A Influência Da Musicoterapia No Tratamento de Crianças Com Paralisia Cerebral

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    A INFLUNCIA DA MUSICOTERAPIA NO TRATAMENTO DE CRIANAS

    COM PARALISIA CEREBRAL UM RELATO DE EXPERINCIA

    THE INFLUENCE OF MUSIC THERAPY IN THE TREATMENT OF CHILDREN

    WITH CEREBRAL PALSY - AN EXPERIENCE REPORT

    Douglas Nogueira Santos10, Hrica Correa Leonel de Pontes11, Juliana

    Rodrigues Soares12, Adriana Leite Martins13

    Resumo - A Paralisia Cerebral uma patologia que acomete milhares deindivduos no mundo inteiro e diversas formas de tratamento so estudadosvisando o melhor desenvolvimento dessas crianas. A Musicoterapia surgecomo uma dessas modalidades de tratamento, pois se trata de uma forma deexpresso que desperta interesse nas crianas agindo no Sistema NervosoCentral trazendo benefcios sistmicos, diminuindo a ansiedade, a dor emelhorando sua interao com o fisioterapeuta. Este estudo refere-se a umrelato de experincia clnica aps tratamento fisioteraputico desenvolvidopelos alunos do ltimo ano do curso de Graduao em Fisioterapia dasFaculdades Integradas do Vale do Ribeira associado musicoterapia, realizadoem duas crianas portadoras de paralisia cerebral aps 13 sesses. Os ritmos

    e as classes musicais utilizadas como recurso auxiliar foram selecionados pelofisioterapeuta docente e supervisor. Pode-se observar neste estudo que amusicoterapia facilitou a interao e participao das crianas ao tratamentofacilitando a reabilitao neurolgica.Palavras-chave: musicoterapia, paralisia cerebral, reabilitao

    Abstract - Cerebral palsy is a condition that affects thousands of individualsworldwide and various forms of treatment are studied aiming the bestdevelopment of these children. Music therapy emerges as one of thesetreatment modalities, because it is a form of expression that arouses interest inchildren acting in the central nervous system bringing systemic benefits,

    reducing anxiety, pain and improving their interaction with the physiotherapist.This study refers to a report of clinical experience after physical therapy,

    10Discente em Fisioterapia pela Faculdades Integradas do Vale do Ribeira (FIVR)

    Registro/SP. e-mail: [email protected], http://lattes.cnpq.br/349346983505523911

    Discente em Fisioterapia pela Faculdades Integradas do Vale do Ribeira (FIVR)Registro/SP. e-mail: [email protected],12

    Discente em Fisioterapia pela Faculdades Integradas do Vale do Ribeira (FIVR)Registro/SP. e-mail: [email protected]

    Orientadora e Professora do curso de Fisioterapia na Faculdades Integradas do Vale doRibeira (FIVR) Registro/SP. e-mail: [email protected]

    http://lattes.cnpq.br/8413996964233270

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    developed by students of the final year of Undergraduate PhysiotherapyIntegrated Colleges Ribeira Valley associated with music therapy, performed intwo children with cerebral palsy after 13 sessions. The rhythms and musicalclasses used as an aid were selected by the physiotherapist and teachersupervisor. It can be observed in this study that music therapy facilitatedinteraction and participation of children to treatment facilitating neurologicalrehabilitation.Keywords:music therapy, cerebral palsy, rehabilitation

    _______________________________________________________________

    Introduo

    As doenas neurolgicas so as principais causas tanto de

    incapacidades fsicas quanto de cognitivas no mundo. So vrios os graus de

    comprometimento que vo de uma incapacidade de mover-se a dficits

    intelectuais severos. Dentre esses problemas as que mais acometem crianas

    so as paralisias cerebrais que englobam um conjunto de patologias no

    especificadas ou de difcil diagnstico. Em geral todas apresentaro dficitscognitivos que influenciaro na velocidade com que essa criana ir alcanar o

    desenvolvimento neuropsicomotor (MARANHO, 2005).

    A musicoterapia parte da utilizao de diversos sons e msicas como

    ferramentas de interveno reeducativas e teraputicas. A msica incide no ser

    humano tanto em seus processos fisiolgicos como psicolgicos, j que no

    possvel encontrar a linha divisria entre ambas que esto estreitamente inter-

    relacionadas (PRIETO,1999,p.141). Desta maneira a utilizao damusicoterapia no tratamento de crianas com atraso no desenvolvimento

    neuropsicomotor objetiva facilitar o aprendizado e desenvolvimento atravs da

    interao com a msica.

