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Aula 5 A Matriz Curricular de Arte no Ensino Fundamental II Profa. Me. Ana Beatriz Buoso Marcelino Período: 08/10 a 21/10 Carga horária: 08 horas

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A Matriz Curricular

de Arte no Ensino Fundamental II

Profa. Me. Ana Beatriz Buoso Marcelino

Período: 08/10 a 21/10

Carga horária: 08 horas

Conversa inicial • Prezados(as) cursistas

Já chegamos na Aula 5. Suas contribuições estão sendo muito

importantes para pensarmos a arte-educação no município de Bauru. Nesta etapa abordaremos sobre no ensino de arte nas séries finais do Ensino Fundamental atrelado à PHC.

Ótimos estudos a todos!

Conteúdos da aula

Nesta aula iremos abordar sobre: • O estudo de Arte e sua aplicação nas séries

finais do Ensino Fundamental;

• Atividade guia na adolescência: –Comunicação íntima pessoal;

–Atividade profissional de estudo;

• Orientações metodológicas.

Relembrando... Conteúdos tratados até aqui:

–A importância da Arte para a formação humana;

–Pressupostos básicos da PHC;

–O currículo de arte nas séries iniciais;

–Teoria da Atividade e Periodização;

–Jogo de Papéis e Atividade de estudo.

Arte nos anos finais do EF

Nos anos finais do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, os alunos encontram-se na fase da adolescência.

Adolescência ou “aborrescência”?

Trata-se de uma fase problemática do desenvolvimento humano onde os alunos apresentam alterações no comportamento em virtude de muitos fatores, tanto biológicos quanto sociais.

Com os hormônios “à flor da pele”...

Será que os adolescentes não são capazes de controlar suas emoções, sua conduta e sua sexualidade?

Seriam esses comportamentos considerados “normais”, frutos de um cérebro ainda não

amadurecido?

“[...] essas concepções metafísicas, biologicistas e patologizantes sobre a adolescência influenciam direta e

indiretamente o processo de organização do ensino, justamente porque a concepção de ser humano

determina a maneira pela qual o trabalho educativo se efetiva.”

(ANJOS, 2016, p.120)

Então, em vista desse cenário, o que a arte educação pode fazer?

Apoiando-se na Teoria Histórico-cultural, diferentemente das concepções hegemônicas, podemos analisar as potencialidades dessa turbulenta fase do desenvolvimento humano, não como resultado da maturação biológica, ou como uma manifestação fenomênica, a priori, de sua subjetividade, mas sim, como produto da complexidade da atividade social.

Adolescência e PHC: superando concepções tradicionais

É necessário, primeiramente, superar as concepções idealistas e biologicistas sobre a adolescência, pois, essas concepções são tidas como verdades universalizantes do desenvolvimento psíquico, consideradas como “naturais e inerentes” ao homem.

Mas, que concepções são essas?

A concepção idealista Considera a manifestação mental e subjetiva do

ser humano como a gênese e a causa de seu comportamento, a adolescência seria uma etapa marcada por um intenso trabalho psíquico caracterizado pela irrupção de sensações, desejos e fantasias incontroláveis.

Ou seja, os ditos “hormônios à flor da pele” seriam a causa das alterações comportamentais.

Porém, não é bem assim...

A ciência explica que... Pesquisas recentes apontam que as mudanças

ocorridas nesta etapa não decorrem da produção de hormônios, mas sim, devido à maturação cerebral.

Então:

O comportamento do adolescente seria resultado de um cérebro ainda não amadurecido.

Herculano-Houzel (2005) afirma que o amadurecimento cerebral se inicia na adolescência e vai até 30 ou 40 anos de idade.

Então, para algumas pessoas, a adolescência pode perdurar até os 40 anos.

Algumas características típicas desta fase:

- Descoberta e exploração do corpo e da sexualidade;

- Autoconhecimento;

- Sentimento de tédio em vista da “perda de recompensas”;

- Ousadia e necessidade de se arriscar sem medidas;

- Busca incessante pela novidade;

- Necessidade de controle dos impulsos;

- Tomada de consciência: antecipar as consequências de seus atos;

- Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro.

