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Turma e Ano: Master A (2015) 16/03/2015 Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 06 Professor: Edward Carlyle Silva Monitor: Alexandre Paiol AULA 06 CONTEÚDO DA AULA: Competência: Busca do Juiz Competente (4 fases): Jurisdição Interna e Internacional; Critérios de Definição de Competência (Objetiva, Funcional e Territorial). Competência Absoluta x Relativa. - COMPETÊNCIA Vamos agora começar a ver com se dá a homologação de sentença estrangeira Na hipótese em que a competência é concorrente, você tem a possibilidade bastante concreta de que a mesma demanda esteja tramitando no Brasil e em algum outro país, digamos na Itália. Aí você irão me perguntar, mas não é hipótese de litispendência? Vamos ao art. 90: Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são conexas. De acordo com o art. 90 do CPC/1973 e art. 24 do CPC/2015 (lei 13.105/2015) não a litispendência, essa afirmação é tecnicamente incorreta, por quê? Porque litispendência é o tramite simultâneo de duas demandas que possuam as mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. Se você tem duas demandas tramitando simultaneamente com mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir você está diante de hipótese de litispendência, não há como negar. Então na verdade existe litispendência, o que não vai ocorrer é efeito principal da litispendência, que é a extinção do processo sem resolução do mérito com base no 267, V CPC/1973 e 485, V NCPC/2015 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada; Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;

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Turma e Ano: Master A (2015) – 16/03/2015

Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 06

Professor: Edward Carlyle Silva

Monitor: Alexandre Paiol

AULA 06

CONTEÚDO DA AULA: Competência: Busca do Juiz Competente (4 fases): Jurisdição Interna e

Internacional; Critérios de Definição de Competência (Objetiva, Funcional e Territorial). Competência Absoluta x Relativa.

-

COMPETÊNCIA

Vamos agora começar a ver com se dá a homologação de sentença estrangeira

Na hipótese em que a competência é concorrente, você tem a possibilidade

bastante concreta de que a mesma demanda esteja tramitando no Brasil e em algum outro

país, digamos na Itália. Aí você irão me perguntar, mas não é hipótese de litispendência?

Vamos ao art. 90:

Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz

litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária

brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são

conexas.

De acordo com o art. 90 do CPC/1973 e art. 24 do CPC/2015 (lei 13.105/2015)

não a litispendência, essa afirmação é tecnicamente incorreta, por quê? Porque litispendência

é o tramite simultâneo de duas demandas que possuam as mesmas partes, mesmo pedido e

mesma causa de pedir. Se você tem duas demandas tramitando simultaneamente com

mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir você está diante de hipótese de

litispendência, não há como negar. Então na verdade existe litispendência, o que não vai

ocorrer é efeito principal da litispendência, que é a extinção do processo sem resolução do

mérito com base no 267, V CPC/1973 e 485, V NCPC/2015

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;

Então quando o art. 90 diz que não existe litispendência, está querendo dizer

que não ocorre o 267, V do CPC, ou seja, as duas demandas podem tramitar paralelamente.

Surge um problema, afinal de contas, qual das duas será executada ao final? Então você tem

uma demanda de A contra B, tramitando simultaneamente no Brasil e na Itália, duas demandas

idênticas, mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. Só que acontece o

seguinte, para que a sentença transitada em julgado na Itália produza efeitos o Brasil vai

precisar ocorrer à chamada homologação de sentença estrangeira, da competência do STJ e

ela tem natureza jurídica de ação. As duas demandas são idênticas, problema é saber qual

delas será executada em primeiro lugar.

Então o que você vai precisar saber é seguinte, em primeiro lugar, qual das duas

irá transitar em julgado em primeiro lugar?

Primeiro ponto é definir qual das duas irá transitar em julgado em primeiro lugar,

porque transitou em julgado, você já sabe que a sentença proferida em pais que não seja no

Brasil no exterior, vai precisar ser homologada pelo STJ, e aí você tem natureza jurídica de

ação.

