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Um material ótimo para pesquisa sobre a modalidade Educação de Jovens e adultos - EJA contém um relatório deta lhado sobre o perfil do alunado dessa modalidade de ensino.
Coleo Uma nova EJA para So Paulo
CADERNO 3:TRAANDO O PERFIL DE ALUNOS E PROFESSORES DA EJA.
Este caderno foi elaborado pela Secretaria Municipal de Educao, Diviso deOrientao Tcnica da Educao de Jovens e Adultos DOT-EJA com a assessoriapedaggica da ONG Ao Educativa.
COORDENAO EDITORIALLourdes de Ftima Paschoaletto PossaniJoana Alves da Silva
TEXTOVera Masago Ribeiro
COLABORAOCoordenao da pesquisa: Silvana MussalimConstruo dos instrumentos de pesquisa e elaborao do caderno: Cludia Vvio,Mayra Moura, Silvana MussalimAmostragem e trabalho de campo: Fernando Valentim, Mayra Moura e Hayde MariaLobo DiasElaborao de relatrio tcnico da pesquisa: Isabel de Almeida (Feusp), Maria Amliado Rosrio Santoro Franco (Unisantos) e Angela Maria Martins (FCC e Unisantos).
REVISO DE TEXTOSolange Martins
REVISO DE CONTEDOComisso Editorial da DOT-G
DIAGRAMAO E ARTESelma Bertachini Pacheco
DIREITOS AUTORAISSME Secretaria Municipal de Educao de So Paulo
CO.DOT/EJASA. 007/04
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APRESENTAO
O terceiro caderno da Coleo Uma Nova EJA para So Paulo, Traando operfil de alunos e professores da EJA, traz uma sntese da pesquisa realizada duranteo movimento da Reorganizao e Reorientao Curricular da Educao de Jovens eAdultos (RRCEJA) na cidade de So Paulo.
Esta pesquisa teve por objetivo fornecer dados para as equipes tcnicas da SecretariaMunicipal de Educao (SME), propiciando ter uma viso abrangente da Educao deJovens e Adultos (EJA) na Rede Municipal de Ensino de So Paulo (RME). Estes dadosindicam suas principais conquistas, problemas e elementos para a escolha de prioridadesde interveno nesta modalidade de ensino.
Os profissionais que atuam na EJA j possuem conhecimentos sobre seus educandose sobre as escolas onde atuam, conhecimentos estes baseados na experincia pessoal enas trocas entre colegas, alm de pesquisas realizadas na prpria escola. Entretanto, aSME considerou importante contar com indicadores que pudessem ampliar esteconhecimento sobre a EJA que temos, visando transform-la.
Lembramos que este caderno exige mais do que uma leitura individual por parte doseducadores; pressupe uma reflexo coletiva para que se possa fazer a relao com arealidade local e, ainda, que toda a interveno pedaggica carece de consensos entreeducandos e educadores, tanto sobre as estratgias e s opes poltico-pedaggicasque podem ser viabilizadas na Educao de Jovens e Adultos.
DOT-EJAJulho de 2004
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S U M R I O
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PG.
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INTRODUO
O PERFIL DE EDUCANDOS E PROFESSORES
Quem so os educandos
Quem so os professores
O AMBIENTE EDUCATIVO
Virtudes e problemas
Ambiente humano
Ambiente fsico
Os tempos da EJA
PRTICA PEDAGGICA E CONTEDOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Organizao do processo de ensino-aprendizagem
Contedos de ensino-aprendizagem
FORMAO CONTINUADA DOS PROFESSORES
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EEEEEEm 2003, o movimento de Reorientao e Reorganizao Curricular da Educao de Jovens e Adul-
tos inclui nas atividades programadas a elaborao de uma pesquisa para traar o perfil de educandos eprofessores que atuam na RME/SP.
A principal justificativa foi a de que um movimento que se quer consistente e emancipador precisaestar conectado s necessidades e interesses daqueles que tomam parte da EJA, alm de estar baseado emalgumas informaes essenciais:
perfil sociodemogrfico dos educandos, suas necessidades e expectativas de aprendizagem;condies de trabalho e expectativas dos professores;situao do contexto educativo e das prticas pedaggicas que se quer aperfeioar.
Para cumprir esse objetivo, foram elaborados instrumentos de pesquisa um questionrio para oseducandos e outro para os professores para coletar informaes sobre o perfil sociodemogrfico e asopinies de cada um sobre o contexto e as prticas pedaggicas da EJA. Por limitao dos recursos dispo-nveis, no participaram desta pesquisa os demais educadores envolvidos com a EJA (equipes tcnicas efuncionrios). A amostra de professores tambm precisou ser reduzida, dando-se prioridade aos educandos.No total, foram entrevistados 905 educandos e 212 professores.
As amostras foram construdas com critrios estatsticos, a fim de representar o conjunto da rede.Para definir a amostra de educandos, levou-se em considerao a quantidade total de educandos porregio da cidade para calcular quantos seriam entrevistados em cada regio, buscando uma distribuioproporcional. Nas vrias regies foram sorteadas escolas (no total 90) e, em cada uma delas, sorteadasturmas e educandos a serem submetidos entrevista. A margem de erro adotada para a amostra deeducandos foi de 3% com intervalo de confiana de 95%.
Esses so conceitos estatsticos que querem dizer o seguinte: os resultados relativos ao conjunto doseducandos podem variar em 3 pontos percentuais para cima ou para baixo; esta , portanto, a margem deerro da pesquisa. O intervalo de confiana de 95% significa que, se a pesquisa se repetisse com cem dife-rentes amostras de educandos do mesmo tamanho, os resultados seriam os mesmos em 95 das vezes.
Para a amostra de professores, foram utilizados iguais procedimentos de sorteio nas 90 escolas,garantindo a proporo na distribuio de docentes por regio. Entretanto, como a amostra de professo-res foi menor, a margem de erro maior, 5%; isso quer dizer que os resultados podem variar em 5 pontospercentuais para cima ou para baixo.
Mesmo com essa variao em relao ao conjunto dos professores, os resultados obtidos com pro-fessores e educandos do uma boa viso do perfil e das principais tendncias nas opinies desses doissegmentos.