Como a escola deve proceder?

A educação escolar deve superar essas perspectivas de esperar, acompanhar ou facilitar o caminho natural desse desenvolvimento até que todas essas peculiaridades desapareçam, espontaneamente, com a chegada da vida adulta.

Para tanto, é necessário entender as especificidades desta fase tão conturbada.

PHC e a adolescência A gênese do comportamento adolescente não está

nas manifestações metapsicológicas, tampouco pode ser reduzida à maturação cerebral. No entanto, a PHC não as nega, pois as relações entre o biológico e o social no ser humano são de incorporação daquele por este e não de eliminação ou separação, ou seja:

A PHC considera tanto o biológico quanto o social para as determinações comportamentais da adolescência.

A teoria considera o materialismo-histórico-dialético, entre o caráter histórico e social do psiquismo humano junto aos processos neuropsicológicos, levando-se em conta que o cérebro é, ao mesmo tempo, condição e produto da atividade sócio-histórica.

Elkonin (1960) argumenta que tais mudanças são produtos das novas condições de vida, ou seja, da atividade social.

Para o autor, a adolescência é uma etapa de:

“[...] grandes mudanças no desenvolvimento do sistema nervoso central, sobretudo no córtex cerebral. Embora as dimensões e a massa total do encéfalo aumentam muito pouco, no entanto, há um importante desenvolvimento funcional do cérebro que está ligado ao salto qualitativo de novas condições de vida mais complexas. Aumenta muito a quantidade de fibras nervosas associadas que conectam entre si distintas partes do cérebro. As células cerebrais alcançam o nível de diferenciação que é típico dos adultos.”

(ELKONIN, 1960, p. 538)

Em outras palavras...

– Pelas mudanças nas situações sociais; – Pela complexidade da atividade

escolar; – Pelo aprofundamento das relações

sociais; – Pela crescente independência; – Pelas novas exigências vindas dos

adultos; – Pelo relativo aumento de suas

responsabilidades; – Por suas possibilidades morais e

volitivas. (ELKONIN, 1960)

As particularidades psicológicas do adolescente não são derivadas da maturação sexual ou cerebral, mas:

Vygotsky (2012) afirma que, se o meio não apresenta nenhuma dessas tarefas ao adolescente, não lhe fizer novas exigências e não estimular o seu intelecto mediante novas metas, o seu psiquismo não conseguirá atingir os estágios mais elevados, ou só os alcançará com grande atraso.

As exigências do meio social impostas ao adolescente, bem como as novas responsabilidades a ele confiadas, são fatores determinantes no desenvolvimento psíquico nessa idade.

O nível alcançado pelas possibilidades físicas, intelectuais, volitivas e morais cria as premissas necessárias para que mude fundamentalmente a situação do adolescente na sociedade.

O desenvolvimento não se dá de forma natural

É o resultado da objetivação histórica da cultura e sua apropriação pelas novas gerações, as quais também produzem novas objetivações.

Por meio da atividade de trabalho, isto é, de produção dos meios necessários à existência social, ocorre o processo de humanização da natureza e do próprio ser humano.

(DUARTE, 2013)

Mas, como fazer?

A arte-educação entra como peça-chave para articular o processo de

humanização.

Em princípio, nos cabe investigar qual é a atividade-guia desta etapa.

Retomando a Categoria da Atividade

Como vimos, o desenvolvimento psicológico está ligado às condições objetivas de organização social, compreendendo rupturas, crises e saltos qualitativos que provocam mudanças na qualidade da relação do indivíduo com o mundo.

Daí a importância do estudo da categoria da atividade, aqui entendida como mediações conscientes entre motivos e fins, ou seja, é o meio pelo qual o indivíduo se relaciona com a realidade objetivando a produção e reprodução das condições necessárias a sua existência física e psíquica.

Ou seja...

O psiquismo

Determina

A vida

As três idades da mulher Gustav Klimt, 1905.

