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Módulo 3 Traumatismos específicos e queimaduras Apresentação do Módulo Neste módulo você estudará os principais tipos de traumatismos e queimaduras e os procedimentos a serem executados em cada caso. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: Descrever os sinais e sintomas relacionados a traumas em extremidades, lesões de crânio, coluna e tórax e os procedimentos para atendimento pré-hospitalar às vítimas com essas lesões; Classificar a queimadura de acordo com a profundidade e extensão; Explicar o tratamento pré-hospitalar para vítimas com queimaduras térmicas, químicas e elétrica; Estrutura do Módulo Este módulo está dividido nas seguintes aulas: Aula 1 Trauma em extremidades Aula 2 Lesões de crânio, coluna e tórax; Aula 3 Queimaduras

Módulo 3 Traumatismos específicos e queimaduras ... · Paralisia dos músculos do tórax (respiratórios). A respiração sendo feita exclusivamente pelo diafragma. A lesão medular

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Módulo 3 – Traumatismos específicos e queimaduras

Apresentação do Módulo

Neste módulo você estudará os principais tipos de traumatismos e queimaduras e os

procedimentos a serem executados em cada caso.

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

Descrever os sinais e sintomas relacionados a traumas em extremidades, lesões de

crânio, coluna e tórax e os procedimentos para atendimento pré-hospitalar às vítimas

com essas lesões;

Classificar a queimadura de acordo com a profundidade e extensão;

Explicar o tratamento pré-hospitalar para vítimas com queimaduras térmicas, químicas e

elétrica;

Estrutura do Módulo

Este módulo está dividido nas seguintes aulas:

Aula 1 – Trauma em extremidades

Aula 2 – Lesões de crânio, coluna e tórax;

Aula 3 – Queimaduras

Aula 1 – Trauma em extremidades

Os traumas em extremidades que você irá estudar nesta aula são:

Fratura;

Luxação;

Entorse.

Estude, a seguir, sobre cada um deles.

1.1. Fratura

É a solução de continuidade de uma estrutura óssea, podendo ser total ou parcial; geralmente

resultante de um mecanismo agressor importante.

1.1.2. Classes de fraturas

a) Fechada (simples)

A pele não foi perfurada pelas extremidades ósseas.

b) Aberta (exposta)

O osso se quebra, atravessando a pele, ou existe uma ferida associada que se estende desde o

osso fraturado até a pele.

1.1.3. Sinais e sintomas

Deformidade: A fratura produz uma posição anormal ou angulação num local que não

possui articulação.

Sensibilidade: Geralmente o local da fratura está muito sensível à dor.

Crepitação: Se a vítima se move, podemos escutar um som áspero, produzido pelo

atrito das extremidades fraturadas. Não se deve pesquisar esse sinal intencionalmente,

porque aumenta a dor e pode provocar lesões.

Edema e alteração de coloração: Quase sempre a fratura é acompanhada de um certo

inchaço provocado pelo líquido entre os tecidos e as hemorragias. A alteração de cor

poderá demorar várias horas para aparecer.

Impotência funcional: Há a perda total ou parcial dos movimentos das extremidades.

A vítima geralmente protege o local fraturado; não pode mover-se ou o faz com

dificuldade e dor intensa.

Fragmentos expostos: Em uma fratura aberta, os fragmentos ósseos podem se

projetar através da pele ou serem vistos no fundo do ferimento.

1.2. Luxação

É o desalinhamento das extremidades ósseas de uma articulação, fazendo com que as

superfícies articulares percam o contato entre si.

As luxações mais frequentes ocorrem em: ombro, cotovelo, punho, dedos, fêmur, joelho e

tornozelo.

1.2.1. Sinais e sintomas da luxação

Deformidade: mais acentuada na articulação luxada.

Edema: acúmulo de sangue ou plasma no local.

Dor: aumenta se a vítima tenta movimentar a articulação.

Impotência funcional: perda completa ou quase total dos movimentos

articulares.

1.3. Entorse

É a torção ou distensão brusca de uma articulação além de seu grau normal de amplitude.

1.3.1. Sinais e sintomas

São similares aos das fraturas e aos das luxações. Mas nas entorses os ligamentos geralmente

sofrem ruptura ou estiramento, provocados por movimento brusco.

Importante!

As fraturas, luxações e entorses podem ocorrer simultaneamente.

