ao nascimento da criança é
o principal fator para que o tratamento seja eficaz,melhorando assim a
qualidade de vida dos doentes com AF, embora não exista um tratamento
específico das doenças falciformes. Desta forma a prevenção através do
diagnóstico juntamente com aconselhamento genético e os cuidados
médicos possam reduzir os sintomas e aumentar a taxa de sobrevivências
dos doentes.
56
REFERÊNCIAS
ANTHI, A; MACHADO, R. F; JISON, M. L; TAVEIRA-DASILVA, A. M.; RUBIN,
L. J.; HUNTER, L. Hemodynamic and functional assessment of patients with
sickle cell disease and pulmonary hypertension . Am. J. Respir. Crit. Care.
Med., 2007.
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de diagnóstico e
tratamento de doenças falciformes. Manual da Anvisa, Brasília (DF), p.10–11,
2002.
ARAÚJO, A. Q. Síndrome torácica aguda: revisão geral atualizada e uma
proposta de protocolo para diagnóstico e conduta: Secretaria do Estado de
Saúde do Distrito Federal. Hospital Regional da Asa Sul, Brasília/DF 2011.
ASSIS, E. S.; Estudo das síndromes falcêmicas em comunidade
quilombola, Sergipe/Brasil. Dissertação de Mestrado em Saúde e Ambiente.
Aracajú: Universidade Tiradentes, 2010.
BANDEIRA, F. M. G. C.;BEZERRA, M.A.C.;SANTOS, M.N.N.;GOMES, Y.M.
Importância dos programas de triagem para o gene de hemoglobina S. Rev.
Bras. Hematol. Hemoter. v.29,n.2, p.179-184, 2007.
BANDEIRA, F. M. G. C; PERES, J.C; CARVALHO, E.J.; BEZERRA, I.;
ARAUJO, A.S.; MELLO, M.R.B.; MACHADO, C. Hidroxiuréia em pacientes com
síndromes falciformes acompanhados no Hospital Hemope, Recife-PE. Rev. Bras.
Hematol. Hemoter. v.26, n.3, p.189-194, 2004.
BANERJEE, S.; OWEN, C.; CHOPRA S. Sickle cell hepatopathy. Ibn:
Hepatology. v33, n.5, p.1021-1028, 2001.
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia: um
guia para a iniciação científica. São Paulo: Makron Books, 2000.
57
BATISTA, A.; Anemia falciforme um problema de saúde pública no Brasil. Rev Bras.
Universidade Ciências da Saúde n.01, p.83-99, 2005.
BONINI-DOMINGOS, C. R; NAOUM, P.C.; Hemoglobinas AS/Alfa talassemia -
importância diagnóstica Renata Tomé. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v. 22, n 3,
p.388-394, 2000.
BORSATO, M. L.; BRUNIERA, P.; CUSATO, M. P.; SPEWIEN, K. E.;
DURIGON, E. L.; TOPOROVSKI, J. Crise aplástica da anemia falciforme
condicionada pelo parvovírus B19. In: J. Pediat., v.76. n.6. 2000.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual do paciente com doença
falciforme. Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação de
Sangue e Hemoderivados. Sub-Comitê de Anemia Falciforme, 2002.
BRASIL. Manual de diagnóstico e tratamento de doenças falciformes.
Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2002.
BRUNIERA, P. Crise de sequestro esplênico na doença falciforme. In: Rev.
Bras. Hemtol. Hemoter., v.29. n.3. São José do Rio Preto. july/sept. 2007.
BUCHANAN, T. S; LLOYD, D .G.; MANAL, K.; BESIER, T. F. J. Applied
Biomechanics., v.20, n.4, p.367-395, 2004.
CASTRO, O. Systemic fat embolism and pulmonary hypertension in sickle cell
disease. Hematol. Oncol. Clin. North. Am., v.10, n.6, p.1289-303, 1996.
CANÇADO, R. D; CHIATTONE, C. S. Anemia de Doença Crônica. Rev. Bras.
Hematol. Hemoter.,vol.24, n.2, p.127-136, 2002.
DALTRO, G. C; FORTUNA, V. A; ARAÚJO, M. A. S.; LESSA, P. I. F.;
BATISTA, S. U. A.; BOROJEVIC, R. Tratamento da osteonecrose da cabeça
femoral com células progenitoras autólogas em anemia falciforme. ACTA.