    Diante do contexto, o presente estudo tem como objetivo demonstrar a

    influncia da musicoterapia na reabilitao neurolgica peditrica, bem como,

    demonstrar os efeitos da msica sobre a criana com alguma deficincia,

    atravs de observaes provenientes do atendimento em pacientes com

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    paralisia cerebral em estgio curricular obrigatrio em Fisioterapia Peditrica do

    curso de Graduao em Fisioterapia das Faculdades Integradas do Vale do

    Ribeira FVR UNISEPE em que foi utilizado msica no tratamento

    fisioteraputico.

    Desenvolvimento

    Para Maranho (2005), a Paralisia Cerebral (PC) uma doena no

    progressiva que compromete os movimentos e a postura. Apresenta mltiplas

    etiologias, que resultam em leso do Sistema Nervoso Central (SNC). Elasocorrem em estgios iniciais do desenvolvimento do encfalo, levando a um

    comprometimento motor da criana. O quadro clnico varia amplamente desde

    uma leve monoplegia com capacidade intelectual normal at espasticidade

    intensa de todo o corpo associada a retardo mental.

    Crianas com PC, muitas vezes, podem desenvolver fraqueza muscular,

    dificuldades no controle entre as musculaturas agonista e antagonista, restrio

    da amplitude de movimento, alteraes de tnus e de sensibilidade, que podemlimitar a participao das mesmas em diferentes ambientes, incluindo domiciliar

    e escolar. Existem diversos elementos que limitam a aquisio motora na

    criana com paralisia cerebral, todos estes podem atuar em conjunto

    determinando esta limitao. Incluem aqui elementos como a motivao do

    paciente, a influncia dos familiares, alm da rea e extenso da leso.

    (MELLO, 2012).

    A neuroplasticidade capacidade que o sistema nervoso tem de seorganizar frente a algum acontecimento novo criando atravs da repetio o

    aprendizado de uma nova tarefa. Um paciente com bom nvel cognitivo poder

    realizar uma determinada tarefa com maior facilidade que um paciente com um

    nvel cognitivo baixo. Segundo Oliveira et al (2000), o nvel cognitivo do

    paciente neurolgico importante no processo teraputico e este pode ou no

    estar afetado pela leso. Certamente, os indivduos com menor dficit

    cognitivo, respondem de maneira mais adequada terapia, por manterem sua

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    esfera de funcionamento intelectual preservada. A cognio tambm pode ser

    usada como tcnica teraputica. Por exemplo, a prtica mental de uma

    habilidade fsica tem sido utilizada para facilitar o desempenho de uma rotina j

    aprendida e para a aquisio de uma habilidade motora.

    Com isso um dficit cognitivo poder ser determinante para o

    desenvolvimento fsico do paciente com paralisia cerebral, que a partir de seu

    entendimento poder tentar realizar as tarefas e exerccios determinados pelo

    fisioterapeuta. Para Maranho (2005), o retardo mental est presente em

    aproximadamente dois teros dos pacientes com PC podendo em outros

    ocorrer deficincia de aprendizado. Alteraes de ateno so especialmentecomuns em crianas sem retardo mental, enquanto algumas com deficincia

    intelectual, ocasionalmente, sofrem alteraes do comportamento. Quanto

    maior for a capacidade de entendimento do paciente, maior poder ser seu

    desenvolvimento.

    A fisioterapia tem como objetivo a inibio da atividade reflexa anormal

    para normalizar o tnus muscular e facilitar o movimento normal, com isso

    haver uma melhora da fora, da flexibilidade, da amplitude de movimento, dospadres de movimento e, em geral, das capacidades motoras bsicas para a

    mobilidade funcional. As metas de um programa de reabilitao so reduzir a

    incapacidade e otimizar a funo, assim a fisioterapia constitui uma modalidade

    de tratamento indispensvel na recuperao de pacientes com Paralisia

    Cerebral. (LEITE, 2004).

    A musicoterapia utiliza a msica e/ou seus elementos musicais (som,

    ritmo, melodia e harmonia) produzidos pelo musicoterapeuta, em um processoestruturado com o intuito de facilitar e promover a comunicao, o

    relacionamento, a aprendizagem, a mobilizao, a expresso e a organizao

    (fsica, emocional, mental, social e cognitiva). Desse modo, possvel

    desenvolver potencialidades e/ ou recuperar funes do indivduo de forma que

    ele alcance melhor integrao interpessoal e, consequentemente, conquiste

    melhor qualidade de vida. Pode, ainda, ser definida como a utilizao da

    msica de forma cientfica com objetivos teraputicos voltados para a

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    preveno e/ou a restaurao da sade fsica, mental e emocional

    (BRADSHAWET, 2012).