1.4. Razões para a imobilização provisória

Diminuir a dor;

Prevenir ou minimizar outras lesões, tais como: lesões musculares, nervos e vasos

sanguíneos;

Manter a perfusão no membro;

Auxiliar a hemostasia.

1.4.1. Materiais/equipamentos para imobilizações

Tipoia. Uma tipoia pode ser suficiente para imobilizar a extremidade superior. Mesmo

quando se aplica uma tala, pode ser apropriado incluir uma tipoia para evitar o movimento da

parte lesionada; ou a parte pode ser fixada ao corpo por meio de uma atadura.

Talas. Podem ser: rígidas, semirrígidas, moldáveis, reguláveis, de tração. Preferencialmente

as talas deverão ser acolchoadas, para imobilizar extremidades. Também podem ser usados

papelões dobrados, jornais, galhos de árvores e almofadas como alternativas.

1.4.2. Regras gerais de imobilização no tratamento pré-hospitalar

1. Acionar o Serviço de Emergência Médica (192 ou 193).

2. Informar ao paciente o que você fará.

3. Expor o local. As roupas devem ser cortadas e removidas sempre que houver suspeita

de fratura ou luxação.

4. Controlar hemorragias e cobrir feridas. Não empurrar fragmentos ósseos para dentro do

ferimento, nem tentar removê-los. Usar curativos estéreis.

5. Não recolocar fragmentos expostos no lugar.

6. Observar e anotar o pulso distal, a mobilidade, a sensibilidade e a perfusão.

7. Reunir e preparar todo o material de imobilização (usar, se possível, talas acolchoadas).

8. Imobilizar. Usar tensão suave para que o local fraturado possa ser colocado na tala.

Movimentar o mínimo possível. Imobilizar todo o osso fraturado, uma articulação

acima e abaixo. Em alguns casos, a extremidade deve ser imobilizada na posição

encontrada.

9. Revisar a presença de pulso e a função nervosa. Assegurar-se de que a imobilização está

adequada e não restringe a circulação.

10. Prevenir ou tratar o choque.

Tratamento pré-hospitalar para fratura de fêmur (coxa)

Se a fratura estiver aberta, controlar o sangramento, cobrir com uma gaze estéril e imobilizar

com talas rígidas. Se estiver fechada, alinhar cuidadosamente o membro afetado e imobilizar

utilizando tala de tração própria.

Tratamento pré-hospitalar para luxação e entorse de joelho, tornozelo e cotovelo

Imobilizar na posição que se encontra, a menos que o pulso esteja ausente. Antes de

imobilizar, observar a cor, temperatura e a presença ou ausência de pulso na extremidade.

Aplicar uma tala larga, almofada ou cobertor. Se o pulso não retornar após a imobilização,

repita a técnica.

Aula 2 – Lesões de crânio, coluna e tórax

2.1. Traumatismos

Nesta seção você estudará os seguintes traumatismos:

Traumatismo crânio-encefálico (TCE)

Traumatismo da face

Traumatismo raquimedular (TRM)

Traumatismo do tórax

Estude, a seguir, sobre cada um deles.

2.1. Traumatismo crânio-encefálico (TCE)

Fraturas de crânio

As fraturas de crânio são comuns nas vítimas de acidentes que receberam impacto na cabeça.

A gravidade da lesão depende do dano provocado no cérebro.

Fraturas abertas

São mais frequentes lesões cerebrais nos traumatismos sem fratura de crânio. As fraturas

poderão ser abertas ou fechadas.

Fraturas fechadas

São as que afetam o osso sem, entretanto, expor o conteúdo da caixa craniana. Não existe

solução de continuidade da pele.

2.1.1. Lesões encefálicas

Concussão

Quando uma pessoa recebe um golpe na cabeça ou na face, pode haver uma concussão

encefálica. Não existe um acordo geral sobre a definição de concussão, exceto que ela

envolve a perda temporária de alguma ou de toda a capacidade da função encefálica. Pode não

haver lesão encefálica demonstrável. O paciente que sofre uma concussão pode se tornar

completamente inconsciente e incapaz de respirar por um curto período de tempo, ou ficar

apenas confuso. Em geral o estado de concussão é bastante curto e não deve existir quando o

emergencista chegar ao local do acidente.

Importante!

Se o paciente não consegue se lembrar dos eventos ocorridos antes da lesão (amnésia), existe

uma concussão mais grave.

