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Transparência 29 REVISTA SEMANAL 06.02 - 12.02_2012

BRIEF Transparência » Revista Semanal 29

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De 06-02-2011 a 12-02-2011

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Transparência

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REVISTA SEMANAL ↘ 06.02 - 12.02_2012

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Revista de Imprensa

13-02-2012

1. (PT) - Jornal de Notícias, 06/02/2012, Milhões congelados nas apostas desportivas 1

2. (PT) - i, 06/02/2012, Austeridade e queda da classe média aumentam economia paralela 4

3. (PT) - Diário de Notícias, 06/02/2012, Austeridade agrava economia paralela 5

4. (PT) - Correio da Manhã, 06/02/2012, Freeport já tem juiz e procurador 6

5. (PT) - Público, 08/02/2012, Administradores da REN obrigados a declarar rendimentos sob pena de

perderem mandato

7

6. (PT) - Jornal de Notícias, 08/02/2012, Relação mantém Lima na cadeia 9

7. (PT) - i, 08/02/2012, Denúncias de corrupção atingem inspector-geral de Trabalho 10

8. (PT) - Diário de Notícias, 08/02/2012, Arguido envolve José Penedos nos negócios de Manuel Godinho 13

9. (PT) - Correio da Manhã, 08/02/2012, "Vara era gestor de influências" 14

10. (PT) - Público, 09/02/2012, Pacote da transparência do PS gera grupo de trabalho 16

11. (PT) - Público, 09/02/2012, Advogado de Godinho opta por não interrogar ex-braço direito do empresário

de Ovar

17

12. (PT) - Jornal de Leiria, 09/02/2012, A burocracia tem a mecânica da corrupção - entrevista a Maria José

Morgado

18

13. (PT) - Diário de Notícias, 09/02/2012, Justiça investiga ´amigos´ na Autoridade do Trabalho 21

14. (PT) - Vida Económica, 10/02/2012, Inspeção-Geral de Finanças determina inquérito à Autoridade para

as Condições de Trabalho

23

15. (PT) - Sol, 10/02/2012, Garzon condenado 27

16. (PT) - Público, 10/02/2012, Chefe do combate à corrupção na China demitido e correm rumores de

deserção

28

17. (PT) - Jornal de Notícias, 10/02/2012, Baltasar Garzón suspenso 11 anos 29

18. (PT) - i, 10/02/2012, Supremo espanhol suspende Baltasar Garzón por 11 anos 31

19. (PT) - Diário de Notícias, 10/02/2012, Economia vai "limpar"inspeção do trabalho 33

20. (PT) - Expresso, 11/02/2012, Onda de indignação contra condenação do juiz Garzón 35

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21. (PT) - Correio da Manhã, 11/02/2012, Godinho suborna fiscal do Ambiente 36

22. (PT) - Público, 12/02/2012, Para melhorar a Justiça é preciso rever a Constituição e dar mais poder aos

juízes - Entrevista a Laborinho Lúcio

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A1

Tiragem: 106993

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 2

Cores: Cor

Área: 26,62 x 33,23 cm²

Corte: 1 de 3ID: 40045353 06-02-2012

Página 1

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Tiragem: 106993

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 3

Cores: Cor

Área: 27,01 x 33,59 cm²

Corte: 2 de 3ID: 40045353 06-02-2012

Página 2

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Tiragem: 106993

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 4,30 x 6,02 cm²

Corte: 3 de 3ID: 40045353 06-02-2012

Página 3

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A4

Tiragem: 27259

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 8

Cores: Preto e Branco

Área: 9,40 x 12,94 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40045413 06-02-2012

Página 4

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A5

Tiragem: 52107

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 33

Cores: Cor

Área: 5,31 x 12,70 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40045634 06-02-2012

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A6

Tiragem: 161374

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 28

Cores: Cor

Área: 21,34 x 30,97 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40045787 06-02-2012

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Tiragem: 41435

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 4

Cores: Preto e Branco

Área: 28,83 x 33,42 cm²

Corte: 1 de 2ID: 40087720 08-02-2012

Justiça Decisão tomada um dia antes de o Governo anunciar a venda de 40% da empresa

Gestores entendiam que só quem vinha pelo Estado devia declarar contasADRIANO RUI GAUDÊNCIO

Administradores da REN obrigados a declarar rendimentos sob pena de perderem mandatoAcórdão do Tribunal Constitucional datado de 1 de Fevereiro põe um ponto fi nal numa longa batalha de alguns administradores para evitarem divulgar rendimentos e património

a Quatro administradores da Redes Energéticas Nacionais (REN), a empre-sa que tem por missão “garantir o for-necimento ininterrupto de electricida-de e gás natural” em Portugal, vão ser obrigados pelo Tribunal Constitucional (TC) a apresentarem a declaração de rendimentos, património e cargos so-ciais, um documento que pode depois ser consultado naquele tribunal.

A decisão é do plenário do TC, cons-tituído por 12 juízes, que decidiu há dias que se os quatro gestores não cumprirem a determinação no prazo previsto, o tribunal irá notifi cá-los, de acordo com a lei, a apresentarem a declaração no prazo de 30 dias, sob pena de, em caso de incumprimento culposo, incorrerem “em declaração de perda do mandato, demissão ou destituição judicial”.

Os juízes conselheiros põem assim um ponto fi nal numa polémica que levou à demissão de quatro adminis-tradores não executivos da REN — Luis Atienza, Filipe Botton, Manuel Cham-palimaud e Gonçalo Oliveira — que, em Março do ano passado, renunciaram aos cargos para não serem sujeitos ao regime de gestores públicos. Na altu-ra, a decisão fora já motivada por um outro acórdão do Constitucional que, após ter sido contestado, acabou por subir ao plenário do tribunal.

Em Abril de 2011, a REN, liderada por Rui Cartaxo — que fazia parte da administração de José Penedos e o substituiu após este ter sido constitu-ído arguido no processo Face Oculta, onde está a ser julgado por dois crimes de corrupção e dois de participação económica em negócio —, elegeu, em assembleia-geral, novos administrado-res. A antiga Logoplaste de Filipe Bot-ton, agora EGF – Gestão e Consultoria Financeira, nomeou Luís Cruz Almei-da; a Gestmin, José Félix Morgado; a Oliren escolheu Gonçalo Araújo; e a espanhola Red Eléctrica Corporación nomeou o mesmo Luis Atienza que re-nunciara ao cargo um mês antes.

Desta vez, contudo, a nomeação contou com a abstenção das várias empresas de capitais públicos que detinham até há dias a maioria do ca-pital social da empresa, considerada estratégica para o interesse nacional por muitos dos que discordavam da sua privatização.

Com esta decisão, o plenário do TC rejeita a tese dos quatro administra-dores da REN que tentavam não de-

Mariana Oliveira

Namércio Cunha, antigo braço direito de Manuel Godinho, manifestou-se ontem convicto no julgamento do processo Face Oculta, em Aveiro, de que o empresário das sucatas via o ex-ministro Armando Vara como um “lobista”.“Fui ouvindo pequenas referências a Armando Vara e fiquei com a ideia de que [Godinho] o via da mesma maneira como [o empresário] Lopes Barreira, como um lobista”, disse o ex-director-geral da O2, a principal empresa de Godinho.

No final da manhã, o testemunho foi desvalorizado pelo advogado de Vara, Tiago Bastos. Namércio, referiu o defensor, “utilizou essa expressão como

vulgarmente se usa para alguém que tem bons contactos, que é uma pessoa [...] que pode abrir portas, chamemos-lhe assim”. Acrescentou que Vara “nunca escondeu” o seu relacionamento com Godinho e “até revelou orgulho” nele.

À tarde, Namércio Cunha fez um mea culpa pela forma como lidou com as anomalias detectadas nas pesagens de materiais

removidos pelas empresas de Godinho.”Não tive lucidez suficiente ou, se calhar, não quis encarar os problemas”,

disse o antigo número dois do sucateiro, admitindo ainda

que tenha sido traído por “alguma ingenuidade” e pela vontade de manter os clientes.