Nos questionrios foram utilizadas perguntas fechadas, em que o entrevistado escolhe uma entrediversas alternativas predefinidas, e perguntas abertas, s quais o entrevistado responde espontaneamen-te. As respostas espontneas foram categorizadas posteriormente, de modo que possibilitassem uma pers-pectiva de conjunto sobre os temas mencionados.
H tambm perguntas com resposta nica (por exemplo, qual a sua idade, qual o horrio de entradade sua preferncia, qual a melhor forma de organizar o ensino etc.). Nesses casos, os percentuais dadosa cada resposta devem sempre somar 100%. Igualmente existem perguntas que possibilitam mltiplasrespostas (por exemplo, cite os trs maiores problemas de sua escola, que tipos de revista voc costuma ler
INTRODUO
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etc.). Em tais casos, a soma dos percentuais pode exceder os 100%, pois um mesmo entrevistado d maisde uma resposta. Nas tabelas apresentadas neste caderno, procuramos dar indicaes sobre esses aspec-tos, para facilitar a leitura e interpretao dos dados.
Nenhuma pesquisa consegue reproduzir fielmente, sem nenhum tipo de desvio, a realidade como ela. Pode haver desvios no modo como as perguntas so feitas e na maneira de os entrevistados responderem.Mesmo assim, a pesquisa quantitativa, que permite sintetizar e comparar dados sobre um grande nmero depessoas, pode ajudar-nos a ter uma viso abrangente dos fatos, muitas vezes nos fazendo rever o sensocomum. Dados como esses so fundamentais para orientar as polticas pblicas e possibilitar odimensionamento de cada realidade local em funo do conjunto. Para isso, no entanto, preciso que osdados sejam analisados e discutidos tanto pelos rgos centrais da SME como pelas comunidades escolares.
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O PERFIL DE EDUCANDOS E PROFESSORES
QUEM SO OS EDUCANDOS
A diversidade uma das principais marcas do corpo discente da EJA: diferentes idades, diferentes experincias devida, diferentes bagagens culturais. Por outro lado, algumas experincias e expectativas so comuns maioria:impossibilidade ou dificuldade de realizar os estudos na idade regular, necessidades relacionadas ao trabalho,expectativas de aprendizagem e desenvolvimento pessoal. Os dados coletados com os educandos da EJA-SME/SP confirmam essas caractersticas.
Jovens e adultosA EJA-SME/SP atende educandos de diferentes faixas etrias; 43% podem ser considerados jovens
(at 25 anos) e os demais, adultos. O grfico 1 mostra a distribuio etria dos educandos com mais detalhes.
A seguir, so apresentadas algumas caractersticas dos adolescentes, jovens e adultos que freqen-tam a EJA na Rede Municipal de So Paulo.
Grfico 1
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Podemos constatar, portanto, que existem diferenas entre os jovens e os adultos, mas tambm semelhanas.Como era de se esperar, h mais jovens solteiros e sem filhos menores de idade, embora seja fato que uma parte dosjovens j tem, como os adultos, responsabilidades familiares. Entre os jovens, maior o percentual daqueles quenasceram na Grande So Paulo, mas h um contingente grande de jovens que vieram do Nordeste. Outro pontoimportante em comum: em todas as faixas etrias a maioria constituda por trabalhadores, e uma grande parteenfrenta o problema do desemprego. Observem que o desemprego atinge principalmente os mais jovens.
Finalmente, pode-se verificar ainda que h maior proporo de adolescentes e jovens cursando osegundo ciclo.
Gnero, raa e religioAlm das diferenas quanto idade, temos outros aspectos que compem a diversidade dos educandos
da EJA.No conjunto dos educandos, 55% so mulheres e 45% homens. interessante o fato de a maioria,
entre os jovens, ser de rapazes. Provavelmente isso acontece porque os meninos esto sendo excludos doensino regular mais cedo do que as meninas, como indicam as estatsticas educacionais brasileiras. Assim,na EJA, esto predominando homens mais jovens e mulheres mais velhas (Grfico 2). Coerentemente,temos mais mulheres casadas, separadas ou vivas (55%) e que tm filhos menores de idade (54%). Amaior parte tambm trabalha fora de casa (43%) ou est desempregada (34%).
Grfico 2
Segundo o Censo Populacional de 2000, 54% da populao brasileira da raa branca e 44% da raanegra (pretos ou pardos), os demais pertencem a outras raas. Os educandos da EJA tambm expressamessa diversidade racial da populao brasileira, mas a maioria dos educandos negra.
Grfico 3
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Com relao religio, 62% dos educandos se declaram catlicos e 24%, evanglicos; 6% indicamoutras religies e 8% afirmam que no praticam nenhuma religio. A proporo dos que alegam nopraticar nenhuma religio maior entre os adolescentes at 18 anos (18%).
Trabalhadores em situao precriaA maioria dos educandos (74%) est trabalhando ou buscando trabalho. O problema do desem-
prego atinge um percentual muito elevado, de 33%. Dos que esto trabalhando, mais de um tero(39%) no tem registro de empregado ou autnomo, portanto est inserido no mercado informal, semos direitos garantidos pela legislao. A maioria dos que trabalham, 43%, ganha de 1 a 2 salriosmnimos e outros 33% ganham mais de 2 a 5 salrios mnimos. Na poca da pesquisa, o salrio mnimoera de 240 reais.
J vimos que o desemprego atinge principalmente os mais jovens (Quadro 1). Vamos ver agora asdiferenas de condies dos que trabalham:
Motivos de abandono e retorno escolaA maioria dos educandos j estudou no ensino regular (89%), dos quais 38% alm do ensino
regular j estiveram em outros cursos ou escolas de EJA. S 10% comearam a estudar na pr-pria EJA.
Grande parte (65%) ficou sem estudar por mais de 5 anos antes de entrar na EJA; para 20%, o tempode interrupo dos estudos varia entre 1 e 5 anos. S entre os adolescentes grande o percentual dos queinterromperam por menos de um ano ou no interromperam seus estudos (47%).
O principal motivo que leva os educandos a abandonar os estudos est relacionado necessida-de de trabalhar ou falta de dinheiro, motivo declarado por 46% dos que interromperam os estudos.Outros 12% mencionam motivos ligados prpria experincia escolar anterior estava desmotivado,no gostava da escola, tinha problemas com professores ou colegas, reprovao ou expulso, falta desegurana etc. e 10% alegam responsabilidades familiares gravidez, cuidar dos filhos, parentedoente (Grfico 4).