Contusão

O cérebro pode sofrer uma contusão quando qualquer objeto bate com força no crânio. A

contusão indica a presença de sangramento por causa de vasos lesados.

Quando existe uma contusão cerebral, o paciente pode perder a consciência. Outros sinais de

disfunção por contusão incluem a paralisia de um dos lados do corpo, dilatação de uma pupila

e alteração dos sinais vitais. As contusões muito graves podem produzir inconsciência por

período de tempo prolongado e também causar paralisia em todos os membros.

Mesmo em contusões graves, pode haver recuperação sem necessidade de cirurgia

intracraniana.

As mudanças na recuperação são diretamente proporcionais aos cuidados dispensados ao

paciente desde o início das lesões. Os pacientes devem receber ventilação adequada,

reanimação cardiorrespiratória quando necessário, devendo ser transportado para o serviço de

emergência para uma avaliação e cuidados neurocirúrgicos.

2.1.2. Classificação

As lesões encefálicas podem ser classificadas como:

Diretas

São produzidas por corpos estranhos que lesam o crânio, perfurando-o e lesando o encéfalo.

Indiretas

Golpes na cabeça podem provocar, além do impacto do cérebro na calota craniana com

consequente dano celular, hemorragias dentro do crânio. Esse hematoma acarreta compressão

do tecido cerebral. A hipertensão intracraniana provocada pela hemorragia e edema causa

lesão nas células cerebrais.

2.1.3. Sinais e sintomas do TCE

Cefaleia e/ou dor no local da lesão;

Náuseas e vômitos;

Alterações da visão;

Alteração do nível de consciência, podendo chegar à inconsciência;

Ferimento ou hematoma no couro cabeludo;

Deformidade do crânio (depressão ou abaulamento);

Pupilas desiguais (anisocoria);

Sangramento observado através do nariz ou dos ouvidos;

Líquido claro (líquor) que flui pelos ouvidos ou pelo nariz;

Alteração dos sinais vitais;

Postura de decorticação ou descerebração.

2.1.4. Escala de Coma de Glasgow

A Escala de Coma de Glasgow (ECG) é uma escala neurológica utilizada para medir o nível de

consciência após uma lesão cerebral.

A ECG é composta de três aspectos: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora, para os

quais os médicos atribuem valores de 3 a 15 para cada nível de resposta. Veja a figura a seguir:

2.1.5. Tratamento pré-hospitalar para TCE

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se a cena está segura.

3. Corrija os problemas que ameaçam a vida. Mantenha a permeabilidade das vias aéreas

(abertas), a respiração e a circulação.

4. Suspeite de lesão cervical associada ao acidente e adote os procedimentos apropriados.

5. Controle hemorragias (não detenha a saída de sangue ou líquor pelos ouvidos ou pelo

nariz).

6. Cubra e proteja os ferimentos abertos.

7. Mantenha a vítima em repouso.

8. Proteja a vítima para a possibilidade de entrar em convulsão.

9. Monitore o estado de consciência, a respiração e o pulso.

10. Trate o choque e evite a ingestão de líquidos ou alimentos.

11. Esteja preparado para o vômito.

Importante!

1. Nunca tente remover objetos transfixados na cabeça.

2. Não se deve conter sangramento ou impedir a saída de líquor pelo nariz ou pelos ouvidos

nos traumatismos crânio-encefálicos (TCE). Poderá ocorrer aumento na pressão intracraniana

ou infecção no encéfalo.

2.2. Traumatismo de face

O principal perigo das lesões e fraturas faciais são os fragmentos ósseos e o sangue, que

poderão provocar obstruções nas vias aéreas.

2.2.1. Sinais e sintomas.

Coágulos de sangue nas vias aéreas;

Deformidade facial;

Equimose nos olhos;

Perda do movimento ou impotência funcional da mandíbula;

Dentes amolecidos ou quebrados (ou a quebra de próteses dentárias);

Grandes hematomas ou qualquer indicação de golpe severo na face.

2.2.2. Tratamento pré-hospitalar

Nesse caso, será o mesmo tratamento utilizado no cuidado de ferimentos em tecidos moles.

Sua atenção deve estar voltada para a manutenção da permeabilidade das vias aéreas e

controle de hemorragias. Cubra com curativos estéreis os traumas abertos, monitore os sinais

vitais e esteja preparado para o choque.