Vara, o lobista, segundo Manuel Godinhoclarar rendimentos e património. Es-tes defendiam que nas sociedades de capitais públicos ou maioritariamen-te públicos só estavam subordinados ao dever de entregar a declaração de rendimentos os administradores que eram designados com os votos do Esta-do. Isso deixava de fora os propostos e eleitos pela minoria do capital privado, como foi o caso dos administradores nomeados em Abril do ano passado.

Ao PÚBLICO, a REN adiantou que “não foi notifi cada” ainda da decisão do TC e que são os “administrado-res que são notifi cados”. Questiona-da sobre se os mesmos cumprirão a decisão do tribunal, a REN diz que só os administradores “decidirão como agir”. Relativamente aos res-tantes oito administradores, a REN garante que “todos” entregaram as declarações de rendimentos, “à ex-cepção daqueles que foram desig-nados como representantes das em-presas, accionistas privados, eleitas para o Conselho de Administração

na última assembleia-geral da REN”.Até à semana passada, a REN era de-

tida maioritariamente por três socieda-de de capitais exclusivamente públicos — a Capitalpor, Participações Portugue-sas, com 46%; a Parpública – Participa-ções Públicas, com 3,9%; e a Caixa Ge-ral de Depósitos, com 1,2%. No conjun-to, o Estado detinha 51,1% da empresa. Tal só mudou na quinta-feira passada, um dia após a decisão do TC, quando o Conselho de Ministros decidiu vender 40% do capital da REN a duas empre-sas estrangeiras: 25% para a chinesa China State Grid e 15% para a empre-sa petrolífera de Omã, a Oman Oil.

A operação vai permitir ao Estado arrecadar 592,21 milhões de euros, “o que corresponde a 150 milhões acima do valor de mercado da empresa”, su-blinhou o Governo. A parte pública da REN foi avaliada no ano passado em 700 milhões de euros, o valor mínimo que o Estado espera encaixar com a venda dos 51,1% que ainda detém na empresa.

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Tiragem: 41435

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 5,65 x 6,39 cm²

Corte: 2 de 2ID: 40087720 08-02-2012

REN

Administradores terão de declarar rendimentosa Quatro administradores da Redes Energéticas Nacionais (REN) vão ser obrigados pelo Tribunal Constitucio-nal a apresentarem a declaração de rendimentos, património e cargos so-ciais. Se não o fi zerem incorrem na perda de mandato. c Portugal, 4

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Tiragem: 106993

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 14

Cores: Cor

Área: 10,43 x 13,50 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40087640 08-02-2012

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A10

Tiragem: 27259

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 2

Cores: Cor

Área: 15,10 x 33,03 cm²

Corte: 1 de 3ID: 40087005 08-02-2012

Página 10

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Tiragem: 27259

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 3

Cores: Cor

Área: 18,84 x 30,37 cm²

Corte: 2 de 3ID: 40087005 08-02-2012

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Tiragem: 27259

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 14,23 x 8,37 cm²

Corte: 3 de 3ID: 40087005 08-02-2012

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Tiragem: 52107

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 12

Cores: Cor

Área: 20,83 x 10,66 cm²

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Tiragem: 161374

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 28

Cores: Cor

Área: 21,36 x 31,46 cm²

Corte: 1 de 2ID: 40087937 08-02-2012

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Tiragem: 161374

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 7,52 x 5,14 cm²

Corte: 2 de 2ID: 40087937 08-02-2012

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A16

Tiragem: 41435

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 6

Cores: Cor

Área: 5,80 x 16,48 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40109111 09-02-2012

Pacote da transparência do PS gera grupo de trabalho

a O PSD propôs e foi aceite a criação de um grupo de trabalho para discu-tir o pacote de propostas do PS sobre transparência e um projecto do BE sobre o regime jurídico de incompa-tibilidades e impedimentos dos titula-res de cargos políticos e altos cargos públicos. A decisão foi tomada ontem na Comissão de Assuntos Constitucio-nais quando os deputados já se pre-paravam para votar na especialidade os diplomas.

Os projectos baixaram à comissão graças à abstenção da maioria PSD/CDS, mas o pacote de seis iniciativas legislativas do PS de combate à cor-rupção e criminalidade económica foi muito criticado à direita e à esquerda durante a discussão em plenário, em Dezembro. O BE votou ao lado do PS no alargamento do acesso à base de dados das contas do sistema bancá-rio pelas autoridades judiciárias, mas manifestou reservas quanto ao fi nan-ciamento dos partidos e campanhas eleitorais. A proposta do BE, também viabilizada na generalidade, pretende alargar até seis anos o período de nojo a que políticos e altos cargos públicos estão sujeitos em relação ao exercício de lugares em empresas privadas em sectores que antes tutelaram. S.R.

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Tiragem: 41435

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 11

Cores: Cor

Área: 22,65 x 13,10 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40109184 09-02-2012

Advogado de Godinho opta por não interrogar ex-braço direito do empresário de Ovar

Mariana Oliveira

Namércio Cunha garante

que MP não lhe propôs um

acordo para colaborar com a

investigação

a No fi m de mais uma audiência do julgamento da Face Oculta, ontem ao fi m da tarde, observou-se um fenó-meno pouco habitual. Depois de uma sessão com alguma tensão, em que as defesas de vários arguidos se con-centraram no contra-interrogatório ao ex-braço direito de Manuel Godinho, Namércio Cunha, todos pareciam sa-tisfeitos. Incluindo os advogados dos dois arguidos que mais temiam o de-poimento de Namércio, as defesas do ex-ministro Armando Vara e de José Penedos, antigo presidente da Redes Energéticas Nacionais (REN). E tam-bém o Ministério Público (MP), res-ponsável pela acusação.

No meio da confusão e das mani-festações de contentamento, quase passou despercebido o facto do advo-gado de Godinho, Artur Marques, ter optado por não interrogar Namércio Cunha que trabalhou para o sucateiro de Ovar durante sete anos e que, ao longo do seu depoimento, que come-çou na semana passada implicou de forma séria o empresário das sucatas. Namércio foi director-geral da O2, a principal empresa do grupo de Go-dinho, a maioria na área da gestão de resíduos.

Uma dos momentos mais quentes do dia foi protagonizada pela defesa de José Penedos, representado pelo advogado Rui Patrício, que esteve du-as horas a interrogar o ex-gestor da O2. Patrício recorreu à cronologia das declarações que Namércio prestou ao longo do inquérito (mais de uma deze-na de vezes), lembrando que a última das quais, que considerou mais tarde a mais incriminatória para o seu argui-

do, ocorreu já depois do juiz de ins-trução ter reduzido as medidas de co-acção a Namércio. Em fi nais de 2009, quando o processo da Face Oculta se tornou público, Namércio, indiciado por três crimes (acabou por ser acu-sado apenas por dois: um de associa-ção criminosa e outro de corrupção activa), fi cou proibido de se ausentar

do país sem autorização judicial e foi obrigado a pagar uma caução de 25 mil euros, dinheiro que acabou por ver devolvido mais tarde.

Rui Patrício tentou associar a cola-boração de Namércio Cunha com os investigadores a um tratamento que considerou privilegiado durante a fase

de inquérito. Mas de forma serena e controlada o antigo braço-direito de Godinho recusou que o Ministério Pú-blico lhe tivesse proposto, de forma directa ou implícita, qualquer tipo de acordo para que colaborasse com a investigação. Ou lhe tivesse prometido um estatuto especial.

O gestor disse em tribunal que só falou numa determinada fase do pro-cesso porque nessa altura lhe haviam arrestado a casa onde vive com a famí-lia e então se apercebeu das possíveis implicações do processo Face Oculta, tentando, por isso, esclarecer a Justiça para se livrar das acusações de que era alvo. O arguido falou do choque que sentiu quando o MP solicitou a sua prisão preventiva e quando foi chamado à PJ de Aveiro, onde lhe ti-raram impressões digitais. “Primeiro, no tempo das primeiras buscas à O2, associava este processo a um proble-ma fi scal da empresa, com o qual eu não tinha nada a ver”, relatou.