Existe litispendência entre a demanda que tramita no Brasil e ação de

homologação de sentença estrangeira? Não, porque o pedido é diferente, a causa de pedir é

diferente. Na ação de homologação, você tem o A pedido a homologação de sentença

estrangeira em face do B, qual é pedido? É a homologação de sentença estrangeira. Qual é

causa de pedir? É cumprimento de todos os requisitos estabelecido em lei para homologação

de sentença estrangeira. Causa de pedir e pedido são distintos da causa de pedir e pedido da

demanda original, a demanda original pedia a anulação de um contrato pelo inadimplemento

contratual. No exterior, já foi julgada, você quer agora a homologação no Brasil para que ela

produza efeitos, seja efetivado no Brasil.

Então na verdade quando a competência é concorrente, você que saber qual

delas irá produzir efeitos aqui dentro do Brasil se é a sentença proferida pelo juiz nacional, ou

se é homologação de sentença estrangeira. O que vai definir qual das duas irá produzir

efeitos? De acordo com a doutrina é aquela que transitar em julgado em primeiro lugar,

transitar em julgado a demanda nacional, ou transitar em julgado a homologação de sentença

estrangeira, não é transitar em julgado a sentença proferida no outro país. Então a corrida pra

ver qual das duas será executada em primeiro lugar é entre a demanda que tramita no

Brasil e a homologação de sentença estrangeira realizada pelo STJ no que diz respeito à

sentença proferida em país interior.

Como fazer a homologação de sentença estrangeira então?

Inicialmente com a EC/45 o STJ ganhou a competência para a homologação de

sentenças estrangeiras conforme art. 105 i CRFB/1988. Antigamente era competência do STF.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

No STJ a homologação de sentença estrangeira é tratada em uma resolução

que é a Resolução n⁰ 9 do STJ de 5 de maio de 2005. (tem o procedimento que deve ser feito

na homologação)

A natureza jurídica da homologação de sentença estrangeira é de ação de

natureza constitutiva. Aqui o STJ vai observar se foram observados todos os requisitos para

julgamento da causa e se tem os requisitos pra serem homologados no Brasil. O STJ não

reexamina o mérito da sentença no exterior.

Voltando a explicação

Duas possibilidades se abrem, primeiro a sentença brasileira transitou em

julgado em primeiro lugar. Se a sentença brasileira transitou em julgado em primeiro lugar, a

sentença estrangeira não será homologada. Se ela não será homologada, não produz efeito

algum.

Segunda possibilidade a homologação de sentença estrangeira transita em

julgado em primeiro lugar. A demanda que está tramitando no Brasil, será extinta sem

julgamento do mérito com base no art. 267, V, violação a coisa julgada superveniente. Então

você só vai precisar saber qual das duas transitou em julgado em primeiro lugar.

E se a competência internacional for exclusiva? Essa sentença proferida na Itália

pode ser homologada no Brasil? De maneira nenhuma, pouco importa se existe ou não

processo em andamento. Se a competência é exclusiva do Brasil, do juiz nacional, pouco

importa se existe ou não processo em tramite no Brasil, sentença estrangeira não pode ser

homologada pelo STJ porque a competência seria exclusiva do juiz brasileiro. Aqui a sentença

estrangeira não é homologada.

Hoje em dia inclusive na jurisprudência do STJ, há uma predisposição se você

tem o andamento da sentença nacional e qual decisão tenha sido proferida, antecipação de

tutela, cautelar, se há alguma decisão nessa demanda nacional, há uma predisposição do STJ

a privilegiar a demanda nacional em detrimento da homologação da sentença estrangeira.

Então embora eu tenha colocada aqui para você observar o transito em julgado, a

jurisprudência do STJ tem ido além, tem se manifestado no sentido de que se há qualquer

decisão jurisdicional, antecipação de tutela, cautelar, liminar, o que quer seja proferida no

processo nacional, este tem proteção, a sentença estrangeira sofrerá uma serie de atos mais

rigorosos no controle para que ela possa ser homologada. E volta e meia ela é extinta, sob o

argumento de que já existe processo nacional em curso decidindo aquela questão.

2ª fase: Competência Comum: Justiça Estadual X Justiça Federal

Critérios de Determinação da Competência:

1) Critério Objetivo (art. 91 CPC):

2) Critério Funcional (art. 93 CPC):

3) Critério Territorial (art. 94 e seguintes CPC)

Da Competência em Razão do Valor e da matéria

Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria

as normas de organização judiciária, ressalvados os casos

expressos neste Código.

