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SUPLEMENTO DISTRIBUÍDO EM CONJUNTO COM O JORNAL PÚBLICO / DISTRIBUIÇÃO NACIONAL MARÇO 2013 / EDIÇÃO Nº 24 - Periodicidade Mensal Venda por Assinatura - 4 Euros SIREVE E PROGRAMA REVITALIZAR 104.ª CONVENÇÃO DE ROTARY INTERNACIONAL BIOALVO – BIOTECNOLOGIA EM PORTUGAL FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO DIA MUNDIAL DO RIM VALORMED Gestão de Resíduos LIBERDADE XXI Dependências em destaque RUI PROENÇA O CONJUNTO DE NOVAS RELAÇÕES QUE SE PODE CRIAR ENTRE A EMPRESA E O SEU TRABALHADOR TEM UM IMPACTO DIRETO NO SEU QUOTIDIANO E NA VIDA DA SUA FAMÍLIA Fotografia: Diana Quintela Diretor Geral da Edenred Portugal, sobre as mais-valias do Euroticket®, afirma 12 DE MAIO DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

Revista Pontos de Vista Edição 24

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Page 1: Revista Pontos de Vista Edição 24

SUPLEMENTO diSTribUídO EM cONjUNTO cOM OJORNAL PÚBLICO / DISTRIBUIÇÃO NACIONAL

MArÇO 2013 / EdiÇÃO Nº 24 - Periodicidade MensalVenda por Assinatura - 4 Euros

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DIA MUNDIAL DO RIM

VALORMEDGestão de Resíduos

LIBERDADE XXIDependências

em destaque

Rui PRoença

O CONjUNtO DE NOVAs RELAÇõEs qUE sE pODE CRIAR ENtRE A EMpREsA E O sEU tRABALhADOR tEM UM IMpACtO DIREtO NO sEU qUOtIDIANO E NA VIDA DA sUA FAMíLIA

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FIChA tÉCNICA

os artigos nesta publicação são da responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do edi-tor. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. a paginação é efectuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos da revista, excepto nos anúncios com a localização obrigatória paga. o editor não se responsabiliza pelas inserções com erros, lapsos ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes. Quaisquer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabi-lidade do editor.

Propriedade, Edição, Administração e AutorHorizonte de Palavras– Edições Unipessoal, Lda

Administração – Redação – Depº GráficoRua Rei Ramiro 870, 5º A4400 – 281 Vila Nova de GaiaTelefone/Fax +351 220 926 879

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ImpressãoLisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, S.A.Distribuição NacionalPeriodicidade Mensal | Registo ERC nº 126093NIF: 509236448

Distribuição Nacional gratuita com o Jornal Público

DIRETOR: Jorge Antunes | EDITOR: Ricardo Andrade |PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS: Andreia Azevedo | Sara Soares | GESTÃO DE COMUNICAÇÃO: João Soares | Luís Alves |José Basto | Luís Pinto

AssinaturasPara assinar ligue +351 220 926 877 ou envie o seu pedido para Autor Horizonte de Palavras– Edições Unipessoal, Lda - Rua Rei Ramiro 870, 5º A, 4400 – 281 Vila Nova de GaiaFax 220 993 250E-mail: [email protected]ço de capa: 4,00 euros (iva incluído a 6%)Assinatura anual (11 edições):Portugal: 40 euros (iva incluído a 6%),Europa: 65 euros, Resto do Mundo: 60 euros

*O conteúdo editorial da Revista Pontos de Vista é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.

em destaque

6 104ª CONVENÇÃO DE ROtARY INtERNACIONAL - 23 A 26 DE jUNhO EM LIsBOA

Luís Miguel Duarte, Governa-dor do Distrito Rotário 1960, aborda os desideratos

12 DIREItO E jUstIÇA

António Jaime Martins, Vice-Pre-sidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados, explica as principais alterações ao Código do Processo Civil

46 DOENÇAs RARAs

As Doenças Raras ainda afetam um vasto número de pessoas em Portugal. Importa salientar aqueles que diariamente lutam para dar a estas Pessoas melhores condições de Vida

18 REABILItAÇÃO URBANA

Porque o Património é um teste-munho vivo de valores e saberes.