Namércio Cunha negou ontem em tribunal que o Ministério Público lhe tivesse proposto qualquer tipo de acordo

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Tiragem: 15000

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Regional

Pág: 16

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Área: 27,11 x 36,11 cm²

Corte: 1 de 3ID: 40117451 09-02-2012

Portugal tem-se confrontadocom crimes cada vez mais vio-lentos e organizados. A falta demeios nas polícias podem pôr emcausa a segurança dos cidadãos?

Essa é uma visão alarmista quenão partilho. A questão principal éque a afectação de recursos, nomea-damente dos periciais, deve acom-panhar a evolução da criminalida-de, que tem sido de grande sofisticaçãoe que dá anonimato e rapidez deactuação, com recrutamento dejovens nas redes sociais para a prá-tica de crimes e planificação da acti-vidade criminosa. A cibercrimina-lidade é uma das maiores ameaçasda globalização. A criminalidadepraticada por gangues, com gran-de mobilidade geográfica, sem dei-xar rasto, com capacidade logísticae de organização, exige um esfor-ço do Estado de reapetrechamentodas polícias e do Ministério Públi-co (MP) tanto na área dos recursoshumanos como, principalmente, naárea operacional. Se não temos umapolícia e um MP devidamente ape-trechados, a capacidade de respos-ta é muito fraca e frágil.

É por isso que surge o senti-mento de impunidade?

Isso já estamos no domínio dapercepção da opinião pública. Nãohá justiça absoluta e, como tal, nun-ca conseguiremos esgotar toda a cri-minalidade. O que precisamos é deter um sistema penal forte com capa-cidade dissuasora e que envie parao exterior a seguinte resposta: ‘meussenhores, se praticarem crimes, nósagimos e vão responder criminal-mente com todas as consequênciasadequadas ao caso’. Chama-se a istocriar um risco para a activi-dade criminosa. Se não seconsegue criar essa mensa-gem então não temos a efi-cácia dissuasora proporcio-nada e exigível. Talvez sejaesse o problema, porque temosacusações e condenações todosos dias.

Os processos que envolvemfiguras mediáticas arrastam-se egeralmente, sem condenações.

O mediático é uma deformaçãocultural, porque os casos ou sãoimportantes ou são graves, mediá-ticos é o que alimenta o espectácu-lo. O arrastamento dos casos é outracoisa. No colarinho branco e na cri-minalidade cuja prova é feita atra-vés da prova pericial e do conjun-to de prova indirecta, em que nãohá testemunhas nem confissões, não

há a faca com sangue, a prova émuito difícil. O contraditório é for-te, na medida em que as pessoastêm capacidade para pagar a bonsadvogados, portanto, não nos deve-mos admirar. O sistema penal é quetem de estar preparado para fazerprova da justeza das suas investi-gações e acusações. Também hámuita demora entre a passagem doprocesso da acusação para a fase dejulgamento, com a instrução pelomeio, e até demora excessiva namarcação de julgamento. Depois,quando o julgamento se faz e hácondenações, o processo nunca maistransita em julgado, porque entranuma cascata de recursos até pres-crever. Temos casos com condena-ções que prescreveram, como asfraudes no Ministério da Saúde euma parte do caso “Melancia”. Vive-mos anos a fio com inúmeras refor-mas penais e nunca ninguém mexeuna questão do recurso ter um efei-to suspensivo da prescrição, porqueera a única forma de estancar estahemorragia.

Porque nunca foi alterado?Porque nunca houve interesse.

A política criminal não é definidapelo MP, mas pelo Governo. Vive-mos esmagados por esses maus resul-tados, sem que tenhamos ferramentasprocessuais penais capazes de impe-dir este tipo de chicana processual.Na maioria dos países da Europa,quando há uma condenação em 1ªinstância, os recursos têm efeito sus-pensivo da prescrição. Em Portugal,isso não acontecia. A classe políti-ca conviveu bem com isso.

Temos uma má lei ou uma máaplicação da lei?

As duas coisas. Pen-samos que por termos

leis temos o problema resolvido. Nãotemos. O juiz é a boca da lei: se apli-car bem faz uma boa lei, se aplicarmal faz uma má lei. Isso não querdizer que não tenhamos tido anosde turbo-legislação, com confusõesindesejáveis que levam a dúvidasna interpretação e, por sua vez, àabsolvição. A legislação económi-co-financeira é uma floresta de legis-lação extravagante e sem que nun-ca se tenha posto o dedo na ferida.Por exemplo, a prescrição é umaquestão chave e só agora se pon-dera mudar. Tivemos inúmeras refor-mas à flor da pele, por razões liga-das a certos processos ouacontecimentos. Não foram verda-deiras reformas. Foram mudançasatrás de mudanças, o que veio com-plicar ainda mais o panorama daaplicação da lei.

As leis têm demasiados alça-pões que podem ser usados emfavor dos arguidos?

Isso há sempre. Temos de ter umamagistratura de elite capaz de fazeruma aplicação correcta da lei e deenfrentar o contraditório. O contra-ditório é desejável, porque sem elenão conseguimos atingir a justiçamaterial verdadeira. Não podemoscondenar ninguém num processode passividade absoluta do lado dadefesa. Agora também é desejávelque, no meio do contraditório, amagistratura tenha capacidade deentender o que está certo e errado,o que é justo e injusto e quem é cul-pado e inocente.

Qual a principal dificuldade emprovar os crimes de colarinhobranco?

Não temos uma jurisprudênciasedimentada na prova, adequada àcomprovação da prática dos crimese ao grau de culpa dos seus auto-res. A prova é sempre feita de umconjunto de prova documental, pes-soal e pericial, mas funciona comoprova indirecta, que o juiz apreciade acordo com a sua experiência, enós não temos tido uma jurispru-dência suficientemente forte nessesentido, até porque temos tribunaisem que se mistura a criminalidadeeconómico-financeira com o rou-bo por esticão, furto simples e tudoisso complica a actuação.

É preciso criar tribunais espe-cializados?

É cansativo andar 20 anos a falarde especialização. Temos de ter tri-bunais que só julguem esse tipo decriminalidade altamente organiza-

da e a Constituição não proíbe isso.Há tribunais especializados por com-petências materiais como o tribu-nal de família e menores e do comér-cio. Também poderia existir umtribunal para a criminalidade alta-mente organizada, mas isso não éuma ideia simpática à classe políti-ca, como se tem constatado.

A falta de fiscalização e exces-so de burocracia potenciam a cor-rupção?

A burocracia tem a mecânica dacorrupção, porque a lei é dura e aprática é mole. Isto já vem de tem-pos velhos e, como tal, tudo o queseja complicação ao nível da admi-nistração pública central ou local,com baixos salários dos funcioná-rios, cria oportunidades para a cor-rupção.

Porque é que a Justiça em Por-tugal é tão lenta?

A morosidade da Justiça é umproblema das sociedades avança-das. O nosso problema não será sómorosidade, mas talvez uma moro-sidade mórbida sem resultados com-patíveis com as ameaças criminaise com fraca capacidade dissuasora,o que é uma doença um bocadinhomais grave. O ideal é haver celeri-dade, mas temos de cumprir regras,tem de existir contraditório, temosde notificar a defesa de tudo, o pro-cesso não pode ser tão célere. Soudefensora dos julgamentos rápidos,desde que a prova seja simples e evi-dente, e penso que podemos fazermuito mais nessa área. Temos de terum Código de Processo Penal maisexpedito e que não nos amarre atantos formalismos. O legislador temde escolher se quer formalismos etem morosidade inevitável ou sequer uma simplificação a sério, adoer para quem pratica infracções,e aí temos celeridade.

Falou na dureza. Há penas apli-cadas em determinados crimesque são consideradas baixas.

