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Coleção Cadernos EJA - 01 Cultura e Trabalho

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Cultura e Trabalho

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A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que gerou

grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda não se benefi-

ciam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um sistema de educação

que os acolha.

Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o exer-

cício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação Conti-

nuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias para for-

mular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos tradicionalmente

excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não completaram o Ensino

Fundamental.

Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta de vagas

nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que ingressam na

escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade, valorizando e respei-

tando as experiências e os conhecimentos dos alunos.

Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o 1.º e o

2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da abordagem

dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com a con-

cepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea de textos

de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de atividades, com sugestões

para o trabalho com esses textos.

A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao contrário,

com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivando a articulação

e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC

Apresentação

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Sumário

TEXTO Subtema

1. Ilha da fantasia Festas populares 6

2. Cultura Conceito 8

3. Casa de farinha Regionalidades 10

4. Bandeiras e lágrimas O trabalhador do setor rural 14

5. A culinária tambêm é culturaCulinária também é cultura 16

6. É trampo, mano Primeiro emprego 17

7. Um canto às ocupações O artista e os trabalhadores 18

8. O jargão Valorização profissional 20

9. Classe operária Crítica social 23

10. Oktoberfest Festas populares 24

11. A chegada de lampião no céu 26

12. Estética do oprimido Autoconhecimento 30

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13. Nem tudo é brincadeira… Festas populares 33

14. A geografia do sabor Cultura e culinária 34

15. Perguntas de um trabalhador que lê Contestação da história oficial 38

16. The slang industry Estudo de idiomas 39

17. Vidas secas Regionalidades 42

18. Feita para as massas Conceito de cultura 46

19. Cai-cai balão Festas populares 48

20. O suor dos “boleiros” Futebol e profissão 50

21. Ensaio: o maracatu Retratos do carnaval 52

22. Carta a um zapatero que compuso mal unos zapatos 56

23. As grandes festas e as oportunidades de trabalho e renda Festas popular60

24. Cinema povo: ói nóis na fita Trabalho e tempo livre 62

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São intermináveis os preparativos parao espetáculo mais esperado da maiorfloresta do planeta. O Festival Fol-

clórico de Parintins acontece anualmentenos dias 28, 29 e 30 de junho. Mas a festado boi, como é chamada pelo povo, acon-tece todos os dias no coração dos amazo-nenses. A produção das alegorias e fanta-sias, as coreografias, tudo isso começa oitomeses antes do grande evento celebradono Bumbódromo, o templo do festival, comcapacidade para 35.000 espectadores.

Mais de 100.000 pessoas vão assistir aoFestival de Parintins: a cada uma das trêsnoites, o resultado de dois meses de ensai-os nos QGs de Caprichoso e Garantido, osdois conjuntos folclóricos que entram nadisputa do espetáculo, inspirado em lendasde pajelanças indígenas de diversas tribose costumes caboclos da Amazônia.

Cerca de mil pessoas são contratadaspara o trabalho de confecção das fantasiase alegorias nos currais dos dois conjuntosfolclóricos.

ILHA DA FANTASIA

Festas popularesTEXTO 1

• Cultura e Trabalho6

O festival do bumba-meu-boi

dá trabalho a mais de mil pessoas

em Parintins, no Amazonas

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Cultura e Trabalho • 7

Marcada pelas impressionantes alego-rias representadas pelos carros confeccio-nados por artistas parintinenses, a dispu-ta entre Caprichoso e Garantido fez comque as lendas da região, ano após ano,voltassem a povoar o imaginário popular.É a história do homem amazônico pormeio dessa grande festa que, com suastoadas, contagia tanto os brincantesquanto o público nas arquibancadas.

BumbódromoO Bumbódromo, Centro Cultural e Es-

portivo Amazonino Mendes, foi inauguradoem 1988, e divide Parintins ao meio, mar-cando o limite dos currais de Garantido eCaprichoso. É considerado a maior obra cul-tural e desportiva do Estado do Amazonas.

Fonte P Extraído do site http://www.parintins.com.br

O pajé do Caprichoso, Waldir Viana. Foto: Antonio Menezes /AE

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Além dos seres vivos e da matéria cósmica, existemtambém coisas culturais, muitíssimo mais complica-das. Chama-se cultura tudo o que é feito pelos ho-

mens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentos.Por exemplo, uma cadeira está na cara que é cultural por-que foi feita por alguém. Mesmo o banquinho mais vaga-bundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural. É cultu-ra, também, porque feita pelos homens, uma galinha. Sema intervenção humana, que criou os bichos domésticos, asgalinhas, as vacas, os porcos, os cabritos, as cabras, não exis-tiriam. Só haveria animais selvagens.

Concei toTEXTO 2

• Cultura e Trabalho8

CULT

URA A dialética da simplicidade, empregada pelo

antropólogo, escritor e ex-ministro da Educação,explica, da maneira mais simples, como culturaé tudo o que resulta do trabalho humano

Darcy Ribeiro

Foto

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onio

Men

ezes

/ AE

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A minhoca criada para produzir humoé cultural, eu compreendo. Mas a lombrigaque você tem na barriga é apenas um serbiológico. Ou será ela também um ser cul-tural? Cultural não é, porque ninguém crialombrigas. Elas é que se criam e se repro-duzem nas suas tripas.

Uma casa qualquer, ainda que mate-rial, é claramente um produto cultural, por-que é feita pelos homens. A mesma coisapode-se dizer de um prato de sopa, de umpicolé ou de um diário. Mas estas são coi-sas de cultura material, que se pode ver,medir, pesar.

Há, também, para complicar, as coisasda cultura imaterial, impropriamente cha-madas de espiritual – muitíssimo mais com-plicadas. A fala, por exemplo, que se revelaquando a gente conversa, e que existe inde-pendentemente de qualquer boca falante, écriação cultural. Aliás, a mais importante.Sem a fala, os homens seriam uns macacos,porque não poderiam se entender uns comos outros, para acumular conhecimentos emudar o mundo como temos mudado.

A fala está aí, onde existe gente, paraqualquer um aprender. Aprende-se, geral-

Cultura e Trabalho • 9

mente, a da mãe. Se ela é uma índia, apren-de-se a falar a fala dos índios, dos xavantes,por exemplo. Se ela é uma carioca, profes-sora, moradora da Tijuca, a gente aprendeaquele português lá dos tijucanos. Mas sevocê trocar a filhinha da índia pela filha daprofessora, e criar, bem ali na praça SaensPeña, ela vai crescer como uma meninaqualquer, tijucana, dali mesmo. E vice-versa,o mesmo ocorre se a filha da professora forlevada para a tribo xavante: ela vai crescerlá, como uma xavantinha perfeita – falandoa língua dos xavantes e xavanteando muitobem, sem nem saber que há tijucanos.

Além da fala, temos as crenças, as ar-tes, que são criações culturais, porque in-ventadas pelos homens e transmitidas unsaos outros através de gerações. Elas se tor-nam visíveis, se manifestam, através de cria-ções artísticas, ou de ritos e práticas – obatizado, o casamento, a missa –, em quea gente vê os conceitos e as idéias religio-sas ou artísticas se realizarem. Essa sepa-ração de coisas cósmicas, coisas vivas, coi-sas culturais, ajuda a gente de algumaforma? Sei não. Se não ajuda, diverte. Émelhor que decorar um dicionário, ouaprender datas. Você não acha?

Trecho do livro Noções de Coisas. São Paulo, FTD, 1995

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CASA DEFARINHA

Regional idadesTEXTO 3

• Cultura e Trabalho10

A farinha de mandioca,uma dasbases da alimentação do nossopovo, é produzida pelos índiosdesde muito tempo, bem antes de os portuguesesdescobrirem o Brasil.

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Afarinha de mandioca é um produtoda raiz da mandioca (jatrophamanihot), planta da família das

eufrobiáceas, muito conhecida, cultivada eaproveitada pelos índios em vários produ-tos alimentícios, como puderam constataros portugueses quando chegaram ao Brasil.

Os índios chamavam as suas planta-ções, ou roças de mandioca, de mandiotu-ba. A mandioca amolecida, fermentada ouapodrecida para o fabrico de farinha ouextração da goma, por sua vez, era chama-da de mandiopuba, e a farinha misturadacom água, o pirão, de uypeba.

Em Pernambuco existiam várias espé-cies de mandioca: branquinha, cruvela,caravela ou mamão, engana-ladrão, fria ouda mata, landim, manipeba, vermelha,

entre ouras, além da mandioca brava,muito venenosa.

A “casa de farinha” é o local onde setransforma a mandioca em farinha, ingre-diente usado na fabricação de váriosalimentos, entre os quais o beiju, conheci-do pelos índios como mbyú, muito aprecia-do na região Nordeste do Brasil. Em 1551,o padre jesuíta Manoel da Nóbrega, quan-do escreveu sobre sua visita a Pernambuco,falou do beiju e das farinhas fabricadospelos indígenas.

No período colonial, a farinha demandioca era usada para a alimentação dosescravos, dos criados das fazendas e enge-nhos, além de servir também como supri-mento de viagem para os portugueses(farnel de viajantes).

Cultura e Trabalho • 11

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Texto 3 / Regional idades

• Cultura e Trabalho12

Em algumas regiões, para tornar osalimentos menos perecíveis, misturavam-nos com a farinha de mandioca. obtendopratos como a farinha de peixe seco, soca-da em pilão, que assim podia agüentar pormuito tempo, utilizada pelos bandeirantesem suas expedições.

O processo de produção da farinha demandioca começa no plantio das manivas.Depois da colheita da raiz (tubérculo), amandioca é levada direto da roça para acasa de farinha, onde é descascada e colo-cada na água para amolecer e fermentarou pubar. Em seguida, é triturada ou rala-da em pilão ou no ralador, também chama-do de caititu. A mandioca ralada vai cain-do em um cocho, sendo depois prensadano tipiti (tipi = espremer e ti = líquido, nalíngua tupi) para retirar um líquido vene-noso chamado manipueira (ácido anídri-co). Depois de peneirada e torrada, a fari-nha está pronta para o consumo.

O líquido que sobra da pubagem temum alto teor alcoólico. No Pará, esse líqui-do, depois de ser submetido à ação do solou do fogo para retirar sua toxidade, éusado no preparo do tucupi, espécie demolho muito apreciado na cozinha amazô-nica, como o famoso pato no tucupi.