Gonçalo Mayan Gonçalves, Verea-dor do Urbanismo e Mobilidade e

Administrador da Porto Vivo, SRU, dá a conhecer o que tem sido feito

no Centro Histórico do Porto

4012 DE MAIO - DIA INtERNACIONAL

DO ENFERMEIRO

Enfermagem é a arte de cuidar do ser humano, proteger, prevenir e

cuidar da reabilitação e recupera-ção da saúde de todos

22A importância de um sistema de recolha de medicamentos fora de uso no caminho da sustentabilidade e responsabilidade social. VALORMED exemplifica

26Alguns players da área de Seguros revelam a importância do setor em Portugal

39Dia Internacional do Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstétrica/Parteira - 5 DE MAiO

53Liberdade XXi promete ser a solução para muitos aditos, ainda que o suces-so do Tratamento dependa sempre da boa vontade e iniciativa dos próprios

56Entrevista a Pedro Ponce, Diretor Clínico Nacional da Fresenius Medical Care, sobre a Prevenção de doenças renais

32Educação e Formação – Diferentes estratégias de Ensino através de áreas distintas de aprendizagem

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a cerca de três meses do grande evento, os números já são sur-preendentes. Até ao momento, 21 500 mil pessoas, provenientes de 158 países, já fize-ram a sua inscrição.

Confrontado com a estimativa de 25 mil visitantes, Luís Miguel Duarte, Governa-dor do Distrito Rotário 1960, vai mais além. “Teremos 25 mil participantes ou mais. Os números são, para nós, mui-to impressionantes e está a ser muito melhor do que aquilo que estávamos à espera”, afirmou. Será a maior conven-ção de negócios alguma vez realizada em Portugal, prevendo-se um impacto muito positivo para a economia portu-guesa. Em números, estamos a falar de

cerca de “77 a 100 milhões de euros em termos de despesa direta efetuada no nosso país”, adiantou o responsável em conversa com a Revista Pontos de Vista.Realizada anualmente com o objetivo de unir num mesmo espaço represen-tantes de todos os clubes do Mundo para sessões de trabalho e partilha de experiências, a Convenção de Rotary Internacional está entre os três maio-res congressos internacionais, sendo “a única que não é profissional e que tem como base o companheirismo”. Para Luís Miguel Duarte, é exatamente essa vertente que torna o evento “interessan-te e diferente de outro tipo de conven-ções que existem”. O grau de exigência é, por isso, bastante alto. Como tal, desde que Lisboa foi nomeada, em finais de 2006, como a cidade anfitriã da 104ª

Foi em finais de 2006 que o Rotary Internacional escolheu Lisboa para acolher a 104ª Convenção de Rotary Internacional, um evento com grande significado para o mundo dos rotários. A partir de então, de imediato, foram movidas todas as forças para que este fique na memó-ria de todos como o maior evento de sempre. Os resultados, até ao momento, estão a superar as expectativas da organização. De 23 a 26 de junho, Lisboa vai parar para abrir as portas de sua casa aos visitantes e ver o que o Rotary tem realizado no Mundo.

“lISBoa SERá uma cIdadE do mundo”

Convenção do Rotary Internacional, fo-ram, a partir desse instante, colocadas “mãos à obra” para que este seja um evento digno de memória. “As conven-ções do Rotary Internacional são um acontecimento muito complexo que exi-gem muitos anos de preparação. Desde que soubemos que Lisboa iria acolher a 104ª Convenção, temos trabalhado afin-cadamente para fazer o melhor trabalho possível no nosso país”, explicou Luís Miguel Duarte.

