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MPE Ministério Público Eleitoral Procuradoria Regional Eleitoral na Bahia EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ AUXILIAR DE PROPAGANDA DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA BAHIA Ref: NF 1.14.000.002040/2014-59 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 73, I, II, § 2º da Lei nº 9.504/97, c/c artigo 22 da LC 22/90, propor a seguinte REPRESENTAÇÃO por CONDUTA VEDADA contra ROBERTO PEREIRA DE BRITTO, brasileiro, candidato a Deputado Federal, com endereço e número de fax no respectivo requerimento de registro de candidatura; pelos motivos que passa a expor: DA COMPETÊNCIA E DO RITO A SER SEGUIDO: No que toca à competência, colhe-se do artigo 96, caput e incisos da Lei 9.504/97, que as representações relativas ao descumprimento da referida Lei Eleitoral devem ser julgadas, a depender das eleições serem 1

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Procuradoria

Regional Eleitoral

na Bahia

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ AUXILIAR DEPROPAGANDA DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DA BAHIA

Ref: NF 1.14.000.002040/2014-59

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL vem à presença de

Vossa Excelência, com fundamento no artigo 73, I, II, § 2º da Lei nº

9.504/97, c/c artigo 22 da LC 22/90, propor a seguinte REPRESENTAÇÃO

por CONDUTA VEDADA contra

ROBERTO PEREIRA DE BRITTO , brasileiro,

candidato a Deputado Federal, com endereço e

número de fax no respectivo requerimento de registro

de candidatura;

pelos motivos que passa a expor:

DA COMPETÊNCIA E DO RITO A SER SEGUIDO:

No que toca à competência, colhe-se do artigo 96, caput e

incisos da Lei 9.504/97, que as representações relativas ao descumprimento

da referida Lei Eleitoral devem ser julgadas, a depender das eleições serem1

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municipais, gerais ou presidencial, respectivamente, pelos Juízes Eleitorais,

Tribunais Regionais Eleitorais e Tribunal Superior Eleitoral.

Em adição, estabelece o §3º do referido dispositivo que as

representações de competência dos Tribunais Regionais Eleitorais deverão

ser apreciadas por Juízes Auxiliares. É o que ocorre na espécie tendo em

conta que a presente representação tanto é arrimada na hipótese

consignada no artigo 73, incisos I e II, da Lei Eleitoral (conduta vedada a

agente público), quanto faz referência às eleições gerais de 2014, sendo,

pois, seu julgamento de competência do Pretório Eleitoral e sua apreciação

incumbida a um dos Juízes Auxiliares.

Note-se a dicção dos dispositivos suso citados, in litteris:

Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as

reclamações ou representações relativas ao seu descumprimento

podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou

candidato, e devem dirigir-se:

I – aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;

II – aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições f ederais,

estaduais e distritais;

III – ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.

(...)

§ 3º Os Tribunais Eleitorais designarão três Juízes auxi liares

para a apreciação das reclamações ou representações que

lhes forem dirigidas .

No que pertine ao rito processual , salvo disposição

específica em contrário, as representações pelo malferimento dos preceitos

da Lei 9.504/97 observarão o rito sumaríssimo traçado em seu artigo 96.

Este procedimento só não será seguido se a própria Lei Eleitoral cuidar de

afastá-lo. Tal ressalva foi expressamente prevista no § 12, do art. 73, da Lei

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n. 9.504/97, incluído pela Lei nº 12.034/2009, que passou a estipular que as

representações pela prática de conduta vedada deverão seguir o rito

sumário, previsto no art. 22 da LC 64/90. Confira-se o teor do referido

dispositivo legal, in verbis:

§ 12. A representação contra a não observância do disposto neste

artigo observará o rito do art. 22 da Lei Complementar no 64, de

18 de maio de 1990, e poderá ser ajuizada até a data da

diplomação.

Tal disposição foi didaticamente compilada no art. 22 da

Resolução 23.398/2013, que assentou, in litteris:

Art. 22. As representações que visem apurar as hipóteses

previstas nos arts. 23, 30-A, 41-A, 73, 74, 75, 77 e 81 da Lei nº

9.504/97 observarão o rito estabelecido pelo art. 22 da Lei

Complementar nº 64/90, sem prejuízo da competência regular do

Corregedor Eleitoral.

