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ELISANGELA DINIZ MIOTI ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2011

ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO · A presente monografia aborda o tema assédio moral nas relações de trabalho. O que é, sua origem, quem é a vítima, quem é o agressor

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ELISANGELA DINIZ MIOTI

ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO

ARAÇATUBA

2011

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ELISANGELA DINIZ MIOTI

ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia –

apresentado como requisito parcial para a obtenção do

grau de bacharel em Direito à Banca Examinadora do

Centro Universitário sob a orientação do Professor

Especialista Valdir Garcia Júnior.

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO

ARAÇATUBA

2011

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BANCA EXAMINADORA

Examinador (a)

Examinador (a)

Orientador: Prof. Esp. Valdir Garcia Júnior

Araçatuba, ____ de ______________ de 2011.

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RESUMO

A presente monografia aborda o tema assédio moral nas relações de trabalho. O que é, sua

origem, quem é a vítima, quem é o agressor e as condutas que este pratica que caracterizam o

assédio. Outra questão relevante é as conseqüências que dele decorrem que atingem não só a

vítima como também a própria empresa. Através do estudo realizado verificou-se que o

assédio moral não é um fenômeno recente, entretanto, foi recentemente que passou a ser

analisado e discutido pelo direito e psicologia. No Brasil ainda não existe uma legislação

específica que regule o tema, embora existam muitos projetos de lei tramitando no Congresso

Nacional. Na esfera estadual e municipal já há existem leis que amparam o judiciário visando

punir o agente assediador. Com o estudo realizado passa-se a conceituar o assédio moral nas

relações de trabalho, distinguindo-o de outras práticas, também abusivas, mas que não o

configuram. Resta demonstrada a afronta a um dos fundamentos do Estado Democrático de

Direito, qual seja, o princípio da dignidade da pessoa humana, que é gravemente lesado pelo

assédio moral.

Palavras-chave: Assédio Moral. Dignidade da Pessoa Humana. Legislação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 05

I O ASSÉDIO MORAL .............................................................................................. 07

1.1 Breve relato histórico ........................................................................................ 07

1.2 O assédio moral – conceito ............................................................................... 09

1.3 Formas de manifestação .................................................................................... 11

1.3.1 A recusa da distinção ............................................................................ 11

1.3.2 A inveja, o ciúme, a rivalidade .............................................................. 12

1.3.3 O medo .................................................................................................. 13

1.3.4 O inconfessável ..................................................................................... 13

II SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL ....................................................................... 15

2.1 O assediador ...................................................................................................... 15

2.2 As condutas do assediador ................................................................................ 17

2.2.1 O isolamento ......................................................................................... 17

2.2.2 O trabalho usado como pretexto para o ataque pessoal ........................ 18

2.2.3 A agressão individual ............................................................................ 19

2.3 O assediado ....................................................................................................... 21

III CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDO MORAL ......................................................... 24

3.1 Conseqüências do assédio moral para a empresa ............................................. 24

3.2 Conseqüências do assédio moral para o assediador .......................................... 26

3.3 Conseqüências para o assediado ....................................................................... 27

IV O ASSÉDIO MORAL E A LEGISLAÇÃO ........................................................... 30

4.1 Fundamentos constitucionais ............................................................................ 30

4.2 O princípio da dignidade da pessoa humana ..................................................... 30

4.3 Meio ambiente do trabalho sadio ...................................................................... 32

4.4 Dano moral ........................................................................................................ 34

4.5 A legislação brasileira ....................................................................................... 35

4.6 Previsão legal trabalhista .................................................................................. 37

4.7 Previsão legal na esfera penal ........................................................................... 39

CONCLUSÃO ................................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 43

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por finalidade a abordagem do tema assédio

moral nas relações de trabalho.

O assédio moral é um fenômeno muito antigo, entretanto, passou a ganhar

destaque recentemente com as publicações da psicóloga francesa Marie-France Hyrigoyen, no

ano de 2000, através da obra Assédio Moral- violência perversa do cotidiano.

Trata-se de um tema muito polêmico e de extrema relevância para a

sociedade, vez que todos aqueles que fazem parte de uma relação de emprego podem vir a ser

vítima desse mal.

É imperativo frisar que o assédio moral age destruindo o psicológico da

vítima, e em casos extremos pode levar ao suicídio, à depressão e outras doenças físicas e

psíquicas. A sociedade não deve se omitir diante da ocorrência do assédio. É preciso que as

vítimas ou aqueles que conhecem das agressões não se calem diante da conduta degradante e

ilícita do assediador.

O problema se assevera à medida que o mercado de trabalho se torna mais

competitivo, a empresa passa a impor metas cada vez mais difíceis de serem alcançadas,

forçando os empregados a assumir condutas questionáveis na intenção de cumpri-las.

O assédio nem sempre será facilmente constatado. Seus sintomas podem ser

confundidos com o estresse. O assediador usa de vários meios para perseguir a vítima, que

geralmente tem um perfil específico, mais vulnerável a seus ataques.

As conseqüências do assédio moral podem ser danosas não só para a vítima

que pode vir a sofrer de diversas doenças, mas também acarretará prejuízos para a própria

empresa, vez que ao sentir-se inferiorizado, incapaz, o empregado passa a produzir menos, a

não desempenhar suas funções adequadamente, gerando uma queda na produção e nos lucros.

O trabalhador tem direito a um ambiente de trabalho saudável, agradável,

que lhe proporcione prazer em realizar suas funções laborativas. É obrigação da empresa zelar

pelo bem estar de seus funcionários, garantindo-lhes boas e dignas condições de trabalho.

Trata-se de um direito previsto na Constituição Federal.

O assédio moral fere ainda a dignidade da pessoa humana, direito

fundamental de todo cidadão, resguardado pelo artigo 5º da Constituição Federal de 1988.

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Todo trabalhador tem o direito de desempenhar suas atividades com dignidade, de ter

respeitados seus direitos e suas necessidades de ser humano.

A vítima do assédio tem o direito de ser indenizada pelos danos morais

sofridos, devendo o agressor responder, ainda, perante à Justiça do Trabalho e à Justiça Penal.

A Legislação brasileira ainda não dispõe de lei federal que discipline essa

matéria. Entretanto, existem diversos projetos de lei federais em tramitação no Congresso

Nacional.

Portanto, é preciso que os trabalhadores se conscientizem de que não são

obrigados a tolerar condutas abusivas de seus superiores. A sociedade em geral deve repudiar

a prática de condutas degradantes e humilhantes no âmbito do trabalho e o mais importante: é

necessário que nossos legisladores elaborem leis específicas rigorosas capazes de abolir a

prática do assédio moral.

Dessa forma todos ganham: os empregados trabalham mais felizes e voltam

para suas casas realizados, as empresas faturam mais, a sociedade fica mais pacífica e o

próprio judiciário que fica menos assoberbado de ações judiciais.

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I O ASSÉDIO MORAL

1.1 Breve relato histórico

Nos anos 60 o termo mobbing foi usado pelo médico sueco Peter-Paul

Heinemann para descrever o comportamento hostil de um determinado grupo de crianças em

relação a outras dentro das escolas. No ano de 1972 publicou um livro sobre o tema.

Heinz Leymann, psicólogo de origem alemã, no ano de 1980, introduziu o

conceito de mobbing com o fim de descrever formas severas de assédio dentro de

organizações.

O termo mobbing deriva do verbo inglês to mob, que significa perseguir,

maltratar, atacar, sitiar. Já o substantivo mob significa multidão. Dessa forma fica claro que

trata-se de um fenômeno de grupo cujos métodos nem sempre são evidentes.

Leymann entende o mobing no ambiente de trabalho consiste em condutas

hostis freqüentes e repetidas que visam sempre a mesma pessoa. Trata-se de uma forma grave

de estresse psicossocial e provém de um conflito que degenera.

Durante os anos 90 o conceito se difundiu entre pesquisadores que lidam

com o estresse profissional. Com base em suas pesquisas, no ano de 1993, Heins Leyman

publicou uma obra chamada Mobbing: La persécution au travail [Mobbing: a perseguição no

trabalho], chamando a atenção de especialistas do mundo todo.

Com fundamentos em suas pesquisas, em 1994, foi criada legislação

específica sobre o assunto com a seguinte definição: “Por mobbing, entendem-se as ações

repetidas e repreensíveis ou claramente negativas, dirigidas contra empregados de uma

maneira ofensiva, e que podem conduzir a seu isolamento do grupo no local de trabalho.”

Atualmente a utilização do termo tem correspondido, de início, às

perseguições coletivas e à violência ligada à organização mas que podem progredir,

desviando-se, e transformando-se em violência física.

Já na Inglaterra ocorreu um fenômeno chamado bullying que significa tratar

com desumanidade, com grosseria. Bully é uma pessoa grosseira e tirânica, que ataca os mais

fracos.

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Inicialmente o bullying definia humilhações, vexames ou ameaças que

algumas crianças ou grupos infligiam a outras crianças. Posteriormente, o termo estendeu-se

às agressões ocorridas no exército, nos esportes, na vida familiar [relacionado principalmente

a idosos], e por conseqüência no ambiente de trabalho.

Em 1984 Lazarus inseriu o termo na psicologia do trabalho, reconhecendo,

dentre outros, o estresse social no qual foi inserido o bullying. O termo continua sendo usado

na Inglaterra e em outros países de língua inglesa.

Aparentemente o termo bullying é mais amplo que o termo mobbing, pois,

como salienta Dieter Zapf, o primeiro se manifesta de superiores hierárquicos, enquanto que o

segundo é muito mais um fenômeno de grupos.

Nos Estados Unidos utiliza-se o termo harassment que para o psiquiatra

americano Carroll Brodsky consiste em ataques repetidos e voluntários de uma pessoa a outra

com o fim de provocar, atormentar.

Quando se fala em whistleblowers entende-se a pessoa que aperta a

campainha do alarme ou desfaz o estopim, literalmente. É a pessoa que alerta a opinião

pública para má administração e corrupção ou denuncia violações às leis que regem o serviço

público onde trabalha.

É uma forma específica de assédio moral tendente a silencia aqueles que

não seguem as regras do jogo. Aquele que denuncia recebe represálias por parte do próprio

sistema.