LiSbOA:UM PORtO PARA A PAz

O tema escolhido para a convenção pre-tende “sumarizar a história de Portugal e fazer a ponte com o objetivo do Rota-ry Internacional que é difundir a paz e a compreensão mundial”, explicou Luís Miguel Duarte. Lisboa, um porto para a paz será, por isso, uma forma de trans-mitir a mensagem de que a capital por-tuguesa será a sede do Rotary durante alguns dias. Mais do que isso, será “uma cidade do Mundo”. “A história de Portu-gal sempre foi muito ligada ao humanis-mo, à tradição de interação com outras culturas e outras religiões em perfeita harmonia”. Esta mensagem coincide com o lema do Rotary Internacional. Com 34 mil clubes rotários distribu-ídos por 204 países diferentes, todos trabalham, voluntariosamente, em prol de um bem comum. Mesmo sendo um país pequeno, respira cultura. E é, tendo como referência esse património, que a organização quer chegar a cada um dos participantes, através de uma exposição que irá ocupar dois pavilhões da Feira Internacional de Lisboa. O objetivo, esse, é responder à altura a uma dupla função. “Dar a conhecer Por-tugal, a nossa história e a nossa cultu-ra a todo o Mundo Rotário” é uma das metas. Composto por um milhão e 250 mil voluntários, o Mundo Rotário é a maior organização não governamental

do mundo, composto por pessoas que abraçaram o lema: “dar de si antes de pensar em si”. Por outro lado, o evento é também “uma forma de dar a conhecer a Portugal o que o Rotary faz no mundo, os muitos e variados projetos que temos na área do combate à fome, à iliteracia e a nossa grande campanha de saúde pública: a erradicação da poliomielite”, afirmou.

ERRADiCAçãODA POLiOMiELitE

Conhecida por paralisia infantil, a polio-mielite, nos finais dos anos 80, dizimava ou submetia à incapacidade, milhares de crianças em todo o mundo. Comprome-tendo-se a adquirir e a distribuir doses de vacina para imunizar seis milhões de crianças nas Filipinas, o Rotary começou a sua campanha de luta contra a polio-mielite no início de 1979. O Rotary foi, assim, a primeira organização a agarrar a possibilidade de, através da vacina Sabin com 100 por cento de eficácia, colocar um ponto final no vírus da Polio. Come-çava, assim, um trabalho incansável cujo impacto na eliminação desta epidemia foi tremendo. “Dos 350 mil casos que tí-nhamos em 1986, baixamos para 252 em 2012 e, este ano, temos apenas dez casos sob suspeita. Aliás, em 1986, a polio es-tava na Europa e, hoje, está confinada a três países: Afeganistão, Paquistão e Ni-

104ª ConvEnção DE RotaRy IntERnaCIonal DE 23 a 26 DE junho Em lIsboa104ª CONVENÇÃO DE

ROTARY INTERNACIONAL

WorkshopsCom uma duração média de 90 minutos, os workshops realizados irão abordar temas como: quadro associativo, subsídios da Funda-ção Rotária, liderança de clubes e distritos, imagem pública, novas gerações, parcerias no Plano Es-tratégico, entre outros. Acontece-rão de segunda a quarta-feira e serão uma forma dos rotários par-tilharem as suas iniciativas.

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A história de portugal sempre foi muito liga-da ao humanismo, à tradição de interação com outras culturas e outras religiões em perfeita harmonia

Luís Miguel Duarte

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Pontos de Vista Março 2013

géria”, revelou Luís Miguel Duarte. Esta campanha foi possível muito graças ao apoio da Organização Mundial de Saú-de, da UNICEF e, mais recentemente, da Fundação Bill & Melinda Gates que doou ao Rotary Internacional nos últimos dois anos 350 milhões de euros para a erra-dicação da poliomielite. “Esperamos ter boas notícias na convenção e vermos o

fim desta doença muito perto. Enquanto ela existir, será um risco para as crianças de todo o mundo porque o vírus pode ser transportado muito rapidamente. É imperioso que, nesta altura, se consiga erradicá-lo”, afiançou o responsável. Em Portugal, uma forma de todos ajudarem e darem o seu contributo para esta que é já considerada a maior campanha de saúde