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Grfico 4
Se a necessidade de trabalhar afastou a maior parte desses educandos da escola, por outro lado odesejo de conseguir um emprego ou um emprego melhor tambm o motivo que leva a maioria (47%) aretomar os estudos. Entretanto, importante ter em vista que 32% indicam a aprendizagem ou o desen-volvimento pessoal como o principal fator que os fez voltar escola (Grfico 5). O percentual dos queindicam o desenvolvimento pessoal como principal razo para retomar os estudos maior (56%) entre oseducandos mais velhos (com 46 anos ou mais).
Grfico 5
Outro indcio de que o trabalho um importante fator de motivao para os alunos jovens e adultos que 28% afirmam que j fizeram algum curso profissionalizante e 86% dizem que ainda pretendem fazercurso desse tipo.
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QUEM SO OS PROFESSORESAlgumas informaes sobre o perfil dos professores que atuam na EJA tambm so relevantes para
analisar suas potencialidades e desafios para conduzir o trabalho educativo nessa modalidade de ensino.
Caractersticas do corpo docenteO corpo docente que atua na EJA-SME-SP majoritariamente feminino (70%). Do total, 80% tem
mais de 35 anos de idade.A maioria tem significativa experincia no magistrio (Grfico 6) e tambm no novata no ensino
de jovens e adultos (Grfico 7).
Grfico 6
Para refletir
1. Como a diversidade dos educandos constatada na pesquisa (a variao etria,sociocultural, de sexo, de religio, econmica etc.) se apresenta na escolaonde vocs atuam?
2. Como a diversidade pode ser considerada na:a) estrutura e funcionamento da EJA na escola;b) organizao das turmas;c) organizao da aprendizagem e sua progresso ao longo do ensino fun-
damental;d) seleo de temas e contedos de aprendizagem;e) forma como se estabelecem relaes interpessoais entre os vrios seg-
mentos presentes na escola?3. Como o fato de os educandos serem majoritariamente trabalhadores se re-
flete no currculo?
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Grfico 7
A distribuio dos docentes quanto regio de origem, raa e religio tm semelhanas e diferenasem relao dos educandos. J as diferenas em relao renda so maiores em razo do prprio tipo deocupao propiciado pelo nvel de escolaridade dos professores.
Escolaridade e formao inicial
Os professores, em grande parte, foram educados do ensino pblico durante o ensino fundamental(83%) e mdio (72%); j o ensino superior foi realizado na rede privada por 79%. Praticamente todo ocorpo docente tem o ensino superior completo (s 1% tem ensino mdio). Essa situao educacional dosdocentes representa um grande avano em relao escolaridade de seus pais que, majoritariamente, stiveram acesso educao primria (Grfico 8). Isso quer dizer que os professores, mesmo tendo ensinosuperior, conviveram ou convivem em suas famlias com adultos que tm uma escolaridade semelhante de seus educandos, o que pode ser visto como um fator favorvel a que eles tenham uma boa compreensodas potencialidades e necessidades do alunado da EJA.
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Grfico 8
Outro dado relevante sobre a formao inicial que 36% dos professores da EJA que atuam nosegundo segmento do ensino fundamental no tm a habilitao especfica para ministrar aulas na(s)disciplina(s) que ensinam. Alm disso, 92% afirmam que no fizeram nenhuma disciplina especfica sobreEJA em seus cursos de magistrio, normal, pedagogia ou licenciatura. De fato, so poucos os cursos deformao inicial de professores que ofertam disciplinas especficas de EJA, o que sem dvida preocupantenum pas onde dois teros da populao de jovens e adultos no tm o ensino fundamental completo.
Prticas culturaisAs informaes sobre as prticas culturais dos professores da EJA evidenciam que eles tm prticas
muito mais freqentes que a populao brasileira em geral e, em alguns casos, at mais do que os profes-sores brasileiros em geral. Para fazer essa comparao, utilizamos os dados do Inaf 2003, que levantaprticas de leitura e escrita da populao brasileira de 15 a 64 anos e da Pesquisa dos Professores 2002,estudo realizado pela Unesco abordando professores brasileiros do ensino fundamental e mdio1.
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Dos professores da EJA SME/SP, 60% utilizam com mais assiduidade o computador na prpriacasa e 30%, na escola onde lecionam na EJA. Os livros que lem so habitualmente comprados pelosprprios professores ou seus familiares em 81% dos casos, 35% emprestam livros de bibliotecas e 16%lem livros disponveis no local de trabalho, escola ou faculdade. Quanto ao jornal, 62% compram ouassinam, enquanto 26% lem o que est disponvel no trabalho, escola ou faculdade.
Quanto ao tipo de livro que preferem ler, 45% indicam romance, aventura policial e fico como suaprimeira opo; 24%, livros tcnicos, de teoria ou ensaio; 14%, biografias e relatos histricos; e outros14%, livros didticos.
Os professores que lem jornal apontaram quais as cinco sees que mais gostam de ler: 61% indica-ram notcias locais e nacionais; 60%, arte, cultura e literatura; 55%, educao e vestibular; 49%, notciasinternacionais; 31%, editoriais; 27%, programao de TV e cultural; 27%, artigos de colunistas; 26%, sa-de, famlia, sees infanto-juvenis; 23%, negcios e economia; 21%, turismo e viagens; 17%, esportes; e 9%,informtica.
Dos que costumam ler revistas, veja quais so as preferncias e compare com as preferncias dapopulao brasileira em geral:
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Para refletir
1. Em que medida tomar conscincia da diversidade socioeconmica e culturalde educandos e professores da EJA um fator importante para a elaboraode propostas educativas ou para o estabelecimento de mudanas na EJA?
2. De que maneira o fato de 92% no terem tido nenhuma disciplina especficade EJA em sua formao inicial um dado a ser considerado em processosde formao em servio?
3. Como as prticas culturais dos professores impactam o trabalho que reali-zam na sala de aula e na escola?
4. Alguns socilogos que estudam prticas culturais destacam o efeito daautocensura nas pesquisas: as pessoas, normalmente, tendem a omitirprticas tidas como menos legtimas e ampliar as mais valorizadas social-mente. Como esse efeito pode se manifestar nas declaraes dos professo-res e da populao em geral sobre seus hbitos culturais?
