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Espírito Santo Novembro de 2010 Kellyman Prata da Paschoa A Informática Educativa na Rede Municipal de Jerônimo Monteiro-ES Keila Nunes Valente

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Espírito Santo

Novembro de 2010

Kellyman Prata da Paschoa

A Informática Educativa na Rede Municipal de

Jerônimo Monteiro-ES

Keila Nunes Valente

Kellyman Prata da Paschoa

A Informática Educativa na Rede Municipal de Jerônimo

Monteiro-ES

Trabalho de conclusão de curso apresentado

à Coordenação do Curso de Especialização

Tecnologias em Educação como requisito

parcial para obtenção de título de

Especialista em Tecnologias em Educação

Orientadora

Profª. Ms. Keila Nunes Valente

Coordenação Central de Educação a Distância

Curso de Especialização Tecnologias em Educação

Jerônimo Monteiro

Novembro de 2010

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem

autorização do autor, do orientador e da universidade.

Kellyman Prata da Paschoa

Graduou-se em Pedagogia na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES.

Cursou Psicopedagogia Clínica e Institucional; Gestão Educacional; Alfabetização

e Letramento nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e

Adultos; Literatura, Cultura e Arte na Educação; Gestão Integrada, todas

Especializações Lato Sensu. Foi professora e Pedagoga nas redes públicas

Estadual e Municipal; Privada, prestou serviços de Assessoria Educacional no

setor público administrativo e privado nos anos de 2007 a 2009. Atua atualmente

na rede pública de ensino; é aluna da UFES, em Filosofia e Psicanálise e da

UNESP em Atendimento Educacional Especializado.

Dedicatória

Aos meus filhos, André, Gabriel e Alexandre, por me ensinarem o verdadeiro

significado do amor.

Ao meu esposo e companheiro, André, pelo incentivo, admiração e por

compartilhar comigo das horas infindáveis de estudo.

Aos meus irmãos, Luciana e José Paulo, por tornarem a minha vida de irmã mais

velha tão fácil e tão gostosa.

Agradecimentos

Este trabalho é o resultado de muitas influências e aprendizagens, as quais

iniciaram através de minha maravilhosa mãe, Sandra Prata, que por sua vida e

profissionalismo me tornou forte, segura, corajosa e me apresentou ao mundo

mágico dos livros quando eu tinha apenas cinco anos. Passadas mais de três

décadas ainda me vejo “apaixonada”.

A Deus, porque em tudo está presente em minha vida.

À minha queridíssima mediadora, Professora Luciana do Amaral Teixeira, pelo

incentivo e por compartilhar comigo seus conhecimentos. Nessa reta final em que

tudo apontava para o desespero, você me passou a tranquilidade necessária para ir

em frente!

À ex-Secretária Municipal de Educação, Nádia Maria Rampe Reis, por me

oportunizar fazer esse curso.

À minha orientadora, Keila Nunes Valente, por sua impecável orientação e por me

ensinar que “o caminho se faz ao caminhar”.

À minha prima Carmem Lúcia Prata (Camú), por compartilhar a sua pesquisa

sobre o ProInfo no Espírito Santo, comigo.

Aos meus colegas e amigos de curso, por terem possibilitado uma troca tão

especial em todos esses meses. Vocês foram muito importantes nessa jornada!

Aos Professores das Escolas Municipais que participaram da pesquisa de forma

tão predisposta.

Resumo

O uso pedagógico das mídias representa uma realidade cada vez mais presente nas

escolas públicas, sendo a Informática Educativa a ocupante de destaque no contexto da

educação municipal de Jerônimo Monteiro-ES. Escolas, educadores e educandos

vivenciaram práticas pedagógicas diferenciadas a partir da presença do computador, cuja

trajetória foi feita de maneira bastante peculiar, cabendo, portanto, a reflexão sobre os

elementos que possibilitaram a construção de uma prática pedagógica inovadora a partir

dessa utilização. Dentre os resultados constantes nesta pesquisa, apresento o contexto

atual caracterizado pelo esmorecimento do processo de integração das mídias à prática

pedagógica como decorrente da ausência do engajamento dos atores envolvidos,

criatividade e o desenvolvimento de projetos em parceria com a comunidade local. A

presente pesquisa baseou-se no relato de experiência e na pesquisa qualitativa junto aos

professores de duas escolas municipais de ensino fundamental de Jerônimo Monteiro,

interior do Espírito Santo.

Palavras-chave:

1. Educação. 2. Informática. 3. Computador. 4. Mídias. 5. Aprendizagem.

SUMÁRIO

Lista de Acrônimos

Lista de Figuras

Lista de Gráficos

Introdução......................................................................................................... 10

Capítulo I – Laboratório de Informática: inovação e ação........................... 12

Capítulo II – Formação e Utilização das TICs: reprodução, desafios e

perspectivas....................................................................................................... 25

2.1 A preparação do profissional para a utilização das mídias........ 28

Considerações Finais........................................................................................ 36

Referências Bibliográficas............................................................................... 38

Apêndice............................................................................................................ 40

Lista de Acrônimos

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

ProInfo – Programa Nacional de Informática na Educação

ES – Espírito Santo

LIED – Laboratório de Informática Educacional

PP – Proposta Pedagógica

PPP – Projeto Político-Pedagógico

EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental

EEEFM – Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio

SEME – Secretaria Municipal de Educação

SEAGJEM – Seminário Agropecuário de Jerônimo Monteiro

SEMA - Secretaria Municipal de Agricultura

IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

MEC – Ministério da Educação

SEED - Secretaria de Educação a Distância

PAR – Plano de Ações Articuladas

Lista de Figuras

Figura 1 – Laboratório de Informática da EMEF “Nicolau Borges”............... 16

Figura 2 – Modelo de Aula feita no Programa Power Point............................ 18

Figura 3 – Jogo da Memória “Blocos” (arquivo.exe)...................................... 20

Figura 4 – Pesquisa de Campo feita pelos alunos – SEAGJEM (2003).......... 22

Lista de Gráficos

Gráfico 1 – Preparo dos Professores das EMEFs “Nicolau Borges” e “André

Altoé” para o uso de mídias na prática pedagógica............................................ 29

Gráfico 2 – Frequência com que os Professores das EMEFs “Nicolau Borges”

e “André Altoé” utilizam algum tipo de mídia na prática pedagógica............... 30

Gráfico 3 – Principais dificuldades apontadas pelos Professores das EMEFs

“Nicolau Borges” e “André Altoé” para o uso pedagógico das mídias na

Prática pedagógica.............................................................................................. 33

Gráfico 4 – Reconhecimento da importância da integração das mídias à prática

pedagógica para a aprendizagem....................................................................... .34

Introdução

O uso pedagógico das mídias representa uma realidade cada vez mais

presente, tanto nas escolas públicas quanto privadas, sendo a Informática

Educativa a ocupante de destaque nesse contexto. Escolas, educadores e

educandos têm vivenciado práticas diferenciadas a partir da presença do

computador na escola, quer seja no processo de gestão administrativa, no ensino e

aprendizagem ou na formação/capacitação em serviço.

As mudanças advindas da evolução das Tecnologias da Informação e

Comunicação (TICs) vêm promovendo mudanças significativas na educação

brasileira, em especial com a presença do computador como

ferramenta/instrumento visto como indispensável para o processo educativo.

Com a implantação do Programa Nacional de Informática na Educação –

ProInfo, o município de Jerônimo Monteiro, no Estado do Espírito Santo, passou

a figurar no cenário da educação pública nacional, cujas escolas estadual e

municipais, puderam [re] definir suas práticas pedagógicas a partir de uma

perspectiva mais moderna, onde algumas experiências de aprendizagem

resultaram em práticas inovadoras e producentes.

No entanto, o uso da informática na educação Jeronimense não se limita a

uma discussão conceitual, mas a um debate que parte da realidade existente como

resultado dos rumos dados por seus sujeitos desde a implantação dos Laboratórios

de Informática Educacional (LIEDs) no final da década de 90. Conhecer essa

trajetória, bem como analisá-la sob seus diversos aspectos, pode sinalizar algumas

possibilidades de utilização das mídias no contexto escolar atual.

