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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DANIELA DE ALMEIDA MILANI
O Quarto e o Banheiro do Idoso:
Estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio
residente em instituio de longa permanncia.
So Paulo
2014
Daniela de Almeida Milani
O Quarto e o Banheiro do Idoso:
Estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio
residente em instituio de longa permanncia.
Dissertao apresentada faculdade de
Arquitetura e urbanismo da Universidade de So
Paulo, para obteno do ttulo de Mestre.
rea de concentrao: Design e Arquitetura.
Orientadora: Profa. Dra. Cibele Haddad Taralli.
So Paulo
2014
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL DA AUTORA: [email protected]
Milani, Daniela de Almeida M637q O quarto e o banheiro do idoso: estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio residente em instituio de longa permanncia / Daniela de Almeida Milani. -- So Paulo, 2014. 102 p. : il. Dissertao (Mestrado - rea de Concentrao: Design e Arquitetura) FAUUSP. Orientadora: Cibele Haddad Taralli 1.Acessibilidade ao meio fsico 2.Capacidade funcional 3.Desenho universal 4.Ergonomia 5.Idosos I.Ttulo CDU 72-056.26
I
Agradecimentos
Muitas pessoas foram envolvidas na realizao deste trabalho, cada uma colaborando
de forma nica e imprescindvel.
Agradeo minha orientadora Cibele Haddad Taralli por todos os ensinamentos,
ateno e pacincia.
minha famlia por ter dado todo o apoio e suporte para a realizao dessa pesquisa.
Aos meus amigos que souberam entender as minhas ausncias e at me ajudaram
na obteno de dados para o trabalho.
Aos funcionrios das instituies pesquisadas que me acolheram e se dispuseram a
oferecer as informaes necessrias para a concluso da pesquisa.
II
Resumo
MILANI, D. A. O quarto e o banheiro do idoso: estudo, anlise e
recomendaes para o espao do usurio residente em instituio de longa
permanncia. 2014. 110 f. Dissertao de Mestrado Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014.
O envelhecimento populacional um tema que cada vez mais vem sendo
pensado e discutido visando garantir qualidade de vida e bem-estar a esse
contingente de cidados que com frequncia convivem com a reduo de suas
capacidades funcionais e requerem cuidados especiais. Devido s mudanas nos
arranjos familiares, verifica-se o aumentando da demanda por instituies de longa
permanncia para idosos, fato decorrente em parte pela reduo de cuidadores no
local de moradia. Dado que idosos institucionalizados, em sua maioria, apresentam
sade fragilizada acentuando o risco maior de quedas, esse trabalho teve como
objetivo levantar parmetros recomendveis para a configurao do quarto e do
banheiro do idoso buscando garantir segurana e autonomia ao usurio. A escolha do
quarto e do banheiro se deu pela grande incidncia de acidentes nesses ambientes
relatada na bibliografia estudada e nos estudos de caso feitos em duas instituies na
cidade de So Paulo. Para alcanar o objetivo buscou-se normas e bibliografia
nacional e internacional que abrangessem os assuntos sobre acessibilidade ao meio
fsico, desenho universal e ergonomia, alm de caracterizar dados sobre capacidade
funcional com foco no idoso. As informaes adquiridas na reviso bibliogrfica foram
confrontadas com os dados levantados nos estudos de caso como forma de
identificar, na prtica, as recomendaes que esto dando resultado positivo e pontos
que precisam ser melhorados. Os resultados obtidos a partir da abordagem terica e
prtica proporcionaram o levantamento de recomendaes para o ambiente,
mobilirios e instalaes do quarto e do banheiro do idoso que ofeream segurana e
autonomia aos usurios nas atividades dirias. Pretende-se que os dados
apresentados nesse trabalho possam ser aplicados na prtica projetual e colaborem
para ampliar o conhecimento sobre o assunto.
Palavras-chave: Acessibilidade ao Meio Fsico, Capacidade Funcional, Desenho
Universal, Ergonomia, Idosos.
III
Abstract
MILANI, D. A. The bedroom and bathroom for the elderly: study, analysis
and recommendations for the user space resident in long-term care institutions.
2014. 110 f. Dissertation (Master`s degree) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014.
Population aging is an issue that is being increasingly considered and discussed
to ensure quality of life and well-being to this contingent of citizens who often deal with
the reduction of its functional capabilities and require special care. Due to changes in
family arrangements, it appears the increasing demand for long-term care institutions
for the elderly, a fact due in part by the reduction of family carers. Since most
institutionalized elderly have poor health, it contributes to the increase risk of falls, this
work aimed to indicate recommended parameters for configuring the bedroom and
bathroom of the elderly seeking to ensure user`s security and independence. The
choice of the bedroom and bathroom was motivated by the high accident incidence in
these environments reported by the studied literature and case studies carried out in
two institutions in the city of So Paulo. To achieve the goal national and international
standards were studied, as well as literature that covered the issues of accessibility to
the physical environment, universal design and ergonomics, besides characterizing
data on functional capacity with focus on the elderly. The information gathered in the
literature review was compared with data collected in the case studies as a way to
identify in practice the recommendations that are giving positive results and points that
need to be improved. The results obtained from the theoretical and practical approach
led to environment, furniture and facilities recommendations for the elderlys bedroom
and bathroom that offer users security and independence in daily activities. It is
intended that the data presented here in this study can be applied in design practice
and collaborate to expand subject knowledge.
Keywords: Accessibility to the physical environment, Elderly, Ergonomics, Functional
capacity, Universal design.
IV
Lista de Abreviaturas e Siglas
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ADA Americans with Disabilities Act
APO Avaliao Ps-Ocupao
ANSI American National Standard Institute
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
AVD Atividade de Vida Diria
CAT Comite de Ajudas Tcnicas
CIDID Classificao Internacional das Deficincias, Incapacidades, e Desvantagens
CIF Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e sade
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ICC International Code Council
IEA International Ergonomics Association
ILPI Instituio de Longa Permanncia para Idosos
Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
ISO International Organization for Standardization
NBR Norma Brasileira
NOB-RH
Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos
OMS Organizao Mundial de Sade
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de domiclios
PNAS Poltica Nacional de Assistencia Social
RDC Resoluo de Diretoria Colegiada
TA Tecnologia Assistiva
TO Terapeuta Ocupacional
Lista de Tabelas
Tabela 1 Percentagem de idosos, segundo nvel de dificuldade para realizao de
atividades da vida diria, antes e aps a queda, Ribeiro Preto, 2000. Fonte:
Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), 96 p..........................................21
V
Lista de Imagens
Figura 1Circulao mnima em dormitrios. Fonte: ABNT NBR 9050:2004, 84 p...38
Figura 2Exemplo de armrio. Fonte: Barros (2000), 54 p..........................................41
Figura 3- Assento com braos. Fonte: Rashko (1991), 220 p......................................43
Figura 4Boxe para chuveiro com barra de apoio em L. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,
72 p..............................................................................................................44
Figura 5-Boxe para chuveiro que permite a entrada de cadeira de banho. Branson
(1991), 42 p. e editado por Daniela Milani....................................................44
Figura 6Cadeira de banho. Fonte: Rashko (1991), 238 p........................................44
Figura 7Planta da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.......................................................52
Figura 8Porta de entrada da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani......................................53
Figura 9Rampa no corredor de acesso. Fonte: Daniela Milani................................53
Figura 10 e 11Quarto. Fonte: Daniela Milani...........................................................53
Figura 12Armrio. Fonte: Daniela Milani..................................................................54
Figura 13Vestirio. Fonte: Daniela Milani.................................................................54
Figura 14-Boxe para idoso dependente. Fonte: Daniela Milani.................................54
Figura 15Boxe para chuveiros. Fonte: Daniela Milani..............................................54
Figura 16Boxe para bacia sanitria. Fonte: Daniela Milani......................................55
Figura 17Boxe com chuveiro. Fonte: Daniela Milani................................................55
Figura 18Boxe para cadeirante. Fonte: Daniela Milani............................................55
Figura 19Refeitrio. Fonte: Daniela Milani...............................................................55
Figura 20 e 21Piso irregular na rea externa. Fonte: Daniela Milani.......................55
Figura 22-Equipamentos de ginstica. Fonte: Daniela Milani....................................56
Figura 23-Horta. Fonte: Daniela Milani.......................................................................56
Figura 24Corte do vestirio com alturas de instalao dos acessrios e peas
sanitrias. Fonte: Daniela Milani.................................................................62
Figura 25Proposta para adequao dos vestirios. Fonte: Daniela Milani..............69
Figura 26Jardim central da ILPI 2. Fonte: Daniela Milani.........................................74
Figura 27Sala de convivncia. Fonte: Daniela Milani...............................................75
Figura 28Biblioteca. Fonte: Daniela Milani...............................................................75
Figura 29Salo de jogos. Fonte: Daniela Milani.......................................................75
Figura 30Refeitrio. Fonte: Daniela Milani...............................................................75
Figura 31Croqui de quarto de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani.........76
VI
Figura 32Quarto de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani.........................77
Figura 33Quarto de idoso independente. Fonte: Daniela Milani..............................77
Figura 34 a 36Banheiro de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani......79 e 78
Figura 37 a 38Banheiro de idoso independente. Fonte: Daniela Milani...........80 e 81
Figura 39Projeto do criado-mudo. Fonte: ILPI 2......................................................83
Figura 40Projeto do armrio. Fonte: ILPI 2..............................................................83
Figura 41Projeto da cmoda. Fonte: ILPI 2..............................................................84
Figura 42Exemplo de iluminao pontual para leitura e intalao de interruptores e
sinalizao de emergncia prximo a cama. Fonte: Daniela Milani...........91
Figura 43rea de aproximao da bacia sanitria. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,
66p..............................................................................................................94
Figura 44Boxe para chuveiro com 0,95 m por 0,90 m. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,
72 p..............................................................................................................94
Figura 45-Boxe para chuveiro que permite a entrada de cadeira de banho. Branson
(1991), 42 p. e editado por Daniela Milani....................................................94
Figura 46Chuveiro com regulagem de altura. Fonte: Daniela Milani........................95
Figura 47Barras de apoio lateral e de fundo. Fonte: ABNT NBR 9050:2004, 67 p..96
Figura 48Assento sanitrio com barras laterais da marca Praxis............................96
Figura 49Exemplo de bancada. Fonte: Daniela Milani.............................................97
Lista de Quadros
Quadro 1-Variveis analisadas na APO da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.................49
Quadro 2-Comparao entre iluminao exigida por norma e a encontrada na ILPI1.
