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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 2010 - Ano XII - Número 579 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected] DIÁRIO d o B R A S I L Hoje é dia luta pelo diploma de jornalista Divulgação Cineclubismo Os tempos de cineclube são relembrados por quem esteve presente em um dos perío- dos em que discutir no Brasil era proibido. Pág. 7 A forma como a mulher é representada na mídia gera muitas polêmicas. Para entender esse contexto é necessário conhecer como a figura feminina vem sendo vista ao longo da história, tanto nas relações familiares quan- to econômicas. Pág. 4 e 5 Questão de gênero Especial A luta da FENAJ e de sindicatos locais pela obri- gatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão tem mais um capítulo hoje. Um ato na- cional está marcado para acontecer no Rio de Ja- neiro. Outras formas de apoio que estão sen- do incentivadas são as manifestações pela in- ternet, por meio das redes de relacionamento. Pág. 3 Ontem aconteceu a primeira grande zebra da Copa do Mundo. Quais efeitos que os re- sultados surpreendentes causam no anda- mento da competição? Confira o comentário do nosso articulista. Pág. 2 Opinião Perfil Imprevisível

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 2010 - Ano XII - Número 579Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected]

DIÁRIO

do

BRASIL

Hoje é dia lutapelo diplomade jornalista

Divulgação

CineclubismoOs tempos de cineclube são relembrados

por quem esteve presente em um dos perío-dos em que discutir no Brasil era proibido.

Pág. 7

A forma como a mulher é representada namídia gera muitas polêmicas. Para entenderesse contexto é necessário conhecer como afigura feminina vem sendo vista ao longo dahistória, tanto nas relações familiares quan-to econômicas.

Pág. 4 e 5

Questãode gênero

Especial

A luta da FENAJ e de sindicatos locais pela obri-gatoriedade do diploma de jornalista para exercera profissão tem mais um capítulo hoje. Um ato na-cional está marcado para acontecer no Rio de Ja-

neiro. Outras formas de apoio que estão sen-do incentivadas são as manifestações pela in-ternet, por meio das redes de relacionamento.

Pág. 3

Ontem aconteceu a primeira grande zebrada Copa do Mundo. Quais efeitos que os re-sultados surpreendentes causam no anda-mento da competição? Confira o comentáriodo nosso articulista.

Pág. 2

Opinião

Perfil

Imprevisível

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 20102

Opinião

É fácil de reconhecer: cabelos levemente clareados pelosol, ponta do nariz e maçãs do rosto queimadas e no finalde semana estão sempre ausentes da cidade. Podem estarvestidos de terno em um escritório ou de óculos de grau esalto alto na redação de um jornal, mas no feriado estão lá,na praia, acompanhados de suas pranchas, seja inverno ouverão.

Foi difícil arrumar emprego? "Foi sim, e muito!" respon-deu Leonardo L., amigo meu, surfista há 11 anos e forman-do de Direito pela UFPR. Conversamos sobre como é difícilser levado a sério quando contamos que somos surfistas.No Brasil, há um preconceito generalizado que associa sur-fe à vadiagem, seja você formando de Direito ou de Medici-na. Para muitos, é difícil classificar o surfe como outro es-porte qualquer. Sendo assim, reflexos no mercado de traba-lho são inevitáveis. Batalhei muito para provar meu realvalor como futura jornalista na empresa em que faço está-gio e quase joguei tudo pelo ralo quando resolvi contar omotivo dos breves “sumiços” nos finais de semana. Garan-to que se tivesse contado isso na primeira entrevista de em-

Sofia [email protected]

Reitor: José Pio Martins.Vice-Reitor: Arno Anto-nio Gnoatto; Pró-Reitorde Graduação: RenatoCasagrande; Pró-Reitorde Planejamento e Ava-liação Institucional: Cos-me Damião Massi; Pró-Reitor de Pós-Gradua-ção e Pesquisa e Pró-Reitor de Extensão: Bru-no Fernandes; Pró-Reitorde Administração: ArnoAntonio Gnoatto; Coor-denador do Curso deJornalismo: Carlos Ale-xandre Gruber de Cas-tro; Professores-orienta-dores: Ana Paula Mira eMarcelo Lima; Editores-chefes: Nathalia Caval-cante ([email protected]), Daniel Cas-tro ([email protected]) e Diego Henri-que da Silva (ediegohen-rique@ hotmail.com).

“Formar jornalistas comabrangentes conhecimen-tos gerais e humanísticos,capacitação técnica, espí-rito criativo e empreende-dor, sólidos princípioséticos e responsabilidadesocial que contribuamcom seu trabalho para oenriquecimento cultural,social, político e econô-mico da sociedade”.

O LONA é o jornal-laboratório diário doCurso de Jornalismo daUniversidade Positivo –UPRedação LONA: (41)3317-3044 Rua Pedro V.Parigot de Souza, 5.300 –Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR -CEP 81280-30. Fone (41)3317-3000

Expediente

Missão do cursode Jornalismo

(Não) souvagabundo,eu confesso

No Brasil, há um preconceitogeneralizado que associa surfe àvadiagem, seja você formandode Direito ou de Medicina

prego, seria descartada na hora. Ser surfista não é sinôni-mo de morar na praia vendendo pulseirinha na areia, e éesse o ponto mais difícil de compreenderem. Assim comoeu, outros surfistas têm inúmeras ambições na vida antesda tão sonhada “vida na praia”. Temos nossas dúvidas naescolha do curso, encaramos um, estudamos para ele, tra-balhamos, adquirimos experiência e desejamos um futuropromissor com garantia de independência financeira e rea-lização pessoal como qualquer outra pessoa. Cadê? Ondeestá a linha que divide os surfistas dos outros jovens? Deveser tão tênue que toda vez que faço essa pergunta, ninguémsabe respondê-la.

