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1 Algomais AGOSTO/2016 R$ 10,00 Ano 11 - nº 125 - agosto 2016 - www. revistaalgomais.com.br PROTEGIDO DA CRISE Em meio a tempestade da atual conjuntura econômica, alguns setores apresentam bom desempenho e até crescem

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1Algomais • Agosto/2016

R$ 10,00

Ano 11 - nº 125 - agosto 2016 - www. revistaalgomais.com.br

Protegidoda crise

Em meio a tempestade da atual conjuntura econômica, alguns setoresapresentam bom desempenho e até crescem

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2 Algomais • Agosto/2016

Muito em breve, milhares de pernambucanos vão ser beneficiados por grandes obras

de contenção de enchentes e de abastecimento de água. Uma delas é a Barragem de

Serro Azul, 91% construída, que será entregue até o fim do ano. O reservatório

é um dos maiores do estado e vai proteger, de uma vez por todas, 150 mil

moradores de Palmares, Água Preta e Barreiros, na Mata Sul. Num segundo

momento, por meio de adutora, vai levar água a 600 mil habitantes do Agreste. Em

janeiro, 800 mil pessoas vão poder contar com outra obra de porte, planejada para

ampliar o abastecimento à região: a Adutora do Pirangi, com 27km de extensão.

Juntas, as duas adutoras vão acabar, de uma vez por todas, a falta d’água em

Caruaru e nove cidades agrestinas. Assim é Pernambuco. Presença que faz a

diferença em tempos de estiagem ou durante as grandes chuvas.

* Desde 2005.

Obras hídricas realizadas na zona rural do estado*

61 novos sistemas de abastecimento instalados, beneficiando 25 mil pessoas que não tinham água em casa.

60 barragens de pequeno porte construídas, abastecendo mais de seis mil famílias no Agreste e no Sertão.

700 poços perfurados pelo Governo do Estado, em parceria com as prefeituras, atendendo a quem antes dependia de caminhão-pipa.

Mais de 230 dessalinizadores em operação beneficiando mais de 200 mil pessoas.

GOV PE_Anuncio_40,4x26,5cm_Rev Algo Mais.pdf 2 8/4/16 3:39 PM

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3Algomais • Agosto/2016

Muito em breve, milhares de pernambucanos vão ser beneficiados por grandes obras

de contenção de enchentes e de abastecimento de água. Uma delas é a Barragem de

Serro Azul, 91% construída, que será entregue até o fim do ano. O reservatório

é um dos maiores do estado e vai proteger, de uma vez por todas, 150 mil

moradores de Palmares, Água Preta e Barreiros, na Mata Sul. Num segundo

momento, por meio de adutora, vai levar água a 600 mil habitantes do Agreste. Em

janeiro, 800 mil pessoas vão poder contar com outra obra de porte, planejada para

ampliar o abastecimento à região: a Adutora do Pirangi, com 27km de extensão.

Juntas, as duas adutoras vão acabar, de uma vez por todas, a falta d’água em

Caruaru e nove cidades agrestinas. Assim é Pernambuco. Presença que faz a

diferença em tempos de estiagem ou durante as grandes chuvas.

* Desde 2005.

Obras hídricas realizadas na zona rural do estado*

61 novos sistemas de abastecimento instalados, beneficiando 25 mil pessoas que não tinham água em casa.

60 barragens de pequeno porte construídas, abastecendo mais de seis mil famílias no Agreste e no Sertão.

700 poços perfurados pelo Governo do Estado, em parceria com as prefeituras, atendendo a quem antes dependia de caminhão-pipa.

Mais de 230 dessalinizadores em operação beneficiando mais de 200 mil pessoas.

GOV PE_Anuncio_40,4x26,5cm_Rev Algo Mais.pdf 2 8/4/16 3:39 PM

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4 Algomais • Agosto/2016

Como já é do conhecimento dos leitores da Algomais, no mês passado, a Engenho de Mídia, liderada por Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura, deixou a sociedade com a TGI Consultoria em Gestão na Editora SMF/TGI, responsável pela publicação da Algomais – A Revista de Pernambuco.

A partir deste número, portanto, a Algomais passa a ser publicada sob a responsabilidade da TGI, restando a nós a manifestação enfática do desejo de pleno sucesso nos renovados desafios da Engenho de Mídia e o sensibilizado agradecimento aos amigos Sérgio e Luciano pelos 10 anos de íntegra relação empresarial e fraterna relação pessoal. Estamos tranquilos porque sabemos que permanecerão por perto para nos apoiar sempre que se fizer necessário.

Nossa firme determinação é de continuidade da Algomais com o mesmo empenho, compromisso com Pernambuco, seriedade comercial, preocupação com a qualidade e a independência do conteúdo editorial.

A luta de todos nós por uma revista de qualidade e por um Estado que siga em frente e retome sua merecida trajetória de desenvolvimento, ultrapassada a atual conjuntura adversa, continua mais firme do que nunca!

Ricardo de AlmeidaDiretor Executivo da Algomais

editorial

A luta continua!

Diretoria executivaRicardo de [email protected]

Diretoria comercialFábio [email protected]

conselho eDitorialArmando Vasconcelos, Gustavo Costa, João Rego, Mariana de Melo, Raymundo de Almeida e Ricardo de Almeida.

Uma publicação da SMF- TGI EDITORA R. Barão de Itamaracá, 293 - Espinheiro - Recife - PE - Brasil - CEP 52.020-070 - Tel.: (81) 3134 1740 - Fax: (81) 3134.1741 . www.revistaalgomais.com.br

EDITORIA GERALCláudia Santos (Editora)[email protected] Tavares (Consultor Editorial)[email protected]

REPORTAGEnSCláudia SantosMaria Regina Jardim Rafael Dantas

EDITORIA DE ARTERivaldo neto (Editor)[email protected]

FOTOGRAFIADiego nóbrega

edição 125 - 13/08/2016 - tiragem 11.500 exemplares capa: rivaldo neto facebook.com/revistaalgomais

@revistaalgomais

Edição 125

e mais Entrevista 8

Economia /Jorge Jatobá 14

Pano Rápido/Joca Souza Leão 18

Baião de Tudo / Geraldo Freire 26

Arruando por Pernambuco 28

João Alberto 32

Memória Pernambucana 34

Última Página/ Francisco Cunha 36

Nossa MissãoProver, com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.

capa

Longe da criseAlguns setores se beneficiam da conjuntura adversa e crescem. 10

tenDência

Compartilhar está na modaProfissionais do Recife aderem às facilidades do coworking. 20

aniversário

Sete décadas de universidadeUFPE festeja 70 anos com qualidade de ensino e muitos desafios. 24

urbanismo

Parque Capibaribe em debateO Recife que Precisamos lança novas propostas para o projeto. 30

auDitaDa por Os artigos publicados são de

inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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5Algomais • Agosto/2016

O Recife que PrecisamosUm dos pontos abordados na matéria "Para destravar a cidade" sugere a implantação do bilhete único tem-poral. Tal sistema é prático e bem aceito em outras cidades do País. Em algumas, com inclusão de amplo transporte metroviário. Na cidade de Campinas, em São Paulo, cada pas-sagem do cartão, semelhante ao VEM do Recife, é válida para até quatro ônibus em períodos de 120 minutos, de segunda-feira a sábado e de 90 minutos aos domingos e feriados. Desse modo, o passageiro gasta me-nos tempo no transporte e diminui o tempo de espera nos pontos, evi-tando prejuízos a si, aos patrões, ao comércio e até às empresas de trans-porte coletivo, que transportariam mais pessoas ao mesmo tempo.

José Drumond de Oliveira - Recife

Joca Souza Leão"Cada macaco no seu galho". Sábio provérbio. O bom cronista Joca Souza Leão se aventurou na política e, em minha opinião, caiu do galho. Na tentativa de justificar a rouba-lheira do PT, chegou a dizer que o problema está no corrupto sistema eleitoral brasileiro, como se uma coisa justificasse a outra. Tipo, “se os outros roubam, o PT também pode roubar”.

Álvaro Marcelo C. de Albuquerque – Recife

cartasEsCREvA [email protected]

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@revistaalgomais

www.revistaalgomais.com.brON LINE

resposta: Sugiro reler o que eu escrevi, nobre lei-tor. Não justifiquei nada. O que disse, repito. “A elite, sobretudo paulista, não podia tolerar um partido de origem operária, com viés de esquerda, be-bendo nas mesmas fontes em que ela, a elite, sempre bebeu: empreiteiras, siste-ma financeiro, comércio, indústria...” Por que devo acreditar que as doações eram feitas com diferentes motivações? Os delatores citam praticamente todos os partidos. Agora, sabe-se quem pa-gou a João Santana, marqueteiro do PT. E quem pagou a Paulo Vasconcellos, marqueteiro do PSDB? Furnas?

Joca Souza Leão ---

Teresa DuereGostei de ler a entrevista de Teresa Duere, de Claudia Santos e Rafael Dantas. Tenho grande admiração por essa mulher que tem história. Pes-soas como Teresa fazem bem a um País tão saqueado e dominado por corruptos e mentirosos. Parabéns, algomais!

José Mário Rodrigues - Recife

O homem que mudou PernambucoParabenizo a algomais pela excelen-te matéria. Pernambuco deve muito ao ex-governador Cid Sampaio, cuja administração deu novo rumo à maneira de governar o Estado. Na época, um político do interior disse que o povo de seu município, ao ouvir Cid num comício, pensou que desenvolvimento, industrialização e renda per capita eram os candi-datos a vice e senadores, uma vez que nunca tinham ouvido aqueles termos. Cid Sampaio, a quem tive a honra de integrar sua equipe de auxiliares, dedicou-se plenamente

ao Estado com enorme competência, capacidade e liderança. Pena que não tenha sido lembrado ao longo do tempo com a devida importân-cia. Apenas um reparo em relação à matéria: ele não venceu a eleição de 1958 para João Cleofas e sim para o senador Jarbas Maranhão.

sylvio Belem - Recife

10 AnosCom muita alegria, venho parabe-nizar a ilustre e competente re-vista algomais pelos seus 10 anos de sucesso e pontualidade. Ela nos proporciona importantes e sadias reportagens através da sua esforçada, capaz e assídua equipe. Não tenho palavras para agradecer a atenção e cortesia.

Galba Ribeiro da silva – Recife

ErrataNa matéria publicada na edição 124 e intitulada "População aprova engorda da orla" , o título não condiz com o resultado da pesquisa reali-zada com moradores de Boa Viagem sobre o projeto que visa estender a faixa de areia da praia daquele bairro. Na verdade, o projeto é conhecido apenas por 50% da população. Além disso, no subtítulo colocamos que 81% dos entrevistados acham a en-gorda importante. Esse percentual, na realidade, refere-se à metade dos entrevistados que conhecem o projeto. Por fim, no gráfico e na tabela publicados sobre a opinião dos entrevistados não havia um indica-tivo de aqueles números se referiam apenas às respostas dos moradores que conhecem o projeto.

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6 Algomais • Agosto/2016

“TENhO PROJETO PARA ESCREVER UM LIVRO”

Entrevista a rafael Dantas

entrevista

Não. Ele trabalhava e tocava nas horas vagas, tocava também num programa de rádio famoso. Era muito respeitado. Nunca quis vir para o Recife. A felicida-de dele era tocar em Pesqueira. No rádio era líder de audiência por 13 anos. Era solista, tocava clarinete ou saxofone no rádio e trombone no Carnaval.

Quando você veio para o recife e o que mais o marcou?Tinha 18 anos, vim fazer cursinho. Meu pai faleceu em junho do mesmo ano. O que me marcou musicalmente foram as músicas que eu ouvia. A Rádio Jornal do Commercio já era muito boa. Tinha muito status. Ainda está lá um auditório grande. Iam muitos cantores daqui ou mesmo de fora. Tínhamos facilidade de ouvir tudo, de Tom Jobim a Elis Regina e Luiz Gonzaga.

como foi a formação musical?Meu pai sempre me passava as músi-cas. Eu ia ouvindo, assimilando, sendo influenciado. Ele gostava até de música erudita, mas tocava também músicas populares. Meu primeiro instrumento foi a bateria e eu ensaiava com os me-ninos da cidade, com uns 16 anos. Mas não tocava em público. Não tive pro-

fessor de violão, meu irmão começou a aprender, não dava muito para a coisa. Mas eu aprendi muito rápido. Meu pai se admirava como eu estava avançando. Ele vibrava muito no fundo. Ele cho-rava, quando me ouvia já mais velho. Vim para o Recife estudar economia na UFPE. Passei também na Unicap. Nem esperava, pois não tinha cabeça. Meu pai estava recém-falecido, mas minha mãe me deu força para enfrentar a vida. No Recife, passei 10 anos sem pegar em instrumentos, entre 1969 a 1979, quan-do comprei meu primeiro violão. Nem o de Pesqueira era meu. Mandei comprar em São Paulo, com o meu salário, e fui buscar no aeroporto. Já estava tocando choro uns amigos.Trabalhei muito tem-po em empresa privada, depois em 1985 comecei a compor mais.