Que elementos constituem uma prática pedagógica inovadora a partir da

utilização das mídias no contexto educativo? Qual o impacto da implantação da

Informática Educacional nas escolas municipais de Jerônimo Monteiro-ES para

educadores e educandos? Como tem sido essa utilização atualmente? As escolas,

através de seus educadores, têm direcionado o uso do computador a uma prática

que possibilita ao educando procurar respostas e se apropriar dos conceitos?

Portanto, o objetivo deste estudo é refletir sobre os elementos que, a meu

ver, possibilitaram a construção de uma prática pedagógica inovadora a partir da

11

utilização das mídias no contexto educativo analisado, assim como aqueles que

dificultaram sua continuidade.

O presente estudo foi realizado em dois momentos distintos, sendo o

primeiro a partir da metodologia de relato de experiência vivida nas Escolas

Municipais de Ensino Fundamental “Nicolau Borges” e “André Altoé” que, ao

descrever a trajetória do uso das mídias, sobretudo o computador no contexto

educacional municipal entre 1999 e 2010, pretende-se “responder” aos

questionamentos levantados.

O segundo momento visa demonstrar essa utilização no contexto atual,

através de uma abordagem qualitativa, pautada no método indutivo que busca a

interpretação e descoberta dos fatos e valores relacionados, considerando todos os

aspectos e componentes da situação, as interações, aceitabilidade e reciprocidade

dos sujeitos envolvidos (MINAYO, 2004).

A coleta de dados, para o segundo momento, foi feita por meio de um

questionário1 semi-estruturado, com questões fechadas

2 e dicotômicas

3 realizada

de forma exploratória que, segundo Mattar (2000), visa prover o pesquisador de

maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. O

tratamento desses mesmos dados foi feito a partir de uma análise específica das

práticas pedagógicas dos docentes.

A população da amostra foi composta por um grupo de professores das

Escolas Municipais de Ensino Fundamental “Nicolau Borges” e “André Altoé”,

em um total de 35 (trinta e cinco) educadores que participaram da pesquisa no

período de 16 de março a 18 de maio de 2010.

Como educadora e participante dessa história, portanto ligada às

experiências e vivências do período apontado, é inegável a relevância da pesquisa

como forma ímpar de traçar caminhos futuros baseando-se naqueles já

percorridos. Diante das mudanças socioculturais decorrentes dos avanços

tecnológicos, uma exigência emerge para que pessoas adquiram novas

competências e conhecimentos para solucionar problemas. Assim, nos deparamos

com novas demandas sociais, as quais a escola não pode desconsiderar.

1 Consta em anexo 2 Questões fechadas são aquelas que só permitem a escolha de uma resposta, onde o participante só pode

marcar uma única opção. 3 Na questão dicotômica, a pessoa escolhe a reposta num conjunto de duas opções, “sim” ou “não”. Segundo MATTAR (1996) dentre as vantagens, elas são de rápido preenchimento, fácil tabulação e análise dos dados.

12

CAPÍTULO I

Laboratório de Informática: inovação e ação

Criar meu web site

Fazer minha home-page

Com quantos gigabytes

Se faz uma jangada

Um barco que veleja ...

Que veleje nesse informar

Que aproveite a vazante da infomaré

Que leve um oriki do meu orixá

Ao porto de um disquete de um micro em Taipé

Um barco que veleje nesse infomar

Que aproveite a vazante da infomaré

Que leve meu e-mail até Calcutá

Depois de um hot-link

Num site de Helsinque

Para abastecer

Eu quero entrar na rede

Promover um debate

Juntar via Internet

Um grupo de tietes de Connecticut

De Connecticut de acessar

O chefe da Mac Milícia de Milão

Um hacker mafioso acaba de soltar

Um vírus para atacar os programas no Japão

Eu quero entrar na rede para contatar

Os lares do Nepal,os bares do Gabão

Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular

Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar...

Gilberto Gil

O mundo está em constante processo de mudança com uma velocidade

nunca vista no que se refere à evolução das TICs. Da descoberta do fogo à

Internet, o homem sempre buscou formas de facilitar a sua vida e superar as

dificuldades através da criação de tecnologias dos mais diversos tipos e graus de

complexidade. Porém, nas últimas décadas, as mudanças têm sido mais evidentes

na forma como nos informamos, nos comunicamos, agregando saberes diversos e

novas formas de pensar, sentir e de se relacionar/interagir. Os reflexos dessas

mudanças, invariavelmente, estão presentes na educação e não podem ser

desconsiderados em sua importância para a aprendizagem.

As tecnologias analógicas, segundo Aparici (2006 in Revista Dossiê, 2008,

p.15) “como a imprensa, a edição de jornais, de livros, o rádio, a fotografia, o

13

cinema, a TV, prepararam a sociedade da informação”, porém, é no viés dessa

evolução que as tecnologias digitais – as chamadas „novas TIC‟s – vêm gerando

as mudanças mais substanciais na sociedade.

Os ambientes de aprendizagem deixaram de ser essencialmente físicos, o

livro tornou-se, também, virtual, a comunicação, instantânea, o mundo,

interligado. A evolução tecnológica vem abrindo novas perspectivas para a

educação, criando possibilidades diferenciadas de uma aprendizagem qualitativa e

na formação de cidadãos aptos a solucionar problemas. Nessa perspectiva, fica

ainda mais evidente o papel a ser desempenhado pela escola: não apenas no

desenvolvimento de habilidades e competências digitais específicas para utilizar

esses recursos em seu dia a dia, mas no preparo do indivíduo para construir seus

conhecimentos, efetivamente, a partir da integração desses recursos midiáticos às

situações de aprendizagem que vivencia.

A educação, balizada nos Quatro Pilares4 de Delors (1999), considera as

TIC‟s como meios para facilitar o acesso do aluno à informação de modo que

possa tornar-se um sujeito ativo de seu próprio conhecimento contextualizado,

significativo e não apenas um repositório de informações como um banco de

dados. Para tanto, a educação tem sido palco de inúmeras reflexões e discussões,

onde algumas políticas públicas têm se voltado à necessidade de mudanças no

processo de organização escolar (nos currículos, métodos, critérios avaliativos e

na prática docente) como forma de garantir as condições mínimas necessárias para

iniciar o movimento de transformação da educação na sociedade moderna.

Em se tratando das redes estadual e municipal de ensino em Jerônimo

Monteiro-ES, as diferenças sempre foram visíveis, tanto em relação ao

quantitativo de alunos e profissionais, quanto ao alcance das políticas públicas

educacionais.

O primeiro LIED chegou ao município na rede estadual, na Escola

Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) “Jerônimo Monteiro”, em

1998, como parte do ProInfo Nacional, em observância aos critérios e diretrizes

do ProInfo Estadual. Cabe ressaltar que a referida escola foi uma das primeiras a

ser contemplada pelo programa no Estado. Na ocasião o LIED não tinha acesso à

4 Jacques Delors coordenou a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, (1999), resultando

no Relatório para a UNESCO onde estão descritos os Quatro Pilares da Educação do século XXI: Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Viver Juntos e Aprender a Ser.

14

Internet e somente em 2000 foi concedido outro laboratório com dez

microcomputadores e um link dedicado com conexão à Internet de 64 kbps, em

parceria com a empresa de telefonia fixa TELEMAR, como parte de um projeto-

piloto5 (PRATA, 2005).

Considerando que o ProInfo foi implantado na rede pública de educação

básica em 19976, inicialmente nas redes estaduais de ensino, é possível imaginar o

quanto a chegada do computador como ferramenta pedagógica a ser partilhada por

educadores e educandos foi impactante para as escolas. O que hoje pode parecer

tão comum, há mais de uma década atrás era uma novidade no mínimo

surpreendente, uma realidade diferente para todos.