Eu faço meu trabalho diversas vezes melhor que algu-mas colegas minhas. Tiro notas boas, sonho em ser escrito-ra e publicar um livro para chamar de meu. Porém, sofropreconceito em dobro: sou surfista e sou mulher. Como sejá não bastasse a eterna busca por destaque feminino nomercado de trabalho, ainda sofro no mar para conquistar orespeito da maioria masculina. Por causa disso, como ou-tros e outras surfistas, dou o meu melhor em cada ativida-de. Seja ela sobre o salto alto na redação ou sobre a pran-cha no mar. E fico extremamente chateada quando noto al-gum preconceito sobre ambas as atividades. Incentivo a to-dos uma avaliação rígida menos focada no pós-expedientee mais focada na força de vontade de seus empregados, poisé por ela que se faz um bom profissional.

Fernando de [email protected]

Quando a zebrafugiu da savana einvadiu Durban

No último jogo da primeira rodada da Copa do Mundode 2010, realizado em Durban, a Suíça surpreendentemen-te venceu a Espanha por 1x0, placar que nem mesmo omais otimista relojoeiro suíço poderia precisar. Isso porquea Espanha é a atual campeão europeia, vinha jogando umfutebol vistoso, além de contar com jogadores de qualida-

Torcer pela zebra pode pareceralgo nobre, um exemplo desolidariedade, mas não éatitude de quem realmentegoste de futebol – do jogo defutebol, não da manifestaçãocultural que ele representa

de e em grande fase, ao passo que a seleção suíça vinha deuma pífia campanha na Euro 2008 (a qual sediou, ao ladoda Áustria), e sem nenhum jogador de grande expressãomundial. Bom para os Suíços, péssimo para a Copa.

O jogo foi exatamente o que as escalações sugeriam – Su-íça fechada, visando explorar os erros espanhois, que porsua vez tentaram do início ao fim marcar os tentos que lhegarantiriam a vitória e a liderança do grupo. A Espanhaexplorou o jogo aéreo para furar a retranca – em vão. Emum contra-ataque com direito a trombadas, bola presa eduas tentativas de chute a Suíça achou seu gol e mantevea dianteira no placar até o apito final. A zebra parece teranimado os brasileiros (talvez como válvula de escape apósa má exibição da seleção no dia anterior), expressão quepode ser vista principalmente em redes sociais como o Twit-ter.

Torcer pela zebra pode parecer algo nobre, um exemplode solidariedade, mas não é atitude de quem realmente gos-te de futebol – do jogo de futebol, não da manifestação cul-tural que ele representa. Comemorar a derrota e uma pos-sível eliminação de uma das favoritas do mundial é fecharos olhos para as possibilidades de grandes confrontos en-tre equipes de qualidade técnica indiscutível nas fases fi-nais do torneio. Quem torce por semifinais com Coréia doSul, Turquia, Croácia – para citar as mais recentes – é omesmo tipo de torcedor que comemora a lesão de jogado-res que poderiam atrapalhar o caminho do Brasil ao título.Fato esse, aliás, que comprova a tese que brasileiro não gostade futebol, gosta sim é de ganhar.

A Copa do Mundo segue e fica a esperança, para osadeptos do bom futebol, que as grandes seleções se classi-fiquem. Com Brasil, Espanha, Argentina, Holanda, Alema-nha e Inglaterra oferecendo boas possibilidades de confron-tos adiante, os verdadeiros admiradores do esporte bretãocruzam os dedos e esperam que as zebras africanas não tor-nem a fugir das savanas.

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Há um ano o Supremo Tri-bunal Federal julgou proceden-te o processo pela nãoobrigatoriedade do diplomapara o exercício da profissão dejornalista. Na ocasião, foramoito votos contra um. A Federa-ção de Jornalistas e sindicatoslocais estão se articulando paramobilizar hoje os profissionaise toda a sociedade para comporum ato público em prol da defe-sa do retorno daobrigatoriedade. A proposta éque a data fique na história pelavolta do diploma e que se abraa discussão pela necessidadeda regularização profissional.

O ato nacional está previstopara ocorrer na cidade do Riode Janeiro. A ideia principal daação é que os interessados e pre-ocupados com a qualidade eresponsabilidade da informa-ção jornalística atuem direta-mente na discussão, por meiodo envio de e-mails aos sena-dores, expondo sua reivindica-ção. Em carta convocatória, adiretora de Educação ValciZuculoto, da FENAJ, destacaque é preciso muita divulgaçãodas atividades. Pede que men-

Ação marca dia daluta pelo diplomaEli Antonelli sagens sejam divulgadas nas

páginas de blogs, twitters eenviadas para lista de gruposde emails. A força damobilização está centradaalém de atos presenciais naefetivação das ideias nas re-des sociais.

O jornalista Muriel Amaralanalisa o posicionamento ju-dicial da não-obrigatoriedadee aponta a situação como umdesrespeito do ponto de vistahumano e profissional. Paraele, a escolha para cursar jor-nalismo se dá pela necessida-de de aprimoramento de umaárea que há anos é assunto depesquisas e estudos no meioacadêmico.

"A profissão de jornalistarequer posicionamento e co-nhecimento ético, científico,técnico e moral para serexercida". O jornalista desta-ca ainda que, além disso, o jor-nalismo está inserido numaesfera maior, que se denomi-na comunicação. A esse termoestão embutidos conhecimen-tos muito mais amplos e com-pletos, além da elucidaçãodessa complexidade de a co-municação ser realizada nosmeios acadêmicos, com incen-

tivo à pesquisa. "Anular o diplo-ma de jornalismo é considerar oconhecimento e cultura ofereci-dos pelas universidades comopersonagens dispensáveis parao crescimento moral e intelectualde indivíduos e desqualificar oempenho de profissionais em tor-nar o jornalismo um mecanismode cidadania", afirma.

A preocupação com a quali-dade de informação e exercícioprofissional impacta na socieda-de. Para o designer gráfico CesarStati, a regularização da profis-são é uma discussão essencial-mente relevante em todas as ati-vidades. "Acho que é importantea regularização da profissãopara que o profissional exerça aatividade e, além disso, respon-da inclusive pelo seu trabalho nasociedade".