No Japão o assédio moral é conhecido como ijime e utilizado para descrever

ofensas e humilhações sofridas por crianças nas escolas e, também, nas empresas nipônicas

para descrever pressões de grupo objetivando formar jovem recém admitidos ou reprimir

agentes perturbadores.

O igime era considerado um rito de iniciação dentro do sistema educacional

japonês, necessário à estruturação psíquica dos adolescentes. A pressão psicológica causada

por esse sistema tornou-se, nos anos 90, uma chaga social. Algumas crianças cometeram

suicido, outras abandonaram a escola, até que fossem tomadas medidas para reverter essa

violência.

O mesmo ocorre na área do trabalho, pois o ijime é considerado um

instrumento de controle social que tem como propósito estruturar o ambiente de trabalho ao

assédio moral mais cruel, o qual ainda não encontrou nenhum termo japonês correspondente.

Dessa forma, percebemos que embora em terminologias diferentes, o

assédio moral é um fenômeno social que atinge várias culturas e países.

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1.2 O assédio moral – conceito

Conforme verificamos no tópico anterior, o assédio moral é um fenômeno

mundial e que, apesar de receber diversas nomenclaturas, o resultado que traz em todo o

mundo é um só: danos à saúde física e mental do trabalhador e a degradação do ambiente de

trabalho.

O assédio moral se caracteriza pela exposição do trabalhador a situações

constrangedoras e humilhantes que se prolongam durante a jornada de trabalho. Tais situações

são repetitivas e ocorrem com mais freqüência nas relações hierárquicas autoritárias e

assimétricas nas quais predominam relações desumanas e condutas negativas. É esse tipo de

conduta, vinda do chefe [ou chefes] direcionada a um ou mais subordinados, que desestrutura

a vítima deixando-a desestabilizada em relação ao trabalho e, conseqüentemente, acaba

forçando- a desistir do emprego.

A degradação deliberada das condições do trabalho é outra característica do

assédio moral onde as condutas e atitudes negativas dos chefes para com seus subordinados

prevalecem, acarretando sérios prejuízos ao trabalhador e à própria empresa.

Esse é o entendimento do médico alemão Heinz Leymann que foi um dos

primeiros a estudar o tema chamando-o de mobbing, e o conceitua da seguinte forma:

Assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho através do

estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas) que se caracterizam pela

repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior

ou colega (s) desenvolve (m) contra um indivíduo que apresenta como reação, um

quadro de miséria física, psicológica e social duradoura (LEYMANN, 2011).

Entretanto, um ato isolado de humilhação não constitui o assédio moral.

Para que este se configure é necessária a existência de alguns pressupostos: repetição

sistemática, intencionalidade, direcionalidade, temporalidade e a degradação deliberada das

condições de trabalho.

Segundo Marie France Hirigoyen (2010, p. 16) os estudiosos do tema, até o

momento não chegaram a um consenso sobre uma “definição pertinente o bastante” devido às

diversas possibilidades de abordagem e interesse de cada especialista [juízes, médicos,

psicólogos...] que utilizam de pensamentos e linguagens distintos. Em suas palavras:

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O assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta abusiva (gesto,

palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização,

contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu

emprego ou degradando o clima de trabalho (HIRIGOYEN, 2010, p. 17).

É importante destacar que o assédio moral pode ocorrer entre chefes e

subordinados [assédio moral vertical] ou até mesmo entre colegas de trabalho [assédio

horizontal]. A jurisprudência tem se manifestado nesse sentido destacando que:

Esse comportamento pode ocorrer não só entre chefes e subordinados, mas também

entre colegas de trabalho com vários objetivos, mas não se confunde com outros

conflitos que são esporádicos ou mesmo com más condições de trabalho, pois o

assédio moral pressupõe o comportamento (ação ou omissão) por um período

prolongado, premeditado, que desestabiliza psicologicamente a vítima (MINAS

GERAIS, 2011).

No assédio vertical verifica-se verdadeiro abuso do poder de chefia

[disciplinador e diretivo] por parte dos encarregados. Em determinadas situações, para se

esquivar da obrigação de pagar créditos trabalhistas pela dispensa imotivada do funcionário, o

empregador se utiliza desses artifícios ardis para desestimulá-lo, deixá-lo isolado, fazendo

com que o próprio funcionário acabe por pedir demissão.

Entre os colegas de trabalho [assédio horizontal] o comportamento do

assediador ocorre de forma distinta, geralmente fundada na inveja dirigida àquele funcionário

que se destaca, que é freqüentemente elogiado e por conseqüência promovido. Pode ocorrer,

ainda, por discriminação de origem racial, social, religiosa etc. A vítima é submetida a

situações de humilhação por meio de comentários ofensivos, boatos sobre sua vida pessoal,

sabotagem e acusações que possam prejudicá-lo no trabalho.

Outra questão relevante acerca do dano moral é a necessidade da existência

do dano psíquico emocional para a caracterização do assédio moral. O tema é muito

controverso.

Sonia A.C. Mascaro Nascimento defende que “a configuração do assédio

moral depende de prévia constatação da existência do dano, no caso, a doença psíquico-

emocional”. Para ela só será possível a comprovação da existência do assédio moral através

de perícia médica apresentando laudo técnico que comprove o dano psicológico ou psíquico

emocional. (NASCIMENTO, 2011).

Em contrapartida, Rodolfo Pamplona Filho alega que “a necessidade do

dano não é um elemento da caracterização do assédio moral, mas, sim, da responsabilidade

civil decorrente de tal conduta”. Nesse caso, deve-se entender o dano psíquico emocional

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“como a conseqüência natural da violação aos direitos da personalidade da vítima”.

(PAMPLONA FILHO, 2011).

Portanto, o que é realmente relevante para a caracterização do assédio moral

é a violação do direito da personalidade, podendo a doença psíquico emocional advir dele ou

não, dependendo do caso concreto a da resistência emocional da vítima.

1.3 Formas de manifestação

1.3.1 A recusa da distinção

A recusa da distinção ocorre geralmente na recusa em aceitar as diferenças

dos colegas de trabalho. Esse comportamento é muito próximo da discriminação e dela se

distingue pela sutileza e a maior dificuldade de identificação.

Quando verificada num determinado grupo, a recusa decorre da dificuldade

deste em aceitar alguém que pense ou aja de forma diferente dele ou, até mesmo, pela forma

de se vestir, de falar, de reagir a determinadas situações, pela educação, inclusive pela classe

social.

Muitas vezes, com receio de ser afastado pelo grupo, a vítima acaba

tentando eliminar as diferenças afim de se enquadrar nos padrões do grupo.

Pode ocorrer, também, de o grupo afastar um indivíduo menos produtivo

que os demais seja porque diminui sua produção ou porque prejudica sua imagem. O inverso

também pode ocorrer, quando uma pessoa que deseja trabalhar com afinco chega em

determinado grupo que tem um ritmo diferente, mais lento, e deseja mantê-lo assim.

A recusa em aceitar a distinção muitas vezes decorre da própria empresa

que, muitas vezes, tem dificuldade em aceitar funcionários diferentes, atípicos. O assédio,

nesse caso, visa se livrar do indivíduo que destoa do grupo. A empresa buscar „formatar” o

indivíduo, mudá-lo, afim de que ele se encaixe em seus padrões, tornando-o fácil de ser

manipulado.

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1.3.2 A inveja, o ciúme, a rivalidade

O sentimento de inveja é natural do homem que se encontra em posição de

comparação ou rivalidade com outro e é capaz de causar sérios danos à pessoa invejada.

Como o ser humano tende a guardar para si o sentimento de inveja, não

pode e não consegue dizer aos demais o que sente, acaba por destruir ou tentar destruir o

outro para que possa se sobressair.

Na esmagadora maioria das vezes a inveja não guarda proporção com o bem

invejado que frequentemente é uma coisa pequena, sem valor, como por exemplo, uma

cadeira mais bonita, uma mesa melhor localizada. Pode ser, ainda, direcionada ao empregado

preferido do chefe, àquele que tem um melhor salário e a mesma qualificação.

Pode-se verificar o ciúmes entre empregados ou até mesmo entre estes e

seus superiores hierárquicos. No último caso, se o superior é uma pessoa insegura e tem um

subordinado melhor qualificado e mais competitivo, tende a assediar o subordinado com

receio de perder seu cargo para ele.

A rivalidade é uma estratégia das empresas para se livrar de um funcionário

indesejado, jogando uma pessoa contra a outra com a intenção de que uma delas não suporte a

pressão se demita. Essa rejeição pode ser sutil ou mas explícita, como no caso de jogar os

jovens contra os mais velhos afim de valorizar as novas equipes.

Esse tipo de rivalidade se tornou mais comum com a extinção das equipes e

da coletividade, com o pretexto de estimular a concorrência, o que acabou por jogar uns

contra os outros.

Algumas empresas manipulam tão deliberadamente seus funcionários a

ponto de levá-los à deslealdade, como ocorre no caso de fusões de empresas que, não

querendo dispensar funcionários, acabam por colocar em um mesmo cargo duas pessoas. A

instabilidade causada por essa decisão faz com que o indivíduo, receoso em perder o seu

cargo, instintivamente pense em eliminar a concorrência. É onde ocorre o assédio.

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1.3.3 O medo

É típico do ser humano, por medo de ser atacado, tornar-se violento e atacar

primeiro como instinto de autoproteção. Esse medo é um elemento caracterizador do assédio

moral.

O empregado tem medo do desemprego, de não agradar seu chefe, de não

estar à altura do trabalho, de não ser aceito pelos colegas, de mudanças, de críticas ou ainda,

de cometer um erro capaz de acarretar em sua demissão.

Algumas empresas o sistema empregado para controle dos funcionários é o

terrorismo. Os funcionários estão sempre com medo, na defensiva e esse sentimento faz com

que os menos estruturados se sintam tentados a usar de violência para com seus subordinados,

no intuito de se proteger e proteger seu cargo.

