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lona.redeteia.com Vereadores de Curitiba se alfinetam em meio à aprovação da proposta, cria- da por Serginho do Posto “Projeto de permanência do paga- mento do Bolsa Família foi aprovado por Comissão do Senado.” “O Governo Federal parece estar se aproveitando desta falha para simular uma isenção que não possui.” Wagner Moura estreia mais um dra- ma, a temática é polêmica e fez muita gente ir embora do cinema “O sinal bate. Ao lado, na mesa, Clodo- aldo não está mais. Tem o hábito de chegar sempre antes dos alunos. Joga o copo no lixo. Vai à sala de aula. A condição humana lhe enoja.” “Não esqueça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança como um adulto. O Brasil só irá pra frente quan- do o brasileiro deixar para trás os ve- lhos hábitos de caráter duvidoso. “ Aumento de gastos com despesas de viagem gera atritos na Câmara Parlamentares lançam campanha contra drogas Campanha “Frente Parlamentar Contra o Crack e Outras Drogas” entra na luta do poder legislativo para analisar e criar leis que auxiliem na briga contra as drogas; Crack está no centro do projeto Ano XV > Edição 882 > Curitiba, 07 de maio de 2014 Rodrigo Silva Julia de Cunto COLUNISTAS OPINIÃO EDITORIAL #PARTIU p. 2 p. 5 p. 5 p. 2 p. 6 p. 3 p.3 O único jornal-laboratório diário do Brasil Foto: Petry Souza Foto: Petry Souza

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Vereadores de Curitiba se alfinetam em meio à aprovação da proposta, cria-da por Serginho do Posto

“Projeto de permanência do paga-mento do Bolsa Família foi aprovado por Comissão do Senado.”

“O Governo Federal parece estar se aproveitando desta falha para simular uma isenção que não possui.”

Wagner Moura estreia mais um dra-ma, a temática é polêmica e fez muita gente ir embora do cinema

“O sinal bate. Ao lado, na mesa, Clodo-aldo não está mais. Tem o hábito de chegar sempre antes dos alunos. Joga o copo no lixo. Vai à sala de aula. A condição humana lhe enoja.”

“Não esqueça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança como um adulto. O Brasil só irá pra frente quan-do o brasileiro deixar para trás os ve-lhos hábitos de caráter duvidoso. “

Aumento de gastos com despesas de viagem gera atritos na Câmara

Parlamentares lançam campanha contra drogasCampanha “Frente Parlamentar Contra o Crack e Outras Drogas” entra na luta do poder legislativo para analisar e criar leis que auxiliem na briga contra as drogas; Crack está no centro do projeto

Ano XV > Edição 882 > Curitiba, 07 de maio de 2014

Rodrigo Silva

Julia de Cunto

COLUNISTAS

OPINIÃO

EDITORIAL

#PARTIU

p. 2

p. 5

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

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LONA > Edição 889 > Curitiba, 07 de maio de 2014

EDITORIAL OPINIÃO

Expediente

ReitorJosé Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de AdministraçãoArno Gnoatto

Pró-Reitora AcadêmicaMarcia Sebastiani

Coordenadora do Curso de JornalismoMaria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadoraAna Paula Mira

Coordenação de Projeto GráficoGabrielle Hartmann GrimmEditoresAna Carolina Justi, Kawane Martynowicz e Luiza RomagnoliEditorialDa Redação

Em meio ao caos causado por gre-ves espalhadas por todo o país, manifestações contra e a favor da Copa do Mundo, especulações eleitorais e índios atirando flechas contra a polícia, a manchete que denuncia – mais uma vez – a situa-ção desumana na qual vivem imi-grantes haitianos no Brasil, passa praticamente despercebida pelos olhos dos brasileiros.