Segundo o Relatório Preliminar do ProInfo (2002), em quase cinco anos de

execução do programa 2.881 escolas em todo o Brasil foram beneficiadas, sendo a

maior parte delas pertencente à região Sudeste (1.931) e cerca de 1.419

professores multiplicadores foram capacitados em todo o país, alcançando um

quantitativo “de 20.905 professores das escolas envolvidas no Programa”

(BRASIL, 2002, p.16).

O programa representou um diferencial quer seja pelas funcionalidades do

computador, quer seja pela capacidade de interação com a máquina,

diferentemente da TV que pressupõe a receptividade passiva de informação por

parte do aluno. O ponto mais destacável entre as TICs na educação é como o

computador – Informática Educacional – promoveu mudanças nas concepções do

ensino brasileiro.

Um dos princípios apontados como fundamento do ProInfo (1997), é a

necessidade de a educação promover uma formação voltada ao desenvolvimento

da autonomia, da capacidade de resolver problemas com criatividade.

[...] outras também estão sendo requeridas como flexibilidade, criticidade,

mudanças de valores, visão de totalidade, integradas à formação de

competências cognitivas e sociais da população no sentido de preparar o

indivíduo para uma nova cidadania, para que seja membro de uma cultura

moderna, capaz de integrar um sistema produtivo, ser um consumidor consciente,

para que tome posse de informações presentes no mundo e que afetam a sua vida

como cidadão ou cidadã (BRASIL/SEED, 1997, p.4).

5 O Projeto TELEMAR na Educação foi criado em 2000 com o objetivo de desenvolver atividades

pedagógicas com os alunos a partir da utilização de recursos tecnológicos com ênfase nos projetos à distância

envolvendo a interação entre escolas. Vide <http://www.proinfo.es.gov.br/paginanova/telemar/index.htm> 6 O Programa foi criado através da Portaria Ministerial nº 522, de 9 de abril de 1997.

15

Não se deve esperar que o computador se torne responsável pela melhoria

da qualidade no processo educativo, principalmente se o processo de ensino e

aprendizagem permanecer inalterado, mantendo o aluno na posição de receptor de

informações advindas da máquina.

O computador e seus recursos devem propiciar uma aprendizagem mais

dinâmica, onde o aluno o utiliza como ferramenta de busca, de interação,

articulando as informações com as suas situações concretas e vivenciadas no dia a

dia. Nessa perspectiva, a introdução desse importante recurso no fazer pedagógico

do professor passa a ampliar as possibilidades do aluno na descoberta, na

ressignificação de saberes, de concepções, tornando a prática educativa mais

interessante e estimuladora.

O computador - como ferramenta de uso pedagógico - representa, ainda, a

possibilidade de uma aprendizagem inter e multidisciplinar; correção de fluxo e

dos índices de repetência e evasão, desenvolvimento de habilidades de leitura e

escrita; de compreensão de conceitos abstratos; facilita a solução de problemas;

permite uma utilização mais intensa de informação de diversas fontes; favorece o

trabalho em grupo/equipe; permite o acesso à tecnologia por alunos de classes

sócio-econômicas menos favorecidas e torna possível o desenvolvimento

profissional e a valorização do professor através de cursos de formação e

capacitação (BRASIL, 1997).

Analisando o perfil municipal atual, pode-se descrever Jerônimo Monteiro

como um município interiorano localizado ao sul do ES, com uma população de

11.235 hab.7, cuja economia está centrada na agropecuária. Na rede municipal de

ensino o primeiro laboratório chegou em 1999, não por atendimento do ProInfo e

sim, por iniciativa da administração pública através da Secretaria Municipal de

Educação – SEME, em parceria com uma empresa privada do ramo de

informática educacional. A SEME não dispunha de recursos financeiros para a

aquisição dos equipamentos e tampouco havia previsão de atendimento de outra

forma. Optou-se, portanto, pela terceirização dos serviços de informática

educacional através de locação de equipamentos e suporte técnico-pedagógico.

Sem dúvida era uma iniciativa impactante e que marcava o início de uma nova

7 Dados do Censo 2009, IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

16

época para a educação municipal, sobrevinda do princípio de que a informática

educacional era uma das “chaves” capaz de abrir algumas portas na formação de

um indivíduo apto a atuar em um mundo moderno, exatamente como o próximo

século sugeria.

A escola, incumbida de formar as novas gerações para um novo tempo, não pode

ficar à margem dos avanços colocados à disposição pelas descobertas da ciência.

O educador, agente fundamental do trabalho de escolarização, necessita atualizar-

se de modo a dominar esses novos recursos (SILVA, 2000 in SANTOS, 2003,

p.11).

Esse laboratório foi instalado na EMEF “Nicolau Borges”, como um piloto

da rede. Eram dez micros para uso do aluno, um microcomputador que funcionava

como servidor (para distribuição de arquivos), todos interligados por meio de rede

física, TV de 29” (que funcionava como o monitor do professor nas explicações,

conectado a um aparelho decodificador), uma impressora colorida jato de tinta

(para impressão de matrizes, disponível para os professores), uma impressora

matricial (para impressão de atividades complementares para os alunos), um

scanner e uma câmera digital.

Figura 1 – Laboratório de Informática da EMEF “Nicolau Borges”

Fonte: PRATA, K., 2000.

17

À época os equipamentos eram considerados de excelente qualidade, eram

e-machines Celeron 500, com drives de CD e disquete.

O objetivo era utilizar o computador como ferramenta de práticas

educativas diferenciadas, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais

dinâmico através da interação com a máquina e em um ambiente diferente da sala

da aula. Esse espaço deveria ser utilizado no desenvolvimento não apenas de

projetos, mas de forma contínua e fazendo parte da rotina de professores e alunos,

na introdução e fixação de conteúdos, avaliação ou simplesmente para a pesquisa

em softwares como Enciclopédias e Almanaques, já que esses micros não eram

conectados à Internet.

Em se tratando da região, a iniciativa foi a primeira em nível municipal

comparada às Secretarias Municipais de cidades vizinhas (Alegre, Guaçuí e

Muqui) que ainda não tinham LIEDs em suas redes municipais de ensino.

Em 1999, a Internet era considerada um artigo de “luxo” no município,

que não dispunha de provedores de acesso devido à inviabilidade técnica, sendo

necessário utilizar o acesso discado (via telefone) para um provedor da Capital,

Vitória, cujo custo de ligação/minuto correspondia a uma ligação interurbana,

além, é claro, de bloquear o uso do telefone fixo. Era totalmente inviável

financeiramente e não foi considerada a possibilidade pela SEME. Como parte do

projeto, a empresa oferecia suporte aos professores para o desenvolvimento de

ações pedagógicas e inicialmente foi realizado um curso8 de capacitação para 17

(dezessete) profissionais, incluindo além dos professores, a gestora escolar e a

equipe pedagógica.

Esse curso teve duração de duas semanas, sendo o seu objetivo principal

conscientizar os profissionais sobre as possibilidades de utilização do laboratório,

agregando os recursos disponíveis à prática educativa. Como o curso não

contemplou a formação do professor em nível técnico para utilização do

computador para a confecção de apresentações em slides, a empresa

disponibilizava um monitor/técnico em informática, responsável pelo

agendamento e confecção das “aulas”. Essas aulas eram produzidas no Programa

8 O curso foi realizado em duas etapas, onde a primeira foi feita pela Assessora Pedagógica da empresa e a

segunda por um técnico. Apesar de não haver obrigatoriedade alguma, todos os professores da escola participaram do curso.

18

Power Point, com slides contendo hipermídia (textos, imagens, links9 para jogos,

outros slides, enciclopédias e aplicativos), todos disponíveis em softwares

educativos (CDs). As atividades podiam ser feitas pelos alunos nos próprios

slides, contendo caixas de texto e linhas digitáveis, ou ainda por meio de

ferramentas como caneta e marcador, disponibilizadas pelo próprio programa.