    Segundo Hatem et al (2006), a ao da msica na funo autonmica

    causa uma estimulao da pituitria, resultando na liberao de endorfina

    (opiide natural), diminuindo a dor e levando os pacientes que recebem

    musicoterapia reduzirem potencialmente a necessidade de analgsicos. Parece

    ocorrer tambm uma diminuio da liberao de catecolaminas, o que poderia

    explicar a reduo na frequncia cardaca (FC) e na presso arterial (PA).

    Outro fenmeno bastante importante nesta retomada da ao musical na

    sade a ansiedade. Ela ocorre de 70 a 87% de pacientes internados emunidades de terapia intensiva (UTI) ou submetidos a qualquer tipo de

    tratamento constante e comumente associada com agentes estressantes,

    como o estado de doena e a hospitalizao, alm de ser aumentada

    significativamente se relacionada ao prprio indivduo e no que concerne aos

    agravos do corao. Assim, sabe-se que a musicoterapia alivia alm da dor de

    causa fsica, a dor de causa emocional agindo em parmetros hemodinmicos,

    como FC, PA, temperatura, que facilitam o relaxamento do paciente comregularizao do ritmo respiratrio, relaxamento muscular e melhora do sono.

    Ainda sim, a msica traz efeitos favorveis em diferentes situaes

    clnicas, influenciando variaes fisiolgicas e variaes dos parmetros

    bioqumicos, assim como, alteraes na sade emocional e sensibilidade dor

    (ZANINI, 2009). Em seu estudo com pacientes com danos cerebrais, Rojas

    (2011), relata que o processamento da msica modular. Ao escutar uma

    cano se gera um input acstico (entrada acstica), que corresponde asaferencias rtmicas, tonais, lricas, etc., prprias de uma cano. Este input

    acstico ingressa em nosso crebro por via sensorial, para ser processado por

    um mdulo geral de anlise musical. Os principais elementos desta anlise se

    realizam mediante mdulos especficos.

    Alguns estudos realizados mediante tomografia e ressonncia magntica

    cerebral funcional evidenciam que mltiplas regies subcorticais incluindo o

    ncleo accumbens, a rea tegmental ventral (ATV) e o hipotlamo se ativam ao

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    escutar passivamente msica. Outras regies corticais involucradas no

    processamento emocional musical so o crtex orbitofrontal, o crtex cingular

    anterior e a nsula. De grande importncia para a compreenso do efeito

    ansioltico da musicoterapia so as vias mesolmbicas dopaminrgicas, que

    nascem na ATV e se projetam at o ncleo accumbens. A liberao de

    dopamina neste nvel gera respostas de reforo positivo e recompensa, tal e

    como foi evidenciado na fisiopatologia das condutas aditivas e do consumo de

    substncias psicoativas. A estimulao do ncleo accumbens tambm gera

    respostas hednicas, mediadas por opiides endgenos, agindo no controle da

    dor. De modo geral, a msica age diretamente sobre o SNC beneficiando oorganismo de forma geral, trazendo benefcios fisiolgicos sistmicos e

    emocionais.

    Relato de experincia

    Foram registradas neste estudo as observaes feitas durante o estgio

    curricular supervisionado na rea de Neurologia Peditrica realizados por

    acadmicos do ltimo perodo do curso de Fisioterapia das Faculdades

    Integradas do Vale do Ribeira FVR UNISEPE, situada no Municpio de

    Registro/SP nos moldes estabelecidos pelo convnio firmado entre a mesma e

    a Associao de Pais e Amigos de Excepcionais - APAE do Municpio de Sete

    Barras/SP. O estgio curricular supervisionado uma atividade que permite a

    aplicao dos conhecimentos tericos por meio da vivncia em situaes reaisdo exerccio da profisso, tendo uma complementao do ensino e da

    aprendizagem. O estgio fornece a oportunidade necessria para que se

    adquira a segurana para atender o paciente de maneira adequada,

    aprendendo a cada dia a se portar com tica e profissionalismo, a ter

    discernimento diante de situaes que no eram esperadas, e se tornar um

    profissional apto para atender pacientes neurolgicos.