Então, o critério objetivo trata expressamente da competência em razão da

matéria e da competência em razão do valor da causa. O legislador brasileiro copiou esses

critérios do direito italiano, o direito italiano quando estabeleceu esses critérios, a base dos

critérios foi feita pelo Chiovenda importou os critérios do direito alemão. Só que quando

Chiovenda importou os critérios do direito alemão, ele adaptou ao direito italiano, foi verificando

critério por critério analisando o que tinha a ver no direito alemão com o direito italiano. O

legislador brasileiro copiou e não adaptou nada, como ele não adaptou, se esqueceu de fazer

algumas menções, outros critérios que existem no nosso sistema. Um dos critérios que

esqueceu de mencionar é outra hipótese do critério objetivo que é competência em razão da

pessoa.

As normas de organização e divisão judiciária auxiliam a definição do foro

competente ou do juízo competente? É utilizada para definição do juízo competente, estamos

falando de competência absoluta, então o critério objetivo, quando falamos em competência em

razão da matéria, valor da causa e em razão da pessoa, nós estamos falando em juízo

competente, logo estamos falando de hipótese de competência absoluta.

Da Competência Funcional

Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código.

Vejam, a competência funcional de acordo com a doutrina majoritária, aqui

no nosso ordenamento é baseada nos ensinamentos do Chiovenda, e quando examinava a

competência funcional fazia uma distinção, primeiro hipótese de competência funcional para o

Chiovenda é aquela em que você tem um só processo, mas com atuação de mais de um juiz,

mais de um órgão jurisdicional. Isso dá ensejo ao surgimento da chamada competência

funcional horizontal e competência funcional vertical.

Competência funcional horizontal é aquela em que você tem um único processo,

mas você tem mais de um juiz da mesma hierarquia atuando nesse processo, hipótese clássica

de cara precatória. Então eu juiz de primeiro grau expeço uma carta precatória para juiz de

primeiro grau em João Pessoa, para que realize um ato executivo, uma penhora do imóvel e

uma futura alienação desse imóvel. Então vejam, a carta precatória é um exemplo de

competência funcional horizontal porque o processo é um só.

Competência funcional vertical em que o processo é um só mas a atuação

desses diferentes juízes passa por graus distintos. É caso clássico de recurso, especialmente

recurso tipo apelação. Porque o juiz de primeiro grau profere uma sentença, proferida a

sentença, a parte que sucumbiu recorre através da apelação, e a apelação leva ao tribunal de

segundo grau o reexame da matéria impugnada. Então o recurso acaba por levar a discussão

do âmbito do primeiro grau para o segundo grau. Competência funcional vertical, também

chamada por alguns de competência hierárquica. Cuidado porque alguns chamam de

competência hierárquica como sinônimo da Competência funcional vertical, não é sinônimo, é

uma das hipóteses.

A outra situação que o Chivenda mencionou é aquela em que você tem mais de

um processo, mas você tem uma mesma vontade de atuação da lei. Então perceba, você tem

mais de um processo, mas a pretensão é a mesma, a vontade aplicar a lei ao caso concreto é

a mesma, hipótese clássica é do art. 800 do CPC, de quem é a competência para o julgamento

de uma cautelar preparatória? A cautelar preparatória é da competência do futuro juiz da ação

de conhecimento. Então você tem dois processos: processo cautelar e no futuro o processo de

conhecimento, mas o legislador estabelece que o processamento e julgamento da cautelar é do

futuro juízo competente para o processamento e julgamento da ação de conhecimento.

Outra hipótese, 736 e seguintes do CPC, hipótese de embargos a execução.

Então você tem um processo de execução autônomo, e diante de determinadas circunstancias

o executado pode se defender através de embargos A execução possui natureza jurídica de

ação de conhecimento incidental. Embora hoje em dia seja extremamente discutida a natureza

dos embargos a execução, antes da reforma era tranquilo, mas no quis diz respeito aqui,

vamos adotar que possui natureza jurídica de ação de conhecimento incidental. Então, você

tem dois processo, um de execução, um de conhecimento, mas uma mesma vontade de aplicar

a lei. De quem é a competência para o julgamento dos embargos à execução? Do juízo

competente para o processamento da execução em si.