Para a jornalista RenataNymberg, o diploma é a garantiade uma formação voltada à res-ponsabilidade social. "Acho nomínimo fundamental para ga-rantir ética e idoneidade nas in-formações que são transmitidasà sociedade. O jornalista é o fil-tro entre o fato e o receptor, e sema obrigatoriedade do diplomanão podemos garantir a veraci-dade das informações", afirma.

Fotos: Dilvugação

Senadores do Paranáhttp://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_atual.asp

[email protected] [email protected] [email protected]

Na última segunda-feira,iniciou-se a campanha nacionalde doação de sangue. EmCuritiba, as coletas podem serrealizadas em oito hemocentros,os bancos de sangue. Campa-nhas como essa reforçam a im-portância da doação, pois comisso pode-se evitar que pacien-tes que estão à espera de sanguenão tenham seu quadro de saú-de afetado ou até mesmo ir a óbi-to.

Por isso, até o dia 30 os ban-cos de sangue irão manter acampanha para incentivar apopulação através do slogan“Doe sangue, faça alguém nas-cer de novo”. Durante esse perí-odo televisão, rádio e jornaisvão veicular os informes dacampanha. Na televisão, porexemplo, bebês protagonizampacientes que “renasceram”.

De acordo com o Ministérioda Saúde, são coletadas por ano3,5 milhões de bolsas de sangueno Brasil, quando o ideal seria5,7 milhões, quer dizer, 1,9% dapopulação brasileira é doadora.A estatística está dentro do pre-visto pela Organização Mundi-al da Saúde (OMS), que é de 1%a 3%. Porém, para explicitar queeste número ainda é insuficien-te, a assistente social doHemepar Fabiane Natal Janatacita que há pouca procura. “Te-mos capacidade suficiente paraatender 150 doadores por dia,no entanto, geralmente atende-mos cerca de 70 pessoas pordia”, afirma.

Além da falta do hábito dedoar, existem outros fatores queprejudicam como o inverno, porexemplo. Devido ao jogo de ter-ça-feira, o número caiu para 50.

Hemocentrosesperam doadores

Nathalia Cavalcante Aos sábados, o Hemepar é maisprocurado, chega a atender 100pessoas.

É importante ressaltar que oprocedimento tem duração de até50 minutos, envolvendo entrevis-ta, exames, coleta de sangue e lan-che. São coletados de 400 ml a 450ml por doador. Esta quantidadepode salvar quatro vidas. Depen-dendo do caso, este saldo podesubir e outros pacientes podem serbeneficiados. “Pessoas que sofre-ram acidente; passaram por cirur-gia ou portadores de doenças dosangue, como anemia e hemofilia,são os mais favorecidos”, reforça.

Independente se for a primeiradoação, é necessário que o doadorpasse pelos mesmos procedimen-tos. Há algumas restrições paraquem deseja realizar esta ação.“Grávidas, mulheres que estãoamamentando, pessoas que pos-suem tatuagem ou piercing, nãopodem doar, temporariamente”,reforça a assistente social. Os últi-mos mencionados devem esperarpor um ano, para doarem sangue.

Os futuros doadores devem teridade entre 18 anos e 65 anos, compeso acima de 50 Kg. No dia dadoação devem ser evitados ali-mentos gordurosos e consumo debebida alcoólica. É necessário apre-sentar um documento oficial paraa realização dos procedimentos.

Aos 18 anos, a assistente ad-ministrativa Caroline AparecidaTeixeira, de 25 anos doou sanguepela primeira vez, para ajudar umaamiga. Depois disso, pôde doar pormais duas vezes, pelo mesmo mo-tivo. “Infelizmente, não posso mais,porque faço uso de remédio con-trolado”, lamenta. Para Caroline aação é sinônimo de solidariedade.“Ao doar sangue, podemos ajudaroutras pessoas, e o mais importe,salvar vidas”, acrescenta.

HemeparTravessa João Prosdócimo, 145 -Alto da XV / 3262.7676.

Hemobanco Rua Capitão. Souza Franco, 290 –Bigorrilho / 3225.5545.

Biobanco do Hospital de ClinicasRua Agostinho Leão Junior, 108 -Alto da Gloria / 3360.1875.

Hospital da Santa CasaPraça Rui Barbosa, 694 – Centro -Fone: 3322.2387.

Doações de sangue ainda sãoinsuficientes em todo o Brasil

Hospital Erasto GaertnerRua Ovande do Amaral, 201- Jardimdas Américas / 3366.2387.

Hospital Nossa Senhora das GraçasRua Alcides Munhoz, 433 - Mercês -3335.2121.

Hospital VittaRodovia Br 116, nº 4.047 – Km 396 -3315.1951.

Hospital do TrabalhadorRua Isaac Guelman, s/ nº - NovoMundo.

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 20104

Na terça-feira 11 de maio, oparlamento francês aprovou porunanimidade o projeto de lei queproíbe o uso da burca, o véu is-lâmico integral, em locais públi-cos, com o argumento de queisso “garantia a proteção efetivadas mulheres obrigadas a usarum véu integral contra sua von-tade”.

Além de todas as outras dis-cussões já feitas com enfoque nacultura muçulmana, no precon-ceito e na xenofobia francesa,podemos também abrir um pa-rênteses para as relações de gê-nero das diversas sociedades aolongo da história e como isso sereflete no tratamento dado àsmulheres nos meios de comuni-cação.

HistóriaDesde os primórdios, a con-

cepção de “ser mulher” vem

sendo formada e verbalizada apartir de dogmas e conceitos im-postos pelas principais institui-ções. Durante o Brasil Colônia,por exemplo, a mulher vivia cer-cada por todos os lados. Suasações e sentimentos eram regu-lados pelo pai e vigiados poruma criada, e nesse caso ela nãoera a “amiguinha” da moça: emsua maioria as servas que acom-panhavam a donzela eram deextrema confiança do pai.