Porém a situação existe, e é mes-mo muito séria.Desde o terremo-to que devastou o Haiti em 2010, aproximadamente 26 mil haitia-nos já cruzaram as fronteiras do Brasil na tentativa de fuga da situ-ação de extrema miséria na qual se encontra o país. Em Brasileia (principal porta de entrada dos haitianos no Brasil) muitos desses imigrantes percebem que “tro-caram seis por meia dúzia”. Não

existe nenhuma estrutura para recebê-los, a concessão de visto é burocrática e demorada, a ali-mentação e condições de moradia são precárias e doenças se disse-minam rapidamente. O sonho de uma vida melhor no Brasil rapida-mente se torna em um pesadelo.Essa situação, que envolve fato-res ocorridos em outros países, denuncia um problema interno sobre o qual poucos tem conhe-cimento: o Brasil é um país de leis e políticas imigratórias muito atra-sadas. Quando a lei de imigração foi criada, em 1980, não previu a imigração em massa por conta de desastres naturais – como o terre-moto no Haiti.

O Governo Federal parece estar se aproveitando desta falha para simular uma isenção que não pos-sui. Já se provou que o governo do

Acre não possui condições finan-ceiras ou estruturais para receber os haitianos e em busca de me-lhores condições de vida, muitos deles se deslocam para outros es-tados. No início de maio o Ministé-rio do Trabalho recebeu a primeira denúncia de trabalho escravo en-volvendo haitianos.

Alguns brasileiros acreditam que não temos a obrigação de ofere-cer ajuda humanitária e, outros poucos, esperam que o governo federal realize concessões que facilitem a entrada e permanên-cia desses estrangeiros no Brasil. A grande maioria, porém, sequer sabe sobre o Haiti, os haitianos, o terremoto e a miséria. Não há espaço para preocupações como essa, afinal, a Copa do Mundo está aí e é ela, o grande momento de união entre as nações do mundo.

Ontem, mesmo com pressão da oposição, o se-nador Aécio Neves, do PSDB, teve seu projeto de permanência do pagamento do Bolsa Fa-mília aprovado pela Comissão de Assuntos So-ciais do Senado. O projeto segue para votação na Comissão de Direitos Humanos do Senado, onde será analisado em caráter terminativo, ou seja, seguindo diretamente para Câmara, sem passar pelo plenário, caso seja aprovado.

Além de manter o pagamento do Bolsa Famí-lia por seis meses para chefes de família que ultrapassarem a faixa de renda prevista pelo programa, sem serem excluídos dele, o paga-mento vale para os casos em que o beneficiário conquistar um emprego com carteira assinada que, em função de atividade remunerada, per-ca as condições de extrema miséria. O projeto ainda determina a revisão, a cada dois anos, das regras de elegibilidade das famílias participan-tes do programa.

Aécio Neves é pré-candidato do partido Tucano à Presidência, e um dos prováveis adversários da presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro. Com o apoio de senadores e aliados da oposição, conseguiu a vitória por dez votos contra 9. O PT ainda pressionou contra a apro-vação da proposta, mas acabou derrotado na comissão. Este ato estratégico dos Tucanos aca-bou irritando seus concorrentes de esquerda. Deste modo, a atitude de Aécio para ganhar eleitores foi mal interpretada, pois eles querem que o projeto seja exclusivo deles, como tam-bém instrumento na campanha eleitoral. No entanto, votar contra a aprovação não foi uma maneira muito boa de defender as classes me-nos favorecidas. No fim, o foco sempre acaba sendo a rivalidade.

O Bolsa Família, que completou dez anos em 2013, já gerou muita polêmica. Mas o fato é que recebeu o Award for Outstanding Achieve-ment in Social Security, considerado o Nobel da seguridade social, que só é concedido a cada três anos, depois de uma série de pesquisas. Em meio a muitos “aproveitadores”, não pode-mos esquecer daqueles que só conseguem se alimentar com esta renda. Assim, com novas propostas, o projeto pode se tornar ainda mais colaborativo e eficiente.

Estratégia tucanaO terremoto acabou, mas a miséria ainda faz tremerLis Claudia Ferreira

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“A força de um país representado em tela” > Imagem: Briana Seiderman

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Curitiba, 07 de maio de 2014 > Edição 889 > LONA

NOTÍCIAS DO DIA

Vereadores trocam farpas na Câmara

A aprovação do reajuste das diárias dos vereadores de Curitiba para 60% foi aprovada quase com unanimidade na Câmara. Os vereadores Pastor Val-demir Soares e o Professor Galdino, conversaram com a redação do LONA em meio a uma “troca de farpas”.

