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Quaa-feira, 19 de Março de 19P ( . Nacional . ' Pág. 13 Cardoso Píres na Frente Posário "Vi renascer um Povo" «Teremos toda a moe para dormir, é um dos lemas dos jo- vens guerrilheiros da Frente Po- lisário que a 20 de Maio de 1973 lançou a primeira operação liber- tadora contra a upação espa- nhola. O povo saharaui, com- sto r várias tribos, com rca de 800 mil habitantes r território de 286 mil quilómetros quadrados, conquista palmo a palmo, «areia a areia, em raides imprevistos mas eficazes, o terri- tório, o seu território que a mo- narquia feudal de Hassan li rei- vindica. A 27 de Fevereiro em pleno deseo, algures em zona liber- tada, era ndada a República Árabe Saharaui Democrática (RASO). Quatro anos deis, e em nome da Presidência do Movi- mento Mundial para a Paz, José Cardoso Pires foi um dos «hono- ráveis convidados, da Frente Polisário para as comemora- çs, também este ano «algures no coração do Sahara,. O nosso redactor Rério Rodrigues que em 1978 estivera presente a idênticas comemora- çs, mediante um convite ende- reçado ao «Diário de Lisboa» pela Frente Polisário, entrevis- tou José Cardoso Pires. R. R. -Em 1975, o rei Hassan li do Marrocos garantiu que a upação militar do Sara Oci- dental se realizaria em ucos dias. Tratava-se da chamada «Marcha Verde». Algumas agências noticiosasgarantiam que as tropas de Hassan li «teriam de enfrentar a resistência do deseo e de tribos nómadas dispersas, armadas pela Argé- lia,. Cinco anos deis, 45 r çento do orçamento de Marrocos é dedicado à guerra. Q1ando es- tive no Sahara pude conversar com prisioneiros marroquinos. Perguentei a um jovem: «Não gostava de regressar a Marro- cos?, E ele respondeu-me: «Tanto se me dá. Aqui ou em Marrocos... » O que foi encontrar dois anos após? J. C. P. - Um acampamento de guerlhelros que ficava na zona de EI Hamra pude ver al- guns prisioneiros marrui- nos. Alguns -multo ucos - tinham sido rtados na Marcha Verde. Eram, na maio- ria, Jovens desemprados. A moral dos psioneiros era ex- trente baixa. Mesmo nos oficiais com quem falel. Pen- savam numa guerra relãm- pago. Neste momento os mar- ruinos nio pm o no deseo. Fazem tudo de avlio. פrderam o deseo. Em contrapada, a tropa da guerlha vive fundamtal- mente duma grande moral - lltlca. A sua gran arma 6 o conimento da terra e a sua organio. MARX MAOMETIZADO R. R. - Quando cheguei, ao cabo de algumas horas de Land Rover פlo deseo, ao acampa- mento das comemoraçs tinha começado o desfile. Deram-me um turbante amarelo para prote- ger o rosto das areias. Alguns velhos guerrilheiros montavam camelos. Adolescentes de 13 e 14 anos, marciais na sua farda cor de azeitona faziam sincroni- zados manejos de armas auto- máticas. O desfile de armamento que ia do tem da Grande Guerra ao sofisticado de hoje era aplaudido com gritos guturais das (lindas) mulheres saharauis que de rosto descoberto sauda- vam os heróis. Como viu agora a manifestação de força dos Poli- sários? J. e. P.-Desfllaram cerca de 2 velculos, desde o Land Rover ao materlal béllco mais moderno. Uma grande pae do materlal que apresentaram na parada tlr�ha sido recuפ- rado ao Inimigo. R. R. - Sayed el Ouali, foi o primeiro secretário-geral da Frente Polisário. Jovem guer- reiro, peence hoje à lenda. Mor- reu em combate em 1973. Desde a então a luta tem crescido. O que é que mais o impressionou neste vo? J. C. P. -De tudo o que mais me Impressionou, ao nlvel de guerrllha, foi a Juventude da- quele exército. Muitos dos combatentes, eram ldlvlduos que tinham andado a estudar na Europa, sobretudo em Ma- drid e Genebra. Via-se que ti· nham um grande ao àquela vida e que a sua adesão era multo profunda. . R. -Como é que menos de um milhão de pessoas, no de- serto, pode prosseguir vitorio- samente uma luta que já se ar- rasta há sete anos contra forças com maior poder bélico e arma- mento mais sofisticado? J. C. P. - É ssivei se nos lembrarmos que para al6m da força dos Jovens llsárlos, se desenvolveu uma grande soll- darledae lnternaclonal. São Já 36 palses, entre os quais al- guns da Am6rlca Latina, e a ONU que reconhecem o direito à Indeפndência da RASD. E os argellnos que pretendem uma passagem para o Atlãn- tlco. Assim como estão a fazer pipa-Ienes com ugueses no seu território em dirção ao Mlterrãneo, pretendem tamb6m outra re, através de território saharaul para o Atlãntlco. R. R. -Que ti de sociedade pretendem construir? J e. P. - A lltlca paru-me soclallsta sim, mas essenclalmente tercelro-mundlsta e não all- nhada. No deseo, entre ber lelte camela e rezar virado para Ma, há ta uma clvlll- zação nova que se está a de- senvolver. R. R. - No entanto, nem tudo será pacífico. Profundos e violen- tos são os interesses que se jam