Não se pode falar no abstractose as penas são baixas ou altas.Quando falo em dureza falo em ine-vitabilidade e a imediata aplicaçãoda pena, porque isso é que dá a efi-cácia dissuasora. Se o infractor sou-ber que se pisar o risco é condena-do imediatamente e cumpre umapena, três meses de prisão valemmais do que uma pena de três anosao fim de cinco ou seis anos de con-clusão do processo. Evidentementeque se estamos perante crimes gra-ves, as penas devem ser mais rigo-

rosas, mas tem de corresponder aograu de culpa, avaliado pelo juiz. Acondenação das pessoas baseia-senum princípio que é a culpabilida-de, avaliada de acordo com as cir-cunstâncias do crime que são varia-das e multifacetadas e, na consumaçãode um crime, ocorrem muitos fac-tores que podem até, por vezes, des-culpar a atitude do arguido. Cadacaso é um caso e a justiça tem deser humana e tem de compreenderas pessoas.

É conhecida pela justiceira con-

Maria José Morgado, coordenadora do Departamento de Investigação e Acção Penal

“A burocracia tem a mecânica da corrupção”É conhecida como uma mulher dura e implacável, nomeadamente na luta contra a corrup-ção. Mas os seus olhos brilham de maneira diferente quando fala de Saldanha Sanches, com-panheiro de uma vida. Lamenta a falta de reformas profundas na legislação e considera quea modernização e informatização da justiça são mais importantes que o mapa judiciário.

Textos: Elisabete Cruz Fotos: Ricardo Graça

Ser mãe no meiodos ‘pocessos’Viúva do fiscalista José Luís SaldanhaSanches, foi mãe, há 35 anos, poropção. “Quis muito ter a minha filha.Só quis ter uma porque não me sentiacom capacidade de ser boa mãe commais filhos, por causa do tribunal e dos‘pocessos’, como dizia a minha filha.”A filha cresceu no meio dos ‘pocessos’.“Se calhar fui uma má mãe, mas nãovejo consequências disso, porque ela foiuma boa menina e não tem nada a vercom o Direito. É professora de ioga e játenho um neto”, afirma com orgulho.Apaixonada pelo Direito, aos 61 anos,já passou pelo Tribunal de InstruçãoCriminal de Lisboa e foi responsávelpela Direcção Central de Investigaçãoda Corrupção e Criminalidade Econó-mica e Financeira da Polícia Judiciária.Assumiu a coordenação da investigaçãode casos polémicos como o Apito Dou-rado ou a alegada corrupção na Câma-ra Municipal de Lisboa. Escreveu olivro O inimigo sem rosto - fraude e cor-rupção em Portugal, em co-autoriacom o jornalista José Vegar.

Temos de ter umamagistratura deelite capaz de fazeruma aplicação correctada lei e de enfrentar o contraditório

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Tiragem: 15000

País: Portugal

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Âmbito: Regional

Pág: 17

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Saldanha Sanches era maisvelho sete anos, o que o atraiunele?

Paixão não se explica. Existee continua a existir.

Porque saiu do MRPP?Porque resolvemos, tanto eu

como o José Luís, pôr termo àideologia do marxismo-leninis-mo maoísmo, na qual já não acre-ditávamos. Continuámos a acre-ditar que tínhamos de lutar poruma sociedade justa, por um esta-do social e por valores de igual-dade, liberdade e de justiça.

Por que não voltou a ter maisexperiências partidárias?

Sou e sempre fui alérgica àpolítica. O MRPP era uma mili-tância fanática, estúpida e ridí-cula, que não tinha nada a vercom aquilo a que as pessoas cha-mam política. Não tenho perfil eseria sempre uma má política. Aminha alergia à política não sig-nifica subestimação da funçãopolítica. Significa que eu nãotenho essa vocação, nunca tivee seria uma política horrorosa.

Ainda é revolucionária?Não sei o que isso é. Não sou

maoísta nem marxista-leninistae compreendi que esses princí-pios eram errados e não nos leva-vam a lado nenhum. Embora ago-ra também parece que omarxismo-leninismo se deslocoupara os mercados e que acabouo pluralismo, a igualdade de opor-tunidades, a justiça fiscal, etc, etc.É um mundo que já não com-preendo. Se calhar Marx ficariaadmirado com isso. Acho certassemelhanças inacreditáveis emtermos de fatalismo e ditadurade acontecimentos.

É das poucas pessoas comcargos na magistratura que dizo que pensa.

Mas isso é a minha obrigaçãoe não estou na clandestinidade.Na magistratura devemos ter umrosto e prestar contas. Sempreprestei contas do meu trabalhoe, muitas vezes, as pessoas nãocompreendem e interpretam issocomo um desejo de protagonis-mo. O problema é delas.

Foi detida pela PIDE. Comose resiste?

Resistindo. Fazia parte dosusos e costumes da PIDE. Fuiespancada com o cavalo mari-nho e tive tortura do sono váriosdias. Isso estava no programa.Quem se metia naquelas coisassabia que corria esse risco. Nemeu nem o Zé Luís somos defen-sores de lamurias nem de apro-veitamentos de um passado deluta anti-fascista. Não estou adizer que acho bem, mas faziaparte das regras, não temos denos admirar, tínhamos era de nosaguentar. As coisas custam fisi-camente, mas fazem parte da lutae são empolgantes quando esta-mos nesse caminho.

Que idade tinha?

Ainda não tinha 21 anos. Naacusação a única atenuante era euser menor de 21 anos. Para a PIDEera uma jovem delinquente. Atéme lembro que, quando fui leva-da, os inspectores diziam: ‘ó minhamenina, o teu pai enganou-se, erapara te levar para a escola e trou-xeram-te para aqui’. Foi uma esco-la de vida e aprendi o que é lutarpela justiça, pela liberdade e poraquilo em que acreditamos. Se vol-tasse atrás provavelmente tudoaconteceria na mesma.

Valores como liberdade, inte-gridade, generosidade estãofora de moda?

A ética... Se calhar está tudofora de moda. A internet volati-lizou tudo. Quer-se viver muitodepressa e o mundo da ética, damoral e dos afectos parece quese evaporou, mas agora com acrise económica talvez esses valo-res voltem a ser recriados.

Como explica o afastamen-to dos jovens da política?

No meu tempo havia causas.Neste momento há outras cau-sas.

Os jovens não acreditam napolítica?

Não os censuro por isso. Nósé que estamos velhos e não oscompreendemos. Os jovens têmum mundo muito difícil pela fren-te e é uma coisa que me preocu-pa e até me deprime, e deprimiaao meu marido, que é não con-seguirmos criar um mundo semdesigualdade inter-geracional. Aminha geração ainda pôde sonhare fazer um peculiosinho comocomprar casa e ter algum bem-estar económico. A geração daminha filha já não vai conseguirnada disso e isso é terrível.

O que é preciso mudar?Não passo receitas. Precisa-

mos de algum progresso econó-mico para haver mais bem-estareconómico e capacidade do paíster jovens, aliás, há uma tendênciapara os nossos melhores jovensirem para fora, o que é uma san-gria de massa cinzenta do país.Investimos na formação de jovens,alguns atingem estatutos de eli-te e depois perdemos tudo. Umpaís que não consegue absorvera sua jovem inteligência é umpaís morto.

Ser mulher causou-lhe difi-culdades ou entraves?

Não. Não penso em termos degénero. Irrita-me um bocado essacoisa do género.

Mas as estatísticas indicamque as mulheres continuam aser preteridas pelos homens emcargos de chefias.

Isso é um fenómeno de tercei-ro mundo. Em Portugal existe ecada vez mais. Mas, se calhar, senão fossem mulheres acontecia- lhes o mesmo. ém tem de tomarconta dos filhos e da casa. �

“A militância no MRPP erafanática, estúpida e ridícula”

tra a corrupção. O que a move? Não me move nada. Move-me a

honestidade e integridade que meparece que não devia ser uma coi-sa original.

O cardeal patriarca de Lisboadefendeu que os políticos nãodevem revelar que pertencem àmaçonaria como não o fazem emrelação à religião ou clube. Con-corda?