Apesar de os recursos serem limitados, as apresentações eram qualitativas e, por

serem confeccionadas especificamente para cada turma, considerando o nível de

aprendizagem de seus sujeitos, as dificuldades na linguagem e atividades

atendiam às especificidades individuais. Os professores determinavam os

conteúdos a serem trabalhados, indicavam suas preferências em relação à

disposição dos mesmos, linguagem e principais pontos a serem destacados,

contudo, todo o trabalho de confecção era de responsabilidade da empresa.

Para Vygotsky (1989), a proposta sociointeracionista atribui ao professor o

papel de promover a articulação dos conceitos espontâneos do educando com os

científicos presentes na escola para que os conceitos espontâneos possam se

aproximar o máximo possível do real. Assim, não apenas os conceitos científicos

tornar-se-ão mais concretos apoiados nos conceitos espontâneos gerados na

própria vivência do educando, como também criarão condições para que ele

compreenda com mais eficiência e de maneira mais ampla.

Figura 2 – Modelo de Aula feita em Programa Power Point

Fonte: PRATA, K., 2000.

9 Ligações entre os documentos e/ou tipos de arquivos que podem estar representados na forma de texto

sublinhado, botão ou imagem que permitem a navegação pelas páginas de informação disponíveis com mais agilidade.

19

Conforme expõe Oliveira (2008, p.33),

[...] As hipermídias são documentos multimídia, ou seja, documentos que

agrupam outras formas de mídia além do texto, como imagens, vídeos, sons,

animações. Essas estruturas são encontradas tanto em softwares como, por

exemplo, nas enciclopédias, como na Internet.

As aulas (slides) eram coloridas, repletas de gifs animados, imagens,

vídeos e pequenas animações, dispostas em um layout agradável e capaz de

despertar a curiosidade e o interesse de adultos e crianças. Sobre a utilização de

recursos audiovisuais, Pfromm Neto (1997, p.73) destaca que os mesmos servem

para “facilitar e assegurar a apropriação de conhecimentos e habilidades; a

imersão do aprendiz numa atmosfera gratificante, desafiadora e produtiva, em que

aprender passa a ser sinônimo de prazer, aventura e descoberta”. Além disso,

esses recursos disponibilizados pelo computador permitem ao aluno uma

interação direta com as informações.

Os jogos se mostraram recursos determinantes para o desenvolvimento de

atividades nos LIEDs, promovendo uma aprendizagem divertida e permitindo aos

alunos a aprendizagem de conceitos abstratos, pois a linguagem utilizada por

jogos de computador são, em geral, bastante acessíveis para crianças e

adolescentes. A característica principal dos jogos, segundo Brito e Purificação

(2006, p.84), é “a exploração do sentido lúdico dos indivíduos, de suas fantasias,

pois ela é uma necessidade para o bom desenvolvimento psicossocial dos

indivíduos.”

A empresa prestadora de serviço disponibilizava um acervo para a escola

de 117 jogos das áreas de Língua Portuguesa (Produção de texto, quadrinhos

animados, caça-palavras, etc.); Língua Inglesa; Matemática; História (Geral e do

Brasil); Geografia e Ciências Naturais, além de jogos de memória, classificação e

Arte (colorir, quebra-cabeças, monte e remonte, etc.).

Esse acervo era catalogado e ficava no próprio LIED, onde os professores

tinham livre acesso aos mesmos. Além disso, enciclopédias, almanaques e outros

softwares para pesquisa compunham o acervo, inclusive sendo utilizado pelos

alunos em pesquisas.

Os projetos desenvolvidos eram registrados através de fotos digitais e

arquivos digitalizados (trabalhos produzidos pelos alunos: jornal, folders, textos,

20

etc.). Esse registro era arquivado de duas formas: uma cópia impressa destinada

ao portifólio da escola e outra digital gravada em mídia de CD, como parte do

acervo técnico da empresa prestadora de serviços para fins de divulgação de seu

trabalho. Todas as aulas eram baseadas no agendamento feito pelos professores,

semanalmente, podendo ser por turno ou por turmas, mas sempre em caráter

coletivo.

Figura 3 – Jogo da Memória “Blocos” (arquivo .exe)

Fonte: PRATA,K., 2000.

O suporte pedagógico10

oferecido pela empresa através de um profissional

garantia que os conteúdos estivessem em conformidade com os níveis de cada

turma e devidamente articulados com o currículo. Uma vez confeccionadas, essas

aulas eram apresentadas aos professores para que avaliassem a qualidade de cada

uma, se atendiam às expectativas e proposições feitas ou se ainda necessitavam de

ajustes. Como muitas delas apresentavam comandos e funcionalidades que

representavam uma novidade, também para os educadores, era necessário que os

mesmos conhecessem o seu conteúdo para melhor explorá-lo junto aos

educandos, potencializando os seus recursos para o alcance dos objetivos.

Inicialmente essa realidade totalmente diferente foi recebida pela escola,

sobretudo pelos educadores, com um misto de dúvida, ansiedade e resistência. A

10 Apesar de a escola ter um suporte pedagógico, o mesmo não estava apto a atuar no planejamento e

desenvolvimento de atividades envolvendo a utilização do computador como ferramenta no processo de ensino e aprendizagem.

21

maioria deles não estava familiarizada, ainda que minimamente, com esses

equipamentos e ainda deveriam descobrir, com certa rapidez, novas formas de

linguagem, de interação e de relacionar-se com a informação e com o

desenvolvimento de uma postura mediadora. Para Gambarra (2007, p.23), “não se

pode mais limitar a educação a um único veículo de comunicação, como a

linguagem escrita, em uma sociedade que se caracteriza, cada vez mais, pelo uso

de diversos meios, multimídias”.

Nessa perspectiva é válido afirmar que a chegada da informática

educacional à escola abriu espaço para novas aspirações por parte dos alunos e

suas famílias na mesma medida em que suscitou a discussão sobre o uso de TICs

no processo de aprendizagem entre os professores e outros profissionais da escola.

Isso não apenas deu início a uma reflexão acerca do papel do professor

como mediador da aprendizagem, a função social da escola, seus métodos,

critérios de avaliação, trabalho, enfim, o seu processo de organização como um

todo, como também implicou na construção de uma nova cultura do fazer

coletivo, onde os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem

reconhecem a necessidade de planejar e trabalharem de forma integrada

(FERREIRA, 2000 in FARIAS, 2002). À época, a escola atendia o Ensino

Fundamental do 1º ao 9º ano (ou 1ª a 8ª séries) e o professor tinha uma jornada de

trabalho de 25 horas semanais, 20 delas cumpridas na escola e o restante

destinado ao planejamento, em que não era exigido a permanência do professor na

mesma.

Passado o período de adaptação, os primeiros projetos surgiram como

resultado de uma integração entre conteúdos e disciplinas, em caráter multi e

interdisciplinar, da articulação entre os saberes e os sujeitos envolvidos. Dentre os

projetos desenvolvidos no LIED nos anos de 1999 e 2000, o de maior destaque foi

o Seminário Agropecuário de Jerônimo Monteiro (SEAGJEM), desenvolvido pela

escola em parceria com a SEME, Secretaria Municipal de Agricultura (SEMA),

Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF); Instituto

Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER);

Comércio local e comunidade local.

A primeira versão do SEAGJEM foi realizada em outubro de 2000, na

quadra da própria escola onde foi montada uma estrutura com telão (datashow),

equipamento para sonorização do evento, palestras para produtores rurais, oferta

22

de material confeccionado pelos alunos (folders explicativos, jornal, calendário e

outros) e os educandos apresentavam seus trabalhos em stands temáticos com o

auxílio do computador.

Além da integração entre conteúdos e disciplinas, o projeto também

promoveu a integração entre a escola e a comunidade, onde a firmação de

parcerias governamentais e outras se basearam na necessidade do

desenvolvimento de um trabalho voltado à agropecuária municipal, por ser a

principal fonte de economia existente.

