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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DANIELA DE ALMEIDA MILANI O Quarto e o Banheiro do Idoso: Estudo, análise e recomendações para o espaço do usuário residente em instituição de longa permanência. São Paulo 2014

DANIELA DE ALMEIDA MILANI - teses.usp.br · AVD Atividade de Vida Diária CAT Comite de Ajudas Técnicas CIDID Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades, e Desvantagens

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

    DANIELA DE ALMEIDA MILANI

    O Quarto e o Banheiro do Idoso:

    Estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio

    residente em instituio de longa permanncia.

    So Paulo

    2014

  • Daniela de Almeida Milani

    O Quarto e o Banheiro do Idoso:

    Estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio

    residente em instituio de longa permanncia.

    Dissertao apresentada faculdade de

    Arquitetura e urbanismo da Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre.

    rea de concentrao: Design e Arquitetura.

    Orientadora: Profa. Dra. Cibele Haddad Taralli.

    So Paulo

    2014

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    E-MAIL DA AUTORA: [email protected]

    Milani, Daniela de Almeida M637q O quarto e o banheiro do idoso: estudo, anlise e recomendaes para o espao do usurio residente em instituio de longa permanncia / Daniela de Almeida Milani. -- So Paulo, 2014. 102 p. : il. Dissertao (Mestrado - rea de Concentrao: Design e Arquitetura) FAUUSP. Orientadora: Cibele Haddad Taralli 1.Acessibilidade ao meio fsico 2.Capacidade funcional 3.Desenho universal 4.Ergonomia 5.Idosos I.Ttulo CDU 72-056.26

  • I

    Agradecimentos

    Muitas pessoas foram envolvidas na realizao deste trabalho, cada uma colaborando

    de forma nica e imprescindvel.

    Agradeo minha orientadora Cibele Haddad Taralli por todos os ensinamentos,

    ateno e pacincia.

    minha famlia por ter dado todo o apoio e suporte para a realizao dessa pesquisa.

    Aos meus amigos que souberam entender as minhas ausncias e at me ajudaram

    na obteno de dados para o trabalho.

    Aos funcionrios das instituies pesquisadas que me acolheram e se dispuseram a

    oferecer as informaes necessrias para a concluso da pesquisa.

  • II

    Resumo

    MILANI, D. A. O quarto e o banheiro do idoso: estudo, anlise e

    recomendaes para o espao do usurio residente em instituio de longa

    permanncia. 2014. 110 f. Dissertao de Mestrado Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014.

    O envelhecimento populacional um tema que cada vez mais vem sendo

    pensado e discutido visando garantir qualidade de vida e bem-estar a esse

    contingente de cidados que com frequncia convivem com a reduo de suas

    capacidades funcionais e requerem cuidados especiais. Devido s mudanas nos

    arranjos familiares, verifica-se o aumentando da demanda por instituies de longa

    permanncia para idosos, fato decorrente em parte pela reduo de cuidadores no

    local de moradia. Dado que idosos institucionalizados, em sua maioria, apresentam

    sade fragilizada acentuando o risco maior de quedas, esse trabalho teve como

    objetivo levantar parmetros recomendveis para a configurao do quarto e do

    banheiro do idoso buscando garantir segurana e autonomia ao usurio. A escolha do

    quarto e do banheiro se deu pela grande incidncia de acidentes nesses ambientes

    relatada na bibliografia estudada e nos estudos de caso feitos em duas instituies na

    cidade de So Paulo. Para alcanar o objetivo buscou-se normas e bibliografia

    nacional e internacional que abrangessem os assuntos sobre acessibilidade ao meio

    fsico, desenho universal e ergonomia, alm de caracterizar dados sobre capacidade

    funcional com foco no idoso. As informaes adquiridas na reviso bibliogrfica foram

    confrontadas com os dados levantados nos estudos de caso como forma de

    identificar, na prtica, as recomendaes que esto dando resultado positivo e pontos

    que precisam ser melhorados. Os resultados obtidos a partir da abordagem terica e

    prtica proporcionaram o levantamento de recomendaes para o ambiente,

    mobilirios e instalaes do quarto e do banheiro do idoso que ofeream segurana e

    autonomia aos usurios nas atividades dirias. Pretende-se que os dados

    apresentados nesse trabalho possam ser aplicados na prtica projetual e colaborem

    para ampliar o conhecimento sobre o assunto.

    Palavras-chave: Acessibilidade ao Meio Fsico, Capacidade Funcional, Desenho

    Universal, Ergonomia, Idosos.

  • III

    Abstract

    MILANI, D. A. The bedroom and bathroom for the elderly: study, analysis

    and recommendations for the user space resident in long-term care institutions.

    2014. 110 f. Dissertation (Master`s degree) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

    Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014.

    Population aging is an issue that is being increasingly considered and discussed

    to ensure quality of life and well-being to this contingent of citizens who often deal with

    the reduction of its functional capabilities and require special care. Due to changes in

    family arrangements, it appears the increasing demand for long-term care institutions

    for the elderly, a fact due in part by the reduction of family carers. Since most

    institutionalized elderly have poor health, it contributes to the increase risk of falls, this

    work aimed to indicate recommended parameters for configuring the bedroom and

    bathroom of the elderly seeking to ensure user`s security and independence. The

    choice of the bedroom and bathroom was motivated by the high accident incidence in

    these environments reported by the studied literature and case studies carried out in

    two institutions in the city of So Paulo. To achieve the goal national and international

    standards were studied, as well as literature that covered the issues of accessibility to

    the physical environment, universal design and ergonomics, besides characterizing

    data on functional capacity with focus on the elderly. The information gathered in the

    literature review was compared with data collected in the case studies as a way to

    identify in practice the recommendations that are giving positive results and points that

    need to be improved. The results obtained from the theoretical and practical approach

    led to environment, furniture and facilities recommendations for the elderlys bedroom

    and bathroom that offer users security and independence in daily activities. It is

    intended that the data presented here in this study can be applied in design practice

    and collaborate to expand subject knowledge.

    Keywords: Accessibility to the physical environment, Elderly, Ergonomics, Functional

    capacity, Universal design.

  • IV

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ADA Americans with Disabilities Act

    APO Avaliao Ps-Ocupao

    ANSI American National Standard Institute

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    AVD Atividade de Vida Diria

    CAT Comite de Ajudas Tcnicas

    CIDID Classificao Internacional das Deficincias, Incapacidades, e Desvantagens

    CIF Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e sade

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICC International Code Council

    IEA International Ergonomics Association

    ILPI Instituio de Longa Permanncia para Idosos

    Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    ISO International Organization for Standardization

    NBR Norma Brasileira

    NOB-RH

    Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de domiclios

    PNAS Poltica Nacional de Assistencia Social

    RDC Resoluo de Diretoria Colegiada

    TA Tecnologia Assistiva

    TO Terapeuta Ocupacional

    Lista de Tabelas

    Tabela 1 Percentagem de idosos, segundo nvel de dificuldade para realizao de

    atividades da vida diria, antes e aps a queda, Ribeiro Preto, 2000. Fonte:

    Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), 96 p..........................................21

  • V

    Lista de Imagens

    Figura 1Circulao mnima em dormitrios. Fonte: ABNT NBR 9050:2004, 84 p...38

    Figura 2Exemplo de armrio. Fonte: Barros (2000), 54 p..........................................41

    Figura 3- Assento com braos. Fonte: Rashko (1991), 220 p......................................43

    Figura 4Boxe para chuveiro com barra de apoio em L. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,

    72 p..............................................................................................................44

    Figura 5-Boxe para chuveiro que permite a entrada de cadeira de banho. Branson

    (1991), 42 p. e editado por Daniela Milani....................................................44

    Figura 6Cadeira de banho. Fonte: Rashko (1991), 238 p........................................44

    Figura 7Planta da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.......................................................52

    Figura 8Porta de entrada da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani......................................53

    Figura 9Rampa no corredor de acesso. Fonte: Daniela Milani................................53

    Figura 10 e 11Quarto. Fonte: Daniela Milani...........................................................53

    Figura 12Armrio. Fonte: Daniela Milani..................................................................54

    Figura 13Vestirio. Fonte: Daniela Milani.................................................................54

    Figura 14-Boxe para idoso dependente. Fonte: Daniela Milani.................................54

    Figura 15Boxe para chuveiros. Fonte: Daniela Milani..............................................54

    Figura 16Boxe para bacia sanitria. Fonte: Daniela Milani......................................55

    Figura 17Boxe com chuveiro. Fonte: Daniela Milani................................................55

    Figura 18Boxe para cadeirante. Fonte: Daniela Milani............................................55

    Figura 19Refeitrio. Fonte: Daniela Milani...............................................................55

    Figura 20 e 21Piso irregular na rea externa. Fonte: Daniela Milani.......................55

    Figura 22-Equipamentos de ginstica. Fonte: Daniela Milani....................................56

    Figura 23-Horta. Fonte: Daniela Milani.......................................................................56

    Figura 24Corte do vestirio com alturas de instalao dos acessrios e peas

    sanitrias. Fonte: Daniela Milani.................................................................62

    Figura 25Proposta para adequao dos vestirios. Fonte: Daniela Milani..............69

    Figura 26Jardim central da ILPI 2. Fonte: Daniela Milani.........................................74

    Figura 27Sala de convivncia. Fonte: Daniela Milani...............................................75

    Figura 28Biblioteca. Fonte: Daniela Milani...............................................................75

    Figura 29Salo de jogos. Fonte: Daniela Milani.......................................................75

    Figura 30Refeitrio. Fonte: Daniela Milani...............................................................75

    Figura 31Croqui de quarto de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani.........76

  • VI

    Figura 32Quarto de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani.........................77

    Figura 33Quarto de idoso independente. Fonte: Daniela Milani..............................77

    Figura 34 a 36Banheiro de idoso semidependente. Fonte: Daniela Milani......79 e 78

