MATERIAL DE APOIO
DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Apostila 02
Prof. Pablo Stolze Gagliano
Causas Excludentes de Responsabilidade Civil e Responsabilidade Civil Indireta
Olá!
Vamos começar hoje com uma dica.
Responsabilidade Civil, esta apaixonante disciplina, exige um constante estudo da jurisprudência brasileira.
Isso porque, tantas são as situações da vida, que a atuação pretoriana afigura-se muito importante, para melhor aplicar o Direito ao caso concreto.
Para concurso público, entendemos que o estudo da doutrina deve vir sempre acompanhado da análise da jurisprudência dos nossos Tribunais.
Neste material de apoio, pois, assim como nos demais que compõem o módulo de Responsabilidade Civil, trataremos, pois, de passar em revista importantes pronunciamentos judiciais.
Atualize-se sempre! Vamos lá, então!
Um abraço afetuoso! Paz e luz!
O amigo, Pablo
1. Causas excludentes da responsabilidade civil:
1. Estado de Necessidade;
2. Legítima Defesa;
3. Exercício Regular de Direito e Estrito Cumprimento do Dever Legal;
4. Caso Fortuito e Força Maior;
5. Culpa Exclusiva da Vítima;
6. Fato de Terceiro.
1.1. Estado de Necessidade.
O estado de necessidade tem assento legal no art. 188 do CC-02 (art. 160, CC-16), no seu inc. II, conforme se vê abaixo:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
O estado de necessidade consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação.
Note-se, entretanto, que, se o terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, poderá exigir
indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade, cabendo a este ação regressiva
contra o verdadeiro culpado (arts. 929 e 930, NCC, arts. 1519 e 1520, CC-16). Poderíamos dizer, então,
neste caso, haver responsabilidade civil decorrente de um ato lícito.
1.2. Legítima Defesa.
Também excludente de responsabilidade civil, a legítima defesa tem fundamento no mesmo art. 188
do Código Civil, inciso I, primeira parte:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de
remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Diferentemente do estado de necessidade, na legítima defesa o indivíduo encontra-se diante de uma
situação atual ou iminente de injusta agressão, dirigida a si ou a terceiro, que não é obrigado a
suportar.
Na mesma linha do que dissemos acima, se o agente, exercendo a sua lídima prerrogativa de
defesa, atinge terceiro inocente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, outrossim, ação regressiva contra o
verdadeiro agressor.
Nesse sentido, confiram-se os arts. 929 e 930 do NCC, acima mencionados1:
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188,
não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que
tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se
causou o dano (art. 188, inciso I).
1 No CC-16, arts. 1519 e 1520.
1.3. Exercício Regular de Direito e Estrito Cumprimento do Dever Legal.
Não poderá haver responsabilidade civil se o agente atuar no exercício regular de um direito
reconhecido (art. 188, I, segunda parte).2
Para o STJ:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA SIMPLES.
1. A via do agravo regimental, na instância especial, não se presta para prequestionamento de
dispositivos constitucionais.
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional nos embargos de declaração, se o Tribunal de
origem enfrenta a matéria posta em debate na medida necessária para o deslinde da controvérsia,
ainda que sucintamente. A motivação contrária ao interesse da parte não se traduz em maltrato ao
art. 535 do CPC.
3. "O pagamento resultante de cláusula contratual mais tarde declarada nula em sede judicial deve
ser devolvido de modo simples, e não em dobro; age no exercício regular de direito quem recebe a
prestação prevista em contrato" (EREsp 328.338/MG, Rel. Min. ARI PARGENDLER, DJ, 01.02.2006).
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1136936/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe 20/09/2010)
2 Ressalve-se a situação excepcional, de responsabilidade civil decorrente de ato lícito, vista
em sala.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. RECURSO RECEBIDO COMO
AGRAVO REGIMENTAL. NOTÍCIA-CRIME. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ.
RESPONSABILIDADE CIVIL. NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. Admitem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos a decisão monocrática
proferida pelo relator do feito no Tribunal, em nome dos princípios da economia processual e da
fungibilidade.
2. O STJ pacificou entendimento de que a apresentação de notícia-crime constitui, em regra, exercício
regular de direito e, portanto, não sujeita o denunciante à responsabilização por danos materiais e
morais sofridos pelo acusado, exceto nas hipóteses em que a má-fé ou culpa grave do delator
contribuir para a imputação de crime não praticado pelo acusado.
3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.
(EDcl no REsp 914.336/MS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em
16/03/2010, DJe 29/03/2010)
AGRAVO REGIMENTAL. AJUIZAMENTO DE AÇÃO. PREJUÍZO MORAL.
INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM ESTA CORTE. DANO MORAL. ATO ILÍCITO.
REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ.
1. O acórdão guerreado está em consonância com entendimento preconizado nesta Corte no sentido de
que o mero ajuizamento de ação judicial não gera dano moral, porquanto o autor está no seu exercício
regular de direito.
2. O aresto impugnado, ao reconhecer ausentes os requisitos aptos a ensejar indenização por danos
morais em face da agravada, o faz com base nos elementos de convicção da demanda. Neste contexto,
sua reforma demandaria o reexame das provas constantes dos autos.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no Ag 1030872/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
21/10/2008, DJe 03/11/2008)
Outro exemplo de exercício regular de direito é referido em acórdão do STJ, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, no RESP n. 304192/MG:
DIREITO COMERCIAL. CHEQUE. ENDOSSO VICIADO. BANCO SACADO. DEVER DE CONFERÊNCIA.
DEVOLUÇÃO DE CHEQUE. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO(ART. 160-I, CC). DESCABIMENTO DE
INDENIZAÇÃO. ART. 462, CPC. APLICAÇÃO. PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO.
I – Consoante proclamado em precedentes da Turma, o banco cobrador ou apresentante está
desobrigado de verificar a autenticidade da assinatura do endosso. Por outro lado, todavia, tal não
significa que a instituição financeira estaria dispensada de conferir a regularidade dos endossos, aí
incluída a legitimidade do endossante.
II - Igual responsabilidade incumbe ao banco sacado, nos termos do art. 39 da Lei do Cheque.
III - Age em exercício regular de direito(art. 160-I do Código Civil), o banco que se recusa a
pagar cheque com irregularidade no endosso, não se podendo imputar à instituição financeira, pela
devolução de cheque com esse vício, a prática que culmine em indenização.
IV - No caso, fica ressalvado que a improcedência do pedido de indenização não exime o banco
da obrigação de pagar o cheque, uma vez demonstrado no curso da ação(art. 462, CPC) a regularização
do endosso. (grifos nossos)
AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROTESTO DE CAMBIAL VÁLIDA, VENCIDA E NÃO PAGA.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. CANCELAMENTO DO REGISTRO NO CARTÓRIO COMPETENTE APÓS A
QUITAÇÃO DA DÍVIDA. INCUMBÊNCIA DO DEVEDOR.
I - Não se viabiliza o especial pela indicada violação dos artigos 458, II, e 535, I, do Código de Processo
Civil pois, embora rejeitados os embargos de declaração, verifica-se que a matéria em exame foi
devidamente enfrentada pelo colegiado de origem, que sobre ela emitiu pronunciamento de forma
fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão do recorrente. A jurisprudência desta Casa é
pacífica ao proclamar que, se os fundamentos adotados bastam para justificar o concluído na decisão, o
julgador não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos utilizados pela parte.
II - Esta Corte possui entendimento no sentido de que, tendo sido protestado o título pelo credor, no
exercício regular de direito (protesto devido), ao devedor, após a quitação da dívida, incumbe promover
o cancelamento do registro de seu nome no cartório competente.
III - Agravo improvido.
(AgRg no Ag 792.824/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/09/2008, DJe
30/09/2008)
RECURSO ESPECIAL. ADVOGADO. EXCESSO VERBAL. REFERÊNCIA A CONDENAÇÕES E PUNIÇÕES
DESCONSTITUÍDAS. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA.
1. Age em exercício regular de direito o advogado que opõe exceção de suspeição e tenta demonstrar
que o excepto rotineiramente foge ao dever da imparcialidade.
2. Não age com excesso o advogado que noticia punições verídicas sofridas pelo excepto, referentes às
suas atribuições profissionais, ainda que desconstituídas posteriormente.
3. O ato praticado em exercício regular de direito não gera dano moral indenizável.
(REsp 886.920/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em
26/10/2006, DJ 27/11/2006 p. 287)
CIVIL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. MORA DO PROMITENTE VENDEDOR.
Age no exercício regular de direito o promitente comprador que susta o pagamento da última parcela do
preço do imóvel, cujo vencimento coincide com aquele previsto para o ato da entrega das respectivas
chaves, obrigação não cumprida pelo promitente vendedor. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 121.489/ES, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/04/2006, DJ
14/08/2006 p. 276)
Não se acatou a tese, outrossim, no seguinte julgado (Resp. 164391/RJ):
CIVIL E PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPREGADA DOMÉSTICA. SUSPEITA DE
FURTO. TRANCAMENTO NO APARTAMENTO. QUEDA DO EDIFÍCIO. SUSPEITA DE SUÍCIDIO.
IRRELEVÂNCIA. RESPONSABILIDADE DOS PATRÕES. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. INOCORRÊNCIA.
USO IMODERADO DO MEIO. DOUTRINA. RECURSO ESPECIAL. PRESSUPOSTOS. FALSIDADE DE
DOCUMENTO. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA/STJ. ENUNCIADO Nº 7. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO
JUIZ. CPC. ART. 132. SENTENÇA PROFERIDA PELO JUIZ DA INSTRUÇÃO, REMOVIDO PARA OUTRA VARA DA
MESMA COMARCA. INOCORRÊNCIA DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE ENFRENTAMENTO DE TEMAS
NÃO PREQUESTIONADOS. RECURSO DESACOLHIDO.
I – A relação de trabalho entre patrão e empregada doméstica confere`àquele o poder de
exigir tão-somente as obrigações decorrentes do contrato de trabalho. Prender o empregado no local de
trabalho, sob o argumento de averiguações quanto a eventual ilícito praticado, constitui uso imoderado
do meio, nos termos da melhor doutrina.