Casa da amizade (Feira de negócios da Convenção)Ocupando dois dos quatro pavilhões da Feira Internacional de Lisboa, este será o coração da 104ª Convenção de Rotary Internacional e estará aberto du-rante os cinco dias. O objetivo deste espaço é promover os clubes, distritos e projetos de Rotary, networking, merchandising, espaços de restauração, turis-mo e cultura local e internacional, entretenimento e várias áreas de negócio. No fundo, será um meio de dar a conhecer ao mundo a “cultura, espírito e o tecido empresarial português”. Por outro lado, também empresas de todo o mundo não irão perder esta oportunidade para divulgarem as suas marcas, projetos na área da responsabilidade social e vender os seus produtos. A Casa da Amizade será, portanto, um centro de oportunidades de negócio.

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104ª ConvEnção DE RotaRy IntERnaCIonal DE 23 a 26 DE junho Em lIsboa104ª CONVENÇÃO DE

ROTARY INTERNACIONAL

pública que já ocorreu em toda a história da humanidade é ligando para o número 760 30 2013. “Com 70 cêntimos as pes-soas podem oferecer uma vacina e salvar uma vida”, defendeu Luís Miguel Duarte.

RECONhECiMENtODA SOCiEDADE

Nas visitas que fez a vários presidentes de câmaras municipais e aos presiden-tes das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, Luís Miguel Duarte recebeu um feedback muito positivo do trabalho desenvolvido pelos rotários. E, no final, é isso que conta. Mais do que ser notí-cia nos meios de comunicação social, para o responsável importa sentir que tocam na vida das pessoas e que fazem a diferença. “O Rotary não tem como objetivo principal fazer ações para que elas sejam noticia. Quer que tenham im-pacto e façam diferença nas pessoas que têm maiores carências. Não temos um grande reconhecimento em termos de imagem pública mas temos o reconhe-cimento no terreno de pessoas que nos conhecem e sabem o trabalho do Rota-ry”, asseverou. Cada vez mais os jovens têm desempe-nhado um papel crucial. “Mais impor-tante que crescer ou descer em núme-ros do quadro social é conseguir atrair jovens quadros e líderes de referência para a causa”, disse Luís Miguel Duarte na sua mensagem dirigida aos rotários portugueses. E, efetivamente, assim tem sido. Com vários projetos liderados por jovens em Portugal, o Rotary, este ano, deu as boas vindas a novas gerações. “Não queremos crescer apenas pelo número. Queremos, sobretudo, crescer em qualidade e em rejuvenescimento do movimento”, garantiu.

PAz AtRAVéS DO SERViRDurante a abertura da sessão plenária da Assembleia Internacional de 2012, o presidente eleito do Rotary Internacio-nal, Sakuji Tanaka, revelou o lema para

2012-2013: “Paz através do servir”. Em Portugal, com a conjuntura atual, o obje-tivo é “explicar que a paz não é algo que se conquista, é algo que se tem de pre-servar e cuidar no dia a dia e com ges-tos que, por vezes, são muito simples”, partilhou Luís Miguel Duarte. O Rotary dá esse passo: “atribuímos mais de 500

Principais eventos locais:CONCURSO iNtERNACiONAL DE ÓPERA – 22 de junho, às 20h00O Teatro Nacional São Carlos irá acolher a final do concurso internacional de ópera, com mais de 20 jovens cantores de todo o mundo. Os prémios serão atribuídos aos três melhores, eleitos por um júri internacional de reconhecidas casas de ópera.

NOitE DA hOSPitALiDADE – 23 de junho, às 19h45Com mais de 25 pratos típicos portugueses, entretenimento, a organização convida os participantes a “sentir a cultura popular de Lisboa”. Será uma festa que terá como pano de fundo, uma das melhores paisagens de Lisboa, na outra margem do Rio Tejo.

NOitE iNESQUECÍVEL DE FADO – 24 de junho, às 20h00Não fosse o fado, considerado Património Cultural Imaterial da UNESCO, a identidade de Portugal. A Praça de Touros será transformada num espaço de concertos, por onde passarão os melhores fadistas da atualidade.