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    O estgio em Fisioterapia Peditrica consiste na avaliao e no

    tratamento especfico de pacientes peditricos portadores de doenas e

    disfunes neurolgicas visando uma melhora do seu quadro clnico e

    qualidade de vida de acordo com suas necessidades. Os atendimentos foram

    realizados nos perodos de 06 de maro a 26 de abril de 2012, s teras e

    quintas-feiras das 8:00hs s 12:00hs sob superviso docente. Cada sesso

    tinha durao mdia de uma hora e foram realizadas duas vezes por semana,

    totalizando ao final do tratamento 13 sesses em cada paciente.

    As observaes dos efeitos da musicoterapia foram realizadas em duas

    crianas atendidas nesse servio. As duas com diagnstico clnico de ParalisiaCerebral (PC). G. G. F., 7 anos, com diagnstico fisioteraputico de diparesia

    espstica e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com as seguintes

    caractersticas clnicas: alterao de tnus sendo classificado como

    coreoatetose, presena reflexo patolgico RTL (reflexo tnico labirntico),

    reflexos primitivos como Reao Positiva de Suporte e Reao de Marcha

    Automtica, encurtamento muscular de flexores de cotovelo, trceps sural e

    isquiotibiais bilateralmente, escoliose em C (traco-lombar) com concavidade direita, controle de tronco parcial, dificuldade nos movimentos de pina e

    coordenao motora fina. Pelas caractersticas clnicas essa criana apresenta

    idade motora de aproximadamente sete meses. Alm do paciente T. C. G., 8

    anos, com diagnstico fisioteraputico de tetraparesia e atraso no

    desenvolvimento neuropsicomotor apresenta caractersticas clnicas como:

    alterao de tnus sendo classificado como coreoatetose, apresentando o

    reflexo patolgico RTCS (reflexo tnico cervical simtrico), reflexos primitivosem idade inapropriada como RTCA (reflexo tnico cervical assimtrico),

    encurtamento de trceps sural, extensores de punho, abdutores de ombro e

    flexores de ombro bilateralmente. Escoliose em S (traco-lombar) com

    gibosidade direita, subluxao de cotovelo bilateralmente, hipotrofia e dficit

    de fora muscular generalizada, controle parcial de cabea e nenhum controle

    de tronco. As reaes de proteo com os membros superiores, de equilbrio e

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    endireitamento esto ausentes. Pelas caractersticas clnicas essa criana

    possui idade motora de aproximadamente trs meses.

    O tratamento fisioteraputico proposto envolveu alongamentos e

    mobilizaes articulares para minimizar encurtamentos e prevenir

    deformidades, adequao de tnus muscular, exerccios ativos para melhorar

    fora muscular e controle motor, treino de equilbrio e das reaes de proteo

    e endireitamento, exerccios de correo postural e posicionamento para

    minimizar o grau de escoliose e estimulao das fases do desenvolvimento

    motor normal. Nas duas primeiras sesses no foi utilizado nenhum recurso

    ldico musical. Observou que T. C. G., no respondia aos estmulosapresentando apenas choros durante a sesso. G. G. F., era mais ativo, mas

    no colaborava com a terapia e chamava pelo pai durante o atendimento. Aps

    a 3 sesso durante os atendimentos foi implantado o recurso da

    musicoterapia. Inicialmente foram oferecidas msicas de diversos ritmos e

    classes musicais e foi observado dentre essas, quais eram as preferidas de

    cada criana. Essa preferncia foi observada atravs das respostas motoras

    corporais e faciais que ficavam mais evidentes durante a msica que elas maisgostavam. A partir disso, em todas as sesses foi utilizado o recurso da

    musicoterapia durante os atendimentos. Apesar do uso da msica como um

    recurso auxiliar no processo de reabilitao, a elaborao do tratamento, bem

    como a seleo dos ritmos e classes musicais foi realizada apenas pelo

    fisioterapeuta docente e supervisor de estgio e no contamos com as

    orientaes de um profissional Musicoterapeuta em funo da instituio onde

    foi desenvolvida esta atividade, no possuir este profissional em sua equipe.Com a utilizao da msica atravs do uso de um aparelho de som foi

    possvel estimular as crianas a atingirem alguns objetivos propostos no

    tratamento como retificao cervical, controle de tronco, lateralizao da

    cabea, preenso palmar, buscar objeto com olhos e com as mos, entre

    outros. Atravs da msica foram inseridas propostas de exerccios que

    contemplavam os objetivos teraputicos. G. G. F., passou a se comportar

    melhor e colaborar com o tratamento, obedecendo nossos comandos e

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    interagindo mais. T. C. G., ficou mais calma durante a sesso, diminuindo

    choro e algumas vezes mais atenta a terapia, percebemos que diversas vezes

    a mesma procurava o som do aparelho com os olhos.