No ano de 2001, uma nova gestão administrativa da SEME manteve a

prestação de serviços, porém outra empresa de informática educacional assumiu o

contrato oriundo de processo licitatório, ampliando a oferta dos serviços para a

EMEF “André Altoé”. A rede municipal passou a contar com duas unidades de

ensino equipadas com LIEDs. Algumas ações foram implementadas visando

promover uma melhor integração das mídias às práticas educativas e, além da

capacitação de professores, a SEME, em parceria com a empresa, ofereceu um

curso básico de informática aos pais dos alunos interessados, como iniciativa para

a inclusão digital da comunidade local.

Nos anos 2001 e 2002, foi possível perceber o quanto o LIED foi utilizado

no desenvolvimento de projetos e atividades diferenciadas, configurando-se em

um espaço de aprendizagem prazeroso e produtivo.

Figura 4 – Pesquisa de Campo feita pelos alunos – SEAGJEM (2003)

Fonte: PRATA, K., 2003.

23

Ainda foram desenvolvidas mais duas edições do SEAGJEM em 2003,

ainda pela EMEF “Nicolau Borges” e em 2004, já tendo a EMEF “André Altoé”

como parceira. O III SEAGJEM teve uma abrangência tão grande que recebeu

apoio e patrocínio do Ministério do Meio Ambiente – MMA, em virtude de uma

parceria realizada com a SEMA do Município.

Para melhor equalizar a utilização desse espaço foi feito um horário

semanal para que todas as turmas tivessem acesso ao laboratório de forma

igualitária, pois a procura era tamanha, que foi necessário manter um profissional

articulador dentro das unidades de ensino, junto à equipe pedagógica e aos

professores, o que vai ao encontro da ideia de que “a educação escolar precisa ser

reencantada para desenvolver nos educandos a autonomia e o prazer em aprender,

contrapondo-se a dimensão somente do dever de aprender” (DEMO, 1996, p.211).

As atividades desenvolvidas a partir do projeto foram muito diversificadas,

trazendo uma nova perspectiva ao fazer pedagógico e à construção do

conhecimento produzido e vivenciado pelos alunos. A produção de um curta, feito

pelos alunos com o apoio de um Professional da área de cinema, sobre a “Trilha

do Jequitibá” foi o ponto alto da amostragem do projeto e posteriormente foi

utilizado em evento semelhante estendido à escola estadual do município.

Por todo o envolvimento e alcance que teve, as práticas pedagógicas que

envolveram o uso de mídias no processo de ensino e aprendizagem, desde a

implantação da informática educacional nas escolas em estudo e toda a produção

decorrente desse processo, podem ser definidas como criativas e inovadoras no

contexto local, além de balizadas em relativa autonomia das próprias escolas no

direcionamento dinâmico de suas ações.

As escolas demonstraram uma maturação surpreendente para a utilização

do computador como ferramenta de aprendizagem, trabalhando conjuntamente e

superando os desafios da “novidade”, da falta de formação específica dos

professores e criaram, à sua maneira, situações de aprendizagem reais, inventivas

e capazes de envolver a comunidade local, expandindo essas experiências

vivenciadas.

A aprendizagem deixou a sala de aula e se materializou no contexto social

local através de ações palpáveis, de relevância pública, informando e formando

concepções.

24

A importância dessas práticas puderam ser facilmente percebidas pela

participação do público. Na primeira edição do Seminário, foram 32 produtores

rurais inscritos, já no segundo foram 59 e no terceiro a procura superou qualquer

expectativa, envolvendo também alunos do curso técnico em Agropecuária (3º

ano) da Escola Agrotécnica Federal de Alegre (EAFA11

), município vizinho. A

abertura dessa última edição contou, inclusive, com a presença do ex-Ministro do

Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, em abertura oficial do evento.

Essa ideia nasceu na escola, nas aulas de Ciências e Geografia das turmas

de 5ª a 8ª séries e abarcou todas as demais, estendendo-se à outra unidade de

ensino até alcançar proporções inimagináveis. Ainda que representasse uma boa

ideia, o projeto só pôde alcançar bons resultados porque foi bem recebido pelos

professores – que não se deixaram paralisar diante do “novo” – e por seus

objetivos centrados na realidade local do município. O aluno pode identificar a

sua própria realidade através dele, relacionando questões significativas como meio

ambiente, economia agropecuária e, ainda que as metas iniciais tenham sido

modestas, o engajamento de todos os envolvidos e a firmação de parcerias, em

especial com a comunidade, ficaram mais consistentes, ousadas e ainda assim,

perfeitamente alcançáveis.

A partir da mobilização de capacidades cognitivas e afetivas diversas,

professores e alunos se relacionaram com as inovações e construíram respostas

para enfrentar as demandas emergentes, imprimindo um sentido à mudança

projetada (FARIAS, 2002).

Se por um lado a novidade da implantação do uso do computador no

contexto educativo causou incertezas e estranhamento, por outro aguçou a

curiosidade, despertando o interesse pelo “novo” e por explorá-lo. Essa dicotomia

percebida entre os professores foi o primeiro aspecto que [re] definiu as práticas

pedagógicas desenvolvidas a partir de então, destacando algumas como

inovadoras, outras apenas como diferenciadas.

“As „inovações‟ são novas ou originais no lugar em que elas são

incorporadas. Esta é a condição básica para se produzir uma inovação: incorporar

algo que até então não fazia parte da unidade de referência, alterando-a”

(FARIAS, 2002, p.2).

11 Em 2008 a EAFA passou a se chamar IFES – Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre.

25

CAPÍTULO II

Formação e utilização das TICs: reprodução, desafios e

perspectivas

Onde você vê um obstáculo,

alguém vê o término da viagem

e o outro vê uma chance de crescer.

Fernando Pessoa

No ano de 2005 a rede municipal sofreu mudanças significativas na

organização de seu sistema de ensino. A EMEF “Nicolau Borges” passou a

atender apenas o Ensino fundamental das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e todo o

seu corpo docente e matrículas dos anos finais foram removidos para a EMEF

“André Altoé”, que passou ao atendimento exclusivo dessa modalidade de ensino.

À época essas mudanças não foram bem recebidas pela comunidade

escolar, sobretudo pelas famílias, e observou-se certa perda de identidade das

escolas. As equipes de trabalho passaram a ter uma nova composição, bem como

a equipe gestora, e desafios decorrentes dessas mudanças foram muito além da

adaptação de seus atores, centrando-se em aspectos relativos à própria cultura de

trabalho desenvolvida nas escolas. Os ritmos diferenciados e as relações de

trabalho estabelecidas no ambiente escolar foram igualmente modificados.

Assim, acredita-se que esses fatores tenham sido determinantes para o

processo de esmorecimento da utilização do LIED como espaço diferenciado de

aprendizagem. No entanto, em 2006 os laboratórios de informática do ProInfo

chegaram à rede municipal, possibilitando assim, que as escolas tivessem um

acervo de equipamentos próprios e não mais locados.

Foi concedido pelo programa 10 (dez) computadores completos com kit

multimídia com sistema operacional LINUX (software livre instalado) e 1

impressora a laser. Todos os computadores dispunham de um acervo considerável

de vídeos e apresentações do conteúdo da Secretaria de Educação a Distância –

SEED/MEC. O primeiro laboratório foi instalado a EMEF “Nicolau Borges”

(primeiro semestre) e somente no final de 2006 a EMEF “André Altoé” teve o seu

laboratório apto para o uso.

26

Cumpre lembrar que os projetos desenvolvidos pelas escolas de maneira

articulada entre seus sujeitos e envolvendo parceiros e comunidade só

aconteceram até o ano de 2004. Todas as demais atividades e projetos menores

das escolas não partiram dos laboratórios, onde esses foram utilizados como um

suporte de pesquisa e em caráter complementar.

Diferentemente das escolas da rede estadual de ensino atendidas pelo

ProInfo, que disponibilizou o acesso à Internet quase que imediatamente, na rede

municipal esses laboratórios só tiveram assistência do MEC, nesse sentido, em

julho de 2009, quando houve a adesão do município ao programa Banda Larga

nas Escolas, viabilizado por uma parceria firmada entre órgãos do governo

federal, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e operadoras de

telefonia.