Por que ficou 10 anos sem tocar? algo em relação à morte de seu pai?Só se for inconsciente. Mas acho que quando viemos para cá foi para estu-dar. Estudando e trabalhando não dava para ficar tocando violão. Eu não tinha instrumento, morava em casa de estu-dante. Não tinha nem clima para tocar. Sempre fui muito dedicado em colé-gio e faculdade. Ao me formar, logo fui

Cláudio almeida. Músico fala da sua trajetória e conta como de economista transformou-se em artista

Conhecido pelo virtuosismo com que interpreta desde frevos, MPB até o hino de Pernambuco, o músico Cláudio Al-meida nem sempre dedicou-se à arte. Durante muito tempo eram os números e não as notas musicais que faziam parte do seu trabalho como economista. Nes-ta conversa com a revista algomais, ele conta como fez essa virada na carreira, suas parcerias com artistas como Spok , Zeca Baleiro e Alceu Valença e até a par-ticipação que teve no cinema.

como foi ser criança em Pesqueira?Muito bom. Meu pai, Osvaldo de Almei-da, era músico. Tocava clarinete, saxo-fone e trombone. Mas não queria que a gente estudasse música. Acabei tocan-do guitarra em conjuntos de iê-iê-iê. Eu gostava de bateria, ele ainda com-prou uma para mim. Toquei bateria, um tempo depois. A arte de minha mãe era com as mãos, tudo o que for de bordado, doces, culinária ela fazia. Foi uma das pioneiras que vendeu renda renascen-ça. Chegou a vender uma toalha para a rainha Elizabeth, quando veio ao Brasil. Tive três irmãos. Só o mais velho toca piano, conhece muito música erudita.

seu pai era profissional de música?

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7Algomais • Agosto/2016

Fiz a música Dançando na Rua, com letra de Fernando Azevedo, para Cauby. Ele disse que foi uma das canções mais bonitas que ouviu"

um choro, em 1979. Investi também no Carnaval e, como solista de violão, só depois. Meu primeiro disco solo no vio-lão só aconteceu em 1998.

tem algum momento na carreira que deu uma virada?Quando comecei a fazer solos em shows. Quando ninguém falava no hino de Pernambuco, toquei para 10 mil pessoas no Festival da Seresta, só com o violão. Depois no Teatro Guararapes da mesma forma. Daí nasceu o projeto Pernambu-co Imortal, que era para gravar o hino. Aquela história toda começou comigo. Em todos os meus shows eu terminava com um solo do hino. Muito antes da-quele projeto que divulgou bastante o hino no Estado. Após assumir esse lado solista, acredito que minha carreira vi-

rou. Apesar de não ter estudado, faço arranjos por intuição. Faço em partitu-ra também. O computador me ajudou. Quando tenho dúvida, falo com algum maestro. No meu último disco, uma ho-menagem a Zé Dantas, todos os arranjos são meus.

entre os cantores com que você tocou, quais o marcaram mais?Cauby Peixoto. Fiz a música Dançando na rua. Fiz o instrumental, um amigo fez a letra, Fernando Azevedo, que é pediatra, autor daquela música do Galo: Acorda, Recife. Acorda. Ele fazia mui-tos shows comigo. Cauby disse que foi uma das músicas mais bonitas que ele ouviu. Entrou nos supersucessos dele. Isso foi em 1997. Gravei também com Alceu Valença. Geraldo Azevedo tam-bém gravou música minha. Zeca Baleiro gravou o primeiro frevo dele através de mim. Escrevi a harmonia e Spok fez um arranjo para sopro. Sugeri ainda colocar uma gaita, e Zeca adorou. É uma música de Nelson Ferreira que ele gosta muito. Tentamos modernizar, trazer uma lin-guagem nova para o frevo.

como foi a experiência com o carnaval? Papai já tocava Carnaval, era conside-rado um dos melhores trombonistas de Pernambuco. Ele tocava nos quatro dias e levava muitos frevos em casa para en-saiar. Meu primeiro frevo, aliás, nunca foi gravado. Cheguei em 1970 no Recife, meu irmão, publicitário, me deu uma letra para colocar uma música, chama--se Obrigado, Goretti. Mas essa música nunca foi gravada. Esse de fato foi o pri-

empregado. Trabalhei fazendo projetos para Sudene, BNDES.

Por que a opção por economia?Acho que tinha influencia do meu tio, que foi chefe do IBGE em Pesqueira. Era uma pessoa muito culta, apesar de ter apenas o primeiro grau. Teve influência de pesquisas dele. E também tinha jeito para matemática e projetos.

como foi a carreira em economia?Foi boa, trabalhei uns 12 anos em em-presa privada. Depois atuei no Condepe e me aposentei no Estado. Ao chegar no Estado, tive facilidade para desenvol-ver a minha carreira musical. Compus o primeiro frevo de bloco. Após 10 anos sem pegar no violão, lancei no primei-ro disco, um compacto, as três músicas que meu pai tinha deixado escritas e fiz

Foto

: Dieg

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rega

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Eu tinha feito uma música de aniversário brasileira. Alguém mostrou ao Cacá Diegues e gravamos num estúdio"

musica clássica na Rádio Universitá-ria, tinha ido a alguns consertos. Em 9 de agosto de 2012, o Imip me deu todo apoio, fiz os arranjos, toquei as músicas que ele conhecia. E fiz uma música para ele. Na véspera, ele me disse que sabia do conserto. Quando ele chegou por lá, ele ficou muito emocionado. Levantou--se da cadeira, nem podia. Isso teve uma grande repercussão. Ele morreu 40 dias depois. Não falava de morte, só de vida. Só falou que estava com medo no dia em que ele faleceu. Ninguém se es-quece dele até hoje, nos marcou muito. Ele conhecia todas as músicas que toca-mos. Nesse ano repeti uma parte daque-le show. E toquei a música dele de novo.

como foi a participação no filme Deus é Brasileiro?Eu tinha gravado uma música de ani-versário brasileira, Saudemos, para substituir o Parabéns pra você. Mas nun-ca pegou. Aí alguém mostrou ao Cacá Diegues. Ele foi atrás de um coral. Gra-vamos num estúdio. Recebi uma ligação do assessor dele, sugerindo que eu par-ticipasse da gravação do filme. Fomos lá para a cidade da gravação. Estavam lá Paloma Duarte, Antonio Fagundes e Wagner Moura. A moça disse que na cena haveria um aniversário, eu seria o marido dela, me chamava Clóvis e que iria partir o bolo. Toquei, cortei o bolo. Quando houve a pré-estreia aqui no Shopping Recife, Cacá Diegues veio, disse que era um prazer ter minha mú-sica no filme. Fiquei lá todo enrolado, fiquei tirando foto com Wagner Moura, que estava começando. Apareci muito bem no filme, mas foi uma participação curta. No livro de Cacá Diegues sobre o filme está registrado isso também.

Quais são so seus projetos para o futuro? hoje os artistas estão correndo de dis-cos, querem shows apenas. Não sei bem. Tenho projeto de fazer um livro. Não queria um livro biográfico, queria um pouco biografia, mas misturando o local com o universal. Não queria pie-gas. A ideia era partir da influência de papai, mas para uma coisa mais uni-versal. Tenho vontade de gravar mi-nhas músicas instrumentais em CD e também essa primeira composição que fiz, que nunca foi gravada. Tem músicas novas também. Tem uma com Spok, que ainda não foi gravada.

entrevista Cláudio almeida

meiro frevo que fiz. Em 1985 tive minha primeira gravação, com participação do Bloco da Saudade, mas a primeira com-posição foi essa. Essa primeira música chegou a disputar um festival em 1973. Nesse festival estava Nelson Ferreira também, mas nenhum de nós ganhou. Tenho maior vontade de gravar ainda. Penso em gravar neste ano. Só foi toca-da nesse festival e para poucas pessoas.

o que você trouxe do frevo de Pesqueira para cá?O Carnaval de Pesqueira lembra muito o de Olinda. Quando vou lá, fico impres-sionado. Parece que tem uma turma que se reveza. Manhã, tarde, noite, madru-gada. Pesqueira é muito festeira.

Qual sua opinião sobre as experimenta-ções que estão sendo feitas com o frevo? Por exemplo, com o Maestro Forró e o spok?Acho muito positivas. Em 1998 gravei um disco com Spok já com a proposta de modernização. Ele não tinha o nome que tem de hoje, tocava com Duda. E ele fez o arranjo. Sempre o convidava para trazer alguma inovação. Já era um pouco do que ele está fazendo hoje, com uma influencia do jazz.

como foi a sua passagem na área cultu-ral do setor público?Raul henry era o secretário de Cultura do Recife e me convidou para traba-lhar com ele. Já me conhecia do setor público, mas não da área musical, e conhecia minha produção com violão. Fui coordenador de música. A Banda da Cidade do Recife, do Mastro Duda, ficava subordinada a mim e fiquei com uma parte do Recife Frevoé, que era uma coleção de discos muito vitoriosa, produzida por Carlos Fernando. Isso foi entre 1996 e 2000. O principal projeto foi o Recife Frevoé, peguei do segundo ao quinto volume. Foi um período de luta pela gravação do frevo, trazendo grandes intérpretes, como Zeca Baleiro, Edu Lobo, Alceu Valença, Leila Pinhei-ro, Chico César, Dominguinhos. A ideia era jogar o frevo para fora, que sempre foi muito respeitado. Já tinha essa visão de exportar os frevos. Na minha época começou essa tradição das aberturas do Carnaval do Recife, naquele ano, 1999, na Avenida Guararapes. Antes não tinha um evento forte de abertura.

artes plásticas, contação de história. Toco em várias áreas, como hemodiá-lise, quimioterapia, oncologia cirúrgi-ca, pediatria e tocávamos na Casa dos Cuidados Paliativos. Voltaremos para lá. É que rodamos muito. Inclusive Car-los Fernando morreu lá. Na época que atuávamos lá, geralmente tocávamos Luiz Gonzaga, Roberto Carlos, mas ti-vemos uma surpresa. Um senhor disse que gostava mesmo de música erudi-ta. Conhecia as biografias dos grandes compositores. Eu disse: Tá certo, Sr. Davi. Ele tinha feito uma exposição há uns 20 dias sobre um quadro que pintou. Ele me contou sua história: foi morador de rua por muitos anos. Ao chegar de noite no camelódromo, ficava ouvindo

como surgiu o seu trabalho no imip?Começou em 2009. Fui fazer um traba-lho, projeto Imip Cultural - projeto Saú-de com Arte, que executo com a cantora Beth Coelho. Coordenado pelo médico Paulo Barreto Campelo, que é pneumo-logista, que já vem fazendo essa história de música nos hospitais, aliando medi-cina e arte. Foi ele foi quem criou o pro-jeto no hospital Oswaldo Cruz e passou também para o Imip, juntando música,

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9Algomais • Agosto/2016

pensanDo bem

[email protected]

Jovens universitários procuram a Trajeto para redefinir sua es-colha profissional devido à des-motivação que os paralisa e obs-

curece o caminho a seguir. Alguns se matriculam em novos cursos alea-toriamente ou fazem pós-graduação acreditando que é assim que podem corrigir o percurso frustrante. Ou-tros, já formados e sem se engajarem na vida profissional, admitem a abso-luta falta de identificação com a es-colha profissional realizada.

Essas e outras situações análogas demonstram o equívoco que ain-da predomina na sociedade, quando desvaloriza o processo de orientação profissional. Uma das evidências da gravidade dos seus efeitos é o índice superior de evasão dos universitários comparado ao dos formandos.