O Pastor disse não entender o motivo de o Galdino ter votado contra se ele é um dos que mais usou dinheiro para cobrir despesas de suas viagens.

Já, o Professor alega que “quem deve estar viajando é o Valdemir, por ter feito essa acusação”, o colega chamou-o, ainda, de preguiçoso por não ter

consultado o portal da transparência, ressaltando que os valores das viagens estão todos lá.

Um dos criadores do projeto Serginho do Posto explicou que aprovaram a resolução que trata das diárias dos vereadores e servidores que viajam a trabalho, quando estão representando a câmara em outros municípios, gasto que cobre as diárias de hospedagem, o transporte e a alimentação.

Quando questionado sobre o alto va-lor, Serginho disse que antes da cor-reção feita pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), em

alguns deslocamentos o valor seria aceito. Por isso o assunto foi debatido antes de ser aprovado. Após o debate, com a aceitação de todos, a lei foi apro-vada.

Serginho ressaltou que todos os valo-res estão disponíveis para a população no portal da transparência. É dever da população fiscalizar os seus represen-tantes.

Ontem na Câmara de Vereadores foi aprovada a Campanha da Frente Par-lamentar Contra O Crack e Outras Drogas, a campanha permite a maior comunicação com outros setores do governo para combater as drogas, que é um grande problema da capital pa-ranaense.

A Frente Parlamentar Contra o Crack e outras drogas têm trabalhado com a prevenção, análise de projetos e o for-talecimento da rede de ações contra as drogas dentro de Curitiba, além de contar com o apoio da Guarda Muni-cipal, e ajudar em projetos de repres-são nas praças da cidade orientando os cidadãos. Na Câmara de Vereadores já houve palestras, congressos e semi-nários analisando a importância das comunidades terapêuticas, e da saúde mental. Os parlamentares fizeram a

Parlamentares realizaram primeira audiência pública contra a legalização da maconha, e fizeram campanha contra projetos que permitam ou aceitem o uso de qualquer tipo de droga

primeira audiência pública contra a le-galização da maconha e fizeram cam-panhas contra qualquer tipo de proje-to que aceite drogas no país.

Todo e qualquer assunto relacionado às drogas, passam pela Frente Parla-mentar Contra o Crack para que sejam feitos os acompanhamentos neces-sários. Apesar dos parlamentares es-tarem no legislativo, não possuem o

poder que a polícia tem, apenas anali-sam as leis, uma vez que consideram a droga um problema para a segurança pública, e para a saúde pública.

O crack, por tratar-se de uma droga altamente vicianta, que mata rápido, está no centro das atenções do projeto. Segundo o vereador Pastor Valdemir Soares, “o crack torna o jovem depen-dente já na primeira dose, o usuário é

capaz de largar tudo e todos para con-sumir a droga.” O projeto cuida, ainda, de drogas lícitas como a bebida e o ta-baco.

Domingo passado aconteceu em Curi-tiba a Marcha da Maconha, que reuniu cerca de 600 pessoas. Elas percorreram alguns pontos conhecidos da cidade cantando marchinhas que defendem a legalização da droga. Além disso, um juiz de Brasília aceitou o pedido para que uma criança utilizasse um me-dicamento que contém maconha. O posicionamento do uso da droga para a saúde para o Vereador Pastor Valde-mir Soares é que a situação é isolada e não pode exemplificar a discussão que existe na Campanha, é muito aci-ma do que a discussão de pessoas que são a favor da legalização. O vereador completou dizendo “o Brasil não tem capacidade nem de controlar as dro-gas lícitas, porque há muito acidente de trânsito além de muitas brigas fami-liares, e agressões nas famílias. A saúde brasileira não consegue controlar os pacientes químicos da droga lícita, se aceitasse a legalização da maconha ou de qualquer outro entorpecente isso causará vários impactos sociais”.