Até então (2005 a 2009), o acesso disponibilizado às escolas era feito via

rádio, com distribuição pela própria Prefeitura Municipal através de provedor de

acesso local. Apesar de se tratar de um serviço Banda Larga, a velocidade era de

apenas 512 kbps a ser dividido entre as duas escolas. Contudo, por se tratar de

uma conquista, algo almejado por professores e alunos, o sentimento de satisfação

foi geral e trouxe outras práticas e novos questionamentos.

Com o acesso a Internet, a utilização do computador como ferramenta de

aprendizagem possibilitou aos alunos utilizar recursos de comunicação em tempo

real, interagir com outros, conhecer contextos diferentes, participar de ambientes

virtuais de aprendizagem (AVAs), explorar as funcionalidades e ferramentas de

autoria online. Valente (2002, p.47) afirma que a Internet “representa novas

possibilidades de informação globalizada”, onde diferentes culturas interagem e se

modificam, exercendo influência umas sobre as outras e sendo influenciadas.

Em se tratando das escolas, professores e equipe gestora puderam

vivenciar uma autonomia administrativa até então negada, através de

funcionalidades simples, porém essenciais ao trabalho como Censo Escolar

(Educacenso12

), enviar e receber mensagens institucionais (através de correio

eletrônico), verificar informações em sítios oficiais, efetuar pesquisas para

enriquecer a prática pedagógica ou simplesmente para manter a escola atualizada,

12 O Educacenso é um sistema on-line que visa manter um cadastro único em uma base de dados centralizada

no Inep de: escolas, turmas, alunos, docentes/ auxiliares de educação infantil, profissionais/ monitores de

atividade complementar, possibilitando maior rapidez na atualização das informações, por utilizar diretamente a Internet. Disponível em <http://http://www.inep.gov.br>

27

acessar conteúdos específicos e muitas outras possibilidades que, até a chegada da

Internet à escola, era feita somente na SEME.

Com a presença da Internet nas escolas, foi necessário estabelecer uma

política de uso, onde alguns sítios foram bloqueados para evitar a utilização

indevida, não só para alunos, mas para todos os usuários da escola. Essa política

foi estabelecida pela Prefeitura Municipal para garantir que a veiculação de

informações e tráfego de dados fosse segura e responsável. Por outro lado,

verificou-se a necessidade de se discutir melhores maneiras de utilizar a Internet

em favor da aprendizagem, através da participação de projetos e eventos

colaborativos ou troca de experiências entre escolas. Mas, até a presente data, não

houve um processo de maturação capaz de direcionar essa utilização como uma

ferramenta de expressão social, mantendo o conceito inicial de uma “ferramenta

de pesquisa, de acesso à informação” e não como rede de comunicação eficiente

para a aprendizagem. Para Araújo (2005, p.23-24):

O valor da tecnologia na educação é derivado inteiramente da sua aplicação.

Saber direcionar o uso da Internet na sala de aula deve ser uma atividade de

responsabilidade, pois exige que o professor preze, dentro da perspectiva

progressista, a construção do conhecimento, de modo a contemplar o

desenvolvimento de habilidades cognitivas que instigam o aluno a refletir e

compreender, conforme acessam, armazenam, manipulam e analisam as

informações que sondam na Internet.

Se a utilização desses recursos ainda representa um desafio para a escola,

parte disso se deve à necessidade da formação do educador e da compreensão de

seu papel de estimulador e mediador do conhecimento dos alunos, transformando

esta nova ferramenta em meio, assim como o fizeram anteriormente, e não

somente enxergando a informação como fim do processo ensino-aprendizagem.

A rede municipal de ensino é relativamente restrita, com apenas doze

escolas de Ensino Fundamental, sendo nove destas localizadas no perímetro rural

(multisseriadas), duas atendem o Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) e apenas uma

oferta os Anos Finais (6º ao 9º ano). Há ainda dois Centros Municipais de

Educação Infantil, um para a Pré-Escola e outro para Creche. Na verdade, no

quantitativo total, são apenas 1.26813

alunos. A rede estadual no município, apesar

13 Dados do Educacenso 2010.

28

de ser composta de apenas uma escola, possui um quantitativo superior a toda a

rede municipal.

O quantitativo de docentes na rede municipal é igualmente limitado,

apresentando um percentual considerável de professores contratados em regime de

designação temporária. Os professores efetivos, com raras exceções, possuem

graduação completa, sendo a maior parte deles especialista em pelo menos uma

das áreas da educação. Como vimos, a chegada da informática educacional às

escolas municipais em 1999, trouxe, novidade, preocupações e insegurança

próprias de um processo de mudança.

Mas, naquele momento os professores não se deixaram paralisar pela

novidade e trataram de transformar os recursos em meios para a aprendizagem

significativa dos seus alunos. Mas, é preciso lembrar que contaram com apoio

técnico, além de formação. Duas questões foram consideradas relevantes nos

questionários com os professores: a utilização das TIC‟s e a preparação/formação

profissional.

2.1 A preparação do profissional e a utilização das mídias

Mais do que o manuseio de tecnologias digitais, o computador como

tecnologia educacional requer do educador uma postura diferenciada, desprendida

da posição de „ensinante‟ e mais voltada ao de colaborador, mediador da

aprendizagem. O professor, como ator principal no processo de integração de

mídias e tecnologias à prática pedagógica, necessita de condições mínimas para

conhecer e utilizar os recursos disponíveis, potencializando-os no processo de

ensino e aprendizagem. E, as práticas inovadoras ou a renovação das práticas

pedagógicas devem estar fundamentadas no desenvolvimento da criatividade, na

articulação entre informação e saberes vividos para que o conhecimento possa ser

construído de forma contextualizada e significativa.

O uso de tecnologias na educação para o professor implica conhecer as

potencialidades desses recursos em relação ao ensino das diferentes disciplinas do

currículo, bem como promover a aprendizagem de competências, procedimentos

e atitudes por parte dos alunos para utilizarem as máquinas e o que elas têm a

oferecer de recursos. (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2006, p. 47)

29

A formação, portanto, é indispensável para o estabelecimento de práticas

pedagógicas realmente inovadoras. Trocar a lousa pelo computador ou o texto

pelo hipertexto não significa uma inovação, tampouco mudanças no processo de

ensino e aprendizagem. Vejamos o gráfico:

Gráfico 1– Preparo dos Professores das EMEFs “Nicolau Borges” e “André Altoé”

para o uso de mídias na prática pedagógica

Fonte: PRATA, K., 2010.

Em relação ao preparo para a utilização de mídias integradas à prática

pedagógica, os dados apontam que poucos demonstraram sentirem-se aptos para

utilizar as mídias na prática docente, não apenas em se tratando do computador,

mas de outras disponíveis nas escolas.

A partir da implantação da informática educacional na rede municipal de

ensino, os únicos cursos de capacitação voltados ao uso pedagógico de mídias,

oferecidos aos educadores, foi em 1999 e 2001, não como parte de um conjunto

de ações ou diretrizes governamentais, mas como iniciativa da própria empresa

prestadora de serviços à época, como vimos.

Com a instalação dos laboratórios de informática do ProInfo, em 2006,

também não foi ofertado nenhum curso de formação e/ou capacitação para

professores, nem por iniciativa do MEC, nem mesmo pela SEME e, apesar de as

escolas terem adquirido, finalmente, um acervo de máquinas próprio, a

30

terceirização permanece até os dias de hoje, onde uma empresa é contratada para a

manutenção das máquinas, disponibilizando também um monitor.

Não há acompanhamento pedagógico por parte da empresa, nem da SEME

e a utilização desses ambientes está restrita às práticas pedagógicas isoladas por

parte de alguns professores. Nas escolas, o trabalho de suporte pedagógico é

pouco voltado à integração das mídias, e a finalidade principal da utilização do

LIED, apontada pelos professores, é de complementar os conteúdos vistos em sala

de aula.