Conforme dados fornecidos pelo MEC, no período compreendido entre 2011 e 2014, o índice de trancamen-to de matrícula, no ensino superior, subiu 60%, enquanto o percentual de diplomados cresceu apenas 1%. Sa-bemos da relevância de outros fatores tais como crise financeira, má quali-dade da formação básica e dos cursos superiores para a construção desse cenário. Contudo, é inegável que as escolhas inadequadas contribuem para desmotivar o aluno, imobilizá--lo e impedi-lo de se ver no futuro.

Além das universidades, as em-presas e a sociedade como um todo, também são atingidas por esse pro-blema, na medida em que prescindem de contar com profissionais mais en-tusiasmados e proativos nos seus tra-balhos, determinados na construção da própria carreira e participativos no desenvolvimento social e econômico da nação.

A adolescência é tempo de fa-zer escolhas decisivas. No que diz

respeito à definição profissional, é imprescindível que esteja vinculada às atividades que geram prazer, ao conhecimento sobre a realidade da profissão e do mercado de trabalho, para que o investimento na carreira se agregue à visão estratégica que con-fere um norte, uma direção a seguir. Esse é um fator que gera compromis-so ao implicar o estudante com aquilo que está previsto para realizar suas conquistas.

Em contrapartida, temos teste-munhado os pais, em sua maioria, protegerem seus filhos de se confron-tar com a difícil tarefa de escolher. Eles argumentam que os jovens são

imaturos, não precisam preocupar--se, têm tempo para errar e para re-fazer o caminho, caso escolham mal. Tal atitude retarda a entrada do jo-vem na vida adulta, que não dispensa ninguém de fazer escolhas tampouco bancar as consequências.

Nossa experiência demonstra que jovens conscientizados de que a es-colha de sua profissão é um assunto sério, passam a investir de modo dife-rente nos estudos, porque adquirem a noção de que um ambiente exigente e competitivo os espera. Ambiente esse que privilegia aqueles que têm clareza dos seus objetivos, autonomia e garra para lidar com desafios.

Quem caminha sem rumo, não sabe aonde pode chegar

silvia GusmÃo

psicanalista

Conforme dados fornecidos pelo MEC, entre 2011 e 2014, o índice de trancamento de matrícula, no ensino superior, subiu 60%

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10 Algomais • Agosto/2016

LONGE DO VENDAVAL DA CRISE

capa

Alguns setores vão de vento em popa, se beneficiam da conjuntura difícil e conseguem até mesmo crescer

Na crise enquanto uns cho-ram, outros vendem lenço. O ditado popular cabe como uma luva na realidade de

setores que crescem em meio à difícil conjuntura econômica. Eles acaba-ram se beneficiando de aspectos típi-cos dos períodos de retração, quando o dinheiro é curto. É o caso da área de energia renovável. “Se o petróleo e gás passam por dificuldades, esse setor tende a crescer muito”, estima Val-deci Monteiro, sócio da Ceplan (Con-sultoria Econômica e Planejamento) e professor da Unicap. “São empresas com investimentos maciços”.

É fácil entender o porquê. O au-mento do preço da tarifas energéticas, aliado à crise de abastecimento de ele-tricidade vivida nos últimos anos, le-varam empresas e governo e apostar nas fontes renováveis. De quebra ainda ajudam a não poluir o meio ambiente. Bons ventos têm soprado no setor de energia eólica. Em 2015, quando a cri-se já se fazia presente, foram instalados no Brasil 2.754 MW dessa matriz ener-gética, o que gerou 41.310 vagas de emprego para a construção das cen-trais eólicas, fabricação das turbinas,

componentes e operação. “Desse total gerado, 80% está no Nordeste”, des-taca Everaldo Alencar Feitosa, vice--presidente da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA). hoje no Nor-deste existe uma capacidade instalada eólica de 8 mil MW. Para se ter uma ideia do que representam esses nú-meros, isso significa que nada menos que 50% de toda a energia gerada na região provém dos ventos.

Em terras pernambucanas há 27 centrais eólicas, uma capacidade ins-talada total de 594 MW. “Elas geram aproximadamente 2 milhões de MWh por ano, equivalente ao consumo re-sidencial de Recife, Olinda e Jaboa-tão. Uma população de 2,5 milhões de pessoas”, compara Feitosa, que também é presidente do Grupo Eólica Tecnologia. Embora Pernambuco não tenha grandes parques eólicos como outros locais do Nordeste, o Estado possui três condições que o colocam em situação privilegiada: aqui estão instaladas as fábricas dos componen-tes das turbinas, o setor de consultoria que implementa os parques e a UFPE. “A universidade é o maior centro de formação de energia renovável no

Cláudia santos

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Brasil”, assegura Feitosa.O vice-presidente da WWEA sa-

lienta que o grande propulsor do setor eólico no País foi governo federal. Pa-rece até um contrassenso, já que hou-ve tantos erros na política energética. Mas tudo indica que os acertos ocor-reram na área de energia renovável. A grande virada aconteceu após a crise de abastecimento de 2001, quando o Brasil decidiu fazer um leilão de energia com todas as fontes. Esses leilões são uma espécie de licitação, em que o governo compra energia e a revende para concessionárias como a Celpe, que, por sua vez revendem aos consumidores. Ganha quem oferecer os melhores preços.

“O Brasil foi o primeiro país do planeta que fez leilão para compra de energia. E a eólica se mostrou o menor preço do mercado”, recorda Feitosa. houve uma quebra de pa-radigma, pois sempre se falou que a energia renovável era cara e necessi-tava de subsídios. hoje são empresas privadas que estão à frente do setor por meio dos leições. E por que ela é barata? “Temos no Nordeste o me-lhor regime de ventos do mundo: bem comportados, constantes, sem altos e baixos. Isso permite às tur-binas eólicas terem o melhor ren-dimento e dão menos problemas de manutenção” explica Feitosa.

E as perspectivas vão de vento em popa. “Devemos manter o nível de emprego até 2020, quando serão concluídos os contratos feitos há 5 anos que estão sendo implantados”, prevê Feitosa. Ressalte-se, ainda, que os parques são instalados em re-giões onde não havia muita possibi-lidade de investimento, muitos deles no Sertão e Agreste. “Estudos apon-tam que nos próximos 5 anos, 100% da energia consumida no Nordeste será eólica”, anuncia o empresário.

solar. Quem também contou com um “empurrãozinho” do governo foi o setor de energia solar. Neste ano o Banco do Nordeste lançou a linha de financiamento FNE Sol para micro e mini geração distribuída. O prazo de pagamento é de até 12 anos, com um ano de carência, tempo necessário para a instalação dos sistemas foto-voltaicos. Outra vantagem é que o

valor economizado na conta de ener-gia pode ser abatido das parcelas.

“Essa economia pode chegar a 50%”, calcula Paulo Medeiros, ge-rente comercial da ATP Solar, em-presa que instala sistemas de energia solar. Até 2015, a maior parte de seus contratos era de clientes residenciais. hoje são pequenas e médias empre-sas, atraídas pelo financiamento do BNB. Medeiros comemora o bom mo-mento. “Fecharemos o ano com fa-turamento 150% maior que o do ano anterior. O mercado no Brasil cresceu mais de 300% nos últimos 12 meses”.

há setores, porém, que crescem em patamar menos robusto, mas não pararam de crescer. É o caso das em-presas de TI. Segundo dados da Asses-pro PE-PB (Associação de Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informa-ção) o segmento em Pernambuco e Paraíba crescerá em torno de 5% este ano, um pouco abaixo dos 6% a 7% verificado nos anos anteriores, mas acima dos 2,6% previstos para o setor como um todo no País.

“Essa é uma área com deman-da em época de crise, porque auxilia empresas a aumentar a produtivida-de e a eficiência e a diminuir custos”, analisa Monteiro. O presidente da As-sespro PB-PE Ítalo Nogueira faz coro: “Empresários de outros setores estão entendendo que através da TI e ino-vação vão reinventar seus negócios e resolver seus problemas”, resume o empresário. São soluções que abran-gem desde terceirização dos depar-tamentos de TI, armazenamento de dados em nuvem, internet das coisas (que visa melhorar a vida do cidadão) e big data (análise de uma grande quantidade de informação, que exis-te numa organização, trabalhada de maneira a ajudar o negócio).

A empresa de ítalo Nogueira, a CMTech, terceiriza a área de TI alugando hardware (computadores, impressoras etc), software e pes-soal especializado. Com clientes no Norte e Nordeste, este ano expandiu sua atuação para São Paulo e Brasí-lia. há 15 anos no mercado e com 70 empregados, a empresa cresceu 15% no último ano em locação para mé-dias e grandes organizações. Com essa performance, a CMTech espe-ra faturar este ano R$ 30 milhões,

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volume um pouco acima dos R$ 28 milhões faturados em 2015.

concurso. Em tempos bicudos, muita gente busca a estabilidade do emprego público. Por isso, os cursos para concur-sos estão lotados. O curso héber Vieira teve um aumento de 50% de alunos que ingressaram este ano. “São os novos desempregados, pessoas da classe B, alguns têm até doutorado. Eles investi-ram o FGTS para estudar para concurso, enxergando no serviço público a luz no fim do túnel”, constata o diretor geral e professor de português héber Vieira. O valor dos cursos varia de R$ 300 a R$ 1.300. Ao todo são 5 mil alunos e a mé-dia de aprovação, segundo Vieira é de 40%. Com a chegada dos novos alunos, ele espera ter este ano um faturamento de R$ 3,6 milhões. “Mas quando o di-nheiro dessas pessoas acabar e a econo-mia não melhorar, aí a crise vai pegar a gente”, teme Vieira.

retomaDa. De forma gradual, alguns setores esboçam uma recuperação, sem ainda alcançar o auge do crescimento de anos atrás. Mas, ao menos, deixaram de apresentar queda nas vendas, como os serviços de reparo de automóveis. “O consumidor deixou de comprar carros novos e está tendo que levar o seu usa-do ao mecânico”, analisa Valdeci Mon-teiro. Segundo a Fenabrave, as vendas

rantia, tem agora que recorrer à ofi-cinas não autorizadas em busca de preços em conta. “A demanda do se-tor de reparo automotivo está aqueci-da”, informa Pedro Paulo de Medei-ros Moraes, presidente do Sindirepa (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios de Pernam-buco). “Mas existe mais procura para fazer orçamento do que para efetuar o serviço”, ressalva Medeiros, que no entanto, se mantém otimista. “Ainda há demanda reprimida, as pessoas vão levar tempo para adquirir um veículo novo e o movimento nas ofi-cinas aumentará ainda mais”, estima.

Situação semelhante vivem as lojas de material de construção. “As pessoas não estão comprando imóvel novo. Estão reformando suas residên-cias, por isso o varejo está sofrendo menos que a indústria da construção civil”, informa Guilherme Ferreira Costa, diretor do home center Ferreira Costa. O empresário revela que o se-tor enfrentou uma queda em torno de 7% nas vendas no primeiro semestre, mas deve recuperar até o final do ano. Afinal, depois do inverno, passado as chuvas, as pessoas tendem a reformar a casa. “Mas o mercado está retraído, há a expectativa de ver como fica a estabilidade política. Por isso seu de-sempenho deverá nivelar com o do ano passado, mas não cresce”, acredita.

paulo meDeiros

Financiamento do BNB aumentou a instalação de sistemas de energia solar. Vamos faturar 150% a mais este ano"de veículos novos caíram 24,68% entre janeiro e julho, comparado ao mesmo período do ano passado.

Sem adquirir um 0km, o consu-midor, cujo carro já não está na ga-

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14 Algomais • Agosto/2016

economia JorGe Jatobá

Economista

Concorrência e compartilhamento

O mercado é a mais im-portante instituição do capitalismo. Nele preços são determinados, cum-prindo o papel de alocar

recursos e atender necessidades. Mer-cados, no entanto, não são iguais. há mercados mais e menos competitivos. O número de produtores, o tipo do bem ou serviço, as barreiras à entrada e a na-tureza da regulação impactam o grau de concorrência. De um lado desse es-pectro podemos ter milhares de produ-tores de banana, e, de outro, um único produtor de petróleo. Como princípio quanto mais concorrência melhor para o consumidor. Isso significa, em ge-ral, preços mais baixos e melhor quali-dade. O monopolista produz escassez vendendo menos a um preço mais alto em comparação com uma empresa que opera em mercado muito competitivo. Entre os extremos do monopólio e da pura concorrência existem mercados imperfeitos caracterizados pela diferen-ciação de produtos e por um pequeno número de empresas produtoras.