    Ao final do tratamento proposto os responsveis legais pelas crianas

    atendidas assinaram uma autorizao para a divulgao dos resultados deste

    relato de experincia.

    Resultados e discusso

    Os resultados deste relato de experincia demonstraram que amusicoterapia realmente interfere na reabilitao peditrica, assim como

    descrito por Cortet al (2008),a msica pode ter efeitos benficos nos mais

    variados casos patolgicos. A msica se apresenta como uma importante

    ferramenta no que diz respeito ao tratamento da dor, assim como foi observado

    com um dos nossos pacientes em que houve uma grande diminuio no choro

    durante a execuo dos exerccios de alongamento muscular, em concordncia

    Hatem e Mattos(2006)relatam em seus estudos, que a musicoterapia promoveuma diminuio da percepo da dor. O outro paciente se mostrava agitado e

    pouco colaborativo at a implementao da msica. Para Zaniniet al (2008),a

    msica age num processo para facilitar e promover a comunicao, relao,

    aprendizagem, mobilizao, expresso, organizao, razes que poderiam

    explicar a mudana de comportamento dessa criana.

    Nesse relato de experincia observou-se que com o uso da msica as

    crianas se tornaram mais tranquilas o que explicado por Rojas(2011),querelata que a msica uma ferramenta til para reduzir a resposta fisiolgica ao

    stress e aos nveis de ansiedade. Observou-se tambm a melhora da

    comunicao de um dos pacientes que se limitava a pronunciar poucas

    palavras e que aps o recurso da musicoterapia comeou a cantar trechos da

    msica, resultados concomitantes ao descrito no estudo de Perez e Remn

    (2011), que observou que com a musicoterapia os sujeitos da sua pesquisa

    comearam a apresentar um vocabulrio mais amplo, menos dificuldade para a

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    pronunciao de fonemas, melhor integrao das palavras para formar oraes

    e expressar desejos.

    Ainda, para Rojas (2011), h evidncias atuais que nos permitem

    compreender que a msica gera mudanas genticas, bioqumicas, estruturais

    e funcionais a escala cerebral, que se transmitem ao resto do corpo ao

    modificar variveis fisiolgicas como a frequncia cardaca, frequncia

    respiratria e presso arterial. Segundo Borella e Sacchelli (2008), a

    plasticidade cerebral que o aprendizado de determinada atividade ou

    somente a prtica da mesma, desde que no seja simples repetio de

    movimentos, induza mudanas plsticas e dinmicas do Sistema NervosoCentral (SNC). Isto porque o treinamento motor pode promover neurognese,

    sinaptognese, angiognese, modulao pr e ps-sinptica entre outros, e

    todos esses podem contribuir para resultados positivos na recuperao em

    resposta a esse treinamento, tais alteraes beneficiam a plasticidade cerebral

    e potencializam as chances de recuperao dessas crianas.

    Para Perez e Remn (2011), a msica tem um efeito positivo sobre o

    sistema nervoso, ao ativar as vias neurolgicas que resultam em uma melhorada capacidade intelectual e a aprendizagem melhorando tambm a aquisio

    de conhecimentos, habilidades e capacidades de forma mais amena, em

    concordncia com este estudo, nossos resultados demonstraram que as

    crianas participaram mais ativamente do tratamento e alcanaram com mais

    facilidade os objetivos teraputicos propostos demonstrando uma melhora nos

    itens abordados acima.

    Consideraes finais

    Os achados desde relato de experincia demonstram que a msica

    exerce efeitos favorveis sobre a reabilitao neurolgica em crianas com

    paralisia cerebral. Foram encontrados efeitos diversos da msica sobre o SNC

    tais como, a diminuio da ansiedade, melhora do relacionamento

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    fisioterapeuta-paciente, maior interao do paciente ao tratamento, melhora na

    conquista dos objetivos teraputicos, melhora na aprendizagem de tarefas e na

    fala do paciente. Todos esses resultados se mostram favorveis ao uso da

    msica como modalidade de tratamento sendo uma atividade de baixo custo e

    de fcil manuseio que acaba por trazer uma diversidade de benefcios fsicos e

    fisiolgicos para os pacientes com paralisia cerebral. No entanto, novas

    pesquisas se tornam necessrias para aumentar a confiabilidade do estudo e

    adquirir mais conhecimentos relacionados rea.

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    Recebido em: 14/09/2013Aprovado em: 05/11/2013