na região ... J. C. P. -Um dos problemas mais gves que me foi sto é o do confronto. Uma das hlpó· teses que a siade capitlista es a encarar como sal- vao da cse é o alerar de contradiçs onde os vos estio a assumir a Indeפn- dência. É o caso Afrlca e do Mlo Oente, entre outros. O capltallsmo tem uma capaci- dade extraordlnérla de absor- ver as próp . rlas contradiçs, criando, r exemplo, alterna- tivas caóticas dentro das novas siades do Terir Mundo, no Golfo Pérsico, etc. R. R. - O quadro traçado reajusta-se ao vo saharaui? J. C. P. - Uma explicação prévia: nos domlnlos da érea lslãmlca 6 a rellglio que pro- cura assumir um paפl de llde- rança revoluclonárla. É vlslvel no Irão e, em menor escala, na Llbla, quanto a mim. Digamos que o der rellgloso relmplanta-se através de uma releltura de Maomé em carac- teres marxistas. Ora o que me Impressiona no vo saharaul -resndendo à sua פrgunta - 6 que a predomlnãncla rell- glosa nio se faz ntir. E DEPOIS? R. R. - A independência de facto, a vitória militar, virá por ceo, mais tarde ou mais cedo. Mas eu פrgunto: e deis? J. e. P. - A guerra é uma fatalidade de vitóa. A grande batalha vai ser deis. O de- seo 6 co em fosfatos, gés natural, tem uma orla atlãntlca rlqulsslma em פsca e �ssul algum ferro e פtról. É ne- cessérlo criar uma nova gera- ção rapidamente. Dicam Já uma atenção esפcial às crianças que estão a ser edu- cadas tâs na base da guerra. Com ucos anos de Idade são Internadas em acampa- mentos onde lhes é minis- trada, slmultaneamente, uma educação ml!ltar e escolar. Uma n· ova gerao está a ser preparada para a ocupação. A MULHER PARTICIPANTE R. R. -Qual o papel da mulher nesta guerrilha desgastante e prolongada? J. C� P. - A mulher tem um estatuto multlsslmo mais ln- deפndente do qu e noutras repúbllcas do Noe de Afrlca e do Mlo Oriente. Naquele quotidiano de guerra, fruen- temente elas assumem a che- fia de comlt6s, além de que, as mais Jovens, lutam de armas na mio. Quando a senhora Soudeyvl subiu à tribuna em nome do governo do lrio a dizer qúe o · seu pais ronhia nesse dia o governo da RASD, comou r dizer: •De acordo com os preitos do Corio ronhe- cemos, ?c., etc. » . Enquanto eu olhava para esta mulher ocldentalizada, escassos me- tros de mim, a fumar tabaco americano, maqullhada, de fato desivo e botas de ca- dal, pasiense vestindo r Dlor, eu não podia deixar de. me lembrar de todo um código r que as suas Irmãs são tra- taas fundamentalmente e lhes Infligem castigos corpórs para a preseação moral dum fanatismo putano. R. R. - Esses códigos são as- sinaláveis na mulher saharaui? J. e. P. - Não; não se sente qualquer eco - mesmo que longlnquou - da posição re- trógada no vo saharaul. O paפl que a mulher assume nesta socia como ele- mento fundamental para a criao de novas geraçs, a politlzaçio que a mulher tem, a existência do divórcio, r exemplo, as resnsablllda- des lltlcas que elas assu- mem, mesmo em casos em que são analtas, na estru- turação da rectaguarda e, fun- damentalmente, a realidade de se tratar dum vo tio פ- queno para uma moblllzação tio vasta, colocou a mulher saharaul, lo à paida, num plano que não é, de maneira nenhuma sundário. Al6m disso, trata-se dum pais dirigido por gente Jovem. O seu chefe, tem 33 anos e o seu adjunto, 30. Este traço de Juventude reflecte-se Imedia- tamente num comamento multo mais actualizado. SOCIALISMO VERTICAL R. R. - Do seu relato de-se depreender, sem grande abuso, que estamos perante a constru- �L------------------------ , I CORTE E ENVIE HOJE MESMO A ESPAÇO T. 1 1 1 Departamento ESPAÇO T Torralta · Club Internacional de Férias, SARL ________________ Av. Duque de Loulé, 24 1098 LISBOA CODEX Telefones 55 44 79 · 55 56 81 · 55 60 31 Telex 16465 1 1 1 1 1 Estou interessado em defender o meu dinheiro da inflação. Sem compromisso, quero receber informações, sobre os Apaamentos de Férias ESPAÇO T. 1 NOME 1 1 MORADA 1 LOCALIDADE PAIS---- 1 1 TELEFONE · L---------------- et: 1 __ ção de uma . sociedade que transplantada para uma civiliza- ção e sociedade ocidentais se- ria, pelo menos, impraticável? J. C. P. - Eu פnso 6 que os filhos de famllla da contesta- ção euroפia ficariam desllu- dldos no encontro com esta sociade que constui de facto, e r fatalidade Imפ- riosa, um dos raríssimos so- clalismos na velcal. Mas, para desgosto deles - penso eu -, o baslsmo que ali vm é uma monstração da lmsslbllldade de soluçs paralelas em ciades que não seJam como aquela Já si Indiferenciadas e não luldas פlas �lerarqulas ou castas económicas. R. R. -Em suma: o que repre- sentaram para si estes 1 o dias no deserto, no seio do vo sa- haraui? J. C. P. - Uma exפriência única na minha vida, rque poucas פssoas terão a pos- slbllldade de ver renascer um vo e assistir à construção duma Nação.