II – O exercício regular de um direito não pode agredir o direito alheio, sob pena de tornar-se
abusivo e desconforme aos seus fins.
III – O cerceamento ao direito fundamental de ir e vir encontra no ordenamento constitucional
hipóteses restritas, não se podendo atribuir ao empregador o poder de tolher a liberdade do empregado,
ainda que por suspeita de crime contra o patrimônio.
IV – Matéria concernente a falsidade documental, decidida pelas instâncias ordinárias com
base nos fatos da causa, não pode ser revista em sede de recurso especial, nos termos do veto contido
no verbete nº 7 da súmula desta Corte.
V – Encontrando-se já encerrada a instrução do feito, a simples remoção do juiz que a tenha
conduzido e concluído, máxime se efetivada para outra vara da mesma comarca, não o impede de
proferir a sentença.
VI – A técnica do recurso especial exige que os temas concernentes aos dispositivos legais
apontados como violados pelo recorrente tenham sido debatidos no acórdão impugnado. (grifos nossos)
(...)
Umbilicalmente ligado a esta excludente é o estrito cumprimento do dever legal, cuja noção não
apresenta dificuldade.
Veja-se, na jurisprudência, a aplicação desta excludente (Ap. Cível 2425490, TJDF, Rel. Deocleciano
Queiroga, j. em 06-05-93):
REPARAÇÃO DE DANOS- PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO- ACIDENTE DE TRÂNSITO CAUSADO POR
POLICIAL MILITAR EM SERVIÇO- INEXISTÊNCIA DE CONDUTA CULPOSA STRICTO SENSU- Policial Que Sem
Condições De Descanso Ou Revesamento Cumpria Ordem De Patrulhamento Determinada Por
Superior Hierárquico- Excludente De Responsabilidade Reconhecida Pela Decisão Monocrática-
Improvimento Do Recurso: -Correta É A Decisão De Primeiro Grau Que Julga Improcedente Ação De
Reparação De Danos Proposta Contra Policial Militar Que, Em Respeito A Ordem De Superior Hierárquico
E, Sem Descanso Ou Revesamento, Causa Acidente De Trânsito, Apesar De Estar Obedecendo A
Velocidade Determinada Para O Local Onde Ocorreu O Sinistro. (grifos nossos)
Mas nem sempre é fácil o seu reconhecimento em sede de Habeas Corpus, dada a eventual
necessidade de dilação probatória:
HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. LESÕES CORPORAIS. FALTA JUSTA CAUSA.
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. EXCLUDENTE NÃO EVIDENCIADA DE PLANO.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. O trancamento da ação penal pela via de habeas corpus é medida de exceção, que só é
admissível quando emerge dos autos, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou
probatório, a atipicidade do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação ou, ainda, a
extinção da punibilidade, circunstâncias não evidenciadas no caso.
2. Reconhecer a ausência de justa causa, porque o acusado agiu no estrito cumprimento do
dever legal, demanda, necessariamente, o exame acurado da prova, uma vez que tal situação fática não
se encontra evidenciada de forma inequívoca nos autos.
3. Quando a versão de inocência apresentada é contraposta por elementos indiciários
apresentados pela acusação, o confronto de versões para o mesmo fato deve ser solucionado por meio
da instrução criminal, garantidos o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.
4. Ordem denegada.
(HC 81.763/PA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe
16/03/2009)
Outro interessante julgado envolvendo quebra de sigilo fiscal:
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANOS MORAIS. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO.
LEI N.º 4.595/64. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ATENDIMENTO DE SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES
DA RECEITA FEDERAL. LEI N.º 8.021/90. ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL. DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO. PRECEDENTE.
1. Malgrado a garantia constitucional da intimidade, o sigilo bancário, como já decidido por esta
própria Corte Superior, não se revela direito absoluto (cf. Resp n.º 802.228/PR, Primeira Turma, Rel. Min.
José Delgado, DJU de 18/09/2006).
2. Da harmônica exegese dos comandos normativos insertos nas Leis n.ºs 4.595/64 (art. 38) e
8.021/90 (arts. 7.º e 8.º) extrai-se que, a instituição financeira, mesmo na vigência da primeira norma,
não poderia se opor ao Fisco, sob o pálio da proteção ao sigilo bancário de seu cliente, quando
concomitantemente: (i) existisse procedimento de fiscalização instaurado; e (ii) o exame dos dados
bancários fosse considerado indispensável pela autoridade fiscal. O não atendimento à solicitação
formulada pela referida autoridade, no prazo de 10 (dez) dias úteis legalmente estipulado, acarretaria à
mesma imposição de multa "equivalente a mil BTN Fiscais por dia útil de atraso" (Lei n.º 8.021/90, art.
7.º, §1.º).
3. Destarte, ao atender solicitação expressa da autoridade fiscal, em obediência, assim, a
comando legal expresso, cuja desconsideração ensejaria imposição da penalidade de multa, age a
instituição financeira prestadora de informações à Receita Federal, em estrito cumprimento de dever
legal, o que exclui a ilicitude de seu ato e, consectariamente, eventual obrigação de indenizar correntista
pela suposta ocorrência de dano moral.
4. Entendimento desta Corte Superior no sentido de que "a prestação de esclarecimentos e
informes pelas instituições financeiras à autoridade fiscal, observadas as condições do § 5.º do art. 38 da
Lei n.º 4.595/64, não viola o dever de sigilo bancário." (REsp 921494/MS, Rel. Min. HUMBERTO GOMES
DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Min.SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, DJe 14/04/2009)
5. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 622.365/RJ, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 28/04/2010)
1.4. Caso Fortuito e Força Maior.
Trata da matéria o art. 393 do CC:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou de força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir3
A despeito da acesa polêmica, que veremos em sala de aula, entendemos que “a característica básica da
força maior é a sua inevitabilidade, mesmo sendo a sua causa conhecida (um terremoto, por exemplo,
que pode ser previsto pelos cientistas); ao passo que o caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota
distintiva na sua imprevisibilidade, segundo os parâmetros do homem médio. Nesta última hipótese,
portanto, a ocorrência repentina e até então desconhecida do evento atinge a parte incauta,
impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um atropelamento, um roubo)”4.
Uma importante observação, no entanto, deve ser feita.
O assalto a mão armada (em transporte coletivo), em geral, segundo jurisprudência do STJ, tem sido
encarado como evento de natureza fortuita (ou de força maior, a depender do entendimento do
julgador), com o efeito de excluir a responsabilidade civil:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. RECEBIDOS
COMO AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO TEMPESTIVOS OPOSTOS NA ORIGEM.
REJEITADOS. RECURSO ESPECIAL. TEMPESTIVO. TRANSPORTE COLETIVO. ASSALTO À MÃO ARMADA.
RESPONSABILIDADE. AFASTAMENTO.
1. Em homenagem aos princípios da economia processual e da fungibilidade, devem ser
recebidos como agravo regimental os embargos de declaração que contenham exclusivo intuito
infringente.
2. Pacificado o entendimento nesta Corte de que somente os embargos declaratórios opostos
intempestivamente não interrompem o prazo para outros recursos. Recurso especial tempestivo.
3. Este Tribunal tem jurisprudência tranquila de que eximida a responsabilidade da empresa de
transporte coletivo em caso de assalto à mão armada ocorrido no interior de ônibus. Precedentes.
3 No Código Civil brasileiro de 1916, art. 1058.
4 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, vol. II (“Obrigações”),
São Paulo: Saraiva , pág.291.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(EDcl no Ag 1395921/BA, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
19/04/2012, DJe 25/04/2012)
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO A ÔNIBUS
COLETIVO. MORTE DO COBRADOR. FATO ESTRANHO À ATIVIDADE DE TRANSPORTE. EXCLUDENTE DE
RESPONSABILIDADE. PRECEDENTES DA SEGUNDA SEÇÃO. RECURSO PROVIDO.
1. A jurisprudência consolidada no âmbito da Segunda Seção do STJ considera assalto em interior
de ônibus causa excludente da responsabilidade de empresa transportadora por tratar-se de fato de
terceiro inteiramente estranho à atividade de transporte - fortuito externo.
2. Agravo regimental provido.
(AgRg no REsp 620.259/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA,
julgado em 15/10/2009, DJe 26/10/2009)
AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ASSALTO - INTERIOR DE ÔNIBUS -
RESPONSABILIDADE DA EMPRESA - EXCLUDENTE - CASO FORTUITO - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA -
IMPROVIMENTO.
I. Fato inteiramente estranho ao transporte (assalto à mão armada no interior de ônibus
coletivo), constitui caso fortuito, excludente de responsabilidade da empresa transportadora.
II. O agravante não trouxe qualquer argumento capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual
se mantém por seus próprios fundamentos.
Agravo improvido.
(AgRg no Ag 711.078/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/09/2008, DJe 30/09/2008)
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, ESTÉTICOS E
MATERIAL. ASSALTO À MÃO ARMADA NO INTERIOR DE ÔNIBUS COLETIVO. CASO FORTUITO EXTERNO.
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA.
1. A Segunda Seção desta Corte já proclamou o entendimento de que o fato inteiramente
estranho ao transporte em si (assalto à mão armada no interior de ônibus coletivo) constitui caso
fortuito, excludente de responsabilidade da empresa transportadora.
3. Recurso conhecido e provido.
(REsp 726.371/RJ, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em
07.12.2006, DJ 05.02.2007 p. 244)
CIVIL. INDENIZAÇÃO. TRANSPORTE COLETIVO (ÔNIBUS). ASSALTO À MÃO ARMADA SEGUIDO DE
MORTE DE PASSAGEIRO. FORÇA MAIOR. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA.
1. A morte decorrente de assalto à mão armada, dentro de ônibus, por se apresentar como fato
totalmente estranho ao serviço de transporte (força maior), constitui-se em causa excludente da
responsabilidade da empresa concessionária do serviço público.
2. Entendimento pacificado pela Segunda Seção.
3. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 783.743/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
12.12.2005, DJ 01.02.2006 p. 571)
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
ASSALTO NO INTERIOR DE ÔNIBUS. CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR.