Em tese geral, um político devefazer uma declaração de interesses.A pertença a associações e outras

actividades de natureza análogadeve ser objecto de declaração por-que tem a ver com interesses e poten-ciais conflitos de interesses no exer-cício de funções. Isso não tem nadade extraordinário, acontece em mui-tos países e não vejo qual é o pro-blema.

A proposta de revisão do mapajudiciário vai melhorar a justiça?

Tenho uma certa alergia à dis-cussão do mapa judiciário, porquedepois tomamos a nuvem por Juno.O que me interessaria era a infor-

matização e modernização da jus-tiça, de articulação entre o MP, aspolícias e os tribunais, que aindanão existe, por incrível que pareça.Trabalhamos com ferramentas daIdade Média. Como é que podemosresponder a uma criminalidade glo-balizada com ferramentas destas?Isso ultrapassa tudo o que tem a vercom o mapa judiciário, porque setemos um mapa judiciário que nãotoca nessas questões, voltamos a tera mesma doença. Estamos como asvelhotas que fazem lifting, as rugasvoltam a aparecer. � Página 19

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Tiragem: 15000

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Regional

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Maria José MorgadoProcuradora da República

O mundo da ética, da moral e dos afectos parece que se evaporou

GRANDE ENTREVISTA

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Tiragem: 52107

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Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Tiragem: 52107

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Âmbito: Economia, Negócios e.

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Um despacho de pedido de averiguação datado de 18 de Maio de 2011 enviado pela Inspeção-Geral de Finanças à ex-ministra do Trabalho, Helena André, e posteriormente remetido ao Inspetor-Geral do Trabalho, José Luís Forte, determinou a abertura de um inquérito à atuação da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Em causa estão quatro denúncias anónimas e suspeitas de corrupção, tráfico de influências e favorecimento dentro da própria ACT.Questionado pela “Vida Económica”, José Luís Forte confirma que “o inquérito foi iniciado”, mas que “não é possível avançar com a data de conclusão do mesmo”.

TERESA [email protected]

Foi o Inspector-Geral do Traba-lho, José Luís Forte, quem avan-çou com o inquérito à atuação da entidade que dirige – a ACT -, as-sim como com uma participação criminal. Tudo na sequência de uma nota interna, a que a “Vida Económica” teve acesso, datada de 21 de dezembro de 2011, as-sinada por Luís Nascimento Lo-pes, coordenador executivo para a promoção da segurança e saúde no trabalho da estrutura.

Nessa nota, Luís Nascimen-to Lopes, face aos “posteriores desenvolvimentos” quanto às denúncias anónimas recebidas, a que entretanto se juntou um abaixo-assinado, datado de 11 de outubro de 2011, “subscrito pela quase totalidade dos funcioná-rios da área da prevenção”, disse por escrito a José Luís Forte: “Há que avançar para o inquérito, não apenas para apurar os factos, mas, também, para dar um sinal aos serviços de que a Direção está atenta e disposta a agir”.

As denúncias, a cujo teor a VE também acedeu, feitas nos

últimos meses de 2011, falam de alegados favorecimentos na contratação de empresas e finan-ciamento de projetos, por ajuste direto e sem publicitação, a em-presas e outras entidades detidas por familiares ou amigos de diri-gentes da ACT.

Vejamos um exemplo. No já ci-

tado pedido de averiguação data-do de 18 de maio de 2011 enviado pela Inspeção-Geral de Finanças à ex-ministra do Trabalho, Helena André, é referido que “através de um procedimento por ajuste di-reto foi celebrado um contrato de aquisição de serviços entre a ACT e a INNEW, Lda. (�� 74.238,

acrescidos de IVA)”, mas que esse contrato foi assinado “sem a emis-são do parecer prévio vinculativo” obrigatório, pelo que se sugere que seja “declarado nulo”.

As acusações falam ainda de projetos envolvendo dezenas e centenas de milhares de euros para a elaboração de brochuras,

CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA E FINANCIAMENTOS DA PREVENÇÃO TAMBÉM SOB SUSPEITA

Inspeção-Geral de Finanças determi à Autoridade para as Condições de

José Luís Forte foi nomeado Inspetor-Geral do Trabalho pela ex-ministra do Trabalho, Helena André, e tomou posse a 1 de julho de 2010.

Apoios concedidos pela ACT são escrutinados por sindicatos e patrões

“O acompanhamento da execução dos projetos de promoção da segurança e saúde do trabalho é efetuado pelo Conselho Consultivo da ACT, onde têm assento, em paridade, as confederações patronais e sindicais”. Eis a resposta do Inspetor-Geral do Trabalho, José Luís Forte, quando questionado pela “Vida Económica” sobre critérios e o regulamento dos financiamentos atribuídos, não tendo embora respondido por que é que essas listagens não são divulgadas no site da estrutura.Acrescentou, ainda assim, José Luís Forte, que “o Plano de Atividades da ACT, na vertente da promoção da segurança e saúde do trabalho, é obrigatoriamente sujeito à aprovação deste órgão, que detém competências para escrutinar”, nomeadamente o apoio a projetos.

Já em matéria de atribuição dos CAP – certificados de aptidão profissional – aos técnicos de segurança e saúde no trabalho, os quais, alegadamente, estão com grandes atrasos na sua emissão, o Inspector-Geral do Trabalho também tem resposta pronta. E esclarece a “Vida Económica” que, “em 2011, foram apresentadas 3923 candidaturas à emissão e renovação de certificação profissional” desses técnicos, tendo sido “emitidos 3849 certificados”. Além do mais, diz José Luís Forte, “foi implementada em 2011 uma aplicação para gestão do processo de certificação profissional”, cuja fase de testes foi “concluída recentemente” e que deverá “possibilitar um aumento da capacidade de resposta dos serviços” da ACT.

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Pág: 5

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Área: 11,96 x 24,95 cm²

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na inquérito Trabalho

manuais ou realização de estudos ligados às temáticas da promoção das políticas de segurança e saúde do trabalho que nunca se terão realizado ou, então, que pecam por exageradas, dada a natureza da entidade candidata. E também é criticada a atribuição de verbas alegadamente sempre aos mesmos candidatos.

Associais patronais e sindicais financiadas pela ACT

O orçamento da ACT em 2010 foi de cerca de 46,9 milhões de euros, cerca de 46,3 milhões em 2011 e é de pouco mais de 39,2 milhões em 2012. Já a dotação da estrutura destinada a financiar projetos ligados à promoção das políticas de segurança e saúde do trabalho foi de cerca de 2,6 mi-lhões de euros em 2010, cerca de 2,4 milhões em 2011 e será de pouco mais de 1,7 milhões em 2012, revelou o gabinete do Ins-petor-Geral do Trabalho à “Vida Económica”.

E a conclusão a que se chega após a análise dos relatórios dos projetos já financiados é que pou-co mais de uma dezena entre as mais de duas centenas de entida-des candidatas – sindicais, patro-nais e ligadas ao ensino - arrecada, anualmente, o grosso das verbas disponíveis.

Do lado sindical (sindicatos

afetos à UGT e CGTP), o Sin-dicato da Administração Local (STAL), por exemplo, recebeu em 2010 mais de 23 mil euros de fi-nanciamento da ACT e em 2011, apesar de o orçamento da ACT ter regredido, recebeu cerca de 52 mil euros. A FIEQUIMETAL (Federação das Indústrias Meta-lúrgicas, Químicas, Elétricas, etc) recebeu em 2010 mais de 163 mil euros da ACT e em 2011 mais de 289 mil euros. Por sua vez, o Ins-tituto Bento Jesus Caraça recebeu em 2010 mais de 57 mil euros, sendo que em 2011 o montante ultrapassou os 160 mil.

Do lado patronal, por exemplo a AIMMAP (Associação dos In-dustriais Metalúrgicos Metalome-cânicos e Afins) recebeu em 2010 mais de 47 mil euros de finan-ciamentos da ACT, destinados a promover a segurança e saúde do trabalho, sendo que em 2011 esse montante foi de mais de 31 mil euros.