Vi renascer um Povohemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/...Quarta-feira, 19 de Março de 1980 ( . Nacional ' 13 Cardoso Píres na Frente Polisário "Vi renascer um Povo" «Teremos

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Quarta-feira, 19 de Março de 1980 ( . Nacional . ' Pág. 13

Cardoso Píres na Frente Polisário

"Vi renascer um Povo" «Teremos toda a morte para

dormir .. , é um dos lemas dos jo­vens guerrilheiros da Frente Po­lisário que a 20 de Maio de 1973 lançou a primeira operação liber­tadora contra a ocupação espa­nhola. O povo saharaui, com­posto por várias tribos, com cerca de 800 mil habitantes por território de 286 mil quilómetros quadrados, conquista palmo a palmo, «areia a areia .. , em raides imprevistos mas eficazes, o terri­tório, o seu território que a mo­narquia feudal de Hassan li rei­vindica.

A 27 de Fevereiro em pleno deserto, algures em zona liber­tada, era fundada a República Árabe Saharaui Democrática (RASO).

Quatro anos depois, e em nome da Presidência do Movi­mento Mundial para a Paz, José Cardoso Pires foi um dos «hono­ráveis convidados,. da Frente Polisário para as comemora­ções, também este ano «algures no coração do Sahara,..

O nosso redactor Rogério Rodrigues que em 1978 estivera presente a idênticas comemora­ções, mediante um convite ende­reçado ao «Diário de Lisboa» pela Frente Polisário, entrevis­tou José Cardoso Pires.

R. R. -Em 1975, o rei Hassan li do Marrocos garantiu que a ocupação militar do Sara Oci­dental se realizaria em poucos dias. Tratava-se da chamada «Marcha Verde». Algumas agências noticiosasgarantiam que as tropas de Hassan li «só teriam de enfrentar a resistência do deserto e de tribos nómadas dispersas, armadas pela Argé­lia,.. Cinco anos depois, 45 por çento do orçamento de Marrocos é dedicado à guerra. Q1.1ando es­tive no Sahara pude conversar com prisioneiros marroquinos. Perguentei a um jovem: «Não gostava de regressar a Marro­cos?,. E ele respondeu-me: «Tanto se me dá. Aqui ou em Marrocos ... » O que foi encontrar dois anos após?