Esse medo leva os empregados a um nível de desconfiança generalizado,

onde ninguém confia em ninguém. Todos querem esconder suas fraquezas para que não sejam

usadas pelos outros que são vistos como rivais perigosos, inimigos potenciais. O instinto de

defesa faz com que nessas situações, por medo de ser atacado, o empregado ataque primeiro

com o fim de se proteger.

Pode ocorrer, ainda, de um indivíduo que praticou uma conduta indevida,

por medo de ser descoberto tente, de toda maneira, encobrir seus atos e para isso passa a

assediar aquele que poderia prejudicá-lo. Note-se que nesse caso não há que se falar em

pressão hierárquica.

1.3.4. O inconfessável

O inconfessável ocorre quando uma pessoa, integrante de um determinado

grupo, resolve não mais concordar com aquilo que não vai bem.

Nas empresas existem sempre as regras explícitas e também as implícitas,

que advém de seus costumes. Quando o funcionário despreza alguma dessas regras se coloca

à margem do grupo, que geralmente tende a esconder um mau funcionamento, uma

displicência, as falhas de cada um por medo do conflito. Entendem que enquanto o problema

não é discutido ele não existe.

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Aquele que ousa falar sobre o problema é afastado pelo grupo, pois está

violando a regra oculta do silêncio que deve ser respeitada por aqueles que desejam ser seus

integrantes.

Quando o problema escondido está relacionado ao funcionamento da

empresa, quanto mais grave este se mostrar, maior será o segredo. Todos se calam, pois

entendem que se algo vier a prejudicar a empresa, indiretamente todos os funcionários serão,

também, prejudicados.

Os superiores muitas vezes estipulam metas que sabem ser praticamente

impossíveis de serem cumpridas sem que haja faltas ou erros e, quando o funcionário comete

tal erro fica desamparado, desprotegido. Para eles não importam os meios, apenas os fins.

Nesse tipo de abuso os diretores se apóiam no direito que diz que tudo o que

não é expressamente proibido por lei é permitido, independentemente das conseqüências a

terceiros. Ficam protegidos pelo silêncio, “tudo o que não é comentado não existe”

(HIRIGOYEN, 2010, p. 51).

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II SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL

2.1 O assediador

Quando pensamos na figura do assediador, desde logo o que nos vem à

mente é um ser desprezível, que se satisfaz, se realiza causando a infelicidade alheia. Trata-se

de uma pessoa que tem necessidade de demonstrar poder e força, que não se prende a limites

éticos, morais, ditados pela natureza ou mesmo pela condição humana.

Esse entendimento fica evidente nas palavras de Jorge Luiz de Oliveira da

Silva:

O assédio moral, a princípio, traz repercussões extremamente negativas ao homem,

repercutindo na seara física, psicológica, social e econômica. Indagar os motivos que

levam o assediador a agir de forma tão violenta (uma "violência sutil") nos remete

aos caminhos da ética e da moral. O assediador é essencialmente um indivíduo

destituído de ética e de moral. O assediador age por impulsos negativos e sem

nenhuma nobreza de caráter, revelando seu lado perverso ao verificar sua vítima

sucumbir aos poucos diante de sua iniqüidade (SILVA, 2006, p. 84).

É importante ressaltar que tanto chefia quanto subordinado podem figurar

como assediador ou assediado, entretanto, na grande maioria de casos de assédio moral o

assediador é um superior hierárquico. Portanto, é importante analisar os sujeitos da agressão

para que se possa identificar o tipo e o nível da responsabilidade do agressor.

Entre os tipos de assédio moral podemos destacar o assédio horizontal, o

assédio vertical ascendente, o assédio vertical descendente e o assédio misto e é através dessa

análise que podemos identificar agressor e vítima.

Quando falamos em assédio moral horizontal verificamos que a agressão

ocorre entre dois empregados, de mesmo nível. Ocorre com muita freqüência quando dois

empregados disputam o mesmo cargo ou uma promoção. Neste caso, tanto o assediador

quanto o assediado são empregados, não existindo superioridade hierárquica entre eles.

Segundo Márcia Novaes Guedes:

A ação discriminatória é desencadeada pelos próprios colegas de idêntico grau na

escala hierárquica. Os fatores responsáveis por esse tipo de perversão moral são a

competição, a preferência pessoal do chefe porventura gozada pela vítima, a inveja,

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o racismo, a xenofobia e motivos políticos. [...] a vítima pode ser golpeada tanto

individual como coletivo (GUEDES, 2003. p. 36.).

O assédio moral vertical ascendente é um fenômeno raro que ocorre quando

o superior hierárquico é a vítima do assédio. A título de exemplo podemos citar um superior

recém contratado que tem seus atos rejeitados pelos subordinados, não consegue se adaptar ou

se impor e acaba por sofrer assédio. Nas palavras de Márcia Novaes Guedes:

A violência de baixo para cima geralmente ocorre quando um colega é promovido

sem a consulta dos demais, ou quando a promoção implica um cargo de chefia cujas

funções os subordinados supõem que o promovido não possui méritos para

desempenhar [...] tudo isso é extremamente agravado quando a comunicação interna

inexiste entre superiores e subordinados (GUEDES, 2003. p. 37.).

Em contrapartida, o assédio moral vertical descendente é o tipo de assédio

mais comum e se verifica quando um ou mais subordinados são agredidos pelo superior

hierárquico ou empregador. Trata-se de um tipo de assédio que tem conseqüências muito mais

graves que no assédio horizontal, já que nesta espécie de assédio a vítima se sente ainda mais

isolada e encontra mais dificuldade para reagir e solucionar o problema. Márcia Novaes

Guedes defende essa modalidade de assédio como

A violência psicológica é perpetrada por um superior hierárquico [...] pode este

contar com a cumplicidade dos colegas de trabalho da vítima e através destes a

violência pode ser desencadeada. [...] o grupo tende a se alinhar com o perverso,

creditando à vítima a responsabilidade pelos maus tratos (GUEDES, 2003. p. 36.).

A última modalidade de assédio moral é a mista que também não ocorre

com freqüência. Nesta espécie de assédio a vítima é agredida tanto pelos colegas de trabalho

quanto pelos superiores hierárquicos. Empresas que estimulam competitividade interna e

desempenham mau gerenciamento de recursos humanos são os ambientes que estimulam esse

tipo de agressão. Sobre o tema Marie France Hirigoyen se posiciona da seguinte maneira:

Mesmo se trate de uma história muito particular, é raro um assédio horizontal

duradouro não ser vivido, depois de algum tempo, como assédio vertical

descendente, em virtude da omissão da chefia ou do superior hierárquico. [...]

Quando uma pessoa se acha em posição de bode expiatório, por causa de um

superior hierárquico ou de colegas, a designação se estende rapidamente a todo o

grupo de trabalho. A pessoa passa a ser considerada responsável por tudo que dê

errado (HIRIGOYEN, 2010, p. 114).

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A pressão psicológica causada pela organização do trabalho em

determinados contextos pode ser tão desestabilizantes a ponto de transformar em agressor um

indivíduo comum, dessa forma, qualquer pessoa poderia se tornar um assediador. Entretanto,

na visão de Marie France Hirigoyen “Certos perfis estão mais predispostos. Outros

conseguem resistir, provavelmente porque seus valores morais são mais fortes”.

(HIRIGOYEN, 2010, p. 248).

2.2 As condutas do assediador

Como é sabido, nem sempre será fácil identificar a prática do assédio moral

nas relações de trabalho já que, na maioria das vezes ocorre de forma camuflada, dissimulada,

visando sempre desestabilizar, destruir a autoestima da vítima.

Em alguns casos, o agressor se utiliza de “brincadeiras” sobre características

físicas ou familiares da vítima, seu jeito de ser. Em outros, se utiliza de insinuações

humilhantes, acerca de tema conhecido por todos, tão sutis a ponto de tornar impossível a

defesa da vítima que ainda corre o risco de ser considerada paranóica.

A partir de agora analisaremos alguns métodos de assédio utilizados pelos

agressores para desestruturar a vítima.

2.2.1 O isolamento

Quando o assunto é assédio moral quanto mais isolada uma pessoa está

maior serão suas chances de ser tornar vítima dessa agressão. Aqueles que tem mais aliados

ficam mais seguros, mais protegidos.

Alguns grupos são vistos como “presas” mais prováveis dos assediadores,

dentre eles mães solteiras que precisam do trabalho para sustentar seus filhos, trabalhadores

que muito medo de perder o emprego por viver em situação de extrema dificuldade e pessoas

que não se encaixam em nenhum grupo social, os isolados.

Segundo um estudo feito pelo Parlamento europeu, são mais vulneráveis ao

assédio sexual grupos:

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[...] tal como as mulheres divorciadas e separadas, as novatas no mercado de

trabalho e aquelas cujos contratos de trabalho não são regulares, ou que tem um

status precário, as mulheres portadoras de deficiência física as lésbicas e as mulheres

pertencentes a minorias raciais correm o risco claramente maior. Os homossexuais e

os homens mais jovens apresentam igualmente uma certa vulnerabilidade com

relação ao assédio (HIRIGOYEN, 2010, p. 51).

Atualmente, nota-se dentro das organizações uma ruptura com a

coletividade passando a predominar o individualismo. Nesse momento é importante saber

fazer boas alianças, procurando sempre não ter problemas com superiores e manter um bom

relacionamento com o grupo, não criando problemas e não se distanciando dele.

Nas empresas cujo sistema de administração são muito hierarquizados, o

agressor, em se tratando de um superior hierárquico, quando encontra sua vítima tenta isolá-la

do grupo, mantê-la em uma espécie exílio interior. Geralmente é ele, o agressor, quem define

as regras de relacionamento fazendo com que os demais não falem mais com a vítima, que as

informações sobre o serviço não cheguem mais até ela.

O objetivo do agressor com o isolamento é fazer com que a vítima não tenha

com quem compartilhar seu problema, não receba solidariedade dos demais. A longo prazo a

vítima se sente tão insegura que já não tem coragem de se aproximar dos outros temendo ser

rejeitada.

O agressor instiga os membros do grupo contra a vítima. Aos poucos o

silêncio se estende inclusive entre aqueles que não desejam tomar partido. Nesse momento

não se trata de um silêncio hostil, mas sim de constrangimento. A vítima se sente hostilizada e

sua reação de defesa acaba por atrair hostilidade daqueles que até então estavam neutros.