5. At que ponto as prticas culturais so determinadas pelo poder aquisitivodas pessoas? Como democratizar o acesso cultura para os educandos daEJA, que normalmente tm baixo poder aquisitivo?
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O AMBIENTE EDUCATIVO
Muitas aprendizagens escolares, em particular aquelas referentes a atitudes e valores, dependemmuito mais de vivncias, que envolvem a razo e o afeto, do que da transmisso oral e explcita. Assim, orespeito a si mesmo, aos semelhantes e aos diferentes, o repdio discriminao, a confiana nas prpriascapacidades, o esprito de iniciativa, a responsabilidade ou a disposio para a participao so aprendiza-gens que dependero mais das experincias de relaes humanas vividas na escola do que da prescriode regras morais, especialmente quando essa prescrio no corresponde s prticas efetivamentevivenciadas.
inevitvel que a escola reproduza em seu interior padres de relaes humanas dominantes nasociedade. Mas os objetivos mais valiosos da educao escolar no se realizam se no houver um esforoconstante para que, pelo menos nas escolas, os educandos possam vivenciar experincias transformadoras,que os animem e preparem para afirmar na sociedade as atitudes e valores desejveis e combater outransformar os indesejveis.
dessa perspectiva que abordamos o ambiente educativo da escola, que inclui as salas de aula, masvai muito alm delas. Distinguimos aspectos do ambiente humano (relaes entre pessoas) e do ambientefsico (instalaes), entendendo este ltimo tambm como expresso de relaes humanas.
VIRTUDES E PROBLEMAS
Perguntou-se aos educandos quais as trs melhores coisas e os trs maiores problemas de sua escola(Quadro 4). Os tpicos mais citados, tanto os positivos quanto os negativos, indicam os aspectos da expe-rincia escolar mais valorizados pelos educandos. Servem, portanto, como uma importante refernciapara pensarmos o que uma educao de qualidade na viso dos que dela participam.
Os professores so o aspecto positivo mais mencionado: 36% dos educandos os colocam entre astrs melhores coisas da escola. Se somarmos isso aos 26% que apontam os colegas ou oportunidades deconviver com eles e os 13% que citaram as equipes tcnicas e funcionrios, podemos dizer que o aspectohumano muito valorizado. Por outro lado, chama a ateno o fato de que os aspectos referentes infra-estrutura so os mais problemticos (43%), seguidos dos aspectos de organizao e funcionamento (27%)e dos aspectos referentes indisciplina dos alunos (26%). H um percentual menor de menes negativasaos professores (6%).
As aulas ou alguma disciplina especfica recebem muitas referncias positivas (34%), mas atividadese espaos de aprendizagem diferenciados tambm so includos entre as melhores coisas da escola: 21%citam a sala de informtica; 15%, a sala de leitura; 7%, atividades como escola aberta, esportes e atividadesculturais; e 6%, espaos alm da sala de aula (ptios, quadras, salas de vdeos e laboratrios).
Vale ressaltar ainda o fato de a merenda ser considerada uma das trs melhores coisas da escola por25% dos educandos, o que evidencia a alimentao como fator relevante para esses educandos, e mesmopara os 6% que reclamam de sua qualidade ou da organizao do servio.
Finalmente, merece ateno especial o grande nmero de menes a problemas de limpeza e m-conservao da escola. Ao lado das relaes interpessoais, a qualidade do espao fsico tambm determinao tipo de educao que a escola pode oferecer.
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Para complementar esse quadro com a opinio dos professores, podemos analisar as respostas queeles deram com relao aos aspectos da escola que tornam difcil o trabalho do professor de EJA. Amaioria dos professores (39%) no identificou nenhum aspecto da escola que dificultasse seu trabalho. Osproblemas mais citados (por um grupo pequeno) foram a ausncia de materiais didticos e de instalaes
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adequadas para os jovens e adultos (14% cada uma) e dois aspectos relacionados ao trabalho coletivo(falta de apoio de equipes tcnicas, falta de oportunidade para trabalhar em equipe).
Nos prximos itens, h informaes mais detalhadas sobre aspectos do ambiente humano-relacionale do ambiente fsico, que ajudam a compreender melhor esse quadro desenhado a partir da opinio doseducandos e professores.
Para refletir1. Como melhorar aspectos de organizao e funcionamento (destacados como
principais problemas da escola) sem comprometer e at ampliando as opor-tunidades de sociabilidade convvio com colegas e com professores (as-pectos positivos da escola mais citados pelos educandos)?
2. Como o servio da merenda (jantar), to valorizado pelos educandos, podeser trabalhado do ponto de vista educativo?
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AMBIENTE HUMANO
Viso dos educandos sobre os professores e dos professores sobre os educandosA maioria dos educandos avalia positivamente seus professores. Entretanto, interessante observar
que os aspectos em que a unanimidade menor referem-se capacidade dos professores em dar umtratamento personalizado aos educandos (saber o nome de seus educandos e conhec-los bem). Esse umponto fortemente relacionado a aspectos organizacionais da escola e do sistema escolar, que abrangem aquantidade de educandos por turma, a carga horria e a distribuio das aulas dos professores em cadaturma, os modos de interao e relacionamento entre educandos e professores, as estratgias e formas deorganizao da aprendizagem.
Em geral, os educandos mais jovens so um pouco mais crticos que os demais em relao aosdocentes. Por exemplo: consideram que seus professores normalmente parecem bem dispostos, 71% doseducandos com at 25 anos contra 83% dos maiores de 25; 51% dos jovens acham que seus professoresconhecem bem os educandos, em relao a 58% dos mais velhos; 75% contra 86%, que sabem explicar bem;72% contra 84%, que procuram dar ateno individual aos educandos.
Os professores, por sua vez, tambm so mais crticos em relao contribuio dos adolescentes ejovens ao trabalho que realizam. A tabela 5 mostra que 66% dos professores consideram que o fato demuitos educandos serem adolescentes atrapalha o trabalho, 25% alegam que a presena dos jovens inter-fere, enquanto a presena de pessoas com idade avanada s vista como fator facilitador por 43%. O fatode os educandos serem trabalhadores visto como fator que ajuda (26%) ou no interfere (58%), assimcomo as responsabilidades familiares. Problemas financeiros e familiares so identificados comocomplicador por um grupo maior.