2.3. Traumatismo raquimedular – TRM

É aquele em que ocorre o comprometimento da estrutura óssea (vértebras) e da medula

espinhal. Os danos causados por traumas nessas estruturas poderão ocasionar lesões

permanentes. Se a região atingida for a cervical, o traumatismo poderá comprometer a

respiração, levar à paralisia ou até mesmo à morte.

2.3.1. Sinais e sintomas

Dor regional (pescoço, dorso e região lombar);

Perda da sensibilidade tátil nos membros superiores e inferiores;

Perda da capacidade de movimentação dos membros (paralisia);

Sensação de formigamento nas extremidades;

Deformidade em topografia da coluna;

Lesões na cabeça, hematomas nos ombros, escápula ou região dorsal do paciente;

Perda do controle urinário ou fecal;

Dificuldade respiratória com pouco ou nenhum movimento torácico;

Priapismo (ereção peniana contínua).

2.3.2. Passos para revisar os sinais e sintomas

Pacientes conscientes:

Perguntar:

O que houve?

O que o incomoda?

Pode mover suas mãos e os pés?

Observar:

Hematomas, cortes e deformidades.

Apalpar:

Áreas sensíveis e deformidades.

Solicitar:

Ao paciente que mova suas extremidades.

Se ele fizer confortavelmente, não existe

outras indicações de lesão medular.

Pacientes inconscientes:

Observar:

Cortes, hematomas e deformidades.

Apalpar:

Deformidades e lesões.

Perguntar a testemunhas:

O que houve? E como aconteceu?

2.3.3. Complicações

Paralisia dos músculos do tórax (respiratórios). A respiração sendo feita exclusivamente pelo

diafragma.

A lesão medular provoca dilatação dos vasos sanguíneos, podendo se instalar o choque

(neurogênico).

2.3.4. Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se a cena está segura.

3. Mantenha as vias aéreas abertas e só inicie a reanimação respiratória ou RCP se

necessário, mesmo suspeitando de uma lesão medular. Use a manobra de empurre

mandibular.

4. Controle um sangramento importante.

5. Considere sempre que um paciente inconsciente, vítima de trauma, tem uma lesão

medular, até que se possa determinar o contrário.

6. Não tente a imobilização de outras fraturas se houver suspeita de lesão medular, até

que ela seja tratada.

7. Evite manipular um paciente que tenha suspeita de lesão medular, a menos que tenha

que protegê-lo de um perigo iminente na cena.

8. Tome as medidas necessárias para imobilizar a cabeça, pescoço e, tanto quanto

possível, o corpo do paciente. Mantenha o paciente em repouso.

9. Avalie continuamente todos os pacientes que apresentam lesão de medula;

frequentemente entram em estado de choque. Em alguns casos, ocorre paralisia dos

músculos do tórax e eles entram em parada respiratória.

Importante!

Lembre-se de que, ao lidar com pacientes com lesão na coluna, o emergencista deve

realizar todas as manobras mantendo a cabeça e o pescoço fixos.

2.4. Traumatismo no tórax

A caixa torácica protege o coração, os principais vasos sanguíneos, a traqueia, os pulmões e o

esôfago, que se liga ao estômago. As costelas inferiores ajudam a proteger órgãos localizados

na parte superior do abdômen: o fígado, a vesícula biliar, o estômago e o baço.

2.4.1. Sinais e sintomas

Dependendo da extensão, da presença de lesões associadas (fratura de esterno, costelas e

vértebras) e do comprometimento pulmonar e/ou dos grandes vasos, o paciente poderá

apresentar:

Aumento da sensibilidade ou dor no local da fratura,

que se agrava com os movimentos respiratórios;

Respiração superficial (dificuldade de respirar,

apresentando movimentos respiratórios curtos);

Eliminação de sangue através de tosse;

Cianose nos lábios, pontas dos dedos e unhas;

Postura característica: o paciente fica inclinado sobre o lado da lesão, com a mão ou o

braço sobre a região lesada, imóvel;

Sinais de choque (pulso rápido e PA baixa).

2.4.2. Tipos de traumatismos no tórax

Para auxiliar nos seus estudos, os traumatismos do tórax serão apresentados da seguinte

forma:

Fraturas de costelas;

Ferimentos por objetos penetrantes e perfurantes;

Objetos encravados;

Lesões no coração e nos pulmões.

Estude sobre cada uma delas a seguir.

Fratura de costelas

Sinais e sintomas

Dor na região da fratura;

Dor ao respirar e movimentos respiratórios curtos;

Crepitação.