A falta de concorrência às vezes dis-simulada pela proteção está presente em muitas dimensões da economia bra-sileira. Na área externa, empresários, especialmente os industriais, sempre pedem ao governo mais proteção contra a concorrência de produtos importados. Em vez de amentarem a produtividade e de promoverem a inovação em produ-tos e processos essenciais para reduzir preços e melhorar a qualidade, muitos empresários, através de suas associa-ções, tornam-se avessos a concorrên-cia, pedindo que o governo eleve os pre-ços relativos dos produtos importados via tarifas ou impostos. Tivessem maior competitividade essas empresas ven-deriam mais barato tanto nos mercados internos quanto externos.

O avesso a concorrência também está no âmago das relações espúrias e corrutas entre o setor público e o setor

O Uber aumentou a oferta de transporte em aberta concorrência com os serviços de táxi. A oferta melhorou a qualidade do serviço e reduziu o preço. Além dis-so, em algumas cidades, inclusive o Re-cife, reduziu o custo da licença de entra-da dos táxis no mercado de transporte, mecanismo que restringia a oferta desse tipo de serviço. Em Paris, por exemplo, o número de táxis está congelado há dé-cadas, o que restringe a oferta criando escassez com tarifas altas. Com o Uber o mercado não tem barreiras à entrada,

não havendo necessidade de licenças. Isso aumenta a oferta, melhora a qualidade e reduz o preço. Quem ganha é o consumidor. Os taxistas individuais e as empresas de frotas de táxis estão, natu-

ralmente, reagindo. O mercado agora é aberto e mais competitivo. Recorde-se que os proprietários de táxis têm cer-tos benefícios, pois têm isenção total ou parcial de IPI e ICMS na aquisição dos veículos e de IPVA na circulação. E que-rem mais proteção.

Os efeitos da concorrência são também o de melhorar a qualidade dos serviços de táxi convencionais. Em muitas cidades brasileiras os motoristas de táxi estão mais corte-ses, oferecem baterias para celular, não impõem ao usuário ouvir qual-quer tipo de música ou noticiário e até se vestem com mais elegância. Puro efeito da concorrência que ten-de a igualar a qualidade da oferta, mas ainda não os preços nos dois serviços: taxis convencionais e veí-culos Uber.

Pergunta-se, se os serviços do Uber e de novos concorrentes que já estão surgindo teriam de ser regula-dos. Eu diria que sim após livre ne-gociação, mas nunca para limitar a concorrência e sim para estimulá-la. Sempre é sábio ter mais competição. O consumidor agradece.

[email protected]

privado. A formação de cartéis para ga-nhar licitações especialmente em gran-des obras de infraestrutura é uma for-ma de evitar a concorrência via preço e qualidade dos projetos como assim o tem demonstrado os resultados da Ope-ração Lava Jato. As empresas entram em conluio para evitar que concorram entre si, repartindo os ganhos às custas de propinas que se destinam a pessoas e partidos políticos. O País recebe um produto mais caro e de pior qualidade

O monopolista produz escassez vendendo menos a um preço mais alto em comparação com a situação de am-pla concorrência.

Mais recentemente - e em mo-vimento que aumenta a eficiência da economia ao reduzir a ociosidade e o desperdício - avançou-se no sentido de compartilhar bens e serviços por meio de mecanismos de mercado. O aluguel de residências (apartamentos, quartos, casas, etc.) para curtos períodos de es-tadia por meio do aplicativo Airbnb é um exemplo. Outro é o aplicativo Uber que disponibiliza serviços de transpor-te de passageiros em veículos particu-lares. Eles ofertam, respectivamente, serviços de hospedagem e de transporte por meio de ativos que de outra forma ficariam ociosos durante períodos in-termitentes de tempo. Ademais, esses ativos passam a gerar mais renda na economia. Eles são um produto da era digital porque são aplicativos facilmente acessíveis através de computadores e de dispositivos móveis. A resistência não tardou a vir das redes hoteleiras e dos serviços convencionais de táxi.

Tomemos o caso do Uber que vem sendo objeto de resistências, conflitos e pressões sobre os governos municipais.

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16 Algomais • Agosto/2016

para economista, a proposta é inviável em termos técnicos e não garante a restauração da governabilidade no país

será

A quem interessa antecipar eleições?

Quase um mês antes da aber-tura do processo de impeach-ment da presidente (afastada) Dilma Rousseff, um grupo de seis senadores apresentou

um projeto de emenda constitucional para antecipação das eleições presiden-ciais para 2 de outubro próximo, simul-taneamente com o pleito municipal. Depois de substituída a presidência pelo vice Michel Temer, enquanto espera o julgamento do processo, Dilma Rousseff e alguns setores do Partido dos Trabalha-dores e de movimentos sociais passaram a defender a convocação de um plebis-cito para decidir sobre novas eleições. Enquanto a proposta de emenda cons-titucional tramita no Senado, Dilma in-sinua que, voltando ao cargo, aceitaria a iniciativa do Congresso para convocação do plebiscito.

As propostas, diferentes e confli-tivas, não respondem a duas questões fundamentais: (1) quem vai governar o País até janeiro de 2017, no caso da emenda constitucional, ou depois que o plebiscito aprovar novas eleições a serem realizadas, sabe-se lá quando? O que significa decidir sobre a política para lidar com a dramática crise eco-nômica que tende a se agravar num va-zio criado pelo processo eleitoral. Vale considerar que a aprovação da emenda constitucional dificilmente ocorreria em tempo hábil para as eleições de ou-

tubro (deve ser aprovada por dois terços da Câmara de Deputados e do Senado). (2) se as eleições serão apenas para pre-sidente da República (explícito nas duas propostas), o eleito vai governar com este Congresso dominado pelos interes-ses corporativos e mesquinhos?

Na justificativa da emenda cons-titucional, os senadores diziam (antes do afastamento de Dilma) que “tan-to a presidente da República quanto o vice-presidente representam um projeto de poder que conta hoje com a desaprovação da maioria da popu-lação”. Assim, eles devem considerar, estranhamente, que o Congresso, do qual fazem parte, representa um pro-jeto de poder aprovado pela maioria da população. Será?

Dilma fundamenta a proposta de plebiscito, afirmando que Temer não tem legitimidade política e que só a consulta popular poderia “lavar e en-xaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”. Tanto os senado-res quanto a presidente afastada (que pretende voltar com as suas próprias lambanças) apresentam argumentos estritamente políticos para a mudança da Presidência da República, ignoran-do completamente os tais “crimes de responsabilidade” que exigem como condição para o impeachment.

Difícil imaginar que senadores e pre-sidente afastada não saibam da completa inviabilidade dessas propostas, tanto em termos políticos quanto técnicos. Além de inviável não garante a restauração da governabilidade principalmente se não houver também uma mudança do Congresso Nacional. As propostas ser-vem apenas para tumultuar mais ainda a complicada interinidade da Presidência da República. E tem sido utilizada por Dilma para convencer alguns senadores a derrubarem o impeachment com a simples promessa de que “poderia apoiar a con-vocação do plebiscito”. O que pressupõe que ela volte ao poder com suas conheci-das lambanças. Não, obrigado!

sérgio C. Buarque

* Sérgio Buarque é economista.O conteúdo deste artigo é extraído da Revista Será (www.revistasera.info)

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17Algomais • Agosto/2016

GestÃo maistGi consultoria em GestÃo

www.tgi.com.br

O legado da família empresária

Apesar de tudo que já se conhece sobre a força econômica e social das empresas familiares, ainda persiste um forte

preconceito em relação a elas, tra-duzido na suposição de que a garan-tia de uma boa governança para esse tipo de empresa é que todos os fami-liares se afastem da gestão e ocupem, no máximo, um lugar no Conselho de Administração. Essa visão é sem dúvida equivocada e a experiência com o desenvolvimento de negócios familiares tem evidenciado dois ar-gumentos principais para desmontar essa argumentação.

O primeiro se baseia na própria origem dos processos de governan-ça, que é o cuidado de proteger os negócios do conflito entre o interes-se do capital (sócios ou acionistas) e o interesse dos executivos. Por mais comprometidos, éticos e identifica-dos com a empresa que sejam os exe-cutivos, o conflito é real e a história tem mostrado, infelizmente, casos de péssimas soluções para isso. A presença de legítimos representantes da sociedade na gestão é um grande facilitador para a adequada supera-ção do conflito, desde que cumprida a essencial condição de profissiona-lização – o familiar na gestão deve estar em cargo executivo por com-petência, habilidade de liderança e comando, preferencialmente se ava-liado e legitimado por um processo sucessório bem conduzido.

O segundo argumento tem seu fundamento na matriz afetiva da em-presa familiar que é a própria famí-lia. Empresas familiares têm história, tradição, valores e princípios assen-tados na família empresária, mui-tas vezes marcadamente destacados nas histórias dos fundadores, do seu

O LEGADO

1. Patrimômio: bens materiais, ativos financeiros, capital simbólico.2. Valores: história, tradição, rituais, ética.3. Segurança: condições para uma boa qualidade de vida.4. Negócios Sustentáveis: com potencial de se perenizarem por várias gerações.5. Relações de Qualidade: transparência, confiança, união, solidariedade.6. Reputação: posição social, status, acesso a oportunidades.7. Construção de um Sonho: a saga familiar, os projetos de futuro comum.

empreendedorismo e de sua ética. Por isso, a presença de familiares na gestão representa a presença desse espírito, da alma da história familiar, que ninguém mais pode representar tão bem.

Famílias empresárias bem estru-turadas cuidam do futuro do negó-cio, do futuro das gerações atuais e das novas. Seu legado de patrimô-nio, material e simbólico, é de valor inestimável. A capacidade de mobi-lizar interesses convergentes para o desenvolvimento dos negócios ou de unir forças na adversidade é impar. Cuidar da perenidade do empreendi-mento é, também, cuidar da pereni-dade da família, por mais que ela se expanda e se ramifique.

Casos há e, infelizmente, não são poucos, em que conflitos familiares não resolvidos levam à destruição dos empreendimentos. Todavia, ver a força destrutiva predominar sobre o interesse e a necessidade de pre-servação é um efeito negativo que decorre, na maior parte das vezes, da falta de adequada gestão dos conflitos próprios da natureza familiar do ne-gócio.

Os cuidados com o estabeleci-mento de uma boa governança bus-cam, exatamente, estruturar espaços e construir pactos e mecanismos para que os conflitos encontrem vias de

solução efetiva e não só não amea-cem a continuidade dos negócios, como ampliem seu potencial de pe-renidade. Quando esse processo é suportado pela matriz afetiva fami-liar seu potencial de consolidação é ainda maior.

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Joca souza leão*

Pano Rápido

Anos 50. O cronis-ta Rubem Braga liga para o também cro-nista Otto Lara Re-sende e o convida

para “ver a crise de perto”. Vão a um bar da Cinelândia, no cen-tro do Rio. Tomam chope, comem salsichão com muita mostarda e dão a crise por vista.

Por essa época, no Recife, meu pai tinha o que ele, bacharel em direito, chamava de “crise de co-ceira”, que não era outra coisa se-não uma coceira danada nas mãos. “histamina”, dizia ele sem medo de errar, apesar de a medicina nunca ter tido a chance de confirmar seu diag-nóstico nem os anti-histamínicos, receitados por ele próprio, davam conta do recado. O jeito era coçar. E ele coçava com vigor com uma esco-va de cabelo que tinha sido de minha mãe, há muito tempo transformada em “escova-de-coçar”.

Contei essa historinha, caro leitor, apenas para dizer que a palavra crise me é familiar desde que me entendo por gente. E que esta grande, enorme e profunda crise em que o Brasil se vê mergulhado foi, para mim, uma crise anunciada. Literalmente anunciada. Tanto quanto as crises do meu pai.

há três anos, duas palavras foram introduzidas nos manuais de reda-ção de jornalismo dos veículos de comunicação de massa e, pela lei da gravidade, foram descendo e assen-tando nas redes sociais: “confiança” e “credibilidade”. Coisas do tipo: “resta saber se o governo tem credi-

bilidade para implantar as medidas anunciadas” ou “no entanto, carece da necessária confiança dos agentes financeiros” ou “será que os profes-sores confiam na proposta gover-namental?”. (Esses três fragmentos foram pinçados de dois noticiários de TV e um comentário de emissora de rádio.)