A massa da mandioca, que decantadurante a pubagem, é utilizada como gomapara engomar roupa ou para a fabricaçãode alimentos como mingau, papa, sequi-lho, bolo, tapioca.

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Cultura e Trabalho • 13

A farinha de mandioca é usada emvários tipos de farofa, pirão, beiju e entracomo ingrediente em uma grande quanti-dade de receitas da culinária brasileira.

A casa de farinha ajudou a fixar ohomem à terra, transformando a mandio-ca num importante alimento, responsávelpela diminuição da fome em algumas regi-ões brasileiras.

Fonte P Fundação Joaquim Nabuco www.fundaj.gov.br

Adivinhas do folclore sergipano acerca da mandioca

1. Branquinha, branquinho, reviradinho?Beiju!

2. Carneirinho de beira-mata que o leitemata?Mandioca!

3. Preta por fora, branca por dentro?Macaxeira!

4. Anda, anda e não sai do lugar? Rodete de casa de farinha!

5. Tapi passou por aqui e fez oca?Tapioca!

Ilustração: Alcy

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Em 1955 deixei a Fiat Lux, onde trabalhava como torneiromecânico e pintor dos grandes painéis que decoravam asparedes do refeitório nas noites de sábado. Por meses,

perambulei em busca de um emprego que pudesse me enca-minhar como artista. A culpa por tentar outra profissão doía.Eu era o único da família que trabalhava. Voltava para casatarde, quando todos dormiam, com vergonha de enfrentar odesespero de minha mãe pela falta de dinheiro. Depois de umtempo, consegui estágio no estúdio do Pingo. A ajuda de customal dava para a condução. Mas a quem precisa, a vida ensinaa não perder oportunidade alguma. Varria o estúdio e cuidavado estoque; quando sobrava tempo, desenhava.

A sorte bateu em minha porta numa manhã de junho de1956. Uma vizinha encomendou um quadro para a festa juni-na que daria em seu quintal. Com Salim, dono de armarinhoe pai do Soni, meu melhor amigo, consegui o brim branco;

BANDEIRASE LÁGRIMAS

O trabalhador do setor cu l tura lTEXTO 4

• Cultura e Trabalho14

O artista plástico descobre a comunhão de idéias e a similaridade de sua vida com as do consagrado Alfredo Volpi

Elifas Andreato

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com Pingo, tintas e pincéis. Cortei o brim do tamanho exatodo meu colchão de solteiro, a medida máxima que o pequenoquarto que dividia com meu irmão – o ateliê improvisado –permitia. Não sabia ainda desenhar São João, meu santo juni-no preferido. Então tentei cordões com bandeirinhas colori-das. Pintava sobre o colchão, e, à noite, punha a tela parasecar debaixo da cama.

Trabalho terminado, vizinha satisfeita, recebi direitinho –para contentamento de minha mãe, que zerou a conta navenda e renovou o crédito.

Anos depois, já como estagiário da Editora Abril, vi numarevista o quadro com bandeirinhas de um pintor chamadoAlfredo Volpi. Chorei ao descobrir que foi autodidata comoeu, marceneiro como eu, e pintor de parede. No mês passado,celebramos no MAM o sétimo aniversário deste Almanaque[Almanaque Brasil]*. Durante a festa, dei uma escapadinhapara visitar a exposição do Volpi, parte da minha comemo-ração particular. Vendo suas bandeirinhas, chorei novamente.Não de tristeza, mas de alegria, por estar em lugar tão nobre,em companhia de brasileiros ilustres, expondo ao seu lado avitória dos que jamais abandonam seus sonhos.

*N.E.

Extraído do site http://www.almanaquebrasil.com.br/ao_povo.asp

Cultura e Trabalho • 15

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A CULINÁRIATAMBÉM É CULTURA

Cozinhar é uma arte: é preciso ter“mão” para doces e salgados. Mile-narmente as receitas foram transmiti-

das de geração em geração, antes de surgi-rem a imprensa e os livros de receitas. Masos hábitos alimentares também foram sealterando de geração em geração: pratosantigos caíam em desuso, como a vitela compurê de rosas dos romanos ou o pão comcebola e cerveja dos antigos egípcios. E tam-bém a cada geração foram surgindo pratosnovos, principalmente quando se difundi-am novos ingredientes, como o açúcar queo Ocidente recebeu primeiro do Oriente edepois das Américas, ou o milho, a batata,a mandioca e o tomate, conhecidos só nasAméricas antes de sua “descoberta” porColombo.

Alguns pratos tradicionais brasileirostêm origens curiosas. A feijoada, o pratonacional das grandes ocasiões, surgiu nassenzalas: as negras aproveitavam as partesdo porco que os brancos desprezavam ejogavam fora, como os pés, rabo, orelha,focinho.... O cuscuz paulista era o prato

habitual dos bandeirantes em suas prolon-gadas expedições, pois seus ingredientes, afarinha de milho e o peixe seco, conserva-dos em alforjes de couro, não se deteriora-vam e se mantinham comestíveis durantemuito tempo.

Os conventos de freiras, na Colônia,eram palco de experimentações culináriascom o então novo ingrediente, o açúcar. Oantropólogo Gilberto Freyre anotou que asreferências mundanas ficaram evidenci-adas em nomes de doces como “baba demoça” e “beijo de frade”.

Cultura e cu l inár iaTEXTO 5

• Cultura e Trabalho16

Renato Pompeu é escritor e jornalista.

Receitas são transmitidas de geração em geração há séculos

Renato Pompeu

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Cultura e Trabalho • 17

Foi lançado em Curitiba o projeto Mer-

cado Alternativo do Movimento Hip-Hop

Organizado do Brasil, o MH20, cujo obje-

tivo é promover, por meio da cultura do hip-hop, a montagem de uma cadeia produtiva.

Cerca de 140 jovens, com idade entre 16 e 24

anos, desempregados, de baixa renda e que

nunca tiveram a carteira de trabalho assinada,

participaram da primeira fase do projeto.

Depois, são selecionados no máximo cinqüen-

ta participantes para atuar nas seis empresas

que serão administradas por eles.

Os ramos de atuação das empresas são:

serigrafia, estúdio de gravação de CD, estúdio

de vídeo, eventos, adereços, e uma loja – que

irá escoar toda a produção de roupas, acessó-

rios, documentários e videoclipes, entre outros

produtos. Tudo seguindo o estilo da cultura

hip-hop. Os participantes receberão qualifica-

ção profissional para administrar um pequeno

negócio.

O projeto prevê aulas diárias: teoria no

período da manhã e prática à tarde, sobre

como administrar empreendimentos, escolher

fornecedores, determinar preços dos produtos,

como lidar com concorrentes, entre outros

temas. Terminado o projeto, as empresas con-

tinuarão no mercado, com o acompanhamen-

to e o suporte do MH2O.

O MH2O faz parte do programa Empreen-

dedorismo Juvenil, do Ministério do Trabalho e

Emprego, MTE, vertente do Programa Nacional

de Estímulo ao Primeiro Emprego.

Extraído do site: http://www.mte.gov.br

Jovens de baixa renda iniciam atividades doprojeto MH2O, baseado no mundo do hip-hop

Pr imeiro empregoTEXTO 6

Foto: J. F. Diorio / AE

É TRAMPO, MANO

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Um canto às ocupações!No labor dos negócios e das máquinase no labor dos camposvejo progressose encontro eternos significados.Trabalhadores e trabalhadoras!Fossem todas as formas de instruçãoornamental ou práticabem expostas por mim – que contariaisso para vocês?Fosse eu o professor-chefe,caridoso proprietário,sábio estadista – que contariaisso para vocês?Fosse eu feito o patrão

lhes dando emprego e salário– isso faria vocês satisfeitos?Os instruídos, os virtuosos,os de boa vontade,e os termos de costume...Um homem feito eu e em tempo algumos termos de costume.Nem servo nem senhor, eu: não pago umpreço alto mais depressa que um preçomínimo, terei o meuquando alguém for do meu agrado, sereiigual com vocês e espero que sejam iguaiscomigo, se vão ficar trabalhando em alguma loja dessa loja eu hei de ficar tão próximo quanto o mais próximo na mesma

UM CANTOÀS OCUPAÇÕES

A arte e o t rabalhoTEXTO 7

• Cultura e Trabalho18

Walt Whitman(fragmento)

Iust

raçã

o:Al

cy

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loja; e se derem presente a algum irmãoou amigo mais caro,esperarei ganhar outro tão bomquanto o do seu irmãoou amigo mais caro;se seu amante ou esposo ou esposade dia ou de noite é bem-vindo sempreigualmente bem-vinda há de serminha pessoa;se vocês adoecerem,se se tornarem degradados, criminosos,eu ainda assim ficareipor causa de vocês;se recordarem o que tenham feitode louco e fora da lei,então não posso lembrar eu tambémo que tanto tenho feitode louco e fora da lei?Se vocês bebem a um canto da mesa,no outro canto da mesa bebo eu.Se vêem na rua alguém desconhecidoe gostam dele ou dela– ora, na rua eu vejo muitas vezesalguém desconhecido e também gosto.O que é que têm pensado de si mesmos?

Ou serão por acasoos que menos têm pensado em si mesmos?Serão vocês os que julgam o presidentemaior do que vocês?Ou os ricaços mais bem situadosque vocês? Ou talvez os eruditosmais sábios que vocês?(Por serem gordos ou cheios de espinhas,por terem sido bêbadosou até mesmo ladrões, uma vez,ou por estarem doentes,por serem reumáticos, por seremum homem ou uma mulher da vida,por leviandade ou fraqueza,ou por não serem doutoresou por não terem vistoseus nomes nunca em letra de forma– deixarão de lutarpor serem algo menos imortal?)

Cultura e Trabalho • 19

Walt Whitman (1812-1892) é considerado o mais importante poetanorte-americano do século 19 e seu livro Folhas de Relva (Leaves of Grass) é celebrado como sua obra maior.

Extraído do Livro Folhas de Relva, Walt Whitman, tradução: Geir Campos. Editora Brasiliense/1984

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Luis Fernando Verissimo

Cultura do t rabalhoTEXTO 8

• Cultura e Trabalho20

O JARGÃO

Onde o autor constata que o emprego do jargão profissional cria fama de entendido para quem pouco sabe, às vezes, nem o jargão

Nenhuma figura é tão fascinante quanto o FalsoEntendido. É o cara que não sabe nada de nada, massabe o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um

refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe nemo jargão. Mas inventa.