Alguns administradores entendem ser mais prático isolar a pessoa de quem

querem se livrar. Isso ocorre de forma sutil e que muitas vezes passa despercebido por tratar-

se de um sistema progressivo. Inicialmente restringe o acesso da vítima a certos dados, não

repassa suas ligações e pouco a pouco o silêncio e o vazio a envolvem deixando-a

completamente só, onde passa a reinar o cada um por si.

2.2.2. O trabalho usado como pretexto para o ataque pessoal

Uma das formas usadas pelos assediadores para se livrarem de determinada

pessoa é através do trabalho que esta deverá prestar. As empresas exigem que o trabalho seja

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realizado com a maior eficiência possível mas não se preocupam em fornecer meios para que

isso ocorra.

Esse tipo de agressão normalmente ocorre de forma muito sutil, afim de não

levantar suspeitas e mostrar-se inadequadas para o ambiente de trabalho. O agressor busca

meios de atacar o psicológico da vítima forçando-a a submeter-se a ele parar de incomodá-lo.

É mais comum encontrarmos esse tipo de conduta nas empresas onde as

tarefas não são totalmente definidas, onde há a possibilidade de um funcionário exercer

diversas atividades. Quando as metas são bem definidas fica muito clara a obrigação do

empregado e ele tem condições de argumentar, de se defender mostrando que fez o trabalho

corretamente.

É por este motivo que nos setores de produção é muito mais comum o

confronto direto que o assédio moral, pois cada um sabe exatamente o que deve fazer. Já nos

setores administrativos ocorre o inverso e a violência é mais dissimulada.

Os primeiros sinais do assédio moral apresentam-se nas mudanças nas

condições de trabalho como ocorre, por exemplo, com o funcionário que já está

sobrecarregado de trabalho e lhe é imposto ainda mais serviço, ou quando de repente o

funcionário passa a não receber trabalho algum enquanto os outros estão totalmente

assoberbados.

Visando a desestabilização emocional do empregado o assediador passa a

evidenciar seus erros, a lhe impor tarefas que sabe serem impossíveis de se cumprir ou até

mesmo dando lhe tarefas inúteis. Dessa forma a vítima acaba acreditando que é incapaz, pois

já não consegue mais executar seu trabalho com eficiência.

2.2.3 A agressão individual

Quando o assunto é assédio moral o agressor visa sempre prejudicar a

vítima, pouco importa se ela desempenha bem seu trabalho ou não. Ainda que muitas pessoas

estejam envolvidas, trata-se sempre de uma agressão individual.

O agressor busca dominar a vítima, desestabilizá-la. Começa atacando seus

pontos fracos até que a pessoa perca sua confiança e passa, então, a acuá-la, reclamando de

coisas que sabe que ela não pode mudar. O agressor atinge seu objetivo quando a vítima

sucumbe à sua vontade.

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Em L‟Art d‟ avoir toujours raison [A arte de ter sempre razão], citada por

Marie France Hirigoyen, Schopenhauer afirma que é uma tática usada por aquele que

encontra-se em desvantagem em uma discussão:

Se percebemos que o adversário é superior e que não há condições de vitória, é

preciso falar de forma de forma desagradável, agressiva, grosseira. Ser desagradável

consiste em abandonar o cerne da discussão (uma vez que perdemos a parada) para

atacar o adversário de uma maneira ou de outra, no que ele é, [...] Tornamo-nos,

assim, irritantes, maus, agressivos, grosseiros. (SCHOPENHAUER apud

HIRIGOYEN, 2010, p. 56).

O assédio objetiva sempre desestabilizar a vítima afim de que esta deixe de

ser capaz de responder e para isso o agressor instaura a desigualdade ou acentua a já existente

pela condição de subordinação. A vítima fica desarmada e o agressor foca não em críticas

profissionais, mas sim no íntimo da vítima, ataca onde mais a machuca.

O ponto íntimo mais freqüentemente atacado é o sexual. Quando a agressão

é contra a mulher o agressor ataca sua feminilidade através de insultos e grosserias em relação

a sua genitália, descrevendo situações em que a mulher pode ser submetida, abusos na

tentativa de seduzi-la. Quando o homem é a vítima do assédio o ponto frágil a ser atacado é

sua virilidade, sua identidade sexual.

Diferentemente do que ocorre nos casos de tortura política onde uma pessoa

é usada para atingir um grupo, no assédio moral a vítima é agredida por meio do grupo ou da

empresa. Nesse tipo de assedio a vítima sempre é escolhida em função de suas características

pessoais e não profissionais.

A médica do trabalho Margarida Barreto (apud ZIMMERMANN;

SANTOS; LIMA, 2011) realizou uma pesquisa onde relaciona as condutas de assédio moral

mais freqüentes:

dar instruções confusas e imprecisas,

bloquear o andamento do trabalho alheio,

atribuir erros imaginários,

ignorar a presença de funcionário na frente de outros,

pedir trabalhos urgentes sem necessidade,

pedir a execução de tarefas sem interesse,

fazer críticas em público,

sobrecarregar o funcionário de trabalho,

não cumprimentá-lo e não lhe dirigir a palavra,

impor horários injustificados,

fazer circular boatos maldosos e calúnias sobre a pessoa,

forçar a demissão,

insinuar que o funcionário tem problemas mentais ou familiares;

transferi-lo do setor, para isolá-lo,

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não lhe atribuir tarefas,

retirar seus instrumentos de trabalho (telefone, fax, computador, mesa),

agredir preferencialmente quando está a sós com o assediado,

proibir os colegas de falar e almoçar com a pessoa.

A médica relacionou ainda outras formas de controlar e pressionar o

funcionário que também caracterizam o assédio moral:

brincadeira de mau-gosto quando o empregado falta ao serviço por motivo de

saúde, ou para acompanhar um familiar ao médico,

marcação sobre o número de vezes e tempo que vai ou fica no banheiro,

vigilância constante sobre o trabalho que está sendo feito,

desvalorização da atividade profissional do trabalhador,

exigência de desempenho de funções acima do conhecimento do empregado

ou abaixo de sua capacidade ou degradantes,

indução do trabalhador ao erro, não só para criticá-lo ou rebaixá-lo, mas

também para que tenha uma má imagem de si mesmo,

indução da vítima ao descrédito de sua própria capacidade laborativa,

recusa à comunicação direta com a vítima, dando-lhe ordens através de um

colega,

censura ao trabalhador de forma vaga e imprecisa, dando ensejo a

interpretações dúbias e a mal entendidos,

exigência de tarefas impossíveis de serem executadas ou exigir realização de

atividades complexas em tempo demasiado curto;

supressão de documentos ou informações importantes para a realização do

trabalho;

não- permissão ao trabalhador para que se submeta a treinamentos;

marcação de reuniões sem avisar o empregado e posterior cobrança de sua

ausência na frente dos colegas;

ridicularizações das convicções religiosas ou políticas, dos gostos do

trabalhador (BARRETO apud ZIMMERMANN; SANTOS; LIMA, 2011).

2.3 O assediado

O assediado é a pessoa escolhida pelo agressor como vítima de sua fúria

como responsável por todo o mal que lhe é causado, tornando-se seu bode expiatório.

Qualquer pessoa pode ser vítima de assédio moral. O assediado pode ser

uma pessoa fraca, com baixa ou nenhuma autoestima, de personalidade fraca ou pouco

competente. Todas essas características podem tornar uma pessoa alvo do assédio moral.

Entretanto, estes não são fatores determinantes quanto à definição da vítima

de assédio moral. Pode acontecer de o agressor se voltar contra um funcionário de inúmeras

qualidades profissionais e pessoais, que nele despertam sentimentos como inveja e ciúmes.

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Como visto em tópicos anteriores o assédio também ocorre quando o funcionário não se

submete ao autoritarismo ou quando não se deixa subjugar.

Segundo Guedes:

A vítima do terror psicológico no trabalho não é o empregado desidioso, negligente.

Ao contrário, os pesquisadores encontraram como vítimas justamente os

empregados com um senso de responsabilidade quase patológico, são ingênuas no

sentido de que acreditam nos outros e naquilo que fazem, são geralmente pessoas

bem -educadas e possuidoras de valiosas qualidades profissionais e morais. De um

modo geral, a vítima é escolhida justamente por ter algo mais. E é esse algo mais

que o perverso busca roubar. As manobras perversas reduzem a auto-estima,

confundem e levam a vítima a desacreditar de si mesma e a se culpar. Fragilizada

emocionalmente, acaba por adotar comportamentos induzidos pelo agressor.

Seduzido e fascinado pelo perverso o grupo não crê na inocência da vítima e

acredita que ela haja consentido e, consciente ou inconscientemente, se já cúmplice

da própria agressão (GUEDES apud OLIVEIRA, 2004).

Segundo Marie-France Hirigoyen qualquer pessoa pode ser vítima de

assédio moral, entretanto o agressor insiste em atacar as pessoas frágeis ou portadoras de

alguma patologia particular, ou seja, pessoas com tendência a serem vítimas de alguma

maneira.

Portanto, não existe um perfil psicológico específico da vítima. O que existe

é um contexto profissional que favorece esse tipo de agressão. Define-se o perfil da vítima em

função do ambiente de trabalho, da personalidade do agressor e da capacidade que a própria

vítima tem de se defender.

Marie-France Hirigoyen buscando definir a vítima de assédio moral faz a

seguinte afirmação:

Contrariando o que seus agressores tentam fazer crer, as vítimas, de início, não são

pessoas portadoras de qualquer patologia, ou particularmente frágeis. Pelo contrário,

freqüentemente o assédio se inicia quando uma vítima reage ao autoritarismo de um

chefe, ou se recusa a deixar-se subjugar. É sua capacidade de resistir à autoridade,

apesar das pressões, que a leva a tornar-se um alvo. O assédio torna-se possível

porque vem precedido de uma desvalorização da vítima pelo perverso, que é aceita e

até caucionada posteriormente pelo grupo. Essa depreciação dá uma justificativa a

posteriori à crueldade exercida contra ela e leva a pensar que ela realmente merece o

que lhe está acontecendo. No entanto, as vítimas não são franco-atiradoras. Pelo

contrário, encontramos entre elas inúmeras pessoas escrupulosas, que apresentam

um “presenteísmo patológico”: são empregados perfeccionistas, muito dedicados a

seu trabalho e que almejam ser impecáveis. (BRASIL, 2011, p. 14).