EXPERiENCiAR PORtUGAL – 25 de junho, às 19h45Cultura, Música e Comida reunidos num mesmo espaço, um mosteiro do século XV. O evento começa com um cocktail, seguido de jantar com entrada, sobremesa, digestivo e café ou chá. É uma oportunidade para “respirar a história de Portugal, os seus reis, rainhas, príncipes e princesas”.

As convenções do Rotary Internacional são um acontecimento muito complexo que exigem muitos anos de preparação

bolsas de estudo a jovens carenciados que de outra forma não teriam forma de prosseguir os seus estudos, temos projetos de combate à fome e à pobreza que abrangem milhares de pessoas, da-mos formação profissional aos nossos jovens, habilitando-os a estarem melhor preparados para o mercado de traba-

lho”. No fundo, são estas ações que con-tribuem para a harmonia global e para a construção da “paz através do servir”.A 104ª Convenção do Rotary Internacio-nal é um meio de mostrar isso mesmo. Luís Miguel Duarte acredita que estes dias irão contribuir para que os portu-gueses “voltem a acreditar”.

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considerando que todas as empresas têm um plano estratégico bem definido é extremamente impor-tante transformar o mesmo em valores concretos. Essa valorização deverá ser efetuada através da re-alização de orçamentos anuais de custos/proveitos com apuramento do resultado mensal. Paralelamente e não menos importante, deverá ser elaborado um orçamento de tesouraria anual com

resultado mensal. O orçamento de tesouraria é efetuado com base nas previsões de receitas (recebimento de clientes, reembolsos de impostos, aplicações financeiras, entre outros…) e nas previsões de pagamentos (fornecedores, pessoal, impostos, empréstimos bancá-rios, entre outros…). É imprescindível que orçamento de custos/proveitos e o orçamento de tesouraria estejam alinhados, sob pena de os resultados apresentarem desvios substancialmente elevados aquando na análise mensal. Com estes dois elementos elaborados a empresa dispõe da base que lhe permite monitorizar a situação financeira.

A educação financeira no mundo empresarial não é mais do que conseguir aumentar a rentabilidade do negócio ao mesmo tem-po que cumpre as responsabilidades junto de terceiros. Esta relação que à partida parece bastante simples, na prática é bastante complexa e carece de um controlo financeiro bastante afinado.

a Sua EmpRESa tEmEducação fInancEIRa?

Como podemos monitorizar a posição financeira da empre-sa? Uma forma eficaz é a comparação entre o orçamento de tesouraria e o que realmente foi pago e recebido. A periodi-cidade da monitorização deve ser ajustada ao negócio e ao volume de transações efetuadas. Em nossa opinião, a moni-torização deverá ser efetuada diariamente ou, nos casos em que o negócio ou volume de transações não o justifique, com periodicidade semanalmente. Dentro de uma empresa a análise de tesouraria deverá ser considerada, em termos financeiros, um centro de decisão. Com esta ferramenta é possível, por exemplo, enviar infor-mação fidedigna e atempada para o departamento de ges-tão de cobranças. Desta forma, o departamento de gestão de cobranças poderá agir preventivamente, atenuando ou eli-minando eventuais custos financeiros relativos aos recebi-mentos após a data de vencimento. Por outro lado, permite efetuar a gestão de pagamentos em função dos recebimen-tos previstos e/ou realizados.Numa fase de investimento, as empresas que possuírem uma estrutura financeira solida e bem organizada têm mais facili-dade em obterem financiamento a custos mais reduzidos. Por outro lado, consegue mais facilmente projetar os custos do in-vestimento e aferir o retorno do mesmo com maior exatidão.Em suma, quando as empresas são educadas financeira-mente, conseguem facilmente antecipar desvios, estão me-lhor preparadas para enfrentar as flutuações de mercado e possuem fatores de diferenciação face à concorrência, que se traduzem facilmente numa vantagem competitiva. E a sua empresa, tem vantagem competitiva?