Tratamento pré-hospitalar

1. Na fratura de uma ou duas costelas, posicione o braço do paciente sobre o local da

lesão.

2. Use bandagens triangulares como tipoia e outras para fixar o braço no tórax.

Importante!

Não use esparadrapo direto sobre a pele para imobilizar costelas fraturadas.

Tórax instável

Ocorre quando duas ou mais costelas estão quebradas em dois pontos. Provoca a respiração

paradoxal. O segmento comprometido se movimenta, paradoxalmente, ao contrário do

restante da caixa torácica durante a inspiração e a expiração. Enquanto o tórax se expande, o

segmento comprometido se retrai e quando a caixa torácica se contrai, o segmento se eleva.

Tratamento pré-hospitalar

1. Estabilize o segmento instável que se move paradoxalmente durante as respirações.

2. Use almofadas pequenas ou compressas dobradas presas com fita adesiva larga.

3. O tórax não deverá ser totalmente enfaixado.

4. Transporte o paciente deitado sobre a lesão ou na posição que mais lhe for confortável.

5. Ministre oxigênio suplementar.

Ferimentos por objetos penetrantes e perfurantes

São os traumas abertos de tórax, geralmente provocados por objetos que não se encontram

cravados, assim como lesões provocadas por armas brancas, de fogo ou lesões ocorridas nos

acidentes de trânsito, entre outras. Em alguns casos, é possível perceber o ar entrando e saindo

pelo orifício.

São chamados de ferimentos aspirantes de tórax porque se escuta um som característico cada

vez que o paciente respira.

Tratamento pré-hospitalar

1. Tampone o local do ferimento usando a própria mão protegida por luvas, após a

expiração;

2. Faça um curativo oclusivo com plástico ou papel aluminizado (curativo de três pontas);

a oclusão completa do ferimento pode provocar um pneumotórax hipertensivo grave;

3. Conduza o paciente com urgência para um hospital e ministre O2, de acordo com o

protocolo local.

Objetos encravados

Não remova corpos estranhos encravados (pedaços de vidro, facas, lascas de madeiras,

ferragens, etc.). As tentativas de remoção poderão causar hemorragia grave ou, ainda, lesar

nervos e músculos próximos da lesão.

Tratamento pré-hospitalar

1. Controle a hemorragia por pressão direta.

2. Use curativo volumoso para estabilizar o objeto encravado, fixando-o com fita adesiva.

3. Transporte o paciente administrando oxigênio suplementar.

Lesões no coração e nos pulmões

O ar que sai do pulmão perfurado leva ao pneumotórax hipertensivo, que resulta em colapso

pulmonar. As hemorragias no interior da caixa torácica (hemotórax) provocam compressão do

pulmão, levando também à insuficiência respiratória. As lesões na caixa torácica acabam

provocando lesões internas nos pulmões e no coração. O sangue envolvendo a cavidade do

pericárdio pode também resultar em uma perigosa compressão no coração.

Sinais e sintomas

Desvio de traqueia;

Estase jugular;

Cianose;

Sinais de choque;

Enfisema subcutâneo.

Tratamento pré-hospitalar

1. Ministre O2.

2. Conduza o paciente com urgência para receber tratamento médico.

Importante!

Todas essas lesões são emergências sérias que requerem um pronto cuidado médico.

Aula 3 – Queimaduras

3.1. Definições

Qualquer dano ao tecido do corpo causado pela exposição a diferentes agentes.

Lesão causada por agentes térmicos, produtos químicos, eletricidade, radiação, etc.

Morte do tecido por desidratação.

As queimaduras podem lesar a pele, os músculos, os vasos sanguíneos, os nervos e os ossos.

3.2. Causas

As causas das queimaduras são:

Térmicas – Por calor (fogo, vapores quentes, objetos quentes) e por frio (objetos congelados,

gelo).

Químicas – Incluem vários cáusticos, tais como substâncias ácidas e álcalis.

Elétricas – Materiais energizados e descargas atmosféricas.

Substâncias radioativas – Materiais radioativos e raios ultravioleta (incluindo a luz solar),

etc.

3.3. Classificação, sinais e sintomas

De acordo com sua profundidade, as queimaduras classificam-se em graus, de primeiro a

terceiro.

Queimadura de 1º grau

Atinge somente a epiderme (camada mais

superficial da pele). Caracteriza-se por dor

local e vermelhidão da área atingida.