O Estado e a Igreja tinhamcomo objetivo manter o equilí-brio doméstico, a segurança ci-vil e a própria ordem das insti-tuições civis e eclesiásticas. Apartir desse pensamento, a Igre-ja era responsável pelo “adestra-mento” das mulheres nos con-ventos, pois segundo a publica-ção Malleus Maleficarum, de1486, de Heinrich Krämer eJakob Sprenger, a primeira mu-lher teria sido feita de uma cos-tela recurva, contrária à retidãodo homem, e, portanto, um ani-mal imperfeito que está fadadoa decepcionar a mente. Carrega-va o pecado original em seusombros e principalmente em suasexualidade, fatos que a faziam

Camila Rehbein, DilcéliaQueiroz, Isabella De Melo,Juliana Cordeiro, JulianoGondim, Luciana DosSantos, Paula Nishizima,Sonia Good (*)

Ainda em

viver em clausura, pois só assimseus pais teriam a certeza deque estaria domada.

São Jerônimo, no ano 392, járecomendava: “Escandaloso étambém o marido demasiado ar-dente para com sua própria mu-lher”, pois “nada é mais imun-do do que amar sua mulhercomo a uma amante (...). Que seapresentem à sua esposa nãocomo amante, mas como mari-do”. Como o sexo era visto comoinstrumento para gerar filhos enão para o prazer, a mulher de-via pagar o débito de seus peca-dos se entregando a seu maridoquando este bem quisesse.

Entre outros conselhos da-dos pela Igreja, podemos desta-car a censura perante as posi-ções realizadas na hora do coi-to. Segundo moralistas e teólo-gos, não se deveria copular como homem em pé, sentado ou porbaixo da mulher, pois o espermapoderia ser desperdiçado ao“entrar no lugar errado”.

MudançasDe lá para cá, houve muitas

mudanças significativas nessasrelações, porém, muitos desses

dogmas antigos permaneceram.Fatores como a Revolução Indus-trial e a Revolução Francesa mu-daram as relações de trabalho,desbancaram antigas classesdominantes e estabeleceram ummodo de vida diferente do ante-rior.

Com a chegada da indústria,as mulheres, homens e criançaspassaram a ser explorados comonunca. Dava-se preferência parao trabalho infantil e feminino,pelos baixos salários — qual-quer semelhança com a realida-de atual não é mera coincidên-cia — e pelo fato de que durantepossíveis greves e levantes con-tra os empresários, esses gruposeram considerados mais frágeis.

As relações de trabalhoPode-se dizer de uma forma

geral, que as relações de traba-lho permeiam as demais rela-ções na sociedade. Na medidaque essas relações se mostramdesiguais, privilegiando unscom o acúmulo absurdo de ri-quezas e tornando excluída ealienada a grande maioria, issogera “classes” diferentes, comdiferentes realidades, interesses,

e condições econômicas.O BID (Banco Interamericano

de Desenvolvimento), em pes-quisa de 2009, constatou que oBrasil é o país que mais apresen-ta defasagem salarial se compa-rado aos demais países da Amé-rica Latina: aqui, os homens ga-nham 30% a mais do que as mu-lheres de mesma idade e nívelde instrução.

A política é outro campo noqual as mulheres saem perden-do. Elas representam 52% doseleitores, porém sua representa-ção é de apenas 8,7% na Câma-ra dos Deputados e 13,5% no Se-nado, mesmo existindo, desde1997, a Lei 9.504, que estabeleceque os partidos ou coligações re-servem o mínimo de 30% e o má-ximo de 70% de candidaturaspara cada sexo.

Alguns dos motivos aponta-dos para essa falta de represen-tatividade feminina na políticase devem a fatores culturais,uma vez que as mulheres — amaioria vindas de famílias con-servadoras — não são educadaspara exercer cargos políticos, en-frentam dificuldades para seequilibrar entre trabalho, filhose marido, além do preconceito edo machismo, levando a crer queelas “não votam em outras mu-lheres”, sendo estas vistas comose “se comportassem igual aoshomens”. A falta de puniçõespara os que descumprem a leitambém é primordial.

As representações da mídiaA forma como as diferentes

faces da sociedade são represen-tadas nos grandes veículos co-municativos deveria funcionarcomo um “jogo de espelhos”: amídia recolhe dessa sociedadeos valores, tendências e compor-

desvantagemApesar das conquistas feministas das últimas décadas, mulheres aindaganham menos e são representadas de maneira negativa na mídia

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 2010 5Fotos: Divulgação

tamentos que quer destacar ecom base neles vende produtose ideias, ao mesmo tempo que opúblico ali mostrado deveria seidentificar com essas ideias esentir-se representado de ma-neira diversa.

Mas sabemos que não é bemassim que funciona. Realmente,a mídia destaca estilos de vida,modelos de beleza e valores quelhe convém, porém cria um ima-ginário, um tipo ideal e perfeitotão grande e fantasioso sobreisso que leva a fatores como oconsumismo, a exclusão de mi-norias, a depressão, a baixa au-toestima e até as doenças gravesrelacionadas à aparência (buli-mia, anorexia, entre outras).

A Dove realizou em 2005uma pesquisa com 1000 adoles-centes entre 15 e 17 anos e 2300mulheres entre 18 e 64 anos, empaíses como Brasil, México, Ca-nadá, Estados Unidos, Japão, Itá-lia, Alemanha, China, ArábiaSaudita e Reino Unido. Os resul-tados são impressionantes: 90%dessas mulheres afirmam querer

mudar pelo menos um aspectoda aparência (sendo o peso o pri-meiro deles), menos de 2% seconsideram “belas” e 67% evitamatividades sociais por se sentiremmal com sua aparência.