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO.
1. O fato de terceiro, que não exime de responsabilidade a empresa transportadora, é aquele que guarda
uma relação de conexidade com o transporte.
2. Segundo pacífico entendimento firmado nesta Segunda Seção, a ocorrência de assalto no interior de
composição ferroviária mostra-se fato inteiramente alheio à relação de transporte propriamente dita,
excluindo a responsabilidade da empresa concessionária de transporte público.
3. Agravo improvido.
(AgRg no REsp 960.578/SP, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em
18/09/2007, DJ 08/10/2007 p. 315)
E mais recentemente:
AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - RESPONSABILIDADE CIVIL - TRANSPORTE COLETIVO
- ASSALTO - CASO FORTUITO - SÚMULA 83/STJ - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO.
I. O entendimento desta Corte é firme no sentido de que, em caso de transporte coletivo de passageiros,
"o transportador só responde pelos danos resultantes de fatos conexos com o serviço que presta" (REsp
468.900/RJ, Rel. Min. ARI PARGENDLER, DJ 31.3.2003) e que havendo "assalto com arma de fogo no
interior do ônibus, presente o fortuito, os precedentes da Corte afastam a responsabilidade do
transportador" (REsp 286.110/RJ, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ 1.10.2001). Aplicável,
portanto, à espécie, o óbice da Súmula 83 desta Corte.
II. O Agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se
mantém por seus próprios fundamentos.
III. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no Ag 1348966/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe
03/02/2011)
Direito civil. Assalto à mão armada no interior de hotel. Hipótese em que, durante a noite, os
recepcionistas do estabelecimento foram rendidos pelos criminosos, que invadiram o quarto do autor e
lhe roubaram jóias que portava consigo, para venda em feira de artesanato. Caso fortuito configurado.
- De acordo com as regras do Código Civil de 1916, a responsabilidade do hotel por roubo à mão armada
no interior do estabelecimento somente se caracteriza caso fique comprovado que agiu com culpa,
facilitando a ação dos criminosos ou omitindo-se de impedi-la.
- Comprovado que os recepcionistas do hotel agiram de maneira correta, procurando barrar a entrada
dos criminosos, e que a chave mestra dos quartos somente foi entregue aos assaltantes mediante
ameaça de morte com arma de fogo, resta caracterizado caso fortuito.
- Na hipótese, o hóspede portava quantidade considerável de jóias, que expunha para venda em público
em feira livre. Desempenhava, portanto, atividade de risco, que não declarou ao hotel no check in.
Também não se utilizou do cofre conferido pelo estabelecimento para guarda de objetos de valor.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 841.090/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24.10.2006, DJ
12.02.2007 p. 261)
Mas também há entendimento em contrário – polêmico, em nosso sentir - em Tribunais dos
Estados, conforme podemos ver abaixo:
1º/10/2002
CÂMARA CÍVEL
02.001761-8 Apelação Cível
Origem : 001010112450 Porto Velho/RO (1ª Vara Cível)
Apelante : EUCATUR - Empresa União Cascavel de Transporte e Turismo Ltda.
Relator : Desembargador Renato Mimessi
Revisor : Desembargador Sebastião T. Chaves
EMENTA
Danos morais e materiais. Indenização. Contestação omissa. Preclusão. Princípio da eventualidade.
Assalto a ônibus. Previsibilidade. Inexistência de caso fortuito ou força maior. Dever de indenizar.
Omitida relevante matéria de defesa na contestação, é vedada sua argüição nas fases processuais
ulteriores, se a hipótese não se enquadra dentre aquelas exceções legais ao princípio da eventualidade,
previstas no CPC.
Assaltos sucessivos e constantes de ônibus e passageiros, numa mesma linha, tornam o evento
previsível, afastando a caracterização do caso fortuito ou força maior.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Desembargadores da Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em,
POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Porto Velho, 1º de outubro de 2002.
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DESEMBARGADOR SÉRGIO LIMA PRESIDENTE
Na mesma linha, o Tribunal do Rio de Janeiro:
“Responsabilidade objetiva
Empresa de ônibus responde por assalto a passageiro
por Drault Ernanny Filho
As empresas de transporte coletivo têm responsabilidade sobre o que acontece no interior de seus
veículos. Posteriormente, a companhia pode acionar o agressor ou assaltante. Mas, em primeiro
lugar, responde a empresa.
A decisão foi reafirmada pela 11ª Câmara Cível do Rio de Janeiro ao aprovar, por unanimidade, o voto
do desembargador Mello Tavares.
A empresa, no caso concreto, foi condenada a pagar a uma passageira que foi assaltada e baleada na
cabeça a quantia equivalente a 300 salários mínimos por dano moral; as despesas médicas e
hospitalares, a pensão mensal de 1 salário mínimo durante dois anos; e as despesas processuais,
custas e honorários advocatícios.
Leia o acórdão da decisão
DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL Nº 99.001.3913
RELATOR DESIGNADO: DESEMBARGADOR MELLO TAVARES
RESPONSABILIDADE CIVIL.
ASSALTO EM ÔNIBUS.
DANO AO PASSAGEIRO.
RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 37, § 6º.
SÚMULA 187 DO STF.
Ação de Indenização proposta por passageira, quando viajava em ônibus de propriedade da
transportadora, por ter sido assaltada e baleada na cabeça.
A responsabilidade contratual do transportador não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem
ação regressiva (súmula 187 do STF).
O assalto, hoje, se insere nos riscos próprios do deslocamento. É mais provável o passageiro ser
assaltado, do que sofrer danos decorrentes do próprio transporte.
Afastada a hipótese de caso fortuito, posto que só é admissível quando se trata de eventos
imprevisíveis, o que não é o caso.
Recurso conhecido e provido”.
E o julgado:
”ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, rejeitar a preliminar, e no mérito, em dar
provimento ao recurso, nos termos do voto do primeiro Vogal Desembargador Mello Tavares,
vencido o Desembargador Relator que o desprovia. Designado para o acórdão o Desembargador
Mello Tavares.
Cuida-se de ação indenizatória, de responsabilidade civil, contratual, de empresa de transporte
coletivo. A vítima durante o trajeto foi assaltada no interior do ônibus pertencente a ré, sendo
baleada por um dos assaltantes.
A pretensão foi desacolhida, pelo Juízo de primeiro grau, que condenou a autora ao pagamento das
despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da
causa, observado o disposto no artigo 12, da Lei 1060/50.
A autora-apelante argui preliminarmente a nulidade da sentença, por violação do artigo 458, II do
Código de Processo Civil. E, quanto ao mérito, insurge-se contra o decisum, alegando que em se
tratando de contrato de transporte, responde a empresa pelos danos causados à passageira.
Foram anexadas contra-razões, prestigiando o julgado.
É o relatório.
DA PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA ARGUIDA PELA APELANTE.
A Constituição Federal e a Legislação Processual Civil, não exigem que a decisão seja extensamente
fundamentada. O que se exige é que o Juiz dê as razões de seu convencimento.
Na espécie, a sentença do eminente Juiz monocrático, apesar de sucinta, foi suficientemente clara e
precisa para demonstrar a correção de sua tese.
Rejeita-se a preliminar.
MÉRITO
No dia 23 de dezembro de 1995, a autora, ora apelante, quando viajava em ônibus de propriedade da
apelada, foi assaltada e baleada na cabeça, conforme demonstra o Registro de Ocorrência de fls.
11/12, e o auto de exame de corpo de delito de fls. 13.
O evento não exibe contornos exclusivos de culpa extracontratual ou aquiliana, mas se direciona no
elastério da responsabilidade civil objetiva, que se inscreve na teoria do risco criado.
A matéria é palpitante e tem suscitado inúmeros pronunciamentos, até o advento da Carta Magna de
88, cujo artigo 37, § 6º impôs a chamada responsabilidade pelo risco, às empresas concessionárias de
serviço público.
Conforme dispõem o artigo 17, do Decreto nº 2681, o artigo 14 da Lei 8078, Código de Defesa do
Consumidor e artigo 175, parágrafo único, inciso IV da Constituição Federal, a apelada, por ser
prestadora de serviço público de caráter essencial, responde, independentemente de existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores, por ocasião da prestação do serviço.
Na hipótese dos autos, a responsabilidade da transportadora é cristalina, ante a ocorrência do assalto
que ensejou os fatos no interior do ônibus, tendo em vista a frequência desses assaltos e a sua
previsibilidade.
O eminente e culto Professor Desembargador Martinho Garcez Neto, em sua obra "Prática da
Responsabilidade Civil", 3ª Edição, Saraiva, Pág. 103, ensina o seguinte:
"As empresas de transporte, para conseguirem a concessão do serviço publico, que exploram
vantajosamente, assumem prévia, consciente e deliberadamente, a obrigação de transportar
incólume o passageiro do ponto inicial ao terminal da viagem. Sabem que assumem um risco
contratual que as torna responsáveis no caso de acidente com o passageiro no curso da viagem. Não
podem, portanto, honestamente, desembaraçar-se dessa obrigação, atirando a responsabilidade
sobre os ombros do terceiro, cujo procedimento não podia deixar de entrar em suas cogitações, por
isso que vinculado à exploração comercial da transportadora”.
E complementa sua opinião com uma afirmação que se coloca como luva na hipótese presente:
"... que, sendo um acontecimento inevitável, mas podendo o devedor prevê-lo, quando celebra o
contrato, não exonera da responsabilidade por falta de cumprimento, porque o obrigado não devia
ter assumido temerariamente o compromisso quando já era possível prever que haveria de ser
inibido de realizar o convencionado. (A letra em itálico é do autor)
E a teoria da causalidade adequada, criada pelo filósofo Von Kries, que entende deva ser considerado
como causa apropriada apenas aquele fato que, no momento da produção do evento, surge como
capaz de originarar o dano, constituindo um critério de previsibilidade subjetiva, se aplicada à
hipótese, conduziria à inevitável consequência de que causa foi o assalto, ou os disparos produzidos
pelos assaltantes.