    Figura 37 a 38Banheiro de idoso independente. Fonte: Daniela Milani...........80 e 81

    Figura 39Projeto do criado-mudo. Fonte: ILPI 2......................................................83

    Figura 40Projeto do armrio. Fonte: ILPI 2..............................................................83

    Figura 41Projeto da cmoda. Fonte: ILPI 2..............................................................84

    Figura 42Exemplo de iluminao pontual para leitura e intalao de interruptores e

    sinalizao de emergncia prximo a cama. Fonte: Daniela Milani...........91

    Figura 43rea de aproximao da bacia sanitria. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,

    66p..............................................................................................................94

    Figura 44Boxe para chuveiro com 0,95 m por 0,90 m. Fonte: ABNT NBR 9050:2004,

    72 p..............................................................................................................94

    Figura 45-Boxe para chuveiro que permite a entrada de cadeira de banho. Branson

    (1991), 42 p. e editado por Daniela Milani....................................................94

    Figura 46Chuveiro com regulagem de altura. Fonte: Daniela Milani........................95

    Figura 47Barras de apoio lateral e de fundo. Fonte: ABNT NBR 9050:2004, 67 p..96

    Figura 48Assento sanitrio com barras laterais da marca Praxis............................96

    Figura 49Exemplo de bancada. Fonte: Daniela Milani.............................................97

    Lista de Quadros

    Quadro 1-Variveis analisadas na APO da ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.................49

    Quadro 2-Comparao entre iluminao exigida por norma e a encontrada na ILPI1.

    Fonte: Daniela Milani...................................................................................56

    Quadro 3-Comparao entre o nvel de rudo recomendado por norma e o encontrado

    na ILPI 1. Fonte: Daniela Milani...................................................................57

    Quadro 4-Comparao entre a temperatura e umidade relativa do ar recomendado

    por Iida (2005) e o encontrado na ILPI 1. Fonte: Daniela Milani.................58

  • Sumrio

    Agradecimentos ................................................................................................... I

    Resumo............................................................................................................... II

    Abstract .............................................................................................................. III

    Lista de Abreviaturas e Siglas ........................................................................... IV

    Lista de Tabelas ................................................................................................ IV

    Lista de Imagens ................................................................................................ V

    Lista de Quadros ............................................................................................... VI

    Captulo 1 Introduo ....................................................................................... 1

    1.1 Colocao do tema e justificativa .............................................................. 2

    1.2 Objetivos .................................................................................................... 6

    1.3 Metodologia ............................................................................................... 6

    1.4 Apresentao dos captulos....................................................................... 7

    Captulo 2 Referencial conceitual para o idoso do ponto de vista da sade .... 9

    2.1 Consideraes sobre o idoso .................................................................... 9

    2.1.1 O Processo de envelhecimento ......................................................... 13

    2.2 Quedas .................................................................................................... 16

    2.2.1 Perfil das vtimas e fatores de risco ................................................... 17

    2.2.2 Consequncias para a capacidade funcional na vida cotidiana ........ 19

    2.2.3 Riscos ambientais: o espao construdo e seus componentes ......... 21

    2.2.4 Quedas e o idoso residente em instituio de longa permanncia.... 22

    2.3 Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade

    CIF ................................................................................................................ 24

    2.4 Tecnologia Assistiva ................................................................................ 26

    2.4.1 Eficincia no aumento da capacidade funcional ................................ 28

  • Captulo 3 Referencial conceitual para o projeto e o espao ......................... 31

    3.1 Desenho universal ................................................................................... 31

    3.2 Ergonomia ............................................................................................... 35

    3.3 Normas tcnicas e manuais..................................................................... 37

    3.3.1 Quartos .............................................................................................. 39

    3.3.2 Banheiros .......................................................................................... 41

    3.3.3 Algumas consideraes .................................................................... 45

    Captulo 4 Estudos de caso ........................................................................... 47

    4.1 ILPI 1 ....................................................................................................... 48

    4.1.1 Metodologia ....................................................................................... 48

    4.1.2 Levantamento tcnico e funcional ..................................................... 50

    4.1.3 Conforto lumnico .............................................................................. 56

    4.1.4 Conforto acstico............................................................................... 57

    4.1.5 Conforto trmico ................................................................................ 58

    4.1.6 Acessibilidade ................................................................................... 59

    4.1.7 Quedas .............................................................................................. 62

    4.1.8 Ponto de vista dos responsveis pela instituio .............................. 65

    4.1.9 Diagnstico ........................................................................................ 67

    4.1.10 Recomendaes.............................................................................. 68

    4.2 ILPI 2 ....................................................................................................... 70

    4.2.1 Procedimentos .................................................................................. 72

    4.2.2 Levantamento tcnico e funcional das reas comuns ....................... 72

    4.2.3 Levantamento tcnico e funcional dos quartos ................................. 75

    4.2.4 Poltica de preveno de quedas ...................................................... 81

    4.2.5 Consideraes sobre a ILPI 2 ........................................................... 84

    4.3 Algumas Consideraes dos Estudos de Caso ....................................... 85

  • Captulo 5 Recomendaes para o quarto e o banheiro do idoso

    institucionalizado ............................................................................................... 87

    5.1 Premissas de projeto ............................................................................... 88

    5.2 Princpios bsicos ao projetar para o idoso institucionalizado ................. 89

    5.3 Parmetros de projeto para o quarto ....................................................... 90

    5.3.1 Ambiente ........................................................................................... 90

    5.3.2 Mobilirio ........................................................................................... 92

    5.4 Parmetros de projeto para o banheiro ................................................... 92

    5.4.1 Ambiente ........................................................................................... 93

    5.4.2 Mobilirio ........................................................................................... 94

    5.5 Consideraes finais ............................................................................... 98

    Bibliografia ...................................................................................................... 100

    Glossrio ......................................................................................................... 105

    Apndice A...................................................................................................... 107

    Apndice B...................................................................................................... 108

  • 1

    Captulo 1 Introduo

    A capacidade funcional de uma pessoa pode ser afetada por uma srie de

    fatores, entre eles ambientais e pessoais, reduzindo seu desempenho para realizar

    tarefas cotidianas com autonomia.

    Segundo a CIF (2004), a incapacidade resultante da interao entre a

    disfuno apresentada pelo indivduo (seja orgnica e / ou da estrutura do corpo), a

    limitao de suas atividades e a restrio na participao social e de fatores

    ambientais, que podem atuar como facilitadores ou barreiras para o desempenho

    dessas atividades e da participao.

    Limitaes de ordem fsica construtiva, ou de carter perceptivo que interfiram

    nos modos de uso do ambiente construdo, na escala urbana, ou nas edificaes,

    dificultando a realizao das Atividades da Vida Diria (AVDs) podem levar a um

    quadro de dependncia ou incapacidade, que em alguns casos interferem

    negativamente na relao com a famlia e a sociedade.

    Com o processo natural de envelhecimento as pessoas vo adquirindo algumas

    limitaes fsicas, psicossociais e cognitivas, que em conjunto com as barreiras

    ambientais, arquitetnicas e de design (de produto e visual), podem gerar ou aumentar

    situaes de dependncia, insegurana no uso, ou causar acidentes (como as

    quedas), podendo ocasionar danos importantes, e s vezes irreversveis, sade do

    idoso.

    Este trabalho levanta, analisa e apresenta algumas consideraes sobre

    parmetros e recomendaes para a configurao do quarto e do banheiro do idoso

    residente em instituies de longa permanncia, de forma a garantir um ambiente sem

    barreiras fsicas, visando minimizar a interferncia, do ponto de vista negativo, na

    capacidade funcional dessas pessoas. Foram estudadas e consideradas no apenas

    as caractersticas e condicionantes fsicas, espaciais, de conforto ambiental, de uso e

    configurao dos espaos, mas tambm o mobilirio e as instalaes usualmente

    encontrados nesses ambientes.

    Para essa pesquisa foi considerada a realidade de instituies de longa

    permanncia brasileiras relatadas em artigos cientficos da rea de enfermagem e de

    dados coletados em levantamentos realizados em duas instituies na cidade de So

  • 2

    Paulo, onde foram feitos estudos de caso abordando principalmente aspectos tcnico-

    funcionais, de conforto ambiental e comportamentais.

    A pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo que na primeira foi levantado o

    referencial conceitual e bibliogrfico sobre o idoso, o processo de envelhecimento,

    questes relacionadas s quedas, tecnologia assistiva, desenho universal, ergonomia

    e normas e manuais que abordam o tema. Em um segundo momento foram feitos dois

    estudos de caso com o objetivo de conhecer a rotina e os problemas encontrados em

    instituies de longa permanncia. Aps a concluso dessas duas etapas as

    informaes foram sistematizadas e analisadas, resultando nos parmetros e

    recomendaes encontrados no captulo 5 desta dissertao.

    A sade e autonomia do idoso, assim como os problemas referentes as quedas,

    so temas largamente pesquisados pelos profissionais da rea da sade, mas so

    pouco conhecidos e estudados por arquitetos e designers. O conhecimento j

    acumulado pela rea da sade pode auxiliar no entendimento das dificuldades e

    limitaes do usurio trazendo melhorias aos projetos na rea de design e arquitetura.

    A difuso de conceitos como a arquitetura inclusiva e o design para todos,

    compem este estudo, contribuindo com referncias e conhecimentos que referendam

    a necessidade de conhecer melhor os diferentes tipos de usurios, e em especial, os

    idosos abordados nesta dissertao.

    1.1 Colocao do tema e justificativa

    O envelhecimento populacional um fenmeno mundial cujas repercusses j

    podem ser percebidas na sociedade brasileira. Segundo IBGE (2010), no perodo de

    1999 a 2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da

    populao passou de 9,1% para 11,3%, fenmeno que pode ser explicado por uma

    taxa de fecundidade abaixo do nvel de reposio populacional, combinada com

    outros fatores, tais como os avanos da tecnologia, especialmente na rea da sade.