Já a APESPE (Associação das Empresas do Setor Privado de Emprego) recebeu da ACT em 2010 cerca de 26 mil euros, tendo recebido em 2011 mais de 76 mil, apesar de o orçamento da ACT ter diminuído. E a ARICOP (As-sociação de Indústria de Constru-ção e Obras Públicas de Leiria) recebeu em 2010 da ACT mais de 18 mil e 500 euros, mas em 2011 esse valor subiu para mais de 45 mil euros.

Dotações orçamentais da ACT – 2010-2012

AnoOrçamento Inicial ACT * Projetos/Financiamento Prevenção

Receita Despesa Dotação Pagamentos

2010 46.926.105,00 46.926.105,00 2.667.323,00 1.675.622,38

2011 46.394.741,00 44.486.956,00 2.452.800,00 2.449.470,31

2012 39.224.229,00 36.130.427,00 1.789.276,00 0,00

+* Inclui todas as Fontes de Financiamento

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Tiragem: 17000

País: Portugal

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Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 2

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04 Atualidade

Inspeção-Geral de Finanças determina inquérito à Autoridade para as Condições de Trabalho

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Tiragem: 17000

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 1

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Área: 8,59 x 2,57 cm²

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Autoridade para as Condições de Trabalho sob inquérito

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Tiragem: 59041

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Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 47

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Área: 10,43 x 12,53 cm²

Corte: 1 de 1ID: 40133250 10-02-2012

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Tiragem: 41435

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Francisca Gorjão Henriques

a Os Estados Unidos confi rmam que um alto responsável de Chongqing, sobre quem correm boatos de que terá pedido asilo ao Governo ameri-cano, esteve no seu consulado esta se-mana. Pode ser um caso de tentativa de deserção do mais popular chefe do combate à corrupção. Ou apenas mais um sinal de que a luta política interna está acesa, em vésperas da transferên-cia de poder em Pequim.

Wang Lijun era chefe da polícia e vice-presidente da Câmara de Chon-gqing, uma cidade com 29 milhões de habitantes. Foi o rosto de um feroz combate às tríades da região, e che-gou mesmo a sugerir que a sua luta contra a corrupção poderia dar um fi lme semelhante a O Padrinho.

Para além disso, é um importante aliado de Bo Xilai, um político que espera no próximo Outono tornar-se membro permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), um restrito órgão de nove elementos que toma todas as decisões importantes

Chefe do combate à corrupção na China demitido e correm rumores de deserção

para o país. Esta queda em desgraça não favorece Bo, que fez da campa-nha contra a corrupção liderada por Wang o seu próprio cavalo-de-batalha (para além de lançar uma propagan-da de cariz fortemente maoísta como já é invulgar ver-se).

As autoridades afi rmaram na quar-ta-feira que Wang está de “licença de

férias” devido a um “desgaste psico-lógico” e “indisposição”. Antes, a sua posição foi claramente posta em causa, quando saiu da segurança para chefi ar um departamento responsável por questões que vão da educação à tecnologia, inspecção de qualidade, desporto, jardinagem e registos públi-cos, refere o Financial Times.

As alegadas “férias” deram azo a in-terpretações várias nos comentários

colocados no Weibo, o serviço de mi-croblogs, incluindo a de que Wang foi alvo de uma purga. Segundo a Reuters, houve 500 mil posts sobre os rumores à sua volta no Weibo – um debate in-vulgarmente livre num país onde os censores são rápidos a actuar.

Alguma imprensa cita testemunhos de que as forças de segurança rode-aram a representação americana em Chengdu, capital da província de Si-chuan, na terça-feira à noite. Circu-laram também imagens na Internet onde se mostra uma forte presença policial à volta do edifício.

Sabe-se que Wang visitara na véspe-ra o consulado. “Encontrámo-lo, ele visitou o consulado, e depois saiu por sua iniciativa”, disse Justin Higgins, porta-voz da embaixada americana em Pequim. Mas não adiantou se foi feito ou não o pedido de asilo. “Esta-mos em época política e os rumores voam”, disse ao New York Times Zheng Yongnian, da Universidade de Singa-pura. “As pessoas não estão interessa-das no sr. Wang. Estão interessadas no que isso signifi ca para Bo Xilai”.

As autoridades afirmam que Wang está de “licença de férias” devido a um “desgaste psicológico” e “indisposição”

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Tiragem: 106993

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Tiragem: 106993

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Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

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Tiragem: 27259

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Tiragem: 27259

País: Portugal

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Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

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Tiragem: 52107

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Âmbito: Informação Geral

Pág: 10

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Área: 26,92 x 33,50 cm²

Corte: 1 de 2ID: 40132523 10-02-2012

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Tiragem: 52107

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

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Área: 5,34 x 4,44 cm²

Corte: 2 de 2ID: 40132523 10-02-2012

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Tiragem: 123950

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Âmbito: Informação Geral

Pág: 29

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Área: 29,69 x 28,28 cm²

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Tiragem: 161374

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 28

Cores: Cor

Área: 21,28 x 30,97 cm²

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A37

Tiragem: 41435

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Cores: Preto e Branco

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a Para mudar a Justiça, é preciso rever a Constituição e reforçar o poder dos juízes, defende Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça.”O problema não está na Constituição, mas na falta de vontade de a rever. E não se revendo a Constituição, continuamos a ter um quadro global de gestão do sistema que é absolutamente disfuncional”, diz em entrevista ao PÚBLICO. Retirado da política mas com uma intensa actividade cívica, prepara-se para publicar um novo livro inspirado em Almeida Negreiros. Chama-se Manifesto anti-Dantes e fala da Justiça e da falta dela.Imagine que era assaltado hoje. Queixava-se?Não preciso de fazer esse esforço, já fui assaltado e queixei-me. Porque continua a confi ar na Justiça…Porque tenho a noção de que, nos tempos actuais, uma das formas de poder combater a criminalidade é permitir que as polícias de investigação aumentem a informação disponível. Não me queixo na convicção de que quem praticou o assalto venha a ser descoberto, mas na ideia de que há o dever cívico de o fazer porque é uma maneira de contribuir para a qualidade de informação. Os inquéritos de vitimização indicam que uma grande percentagem de vítimas de crimes não apresenta queixa porque acha que não vale a pena, porque a polícia e os tribunais não funcionam e porque ainda por cima a justiça é cara. É um sinal muito claro da falta de confi ança e de credibilidade na Justiça. O que é preciso fazer para restituir essa confi ança do cidadão no sistema judicial ?Um conjunto de coisas bastante diversifi cadas. Não há uma causa e um efeito, mas um conjunto vasto de factores. Para intervir nesse conjunto, precisamos de encontrar uma estratégia.Ou seja, uma política de Justiça.Mas uma política voltada para o sistema de Justiça no seu todo. Encontrar uma clara estratégia que permita fazer um diagnóstico diferenciado daquilo que são os problemas da Justiça e que permita encontrar um conjunto de grandes questões e as respostas a essas questões. E usar uma metodologia de intervenção que aposte mais na cooperação e na co-responsabilização e menos na atomização e na separação das responsabilidades. Julgo que isso tem sido um dos motivos pelos quais nós difi cilmente avançamos a despeito da imensa quantidade de medidas que vão sendo adoptadas para resolver o problema da Justiça. Porquê?É que não se actua sobre o sistema com co-responsabilização, actua-se em termos pontuais, step by step, fazendo com que cada elemento do sistema corra por si próprio, muitas vezes corra contra os outros, responda por si e encontre muitas vezes nos outros a causa da