Mas que estereótipos tão per-versos seriam esses, que abalamtanto as pessoas? De uma formageral, o modelo “padrão” de so-ciedade mostrado nas novelas,propagandas, seriados e até nosdesenhos animados, tanto paramulheres quanto para homens,está dentro dos seguintes requi-sitos: brancos, de olhos claros,magros, altos, jovens, sendo asmulheres de preferência loiras esiliconadas, consumistas, semum pingo de inteligência e amorpróprio, dispostas a fazer atro-cidades e se digladiar com ou-tras mulheres para conquistar oamor (ou apenas o sexo) de umhomem, ou então submissas aoscaprichos masculinos, donas decasa, boas mães que prezam pelaharmonia do lar, acarretandotudo aquilo que o marido dizcomo palavra final e irrefutável.

E homens impositivos, bem su-cedidos profissionalmente, quede certa forma, impõem sua au-toridade pelo fato de “sustenta-rem a família”, muitas vezes re-presentados como adúlterospor “condição natural de ma-cho dominante”.

Foi divulgado um relatóriopreliminar pelo Projeto Globalde Monitoramento de Mídia(2010 Global Media MonitoringProject - GMMP) no qual se afir-ma que apenas 24% das pesso-as entrevistadas, ouvidas, vistasou a respeito de quem se lê emtransmissões principais e notí-cias impressas são mulheres,sendo estas identificadas porsuas relações familiares cincovezes mais do que os homens,o que reforça os velhos estereó-tipos.

Luta pela igualdadeMuitos são os projetos e ini-

ciativas que têm por objetivo aigualdade de gênero. Além doProjeto Global de Monitoramen-to de Mídia e do Unifem, o BIDlançou em 2009 um novo Fun-do para Gênero e Diversidade,proporcionando doações deUS$ 10 milhões para financiara incorporação de ações em ter-mos de gênero e diversidade naAmérica Latina e no Caribe.

No Brasil, foi criado o “Pro-grama Pró-Equidade de Gêne-ro: Oportunidades Iguais Res-peitando as Diferenças”, umainiciativa do Governo Federal,que, por meio da Secretaria Es-pecial de Políticas para as Mu-lheres da Presidência da Repú-blica (SPM/PR) e com base noPlano Nacional de Políticaspara as Mulheres, procura rea-firmar os compromissos depromoção da igualdade entremulheres e homens inscrita naConstituição e já promulgou 46novos instrumentos normativos

em benefício das mulheres brasi-leiras, entre eles a lei Maria daPenha; a ampliação da licença-maternidade para 180 dias; e aminirreforma eleitoral.

Algumas das Organizaçõesque aderiram à 3ª Edição, de2009/2010, foram a Petrobras, oSESI-PR, a Itaipu Binacional, aEletrobras, o Banco do Brasil, aCaixa Econômica Federal e a Co-pel.

O SESI-PR, além do projeto doGoverno Federal, possui um pró-prio, o Projeto Relações de Gêne-ro como Potencial Estratégico, emparceria com a UniversidadeTecnológica Federal do Paraná(UTFPR), a Secretaria Especial dePolítica para as Mulheres (SPM)e o Laboratório Herbarium, que,segundo Renata Thereza Fagun-des Cunha, gestora dos dois pro-jetos no SESI, procura desenvol-ver uma metodologia para darsuporte para que as indústriascriem e ajustem procedimentosem prol da equidade de gênerono aspecto de gestão de pessoase cultura organizacional.

Renata afirma que o segundoprojeto objetiva que as empresasreflitam sobre equidade de gêne-ro e o processo de seleção de pes-soas de forma equitativa, já quemuitas dessas empresas não têmconsciência da discriminação.“Ela é chamada de discriminaçãoindireta, ou seja, ela ocorre quan-do as empresas não têm consciên-cia de suas práticas discriminató-rias. E nós estamos desenvolven-do este projeto justamente parapropor formas de a empresa fazera reflexão sobre os processos uti-lizados em seu ambiente”.

Ela afirma que não está bus-cando entender por que as desi-gualdades acontecem no merca-do de trabalho, mas, sim, solu-ções e incentivos para que essecenário mude: “Estamos fazendouma pesquisa sobre o que dá cer-

to para que, ao divulgarmosnosso trabalho para todas asempresas, elas possam analisare pensar: ‘Puxa, isso eu tambémposso fazer’”.

Sobre o Programa Pró-Equi-dade de Gênero, Renata explicaque a secretaria tem peso de mi-nistério, contando com NilcéiaFreire como sua ministra e que“isso mostra a importância quea questão de gênero tem na so-ciedade”. Ambos os projetos sãocomplementares, proporcionan-do um melhor relacionamentoda empresa com seus funcioná-rios, para que ela possa crescere contribuir para o crescimentonacional, e assim, atraindo maisinvestimentos.

Marcha das mulheresNo campo dos movimentos

independentes podemos citar aMarcha Mundial das Mulheres,existente desde o ano 2000, querealiza ações internacionais como objetivo de construir um pro-jeto que incorpore o feminismo eas mulheres como sujeitos polí-ticos, através da crítica à socie-dade capitalista, machista e pa-triarcal.

O movimento também com-bate a violência contra a mulher,defendendo a desmilitarização ea autonomia econômica femini-na. E o Coletivo de Ação Femi-nista (CAF) de Curitiba, uma ini-ciativa autônoma e apartidária,formada por jovens feministasindependentes, e que, segundosua representante, tem comoprincipais desafios promover aautorreflexão, politização e abusca pela identidade das mu-lheres.

A CAF se reúne em grupostanto de autoconsciência/orga-nização quanto de estudos e tra-balha com distribuição gratuitacom contribuição voluntária deum fanzine próprio, procurandotambém montar uma programa-ção de atividades culturais e terpresença em dias de luta ou docalendário feminista.

Referente à comunicação, foirealizada em dezembro de 2009,a 1ª Conferência Nacional deComunicação, que deu um pas-so decisivo no debate entre osempresários, a sociedade civil eórgãos que defendem os direitosdas mulheres e a igualdade degênero.