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Alm dessas apreciaes, os professores citaram espontaneamente uma outra caracterstica positivados educandos que facilita o trabalho em sala de aula: 49% dos professores disseram que os educandos deEJA tm muito interesse, muita vontade de aprender.
Finalmente, aos educandos e professores foi solicitado que apontassem, espontaneamente, quais astrs melhores qualidades de um professor. Na tabela 6, observa-se que as mesmas caractersticas socitadas por educandos e professores, mas em propores algo distintas. O aspecto mais valorizado peloseducandos o trato com eles, seguido da capacidade didtica. J os professores citaram o trato com oseducandos, mas na mesma medida aspectos relacionados ao profissionalismo. interessante observarainda que os professores do mais valor que os educandos s suas prprias caractersticas pessoais. J origor e o controle sobre os educandos bem menos considerado entre os professores.
Relaes entre diferenasA maioria dos educandos declara nunca ter sofrido discriminao na escola e considera que, de
maneira geral, ela no existe nesse espao. Mas a discriminao, mesmo afetando uma minoria, umproblema socioeducativo importante, que merece ateno. Os jovens so um pouco mais crticos que oseducandos mais velhos em relao a esse tema: 20% dos educandos at 25 anos e 14% com mais de 25 anosj se sentiram discriminados na escola pelo menos uma vez.
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significativo o fato de mais de um quarto dos educandos jovens considerar que existem vriostipos de preconceito na escola, como se pode observar na tabela 7. Note que os jovens identificam maisdiscriminao, inclusive no que se refere a pessoas idosas.
Oportunidade e vontade de participarPerguntou-se aos alunos se participavam de alguma atividade na escola alm de assistir s aulas.
A maioria (88%) respondeu negativamente. Os 11% que declararam realizar tais atividades tambmexplicitaram sua natureza: registram-se 28 menes a atividades esportivas; 14, a atividades artsticas;12, ao uso dos equipamentos de informtica; 11, ao uso da sala de leitura; 10, participao no conselhode escola, APM ou Oramento Participativo; 4, a atividades de voluntariado; 3, a aulas de reforo; 3, atividade de representao discente; 3 menes a assistir a filmes; e 11, a outras atividades.
Constata-se, portanto, que o nvel de participao em atividades diferenciadas ou extracurriculares,para as quais no h espaos e tempos especficos no perodo letivo, muito baixo.
Depois dessa pergunta, cuja resposta era aberta, apresentou-se aos educandos uma lista de ativi-dades para que indicassem se so oferecidas em sua escola e se gostariam de participar delas. Os dadosda tabela 8 sugerem que o interesse em tomar parte bem maior do que a efetiva participao, prova-velmente porque a atividade no est disponvel no horrio em que o aluno da EJA pode pratic-la. Emgeral, os mais jovens manifestam mais interesse, mas ele aparece em todas as faixas etrias e as diferen-as no so muito grandes. As atividades em que h mais discrepncia entre a vontade de participar e aexistncia da atividade na escola so jornal da prpria escola, atividades esportivas e grmio.
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Os professores, em grande parte, tambm valorizam essas oportunidades abertas aos educandos,entretanto se podem observar algumas diferenas nos seus julgamentos, quando definem a importnciade alguns quesitos de uma boa escola para jovens e adultos. Chama ateno especialmente que uma partesignificativa dos professores no considera atividades esportivas muito importantes para esses educandos,principalmente se realizadas no horrio de aula.
Para refletir1. Como ampliar o conhecimento e o tratamento individualizado dos profes-
sores em relao aos educandos?2. Que medidas poderiam ser tomadas para melhorar o relacionamento entre
professores e adolescentes?3. Como incentivar a valorizao da diversidade e combater as vrias formas
de discriminao na EJA?4. Como ampliar a participao dos educandos em atividades extracurriculares?
Qual o lugar que tais atividades ocupam no Projeto Poltico-Pedaggico daescola?
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AMBIENTE FSICO
Sabemos que o ambiente fsico um aspecto determinante da qualidade educativa e, com relao aele, devemos considerar a disponibilidade das dependncias e equipamentos, sua qualidade ou estado deconservao e, por fim, o aproveitamento que se faz deles. Nessa pesquisa investigou-se a opinio doseducandos sobre alguns aspectos especficos: sala de aula, banheiros e salas diferenciadas (de leitura, deinformtica e ambiente).
Todos os quesitos das salas de aula foram avaliados positivamente pela maioria dos educandos equase todos por grande parte dos professores, mas alguns quesitos tm um percentual de avaliao nega-tiva muito alto, o que merece ateno. Ao avaliarem as salas de aula, os professores so de maneira geralmais crticos do que os educandos, a no ser nos quesitos limpeza que o mais grave para ambos ebarulho (Tabela 10). O item cuja avaliao de educandos e professores mais discrepante diz respeito adequao do mobilirio. E fica ento a pergunta: a maioria dos educandos no se sente desconfortvel aoutilizar o mobilirio, ou no sabe, ou no pensa que merece mveis mais apropriados para seu tamanho?
Os educandos tambm foram consultados sobre a existncia, qualidade e aproveitamento das salasde leitura, de informtica educativa e salas ambiente. A maioria dos que tm esses espaos disponveis emsuas escolas os freqenta e avalia bastante positivamente (Quadro 5).
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Numa escola, devemos considerar o potencial educativo de todos os espaos, at dos banheiros. Acondio de um banheiro pode, por si s, transmitir muitas mensagens relacionadas, por exemplo, a concei-tos de higiene, cuidado com nosso corpo, privacidade. Com relao aos banheiros, tambm a sujeira, alm dafalta de papel higinico, apontada como um dos problemas principais pelos educandos (Tabela 11).
Outro dado da pesquisa que pode ajudar na reflexo sobre o sentido educativo dos espaos fsicos que s 13% dos educandos afirmaram que sua escola possui rampas ou elevadores que permitem oacesso de educandos com deficincia. Ser que esses acessos realmente no existem ou os educandos noprestam ateno a sua existncia? Qual o significado disso?
Para refletir
1. Quais os resultados pedaggicos da utilizao de espaos de ensino-apren-dizagem diversificados (salas de leitura, de informtica, ambiente ou ou-tras)?