Mas, o que se deve indagar,in casu, é qual dos fatos ou culpas foi decisivo para o efeito danoso, isto
é, qual dos atos imprudentes fez que o outro, que não teria consequências por si só, determinasse,
completado por ele, o acidente.
Imprescindível aqui indagar se é efetivamente força maior a invasão do ônibus por assaltantes,
acarretando culpa, por omissão, à transportadora, ou se, ao contrário, tal ato é imprevisível e
inevitável, nos termos do art. 1.058 do Código Civil Brasileiro, trazendo a exculpação do agente.
Oportuno transcrever a lição do Professor José Afonso da Silva, em seu Curso de Direito
Constitucional, 9ª edição, verbis:
"O terceiro prejudicado não tem que provar que o agente (da administração) procedeu com culpa ou
dolo, para lhe socorrer o direito ao ressarcimento dos danos sofridos. Basta que comprove o dano e
que este tenha sido causado por agente da entidade imputada."
Arnaldo Medeiros da Fonseca, em sua obra "Caso Fortuito e Teoria da Imprevisão", registra, em
abono da tese:
"Um temporal é um fenômeno da natureza que não podemos obstar, mas podemos prevenir e
devemos prever, numa cidade como o Rio de Janeiro, periodicamente a ele sujeita às suas
consequências, sobretudo quando se trata de desmonte de morro a cavaleiro de ruas e logradouros
públicos.......... A concepção que aceitamos recusa-se a admitir esse critério apriorístico (de que
existia uma categoria de acontecimentos por si mesmos constitutivos de força maior)." (pág. 159, 3ª
edição)
O assalto, hoje, se insere nos riscos próprios do deslocamento. É mais provável o passageiro ser
assaltado, do que sofrer danos decorrentes do próprio transporte.
Ora, diante da previsibilidade de assalto, não se pode sustentar de que se trata de fato de terceiro,
excludente de responsabilidade civil da transportadora.
Neste sentido o julgamento dos Embargos Infringentes nº 415/93, realizado pelo 1º Grupo de
Câmaras Cíveis do extinto Tribunal de Alçada, sendo Relator o então Juiz Gustavo Leite, verbis:
"Não é força maior capaz de excluir a responsabilidade da transportadora a ocorrência de assalto ao
ônibus, ensejando a causalidade adequada à lesões sofridas pela vítima, se tal fato, de tão repetido, é
previsível e, com cautela, seria evitado." (fls. 28)
Comunga com este entendimento, o Ministro Antonio Torreão Braz, do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça, manifestado por ocasião do julgamento do R.E. nº 50.129-6 (fls. 35) que:
"O caso fortuito ou a força maior caracteriza-se pela imprevisibilidade e inevitabilidade do evento; no
Brasil contemporâneo, o assalto à mão armada nos meios de transportes de cargas e passageiros
deixou de revestir esse atributo, tal a habitualidade de sua ocorrência, não sendo lícito invocá-lo
como causa de exclusão da responsabilidade do transportador.
Acresce, por fim, anotar, que tal discussão já se encontra dirimida pela súmula 187 do STF, segundo a
qual, a responsabilidade contratual do transportador pelo acidente com o passageiro, não é elidida
por culpa de terceiro.
Portanto, é inquestionável a responsabilidade da apelada, devendo indenizar a apelante, da seguinte
forma:
a) Pagamento de 300 (trezentos) salários mínimos a título de dano moral;
b) Despesas médicas e hospitalares, desde que comprovadas;
c) Pensão mensal de um salário mínimo, pelo período de dois anos, considerando a resposta ao item
04, pelo perito do Juízo, ao quesito formulado pela autora, tendo em vista que inexiste prova nos
autos da função laborativa exercida pela mesma;
d) A empresa deverá constituir capital, nos termos do artigo 602 do CPC;
e) Condenação nas despesas processuais, custas e honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por
cento), nos termos da súmula nº 01, do extinto Tribunal de Alçada Cível.
Face ao exposto, conhece-se e dá-se provimento ao recurso, nos termos da fundamentação supra.
Rio de Janeiro, 15 de abril de 1999.
DESEMBARGADOR NILTON MONDEGO
Presidente
DESEMBARGADOR MELLO TAVARES
Relator Designado
DESEMBARGADOR MARIO RANGEL
Relator Vencido”
Revista Consultor Jurídico, 3 de novembro de 2000 (www.conjur.com.br)
Fonte: http://www.conjur.com.br/static/text/18771,1
(onde se pode ler toda a reportagem)
1.5. Culpa Exclusiva da Vítima.
A exclusiva atuação culposa da vítima tem também o condão de quebrar o nexo de causalidade,
eximindo o agente da responsabilidade civil.
Imagine a hipótese do sujeito que, guiando o seu veículo segundo as regras de trânsito, depara-se
com alguém que, visando a suicidar-se, arremessa-se sob as suas rodas.
Neste caso, o evento fatídico, obviamente, não poderá ser atribuído ao motorista (agente), mas sim, e
tão-somente, ao suicida (vítima). Houve, pois, ruptura do nexo jurídico de causalidade.
Não confunda, todavia, “culpa exclusiva da vítima” com a “culpa concorrente” que apenas tem o
condão de alterar o quantum indenizatório:
CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUEDA DE TREM. MORTE DE PASSAGEIRO QUE VIAJAVA
EM ESCADA DA LOCOMOTIVA. CULPA CONCORRENTE.
DANOS MORAIS E MATERIAIS DEVIDOS. REGIMENTO INTERNO, ART. 257.
I. Admissível a concorrência de culpa em transporte ferroviário, quando verificado comportamento
aventureiro da vítima, a dificultar, consideravelmente, a eficiência do serviço de fiscalização da empresa
transportadora. Redução do valor, em face da concorrência de culpas, à metade.
II. Danos morais e materiais devidos, estes, na esteira de precedentes jurisprudenciais, em 2/3 do salário
mínimo até a idade em que o de cujus completaria 25 anos, reduzida para 1/3 a partir de então, em face
da suposição de que constituiria família, aumentando suas despesas pessoais com o novo núcleo
formado, extinguindo-se a obrigação após alcançada a sobrevida provável, de acordo com tabela
utilizada pela Previdência Social.
III. Prestações vincendas garantidas, a critério da ré, ou pela formação de capital, ou mediante caução.
IV. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.
(REsp 746.894/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 15.08.2006,
DJ 18.09.2006 p. 327)
Por fim, vale conferir alguns julgados selecionados sobre o tema “culpa exclusiva da vítima”:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. OITIVA DE TESTEMUNHAS INDEFERIDA. CERCEAMENTO DE
DEFESA CONFIGURADO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Em casos de atropelamentos por composição férrea, com vítima fatal, a jurisprudência desta Corte
entende que a aferição quanto ao cenário do local do acidente é ponto nodal para se determinar a quem
deve ser imputada a culpa, porquanto cabe a empresa prestadora do serviço impedir que pedestres
invadam a área destinada ao trânsito férreo. Isso se dá, por exemplo, com a vigilância e cercamento de
áreas propícias a tais infortúnios, notadamente as de grande concentração urbana, como é o caso.
2. Na esteira dessa jurisprudência, ganha relevância a argumentação da autora, no sentido de que o
desenho fático do acidente que ceifou a vida do seu esposo não seria exatamente aquele descrito nas
fotografias produzidas unilateralmente pela ré, sendo imprescindível a produção de prova testemunhal,
requerida a tempo oportuno e desprezada pelo julgador.
3. É prejudicial aos autores a conclusão a que chegou o Juízo sentenciante, posteriormente confirmada
pelo Tribunal de Justiça local, julgando improcedente o pedido inicial, ao argumento de que a autora não
teria demonstrado a culpa da empresa ré, e, a um só tempo, indeferiu a prova testemunhal requerida, a
qual poderia comprovar a culpa da concessionária, ou ao menos afastar a culpa exclusiva da vítima.
4. Recurso especial provido para anular o processo a partir da sentença.
(REsp 979.129/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/04/2009, DJe
13/04/2009)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
EMPRESA DE VIGILÂNCIA E ESTABELECIMENTO BANCÁRIO. HOMICÍDIO.
VIGILANTE QUE ATUA EM LEGÍTIMA DEFESA. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA TRANSITADA EM JULGADO.
COISA JULGADA PARA A JURISDIÇÃO CIVIL.
1. O Tribunal a quo manifestou-se acerca de todas as questões relevantes para a solução da controvérsia,
tal como lhe fora posta e submetida. Não cabe alegação de violação do artigo 535 do CPC, quando a
Corte de origem aprecia a questão de maneira fundamentada, apenas não adotando a tese da
recorrente. Precedentes.
2. A coisa julgada só pode atingir o réu do processo penal, não os possíveis responsáveis no âmbito cível,
pois a sentença faz coisa julgada entre as partes, não beneficiando, nem prejudicando terceiros (art. 472,
CPC).
3. A decisão na esfera criminal somente gera influência na jurisdição cível, impedindo a rediscussão do
tema, quando tratar de aspectos comuns às duas jurisdições, ou seja, quando tratar da materialidade do
fato ou da autoria, segundo previsto no art. 935 do CC/2002 (que repetiu o disposto no art. 1.525 do
CC/1916).
4. O reconhecimento da legítima defesa do vigilante no juízo criminal não implica, automaticamente, a
impossibilidade da parte autora requerer indenização pelos danos ocorridos, especialmente quando,
como no caso ora em análise, pugna pelo reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Banco e
da Empresa de Vigilância, obrigados em face do risco da atividade.
5. Em relação à alegada culpa exclusiva da vítima, a revisão das conclusões realizadas com base no
arcabouço fático-probatório delineado nas instâncias ordinárias é vedada em sede de recurso especial.
Incidência da Súmula 7/STJ.
6. Em relação ao Banco, o acórdão já transitou em julgado, porquanto o agravo de instrumento
interposto sob o nº 631.221/RJ não foi conhecido por esta Corte (decisão publicada em 12/11/2004 e
transitada em julgado em 23/11/2004).
7. A relação jurídica existente entre o contratante/usuário de serviços bancários e a instituição financeira
é disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor, conforme decidido na ADI 259.