A competência funcional é estabelecida por normas de organização e divisão

judiciária, ou então pela constituição, trata-se de competência, então, absoluta.

Da Competência Territorial

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.

Então de acordo com o art. 94, se você tem uma ação fundada em direito

pessoal, ou direito real sobre bens móveis a competência como regra é a do foro do

domicilio do réu. Essa é a regra, mas vocês percebam que a partir daí o legislador abre uma

série de possibilidade para que esse foro possa sofrer modificação. Então o próprio dispositivo

já começa:

§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.

§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.

§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

Perceba o seguinte, o próprio legislador já abre um leque de possibilidades para

que o foro do domicílio do réu possa ser afastado, sem qualquer tipo de problema. E essas

possibilidades vão seguindo após o art. 94, mas percebam, no art.95 começa surgir detalhes

que temos que tomar cuidado.

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar (aqui é competência relativa) pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.(a parte final é competência é absoluta).................. No novo código continua assim

Na primeira parte do art. 95, então nas ações fundadas em direito real sobre

bens imóveis é competente o foro da situação da coisa, o chamado fórum rei sitae. E continua

aqui pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, mesmo sendo o foro

da situação da coisa o competente, pode optar foro de domicilio do réu ou pelo foro de eleição,

aquele que ele e o réu estabeleceram como competente para o julgamento da causa. Vejam,

quando nós falamos em critério territorial você tem uma maleabilidade estabelecida pelo CPC.

A regra é foro do domicilio do réu, mas você tem várias situações em que o foro não será do

domicilio competente. Isso significa que o critério territorial é hipótese de competência relativa.

Essa é a regra.

Aqui vocês devem começar a tomar cuidado com certas situações. Por exemplo,

primeira situação que vocês tem que tomar cuidado que é exatamente essa do art. 95 que

acabamos de examinar, de acordo com o art. 95 na primeira parte, nas ações fundadas em

direitos reais sobre bens imóveis, a competência é do foro da situação da coisa, chamado de

foro rei sitae, e esse foro pode ser deixado de lado escolhendo o autor ajuizar a demanda

perante o foro do domicílio do réu ou até mesmo o foro de eleição.

Só que nesse mesmo art. 95 na parte final, in fine, do CPC o legislador

estabelece outra regra:. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro

da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não

recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e

demarcação de terras e nunciação de obra nova. Em outras palavras a contrario sensu o

que legislador que dizer é seguinte, nas hipóteses em que você tem ações fundadas em

direito real sobre imóveis a competência é do foro da situação da coisa, mas se essa versar

sobre propriedade, posse, divisão e demarcação de terras, etc., como diz a parte final, a

hipótese será de competência absoluta. Porque nessas hipóteses o legislador está dizendo que

o autor não pode optar pelo foro do domicilio do réu ou de eleição, ele tem que ajuizar a

demanda no foro da situação da coisa. Aqui surge um tema extremamente relevante, essa

hipótese do art. 95 para final, a hipótese do art. 2º da lei 7347/85, de ação civil pública, e a

hipótese do art. 80 do estatuto do idoso, essas três hipóteses possuem o mesmo problema. O

problema é que o legislador deu ênfase a necessidade de que demanda seja ajuizada no foto

da situação por ele elencada em cada dispositivo.

Art. 95 – foro da situação da coisa.

Art. 2º é o foro em que ocorreu o dano ou evento lesivo.

Art. 80 é foto onde o idoso possui domicilio.

Essas três hipóteses são consideradas hipóteses de competência absoluta, qual

é critério que foi utilizado? Você no mínimo 3 correntes hoje em dia sobre o assunto.

Para uma primeira corrente, a hipótese é de critério ou competência funcional. A

ideia é seguinte, mas o critério é territorial, eles estão falando aí de território, é local onde a

demanda deve ser ajuizada, mas para a corrente clássica de pensamento, a hipótese é de

competência funcional, porque se a competência é absoluta, não pode ser hipótese de

competência territorial. Ora, competência absoluta tem que ser competência em razão da

matéria, em razão da pessoa, em razão do valor, segundo lei ou competência funcional.