2. De que maneira a utilizao freqente desses espaos pode ser estendida totalidade dos educandos e dos professores da EJA?
3. Que aspectos do espao fsico da escola expressam respeito ou desrespeito dignidade dos educandos e profissionais da educao?
4. Como o problema da limpeza nas escolas pode ser enfrentado poltica epedagogicamente?
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OS TEMPOS DA EJA
Durao do cursoMesmo se escolarizando j na idade adulta, premida por responsabilidades familiares e de trabalho,
a maioria dos educandos valoriza o tempo dedicado escola:90% afirmam que preferem ter aulas cinco dias por semana; 6% prefeririam quatro dias porsemana; os demais, menos dias por semana.Mais da metade (54%) acha que o curso tem uma durao adequada; 37%, que muito rpido; es 5%, muito demorado.Quanto ao perodo dirio, quase a metade (47%) concorda com as 4 horas atuais; entretanto, umpercentual igualmente significativo (42%) sugere perodos de 3 horas a 3 horas e 55 minutos.
Grande parte dos educandos (59%) informa que comeou a estudar naquela escola em 2003, ano emque foi realizada a pesquisa. Outros 18% comearam no ano anterior (2002) e, portanto, estavam cursandoseu terceiro ou quarto semestre naquela escola. Finalmente, havia 19% que estavam naquela escola a cincosemestres ou mais.
Horrios e intervalos na viso dos educandosAos educandos foi perguntado quais horrios de entrada e sada da escola lhes seriam mais conve-
nientes.Constatou-se que mais de dois teros concordam com o horrio de entrada das 19 horas. Outros
11% gostariam que fosse entre 19h05 e 20 horas. Vale destacar tambm que 5% apontam horrios deentrada entre 17 horas e 18h45, enquanto 8% indicam horrios no perodo matutino, de 7 a 8 horas.
Grfico 9
J com relao ao horrio de sada, temos um percentual menor de alunos (39%) que concordam como horrio atual de 23 horas; 24% sugerem horrios de sada entre 22h40 e 22h55; e 19% preferem sair daescola entre 22 horas e 22h30. Existem tambm, em propores menores, pessoas que indicam horriosmatutinos e vespertinos.
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Grfico 10
Com relao convenincia de haver intervalo entre as aulas, as opinies dos educandos se divi-dem: 50% acham importante haver o intervalo e 44% afirmam que no; os demais (6%) acham indiferenteou no deram opinio. O intervalo parece ser mais valorizado pelos jovens, pois 60% deles o consideramsignificativo em relao a 43% dos mais velhos. Percebe-se, assim, que para uma grande parcela doseducandos, um espao aberto na escola para descanso ou convvio com os colegas importante, enquantooutros gostariam de utilizar todo o tempo com atividades de estudo.
Ensino presencial e perodo dirio na viso dos professoresOs professores, por sua vez, consideram fundamental a presena dos educandos na escola; 83%
acham que o ensino presencial o mais adequado para o 2o segmento do ensino fundamental, enquanto16% optam pelo sistema semipresencial. S 1% considera o ensino a distncia o mais apropriado para essamodalidade. Com relao ao perodo dirio que o aluno deve permanecer na escola, as opinies dosprofessores so divergentes: 58% alegam que o perodo de quatro horas adequado s condies defreqncia dos educandos, 41% consideram que inadequado e 1% no deu opinio. A maioria dos queacham o perodo de 4 horas inadequado entende que ele representa tempo demais para educandos quetrabalham o dia todo (45%) ou tm responsabilidades familiares (13%). S 15% consideram que os educandosadultos tm dificuldade para se concentrar tanto tempo e 15% acham que o perodo insuficiente para oseducandos aprenderem. Grande parte dos que consideram as quatro horas dirias inadequadas julga queisso desestimula o ingresso (62%) e a permanncia (77%) na EJA.
Horrio de sada preferido pelos alunos
at 12h 13h a 18h 19h a 21h45 22h a 22h30 22h40 a 22h55 23h 23h05 ou mais Sem resposta
7 %3 % 4 %
19%24%
39%
25% 2 %
Questes para discusso:1. Como flexibilizar os horrios de entrada e sada, atendendo aos interesses
dos educandos, sem diminuir ou empobrecer o tempo de vivncia escolar,to valorizado por eles?
2. Que experincias de flexibilizao dos horrios e tempos escolares estosendo desenvolvidas na EJA? Como so avaliadas e socializadas?
3. Como diferenciar a flexibilidade do aligeiramento, da falta de organizao,ou do famoso jeitinho?
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PRTICA PEDAGGICA E CONTEDOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Organizao do processo de ensino-aprendizagemMuitos educadores e estudiosos da educao tm questionado a organizao tradicional do ensino
por disciplinas, em razo de dificultar a integrao dos conhecimentos ou aprendizagens significativas erelacionadas aos interesses ou necessidades de aprender dos educandos. A maioria dos professores daEJA-SME/SP considera que, para essa modalidade educativa, outras formas de organizao do ensino somais adequadas: 35% preferem a organizao por projetos e 18%, por temas. Entretanto, uma parcelaimportante dos professores ainda prefere a organizao por disciplinas (24%) ou reas (20%).
Grfico 11
Quanto aos mecanismos de progresso na organizao do processo de ensino-aprendizagem, asopinies dos professores tambm so divergentes: 36% preferem o sistema de ciclos; 28%, o sistema desries; 28%, o sistema de mdulos; 5%, outros sistemas; e 3% no opinaram sobre isso.
Atividades de sala de aulaAos professores foi perguntado com que freqncia promovem algumas atividades que servem
como indicao do tipo de trabalho desenvolvido na sala de aula. Na tabela 12, esto indicadas as porcen-tagens dos que afirmam que realizam essas prticas freqentemente ou s vezes, os demais dizem que asfazem raramente ou nunca, ou ainda que no sabem. Para os educandos, foi apresentada a mesma lista deatividades e solicitou-se que dissessem se tinham acontecido em sala de aula nos ltimos 15 dias, dadosque esto apresentados tambm na tabela 12 para favorecer a comparao.
Observamos que h uma razovel concordncia nas respostas de professores e alunos. Em ambos oscasos, as atividades mais presentes na sala de aula so aquelas mais tradicionais: explicao do professor,matria e exerccios passados no quadro-negro. Em seguida, temos os trabalhos em grupo que, em princ-pio, do mais espao para a participao dos educandos. As demais no so realizadas com regularidadepela maioria dos professores. Leitura de livros, jornais e revistas s freqente para 42% e produoescrita, para 41%. Prticas que favorecem o desenvolvimento da oralidade como debates ou discusses emgrupo, jogos, dramatizaes e apresentao de seminrios tambm no so freqentes para a maioria. Emquase todos os casos, as mais comuns para muitos professores so tambm aquelas que um maior nmerode educandos afirmou ter ocorrido em suas salas nos ltimos 15 dias, com exceo da produo de textose apresentao de vdeo.
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Podemos considerar que as explicaes orais dos professores so freqentes e necessrias seja qualfor a metodologia de ensino adotada. J a grande incidncia de matrias e exerccios passados e copiadosdo quadro-negro pode ser indcio de falta de disposio ou deficincia de materiais necessrios pararealizar outras atividades que aproveitem melhor o tempo disponvel em sala de aula e tornem o trabalhomais diversificado.
A utilizao menos regular de meios audiovisuais (especialmente o vdeo), segundo a viso dosprofessores, merece igualmente uma anlise mais atenta, ainda que de acordo com a informao prestadapelos educandos sua presena na sala de aula seja considervel. O uso desse meio limitado por falta derecursos na escola ou porque os professores ou educandos ainda valorizam mais as estratgias de ensinomais tradicionais, centradas na linguagem escrita?
Aqui no estamos utilizando o termo tradicional num sentido pejorativo, pois algo pode ser tradi-cional e ainda til e adequado, da mesma forma que algo moderno pode ser intil ou inadequado. Essaobservao vlida para analisarmos tanto o uso dos meios audiovisuais quanto outras prticas menostradicionais, como a apresentao de seminrios, jogos ou dramatizao. Que aprendizagens essas ativi-dades propiciam? Por que so menos freqentes nas salas de aula da EJA-SME/SP?
Finalmente, o fato de a leitura de livros, jornais e revistas, assim como a produo de textos, no seratividade usual na prtica da maioria dos professores tambm merece ateno, pois a leitura e a escrita soaprendizagens muito importantes para a educao bsica e continuada dos educandos. Com relao aesses tpicos temos informao mais detalhada prestada pelos alunos. A eles foi perguntado com quefreqncia diferentes tipos de texto so lidos e escritos em sala de aula, seja pelos educandos seja pelosprofessores. Os resultados apresentados nas tabelas 13 e 14 do um quadro de prticas de letramento quea EJA possibilita:
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Esses dados evidenciam que manuscritos no quadro-negro so o material de leitura mais regularnas salas de aula, seguidos dos textos e exerccios em folhas avulsas e textos dos prprios educandos(provavelmente manuscritos). Chama a ateno o fato de que muitos alunos, a maior parte (61,2%), afir-mam que nunca se l jornal em sala de aula; mais da metade deles (54%) alega que nunca se l revista; 47%,que nunca se lem folhetos ou cartazes; quase 70% deles dizem que no se consultam enciclopdias; emtorno de um tero, que nunca se lem livros didticos (36,5%), nem livros de literatura, poesia, romance(36,9%), nem se consulta dicionrio (32,6%). Se considerarmos ainda que muitos desses recursos educativos,fundamentais aprendizagem, so utilizados apenas de vez em quando, os dados ficam realados.
Com relao s prticas de escrita, vemos que as mais comumente identificadas pelos educandos soa tradicional redao escolar e o ditado. Textos identificados com gneros e funes sociais especficas(com exceo das narrativas) so bem menos freqentes. Vale ressaltar que textos muito correntes noscontextos domstico e de trabalho como cartas, receitas e relatrios nunca so escritos na sala de aula,segundo a maioria dos educandos.
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CONTEDOS DE ENSINO-APRENDIZAGEMAos educandos foi mostrada uma lista com contedos de diferentes naturezas para que dissessem
se esto aprendendo cada um deles, muito, um pouco ou se no esto aprendendo. A maioria reconheceque est aprendendo todos eles mais ou menos intensamente (Tabela 15). interessante observar que as
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aprendizagens mais identificadas pelos educandos variam desde tpicos muito especficos, como fazercontas, at atitudes mais abrangentes, como ter interesse pelo que acontece no mundo ou exercer direitose deveres de cidado. Outro aspecto sugestivo dos resultados dessa questo que os tpicos relacionados matemtica disciplina tida como difcil por muitos aparecem no topo das aprendizagens realizadas,enquanto os relacionados linguagem verbal (ler, escrever e falar bem) no alcanam 50% na coluna dosque consideram estar aprendendo muito esses tpicos. O desenvolvimento fsico aparece como aspectomenos desenvolvido na EJA.
Buscar explicaes para esse resultado exigiria dos docentes e educandos uma reflexo maisaprofundada sobre o tema, pois h diversos motivos que podem levar o aluno a considerar que estaprendendo mais ou menos qualquer dos tpicos mencionados: o contedo pode ou no estar sendotrabalhado pelos professores; o aluno pode achar que tem dificuldade com aquele contedo, mesmo queintensamente trabalhado pelos professores; ou, ainda, pode estar se desenvolvendo naquele aspecto, masno ter plena conscincia disso.
Com relao ao trabalho com leitura e escrita, temos os dados relacionados s prticas de sala deaula (Tabelas 12 e 13) indicando que leitura de textos variados e produo de textos no so contedostrabalhados com a freqncia desejvel nas sala de aula da EJA. Por outro lado, grande a importnciaque os educandos atribuem a essas aprendizagens, como se pode constatar na tabela que comentamos aseguir.
Aos alunos perguntou-se quais as trs aprendizagens mais importantes que esto realizando naescola. E aos professores, quais, entre os contedos que trabalham, seriam os dois mais fundamentais pararesponder s necessidades de aprendizagem dos educandos. Na Tabela 16, possvel comparar as seme-lhanas e diferenas na importncia atribuda por professores e alunos a certos contedos. Leitura, escritaou portugus so os mais apontados tanto pelos educandos (74%) quanto pelos professores (46%). Con-tedos relacionados a matemtica so bem mais citados pelos educandos (70%), mas tambm pelos profes-sores (26%). Atitudes e procedimentos so mais valorizados por professores do que por alunos.