8. Tendo em vista a existência de defeito no serviço prestado (art.
14, § 1º, do CDC), o qual ocasionou a morte do companheiro da autora, aplica-se o disposto no art. 14 do
CDC, o qual prevê a responsabilidade objetiva do Banco.
9. Respondem solidariamente pela indenização todos os responsáveis pelo acidente de consumo,
inclusive os terceiros que prestaram serviço mediante contratação.
10. Face o risco profissional da atividade bancária, a instituição financeira obrigada pela Lei n. 7.102/83 a
tomar todas as cautelas necessárias a assegurar a segurança de seus clientes e funcionários.
11. Considerando-se as peculiaridades do caso, bem como os padrões adotados por esta Corte na
fixação do valor indenizatório a título de danos morais por morte, reduzo a indenização arbitrada pelo
Tribunal de origem para o valor de R$ 232.500,00 (duzentos e trinta e dois mil e quinhentos reais),
correspondente à 500 salários mínimos atuais. Correção monetária a partir da presente data e juros
moratórios a partir do evento danoso.
12. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido.
(REsp 686.486/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/04/2009, DJe
27/04/2009)
HABEAS CORPUS. ARTIGO 302 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. O fato de o paciente não possuir carteira de habilitação em nada contribuiu para a ocorrência do
acidente, tanto que o laudo pericial concluiu ser exclusiva da vítima a culpa pelo evento.
2. Estado de embriaguez deve ser comprovado por laudo pericial.
3. Constrangimento ilegal caracterizado.
4. Ordem concedida para restabelecer a sentença absolutória.
(HC 125.584/AC, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA
TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 07/12/2009)
OBS.:
Sobre a culpa concorrente, no Código Civil, ver o art. 945:
Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se
em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
1.6. Fato de Terceiro.
Nessa mesma linha de raciocínio, o comportamento de um terceiro – que não seja o agente do dano e
a vítima – rompe o nexo jurídico-causal, excluindo a responsabilidade civil.
Imagine-se, por exemplo, um sujeito (terceiro) que coloca munição de verdade em arma durante
apresentação teatral, fazendo com o que o ator atinja a vítima.
Relembre-se, no entanto, a Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal no sentido de que:
“A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com passageiro, não é ilidida por
culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”.
Veja a ponderada aplicação desta súmula:
AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. CONTRATO DE
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. FATO DE TERCEIRO CONEXO AOS RICOS DO TRANSPORTE.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NÃO AFASTADA. SÚMULA 187/STF. INTERESSE PROCESSUAL. SÚMULA
07.
AGRAVO IMPROVIDO.
1. Esta Corte tem entendimento sólido segundo o qual, em se tratando de contrato de transporte
oneroso, o fato de terceiro apto a afastar a responsabilidade objetiva da empresa transportadora é
somente aquele totalmente divorciado dos riscos inerentes ao transporte.
2. O delineamento fático reconhecido pela justiça de origem sinaliza que os óbitos foram ocasionados
por abalroamento no qual se envolveu o veículo pertencente à recorrente, circunstância que não tem
o condão de afastar o enunciado sumular n. 187 do STF: a responsabilidade contratual do
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem
ação regressiva.
3. A indigitada falta de interesse processual, decorrente de suposta transação extrajudicial, o Tribunal
a quo a afastou à luz de recibos exaustivamente analisados. Incidência da Súmula 07/STJ.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no Ag 1083789/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
14/04/2009, DJe 27/04/2009)
Quando há colisão de veículos em acidente de trânsito, pode-se, na mesma linha, alegar o fato de
terceiro (neste caso também denominado “teoria do corpo neutro”), para se eximir a
responsabilidade do condutor que, abalroado, veio a atingir outrem. É o que se dá, por exemplo, no
chamado “engavetamento”.
Sobre o fato de terceiro, por fim, anote-se o que decidiu o STJ, em julgado de 05 de fevereiro de 2009
acerca do arremesso de pedra em ônibus:
CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. FORÇA MAIOR.
FATO DE TERCEIROS. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE.
I. Constitui motivo de força maior, a isentar de responsabilidade a empresa de transporte de
passageiros, o fato de terceiro que arremessa pedra no ônibus e fere passageiro.
II. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 247.349/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
05/02/2009, DJe 26/02/2009)
2. Responsabilidade Civil Indireta
Em sala, faremos a análise minuciosa da responsabilidade por ato de terceiro e pelo fato da coisa
e do animal, a denominada “responsabilidade civil indireta”.
No entanto, dadas as suas especificidades, e importância na preparação para concurso,
selecionamos algumas questões especiais a respeito desta temática, que merece a sua atenção:
2.1. Veículo Furtado ou Roubado
A primeira delas diz respeito ao dano proveniente de veículo furtado ou roubado.
Tendo havido a subtração ilícita do automóvel, com a conseqüente ocorrência de acidente,
responderia o proprietário do bem por tal episódio danoso?
Em nosso entendimento, a resposta negativa se impõe.
No momento em que o titular do domínio ou, até mesmo, o mero possuidor do bem, perde a
disponibilidade sobre o mesmo, em decorrência da subtração criminosa, deixa de ter,
conseqüentemente, responsabilidade por sua guarda, razão por que não poderá ser compelido a
indenizar a vítima do acidente.
2. 2. Veículo Locado
A despeito de não haver previsão específica no CC, há no Supremo Tribunal Federal o
entendimento, já sumulado (Súmula 492), no sentido de que a empresa locadora do veículo
responderia solidariamente com o locatário pelos danos causados a terceiros no uso do carro
locado.
Esta responsabilidade está amparada no risco decorrente do exercício desta atividade econômica.
Em sala, faremos a sua análise.
2.3. Veículo Alienado sem Registro da Transferência no DETRAN
Tendo havido a alienação do veículo, sem que se seguisse a imediata regularização da
transferência no respectivo DETRAN, o antigo proprietário continuaria responsável por eventuais
danos causados a terceiros pelo novo condutor?
A resposta negativa, em nosso sentir, é a mais adequada, pois somente com a tradição opera-se a
transferência da guarda da coisa ao novo proprietário.
Nesse sentido, Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema:
“Súmula 132. A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo dono resultante de acidente que envolva o veículo alienado”.
No âmbito das infrações administrativas, temos a impressão de que o entendimento da Corte pode mudar:
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. MULTAS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO CTB.
1. "Alienado veículo automotor sem que se faça o registro, ou ao menos a comunicação da venda, estabelece-se, entre o novo e o antigo proprietário, vínculo de solidariedade pelas infrações cometidas, só afastadas quando é o Detran comunicado da alienação, com a indicação do nome e endereço do novo adquirente. Não havendo dúvidas, in casu, de que as infrações não foram cometidas no período em que tinha o recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer qualquer tipo de sanção" (REsp 965.847/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 14.03.08).
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1024632/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 05/08/2008)
E mais recentemente:
ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO. MULTAS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO CTN. - Comprovada a transferência da propriedade do veículo, afasta-se a responsabilidade do antigo proprietário pelas infrações cometidas após a alienação, mitigando-se, assim, o comando do art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro. Precedentes do STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1204867/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe 06/09/2011)
É esperar para ver como ficará a nossa jurisprudência...
2.4. Veículo Conduzido por Terceiro
Analisaremos com cuidado este tema em sala de aula.
Na jurisprudência, confiram-se as seguintes decisões:
RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR - SOLIDARIEDADE -
PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO.
- Quem permite que terceiro conduza seu veículo é responsável solidário pelos danos causados
culposamente pelo permissionário.
- Recurso provido.
(REsp 343.649/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em
05.02.2004, DJ 25.02.2004 p. 168)
ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - AMBULÂNCIA
MUNICIPAL - MOTORISTA ESTADUAL - SOLIDARIEDADE - DANOS MATERIAIS - FAMÍLIA POBRE -
PRESUNÇÃO DE QUE A VÍTIMA MENOR CONTRIBUÍA PARA O SUSTENTO DO LAR - SÚMULA 07/STJ -
SÚMULA 491/STF - PENSIONAMENTO AOS PAIS DA VÍTIMA ATÉ A IDADE EM QUE ESTA COMPLETARIA 65
ANOS - DESCONTO DO VALOR DO SEGURO OBRIGATÓRIO - SÚMULA 246/STJ - DIVERGÊNCIA NÃO-
CONFIGURADA - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
1. O Tribunal "a quo", louvado em provas, verificou que a vítima já auxiliava nas despesas da casa.
Incidência da Súmula 07/STJ.
2. O STJ proclama que em acidentes que envolvam vítimas menores, de famílias de baixa renda, são
devidos danos materiais. Presume-se que contribuam para o sustento do lar. É a realidade brasileira.
3. "É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho
remunerado." (Súmula 491/STF).
4. "O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada." (Súmula
246/STJ).
5. A jurisprudência do STJ reconhece a responsabilidade solidária do proprietário do veículo por acidente
onde o carro é guiado por terceiro.
6. Em acidente automobilístico, com falecimento de menor de família pobre, a jurisprudência do STJ
confere aos pais pensionamento de 2/3 do salário mínimo a partir dos 14 anos (idade inicial mínima
admitida pelo Direito do Trabalho) até a época em que a vítima completaria 25 anos (idade onde,
normalmente, há a constituição duma nova família e diminui o auxílio aos pais). Daí até os eventuais 65
anos (idade média de vida do brasileiro) a pensão reduz-se a 1/3 do salário mínimo.
7. Recursos parcialmente providos.
(REsp 335.058/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em
18.11.2003, DJ 15.12.2003 p. 185)
ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRANSPORTE BENÉVOLO. VEÍCULO CONDUZIDO POR UM DOS COMPANHEIROS
DE VIAGEM DA VÍTIMA, DEVIDAMENTE HABILITADO.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO PROPRIETÁRIO DO AUTOMÓVEL.
RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA.
- Em matéria de acidente automobilístico, o proprietário do veículo responde objetiva e solidariamente
pelos atos culposos de terceiro que o conduz e que provoca o acidente, pouco importando que o
motorista não seja seu empregado ou preposto, ou que o transporte seja gratuito ou oneroso, uma vez
que sendo o automóvel um veículo perigoso, o seu mau uso cria a responsabilidade pelos danos
causados a terceiros.