J. C. P. - Um acampamentode guerrllhelros que ficava na zona de EI Hamra pude ver al­guns prisioneiros marroqui­nos. Alguns -multo poucos -tinham sido recrutados na Marcha Verde. Eram, na maio­ria, Jovens desempregados. A moral dos prisioneiros era ex­tremamente baixa. Mesmo nos oficiais com quem falel. Pen­savam numa guerra relãm­pago. Neste momento os mar­roquinos nio p6em o p6 no deserto. Fazem tudo de avlio. Já perderam o deserto. Em contrapartida, a tropa da guerrllha vive fundamental­mente duma grande moral po­lltlca. A sua grande arma 6 o conhecimento da terra e a sua organização.

MARX MAOMETIZADO

R. R. - Quando cheguei, ao cabo de algumas horas de Land Rover pelo deserto, ao acampa­mento das comemorações tinha começado o desfile. Deram-me um turbante amarelo para prote­ger o rosto das areias. Alguns velhos guerrilheiros montavam camelos. Adolescentes de 13 e 14 anos, marciais na sua farda cor de azeitona faziam sincroni­zados manejos de armas auto­máticas. O desfile de armamento que ia do tempo da Grande Guerra ao sofisticado de hoje era aplaudido com gritos guturais das (lindas) mulheres saharauis que de rosto descoberto sauda­vam os heróis. Como viu agora a manifestação de força dos Poli­sários?

J. e. P.-Desfllaram cerca de200 velculos, desde o Land Rover ao materlal béllco mais moderno. Uma grande parte do materlal que apresentaram na parada tlr�ha sido recupe­rado ao Inimigo.

R. R. - Sayed el Ouali, foi o primeiro secretário-geral da Frente Polisário. Jovem guer-

reiro, pertence hoje à lenda. Mor­reu em combate em 1973. Desde a então a luta tem crescido. O que é que mais o impressionou neste povo?

J. C. P. -De tudo o que maisme Impressionou, ao nlvel de guerrllha, foi a Juventude da­quele exército. Muitos dos combatentes, eram ldlvlduos que tinham andado a estudar na Europa, sobretudo em Ma­drid e Genebra. Via-se que ti· nham um grande apego àquela vida e que a sua adesão era multo profunda.

-R. R. -Como é que menos de um milhão de pessoas, no de­serto, pode prosseguir vitorio­samente uma luta que já se ar­rasta há sete anos contra forças com maior poder bélico e arma­mento mais sofisticado?

J. C. P. - É passivei se noslembrarmos que para al6m da força dos Jovens pollsárlos, se desenvolveu uma grande soll­darledae lnternaclonal. São Já 36 palses, entre os quais al­guns da Am6rlca Latina, e a ONU que reconhecem o direito à Independência da RASD. E os argellnos que pretendem uma passagem para o Atlãn­tlco. Assim como estão a fazer pipa-Ienes com portugueses no seu território em direcção ao Medlterrãneo, pretendem tamb6m outra rede, através de território saharaul para o Atlãntlco.

R. R. -Que tipo de sociedade pretendem construir?

J e. P. - A polltlca pareceu-me soclallsta sim, mas essenclalmente tercelro-mundlsta e não all­nhada. No deserto, entre beber lelte de camela e rezar virado para Meca, há toda uma clvlll­zação nova que se está a de­senvolver.

R. R. - No entanto, nem tudo será pacífico. Profundos e violen­tos são os interesses que se jogam na região ...

J. C. P. -Um dos problemasmais graves que me foi posto é o do confronto. Uma das hlpó·teses que a sociedade capita·lista está a encarar como sal­vação da crise é o acelerar decontradições onde os povosestio a assumir a Indepen­dência. É o caso de Afrlca e doM6dlo Oriente, entre outros. Ocapltallsmo tem uma capaci­dade extraordlnérla de absor­ver as próp.rlas contradições, criando, por exemplo, alterna­tivas caóticas dentro das novas sociedades do Terceiro' Mundo, no Golfo Pérsico, etc.

R. R. - O quadro traçado reajusta-se ao povo saharaui?

J. C. P. - Uma explicaçãoprévia: nos domlnlos da érea lslãmlca 6 a rellglio que pro­cura assumir um papel de llde­rança revoluclonárla. É vlslvel no Irão e, em menor escala, na Llbla, quanto a mim. Digamos que o poder rellgloso relmplanta-se através de uma releltura de Maomé em carac­teres marxistas. Ora o que me Impressiona no povo saharaul -respondendo à sua pergunta- 6 que a predomlnãncla rell-glosa nio se faz sentir.E DEPOIS?