Campanha da Frente Parlamentar contra o Crack é aprovadaPetry Souza

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Petry Souza

O Crack está no centro do projeto por ser altamente viciante, e matar rápido > Foto: Marco Gomes

Professor Galdino foi um dos únicos que votou contra o reajuste > Foto: Pretry Souza

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LONA > Edição 889 > Curitiba, 07 de maio de 2014

No dia 10 de janeiro de 2014, às 21h, no bairro Atuba, um motorista atro-pela um ciclista e o arrasta pendura-do no vidro da frente do veículo por 6km consecutivos. Nessa mesma noi-te, Teresinha Bello Simioni, 64, assiste tranquilamente ao jornal da Globo em seu apartamento, no bairro Boa Vista. Diante da notícia, Teresinha entra em estado de choque, a senhora reconhe-ce um dos nomes citados na reporta-gem: José Adir Simioni, seu irmão.

No dia seguinte, jornais do país intei-ro noticiam o ocorrido. Para os fami-liares de Marco Aurélio Sadlovski, de 31 anos, a dor da perda. Para os fami-liares de José Adir Simioni, a dor de ver a vida de uma pessoa querida ser destruída em apenas segundos. Preso em flagrante, José Adir é encaminha-do à delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, e depois transferido para a delegacia da mesma cidade.

José Adir Simioni ficou detido por 80 dias. Durante esse tempo, emagreceu 15 kg em razão do ambiente hostil do presídio. Assim que conseguiu sua li-berdade provisória ficou internado no Hospital Marcelino Champagnat. Teresi-nha foi visitar o irmão e, ao entrar no quarto indicado pela recepção, pen-sou ter errado a porta. A magreza e as rugas modificaram as feições de José Adir. “Tere, sou eu”, disse o irmão. Por fim, ela acabou retornando ao quarto, aonde permaneceu por mais de duas horas, conversando com Adir. “Ele nun-ca será o mesmo”, confessa a irmã.

Um hábito aceitávelO impacto de um acidente de trânsito é enorme, e pode ser sentido em um número ainda maior de pessoas. De acordo com um relatório divulgado

Um único momento pode mudar todo o rumo de uma vidaConsumo de bebida alcoólica aliado à direção atingem amigos e familiares de pessoas envolvidas em acidentes automobilísticos

pela Secretaria de Estado da Seguran-ça Pública do Paraná (SSP-PR), no ano de 2013, apenas na cidade de Curitiba, 191 pessoas foram vítimas de homicí-dio culposo de trânsito. Isto é, quando o motorista tira a vida da vítima sem a

intenção de matar, em razão de uma imprudência, impe-rícia ou negligência ao volante. Se consi-derarmos todo o es-tado do Paraná, esse número cresce para 2.036 mortes no ano de 2013.

Apesar das mortes e dos casos que causam comoção nacional, são pou-cas as pessoas realmente capazes de mudar os seus hábitos para criar um melhor convívio no trânsito. Na disser-tação de mestrado sobre a “Percepção e comportamento de risco de beber e dirigir: um perfil do universitário de Curitiba”, a psicóloga Marina Cuffa re-alizou entrevistas com 386 estudantes universitários de Curitiba. Os resultado s são preocupantes, e apontam que 76,6% dos participantes relataram te-rem dirigido alcoolizados alguma vez

na vida. Em média, os entrevistados relataram terem assumido o volante 1 hora e 39 minutos após consumir be-bidas alcoólicas, sendo que 35% espe-raram menos do que 1 hora; e 25,7% não esperaram, e dirigiram logo após consumirem as bebidas.

Sobre o aspecto da percepção de ris-cos de beber e dirigir, muitos entrevis-tados concordaram com afirmações como “para você, não existem riscos em beber e dirigir se você só tomou um copo de cerveja na refeição” e “para você, não existem riscos em beber e dirigir se a quanti-dade de álcool no seu sangue está dentro do limite legal”. Contrária a essa “brecha” para dirigir, a medicina aponta que mesmo as condições mais brandas de intoxi-cação pela bebida alcoólica afetam a capacidade de jul-gamento e percep-ção do indivíduo.