Defende-se a competência funcional sob o argumento de que o que interessa nessas hipóteses

são as funções que o juiz vai realizar no processo. Ele vai ter maior facilidade na obtenção de

provas, ele vai ter maior facilidade para visualizar o que está ocorrendo, qual é o teor da

discussão, vai ter maior facilidade para entender o que está acontecendo naquele caso, vai ter

mais possibilidade de prestar a função jurisdicional adequada, a competência é funcional. O

raciocínio é seguinte se a competência é absoluta é porque ela é funcional, o correto seria

fazer o inverso, seria definir que tipo de critério foi utilizado para depois saber que tipo de

competência é, mas o legislador já definiu de cara competência absoluta, e não, eles vão no

sentido inverso, competência funcional. Essa é corrente clássica, Vicente Greco, Tereza

Arruda.

Existe outra corrente que defende o seguinte, na verdade a hipótese é de do

critério territorial c/c com critério material. Segundo os adeptos dessa segunda linha de

pensamento, o que está sendo definido é que o foro competente é aquele, mas a competência

absoluta é oriunda em razão da natureza do objeto da demanda. O objeto, a natureza do objeto

da demanda é que caracteriza a competência com sendo absoluta. Vejam, no 95, parte final

qual é natureza do objeto da demanda? Propriedade, posse, demarcação de terras, etc.; então

o legislador quis fazer com que o foro da situação da coisa prevalecesse, ficasse

expressamente definido, não pudesse ser modificado. É a natureza do objeto da demanda, o

critério material que define a competência absoluta, eles pegam emprestado o critério material,

natureza em razão da matéria para justificar o critério material adequado. Ela é absoluta por

conta do critério material, não por conta do território.

Só que hoje em dia existe uma terceira corrente, que fala em competência

territorial absoluta. É a posição do José Carlos Barbosa Moreira, Daniel Amorim Assumpção

Neves, Fredie Didier. O que eles falam é a competência nesses casos é territorial, o que

interessa é o foro da situação da coisa, o foro onde ocorreu o evento lesivo, o foro onde está

domiciliado a coisa. Só que o legislador, embora todas essas hipóteses sejam de utilização do

critério territorial, o legislador quis deixar claro que a competência é absoluta. Então, embora o

critério seja territorial a competência é absoluta, as partes não podem dispor a seu respeito,

não há possibilidade de nenhum tipo de modificação daquele foro.

Embora você tenha uma competência territorial, uma competência de foro, é de

natureza absoluta porque o legislador quis fazer questão que a demanda tramitasse perante

aquele foro.

Na doutrina, se a competência é absoluta como é que eles vão justificar,

competência funcional, mas você já sabe que modernamente se fala em competência territorial

absoluta. Não importa as funções que o juiz vai realizar, o que importa é que o legislador quis

deixar claro que a competência era daquele foro especificamente, por força das circunstancias

estabelecidas na própria lei.

Diante de tudo isso que eu falei, cumpre agora esclarecer quais são as

características da competência absoluta e quais são as características da competência

relativa? São temas muito comum de indagação em concursos, especialmente provas de

múltipla escolha.

Características da competência absoluta

- indisponibilidade, na competência absoluta prevalece o interesse público, as

partes não podem dispor a seu respeito, o primeiro sujeito que deve zelar pela sua observância

é o juiz, diante disso, o juiz deve declarar de oficio a incompetência absoluta. Caso ele não o

faça as partes podem alegá-la a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. Vejam se

as partes podem alegar a incompetência absoluta em qualquer momento e em qualquer grau

de jurisdição isso significa que elas podem alegar a incompetência absoluta como preliminar de

contestação que é o mais obvio, pode alegar mera petição, em embargos de declaração, pode

alegar na fase recursal seja ela qual for. Pode alegar a incompetência absoluta em RESP e

RE? Pela jurisprudência majoritária do STJ e do STF não, porque haveria necessidade de pré-

questionamento. Se a incompetência absoluta não foi debatida previamente, préquestionada,

não poderia ser alegada em sede de RESP e RE, mas se vocês adotarem uma corrente

bastante moderna, chamada teoria da jurisdição aberta, a incompetência absoluta é considera

matéria de ordem pública, significa dizer que se o RESP ou o RE forem admitidos por qualquer

motivo que seja distinto da incompetência absoluta, se o RESP e o RE são admitidos pelo STF

e pelo STJ, terão o mérito examinado, de acordo com a teoria da jurisdição aberta, os ministros

do STJ e do STF, poderiam examinar a incompetência absoluta inclusive de ofício. Porque uma

vez que foi aberta a jurisdição dos tribunais superiores STJ e STF, pela admissibilidade do

especial e do extraordinário poderiam examinar de oficio qualquer matéria de ordem pública,

dentre elas a incompetência absoluta.