Leontiev (2014):

As circunstâncias concretas da vida influenciam no decurso do desenvolvimento.

O vínculo se estabelece mediante a atividade.

Mas, como tal atividade é constituída nas condições de vida?

O papel condutor da educação

Essa é uma questão central para o estudo da PHC, importando ao professor um papel diretivo, de análise e aplicação de conteúdos.

A qualidade da construção da atividade é uma consequência social, tendo a educação como

protagonista de suas ações. (MARTINS, 2013)

Atividade-guia

Como já visto nas aulas anteriores, são atividades que se apresentam como mais importantes para o desenvolvimento em determinados períodos.

Leontiev (2014) assevera que a atividade-guia não é, necessariamente, a atividade que ocupa o maior

tempo na vida do indivíduo, mas é aquela dentro da qual se desenvolvem processos psíquicos que

preparam o caminho da transição da criança para um novo e mais elevado nível de desenvolvimento.

O que determina a transição de um período para outro é a mudança da atividade-guia na relação dos sujeitos com a realidade, e não, necessariamente, em virtude das mudanças advindas de sua idade cronológica.

A adolescência, segundo Elkonin (2012) apresenta dois períodos regularmente conectados: a adolescência inicial e a

adolescência tardia que o autor denomina: “idade escolar juvenil”.

1º Período Nesse período há um predomínio do

desenvolvimento da esfera das necessidades emocionais caracterizado, principalmente, pela assimilação de objetivos, motivos e

normas das relações humanas.

Relação “criança-adulto social”

Atividade de comunicação íntima pessoal

2º Período O segundo período da etapa da adolescência é

caracterizado pela aquisição de modos socialmente desenvolvidos de ação com os objetos sociais, na qual se desenvolvem as capacidades humanas (operacionais e técnicas), em suas máximas possibilidades.

Relação “criança-objeto social”

Atividade profissional de estudo

A passagem de uma atividade-guia a outra perpassa os anos finais do Ensino Fundamental e os iniciais do Ensino Médio.

Na sequência, nos dedicaremos à questão da atividade de comunicação íntima pessoal e à

necessidade do modelo adulto para o desenvolvimento psíquico do adolescente.

Comunicação íntima pessoal e a necessidade do modelo adulto para o desenvolvimento psíquico na adolescência

A atividade-guia no período da adolescência inicial é caracterizada pelo estabelecimento de relações sociais entre os adolescentes, pelo respeito mútuo e confiança.

A formação das relações sociais na adolescência também é caracterizada pelo “código de companheirismo”.

Comunicação íntima pessoal no Fund. II

Para Elkonin (1987) o código de companheirismo tem grande importância para a formação da personalidade pois, por meio dele, o adolescente se desenvolve, sobretudo, a partir das trocas entre os pares (adultos e/ou outros adolescentes).

Trata-se da reprodução das relações existentes entre os adultos estabelecidas sobre a base de normas morais e éticas que servem como mediadoras do comportamento.

Elkonin (1987, p. 121) afirma que a atividade de comunicação íntima pessoal é a atividade pela qual “[...] se estrutura o sentido pessoal da vida” e a “autoconsciência como consciência social translada ao interior”.

Davidov (1988)

O adolescente, junto a seus pares tende a imitar os adultos em suas condutas, há surgimento do sentimento de maturidade, expressão e autoconsciência; comparação e identificação com os adultos que são modelos para imitação e construção de suas identidades.

A busca por um modelo ideal de ser humano.

E se a educação escolar apresentar, apenas, o próprio mundo adolescente e não um modelo

humano mais desenvolvido?

Se a adolescência é uma fase menos desenvolvida do que a fase adulta, que

referência terá o adolescente para o seu desenvolvimento se o adulto não lhe

apresentar esse modelo?

(ANJOS, 2013)

Orientações metodológicas

Como vimos, o desenvolvimento psíquico do adolescente não se dá de forma natural. Não se trata, portanto, de uma manifestação subjetiva, idealista e fruto de manifestações inconscientes. Ele deve ser entendido como o produto de um processo sócio-histórico, engendrado pela relação dialética entre a apropriação da cultura produzida por gerações precedentes e a objetivação humana a partir do que foi apropriado.

Saviani (2011)

• “[...] o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.”(p. 13)

O papel da educação...

Cabe à educação escolar produzir, de forma direta e intencional, em cada indivíduo singular, a humanidade produzida histórica e coletivamente.

Processo de humanização dos adolescentes.

A qualidade da mediação feita pelo professor determinará a qualidade do

desenvolvimento psíquico.

Então, na sala de aula...

Cabe ao arte-educador oferecer atividades de estudo tanto individuais quanto coletivas, sempre mediadas pelas diretrizes do professor, propositor do saber sistematizado, não de forma pronta e acabada, mas por meio de situações desafiadoras e provocativas, na tentativa de promover maior autonomia, crítica e sensibilidade, com base na atividade guia desta etapa:

A comunicação íntima pessoal

Mas, o que significa “comunicação íntima pessoal”?

Significa a relação entre os adolescentes, mediada pelas normas morais e éticas estabelecidas entre os adultos, ou seja, uma relação mediada pelo produto do trabalho não material.

O sentido pessoal de vida e a autoconsciência do adolescente.

(ELKONIN, 1987)

Porém, as normas morais e éticas que medeiam as relações estabelecidas entre os adolescentes só podem ser apropriadas por estes, a partir das transmissões dessas objetivações.

A transmissão do conteúdo pelo professor é uma das bases mais importantes e indispensáveis à apropriação permanente do conhecimento pelo aluno.

O papel do professor...

É necessário superar o antigo lema “aprender a aprender” que, para Duarte (2011), descaracteriza o papel do professor e apresenta uma visão negativa da transmissão clássica e tradicional do conhecimento.

Portanto, cabe ao educador se conscientizar da importância de seu papel perante o aluno, proporcionando-o um

aprendizado pautado por ações educativas desafiadoras, mediadas entre os pares, na resolução de problemas em

vista de maior autonomia, pro-atividade e criticidade.

Para isso, o educador necessita dominar o conhecimento que pretende tratar com seu aluno, saber articular e aplicar esses saberes mediando situações de aprendizagens baseadas na troca e ressignificação de conceitos, desafiando e promovendo maior autonomia.

Para a PHC o saber elaborado é um meio de produção social e, portanto, deve ser

socializado.

A pedagogia marxista supera as concepções hegemônicas ligadas à lógica do capital.

A socialização do saber elaborado

(SAVIANI, 2011)

De acordo com Saviani (2011) Por meio da apropriação das produções ou

objetivações do gênero humano, o indivíduo se humaniza, ou seja, ele incorpora em sua subjetividade as formas complexas de sentir, agir e pensar que estão encarnadas nos produtos materiais e ideativos produzidos ao longo da história da humanidade.

A escola de Atenas Rafael Sanzio, 1509-11.

VYGOTSKY (2012)

O que a natureza fornece ao ser humano, isto é, as especificidades da espécie humana (substratos biológicos), não são suficientes para que o indivíduo viva em sociedade. As formas de comportamentos complexos são socialmente instituídas e estão aí postas, faz-se necessário apropriar-se delas e, nesse processo de apropriação ou internalização da cultura, formam-se comportamentos especificamente humanos como a memória lógica, a atenção voluntária, o pensamento abstrato, o domínio da conduta, etc.

Segundo Saviani (2011), a educação escolar que almeja promover o desenvolvimento psíquico do adolescente deve transmitir um conhecimento que esteja para além do cotidiano e das necessidades pragmáticas do aluno.

Uma educação de nível fundamental deve superar a contradição entre o ser humano e a sociedade e garantir uma formação tal, que possibilite o desenvolvimento de um ser genérico e ativamente partícipe da vida na sociedade.

A relação dialética entre a atividade de estudo e a formação do pensamento por conceitos na adolescência

Por meio do pensamento por conceitos, do pensamento abstrato, o adolescente pode conhecer a realidade para além da sua aparência, indo a sua essência.

Essa nova forma de pensamento, o pensamento por conceitos, não é uma dádiva da natureza, trata-se, portanto, do produto da internalização da produção cultural que, ao mesmo tempo, tornar-se-á condição para tal internalização.

O pensamento por conceitos e a Educação

A educação escolar, ao transmitir os conteúdos sistematizados, é fonte do desenvolvimento do pensamento por conceitos e, consequentemente, o pensamento por conceitos possibilita a apropriação das diversas esferas do conhecimento de maneira aprofundada. (VYGOTSKY, 2001)

Em outras palavras...

A concretização do aprendizado se dá quando o aluno se apropria, entende de fato, determinado conceito através do processo de internalização.

Modelos de conduta

Para Elkonin (1960) o adolescente busca um modelo de ser humano mais desenvolvido, a fim de imitá-lo (VYGOTSKY, 2009), pois vê na conduta e na vida dessas pessoas imagens concretas para a imitação.

Porém, grande parte dos modelos que nossos adolescentes têm, é derivada da indústria cultural que reproduz, em grande medida, uma relação alienada, pragmática, acrítica e fetichista do mundo.

Que modelos de personalidades históricas ou de obras literárias terá o adolescente, se as

mesmas não forem apresentadas a ele?

O que fazer, então?

Os professores, diante de tal avalanche de informações e modelos estereotipados,

convivem com isso diariamente e sentem-se desarmados frente a essa competição.

Considerando-se a adolescência como uma etapa de desenvolvimento, em transição, a relação com o adulto é fundamental.

Cabe à educação escolar apresentar, ao adolescente, o modelo ou a forma ideal (ou final) de desenvolvimento,

“[...] ideal no sentido de que ela [a forma] consiste em um modelo

daquilo que deve ser obtido ao final do desenvolvimento – ou final – no sentido de que é esta a forma que,

ao final do desenvolvimento, [o adolescente] alcançará.”

(VYGOTSKY, 2010)

O modelo, a forma ideal, além de servir de base para o desenvolvimento do adolescente, serve, também, e concomitantemente, de base para a diretividade e a intencionalidade do ato pedagógico.

“[...] um universo pedagógico que pretende dispensar os

[bons]modelos condena-se ao empobrecimento e à

instabilidade.”

(SNYDERS, 1974, p. 107-108)

Mas, quais são esses interesses?

É necessário considerar os interesses do aluno.

De que aluno estamos falando, do empírico ou do concreto?

O aluno empírico

O aluno empírico é aquele cujas necessidades e interesses são determinados por sua condição imediata, empírica, que, muitas vezes, são engendradas nas atividades pragmáticas, espontâneas e acríticas da sociedade, como as necessidades produzidas pela indústria cultural.

Ou seja: aquele que faz por fazer, sem maiores pretensões.

O aluno concreto É aquele inserido na realidade histórico-social

concreta, um indivíduo que se manifesta em suas múltiplas determinações, para além de seus interesses imediatos e cotidianos.

A educação escolar...

Pode fazer com que os conteúdos científicos, artísticos e filosóficos, em suas formas mais desenvolvidas, se tornem necessários para os adolescentes, promovendo a superação dos limites da vida cotidiana e de criar necessidades não cotidianas, como as citadas necessidades de conhecimento científico, da fruição estética e da filosofia.

Ao transmitir os conteúdos sistematizados e clássicos, a educação escolar promove a possibilidade de superação e satisfação das necessidades cotidianas, imediatas e adaptativas.

A pedagogia histórico-crítica defende tal pressuposto, por meio de uma produção direta e intencional de necessidades mais ricas e desenvolvidas, opondo-se a uma educação que acompanha, apenas, as necessidades empíricas do aluno.

A função da escola não é, portanto, a de adaptar o aluno às necessidades da vida cotidiana, mas de produzir nele necessidades referentes a esferas

mais elevadas de objetivação do gênero humano. (DUARTE, 2013, p. 213)

Então, como podemos ensinar?

Para a PHC, não existe uma forma específica de ensino, pois a forma está relacionada às múltiplas determinações da materialidade do ato pedagógico.

O trabalho pedagógico deve se pautar no grupo adolescente e não apenas no indivíduo isoladamente, pois a opinião dos adolescentes sobre si mesmos e sobre suas qualidades coincide mais com a valoração que seus colegas fazem, do que pensam seus pais ou professores.

A importância de se trabalhar sobre o grupo deve-se ao fato do adolescente agir conforme o grupo, e a opinião social da coletividade escolar adquire uma importância significativa para ele.

O trabalho em grupo

Considerando-se que o adolescente se vê como os olhos dos outros, cabe ao professor direcionar o processo educativo de modo que potencialize uma educação desenvolvente.

A atividade em grupo não deve ser interpretada como simplesmente a execução de ações fragmentadas entre os pares, como comumente acontece, mas trabalhadas de forma global, na resolução de situações problemas onde todos os partícipes possam contribuir para sua execução.

A relação estabelecida entre os adolescentes escolares deve ser uma relação mediada pelas formas de comportamento mais desenvolvidas objetivadas pelo gênero humano, ou seja, pelo professor, de forma a garantir que o desenvolvimento atinja seus níveis máximos.

O trabalho sobre o grupo não pode ser confundido com atividades que dicotomizam teoria e prática, reduzindo tal trabalho a uma atividade esvaziada de conteúdos sistematizados.

O trabalho educativo deve superar o conhecimento tácito e pautar-se na premissa de que o conhecimento, no início da atividade humana, fora produzido a partir de necessidades práticas e cotidianas, porém, fora liberto de uma dependência imediata desse cotidiano por meio das objetivações genéricas para si, como a ciência, a arte e a filosofia.

A transmissão do saber sistematizado

Não cotidiano

Cotidiano

Mediação do professor

Apropriação das objetivações genéricas

Aluno

Em outras palavras...

Faz-se necessário um trabalho pedagógico que, de forma direta e intencional, transmita os conhecimentos clássicos aos adolescentes e exija destes, iniciativas e responsabilidades em suas atividades.

A experiência adulta, a experiência teórica e prática dos professores, servem de modelo para que os adolescentes sejam representantes do gênero humano, e não o contrário.

Quando os adultos exigem iniciativa e responsabilidade aos adolescentes, possibilita uma maior independência que, segundo Elkonin (1960), constitui fator determinante para o desenvolvimento da personalidade, além de estimular a determinação, constância, organização e disciplina.

Na ausência de exigências elevadas, a responsabilidade pelo trabalho é insuficiente, conduzindo à formação negativa da personalidade, à inconstância, desorganização, irresponsabilidade e indisciplina. (Elkonin, 1960)

Para a concepção histórico-cultural de adolescência, a forma de transmissão dos conteúdos científicos, filosóficos e artísticos é totalmente distinta da forma espontânea, passiva, naturalizante e não-diretiva, encontrada nas visões idealistas e biologicistas.

Se condições de aprendizagens favoráveis não forem garantidas ou, se forem apresentadas de forma limitada ou fragmentada (como se apresentam, por exemplo, numa sociedade de classes), o desenvolvimento psíquico do adolescente se edificará numa relação espontânea e irreflexiva.

A atividade de comunicação íntima pessoal não pode ser analisada fora do sistema de atividades, ou de “tipos de coletividade”, onde a comunicação íntima pessoal se efetiva.

A atividade de estudo é um desses tipos coletivos de atividade.

A apropriação das objetivações genéricas para si, como a ciência, a arte e a filosofia, possibilitam o desenvolvimento de uma concepção de mundo para si, a qual mediará as relações entre os adolescentes para além do cotidiano, promovendo o desenvolvimento psíquico em suas máximas possibilidades.

Ligação da União M. C. Escher, 1956

Esse é um dos desafio da arte-educação na contemporaneidade, um movimento necessário a ser construídos por todos os atores envolvidos no processo, rumo à tão almejada transformação.

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