- Provada a responsabilidade do condutor, o proprietário do veículo fica solidariamente responsável pela
reparação do dano, como criador do risco para os seus semelhantes.
Recurso especial provido.
(REsp 577.902/DF, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/06/2006, DJ 28/08/2006 p. 279)
Quanto às infrações administrativas (multas), já referidas acima, a matéria comporta discussão, e exige
a análise do caso concreto:
Responsabilização
Casos de responsabilização de condutores, de proprietários e do próprio Detran também fazem
parte da rotina do STJ. A Primeira Turma, no julgamento do Resp 745190, estabeleceu que o
proprietário do veículo que entrega o automóvel à pessoa sem habilitação não pode ser punido
também como se fosse o condutor, devendo ser aplicada a ele apenas a multa prevista no
artigo 163 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Para o relator do recurso, ministro Luiz Fux, a “responsabilidade solidária do proprietário de
veículo automotor, por multa de trânsito, deve ser aferida cum grano salis” [com certa reserva].
Além disso, o ministro destacou que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê hipóteses de
caráter individual dirigidas tanto ao proprietário quanto ao condutor.
O STJ também decidiu que o Detran não pode ser responsabilizado por ato criminoso de
terceiros ou pela culpa do adquirente de veículo de procedência duvidosa. O entendimento da
Segunda Turma excluiu o Detran do Rio Grande do Norte da responsabilidade no pagamento
dos danos materiais devidos a um comerciante que vendeu um veículo roubado.
Segundo o relator do recurso (Resp 873399), ministro Herman Benjamin, compete ao
comerciante de automóveis usados o dever de verificação – mediante inspeção física do bem, e
não simplesmente documental no Detran – da existência de restrições à transferência e da
procedência lícita do veículo comercializado.
Trecho do informativo disponível no:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp
.texto=93922 (veja a sua íntegra no final deste material de apoio)
3. Bibliografia Básica do Curso
Novo Curso de Direito Civil – vol. III - Responsabilidade Civil, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho, São Paulo, Saraiva (www.saraivajur.com.br ou www.editorajuspodivm.com.br)
4. Fique por Dentro
Chefe de equipe médica não responde solidariamente por erro cometido por anestesista
30/09/2011
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o chefe da equipe médica não responde solidariamente por erro médico cometido pelo anestesista que participou do procedimento cirúrgico. Entretanto, os ministros consideraram que a clínica médica, de propriedade do cirurgião-chefe, responde de forma objetiva e solidária pelos danos decorrentes do defeito no serviço prestado. Segundo a decisão, tomada por maioria de votos, somente caberá a responsabilização solidária do chefe da equipe médica quando o causador do dano atuar na condição de subordinado, sob seu comando. Um casal ajuizou ação de reparação de danos materiais e compensação de danos morais contra o médico Roberto Debs Bicudo e a Clínica de Cirurgia Plástica Debs Ltda., informando que a esposa se submeteu a uma cirurgia estética na clínica de Debs, que conduziu o procedimento. Durante a cirurgia, a paciente sofreu parada cardiorespiratória que deu causa a graves danos cerebrais. O juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por maioria, manteve a sentença. “A responsabilidade civil do médico, na qualidade de profissional liberal, será apurada mediante verificação de culpa. Não se configurando defeito no serviço prestado pela clínica, não surge para esta o dever de indenizar. A ausência do nexo de causalidade afasta a responsabilização solidária”, decidiu o TJ. No STJ, a defesa do casal sustentou haver a responsabilidade solidária do chefe da equipe cirúrgica e da clínica pelo dano causado pelo anestesista. A Quarta Turma do Tribunal, por maioria, acolheu o entendimento. “Restou incontroverso que o anestesista, escolhido pelo chefe da equipe, agiu com culpa, gerando danos irreversíveis à autora, motivo pelo qual não há como afastar a responsabilidade solidária do cirurgião chefe, a quem estava o anestesista diretamente subordinado”, afirmou a decisão.
Embargos de divergência Roberto Debs Bicudo e Clínica de Cirurgia Plástica Debs recorreram pedindo o não reconhecimento da existência de solidariedade entre o anestesista e o cirurgião chefe da equipe e entre o anestesista e a clínica, com a qual não mantinha vínculo trabalhista. Em seu voto apresentado na Segunda Seção, a relatora, ministra Nancy Andrighi, reconheceu que a clínica e o chefe da equipe podem vir a responder, solidariamente, pelo erro médico cometido pelo anestesista que participou da cirurgia. Segundo a ministra, uma vez caracterizado o trabalho de equipe, deve ser reconhecida a subordinação dos profissionais de saúde que participam do procedimento cirúrgico em si, em relação ao qual a anestesia é indispensável, configurando-se verdadeira cadeia de fornecimento do serviço, nos termos do artigo 34, c/c artigo 14, ambos do Código de Defesa do Consumidor. “Esta Corte Superior, analisando hipótese de prestação de assistência médica por meio de profissionais indicados, reconheceu a existência de uma cadeia de fornecimento entre o plano de saúde e o médico credenciado, afastando qualquer exceção ao sistema de solidariedade”, disse a ministra em seu voto. Os ministros Massami Uyeda, Luis Felipe Salomão e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com a relatora. Entretanto, os ministros Raul Araújo, Isabel Gallotti, Antônio Carlos Ferreira, Villas Boas Cueva e Marco Buzzi divergiram parcialmente da relatora. O ministro Raul Araújo, relator para acórdão, entendeu que deve prevalecer a tese de que, se o dano decorre exclusivamente de ato praticado por profissional que, embora participante da equipe médica, atua autonomamente em relação aos demais membros, sua responsabilidade deve ser apurada de forma individualizada, excluindo-se aí a responsabilidade do cirurgião-chefe. “Em razão da moderna ciência médica, a operação cirúrgica não pode ser concebida apenas em seu aspecto unitário, mormente porque há múltiplas especialidades na medicina. Nesse contexto, considero que somente caberá a responsabilização solidária do chefe da equipe médica quando o causador do dano atuar na condição de subordinado, sob seu comando. Se este, por outro lado, atuar como profissional autônomo, no âmbito de sua especializada médica, deverá ser responsabilizado individualmente pelo evento que deu causa”, afirmou o ministro Raul Araújo.
Processos: EREsp 605435
Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103334#
acessado em 23 de outubro de 2011.
Indenização em dinheiro por dano moral não pode ser substituída por retratação na imprensa
14/06/2011
Indenização pecuniária por dano moral não pode ser substituída por retratação na imprensa, a título de reparação dos danos morais sofridos por pessoa jurídica. O entendimento é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A tese foi discutida no julgamento de recurso especial, relatado pelo ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Ele lembrou que o STJ já consolidou o entendimento de que pessoa jurídica pode sofrer dano moral passível de indenização. Está na Súmula 227. Para o ministro, negar indenização pecuniária à pessoa jurídica viola o princípio da reparação integral do dano. A disputa judicial começou com uma ação ordinária de nulidade de duplicata cumulada com obrigação de fazer e pedido de indenização por danos morais, movida pela Villa do Forte Praia Hotel Ltda contra a microempresa Globalcom Comercial e Distribuidora Ltda, pelo protesto indevido de duplicata mercantil. Ocorre que nunca houve negócio jurídico entre as duas empresas. A sentença deu parcial provimento ao pedido para anular a duplicata e condenar a Globalcom ao pagamento de indenização por dano moral equivalente a dez vezes o valor do título anulado, corrigido desde a data do protesto. Esse montante chegou a aproximadamente R$ 24 mil. Ao julgar apelação das duas empresas, o Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo reformou a sentença para substituir o pagamento da indenização em dinheiro por publicação de retratação, na imprensa, a título de reparação por danos morais à pessoa jurídica. Por entender que pessoa jurídica não sente dor, os magistrados avaliaram que a melhor forma de reparar o dano era a retratação pública. O hotel recorreu ao STJ contra essa decisão. Segundo Sanseverino, a reparação dos danos pode ser pecuniária (em dinheiro) ou natural, que consiste em tentar colocar o lesado na mesma situação em que se encontrava antes do dano. Um exemplo disso seria restituir um bem semelhante ao que foi destruído. Ele explicou que os prejuízos extrapatrimoniais, por sua própria natureza, geralmente não comportam reparação natural. Então resta apenas a pecuniária, que é a tradição no Direito brasileiro. O relator destacou que a reparação natural e a pecuniária não são excludentes entre si, em razão do princípio da reparação integral, implícita na norma do artigo 159 do Código Civil (CC) de 1916, vigente na época dos fatos. Essa regra encontra-se atualmente no artigo 944 do CC/2002. Para Sanseverino, a substituição feita pelo tribunal paulista viola esse dispositivo. Seguindo as considerações do relator, todos os ministros da Terceira Turma deram parcial provimento ao recurso do hotel para manter a indenização em dinheiro fixada na sentença e negar o pedido de aumento desse valor. Como o recurso não contestou a publicação de retratação na imprensa, essa determinação do tribunal paulista não foi analisada pelo STJ, de forma que fica mantida.