Ortop. Bras., v.16, n.1, p.23-27, 2008.
58
DI NUZZO, D. V. P.; FONSECA, S. F. Anemia falciforme e infecções. Jornal
de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.
DOVER, G. J.; PLATT, O. S. Sickle cell disease. In: NATHAN, D. J.; ORKIN,
S. H.; GINSBURG, D.; LOOK, A. T. Hematology of Infancy and Childhood.
6. ed. Philadelphia, Pennsylvania: WB Saunders Company, 2003.
FERRAZ, M. H; MURAO, M. Diagnóstico laboratorial da doença falciforme em
neonatos e após o sexto mês de vida. Rev. Bras. Hematol. Hemolar., v.29,
n.3, p.218-222, 2007.
GUALANDRO, S. F. M.; FONSECA, G. H. H. and GUALANDRO, D. M.
Complicações cardiopulmonares das doenças falciformes. Rev. Bras. Hematol.
Hemoter., v.29, n.3, p.291-298, 2007.
GALIZA NETO, G. C.; PITOMBEIRA, M. S. Aspectos moleculares da anemia
falciforme., J. Bras. Patol. Med. Lab.Rio de Janeiro v.39, n.1, p.51-56, 2003.
GALLO DA ROCHA, H. H. Anemia falciforme. São Paulo: Rubio, 2004.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
GUMIERO, A. P. S.; BRANDÃO, M. B.; PINTO, E. A. L. C.; ANJOS, A. C.
Colelitíase no paciente pediátrico portador de doença falciforme. Rev. Paul.
Pediatr., v.25, n.4. São Paulo. Dec. 2007.
KIKUCHI, B. A. Assistência de enfermagem na doença falciforme nos
serviços de atenção básica.,Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v.29. n.3. São
José do Rio Preto. july/sept. 2007.
59
HERNANDEZ, P; DORTICOS; ESPINOSA, E; GONZALEZ, X; SVARCH.
Clinical features of hepatic sequestration in sickle cell anaemia.
Haematologia., v.22, n.3, p.169-174, 1989.
HOSNI, J. S; FONSECA, M. S; SILVA, L. C. P. da; CRUZ, R. A. Protocolo de
atendimento odontológico para paciente com anemia falciforme. Arq. Bras.
Odontol. v.4, n.2, p.104-112. 2008.
LEE, E.S.; CHU, P. C. Reverse sequestration in a case of sickle crisis. ,
Postgrad Med. J. v.72, n.850 p.487-488. 1996.
LOBO, C; MARRA, V. N; SILVA, R. M. G. Crises dolorosas na doenças
falciforme. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v.29 n.3, p.247-258, 2007.
LOUREIRO, M. M; ROZENFELD, Suely. Epidemiologia de internações por
doenças falciforme no Brasil. Rev. Saúde Pública. v.39, n.6, p.943-949,
2005.
LORENZI, T. F.; AMICO, E. D.; DANIEL, M. M.; SILVEIRA, P. A. A.; BUCCHERI, V.
Manual de hematologia: propedêutica e clínica. 3. ed. São Paulo: Medsi., p. 193-
288, 2003.
MACHADO, R. F. P. Hipertensão arterial pulmonar associada à anemia
falciforme. In: J. Bras. Pneumol. v.33. n.5. São Paulo. Sept./Oct. 2007.
MAGALHÃES, I. Q. Alterações renais nas doenças falciformes . In: Rev.
Bras. Hematol. Hemoter. v.29. n.3. São José do Rio Preto. July/Sept. 2007.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 5. ed. São Paulo-Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 1998.
60
MENDONCA, A. C.; GARCIA, J. L.; ALMEIDA, C. M.; MEGID, T. B. C.; JUNIOR, A.
F.; Muito além do "Teste do Pezinho. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.31, n.2, p.
88-93, 2009.
MOREIRA,J. T. Anemia falciforme. Disponível em:
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAm7cAB/anemia-falciforme>. Acesso
em: 01 Set. 2012.
NAOUM, P.C.; BONINI-DOMINGOS, C. R.; Dificuldades no diagnóstico
laboratorial das hemoglobinopatias. Rev. Bras. Hematol. Hemoter, São José do
Rio Preto, v.29, n.3, p.226-228, set. 2007.
NAOUM, P. C. Doença das células falciformes. São Paulo: Editora Sarvier, 2004.