A cobertura do Mensalão e, na se-quência, da Lava Jato, veio para en-grossar e dar consistência ao caldo que, agora, já tinha nome e sobreno-me: “crise de confiança”.

A grande imprensa nunca questio-nou o fato de o Mensalão Mineiro, do PSDB, o pai dos mensalões, por exem-plo, ter sido anterior, muito anterior ao do PT e, enquanto um dava cadeia, julgamento e condenação, o outro não saía do lugar. No YouTube, um delator premiado disse (e repetiu) com todas as letras como funcionava o esquema de corrupção em Furnas, envolvendo os Neves (Aécio, mãe e irmã). “Não foi isso que lhe perguntei”, interrompeu a

procuradora. “Eu perguntei sobre as relações do Sr. José Dirceu com a Pe-trobras.” Alguém viu isso no Jornal Nacional ou, mesmo, no noticiário da TV-U (com todo o respeito) às 7 da manhã? Claro que não.

Caixa dois, financiamento de campanha, contribuição partidá-ria, corrupção mesmo (com di-nheiro vivo no bolso do pilantra) são velhos, velhíssimos conhecidos da política e do sistema eleitoral brasileiro.

Quisessem a imprensa e a jus-tiça acabar de uma vez por todas com os vícios eleitorais – e não apenas derrubar uma presidenta e aniquilar um partido –, teriam conseguido. A hora era essa. Com os esquemas das empreiteiras des-

cobertos e escancarados, expostos à execração pública, não haveria quem tivesse peito para ficar con-tra as reformas políticas e eleitorais. Mas, como no verso de Camões, agora, Inês é morta.

Enquanto os peritos do Senado concluem que a presidenta não peda-lou coisíssima nenhuma (quer dizer, nada além das pedaladas em sua bi-cicleta, nas cercanias do Alvorada), os senhores senadores repetem o que dizem os meios de comunicação: a questão não é mais se houve ou não “crime de responsabilidade”, mas a “falta de confiança”.

Se os índices econômicos não vão bem, “a credibilidade da população no governo e a confiança dos inves-tidores privados continuam em alta”, dirá um Bonner qualquer, em rede nacional.

O diabo é quem confia!

* Joca souza Leão é cronista

[email protected]

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A CRISE DE PERTO

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20 Algomais • Agosto/2016

Empresas pernambucanas aderem ao coworking, dividindo o espaço dos escritórios e reduzindo custos

mercado

Compartilhar é a tendência

Em tempos de recessão e crise financeira, empresas pernam-bucanas decidiram se aliar com outras e realizar o comparti-

lhamento dos escritórios. A ideia, aos poucos, está se alastrando. De acordo com dados da Coworking Brasil, or-ganização que representa os números dos escritórios compartilhados, desde 2011, a quantidade de espaços dividi-dos entre diferentes empresas subiu de 11 para 240 em todo o País.

Uma das empresas que decidiram

optar pelo compartilhamento do es-critório foi a A Ponte Comunicação, que presta serviços de assessoria de imprensa. De acordo com Kennedy Michilis, dono da instituição, além da redução de custos, houve também uma melhora nas relações interpessoais dos funcionários. "Nós somos três empre-sas no prédio, que dividimos as contas. houve uma melhora de clima dentro da equipe, porque você acaba interagindo com mais pessoas. Nós, por exem-plo, temos uma copa coletiva, onde as

pessoas conversam, almoçam, trocam ideias ou até mesmo ficam para a hora do cafezinho", conta. Além da A Ponte Comunicação, há mais uma assessoria de imprensa e um estabelecimento de mídia exterior.

A divisão de custos é levada a sério em empresas que compactuam o mes-mo local de trabalho. De acordo com Kennedy, elas dividem desde os custos com aluguel até faturas de água e ener-gia ou até mesmo manutenções que são feitas esporadicamente. "Acho que é

nicho. DE OlHO nAs OpORtuniDADEs, DAniElA (E) funDOu EMpREsA quE AluGA A EstRutuRA DE COwORkinG pARA pROfissiOnAis

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uma tendência, pelo menos enquanto a economia estiver retraída desse jeito", acredita.

Entretanto, apesar dos reais benefí-cios, há alguns problemas a serem con-tornados. "Como o número de empresas que o espaço consegue acomodar bem é quatro e hoje só existem três, acaba sen-do uma desvantagem porque existe um espaço ocioso na casa e esse espaço pre-cisa ser bancado por quem fica. hoje, essa redução está em torno de 20%, mas, ainda assim, são números bem in-teressantes", explica Kennedy.

O jornalista, entretanto, alerta para possíveis obstáculos para aqueles que almejam compartilhar. Para ele, em-presas de ramos diferentes podem não dar certo em um mesmo espaço. "O compartilhamento depende muito da característica do serviço, pois é isso que vai determinar ou não se você consegue compartilhar um espaço. Esse modelo funciona muito para pequenas empre-sas, profissionais liberais, arquitetos e advogados, por exemplo", explica. "Realmente o que determina é o modelo de negócio, não é qualquer coisa que vai dar certo, como por exemplo, um salão de beleza e uma locadora de veículos. É necessário possuir alguma convergên-cia", esclarece.

Em janeiro, o designer João Faissal decidiu sair de João Pessoa, sua terra na-tal, para morar no Recife. Da Paraíba, ele trouxe o modelo de escritórios compar-tilhados. Desde janeiro, ele di-vide o mesmo espaço com mais duas empresas em uma sala num prédio na Avenida Dan-tas Barreto, no bairro de Santo Antônio, área central da capital pernambucana.

De acordo com o designer, o compartilhamento de espaços em João Pessoa ainda não atin-giu o padrão seguido no Recife. "Acho que o nível das empresas independentes do Recife, aque-las que não estão ligadas a gran-des clientes, é um pouco maior. Em João Pessoa, o pessoal ainda está começando a ter um pouco de liberdade de trabalho. Aqui, o pessoal já está muito mais à vontade", conta.

Além da redução nos gastos, ele ressalta que a troca de expe-riências e o aprendizado é diá-

rio nesse novo tipo de empreendimento. "Antes de tudo, nós compartilhamos conhecimento. Eu trabalho ao lado de pessoas que, teoricamente, são meus concorrentes no mercado, se pensarmos no modelo tradicional. Mas, eles estão sentados perto de mim e sempre conver-samos sobre como resolver problemas e abordar soluções. Para mim, isso é o que mais importa", comenta. Exatamente pela liberdade com os demais ocupantes do espaço, de acordo com João Faissal, abre-se um leque de opções para a rea-lização de trabalhos e serviços, ou seja, a rede de contatos se estende.

A queda do modelo habitual mer-cadológico, na opinião do designer, é uma questão de tempo. Para ele, a di-visão de um espaço entre integrantes de empresas diferentes é um fragmento da evolução das relações interpessoais. "O compartilhamento é um nível ini-cial de se desconectar desse mercado tradicional. Creio que essa prática não é algo que vai passar, não é uma moda. Muito pelo contrário. É uma necessi-dade do ser humano deixar de ser tão individualista. Essa prática só favorece as relações humanas e de trabalho", analisa.

De olho nessa tendência, já exis-tem organizações especializadas em oferecer escritórios compartilhados para locação. A empresária Danie-la Melo é uma das proprietárias da Workhall Coworking, que fundou em

2016, ao perceber as mudanças nos conceitos tradicionais de trabalho. "Durante a fase de montagem da em-presa, que durou um ano, uma coisa que nos chamou atenção foi a ten-dência de compartilhar. O comparti-lhamento está mudando a maneira de consumo de muitos serviços, como o de transporte, como o Uber, hospeda-gem, como o Airbnb e, claro, de tra-balho", afirma Daniela.

A empresa oferece diversos servi-ços relacionados a essas novas práticas, com preços diferentes de acordo com a necessidade do cliente. "Procuramos oferecer toda a estrutura para o pro-fissional, como mesas de trabalho num espaço compartilhado, salas de reu-nião, que podem ser alugadas por hora, e salas privativas, para aquelas pessoas que, mesmo compartilhando a estru-tura, ainda precisam ter um lugar mais reservado para elas", explica. "A prin-cipal vantagem, além da economia, é a possibilidade de compartilhar e tro-car experiências com outras pessoas", completa.

O crescimento na procura pelos serviços faz com que o futuro seja encarado como favorável. "A nossa aposta para o futuro desse mercado é promissora. Com a tendência de com-partilhamento, podemos dizer que o coworking é definitivamente um mercado do presente que permane-cerá no futuro", prevê Daniela.

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Considerada a melhor universidade do norte e nordeste e a 10ª do país, instituição festeja sua trajetória e enfrenta desafios como a falta de recursos

universidade

UFPE chega aos 70 anos

O pedagogo Paulo Freire, o dramaturgo Ariano Suas-suna, a pesquisadora Naíde Teodósio, o químico Ricar-

do Ferreira, o escritor Manuel Cor-reia de Andrade e o cineasta Kleber Mendonça Filho. O que esses nomes têm em comum além do excepcio-nal destaque que ganharam no País e no mundo por meio de suas obras? A resposta é: todos eles integraram, como alunos ou professores, a co-munidade que construiu e constrói a memória da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) nos seus 70 anos de história.

O corpo acadêmico deverá res-pirar, nos próximos 12 meses, ares de festa na instituição, que comple-

tou sete décadas no último dia 11 de agosto. A Faculdade de Direito do Recife (FDR), a mais antiga do Brasil, também celebrou seu 189º aniversá-rio na mesma ocasião. Além disso, a data ainda marcou os 10 anos de in-teriorização da universidade, com a implantação dos campi em Caruaru, no Agreste do Estado, e em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata. A ideia é comemorar promovendo debates, espetáculos, exposições e intervenções culturais abertos ao público.

Sob a alcunha de “Tempos Trans-versos”, o ano festivo será dividido em três fases: passado, presente e futuro, com atividades voltadas para o resgate da história, a avaliação dos atuais resultados e o reforço dos pró-ximos projetos. “O tema é uma cria-ção do professor Lourival holanda, que aborda a transversalidade do conhecimento, colocando as novas gerações em contato direto com as gerações que as antecederam”, ex-plicou o presidente da Comissão dos 70 anos, Sílvio Romero Marques. De acordo com ele, as comemorações só se encerrarão no dia 11 de agosto de 2017. “O ciclo de festividades será

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concluído com a publicação de livros, revistas e artigos sobre as sete déca-das da entidade”, detalhou.

Segundo o reitor da UFPE, Aní-sio Brasileiro, o objetivo é conectar, cada vez mais, saberes acadêmicos e sociais. “Neste marco, é essencial que a comunidade e seus familiares e amigos desenvolvam o sentimento de pertencimento e de orgulho para com a universidade. Essa é a condi-ção básica e indispensável para que ela se projete para o futuro como uma instituição aberta ao diálogo, à di-versidade, ao respeito às diferenças e que tenha como missão a formação qualificada de seus estudantes para o País”, ressaltou.

Considerada a melhor instituição de ensino superior do Norte e Nor-deste pela pesquisa britânica QS Uni-versity Ranking 2016, a UFPE tem se destacado nas últimas avaliações do segmento. Segundo o Ranking Uni-versitário Folha, ela é a 10ª melhor universidade do País e o Times Higher Education a apontou como a 21ª me-lhor da América Latina.

Apesar dos resultados positivos, a instituição ainda tem muitos desa-fios à frente. O reitor diz que a meta é alcançar o sétimo lugar nos ran-kings brasileiros. “A boa posição da UFPE nas avaliações é resultado da qualidade de seus estudantes, do-centes e técnicos, além das pesquisas de ponta que realiza em ambientes de cooperação internacional com as melhores universidades do mundo. Num contexto de grandes assimetrias regionais, é uma posição a comemo-rar, mas estamos trabalhando duro para estarmos entre as sete primei-ras do País”, planeja o reitor. “Para tal, precisamos nos fortalecer junto às empresas e aos nossos egressos. E uma boa política de comunicação é essencial, por isso criamos a nova Pró Reitoria de Comunicação, Infor-mação e Tecnologia da Informação (Procit), para divulgar, junto com a assessoria de comunicação, os resul-tados das pesquisas e seus impactos para a melhoria da vida das pessoas”, revelou Anísio Brasileiro.