Percebe-se que a falta de incentivo público ou privado para a formação

continuada desses professores, embora não sejam determinantes, interfere

diretamente na qualidade de sua atuação. Sem a articulação entre currículo e os

saberes social e culturalmente adquiridos a partir da vivência, a utilização do

computador não pode ser caracterizada como inovação. No máximo uma alteração

na rotina das aulas, onde ele substitui a aula expositiva, mas não confere ao aluno

o status de sujeito de sua própria aprendizagem. Mantêm-se, portanto, o modelo

do professor como quem ensina, transmite informações e conceitos predefinidos e

o aluno como agente passivo e receptor.

Oliveira (2008, p.11) expõe que:

[...] a informação é constituída de dados organizados de tal modo que apresentam

coerência e significado a qual pode ser armazenada, transferida ou até mesmo

eliminada. Já o conhecimento é o resultado da interferência de habilidades,

capacidades e conhecimentos prévios do ser humano, a partir de uma

informação ou um conjunto delas, para modificar uma situação ou processo,

produzindo assim, novos conhecimentos. (grifo meu)

De forma evidente, ter acesso à informação variada e por diversos meios,

não garante a construção do conhecimento, sendo fundamental que o professor

crie situações em que o aluno possa articular as informações obtidas atribuindo-

lhes significado, relacionando-as com seu contexto e com os saberes que já

possui. Ao pesquisar sobre a frequência, mais da metade dos professores

participantes classificaram como raros os momentos em que integram algum tipo

de recurso midiático à sua prática pedagógica. Com tantos recursos disponíveis

nas escolas é preocupante que um percentual tão significativo de docentes não

recorram a eles como forma de dinamizar o processo de ensino e aprendizagem.

Vejamos:

31

Gráfico 2 – Frequência com que os Professores das EMEFs “Nicolau Borges” e

“André Altoé” utilizam algum tipo de mídia na prática pedagógica

Fonte: PRATA, K., 2010.

Com tantos recursos disponíveis nas escolas é preocupante que um

percentual tão significativo de docentes não recorram a eles como forma de

dinamizar o processo de ensino e aprendizagem. Outro dado relevante a ser

considerado no contexto deste estudo foi sobre a forma como acontece essa

utilização: 70% é voltada à pesquisa na Internet, sendo 60% com pesquisa

direcionada em sitos específicos e 10% livre, onde o professor oferece o tema e o

aluno busca as informações de forma aberta, sem critérios predefinidos. Foi

constatado ainda que nenhum dos participantes utilizou o LIED (fevereiro a junho

de 2010) para o desenvolvimento de projetos.

É fundamental que, ao lançar uma pesquisa para o aluno no laboratório, o

professor estabeleça os critérios da pesquisa, fazendo uma pré-seleção dos

endereços eletrônicos em que o aluno poderá encontrar informações adequadas ao

tema em fontes confiáveis, orientando sobre as formas corretas de utilizar a

Internet como fonte de informação.

Para que a ação pedagógica ocorra de forma integradora e desenvolva

práticas inovadoras, criativas e capazes de oportunizar a construção do

conhecimento, é necessário que o professor se sinta amparado, preparado, e

suficientemente engajado num processo em que a mediação pedagógica só é

possível quando algumas características fundamentais ficam evidentes nas

relações entre o professor, o aluno e o objeto de estudo:

32

[...] dialogar permanentemente de acordo com o que acontece no momento; trocar

experiências; debater dúvidas, questões ou problemas; apresentar perguntas

orientadoras; orientar nas carências e dificuldades técnicas ou de conhecimento

quanto o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinho; garantir a dinâmica do

processo de aprendizagem; propor situações-problema e desafios; desencadear e

incentivar reflexões; criar intercâmbio entre a aprendizagem e a sociedade real

onde nos encontramos, nos mais diferentes aspectos; colaborar para estabelecer

conexões entre o conhecimento adquirido e novos conceitos; fazer a ponte com

outras situações análogas; colocar o aprendiz frente a frente com questões éticas,

sociais, profissionais por vezes conflitivas; colaborar para desenvolver crítica

com relação à quantidade e à validade das informações obtidas. (MASETTO, et

al, 2000, p.145-146)

Para que o professor compreenda o seu papel como mediador do

conhecimento e redimensione a sua prática pedagógica diante das novas

demandas sociais e, portanto, educativas, a formação é insofismável, o que nos

leva a crer que a não participação dos professores em um processo de formação

pode ser um dos elementos que resultam no contexto atual vivido pelas escolas

em estudo, caracterizado pelo pouco aproveitamento dos recursos disponíveis.

Segundo Prado (2005, p.11), “à medida que desenvolvem suas produções, os

sujeitos se transformam, produzem sua realidade e são transformados por ela”.

Vemos que não houve nenhum tipo de oferta de formação para os

professores das escolas aqui citadas, até o ano de 2008. Somente em 2009, como

resultado das ações do Plano de Ações Articuladas (PAR), um pequeno percentual

de professores foi selecionado para participar de um curso de especialização em

Tecnologias em Educação.

Neste sentido, Santos (2003, p.9) afirma que

Estamos num momento especial na história da educação, num ínterim entre o giz

e o computador. Essa transição gera expectativas, impõe novas posturas para se

organizar e gerenciar uma escola, uma sala de aula, pessoas. É importante re-

situar as funções do professor, de seu trabalho no tempo, aproveitando suas

experiências, frutos de uma história, e que indicam a necessidade de se adotar

novas posturas para que as mudanças emergentes do mundo sejam

acompanhadas. A adoção de novas posturas pertence a todos que estão

comprometidos com a ação educativa.

Para garantir que as mídias sejam utilizadas no contexto educativo como

ferramentas facilitadoras da construção de um conhecimento significativo e

articulado, faz-se necessário aportar o professor, oferecendo-lhe meios para

conhecer as ferramentas e recursos disponíveis, como funcionam, planejar

33

conjuntamente com outros professores, discutir com os alunos sobre as suas

preferências, enfim, além de formação continuada, é preciso oferecer um suporte

pedagógico eficiente e tempo hábil para desenvolver projetos e ações

interdisciplinares.

Além da ausência de formação, a escassez de tempo dentro da própria

escola foi outro ponto levantado pelos participantes como entrave para a utilização

dos recursos disponíveis, como podemos ver:

Gráfico 3 – Principais dificuldades apontadas pelos Professores das EMEFs

“Nicolau Borges” e “André Altoé” para o uso pedagógico das mídias na prática

pedagógica

Fonte: PRATA, K., 2010.

É, portanto, uma questão a ser considerada tanto pelas políticas públicas

quanto pela escola. A profissionalização docente veio acompanhada de uma

contradição da qual, ainda hoje, não conseguimos nos livrar: ao mesmo tempo em

que se valoriza socialmente a educação formal, o professor, como personagem

principal, é desvalorizado, principalmente em termos de remuneração. Esse é um

fator que o leva a trabalhar muito mais do que seria o saudável e desejável,

comprometendo, assim, seu envolvimento com projetos ou diversificação dos

recursos na prática pedagógica. A falta de um suporte pedagógico específico

também foi apontada como uma das maiores dificuldades dos professores, o que

se evidencia como um dos entraves vividos no contexto atual. Para Faria (2006 in

BRASIL, 2006, p.8), “a integração das mídias vai além dos limites tecnológicos,

34

atingindo dimensões pedagógicas e humanísticas, quando supera as questões mais

técnicas e também passa a desenvolver preocupações relativas às condições de

cidadania”.

Portanto, não cabe somente ao professor compreender a dimensão do uso

das mídias em sua prática, mas à escola, através de sua equipe pedagógica,

desenvolver um conceito de integração que possa, simultaneamente, superar a

especialidade de cada mídia e articulá-las de forma apropriada aos diferentes

interesses e situações de aprendizagem (NEVES e MEDEIROS, 2006).

Os professores demonstraram ainda, que acreditam na integração de

mídias à sua prática docente como elemento indispensável para a melhoria da

qualidade do processo de ensino e aprendizagem, conforme demonstra o Gráfico

4. Portanto, o reconhecimento dessa fundamentalidade pode ser traduzida em um

sentimento implícito,quase unânime, de desejo por mudanças no contexto atual.