    Este um tema que cada vez mais dever ser pensado e discutido devido

    necessidade de garantir qualidade de vida e bem-estar a esse contingente de

    cidados que com frequncia convivem com a reduo de suas capacidades

    funcionais e requerem cuidados especiais.

    Batista et al. (2008) fazem uma anlise de como outros pases esto enfrentando

    a questo do envelhecimento populacional e o consequente aumento de pessoas com

  • 3

    dependncias. Essa anlise demonstra que os pases estudados vm usando

    diferentes formas de definir a dependncia, incluindo critrios distintos e diversas

    metodologias de avaliao, o que ressalta a dificuldade de determinar o nvel de

    restries a autonomia e independncia de uma pessoa para a realizao de

    atividades cotidianas. Exemplo disso pode ser observado em iniciativas com

    diferentes critrios, como o utilizado pelo governo alemo que caracteriza a situao

    de dependncia em funo do tempo de ajuda diria de que a pessoa dependente

    precisa, enquanto na Frana a classificao de dependncia se d em funo do tipo

    de ajuda de que a pessoa necessita. O Conselho da Europa1 considera dependentes

    as pessoas que, por razes associadas reduo ou mesmo falta daquelas

    capacidades, tm necessidade de serem assistidas e / ou ajudadas para a realizao

    das atividades dirias, implicando na presena de pelo menos outra pessoa que

    realize atividades de apoio.

    Considera-se que para garantir uma melhor qualidade de vida ao idoso

    necessrio protelar o incio das doenas crnicas, expandindo o tempo de vida

    saudvel e reduzindo o tempo de incapacidades, sendo importante para isso entender

    os fatores que interferem na capacidade funcional de forma a buscar medidas que

    visem prolongar sua independncia.

    Segundo a CIF (2004), a funcionalidade de um indivduo em um domnio

    especfico uma interao ou relao complexa entre a condio de sade, fatores

    ambientais, que consistem no ambiente fsico, social e atitudinal no qual as pessoas

    vivem e conduzem sua vida, e fatores pessoais, que so o histrico particular da

    existncia e do estilo de vida de um indivduo. Esses fatores tm uma interao

    dinmica onde uma interveno em um elemento pode modificar um ou vrios outros

    elementos. Um exemplo dessa relao quando um indivduo apresenta capacidade

    de executar uma determinada atividade, mas no consegue desempenh-la devido a

    alguma barreira fsica ou psicolgica.

    1 O Conselho da Europa, atualmente com 43 Estados membros, uma organizao internacional

    pioneira em matria de cooperao jurdica, desempenhando um importante papel na modernizao e harmonizao das legislaes nacionais, no respeito pela democracia, pelos direitos do homem e pelo Estado de direito. As suas atividades neste domnio privilegiam a busca de solues comuns para tornar a justia mais eficaz e resolver os novos problemas jurdicos e ticos que se colocam s sociedades modernas, tendo expresso por meio de dois instrumentos jurdicos principais: as Convenes e as

    Recomendaes.

  • 4

    O foco principal dessa pesquisa partiu da relao entre o ambiente construdo,

    o mobilirio contido no mesmo e a capacidade funcional do idoso em desempenhar

    AVDs. A escolha pelos ambientes, quarto e banheiro, se deu pela constatao da

    grande incidncia de quedas de idosos institucionalizados nesses ambientes como

    demonstrado em alguns estudos feitos no Brasil2.

    A queda um problema importante em idosos por acarretar com frequncia

    consequncias como a diminuio da capacidade funcional e quadros de dependncia

    que afetam significantemente a sua qualidade de vida. Fabrcio, Rodrigues e Costa

    Junior (2004) ressaltam que pessoas de todas as idades apresentam risco de sofrer

    queda, porm, para os idosos, elas possuem um sentido muito relevante, pois podem

    leva-lo incapacidade, injria e morte. Seu custo social imenso e torna-se maior

    quando o idoso tem diminuio da autonomia e da independncia ou passa a

    necessitar de institucionalizao.

    Idosos institucionalizados apresentam maior probabilidade de sofrer quedas,

    pois se encontram mais fragilizados dos pontos de vista social, cultural e fisico,

    apresentam diminuio da capacidade funcional e necessitam de maiores cuidados,

    como observado por Carvalho, Luckow e Siqueira (2011) e Fabrcio, Rodrigues e

    Costa Junior (2002).

    Segundo Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218),

    existem fatores de risco intrnsecos, compostos por alteraes fisiolgicas do

    processo do envelhecimento, doenas especficas e uso de medicamentos, e fatores

    de risco extrnsecos, provenientes do ambiente, que esto relacionados ocorrncia

    de quedas. Dessa forma deve-se pensar o ambiente construdo e a composio do

    sistema de objetos contidos no mesmo no apenas como possveis causadores de

    situaes de risco, mas tambm pensando-os de forma a reduzir as consequncias

    das quedas. Em alguns casos o ambiente pode no ter sido a causa do acidente, mas

    ao cair, o idoso pode se machucar seriamente em mveis pontiagudos ou se apoiar

    em estantes instveis que podem tombar sobre ele agravando o caso.

    Durante a pesquisa procurou-se identificar quais as principais causas de queda

    em idosos, no contexto geral de vida cotidiana e no caso especfico das instituies

    de longa permanncia, analisando a participao de barreiras ambientais nesse

    2 Ferreira e Yoshitome (2010), Carvalho, Luckow e Siqueira (2011), Gonalves et al (2010) e

    lvares, Lima e Silva (2010).

  • 5

    evento e de como este problema pode ser evitado, do ponto de vista de profissionais

    da rea da sade como TOs, fisioterapeutas, enfermeiros e mdicos, buscando

    diminuir os riscos e as consequncias da queda na capacidade funcional do idoso,

    promovendo a manuteno da qualidade de vida.

    Uma ferramenta importante para auxiliar nas AVDs melhorando a capacidade

    funcional e aumentar a segurana em atividades cotidianas a Tecnologia Assistiva

    (TA). Artigos como Lansley, McCreadie e Tinker (2004) e Andrade e Pereira (2009)

    relatam que o uso de TA por idosos melhora o desempenho funcional em atividades

    cotidianas e contribui para a diminuio da dependncia durante o cuidado pessoal e

    promove o aumento da privacidade com consequente reduo da necessidade de

    auxlio de cuidadores. Estudos como Lord, Menz e Sherrington (2006) e Andrade e

    Pereira (2009) demonstram que com o uso de TA vrios aspectos fsicos so

    melhorados contribuindo para a preveno ou diminuio do risco de quedas.

    Dada a eficincia da TA no aumento da capacidade funcional e na segurana,

    diminuindo o risco de quedas, na pesquisa foram levantadas e analisadas no apenas

    as caractersticas e condicionantes dos espaos, mas tambm do mobilirio e das

    instalaes usualmente encontrados nesses ambientes, identificando recursos de TA

    que possam auxiliar nas AVDs, melhorando a capacidade funcional e proporcionando

    maior autonomia ao idoso.

    Colocou-se assim a questo central desta pesquisa que procura respostas para

    a seguinte indagao: Quais so os parmetros recomendveis para a configurao

    do quarto e do banheiro do idoso institucionalizado, incluindo mobilirio e instalaes

    necessrias para a vida diria, buscando garantir sua segurana e prolongar sua

    capacidade funcional?

    Tendo em vista a complexidade do assunto e a diversidade do pblico alvo este

    trabalho focou o contexto do idoso residente em instituies de longa permanncia,

    com ateno sade e o ponto de vista dos profissionais da rea, buscando subsdios

    e informaes tcnicas e operativas obtidas por meio de estudos de caso, que

    complementados por dados secundrios obtidos em normas de acessibilidade e na

    bibliografia pertinente ao tema, levaram a algumas consideraes e respostas que

    buscam esclarecer a indagao fundamental definida acima, e podem contribuir para

    a atuao de profissionais de arquitetura e de design em projetos e propostas com

    qualidades e uma atuao responsvel, no tema e recorte desta dissertao.

  • 6

    1.2 Objetivos

    Esse trabalho teve como objetivo principal investigar e levantar parmetros

    recomendveis para a configurao do quarto e do banheiro do idoso residente em

    instituies de longa permanncia, buscando garantir e prolongar situaes de vida

    cotidiana com segurana e autonomia ao usurio. Foram estudados e considerados

    critrios de antropometria (com abordagens dentro do campo da ergonomia), conforto

    ambiental, psicologia e limitaes cognitivas que caracterizam esta faixa etria. Para

    alcanar o objetivo principal foram estabelecidos objetivos especficos que em

    conjunto com o principal, forneceram as informaes necessrias para a concluso

    da pesquisa.

    Primeiramente buscou-se levantar, estudar e analisar parmetros e

    recomendaes atuais e j formuladas para a configurao do quarto e do banheiro

    do idoso segundo a ABNT NBR 9050, RDC/ANVISA n 283, a ICC/ANSI A117.1, e

    tambm os disponveis na bibliografia especializada para identificar propostas e

    projetos que tm como objetivo garantir e prolongar situaes de vida cotidiana com

    segurana e autonomia ao usurio.

    Tambm foi estudado o processo de envelhecimento com nfase nas perdas

    sensoriais e motoras. A bibliografia exps a queda como um importante problema para

    a manuteno da autonomia do idoso, e assim, buscou-se identificar as principais

    causas desse evento, no contexto geral de vida cotidiana e no caso especfico das

    instituies de longa permanncia. O procedimento de pesquisa adotado foi o de

    coletar dados atravs de estudos de caso e de reviso bibliogrfica, de forma a

    analisar a participao de barreiras ambientais nesse evento e como o problema pode

    ser evitado.

    Com essas informaes foi possvel sistematizar, analisar e propor as diretrizes

    mais relevantes para o projeto do quarto e do banheiro do idoso institucionalizado,

    dando ateno especial a preveno de quedas, a segurana e autonomia do usurio.

    1.3 Metodologia

    A metodologia foi baseada em mtodos de pesquisa terica, documental e

    emprica. A primeira parte da pesquisa se caracterizou pela busca de dados

    secundrios procurando levantar o embasamento e conhecimento da rea da sade

    pertinentes ao tema, as recomendaes propostas, em vigncia, ou utilizadas sobre

  • 7

    o arranjo espacial e funcional, qualificado e mediado por objetos da vida cotidiana,

    sobre parmetros e padres existentes para o banheiro e o quarto do idoso, nas

    normas e manuais de acessibilidade ou especficos para idosos. Esse levantamento

    bibliogrfico deu subsdio para a segunda etapa da pesquisa que consistiu na

    obteno de dados primrios por meio de estudos de caso em instituies de longa

    permanncia para idosos.

    Nos estudos de caso foram feitas visitas tcnicas s instituies selecionadas

    para analisar a estrutura e os procedimentos do servio prestado, e as condies

    espaciais e ambientais oferecidas aos residentes no momento da pesquisa, alm de

    obter informaes sobre como os idosos se relacionam com o espao oferecido e

    quais os planos futuros dos residenciais quanto ao espao fsico.

    As instituies pesquisadas foram nomeadas como ILPI1 e ILPI 2, sendo que na

    primeira foi utilizado para o estudo de caso procedimentos da metodologia Avaliao

    Ps-Ocupao (APO), e na segunda foi feito um estgio de observao tcnica

    acompanhando a vivencia e as rotinas dirias. Os mtodos e justificativa deste

    caminho de investigao para os estudos de caso esto expostos detalhadamente no

    captulo 4 desta dissertao. A partir dessas informaes foi possvel estabelecer

    relaes entre o que as normas recomendam, o que est sendo feito na prtica nessas

    instituies, e como os idosos se relacionam com os espaos, mobilirio e TA, visando

    identificar possveis critrios de projeto.

    Aps reunir esse material foi possvel analisar as informaes para identificar,

    apontar e organizar as diretrizes mais relevantes para o projeto do quarto e do

    banheiro na perspectiva de conferir segurana e autonomia no uso cotidiano.

    1.4 Apresentao dos captulos

    A dissertao foi dividida em cinco captulos, sendo este primeiro de introduo

    com a apresentao e justificativa do tema, objetivos e a metodologia da pesquisa.

    Os captulos 2 e 3 apresentam conceitos e vises importantes expressos na

    bibliografia para dar embasamento a pesquisa.

    O captulo 2 traz consideraes sobre o idoso e o processo de envelhecimento.

    A relevncia das quedas na reduo da capacidade funcional ai enfatizado,

    fornecendo dados sobre o perfil das vtimas, fatores de risco e consequncias para a

  • 8

    vida cotidiana. Tambm apresentado o conceito de TA e sua eficincia na reduo

    de risco de acidentes e no aumento da capacidade funcional.

    No terceiro captulo so apresentados os conceitos e contedos pertinentes a

    este estudo sobre desenho universal e ergonomia, consideradas duas reas de

    estudo que fornecem informaes fundamentais sobre o usurio e o espao em que

    ele se relaciona. Na segunda parte do captulo so apresentadas e discutidas normas

    e manuais que abordam temas diretamente relacionados ao estudo, tais como

    acessibilidade, residncias para idosos e instituies de longa permanncia.

    Buscando conhecer o atendimento, as caractersticas e as campanhas de

    preveno de quedas de instituies de longa permanncia para idosos, foram

    realizados dois estudos de caso que so apresentados no captulo 4. Foram

    estudadas instituies que apresentam propostas e pblico diferentes, dando um

    quadro abrangente, mas diverso sobre a realidade do idoso institucionalizado.

    As informaes levantadas e apresentadas nos captulos 2, 3 e 4 foram

    sistematizadas e analisadas sendo apresentadas as concluses do trabalho no

    captulo 5 com as recomendaes para o quarto e o banheiro do idoso

    institucionalizado.

  • 9

    Captulo 2 Referencial conceitual para o idoso do ponto de vista da

    sade

    2.1 Consideraes sobre o idoso

    Embora a Organizao Mundial de Sade (OMS) defina a populao idosa como

    aquela a partir de 60 anos de idade para pases em desenvolvimento, a idade

    cronolgica pode no corresponder com a idade fisiolgica. Segundo Assis (2004, in:

    SALDANHA & CALDAS, 2004, p.11):

    [...] o envelhecimento humano um fato reconhecidamente

    heterogneo, influenciado por aspectos socioculturais, polticos e

    econmicos, em interao dinmica e permanente com a dimenso

    biolgica e subjetiva dos indivduos. Desta forma, a chegada da

    maturidade e a vivncia da velhice podem significar realidades

    amplamente diferenciadas, da plenitude decadncia, da gratificao

    ao abandono, sobretudo em presena de extremas disparidades

    sociais e regionais como as que caracterizam o Brasil contemporneo.

    Da mesma forma, o conceito de expectativa e qualidade de vida no andam

    juntos necessariamente. Para o IBGE, expectativa de vida significa quantos anos, em

    mdia, as pessoas podem viver, sendo que no Brasil em 2012 esse valor era de 74,6

    anos3, no entanto, viver mais tempo no significa viver com qualidade e em alguns

    casos acaba-se prolongando doenas e aumentando a proporo de pessoas com

    incapacidades.

    Segundo os pensamentos dos autores Ribeiro et al. (2008) e Vecchia et al.

    (2005), qualidade de vida pode ser entendida como uma representao social com

    parmetros objetivos, como satisfao das necessidades bsicas, originadas e

    inseridas num contexto que considera o grau de desenvolvimento econmico e social

    da sociedade, mas tambm parmetros subjetivos, como bem-estar, felicidade, amor,

    prazer e realizao pessoal. Ao analisar a qualidade de vida preciso considerar

    tambm fatores polticos e de desenvolvimento humano.

    3Dados obtidos do site do IBGE. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 01 mai. 2014.

  • 10

    Resumidamente, qualidade de vida pode ser definida como a percepo do

    indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos

    quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes.

    possvel notar como os aspectos socioculturais e econmicos influenciam na

    expectativa e na qualidade de vida, no pas, analisando as estatsticas do IBGE.

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) 2009, a populao

    idosa em 2009 era de 11,3% da populao nacional, sendo a maioria desses idosos

    branca e constituda por mulheres.

    O fato da maioria da populao idosa ser branca pode ser atribudo ao maior

    acesso educao, sistema de sade e qualidade das moradias. J a maioria

    feminina na populao idosa pode ser explicada pela forma como as mulheres

    conduzem suas vidas, dando mais ateno sade e correndo menos riscos, como

    levanta Veras (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.7).

    [...] a maioria feminina devida a diversos fatores, tais como, menor

    consumo de lcool e tabaco, que so associados a doenas

    cardiovasculares e diferentes tipos de neoplasias [...]; diferenas na

    atitude em relao s doenas as mulheres tm, de modo geral,

    melhor percepo da doena e fazem uso mais constante dos servios

    de sade do que os homens. possvel que a deteco precoce e

    melhor tratamento de doenas crnicas nas mulheres contribuam para

    um prognstico melhor [...]; e diferenas na exposio a risco

    acidentes domsticos e de trabalho, acidentes de trnsito, homicdios

    e suicdios so mais frequentes para homens do que para as mulheres

    [...].

    possvel ver como a percepo do indivduo de sua posio na vida no

    contexto da cultura e sistemas de valores realmente interfere na qualidade de vida

    quando analisamos a avaliao subjetiva do estado de sade realizada pelo

    levantamento suplementar de sade do PNAD 2009, em que, apesar de 77,4% dos

    idosos terem declarado sofrer de doenas crnicas, 45,5% considera seu estado de

    sade muito bom ou bom. Apenas 12,6% disseram ter a sade ruim ou muito ruim,

    em especial, os idosos com 75 anos ou mais, os de cor negra ou parda e os que viviam

    com renda familiar de at meio salrio mnimo.

  • 11

    Desses dados possvel notar que apesar da presena de doenas crnicas e

    os problemas correlatos ou relacionados s mesmas, dependendo de como o

    indivduo se v perante a si e a sociedade, possvel manter a independncia, a

    produtividade, a participao social entre outros diversos fatores que influenciam na

    qualidade de vida.

    Entre as doenas crnicas citadas pelos entrevistados, a hipertenso a que

    mais se destaca em todos os subgrupos de idosos. Doenas como dores de coluna e

    artrite ou reumatismo aparecem tambm com bastante frequncia.

    Com o aumento do tempo de vida, observa-se um crescimento populacional das

    pessoas idosas e muito idosas, assim como das dependentes. Paralelamente,

    observam-se expressivas mudanas nos arranjos familiares. Com a queda da taxa de

    natalidade, a consequente reduo do nmero de filhos por famlia, e o fato de muitos

    jovens migrarem para outros locais em busca de oportunidades melhores de estudo e

    trabalho, houve uma expressiva diminuio do nmero de cuidadores potenciais

    dentro da prpria famlia. Esta situao impe e conduz ao desafio de incorporar o

    tema do envelhecimento populacional s polticas pblicas, e de implementar aes

    de cuidado para esse contingente populacional.

    Outros problemas de sade, tambm esto presentes no processo de

    envelhecimento como as doenas crnicas e as quedas. Desse modo, como dizem

    Ribeiro et al. (2008), o conceito de sade para este grupo populacional no pode se

    basear no parmetro de completo bem-estar fsico, psquico e social preconizado pela

    Organizao Mundial de Sade, mas deve ser regido pelo paradigma da capacidade

    funcional4.

    Siqueira et al. (2007) citam que o envelhecimento populacional e o aumento da

    ocorrncia de doenas crnico-degenerativas, provocam a necessidade da

    preparao e adequao dos servios de sade, incluindo a formao e capacitao

    de profissionais para o atendimento desta nova demanda.