(*) Este texto foi apresentado naforma de seminário para a discipli-na de Sociologia com o tema “Rela-ções de gênero e representações namídia”, sob orientação da professo-ra Eliane Basílio de Oliveira.

Mulher samambaia, Paris Hilton e Piu-piu:

mulheres que estão na mídia, mas deixam a

desejar quanto à representação feminina na TV

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 20106

Para a grande maioria das pessoas, o tí-tulo já assusta, o que é algo natural, afinalnossa sociedade prega a “tão dita” liberda-de sexual.

Ouvir falar que alguém perdeu a virgin-dade com 12, 13 anos, não causa nenhum es-panto, pois as pessoas começam a se relaci-onarem sexualmente cada vez mais cedo.

Na antiguidade, esse resguardo era obri-gatório até o casamento, pelo menos para asmulheres. E aquelas que não se guardavameram “condenadas”, consideradas impurase imorais. Recebiam severas penalidades,muitas delas nunca mais se casavam.

E assim foi até os contraceptivos moder-nos serem inventados. Após isso, no mun-do secular este conceito foi largamente mu-dado. Muitas pessoas, possivelmente a mai-oria, passaram a ter relação sexual, aindasolteiros, com frequência.

Na contramão, há aqueles que decidemaguardar pelo matrimônio para transar.Não são necessariamente virgens, afinal, al-

Camilla Di LuccaEscreve quinzenalmente sobre arte,sempre às terç[email protected]

Amigos leitores, nesta campanha presidencial temalgo diferente das campanhas anteriores. No meio dedois rivais existe um homem chamado Lula. Ele carregaa responsabilidade de ser o bom samaritano não só peloBolsa Família, mas por ser ele mesmo, o pop star, o“cara”, como disse o Obama. Seus eleitores têm que en-tender que ele é apenas um homem que manteve a políti-ca econômica de Fernando Henrique Cardoso, primeirocom o Palocci e depois com Henrique Meireles. Tudo oque ele fez no mais, veio de um surto de interesses polí-ticos e econômicos vindos de outros países e que interes-sa a um país emergente como o nosso, menos é claro, areforma de Estado, mas esse é outro assunto.

Dilma nagarupa do PT

Tatiane GodinhoEscreve quinzenalmente, às quintas-feiras,sobre [email protected]

Política

Sexo só

Divulgação

Juliano ZimmerEscreve semanalmente, às quintas-feiras,sobre polí[email protected]

gumas deles já tiveram vida sexual ativa eresolveram renunciar essa prática por umtempo. O que possuem em comum é a von-tade de se “preservar” para a futura ou fu-turo cônjuge.

Hoje, dizer que é virgem ou que não fazsexo antes de casar é sinônimo de risos epiadas. Quem faz essa escolha recebe inú-meros apelidos e geralmente são taxadascomo pessoas abitoladas ou como mentesfechadas.

No entanto, essa decisão não é algoruim. Um estudo feito pela Universidade deMontreal, Canadá, comprova que 56% dosjovens que fizeram sexo antes do casamen-to estavam infectados com a doença sexu-almente transmissível HPV (o vírus do pa-piloma humano). O HPV é um vírus contrao qual a camisinha não dá proteção e é aprincipal causa de câncer do colo do útero.

Outro estudo realizado pela mesma uni-versidade mostra que as taxas de divórciosão maiores entre casais que praticaramsexo antes do casamento. E também, que oscasais que vão para o altar sem ter tido ne-nhum envolvimento sexual fazem sexo commuito mais frequência.

Independente de resolver esperar pelo ca-samento ou não, o importante é ter respeitopor cada decisão. Não cabe a ninguém fazero julgamento alheio. Cada um escolhe parasi o que acha melhor, seja por motivação re-ligiosa ou por princípios morais.

Alienado é quem não aceita a opinião dooutro e faz disso motivo de gozação.

depoisdo casamento

A prática comunista adotada porpetistas é manter a candidatalonge dos debates principalmentedepois que veio à tona a históriados dossiês. O que eles querem,amigos, é esconder o discursoda verdadeira candidata paraevitar gafes, que desmoronaria acampanha do PT

Ele quer tudo isso oferecer como herança para Dilma,que de acordo com Geraldo Alckmin faz com que a can-didata não seja titular dos próprios atos e nem de suacandidatura, que não anda com as próprias pernas. Emuma campanha, o candidato apresenta o resultado de idei-as para que se mude algo sem que alguém inscreva seudiscurso, o melhor até mesmo é ter o discurso baseado emexperiências e não naquilo que já exista.

A estrutura do PT é treinar Dilma para discursar e go-vernar de acordo com a cartilha deles. O negócio é man-tê-la longe de José Serra e Marina Silva. A prática comu-nista adotada por petistas é manter a candidata longe dosdebates principalmente depois que veio à tona a históriados dossiês. O que eles querem amigos é esconder o dis-curso da verdadeira candidata para evitar gafes, que des-moronaria a campanha do PT.

Tudo isso que vem acontecendo reflete nas eleições es-taduais como, por exemplo, no Paraná, onde o PT não con-segue montar palanque. As alianças não acontecem fazen-do com que o mocinho de Curitiba Beto Richa apareçacomo único candidato ao governo do estado, e nem com oapoio do PMDB os petistas dão um jeito na situação.

E mesmo o Lula tendo que estar quase fora do gover-no, tem que fazer uma campanha para Dilma, será queninguém tem ideias ou ideais se não for o salvador Lula?Mas a verdade tarda mais não falha, espero que eu estejaenganado. No Brasil além do clima ser tropical, a demo-cracia também é.

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 2010 7

Nathalia CavalcanteA infância de Salvatore di

Vita, o Totó de CinemaParadiso, filme de 1988, dodiretor Giuseppe Tornatore, émuito parecida com a infân-cia de Estevão Furtado, atualanalista numa multinacionalautomotiva. Ele, fã do cinema,assitia aos filmes da sala deprojeção do Cine Emacite, emMafra, onde um parente tra-balhava. Mesmo assim, nãodeixava de frequentar na ci-dade vizinha, em Rio Negro,os cines Rio Negro e Marajá,onde também costumava ircom os amigos.