sua menor capacidade de resposta, o que não permite encontrar uma saída verdadeiramente efi caz. Já foi ministro da Justiça e também não conseguiu desbloquear essa quantidade de problemas. Com que principais obstáculos se debateu? Com difi culdades de vária ordem. No núcleo duro dos problemas há um que apontei: a necessidade de criar um Conselho Superior de Justiça único, que tomasse em mãos a gestão global do sistema de Justiça. Continuo hoje a dizer exactamente a mesma coisa, mas como sabe há aí um obstáculo que é a Constituição. O problema não está na Constituição, mas na falta de vontade de a rever. E não se revendo a Constituição, continuamos a ter um quadro global de gestão do sistema que é absolutamente disfuncional. Se olharmos para a sessão solene de abertura do ano judicial, estão lá todas as instituições do sistema, mas cada uma por si. Cada um produz o seu discurso, de si para o sistema. E durante o ano não há a cooperação, não há a co-responsabilização entre todos para produzirem uma acção comum. É um sistema que difi cilmente alguma vez funcionará.Já houve tentativas para estabelecer um pacto para a Justiça que não funcionaram…Não funcionou o pacto nem o congresso anterior ao pacto… porque também se pretende privilegiar sempre o consenso como ponto de partida e isso difi cilmente leva à adopção das medidas essenciais já que algumas delas geram necessariamente confl ito. A ideia do consenso, ao contrário do que se pensa, deve ser um desejo que na implantação das medidas novas seja conseguido mas não pode ser um ponto de partida nem necessariamente um objectivo porque ele é de sua natureza redutor. O objectivo não pode ser obter consenso num espaço que é por sua natureza confl ituoso.Então isso signifi ca que é melhor desistir dessa ideia que ainda no início do ano judicial foi referida pelo Presidente da República, que apelou à conjugação de esforços? Não vale a pena tentar reunir o consenso à volta da Justiça?Não, pela minha parte não desisto. Há que pegar no discurso do Presidente da República e perguntar onde se faz essa conjugação de esforços. Se houver o Conselho Superior de Justiça, a conjugação é natural, tem que ser porque estão lá todos representados.Na génese do problema do mau funcionamento da Justiça, está também uma defi ciente gestão da Justiça.Sim, mas da gestão estratégica da justiça, não apenas da gestão administrativa e corrente da justiça. Aliás, um órgão destes, pode claramente assumir competências que hoje não cabem a nenhum dos conselhos superiores.Como por exemplo?Como por exemplo a formação

Laborinho LúcioPara melhorar a Justiça é preciso rever a Constituição e dar mais poder aos juízes

Ex-ministro da Justiça, Laborinho Lúcio vê na letra da Constituição um obsctáculo à reforma da justiça e diz que é preciso reforçar o poder dos juízes: “Temos que dar cada vez mais poder ao juiz no processo, para que seja ele a decidir, em cada caso, as diligências que devem ou não devem realizadas”. Vai lançar um livro, de título inspirado em Almada: Manifesto anti-Dantes.

Paula Torres de Carvalho (entrevista) Pedro Maia (fotos)

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Corte: 2 de 4ID: 40166763 12-02-2012Assembleia da República, e com a participação de altas fi guras do poder judicial. Tratando-se de um órgão de Estado, este Conselho não incluiria a representação corporativa de magistrados já que as representações seriam institucionais e não electivas. A lentidão e burocratização da Justiça está nas leis ou na forma da sua aplicação? Acho que um pouco nas duas coisas. Mas é necessário termos a noção exacta do que queremos dizer quando falamos disso, porque há alguns mitos que se criaram e é necessário desfazê-los, senão difi cilmente se consegue ter uma intervenção modifi cadora. Hoje as pessoas queixam-se de que há uma enorme proliferação de leis. E que as leis não têm estabilidade e estão sistematicamente a ser alteradas. Penso que é necessário afrontarmos com algum espírito aberto a ideia de que isso é assim porque tem de ser assim. A sociedade hoje é marcada por uma imensa complexidade, por uma enorme diversidade e por uma dinâmica muito diferente daquela que havia há 20, 30 ou há 50 anos . E portanto temos que nos habituar à regra da mutabilidade legislativa. Isto cria um problema novo. É que para que as leis, mesmo enquanto não são alteradas, tenham capacidade para se adaptarem à realidade, isso pressupõe tribunais com mais poder de intervenção. O que quer dizer concretamente?Falo de mais poder dado aos juízes. Para dar um exemplo concreto, eu posso sistematicamente alterar os códigos de processo. E é necessário que isso aconteça, é importante que não se deixe de fazer uma progressiva actualização das leis processuais. Mas temos que dar cada vez mais poder ao juiz no processo, para que seja ele a decidir, em cada caso, as diligências que devem ou não devem realizadas, ser ele a marcar o ritmo do processo. Isto é um juiz com mais poder. Que não se cinja à letra da lei?Em que a própria lei lhes dá esse poder. Um poder de decisão sobre o processo, em que o juiz diz neste caso sim, neste caso não, nesta circunstância pode, naquela não pode. Mas este é um juiz poderoso, e portanto mais uma vez voltamos ao início. Em democracia, quanto mais poder, maior responsabilização. Não pode ser um juiz com mais poder e com menos mecanismos de responsabilizar o exercício do seu poder. Por isso eu digo que muita da alteração legislativa é compreensível, mas muito daquilo que hoje temos colocado como novo, é o tema da relação do juiz com a lei e como é que, com mais poder, ele pode ser o gestor do processo. Temos de acabar de uma vez por todas com a “processualite”, isto é, com esta relação quase umbilical e proprietária que o juiz tem com o processo. O processo é um instrumento para resolver problemas das pessoas, e não pode por isso ser uma forma de difi cultar

de magistrados. Quem fala na formação de magistrados, fala também em tudo o que tem a ver hoje com a internacionalização da justiça, há questões completamente novas na área da cooperação judiciária internacional, nomeadamente no domínio da União Europeia. É necessário um órgão que responda politicamente sobre a gestão global deste sistema. Isto traria uma melhoria imensa do funcionamento da justiça, nomeadamente num ponto, que para mim é essencial também e passa muito pela questão da confi ança e da credibilidade, que falou inicialmente, que é o do tratamento da comunicação, a maneira como o sistema de justiça se relaciona com o exterior. Como se relaciona com o cidadão que procura o sistema de justiça, com os media e com a opinião pública, como permite que o exterior se relacione com ele próprio… nada disto está verdadeiramente organizado. Mais uma vez, o que nós encontramos sistematicamente são vários agentes do sistema de justiça que confl ituam entre si sem nenhuma co-responsabilização nos próprios confl itos que geram.Em suma, defende a criação de um Conselho Superior de Justiça como condição para mudar o sistema, o que implicaria a revisão da Constituição?Claramente. Para extinguir todos os outros conselhos e depois permitir uma revisão em termos da organização interna e então aí sim, aquilo que no fundo cabe, em parte aos outros conselhos do ponto de vista estritamente executivo, caberia a secções próprias deste conselho superior onde estaria representado o Presidente da República, contaria com a participação do ministro da justiça, de membros maioritariamente designados pela

Em democracia, quanto mais poder, maior responsabilização. Não pode ser um juiz com mais poder e com menos mecanismos de responsabilizar o exercício do seu poder