    Para se encontrar o equilbrio entre expectativa de vida e qualidade de vida

    necessrio estabelecer condies de sade e cuidados, para protelar o incio das

    doenas crnicas expandindo o tempo de vida saudvel, reduzindo o tempo de

    incapacidade e, quando no for possvel, dar condies para garantir uma vida

    melhor, mais digna, mesmo com um quadro de incapacidade, facilitando o acesso

    4 Ver definio no glossrio desta dissertao.

  • 12

    TA e ao tratamento adequado. Para isso, o cuidado com a sade deve comear antes

    da manifestao da doena ou do avano etrio, com medidas preventivas

    incentivadas por polticas pblicas extensveis e acessveis a todas as camadas da

    populao, promovendo a insero ativa dos idosos na vida social.

    Em um estudo realizado em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada (Ipea) e publicado pela previdncia social, Batista et al. (2008) ressaltam que

    conhecer a realidade do idoso brasileiro um passo fundamental para a construo

    de polticas que visam garantir seus direitos e necessidades. Porm uma grande

    dificuldade encontrada para pensar em polticas adequadas realidade brasileira a

    ausncia de investigaes que permitam desvendar a realidade da dependncia entre

    os idosos brasileiros. Torna-se necessrio realizar estudos que permitam aprofundar

    o conhecimento sobre as caractersticas das diferentes situaes de dependncia

    funcional, bem como sobre o atendimento que lhes prestado em instituies de longa

    permanncia.

    Alguns pases como Alemanha, Frana, Japo, Sucia e Espanha j

    desenvolveram programas voltados para os idosos em situao de dependncia, nos

    seus distintos contextos de evoluo dos sistemas de proteo social, entretanto, a

    forma de compreender e analisar a situao de dependncia do indivduo ainda no

    consensual.

    No Brasil o dimensionamento da dependncia entre os idosos brasileiros bem

    como o conhecimento de suas necessidades esto limitados pela inexistncia de um

    sistema de classificao da dependncia que estabelea graus diferenciados,

    conforme as limitaes funcionais previstas, que possam ser aplicados s pesquisas

    demogrficas e aos levantamentos sobre condies de vida da populao, para o

    desenho de polticas voltadas para este grupo.

    Apesar da falta de informaes precisas sobre a realidade do idoso brasileiro, o

    Brasil tem avanado no desenvolvimento de polticas pblicas e de instrumentos de

    ao voltados para esta populao, como a Poltica Nacional do Idoso (1994) e a

    criao do Estatuto do Idoso (2003).

    No campo dos servios assistenciais, a Poltica Nacional de Assistncia Social

    (PNAS/2004) e a Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS

    2011) estabeleceram um padro inovador de operacionalizao dos servios. Como

    Proteo Social Bsica, os idosos podem ter atendimento domiciliar e acesso a

  • 13

    centros-dia, que oferecem espaos de convvio, favorecendo um processo de

    envelhecimento ativo e saudvel. J a Proteo Social Especial organiza-se

    atualmente por meio de servios especficos que garantem acolhimento e abrigo ao

    idoso.

    Quanto aos servios de ateno sade, foi em dezembro de 1999, com a

    aprovao da Poltica Nacional da Sade do Idoso, que as aes comearam a ganhar

    concretude. Em 2002, o Ministrio da Sade criou mecanismos para a organizao e

    implantao de Redes Estaduais de Assistncia Sade do Idoso, buscando gerar

    aes de preveno, promoo, proteo e recuperao da sua sade. E em outubro

    de 2006 foi lanada uma nova Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa, buscando

    instituir efetiva prioridade em torno do tema e mobilizar as trs esferas do governo

    nesse sentido. Entretanto, as aes pblicas e organizacionais difundidas no pas,

    ainda so tmidas e localizadas, deixando de atingir a maioria de pessoas nesta

    condio.

    Portanto, considera-se que ao lado dos avanos da medicina, do aumento da

    populao mundial de idosos e de mudanas em curso na estrutura da composio

    familiar domiciliar, necessrio dar mais ateno a esse assunto, buscando protelar

    o incio das doenas crnicas, expandindo o tempo de vida saudvel, dando amparo

    aos que apresentam nveis de dependncia e garantindo qualidade de vida em todas

    as etapas da vida social e cultural. Alguns pases j comearam a se preocupar com

    esse assunto e devem servir de exemplo para outros. O Brasil tem avanado no

    desenvolvimento de polticas pblicas e de instrumentos de ao voltados para a

    populao idosa, mas para ser mais abrangente, eficiente e efetivo ainda necessita

    executar um diagnstico mais preciso da situao do idoso no pas, considerando a

    complexidade e a diversidade econmica e cultural do seu territrio.

    2.1.1 O Processo de envelhecimento

    O envelhecimento definido por Da Motta (2004, in: SALDANHA & CALDAS,

    2004, p.118) como um processo multifatorial, indo do nvel molecular ao fisiolgico e

    morfolgico, com uma importante influncia do meio sobre o contedo gentico,

    influenciado por modificaes psicolgicas e sociais que ocorrem com o passar do

    tempo. Esse processo suscita perdas funcionais que se iniciam por volta dos 30 anos,

    perodo considerado pela medicina como de vitalidade mxima.

  • 14

    Dentre as alteraes no organismo que ocorrem com o envelhecimento esto

    alteraes no sistema imunolgico, sistema nervoso, dficits sensoriais e nos

    mecanismos responsveis pelo equilbrio postural. Como neste estudo o foco se dirige

    mais manuteno da capacidade funcional e preveno de quedas em idosos,

    este captulo aprofundar apenas os efeitos do processo de envelhecimento nos

    rgos dos sentidos, nos mecanismos responsveis pelo equilbrio postural e sistema

    motor, que acarretam prejuzos funcionais e riscos de acidentes.

    Segundo Vasques (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.204), os idosos

    que sofrem com problemas de adaptao aos dficits sensoriais enfrentam o

    preconceito da sociedade, da famlia e amigos, tornando-se introspectivos e cada vez

    mais dependentes para as AVDs. O isolamento social consequente da deficincia leva

    a um aumento do nmero de casos de depresso e demncia. As consequncias

    funcionais desses dficits podem ser reduzidas com a utilizao de TA e adequao

    do ambiente, objetivando a reintegrao do idoso sociedade e consequente melhoria

    na qualidade de vida.

    A diminuio auditiva o dficit sensorial mais prevalente, sendo encontrado em

    mais de 30% das pessoas com mais de 65 anos. As complicaes da surdez so

    isolamento social, quadros de depresso, zumbido, tontura e instabilidade postural

    que levam ao aumento do risco de acidentes e dependncia para AVDs. A TA mais

    indicada para a melhora da audio o aparelho de amplificao auditiva, mas este

    ainda enfrenta problemas de aceitao por parte dos usurios devido a fatores

    estticos e insatisfao com os resultados aps colocao da prtese.

    O paladar e o olfato influenciam diretamente a qualidade de vida dos idosos ao

    reduzirem o prazer proporcionado pelos alimentos, resultando em quadros de

    desnutrio. Outras complicaes decorrentes da perda do olfato e paladar so a

    desidratao, aumento da crie, infeco oral e de ulceraes da mucosa.

    A viso, o sistema proprioceptivo (tato, que informa como e onde estamos

    pisando) e o sistema vestibular (parte do ouvido responsvel pelo equilbrio) tambm

    fazem parte do sistema sensorial e esto diretamente relacionados com o equilbrio

    postural, pois possuem a funo de informar ao crebro relaes e percepes

    decorrentes da posio corporal no espao.

    Segundo Vasques (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.206) e Buksman

    e Vilela (2004, in: SALDANHA & CALDAS, 2004, p.209), a diminuio da viso est

  • 15

    associada ao aumento da dependncia para AVDs e ocorrncia de quedas. A viso

    fundamental para dar noo de profundidade, tipo de superfcie e localizao dos

    objetos e obstculos, alm de informar a posio dos vrios segmentos do corpo em

    relao ao ambiente. As consequncias do processo de envelhecimento na viso so

    a diminuio da sensibilidade ao contraste e para ajustar-se a nveis altos ou baixos

    de iluminao, a diminuio da capacidade de acomodao entre a viso para longe

    e para perto, prejuzo na discriminao de cores e menor adaptao ao escuro.

    Cuidados com o ambiente como um projeto de iluminao adequado, circulao livre

    de obstculos, barras de apoio e corrimos so importantes aliados na preveno de

    acidentes e preservao da independncia em casos de diminuio da viso.

    O sistema proprioceptivo composto por clulas nervosas encontradas em

    tendes, msculos, articulaes e planta dos ps que informam como e onde estamos

    pisando. Informaes sobre o ambiente so importantes para manter o controle

    postural, pois permitem que o corpo mantenha-se ereto e orientado durante o

    movimento, quando essas informaes no so passadas para o crebro de forma

    correta ocorrem problemas no equilbrio postural podendo levar queda. Problemas

    comuns nos idosos como artrose, artrite ou calosidades podem passar informaes

    diferentes possibilitando a alterao do equilbrio.

    O sistema vestibular constitudo pelo componente sensorial, o processador

    central e o componente de controle motor.

    O componente sensorial composto pelo labirinto. No interior do labirinto existe

    um lquido cuja movimentao responsvel pela informao ao sistema nervoso

    central do posicionamento da cabea. comum o idoso apresentar cristais nesse

    lquido causando o mau funcionamento do labirinto que pode ocasionar tontura.

    O processador central interpreta as informaes do labirinto, do sistema visual,

    proprioceptivo e sistema sensorial, gerando estmulos ao componente motor com a

    finalidade de manter o equilbrio. O funcionamento incorreto de alguma parte do

    sistema pode gerar estmulos conflitantes, causando instabilidade postural.

    O componente motor controla o equilbrio atravs de reflexos que mantm

    constante a posio dos olhos e da cabea durante o movimento conseguindo assim,

    uma imagem visual estvel. Tais reflexos tambm determinam contraes

    compensatrias de msculos do pescoo, tronco e membros com a finalidade de

    manter o equilbrio postural.

  • 16

    O sistema motor composto pelos msculos, tendes, articulaes e ossos.

    Para seu bom funcionamento necessrio fora muscular e flexibilidade articular que

    se encontram diminudas na velhice e podem ser agravadas por doenas

    osteoarticulares, insuficincia cardaca e sedentarismo. Problemas no sistema motor

    ocasionam alteraes na marcha que aumentam a probabilidade de quedas. O risco

    de acidentes pode ser reduzido com atividades fsicas e adaptaes no ambiente

    como a ausncia de tapetes e degraus em reas de uso constante, corrimos e TA

    apropriada para cada caso especfico.

    Os problemas ocasionados pelo processo de envelhecimento podem trazer

    prejuzos para a funcionalidade e independncia do idoso, mas podem ser

    minimizados com o uso de TA e ambientes projetados e equipados para oferecer

    maior segurana e conforto ao usurio. necessrio conhecer as consequncias que

    cada dficit provoca na qualidade de vida do idoso, para poder definir as intervenes

    apropriadas a serem feitas, seja no ambiente construdo, seja na prescrio e

    treinamento de TA, visando melhoria na qualidade de vida na terceira idade.

    2.2 Quedas

    Um dos grandes problemas para a independncia e sade do idoso a queda,

    devido sua frequncia e consequncias fsicas e psicolgicas para a qualidade de

    vida, como a necessidade de auxlio para a execuo de atividades dirias, e baixa

    autoestima, que afetam no apenas o idoso, mas tambm sua famlia e a sociedade,

    setores estes aos quais cabem a responsabilidade e a implementao de aes de

    cuidado para esse contingente populacional.

    Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) definem

    queda como o deslocamento no intencional do corpo para um nvel inferior posio

    inicial, com incapacidade de correo em tempo hbil, determinado por circunstncias

    multifatoriais comprometendo a estabilidade.

    No Brasil, cerca de 30% dos idosos sofrem quedas ao menos uma vez ao ano.

    A consequncia mais comum das quedas em idosos so as fraturas, dentre elas as

    mais frequentes so de fmur. Alm de dores e imobilidades provocadas pelas

    quedas, em alguns casos a recuperao do idoso aps o evento exige longos perodos

    de internao que podem acarretar problemas consequentes como infeco no trato

    urinrio, pneumonia, escaras de decbito, entre outros. Buksman e Vilela (2004 In:

  • 17

    Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218), colocam que as quedas constituem um

    problema de sade pblica, pois so responsveis por 12% dos bitos na populao

    idosa, sendo a principal causa de morte acidental nessa faixa etria. Esses nmeros

    demonstram a importncia do assunto e a necessidade de se buscar formas de evitar

    o problema, preservando assim a capacidade funcional do idoso e consequentemente

    sua qualidade de vida.

    Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004) enfatizam que pessoas de todas as

    idades apresentam risco de sofrer queda, porm, para os idosos, elas possuem um

    significado muito relevante, pois podem leva-lo incapacidade, injria e morte. Seu

    custo social alto e torna-se maior quando o idoso tem diminuio da autonomia e da

    independncia ou passa a necessitar de institucionalizao como internao

    hospitalar, por exemplo.

    Para se desenvolver polticas e condutas de preveno necessrio conhecer

    o perfil das vtimas e as causas das quedas, como forma de evitar o acontecimento

    de novos eventos e suas consequncias.

    2.2.1 Perfil das vtimas e fatores de risco

    Os estudos de Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), Siqueira et al. (2007)

    e Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) demonstram um

    consenso quanto ao perfil dos idosos mais suscetveis queda. Nesses estudos

    constata-se ser mais frequente a ocorrncia de queda em mulheres, idosos

    separados, divorciados ou vivos, e idosos do nvel socioeconmico mais baixo. O

    percentual de quedas tambm est associado com o aumento da idade,

    sedentarismo, autopercepo de sade ruim e maior nmero de medicamentos

    referidos para uso contnuo.

    A elevada possibilidade de quedas em idosos separados, divorciados ou vivos

    pode ser explicada pelo cuidado mtuo entre parceiros. Uma possvel interpretao

    para a maior incidncia de quedas em mulheres pode estar na maior expectativa de

    vida delas em relao aos homens, o que resulta em nmero maior de indivduos

    desse gnero com idade avanada, agregando consequentes problemas do

    envelhecimento, como diminuio de fora e utilizao de acentuada quantidade de

    medicamentos, por exemplo. Outro fator de risco ocasionado pela diferena de

  • 18

    expectativa de vida incidncia maior de mulheres vivas morando sozinhas,

    possivelmente mais expostas a riscos.

    O nmero crescente de quedas com o aumento da idade tambm pode estar

    relacionado perda de equilbrio e s alteraes nas massas muscular e ssea,

    trazidos pelo processo de envelhecimento. Uma das formas de minimizar essa perda

    a prtica de atividades fsicas.

    importante que os idosos se mantenham ativos fisicamente e socialmente, o

    que pode ser incentivado com a existncia de centros de lazer e convivncia especiais

    ou integrados a outros recursos socioculturais ou assistenciais. Ao se socializarem

    trocam informaes sobre cuidados com a sade, exercitam a memria e a cognio

    e incentivam os demais a preservarem uma vida ativa e saudvel.

    Para Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218), existem

    fatores de risco intrnsecos, prprios da pessoa, e fatores de risco extrnsecos, como

    os ambientais, que esto relacionados ocorrncia de quedas.

    Os fatores intrnsecos so compostos por alteraes fisiolgicas do processo do

    envelhecimento, doenas especficas e medicamentos. As alteraes do

    envelhecimento so os dficits sensoriais e limitaes do sistema motor. As doenas

    especficas consideradas como fatores de risco so doenas cardiovasculares,

    neurolgicas, endcrinas, pulmonares e outros distrbios como psiquitricos, anemia,

    hipotermia e infeces graves. Os medicamentos que podem estar relacionados

    ocorrncia de quedas so sedativos, antipsicticos, antidepressivos,

    anticonvulsivantes, anticolinrgicos, antiarrtmicos, diurticos, hipoglicemiantes, alm

    do uso concomitante de medicaes.

    J os fatores extrnsecos esto relacionados ao ambiente. A maior parte das

    quedas ocorre dentro de casa, principalmente no banheiro, quarto de dormir ou na

    cozinha. Em ambientes domiciliares, mobilirio ou caractersticas construtivas e

    espaciais tais como tapetes soltos, piso escorregadio, iluminao inadequada, muitos

    mveis, obstculos no caminho, cadeiras baixas, degraus altos e ausncia de

    corrimos so comuns causadores de acidentes. Esses problemas sero mais

    perigosos quanto maior for o grau de vulnerabilidade do idoso, alm das situaes de

    instabilidade que possam causar em funo de condies fsicas, perceptivas, de

    posicionamento e de configurao no espao. Geralmente, idosos no caem por

    realizar atividades perigosas, mas sim em atividades rotineiras.

  • 19

    Os riscos ambientais podem ser reduzidos com intervenes no ambiente fsico

    como instalao de elevadores ou rampas; aberturas de portas maiores; uso de

    revestimentos adequados; projeto de iluminao apropriada; e tambm a instalao

    ou uso de TA, que tem por objetivo auxiliar nas atividades dirias aumentando a

    funcionalidade e segurana, visando a autonomia do usurio. No entanto, a eficincia

    das intervenes no ambiente e da TA na reduo das quedas depende da aceitao

    do idoso em utilizar esses recursos, reduzindo assim o comportamento de risco.

    Dificilmente a queda resultado da ocorrncia de um fator isolado, pois

    geralmente esto associados, constituindo vrios fatores de risco. Mesmo que seja

    decorrente de mltiplos fatores, necessrio identificar aquele que efetivamente

    provocou o fato, ou a situao, de modo que se possa prevenir um novo episdio de

    forma eficaz.

    Neste trabalho considera-se fundamental identificar e afastar os fatores

    ambientais que tragam risco de queda, minimizando sua importncia como fator

    principal, na gerao ou induo de situaes de ameaas para os idosos,

    principalmente aqueles com predisposio, em decorrncia de fragilidades de sade.

    Cabe aos cuidadores e profissionais de sade o diagnstico do problema, para que

    em conjunto com arquitetos e designers busquem-se as solues mais adequadas

    para cada caso de forma agradvel e eficiente.

    O ambiente urbano nas cidades brasileiras tambm habitualmente hostil para

    o cidado idoso. Como alguns exemplos comuns cita-se o tempo dos sinais de trnsito

    com tempo insuficiente para uma travessia segura; calamento irregular de caladas,

    e vias com buracos e desnveis muito grandes; acesso aos transportes pblicos

    dificultado por degraus muito altos; iluminao noturna deficiente; alm da falta de

    pacincia e respeito com a figura do idoso;

    2.2.2 Consequncias para a capacidade funcional na vida cotidiana

    O grande problema das quedas est nas consequncias que costumam

    acarretar a reduo da capacidade funcional para realizar atividades cotidianas, com

    consequente diminuio da qualidade de vida. Essa incapacidade para realizar as

    AVDs consequentes de quedas pode trazer tambm, a longo prazo, consequncias

    para seus familiares, que precisam se mobilizar para o tratamento e a recuperao do

    idoso.

  • 20

    Segundo Buksman e Vilela (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 - 218) e

    Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004), a consequncia mais comum so as

    fraturas, sendo a de fmur a mais grave e frequente. A segunda consequncia mais

    relatada o medo de voltar a cair.