– Ó Matias, você que entende de mercado de capitais...– Nem tanto, nem tanto...(Uma das características do Falso Entendido é a falsa

modéstia.)– Você, no momento, aconselharia que tipo de aplicação?– Bom. Depende do yield pretendido, do throwback e

do ciclo refratário. Na faixa de papéis top market – ou o quenós chamamos de topi-marque –, o throwback recai sobre orepasse e não sobre o release, entende?

– Francamente, não.Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre os braços

como quem diz: "É difícil conversar com leigos...". Ilustração: Alcy

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Uma variação do Falso Entendido é o sujeito quesempre parece saber mais do que ele pode dizer. A con-

versa é sobre política, os boatos cruzam os ares, masele mantém um discreto silêncio. Até que alguémpede a sua opinião e ele pensa muito antes de sedecidir a responder:

– Há muito mais coisa por trás disso do que vocêspensam...

Ou então, e esta é mortal:– Não é tão simples assim...Faz-se aquele silêncio que precede as grandes

revelações, mas o Falso Informado não diz nada. Ficasubentendido que ele está protegendo as suas fontes

em Brasília.E há o Falso que interpreta. Para ele tudo o que

acontece deve ser posto na perspectiva de vastas trans-formações históricas que só ele está sacando.

– O avanço do socialismo na Europa ocorre em pro-porção direta ao declínio no uso de gordura animal nospaíses do Mercado Comum. Só não vê quem não quer.

E se alguém quer mais detalhes sobre a sua insólitateoria, ele vê a pergunta como manifestação de uma hos-tilidade bastante significativa a interpretações não orto-

doxas, e passa a interpretar os motivos de quem oquestiona, invocando a Igreja medieval, os grandeshereges da história, e vocês sabiam que toda aReforma se explica a partir da prisão de ventre deLutero?

Mas o jargão é uma tentação. Eu, por exemplo,sou fascinado pela linguagem náutica, embora minha

experiência no mar se resuma a algumas passagens emtransatlânticos onde a única linguagem técnica que vocêprecisa saber é "Que horas servem o bufê?" Nunca piseinum veleiro e se pisasse seria para dar vexame na pri-

Cultura e Trabalho • 21

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Texto 8 / Cul tura do t rabalho

• Cultura e Trabalho22

meira onda. Eu enjôo em escada rolante. Mas, na minhaimaginação, sou um marinheiro de todos os calados. Senhorde ventos e de velas e, principalmente, dos especialíssimosnomes da equipagem.

Me imagino no leme do meu grande veleiro, dandoordens à tripulação:

– Recolher a traquíneta!– Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu.O Vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da

África, faz a volta nas Malvinas e nos ataca a boribordo,cheirando a especiarias, carcaças de baleia e, estranhamen-te, a uma professora que eu tive no primário.

– Quebrar o lume da alcatra e baixar a falcatrua!– Cuidado com a sanfona de Abelardo!A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela

parruda em certas condições atmosféricas e que, se não con-tido a tempo, pode decapitar o piloto. Até hoje não encon-traram a cabeça do comodoro Abelardo.

– Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigai-ta! Tudo a macambúzio e dois quartos de trela senão afun-damos, e o capitão é o primeiro a pular.

– Cortar o cabo de Eustáquio!

Extraído do Livro As Mentiras que os Homens Contam, de Luis Fernando Verissimo.Ilu

stra

ção:

Alcy

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Cultura e Trabalho • 23

CLASSE OPERÁRIA

Cultura pol í t icaTEXTO 9

Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé,que vai defender a classe operária,salvar a classe operáriae cantar o que é bom para a classe operária.Nenhum operário foi consultadonão há nenhum operário no palcotalvez nem mesmo na platéia,mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.Os operários que se calem,que procurem seu lugar, com sua ignorância,porque Tom Zé e seus amigos estão falando do dia que viráe na felicidade dos operários.Se continuarem assim, todos os operários vão ser demitidos,talvez até presos, porque ficam atrapalhandoTom Zé e o seu público, que estão cuidandodo paraíso da classe operária.Distante e bondoso, Deus cuida de suas ovelhas,mesmo que elas não entendam seus desígnios.E assim, depois de determinarqual é a política conveniente para a classe operária,Tom Zé e o seu público se sentem reconfortados e felizese com o sentimento de culpa aliviado.

Tom Zé

Ilust

raçã

o:Al

cy

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Festas popularesTEXTO 10

• Cultura e Trabalho24

Ilust

raçã

õ:Al

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OKTOBERFEST

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Todo ano, em outubro, Santa Catarinase mobiliza em torno de um roteiro dequinze festas que movimentam sua

economia, gerando empregos e desenvol-vendo o turismo, além de renovar os laçosculturais que unem os descendentes de imi-grantes alemães que colonizaram o estado.

Apesar de ser a mais famosa, a festa deBlumenau não foi a primeira que inaugu-rou o circuito. Antes dela, a pequena cida-de de Itapiranga, no oeste de Santa Catari-na, realizava a primeira Oktoberfest doBrasil no ano de 1978. Se bem que o gran-de impulso veio mesmo com a de Blu-menau, cuja primeira edição aconteceu noano de 1984. Inspirados pela tradição dafesta homônima realizada na cidade alemãde Munique, os blumenauenses decidiramfazer uma grande festa da cerveja no mêsde outubro para comemorar a reconstru-ção da cidade depois de duas grandes en-chentes, a primeira ocorrida em 1983, a se-gunda no próprio ano de 1984.

Assim nasceu uma nova "indústria" ca-tarinense, a das festas de outubro. Já naprimeira edição, a Oktoberfest de Blume-nau reuniu 102.000 pessoas, que consumi-ram 103.000 litros de chope.

De lá para cá, os números foram semultiplicando e hoje ela é a segunda maiorfesta do chope no mundo, perdendo ape-nas para a original, de Munique. No Brasil,

é a segunda maior festa popular, depois doCarnaval. Até 2004, a Oktoberfest já haviarecebido um público total de 14 milhões depessoas que consumiram, nas 21 edições, 8milhões de litros de chope.

Seu grande diferencial é reunir umpúblico extremamente diversificado. Osturistas do Brasil e do exterior aparecemem grupos familiares, excursões de jovens,ônibus fretados por entidades da terceiraidade, que vão, todos, além de consumirmuito chope e experimentar a cozinha ale-mã, acompanhar as apresentações de músi-ca e dança típicas.

Fonte P http://www.anamatra.org.br

Cultura e Trabalho • 25

Outubro, plena primavera, transformaBlumenau, a bela cidade catarinense doVale do Itajaí, numa das vilas-presépios

da Baviera.

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Foi numa Semana SantaTava o céu em oraçãoSão Pedro estava na portaRefazendo anotaçãoDaqueles santos faltososQuando chegou Lampião.Pedro pulou da cadeiraDo susto que recebeuPuxou as cordas do sinoBem forte nele bateuUma legião de santos

Ao seu lado apareceu.São Jorge chegou na frenteCom sua lança afiadaLampião baixou os óculosVendo aquilo deu risadaPedro disse: Jorge expulseEle da santa morada..E tocou Jorge a cornetaChamando sua guarniçãoNuma corrente de forçaCada santo em oração

A CHEGADA DELAMPIÃO NO CÉU

Cultura popularTEXTO 11

• Cultura e Trabalho26

Guaipuan Vieira

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Pra que o santo Pai CelesteNão ouvisse a confusão.O pelotão apressadoLigeiro marcou presençaPedro disse a Lampião:Eu lhe peço com licençaSaia já da porta santaOu haverá desavença.Lampião lhe respondeu:Mas que santo é o senhor?Não aprendeu com JesusExcluir ódio e rancor?...Trago paz nesta missãoNão precisa ter temor.Disse Pedro isso é blasfêmiaÉ bastante astuciosoPistoleiro e cangaceiroEsse povo é impiedosoNão ganharão o perdãoDo santo Pai PoderosoInda mais tem sua má famaVez por outra comentadaQuando há um julgamentoDuma alma tão penadaPorque fora violentaEm sua vida é baseada.– Sei que sou um pecadorO meu erro reconheçoMas eu vivo injustiçadoUm julgamento eu mereçoPra sanar as injustiçasQue só me causam tropeço.Mas isso não faz sentido

Falou São Pedro irritadoPor uma tribuna livreVocê aqui foi julgadoE o nosso OnipotenteDeu seu caso encerrado.– Como fazem julgamentoSem o réu estar presente?Sem ouvir sua defesa?Isso é muito deprimenteVocê Pedro está mentindoDisso nunca esteve ausente.Sobre o batente da portaPedro bateu seu cajadoDe raiva deu um suspiroE falou muito exaltado:Te excomungo VirgulinoCangaceiro endiabrado.Houve um grande rebuliçoNaquele exato momentoSão Jorge e seus guerreirosCada qual mais violentoGritaram pega o jagunçoEle aqui não tem talento.Lampião vendo o afrontoNaquela santa moradaDisse: Deus não está sabendoDo que há na santaradaBateu mão no velho rifleDeu pra cima uma rajada.O pipocado de balaVomitado pelo canoClareou toda a fachadaDo reino do Soberano

Cultura e Trabalho • 27

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Texto 11 / Cul tura popular

• Cultura e Trabalho28

A guarnição assombradaFez Pedro mudar de plano.Em um quarto bem acústicoNosso Senhor repousavaO silêncio era profundoQue nada estranho notavaSem dúvida o Pai CelesteUm cansaço demonstrava.Pedro já desesperadoLigeiro chamou São JoãoLhe disse sobressaltado:Vá chamar Cícero RomãoPra acalmar seu afilhadoQue só causa confusão.Resmungando bem baixinhoPra raiva poder conterFalou para Santo Antônio:Não posso compreenderEste padre não é santoO que aqui veio fazer?!Disse Antônio: fale baixoDe José é convidadoEle aqui ganhou adeptosPor ser um padre adoradoNo Nordeste brasileiroOnde é “santificado”.Padre Cícero experienteRecolheu-se ao aposentoFingindo não saber nadaUm plano traçava atentoPra salvar seu afilhadoDaquele acontecimento.Logo João bateu na porta