Processos: REsp 959565
Fonte:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=10
2207 acessado em 14 de junho de 2011
Sem nexo causal não pode haver indenização por erro médico
04/05/2010
Para se conceder uma indenização por danos morais, materiais e estéticos relacionados a erro médico em cirurgia, deve ficar comprovado o nexo causal (relação de causa e efeito) entre o procedimento e os supostos danos. Com esse entendimento, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, aceitar recurso movido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que concedeu indenização a um funcionário da empresa após cirurgia realizada em hospital da própria empresa. O funcionário da empresa foi acometido por mielopatia súbita sem trauma, doença incurável. Durante o tratamento médico, não houve um diagnóstico definitivo da doença e foi indicada uma cirurgia de descompressão da coluna. Após a cirurgia, o paciente ficou paraplégico e entrou com ação de indenização contra a CSN. O TJRJ considerou que, apesar de não ficar comprovado o erro médico ou a culpa da siderúrgica, haveria direito a uma indenização por dano moral de 50 salários mínimos, com considerações humanitárias. No recurso ao STJ, a defesa da CSN alegou ofensa ao artigo 159 do Código Civil (CC) de 1916, pela falta de nexo causal entre a cirurgia e a paralisia. Também argumentou que conceder a indenização por questões humanitárias ou “por pena” seria julgar a causa com fundamento diferente daquele proposto na ação, o que é vedado pelos artigos 128 e 460 do Código de Processo Civil. Em seu voto, o relator do processo, desembargador convocado Honildo de Mello Castro, apontou que perícia inclusa no processo indicou haver diagnósticos diferentes da doença e que haveria pelos menos quatro outras patologias que poderiam ser confundidas com a mielopatia súbita. A perícia também indicou que a cirurgia seria indicada para casos em que o diagnóstico fosse incerto e que a paraplegia era um desenvolvimento natural da doença. Com base nessas informações, o relator considerou que não houve nexo causal que apontasse o erro médico. O ministro sustentou que o artigo 927 do atual CC impede que alguém seja responsabilizado por aquilo a que não deu causa e que o artigo 403 do mesmo código só considera como “causa” o evento que produz direta e concretamente o dano. Para o magistrado, isso vedaria o pagamento de indenização no caso, conforme a jurisprudência do próprio STJ. Com essa fundamentação, o ministro cancelou o pagamento da indenização, destacando que o benefício não poderia ser concedido por razões humanitárias, pois essa hipótese não é prevista na legislação.
Processos: Resp 685929
Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=97051 acessado em 16 de maio de 2010.
Disputas com os Detrans cada vez mais terminam no Judiciário
27/09/2009
Cada vez com mais frequência, chegam ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) demandas de proprietários e condutores de veículos contra os departamentos estaduais de trânsito, os Detrans. Nos últimos dez anos, foram mais de 2.500 processos questionando multas, transferência de carros roubados, alienação fiduciária e apreensão de veículos, entre outras questões administrativas com os Detrans.
As questões mais comuns são aquelas que afetam o órgão mais sensível do ser humano, o bolso. São as multas. Teve repercussão nacional o julgamento do STJ sobre o procedimento dos Detrans de exigir o pagamento de multas e despesas de depósito como condição para liberação de veículos removidos ou apreendidos.
Ao julgarem o Resp 1104775, os ministros da Primeira Seção decidiram que as autoridades de trânsito só podem exigir o pagamento das multas já vencidas e regularmente notificadas aos eventuais infratores. Também foi decidido que, apesar de os veículos poderem permanecer retidos em depósito por tempo indeterminado, os Detrans só poderão cobrar taxas de permanência até os primeiros 30 dias de sua estada nos depósitos.
Não é legal a retenção do veículo como forma de coagir o proprietário a pagar a pena de multa. Entretanto, é diferente a hipótese de apreensão do veículo como modalidade autônoma de sanção em que a sua retenção pode prolongar-se até que sejam quitadas multas e demais despesas decorrentes da estada no depósito. Esse foi o entendimento da ministra Eliana Calmon, relatora do Resp 1088532, acompanhado pela Segunda Turma do Tribunal em julgamento que determinou ser legal o condicionamento da liberação do veículo retido por conta de infração de trânsito ao pagamento da multa e demais despesas decorrentes da apreensão do automóvel.
Radares e pardais
A contestação às multas aplicadas com base em registro fotográfico por radares, conhecidos como “pardais”, também é recorrente entre os processos levados até o STJ. As Turmas que compõem a Primeira Seção já reconheceram a legalidade do uso desse recurso tecnológico para a aplicação de multas de trânsito.
No julgamento do Resp 772347, a Primeira Turma entendeu que os pardais não aplicam as multas, apenas fornecem elementos fáticos que permitem à autoridade de trânsito a lavratura do auto de infração e a imposição das sanções legais decorrentes. “Há distinção entre a atividade de coleta de provas que embasam os autos de infração e a lavratura do auto de infração propriamente dito”, ressaltou o relator, ministro Luiz Fux.
Em julgamento semelhante, a Segunda Turma decidiu que as multas de trânsito podem ser registradas por aparelhos eletrônicos sem a presença de um agente para autuar. O relator do caso, ministro Humberto Martins, também entendeu que os pardais eletrônicos não aplicam multa, apenas comprovam a infração ocorrida (Resp 759759).
O STJ também já firmou o entendimento de que a emissão da notificação de multa e do auto de infração de trânsito (AIT) é suficiente para atender as exigências da ampla defesa e do contraditório no caso de imposição de multas de trânsito. Segundo o relator do Resp 898524, ministro Herman Benjamin, essas notificações permitem ao suposto infrator defender-se caso assim o deseje.
Responsabilização
Casos de responsabilização de condutores, de proprietários e do próprio Detran também fazem parte da rotina do STJ. A Primeira Turma, no julgamento do Resp 745190, estabeleceu que o proprietário do
veículo que entrega o automóvel à pessoa sem habilitação não pode ser punido também como se fosse o condutor, devendo ser aplicada a ele apenas a multa prevista no artigo 163 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Para o relator do recurso, ministro Luiz Fux, a “responsabilidade solidária do proprietário de veículo automotor, por multa de trânsito, deve ser aferida cum grano salis” [com certa reserva]. Além disso, o ministro destacou que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê hipóteses de caráter individual dirigidas tanto ao proprietário quanto ao condutor.
O STJ também decidiu que o Detran não pode ser responsabilizado por ato criminoso de terceiros ou pela culpa do adquirente de veículo de procedência duvidosa. O entendimento da Segunda Turma excluiu o Detran do Rio Grande do Norte da responsabilidade no pagamento dos danos materiais devidos a um comerciante que vendeu um veículo roubado. Segundo o relator do recurso (Resp 873399), ministro Herman Benjamin, compete ao comerciante de automóveis usados o dever de verificação – mediante inspeção física do bem, e não simplesmente documental no Detran – da existência de restrições à transferência e da procedência lícita do veículo comercializado.
Alienação e penhora
Quando da alienação do veículo, o Tribunal já decidiu que, se a lei não exige o prévio registro cartorial do contrato de alienação fiduciária para a expedição de certificado de registro de veículo, não há como obrigar o Detran a exigir tal documento dos proprietários dos veículos. O caso foi tratado em uma suspensão de segurança (SS 1518) proposta pelo Detran de Alagoas sob o argumento de ser desnecessário o registro de tal contrato no cartório de títulos de documentos, não havendo dever legal para a exigência do registro.
Ainda com relação à alienação, a Segunda Turma também definiu que a exigência de registro do contrato em cartório não é requisito de validade do negócio jurídico. Para as partes signatárias, a avença é perfeita e plenamente válida, independentemente do registro que, se ausente, traz como única consequência a ineficácia do contrato perante o terceiro de boa-fé (Resp 278993).
Em casos de execução fiscal, a Segunda Turma do STJ definiu que a ausência do registro de penhora do veículo no Detran elimina a presunção de fraude à execução, mesmo que a alienação do bem tenha sido posterior à citação do devedor em execução fiscal.
Para a relatora do recurso (Resp 810489), ministra Eliana Calmon, apenas a inscrição da penhora no Detran torna absoluta a afirmação de que a constrição é conhecida por terceiros e invalida a alegação de boa-fé do adquirente da propriedade, mesmo que a alienação tenha sido realizada depois da citação do devedor na execução fiscal.
No julgamento do AgRg no Resp 924327, a Primeira Turma também afirmou que a jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que o terceiro que adquire veículo de pessoa diversa da executada, de boa-fé, diante da ausência do registro da penhora junto ao Detran, não pode ser prejudicada pelo reconhecimento da fraude à execução.
Criado para fiscalizar o trânsito de veículos terrestres em suas respectivas jurisdições, no território brasileiro, o Detran tem também, entre suas atribuições, a determinação das normas para a formação e fiscalização de condutores.
Processos: Resp 1104775; Resp 1088532; Resp 772347; Resp 759759; Resp 898524; Resp 745190; Resp 873399; SS 1518; Resp 278993; Resp 810489; Resp 924327
Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=93922 acessado em 30 de outubro de 2009.
Súmula trata da indenização pela publicação não autorizada da imagem de alguém
29/10/2009
O direito à indenização, independente de prova do prejuízo, pela publicação sem autorização da imagem de uma pessoa com fins econômicos ou comerciais agora está sumulado. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aprovou em sua última sessão o verbete de número 403. A matéria sumulada teve como referência a Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso V, segundo a qual “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”, bem como no inciso X “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. A Súmula n. 403 ficou com a seguinte redação: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Em 2000, a Terceira Turma garantiu à atriz Maitê Proença o direito a receber indenização por dano moral do jornal carioca Tribuna da Imprensa, devido à publicação não autorizada de uma foto extraída de ensaio fotográfico feito para a revista Playboy, em julho de 1996. As fotos foram publicadas no mês seguinte na edição comemorativa do 21º aniversário da revista. Para aceitar o trabalho, a atriz estipulou, em contrato escrito, as condições para cessão de sua imagem, fixando a remuneração e o tipo de fotos que seriam produzidas, demonstrando preocupação com a sua imagem e a qualidade do trabalho, de modo a restringir e a controlar a forma de divulgação de sua imagem despida nas páginas da revista. No entanto, em 10 de agosto o jornal carioca estampou uma das fotos, extraída do ensaio para a Playboy em página inteira, sem qualquer autorização. Para a Turma, a atriz foi violentada em seu crédito como pessoa, pois deu o seu direito de imagem a um determinado nível de publicação e poderia não querer que outro grupo da população tivesse acesso a essa imagem. Os ministros, por maioria, afirmaram que ela é uma pessoa pública, mas nem por isso tem que querer que sua imagem seja publicada em lugar que não autorizou, e deve ter sentido raiva, dor, desilusão, por ter visto sua foto em publicação que não foi de sua vontade. Por essa razão, deve ser indenizada.