Leis RestritivasO primeiro país a criar uma lei restriti-va para o consumo de bebida alcoóli-ca e assumir o volante sob o efeito das mesmas foi os Estados Unidos, local aonde, atualmente, dirigir embriagado é crime punido com a prisão do mo-torista. Na União Europeia, a maioria dos países permite, em suas leis, um limite de 0,5g/l e 0,2g/l de álcool para motoristas sem experiência. No Japão, é considerado crime negar-se a realizar o teste do bafômetro. A punição é de três anos de reclusão, e pagamento de uma multa equivalente a R$ 8.120,00.

No Brasil, as leis que restringem o con-sumo de álcool e direção sob os efeitos do mesmo foram mudadas diversas vezes. A Lei 11.705 de 19 de junho de 2008, conhecida como ‘Lei Seca’, deter-minou como infração de trânsito diri-gir sob a influência de álcool ou subs-tância psicoativa, qualquer que seja a dosagem. O motorista que se envolver em acidentes de trânsito, ou solicitado pela fiscalização, será submetido a tes-tes de alcoolemia, como o exame do ar alveolar, conhecido como bafômetro, ou exame de sangue. O consumo de bebidas alcoólicas pode acarretar na suspensão da Carteira Nacional de Ha-bilitação (CNH) por doze meses e mul-ta, além da retenção do veículo.

Larissa Mayra

GERAL

“José Adir Simiono nunca mais será o mesmo.”

Acidentes mudam a vida de familiares e envolvidos > Foto: Milton Jung

Mesmo o menor consumo de álcool pode alterar a percepção do indivíduo > Foto: Luca Grieco

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COLUNISTAS

Geni e o Zepelim

Poética Emblemática

Rodrigo Silva

Julia de Cunto

Curitiba, 07 de maio de 2014 > Edição 889 > LONA

Encontros casuais

O junho que deixamos para trás

Assim que entrou na sala dos profes-sores foi cumprimentar o velho amigo de trabalho. Clodoaldo Albuquerque, professor de Química, é um senhor reservado. Deve ter mais de 70 anos. Numa primeira olhada é fácil de iden-tificar seu perfil. Organizado, não deve há muitos anos ir a uma loja de roupas e sapatos. Seu primeiro curso foi o de Letras. Nunca lecionou a disciplina. Preferia as ligações químicas e os expe-rimentos. Estava sentado, com as mãos apoiadas na pasta de couro marrom, desgastada do tempo. Devia tê-la há

muito. “Bom tarde, professor! Como vai?”. “Educadamente bem. Por dentro destruído”. Segurou sua mão por mais por mais tempo que o normal. Proces-sava a informação. Em primeiro lugar, a frase era estranha; em segundo, vi-nha de alguém que não combinava com aquele discurso. Largou a mão de Clodoaldo e sorriu lentamente. Fazen-do um sim com a cabeça, afastou-se e foi pegar um café. Acima da mesa do cafezinho havia um mural de recados. Horários. Tabelas. Planilhas e avisos. Nunca os lia. Naquele dia, enquanto

Em junho do ano passado, um senso de indignação generalizado tomou conta do Brasil. O país foi sacudido pelas manifestações que começaram com um objetivo claro - a redução das tarifas de transporte público - mas que tomaram proporções gigantescas con-forme as reivindicações se tornavam mais subjetivas. Você se lembra?

Era o brasileiro se levantando contra toda essa corrupção e violência. Po-rém o ato de protestar havia se torna-do maior do que as causas das mani-festações de fato. Em plena Copa das Confederações, o “país do futebol” não estava nem aí com os resultados dos jogos, mas sim, preocupado com os gastos da Fifa em relação a Copa do Mundo, além do alto custo de vida, da precariedade dos serviços públicos e outras demandas acumuladas pela população depois de anos de passivi-dade. Sociólogos, filósofos e analistas políticos ainda não sabem dizer o que realmente desejavam as multidões

que se reuniram em todos os estados do país. E, embora os partidos políticos explorem os acontecimentos a seu fa-vor, afirmando que “estiveram nas ruas junto ao povo brasileiro”, os manifes-tantes diziam-se apartidários. Estava claro, também, de que não se tratavam de um protesto contra o governo fede-ral, mas sim, contra a política tradicio-nal que se pratica no Brasil, que favo-rece a corrupção, as diferenças sociais e a ignorância do povo em relação aos seus direitos e deveres.