    A fratura de fmur causa grande preocupao por sua alta mortalidade e outros

    efeitos, como perda de independncia e imobilidade. O acamamento prolongado pode

    acarretar embolia pulmonar, prolongando o tempo e os recursos para a reabilitao.

    O medo de voltar a cair, ou sndrome ps-queda pode trazer consigo o receio

    de novas quedas e das consequncias inerentes a ela. Esses sentimentos podem

    trazer modificaes emocionais, psicolgicas e sociais como a perda de autonomia e

    independncia para as AVDs, diminuio de atividades sociais, sentimento de

    fragilidade e insegurana. A decorrente percepo de insegurana, tanto por parte do

    idoso quanto por parte da famlia, pode gerar atitudes superprotetoras, limitando as

    aes do indivduo e interferindo negativamente na capacidade funcional, podendo

    levar reduo do desempenho do idoso.

    A tabela 1, retirada do estudo de Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004),

    demonstra que as AVDs mais prejudicadas em decorrncia do aumento da

    dependncia consequente das quedas so deitar/levantar-se da cama, caminhar em

    superfcie plana, tomar banho, caminhar fora de casa, cuidar de finanas, cortar unhas

    dos ps, realizar compras, usar transporte coletivo e subir escadas. Analisando os

    dados da tabela, possvel perceber que as quedas afetam com mais frequncia e

    intensidade a locomoo, dado que as atividades caminhar dentro e fora de casa,

    subir escadas e realizar compras foram as que apresentaram maior aumento de

    pessoas com necessidade de ajuda parcial ou total ou que no conseguem executar

    a tarefa com autonomia aps o evento.

  • 21

    Tabela 1 Percentagem de idosos, segundo nvel de dificuldade para realizao de atividades da vida

    diria, antes e aps a queda, Ribeiro Preto, 2000. Fonte: Fabrcio, Rodrigues e Costa Junior (2004,

    96 p.)

    Portanto o impacto das quedas no desempenho do idoso acarretando aumento

    do nvel de dependncia para a realizao de AVDs muito relevante, ressaltando a

    necessidade de se conhecer as causas e formas de evitar o evento para poder adotar

    campanhas abrangentes de conscientizao e preveno, tendo em vista a

    manuteno da autonomia e qualidade de vida do idoso. Esta perspectiva ser

    aprofundada a seguir nos levantamento apresentados a seguir no captulo 4.

    2.2.3 Riscos ambientais: o espao construdo e seus componentes

    Partindo do princpio de que o espao construdo e seus componentes podem

    estar relacionados ocorrncia de quedas, Lord, Menz e Sherrington (2006) analisam

    a eficincia das intervenes no ambiente para a reduo das mesmas.

    O estudo levanta que os fatores ambientais oferecem maiores risco aos idosos

    com mobilidade reduzida do que aos idosos muito dependentes ou que no

    apresentam reduo da mobilidade. Idosos muito dependentes possuem menor risco

    de quedas porque normalmente so assessorados por outras pessoas ao executarem

    atividades cotidianas, diminuindo o risco de acidentes, e os idosos que no

    apresentam mobilidade reduzida possuem maior possibilidade de recobrar o equilbrio

    e evitar a queda, estando menos suscetveis aos riscos.

    Alm da adaptao do ambiente fsico, a incluso de TA buscando facilitar e

    aumentar a segurana para a execuo de atividades dirias, tambm uma

    ferramenta importante para preveno de queda. No entanto considera-se que a falta

    de especificao tcnica correta do produto, suas qualidades intrnsecas e

  • 22

    caractersticas de instalao no ambiente, ou a falta de treinamento adequado dos

    usurios e cuidadores, alm do aceite do idoso para o uso correto do recurso, este

    pode aumentar o risco de acidentes.

    Segundo Lord, Menz e Sherrington (2006), a existncia de riscos em ambientes

    domsticos por si s insuficiente para causar a queda, atitudes de risco ou

    impulsivas elevam a probabilidade. Essa posio reforada por Buksman e Vilela

    (2004 In: Saldanha e Caldas, 2004, p. 209 218) ao dizerem que o comportamento

    de risco um aspecto que deve ser abordado com habilidade, pois frequentemente o

    idoso no se conscientiza de suas limitaes temporrias ou permanentes, insistindo

    em executar tarefas ou atividades inadequadas e arriscadas para sua condio.

    Portanto, a eficincia da adequao do ambiente de forma a facilitar a mobilidade

    e a incluso de TA, buscando o aumento da capacidade funcional, s eficiente se o

    usurio assume suas limitaes e no adota atitudes de risco. Ou seja, colocar

    corrimo na escada s ser eficiente se for realmente utilizado, assim como usar piso

    antiderrapante e tirar tapetes de reas de circulao reduz o risco de escorregamento

    e tropeos, mas se o idoso no utilizar calado adequado a situao continuar

    existindo.

    Em alguns casos o fator principal causador da queda pode no ser o ambiente

    e sim causas inerentes ao indivduo, o que no o exime de poder agravar as

    consequncias das quedas. Mveis pontiagudos, tampos de vidro, estantes instveis

    e mveis com rodzios, por exemplo, podem ferir o idoso no caso de uma queda,

    agravando danos e perdas. Portanto, mesmo quando o ambiente no se configura

    como possvel causador de queda deve ser pensado de forma a aumentar a

    segurana e diminuir o risco de ferimentos.

    2.2.4 Quedas e o idoso residente em instituio de longa permanncia

    Com o aumento da expectativa de vida, que nem sempre acompanhado de

    qualidade de vida, como j discutido anteriormente nesse estudo, observa-se um

    aumento na populao idosa com algum nvel de dependncia. Ao mesmo tempo

    vimos que ocorreram mudanas expressivas nos arranjos familiares, com a reduo

    da taxa de natalidade e a entrada da mulher no mercado de trabalho, acarretando na

    diminuio da disponibilidade de cuidadores potenciais dentro da prpria famlia.

    Como consequncia dessas mudanas, muitos idosos se vm obrigados a recorrer a

  • 23

    instituies de longa permanncia para terem os cuidados que necessitam

    diariamente e que no conseguem fazer por conta prpria, devido a problemas

    cognitivos, perdas fsicas e motoras, alm de fatores sociais, culturais e econmicos.

    Portanto, idosos institucionalizados, em sua maioria, so fragilizados por

    diferentes enfermidades e muitas delas esto relacionadas diminuio da

    mobilidade, alterao do equilbrio e controle postural, contribuindo para um risco

    maior de quedas. Segundo Ferreira e Yoshitome (2010) a demncia pode aumentar o

    risco de quedas por conta de alteraes da percepo espacial e habilidade de se

    orientar geograficamente.

    Outro fator de grande influncia na elevada incidncia de queda nessas

    instituies a depresso, que pode ser provocada por problemas patolgicos ou pela

    mudana de rotina aps a institucionalizao. Teixeira, Oliveira e Dias (2006)

    levantam que pacientes com diagnstico de depresso apresentam maior prevalncia

    de doenas, maior uso de medicaes antidepressivas, sade pobre e declnio fsico,

    diminuio da autoconfiana, indiferena ao meio ambiente, recluso e inatividade,

    fatores esses que podem explicar a alta incidncia de quedas em idosos com esta

    patologia.

    O quarto, o banheiro e reas de circulao so os locais onde mais so

    registrados casos de queda nos estudos de Carvalho, Luckow e Siqueira (2011),

    vares, Costa Lima e Silva (2010), Ferreira e Yoshitome (2010), Gonalves et al.

    (2008) e Nascimento, Varischi e Alfieri (2008), fato que pode ser explicado por serem

    ambientes onde os idosos passam a maior parte do tempo. Esses mesmos estudos

    tambm demonstram que a maioria das quedas ocorreram no perodo diurno,

    momento de maior atividade cotidiana.

    Os idosos, vtimas de queda participantes dos estudos acima relacionados

    relatam, em sua maioria, que caram ao caminhar ou ao mudar de posio, como de

    estar sentado ou deitado para ficar em p. Esse problema poderia ser reduzido com

    campanhas de conscientizao nas instituies para que aqueles com dificuldades

    motoras solicitem e esperem auxlio para executar esses movimentos ou, em alguns

    casos, usem TA especifica. A adaptao do ambiente com a retirada de tapetes e de

    mveis baixos em locais de grande circulao, ausncia de desnveis ou a correta

    sinalizao dos mesmos podem auxiliar na reduo da ocorrncia de acidentes.

  • 24

    Fatores ambientais no foram os principais causadores de quedas em todos os

    estudos relacionados. Isso se deve porque algumas instituies possuem espaos

    mais adequados e seguros para os idosos do que outras, sendo assim, os estudos

    feitos em instituies com ambientes mais seguros apresentaram uma maior

    incidncia de acidentes por fatores intrnsecos ao indivduo do que as que no

    possuem espaos totalmente adequados, demonstrando a eficincia da adaptao do

    ambiente na reduo de acidentes. Os problemas com o ambiente mais relatados

    foram pisos escorregadios, degraus e obstculos em reas de circulao.

    As principais consequncias das quedas so hematomas, fraturas, dor e

    consequentemente a perda da autoconfiana, dependncia na realizao de AVDs e

    o medo de cair. Segundo Teixeira, Oliveira e Dias (2006), o medo de cair acomete um

    tero dos idosos que j sofreram queda e tambm pode ser observado naqueles que

    nunca caram. Tal medo costuma levar a restrio das atividades, tornando-o mais

    inativo, o que estabelece um ciclo vicioso, dado que gera um descondicionamento

    fsico-funcional, podendo levar ao aumento da propenso queda.

    Dada a propenso de idosos institucionalizados a sofrerem queda, importante

    conhecer as causas mais comuns para traar medidas e aes adequadas para a

    preveno.

    2.3 Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade

    e Sade CIF

    Uma das misses da OMS consiste na produo de Classificaes

    Internacionais de Sade, que representam modelos consensuais a serem

    incorporados pelos Sistemas de Sade, gestores e usurios, visando utilizao de

    uma linguagem comum para a descrio de problemas ou intervenes em sade. A

    Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF) um

    modelo da OMS criado em 2001 com o objetivo de proporcionar uma linguagem

    unificada e padronizada, assim como uma estrutura de trabalho para a descrio da

    sade e de diferentes estados relacionados com a ela.

    Segundo levantamento histrico de Farias e Buchalla (2005), a OMS publicou

    em 1976 a Classificao Internacional das Deficincias, Incapacidades e

    Desvantagens (CIDID) visando responder s necessidades de se conhecer mais

    sobre as consequncias das doenas. No entanto, o processo de reviso da CIDID

  • 25

    apontou fragilidades como a falta de relao entre as dimenses que a compem, a

    ausncia de aspectos sociais e ambientais, entre outras. Aps vrias verses e testes,

    a OMS aprovou a verso atual da CIF.

    A CIF trabalha com dois termos principais: a funcionalidade, que engloba todas

    as funes do corpo, atividades e participao; e a incapacidade, que inclui

    deficincias, limitaes da atividade ou restrio na participao. Segundo os

    conceitos da CIF, a funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa so concebidas

    como uma interao dinmica entre os estados de sade e os fatores pessoais e

    ambientais.

    Os fatores pessoais so entendidos como o histrico particular da vida e do estilo

    de vida de um indivduo. Esses podem incluir o sexo, raa, idade, condio fsica,

    hbitos, educao, religio dentre outros. Os fatores ambientais constituem o

    ambiente fsico e atitudinal no qual as pessoas vivem e conduzem sua vida. Espaos

    como o domiclio, o local de trabalho e a escola, incluindo caractersticas fsicas e

    materiais do ambiente, bem como o contato direto com a famlia e colegas,

    configuram-se como fatores ambientais.

    Outros dois conceitos importantes da CIF so capacidade e desempenho.

    Capacidade pode ser entendida como a aptido de um indivduo para executar uma

    tarefa ou uma ao, j desempenho descreve o que a pessoa consegue fazer no seu

    ambiente da vida habitual. Um ambiente com barreiras pode restringir o desempenho

    do indivduo, enquanto ambientes mais facilitadores podem melhorar o desempenho.

    O presente estudo buscou analisar a interferncia do ambiente construdo e seus

    componentes no desempenho para AVDs e na ocorrncia de quedas no caso

    especfico de idosos institucionalizados, de forma a estudar o impacto desses fatores

    ambientais na capacidade funcional dos usurios como facilitadores e/ou limitadores.

    Dado que a CIF oferece uma estrutura conceitual para a preveno, a promoo da

    sade e a melhoria da participao social das pessoas, removendo ou atenuando as

    barreiras ambientais e sociais, foi uma ferramenta escolhida para dar embasamento

    terico pesquisa.

  • 26

    2.4 Tecnologia Assistiva

    Tecnologia Assistiva (TA) um termo ainda novo, utilizado para identificar

    recursos e servios que contribuem para ampliar uma habilidade funcional deficitria

    e consequentemente promover autonomia e incluso das pessoas.

    Segundo Assistiva (2012) o termo Assistive Technology, traduzido no Brasil

    como Tecnologia Assistiva, foi criado em 1988 como elemento jurdico dentro da

    legislao norte-americana conhecida como Public Law 100-407, e renovado em 1998

    como Assistive Technology Act (P.L. 105-394, S. 2432). Faz parte do American with

    Disabilities Act (ADA), que regula os direitos dos cidados com deficincia nos

    Estados Unidos da Amrica, alm de prover a base legal dos fundos pblicos para

    compra dos recursos que eles necessitam.

    No Brasil, o Comit de Ajudas Tcnicas (CAT), institudo em 2006 pela

    Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica, aprovou em

    2007, na ATA VII, o seguinte conceito para TA.

    [...] produtos, recursos, metodologias, estratgias, prticas e servios

    que objetivam promover a funcionalidade relacionada atividade e

    participao de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade

    reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida e

    incluso social.

    Pode-se dizer, a partir desses conceitos, que o objetivo da TA proporcionar

    pessoa com necessidades especiais maior independncia, qualidade de vida e

    incluso social atravs da ampliao de sua capacidade funcional. Dado que o

    processo de envelhecimento pode acarretar perdas cognitivas, sensoriais e motoras,

    a TA se configura como importante instrumento para a manuteno da autonomia e

    independncia do idoso.

    Foram desenvolvidas vrias classificaes dos recursos de TA conforme os

    objetivos funcionais a que se destinam, sendo a Norma ISO 9999/2002, o Sistema

    Nacional de Classificao de Recursos e Servios de Tecnologia Assistiva, dos

    Estados Unidos e a ADA as mais utilizadas. A importncia das classificaes dos

    recursos de TA se d pela contribuio para a organizao dessa rea de

    conhecimento e serve para estudos, pesquisas, desenvolvimento, promoo de

    polticas pblicas, organizao de servios, catalogao e formao de banco de

  • 27

    dados para identificao dos recursos mais apropriados ao atendimento de uma

    necessidade funcional do usurio final.

    A classificao da ADA divide a TA em 11 categorias e a mais citada na

    bibliografia pesquisada5, sendo por isso a escolhida para ser explicitada e adotada

    neste trabalho.

    Auxlios para a vida diria materiais e produtos para auxlio em tarefas

    rotineiras como alimentao, higiene, necessidades pessoais, entre outras;

    Comunicao aumentativa ou suplementar e alternativa recursos, eletrnicos

    ou no que permitem a comunicao expressiva e receptiva das pessoas sem

    a fala ou com limitaes da mesma;

    Recursos de acessibilidade ao computador equipamentos que permitem s

    pessoas com deficincia o uso do computador;

    Sistemas de controle de ambiente sistemas eletrnicos que permitem o

    controle de aparelhos eletrnicos, sistemas de segurana e iluminao em

    ambientes domstico e de trabalho;

    Projetos arquitetnicos para acessibilidade adaptaes estruturais e reformas

    na casa ou ambiente de trabalho, com rampas, elevadores, banheiros

    adaptados, com o objetivo de retirar ou reduzir barreiras fsicas;

    rteses e prteses troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de

    funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos

    ortopdicos;

    Adequao postural adaptaes no sistema de sentar, que objetivam o

    conforto e a melhor distribuio dos pontos de presso na superfcie da pele;

    Auxlios de mobilidade cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases

    mveis, andadores, triciclos e demais equipamentos utilizados para melhoria

    da mobilidade;

    Auxlios para cegos ou com viso subnormal auxlios para grupos especficos,

    que incluem lupas e lentes, braile para equipamentos com sntese de voz,

    grandes telas de impresso etc.;

    5 Silva (2011), Bersch (2008), Tecnologia Assistiva (2012) e Assistiva (2012)

  • 28

    Auxlios para surdos ou com dficit auditivo auxlios que incluem vrios

    equipamentos, aparelhos de surdez, telefones com teclado, sistemas com

    alerta tctil-visual, entre outros;

    Adaptaes em veculos acessrios e adaptaes que permitem a conduo

    do veculo por uma pessoa com deficincia, elevadores para cadeiras de rodas,

    e veculos automotores usados no transporte pessoal.

    A grande variedade de categorias e produtos de TA demonstra sua abrangncia

    no auxlio das AVDs e a necessidade de se adaptar demanda especfica de cada

    usurio. Trata-se de um recurso para auxiliar o usurio e por isso deve atender s

    necessidades e expectativas dos mesmos, sendo necessrio em alguns casos o

    desenvolvimento de um produto ou servio de TA especficos para um determinado

    caso, atividade ou indivduo. Ao desenvolver um recurso de TA, tanto em larga escala

    como individual, deve-se levar em considerao no apenas princpios de ergonomia

    e funcionalidade, mas tambm a questo esttica, buscando melhorar a aceitabilidade

    e a identificao do usurio com o recurso. Nesse trabalho buscou-se conhecer a

    realidade das instituies de longa permanncia para idosos procurando entender as

    necessidades e dificuldades dessa populao, para poder gerar recomendaes para

    a escolha e instalao da TA que atenda satisfatoriamente ao pblico selecionado.

    2.4.1 Eficincia no aumento da capacidade funcional

    O objetivo principal da TA seria prover uma conexo entre as limitaes

    funcionais do indivduo e as demandas do meio fsico, aumentando,

    consequentemente, a qualidade de vida. Lansley, McCreadie e Tinker (2004) e

    Andrade e Pereira (2009) pesquisaram a eficincia da TA no aumento da

    funcionalidade, e na reduo da necessidade de auxlio de outras pessoas para a

    realizao de AVDs, obtendo resultados semelhantes.

    Lansley, McCreadie e Tinker (2004) estudaram a relao entre os gastos com

    as adaptaes necessrias nas residncias para a melhoria da capacidade funcional

    e os gastos com cuidadores formais antes e depois das modificaes, e concluram

    que as adaptaes dos ambientes e instalao de TA oferecem maior segurana e

    autonomia aos usurios em atividades rotineiras, reduzindo a necessidade de

    indivduos formais ou informais no auxlio s tarefas, concluindo que os gastos com

  • 29

    as adaptaes podem ser recuperados na reduo dos gastos com o cuidado pessoal.

    Segundo este estudo, os problemas de locomoo apresentam maior impacto na

    possibilidade e nos custos de adaptao, o que demonstra a importncia de se

    projetar seguindo os princpios do desenho universal, de forma a ter um local de

    moradia e de vida que atenda aos seus moradores em todas as etapas da vida.

    Andrade e Pereira (2009) confirmam os resultados encontrados por Lansley,

    McCreadie e Tinker (2004) ao afirmar que a TA contribui para a diminuio de

    dependncia durante o cuidado pessoal e o aumento de privacidade, alm da reduo

    dos gastos financeiros com cuidadores providos em casa e da diminuio de episdios