Fonte: Daniela Milani...................................................................................56
Quadro 3-Comparao entre o nvel de rudo recomendado por norma e o encontrado
na ILPI 1. Fonte: Daniela Milani...................................................................57
Quadro 4-Comparao entre a temperatura e umidade relativa do ar recomendado
por Iida (2005) e o encontrado na ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.................58
Sumrio
Agradecimentos ................................................................................................... I
Resumo............................................................................................................... II
Abstract .............................................................................................................. III
Lista de Abreviaturas e Siglas ........................................................................... IV
Lista de Tabelas ................................................................................................ IV
Lista de Imagens ................................................................................................ V
Lista de Quadros ............................................................................................... VI
Captulo 1 Introduo ....................................................................................... 1
1.1 Colocao do tema e justificativa .............................................................. 2
1.2 Objetivos .................................................................................................... 6
1.3 Metodologia ............................................................................................... 6
1.4 Apresentao dos captulos....................................................................... 7
Captulo 2 Referencial conceitual para o idoso do ponto de vista da sade .... 9
2.1 Consideraes sobre o idoso .................................................................... 9
2.1.1 O Processo de envelhecimento ......................................................... 13
2.2 Quedas .................................................................................................... 16
2.2.1 Perfil das vtimas e fatores de risco ................................................... 17
2.2.2 Consequncias para a capacidade funcional na vida cotidiana ........ 19
2.2.3 Riscos ambientais: o espao construdo e seus componentes ......... 21
2.2.4 Quedas e o idoso residente em instituio de longa permanncia.... 22
2.3 Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade
CIF ................................................................................................................ 24
2.4 Tecnologia Assistiva ................................................................................ 26
2.4.1 Eficincia no aumento da capacidade funcional ................................ 28
Captulo 3 Referencial conceitual para o projeto e o espao ......................... 31
3.1 Desenho universal ................................................................................... 31
3.2 Ergonomia ............................................................................................... 35
3.3 Normas tcnicas e manuais..................................................................... 37
3.3.1 Quartos .............................................................................................. 39
3.3.2 Banheiros .......................................................................................... 41
3.3.3 Algumas consideraes .................................................................... 45
Captulo 4 Estudos de caso ........................................................................... 47
4.1 ILPI 1 ....................................................................................................... 48
4.1.1 Metodologia ....................................................................................... 48
4.1.2 Levantamento tcnico e funcional ..................................................... 50
4.1.3 Conforto lumnico .............................................................................. 56
4.1.4 Conforto acstico............................................................................... 57
4.1.5 Conforto trmico ................................................................................ 58
4.1.6 Acessibilidade ................................................................................... 59
4.1.7 Quedas .............................................................................................. 62
4.1.8 Ponto de vista dos responsveis pela instituio .............................. 65
4.1.9 Diagnstico ........................................................................................ 67
4.1.10 Recomendaes.............................................................................. 68
4.2 ILPI 2 ....................................................................................................... 70
4.2.1 Procedimentos .................................................................................. 72
4.2.2 Levantamento tcnico e funcional das reas comuns ....................... 72
4.2.3 Levantamento tcnico e funcional dos quartos ................................. 75
4.2.4 Poltica de preveno de quedas ...................................................... 81
4.2.5 Consideraes sobre a ILPI 2 ........................................................... 84
4.3 Algumas Consideraes dos Estudos de Caso ....................................... 85
Captulo 5 Recomendaes para o quarto e o banheiro do idoso
institucionalizado ............................................................................................... 87
5.1 Premissas de projeto ............................................................................... 88
5.2 Princpios bsicos ao projetar para o idoso institucionalizado ................. 89
5.3 Parmetros de projeto para o quarto ....................................................... 90
5.3.1 Ambiente ........................................................................................... 90
5.3.2 Mobilirio ........................................................................................... 92
5.4 Parmetros de projeto para o banheiro ................................................... 92
5.4.1 Ambiente ........................................................................................... 93
5.4.2 Mobilirio ........................................................................................... 94
5.5 Consideraes finais ............................................................................... 98
Bibliografia ...................................................................................................... 100
Glossrio ......................................................................................................... 105
Apndice A...................................................................................................... 107
Apndice B...................................................................................................... 108
1
Captulo 1 Introduo
A capacidade funcional de uma pessoa pode ser afetada por uma srie de
fatores, entre eles ambientais e pessoais, reduzindo seu desempenho para realizar
tarefas cotidianas com autonomia.
Segundo a CIF (2004), a incapacidade resultante da interao entre a
disfuno apresentada pelo indivduo (seja orgnica e / ou da estrutura do corpo), a
limitao de suas atividades e a restrio na participao social e de fatores
ambientais, que podem atuar como facilitadores ou barreiras para o desempenho
dessas atividades e da participao.
Limitaes de ordem fsica construtiva, ou de carter perceptivo que interfiram
nos modos de uso do ambiente construdo, na escala urbana, ou nas edificaes,
dificultando a realizao das Atividades da Vida Diria (AVDs) podem levar a um
quadro de dependncia ou incapacidade, que em alguns casos interferem
negativamente na relao com a famlia e a sociedade.
Com o processo natural de envelhecimento as pessoas vo adquirindo algumas
limitaes fsicas, psicossociais e cognitivas, que em conjunto com as barreiras
ambientais, arquitetnicas e de design (de produto e visual), podem gerar ou aumentar
situaes de dependncia, insegurana no uso, ou causar acidentes (como as
quedas), podendo ocasionar danos importantes, e s vezes irreversveis, sade do
idoso.
Este trabalho levanta, analisa e apresenta algumas consideraes sobre
parmetros e recomendaes para a configurao do quarto e do banheiro do idoso
residente em instituies de longa permanncia, de forma a garantir um ambiente sem
barreiras fsicas, visando minimizar a interferncia, do ponto de vista negativo, na
capacidade funcional dessas pessoas. Foram estudadas e consideradas no apenas
as caractersticas e condicionantes fsicas, espaciais, de conforto ambiental, de uso e
configurao dos espaos, mas tambm o mobilirio e as instalaes usualmente
encontrados nesses ambientes.
Para essa pesquisa foi considerada a realidade de instituies de longa
permanncia brasileiras relatadas em artigos cientficos da rea de enfermagem e de
dados coletados em levantamentos realizados em duas instituies na cidade de So
2
Paulo, onde foram feitos estudos de caso abordando principalmente aspectos tcnico-
funcionais, de conforto ambiental e comportamentais.
A pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo que na primeira foi levantado o
referencial conceitual e bibliogrfico sobre o idoso, o processo de envelhecimento,
questes relacionadas s quedas, tecnologia assistiva, desenho universal, ergonomia
e normas e manuais que abordam o tema. Em um segundo momento foram feitos dois
estudos de caso com o objetivo de conhecer a rotina e os problemas encontrados em
instituies de longa permanncia. Aps a concluso dessas duas etapas as
informaes foram sistematizadas e analisadas, resultando nos parmetros e
recomendaes encontrados no captulo 5 desta dissertao.
A sade e autonomia do idoso, assim como os problemas referentes as quedas,
so temas largamente pesquisados pelos profissionais da rea da sade, mas so
pouco conhecidos e estudados por arquitetos e designers. O conhecimento j
acumulado pela rea da sade pode auxiliar no entendimento das dificuldades e
limitaes do usurio trazendo melhorias aos projetos na rea de design e arquitetura.
A difuso de conceitos como a arquitetura inclusiva e o design para todos,
compem este estudo, contribuindo com referncias e conhecimentos que referendam
a necessidade de conhecer melhor os diferentes tipos de usurios, e em especial, os
idosos abordados nesta dissertao.
1.1 Colocao do tema e justificativa
O envelhecimento populacional um fenmeno mundial cujas repercusses j
podem ser percebidas na sociedade brasileira. Segundo IBGE (2010), no perodo de
1999 a 2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da
populao passou de 9,1% para 11,3%, fenmeno que pode ser explicado por uma
taxa de fecundidade abaixo do nvel de reposio populacional, combinada com
outros fatores, tais como os avanos da tecnologia, especialmente na rea da sade.
Este um tema que cada vez mais dever ser pensado e discutido devido
necessidade de garantir qualidade de vida e bem-estar a esse contingente de
cidados que com frequncia convivem com a reduo de suas capacidades
funcionais e requerem cuidados especiais.