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Os educandos tambm citaram aquilo que gostariam de aprender, mas a escola no ensina (Tabela17). Os tpicos mais mencionados foram informtica (31%), cursos profissionalizantes (17%), artes, teatro,msica e dana (17%), educao fsica (15%), ingls (8%) e outras lnguas (8%).
Para refletir1. Como o debate em torno da organizao do ensino vem se desenvolvendo
na EJA-SME/SP? Na opinio dos professores, as divergncias a respeitoameaam a unidade pedaggica da rede?
2. As escolas tm tido autonomia e iniciativa para experimentar formas dife-renciadas de organizar os processos de aprendizagem (alternativas no dis-ciplinares, por projetos, temas ou outros) ou a progresso (srie, ciclos,mdulos etc.)? Como essas experincias vm sendo avaliadas e comparti-lhadas com outras escolas?
3. Que tipos de atividades pedaggicas deveriam ser mais freqentes nas sa-las de aula da EJA? A realizao dessas atividades depende da iniciativados professores e/ou de outros fatores? Quais? (Tomem-se como refernciaas atividades mencionadas nas Tabelas 12 e 13)
4. Os tipos de textos trabalhados em sala de aula com mais freqnciacorrespondem viso sobre letramento disseminada na SME/SP?
5. Por que, sendo os professores leitores assduos de jornais e revistas (segun-do se constata na tabela 1), no promovem mais essas prticas em sala deaula?
6. Como a escola pode atender melhor s necessidades de aprendizagem doseducandos? Como ampliar ou introduzir atividades que eles considerammais importantes?
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FORMAO CONTINUADA DOS PROFESSORES
Dos professores entrevistados, 39% participaram nos ltimos dois anos de curso de formao volta-do para EJA, considerando apenas cursos com 30 horas ou mais; 40% declararam que, como professoresde EJA, raramente desenvolvem atividades de formao continuada e 19% afirmaram que nunca realizam.
importante ressaltar que, no perodo de 2002 a 2004, uma srie de cursos foi oferecida aos profes-sores da EJA da RME/SP.. Em 2002, 1.750 professores participaram do curso Vivncias Culturais mlti-plas linguagens. Em 2003, 3.000 professores participaram do I Seminrio de Reorientao e Reorganizao Curricularda EJA e dos cursos Uma nova EJA para So Paulo na perspectiva da qualidade social da educao e Construindo umanova EJA para So Paulo. Por fim, em 2004, 1.750 professores tomaram parte do curso Alfabetizao eLetramento um compromisso de todas as reas.
fato que, ao lado de cursos, a prpria atividade docente e o trabalho coletivo com colegas repre-sentam valiosas oportunidades de formao. Por isso, foi perguntado aos professores com que freqnciarealizam, como parte do trabalho na EJA, outras atividades alm de ministrar aulas. As prticas maisusuais so as desenvolvidas individualmente. Reunies para preparao de atividades ou estudo reali-zam-se de uma a duas vezes por ms para a maior parte (39% e 32%, respectivamente), ou com menorregularidade para 23% e 30%.
A tabela 19 apresenta dados sobre a importncia que os professores atribuem a assuntos a serem traba-lhados na formao continuada, a partir de uma lista com seis itens. Observa-se que todos os itens so vistospela maioria como muito importantes. O item considerado muito significativo pelo maior nmero de professo-res foi leitura e escrita, o que indica que os professores reconhecem o valor dessas aprendizagens para oseducandos, assim como a necessidade de melhorar as prticas de letramento na escola. O interesse pelasespecificidades da EJA demonstra a ateno dos docentes em relao s caractersticas e condies dos alunosjovens e adultos. O interesse por elaborao de materiais didticos revela necessidades relativas a suportesconcretos para direcionar a atividade em sala da aula; trabalho com projetos e tcnicas de avaliao referem-se dimenso metodolgica; e, finalmente, os contedos disciplinares dizem respeito atualizao nos contedoscientficos, considerada muito importante por muitos, mas com menos freqncia que os demais.
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Alm desses, outros contedos relevantes para serem trabalhados na formao continuada foramcitados espontaneamente pelos professores: didticas e prticas de ensino (9%), informtica/computao(3%), currculo (2%), trabalho (2%), alm da possibilidade de trocas de experincias (7%).
CONHECER - UM COMPROMISSO COM A EJA
Esta pesquisa traz importantes elementos para o movimento de Reorganizao e ReorientaoCurricular da EJA. A partir destes dados e das questes apresentadas para a discusso nas UEs, educado-res podem rever os conceitos e as prticas pedaggicas acerca da educao de jovens e adultos. A anliseinclui a participao dos educandos, pois um novo conceito de EJA pressupe tambm uma nova forma degesto dos espaos, dos recursos e, especialmente das relaes entre os sujeitos envolvidos com a EJA.
Estes dados coletados na pesquisa s ganham sentido a partir da reflexo do coletivo das UEs naperspectiva de melhorar o que j se faz e de inovar as prticas que no do conta de atender este aluno realpara o qual esta educao se destina.
Questes para discusso:1. Como criar espaos para que o professor possa desenvolver trabalhos em
equipe ou coletivos e trocar experincias?2. Que outros aspectos devem ser considerados para que a formao continu-
ada dos professores seja vivel? Tempo disponvel, remunerao etc.
1 Montenegro, Ribeiro e Nunes (Orgs.). Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional 2003. So Paulo: Ao Educativa / Instituto PauloMontenegro, 2003.
UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam...So Paulo: Moderna, 2004.
NOTAS
Prefeitura do Municcio de So PauloMarta Suplicy
Secretaria Municipal de EducaoMaria Aparecida Perez
Diretoria de Orientao TcnicaMarivia Perptua S. Torelli
Diviso de Educao de Jovens e AdultosMarisa Cristina Ferreira Darezzo
Equipe DOT-EJACelso Diniz Nobre
Elna Minhoto B. GonalvesHebe Moreira Pastore
Joana de OliveiraJoana Alves da Silva
Lourdes de Ftima P. PossaniMarta Andra Catalani
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAOwww.prefeitura.sp.gov.br
DOT/EJA
Rua Dr. Diogo de Faria, 1247Tel: xx 11 5080-5058 / 5080-5063e-mail: [email protected]