De acordo com o artigo Aspectos conceituais de assédio moral: um estudo

exploratório (PEDROSO; et al, 2011) pesquisas apontam que não são as condições

psicológicas que determinam quem pode ser vítima de assédio moral, e sim outros fatores, tais

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como gênero, idade, aparência, comportamento, vulnerabilidade e, ainda, fatores ligados ao

desempenho de funções como, por exemplo, competência e qualificação.

Estudiosos do tema como Marie-France Hirigoyen, Margarida Barreto e

Mauro Azevedo enumeram as principais características do perfil da vítima, conforme o

esquema abaixo:

Trabalhadores com mais de 35 anos;

Os que atingem salários muito altos;

Os saudáveis, escrupulosos, honestos;

As pessoas que tem um senso de culpa muito desenvolvido;

Os dedicados, excessivamente até, ao trabalho, perfeccionistas;

Os impecáveis, que não hesitam em trabalhar nos fins de semana, ficam até

mais tarde e não faltam ao trabalho mesmo quando doentes;

Os que não se curvam ao autoritarismo, nem se deixam subjugar;

Os que são mais competentes que o agressor;

As pessoas que estão perdendo a cada dia a resistência física e psicológica

para suportar humilhações;

Os portadores de algum tipo de deficiência;

Mulher em um grupo de homens;

Homem em um grupo de mulheres;

Os que tem crença religiosa ou orientação sexual diferente daquele que

assedia;

Quem tem limitação de oportunidades por ser especialista;

Aqueles que vivem sós;

Mulheres casadas e/ou grávidas e/ou que tem filhos pequenos.

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III CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDO MORAL

3.1 Conseqüências do assédio moral para a empresa

O mal causado pelo assédio moral não se limita a atingir apenas aquele que

dele é vítima. Seus efeitos podem ser verificados também dentro das empresas, no ambiente

de trabalho em que ocorreu, vindo a prejudicar não apenas o seu desenvolvimento como

também o trabalho dos demais empregados.

É o entendimento de Márcia Guedes que afirma:

Os efeitos perversos do assédio moral não se limitam apenas à pessoa imolada, mas

espraiam-se, em termos de custos, para as empresas que respondem pelas

conseqüências diretas da violência no interior do grupo de trabalho. De modo geral,

verificase, no nível do grupo, uma redução na capacidade produtiva e na eficácia;

acentuada crítica aos empregadores; elevada taxa de absenteísmo por doenças;

tendência do grupo de fazer tempestades em copo d‟água, transformando pequenos

problemas em gigantescos conflitos; a busca de bodes expiatórios, para mascarar os

reais problemas e culpados (GUEDES, 2005, p. 114).

Os prejuízos causados pelo assédio moral dentro das empresas pode ser

claramente detectado no que diz respeito aos demais empregados pelo alto nível de

desmotivação que estes apresentam, temem ser a próxima vítima já que testemunharam as

agressões e sentem-se desprotegidos. Por conseqüência há uma queda de produção. A

empresa também terá sua imagem maculada pela agressão e terá de arcar com as despesas

oriundas do assédio.

Jorge Luis de Oliveira da Silva afirma que:

Segundo pesquisas efetuadas pela Associação Italiana contra o Mobbing e o Stress

Psicossocial (PRIMA), as práticas de mobbing têm importado em uma redução de

até 80% da capacidade individual de trabalho da vítima, impondo considerável

impacto econômico na empresa, uma vez que esta acaba por arcar com os salários de

um empregado que não apresenta produtividade e ainda afeta a eficiência da equipe.

Posteriormente, com o afastamento do assediado, a empresa terá que arcar com o

ônus da substituição e treinamento do novo empregado, quer seja em razão do

afastamento por licença médica, quer seja em razão do afastamento definitivo

(SILVA, 2005, p. 59).

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Dessa forma, fica evidente que se o empregado não está bem

psicologicamente ou fisicamente, haverá uma queda em seu rendimento profissional o que

acarretará, para a empresa, prejuízos como queda de produção.

Para evitar que isso ocorra a empresa deve proporcionar ao empregado um

ambiente de trabalho sadio, oferecendo-lhe sempre boas condições de trabalho. Assim, ainda

que não esteja objetivando o bem estar de seu empregado, estará cuidando para que não haja

queda em sua produtividade, pois, como bem sabemos, o assédio moral faz com que o

empregado se afaste, falte ao trabalho por doenças, sendo, em alguns casos, necessário gozar

de licença saúde.

Nesse sentido, Jorge Luis de Oliveira da Silva elucida que:

Um funcionário satisfeito produz com mais eficiência e qualidade, enquanto que um

funcionário desmotivado, insatisfeito, apresenta um rendimento burocrático, abaixo

do desejado, fazendo repercutir tal fato na produtividade da empresa ou do órgão a

qual pertença. O assédio moral no ambiente de trabalho, conforme já amplamente

caracterizado, atinge a auto-estima do trabalhador e, muitas vezes, de seus pares,

impulsionando falta de motivação, doenças, problemas de relacionamento e aumento

de acidentes de trabalho, o que prejudica sensivelmente as metas a serem alcançadas

em termos de produção e a imagem da empresa (SILVA, 2005, p. 62).

De acordo com a cartilha Assédio Moral no local de trabalho a empresa

sofrerá com as seguintes perdas:

queda da produtividade e menor eficiência; imagem negativa da empresa

perante os consumidores e mercado de trabalho;

alteração na qualidade do serviço/produto e baixo índice de criatividade;

doenças profissionais , acidentes de trabalho e danos aos equipamentos;

troca constante de empregados , ocasionando despesas com rescisões, seleção

e treinamento de pessoal;

aumento de ações trabalhistas, inclusive com pedidos de reparação por danos

morais (BRASIL, 2011, p. xx).

Podemos concluir que a empresa deve sempre zelar pelo bem estar de seus

funcionários valorizando não apenas seu trabalho, mas também o ser humano que ele é,

tratando-o com dignidade. Um funcionário motivado produz mais. Além de não sofrer queda

de produção, afastando o assédio moral a empresa afasta também o risco de ser condenada a

pagar indenizações às vítimas deste. Todos ganham.

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3.2 Conseqüências do assédio moral para o assediador

A CLT determina que o contrato de trabalho deve ser regido pelo princípio

da boa fé, bem como deve ser baseado em igualdade e respeito entre contratante e contratado.

O empregado recebe remuneração para desempenhar bem suas funções e o empregador

exerce seu poder de disciplina, sempre visando garantir uma boa relação de trabalho.

Entretanto, quando o empregador extrapola seu poder disciplinar valendo-se

de gestos, palavras e atitudes que caracterizam o assédio moral, estará enquadrando-se no Art.

483 da CLT, ensejando o inadimplemento contratual vez que tais atos configuram graves

violações contratuais e legais. Essa conduta do empregador fere a dignidade do trabalhador

justificando a despedida indireta por justa causa ou falta grave do empregador. Esta seria a

penalidade do assediador na esfera trabalhista.

O assédio moral pode ser punido, ainda, nas esferas civil (responsabilização

patrimonial direta pelo dano causado) e criminal (aplicações de sanções penais por condutas

tipificadas no CP).

Em relação à responsabilidade patrimonial do empregador, a legislação

brasileira determina que a empresa responda objetivamente pelos atos praticados por seus

prepostos, independentemente da possibilidade ou não da responsabilização direta daquele

que causou o dano.

Entretanto, nada impede que a empresa postule ação de regresso em relação

ao empregado assediador para ressarcimento dos valores que gastou em virtude dos atos por

este empregado praticados.

O Art. 462 da CLT determina que “Ao empregador é vedado efetuar

qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de

dispositivos de lei ou de contrato coletivo.” e vai além em seu § 1º ao dizer que “Em caso de

dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido

acordada ou na ocorrência de dolo do empregado.”

Portanto, a responsabilidade objetiva do empregador não deve ser vista

como absoluta quando o assédio for praticado for praticado por seus prepostos ou agentes.

Na esfera penal, havendo a possibilidade de enquadramento de quaisquer

das condutas lesivas praticadas pelo assediador no Código Penal vigente, este responderá

penalmente pelo crime correspondente sem prejuízo das demais penalidades, sejam elas civis

ou trabalhistas.

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3.3 Conseqüências para o assediado

As conseqüências do assédio moral para o assediado dependem de alguns

fatores tais como: perfil psicológico da vítima, intensidade e duração da agressão. Em se

tratando de assédio recente, os sintomas são muito parecidos com os do estresse e

possibilitam uma recuperação ou uma possibilidade de reação. Esses sintomas geralmente são

tratados pelos médicos como distúrbios funcionais: enxaquecas, problemas digestivos,

nervosismo, cansaço, insônia etc.

Entretanto, quando se trata de assédio moral, a esse estresse é acrescido o

sentimento de humilhação, de impotência. Nessa fase do assédio é possível uma recuperação

da vítima havendo a retratação do agressor ou o afastamento dela do ambiente hostil.

Se a agressão permanece por mais tempo pode haver a solidificação de um

estado depressivo onde o assediado passa a apresentar sintomas como complexo de culpa,

tristeza, obsessão, apatia inclusive desinteresse por seus próprios valores.

De acordo com os critérios do DSM IV [Classificação Internacional das

Doenças Mentais] citado por Hirigoyen na obra Mal Estar no Trabalho (2002, p. 160):

69% das pessoas apresentaram um estado depressivo tão severo que

justificou acompanhamento médico, pois indicavam sério risco de suicídio;

7% das pessoas apresentavam um estado depressivo moderado;

24% das pessoas apresentavam um estado depressivo leve.

Os males do assédio moral extrapolam a esfera profissional e passam a

atingir também a vida social e familiar da vítima. Em longo prazo, a situação é agravada

passando a vítima a sofrer de ansiedade, de estado depressivo e perturbações psicossomáticas.

A vítima pode apresentar, ainda, distúrbios fisiológicos que ocasionam problemas digestivos

[gastrites, colites, úlceras de estômago], aumento ou perda de peso, doenças do coração,

doenças de pele, etc.

Marie-France Hirigoyen salienta que:

Esses estados depressivos estão ligados ao esgotamento, a um excesso de estresse.

As vítimas sentem-se vazias, cansadas, sem energia. Nada mais lhe interessa. Não

conseguem mais pensar ou concentrar-se, mesmo na atividade mais banais. Podem,

então, sobrevir idéias de suicídio. O risco é ainda maior no momento em que elas

tomam consciência de que foram lesadas e que nada lhes dará a possibilidade de

verem reconhecidas suas razões. Quando há um suicídio, ou tentativa de suicídio,

isso conforta os perversos em sua certeza de que o outro era fraco, perturbado,

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louco, e que as agressões que lhe eram infligidas eram justificadas (HIRIGOYEN

apud MOLON, 2011).

De acordo com o site Assédio Moral no Trabalho (2011), em uma pesquisa

realizada com 870 homens e mulheres vítimas de assédio moral, pode-se verificar, em

porcentagem, a diferente reação de cada sexo à agressão:

Sintomas Mulheres Homens

Crises de choro 100 -

Dores generalizadas 80 80

Palpitações, tremores 80 40

Sentimento de inutilidade 72 40

Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6

Depressão 60 70

Diminuição da libido 60 15

Sede de vingança 50 100

Aumento da pressão arterial 40 51,6

Dor de cabeça 40 33,2

Distúrbios digestivos 40 15

Tonturas 22,3 3,2

Idéia de suicídio 16,2 100

Falta de apetite 13,6 2,1

Falta de ar 10 30

Passa a beber 5 63

Tentativa de suicídio - 18,3

O dano psíquico é geralmente comparado ao estresse. Trata-se do primeiro

dano sofrido pela vítima já que o assédio moral desestabiliza o psicológico da vítima e em

casos extremos pode levar a um posterior dano físico.

Para Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes, Maria Celeste Cordeiro Leite

Santos e José Américo dos Santos o dano psíquico como é:

[...] uma deterioração, disfunção, distúrbio ou transtorno, ou desenvolvimento psico-

gênico ou psico-orgânico que, afetando suas esferas afetiva e/ou intelectual e/ou

volitiva, limita sua capacidade de gozo individual, familiar, atividade laborativa,

social e/ou recreativa (GOMES, 1998, p. 7).

Pode-se dizer que o psicológico da vítima é o maior prejudicado pelo

assédio, visto que a grande maioria dos assediados sofre de desestabilização emocional

permanente e trazem consigo um sofrimento que Hirigoyen denomina estresse pós-

traumático. Segundo a autora, para a vítima:

É como se o corpo tivesse gravado involuntariamente a memória o traumatismo e

que este pudesse ser revivido eternamente e a todo instante. As pessoas têm reações

de sobressalto, e as imagens se impõem a elas quando cruzam com alguém que se

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parece com o assediador ou quando estão numa situação familiar. Esse tipo de

agressão deixa sempre marcas de longo prazo. Anos depois, persistem nas pessoas

condutas de medo ou de evitação. Às vezes o temor da dor, provocado pela

lembrança do passado, impede as vítimas de voltarem onde forma agredidas ou de

encontrarem antigos colegas, criando-se uma espécie de fobia (HRIGOYEN, 2002,

p. 166-167).

Portanto, fica evidente que nem mesmo o tempo é capaz de apagar todos os

males sofridos pela vítima do assédio. De tempos em tempos ela se questiona sobre o por que

se tornou vítima, o que fez de errado, por que não reagiu no momento oportuno, sentindo

sempre vergonha e humilhação por não ter sido capaz de reagir a tal agressão.

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IV O ASSÉDIO MORAL E A LEGISLAÇÃO

4.1 Fundamentos constitucionais

Ante o exposto nos capítulos anteriores, fica muito claro que o assédio

moral agride, além da saúde do trabalhador, sua dignidade, violando garantias e princípios

constitucionais.

A necessidade de ver preservada a dignidade do trabalhador bem como a

necessidade de mantê-lo num ambiente de trabalho saudável são claramente demonstrados na

Constituição Federal de 1988, que determina:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

[...]

III- a dignidade da pessoa humana;

IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; [...].

O legislador foi além e estabeleceu no artigo 170 da Carta Magna que “a

ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social [...]”.

Fica evidente a preocupação do legislador em proteger a dignidade da

pessoa humana e a manutenção de um ambiente laboral saudável, valorizando, assim, as

relações de trabalho.

4.2 O princípio da dignidade da pessoa humana

A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental da Constituição

Federal de 1988. Trata-se de direito e garantia fundamental tal como a vida, a saúde, a

liberdade, a educação, a privacidade, a intimidade etc.

Em se tratando de assédio moral, sem dúvida, o princípio da dignidade da

pessoa humana é o mais violado. Segundo Costa, pode-se definir dignidade como:

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A palavra dignidade provém do latim – dignitas, dignitatis – e significa entre outras

coisas, a qualidade moral que infunde respeito, a consciência do próprio valor. Ao

falar-se em dignidade da pessoa humana quer-se significar a excelência que esta se

possui em razão da sua própria natureza. Se for digna qualquer pessoa humana,

também o é o trabalhador, por ser uma pessoa humana. É a dignidade da pessoa

humana do trabalhador que faz prevalecer os seus direitos estigmatizando toda

manobra tendente a desrespeitar ou corromper de qualquer forma que seja esse

instrumento valioso, feito a imagem de Deus (COSTA, 1995, p. 16-21).

Nas palavras de Nelson Neri e Rosa Maria de Andrade Nery (2011) o

princípio da dignidade da pessoa humana “É o fundamento axiológico do Direito; é a razão de

ser da proteção fundamental do valor da pessoa e, por conseguinte, da humanidade do ser e da

responsabilidade que cada homem tem pelo outro”.

O assédio moral atinge de forma muito violenta esse princípio vez que a

dignidade da pessoa humana está intimamente ligada ao trabalho do cidadão. O trabalhador

deve se sentir útil, produtivo em seu trabalho. Entretanto, quando existe o assédio estas são as

primeiras atribuições que lhe são tiradas.

Segundo o constitucionalista José Afonso da Silva, o princípio da dignidade

da pessoa humana é um princípio base sem o qual outros princípios deixariam de existir. Em

suas palavras:

Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os

direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. [...] Daí decorre que a

ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos a existência digna (art. 170), a

ordem sócia visará a realização da justiça social (art. 193), a educação, o

desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania (art. 205)

etc., não como meros enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo

normativo eficaz da dignidade da pessoa humana. (SILVA, 2000, p. 109).

O direito do trabalho é responsável por regular a relação entre empregador e

empregado, mas sempre respeitando os princípios constitucionais, dentre os quais se destaca a

dignidade da pessoa humana. Esta sempre deverá prevalecer em relação ao lucro, cabendo ao

empregador resguardar seus subordinados abolindo práticas como o assédio moral em sua

empresa.

A jurisprudência tem se manifestado acerca do tema conforme decisão do

Tribunal Regional do Trabalho de Vitória/ES:

ASSÉDIO MORAL - CONTRATO DE INAÇÃO - INDENIZAÇÃO POR DANO

MORAL - A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado,

visando forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que

resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações

e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à

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indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissional, eis que minam

a saúde física e mental da vítima e corrói a sua auto-estima. No caso dos autos, o

assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato

de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho, e por

conseqüência, descumprindo a sua principal obrigação que é a de fornecer trabalho,

fonte de dignidade do empregado (ESPÍRITO SANTO, 2002).

Dessa forma, ocorrendo o assédio moral, que viola violentamente este

princípio tão valioso do cidadão, a empresa deverá ser responsabilizada respondendo

judicialmente por todos os danos causados à sociedade, em especial à vítima.

4.3 Meio ambiente do trabalho sadio

É sabido que cabe ao empregador a manutenção de um ambiente de trabalho

sadio, que ofereça condições dignas de trabalho, físicas e psicológicas, tornando possível um

bom desenvolvimento das atividades laborais.

O artigo 225 da Constituição Federal garante a todos os cidadãos o direito a

um meio ambiente saudável, capaz de garantir o desenvolvimento humano e suas dilatações.

Dispõe o mencionado artigo que ”Todos têm direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Alice Monteiro Bastos define o meio ambiente do trabalho da seguinte

forma:

Para fins didáticos e sem fracionar o conceito de meio ambiente, a doutrina o

classifica em: meio ambiente natural, artificial, cultural e meio ambiente do trabalho.

O meio ambiente natural é constituído de recursos naturais, como a água, o ar, o

solo, a fauna e a flora. O meio ambiente artificial é o espaço físico transformado pela

ação do homem de forma contínua, tendo em mira a vida em sociedade. Ele se

subdivide em meio ambiente urbano, periférico e rural. Já o meio ambiente cultural

é constituído por bens, valores e tradições que fazem parte da identidade e formação

de uma sociedade. Finalmente, como meio ambiente do trabalho, entende-se o local

onde o homem obtém os meios para prover a sua subsistência, podendo ser o

estabelecimento empresarial, o ambiente urbano, no caso dos que executam

atividades externas e até o domicilio do trabalhador, no caso do empregado a

domicílio, por exemplo (BARROS, 2005. p. 149).

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Portanto, protegendo o meio ambiente do trabalho o legislador está

protegendo a segurança e a saúde o empregado, vez que este passa aproximadamente um terço

de seu dia no ambiente laboral. Daí a importância de se manter um ambiente sadio que

propicie um bom desenvolvimento do trabalho e convívio social. O empregado que trabalha

feliz produz mais, gerando mais benefícios para a empresa.

Nesse sentido, Raimundo Simão de Melo afirma que:

É preciso saber que as conseqüências dos ambientes de trabalho inadequados são as

doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho que podem custar caro para o

empreendedor que não cuida da segurança e saúdes dos seus trabalhadores. (...) Isso

pode representar grandes passivos trabalhistas capazes de até mesmo inviabilizar o

negócio empresarial (MELO, 2008, p. 69).

Em proteção ao meio ambiente do trabalho, ainda que de forma indireta, a

Constituição Federa, dispõe em seu artigo 7º. que “São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII – redução dos riscos

inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”.

A medicina do trabalho é responsável por desenvolver estudos visando a

proteção da saúde do trabalhador, indicando medidas preventivas de higiene, saúde e

segurança no ambiente de trabalho.

Carrion afirma que:

A segurança e higiene do trabalho são fatores vitais na prevenção de acidentes e na

defesa da saúde do empregado, evitando o sofrimento humano e o desperdício

econômico lesivo as empresas e ao próprio País. Pratica falta o empregado que não

obedece às normas de segurança e higiene do trabalho, inclusive quanto ao uso de

equipamentos. A lei quer que as instruções sejam expedidas pelo empregador, que

hajam sido veiculadas por ele aos seus empregados: não basta assim a simples

vigência. O ato faltoso do empregado poderá ou não constituir justa causa para

rescisão do vinculo laboral, de acordo com a gravidade das circunstancias, de sua

reiteração, etc., como acontece com as demais faltas propiciando em certas hipóteses

simples advertência ou suspensão (v art. 482/2) (CARRION, 2001, p. 158-159).

Um ambiente que apresente más condições de trabalho afetas as condições

físicas e mentais do trabalhador, causando-lhe fadiga, esgotamento, diminuindo seu

rendimento.

Com o decorrer do tempo, essas más condições de trabalho comprometem

de forma definitiva a capacidade laboral do trabalhador, compondo o quadro de assédio moral

no trabalho.

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Portanto, é indispensável a exigência de um meio ambiente do trabalho

sadio, que torne o trabalho prazeroso e agradável, melhorando assim sua qualidade de vida.

4.4 Dano moral

A Constituição Federal além de garantir o direito à dignidade da pessoa

humana e o direito a uma meio ambiente do trabalho sadio, preocupo-se, ainda, no art. 5º em

que trata dos direitos e garantias fundamentais, em estabelecer a possibilidade de

ressarcimento pelo dano moral.

Yussef Cahali define dano moral como:

Tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os

valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade

em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há

como enumere-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no

sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na

desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no

devassamento da privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos

traumatismos emocionais, da depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de

constrangimento moral. (CAHALI, 1998, p. 20-22).

O empregado, vítima de assédio moral, deve, portanto, procurar a Justiça do

Trabalho a fim de pleitear indenização por danos morais decorrentes do assédio moral, já que

este viola claramente os direitos e garantias fundamentais da vítima.

Para que possa ser indenizado o trabalhador deve fazer prova do dano moral

sofrido. Para tanto poderá valer-se de: atestados médicos em que constem os registros de

problemas físicos e psicológicos adquiridos em decorrência das condições de trabalho,

anotações contendo dia e hora em que as agressões foram feitas, através de boletim de

ocorrência contra o agressor, através de cartas e emails ofensivos enviados pelo agressor etc.

É nesse sentido que tem se manifestado a jurisprudência:

ASSÉDIO MORAL – ÔNUS DA PROVA – Indevida indenização por danos morais

quando não restou evidenciado o alegado assédio moral, ônus que incumbirá ao

reclamante (artigo 818 da CLT c/c artigo 333, inciso I, do CPC). Não se vislumbram

nos autos quaisquer indícios de que tenha o autor tenha sofrido constrangimento em

razão de receber salário inferior aos paradigmas indicados. Sentença que se mantém

(PARANÁ, 2011).

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ASSÉDIO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. O assédio moral se caracteriza por ser

uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade

psíquica, de forma repetitiva e prolongada e que expõe o trabalhador a situações

humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à

dignidade ou à integridade psíquica, que tenha por efeito a ameaça do seu emprego e

deteriorando o ambiente de trabalho. Para fazer jus à indenização

por assédio moral o autor deve fazer prova nos autos da sua

existência. DANOMORAL. CONFIGURAÇÃO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. A

indenização por danos morais, embora seja arbitrada pelo juiz, deve levar em

consideração alguns critérios, tais como: a posição social do ofendido, a situação

econômica do ofensor, a culpa do ofensor na ocorrência do evento, iniciativas do

ofensor em minimizar os efeitos do dano. Em suma, deve servir para punir o infrator

e compensar a vítima. Deve ser um valor alto e suficiente para garantir a punição do

infrator, com o fito de inibi-lo a praticar atos da mesma natureza, cujo caráter é

educativo, mas não a tal ponto capaz de justificar enriquecimento sem causa do

ofendido (MATO GROSSO, 2011).

Vale ressaltar que a responsabilização pelos danos morais sofridos pela

vítima dependerá de prova do ato omissivo ou comissivo do agressor, do nexo causal, da

culpa e da existência do dano moral, já que se trata de responsabilidade subjetiva do

empregador, conforme dispõe a Súmula 341 do STF que determina que “É presumida a culpa

do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”.

4.5 A legislação brasileira

Tramitam no Congresso Nacional diversos projetos de Lei destinados a

regular o assédio moral, entretanto, ainda não existe, na esfera federal, nenhuma Lei vigente

específica. Dentre eles podemos destacar os seguintes projetos que visam alterar: o Código

Penal, a Lei 8.112, a Lei 8.666 e o que visa alterações na CLT (ASSÉDIO MORAL, 2011).

Na esfera estadual o estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a aprovar uma

lei contra o assédio moral com a iniciativa do deputado estadual Noel de Carvalho, integrante

do PSB.

Trata-se da Lei nº 3.921, de 23 de agosto de 2.002, que dispõe de 12 artigos

aplicáveis à administração Pública estadual em geral. De acordo com a lei, é vedada toda

conduta caracterizadora do assédio moral e também define as hipóteses que considera assédio.

Prevê punições para o agressor, tais como: advertência, suspensão e/ou demissão; garante ao

acusado o contraditório e a ampla defesa; garante proteção as testemunhas; e ainda obriga a

adoção de medidas necessárias para prevenir o assédio moral (ASSÉDIO MORAL, 2011).

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Em seguida, o estado de São Paulo, através da Lei 12.250, de 09 de

fevereiro de 2.006, passou a conceituar, punir e buscar a prevenção do assédio moral.

Posteriormente, editou a Lei nº13036, de 29 de maio de 2.008 instituindo o “Dia Estadual de

Luta Contra o Assédio Moral nas Relações de Trabalho” (ASSÉDIO MORAL, 2011).

No estado do Rio Grande do Sul a matéria foi disciplinada pela Lei

Complementar nº. 12.561, de 12 de julho de 2.006 (ASSÉDIO MORAL, 2011).

Existem ainda, em tramitação, diversos projetos de lei estaduais sobre o

assedio moral nos estados: Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Ceará, e o projeto de Lei

Complementar do Rio Grande do Sul (ASSÉDIO MORAL, 2011).

No âmbito municipal a cidade de Iracemápolis/SP foi a primeira a editar

uma lei municipal sobre o tema. Atualmente diversas outras cidades já dispõem de leis ou

projetos de leis para regular o assunto, conforme relação abaixo (ASSÉDIO MORAL, 2011):

Americana/SP – Lei nº 3671, de 07/06/2002

Amparo/SP – Lei nº 3234, de 18/16/2006

Araraquara/SP – Lei nº 6555, de 23/04/2007

Bagé/RS – Lei nº 4027, de 01/09/2003

Balneário Camboriu/SC – Lei nº 2665, de 08/11/2006

Bombinhas/SC – Lei nº 864, de 07/12/2005

Brasília/DF – Lei nº2949, de 19/04/2002

Campina Grande do Sul/PR – Lei nº 23, de 26/06/2006

Campinas/SP – Lei nº 11.409, de 04/11/2002

Capão da Canoa/RS – Lei nº 2359, de 05/01/2007

Cascavel/PR – Lei nº 3.243, de 15/05/200

Conchas/SP – Lei nº 504, de 28/08/2001

Divinópolis/MG – Lei nº 5534, de 17/12/2002

Fazenda Rio Grande/PR – Lei nº 491, de 01/09/2007

Foz do Iguaçu/PR – Lei nº 3152, de 16/12/2005

Gaspar/SC – Lei nº 2415, de 07/11/2003 e Lei nº 2467, de 02/04/2004 que

alterou o art. 5º da lei anterior

Gravataí/RS – Lei nº 1977, de 05/08/2003

Guarulhos/SP – Lei nº 358, de 19/07/2001

Ilha Bela/SP – Lei nº 138, de 18/10/2002

Itaquaquecetuba/SP – Lei nº 2252, de 20/04/2004

Iracemápolis/SP – Lei nº 1.163, de 24/04/2000 e Decreto Regulamentador nº.

1.1134/2001

Jaboticabal/SP – Lei nº 2.982, de 17/11/2001

Juiz de Fora/MG – Lei nº 10607, de 15/12/2003

Londrina/PR – Lei nº 9897, de 29/12/2005

Maringá/PR – Lei nº 435, de 18/11/2002

Martinópolis/SP – Lei nº 2392, de 23/04/2004

Monte Aprazível/SP – Lei nº 2735, de 23/11/2006

Natal/RN – Lei nº189, de 23/02/2002

Osasco/SP – Lei nº 3959, de 01/09/2005

Osório/RS – Lei nº 3338, de 16/10/2001

Pinhais/PR – Lei nº 573, de 08/07/2003

Poa/SP – Lei nº 3010, de 09/03/2004

Porto Alegre/RS – Lei complementar nº 498, de 19/02/2003

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Praia Grande/SP – Lei nº 430, de 10/10/2005

Presidente Prudente – Lei nº 6123, de 17/11/2003

Resende/RJ – Lei nº 2382, de 15/01/2003

Ribeirão Preto/SP – Lei nº 9736, de 19/02/2003

Rolim de Moura/RO – Lei nº 1510, de 08/11/2007

Salvador/BA – Lei nº 6986, de 31/01/2006 (aguardando regulamentação)

Santa Maria/RS – Lei nº 4552, de 18/04/2002

Santana do Parnaíba/SP – Lei nº 2658, de 10/10/2005

São Caetano do Sul/SP – Lei nº 4252, de 23/09/2004

São Gabriel do Oeste/MS – Lei nº 511, de 04/04/2003

São Paulo/SP – Lei nº 13.288, de 10/01/2002

Sete Lagoas/MG – Lei nº 7223, de 02/05/2006

Sidrolândia/MS – Lei nº 1.078, de 05/11/2001

Sorriso/MT - – Lei nº 1210, de 01/04/2004

Suzano/SP – Lei nº 4103, de 15/03/2007

Ubatuba/SP – Lei nº 2120, de 20/11/2000

Viamão/RS – Lei nº 3308, de 22/04/2005

Verificou-se que a grande maioria das leis municipais sobre o assédio moral

destina-se aos funcionários da Administração Pública direta e indireta, de fundações,

autarquias e aos servidores públicos. Via de regra, para conceituar o assédio moral utilizam o

disposto no artigo 1º da Lei 1163/00 de Iracemápolis/SP (ASSÉDIO MORAL, 2011) que

determina:

Art. 1º[...]