Batista et al. (2008) fazem uma anlise de como outros pases esto enfrentando
a questo do envelhecimento populacional e o consequente aumento de pessoas com
3
dependncias. Essa anlise demonstra que os pases estudados vm usando
diferentes formas de definir a dependncia, incluindo critrios distintos e diversas
metodologias de avaliao, o que ressalta a dificuldade de determinar o nvel de
restries a autonomia e independncia de uma pessoa para a realizao de
atividades cotidianas. Exemplo disso pode ser observado em iniciativas com
diferentes critrios, como o utilizado pelo governo alemo que caracteriza a situao
de dependncia em funo do tempo de ajuda diria de que a pessoa dependente
precisa, enquanto na Frana a classificao de dependncia se d em funo do tipo
de ajuda de que a pessoa necessita. O Conselho da Europa1 considera dependentes
as pessoas que, por razes associadas reduo ou mesmo falta daquelas
capacidades, tm necessidade de serem assistidas e / ou ajudadas para a realizao
das atividades dirias, implicando na presena de pelo menos outra pessoa que
realize atividades de apoio.
Considera-se que para garantir uma melhor qualidade de vida ao idoso
necessrio protelar o incio das doenas crnicas, expandindo o tempo de vida
saudvel e reduzindo o tempo de incapacidades, sendo importante para isso entender
os fatores que interferem na capacidade funcional de forma a buscar medidas que
visem prolongar sua independncia.
Segundo a CIF (2004), a funcionalidade de um indivduo em um domnio
especfico uma interao ou relao complexa entre a condio de sade, fatores
ambientais, que consistem no ambiente fsico, social e atitudinal no qual as pessoas
vivem e conduzem sua vida, e fatores pessoais, que so o histrico particular da
existncia e do estilo de vida de um indivduo. Esses fatores tm uma interao
dinmica onde uma interveno em um elemento pode modificar um ou vrios outros
elementos. Um exemplo dessa relao quando um indivduo apresenta capacidade
de executar uma determinada atividade, mas no consegue desempenh-la devido a
alguma barreira fsica ou psicolgica.
1 O Conselho da Europa, atualmente com 43 Estados membros, uma organizao internacional
pioneira em matria de cooperao jurdica, desempenhando um importante papel na modernizao e harmonizao das legislaes nacionais, no respeito pela democracia, pelos direitos do homem e pelo Estado de direito. As suas atividades neste domnio privilegiam a busca de solues comuns para tornar a justia mais eficaz e resolver os novos problemas jurdicos e ticos que se colocam s sociedades modernas, tendo expresso por meio de dois instrumentos jurdicos principais: as Convenes e as
Recomendaes.
4
O foco principal dessa pesquisa partiu da relao entre o ambiente construdo,
o mobilirio contido no mesmo e a capacidade funcional do idoso em desempenhar
AVDs. A escolha pelos ambientes, quarto e banheiro, se deu pela constatao da
grande incidncia de quedas de idosos institucionalizados nesses ambientes como
demonstrado em alguns estudos feitos no Brasil2.
A queda um problema importante em idosos por acarretar com frequncia
consequncias como a diminuio da capacidade funcional e quadros de dependncia
que afetam significantemente a sua qualidade de vida. Fabrcio, Rodrigues e Costa
Junior (2004) ressaltam que pessoas de todas as idades apresentam risco de sofrer
queda, porm, para os idosos, elas possuem um sentido muito relevante, pois podem
leva-lo incapacidade, injria e morte. Seu custo social imenso e torna-se maior
quando o idoso tem diminuio da autonomia e da independncia ou passa a
necessitar de institucionalizao.
Idosos institucionalizados apresentam maior probabilidade de sofrer quedas,
pois se encontram mais fragilizados dos pontos de vista social, cultural e fisico,
apresentam diminuio da capacidade funcional e necessitam de maiores cuidados,
como observado por Carvalho, Luckow e Siqueira (2011) e Fabrcio, Rodrigues e
Costa Junior (2002).
Segundo Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218),
existem fatores de risco intrnsecos, compostos por alteraes fisiolgicas do
processo do envelhecimento, doenas especficas e uso de medicamentos, e fatores
de risco extrnsecos, provenientes do ambiente, que esto relacionados ocorrncia
de quedas. Dessa forma deve-se pensar o ambiente construdo e a composio do
sistema de objetos contidos no mesmo no apenas como possveis causadores de
situaes de risco, mas tambm pensando-os de forma a reduzir as consequncias
das quedas. Em alguns casos o ambiente pode no ter sido a causa do acidente, mas
ao cair, o idoso pode se machucar seriamente em mveis pontiagudos ou se apoiar
em estantes instveis que podem tombar sobre ele agravando o caso.
Durante a pesquisa procurou-se identificar quais as principais causas de queda
em idosos, no contexto geral de vida cotidiana e no caso especfico das instituies
de longa permanncia, analisando a participao de barreiras ambientais nesse
2 Ferreira e Yoshitome (2010), Carvalho, Luckow e Siqueira (2011), Gonalves et al (2010) e
lvares, Lima e Silva (2010).
5
evento e de como este problema pode ser evitado, do ponto de vista de profissionais
da rea da sade como TOs, fisioterapeutas, enfermeiros e mdicos, buscando
diminuir os riscos e as consequncias da queda na capacidade funcional do idoso,
promovendo a manuteno da qualidade de vida.
Uma ferramenta importante para auxiliar nas AVDs melhorando a capacidade
funcional e aumentar a segurana em atividades cotidianas a Tecnologia Assistiva
(TA). Artigos como Lansley, McCreadie e Tinker (2004) e Andrade e Pereira (2009)
relatam que o uso de TA por idosos melhora o desempenho funcional em atividades
cotidianas e contribui para a diminuio da dependncia durante o cuidado pessoal e
promove o aumento da privacidade com consequente reduo da necessidade de
auxlio de cuidadores. Estudos como Lord, Menz e Sherrington (2006) e Andrade e
Pereira (2009) demonstram que com o uso de TA vrios aspectos fsicos so
melhorados contribuindo para a preveno ou diminuio do risco de quedas.
Dada a eficincia da TA no aumento da capacidade funcional e na segurana,
diminuindo o risco de quedas, na pesquisa foram levantadas e analisadas no apenas
as caractersticas e condicionantes dos espaos, mas tambm do mobilirio e das
instalaes usualmente encontrados nesses ambientes, identificando recursos de TA
que possam auxiliar nas AVDs, melhorando a capacidade funcional e proporcionando
maior autonomia ao idoso.
Colocou-se assim a questo central desta pesquisa que procura respostas para
a seguinte indagao: Quais so os parmetros recomendveis para a configurao
do quarto e do banheiro do idoso institucionalizado, incluindo mobilirio e instalaes
necessrias para a vida diria, buscando garantir sua segurana e prolongar sua
capacidade funcional?
Tendo em vista a complexidade do assunto e a diversidade do pblico alvo este
trabalho focou o contexto do idoso residente em instituies de longa permanncia,
com ateno sade e o ponto de vista dos profissionais da rea, buscando subsdios
e informaes tcnicas e operativas obtidas por meio de estudos de caso, que
complementados por dados secundrios obtidos em normas de acessibilidade e na
bibliografia pertinente ao tema, levaram a algumas consideraes e respostas que
buscam esclarecer a indagao fundamental definida acima, e podem contribuir para
a atuao de profissionais de arquitetura e de design em projetos e propostas com
qualidades e uma atuao responsvel, no tema e recorte desta dissertao.
6
1.2 Objetivos
Esse trabalho teve como objetivo principal investigar e levantar parmetros
recomendveis para a configurao do quarto e do banheiro do idoso residente em
instituies de longa permanncia, buscando garantir e prolongar situaes de vida
cotidiana com segurana e autonomia ao usurio. Foram estudados e considerados
critrios de antropometria (com abordagens dentro do campo da ergonomia), conforto
ambiental, psicologia e limitaes cognitivas que caracterizam esta faixa etria. Para
alcanar o objetivo principal foram estabelecidos objetivos especficos que em
conjunto com o principal, forneceram as informaes necessrias para a concluso
da pesquisa.
Primeiramente buscou-se levantar, estudar e analisar parmetros e
recomendaes atuais e j formuladas para a configurao do quarto e do banheiro
do idoso segundo a ABNT NBR 9050, RDC/ANVISA n 283, a ICC/ANSI A117.1, e
tambm os disponveis na bibliografia especializada para identificar propostas e
projetos que tm como objetivo garantir e prolongar situaes de vida cotidiana com
segurana e autonomia ao usurio.
Tambm foi estudado o processo de envelhecimento com nfase nas perdas
sensoriais e motoras. A bibliografia exps a queda como um importante problema para
a manuteno da autonomia do idoso, e assim, buscou-se identificar as principais
causas desse evento, no contexto geral de vida cotidiana e no caso especfico das
instituies de longa permanncia. O procedimento de pesquisa adotado foi o de
coletar dados atravs de estudos de caso e de reviso bibliogrfica, de forma a
analisar a participao de barreiras ambientais nesse evento e como o problema pode
ser evitado.
Com essas informaes foi possvel sistematizar, analisar e propor as diretrizes
mais relevantes para o projeto do quarto e do banheiro do idoso institucionalizado,
dando ateno especial a preveno de quedas, a segurana e autonomia do usurio.