Para o professor do Núcleo de Teoria e história da Educação Edil-son Fernandes, a maior dificuldade enfrentada é a diminuição dos re-

cursos públicos voltados ao setor. “A questão é um debate nacional. há preocupação com o financiamento de vários projetos importantes, como o programa de intercâmbio estudan-til Ciências Sem Fronteiras”, disse Fernandes, que também apontou problemas nas áreas de segurança e acessibilidade. “Embora seja um local de produção do conhecimento, em que temos professores e especialistas em diversas áreas, a UFPE passa por dificuldades de planejamento, com destaque para a segurança dos cam-pi. Em Caruaru e em Vitória de Santo Antão, o agravante é a acessibilidade das pessoas”, ressaltou o professor. No entanto, segundo ele, a universi-dade se destaca nacionalmente devi-do ao alto nível dos profissionais que atuam na instituição. “São nossos professores, pesquisadores, técnicos e alunos que fazem da UFPE o que ela é hoje”.

No Plano Estratégico Institucio-nal da universidade, elaborado no primeiro ano desta gestão, questões como sustentabilidade e acessibi-lidade são listadas como obstácu-los a serem superados até 2027, ano

do bicentenário da FDR. Apesar dos problemas em programas como o Ciências Sem Fronteiras (não se-rão concedidas novas bolsas de in-tercâmbio para estudantes de gra-duação), a reitoria, segundo Anísio Brasileiro, se compromete com o fortalecimento da internacionaliza-ção da universidade, e também das cooperações com empresas públicas e privadas e das pesquisas em áreas estratégicas para o País.

“Articular novos projetos e parce-rias com governos e empresas den-tro de uma visão empreendedora, capaz de captar recursos para pes-quisas junto a entidades nacionais e internacionais, e participar de forma competitiva em editais públicos se-rão nossas prioridades. Para isso, é necessário manter o padrão de exce-lência dos nossos cursos de gradua-ção e pós -graduação, favorecendo a presença de gestores nas principais agendas internacionais, com intenso programa de mobilidade estudantil para importantes universidades do exterior”, explicou Anísio Brasileiro.

O reitor também garantiu a mo-dernização do modelo de governança institucional, com a conclusão do Es-tatuto da UFPE ainda este ano, além da oferta de serviços universitários de qualidade à comunidade, a exem-plo da recuperação do Centro de Con-venções (Cecon) e da Concha Acústi-ca. "Esperamos concluir as obras na Concha em 2017. Já a recuperação completa do Cecon deverá ser entre-gue em 2019, e será realizada em três etapas. Na primeira, com prazo ava-liado em um ano, esperamos concluir as obras do hall, do cinema e das salas para serviços. Em paralelo, iniciamos a segunda etapa, relativa à equipa-gem dos auditórios. A terceira fase é a recuperação do teatro", especificou.

A UFPE descende da Universidade do Recife, criada em 1946, a partir da união entre as faculdades de Direito, Medicina e Filosofia e as escolas de Engenharia, Farmácia e Belas Artes. A instituição só se transformou em Federal de Pernambuco em 1965, quando vinculou-se ao MEC. hoje, conta com mais de 43 mil alunos ma-triculados em 100 cursos de gradua-ção, 56 cursos de especializações, 82 mestrados e 51 doutorados.

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Estamos trabalhando para

estarmos entre as sete primeiras do Brasil"

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baião de [email protected] Freire

aulinha De corno

Por que será que o homem traído é chamado de corno? Recorren-do aos historiadores chegamos às seguintes versões: no Brasil, a vaca é associada à mulher devas-sa. Aí está resolvida a parada: se a mulher adúltera é vaca, o homem dela pode ser até um doutor, mas é corno. Mas tem outra explica-ção que vem do início do século 17: as leis espanholas castigavam a traição da mulher com a morte dela e do amante. O assassinato era praticado pelo marido traído. Se ele não matasse os dois, perdia a dignidade e era obrigado a an-dar com um chapéu ornamentado com um par de chifres. E, por fim, a última explicação: outros povos europeus colocavam um par de chifres na porta de entrada da casa do homem traído para avisá-lo da infidelidade da mulher.

o Dia Do chiFre

Uma pesquisa divulgada num site de re-lacionamentos extra-conjugais informa que a maioria das traições de casais acon-tece nas quartas-feiras, entre 17h e 19h. A pesquisa ouviu 172 mil usuários do site.

terror

O grupo terrorista mais letal do mun-do é o Boko haram, formado por extremis-tas da Nigéria, ligados ao Estado Islâ-mico, e identificado como o que mais mata as vítimas capturadas.

macho com macho

Na Grécia Antiga, mulher tinha pouco valor. Os machos não a queriam nem pra comer. A for-mação de pares era de homem com homem. A relação aprovada era de um velho com um jovem. A sociedade rejeitava a transa en-tre homens da mesma idade, pela posição passiva do mais jovem que seria “respeitosamente” o enraba-do. O de mais idade devia educar e proteger o mais novo e, no tempo devido, fazer dele pupilo e amante. Na hora do sexo, esperava-se que o coroa tivesse a função ativa. Mas, no devido tempo, ambos teriam que procurar fêmeas para casar e ter filhos.

nas coxas nÃo se emprenha

Dizem os especialistas: o espermato-zoide precisa de um meio adequado para sobreviver. Para confirmar uma gravidez, o esperma necessariamente tem que ser depositado na vagina.

DesaForo

‘Foro’ significa um direito ou privilégio que uma pessoa tem e também o local onde uma desavença é resolvida – o fórum. Antigamente aforar era pagar um aluguel a um proprietário. Quando o devedor dava calote, ele desafo-rava. A palavra acabou ganhando amplitude e se tornou sinônima de qualquer tipo de desrespeito.

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ninho De palavras

[email protected]

horácio, amigo querido, foi passar as férias com as crianças na holanda. hospedou-se na casa da cunhada brasileira, ca-

sada com um holandês de nome rus-so, Kiril. Filho de mãe francesa – que criou-se na Venezuela –, de pai ho-landês e neto de russos. Enfim, Kiril é fruto da globalização. Uma mistureba danada. Apaixonado pelo Brasil, treina capoeira, gosta de samba-rock, bossa--nova e fala português fluente com so-taque nordestino.

A estadia de horácio nos Países Bai-xos serviu para obter informações e ma-tar a curiosidade acerca da imagem que o Brasil possui por lá. horácio é curioso e gosta de saber o que pensam sobre nós. Conversou com holandeses, amigos do Kiril, e com brasileiros que lá tentam a vida. Sua “pesquisa” in loco se concen-trou em cidade do “interior”, hoorn. Com grande importância histórica, não é cosmopolita como Amsterdam e Ro-terdam. Mas estar lá nas entranhas inte-rioranas de um país pitoresco permitiu a horácio compreender, por alguns dias, como o típico holandês vive e pensa.

Mas o meu amigo descobriu, para a sua decepção, que os loiros estão pouco se lixando para a terra brasilis. A maior de-cepção foi saber que eles desconhecem o período holandês em Pernambuco. “Meu Deus!”, abismou-se horácio. Como po-dem não saber que estiveram a construir pontes sobre os rios que formam o oceano atlântico? Como podem ignorar a terra que possui a maior avenida em linha reta do mundo? Abatido esteve quando soube que sequer somos mencionados nos livros laranjas de história. Quem é do Recife sabe como a indiferença fere. Kiril tentou consolá-lo oferecendo uma cerveja belga. horácio aceitou e resolveu ouvir mais dos amigos que conhecera há pouco.

Alguns disseram-lhe que as bra-sileiras andavam nas ruas de biquíni.

Outros tinham a certeza que falávamos espanhol. Demonstraram paixão pela nossa natureza e disseram estar curiosos em saber como se constrói cidades em meio às selvas. Afirmaram que merengue e salsa eram nossas danças típicas. Unani-memente elogiaram a beleza da nossa ca-pital federal, o Rio de Janeiro. O uv i ra m na televisão que nosso país é corrupto e que ladrão julga ladrão, afastando uns aos outros do poder. Também ficaram abismados com um palhaço ter sido elei-to ao parlamento, sendo o mais votado. Lamentaram a morte de um jovem líder em queda de avião, no último ano, notícia também veiculada na imprensa local. Fo-ram veementes em dizer terem receio em fazer negócios com brasileiros, ante notí-cias de corrupção. Foram categóricos em afirmar que o nosso futebol não é mais o mesmo, e que o maior jogador estrangeiro que já vestiu uma camisa de time holan-dês foi Romário, no PSV.

horácio passou o resto das férias com raiva daquele lugar. Pelas mentiras e verdades que ouvira. Ora, mas quem mandou abrir boca e ouvidos? Saber que

Conexão Recife-hoorn bruno mourY FernanDes

Cronista

o mundo não gira em torno do seu umbi-go foi mesmo uma paulada. Isso não está nos planos de um recifense. “Como es-ses branquelos ousam não saber tudo de nós?”, perguntava-se horácio. Satisfeito mesmo só quando viu, nas prateleiras do supermercado, mangas do Vale do São Francisco e melões de Mossoró.

Quem salvou a viagem foi Kiril que, apesar de pensar que as frutas eram da Indonésia e de dizer que a impontua-lidade de horácio era tipicamente bra-sileira, não parava de falar do Recife e do Brasil um só segundo, fazendo per-guntas como: “É verdade que Vinícius e Toquinho tinham um caso?”. “Sim”, respondeu horácio já puto, “um caso de amor com o Brasil”. E Kiril, com a alma mais brasileira do que muitos bra-sileiros, mais nordestina do que muitos nordestinos e mais pernambucana do que muitos pernambucanos, tentou acalmar o pobre horácio, adaptando com rara presença de espírito, frase de Vinícius: “amigo, morar no Brasil é ruim, mas é bom demais...especial-mente se for no Recife”.

Como podem ignorar a terra que possui a maior avenida em linha reta do mundo?Quem é do Recife sabe como a indiferença fere

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situada no vale do siriji, próximo à nazaré da Mata, propriedade da usina laranjeiras é aberta à visitação e guarda resquícios das casas-grandes do século 18

arruando pelo Recife e por Olinda

O Engenho Poço Comprido

leonardo Dantas silva

O engenho de açúcar foi, des-de os primórdios da coloni-zação, uma espécie de célu-la formadora da civilização

que se implantou com a cultura do açúcar em terras brasileiras. Confir-ma Antonil, in Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas (1711), a existência de dois tipos de engenho: o engenho real, para agricultores de grandes cabedais (posses) e as enge-nhocas, um tipo de fábrica de menor proporção, necessitando o primeiro de cerca de 150 a 200 escravos.

O engenho real, tão bem repre-sentado em quadros e desenhos as-sinados por Frans Post (1612-1680), era movido a água e sua produção chegava a 4000 pães (formas) de açúcar, incluindo as canas moídas de sua propriedade e as dos lavradores sem engenho. Num só engenho real estariam reunidos os mais diferentes profissionais, to-dos indispensáveis

para o sucesso do empreendimento.Daí se fazer necessário: escra-

vos de enxada e foice, no campo e na moenda; os mulatos, mulatas, negros e negras do serviço da casa ou em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafates, carpinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores; um mestre de açúcar, um banqueiro (seu substituto), um contra banqueiro, um purgador, um caixeiro (no engenho e outro na cidade), feitores, um feitor--mor e o capelão.

Para Antonil, “ser senhor de en-genho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo ser servido, obe-decido e respeitado por muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho quan-to proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do reino. Porque engenhos há na Bahia que dão ao senhor quatro mil pães de açúcar e outros pouco menos com açúcar obrigado à moenda, e cujo rendi-mento logram o engenho ao menos a metade, como de qualquer outra que nele livremente se mói, e em algumas partes ainda mais que a metade”.

Poucos engenhos de açúcar de Pernambuco conservam os traços dos tempos áureos da indústria do açú-

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car como o Engenho Poço Comprido, de propriedade da Usina Laranjeiras, aberto à visitação no município de Vi-cência, situado no Vale do Siriji, pró-ximo à Nazaré da Mata. Esse exemplar dos primitivos engenhos pernambu-canos aparece dominando a várzea. Sua casa-grande com o telhado dis-posto em quatro águas, é estruturada em madeira sobre colunas de alve-naria, em forma de edificação longa, cujo acesso à varanda é feito por duas escadas. Trata-se de uma construção mista, reunindo no mesmo edifício a casa-grande e sua capela.