Qual a posição dominante? Não pode examinar a incompetência absoluta em

RESP e RE por falta e prequestionamento. Segunda corrente, teoria da jurisdição aberta, se o

especial e o extraordinário foram admitidos por qualquer motivo que seja, a incompetência

absoluta pode ser examinada inclusive de ofício, porque a matéria é de ordem pública.

Lembrem que a incompetência absoluta pode ser alegada até mesmo ação rescisória, mesmo

que o juiz ou o tribunal a tenham examinado e tenham afastado a alegação de incompetência

absoluta, ainda sim é cabível a ação rescisória com base na alegação de incompetência

absoluta. O fato de ela ter sido examinada no curso do processo não impede a sua alegação

em sede de ação rescisória. Art. 485, II do CPC.

Outra característica da incompetência absoluta, é incabível a eleição de foro.

Prevalece-se o interesse público, se é indisponível as partes, se as partes não podem dispor a

esse respeito, elas não podem eleger o foro, não há qualquer margem de liberdade para que

as partes possam dispor acerca da competência.

E por fim, de acordo com a doutrina, os atos decisórios são nulos, o art.

mencionado é o 113, §2º do CPC:

Art. 133: § 2o Declarada a incompetência absoluta, somente

os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz

competente.

Ora, vamos dizer que aconteça o seguinte, decreta-se a nulidade dos atos

decisórios e o juiz declina da sua competência para o juiz competente, o juízo competente, ao

analisar o processo poderia manter os atos decisórios integralmente? poderia manter todos os

atos decisórios praticados, porque eles estariam corretos, e andar com o processo daí por

diante? Você vai encontrar na jurisprudência determinados acórdãos, admitindo essa

possibilidade, embora delineada essa competência absoluta, seria possível ao juiz competente

manter os atos decisórios uma vez que eles teriam sido todos tomados de maneira correta, de

maneira adequada, mas precisa existir uma decisão do juízo competente decidindo manter o

teor daqueles atos decisórios já praticados.

E as características da competência relativa, vamos adotar como base

exatamente as características da competência absoluta, ou seja, se a característica da

competência absoluta é a prevalência do interesse público, a indisponibilidade, na competência

relativa é inverso, é a prevalência do interesse particular, interesse privado, é a disponibilidade.

Prevalece-se o interesse privado, o interesse particular, as partes podem dispor a esse

respeito. Na competência absoluta, o juiz deve declarar de oficio a competência absoluta, na

competência relativa não. O juiz não pode declarar de oficio a incompetência relativa, é o que

dispõe a sumula 33 do STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.

Tem um detalhe, nas recentes reformas do CPC, o legislador incluiu um

parágrafo único, exceção, que é para tomar cuidado. No art. 112, parágrafo único:

Art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência

relativa.

Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro,

em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz,

que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.

Se o juiz quiser decretar a nulidade de eleição de foro em contrato de adesão, de

acordo com o 112, parágrafo único do CPC, poderá fazê-lo de oficio, o que vai acarretar uma

decretação de oficio de incompetência relativa. Na pratica, tem que tomar cuidado com essa

situação, porque a hipótese é de contrato de adesão, então adquiri um determinado bem, uma

determinada mercadoria aqui no RJ, contrato era de adesão e a última cláusula fixava como

foro competente o foro do João Pessoa na Paraíba. Na hora de assinar o contrato, eu penso

tudo bem porque primeiro eu vou receber a mercadoria, já está tudo pago, e segundo porque

se der qualquer problema a minha família toda é do João Pessoa, tenho primos advogados,

avo desembargador, minha família está toda lá, se der qualquer problema, não há qualquer