1.3 Metodologia
A metodologia foi baseada em mtodos de pesquisa terica, documental e
emprica. A primeira parte da pesquisa se caracterizou pela busca de dados
secundrios procurando levantar o embasamento e conhecimento da rea da sade
pertinentes ao tema, as recomendaes propostas, em vigncia, ou utilizadas sobre
7
o arranjo espacial e funcional, qualificado e mediado por objetos da vida cotidiana,
sobre parmetros e padres existentes para o banheiro e o quarto do idoso, nas
normas e manuais de acessibilidade ou especficos para idosos. Esse levantamento
bibliogrfico deu subsdio para a segunda etapa da pesquisa que consistiu na
obteno de dados primrios por meio de estudos de caso em instituies de longa
permanncia para idosos.
Nos estudos de caso foram feitas visitas tcnicas s instituies selecionadas
para analisar a estrutura e os procedimentos do servio prestado, e as condies
espaciais e ambientais oferecidas aos residentes no momento da pesquisa, alm de
obter informaes sobre como os idosos se relacionam com o espao oferecido e
quais os planos futuros dos residenciais quanto ao espao fsico.
As instituies pesquisadas foram nomeadas como ILPI1 e ILPI 2, sendo que na
primeira foi utilizado para o estudo de caso procedimentos da metodologia Avaliao
Ps-Ocupao (APO), e na segunda foi feito um estgio de observao tcnica
acompanhando a vivencia e as rotinas dirias. Os mtodos e justificativa deste
caminho de investigao para os estudos de caso esto expostos detalhadamente no
captulo 4 desta dissertao. A partir dessas informaes foi possvel estabelecer
relaes entre o que as normas recomendam, o que est sendo feito na prtica nessas
instituies, e como os idosos se relacionam com os espaos, mobilirio e TA, visando
identificar possveis critrios de projeto.
Aps reunir esse material foi possvel analisar as informaes para identificar,
apontar e organizar as diretrizes mais relevantes para o projeto do quarto e do
banheiro na perspectiva de conferir segurana e autonomia no uso cotidiano.
1.4 Apresentao dos captulos
A dissertao foi dividida em cinco captulos, sendo este primeiro de introduo
com a apresentao e justificativa do tema, objetivos e a metodologia da pesquisa.
Os captulos 2 e 3 apresentam conceitos e vises importantes expressos na
bibliografia para dar embasamento a pesquisa.
O captulo 2 traz consideraes sobre o idoso e o processo de envelhecimento.
A relevncia das quedas na reduo da capacidade funcional ai enfatizado,
fornecendo dados sobre o perfil das vtimas, fatores de risco e consequncias para a
8
vida cotidiana. Tambm apresentado o conceito de TA e sua eficincia na reduo
de risco de acidentes e no aumento da capacidade funcional.
No terceiro captulo so apresentados os conceitos e contedos pertinentes a
este estudo sobre desenho universal e ergonomia, consideradas duas reas de
estudo que fornecem informaes fundamentais sobre o usurio e o espao em que
ele se relaciona. Na segunda parte do captulo so apresentadas e discutidas normas
e manuais que abordam temas diretamente relacionados ao estudo, tais como
acessibilidade, residncias para idosos e instituies de longa permanncia.
Buscando conhecer o atendimento, as caractersticas e as campanhas de
preveno de quedas de instituies de longa permanncia para idosos, foram
realizados dois estudos de caso que so apresentados no captulo 4. Foram
estudadas instituies que apresentam propostas e pblico diferentes, dando um
quadro abrangente, mas diverso sobre a realidade do idoso institucionalizado.
As informaes levantadas e apresentadas nos captulos 2, 3 e 4 foram
sistematizadas e analisadas sendo apresentadas as concluses do trabalho no
captulo 5 com as recomendaes para o quarto e o banheiro do idoso
institucionalizado.
9
Captulo 2 Referencial conceitual para o idoso do ponto de vista da
sade
2.1 Consideraes sobre o idoso
Embora a Organizao Mundial de Sade (OMS) defina a populao idosa como
aquela a partir de 60 anos de idade para pases em desenvolvimento, a idade
cronolgica pode no corresponder com a idade fisiolgica. Segundo Assis (2004, in:
SALDANHA & CALDAS, 2004, p.11):
[...] o envelhecimento humano um fato reconhecidamente
heterogneo, influenciado por aspectos socioculturais, polticos e
econmicos, em interao dinmica e permanente com a dimenso
biolgica e subjetiva dos indivduos. Desta forma, a chegada da
maturidade e a vivncia da velhice podem significar realidades
amplamente diferenciadas, da plenitude decadncia, da gratificao
ao abandono, sobretudo em presena de extremas disparidades
sociais e regionais como as que caracterizam o Brasil contemporneo.
Da mesma forma, o conceito de expectativa e qualidade de vida no andam
juntos necessariamente. Para o IBGE, expectativa de vida significa quantos anos, em
mdia, as pessoas podem viver, sendo que no Brasil em 2012 esse valor era de 74,6
anos3, no entanto, viver mais tempo no significa viver com qualidade e em alguns
casos acaba-se prolongando doenas e aumentando a proporo de pessoas com
incapacidades.
Segundo os pensamentos dos autores Ribeiro et al. (2008) e Vecchia et al.
(2005), qualidade de vida pode ser entendida como uma representao social com
parmetros objetivos, como satisfao das necessidades bsicas, originadas e
inseridas num contexto que considera o grau de desenvolvimento econmico e social
da sociedade, mas tambm parmetros subjetivos, como bem-estar, felicidade, amor,
prazer e realizao pessoal. Ao analisar a qualidade de vida preciso considerar
tambm fatores polticos e de desenvolvimento humano.
3Dados obtidos do site do IBGE. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 01 mai. 2014.
10
Resumidamente, qualidade de vida pode ser definida como a percepo do
indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos
quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes.
possvel notar como os aspectos socioculturais e econmicos influenciam na
expectativa e na qualidade de vida, no pas, analisando as estatsticas do IBGE.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) 2009, a populao
idosa em 2009 era de 11,3% da populao nacional, sendo a maioria desses idosos
branca e constituda por mulheres.
O fato da maioria da populao idosa ser branca pode ser atribudo ao maior
acesso educao, sistema de sade e qualidade das moradias. J a maioria
feminina na populao idosa pode ser explicada pela forma como as mulheres
conduzem suas vidas, dando mais ateno sade e correndo menos riscos, como
levanta Veras (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.7).
[...] a maioria feminina devida a diversos fatores, tais como, menor
consumo de lcool e tabaco, que so associados a doenas
cardiovasculares e diferentes tipos de neoplasias [...]; diferenas na
atitude em relao s doenas as mulheres tm, de modo geral,
melhor percepo da doena e fazem uso mais constante dos servios
de sade do que os homens. possvel que a deteco precoce e
melhor tratamento de doenas crnicas nas mulheres contribuam para
um prognstico melhor [...]; e diferenas na exposio a risco
acidentes domsticos e de trabalho, acidentes de trnsito, homicdios
e suicdios so mais frequentes para homens do que para as mulheres
[...].
possvel ver como a percepo do indivduo de sua posio na vida no
contexto da cultura e sistemas de valores realmente interfere na qualidade de vida
quando analisamos a avaliao subjetiva do estado de sade realizada pelo
levantamento suplementar de sade do PNAD 2009, em que, apesar de 77,4% dos
idosos terem declarado sofrer de doenas crnicas, 45,5% considera seu estado de
sade muito bom ou bom. Apenas 12,6% disseram ter a sade ruim ou muito ruim,
em especial, os idosos com 75 anos ou mais, os de cor negra ou parda e os que viviam
com renda familiar de at meio salrio mnimo.
11
Desses dados possvel notar que apesar da presena de doenas crnicas e
os problemas correlatos ou relacionados s mesmas, dependendo de como o
indivduo se v perante a si e a sociedade, possvel manter a independncia, a
produtividade, a participao social entre outros diversos fatores que influenciam na
qualidade de vida.
Entre as doenas crnicas citadas pelos entrevistados, a hipertenso a que
mais se destaca em todos os subgrupos de idosos. Doenas como dores de coluna e
artrite ou reumatismo aparecem tambm com bastante frequncia.
Com o aumento do tempo de vida, observa-se um crescimento populacional das
pessoas idosas e muito idosas, assim como das dependentes. Paralelamente,
observam-se expressivas mudanas nos arranjos familiares. Com a queda da taxa de
natalidade, a consequente reduo do nmero de filhos por famlia, e o fato de muitos
jovens migrarem para outros locais em busca de oportunidades melhores de estudo e
trabalho, houve uma expressiva diminuio do nmero de cuidadores potenciais
dentro da prpria famlia. Esta situao impe e conduz ao desafio de incorporar o
tema do envelhecimento populacional s polticas pblicas, e de implementar aes
de cuidado para esse contingente populacional.
Outros problemas de sade, tambm esto presentes no processo de
envelhecimento como as doenas crnicas e as quedas. Desse modo, como dizem
Ribeiro et al. (2008), o conceito de sade para este grupo populacional no pode se
basear no parmetro de completo bem-estar fsico, psquico e social preconizado pela
Organizao Mundial de Sade, mas deve ser regido pelo paradigma da capacidade
funcional4.
Siqueira et al. (2007) citam que o envelhecimento populacional e o aumento da
ocorrncia de doenas crnico-degenerativas, provocam a necessidade da
preparao e adequao dos servios de sade, incluindo a formao e capacitao
de profissionais para o atendimento desta nova demanda.