R. R. - A independência de facto, a vitória militar, virá por certo, mais tarde ou mais cedo. Mas eu pergunto: e depois?

J. e. P. - A guerra é umafatalidade de vitória. A grande batalha vai ser depois. O de­serto 6 rico em fosfatos, gés natural, tem uma orla atlãntlca rlqulsslma em pesca e �ssul algum ferro e petróleo. É ne­cessérlo criar uma nova gera­ção rapidamente. Dedicam Já uma atenção especial às crianças que estão a ser edu­cadas todâs na base da guerra. Com poucos anos de Idade são Internadas em acampa­mentos onde lhes é minis­trada, slmultaneamente, uma educação ml!ltar e escolar. Uma n·ova geração está a ser preparada para a ocupação. A MULHER PARTICIPANTE

R. R. -Qual o papel da mulher nesta guerrilha desgastante e prolongada?

J. C� P. - A mulher tem umestatuto multlsslmo mais ln­dependente do qu e noutras repúbllcas do Norte de Afrlca e do M6dlo Oriente. Naquele quotidiano de guerra, frequen-

temente elas assumem a che­fia de comlt6s, além de que, as mais Jovens, lutam de armas na mio.

Quando a senhora Soudeyvl subiu à tribuna em nome do governo do lrio a dizer qúe o

· seu pais reconhecia nesse diao governo da RASD, começoupor dizer: •De acordo com ospreceitos do Corio reconhe­cemos, etc., etc.». Enquantoeu olhava para esta mulherocldentalizada, escassos me­tros de mim, a fumar tabacoamericano, maqullhada, defato desportivo e botas de ca­bedal, parisiense vestindo porDlor, eu não podia deixar de.me lembrar de todo um códigopor que as suas Irmãs são tra­taas fundamentalmente e lhesInfligem castigos corpóreospara a preservação moral dumfanatismo puritano.

R. R. -Esses códigos são as­sinaláveis na mulher saharaui?

J. e. P. - Não; não se sentequalquer eco - mesmo que longlnquou - da posição re­trógada no povo saharaul. O

papel que a mulher assume nesta sociedade como ele­mento fundamental para a criação de novas gerações, a politlzaçio que a mulher tem, a existência do divórcio, por exemplo, as responsablllda­des polltlcas que elas assu­mem, mesmo em casos em que são analfabetas, na estru­turação da rectaguarda e, fun­damentalmente, a realidade de se tratar dum povo tio pe­queno para uma moblllzação tio vasta, colocou a mulher saharaul, logo à partida, num plano que não é, de maneira nenhuma secundário.

Al6m disso, trata-se dum pais dirigido por gente Jovem. O seu chefe, tem 33 anos e o seu adjunto, 30. Este traço de Juventude reflecte-se Imedia­tamente num comportamento multo mais actualizado.

SOCIALISMO VERTICAL

R. R. -Do seu relato pode-se depreender, sem grande abuso, que estamos perante a constru-

�L------------------------, I CORTE E ENVIE HOJE MESMO A ESPAÇO T.

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________________ Av. Duque de Loulé, 24 1098 LISBOA CODEX Telefones 55 44 79 · 55 56 81 · 55 60 31 Telex 16465

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ção de uma. sociedade que transplantada para uma civiliza­ção e sociedade ocidentais se­ria, pelo menos, impraticável?

J. C. P. -Eu penso 6 que osfilhos de famllla da contesta­ção europeia ficariam desllu­dldos no encontro com esta sociedade que constitui de facto, e por fatalidade Impe­riosa, um dos raríssimos so­clalismos na vertlcal.

Mas, para desgosto deles -penso eu -, o baslsmo que ali vêem é uma demonstração da lmposslbllldade de soluções paralelas em sociedades que não seJam como aquela Já de si Indiferenciadas e não poluldas pelas �lerarqulas ou castas económicas.

R. R. -Em suma: o que repre­sentaram para si estes 1 o dias no deserto, no seio do povo sa­haraui?

J. C. P. - Uma experiênciaúnica na minha vida, porque poucas pessoas terão a pos­slbllldade de ver renascer um povo e assistir à construção duma Nação.