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Corte: 3 de 4ID: 40166763 12-02-2012a resolução dos seus problemas. Em termos democráticos, há que reconhecer maior poder aos juízes, mas obviamente responsabilizar a má utilização desse poder. Outro impedimento que é apontado para um efi caz e célere funcionamento da justiça tem a ver com aquilo que muitas pessoas consideram o excesso de garantismo que permite que se recorra sucessivamente das decisões judiciais e se vá adiando o cumprimento das penas. Agora a ministra propôs uma alteração para diminuir os casos em que os recursos têm um efeito suspensivo nas condenações. Acha que há um excesso de garantismo em Portugal?Essa é outra questão que tem necessariamente de ser mudada com uma grande seriedade Eu preferiria dizer que o garantismo não é excessivo. O problema não está no excesso, mas no abuso do uso das garantias para atrasar no tempo a decisão e para no limite levar à prescrição. Isto não pode acontecer. Perante isto a intervenção vai no sentido de reduzir as garantias, isto é, atinge-se a saúde da própria cidadania. O importante era actuar de forma a punir seriamente o uso ou a utilização abusiva das garantias. De que forma?Mais uma vez com o poder do juiz. O juiz hoje, numa perspectiva de legalidade estrita não pode opor-se à utilização de uma garantia. Temos de encontrar um espaço, onde este poder seja dado ao juiz. Por exemplo, também entendo que os recursos para o Tribunal Constitucional não deverão ter efeito suspensivo. Admito que a prescrição do procedimento criminal deixe de funcionar a partir de uma acusação em primeira instância. Já me custaria pura e simplesmente acabar com a prescrição criminal como chegou a ser proposto. Temos um exemplo curioso, que até há relativamente pouco tempo não podia haver julgamentos crime sem a presença do arguido. Os adiamentos dos julgamentos-crime eram imensos. Fez-se uma revisão constitucional, alterou-se o princípio que impunha que assim acontecesse, e hoje é possível fazer julgamentos sem a presença de um arguido. E há muito menos adiamentos do que havia na altura. Nós ganhamos em efi cácia, mas perdemos em cidadania. Na Europa, quando punha esta questão, as pessoas achavam estranhíssimo esta coisa das pessoas faltarem ao julgamento. Nós temos de crescer em cidadania, não podemos apenas garantir efi cácia. Esta é uma questão clara para colocar num Conselho Superior de Justiça. Como vamos nós dentro da co-responsabilização do funcionamento do sistema, garantir que ele funcione? Porque aqui estamos num ponto em que o próprio cidadão é responsável pelo mau funcionamento do sistema, quando falta aos julgamentos. Isso é uma questão que já se

Uma carreira criminal normalmente começa com um diploma e o diploma é a pena. Se nós não diplomarmos esses jovens [que cometem crimes] cedo demais, talvez tenhamos condições para que eles escolham outro modo de vida

coloca no domínio do cultural, da educação.Mas é no plano cultural que as pessoas dizem que não têm confi ança na justiça e que acusam a justiça de ser lenta. A dimensão da corrupção em Portugal, exige que seja prioridade?Não temos dados que nos permitam ter a noção exacta de qual é o grau de corrupção, qual é a extensão e qual é a dimensão em valor da corrupção que existe entre nós. A imagem que o cidadão tem em relação à corrupção é preocupante, a percepção é signifi cativamente perturbadora, de que hoje há uma corrupção mais generalizada do que já houve e que há também uma imensa difi culdade em combater essa corrupção. Acho bem que ela constitua uma prioridade política. O problema é que tem constituído sempre uma prioridade política e os resultados têm sido também sempre escassíssimos. Por falta de meios?Também terá a ver com a falta de meios mas julgo que tem muito menos a ver com a falta de meios e mais como uma dimensão estratégica para intervir no combate à corrupção e ainda com outro problema. Não sei até que ponto é que a criminalidade económica e fi nanceira em geral, que abrange muito o domínio da fraude fi scal que se prende com questões ligadas à economia paralela de forma

não visível, oculta, de aumentar o rendimento e o património, se tudo isto não encontrou um terreno fértil para poder crescer, e se isto é assim, mais do que um problema criminal estamos perante um problema social. Os tribunais não servem para resolver problemas sociais. A questão hoje é saber até que ponto é que podemos ter uma defi nição de prioridades internas no combate a este tipo de criminalidade que nos diga qual o objectivo desse combate e quais os resultados que antecipamos nesse objectivo. Qual a sua opinião sobre a criminalização do enriquecimento ilícito? Já tive uma opinião mais reservada, hoje tenho uma aberta, mas que resulta mais de uma desistência do que de uma persistência, tenho um pouco a noção de que nós não podemos prescindir de instrumentos, ainda que estes sejam discutíveis quanto à sua efi cácia. Tenho reservas quanto à efi cácia desse caminho e até quanto a constitucionalidade da medida. Também gostarei de ver a formulação defi nitiva. Aparentemente afasta a questão da inversão do ónus da prova. Julgo que ainda precisamos, na especialidade, de encontrar ali uma formulação que permita ter a noção de que este crime virá a ter uma função mais dissuasora do que repressora. Admito que, pelo facto de estar previsto, algumas situações de enriquecimento ilícito deixem de existir. Nos casos em que a corrupção é já quase uma profi ssionalização não sei se por este caminho se conseguirá alguma coisa porque julgo que é muito difícil chegar a uma decisão clara de condenação por esse tipo de crime.E quanto à reforma do mapa judiciário, concorda?Há dois pontos em que é preciso intervir, no processo e na gestão do sistema de justiça. Podemos dar um salto qualitativo importante usando também a reforma do mapa judiciário. Esta reforma não nasce por si mas em confronto com a reforma anterior. Há um caminho feito. Há um ponto importante: O governo apresenta um ensaio de reorganização judiciária e diz que está em discussão pública até Setembro. Isto parece muito positivo na medida em podemos dizer que sobre a reforma anterior esta constitui agora um primeiro passo. O fundamental é saber se por parte do governo há a noção de que este é um primeiro passo e de que o caminho é longo e se a noção é de que este é o caminho e é o caminho todo que está a ser posto à discussão. Se esse é o primeiro passo, acho que claramente é um magnífi co primeiro passo. Se for o projecto para a defi nição do caminho tenho muita pena porque mais uma vez não se pega naquilo que me parece essencial. Porque, se fazemos do mapa judiciário apenas uma reorganização territorial dos tribunais, isso vai produzir efeitos relativamente parcos. Gostaria muito do que o que

fosse apresentado como diploma legislativo fosse uma lei de bases do sistema de justiça. E não uma lei de organização dos tribunais, porque mais uma vez, estamos a fechar os tribunais e a fazer uma lei de pura organização e não estamos a ver a globalidade do sistema. A autonomia do Ministério Público, está em risco?Não poderá estar e espero bem que não esteja. Mas acha que está ou não?Se for posta em causa há um imenso desequilíbrio, quer na qualidade do estado de direito, quer na garantia da efi cácia no combate à criminalidade organizada, internacional e complexa… A investigação criminal pressupõe hierarquia e cadeia de comando… Isso falha no ministério público?Não discuto no concreto se falha ou não, o que sei é que criámos um modelo de investigação criminal que tem todas as potencialidades para ser um modelo de excelência. Não podemos perdê-lo agora com alterações. O Ministério Público tem de manter claramente a sua autonomia e internamente uma ordem hierarquizada. Hierarquia signifi ca poder de intervenção no processo e não que o Ministério Público se transforme num serviço do procurador-geral da República. É a favor do sindicalismo judiciário? Sou. Em primeiro lugar porque os magistrados, sendo simultaneamente titulares de órgãos de soberania, são profi ssionais com uma carreira e portanto têm interesses corporativos legítimos a defender. Por outro lado, como eu entendo que não deve haver juízes eleitos no Conselho Superior de Justiça, entendo que devem ter órgãos próprios para poderem manifestar os seus legítimos interesses corporativos e esses órgãos são os sindicatos. Portanto, sou claramente a favor. Simplesmente é necessário estabelecer aqui uma concordância prática. Entendo que deve haver uma limitação que é a não previsão do direito à greve justamente dada a condição dos magistrados de titulares de órgãos de soberania.Há cada vez mais crimes praticados por jovens. Defende uma diminuição da idade penal?Não sou a favor da diminuição da idade penal, sempre achei que a idade dos 16 anos é perfeitamente adequada. É certo que também temos uma criminalidade violenta por jovens com idade inferior aos 16 anos, mas precisamos de ter especial atenção quanto a essa criminalidade e de ter a noção clara e exacta que temos de apostar inequivocamente na intervenção sobre esses jovens no sentido de os retirar de uma possível carreira criminal. E uma carreira criminal normalmente começa com um diploma e o diploma é a pena. Se nós não diplomarmos esses jovens cedo demais, talvez tenhamos condições para que eles escolham outro modo de vida e não esse para o qual nós lhes demos acreditação.

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Laborinho Lúcio em entrevista

Rever a Constituição e reforçar o poder dado aos juízesa Para mudar a Justiça, é preciso rever a Constituição e reforçar o poder dos juízes, defende Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça. “O problema não está na Constituição, mas na falta de vontade de a rever”, diz, em entrevis-ta ao PÚBLICO. c Páginas 12 a 14

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