Para se encontrar o equilbrio entre expectativa de vida e qualidade de vida
necessrio estabelecer condies de sade e cuidados, para protelar o incio das
doenas crnicas expandindo o tempo de vida saudvel, reduzindo o tempo de
incapacidade e, quando no for possvel, dar condies para garantir uma vida
melhor, mais digna, mesmo com um quadro de incapacidade, facilitando o acesso
4 Ver definio no glossrio desta dissertao.
12
TA e ao tratamento adequado. Para isso, o cuidado com a sade deve comear antes
da manifestao da doena ou do avano etrio, com medidas preventivas
incentivadas por polticas pblicas extensveis e acessveis a todas as camadas da
populao, promovendo a insero ativa dos idosos na vida social.
Em um estudo realizado em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econmica
Aplicada (Ipea) e publicado pela previdncia social, Batista et al. (2008) ressaltam que
conhecer a realidade do idoso brasileiro um passo fundamental para a construo
de polticas que visam garantir seus direitos e necessidades. Porm uma grande
dificuldade encontrada para pensar em polticas adequadas realidade brasileira a
ausncia de investigaes que permitam desvendar a realidade da dependncia entre
os idosos brasileiros. Torna-se necessrio realizar estudos que permitam aprofundar
o conhecimento sobre as caractersticas das diferentes situaes de dependncia
funcional, bem como sobre o atendimento que lhes prestado em instituies de longa
permanncia.
Alguns pases como Alemanha, Frana, Japo, Sucia e Espanha j
desenvolveram programas voltados para os idosos em situao de dependncia, nos
seus distintos contextos de evoluo dos sistemas de proteo social, entretanto, a
forma de compreender e analisar a situao de dependncia do indivduo ainda no
consensual.
No Brasil o dimensionamento da dependncia entre os idosos brasileiros bem
como o conhecimento de suas necessidades esto limitados pela inexistncia de um
sistema de classificao da dependncia que estabelea graus diferenciados,
conforme as limitaes funcionais previstas, que possam ser aplicados s pesquisas
demogrficas e aos levantamentos sobre condies de vida da populao, para o
desenho de polticas voltadas para este grupo.
Apesar da falta de informaes precisas sobre a realidade do idoso brasileiro, o
Brasil tem avanado no desenvolvimento de polticas pblicas e de instrumentos de
ao voltados para esta populao, como a Poltica Nacional do Idoso (1994) e a
criao do Estatuto do Idoso (2003).
No campo dos servios assistenciais, a Poltica Nacional de Assistncia Social
(PNAS/2004) e a Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS
2011) estabeleceram um padro inovador de operacionalizao dos servios. Como
Proteo Social Bsica, os idosos podem ter atendimento domiciliar e acesso a
13
centros-dia, que oferecem espaos de convvio, favorecendo um processo de
envelhecimento ativo e saudvel. J a Proteo Social Especial organiza-se
atualmente por meio de servios especficos que garantem acolhimento e abrigo ao
idoso.
Quanto aos servios de ateno sade, foi em dezembro de 1999, com a
aprovao da Poltica Nacional da Sade do Idoso, que as aes comearam a ganhar
concretude. Em 2002, o Ministrio da Sade criou mecanismos para a organizao e
implantao de Redes Estaduais de Assistncia Sade do Idoso, buscando gerar
aes de preveno, promoo, proteo e recuperao da sua sade. E em outubro
de 2006 foi lanada uma nova Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa, buscando
instituir efetiva prioridade em torno do tema e mobilizar as trs esferas do governo
nesse sentido. Entretanto, as aes pblicas e organizacionais difundidas no pas,
ainda so tmidas e localizadas, deixando de atingir a maioria de pessoas nesta
condio.
Portanto, considera-se que ao lado dos avanos da medicina, do aumento da
populao mundial de idosos e de mudanas em curso na estrutura da composio
familiar domiciliar, necessrio dar mais ateno a esse assunto, buscando protelar
o incio das doenas crnicas, expandindo o tempo de vida saudvel, dando amparo
aos que apresentam nveis de dependncia e garantindo qualidade de vida em todas
as etapas da vida social e cultural. Alguns pases j comearam a se preocupar com
esse assunto e devem servir de exemplo para outros. O Brasil tem avanado no
desenvolvimento de polticas pblicas e de instrumentos de ao voltados para a
populao idosa, mas para ser mais abrangente, eficiente e efetivo ainda necessita
executar um diagnstico mais preciso da situao do idoso no pas, considerando a
complexidade e a diversidade econmica e cultural do seu territrio.
2.1.1 O Processo de envelhecimento
O envelhecimento definido por Da Motta (2004, in: SALDANHA & CALDAS,
2004, p.118) como um processo multifatorial, indo do nvel molecular ao fisiolgico e
morfolgico, com uma importante influncia do meio sobre o contedo gentico,
influenciado por modificaes psicolgicas e sociais que ocorrem com o passar do
tempo. Esse processo suscita perdas funcionais que se iniciam por volta dos 30 anos,
perodo considerado pela medicina como de vitalidade mxima.
14
Dentre as alteraes no organismo que ocorrem com o envelhecimento esto
alteraes no sistema imunolgico, sistema nervoso, dficits sensoriais e nos
mecanismos responsveis pelo equilbrio postural. Como neste estudo o foco se dirige
mais manuteno da capacidade funcional e preveno de quedas em idosos,
este captulo aprofundar apenas os efeitos do processo de envelhecimento nos
rgos dos sentidos, nos mecanismos responsveis pelo equilbrio postural e sistema
motor, que acarretam prejuzos funcionais e riscos de acidentes.
Segundo Vasques (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.204), os idosos
que sofrem com problemas de adaptao aos dficits sensoriais enfrentam o
preconceito da sociedade, da famlia e amigos, tornando-se introspectivos e cada vez
mais dependentes para as AVDs. O isolamento social consequente da deficincia leva
a um aumento do nmero de casos de depresso e demncia. As consequncias
funcionais desses dficits podem ser reduzidas com a utilizao de TA e adequao
do ambiente, objetivando a reintegrao do idoso sociedade e consequente melhoria
na qualidade de vida.
A diminuio auditiva o dficit sensorial mais prevalente, sendo encontrado em
mais de 30% das pessoas com mais de 65 anos. As complicaes da surdez so
isolamento social, quadros de depresso, zumbido, tontura e instabilidade postural
que levam ao aumento do risco de acidentes e dependncia para AVDs. A TA mais
indicada para a melhora da audio o aparelho de amplificao auditiva, mas este
ainda enfrenta problemas de aceitao por parte dos usurios devido a fatores
estticos e insatisfao com os resultados aps colocao da prtese.
O paladar e o olfato influenciam diretamente a qualidade de vida dos idosos ao
reduzirem o prazer proporcionado pelos alimentos, resultando em quadros de
desnutrio. Outras complicaes decorrentes da perda do olfato e paladar so a
desidratao, aumento da crie, infeco oral e de ulceraes da mucosa.
A viso, o sistema proprioceptivo (tato, que informa como e onde estamos
pisando) e o sistema vestibular (parte do ouvido responsvel pelo equilbrio) tambm
fazem parte do sistema sensorial e esto diretamente relacionados com o equilbrio
postural, pois possuem a funo de informar ao crebro relaes e percepes
decorrentes da posio corporal no espao.
Segundo Vasques (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.206) e Buksman
e Vilela (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.209), a diminuio da viso est
15
associada ao aumento da dependncia para AVDs e ocorrncia de quedas. A viso
fundamental para dar noo de profundidade, tipo de superfcie e localizao dos
objetos e obstculos, alm de informar a posio dos vrios segmentos do corpo em
relao ao ambiente. As consequncias do processo de envelhecimento na viso so
a diminuio da sensibilidade ao contraste e para ajustar-se a nveis altos ou baixos
de iluminao, a diminuio da capacidade de acomodao entre a viso para longe
e para perto, prejuzo na discriminao de cores e menor adaptao ao escuro.
Cuidados com o ambiente como um projeto de iluminao adequado, circulao livre
de obstculos, barras de apoio e corrimos so importantes aliados na preveno de
acidentes e preservao da independncia em casos de diminuio da viso.
O sistema proprioceptivo composto por clulas nervosas encontradas em
tendes, msculos, articulaes e planta dos ps que informam como e onde estamos
pisando. Informaes sobre o ambiente so importantes para manter o controle
postural, pois permitem que o corpo mantenha-se ereto e orientado durante o
movimento, quando essas informaes no so passadas para o crebro de forma
correta ocorrem problemas no equilbrio postural podendo levar queda. Problemas
comuns nos idosos como artrose, artrite ou calosidades podem passar informaes
diferentes possibilitando a alterao do equilbrio.
O sistema vestibular constitudo pelo componente sensorial, o processador
central e o componente de controle motor.
O componente sensorial composto pelo labirinto. No interior do labirinto existe
um lquido cuja movimentao responsvel pela informao ao sistema nervoso
central do posicionamento da cabea. comum o idoso apresentar cristais nesse
lquido causando o mau funcionamento do labirinto que pode ocasionar tontura.
O processador central interpreta as informaes do labirinto, do sistema visual,
proprioceptivo e sistema sensorial, gerando estmulos ao componente motor com a
finalidade de manter o equilbrio. O funcionamento incorreto de alguma parte do
sistema pode gerar estmulos conflitantes, causando instabilidade postural.