Lhe transmitindo o recadoCícero disse: vá na frenteFique despreocupadoDiga a Pedro que se acalmeIsso já será sanado.Alguns minutos o padreCom uma Bíblia na mãoAo ver Pedro lhe indagou:O que há para aflição?Quem lá fora tenta entrarÉ também um ser cristão,São Pedro disse: absurdoQue terminou de falarMas Cícero foi taxativo:Vim a confusão sanarSó escute o réu primeiroAntes de você julgar.Não precisa ele entrarNesta sagrada mansãoO receba na guaritaOnde fica a guarniçãoCom certeza há muitos anosNos busca aproximação.Vou abrir esta exceçãoFalou Pedro insatisfeitoO nosso reino sagradoMerece muito respeitoVirou-se para São Paulo:Vá buscar este sujeito.Lampião tirou o chapéuDescalço também ficouAvistando o seu padrinhoAos seus pés se ajoelhou

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Cultura e Trabalho • 29

O encontro foi marcanteDe emoção Pedro chorouAo ver Pedro transformadoLevantou-se e foi dizendo:Sou um homem injustiçadoE por isso estou sofrendoCircula em torno de mimSó mesmo o lado ruimComo herói não estão me vendo.Sou o Capitão VirgulinoGuerrilheiro do sertãoDefendi o nordestinoDa mais terrível afliçãoPor culpa duma políciaQue promovia malíciaExtorquindo o cidadão.Por um cruel fazendeiroFoi meu pai assassinadoTomaram dele o dinheiroDe duro serviço honradoAo vingar a sua morteO destino em má sorte

Da “lei” me fez um soldado.Mas o que devo a visitaPedro fez indagaçãoLampião sem bater vista:Vê padim Ciço RomãoPra antes do ano novoMandar chuva pro meu povoVocê só manda trovãoPedro disse: é malcriadoNem o diabo lhe aceitouSaia já seu excomungadoSua hora já esgotouVolte lá pro seu NordesteQue só o cabra da pesteCom você se acostumou.FIM

Extraído de www.dominiopublico.com.brTítulo: A Chegada de Lampião no CéuAutor: Guaipuan VieiraCategoria: Literatura de Cordel - 32 páginasIdioma: Português

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Amais recente pesquisa de AugustoBoal e da Equipe do CTO–Rio, os ali-cerces teóricos e os primeiros resul-

tados dessa experiência estão registradosno livro Aesthetics of the Oppressed, lançadopela editora Routledge, em Londres, ReinoUnido, em março de 2006.

A estética do oprimido tem por funda-mento a certeza de que somos todos melho-res do que pensamos ser, capazes de fazermais do que realizamos, porque todo serhumano é expansivo.

Mais do que simples atores

A estética do oprimido visa promovera expansão da vida intelectual e estética departicipantes de Grupos Populares de Tea-tro do Oprimido, evitando que exercitem

apenas a função de ator, que representapersonagens no palco. Os integrantes des-ses grupos são estimulados, através demeios estéticos, a expandirem a capacida-de de compreensão do mundo e as possibi-lidades de transmitirem aos demais mem-bros de suas comunidades – bem como aosde outras – os conhecimentos adquiridos,descobertos, inventados ou reinventados.

A estética do oprimido baseia-se naidéia de que o Teatro do Oprimido é umteatro essencial – no sentido de estar naessência própria do ser humano. Trata-sedo teatro que todo ser humano é, por suacapacidade de ver-se agindo, de ser espec-tador de si próprio. De se separar em atore espectador para multiplicar a capacidadede entender sua própria ação.

ESTÉTICA DO OPRIMIDO

A arte e o t rabalhoTEXTO 12

• Cultura e Trabalho30

Para além do palco fica o ser integral

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O ser humano, diferentemente de to-das as outras espécies de animais, é capazde se ver agindo, de analisar a situação emque se encontra e, como um diretor, dirigira ação. Como figurinista tenta adequar suaaparência à situação e ao cenário onde vaiatuar. Como dramaturgo produz o textoconforme a ocasião. Como ser humano écapaz de representar a realidade, recriar oreal em imagem, para entender sua exis-tência e imaginar sua ação futura.

Recriar o mundo

O Teatro do Oprimido atua nesse sen-tido, estimulando as pessoas a descobriremo que já são, a revelarem para si própriasque são potência, que, por serem capazesde metaforizar o mundo, ou seja, de repre-

sentá-lo, são capazes de recriá-lo. O objeti-vo é que essa descoberta ou redescobertapermita que cada um se aproprie do que ori-ginalmente é seu: a capacidade de ver-seagindo, de analisar e recriar o real, de ima-ginar e inventar o futuro. Para ajudar cadaum a descobrir essa potência e capacidadetransformadora, promovem-se atividadesartísticas em quatro eixos:

1. Palavra: falada/escrita: os participantes pro-duzem poesias, poemas, reflexões: “o quemais me impressionou” (relato sobre situa-ções que impressionam os participantes nodia-a-dia), “declaração de identidade”(carta para algum interlocutor – conhecidoou não – com descrição do remetente), arti-gos, contos, além de textos dos espetáculos.

Cultura e Trabalho • 31

Augusto Boal dirigindo Sérgio Ricardo no Teatro de Arena. São Paulo, 1968.

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2. Imagem: atividades de artes plásticas,com produções de desenhos, figuras,criação de esculturas a partir de objetosencontrados; fotografia – análise domundo que nos cerca e, criação decenas e espetáculos.

3. Som: sonoridade: pesquisa sonora, des-coberta do potencial da voz, instrumen-tos existentes / inventados, música ecriação de dança a partir de movimen-tos da vida cotidiana.

4. Ética: diálogos / conversação: promoçãode encontros com especialistas e promo-ção de centros de estudos de: filosofia,história, ecologia, economia, política evida social.

O trabalho da estética do oprimido vemsendo desenvolvido de maneira experimen-tal desde 2003, com integrantes dos Gru-

pos Populares de Teatro de Oprimido coor-denados pelo CTO – Rio, no Rio de Janeiro,assim como em workshops internacionais.

Teatro do Oprimido

Método estético que sistematiza exer-cícios, jogos e técnicas teatrais que objeti-vam a desmecanização física e intelectualde seus praticantes, e a democratização doteatro. O TO cria condições práticas paraque o oprimido se aproprie dos meios deproduzir teatro e assim amplie suas possi-bilidades de expressão. Além de estabele-cer uma comunicação direta, ativa e pro-positiva entre espectadores e atores.

Fonte P www.ctorio.org.br

Texto 12 / A arte e o t rabalho

• Cultura e Trabalho32

Compõem a metodologia

Teatro jornalConjunto de nove técnicas para teatralizar notícias dejornal e para perceber o significado oculto de cadauma. Criada em 1971, no teatro de Arena de SãoPaulo, esta técnica foi muito usada na época da dita-dura militar brasileira para revelar informações distor-cidas pelos jornais à época, todos sob censura oficial.

Teatro imagemTécnica teatral que transforma questões, problemas esentimentos em imagens concretas. A partir de leitura

da linguagem corporal, busca-se a compreensão dosfatos, porque a imagem é real enquanto imagem.

Teatro invisívelTeatralização de uma cena do cotidiano apresentadano local onde realmente poderia acontecer, sem quese identifique como evento teatral. Desta forma, osespectadores são reais participantes, reagindo e opi-nando espontaneamente à discussão provocada pelaencenação.

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Cultura e Trabalho • 33

Ointeresse pela Festa do Peão deBoiadeiro de Barretos pode ser ava-liado pelo número de visitas: 63,7%

já participaram de mais de quatro ediçõesdo evento; 98,1% pretendem retornar; e96,7% afirmaram que suas expectativasforam atendidas.

Considerando que a Festa do Peão deBoiadeiro de Barretos de 2003 recebeu682.346 participantes, sendo 43,3% visi-tantes, foram 387.000 as pessoas que pre-cisaram pernoitar na região durante cinco

dias, em média. Também em média, essesvisitantes gastaram 580 reais cada um, umavez que eles desembolsaram 180 milhões dereais. Desse total, 26,3% foram gastos naviagem para lá, 73,7% permanecendo nacidade, o equivalente a 133 milhões de reais.

A geração de empregos temporáriostambém foi significativa: 4.600 empre-gos, um aumento de 13% na oferta devagas na cidade.

Extraído do site www.revistadoseventos.com.br

NEM TUDO É BRINCADEIRA...

A Festa do Peão, deBarretos, SP, cria 4.600 empregos temporários

todos os anos

Festas popularesTEXTO 13

Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.

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ACARAJÉRegião Nordeste

Ingredientes

• 1/2 kg de feijão-fradinho• 1 cebola grande • 3 dentes de alho • óleo e azeite de dendê• sal

PreparoP Coloca-se o feijão-fradinho de molho em

água fria, durante 2 horas.

P Quando o feijão começar a inchar, lava-secom água fria, até soltar toda a casca.

P Mói-se o feijão sem casca num moinho es-pecial, ou em processador, até formaruma massa branca e espessa, à qual acres-centam-se cebola, alho e sal, que antesforam passados no liquidificador.

P Põe-se em um tacho ou frigideira fundaóleo e azeite de dendê no fogo, e quandocomeçar a ferver, colocam-se pequenasporções de massa retiradas com colher.

P Depois de frito, o acarajé fica com uma tonalida-de avermelhada por fora e branca por dentro.

P Este bolinho deve ser servido com molhode pimenta, molho de camarão seco, vata-pá e salada (tomate e cebola picados).

A GEOGRAFIA DO SABOR

Cultura e cu l inár iaTEXTO 14

• Cultura e Trabalho34

NORTENORDESTECENTRO-OESTESUDESTESUL

Um mapa gastronômico do Brasil

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MANIÇOBARegião Norte

(15 porções)

Ingredientes

• 20 maços grandes de folha de maniva(mandioca)

• 1/2 kg de toucinho fresco, de porco, sem o couro

• 1 kg de lombinho de porco• 1 kg de lingüiça de porco fresca• 1 kg de costelas de porco frescas• 1/2 kg de chouriço• 1 kg de bucho• 1 kg de charque magro• 250 g de toucinho defumado magro• 2 rabos de porco frescos• 3 paios• 3 folhas grandes de louro• 2 cebolas grandes• 4 dentes de alho grandes• 1 pimentão verde grande• 3 tomates grandes, maduros e firmes• 1 colher (sopa) bem cheia

de banha de porco• 1 colher (chá) cheia de cominho em pó• pimenta-do-reino preta em grãos• sal

Preparo

P Lave bem as folhas de maniva sem os talose passe pela máquina de moer carne,chapa fina. Coloque em um panelão combastante água. Logo que ferver, junte 1 co-lher (sopa) cheia de sal e o toucinho fres-co cortado em pedaços pequenos. Cozinheem fogo bem brando durante quatro dias.À medida que for secando, acrescentemais água. No quarto dia, escalde trêsvezes as carnes.