RoDRIGo ouRIvEs, DIREtoR ExECutIvo Da auDItE - [email protected]

EDUCAÇÃO FINANCEIRA a oPiniÃo de...

“Considerando que todas as empresas têm um plano estratégico bem definido é extre-mamente importante transformar o mesmo

em valores concretos. essa valorização deverá ser efetuada através da realização de orçamentos anuais de custos/proveitos com

apuramento do resultado mensal”

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1 - Os direitos de Propriedade Industrial, em regra, são concedidos a quem primeiro apresentar regularmente o pedido com os elementos exigíveis, conforme preceitua o artigo 11º, nº 1, do Código da Propriedade Industrial – embora o uso possa, por vezes, conferir prioridade du-rante um limitado período.

Por consequência, o direito de prioridade é essencial para a obtenção e defesa dos direitos de Propriedade In-dustrial.

2 - Em todo o caso, a lei portuguesa permite que se efe-tuem alterações nos vários pedidos de proteção de direi-tos privativos, o que dificulta, por vezes, a aplicação prá-tica da disposição, uma vez que as alterações não podem beneficiar, como é óbvio, da prioridade inicial.

3 - O artigo 11º, nº 7, do Código da Propriedade Indus-trial resolve este problema de uma maneira simples: a prioridade dos elementos não alterados mantem-se e a dos elementos novos conta-se a partir da data em que foram introduzidos.

Por essa razão, o pedido é novamente publicado.

4 - Mas nem sempre foi assim.Esta disposição já vem do Código de 1940, onde o artigo 172º, § 4º, dizia que

“se, por efeitos de alteração,… … dever considerar-se sensivelmentediferente do que se publicou inicialmente … …esse facto implicará publicação de novoaviso para reclamações e a prioridadeserá contada da data em que a alteraçãofor introduzida”.

Desta estranha prosa parece concluir-se que a prioridade do pedido seria da data da alteração, quando pretendia dizer-se que se referia, apenas, à prioridade da própria alteração.

Esta redação foi corrigida pelo Decreto-lei nº 27/84, de 18 de janeiro, alterando a parte final, que ficou com a se-guinte redação:

“e a prioridade da alteração será contada da data em que esta foi introduzida”.

o dIREIto dE pRIoRIdadEE a altERação daS maRcaSduRantE o pRocESSo dE REGISto

joRGE CRuz, aGEntE ofICIal Da PRoPRIEDaDE InDustRIal

PROPRIEDADE INDUSTRIAL a oPiniÃo de...

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Os direitos de proprieda-de Industrial, em regra, são concedidos a quem primeiro apresentar regularmente o pedido com os elementos exigí-veis, conforme preceitua o artigo 11º, nº 1, do Có-digo da propriedade In-dustrial – embora o uso possa, por vezes, confe-rir prioridade durante um limitado período

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Mas ignorou o problema da nova publicação, man-tendo a redação inicial:

“… dever considerar-se sensivelmente diferente do que se publicou inicialmente…”

deixando, portanto, à decisão do Técnico a neces-sidade de se fazer, ou não, nova publicação – o que foi corrigido pelo Código de 2003, obrigando sem-pre a nova publicação quando houver alteração do que foi inicialmente publicado.

5 - No entanto, o INPI tem feito uma desnecessária confusão com a aplicação desta disposição, consi-derando que só haverá nova publicação quando as alterações forem “substanciais” – o que é um erro grave e pode invalidar o direito concedido.

6 - O objetivo é sempre o mesmo: preservar a data de prioridade, essencial para a validade do direito.

7 - Deve referir-se que a duração da fase de pedi-do, em que se permitem estas alterações, não está claramente definida no Código.

8 - Mas, o nº 10 do artigo 11º dá uma boa ajuda, ao estabelecer que o requerente,

“até ao transito em julgado darespetiva decisão, pode transmitir os direitos decorrentes do pedido,limitar o seu objeto ou juntar aoprocesso quaisquer documentos oudeclarações”,

ou seja, pode alterar o pedido, o que equivale a dizer que, até ao transito em julgado, estamos em fase de pedido.