Segundo Silva Telles, “o avaran-dado que corre a frontaria, com es-trutura de madeira, e a aparente ir-regularidade com que se distribuem os vãos podem sugerir certa ingenui-dade na composição; entretanto, a construção é bem proporcionada e de extrema elegância”. ¹

O professor Geraldo Gomes, em seu Engenho & arquitetura, clas-sifica as casas-grandes em nove ti-pos, de acordo com as linhas mestras de concepção e composição arquite-tônicas. A casa-grande do Engenho Poço Comprido integra-se ao grupo I, subdivisão C, sendo conhecidas como nortenhas, por sua semelhança com as casas rurais do norte de Portugal: dois pavimentos, o superior sustenta-do por esteios de madeira ou por co-lunas de alvenaria de tijolos; paredes em pau-a-pique, alvenaria ou adobe; planta retangular; coberta de telha de barro, em quatro águas, sobre es-trutura de madeira, prolongamentos eventuais de uma ou mais águas para cobrir cômodos salientes; o piso do pavimento superior em pranchas de madeira apoiadas sobre vigas, tam-bém, de madeira.

A subdivisão C tem como marca a escada externa, dando acesso à pe-quena varanda da fachada principal e coberta por prolongamento de uma das águas do telhado da casa. Bastan-

acesso a cômodos no pavimento su-perior, nos quais assistiam os ofícios religiosos através de tribunas na nave e na capela-mor. Localizada à direita da casa, a capela “apresenta fachada vazada por uma porta de verga reta e sobreverga de pedra com óculo lobu-lado ao centro. O cornijamento on-dulante é encimado por frontão em volutas, cruz e pináculos. Cobertura em duas águas. há puxadas laterais com telhado escondido e, à direita, uma porta de verga reta. À esquerda, na altura das janelas do coro, vê-se uma pequena janela retangular”. ³

Trata-se, pois, de um dos raros resquícios das casas-grandes do sé-culo 18, complementada pela cape-la contígua e pelo edifício da fábrica com a sua chaminé. O conjunto en-contra-se inscrito como Monumen-to Nacional, no livro das Belas Artes, v. 1, sob o n.º 468, em 21 de maio de 1962 (Processo n.º 358-T/46).

1 - TELLES, Augusto Carlos da Silva. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1975. p. 43.2 - GOMES, Geraldo. Engenho & ar-quitetura. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1997 p. 47-51.3 - CARRAZZONI, Maria Elisa (Coord.) Guia dos bens tombados. Rio de Janeiro: Ex-pressão e Cultura, 1980.

te notada por viajantes estrangeiros no século 19, o que pode sugerir sua frequência naquele século e no ante-rior.

O pavimento térreo do Engenho Poço Comprido é atualmente fecha-do, mas é possível que tenha sido originalmente aberto e as paredes que ligam os pilares que sustentam o pavimento superior sejam de cons-trução recente. Uma das característi-cas do tipo é a versatilidade de uso do espaço rés-do-chão.²

As capelas são divididas por Ge-raldo Gomes em três tipos de partidos arquitetônicos. No primeiro grupo aparecem dispostas, obedecendo à disposição da nave, capela-mor e sa-cristia dispostas em três volumes dis-tintos, conforme aparecem nas telas de Frans Post. No segundo grupo, ao qual se filia a capela do Engenho Poço Comprido, a nave central é ladeada por galerias laterais, onde se locali-zam as escadas de acesso ao coro e ao púlpito. No caso em questão, a capela aparece no mesmo paramento da ca-sa-grande, estando ligada a esta por galerias de dois pavimentos.

O pavimento superior da lateral da capela é ligado ao pavimento do mes-mo nível da casa-grande contígua. Dessa forma, garantia-se o privilé-gio do isolamento para os familiares dos senhores de engenho que tinham

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integrantes do movimento O Recife que precisamos debatem o projeto parque Capibaribe e lançam sugestões

urbanismo

Transformar a cidade a partir do rio

Mais que um cartão-postal, o Capibaribe é um verdadei-ro ícone do Recife. Revita-lizar o velho “cão sem plu-

mas” - como o chamava o poeta João Cabral – para que seja tão importante para o recifense quanto o Tâmisa o é para o londrino é uma das propostas do movimento O Recife que Precisamos. Criado pelo Observatório do Recife há quatro anos, o movimento tem como um dos objetivos pautar as discussões das eleições municipais para que os candidatos se apropriem de temas es-senciais para a melhoria da qualidade de vida na cidade. É o caso da recupe-ração do rio. “Entre as reivindicações estão a implantação do saneamento básico para evitar que o Capibaribe e seus canais recebam e distribuam lixo pela capital pernambucana”, informa Fernando Braga, sócio da TGI e inte-grante do movimento.

A proposta - juntamente com suges-tões de outros quatro temas – foi levada para os candidatos a prefeito em 2012. Todas essas proposições foram construí-das de forma coletiva a partir da escuta da sociedade. A revista algomais parti-cipou desse processo, publicando maté-rias sobre o movimento e mobilizando o recifense pelas redes sociais.

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Eleito, Geraldo Julio decidiu encam-par o tema. A prefeitura estabeleceu um convênio com o Inciti – Pesquisa e Inovação para as Cidades (uma rede de pesquisadores da UFPE) para o desen-volvimento do projeto Parque Capibari-be, que é gerido pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Mais do que revitalizar o rio, o projeto prevê a transformação da cidade a partir do seu principal curso d'água.

A ideia é humanizar as suas margens, inte-grando-as com espaços verdes, envolvendo 42 bairros margeados pelo rio. Essas áreas serão ar-ticuladas com diferentes meios de transporte: bi-cicletas, veículos motori-zados, pedestres, barcos, etc. As transformações serão realizadas a partir de soluções simples e vi-sam mudar a forma como o recifense se relaciona com o espaço público. E como o rio serpenteia o Recife inteiro, o projeto visa transformar a capital pernambucana numa ci-dade parque até o ano de 2037, quando completa 500 anos.

o Que Foi Feito. Para debater o que já foi exe-cutado do projeto e o que falta avançar na execução foi reali-zada uma reunião entre os integrantes do Observatório do Recife e Circe Monteiro, membro do Inciti, que está à frente do Parque Capibaribe. A sala da TGI, onde aconteceu o encontro, ficou lotada, de-monstrando o interesse que o rio desper-ta na população.

Circe disse que a ideia da cidade parque ainda está se consolidando. Embora o projeto tenha três anos, ex-plica a professora, ele é de grande com-plexidade, além de ser elaborado com a participação da sociedade. “Queremos ativar os espaços antes de projetá-los”, justifica. Estratégia que foi empregada na primeira etapa a ser feita do Parque Capibaribe: o Jardim do Baobá. Locali-zada por trás da Estação Ponte D'Uchoa, a área foi palco de um evento que levou as pessoas a conhecerem a centenária

so de quatro faixas, entre as pontes do Capunga e da Torre para uma via com aspecto de parque. Ela terá integração com o rio, ciclovia, mirante e passare-la de pedestres – propostas inspiradas no Projeto Parque Capibaribe. A Via--Parque terá financiamento da Caixa Econômica e está em fase de licitação.

novas propostas. Durante o debate, os participantes sugeriram novas pro-postas ao projeto. Uma delas refere-se à necessidade de implantar condições para que as áreas do rio, onde residem moradores com menor poder aquisiti-vo, não sejam alvo da especulação imo-biliária, que serão valorizadas após as intervenções do projeto.

O Parque dos Manguezais é ou-tra área de alvo da preocupação deles. Eles querem saber como o espaço será

incluído no projeto. Trata-se de uma área de 320 hectares, que deveria ser uma unidade de conservação, margea-das pelas duas pistas da Via Mangue. O projeto Parque dos Manguezais faz parte de uma ação mitigadora da pre-feitura em razão da construção dessa via e prevê intervenções como ocea-nário, trilhas ecológicas, Academias da Cidade, mirantes e piers. Mas a Ma-

rinha, dona do terreno, não chegou a um con-senso sobre o assunto com a gestão muni-cipal. Realizar inter-venções no Parque dos Manguezais para sensibilizar as pessoas para a preservação da área é uma das pro-postas sugeridas.

Para garantir a proteção ao rio, foi sugerida a implanta-ção de uma Unidade de Conservação de Paisagem do Capi-baribe. O combate a poluição também foi ressaltado, a partir da recuperação dos cór-regos e riachos, vista como ação emer-gencial para evitar o efeito das mudanças climáticas e os pro-blemas de drenagem. Também foi proposta

a mobilização e educação da popula-ção que vive às margens do rio, inde-pendente de classe social.

A inclusão foi outro ponto defen-dido pelos participantes do debate que sugeriram que seja garantida a acessibilidade universal às rotas que levam às travessias e espaços públicos de convivência às margens dos rios. E, como é prática comum entre go-vernantes do País não dar continui-dade às obras do seu antecessor, os participantes sugeriram ainda a ela-boração de um Plano de Manutenção a cada marco inaugurado do projeto. Outra ideia é utilizar-se do Parque Capibaribe como oportunidade de qualificação radical da execução das obras públicas.

O próximo encontro do movimen-to vai debater o Centro do Recife.

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Só no almoço

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árvore do local situada às margens do rio. “ Veio muita gente, o que mostra a carência de espaços públicos”, consta-ta Circe. O Jardim do Baobá é o marco zero do Parque Capibaribe e está sendo construído através de uma mitigação ambiental do Real hospital Português. Será uma área de lazer, com brinque-dos, mesas e bancos. Ainda nas Graças, moradores locais conseguiram reverter a construção de um corredor expres-

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João Alberto [email protected]

suZana aZeveDo

breno, peDro e bruno schwambach

brilho Feminino

Jovem e bonita, ela se destaca nos nossos eventos sociais pela sua simpatia. E por sua competência. Cursou arquitetura na Wellesley College, em Massachusetts, uma das mais respei-tadas dos Estados Unidos. Depois, fez mestrado em design de interiores na Suffolk University, em Boston. Foi quando decidiu voltar para o Recife, onde reencontrou Márcia Ne-jaim, de quem era amiga há muitos anos. Foi então que sur-giu o convite para a criação da Nejaim & Azevedo Arquitetos Associados, hoje um dos escritórios de arquitetura de maior sucesso na nossa cidade, inclusive com uma belíssima sede no Empresarial Ítalo Renda.

canDiDatura

Mesmo tendo recebido vários pedidos de colegas, Jarbas Vasconcelos não aceitou disputar o mandato-tampão na presidência da Câmara dos Deputados. Mas já é um nome muito lembrado para a eleição de fevereiro, para o mandato de dois anos.

os QuiosQues

A Prefeitura do Recife deveria fazer um trabalho nos quios-ques da orla de Boa Viagem. Alguns estão em estado lamen-tável, nenhum coloca a obrigatória lista de preços e unifor-mização deles nem pensar.

Disputa Dura

Inicialmente havia a previsão de mil candidatos, mas com as novas regras e as dificul-dades de arrecadar fundos, a disputa por uma das 39 ca-deiras na Câmara Municipal do Recife, em outubro, deve ter 700 nomes, uma média de 18 para cada vaga.

Gastronomia

Duas poderosas redes nacio-nais de restaurantes chegam ao Recife. O L'Entrecôte de Paris, famoso por servir apenas um tipo de prato, no Shopping RioMar, e o Coco Bambu, especializado e frutos do mar, no Shop-ping Recife

nome Da arena

A Itaipava firmou um contrato para ter seu nome na Are-na Pernambuco, mas desistiu. Agora, o secretário Felipe Carreras, que administra o espaço, mantém negociações com grandes empresas nacionais para definir qual o novo nome a ser colocado no estádio.

sushi na moDa

Interessante como até a gastronomia segue tendências. Poucos são os grandes restaurantes que ainda não ofe-recem cardápio especial de sushis. Os especializados na culinária oriental ganham fila no fim de semana e servem de encontro para happy hours. Até as festinhas de aniver-sário têm bufê de sushi.

sucesso nacional 

Pedro Schwambach é um dos empresários de maior sucesso no País no setor automobilístico. Ao lado dos filhos, Breno e Bruno, comanda revendedoras de várias marcas em mui-tos Estados do País. E agora aumenta sua presença, com a inauguração de revenda de automóveis Mercedes Benz em Aracaju e da Land Rover e Jaguar em Manaus e São Luiz.

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João Alberto

clarice FalcÃo

O que secomenta...

... por aí

QUE vai ter o nome de Ariano Suassuna, o segundo Compaz, a ser inaugurado no Engenho do Meio.