Queimadura de 2º grau

Atinge a epiderme e a derme. Caracteriza-se

por muita dor, vermelhidão e formação de

bolhas.

Queimadura de 3º grau

Atinge todas as camadas (tecidos) de

revestimento do corpo, incluindo o tecido

gorduroso, os músculos, vasos e nervos,

podendo chegar até os ossos. É a mais grave

quanto à profundidade da lesão. Caracteriza-

se por pouca dor, devido à destruição das

terminações nervosas da sensibilidade, pele

seca, dura e escurecida ou esbranquiçada.

3.4. Extensão da queimadura

De acordo com a extensão da queimadura, usamos percentagens através da regra dos nove,

que permitem estimar a superfície corporal total queimada (SCTQ). Nesse caso, analisamos

somente o percentual da área corpórea atingida pela lesão, sem considerar sua profundidade

(seus graus).

A regra dos nove divide o corpo humano em doze regiões. Onze delas equivalem a 9% cada, e

uma (região genital) equivale a 1%, conforme segue:

Divisão do corpo humano Adulto Criança

Cabeça e pescoço 9% 18%

Membros superiores 9% cada 9% cada

Tronco anterior 18% 18%

Tronco posterior 18% 18%

Membros inferiores 18% cada 14% cada

Genitais 1% incluído nos membros

inferiores

TOTAL 100% 100%

3.5. Gravidade das queimaduras

A gravidade de uma queimadura deve sempre considerar os seguintes aspectos:

Grau da queimadura;

Percentagem da SCTQ:

1º grau > 15% SCTQ = grave

2º grau > 10% SCTQ = grave

3º grau > 5% SCTQ = grave

Localização da queimadura;

Idade da vítima;

Enfermidades anteriores da vítima.

3.4.1 Queimaduras graves

Queimaduras que afetam as áreas críticas do corpo (rosto, mãos, pés, genitais e nádegas), ou

queimaduras inalatórias.

Sinais e sintomas de suspeita de queimaduras das vias aéreas

- Pelos nasais queimados;

- Queimaduras faciais;

- Tosse com exposição de restos de carvão;

- Dispnéia e dificuldade respiratória;

- Inconsciência em um lugar fechado com chamas;

- Antecedente de explosão.

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se o local é seguro.

3. Pare o processo de queimadura com um cobertor molhado ou com a técnica de parar,

cair e rolar para o paciente.

4. Esfrie a área queimada em água fria ou use um jato de água fria por alguns minutos. A

melhor coisa é mergulhar, se possível, a área afetada em água fria.

5. Mantenha uma via aérea aberta; garanta que o paciente esteja respirando.

6. Cubra a queimadura inteira usando um curativo frouxo estéril ou limpo. Não tape a boca

ou nariz. Não aplique quaisquer cremes. Cubra com gaze estéril de preferência.

7. Dê especial atenção aos olhos. Se as pálpebras e os olhos estão queimados, cubra as

tampas com curativo volumoso estéril ou limpo. Se o protocolo permitir e estiver

disponível, aplique curativos umedecidos em soro fisiológico ou água limpa.

8. Preste atenção especial aos dedos. NÃO feche uma mão que tenha queimaduras de

segundo ou terceiro grau sem ter de inserir um curativo entre cada dedo. Se o protocolo

local permitir, aplique compressas úmidas em água estéril.

9. Previna o choque.

10. Não remova a roupa presa à pele. Corte em torno da lesão e cubra com curativo limpo.

3.4.2. Queimaduras químicas

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se o local é seguro.

3. Limpe o pó químico da área afetada antes da proceder à lavagem. Remova a roupa

contaminada e joias ao fazer o enxágue. Use luvas de látex.

4. Lave a área completamente com água corrente por vinte minutos ou mais.

5. Aplique compressas estéreis.

6. Lave a área afetada, sem retirar o curativo, se o paciente começar a se queixar de

dor ou ardor.

7. Previna o choque.

3.4.3. Queimaduras elétricas

Os problemas mais graves produzidos por uma descarga elétrica são: parada

respiratória ou cardiorrespiratória, dano ao SNC e lesões em órgãos internos.

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Confira se a cena é segura; se necessário, acione a companhia energética local.

3. Verifique a respiração e pulso. A energia elétrica passa através do corpo, muitas vezes

resultando em parada cardíaca. Também pode haver um bloqueio parcial, devido à

inflamação dos tecidos ao longo da via aérea.