P Lave bem o charque para retirar o excessode sal. Corte o lombinho, o bucho e o char-que limpos, em pedaços médios.

P Corte a lingüiça em roletes e separe as cos-telas de duas em duas.

P Acrescente à maniva primeiro as carnesmais duras (como o charque) e depois osrabinhos de porco, as costelas, o bucho eo lombinho de porco.

P Por último, acrescente a lingüiça, o chou-riço, o pedaço de toucinho defumado semo couro e os paios inteiros.

P Na panela, coloque o louro aos pedaços eágua que dê para cobrir as carnes.

P Quando tudo estiver cozido – vá acrescen-tando um pouco mais de água conforme onecessário – e quase sem caldo, derreta abanha de porco, esquente e doure o alho

Cultura e Trabalho • 35

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socado com 1 colher (sopa) cheia de sal,junto com as cebolas batidinhas.

P Junte o pimentão e os tomates bem picados,tempere com o cominho e 1 colher (chá)cheia de pimenta-do-reino moída na hora.

P Refogue tudo muito bem e misture com amaniçoba. Mexa e prove o sal. Sirva quente,com arroz branco simples, farinha-d’água emolho de pimenta.

PAMONHADARegião Centro-Oeste(12 porções)

Ingredientes

• 36 espigas de milho verde duro, com aspalhas

• 1/2 kg de banha de porco• 1 queijo minas• sal

Preparo

P Rale o milho e raspe os sabugos com facaafiada. Derreta e esquente a banha deporco e misture com a massa de milho.

P Tempere com sal, a gosto.P Acrescente o queijo cortado em cubinhos

e mexa bem. Separe as palhas de milhomais tenras, as que ficam mais próximasdo sabugo. Ajeite uma palha dentro daoutra, com as pontas para fora.

P Coloque no centro das palhas casadas umaconcha rasa de massa de milho.

P Dobre as bordas e as pontas para dentro, umasobre a outra, e amarre como um embrulhi-nho. Cozinhe em bastante água fervente.

P A pamonha está cozida quando a palhaficar toda amarela e meio murcha. Retirepara uma peneira de tala e deixe escorrer.Sirva quente, morna ou fria.

P No lugar de queijo, pode-se empregar car-ne de porco (1 kg) picadinha e frita, oulingüiça de porco (1 kg) cortada em rode-linhas e também frita.

VIRADO À PAULISTA Região Sudeste(12 porções)

Ingredientes

• 1 kg de feijão-mulatinho selecionado elavado

Texto 14 / Cul tura e cu l inár ia

• Cultura e Trabalho36

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• 3 folhas grandes de louro

• 6 dentes de alho grandes

• 2 cebolas grandes

• 1 maço bem grande de cebolinha verde

• 1 kg de toucinho defumado magro e sem o couro

• o couro do toucinho

• farinha de milho flocada (amarela ou branca)

• pimenta-do-reino preta em grãos

• sal

Preparo

P Cozinhe o feijão em 3 litros de água com1 colher (sopa) cheia de sal, o louro e ocouro do toucinho, até que os grãosestejam macios, porém inteiros.

P Pique o toucinho em bastões curtos egrossos e frite até obter torresmos bemsequinhos.

P Soque o alho com 1 colher (chá) rasa depimenta-do-reino moída na hora e com1 colher (sopa) cheia de sal. Doure essapasta de alho na gordura dos torresmos,junto com as cebolas batidinhas.

P Misture esse refogado com os grãos dofeijão (apenas os grãos) e acrescente acebolinha cortada miudinho e 3 xícarascheias com o caldo do feijão.

P Abaixe o fogo de médio para brando evá adicionando farinha de milho, semparar de mexer com colher de pau atéobter um virado bem úmido. Sirva bemquente, com os torresmos por cima.

SIRI NO BAFORegião Sul(8 porções)

Ingredientes

• 24 siris• 4 limões grandes, cortados em gomos

Preparo

P Ferva bastante água num caldeirão gran-de colocado sobre a trempe de três pedrassob a qual se armou o fogo forte.

P Cubra o caldeirão com uma peneira gran-de, de tala, e aí vá arrumando aos poucosos siris bem lavados.

P Quando os siris ficarem vermelhos, é sinalde que estão no ponto.

P Quebra-se a carapaça do siri com umapedra limpa e come-se a carne com sucode limão.

P Se julgar necessário, prepare um molhode pimenta fresca para acompanhar ossiris. E sirva, também, farinha de mandio-ca branca e crua.

Texto escrito por Página Viva.

Cultura e Trabalho • 37

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Quem construiu a Tebas de sete portas?Nos livros estão nomes de reis.Arrastaram eles os blocos de pedra?E a Babilônia várias vezes destruída. Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Limadourada moravam os construtores?Para onde foram os pedreiros, na noite em quea Muralha da China ficou pronta?A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram oscésares? A decantada Bizâncio tinha somente palácios paraos seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântidaos que se afogavam gritaram por seus escravosna noite em que o mar a tragou.O jovem Alexandre conquistou a Índia.Sozinho?César bateu os gauleses.Não levava nem sequer um cozinheiro?Filipe da Espanha chorou, quando sua Armadanaufragou. Ninguém mais chorou?Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.Quem venceu além dele?Cada página uma vitória.Quem cozinhava o banquete?A cada dez anos um grande Homem.Quem pagava a conta?Tantas histórias.Tantas questões.

Bertold Brecht (1898/1956): Dramaturgo e poeta alemão, foi um dos maiores críticos sociais de seu tempo, e ficou conhecido pelo estilo irônico de sua obra, que inclui letras de músicas

PERGUNTAS DE UM

TRABALHADOR QUE LÊ

Cultura pol í t icaTEXTO 15

• Cultura e Trabalho38

Bertold Brecht

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Histór ia da cul turaTEXTO 16

Cultura e Trabalho • 39

The English language industry grows everyday. Nowadays it ispossible to find dictionaries specialized in just about anything:

ghetto slang, cockney, dialects in Australia, British regionalisms,football, cricket, cell phone messages and even insults and dirty

words. Everything properly published thanks to the Internet.

With modern technology and global-isation, English today has morewords than ever. French has fewer

than 100,000 words, and German around185,000, but the new Oxford EnglishDictionary will contain over 500,000 words.

How can dictionaries keep up?Computer dictionaries offer definitions,contexts and pronunciations at the click ofa button. But we still love the printed

books, and last year’s Christmas marketsold a innumerous alternative dictionaries:for sports, slang, text messages and trivia.

Football crazy

Football is known as “the beautifulgame” in England, but English footballersare not usually fans of literature. When EricCantona declared that his idol wasRimbaud (the poet), Leeds United fans sent

THE SLANG INDUSTRY

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Rimbaud (the poet), Leeds United fans senthim photos of Sylvester Stallone playingVietnan war hero, Rambo.

Nonetheless, Professors John Leigh andDavid Woodhouse have been studying theclichés used by commentators, managersand players. The dictionary, called “FootballLexicon”, captures a much-loved part ofBritish culture. This ironic analysis of thegame’s curious syntax has transformedtheir alternative dictionary into a best-seller. “A nice book for any football fan,” saidThe Guardian newspaper. Everyone whowants to be a football commentator mustimmediately memorize the dictionary.” Theauthors also published a Racing Lexicon(that’s horse-racing, of course). A CricketLexicon is promised for next Christmas.

A similar publishing sensation isSchott’s Original Miscellany. Encyclopae-

dias, such as Britannica, have been popularfor general knowledge, while almanacsoffer information on world politics andculture (example: Pears Cyclopedia, publi-shed by Penguin).

But Schott’s Miscellany has no intentionto be useful, only interesting. What otherbook lists the peculiar deaths of Tibetankings, the twelve labours of Hercules, andthe supplier of bagpipes to the Queen?

The book takes advantage of our maniafor trivia – useless information. When theBritish are not at home watching “WhoWants to be a Millionaire?” on TV, they likea pub quiz, demonstrating what they knowto win beer, money or just glory.

Other popular products include ency-clopaedias of music, films, sports, litera-ture, idioms and quotations. Try LeonardMaltin’s Movie & Video Guide (Signet), the

Texto 16 / H istór ia da cul tura

• Cultura e Trabalho40

Ilust

raçã

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cy

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Maltin’s Movie & Video Guide (Signet), theLarousse Dictionaries of Writers, Literatureand Folklore, or the Guinness Book of HitSingles.

L8R...

Slang is a favourite. Black Slang has anenormous audience because of music, espe-cially rap and hip-hop. Cockney slang isalso famous, but not many people knowabout the incredible regional variations inEnglish.

If you’re interested in the Antipodes,there are comical dictionaries of “Strine,”or Australian English. You can buy phrasebooks for United Kingdom regions, forexample Lancashire in the north of England(Lankie Twang, by Ron Freethy, publishedby Countryside Books.) Scottish Englisheven has some fridge magnets.

Collins Texting Dictionary explains SMSabbreviations and emoticons (those funnykeyboard signs). Do you recognise L8R as“later”? LOL is “laughing out loud” or“loads of love.” And don’t forget LMIRL:“let’s meet in real life.”

For crude language, turn to the VizProfanisaurus (John Brown): not just a listof rude words, but suggestive phrases typi-cal of British humour.

We love lexicons

There are different ways consult words.To compete with the Internet, English

learner’s dictionaries include CD-Roms:they contain definitions and register(formal, slang, derogatory), you hear thepronunciation.

Roget’s Thesaurus is an old favouritewhen you can’t define the correct word.When you know the general idea, but notthe word, you need a Reverse Dictionary.There are lists of synonyms and antonyms;rhyming dictionaries for songwriters; andcrossword solvers.

Those people who believed the Inter-net was the end of dictionaries couldn’thave been more wrong.