Mas e você, que foi a rua, sabia que a manifestação era contra você? Sabia que corrupção faz parte do cotidiano e já foi até institucionalizada no velho ‘’jeitinho brasileiro’’? Embora associa-dos a partidos políticos, ações de pre-varicação, suborno e perversão são praticadas diariamente por pessoas co-muns, quando driblam normas e ado-tam manobras anti-éticas para con-seguirem vantagens. Exemplos não faltam: pagamento de propina para se

segurava o copo, ficou pensando no que poderia ter passado na cabeça do velho amigo para me responder da-quela forma. Clodoaldo fora enfático. Duro. Inclusive estava certo de que aquela frase era necessária.

Por vezes, nas manhãs, quando che-gavam à sala dos professores, conver-savam. Discutiam, riam das capas dos jornais. Abriam a página dois e faziam alguns comentários sobre os colunis-tas do dia. Clodoaldo era sério, mas sempre fora sarcástico. Tinha o hábito de fazer um comentário e rir com ape-nas um canto da boca. Fumava demais. Tinha os dentes horríveis e um háli-to insuportável. Por que é que estava pensando tudo isso? Algumas vezes, encontravam-se na Praça Rui Barbosa. Ambos compartilhavam do hábito de dirigir. Seguiam de ônibus. Onde será que ele mora. Desciam e caminhavam pela 24 de Maio. Sempre conversando. Agora lhe vem essa, nunca pensou nis-so. Será que ele é casado. Vinte anos trabalhando com ele e não sabia isso. Ora, ele também é reservado, jamais

falaria de família. Alguns domingos, encontrava-o no Couto Pereira. Cum-primentavam-se e sentados assistiam ao jogo. Ao final, despediam-se. Que loucura. Esses anos todos e não sabe de nada. O que é que está fazendo aqui parado. Por que pensar nisso. Não é possível. No fundo, sinte-se culpado. Alguém que nunca conversou, mas sempre conversou com uma pessoa. Mas nada sabe dela. Como é possível. Fica pensando que no fundo, quan-do perguntamos a alguém se ela está tudo bem, só há uma resposta que desejamos ouvir. Um sim. Um balan-çar de cabeça que resuma tudo. Mas jamais alguém que despeje sobre nós seus problemas. Não. Jamais. De jeito algum. Isso seria inconveniente. De-sagradável. Não há tempo para isso e muito menos paciência.

O sinal bate. Ao lado, na mesa, Clodo-aldo não está mais. Tem o hábito de chegar sempre antes dos alunos. Joga o copo no lixo. Pega o material e vai à sala de aula. A condição humana lhe enoja.

livrar de multas, não devolver o troco que recebeu a mais no mercado, furar filas, desrespeitar as vagas de estacio-namento para idosos e deficientes fí-sicos, trabalhar sem carteira assinada para continuar recebendo o seguro-desemprego, burlar cadastro do gover-no federal para receber o Bolsa Família, apresentar atestado médico falso para faltar ao trabalho ou à escola, roubar sinal de TV à cabo, entre tantos outros comportamentos em desacordo com as propostas das manifestações que ganharam as ruas.

Então, um ano depois, dias antes da Copa do Mundo - que você assidua-

mente protestou contra - você final-mente se tocou que sair na avenida com suas certezas e palavras de ordem, foi, talvez, uma hipocrisia? Você vai agradecer ao feriado no dia do jogo do Brasil, você vai votar em políticos cor-ruptos, e vai, ainda, praticar o jeitinho brasileiro. Você é parte da corrupção. Se você não mudar, o país não vai mu-dar. Mas não adianta todo mundo ape-nas demandar que “o poder” conserte as coisas. Quer mudar o país? Não es-queça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança como um adulto. O Brasil só irá pra frente quando o brasi-leiro deixar para trás os velhos hábitos de caráter duvidoso.