NAOUM, P. C. Eletroforese, técnicas e diagnósticos. 2.ed. São Paulo: Editora
Santos, 1999.
NAOUM, P. C. Hemoglobinopatias e talassemias. São Paulo: Editora Sarvier,
1997.
OHENE F. K.; WEINER, J. S.; SLEEPER, A. L.; MILLER T. S.; EMBURY,
S.;MOOHR, J. W.; WETHERS, D. L.; PEGELOW, C. H.; GILL, F. M.
Cerebrovascular accidents in sickle cell disease. Rates and risk factors. Blood:
v.91, p. 288- 290, 1998.
OSÓRIO, M. M. Fatores determinantes da anemia em crianças . J. Pediatr. v.
78 n.4, p.269-278, 2002.
OLIVEIRA, R. A. G; POLI NETO, A. Anemias e Leucemias v.7 São Paulo:
Ed.Roca, 2004.
PALADINO, S. F. Úlcera de membros inferiores na anemia falciforme. Rev. Bras.
Hematol. Hemoter. v.29, n.3, p.288-290, 2007.
61
PERIN, C; CERVO FILHO, E; BECKER, F. L; BALDISSEROTTO, F. M;
RAMOS, G. Z; ANTONELLO, J. S; ALEXANDRE, C. O. P; CASTRO, E. C.
Anemia falciforme. Artigo para Disciplina de Genética e Evolução. Porto
Alegre-RS: Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto
Alegre, 2000.
PORTAL DA SAÚDE. Doença falciforme. Disponível em:<
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1692>. Acesso em:
05 Ago. 2012.
PORTER, J.B.; HUEHNS, E.R. Transfusion and exchange transfusion in
sickle cell anaemias, with particular reference to iron metabolism. Acta
Haematol. v.78, n.3, p.198-205, 1987.
REZENDE, Yuri. Hemoglobina glicada. Disponível em:
<http://diabetesunb.blogspot.com.br/2011/05/hemoglobina-glicada.html>.
Acesso em: 20 Jun. 2012.
RAMALHO, A. S.; MAGNA, L. A.; Aconselhamento genético do paciente com
doença falciforme In: Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v.29, n.3, p.229-232,
2007.
SIMÕES, B. P.; PIERONI, F.; BARROS, G. M. N.; MACHADO, C. L.; CANÇADO, R.
D.; SALVINO, M. A.; ANGULO, I.; VOLTARELLI, J. C. Consenso brasileiro em
transplante de células-tronco hematopoéticas: Comitê de hemoglobinopatias. In:
Journal of hematology and hemotherapy. v.32, n.7, p.46-53, 2010.
.
SOTO-BLANCO, A. B. B. Farmacologia do sistema hematopoiético.
Disponível <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAJAAAD/farmacologia-
sistema-hematopoietico>. Acesso em: 21 Maio 2012.
TAVARES, N. J. A hemoglobinopatia S: um problema de saúde pública e
ocupacional. Bol. Of. Sanit. Panam. v.90, n.3, 1981.
62
TRAINA, F.; SAAD, S. T. O. Complicações hepáticas na doença falciforme.
Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v.29. n.3. São José do Rio Preto. july/sept.
2007.
TSIRONI, M.; AESSOPOS, A. The heart in sickle cell disease. Acta cardiol.
v.60, n.6, p.589-598, 2005.
TELEN, M.J. Role of adhesion molecules and vascular endothelium in the
pathogenesis of sickle cell disease. Hematology Am. Soc. Hematol. Educ.
Program, Durham, p. 84-90, 2007.
YAMAGUIZAWA, M; TABERNER, G. S; CARDOSO, F. N. de C; NATOUR, J;
FERNANDES, A. R. C. Diagnóstico por imagem na avaliação da anemia
falciforme. In: Rev. Bras. Reumatol. v.48. n.2. p.102-105. mar./abr. 2008.
ZAGO, M. A; FALCÃO, R. P; PASQUINI, R. Hematologia: fundamentos e prática.
São Paulo: Atheneu, 2004.
ZAGO, M. A; PINTO, A. C. S. Fisiopatologia das doenças falciformes: da
mutação genética à insuficiência de múltiplos órgãos. Rev. Bras. Hematol.
Hemoter. v.29, n.3, p. 207-214, 2007.
VERISSIMO, M. P. A. Crescimento e desenvolvimento nas doenças falciformes.
Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v.29, n.3, p. 271-274, 2007.