Cultura e Trabalho • 41

GLOSSARYthe Antipodes. antigo nome daAustraliafridge magnets. imãs de geladeirakeep up. manter-se atualizadolabours. trabalhos, façanhaslaughing out loud. rindo altononetheless. no entantoquotations. citaçõessupplier of bagpipes. fornecedor degaitas folesThesaurus. dicionário de sinônimostext messages. MMS, texto p/ celulartrivia. curiosidades

Fonte P Matéria publicada na revista Speak Up edição 231 - agosto/2006

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O autor

Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, nacidade de Quebrângulo, Alagoas, filho de Sebastião Ramosde Oliveira e de Maria Amélia Ferro Ramos. Dois anos depois,

a família muda-se para Buíque, Pernambuco, e logo depois voltapara Alagoas, morando em Viçosa e Palmeira dos Índios até 1914.Graciliano estuda, então, e trabalha na loja do pai comerciante.

Em 1914, vai para o Rio de Janeiro, onde mora durante umano e trabalha como jornalista. No ano seguinte, volta para Palmei-ra dos Índios e se casa com Maria Augusta Barros, que morre cincoanos depois. Graciliano já, nessa época, escreve para jornais e traba-lha com comércio.

Seu segundo casamento, com Heloísa Medeiros, ocorre em1928, no mesmo ano em que é eleito prefeito de Palmeira dosÍndios, cidade que seria palco de seu primeiro romance Caetés.

Em 1930, renuncia à prefeitura e vai para Maceió, onde énomeado diretor da Imprensa Oficial, mas demite-se no ano seguin-te, voltando em seguida para Palmeiras dos Índios, onde funda umaescola e escreve o romance São Bernardo.

Regional idadesTEXTO 17

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VIDAS SECAS

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Em 1933, é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas evolta a Maceió. Sua carreira é interrompida em 1936, quando édemitido por motivos políticos. Nesse mesmo ano, publica o roman-ce Angústia e acaba sendo preso e enviado ao Rio de Janeiro. Dessafase em que passa preso resultaria, mais tarde, seu livro Memóriasdo Cárcere.

Ao sair da prisão, em 1937, passa a morar no Rio de Janeiro,onde escreve para jornais. No ano seguinte, publica a obra VidasSecas, escrita num quarto de pensão. Em 1939, é nomeado Inspe-tor Federal do Ensino.

Em 1945, Graciliano entra para o Partido Comunista Brasileiroe, sete anos depois, faz uma viagem a Tchecoslováquia e à UniãoSoviética.

Graciliano Ramos morre em 20 de março de 1953 sem nuncater retratado uma paisagem do Rio de Janeiro. Conta-se que certavez andava com um de seus filhos, a pé, pela cidade. Chegaram aLaranjeiras, onde moravam. O filho parou de repente e exclamou:“Como isso aqui é bonito!”. Graciliano ficou surpreso e perguntouse ele achava aquela cidade tão bonita assim. Para Graciliano,Alagoas era seu único universo.

Trecho do livro Fuga

Avida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-setremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezasdesesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava

a caatinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradaspelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. Nocéu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a poucoos bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia,pedindo a Deus um milagre.

Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdi-do, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhen-to que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se

Cultura e Trabalho • 43

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Texto 17 / Regional idades

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despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exage-rada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.

Saíram de madrugada. Sinhá Vitória meteu o braço pelo bura-co da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessa-ram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios,de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Aopassar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas,Sinhá Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estavainvisível e ninguém percebeu o choro.

Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumopara o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, emsilêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixosmiúdos – os meninos à frente, conduzindo trouxas de roupa, SinháVitória sob o baú de folha pintada e a cabaça de água, Fabiano atrásde facão de rasto e faca de ponta, a cuia pendurada por uma correiaamarrada ao cinturão, o aió a tiracolo, a espingarda de pederneiranum ombro, o saco da malotagem no outro. Caminharam bem trêsléguas antes que a barra do nascente aparecesse.

Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou océu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza deque aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreenderaos meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. Averdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estavadefinitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério?Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos secopara enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alhei-as: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo defábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as pane-

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las de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés deleesmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessá-rio largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho cober-to de seixos.

Agora Fabiano examinava o céu, a barra que tingia o nascente,e não queria convencer-se da realidade. Procurou distinguir qual-quer coisa diferente da vermelhidão que todos os dias espiava, como coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva dochapéu, protegiam-lhe os ombros contra a claridade e tremiam.

Os braços penderam, desanimados. – Acabou-se. Antes de olhar o céu, já sabia que ele estava negro num lado,

cor de sangue no outro, e ia tornar-se profundamente azul. Estre-meceu como se descobrisse uma coisa muito ruim.

Desde o aparecimento das arribações vivia desassossegado.Trabalhava demais para não perder o sono. Mas no meio do servi-ço um arrepio corria-lhe no espinhaço, à noite acordava agoniado eencolhia-se num canto da cama de varas, mordido pelas pulgas,conjecturando misérias.

A luz aumentou e espalhou-se pela campina. Só aí principiou aviagem. Fabiano atentou na mulher e nos filhos, apanhou a espin-garda e o saco de mantimentos, ordenou a marcha com uma inter-jeição áspera.

(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 16. ed. São Paulo, Martins,1967. p. 147-9).

Extraído e adaptado dehttp://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/vidassecas

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Concei toTEXTO 18

• Cultura e Trabalho46

Cultura de massa é aquela dirigida àsmaiorias, independentemente de di-ferenças sociais, étnicas, etárias, sexu-

ais ou psicológicas –, e veiculada pelos meiosde comunicação de massa.

Cultura de massa e cultura popular

Antes de haver cinema, rádio e tele-visão, usava-se a expressão cultura popu-lar, em oposição à cultura erudita das clas-

ses aristocráticas; cultura nacional, compo-nente da identidade de um povo; culturaclássica, conjunto historicamente definidode valores estéticos e morais; e um núme-ro tal de culturas que, juntas e se cruzan-do, formavam identidades diferenciadasdas populações.

A chegada da cultura de massa, porém,acaba submetendo as demais “culturas” a

FEITA PARA AS MASSAS

Pedestres assistem na loja G. Aronson, no centro da capital paulista, à partida final do futebol feminino entreBrasil x EUA, valendo medalha de ouro nas Olimpíadasde Atenas, Grécia, onde a seleção brasileira feminina defutebol ficou com a medalha de prata.

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O desenvolvimento dos meios de comunicação criou a cultura da maioria

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um projeto comum e homogêneo – ou, pelomenos, pretende essa submissão. Por serproduto de uma indústria de porte interna-cional (e, mais tarde, global), a cultura ela-borada pelos vários veículos que foram sur-gindo esteve sempre ligada ao podereconômico do capital industrial e financei-ro. A massificação cultural, para melhorservir a esse capital, reprimiu as demais for-mas de cultura –, de maneira que os valo-res apreciados passassem a ser apenas oscompartilhados pela massa.

A cultura popular, produzida fora decontextos institucionalizados ou mercantis,teve de ser um dos objetos dessa repressão.Justamente por ser anterior, o popular eratambém alternativo à cultura de massa, quepor sua vez pressupunha – originalmente –ser hegemônica como condição essencialde existência.

O que a indústria cultural percebeumais tarde é que ela possuía a capacidadede absorver os antagonismos e propostascríticas, em vez de combatê-los. Dessa for-ma, a cultura de massa alcançaria a hege-monia – elevando ao seu próprio nível dedifusão e exaustão qualquer manifestaçãocultural, e assim tornando qualquer umadelas efêmera e desvalorizada.

A “censura”, que antes era externa aoprocesso de produção dos bens culturais,passou a estar no berço dessa produção. Acultura popular, em vez de recriminada porser “de mau gosto” ou “de baixa qualidade”,foi deixada de lado a partir do argumentomercadológico do “isto não vende mais” –depois de repetida até se exaurir de qual-quer significado ideológico ou político.

No contexto da indústria cultural – daqual a mídia é o maior porta-voz – sãototalmente distintos e independentes osconceitos de “popular” e “popularizado”, jáque o grau de difusão de um bem culturalnão depende mais de sua classe de origempara ser aceito por outra. A grande altera-ção da cultura de massa foi transformartodos em consumidores que “são iguais elivres para consumir os produtos que dese-jarem”. Dessa forma, pode haver o “popu-lar” (produto de expressão genuína da cul-tura popular) que não seja popularizado(“que não venda bem”, na indústria cultu-ral) e o “popularizado” que não seja popu-lar (vende bem, mas é de origem elitista).

Extraído do site http://pt.wikipedia.org

Cultura e Trabalho • 47

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Renato Pompeu

As chamadas festas caipiras do Su-deste, com seus bigodes pintados acarvão e seus chapéus de vaqueiro,

suas saias rodadas e seus rostinhos pinta-dos de carmim, são uma evolução detradições coloniais que se mantêm aindahoje no Nordeste: as festas juninas, ou fes-tas de junho, em que se homenageiamSanto Antônio (13 de junho), São João (24de junho) e São Pedro (29 de junho). As fes-tas de São João são chamadas também de“joaninas”.

Na verdade, a origem remota dessasfestas é anterior ao cristianismo. Por voltade 22 de junho começa o verão no Hemis-fério Norte, na data do ano em que o diaclaro é mais longo e a noite é mais curta,ou seja, o dia em que há mais sol. O iníciodo verão, há milênios, era uma dataconsagrada por várias cerimônias em honraaos deuses, em que se faziam oferendaspara que houvesse boas colheitas a partirdo outono. Quando o Ocidente foi cristiani-zado, a Igreja se apropriou do chamadosolstício de verão para transformá-lo numafestividade católica. Hoje em dia, no Brasil,muitas correntes evangélicas pregam a seus

Festas popularesTEXTO 19

• Cultura e Trabalho48

CAI-CAICAI-CAIBALÃOBALÃO

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seguidores que não participem das festasjuninas, por suas origens pagãs e católicas.

Na forma com que chegou ao Brasil eainda hoje é prevalente no Nordeste, comquermesses e danças de quadrilhas, asfestas juninas têm origem na Françamedieval, época em que surgiram as dan-ças de passo marcado. Quando as festasjuninas chegaram à Espanha e a Portugal,a essas características se acrescentou adança de fitas, comum na Idade Média nospaíses ibéricos.