Ao julgar o Resp 1.053.534, a Quarta Turma também entendeu que a empresa jornalística Tribuna do Norte Ltda. deveria pagar uma indenização de R$ 30 mil a Roberta Salustino Cyro Costa por erro na publicação de coluna social. O jornal publicou, em dezembro de 2006, uma foto dela ao lado de um ex-namorado com a notícia de que ela se casaria naquele dia, quando, na verdade, o homem da foto se casaria com outra mulher. A publicação foi feita na coluna Jota Oliveira. Os ministros, seguindo o voto do relator, ministro Fernando Gonçalves, entenderam que Roberta foi vítima de grande desconforto e constrangimento ao ter sua foto publicada ao lado do ex-namorado. Segundo o relator, é evidente que o público frequentador da coluna social sabia se tratar de um engano, mas isso não a livrou de insinuações. Já em 2008, em julgamento do Resp 1082878, a Terceira Turma manteve decisão que obrigou a Editora Globo S/A a pagar uma indenização no valor de R$ 5 mil ao ator Marcos Pasquim, por danos morais decorrentes da publicação em 2006 de uma foto dele beijando uma mulher desconhecida, fato que teria provocado consequências para sua família e abalado seu casamento. Para a relatora, ministra Nancy Andrighi, a doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de entender que pessoas públicas ou notórias têm seu direito de imagem mais restrito que pessoas que não ostentem tal característica. Em alguns casos, essa exposição exagerada chega a lhes beneficiar. Entretanto, afirmou a ministra, nesse caso ficou caracterizado o abuso no uso da reportagem. Se fosse apenas um texto jornalístico relatando o fato verdadeiro ocorrido, desacompanhado de fotografia, desapareceria completamente o abuso de imagem, mas não se pode ignorar que a imagem foi feita com o propósito de incrementar a venda da revista. Leia também: Inclusão de danos morais no contrato de seguro por danos pessoais, salvo exclusão expressa, agora é súmula Nova súmula dispensa AR na comunicação ao consumidor sobre negativação de seu nome Súmula da Segunda Seção trata do prazo para pedir o DPVAT na Justiça
Processos: Eresp 230268; Resp 138883; Resp 85905; Resp 270730; Resp 1082878; Resp 331517; Resp 267529; Resp 1053534
Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94425 acessado em 30 de outubro de 2009.
Não cabe ao STJ analisar indenização que trata de responsabilidade objetiva do Estado 13/05/2009
A análise de indenização por danos morais e materiais fixada com base na responsabilidade objetiva do
Estado, conforme definida na Constituição Federal, não é da alçada do Superior Tribunal de Justiça
(STJ). O Distrito Federal questiona a decisão que fixou compensação a uma criança que desenvolveu
síndrome de Stevens-Johnson após atendimento de emergência no Hospital Regional do Gama, da rede
pública. Para o STJ, como a Justiça baseou seu entendimento na constituição, a análise do recurso
escapa à sua competência.
Ao ser atendida, a criança estava com convulsões e febre. Foi tratada com o anticonvulsivo
fenobarbital, após o que apresentou reação alérgica grave. Houve sangramentos, lesões cutâneas e
comprometimento da visão, configurando a síndrome de Stevens-Johnson. Como a criança sofreu
danos permanentes, sua mãe entrou com pedidos de indenização por danos morais – R$ 300 mil – e
materiais – R$ 80 mil – contra o Distrito Federal.
O juízo inicial atendeu em parte aos pedidos, condenando a unidade da Federação a indenizar a criança
em R$ 240 mil por danos morais e a pagar pensão vitalícia de dois salários mínimos a partir de quando
completasse 14 anos, além de honorários advocatícios de R$ 10 mil. O Distrito Federal apelou e o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) reduziu o valor da indenização para R$ 100
mil. A corte reconheceu a imprevisibilidade do ocorrido, mas não afastou a conexão de causa e efeito
entre a conduta do hospital público.
O Distrito Federal recorreu, então, ao STJ, alegando inexistência de erro médico, divergência entre a
decisão do TJDFT e a jurisprudência do STJ e a impossibilidade de condenar o estado por fenômenos
imprevisíveis e configuradores de caso fortuito.
Mas o ministro Luiz Fux, da Primeira Turma, esclareceu, em seu voto, que o TJDFT decidiu o caso com
base essencialmente na Constituição Federal (artigo 37, parágrafo 6º), o que impede a análise do
recurso pelo STJ. Em relação à divergência com a jurisprudência do tribunal, o relator afirmou que ela
não ocorre, já que a decisão do STJ apontada pelo Distrito Federal como referência não trata de caso
semelhante, por tratamento médico, mas de fuga e posterior suicídio de doente mental de hospital
psiquiátrico público, por falta de vigilância dos agentes estatais.
Processos: Resp 1099358
Fonte:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=91
964 acessado em 17 de maio de 2009.
ESPECIAL
STJ consolida o direito a indenizações
Com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, do Código de Defesa do Consumidor (CDC), do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ambos de 1990, e do Estatuto do Idoso (2003), foram
definidos diversos direitos para o cidadão brasileiro. A regulamentação na relação com empresas e com
o Estado ampliou consideravelmente a proteção das pessoas e empresas, inclusive o direito de serem
indenizados por danos. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem acompanhado essa evolução do direito
com seus julgados e com a edição de diversas súmulas.
O dano moral, um tema intensamente debatido no Tribunal, já teve várias súmulas publicadas para
regulá-lo, como a 326, que define os honorários de sucumbência em indenizações concedidas em valores
inferiores ao pleiteado. Outra súmula importante, que se alia ao Código Civil de 2002 e aos incisos V e X
da Constituição, é a 227, que definiu que a pessoa jurídica também pode sofrer danos morais. Em julgado
de empresa de alimentos contra a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, a ministra Eliana Calmon
afirmou que muitas vezes a marca e a reputação de uma empresa, o chamado “patrimônio
insubstancial”, vale tanto ou mais quanto seu patrimônio físico.
Outra súmula importante para garantir os direitos da população é a de número 37, que garante que a
indenização por dano moral pode ser cumulada com a de danos materiais. Em voto recente do ministro
aposentado Humberto Gomes de Barros no julgamento de um caso de indenização pela morte de um
parente, foi apontado que, apesar do fato gerador da indenização ser apenas um, os danos causados são
claramente diferentes. Para o ministro, isso leva à clara conclusão que a indenização deve cobrir os
diferentes tipos de dano.
A responsabilidade do Estado com os cidadãos também tem sido um grande destaque em processos com
pedidos de indenização. Dois casos recentes relatados pelo ministro Luiz Fux trataram de alunos que
sofreram dano dentro de estabelecimentos de ensino público. Numa das ações, um dos alunos foi
atingido por uma bola e sofreu perda parcial de audição. No outro, uma aluna morreu ao ser atingida por
uma árvore derrubada por fortes ventos. Indenizações foram concedidas às famílias das vítimas em
ambos os casos. O ministro Fux destacou que é responsabilidade do estado zelar pelo bem estar dos
alunos de ensino público enquanto estes estiveram nas instituições de ensino.
Casos em que agentes públicos causam dano ao cidadão também são constantes na Casa. O ministro
Castro Meira manteve o valor da indenização que o estado do Ceará deve pagar a rapaz que foi obrigado
a assistir ao estupro de sua namorada por dois policiais militares. O ministro considerou que, mesmo
estando fora do horário de serviço, os PMs seriam figuras com autoridade do Estado e que a “torpeza e
brutalidade do crime” justificariam o alto valor da indenização.
A responsabilidade das empresas também – seja por danos diretos, seja por negligência delas – foi
reafirmada por diversas vezes pelos ministros. Uma decisão que gerou grande repercussão foi a
condenação da empresa Schering ao pagamento de uma indenização coletiva de R$ 1 milhão, no caso
das “pílulas de farinha”. Em 1998, diversas mulheres engravidaram depois de terem consumido pílulas de
farinha usadas para testar as máquinas embaladoras de um popular anticoncepcional do laboratório. A
relatora do processo, ministra Nancy Andrighi, apontou que houve uma quebra de expectativa das
consumidoras que tomaram o remédio para se precaver de uma gravidez indesejada e, com base no
CDC, manteve a condenação.
Outro caso julgado pela ministra Andrighi contra a indústria farmacêutica foi a indenização paga aos
usuários do antidepressivo Surverctor. A droga teria sido inicialmente usada para o tratamento da
memória, mas posteriormente sua aplicação foi alterada para o tratamento de depressão. A ministra
considerou que a simples mudança da embalagem e da bula não teria informado suficientemente os
usuários, especialmente porque o princípio ativo do remédio poderia causar dependência. A ministra
considerou como “temerária” a atitude da empresa ao classificar o medicamento como “seguro”.
Os chamados danos ambientais também geraram diversos julgados em que comunidades e municípios
foram ressarcidos. Um exemplo famoso teve como relator o ministro Castro Meira, decidindo que a
Petrobrás deveria indenizar o município de Cubatão pela contaminação do rio que passa em seu
território. A empresa contratou uma construtora para fazer escavações no curso de água para a
passagem de dutos de combustível. Um descuido na obra provocou a contaminação por material
químico tóxico, com conseqüente mortandade de grande quantidade de peixes. O ministro entendeu
que a Petrobrás falhou em fiscalizar as escavações e que, no seu papel de contratante, era co-
responsável na recuperação do rio e das espécies atingidas.
Os ministros do STJ estão constantemente atentos para ajustar o pagamento das indenizações a um
valor compatível ao dano. Uma grande preocupação é evitar o que a mídia chama de “indústria das
indenizações”. Vários critérios são adotados, desde o tipo e a extensão do dano até a disponibilidade
financeira do condenado. O que não pode acontecer é a indenização representar enriquecimento ilícito.
Em um dos seus votos, a ministra Nancy Andrighi destacou a importância do valor adequado da
reparação, afirmando que a indenização não é apenas uma punição contra o causador do dano. É
também uma maneira de restaurar a integridade da vítima.
Coordenadoria de Editoria e Imprensa
Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=89763
acessado em 26 de outubro de 2008.
5. Mensagem
Com a palavra, a grande Banda Titãs, em belíssima letra (e melodia, claro):
Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
(Sérgio Britto)
Com Deus, sempre!
Paz e Luz! O amigo,
Pablo.
Revisado.2012.1.OK. C.D.S.