QUE a Capela dos Montes Guararapes deixou de ser local de muitos casamentos, como acontecia nos anos 90.

QUE o restaurante do hotel Ramada funciona 24 horas por dia e tem sido uma boa opção para o café da manhã depois de grandes eventos.

QUE cresceu muito a agenda de shows da banda Flor de Mandacaru, depois que ganhou o SuperStar.

QUE o presidente Carlos Augusto Costa quer formar uma forte lista de candidatos a vereador do Recife pelo Partido Verde.

o talento De clarice

Clarice Franco de Abreu Falcão é o nome completo de Clarice Falcão, um enorme talento como atriz, cantora, compositora, roteirista e humorista, ganhadora do Grammy Latino em 2013. Ela é recifense, filha do diretor João Falcão e da escritora Adriana Falcão, e começou a fazer sucesso com vídeos de suas músicas colocadas no YouTube, algumas alcançando 10 milhões de acessos.

aGenDa cheia

Já houve pelo menos quatro tentativas para trazer o juiz Sérgio Moro para fazer palestra no Recife. Todas sem sucesso, mesmo sem cobrar, ele faz apenas uma por mês e sua agenda está cheia até o fim de 2017.

shoppinGs

Nada menos de 58 shoppings estão sendo construídos no Brasil, com um total de 12 mil novas lojas. Metade tem previsão de inauguração neste ano, mas alguns tiveram a abertura adiada, em função da crise nacional.

GalÃ

Renato Góes, o ator pernambucano, que fez tanto sucesso na novela Velho Chico, já namorou com as atrizes Tatá Werneck e Emanuelle Araújo.

hobbY

Além de chef consagrado, Douglas Van Der Ley está criando esculturas inspira-das nos talheres do seu restaurante, em parceria com o artista plástico Alexandre Almeida.

cerveJas

há alguns anos, a disputa no mercado nacional de cerveja era apenas entre a Antarctica e a Brahma, que acabam se unindo na Ambev. hoje a oferta da be-bida chega a números impressionantes. São centenas, entre as nacionais, as im-portadas e agora as artesanais.

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memória pernambucana

O que é brega?Reginaldo Rossi personificou o gênero musical caracterizado pelo romantismo e foi sucesso nacional

Marcelo Alcoforado

Brega, aprendemos desde as li-ções primárias, substantivo e adjetivo de dois gêneros, é ter-mo pejorativo, aplicável a que

ou a quem não tem finura de maneiras; é cafona, de mau gosto, sem refinamento, de qualidade reles, inferior... Você aca-bou de ver algumas definições do res-peitabilíssimo dicionário houaiss, de-monstrando que o termo é bem servido de depreciações. Brega, pensando bem, é mesmo uma palavra sem categoria.

Para começar, sua origem é obscu-ra, ainda de acordo com o houaiss. Tão obscura, aliás, que, segundo outra hi-pótese, brega teria vindo dos prostíbu-los nordestinos em que esse tipo de mú-sica tão peculiar embalava os romances de vida tão breve quanto o tempo que transcorria do convite ao quarto e, por fim, ao gozo.

há mais hipóteses. Como esta, por exemplo, que atribui a derivação do termo ao "Nóbrega" que dá nome à rua Manuel da Nóbrega, em Salvador – que ficava na região de meretrício da capital baiana. Em algumas histórias licencio-sas, aliás, pronunciava-se o nome do padre Nóbrega como palavra paroxíto-na. De Nóbrega para Nobrega, teria sido um pequeno salto, pois.

O brega, contudo, continuava em busca de um lugar de destaque como manifestação musical. Se nas tertúlias a simples menção da palavra causava ur-ticária, quem sabe seus intérpretes pu-

dessem encontrar a aceitação nos saraus musicais...

Estava surgido um novo gênero de música brasileira, embora não hou-vesse, asseguravam os especialis-tas, um ritmo propriamente brega. Existisse ou não, o fato é que o termo ganhou o status de gênero musical, marcado por roman-tismo, simplicidade, rimas e palavras fáceis, assim evo-luindo e crescendo no gosto popular e produ-zindo variáveis como o brega pop e o tecnobrega. A música do meretrício pouco a pouco adqui-ria ares de dama, quase pudicos, deixando de frequentar exclusi-vamente os pecami-nosos bordéis. Era o tempo dos boleros e sambas-canção tri-nados nas vozes supli-cantes dos cantores do momento, como Orlando Dias, Carlos Alberto e Cauby Peixoto.

A música pegou, e, para encur-tar a conversa, a partir dos anos 1980, o termo brega passou a ser cunhado largamente na imprensa brasileira para designar, preconceituosamente, ressalte-se, música sem valor artístico. Assim, o termo

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designava música de mau gosto, desti-nada às camadas populares, com exa-geros dramáticos que beiravam o his-trionismo. Era, por exemplo, o caso da interpretação de cantores da linha ro-mântica como Amado Batista, Wando, Gilliard, Fábio Junior e José Augusto.

Em tal cenário, um rapaz de nome artístico Reginaldo Rossi se destacou. Sem vez como imitador servil de Ro-berto Carlos, assumiu trono e cetro de o Rei do Brega, e o sucesso logo lhe bateu às portas. Dentro da tradicional linha romântica popular, Reginaldo Rossi manteve-se como uma espécie de con-traponto nordestino para Roberto Car-los, inclusive se apropriando do título de rei que já acompanhava o monarca da Jovem Guarda.

Os ventos benfazejos sopravam continuamente, e a canção Garçom fez do pernambucano uma sensação no Sudeste. O brega passou a ser reavalia-do – inclusive gravado por estrelas de primeira grandeza da música nacional, como Caetano Veloso.

O centro da atenção aqui, porém, é o Rei do Brega e é dele que se vai falar. Para começo de conversa, foi, orgulhava-se de dizer, o primeiro cantor de rock do Nordeste, no tempo em que comandava um grupo musical batizado The Silver Jets. Antes disso, no entanto, foi pro-fessor de física e matemática, e estudou engenharia durante quatro anos, tendo iniciado a carreira artística em 1964, por influência de Elvis Presley, dos Beatles e da Jovem Guarda, segundo disse.

Além do mais, foi crooner em boates do Recife, e fez duas incursões na política. Na primeira, candidatou-se a vereador de Jaboatão dos Guararapes, mas conquistou apenas 717 votos. Na segunda, tentou se eleger deputado estadual, contudo, mais uma vez, não teve êxito. Conquistou 14 934 eleitores, contentando-se em ocupar a 93ª colocação no pleito.

Mas de que importava o sucesso polí-tico se, como artista, o aplauso estava do seu lado?A partir do seu primeiro disco, O Pão, foi sucesso atrás de sucesso. Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme, por exem-plo, foi regravada dezenas de vezes por vários artistas. E como isso fosse pouco, ele ressurgiu no Centro-Sul, o que pro-vocou o relançamento de seus discos em CD. Logo ele passou a ser visto como cult e assinou contrato com a gravadora Sony. Foram cerca de 50 discos lançados, entre inéditos e coletâneas, mais de 300

composições gravadas e ele ainda encontrava

tempo para fazer uma

média de 25 shows

por mês, em todo o Brasil.Ademais, ganhou o Prêmio da Mú-

sica Brasileira 2000, 14 discos de Ouro, 2 de Platina, 10 Platina Duplo e um de Diamante. Foi um longo e alcatifado ca-minho para aquele rapazola que imitava Roberto Carlos, não é mesmo?

O ignorado de ontem passara a ter, a partir do Recife, fã-clubes espalha-dos pelas principais capitais brasileiras, como Salvador, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Maceió, Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Manaus, entre outras, onde se fez conhecer por O Rei da MBB (Mú-sica Brega Brasileira).

Bebedor contumaz, jogador com-pulsivo e fumante inveterado, Regi-naldo Rossi baixou hospital no dia 9 de novembro de 2013. Retirou dois litros de líquido acumulados entre a pleura e o pulmão, mas o pior estava por vir. O resultado da biópsia confirmou o diag-nóstico de câncer de pulmão, que o levou no dia 20 de dezembro de 2013. Nascido a 14 de fevereiro de 1944, Regi-naldo Rossi vivera 69 anos.

Com sua voz nasalada, fora, no co-meço, um improvável cantor que se liberara da imitação de Roberto Carlos para fazer sucesso como o Rei do Bre-ga. Fez. Tanto que hoje, como ontem e como amanhã, em algum lugar do Brasil estarão sendo ouvidos muitos dos seus sucessos, como A Raposa e as Uvas, Garçom e tantas outras melodias, simples, é verdade, mas que embalaram tantos momentos de amor.

Muitos dos que ouvem Reginaldo Rossi buscam, com gestos e palavras evasivas, fazer parecer que se trata de um simples momento exótico ou mero divertimento. É não. Na maioria das vezes, isso é só fingimento. Descabido, creia. Afinal, com sua interpretação e, sobretudo, com a personificação do que cantou, o Rei mostrou claramente que o brega também soube ser chique.

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Participo do projeto da revista algomais desde a sua pré-história. Desde quando não era mais do que uma mera ideia da-quelas que correm o sério risco de não passar de um simples sonho de uma

noite de verão, até hoje, mais de 10 anos depois, quando da decisão de Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura que resolveram concluir suas par-ticipações no projeto para cuidar integralmente da Engenho de Mídia, a empresa deles.

Já disse aqui nesta Última Página, na condição de colunista mais antigo, que tenho um enorme orgulho de ter contribuído muito de perto desta construção que envolveu muita dedicação, traba-lho e seriedade de todos os envolvidos sobretudo de Sérgio e Luciano que tocaram executivamente a publicação ao longo da década passada.

Com a saída deles, nós da TGI assumimos a responsabilidade de dar continuidade ao traba-lho realizado e de seguir mantendo a publicação com o mesmo nível de qualidade alcançado. Não será tarefa fácil, sabemos disso, mas estamos decididos a fazê-lo. E como dizia o empresário paraibano, radicado em Campina Grande, Dão Silveira: “quem tem a vontade já tem a metade”.

Fazemos isso num momento especial: uma crise econômica devastadora, que assolou o País e atingiu duramente Pernambuco. A algo-mais começou reportando o novo momento de desenvolvimento do Estado que levaria a eco-nomia local a crescer mais do que a do Brasil por muitos anos seguidos. Agora, a rebordosa é grande, mas começou o período de reversão. A

Algomais para além da crise

Consultore arquiteto

comparando é como se o trem da economia (o PIB do País) tivesse parado, começado a andar para trás e parado de novo. Agora, temos todo esse percurso de marcha ré a recuperar para chegar de novo no ponto de onde paramos de avançar e, daí, continuar em frente no terreno positivo.

Em Pernambuco isso também vai aconte-cer. Será, portanto, neste cenário de recupe-ração, que se dará a nova fase da algomais – a Revista de Pernambuco. No cenário para além da crise. Continuamos contamos para isso com o apoio e o prestígio que sempre tivemos dos leitores e anunciantes. Vamos lá!

[email protected]

"A revista reportou o novo momento de desenvolvimento. Agora, a rebordosa é grande, mas começou a reversão"

crise cumpre o seu ciclo: depois de uma que-da recorde da atividade econômica que em dois anos provocará uma recessão de algo em torno de -9,0% do PIB, pelo menos tudo faz crer que o pior está passando. Paramos então de piorar, essa é a notícia boa. Temos, todavia, ainda um exigente tempo de recuperação pela frente. Mal

Francisco cunhaúltima página

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37Algomais • Agosto/2016

O Shopping Patteo Olinda está no foco principal

da cidade, ao lado de um hipermercado consolidado

e movimentado, cercado por empresas, escolas

e hospitais. Uma região madura estruturalmente

e com economia circulante já existente.

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LocaLizado entre as principais vias. no ponto de maior circuLação da cidade.

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I M P R E S S O

W E B

M O B I L E

T A B L E T

Ref l i ta : quantas not íc ias você recebe todos os d ias? Agora ref l i ta de novo: quantas

dessas not íc ias são de fa to conf iáveis? Hoje, com as novas plataformas tecnológicas

e a democrat ização da informação, qualquer um pode publ icar not íc ias. Mas você não pode

depender das not íc ias de qualquer um. Sua fonte de informação prec isa ser imparc ial ,

independente, anal í t ica. Prec isa invest igar todos os lados de uma not íc ia para depois,

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