tipo de obstáculo, vou demandar lá. Essa demanda é ajuizada observando a cláusula de

eleição de foro lá em João Pessoa. A empresa resolve me acionar, ou porque não paguei, ou

porque paguei indevidamente, o juiz verificando que eu tenho domicílio no TJ, ele na cabeça

dele vai pensar ora, trata-se de um contrato de adesão, essa cláusula de eleição de foro,

dificulta a defesa do réu, que está domiciliado no RJ, então com base no 112, parágrafo único

do CPC, decreta a nulidade de ofício e declina a competência para o RJ. Quando a causa

chega no RJ, o juiz manda me citar e eu falo não quero que minha demanda tramite em João

Pessoa, estou trabalhando no RJ, mas minha família toda é de lá, é muito mais fácil conseguir

um advogado lá, alguém que vá tratar dessa demanda lá, quando eu for para lá realizar uma

audiência ou visitar meus familiares, não quero que essa demanda tramite aqui no RJ, porque

aqui essa demanda irá me prejudicar. Vai ter que peticionar ao juiz pedir para o juiz devolver o

processo a João Pessoa, suscitando o conflito, explicando que ele quer ver a demanda dele

tramitando em João Pessoa. Para evitar essa confusão generalizada, o que é melhor fazer, na

prática? Embora o art. 112, parágrafo único permita o juiz declinar de oficio, é melhor ele

mandar citar o réu, porque se eu quiser que a demanda venha ao RJ, vou apresentar uma

exceção de incompetência alegando que essa clausula eleição de foro prejudica o meu direito

de defesa, quero a decretação de nulidade e consequentemente a remessa dos autos ao juiz

competente que do domicílio do réu, aqui no TJ. Se eu não falar nada, prorroga-se a

competência em João Pessoa e a demanda tramita por lá.

Embora, o art. 112, parágrafo único do CPC, permita uma hipótese de

decretação de oficio da incompetência relativa, na prática é melhor não fazê-lo.

Terceira característica, as partes podem alegar incompetência absoluta em

qualquer grau de jurisdição, na competência relativa não. As partes devem alegar a

incompetência relativa na primeira oportunidade que tenham para falar nos autos, sob pena de

preclusão. Essa primeira oportunidade, normalmente, é no prazo de resposta, apresenta

exceção de incompetência.

Não foi alegada incompetência relativa através de exceção de incompetência,

provavelmente vai precluir a possibilidade, prorroga-se a competência.

Quarta característica é cabível a eleição de foro. Prevalece-se o interesse

privado, se é disponível as partes, podem de comum acordo para dirimir eventuais conflitos de

uma relação jurídica. Agora percebam, elas podem eleger o foro, podem eleger juízo? não

podem eleger o juízo competente, não podem eleger que o juízo competente seja a segunda

vara de fazenda pública, a segunda vara cível da comarca da capital, não podem fazer isso. A

eleição é de foro, não é de juízo. obviamente se a comarca for de foro único, isso vai acarretar

a eleição de juízo, mas elas estão elegendo o foro.

Por fim, os atos decisórios não são nulos. O processo é remetido ao juízo

competente e ele dará andamento a partir daí. Então essa são as características principais da

competência absoluta e da competência relativa.

Diante de tudo isso que eu coloquei para vocês, dos critérios estabelecidos,

quais são as hipóteses de competência absoluta? A competência em razão da matéria, a

competência em razão da pessoa, a competência funcional, hipótese do art. 95, in fine do CPC,

e a ultima hipótese é a competência em razão do valor da causa.

A competência em razão do valor da causa, na prática, é volta meia mencionada

como hipótese de competência relativa, mas tem certos detalhes que vocês não podem se

esquecer, a competência em razão do valor da causa na hipótese dos juizados especiais dá

ensejo a um discussão. Os juizados especiais tem um teto estabelecido pelo legislador de 40

salários mínimos que limitam a atuação do juiz. Então o juiz dos juizados especiais cíveis,

somente podem chegar até o teto de 40 salários mínimos. Os juízes das varas cíveis podem

examinar as causas cujo valor seja superior a 40 salários mínimos ou inferior a 40 salários

mínimos.