Parágrafo único: Para fins do disposto nesta lei considerar-se assédio moral todo tipo

de ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a autoestima e a segurança de

um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao

ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional ou à estabilidade do

vínculo empregatício do funcionário, tais como: marcar tarefas com prazos

impossíveis; passar alguém de uma área de responsabilidade para funções triviais;

tomar créditos de idéias de outros; ignorar ou excluir um funcionário só se dirigindo

a ele através de terceiros; sonegar informações de forma insistente; espalhar rumores

maliciosos; criticar com persistência; subestimar esforços.

As leis municipais tratam, ainda, das penalidades aplicáveis ao infrator, da

competência para o procedimento administrativo, da proteção à testemunha e assegura o

direito do acusado à ampla defesa.

4.6 Previsão legal trabalhista

Na esfera trabalhista o assédio moral é causa de inadimplemento contratual,

violando as normas protetivas da CLT, as garantias fundamentais do trabalhador previstas na

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própria Constituição Federal e também em normas internacionais, devendo, portanto, sujeitar-

se a sanções legais.

O trabalhador, para lutar contra o assédio, poderá valer-se da indenização

por danos morais e encontrará na Legislação Trabalhista outros mecanismos de defesa que

poderá usar na tentativa de resguardar-se dos males oriundos do assédio.

Um destes mecanismos de defesa é a Rescisão Indireta cabível quando o

empregador dá causa ao término do contrato, praticando condutas de assédio, como por

exemplo, rigor excessivo, ofensa à honra e à boa fama, serviços superiores às forças do

trabalhador etc.

Assim dispõe o art. 483 da CLT:

Art. 483 – O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida

indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos

bons costumes, ou alheios ao contrato;

b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor

excessivo;

c) correr perigo manifesto de mal considerável;

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato

lesivo da honra e boa fama;

f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de

legítima defesa, própria ou de outrem;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a

afetar sensivelmente a importância dos salários.

§ 1º – O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o

contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a

continuação do serviço.

§ 2º – No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é

facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho.

§ 3º – Nas hipóteses das letras d e g, poderá o empregado pleitear a rescisão de seu

contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou

não no serviço até final decisão do processo.

Outro mecanismo da Legislação Trabalhista para inibir a prática do assédio

moral é a Justa Causa cabível quando o assédio é praticado entre colegas de trabalho ou

entre superior hierárquico e subordinado.

O art. 482 da CLT, alíneas b, j e k determinam os elementos

caracterizadores da justa causa aplicáveis ao assédio moral:

Art. 482 – Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo

empregador: ...

b) incontinência de conduta ou mau procedimento;

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa,

ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria

ou de outrem;

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k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o

empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou

de outrem;

A Legislação Trabalhista prevê ainda a possibilidade de Acordos e

Convenções Coletivos de Trabalho.

4.7 Previsão legal na esfera penal

As condutas praticadas pelo assediador podem ser tipificadas penalmente

configurando delitos tais como: crimes contra a honra [calúnia, injúria e difamação], crime de

periclitação da vida e da saúde [maus tratos] ou crimes contra a liberdade individual

[constrangimento ilegal].

Em quaisquer das condutas descritas acima, o assediador estará sujeito a

penas restritivas de liberdade, independentemente de prestação pecuniária [indenização] que

lhe tenha sido imposta na esfera civil.

Não existe, entretanto, legislação penal específica para o assédio moral,

tipificando-o como crime.

Tramita no Congresso Nacional o projeto de Lei Federal n. 4.742/01, de

autoria do Deputado Federal Marcos de Jesus, acrescentando ao Código Penal o art. 146-A

que dispõe: “Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a auto-

estima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de vínculo

hierárquico funcional ou laboral. Pena: Detenção de 3 [três] meses a um ano e multa”

(ASSÉDIO MORAL, 2011).

O deputado Aldir Cabral, relator do projeto, entendendo que a matéria

deveria ser tratada no capítulo pertinente à periclitação da vida e da saúde, alterou o texto

original e inseriu, logo após o crime de maus tratos, o art. 136-A que dispõe (ASSÉDIO

MORAL, 2011):

Art. 136-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o

desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação

hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo,

colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica. Pena – Detenção de

um a dois anos.

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Há ainda em tramitação o Projeto de Lei Federal 5.971/2001, coordenado

pelo deputado federal Inácio Arruda, PC do B – CE, que insere no Código Penal Brasileiro o

crime de “Coação Moral no Ambiente de Trabalho”, através do art. 203-A, trazendo a

seguinte redação (ASSÉDIO MORAL, 2011):

Art. 203-A. Coagir moralmente empregado no ambiente de trabalho, através de atos

ou expressões que tenham por objeto atingir a dignidade ou criar condições de

trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade conferida pela posição

hierárquica. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

Portanto, ainda que não haja tipificação específica para o assédio moral é

possível punir o agente assediador valendo-se dos dispositivos vigentes, para que possa ser

responsabilizado também na esfera penal, visando sempre abolir a prática cruel do assédio

moral nas relações de trabalho.

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CONCLUSÃO

Ante todo o exposto, verifica-se que o assédio moral não é um fenômeno

novo, trata-se de um mal tão antigo quanto o trabalho. Entretanto, foi recentemente que

passou a ganhar maior destaque devido às constantes mudanças sociais, às novas posturas

adotadas pela sociedade que valorizam mais os direitos inerentes à pessoa humana.

O fenômeno da globalização, o crescimento desenfreado, as constantes

disputas pelo mercado fazem com que as organizações de trabalho passem a exigir cada vez

mais de seu empregado sendo que, muitas vezes, essa exigência extrapola os limites aceitáveis

dentro de um local de trabalho saudável, harmônico.

O assediador visando cumprir metas ou simplesmente buscando se livrar de

determinado funcionário passa a utilizar de meios humilhantes e degradantes que ferem a

dignidade do empregado. Note-se que tais condutas são reiteradas, prolongam-se no tempo.

Uma única conduta, ainda que humilhante e vexatória, se isolada, é incapaz de caracterizar o

assédio moral.

Alguns dispositivos legais sofrem graves violações com a prática do assédio

moral, como é o caso do princípio da dignidade da pessoa humana, direito fundamental,

previsto no Art. 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988. Fere, da mesma forma o Art.

5º, inciso X, da Carta Magna que protege a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, a

honra e a imagem das pessoas e garante o direito a indenização pelo dano moral decorrente da

violação.

Ainda que existam dispositivos legais capazes de responsabilizar o

assediador pelos danos que este causou à vítima, através de indenizações, o ordenamento

jurídico brasileiro ainda carece de uma legislação federal específica para regular o assunto.

Entretanto, há no Congresso Nacional diversos projetos de lei em tramitação visando o

tratamento do assédio moral.

Verificou-se que é responsabilidade da empresa garantir a seus funcionários

um ambiente de trabalho sadio, agradável, capaz de proporcionar a todos condições

favoráveis ao desenvolvimento de suas atividades laborativas.

O assedio moral gera danos, muitas vezes irreparáveis, para a vítima como

no caso de depressão profunda que pode levar a vítima a suicídio. A vítima passa a sofrer de

diversas doenças psicológicas, como estresse, depressão etc.. Quando o psicológico não está

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bem o corpo adoece, e a vítima já não tem condições de trabalhar. A agressão passa a

influenciar não apenas o ambiente de trabalho da vítima, mas também todo o seu convívio

social, sua relação familiar.

A empresa não sai ilesa dessa historia. Ante à desestabilização apresentada

pela vítima, a empresa passa a ter uma redução em sua produção e em seu lucro. Um ambiente

maculado pelo assédio moral não atinge apenas a vítima, mas toda a coletividade, os

funcionários não se sentem seguros, confortáveis. Existe sempre a dúvida se haverá e quem

será a próxima vítima do assédio.

No que tange à responsabilidade civil do empregador, verificou-se que em

casos de assédio moral a responsabilidade será sempre objetiva, ou seja, independente de

culpa. É aplicável a teoria do risco pela qual o empregador é responsável pelos atos praticados

por seus subordinados no exercício da função, no caso do assédio praticado por superior

hierárquico.

Uma vez caracterizada a responsabilidade civil do assediador, a vítima terá

direito a uma indenização correspondente. O difícil é mensurar o valor da indenização.

Entretanto, esta não deve ser dispensada já que é uma forma de reparar os danos sofridos pela

vítima e de punir o agressor. É competente para julgamento das ações de indenização por

danos morais advindas da relação de trabalho, a Justiça do Trabalho, conforme a Emenda

Constitucional 45/2004.

Ante o exposto, verificamos que para inibir a prática de condutas

assediantes é necessária a aprovação de uma lei específica tipificando criminalmente a figura

do assédio moral, a não aceitação por parte dos funcionários de políticas administrativas

empresariais humilhantes e vexatórias, uma fiscalização mais incisiva por parte dos sindicatos

para garantir que as empresas mantenham um ambiente de trabalho sadio.

Percebe-se que já houve grande progresso na luta contra o assédio moral no

trabalho e cabe a cada trabalhador lutar e não se calar diante da prática desse crime.

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