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LONA > Edição 889 > Curitiba, 07 de maio de 2014

Uma Cama Para TrêsComédia > 60 min > 16 anosLocal: Teatro Lala SchneiderData: até 31 de maio > Horário: 21hIngressos: sexta-feira R$30 > sábado R$40

Super-homensComédia > 18 anosLocal: Teatro Data: até 8 de junho > Horários: 18h e 20hIngressos: R$30

A RecompensaComédia > 93min > 16 anos

Praia do Futuro Drama > 100min > 16 anos

MalévolaFantasia > 97min > 10 anos

Sob a Pele Ficção > 108min > 16 anos

Homem de CouroO acervo do Museu da Fotografia Cidade de Curitiba mostra a série da artista argentina Maureen Bisilliat, fei-ta por imagens do sertanista nordestino e suas vivên-cias.

Data: 27 de maio a 10 de outubro – de terças a domin-gos > Ingresso: gratuitoHorário: 3ª a 6ª - 9h às 12h e 13h às 18h. Fins de semana e feriados - 12h às 18h.Local: Museu da Fotografia de Curitiba

Wagner Moura interpreta Donato, um rapaz que trabalha como salva-vidas na Praia do Futuro, em Fortaleza, no Ceará. Seu irmão caçula, Ayrton (Jesuita Barbo-sa), tem grande admiração por ele devi-do à coragem demonstrada pelo mais velho ao se atirar no mar para resgatar desconhecidos.

Depois de fracassar pela primeira vez em um resgate, Donato conhece Konrad (Clemens Schick), um alemão de olhos azuis resgatado pelo protragonista. O fato muda completamente sua vida. Agora, motivado a mudar de ares, Do-nato resolve recomeçar em Berlim, na Alemanha, junto com Konrad, deixando tudo para trás. Então, Ayrton, querendo reencontrar o irmão, parte para a Europa em direção ao irmão que tanto admira.

Baseado no conto da Bela Adormecida, de 1959, o filme conta a história do ponto de vis-ta da vilã Malévola (Angelina Jolie), que é uma mulher movida pelo sentimento de vingança.

Antes disso, Malévola tinha uma vida bucólica na floresta do reino. Até que o exército do Rei a invadiu, e ameaçou a paz e felicidade do local. Então, a protagonista torna-se a protetora da floresta, mas acaba sendo terrivelmente traída, o que transforma seu coração puro em rocha.

A personagem se transforma completamente, e fica irreconhecível.

Para se vingar do Rei, o traidor, ela coloca um feitiço em sua filha, Aurora (Elle Fanning), fa-zendo com que a garota fique indecisa entre defender o reino dos humanos e o reino da floresta, do qual aprendeu a gostar. Quando Malévola percebe que Aurora está prestes a es-tabelecer a paz entre os mundos, a vilã é obri-gada a tomar uma decisão.

Filme maléfico chega aos cinemas

Ocorre a queda de Constantinopla, na TurquiaEm 29 de maio de 1453 ocorreu a queda de Constantinopla, marcada pela conquista da capital bizantina pelo Império Otomano, sob o coman-do do sultão Maomé II.

Isto marcou não apenas a destruição final do Império Romano do Oriente e a morte de Constantino XI Paleólogo, o último imperador bizantino, mas também a estratégica conquista cru-cial para o domínio otomano sobre o Mediterrâneo. A queda de Constanti-

nopla para os turcos otomanos foi um evento histórico que, segundo alguns historiadores, marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna na Europa, e também decretou o fim do último vestígio do Império Bizantino. Constantinopla é o antigo nome da cidade de Istambul, na atual Turquia.

O nome da cidade era uma referência ao imperador romano Constantino, que tornou esta cidade a capital do Império Romano no ano de 330.

Wagner Moura em um drama polêmico

ACONTECEU NESTE DIA

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Restos da muralha de Constantinopla > Foto: Arquivo Wikimedia Commons

Teatro

Em Cartaz

Exposição

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Pôster do filme > Imagem: Divulgação