Então vejam, quem pode o mais pode o menor, mas quem pode o menos não

pode o mais porque fica estabelecido o teto no qual ele pode agir. Então vejam, do menos para

o mais a competência é absoluta, porque ele não pode decidir mais do que o teto estabelecido

pelo legislador. A competência em razão do valor da causa do menos para o mais é absoluta,

porque ela bate no teto e daqui não passa. No entanto, a competência do mais para o menos é

relativa porque quem pode o mais também pode o menos. Cuidado com a competência em

razão ao valor da causa porque do menos para o mais é absoluta. Se você for examinar a

competência relativa só com base nisso que nós vimos aí, vocês vão ver que a competência

relativa abrange as hipóteses de competência territorial como regra, hipótese do art. 95,

primeira parte do CPC, e agora a competência em razão do valor da causa, só que aí frisando

do mais para o menos.

Detalhe, se a hipótese for envolvendo juizados especiais federais, de acordo

com o art. 3º, §3º da lei dos juizados especiais federais, 10.259/01, a competência é absoluta

em relação ao valor de 60 salários mínimos, aí não existe competência relativa. O juiz da vara

cível federal não pode examinar causas cujo valor seja inferior a 60 salários mínimos.

Competência absoluta.

§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a

sua competência é absoluta.

OBS: Nessa matéria de competência eu acrescentei uma digitação da aula do professor Edward, quando ele deu um curso mais aprofundado no Master de Processo Civil (muita coisa aqui ele não falou em sala, ou se falou foi mais superficial, porém achei muito importante acrescentar)

Agora vamos fazer um quadro para memorizar uma regra geral sobre

competência absoluta e competência relativa

3) Competência Absoluta x Competência Relativa:

Competência Absoluta Competência Relativa

Competência em razão da matéria Competência Territorial Competência em razão da pessoa Art. 95, 1ª parte CPC Art. 95, in fine CPC Competência em razão do valor - âmbito

estadual até 40 salários mínimos Competência Funcional Competência em razão do valor - âmbito estadual > 40 salários mínimos

Competência em razão do valor - âmbito federal.

3.1 ) Características da Competência Absoluta:

● Predomínio do Interesse Público (Indisponibilidade)

● Decretação da incompetência absoluta ex officio a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. O juiz deve zelar pela correta e fiel observância dessas normas que versão sobre a competência absoluta. No novo código de processo civil (lei 13.105/2015) ele pode realizar esse exame de oficio, porém ele tem QUE OUVIR AS PARTES em contraditório.

● As partes podem alegar o vício de incompetência absoluta a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição.

O momento adequado para arguir a incompetência absoluta é em preliminar de contestação (art. 301, II CPC ou no art. 337, II do NCPC). No entanto, a parte poderá alegar o vício no curso do processo por simples petição.

Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:

II - incompetência absoluta;

Art. 337. (lei 13.105/2015) Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

II - incompetência absoluta e relativa;

● Incabível a eleição de foro

● Atos decisórios praticados por juiz absolutamente incompetente são considerados nulos (art. 113, §2º CPC). Na jurisprudência, defende-se a possibilidade do juiz competente ratificar os atos decisórios do juiz absolutamente incompetente.

Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.

§ 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.

3.2 ) Características da Competência Relativa:

● Predomínio do Interesse Particular (Disponibilidade)

● Juiz não pode decretar de ofício a incompetência relativa - Súmula 33 do STJ

Súmula 33 STJ - A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício

Exceção: Art. 112, parágrafo único do CPCNulidade da cláusula de eleição de foro em contrato de adesão - decretação de ofício pelo juiz.

Art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.

Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.

O mais correto é que o juiz determine a citação do réu por precatória, e este deverá, se for o caso, apresentar exceção de incompetência pleiteando a nulidade da cláusula de eleição de foro e remessa para o seu domicílio.

● Partes - devem alegar a incompetência relativa na 1ª oportunidade para falar nos autos (normalmente no prazo de resposta - exceção de incompetência relativa), sob pena de preclusão e prorrogação da competência.

● Cabível a eleição de foro (# eleição de juízo - não é cabível)

● Atos decisórios são válidos e não há qualquer nulidade nos atos praticados

Fim da aula 06