4. Avalie a queimadura, procure pelo menos dois pontos queimados. Um deles será no

local onde o paciente entrou em contato com a fonte de energia (muitas vezes a mão),

o outro é a saída (muitas vezes é o pé ou a mão).

5. Aplique uma compressa estéril ou limpa para cobrir as queimaduras.

6. Trate o choque e conduza o paciente com monitoramento constante ao hospital.

3.5. Lesões provocadas pelo frio

Exposição ao frio excessivo pode causar problemas de saúde. Em casos graves, o resfriamento

geral do corpo, hipotermia, pode levar à morte. Exposição ao frio excessivo pode manifestar-

se de duas formas:

Resfriamento generalizado

Resfriamento localizado

A seguir, estude sobre cada um deles.

3.5.1. Resfriamento generalizado

Também chamado de hipotermia geral, é provavelmente a lesão mais comum no frio. Afeta

todo o corpo com uma diminuição geral da temperatura, ao ponto de se perder o controle

térmico, chegando-se ao coma e à morte.

Sinais e sintomas

Calafrios;

Sensação de adormecimento;

Sonolência;

Respiração e pulso lento;

Perda da visão;

Inconsciência, que se pode iniciar com a “vista embaçada e olhar vítreo”;

Congelamento de algumas partes do corpo. Deve-se tomar medidas urgentes, porque o

paciente pode morrer.

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se o local é seguro.

3. Realize a avaliação do paciente para determinar a extensão do problema.

4. Mantenha as vias respiratórias abertas.

5. Mantenha o paciente seco.

6. Aplique calor através de bolsas ou garrafas quentes, cobertores quentes, ar quente,

calor radiante ou de seu próprio calor e do presente. Leve o paciente para um ambiente

quente. Um banho quente é útil.

7. Se o paciente está alerta, ofereça líquidos quentes não alcoólicos.

8. Não permita que o paciente retorne para o mesmo local em que estava, pois

provavelmente retornará a hipotermia.

9. Monitore constantemente os sinais vitais.

3.5.2. Resfriamento localizado

Setenta por cento do corpo humano é composto por água. Quando exposto ao frio excessivo, a

água se congela intracelularmente, resultando em cristais de gelo que podem destruir as

células.

O resfriamento localizado pode se apresentar de duas formas:

Resfriamento localizado superficial;

Resfriamento localizado profundo.

Estude sobre cada um deles.

Resfriamento localizado superficial

Sinais e sintomas

O início do resfriamento é lento. Em condições de vento, pode ocorrer rapidamente;

Há dormência na área afetada. Ao toque é possível sentir a superfície congelada. Nesse

caso, o resfriamento deve ser tratado como profundo.

Por desconhecimento, o paciente não toma consciência do problema.

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se o local é seguro.

3. Aqueça a zona afetada. Implemente uma fonte confiável (não queime o paciente) de

calor externo para o local lesado.

4. Proteja a área congelada, cobrindo-a com cuidado e manuseio.

5. Seque a área afetada e aplique um curativo limpo após o aquecimento. Coloque

curativos entre os dedos, se eles estão afetados.

Importante!

Não esfregue a área do corpo afetada, pois as células estão em forma de cristais e podem se

destruir.

NÃO PERMITA QUE A ÁREA VOLTE A CONGELAR!

Resfriamento localizado profundo

Sinais e sintomas

Manchas na pele. Aparecem geralmente na cor branca, depois amarela e finalmente

azul-acinzentado;

A superfície da pele congelada fica insensível ao toque;

Tanto a superfície quanto as partes internas tornam-se duras ao toque.

Tratamento pré-hospitalar

1. Use EPI (biossegurança).

2. Verifique se o local é seguro.

3. Administre o mesmo tratamento que eé utilizado no resfriamento da superfície.

Finalizando...

Neste módulo você estudou:

Os traumas em extremidades: fraturas, lesões e entorses;

Os traumatismos: traumatismo crânio-encefálico (TCE), traumatismo da face,

Traumatismo raquimedular (TRM) e traumatismo do tórax;

Os procedimentos para atendimento pré-hospitalar às vítimas com essas lesões;

A definição, os tipos e a classificação de queimaduras de acordo com a profundidade e

extensão e o tratamento pré-hospitalar para vítimas com queimaduras térmicas,

químicas e elétrica;

Exercícios: