Caracterização da população com deficiências e incapacidades
Text of Caracterização da população com deficiências e incapacidades
1. Ficha Tcnica Ttulo Elementos de Caracterizao das Pessoas com
Decincias e Incapacidades em Portugal Realizado no mbito do Estudo
Modelizao das Polticas e das Prticas de Incluso Social das Pessoas
com Decincias em Portugal, decorrido entre Outubro de 2005 e
Dezembro de 2007, com o apoio do Programa Operacional de Assistncia
Tcnica ao QCA III eixo FSE. Entidade Promotora: CRPG Centro de
Reabilitao Prossional de Gaia Parceria: ISCTE Instituto Superior de
Cincias do Trabalho e da Empresa Autoria CRPG Centro de Reabilitao
Prossional de Gaia ISCTE Instituto Superior de Cincias do Trabalho
e da Empresa Equipa Tcnica Jernimo Sousa (coordenador geral) Jos
Lus Casanova (coordenador) Paulo Pedroso (coordenador) Andreia Mota
Antnio Teixeira Gomes Filipa Seiceira Srgio Fabela Tatiana Alves
Consultoria Donal McAnaney Jan Spooren Lus Capucha Patrcia vila
Outras Colaboraes Madalena Moura Maria Arajo Pedro Estvo Srgio
Estevinha Edio CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia Local e
Data Vila Nova de Gaia 2007 Design Godesign, Lda ISBN
978-972-98266-7-2 CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia,
2007 Av. Joo Paulo II 4410-406 Arcozelo VNG www.crpg.pt
[email protected] T. 227 537 700 F. 227 629 065 Reservados todos os
direitos. Reproduo autorizada.
2. ndice Introduo 11 1. Caracterizao da populao com decincias e
incapacidades 17 2. Limitaes da actividade 35 Relao entre as vrias
limitaes da actividade 45 3. Alteraes nas funes do corpo 57
Alteraes nas funes e caractersticas sociais 63 Evoluo dos sintomas
77 Manifestao dos sintomas 80 Causa das alteraes nas funes 81 Idade
de desenvolvimento/aquisio das alteraes nas funes 86 Relao entre as
alteraes nas funes e as limitaes da actividade 89 Sntese nal 97
Bibliograa 103 Anexos 109 Metodologia 111 Produtos desenvolvidos no
mbito do Estudo Modelizao das Polticas e das Prticas de Incluso
Social das Pessoas com Decincias e Incapacida- des em Portugal 121
Modelizao: um percurso partilhado 123
3. ndice de quadros Quadro 1.1. Sexo 19 Quadro 1.2. Escales
etrios na populao do Continente e na PCDI 20 Quadro 1.3. Escales
etrios e sexo 21 Quadro 1.4. Escales etrios e NUT II 22 Quadro 1.5.
Sexo e estado civil na populao do Continente e na PCDI 22 Quadro
1.6. Composio do agregado domstico 23 Quadro 1.7. Nvel de ensino
atingido na populao do Continente e na PCDI 23 Quadro 1.8. Escales
etrios e nvel de ensino na populao do Conti- nente e na PCDI 24
Quadro 1.9. Nvel de ensino atingido na populao do Continente e na
PCDI (25 a 70 anos) 25 Quadro 1.10. Nvel de ensino e sexo (25 a 70
anos) 25 Quadro 1.11. Actividade econmica e sexo 26 Quadro 1.12.
Actividade econmica e escales etrios 26 Quadro 1.13. Actividade
econmica, desemprego e emprego na popu- lao do Continente e na PCDI
26 Quadro 1.14. Grupo prossional 27 Quadro 1.15. Grupo prossional e
sexo 28 Quadro 1.16. Situao na prosso na populao do Continente e na
PCDI 28 Quadro 1.17. Categoria socioprossional do prprio e dos
agregados actual e de origem 29 Quadro 1.18. Categoria
socioprossional do prprio e do agregado do- mstico de origem 31
Quadro 1.19. Rendimento lquido mensal do agregado 32 Quadro 1.20.
Orientao relativa desigualdade social na populao do Continente e na
PCDI 33 Quadro 1.21. Orientao da aco na populao do Continente e na
PCDI 33 Quadro 1.22. Orientao social na populao do Continente e na
PCDI 34 Quadro 2.1. Tipos de limitaes da actividade e grupos etrios
42 Quadro 2.2. Tipos de limitaes da actividade e nvel de ensino
atingido 42 Quadro 2.3. Tipos de limitaes da actividade e
actividade econmica (18-64 anos) 43 Quadro 2.4. Tipos de limitaes
da actividade e prosso 44
4. Quadro 2.5. Relao entre limitaes da actividade resultados da
ACP 55 Quadro 3.1. Tipologia de alteraes nas funes (15 modalidades)
60 Quadro 3.2. Tipologia de alteraes nas funes (6 modalidades) 61
Quadro 3.3. Alteraes nas funes sensoriais e da fala 63 Quadro 3.4.
Alteraes nas funes sensoriais e da fala (cont.) 64 Quadro 3.5.
Alteraes nas funes fsicas 65 Quadro 3.6. Alteraes nas funes fsicas
(cont.) 66 Quadro 3.7. Alteraes nas funes mentais 67 Quadro 3.8.
Alteraes nas funes mentais (cont.) 68 Quadro 3.9. Alteraes nas
multifunes sensoriais e da fala, fsicas e mentais 70 Quadro 3.10.
Alteraes nas multifunes sensoriais e da fala, fsicas e mentais
(cont.) 71 Quadro 3.11. Alteraes nas multifunes fsicas e sensoriais
e da fala 72 Quadro 3.12. Alteraes nas multifunes fsicas e
sensoriais e da fala (cont.) 73 Quadro 3.13. Pessoas sem tipologia
de alterao nas funes identicada 74 Quadro 3.14. Pessoas sem
tipologia de alterao nas funes identi- cada (cont.) 75 Quadro 3.15.
Alteraes nas funes (6 modalidades) e caracterizao social por tipo
de alteraes 76 Quadro 3.16. Evoluo dos sintomas por tipo de
alteraes nas funes (3 modalidades) 78 Quadro 3.17. Evoluo nos
sintomas por tipo de alteraes nas funes (17 modalidades) 79 Quadro
3.18. Manifestao dos sintomas por tipo de alteraes nas funes (3
modalidades) 80 Quadro 3.19. Manifestao dos sintomas por tipo de
alteraes nas funes (17 modalidades) 81 Quadro 3.20. Causa das
alteraes nas funes (17 modalidades) por tipo de alteraes (% em
linha) 84 Quadro 3.21. Causa das alteraes nas funes (5 modalidades)
por tipo de alteraes 86 Quadro 3.22. Idade de aquisio das alteraes
nas funes (17 modali- dades) por tipo de alteraes 88
5. Quadro 3.23. Relao entre alteraes nas funes (17 modalidades)
e 93 limitaes da actividade Quadro 3.24. Mdia do ndice de limitaes
da actividade por tipo de 95 alteraes nas funes (3 modalidades)
Quadro 3.25. Mdia do ndice de limitaes da actividade por tipo de 95
alteraes nas funes (6 modalidades)
6. ndice dos grcos Grco 1.1. Escales etrios 20 Grco 2.1. Tipos
de limitaes da actividade 40 Grco 2.2. Tipo de limitaes da
actividade e sexo 41 Grco 2.3. Limitaes da actividade relativas aos
autocuidados e ou- tras limitaes 46 Grco 2.4. Limitaes da
actividade relativas vida domstica e ou- tras limitaes 47 Grco 2.5.
Limitaes da actividade relativas s interaces e rela- cionamentos
interpessoais e outras limitaes 48 Grco 2.6. Limitaes da actividade
relativas aprendizagem e apli- cao de conhecimentos, e outras
limitaes 49 Grco 2.7. Limitaes da actividade relativas s tarefas e
exigncias gerais e outras limitaes 50 Grco 2. 8. Limitaes da
actividade relativas comunicao e outras limitaes 51 Grco 2.9.
Limitaes da actividade relativas mobilidade e outras limitaes 52
Grco 2.10. Limitaes da actividade relativas viso e outras limi-
taes 53 Grco 2.11. Limitaes da actividade relativas audio e outras
li- mitaes 54 Grco 3.1. Tipo de alteraes nas funes (6 modalidades)
e sexo 62 Grco 3.2. Causa das alteraes nas funes por tipo de
alteraes (3 modalidades) 83 Grco 3.3. Idade de
desenvolvimento/aquisio das alteraes nas funes (4 modalidades) por
tipo de alteraes 87 Grco 3.4. Alteraes nas funes (17 modalidades) e
limitaes da actividade associadas 91
7. Introduo
8. Nas ltimas dcadas, Portugal registou progressos
extraordinrios ao n- vel das polticas e das prticas no mbito das
pessoas com decincias e incapacidades (PCDI). Em particular, a
adeso Unio Europeia trouxe novos recursos e um novo impulso que
constituram uma oportunidade que o pas aproveitou, quer ao nvel das
polticas pblicas, quer ao dos dinamismos da sociedade civil. Apesar
dos progressos e da experincia desenvolvida, h ainda necessi- dade
de investir em reas de fragilidade e de desenvolver o potencial das
restantes, numa perspectiva de adequao s necessidades dos cidados,
resoluo dos seus problemas e num esforo de optimizao dos recur- sos
envolvidos. Esto agora reunidas as condies para que um novo im-
pulso e uma viso sistmica renovada possam conduzir o pas a um novo
ciclo neste campo de aco. Esse novo ciclo pode beneciar, por outro
lado, de renovados modelos de abordagem e anlise da questo das
decincias e incapacidades, de novos referenciais conceptuais e de
poltica, com impactos signicativos ao nvel dos conceitos e das
semnticas, bem como das perspectivas e atitudes sociais face ao
fenmeno. Em contrapartida, o conhecimento produzido no pas acerca
das de- cincias e incapacidades permanece manifestamente lacunar,
de origem fundamentalmente experiencial, no sistemtico, nem
estruturado e in- tegrado, e de difcil acesso. Importa, pois,
desenvolv-lo e torn-lo mais acessvel, dado que o conhecimento e a
caracterizao dos fenmenos constituem uma das pedras basilares do
desenho de polticas e programas de interveno, sendo uma condio
fundamental para o seu sucesso. No quadro destas preocupaes
estratgicas, e procurando contribuir para o desenvolvimento das
polticas em favor das pessoas com deci- ncias e incapacidades em
Portugal, o Estudo Modelizao das Polticas e das Prticas de Incluso
Social das Pessoas com Decincias em Por- tugal, no quadro do qual
foi produzido o presente relatrio, prosseguiu cinco objectivos
fundamentais: Usar o conhecimento produzido em estudos de natureza
avaliativa re- alizados em Portugal nos ltimos anos, atravs da sua
sistematizao, produzindo linhas de orientao para a tomada de deciso
no curto prazo. Recolher, organizar e analisar dados relativos
caracterizao da po- ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 15
9. pulao com decincias e incapacidades, atravs de um inqurito,
identicando incidncias, correlaes e impactos, de modo a promover o
conhecimento e apoiar a tomada de deciso. Analisar as trajectrias
biogrcas de pessoas com decincias e inca- pacidades, identicando
possveis correlaes com as polticas e pro- gramas existentes.
Modelizar as polticas, as prticas e a respectiva gesto, apoiando a
optimizao dos resultados e dos recursos, atravs da inventariao
comparada de modelos conceptuais, de interveno, de nanciamento e de
gesto. Promover um aprofundamento e sistematizao da reexo estratgi-
ca sobre a problemtica da incluso social das pessoas com decincias
e incapacidades, mobilizando e dinamizando investigadores,
dirigentes e quadros. No mbito deste Estudo, realizou-se o Inqurito
aos Impactos do Sis- tema de Reabilitao nas Trajectrias Biogrcas
das Pessoas com De- cincias e Incapacidades, com os objectivos de
apurar elementos de caracterizao das pessoas com decincias e
incapacidades e analisar as trajectrias biogrcas das mesmas, sendo
que prossecuo de cada um dos objectivos correspondeu uma
determinada fase de inquirio. En- quanto produto do Estudo, o
presente relatrio Elementos de Carac- terizao das Pessoas com
Decincias e Incapacidades em Portugal apresenta os resultados
referentes ao primeiro objectivo enunciado(01). O inqurito que lhe
est subjacente foi construdo com base num en- quadramento terico e
metodolgico especco. No plano terico, toma- ram-se como referncia
as preocupaes e tendncias internacionais ac- tuais em torno do
conceito de decincia, que a advogam no como um atributo inerente
pessoa, mas como um resultado da interaco entre o contexto social
da pessoa e o ambiente, incluindo as estruturas fsicas (o design
dos edifcios, sistemas de transporte, etc.) e as construes sociais
e crenas, que esto na base dos processos de discriminao. Deste
modo, o presente relatrio baseia-se na identicao de alteraes nas
funes e de limitaes da actividade num conjunto vasto de domnios
(trabalho, educao, cuidados de sade, direitos de cidadania, etc.).
A categorizao das decincias e incapacidades assim formulada ao nvel
de cada um destes domnios e no como uma categoria geral de atributo
pessoal. (01) Os resultados relativos ao segundo objectivo
enunciado encontram-se apresentados no relatrio O Sistema de
Reabilitao e as Trajectrias de Vida das Pessoas com Decincias e
Incapacidades. 16 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
10. A opo por esta perspectiva das decincias e incapacidades
est em consonncia com a abordagem universal proposta pela Classicao
In- ternacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF),
permitindo caracterizar a experincia das decincias e incapacidades
de cada pes- soa a partir das suas consequncias efectivamente
vericadas e no de uma denio apriorstica, necessariamente
desadequada aos contextos reais da sua vivncia. Mais relevante
ainda, permite que as decises sobre a criao de categorias de
incapacidade possam ser feitas considerando diferentes nveis de
anlise e de acordo com o problema particular que se pretende
estudar (e.g., acesso ao mercado de trabalho, participao poltica,
etc.)(02). O inqurito, cujos dados so aqui apresentados, foi
realizado, em 2007, a uma amostra da populao residente em Portugal
Continental, com idades compreendidas entre os 18 e os 70 anos(03).
Dividido em trs captulos, o presente relatrio comea por efectuar
uma caracterizao social, econmica e cultural das pessoas com de-
cincias e incapacidades (Captulo 1), comparando, sempre que
possvel, os traos desta populao com os da populao do Continente
(Censos 2001). No segundo Captulo procede-se anlise das limitaes da
acti- vidade. Do terceiro Captulo consta a anlise das alteraes nas
funes do corpo. No sentido de conferir a integrao dos vrios
resultados explo- rados, apresentada uma sntese nal. (02) O
enquadramento terico e conceptual das decincias e incapacidades em
formato desenvolvido encontra-se publicado no relatrio geral do
Estudo Mais Qualidade de Vida para as Pessoas com Deci- ncias e
Incapacidades Uma Estratgia para Portugal. Uma verso sinttica da
conceptualizao das decincias e incapacidades utilizada no inqurito
est patente no Anexo A do presente relatrio. (03) Os aspectos
metodolgicos e tcnicos relativos ao inqurito implementado podem ser
consultados no Anexo A. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 17
11. Captulo 1. Caracterizao da populao com decincias e
incapacidades
12. Na caracterizao das pessoas com decincias e incapacidades
impor- tante registar os elementos que permitam ter uma imagem do
seu perl social, econmico e cultural, comparando essa imagem,
sempre que pos- svel, com a da populao portuguesa em geral, e
complementando esses elementos com dados sobre o peso dos
diferentes tipos de decincias e de incapacidades registados.
Segundo os resultados do inqurito, a populao com decincias e in-
capacidades representa 8,2% do universo inquirido. O primeiro
indicador relevante na caracterizao social desta populao o peso
percentual do sexo feminino. A proporo de mulheres (69,7%) mais do
dobro da proporo de homens (32,1%), e o conjunto das pessoas com
decincias e incapacidades apresenta uma taxa de feminizao bastante
superior da populao equivalente no Continente (onde existem cerca
de 52% de mulheres e 48% de homens). Quadro 1.1. Sexo N % Masculino
397 32,1 Feminino 838 67,9 Total 1235 100 Na distribuio etria tambm
se encontram resultados muito expres- sivos. A percentagem de
pessoas com decincias e incapacidades cresce de modo notrio dos
mais jovens para os que tm mais idade, atingindo o mximo no escalo
dos que tm entre 65 e 70 anos (41%), como se pode constatar no Grco
1.1. Registe-se que os que tm idades entre 50 e 70 anos
correspondem a 78,6% do total. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 21
13. Grfico 1.1. Escales etrios % 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0
18-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-70
Idade Esta populao , ainda, claramente mais idosa do que a do
Continen- te: a mdia de idades de 58 anos no primeiro caso, e de 44
no segundo. Como possvel constatar no Quadro 1.2 as duas populaes
tm, tam- bm, uma distribuio etria signicativamente diferente,
contrastando o j referido crescimento exponencial nas pessoas com
decincias e in- capacidades com uma distribuio aproximada curva de
Gauss dos re- sidentes no Continente. Quadro 1.2. Escales etrios na
populao do Continente e na PCDI (%) Populao do Continente PCDI 18
24 anos 11,8 1,2 25 49 anos 48,6 20,2 50 64 anos 26,1 37,6 65 70
anos 13,5 41,0 Total 100 100 Quanto correlao entre o sexo e a idade
nas pessoas com decincias e incapacidades, esta prossegue o mesmo
padro da populao portuguesa: o peso proporcional das mulheres maior
do que o dos homens nas idades mais avanadas. Todavia, o predomnio
das mulheres na populao com de- cincias e incapacidades transversal
a todos os grupos etrios no sendo, portanto, resultado do
desequilbrio etrio nacional na relao homem/mu- lher. Tal signica
que a maior feminizao relativa desta populao inde- pendente da
sobrerrepresentao deste gnero observada nos mais idosos. 22
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
14. Quadro 1.3. Escales etrios e sexo Masculino Feminino Total
18 29 anos N 14 16 30 % em linha 46,7 53,3 100 % em coluna 3,5 1,9
2,4 30 39 anos N 29 47 76 % em linha 38,2 61,8 100 % em coluna 7,3
5,6 6,2 40 49 anos N 56 101 157 % em linha 35,7 64,3 100 % em
coluna 14,1 12,1 12,7 50 59 anos N 75 177 252 % em linha 29,8 70,2
100 % em coluna 18,9 21,1 20,4 60 70 anos N 223 497 720 % em linha
31,0 69,0 100 % em coluna 56,2 59,3 58,3 Total N 397 838 1235 % em
linha 32,1 67,9 100 % em coluna 100 100 100 A sobrerrepresentao dos
mais idosos e do sexo feminino constituem, portanto, traos
caractersticos da populao com decincias e incapa- cidades por relao
populao nacional. Analisando a distribuio pelas regies, verica-se
que a proporo de indivduos com decincias e incapacidades maior no
Norte do pas (onde somam 10% da populao desta regio), seguida da
regio do Alen- tejo (7,8%) e da Grande Lisboa (7,5%). A regio do
Algarve apresenta uma proporo de 6,8%. A do Centro aquela que
apresenta uma menor pro- poro de pessoas com decincias e
incapacidades (6,6%). Quando analisada a distribuio por escales
etrios, constata-se que nas regies de Lisboa e do Norte que se
registam as maiores propores de jovens com decincias e
incapacidades. Em contrapartida, os mais idosos sobressaem no
Alentejo e no Centro. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 23
15. Quadro 1.4. Escales etrios e NUT II (%) Norte Centro Lisboa
Alentejo Algarve Total 14 24 anos 1,3 0,8 1,6 0,0 0,0 1,1 25 64
anos 58,4 57,4 59,7 47,8 61,0 57,8 65 70 anos 40,4 41,8 38,7 52,2
39,0 41,1 Total 100 100 100 100 100 100 No que se refere situao
conjugal, as distines entre a populao com decincias e incapacidades
e a populao em geral, apesar de exis- tirem, no so to acentuadas
como nas variveis sexo e idade. Em ambas as populaes, predominam os
casados com registo (61,9 e 59,9%, respectivamente), sendo este
valor ligeiramente superior entre a popula- o com decincias e
incapacidades. As grandes diferenas, observveis no quadro seguinte,
residem princi- palmente na maior proporo de indivduos vivos e na
menor proporo de solteiros nas pessoas com decincias e
incapacidades. Tal deve-se ao facto desta populao ser bastante mais
idosa do que a populao do Continente (o que explica o menor nmero
de solteiros e o maior nmero de vivos), e de existirem mais
mulheres, que tendencialmente experien- ciam menos segundos
casamentos e tm uma esperana de vida superior dos homens. Quadro
1.5. Sexo e estado civil na populao do Continente e na PCDI Populao
do Continente PCDI Masculino Feminino Total Masculino Feminino
Total Casado com registo 60,4 59,4 59,9 66,5 59,7 61,9 Casado sem
registo 5,0 4,5 4,8 2,5 2,0 2,2 Solteiro 24,2 18,8 21,4 16,9 8,5
11,2 Vivo 5,5 9,9 7,8 9,6 24,2 19,5 Separado/divorciado 4,9 7,4 6,2
4,5 5,6 5,3 Total 100 100 100 100 100 100 Sobre a composio do
agregado domstico, os indivduos com deci- ncias e incapacidades
vivem maioritariamente em agregados de famlias simples (68,3%), nas
quais prevalecem o casal sem lhos e sem outras pes- soas. Dentro
das famlias simples, apenas 35,6% so compostas por casal com lhos,
o que car a dever-se em boa medida ao facto de uma grande parte
desta populao ser idosa, sendo de esperar que os lhos j tenham sado
de casa dos pais, para constiturem a sua prpria famlia. 24
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
16. Quadro 1.6. Composio do agregado domstico N % Famlias com 1
s pessoa 240 19,4 Vrias pessoas sem estrutura conjugal ou parental
26 2,1 Agregados de famlias simples 843 68,3 Agregados de famlias
alargadas 49 4,0 Agregados de famlias mltiplas 75 6,1 Total 1233
100 Rera-se que o peso da populao mais idosa contribui igualmente
para o peso das famlias com uma s pessoa (19,4%), tendo sido
conclusivo que cerca de 66% dos indivduos que moram sozinhos so
vivos. Note-se que estas pessoas com decincias e incapacidades, em
proporo signi- cativa, encontram-se, eventualmente, mais
vulnerveis, pois no dispem de apoio familiar directo. No que diz
respeito escolaridade, constata-se que 20,9% no sabe ler nem
escrever ou, sabendo, no frequentou a escola (na populao do
Continente so apenas 3,2%), enquanto que os que prosseguiram os es-
tudos alm do ensino bsico so apenas 5,3% (contra 29,1% no pas) e os
que detm um diploma de ensino mdio ou superior so somente 1,9%
(quando a percentagem nacional de 10,4%). Quadro 1.7. Nvel de
ensino atingido na populao do Continente e na PCDI(04) Populao do
Continente PCDI N % N % No sei ler nem escrever ou sei ler e
escrever, mas no frequentei a escola 476 3,2 258 20,9 Ensino bsico
1. ciclo 4846 32,3 699 56,6 Ensino bsico 2. ciclo 2293 15,3 132
10,7 Ensino bsico 3. ciclo 3013 20,1 80 6,5 Ensino secundrio 2811
18,7 42 3,4 Curso mdio/ensino superior 1565 10,4 24 1,9 Ns/Nr 1 0,0
Total 15005 100 1235 100 (04) O nvel de ensino atingido inclui os
casos de indivduos que tenham concludo o grau, os que no o
completaram e os que frequentam esse grau. ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL 25
17. Verica-se, ainda, que a taxa de analfabetismo nos
inquiridos com de- cincias e incapacidades nove vezes maior do que
na populao do Continente. Como em Portugal a escolaridade das
mulheres mais idosas inferior dos homens, existe uma inuncia global
da idade e do sexo nesta desigualdade. Quadro 1.8. Escales etrios e
nvel de ensino na populao do Continente e na PCDI (%) 1819 anos
3039 anos 4049 anos 5059 anos 6070 anos Pop. PCDI Pop. PCDI Pop.
PCDI Pop. PCDI Pop. PCDI Cont. (N=30) Cont. (N=76) Cont. (N=157)
Cont. (N=252) Cont. (N=720) Sem nvel de ensino 0,2 3,3 0,5 9,2 0,8
8,3 1,7 9,9 11,6 29,4 Ensino bsico 1. ciclo 3,2 6,7 10,2 28,9 27,7
53,5 57,2 61,9 65,0 60,4 Ensino bsico 2. ciclo 7,9 6,7 20,2 19,7
24,0 21,0 15,9 17,5 10,3 5,3 Ensino bsico 3. ciclo 28,4 33,3 28,5
23,7 23,3 8,3 13,6 6,7 6,7 3,1 Ensino secundrio 39,1 26,7 26,0 14,5
16,9 7,0 6,6 2,0 3,4 1,0 Curso mdio/ensino superior 21,1 23,3 14,7
3,9 7,3 1,9 5,0 2,0 3,0 0,8 Total 100 100 100 100 100 100 100 100
100 100 No obstante das referidas implicaes decorrentes da idade, a
anlise do Quadro 1.8 permite constatar que a populao com decincias
e inca- pacidades regista em todos os grupos etrios propores mais
altas nas escolaridades mais baixas e, em contrapartida, valores
mais baixos nos nveis de ensino mais elevados(05). Conclui-se,
portanto, que a populao com decincias e incapacidades tem qualicaes
escolares caracteris- ticamente mais baixas do que a mdia nacional.
Excluindo da anlise a populao que ainda poder estar a estudar, e
considerando apenas os in- divduos com mais de vinte cinco anos
(evitando deste modo um eventual efeito de enviesamento com o
aumento dos nveis de ensino mais baixos e, consequentemente,
diminuio dos nveis mais elevados), verica-se que as tendncias
anteriormente registadas se mantm. 26 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
18. Quadro 1.9. Nvel de ensino atingido na populao do
Continente e na PCDI (25 a 70 anos) Populao do Continente PCDI N %
N % No sei ler nem escrever ou sei ler e escrever, mas no
frequentei a escola 472 3,6 257 21,1 Ensino bsico 1. ciclo 4802
36,3 699 57,2 Ensino bsico 2. ciclo 2171 16,4 130 10,6 Ensino bsico
3. ciclo 2508 18,9 75 6,1 Ensino secundrio 2061 15,6 39 3,2 Curso
mdio/superior 1222 9,3 21 1,7 Total 13236 100 1221 100 Quando se
analisa a distribuio da escolaridade pelo sexo, observa-se que a
proporo de mulheres que no terminou o 1. ciclo do ensino bsico mui-
to superior proporo de homens nas mesmas condies, e que nos graus
de escolaridade mais elevados a percentagem de homens sempre maior
do que a de mulheres. Ou seja, se as pessoas com decincias e
incapacidades tm, em geral, uma escolaridade signicativamente mais
baixa do que a po- pulao nacional, isto parece afectar de modo
particular o sexo feminino. Quadro 1.10. Nvel de ensino e sexo (25
a 70 anos) (%) Masculino Feminino Total No sei ler nem escrever ou
sei ler e escrever mas no frequentei a escola 15,6 23,6 21,1 Ensino
bsico 1. ciclo 58,5 56,7 57,2 Ensino bsico 2. ciclo 10,5 10,7 10,6
Ensino bsico 3. ciclo 9,2 4,7 6,1 Ensino secundrio 3,8 2,9 3,2
Curso mdio/superior 2,3 1,4 1,7 Total 100 100 100 Analisando a taxa
de actividade das pessoas com decincias e incapa- cidades,
constata-se que apenas 25,6% desta populao activa. (05) A excepo
regista-se ao nvel do grupo etrio dos 18 aos 29 anos, em que a
frequncia do ensino superior mais elevada do que na populao do
Continente. No entanto, salienta-se que este grupo etrio reporta-se
a trinta indivduos e que no ensino superior se encontram apenas 7
indivduos. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 27
19. Quadro 1.11. Actividades econmicas e sexo Masculino
Feminino Total N % N % N % Activo 114 28,7 202 24,1 316 25,6 No
activo 283 71,3 636 75,9 919 74,4 Total 397 100 838 100 1235 100 A
taxa de actividade ligeiramente superior nos homens e tende a di-
minuir com a idade. Quadro 1.12. Actividade econmica e escales
etrios (%) 18 29 anos 30 39 anos 40 49 anos 50 59 anos 60 70 anos
Total Activo 63,3 51,3 51,6 42,5 9,7 25,4 No activo 36,7 48,7 48,4
57,5 90,3 74,6 Total 100 100 100 100 100 100 Como se verica no
Quadro 1.13, o valor da taxa de actividade entre as pes- soas com
decincias e incapacidades (com idades entre os 18 e os 65 anos)
corresponde a menos de metade do valor no universo de
referncia(06). A este valor acresce uma taxa de desemprego duas
vezes e meia supe- rior e uma taxa de emprego inferior a metade da
taxa no pas. Quadro 1.13. Actividade econmica, desemprego e emprego
na populao do Continente e na PCDI Populao Continente PCDI PCDI (18
65 anos) (18 65 anos) (18 35 anos) Taxa de actividade 100 49 74
Taxa de desemprego 100 246 217 Taxa de emprego 100 40 64 Mesmo
entre as geraes mais novas (com idades entre os 18 e os 35 anos)
mantm-se a condio desfavorvel comparativamente mdia na- cional,
ainda que num regime menos acentuado. Estes dados conguram (06) Os
valores no quadro representam rcios que tm como referncia a populao
do Continente (que assume, portanto, o valor 100). 28 ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL
20. uma situao de marcada excluso das pessoas com decincias e
incapa- cidades na esfera do trabalho. Aos inquiridos com decincias
e incapacidades que trabalham (ou que alguma vez trabalharam) foi
pedido que indicassem qual a actual/ltima prosso e situao na
prosso. No que diz respeito prosso, as diferenas relativas composio
nacional so notrias. Na populao com decincias e incapacidades re-
gistam-se valores percentuais muito superiores dos operrios, artces
e trabalhadores similares (32,6%), e dos trabalhadores no
qualicados (24,1%), que no conjunto representam mais de metade dos
que tm (ou tiveram) experincia de trabalho. Salienta-se,
igualmente, a elevada proporo de trabalhadores agrco- las existente
entre as pessoas com decincias e incapacidades por com- parao com a
mdia no pas. Quadro 1.14. Grupo profissional na populao do
Continente e na PCDI Populao do Continente PCDI N % N % Grupo 1
Quadros superiores da Administrao Pblica, dirigentes 436 3,3 20 2,0
Grupo 2 Especialistas das prosses intelectuais e cientcas 435 3,3 8
0,8 Grupo 3 Tcnicos e prossionais de nvel intermdio 731 5,5 15 1,5
Grupo 4 Pessoal administrativo e similares 1183 8,9 31 3,1 Grupo 5
Pessoal dos servios e vendedores 3739 28,2 166 16,5 Grupo 6
Agricultores e trabalhadores qualicados da agricultura e pecuria
689 5,2 165 16,4 As prosses intelectuais e cientcas, os tcnicos e
prossionais de nvel intermdio, e o pessoal administrativo e
similares registam valores consideravelmente inferiores no conjunto
da populao com decincias e incapacidades e na comparao com a
populao do Continente. Na distribuio das prosses pelo sexo de
salientar a predominncia das mulheres nos trabalhadores no
qualicados e dos homens nos ope- rrios, artces e similares.
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 29
21. Quadro 1.15. Grupo profissional e sexo Masculino Feminino
Grupo 1 - Quadros superiores da Administrao Pblica, dirigentes 2,7
1,6 Grupo 2 - Especialistas das prosses intelectuais e cientcas 0,8
0,8 Grupo 3 - Tcnicos e prossionais de nvel intermdio 1,9 1,3 Grupo
4 - Pessoal administrativo e similares 2,4 3,5 Grupo 5 - Pessoal
dos servios e vendedores 13,2 18,4 Grupo 6 - Agricultores e
trabalhadores qualicados da agricultura e pecuria 17,0 16,1 Grupo 7
- Operrios, artces e trabalhadores similares 41,9 27,2 Grupo 8 -
Operadores de instalaes e mquinas e trabalhadores da montagem 6,8
0,3 Grupo 9 - Trabalhadores no qualicados 13,0 30,6 Nr 0,3 0,3
Total 100 100 J no que diz respeito situao na prosso, no existem
diferenas relevantes entre os inquiridos com decincias e
incapacidades e o uni- verso de referncia, podendo apenas
assinalar-se uma proporo maior de patres no pas comparativamente
proporo no conjunto das pessoas com decincias e incapacidades.
Quadro 1.16. Situao na profisso da populao do Continente e da PCDI
Populao do Continente PCDI N % N % Patro 524 3,9 24 2,4 Trabalhador
por conta prpria 1866 14,1 144 14,3 Trabalhador por conta de outrem
10877 81,9 838 83,3 Outra situao 2 0,0 Ns/Nr 10 0,1 Total 13279 100
1006 100 A partir da prosso e da situao na prosso pode
determinar-se a ca- tegoria socioprossional (CSP), que representa
um indicador fundamental na caracterizao em termos de classe
social. No Quadro 1.17 encontra-se a distribuio por categoria
socioprossional dos inquiridos com decin- 30 ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL
22. cias e incapacidades, bem como das suas famlias de origem e
actual(07). Na classicao socioprossional dos inquiridos (coluna do
meio) sobressaem os que so (ou foram) operrios ou assalariados
agrcolas (46,3%), a que se seguem os empregados executantes
(36,2%). A modalidade seguinte ainda com signicado estatstico a dos
trabalhadores independentes (13%). As restantes categorias
socioprossionais apresentam valores residuais. Quadro 1.17.
Categoria socioprofissional do prprio e dos agregados actual e de
origem CSP CSP CSP do do agregado de origem do prprio agregado
actual N % N % N % EDL 19 2,0 24 2,4 32 3,2 PTE 22 2,3 20 2,0 36
3,6 TI 275 29,1 129 13,0 165 16,7 EE 143 15,1 359 36,2 409 41,3 OAA
485 51,4 459 46,3 348 35,2 Tomando como referencial a informao
disponvel sobre categorias socioprossionais na populao portuguesa,
observa-se uma sobrerre- presentao dos operrios e assalariados
agrcolas e dos empregados executantes, e uma sub-representao dos
empresrios, dirigentes e pro- ssionais liberais, dos prossionais
tcnicos e de enquadramento, e dos trabalhadores independentes nas
pessoas com decincias e incapacida- des(08). Ou seja, estas
sobressaem nas classes sociais de menores recursos e tm uma menor
presena relativa nas classes com maiores recursos. Comparando agora
os resultados relativos aos inquiridos com os das categorias
socioprossionais dos agregados familiares actual e de ori- gem,
apesar das diferenas percentuais no serem acentuadas, possvel
vislumbrar especicidades nas trs estruturas descritas. As
categorias so- cioprossionais das pessoas com decincias e
incapacidades (no Quadro 1.17) esto concentradas nas modalidades de
menores recursos, como foi (07) EDL: empresrios, dirigentes e
prossionais liberais; PTE: prossionais tcnicos e de enquadramento;
TI: trabalhadores independentes; EE: empregados executantes; OAA:
operrios e assalariados agrcolas (Machado et al.,2003). (08) Os
dados relativos populao portuguesa so os seguintes: EDL: 11,5%;
PTE: 14,6%; TI: 18,0%; EE: 28,1%; OAA: 27,8% (Costa et al., 2000).
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 31
23. referido: cerca de 83% so operrios, assalariados agrcolas
ou emprega- dos executantes. Esta concentrao na base da estrutura
socioprossional mais atenuada no caso do agregado actual, e no
agregado de origem, cujos valores equivalentes respectivos so 77% e
67%. Quando se analisa a distribuio nas categorias com maiores
recursos, o cenrio semelhante: a proporo dos inquiridos com
decincias e incapacidades aqui sempre inferior proporo que se
verica nos seus agregados actuais, e apenas revela um valor
ligeiramente superior entre os empresrios, dirigentes e prossionais
liberais quando comparada com a dos agregados de origem.
Conclui-se, portanto, que as pessoas com decincias e incapacidades
se inserem, em geral, em posies socioprossionais de menores
recursos por relao s posies globais quer da sua famlia actual, quer
da sua famlia de origem. Numa comparao directa entre as estruturas
dos agregados actual e de origem, vericam-se mudanas conhecidas
entre geraes na socieda- de portuguesa como um todo, observando-se
um decrscimo do operaria- do e dos trabalhadores independentes, e
um crescimento dos empregados executantes, dos prossionais tcnicos
e de enquadramento e dos empre- srios, dirigentes e prossionais
liberais; mas a estrutura socioprossional das pessoas com decincias
e incapacidades no acompanha, em geral, estas transformaes e,
quando as acompanha, no na mesma medida. Para aprofundar a anlise
acerca do que se passou no mbito socio- prossional entre a famlia
de origem e os inquiridos com decincias e incapacidades,
realizou-se uma anlise conjunta dos respectivos indica- dores
(Quadro 1.18). Este quadro exibe trajectrias e uxos de mobilidade
socioprossionais entre as geraes dos inquiridos e dos seus pais. A
anlise das percentagens em coluna revela o peso diferencial das ca-
tegorias socioprossionais dos pais em cada categoria dos
inquiridos. Ve- rica-se que os inquiridos que so operrios e
assalariados agrcolas, ou empregados executantes, provm sobretudo
de agregados com a mesma posio socioprossional (62% e 49%,
respectivamente), a que se seguem os pais trabalhadores
independentes (23% e 26%). Os inquiridos que so trabalhadores
independentes tm origens so- ciais sobretudo nessa mesma categoria
(57%), seguida pela dos operrios e assalariados agrcolas (33%). 32
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
24. Quadro 1.18. Categoria socioprofissional do prprio e
categoria socioprofissional do agregado domstico de origem
Categoria Categoria socioprossional socioprossional do agregado do
inquirido de origem EDL PTE TI EE OAA %linha %coluna %lin. %col.
%lin. %col. %lin. %col. %lin. %col. EDL 0 0 31,6 30,0 5,3 0,8 42,1
2,4 21,1 0,9 PTE 4,5 4,3 13,6 15,0 4,5 0,8 50,0 3,3 27,3 1,4 TI 5,5
65,2 1,1 15,0 25,1 56,6 31,6 25,7 36,7 22,9 EE 1,4 8,7 4,2 30,0 7,7
9,0 46,9 19,8 39,0 12,9 OAA 1,0 21,7 0,4 10,0 8,2 32,8 34,0 48,8
56,3 61,9 Estes dados evidenciam, em geral, trajectrias de reproduo
nas ca- tegorias socioprossionais de menores recursos. Os
inquiridos, que so prossionais tcnicos e de enquadramento, ou
empresrios, dirigentes e prossionais liberais, tm, em alguns casos,
origens em categorias com menores recursos, o que aponta para
alguns trajectos intergeracionais de mobilidade social ascendente,
mas os valores absolutos dos totais en- volvidos na anlise so
reduzidos, no permitindo portanto garantir uma inferncia estatstica
vlida. Outra forma de analisar este quadro aquela em que se
privilegia uma leitura das percentagens em linha, que devolve o
modo como se distri- buem as categorias socioprossionais dos
inquiridos em cada categoria do agregado de origem. Constata-se que
nos pais operrios e assalariados agrcolas ou empregados executantes
se encontram sobretudo inquiridos com a mesma situao
socioprossional (56% e 47%, respectivamente), e que entre os
agregados de origem de trabalhadores independentes, a maioria dos
inquiridos so operrios ou empregados executantes (37% e 32%,
respectivamente). Estes uxos apontam para processos de reproduo
entre categorias com baixos recursos e trajectos de mobilidade
descendente entre a gera- o dos pais e a dos inquiridos. Nos pais
empresrios, dirigentes e prossionais liberais ou prossionais
tcnicos e de enquadramento, a posio socioprossional dos inquiridos
com maior peso a dos empregados executantes, sugerindo trajectos de
mobilidade descendente; mas, como j foi referido, os totais
envolvidos so diminutos, no sendo portanto possvel extrapolar estes
resultados. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 33
25. No seu conjunto, estes dados conrmam a apreciao da comparao
anterior entre as estruturas socioprossionais do inquirido e dos
agrega- dos actual e de origem, e tornam evidente uma signicativa
reproduo intergeracional da situao socioprossional nas classes
sociais com me- nores recursos e trajectrias descendentes entre
categorias de recursos intermdios e categorias de baixos recursos.
As decincias e incapacidades apresentam-se, pois, como factor de
reproduo em condies sociais desfavorveis e de mobilidade social
descendente na sociedade portuguesa. Outro indicador relevante das
condies sociais de vida o do rendi- mento. O Quadro 1.19 contm
dados sobre o rendimento lquido mensal do agregado das pessoas com
decincias e incapacidades inquiridas e revela uma situao de grande
precariedade econmica: cerca de 28% dos agregados dispem, no mximo,
de 403 euros (valor equivalente ao salrio mnimo nacional), e quase
metade (49,3%) recebem at 600 euros mensais para as suas despesas.
Como a mdia do nmero de indivduos por agregado de 2,4 nesta
populao, o grau de precariedade econmica ainda mais expressivo.
Quadro 1.19. Rendimento lquido mensal do agregado (%) PCDI At 403
euros 27,6 De 404 a 600 euros 21,7 De 601 a 800 euros 14,2 De 801 a
1000 euros 7,9 De 1001 a 1200 euros 4,6 De 1201 a 1600 euros 2,4 De
1601 ou mais euros 1,1 Ns/Nr 20,6 Tomando como referencial o facto
de em Portugal, no ano de 2007, o limiar da pobreza corresponder ao
rendimento por adulto equivalente de 360 euros (INE, 2007), muito
provvel que uma parte signicativa desta populao se encontre abaixo
desse limiar. De resto, as pessoas com de- cincias e incapacidades
so consideradas como particularmente vulne- rveis pobreza, e uma
proporo importante desta populao integra uma das categorias tpicas
de pobres (Capucha, 2005). 34 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS
COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
26. Depois de terem sido analisados alguns dos dados mais
importantes de caracterizao social e econmica, apresentam-se de
seguida resultados re- lativos a aspectos culturais, que permitem
avaliar o grau de inconformidade com a desigualdade e de
proactividade desta populao (Casanova, 2004). Na orientao relativa
desigualdade, verica-se que os inquiridos com decincias e
incapacidades exibem maior inconformidade (55,5%) do que
conformidade (44,3%) com as desigualdades sociais. Todavia, essa
incon- formidade menos expressiva do que aquela que visvel na
amostra da populao do Continente (71,4%). Quadro 1.20. Orientao
relativa desigualdade social na populao do Continente e da PCDI
Populao do Continente PCDI N % N % certo que as pessoas so
diferentes umas das outras, mas sempre possvel diminuir as
desigualdades sociais entre elas. 10720 71,4 686 55,5 certo que as
pessoas so diferentes umas das outras, e as desigualdades sociais
entre elas so inevitveis. 4284 28,6 547 44,3 Ns/Nr 1 0,0 2 0,2 No
que respeita orientao da aco, verica-se que os inquiridos so
maioritariamente proactivos, ou seja, acreditam maioritariamente na
ideia de que a posio na sociedade depende sobretudo de se ter
objectivos na vida e do esforo que se desenvolve para atingir esses
objectivos (56,8%), e no tanto de factores que no podem ser
controlados pelos indivduos. Quadro 1.21. Orientao da aco na
populao do Continente e da PCDI Populao do Continente PCDI N % N %
A nossa posio na sociedade depende sobretudo de termos objectivos
na vida e de nos esforarmos por os atingir 10848 72,3 701 56,8 Por
mais que faamos, a nossa posio na sociedade depende sobretudo de
coisas que no podemos controlar 4153 27,7 532 43,1 Ns/Nr 4 0,0 2
0,2 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 35
27. Contudo, tambm aqui, o peso da proactividade inferior ao
que se vericou na populao em geral (72,3%). A inconformidade com a
desigualdade social e a proactividade so, portanto, maioritrias
entre as pessoas com decincias e incapacidades, mas estas maiorias
no so muito signicativas e so claramente inferio- res s encontradas
na populao portuguesa. A anlise conjunta da orien- tao relativa
desigualdade e da orientao da aco permite classicar os inquiridos
em termos de orientao social (Casanova, 2004)(09). A orientao
social predominante entre os inquiridos com decincias e
incapacidades a da autonomia, a que se seguem as orientaes da he-
teronomia, da independncia, e da resistncia. A orientao da excluso
tem um valor claramente residual. Apesar de ser a orientao com uma
percentagem mais elevada (39,1%), importa vericar que a autonomia
no maioritria nestes inquiridos, ao contrrio do que acontece com a
populao em geral. Quadro 1.22. Orientao social na populao do
Continente e da PCDI Populao do Continente PCDI N % N % Orientao da
autonomia 8602 57,3 483 39,1 Orientao da independncia 2246 15,0 217
17,6 Orientao da resistncia 2116 14,1 202 16,4 Orientao da
heteronomia 203 13,6 330 26,7 Orientao da excluso 4 0,0 3 0,2 Em
comparao com a amostra da populao do Continente, nota-se ainda que
a orientao da autonomia entre as pessoas com decincias e
incapacidades tem um peso relativo inferior, sendo esse peso sempre
superior nas restantes modalidades. No global, estes resultados
evidenciam traos socioculturais na popu- lao com decincias e
incapacidades que se caracterizam pela rejeio do fatalismo, da
resignao e da excluso, e indicam, portanto, uma estru- tura de
suporte de atitudes e aces individuais e colectivas na melhoria das
suas condies de vida. (09) Os contedos das orientaes sociais assim
denidas so os seguintes: autonomia igualitrios proactivos;
independncia no-igualitrios proactivos; resistncia igualitrios
no-proactivos; hete- ronomia no igualitrios no-proactivos; excluso
inclui os que no responderam s perguntas. 36 ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL
28. Captulo 2. Limitaes da actividade
29. At aqui caracterizou-se a populao com decincias e
incapacidades como um todo. Sabe-se que esta populao bastante
diversa em termos do tipo de decincias e incapacidades, ou, mais
concretamente, do tipo de altera- es nas funes e do tipo de
limitaes da actividade. Deste modo, importante aprofundar a
visibilidade sobre esta populao, vericando se existem diferentes
caractersticas sociais associadas aos diversos tipos de decincias e
incapacidades. este o trabalho que a seguir se expe, ini- ciado a
partir da explorao das limitaes da actividade. Salienta-se que a
anlise das limitaes da actividade efectuada neste captulo refere-se
especicamente populao com decincias e incapacidades. Nesta po-
pulao qualquer um dos inquiridos tem limitaes da actividade em pelo
menos uma das reas vitais, limitao essa no superada com a utilizao
de uma ajuda tcnica(10). Com a presente explorao pretende-se obter
uma viso pormenori- zada da distribuio das limitaes da actividade
por tipo de limitao, bem como analisar cada tipo de limitao da
actividade, tendo em conta a sua diferenciao por sexo, grupo etrio,
grau de escolaridade, actividade econmica e prosso. De acordo com a
CIF, actividade a execuo de uma tarefa ou aco por um indivduo e
limitaes da actividade so diculdades que um in- divduo pode ter na
execuo de actividades. Neste captulo, a anlise dos resultados
encontra-se organizada de acordo com domnios que integram as reas
vitais dos indivduos: apren- dizagem e aplicao de conhecimentos,
tarefas e exigncias gerais, comu- nicao, mobilidade, autocuidados,
vida domstica e interaces e relacio- namentos interpessoais. Nesta
abordagem, optou-se ainda por explorar autonomamente, face s
dimenses da CIF, as limitaes da actividade relativas viso, audio e
fala. Mediante os dados obtidos a partir da inquirio, concluiu-se
que tal discriminao enriquece a leitura crtica dos mesmos e permite
estabelecer uma melhor correspondncia analtica entre as alteraes
nas funes e as limitaes da actividade. No sentido de assegurar a
coerncia com a CIF, a apresentao das trs tipologias de limitaes
supracitadas em grco ou quadro delimitada por linha de traado
intermitente. (10) Com excepo das limitaes da actividade ao nvel da
mobilidade, para as quais a pergunta da ajuda tcnica no resultou
pois existiram muitas no-respostas. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 39
30. A denio dos domnios de limitaes da actividade, tal como foi
ope- racionalizada, exposta de seguida: Limitaes da actividade
relativas aprendizagem e aplicao de conheci- mentos Existncia de
muita diculdade ou impossibilidade em resolver opera- es matemticas
simples (e.g., somar, subtrair), adquirir conhecimen- tos atravs da
leitura, expressar ideias atravs da escrita, escolher uma opo entre
vrias, implement-la e avaliar os seus efeitos. Limitaes da
actividade relativas s tarefas e exigncias gerais Existncia de
muita diculdade ou impossibilidade em planear, gerir e realizar as
actividades de resposta s exigncias do dia-a-dia, assumir perante
os outros a responsabilidade pela realizao de uma tarefa e lev-la a
cabo, enfrentar a presso, a urgncia ou o stress no desempe- nho de
uma tarefa, enfrentar e resolver situaes que coloquem em risco a
prpria vida ou dos outros (e.g., um acidente rodovirio ou um
incndio). Limitaes da actividade relativas comunicao Existncia de
muita diculdade ou impossibilidade em usar ou enten- der formas de
comunicao no verbal (e.g., gestos, smbolos, imagens), iniciar e
manter uma conversa com uma ou mais pessoas, utilizar equi-
pamentos para comunicar. Limitaes da actividade relativas
mobilidade Existncia de muita diculdade ou impossibilidade em andar
distn- cias curtas, andar distncias longas, subir e descer escadas,
superfcies ou objectos (e.g., rochas, rampas), mudar a posio do
corpo, manter a posio do corpo, levantar e transportar objectos ou
realizar tarefas que exigem coordenao de movimentos, com ou sem a
ajuda de outra pessoa/ajuda tcnica. Limitaes da actividade
relativas aos autocuidados Existncia de muita diculdade ou
impossibilidade de realizar as acti- vidades pessoais bsicas dirias
como comer, lavar-se, vestir-se, etc., mesmo com o recurso a uma
ajuda tcnica. Limitaes da actividade relativas vida domstica
Existncia de muita diculdade ou impossibilidade de fazer as tarefas
domsticas, fazer as compras para a casa e ajudar as pessoas que
vivem consigo na aprendizagem, comunicao, autocuidados e movimento,
dentro ou fora de casa, mesmo com a utilizao da ajuda tcnica. 40
ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
31. Limitaes da actividade relativas s interaces e
relacionamentos inter- pessoais Existncia de muita diculdade ou
impossibilidade em relacionar-se com superiores hierrquicos,
subordinados e colegas no trabalho e/ou na escola, e/ou com amigos
ou vizinhos, e/ou com familiares, e/ou com o
marido/mulher/companheiro/companheira/parceiro sexual. Limitaes da
actividade relativas viso Existncia de muita diculdade ou
impossibilidade em executar tarefas que requerem viso distncia e/ou
tarefas que requerem viso ao perto, sem ajuda tcnica. Limitaes da
actividade relativas audio Existncia de muita diculdade ou
impossibilidade de ouvir uma con- versa ou ouvir rdio sem uma ajuda
tcnica e/ou ouvir uma apresenta- o numa conferncia ou um concerto,
sem ajuda tcnica Limitaes da actividade relativas fala Existncia de
muita diculdade ou impossibilidade em falar de forma compreensvel
para os outros, sem a utilizao de uma ajuda tcnica. No Grco 2.1,
possvel observar a distribuio das limitaes da acti- vidade(11) por
cada um destes domnios, sendo imediatamente visvel que esta
distribuio no homognea, destacando-se as limitaes ao nvel da
aprendizagem e aplicao de conhecimentos (57,9%), seguidas pelas
limitaes na mobilidade (48,4%). No extremo oposto, encontram-se as
limitaes ao nvel da fala (0,5%) e da audio (1,6%). Estes primeiros
da- dos evidenciam a importncia crucial que os problemas de
mobilidade tm nesta populao. (11) As limitaes das actividades
analisadas so identicadas pelo prprio sujeito inquirido, e no pelo
entrevistador. perguntado ao inquirido se tem ou no diculdade em
realizar um conjunto de activida- des e este responde consoante a
sua percepo e entendimento das suas diculdades. ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL 41
32. Grfico 2.1. Tipos de limitaes da actividade (%) 70 60 57,9
50 48,4 44 40 35 30 23,9 20 8,3 10 5 6,2 1,6 0,6 0 Tarefas e
exigncias Interaces e relacionamentos Vida domstica gerais
interpessoais Mobilidade Comunicao Viso Audio Fala Aprendizagem e
aplicao de conhecimentos Autocuidados Como seria de esperar, uma
vez que constituem cerca de 68% da popu- lao com decincias e
incapacidades, so as mulheres que apresentam uma maior proporo de
incapacidade em qualquer um dos domnios (12). (12) No domnio da
fala, evidencia-se uma maior expresso do sexo masculino. Contudo,
dado o residual nmero de respostas, no ser possvel tratar estes
dados. 42 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
33. Grfico 2.2. Tipos de limitaes da actividade e sexo (%) 80
72 73 71 69 69 70 70 66 65 65 60 50 40 34 35 35 32 31 30 28 27 29
30 20 10 0 Aprendizagem e aplicao de conhecimentos Interaces e
relacionamentos interpessoais Tarefas e exigncias gerais Mobilidade
Viso Audio Autocuidados Vida domstica Comunicao Masculino Feminino
Igualmente expectvel o aumento de limitaes da actividade me- dida
que aumenta a idade. Como se pode observar no Quadro 2.1, existe
uma relao directa entre as limitaes e a idade, registando-se uma
ele- vada concentrao de limitaes, em quase todos os domnios, no
escalo dos 60 aos 70 anos. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS
COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 43
34. Quadro 2.1. Tipos de limitaes da actividade e grupos etrios
(%) Auto- Vida Interaces e Aprendizagem Tarefas Comunicao
Mobilidade Viso Audio Fala cuidados domstica relacionamen- e
aplicao de e exign- tos interpessoais conhecimentos cias gerais
(N=102) (N=295) (N=63) (N=716) (N=544) (N=433) (N=599) (N=74)
(N=20) (N=6) 18 29 anos 1,0 1,4 8,1 2,0 2,4 2,1 1,3 2,6 0,0 16,7 30
39 anos 2,0 2,7 9,7 4,9 5,1 6,7 2,7 7,9 0,0 33,3 40 49 anos 11,8
11,2 6,5 9,9 11,6 13,0 8,5 17,1 0,0 0,0 50 59 anos 24,5 23,4 32,3
16,5 17,6 20,1 20,1 30,3 20,0 16,7 60 70 anos 60,8 61,4 43,5 66,7
63,2 58,1 67,4 42,1 80,0 33,3 Total 100 100 100 100 100 100 100 100
100 100 As limitaes da actividade no domnio das interaces e
relaciona- mentos interpessoais so aquelas que apresentam os
valores mais dis- tribudos pelos vrios escales etrios, seguidas das
limitaes relativas viso, no deixando, contudo, de ser mais
representativas nos grupos etrios acima dos 50 anos. Quadro 2.2.
Tipos de limitaes da actividade e nveis de ensino atingidos Auto-
Vida Interaces e Aprendizagem Tarefas Comunicao Mobilidade Viso
Audio Fala cuidados domstica relacionamen- e aplicao de e exign-
tos interpessoais conhecimentos cias gerais (N=102) (N=295) (N=63)
(N=716) (N=544) (N=433) (N=599) (N=74) (N=20) (N=6) No sabe ler e
escrever ou sabe, mas no frequentou a escola 20,5 17,6 19,4 33,4
20,2 19,9 18,9 7,9 15,0 Ensino bsico 1. ciclo 58,8 62,7 50,0 52,9
57,9 59,7 64,0 53,9 65,0 83,3 Ensino bsico 2. ciclo 10,8 11,2 6,5
6,4 10,7 11,6 8,7 11,8 15,0 Ensino bsico 3. ciclo 6,9 5,1 16,1 3,6
6,1 4,9 5,2 13,2 16,7 Ensino secundrio 2,0 2,4 3,2 2,5 2,9 2,8 2,0
13,2 Curso mdio/ensino superior 1,0 1,0 4,8 1,1 2,2 1,2 1,2 5,0
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 44 ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL
35. Como se pode constatar pela anlise do Quadro 2.2, as
limitaes da actividade nos domnios da aprendizagem e aplicao de
conhecimentos, e da mobilidade so as que esto associadas a
escolarizaes mais frgeis: em ambos os casos a soma das percentagens
das pessoas que no sabem ler nem escrever (ou, sabendo, no andaram
na escola) com as que apenas terminaram o 1. ciclo do ensino bsico
ultrapassa os 80%. Convm, po- rm, salientar que tambm nestes dois
domnios que existe uma maior proporo de indivduos mais idosos. Uma
outra hiptese interpretativa prende-se com a existncia de decincias
e incapacidades que afectam estes dois domnios concomitantemente,
pelo que poder existir uma re- lao entre as elevadas percentagens
apresentadas e as decincias e in- capacidades que registam maiores
nveis de severidade. No plo oposto encontram-se as limitaes ao nvel
das interaces e re- lacionamentos interpessoais. As pessoas com
estas limitaes so as que re- gistam nveis de ensino mais elevados
(3,2% no ensino secundrio e 4,8% no ensino superior) e menores
percentagens nas escolaridades mais baixas. Este resultado tambm
poder ser inuenciado pela distribuio etria, pois as geraes mais
novas tm, em geral, qualicaes escolares mais elevadas. Quadro 2.3.
Tipos de limitaes da actividade e actividade econmica (18-64 anos)
Auto- Vida Interaces e Aprendizagem Tarefas Comunicao Mobilidade
Viso Audio Fala cuidados domstica relacionamen- e aplicao de e
exign- tos interpessoais conhecimentos cias gerais (N=102) (N=295)
(N=63) (N=716) (N=544) (N=433) (N=599) (N=74) (N=20) (N=6) Activo
20,0 24,4 43,9 41,6 33,2 37,3 27,2 52,6 20,0 33,3 No activo 80,0
75,6 56,1 66,9 66,8 62,7 72,8 47,4 80,0 66,7 Total 100 100 100 100
100 100 100 100 100 100 No que respeita actividade econmica, e como
esperado, verica-se que a grande maioria das pessoas com limitaes
da actividade so inac- tivas, principalmente aquelas que tm
limitaes nos domnios dos auto- cuidados, da vida domstica e da
mobilidade. Em contrapartida, as limita- es relativas viso e s
interaces e relacionamentos interpessoais so aquelas onde existe
uma maior proporo relativa de populao activa. ELEMENTOS DE
CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM
PORTUGAL 45
36. Quadro 2.4. Tipos de limitaes da actividade e grupos
profissionais Auto- Vida Interaces e Aprendizagem Tarefas Comunicao
Mobilidade Viso Audio Fala cuidados domstica relacionamen- e
aplicao de e exign- tos interpessoais conhecimentos cias gerais
(N=102) (N=295) (N=63) (N=716) (N=544) (N=433) (N=599) (N=74)
(N=20) (N=6) Grupo 1 Quadros sup. da Adm. Pbli- ca, dirigentes 3,7
1,7 2,3 1,3 1,9 2,4 2,7 3,4 11,1 20,0 Grupo 2 Especialistas das
prosses intelectuais e cientcas 1,2 0,9 2,3 0,4 1,0 0,3 0,4 5,6
Grupo 3 Tcn. e prossi- onais de nvel intermdio 0,9 4,7 0,9 1,9 0,9
1,2 Grupo 4 Pessoal adm. e similares 6,1 3,5 1,8 2,2 2,1 3,3 10,2
Grupo 5 Pessoal dos servios e vendedores 17,1 12,6 7,0 10,6 13,2
12,5 16,9 28,8 11,1 20,0 Grupo 6 Agricultores e trab. quali- cados
da agri- cultura e pecuria 8,5 17,7 9,3 24,3 20,3 20,8 15,4 16,9
11,1 Grupo 7 Operrios, artces e trab. similares 36,6 32,5 37,2 32,2
33,0 38,2 33,7 23,7 44,4 40,0 Grupo 8 Operadores de inst. e mq. e
trabalhadores da montagem 2,4 1,7 2,3 1,8 2,9 2,4 2,1 1,7 Grupo 9
Trabalhadores no qualic. 24,4 27,7 34,9 26,3 23,2 19,3 23,9 15,3
16,7 20,0 Nr 0,9 0,5 0,5 0,9 0,4 Total 100 100 100 100 100 100 100
100 100 100 46 ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
37. Analisando, agora, a prosso dos que trabalham (ou j
trabalharam), observa-se que os dois grupos com maior peso nos
vrios domnios de limitaes da actividade so os operrios e artces
(grupo 7) e os traba- lhadores no qualicados (grupo 9). A nica
excepo regista-se ao nvel da limitao relativa viso, cujo valor mais
alto se encontra no pessoal dos servios e vendedores (grupo 5).
Relao entre as vrias limitaes da actividade Da anlise das limitaes
da actividade foi possvel constatar a coexis- tncia de vrias
limitaes, isto , vericou-se que a grande maioria das pessoas tm
limitaes em mais do que um domnio. Estes casos de acu- mulao de
duas ou mais limitaes da actividade constituem realidades mais
severas e logo questes pertinentes do ponto de vista da reabilita-
o. Como se ir explorar, existem associaes privilegiadas entre algu-
mas das limitaes da actividade, sendo que a anlise destas associaes
poder contribuir para uma maior compreenso deste fenmeno. No que
diz respeito relao entre as limitaes nos autocuidados e as
restantes limitaes, constata-se que existe uma forte relao com as
limitaes experienciadas na vida domstica (95%) e na mobilidade
(89%). Por outro lado, as limitaes ao nvel da audio, da fala e da
viso so as que denotam uma relao menos evidente(13). (13) Dado que
se trata de limitaes da actividade com efectivo reduzido, os
resultados relativos a estas limitaes no podem ser extrapolados com
segurana. ELEMENTOS DE CARACTERIZAO DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 47
38. Grfico 2.3. Limitaes da actividade relativas aos
autocuidados e outras limitaes (%) 100 95 89 90 80 70 60 60 50 50
40 28 30 19 20 10 5