Foi dessa forma que as festas juninasatravessaram o oceano e chegaram ao Bra-sil, com os portugueses e com os espanhóis.Aqui, tendo-se conservado a memória deque as festas estavam associadas ao calordo verão, mas ocorrendo em meio ao friodo inverno no Hemisfério Sul, acrescen-taram-se as fogueiras e os fogos de artifí-cio, esses trazidos pelos portugueses daChina. Também se juntaram os produtos daterra: o quentão (cachaça com canela), osdoces e salgados de milho (inclusive apipoca).

Até os inícios do século 20, não haviagrandes diferenças entre as festas juninasnos vários pontos do Brasil. Basta lembraro samba do carioca Noel Rosa, dos anos1930: “Nosso amor que eu não esqueço,/ eque teve o seu começo/ numa festa de SãoJoão./ morre hoje sem foguete, sem retra-to e sem bilhete/ sem luar, sem violão”.Esses versos aludem aos costumes de se

fazerem feitiços com o retrato da pessoaamada e de se mandarem a ela bilhetesanônimos.

No Nordeste, além de alegrar o povo,as festas trazem importante contribuiçãopara a economia da região, pois muitosturistas visitam as cidades nordestinas paraacompanhar os festejos.

No Sudeste, porém, com os avanços daindustrialização e com a perda de contatocom as raízes rurais, as festas juninas setransformaram em “festas caipiras”, a cadaano mais distantes de suas origens, a pontode se usarem chapéus ao estilo dos cowboysamericanos.

Renato Pompeu é escritor e jornalista.

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Com a derrota na Copa do Mundo, oBrasil, a "Pátria de Chuteiras", acordado sonho dos maravilhosos estádios

alemães para a realidadeeconômica do futebol naci-onal. Se a seleção canarinhocostuma ter uma trajetóriavitoriosa nas disputas cam-pais pelo mundo, o esportepraticado nos clubes e nosgramados locais tem umlongo caminho para encon-trar sucesso na geração deriquezas e empregos.

Se o uso político dofutebol não pode ser negado, o esportenúmero 1 do brasileiro não se restringe aisso. O antropólogo Roberto DaMatta afir-mou que o futebol tem a capacidade deensinar disciplina, regras de civilidade e

conduta social às massas. E não deu ou-tra, rapidamente, o brasileiro mestiço epobre, habilidoso, colocou ginga nesse es-porte e viu nele a chance de conquistarmobilidade social. O futebol é o cartão de

passe livre "para o andarde cima". É tão comumassociar jogador brasilei-ro à miséria, que sempreque surge um craque dasclasses mais abastadascausa estranhamento.

A dinâmica peculiardo futebol é ainda maiscomplexa e, se não movi-mentamos uma economiacondizente com a impor-

tância histórica da nossa seleção, tambémnão é pouco o que esse esporte gera poraqui. Segundo dados da CBF – Confe-deração Brasileira de Futebol –, o númerode praticantes de futebol no Brasil é de

O SUOR DOS“BOLEIROS”Riquezas e misérias de uma paixão nacional

Futebol e t rabalhoTEXTO 20

• Cultura e Trabalho50

O futebol movimenta em torno de 250 bilhões dedólares anuais no mundo

todo. A fatia do bolo que cabeao Brasil é de 3,2 bilhões.

Menos de 2% do total.

Anderson Gurgel

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cerca de 30 milhões de pessoas. Dessas, sãocontabilizados profissionalmente 11.000jogadores federados, oitocentos clubesfederados e por volta de 2.000 atletas atu-ando em outros países. O número de timesamadores que participam de jogos organi-zados calcula-se por volta de 13.000.

Essa nação que joga bola pratica sua féem uns trezentos estádios, com mais de 5milhões de lugares. Sem falar nos poéticoscampos e campinhos de "pelada", que exis-tem mesmo nos bolsões de pobreza maisinquietantes do Brasil – estimados em pelomenos 20.000. Em conseqüência dessa de-manda, a CBF revela que são fabricadosanualmente no país 3,3 milhões de chutei-ras para futebol de campo, além de 6 mi-lhões de bolas de couro e 32 milhões decamisetas alusivas a times e ao futebol.

Para os pesquisadores do Atlas do Es-porte Brasileiro, Ronaldo Helal, AntônioJorge Soares e José Geraldo Salles, devem

ser somados ainda os meros torcedores,aqueles que exercitam somente o hábito dever os jogos sem suar a camisa. Com issotudo, no conjunto, os dados pesquisadosapontam que mais da metade da populaçãotem vínculos com o futebol e faz girar a eco-nomia desse esporte. Os estudiosos chegama dizer que a empregabilidade gerada pelofutebol é elevada. Apresentaram dados, de1998, já superados, produzidos pelo extintoInstituto Nacional de Desenvolvimento doDesporto (Indesp), vinculado ao Ministériodo Esporte, dados que revelam 2.602 muni-cípios com espaços dedicados à prática fute-bolística – perto de 47,3% do total do país.

"Desse modo, o número mínimo deempregos diretos do esporte em questãopode ser estimado em 150.000 pessoas",completam.

Anderson Gurgel é repórter.Extraído do site http://www.desafios.org.br/

Cultura e Trabalho • 51

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Este ensaio foi “pretensiosamente” pen-sado de forma que fugisse do senso comumdas fotografias de folguedos – se é que issoseja possível. O que se constrói imagetica-mente ao falar de “tirar fotos de maracatu”são apresentações feitas sob contrato naspraças públicas de cidades vizinhas.

A idéia é documentar o que aconteceantes dessas apresentações.

No domingo de Carnaval, os maraca-tus de Pernambuco se despedem de seuslocais de origem e famílias para começar aperegrinação em cidades do interior doEstado até chegar à capital, Recife.

ENSAIO:O MARACATU

Rodrigo Pires

Festas popularesTEXTO 21

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Cultura e Trabalho • 53

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Texto 21 / Festas populares

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Cultura e Trabalho • 55

As fotos fazem parte de um proje-to de documentação dos maracatusque ainda possuem suas sedes noslocais de origem da agremiação, eforam feitas em Aliança, cidade de ori-gem do Maracatu Estrela de Ouro, e noEngenho Cumbi, em Nazaré da Mata,casa do Cambinda Brasileira, o mara-catu mais antigo em atividade.

Rodrigo Pires, jornalista, designergráfico, fotografa profissionalmentedesde 2001. Trabalhou no Diário dePernambuco e na Folha de Pernambuco.Participou de duas exposições coletivassobre o Carnaval de Pernambuco. Esteano obteve menção na revista francesaPhoto, com uma foto no matadouro quefaz parte de um ensaio sobre as cores dosertão nordestino. Atualmente participade uma exposição coletiva no Museu daAbolição, em Recife. Foi premiado como primeiro lugar na categoria Foto-jornalismo, no Congresso de Comuni-cação Social, Intercom, em 2002.

Publicado na revista Caros Amigos

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Estimable señor: Como he pagado a usted tranquilamente el dinero que me

cobró por reparar mis zapatos, le va a extrañar sin duda lacarta que me veo precisado a dirigirle.

En un principio no me di cuenta del desastreocurrido. Recibí mis zapatos muy contento, augu-rándoles una larga vida, satisfecho por la econo-mía que acababa de realizar: por unos cuantospesos, un nuevo par de calzado. (Éstas fueronprecisamente sus palabras y puedo repetirlas.)

Pero mi entusiasmo se acabó muy pronto.Llegado a casa examiné detenidamente miszapatos. Los encontré un poco deformes, untanto duros y resecos. No quise conceder mayorimportancia a esta metamorfosis. Soy razonable.Unos zapatos remontados tienen algo de extraño, ofre-cen una nueva fisonomía, casi siempre deprimente.

Aquí es preciso recordar que mis zapatos no se hallabancompletamente arruinados. Usted mismo les dedicó frases elo-giosas por la calidad de sus materiales y por su perfecta hechu-ra. Hasta puso muy alto su marca de fábrica. Me prometió, ensuma, un calzado flamante.

Pues bien: no pude esperar hasta el día siguiente y medescalcé para comprobar sus promesas. Y aquí estoy, con los

CARTA A UN ZAPATERO QUE COMPUSO MALUNOS ZAPATOS

Cultura do t rabalhoTEXTO 22

• Cultura e Trabalho56

Juan José Arreola

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pies doloridos, dirigiendo a usted una carta, en lugarde transferirle las palabras violentas que suscitaronmis esfuerzos infructuosos.

Mis pies no pudieron entrar en los zapatos.Como los de todas las personas, mis pies están hechosde una materia blanda y sensible. Me encontré anteunos zapatos de hierro. No sé cómo ni con qué artes selas arregló usted para dejar mis zapatos inservibles. Allí

están, en un rincón, guiñándome burlonamente con suspuntas torcidas.

Cuando todos mis esfuerzos fallaron, me puse a conside-rar cuidadosamente el trabajo que usted había realizado. Deboadvertir a usted que carezco de toda instrucción en materia decalzado. Lo único que sé es que hay zapatos que me han hechosufrir, y otros, en cambio, que recuerdo con ternura: así desuaves y flexibles eran.

Los que le di a componer eran unos zapatos admirablesque me habían servido fielmente durante muchos meses. Mispies se hallaban en ellos como pez en el agua. Más que zapa-tos, parecían ser parte de mi propio cuerpo, una especie deenvoltura protectora que daba a mi paso firmeza y seguridad.Su piel era en realidad una piel mía, saludable y resistente.Sólo que daban ya muestras de fatiga. Las suelas sobre todo:unos amplios y profundos adelgazamientos me hicieron verque los zapatos se iban haciendo extraños a mi persona, quese acababan. Cuando se los llevé a usted, iban ya a dejar verlos calcetines.

También habría que decir algo acerca de los tacones: pisodefectuosamente, y los tacones mostraban huellas demasiado

claras de este antiguo vicio que no he podido corregir.Quise, con espíritu ambicioso, prolongar la vida de

mis zapatos. Esta ambición no me parece censurable:al contrario, es señal de modestia y entraña una ciertahumildad. En vez de tirar mis zapatos, estuve dispuestoa usarlos durante una segunda época, menos brillante

Cultura e Trabalho • 57

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Texto 22 / Cul tura do t rabalho

• Cultura e Trabalho58

y lujosa que la primera. Además, esta costumbre que tenemoslas personas modestas de renovar el calzado es, si no me equi-voco, el modus vivendi de las personas como usted.

Debo decir que del examen que practiqué a su trabajo dereparación he sacado muy feas conclusiones. Por ejemplo, lade que usted no ama su oficio. Si usted, dejando aparte todoresentimiento, viene a mi casa y se pone a contemplar miszapatos, ha de darme toda la razón. Mire usted qué costuras:ni un ciego podía haberlas hecho tan mal. La piel está cortadacon inexplicable descuido: los bordes de las suelas son irregu-lares y ofrecen peligrosas aristas. Con toda seguridad, ustedcarece de hormas en su taller, pues mis zapatos ofrecen unaspecto indefinible. Recuerde usted, gastados y todo, conser-vaban ciertas líneas estéticas. Y ahora...

Pero introduzca usted su mano dentro de ellos. Palparáusted una caverna siniestra. El pie tendrá que transformarseen reptil para entrar. Y de pronto un tope; algo así como unquicio de cemento poco antes de llegar a la punta. ¿Es posi-ble? Mis pies, señor zapatero, tienen forma de pies, son comolos suyos, si es que acaso usted tiene extremidades humanas.

Pero basta ya. Le decía que usted no le tiene amor a suoficio y es cierto. Es también muy triste para usted y peli-groso para sus clientes, que por cierto no tienen dinero paraderrochar.

A propósito: no hablo movido por el interés. Soy pobrepero no soy mezquino. Esta carta no intenta abonarse la can-tidad que yo le pagué por su obra de destrucción. Nada deeso. Le escribo sencillamente para exhortarle a amar su pro-pio trabajo. Le cuento la tragedia de mis zapatos para infun-dirle respeto por ese oficio que la vida ha puesto en sus manos;por ese oficio que usted aprendió con alegría en un día dejuventud... Perdón; usted es todavía joven. Cuando menos,tiene tiempo para volver a comenzar, si es que ya olvidó cómose repara un par de calzado.

Nos hacen falta buenos artesanos, que vuelvan a ser los

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Cultura e Trabalho • 59

de antes, que no trabajen solamente para obtener el dinero delos clientes, sino para poner en práctica las sagradas leyes deltrabajo. Esas leyes que han quedado irremisiblemente burla-das en mis zapatos.

Quisiera hablarle del artesano de mi pueblo, que remen-dó con dedicación y esmero mis zapatos infantiles. Pero estacarta no debe catequizar a usted con ejemplos.

Sólo quiero decirle una cosa: si usted, en vez de irritarse,siente que algo nace en su corazón y llega como un reprochehasta sus manos, venga a mi casa y recoja mis zapatos, inten-te en ellos una segunda operación, y todas las cosas quedaránen su sitio.

Yo le prometo que si mis pies logran entrar en los zapatos,le escribiré una hermosa carta de gratitud, presentándolo enella como hombre cumplido y modelo de artesanos.

Soy sinceramente su servidor.FIN

Fonte P Biblioteca Digital Ciudad Sevahttp://www.ciudadseva.com/textos/teoria/opin/chevoj02.htm

Adelgazamiento.emagrecimento, estreitamentoAristas. arestasBordes. beirasBurlar. zombarCalcetines. meiasCumplido. educado, cortêsDarse cuenta. perceber

Derrochar. gastar muitoGuiñar. piscar um olhoHechos. feitos, fatosHechura. confecção, feituraHierro. ferroHormas. formasHuellas. marcas, pegadasPez. peixeQuedar. ficar

Reparar. consertarReproche. recriminação, censuraResecos. ressecadosRincón. canto, lugar afastado Señal. sinal, marcaSencillamente. simplesmenteSitio. lugarTacones. saltos (sapatos)

GLOSARO

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Festas popularesTEXTO 23

• Cultura e Trabalho60

AS GRANDES FESTAS E AS OPORTUNIDADES DE TRABALHO E RENDA

As festas populares do país selecionam trabalhadores de

todos os níveis, do estudante do ensino fundamental ao doutor

Renato Pompeu

Foto: Tasso Marcelo / AE

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As grandes festas populares, como oCarnaval, e religiosas, como o Natal,mais os grandes eventos esportivos,

como a Copa do Mundo e os Jogos Pan-Americanos, e até eventos cívicos, como aMarcha do Orgulho Gay, criam boas opor-tunidades de trabalho temporário e atéfixo, porém sazonal (isto é, que só ocorredurante determinada época do ano), e derenda, para todos os níveis de instrução.

Para o Carnaval já existem oficinasunificadas no Rio de Janeiro e em Salva-dor, onde as escolas de samba e os gruposcarnavalescos em geral empregam grandenúmero de costureiras para as fantasias;engenheiros, marceneiros, carpinteiros,mecânicos, escultores, pintores e decorado-res para os carros alegóricos, adereços ealegorias móveis; e até historiadores paraas pesquisas sobre os temas, por exemplo,dos sambas-enredo.

No Natal há grande procura, por partedas lojas, de vendedores para funções tem-porárias, de atores que possam desempe-nhar o papel de Papai Noel e outros perso-nagens, de instrutores que ensinem a usarbrinquedos complicados, videogames e ou-tros presentes típicos da era contemporâ-nea; montadores, mecânicos e decoradorespara presépios móveis ou não.

Na Copa do Mundo há muitas vagaspara costureiras e vendedores de camisasda Seleção e dos clubes e bandeiras nacio-nais e esportivas, isso sem contar os milha-

res de trabalhos temporários que surgemnos países-sede. Os Jogos Pan-Americanosde 2007 no Rio de Janeiro são um exem-plo de criação em massa de vagas (remu-neradas com alimentação e transporte, semsalários, mas com a garantia da sobrevivên-cia durante várias semanas) de tradutores,intérpretes, acompanhantes, atendentes,etc., além da criação de vagas temporáriasno setor hoteleiro.

Eventos como a Marcha do OrgulhoGay, com suas centenas de milhares departicipantes, proporcionam a instalaçãode barraquinhas de alimentos e bebidas ede venda de lembranças, sem contar asvagas nos hotéis e nas agências de turismo.Também a Oktoberfest, a festa do chope emSanta Catarina em outubro, ou a Procissãodo Círio de Nazaré, em Belém do Pará,garantem muitas vagas temporárias. Emsuma, onde há festa, há trabalho.

Cultura e Trabalho • 61

Renato Pompeu é escritor e jornalista.

Todo ano, o carnaval propicia oportunidade de emprego e renda para milhares de pessoas.

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Trabalho e tempo l iv reTEXTO 24

• Cultura e Trabalho62

CINEMA POVO:ÓI NÓIS NA FITA

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Há um cinema novo. Um cinema quenão depende de estúdios, nem demuito dinheiro. Um cinema local,

capaz de falar de temas locais e ser bem-sucedido economicamente. Feito pelopovo e para o povo. Um cinema que nãodepende nem mesmo de salas de cinema.

Onde encontrá-lo? Em primeiro lugar,na Nigéria, África, que está entre os mai-ores produtores de filmes do mundo –mais de 1.200 por ano! Algo curioso paraum país que nem tem salas de cinema. Omilagre se deve ao surgimento de ummercado de filmes feitos para serem ven-didos diretamente em DVD. E ainda maisinteressante: por camelôs – todos os fil-mes são vendidos nas ruas, por menos de3 dólares.

Febre africana

O resultado: filmes que vendem cen-tenas de milhares de cópias, sustentandouma das indústrias mais promissoras naNigéria em termos de geração de empre-gos. Os filmes começam a se tornar febreem outros países africanos e um canal detelevisão por satélite dedicado exclusiva-mente a eles está a caminho. Os temassão de fazer torcer o nariz de qualquerapreciador de "alta cultura": tratam de

feitiçaria, prostituição, enredos policiales-cos e comédias. Em outras palavras, tudoótimo, ao gosto do público para o qual osfilmes são destinados. O sucesso e a diver-são são garantidos.

Também no Brasil

Há notícias de que esse “cinemapovo” está acontecendo também noBrasil, lá em Manaus, no Amazonas e emSão Carlos, em São Paulo. Sem falar nomercado de DVDs musicais populares.Está interessado num DVD de funk cario-ca ou de forró eletrônico? Procure noscamelôs: os filmes são produzidos paraserem vendidos exclusivamente por eles.Mais do que nunca, somos nós na fita.

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Texto adaptado por Página Viva.

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ExpedienteComitê Gestor do ProjetoTimothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/UnitrabalhoDiogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do ProjetoFrancisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio TécnicoAdan Luca ParisiAdriana Cristina SchwengberAndreas Santos de AlmeidaJacqueline BrizidaKelly MarkovicSolange de Oliveira

Equipe PedagógicaCleide Lourdes da Silva Araújo Douglas Aparecido de CamposEunice RittmeisterFrancisco José Carvalho MazzeuMaria Aparecida Mello

Equipe de ConsultoresAna Maria Roman – SPAntonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SPArmando Lírio de Souza – UFPA – PACélia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SPEloisa Helena Santos – UFMG – MGEugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SPGiuliete Aymard Ramos Siqueira – SPLia Vargas Tiriba – UFF – RJLucillo de Souza Junior – UFES – ESLuiz Antônio Ferreira – PUC-SPMaria Aparecida de Mello – UFSCar – SPMaria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SPMaria Márcia Murta – UNB – DFMaria Nezilda Culti – UEM – PROcsana Sonia Danylyk – UPF – RSOsmar Sá Pontes Júnior – UFC – CERicardo Alvarez – Fundação Santo André – SPRita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SCSelva Guimarães Fonseca – UFU – MGVera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorialPreparação, edição e adaptação de texto: Editora Página Viva

Revisão:Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, Mônica Rodrigues de Lima, Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini

Edição de arte, diagramação e projeto gráfico: A+ Desenho Gráfico e Comunicação

Pesquisa iconográfica e direitos autorais: Companhia da Memória

Fotografias não creditadas: iStockphoto.com

Apoio

Editora Casa Amarela

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Cultura e Trabalho / [coordenação do projeto

Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,

Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação

Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;

Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria

de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,

2007, -- (Coleção Cadernos de EJA)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 85-296-0054-1 (Unitrabalho)

ISBN 978-85-296-0054-3 (Unitrabalho)

1. Cultura 2. Livros-texto (Ensino Fundamental)

3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.

II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna.

IV. Série.

07-0415 CDD-372.19

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino integrado : Livros-texto : Ensino

fundamental 372.19

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