“Lawrence da Arábia”, deDavid Lean, é o filme que re-almente guarda com maisdetalhes. As atuações deAnthony Quinn, Omar Sharife Peter O’Toole f icarammarcadas em sua memória,pois eram muito comentadospor sua mãe, que também eraapaixonada por cinema e mú-sica, além de ser uma grandeincentivadora. Esta foi umadas razões que o fez um ad-mirador da sétima arte. “Elacomentava a respeito dos ato-res e das músicas que eramtemas dos filmes”, reforça Es-tevão. “Candelabro Italiano”,de 1962, é um dos filmes deque sua mãe se lembrava pelamúsica. A produção deDelmer Daves traz a canção“Al di là” (Além), interpreta-da pelo próprio compositorEmilio Pericol i .“Casablanca”, “...E o VentoLevou” e “Juventude Trans-viada” também estavam nalista.

Para Estevão, durante asua infância o cinema signi-ficava um mundo de magia.Na juventude, procurava sa-ber mais a respeito dos filmes.“No início da adolescência,

paixãoCinema, uma eu já acompanhava a ficha

técnica do filme, diretor, pro-dutor, fotografia, trilha sono-ra e reconhecia alguns efeitosespeciais”, acrescenta.

A paixão pelo cinema nãoficou estacionada na adoles-cência. Ao ingressar no cursode economia na Universida-de Federal do Paraná (UFPR),em 1978, passou a frequentaro cineclube, que na época per-tencia ao diretório acadêmicono prédio paralelo ao do seucurso. Lá funcionava umcineclube onde eram realiza-dos apresentação e debatessobre os filmes. Num dos en-contros, surgiu a ideia de to-dos os diretórios acadêmicosda UFPR trabalharem em con-junto. O seu diretório tinhaespaço, porém não havia equi-pamentos, por isso os primei-ros foram emprestados. Issoaconteceu até 1979, quandofoi adquirido um projetor16mm. Liberdade de expres-são, eleições diretas e melhordistribuição de renda eram ossonhos dos jovens daquelafase. Logo isso se refletia noobjetivo do cineclube, poiseram exibidos documentários

Perfil

Nathalia Cavalcanti

com a finalidade de entreter,mas seu principal intuito eradespertar a discussão, mos-trar a realidade, promovendodebates e, além disso, estimu-lar a cultura. Estevão traba-lhou no cineclube até 1981,mal sabia que pouco tempodepois o local abrigaria umespaço somente para entrete-nimento. “A diretoria da épo-ca continuou por mais doisanos. Depois de algum tempo,infelizmente, virou sala de te-levisão”, lamenta.

Um dos momentos quemais o enche de orgulho foipor ter feito parte da geração“superoitista”, apesar das di-ficuldades. O super 8 era umequipamento muito caro epossuía poucos recursos, oscortes eram realizados naprópria câmara e poucos usu-ários tinham moviola (máqui-na para fazer edições) parasuper 8. O resultado da filma-gem só se via após a revela-ção da película, que na épocaera realizada em São Paulo.“As produções eram resulta-do de muita vontade e poucosrecursos”, lembra.

Além do cinema, Estevãonão dispensa uma câmera fo-tográfica. Seja nos cursos quefaz, nas viagens em família ounos projetos de que participa,procura clicar estes momen-tos para deixá-los guardados.A sua vocação para fotógrafoprevalecia nas produções re-alizadas em Super 8, já quegeralmente era o cinegrafistae fotógrafo. As fases no CineEmacite e no cineclube passa-ram, mas não levaram comelas o amor que Estevão tempelo cinema. Por isso, em2009, voltou ao meio cinema-tográfico, quando participoudo curso “Cinema nas Féri-as”, promovido pelo Centrode Línguas eInterculturalidades (Celin) daUFPR. Com esposa, filha euma cachorrinha, mantém asua rotina. Vai a cinemas, te-atros e museus, mantém o há-bito da leitura e gosta de ca-minhadas. Aos 51 anos con-tinua seus estudos fazendoPós-Graduação e nos três úl-timos anos trabalha como vo-luntário no projeto de umaorganização. Não esquecen-do, é claro, da fotografia.“Máquina na mão quase sem-pre, o gosto de fotografar ain-da não morreu”, acrescenta.

Nathalia Cavalcanti Nathalia Cavalcanti

Nat

halia

Cav

alca

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Curitiba, quinta-feira, 17 de junho de 20108

MenuUma das maiores cantoras do pop rock nacional, Rita Lee vem

a Curitiba neste final de semana para uma apresentação inédita.Em seu novo show, Rita Lee apresenta diversos sucessos de suacarreira, como “Bwana” e “Cor de Rosa Choque”; além de releiturasde canções de Caetano Veloso.Quando: Sábado, às 21h.Onde: Teatro Guaíra (R. XV de Novembro, 971, Centro, Curitiba).Quanto: R$ 80 a R$ 140.

Rita Lee em CuritibaRodrigo Cintra

Espaço Literário

O músico canadense JoeRoberts, ex-integrante da bandaMen Without Hats, se apresentashow “Clássicos do Rock” noTeatro Positivo, nesta sexta. Aolado de sua nova banda, JoeRoberts and Friends, ele tocaclássicos dos anos 50, 60, 70, 80 e90. Fazem parte do repertóriomúsicas de Elton John, PinkFloyd, Queen, The Beatles, entreoutros.