Gráfico 4 – Reconhecimento da importância da integração das mídias à prática

pedagógica para a aprendizagem

Fonte: PRATA, K., 2010.

Fica claro, no entanto, que tal mudança envolve vários fatores: política

pública de valorização do magistério e formação continuada, envolvimento da

comunidade escolar, engajamento político e compromisso com um conhecimento

que não seja mera informação. Uma possibilidade é construir uma proposta

pedagógica, junto aos professores, voltada à utilização de diferentes mecanismos

35

e/ou recursos disponíveis que permita a elaboração de aulas mais globais com

atividades diversificadas, multi e interdisciplinares, dinâmicas e interessantes.

É fundamental que as escolas proporcionem uma oferta educativa que se

constitua a partir do diagnóstico das necessidades de formação da população alvo

e de suas características culturais, elemento central do planejamento educativo e

das estratégias de comunicação, com ampla utilização de todos os recursos

tecnológicos existentes, e que se caracterize pela elaboração de materiais diversos

e adaptados a cada uma das realidades em que se desenvolvem as atividades

educativas, não só no que diz respeito à elaboração de conteúdos conceituais, mas

também às experiências de aprendizagem e às atividades do plano de ensino.

(SOUZA, 2006 in BRASIL, 2006, p.39).

A veiculação de informações qualitativas por meio da utilização dos

recursos midiáticos existentes na escola, bem como o desenvolvimento de

projetos que envolvam a comunidade, voltados ao trato dos desafios que ela

apresenta e, portanto, significativos, possibilitam que as parcerias firmadas com

seus diversos setores e segmentos fortaleçam a construção do conhecimento, a

mudança de posturas e a formação global do educando. “A sala de aula é a célula-

máter, a incubadora de tais projetos” (SOUZA, 2006 in BRASIL, 2006, p.39).

36

Considerações Finais

Estabelecendo a análise de dois momentos vivenciados pelas escolas em

estudo, é possível diferençá-los claramente, onde um é caracterizado por práticas

inovadoras a partir da integração das mídias no contexto educativo, sobretudo, o

computador, e outro pela perda do entusiasmo dos professores, pela negligência

do poder público em relação à política de formação, assim como pela ausência de

uma proposta pedagógica das escolas capaz de envolver seus atores e a

comunidade local através de práticas dinâmicas e criativas.

A informática educativa oferece uma variedade de linguagens atrativas,

sedutoras e perfeitamente apropriadas para potencializar o processo de ensino e

aprendizagem, contribuindo para a construção de um conhecimento real do aluno

como agente autônomo nesse processo.

Vimos que é possível se apropriar dessas ferramentas desde que haja

condições para isso. No caso das práticas inovadoras relatadas aqui, foi suficiente

um mínimo de infra-estrutura, recursos humanos e formação, para catalisar um

engajamento de toda a comunidade.

É preciso explorar as infinitas possibilidades que as mídias oferecem,

despertando o interesse de professores e alunos, renovando o desejo de interagir,

pesquisar, descobrir, compartilhar experiências, de utilizar diferentes linguagens e

envolver-se com as temáticas locais, com os desafios que se apresentam

reconhecendo neles oportunidades de crescimento.

Os elementos que constituem uma prática pedagógica inovadora envolvem

a criatividade, o trabalho colaborativo, o envolvimento da comunidade local a

partir das iniciativas da escola, quando esta se reconhece como espaço de

cidadania, de uma aprendizagem diferenciada, focada naquilo que lhe é peculiar e

ao mesmo tempo de forma ampla, abrangente e aberta.

Integrar as mídias à prática pedagógica implica na ruptura com o

comodismo, com o marasmo e o tédio tão característicos de uma educação

mecânica. É difícil encarar um retrocesso quando já se foi tão longe. Mas talvez

este momento seja de crise, e como tal, a partir de ações será possível caminhar,

pois é necessário avançar, estender os bons resultados e alcançar novos objetivos.

37

É na realimentação de boas práticas que outras podem surgir, mas para

isso a escola precisa oferecer as condições necessárias para que seus professores

planejem e adotem uma nova postura de mediação. A formação é uma das formas

de realimentação que, se não olhada com cuidado e vivida pelos professores como

uma forma de comprometimento de todos, as ações perdem força e esmorecem

com o tempo.

Criar é sempre um exercício de engajamento, porém recriar novas

estratégias requer considerar o que já foi vivido. Levar os alunos para fazerem

pesquisas no LIED, digitar textos ou assistir vídeos não pode ser traduzido como

práticas inovadoras. A inovação está presente na articulação daquilo que foi

pesquisado e visto com os saberes e ideias partilhados nos momentos de interação.

É dessa troca que resulta a aprendizagem e, portanto, é através dela que o

conhecimento se efetiva.

38

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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Apêndice

QUESTIONÁRIO

Este questionário será utilizado como parte de uma pesquisa científica, junto à PUC-Rio, da Profª Kellyman Prata da Paschoa, sobre a utilização de mídias e tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Suas respostas serão mantidas em absoluto sigilo, respeitando a sua privacidade. Por isso, esta é uma coleta de dados anônima, Professor, sendo necessário apenas, que você responda com a maior sinceridade possível. Favor responder: Instituição:_______________________________________________ Titulação: Graduado ( ) Especialista ( ) Mestre ( ) Outros ( ) Disciplina que leciona: _____________________________________ 1- Em relação à utilização de Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC na área pedagógica você se sente preparado? ( ) SIM ( ) NÃO 2 – Você utiliza algum tipo de mídia em sua prática pedagógica? ( ) SIM ( ) NÃO 3 - Você já realizou algum projeto, neste ano de 2010, a partir da utilização de Tecnologia de Informação e Comunicação –TIC (computador)? ( ) SIM ( ) NÃO 4 - Ocorre algum nível de integração entre as disciplinas que compõem a matriz curricular e a utilização dos recursos midiáticos disponíveis na escola? ( ) SIM ( ) NÃO 5 - A utilização da Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC é considerada como parte do Planejamento da escola? ( ) SIM ( ) NÃO 6 – Com que frequência você utiliza os recursos midiáticos em sua prática pedagógica? (vezes por semana) ( ) SEMPRE (4 OU ACIMA) ( ) ÀS VEZES (2-3) ( ) POUCO OU RARAMENTE (1) ( ) NUNCA 7 – Você utiliza o LIED junto aos alunos? ( ) SIM ( ) NÃO 8 – Em geral, essa utilização tem o objetivo de: ( ) EFETUAR PESQUISAS DIRECIONADAS ( ) EFETUAR PESQUISAS LIVRES ( ) EXPOR CONTEÚDOS( ) INTERAGIR ATRAVÉS DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM ( ) CRIAR BLOGS, WIKIS OU OUTROS RELACIONADOS AOS CONTEÚDOS ( ) OUTROS 9 – Você sente alguma dificuldade para integrar os recursos midiáticos disponíveis na escola em sua prática pedagógica? ( ) SIM ( ) NÃO 10 – Se sua resposta foi “sim”, como caracteriza o grau dessa dificuldade? ( ) MUITO ( ) POUCO 11 – Quais as principais dificuldades encontradas dentro da escola para a integração de mídias à sua prática pedagógica? ( ) CONHECIMENTO INSUFICIENTE DOS EQUIPAMENTOS/RECURSOS

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( ) POUCO TEMPO DESTINADO AO PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES ( ) FALTA DE SUPORTE PEDAGÓGICO ( ) FALTA DE EINCENTIVO DA EQUIPE GESTORA ( ) OUTROS 12 – Você já participou de algum curso de formação voltado para a integração/utilização de mídias em sua prática pedagógica? ( ) SIM ( ) NÃO 13 – Você acha que a utilização de mídias na prática pedagógica é importante para a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO VEJO DIFERENÇA

Obrigado por participar dessa pesquisa. Sua colaboração foi de grande relevância!