In casu, a observância do rito se faz imperiosa, porque o

representado, conquanto já tenha sido compelido ao pagamento de multa

RP 2522-65.2014.6.05.0000 (publicidade extemporânea), ainda não se viu

condenado à cassação do registro ou do diploma (art. 73, § 5º, da Lei n.

9.504/97)

DAS CONDUTAS:

Consoante restou confirmado na RP 2522-65.2014.6.05.000

(cópia em anexo), no mês de maio de 2014 – antes, portanto, do início da

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propaganda eleitoral regular –, o representado enviou a diversas

residências de Jequié, sua base eleitoral, a peça publicitária reproduzida às

fls. 21-24. O original encontra-se encartado na aludida RP 2522-

65.2014.6.05.000, e pode ser trasladado para os presentes autos, se V. Exa.

considerar cabível.

Este “informativo” foi confeccionado pela empresa M.A. DA

SILVA MACEDO, CNPJ n. 03.106.232/0001-17, sediada na Rua Dez de

Dezembro, 60, Centro, Jequié/BA.

A elaboração e impressão dos “informativos” custou nada

menos que R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), por conta do grande número

de impressos. E quem os pagou? A Câmara de Deputados, ou melhor, o

contribuinte.

Com efeito, o ofício n. 1188/14/GP, emitido pelo Presidente

daquela casa legislativa em resposta a ordem emanada na RP 2522-

65.2014.6.05.000, deixa claro que o valor foi totalmente reembolsado – leia-

se, pago – pela União (Câmara dos Deputados), em razão de pedido de

ressarcimento de despesas formulado pelo representado (fl. 83). Tal pleito

será adiante colacionado:

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O referido “informativo” destaca, em sua capa, fotografia e

logotipo do representado , com diagramação praticamente idêntica a seu

perfil/página de campanha no Facebook

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(https://www.facebook.com/robertopereirabritto). Logo abaixo, há indicação

do cargo pretendido (Deputado Federal) e um slogan de campanha

(“Credibilidade e compromisso”). Eis a imagem:

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Para que se faça a comparação, segue o perfil/página de

campanha do representado , em imagem capturada em 17 de agosto de

2014, data da elaboração da inicial da RP 2522-64.2014:

Nas oito páginas do extenso informativo, o nome do

representado e o cargo pretendido (Deputado Federal) aparecem em

destaque, juntamente com suas supostas realizações e sua plataforma

política (cf., p. ex., as matérias de título “Um homem, sua história de vida e

sua trajetória política” – fl. 22 e “Roberto Britto já colocou mais de 22 milhões

para Jequié” – fl. 23).

Feito com o claro propósito de alavancar

extemporaneamente a reeleição do representado , o informativo pago pelo

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Erário faz questão de destacar as alegadas qualidades do candidato,

apresentando-o como “defensor” da região, que continuará a lutar por ela –

evidentemente, caso venha a ser reeleito (cf., p. ex., textos “Faço questão

de sempre lembrar a todos que o caminho para disponibilizar recursos não é

fácil. É preciso persistência, paciência e acompanhamento aos órgãos do

Executivo” – fl. 23; “Um dever que requer muita dedicação e empenho” – fl.

7-verso; “Roberto Britto luta por mais agentes na Polícia Rodoviária Federal”

– fl. 24; “Mas continuarei meu trabalho, de maneira incansável, na Câmara

dos Deputados e junto aos Ministérios Espero que essas emendas

continuem sendo transformadas em melhorias e garantam mais qualidade

de vida para Jequié e região” – fl. 22; e “No que cabe a mim, o resultado

está aí, são milhões em emendas que apresentei e continuarei

apresentando” – fl. 23).

Nitidamente, tratava-se de propaganda eleitoral antecipada,

paga com os cofres públicos, como registrou a r. decisão prolatada na RP

2522-65.2014.6.05.0000:

(...) algumas situações me chamaram atenção, as quais passo a

descrever.

Em primeiro lugar, apesar de não ser proibida a inclusão da

imagem do parlamentar, os impressos foram confeccionados em

oito páginas cada e nessas oito páginas há 18 fotografias do

representado em tamanhos diversos. Além disso, seu nome é

grafado de forma destacada, por 29 vezes.

Em segundo, a página 07 de nada trata de atividades

parlamentares, o próprio título da matéria é: “O Deputado Federal

Roberto Britto participou dos aniversários de emancipação política

das cidades de Aiquara, Gongogi e recebeu o Título de cidadão

jitaunense”. O relato, na verdade, descreve a atuação do

demandado como político, visitando suas bases.

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Finalmente, na fl. 02 consta texto com a seguinte abertura: “Um

homem, sua história e sua trajetória política”, do qual, peço vênia

para a transcrição de uma passagem:

E pensar que quando Roberto Britto assumiu em março de 1997,

encontrou uma prefeitura em crise econômica, quando realizou

uma administração austera, valorizando os funcionários públicos

municipais, sem perder de vistas as oportunidades de

investimento no desenvolvimento socioecômico do município.

Dessa forma, verificando que no informativo consta 1) a história do

parlamentar, enaltecendo a sua atuação quando prefeito

municipal; 2) notícia de visita a diversas cidades, demonstrando

seu suposto prestígio junto aqueles munícipes e 3) uma

diagramação em que se repetem exaustivamente o nome e a

imagem do demandado, entendo que, de fato, o material em

comento transbordou suas prerrogativas parlamentares e

desembocou em propaganda capaz de tendentes a afetar a

igualdade de oportunidade entre candidatos nos pleitos eleitorais

(fls. 76-77).

A propósito, deve-se recordar que o inciso art. 36-A da Lei

n. 9.504/97 determina que “não serão consideradas propaganda antecipada

e poderão ter cobertura dos meios de comunicação social, inclusive via

internet: IV - a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos,

desde que não se faça pedido de votos”. Entretanto, como bem advertiu o

TRE/MS, sempre se deve examinar a situação concretamente posta com

muita atenção, ou seja, “deve ser procedida a análise de todo o contexto

dessa divulgação, até porque muitas vezes ela é ide alizada com a

intenção de situar-se próxima a um limbo de incerte za, e com isso

causar a impressão de estar sob a pálio da legalida de para não atrair as9

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sanções previstas pela lei” (TRE/MS, RECURSO ELEITORAL nº 22104,

Acórdão nº 7030 de 20/03/2012, Relator LUIZ CLÁUDIO BONASSINI DA

SILVA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eleitoral, Tomo 551, Data

28/03/2012, Página 06/07 – sem negrito ou sublinhado no original).

Justamente por isto, as Cortes Regionais Eleitorais não têm

compactuado com os casos em que são extrapolados os lindes da

divulgação de ações parlamentares, descambando-se para a propaganda

eleitoral antecipada – como ocorre na hipótese ora examinada. Neste

sentido, merecem ser trazidos à colação os seguintes julgados:

RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO -PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA OUEXTEMPORÂNEA - DIVULGAÇÃO DE ATUAÇÃOPARLAMENTAR - PRETENSO CANDIDATO - PROMOÇÃOPESSOAL - CONOTAÇÃO ELEITORAL - ANO DE ELEIÇÃO -MENSAGEM SUBLIMINAR - ART. 36, DA LEI FEDERAL Nº9.504/97 (LEI DAS ELEIÇÕES). A confecção e distribuição de material informativo destinado adivulgar a atuação parlamentar de pretenso candidato, no anodas eleições, tem, em tese, nítido caráter de propagandaeleitoral antecipada (extemporânea). (TRE/ES, RECURSO ELEITORAL nº 3113, Acórdão nº 336 de15/08/2012, Relator ANNIBAL DE REZENDE LIMA, Publicação:PSESS - Publicado em Sessão, Data 15/08/2012 )

RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO. DISTRIBUIÇÃODE BOLETIM INFORMATIVO. VEREADOR. SENTENÇA.JULGAMENTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.FUNDAMENTAÇÃO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR.ANÁLISE MERITÓRIA DO PEDIDO. ERROR INPROCEDENDO. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA SUFICIENTE ASER ANALISADA POR ESTE TRIBUNAL. ART. 515, § 3.º, C.C.O ART. 330, INCISO I, DO CPC. POSSIBILIDADE.PUBLICIDADE SUBLIMINAR. CARÁTER ELEITORAL.EXTEMPORANEIDADE. REFORMA. APLICAÇÃO DEPENALIDADE DE MULTA. ART. 36, § 3.º, DA LEI N.º90.504/97. PROVIMENTO.

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(...) Apesar de a Lei n.º 9.504/97 (art. 36-A, inciso IV) preceituarsobre a possibilidade de divulgação de atos parlamentares,deve ser procedida a análise de todo o contexto des sadivulgação, até porque muitas vezes ela é idealizad a com aintenção de situar-se próxima a um limbo de incerte za, ecom isso causar a impressão de estar sob a pálio dalegalidade para não atrair as sanções previstas pela lei. Assim, se do panfleto distribuído sobressaem , de formaevidente, termos que, associados ao contexto intersubjetivoe à diagramação do informativo, levam as pessoas aacreditarem que o beneficiário é o mais apto ao exe rcíciode cargo eletivo, persuadindo o eleitorado através daautopromoção do agente, influenciando com isso oeleitorado, além de provocar a quebra da isonomia d eoportunidades, tem-se como ultrapassado as raias da meradivulgação dos trabalhos desenvolvidos no exercício daatividade parlamentar para incidir na prática dapropaganda eleitoral extemporânea de forma dissimul ada.Mesmo porque, conforme jurisprudência formada, o caráterpolítico-eleitoral contido na forma da publicidade não deveser observado apenas em seu texto, mas visto em tod o ocontexto e as demais circunstâncias em que se deu o uso ,de forma conjunta. Sentença reformada para, julgando procedente arepresentação, aplicar a penalidade de multa nos termos doart. 36, § 3.º, da Lei n.º 9.504/97, ante a prática de propagandaeleitoral antecipada.(TRE/MS, RECURSO ELEITORAL nº 22104, Acórdão nº 7030de 20/03/2012, Relator LUIZ CLÁUDIO BONASSINI DA SILVA,Publicação: DJE - Diário da Justiça Eleitoral, Tomo 551, Data28/03/2012, Página 06/07 )

- ELEIÇÕES 2012 - RECURSO - REPRESENTAÇÃO -PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA - ART. 36 DA LEI N.9.504/1997 - DIVULGAÇÃO DE INFORMATIVOPARLAMENTAR QUE ULTRAPASSA OS LIMITES DAPRESTAÇÃO DE CONTAS - VEICULAÇÃO DE SIGLA,CORES E NÚMERO DO PARTIDO - INTENÇÃO DE INCUTIR

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NO ELEITORADO A IDÉIA DE QUE O MANDATÁRIO "É OMAIS ATUANTE" - DIVULGAÇÃO DA PLATAFORMA POLÍTICA- ENALTECIMENTO DE SUAS REALIZAÇÕES EQUALIDADES - DESNECESSIDADE DE MENÇÃO À FUTURACANDIDATURA OU EXPRESSO PEDIDO DE VOTO -CONOTAÇÃO ELEITORAL CONFIGURADA - DECISÃOCONDENATÓRIA - MANUTENÇÃO - DESPROVIMENTO DORECURSO. Configura propaganda eleitoral antecipada a divulgação deinformativo parlamentar que, muito mais do que prestar contasà população, promove a imagem e as qualidades domandatário com finalidade eleitoral, pois ainda que não façamenção à futura candidatura ou revele pedido expresso devotos, visa incutir no eleitorado a idéia de que ele é o mais aptoa exercer a função pública.(TRE/SC, RECURSO EM REPRESENTACAO nº 5921,Acórdão nº 26633 de 03/07/2012, Relator(a) MARCELORAMOS PEREGRINO FERREIRA, Publicação: DJE - Diário deJE, Tomo 121, Data 9/7/2012, Página 5 )

REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORALEXTEMPORÂNEA.. UTILIZAÇÃO DE FOTOGRAFIA, SLOGANE LOGOMARCA. MENSAGENS TÍPICAS DE CAMPANHAELEITORAL. DEPUTADO DISTRITAL LICENCIADO.APROPRIAÇÃO INDEVIDA DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR.MENSAGEM INVERÍDICA. MATERIAL PUBLICITÁRIO BEMELABORADO. REPRESENTAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. Configura propaganda eleitoral antecipada a divulgação defolder no qual há a utilização de fotografia do beneficiário,logomarca e slogan, mas essas mensagens, evidentemente,não caracterizam prestação de contas de atuaçãoparlamentar, mas divulgação tipicamente de campanhaeleitoral , além do que o material traz também indevidaapropriação da autoria da produção legislativa da qual oRepresentado não participou diretamente, o que viola oprincípio da veracidade das mensagens. (...)(TRE/DF, REPRESENTAÇÃO nº 9308, Acórdão nº 5539 de30/10/2013, Relatora MARIA DE FÁTIMA RAFAEL DE

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AGUIAR, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico doTRE-DF, Tomo 007, Data 10/01/14, Página 5-6 )

O próprio Tribunal Regional Eleitoral da Bahia já reconheceu

que o manto da divulgação de atividade parlamentar em verdade encobria

ilícita propaganda antecipada. In verbis:

Recurso. Representação. Propaganda extemporânea.Imprensa escrita. Veiculação de mensagens de carátereleitoral subliminar, acompanhadas da imagem do pré -candidato em grandes proporções . Configuração. Art. 36 eseu § 3º da Lei nº 9.504/97. Desproporcionalidade da sançãocominada. Provimento parcial. Sanção fixada no valor mínimolegal.1. Configura propaganda eleitoral extemporânea aveiculação, em revista, de fotografia do rosto dobeneficiário - pré-candidato no último pleito -, se guida demensagens que trazem implícita a idéia de confiança norecorrente, quando o contexto revela que o objetivo dapublicidade é o de projetar sua imagem perante oeleitorado; 2. É desproporcional a aplicação da multa em valor majoradosem que haja notícias nos autos de reiteração da prática deilícitos desta natureza; 3. Recurso a que se dá parcial provimento para reduzir asanção de multa para o valor mínimo legal.(RECURSO ELEITORAL nº 7471, Acórdão nº 211 de12/03/2013, Relator SAULO JOSÉ CASALI BAHIA, Publicação:DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 15/3/2013)

Lembrando-se disto, cabe volver ao exame da peça

publicitária extemporaneamente veiculada pelo representado. O seu

contexto (que engloba a proximidade das eleições), a fotografia utilizada (em

tudo similar à da propaganda no Facebook e àquela que será empregada

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nas urnas), o logotipo, o enaltecimento das supostas qualidades políticas do

acionado, a utilização de um slogan de campanha e a alusão às plataformas

políticas, enfim, tudo isto, analisado conjuntamente, não deixa dúvidas: trata-

se de peça publicitária destinada a infundir confiança e atrair votos, ante

tempore e com violação ao princípio da isonomia.

Em suma, não há dúvida quanto à existência de propaganda

eleitoral antecipada, uma vez que se encontram presentes todos os

requisitos magistralmente elencados pelo Min. Felix Fischer, em voto

proferido no RCED n. 698-Palmas-TO, j. 25-06-2009: “Para que seja

considerada antecipada a propaganda, ela deve levar ao conhecimento

geral, ainda que de forma dissimulada , a candidatura, a ação política ou

as razões que levem a inferir que o beneficiário seja o mais apto para a

função pública. É preciso que, antes do período eleitoral, se inicie o trabalho

de captação dos votos dos eleitores (AgRg no Ag 7.967/MS, Rel. Min.

Marcelo Ribeiro, DJ de 1º.9.2008; A-REspe 23.367/PI, de minha relatoria, DJ

de 6.8.2008)”.

É justamente esta a situação dos autos. O representado, de

forma dissimulada, divulgou propaganda eleitoral, com o propósito de iniciar

a destempo o processo de captação de votos. E isto foi feito com verba da

Casa Legislativa que o representado integra, violando o art. 73, I e II, da Lei

9.504, in verbis:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as

seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunida-

des entre candidatos nos pleitos eleitorais:

I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou co-

ligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração di-

reta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos

Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção

partidária;

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II - usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Ca-

sas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos

regimentos e normas dos órgãos que integram

Indubitavelmente, o representado praticou e foi beneficiário

da conduta vedada, devendo, em razão disto, incidir nas sanções do art. 73,

§§ 4º e 5º, da Lei n. 9.504.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto , requer o Ministério Público Eleitoral:

a) recebimento da inicial, IMPRIMINDO-SE AO FEITO

O RITO SUMÁRIO PREVISTO NO ART. 22, DA LEI

COMPLEMENTAR 64/90 , conforme autoriza o art. 73,

§ 12, da Lei n. 9.504/97;

b) a notificação do representado para, querendo,

apresentar defesa em cinco dias (art. 22, I, “a”, da Lei

Complementar 64/90);

c) seja a representação regularmente instruída

para, ao final, ser levada a julgamento em plenário ,

julgando-a procedente para o fim de impor multa e

cassar o registro ou o diploma do representado ,

nos termos do art. 73, §§ 4º e 5º, da Lei n. 9.504.

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Para provar o alegado, o Ministério Público Eleitoral protesta

por todos os meios de prova admissíveis no Direito.

Atribui-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil

reais).

P. deferimento.

Salvador, 22 de setembro de 2014.

ANDRÉ LUIZ BATISTA NEVES

Procurador Eleitoral Auxiliar

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