O melhor do rock internacionalEstou longe. Cada vez

mais longe. Ao olhar paratrás, vejo tudo o que ládeixei. A família, os ami-gos, a minha vida. Ago-ra, não posso mais voltar.“Não parecia tão frio nafoto” digo a um amigo queme acompanha. Balançaa cabeça, parecendo con-cordar. Voltamos para acasa. Na verdade, não é aminha casa. É uma casade família, dessas que elesalugam para estudantesdo exterior. Ao chegar nãofalo com ninguém, e hesi-to responder as pergun-tas. Às vezes o inglês bri-tânico deles me irrita. Dei-to na cama, fico feito pe-dra. Ao abrir os olhos vejoque já é de manhã. Estanoite, mais uma vez, nãosonhei.

Levanto. Arrumo-me.Vou sair com minhasamigas, vamos tomarcafé. Hoje faz frio. “Seráque lá é tão frio assim?”pergunto a elas. Que comum olhar confortante meacolhem. A saudade égrande. Não tenho certe-za de que ele está bem.Penso em como ele esta-ria passando os dias. Falocom ele apenas nos finsde semana por poucotempo, que acaba nãosendo suficiente. Na ver-dade, preciso voltar paracasa daqui a pouco. Hojeé o dia mais esperado daminha semana. Os minu-tos em que vou ouvir a vozdele, poder imaginar nos-sos corpos juntos maisuma vez, as mãos deleacariciando meu rosto eme protegendo. Chegou ahora.

“Tchau meu amor”.

Acabou. O único momen-to dos meus dias em queposso me sentir maiscompleto, durou nãomais que alguns minutos.Desligamos aos prantos.As lagrimas de saudadeainda escorrem em minhaface. As lembranças dosnossos momentos tomamconta da minha mente.Por um instante estivedesconectado do mundo.Mas agora, infelizmente,voltei. A cada vez quedesligamos o telefone, co-meça uma nova contagemregressiva. O que memantém atuante é a certe-za de que ouvirei a vozdela daqui uma semana.Enquanto isso, meus diasvoltam a ser frios, e cadavez mais distantes.

Minha vida gira emtorno dele. Não possomais ficar assim. Essa dis-tância está fazendo comque meus sonhos sumamda minha vida. Começo ame sentir cada dia maistriste. Só me alegro ao re-ceber notícias dele. Mi-nhas amigas têm ficadode lado, não dou atençãopara mais ninguém. Sóme interessa pensar quedaqui a um mês meuamor estará comigo nova-mente.

Um mês. É o tempopara eu vê-la. Tê-la comi-go. Poder beijar seus do-ces lábios, acariciar suasuave pele. Daqui a ummês o sol vai voltar a bri-lhar, a lua estará cheia emeu coração completo. Jácomeço a arrumar mi-nhas coisas. É hora devoltar.

Chegou o tão espera-do dia. Arrumo-me comonunca antes em minhavida tinha o feito. Queroque seja tudo perfeito. To-dos os detalhes. Nada

Distânciapode faltar na chegada domeu amado. Vou até oaeroporto recebê-lo. Espe-ro ansiosa pelo desem-barque do vôo 315. “Nopátio” está escrito na tela.Meu coração bate maisforte. Ele me liga. Diz quevai pegar a bagagem e jáestará no saguão. Já nãoconsigo mais me conter.A alegria é imensa, a sen-sação indescritível. Nãodemora muito ele apare-ce. Meus olhos se enchemde lágrimas. Esqueço detodos a minha volta. Nãoquero saber de mais nada,só tenho olhos para ele.Nos abraçamos. Sinto ocorpo dele mais uma vezjunto ao meu, seus lábios,suas mãos acariciandomeus cabelos. Foi perfei-to. Com o português en-rolado de quem ficou seismeses no Japão, ele doce-mente me diz: “Te amo”.Já mais calma, não façomais nada. Somente que-ro sentir o seu abraço.Com o passar do tempopercebo um rapaz sozi-nho no saguão. Masnada me importa, porqueagora estou com ele.

Com os olhosmarejados espero por ela.Fico imaginando se meureencontro será tão feliz eemocionante como o docasal que acabei de ver.Nada mais se passa emminha cabeça. Uma chu-va de sentimentos passaa inundar meu coração.

A tristeza, a falsa es-perança. Ligo, mas elanão atende. Não tenhomais ninguém além dela.Porém, agora, não tenhonem mais a ela. No mo-mento da partida as pro-messas de volta, as pro-messas de amor eterno.Agora, tudo isso foi em-bora. Já se passou maisde uma hora desde meudesembarque. É tempo deir embora. Na saída doaeroporto, deixo cair domeu bolso uma foto dela.Mas na foto, ela não pare-ce tão fria.

Marcos Assis

Está em cartaz no Teatro Lala Schneider a peça “Um ChifreNasceu em Mim”, adaptada de um episódio do programa “Causoe Causos”, da RPC TV. Em uma cidade do interior, Marçal, umrico comerciante, está insatisfeito com a esposa. Ele então propõeuma troca permanente de casais com vizinho, Euclides, queganha também uma espingarda na barganha. Passado um tempo,Euclides decide desfazer a troca, mas Marçal, que está vivendoem um mar-de-rosas, não quer. A confusão causada pela trocaacaba envolvendo a vizinhança, o padre e até a polícia.Quando: Sexta a domingo, às 21h.| Onde: Teatro Lala Schneider(Treze de Maio, 629, Largo da Ordem, Centro). | Quanto: R$ 30.

Da TV para o teatro

A companhia de humor Deznecessários apresenta show deimprovisação no Teatro Positivo neste fim de semana. Oshumoristas Paulinho Serra, Rodrigo Capella e Talita Werneckapresentam diversos jogos de improviso acompanhados de muitainteração com a plateia.Quando: Sábado, às 21h15, e domingo, às 19h.Onde: Teatro Positivo (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,Campo Comprido).Quanto: R$ 50 e R$ 70.

Improviso deZnecessário

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Quando: Sexta, às 21h.Onde: Teatro Positivo (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300,Campo Comprido).| Quanto: R$ 134 ou R$ 69 mais duas embalagensde Café Pilão (valor promocional).

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