O componente motor controla o equilbrio atravs de reflexos que mantm
constante a posio dos olhos e da cabea durante o movimento conseguindo assim,
uma imagem visual estvel. Tais reflexos tambm determinam contraes
compensatrias de msculos do pescoo, tronco e membros com a finalidade de
manter o equilbrio postural.
16
O sistema motor composto pelos msculos, tendes, articulaes e ossos.
Para seu bom funcionamento necessrio fora muscular e flexibilidade articular que
se encontram diminudas na velhice e podem ser agravadas por doenas
osteoarticulares, insuficincia cardaca e sedentarismo. Problemas no sistema motor
ocasionam alteraes na marcha que aumentam a probabilidade de quedas. O risco
de acidentes pode ser reduzido com atividades fsicas e adaptaes no ambiente
como a ausncia de tapetes e degraus em reas de uso constante, corrimos e TA
apropriada para cada caso especfico.
Os problemas ocasionados pelo processo de envelhecimento podem trazer
prejuzos para a funcionalidade e independncia do idoso, mas podem ser
minimizados com o uso de TA e ambientes projetados e equipados para oferecer
maior segurana e conforto ao usurio. necessrio conhecer as consequncias que
cada dficit provoca na qualidade de vida do idoso, para poder definir as intervenes
apropriadas a serem feitas, seja no ambiente construdo, seja na prescrio e
treinamento de TA, visando melhoria na qualidade de vida na terceira idade.
2.2 Quedas
Um dos grandes problemas para a independncia e sade do idoso a queda,
devido sua frequncia e consequncias fsicas e psicolgicas para a qualidade de
vida, como a necessidade de auxlio para a execuo de atividades dirias, e baixa
autoestima, que afetam no apenas o idoso, mas tambm sua famlia e a sociedade,
setores estes aos quais cabem a responsabilidade e a implementao de aes de
cuidado para esse contingente populacional.
Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) definem
queda como o deslocamento no intencional do corpo para um nvel inferior posio
inicial, com incapacidade de correo em tempo hbil, determinado por circunstncias
multifatoriais comprometendo a estabilidade.
No Brasil, cerca de 30% dos idosos sofrem quedas ao menos uma vez ao ano.
A consequncia mais comum das quedas em idosos so as fraturas, dentre elas as
mais frequentes so de fmur. Alm de dores e imobilidades provocadas pelas
quedas, em alguns casos a recuperao do idoso aps o evento exige longos perodos
de internao que podem acarretar problemas consequentes como infeco no trato
urinrio, pneumonia, escaras de decbito, entre outros. Buksman e Vilela (2004 In:
17
Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218), colocam que as quedas constituem um
problema de sade pblica, pois so responsveis por 12% dos bitos na populao
idosa, sendo a principal causa de morte acidental nessa faixa etria. Esses nmeros
demonstram a importncia do assunto e a necessidade de se buscar formas de evitar
o problema, preservando assim a capacidade funcional do idoso e consequentemente
sua qualidade de vida.
Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004) enfatizam que pessoas de todas as
idades apresentam risco de sofrer queda, porm, para os idosos, elas possuem um
significado muito relevante, pois podem leva-lo incapacidade, injria e morte. Seu
custo social alto e torna-se maior quando o idoso tem diminuio da autonomia e da
independncia ou passa a necessitar de institucionalizao como internao
hospitalar, por exemplo.
Para se desenvolver polticas e condutas de preveno necessrio conhecer
o perfil das vtimas e as causas das quedas, como forma de evitar o acontecimento
de novos eventos e suas consequncias.
2.2.1 Perfil das vtimas e fatores de risco
Os estudos de Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), Siqueira et al. (2007)
e Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) demonstram um
consenso quanto ao perfil dos idosos mais suscetveis queda. Nesses estudos
constata-se ser mais frequente a ocorrncia de queda em mulheres, idosos
separados, divorciados ou vivos, e idosos do nvel socioeconmico mais baixo. O
percentual de quedas tambm est associado com o aumento da idade,
sedentarismo, autopercepo de sade ruim e maior nmero de medicamentos
referidos para uso contnuo.
A elevada possibilidade de quedas em idosos separados, divorciados ou vivos
pode ser explicada pelo cuidado mtuo entre parceiros. Uma possvel interpretao
para a maior incidncia de quedas em mulheres pode estar na maior expectativa de
vida delas em relao aos homens, o que resulta em nmero maior de indivduos
desse gnero com idade avanada, agregando consequentes problemas do
envelhecimento, como diminuio de fora e utilizao de acentuada quantidade de
medicamentos, por exemplo. Outro fator de risco ocasionado pela diferena de
18
expectativa de vida incidncia maior de mulheres vivas morando sozinhas,
possivelmente mais expostas a riscos.
O nmero crescente de quedas com o aumento da idade tambm pode estar
relacionado perda de equilbrio e s alteraes nas massas muscular e ssea,
trazidos pelo processo de envelhecimento. Uma das formas de minimizar essa perda
a prtica de atividades fsicas.
importante que os idosos se mantenham ativos fisicamente e socialmente, o
que pode ser incentivado com a existncia de centros de lazer e convivncia especiais
ou integrados a outros recursos socioculturais ou assistenciais. Ao se socializarem
trocam informaes sobre cuidados com a sade, exercitam a memria e a cognio
e incentivam os demais a preservarem uma vida ativa e saudvel.
Para Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218), existem
fatores de risco intrnsecos, prprios da pessoa, e fatores de risco extrnsecos, como
os ambientais, que esto relacionados ocorrncia de quedas.
Os fatores intrnsecos so compostos por alteraes fisiolgicas do processo do
envelhecimento, doenas especficas e medicamentos. As alteraes do
envelhecimento so os dficits sensoriais e limitaes do sistema motor. As doenas
especficas consideradas como fatores de risco so doenas cardiovasculares,
neurolgicas, endcrinas, pulmonares e outros distrbios como psiquitricos, anemia,
hipotermia e infeces graves. Os medicamentos que podem estar relacionados
ocorrncia de quedas so sedativos, antipsicticos, antidepressivos,
anticonvulsivantes, anticolinrgicos, antiarrtmicos, diurticos, hipoglicemiantes, alm
do uso concomitante de medicaes.
J os fatores extrnsecos esto relacionados ao ambiente. A maior parte das
quedas ocorre dentro de casa, principalmente no banheiro, quarto de dormir ou na
cozinha. Em ambientes domiciliares, mobilirio ou caractersticas construtivas e
espaciais tais como tapetes soltos, piso escorregadio, iluminao inadequada, muitos
mveis, obstculos no caminho, cadeiras baixas, degraus altos e ausncia de
corrimos so comuns causadores de acidentes. Esses problemas sero mais
perigosos quanto maior for o grau de vulnerabilidade do idoso, alm das situaes de
instabilidade que possam causar em funo de condies fsicas, perceptivas, de
posicionamento e de configurao no espao. Geralmente, idosos no caem por
realizar atividades perigosas, mas sim em atividades rotineiras.
19
Os riscos ambientais podem ser reduzidos com intervenes no ambiente fsico
como instalao de elevadores ou rampas; aberturas de portas maiores; uso de
revestimentos adequados; projeto de iluminao apropriada; e tambm a instalao
ou uso de TA, que tem por objetivo auxiliar nas atividades dirias aumentando a
funcionalidade e segurana, visando a autonomia do usurio. No entanto, a eficincia
das intervenes no ambiente e da TA na reduo das quedas depende da aceitao
do idoso em utilizar esses recursos, reduzindo assim o comportamento de risco.
Dificilmente a queda resultado da ocorrncia de um fator isolado, pois
geralmente esto associados, constituindo vrios fatores de risco. Mesmo que seja
decorrente de mltiplos fatores, necessrio identificar aquele que efetivamente
provocou o fato, ou a situao, de modo que se possa prevenir um novo episdio de
forma eficaz.
Neste trabalho considera-se fundamental identificar e afastar os fatores
ambientais que tragam risco de queda, minimizando sua importncia como fator
principal, na gerao ou induo de situaes de ameaas para os idosos,
principalmente aqueles com predisposio, em decorrncia de fragilidades de sade.
Cabe aos cuidadores e profissionais de sade o diagnstico do problema, para que
em conjunto com arquitetos e designers busquem-se as solues mais adequadas
para cada caso de forma agradvel e eficiente.
O ambiente urbano nas cidades brasileiras tambm habitualmente hostil para
o cidado idoso. Como alguns exemplos comuns cita-se o tempo dos sinais de trnsito
com tempo insuficiente para uma travessia segura; calamento irregular de caladas,
e vias com buracos e desnveis muito grandes; acesso aos transportes pblicos
dificultado por degraus muito altos; iluminao noturna deficiente; alm da falta de
pacincia e respeito com a figura do idoso;
2.2.2 Consequncias para a capacidade funcional na vida cotidiana
O grande problema das quedas est nas consequncias que costumam
acarretar a reduo da capacidade funcional para realizar atividades cotidianas, com
consequente diminuio da qualidade de vida. Essa incapacidade para realizar as
AVDs consequentes de quedas pode trazer tambm, a longo prazo, consequncias
para seus familiares, que precisam se mobilizar para o tratamento e a recuperao do
idoso.
20
Segundo Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) e
Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), a consequncia mais comum so as
fraturas, sendo a de fmur a mais grave e frequente. A segunda consequncia mais
relatada o medo de voltar a cair.
A fratura de fmur causa grande preocupao por sua alta mortalidade e outros
efeitos, como perda de independncia e imobilidade. O acamamento prolongado pode
acarretar embolia pulmonar, prolongando o tempo e os recursos para a reabilitao.
O medo de voltar a cair, ou sndrome ps-queda pode trazer consigo o receio
de novas quedas e das consequncias inerentes a ela. Esses sentimentos podem
trazer modificaes emocionais, psicolgicas e sociais como a perda de autonomia e
independncia para as AVDs, diminuio de atividades sociais, sentimento de
fragilidade e insegurana. A decorrente percepo de insegurana, tanto por parte do
idoso quanto por parte da famlia, pode gerar atitudes superprotetoras, limitando as
aes do indivduo e interferindo negativamente na capacidade funcional, podendo
levar reduo do desempenho do idoso.
A tabela 1, retirada do estudo de Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004),
demonstra que as AVDs mais prejudicadas em decorrncia do aumento da
dependncia consequente das quedas so deitar/levantar-se da cama, caminhar em
superfcie plana, tomar banho, caminhar fora de casa, cuidar de finanas, cortar unhas
dos ps, realizar compras, usar transporte coletivo e subir escadas. Analisando os
dados da tabela, possvel perceber que as quedas afetam com mais frequncia e
intensidade a locomoo, dado que as atividades caminhar dentro e fora de casa,
subir escadas e realizar compras foram as que apresentaram maior aumento de
pessoas com necessidade de ajuda parcial ou total ou que no conseguem executar
a tarefa com autonomia aps o evento.
21
Tabela 1 Percentagem de idosos, segundo nvel de dificuldade para realizao de atividades da vida
diria, antes e aps a queda, Ribeiro Preto, 2000. Fonte: Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004,
96 p.)
Portanto o impacto das quedas no desempenho do idoso acarretando aumento
do nvel de dependncia para a realizao de AVDs muito relevante, ressaltando a
necessidade de se conhecer as causas e formas de evitar o evento para poder adotar
campanhas abrangentes de conscientizao e preveno, tendo em vista a
manuteno da autonomia e qualidade de vida do idoso. Esta perspectiva ser
aprofundada a seguir nos levantamento apresentados a seguir no captulo 4.
2.2.3 Riscos ambientais: o espao construdo e seus componentes
Partindo do princpio de que o espao construdo e seus componentes podem
estar relacionados ocorrncia de quedas, Lord, Menz e Sherrington (2006) analisam
a eficincia das intervenes no ambiente para a reduo das mesmas.
O estudo levanta que os fatores ambientais oferecem maiores risco aos idosos
com mobilidade reduzida do que aos idosos muito dependentes ou que no
apresentam reduo da mobilidade. Idosos muito dependentes possuem menor risco
de quedas porque normalmente so assessorados por outras pessoas ao executarem
atividades cotidianas, diminuindo o risco de acidentes, e os idosos que no
apresentam mobilidade reduzida possuem maior possibilidade de recobrar o equilbrio
e evitar a queda, estando menos suscetveis aos riscos.
Alm da adaptao do ambiente fsico, a incluso de TA buscando facilitar e
aumentar a segurana para a execuo de atividades dirias, tambm uma
ferramenta importante para preveno de queda. No entanto considera-se que a falta
de especificao tcnica correta do produto, suas qualidades intrnsecas e
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caractersticas de instalao no ambiente, ou a falta de treinamento adequado dos
usurios e cuidadores, alm do aceite do idoso para o uso correto do recurso, este
pode aumentar o risco de acidentes.
Segundo Lord, Menz e Sherrington (2006), a existncia de riscos em ambientes
domsticos por si s insuficiente para causar a queda, atitudes de risco ou
impulsivas elevam a probabilidade. Essa posio reforada por Buksman e Vilela
(2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 218) ao dizerem que o comportamento
de risco um aspecto que deve ser abordado com habilidade, pois frequentemente o
idoso no se conscientiza de suas limitaes temporrias ou permanentes, insistindo
em executar tarefas ou atividades inadequadas e arriscadas para sua condio.
Portanto, a eficincia da adequao do ambiente de forma a facilitar a mobilidade
e a incluso de TA, buscando o aumento da capacidade funcional, s eficiente se o
usurio assume suas limitaes e no adota atitudes de risco. Ou seja, colocar
corrimo na escada s ser eficiente se for realmente utilizado, assim como usar piso
antiderrapante e tirar tapetes de reas de circulao reduz o risco de escorregamento
e tropeos, mas se o idoso no utilizar calado adequado a situao continuar
existindo.
Em alguns casos o fator principal causador da queda pode no ser o ambiente
e sim causas inerentes ao indivduo, o que no o exime de poder agravar as
consequncias das quedas. Mveis pontiagudos, tampos de vidro, estantes instveis
e mveis com rodzios, por exemplo, podem ferir o idoso no caso de uma queda,
agravando danos e perdas. Portanto, mesmo quando o ambiente no se configura
como possvel causador de queda deve ser pensado de forma a aumentar a
segurana e diminuir o risco de ferimentos.
2.2.4 Quedas e o idoso residente em instituio de longa permanncia
Com o aumento da expectativa de vida, que nem sempre acompanhado de
qualidade de vida, como j discutido anteriormente nesse estudo, observa-se um
aumento na populao idosa com algum nvel de dependncia. Ao mesmo tempo
vimos que ocorreram mudanas expressivas nos arranjos familiares, com a reduo
da taxa de natalidade e a entrada da mulher no mercado de trabalho, acarretando na
diminuio da disponibilidade de cuidadores potenciais dentro da prpria famlia.
Como consequncia dessas mudanas, muitos idosos se vm obrigados a recorrer a
23
instituies de longa permanncia para terem os cuidados que necessitam
diariamente e que no conseguem fazer por conta prpria, devido a problemas
cognitivos, perdas fsicas e motoras, alm de fatores sociais, culturais e econmicos.
Portanto, idosos institucionalizados, em sua maioria, so fragilizados por
diferentes enfermidades e muitas delas esto relacionadas diminuio da
mobilidade, alterao do equilbrio e controle postural, contribuindo para um risco
maior de quedas. Segundo Ferreira e Yoshitome (2010) a demncia pode aumentar o
risco de quedas por conta de alteraes da percepo espacial e habilidade de se
orientar geograficamente.
Outro fator de grande influncia na elevada incidncia de queda nessas
instituies a depresso, que pode ser provocada por problemas patolgicos ou pela
mudana de rotina aps a institucionalizao. Teixeira, Oliveira e Dias (2006)
levantam que pacientes com diagnstico de depresso apresentam maior prevalncia
de doenas, maior uso de medicaes antidepressivas, sade pobre e declnio fsico,
diminuio da autoconfiana, indiferena ao meio ambiente, recluso e inatividade,
fatores esses que podem explicar a alta incidncia de quedas em idosos com esta
patologia.
O quarto, o banheiro e reas de circulao so os locais onde mais so
registrados casos de queda nos estudos de Carvalho, Luckow e Siqueira (2011),
vares, Costa Lima e Silva (2010), Ferreira e Yoshitome (2010), Gonalves et al.
(2008) e Nascimento, Varischi e Alfieri (2008), fato que pode ser explicado por serem
ambientes onde os idosos passam a maior parte do tempo. Esses mesmos estudos
tambm demonstram que a maioria das quedas ocorreram no perodo diurno,
momento de maior atividade cotidiana.
Os idosos, vtimas de queda participantes dos estudos acima relacionados
relatam, em sua maioria, que caram ao caminhar ou ao mudar de posio, como de
estar sentado ou deitado para ficar em p. Esse problema poderia ser reduzido com
campanhas de conscientizao nas instituies para que aqueles com dificuldades
motoras solicitem e esperem auxlio para executar esses movimentos ou, em alguns
casos, usem TA especifica. A adaptao do ambiente com a retirada de tapetes e de
mveis baixos em locais de grande circulao, ausncia de desnveis ou a correta
sinalizao dos mesmos podem auxiliar na reduo da ocorrncia de acidentes.
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Fatores ambientais no foram os principais causadores de quedas em todos os
estudos relacionados. Isso se deve porque algumas instituies possuem espaos
mais adequados e seguros para os idosos do que outras, sendo assim, os estudos
feitos em instituies com ambientes mais seguros apresentaram uma maior
incidncia de acidentes por fatores intrnsecos ao indivduo do que as que no
possuem espaos totalmente adequados, demonstrando a eficincia da adaptao do
ambiente na reduo de acidentes. Os problemas com o ambiente mais relatados
foram pisos escorregadios, degraus e obstculos em reas de circulao.
As principais consequncias das quedas so hematomas, fraturas, dor e
consequentemente a perda da autoconfiana, dependncia na realizao de AVDs e
o medo de cair. Segundo Teixeira, Oliveira e Dias (2006), o medo de cair acomete um
tero dos idosos que j sofreram queda e tambm pode ser observado naqueles que
nunca caram. Tal medo costuma levar a restrio das atividades, tornando-o mais
inativo, o que estabelece um ciclo vicioso, dado que gera um descondicionamento
fsico-funcional, podendo levar ao aumento da propenso queda.
Dada a propenso de idosos institucionalizados a sofrerem queda, importante
conhecer as causas mais comuns para traar medidas e aes adequadas para a
preveno.
2.3 Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Sade CIF
Uma das misses da OMS consiste na produo de Classificaes
Internacionais de Sade, que representam modelos consensuais a serem
incorporados pelos Sistemas de Sade, gestores e usurios, visando utilizao de
uma linguagem comum para a descrio de problemas ou intervenes em sade. A
Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF) um
modelo da OMS criado em 2001 com o objetivo de proporcionar uma linguagem
unificada e padronizada, assim como uma estrutura de trabalho para a descrio da
sade e de diferentes estados relacionados com a ela.
Segundo levantamento histrico de Farias e Buchalla (2005), a OMS publicou
em 1976 a Classificao Internacional das Deficincias, Incapacidades e
Desvantagens (CIDID) visando responder s necessidades de se conhecer mais
sobre as consequncias das doenas. No entanto, o processo de reviso da CIDID
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apontou fragilidades como a falta de relao entre as dimenses que a compem, a
ausncia de aspectos sociais e ambientais, entre outras. Aps vrias verses e testes,
a OMS aprovou a verso atual da CIF.
A CIF trabalha com dois termos principais: a funcionalidade, que engloba todas
as funes do corpo, atividades e participao; e a incapacidade, que inclui
deficincias, limitaes da atividade ou restrio na participao. Segundo os
conceitos da CIF, a funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa so concebidas
como uma interao dinmica entre os estados de sade e os fatores pessoais e
ambientais.
Os fatores pessoais so entendidos como o histrico particular da vida e do estilo
de vida de um indivduo. Esses podem incluir o sexo, raa, idade, condio fsica,
hbitos, educao, religio dentre outros. Os fatores ambientais constituem o
ambiente fsico e atitudinal no qual as pessoas vivem e conduzem sua vida. Espaos
como o domiclio, o local de trabalho e a escola, incluindo caractersticas fsicas e
materiais do ambiente, bem como o contato direto com a famlia e colegas,
configuram-se como fatores ambientais.
Outros dois conceitos importantes da CIF so capacidade e desempenho.
Capacidade pode ser entendida como a aptido de um indivduo para executar uma
tarefa ou uma ao, j desempenho descreve o que a pessoa consegue fazer no seu
ambiente da vida habitual. Um ambiente com barreiras pode restringir o desempenho
do indivduo, enquanto ambientes mais facilitadores podem melhorar o desempenho.
O presente estudo buscou analisar a interferncia do ambiente construdo e seus
componentes no desempenho para AVDs e na ocorrncia de quedas no caso
especfico de idosos institucionalizados, de forma a estudar o impacto desses fatores
ambientais na capacidade funcional dos usurios como facilitadores e/ou limitadores.
Dado que a CIF oferece uma estrutura conceitual para a preveno, a promoo da
sade e a melhoria da participao social das pessoas, removendo ou atenuando as
barreiras ambientais e sociais, foi uma ferramenta escolhida para dar embasamento
terico pesquisa.
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2.4 Tecnologia Assistiva
Tecnologia Assistiva (TA) um termo ainda novo, utilizado para identificar
recursos e servios que contribuem para ampliar uma habilidade funcional deficitria
e consequentemente promover autonomia e incluso das pessoas.
Segundo Assistiva (2012) o termo Assistive Technology, traduzido no Brasil
como Tecnologia Assistiva, foi criado em 1988 como elemento jurdico dentro da
legislao norte-americana conhecida como Public Law 100-407, e renovado em 1998
como Assistive Technology Act (P.L. 105-394, S. 2432). Faz parte do American with
Disabilities Act (ADA), que regula os direitos dos cidados com deficincia nos
Estados Unidos da Amrica, alm de prover a base legal dos fundos pblicos para
compra dos recursos que eles necessitam.
No Brasil, o Comit de Ajudas Tcnicas (CAT), institudo em 2006 pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica, aprovou em
2007, na ATA VII, o seguinte conceito para TA.
[...] produtos, recursos, metodologias, estratgias, prticas e servios
que objetivam promover a funcionalidade relacionada atividade e
participao de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade
reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida e
incluso social.
Pode-se dizer, a partir desses conceitos, que o objetivo da TA proporcionar
pessoa com necessidades especiais maior independncia, qualidade de vida e
incluso social atravs da ampliao de sua capacidade funcional. Dado que o
processo de envelhecimento pode acarretar perdas cognitivas, sensoriais e motoras,
a TA se configura como importante instrumento para a manuteno da autonomia e
independncia do idoso.
Foram desenvolvidas vrias classificaes dos recursos de TA conforme os
objetivos funcionais a que se destinam, sendo a Norma ISO 9999/2002, o Sistema
Nacional de Classificao de Recursos e Servios de Tecnologia Assistiva, dos
Estados Unidos e a ADA as mais utilizadas. A importncia das classificaes dos
recursos de TA se d pela contribuio para a organizao dessa rea de
conhecimento e serve para estudos, pesquisas, desenvolvimento, promoo de
polticas pblicas, organizao de servios, catalogao e formao de banco de
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dados para identificao dos recursos mais apropriados ao atendimento de uma
necessidade funcional do usurio final.
A classificao da ADA divide a TA em 11 categorias e a mais citada na
bibliografia pesquisada5, sendo por isso a escolhida para ser explicitada e adotada
neste trabalho.
Auxlios para a vida diria materiais e produtos para auxlio em tarefas
rotineiras como alimentao, higiene, necessidades pessoais, entre outras;
Comunicao aumentativa ou suplementar e alternativa recursos, eletrnicos
ou no que permitem a comunicao expressiva e receptiva das pessoas sem
a fala ou com limitaes da mesma;
Recursos de acessibilidade ao computador equipamentos que permitem s
pessoas com deficincia o uso do computador;
Sistemas de controle de ambiente sistemas eletrnicos que permitem o
controle de aparelhos eletrnicos, sistemas de segurana e iluminao em
ambientes domstico e de trabalho;
Projetos arquitetnicos para acessibilidade adaptaes estruturais e reformas
na casa ou ambiente de trabalho, com rampas, elevadores, banheiros
adaptados, com o objetivo de retirar ou reduzir barreiras fsicas;
rteses e prteses troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de
funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos
ortopdicos;
Adequao postural adaptaes no sistema de sentar, que objetivam o
conforto e a melhor distribuio dos pontos de presso na superfcie da pele;
Auxlios de mobilidade cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases
mveis, andadores, triciclos e demais equipamentos utilizados para melhoria
da mobilidade;
Auxlios para cegos ou com viso subnormal auxlios para grupos especficos,
que incluem lupas e lentes, braile para equipamentos com sntese de voz,
grandes telas de impresso etc.;
5 Silva (2011), Bersch (2008), Tecnologia Assistiva (2012) e Assistiva (2012)
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Auxlios para surdos ou com dficit auditivo auxlios que incluem vrios
equipamentos, aparelhos de surdez, telefones com teclado, sistemas com
alerta tctil-visual, entre outros;
Adaptaes em veculos acessrios e adaptaes que permitem a conduo
do veculo por uma pessoa com deficincia, elevadores para cadeiras de rodas,
e veculos automotores usados no transporte pessoal.
A grande variedade de categorias e produtos de TA demonstra sua abrangncia
no auxlio das AVDs e a necessidade de se adaptar demanda especfica de cada
usurio. Trata-se de um recurso para auxiliar o usurio e por isso deve atender s
necessidades e expectativas dos mesmos, sendo necessrio em alguns casos o
desenvolvimento de um produto ou servio de TA especficos para um determinado
caso, atividade ou indivduo. Ao desenvolver um recurso de TA, tanto em larga escala
como individual, deve-se levar em considerao no apenas princpios de ergonomia
e funcionalidade, mas tambm a questo esttica, buscando melhorar a aceitabilidade
e a identificao do usurio com o recurso. Nesse trabalho buscou-se conhecer a
realidade das instituies de longa permanncia para idosos procurando entender as
necessidades e dificuldades dessa populao, para poder gerar recomendaes para
a escolha e instalao da TA que atenda satisfatoriamente ao pblico selecionado.
2.4.1 Eficincia no aumento da capacidade funcional
O objetivo principal da TA seria prover uma conexo entre as limitaes
funcionais do indivduo e as demandas do meio fsico, aumentando,
consequentemente, a qualidade de vida. Lansley, McCreadie e Tinker (2004) e
Andrade e Pereira (2009) pesquisaram a eficincia da TA no aumento da
funcionalidade, e na reduo da necessidade de auxlio de outras pessoas para a
realizao de AVDs, obtendo resultados semelhantes.
Lansley, McCreadie e Tinker (2004) estudaram a relao entre os gastos com
as adaptaes necessrias nas residncias para a melhoria da capacidade funcional
e os gastos com cuidadores formais antes e depois das modificaes, e concluram
que as adaptaes dos ambientes e instalao de TA oferecem maior segurana e
autonomia aos usurios em atividades rotineiras, reduzindo a necessidade de
indivduos formais ou informais no auxlio s tarefas, concluindo que os gastos com
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as adaptaes podem ser recuperados na reduo dos gastos com o cuidado pessoal.
Segundo este estudo, os problemas de locomoo apresentam maior impacto na
possibilidade e nos custos de adaptao, o que demonstra a importncia de se
projetar seguindo os princpios do desenho universal, de forma a ter um local de
moradia e de vida que atenda aos seus moradores em todas as etapas da vida.
Andrade e Pereira (2009) confirmam os resultados encontrados por Lansley,
McCreadie e Tinker (2004) ao afirmar que a TA contribui para a diminuio de
dependncia durante o cuidado pessoal e o aumento de privacidade, alm da reduo
dos gastos financeiros com cuidadores providos em casa e da diminuio de episdios