9 - Aliás, o INPI tem decidido este problema muito

bem, uma vez que, quando há já despacho, o artigo 23º, apresentado oficiosamente ou pelo requeren-te, permite o regresso do processo á fase anterior, ou seja, considera revogado esse despacho, o que permite introduzir as alterações desejadas e, se for caso disso, publicar novamente o pedido no Boletim, garantindo, assim, a prioridade dos ele-mentos não alterados.

10 - Foi o que sucedeu, por exemplo, no processo da marca nacional ALJUBARROTA, nº 452.020, em que o pedido de modificação oficiosa da decisão de recusa, tendo sido alterada a marca, mereceu a seguinte proposta de decisão:

“…propomos a revogação do despacho de indeferimento exarado no âmbito do processo de registo da marcanacional “ALJUBARROTA” (nº 452020) e, merecendo a concordância superior, que o processo seja colocado em fase de “ESTUDO-AGUARDA DESPACHO”, devendo proceder-se a uma novapublicação do sinal alterado no Bole-tim da Propriedade Industrial,…”

11 - E o Chefe do Departamento concordou, nos seguintes termos:

“Concordo com a proposta derevogação do despacho de recusainicialmente proferido, devendo-serecolocar o processo em fase deestudo para que se proceda àformalidade administrativacorrespondente a nova publicação…”

12 = Esta orientação é de louvar, pois sendo per-feitamente correta, resolve uma situação que, de outro modo, dificultaria ao requerente conservar o direito de prioridade.

Em todo o caso, a lei portuguesa permite que se efetuem alterações nos vários pedidos de proteção de direitos privati-vos, o que dificulta, por vezes, a aplicação prática da disposi-ção, uma vez que as alterações não podem beneficiar, como é óbvio, da prioridade inicial

Aliás, o INpI tem de-cidido este problema muito bem, uma vez que, quando há já despacho, o artigo 23º, apresen-tado oficiosamente ou pelo requerente, permite o regresso do processo á fase anterior, ou seja, considera revogado esse despacho, o que permite introduzir as alterações desejadas e, se for caso disso, publicar novamen-te o pedido no Boletim, garantindo, assim, a prioridade dos elemen-tos não alterados

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Pontos de Vista Março 2013

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para António Jaime Mar-tins, a reforma anuncia--se enformada por duas finalidades: celeridade e justiça material. A ob-tenção destes fins a que a alteração adjetiva se propõe, a serem atingi-

dos, constituirão um avanço significativo para a Justiça, que precisa de leis mais simples, flexíveis e que dêem prioridade à justiça material, em detrimento da for-mal. É certo também que uma reforma da justiça só pode ter sucesso se tiver a cola-boração de todos os atores judiciários, o que implica, para o nosso entrevistado “a compreensão da reforma e muito traba-lho, quer de magistrados, quer de advo-gados, o que obriga, em primeiro lugar, as respetivas estruturas formativas, no caso dos Advogados, a Ordem dos Advogados e muito em especial, os seus Conselhos Distritais, no caso dos Magistrados, o Centro de Estudos Judiciários, a minis-trarem formação nas novas regras”.

O vice-presidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados re-alça na reforma do Processo Civil os três seguintes aspetos essenciais:

PRiNCÍPiO DA GEStãOPROCESSUAL

Para António Jaime Martins, o Princí-pio da Gestão Processual, procurando acolher algumas das experiências (nem sempre positivas) do regime proces-sual experimental, constituirá uma das grandes mudanças propostas e exigirá dos Magistrados além de uma apurada capacidade técnica, um profundo conhe-cimento dos processos que lhe são dis-tribuídos logo na fase do saneamento. Esta alteração passa por um papel mais ativo dos juízes na gestão dos processos, permitindo-lhe saltar fases na marcha processual ou antecipar a produção de prova com vista a resolver rapidamente os concretos aspetos em que as partes não estejam de acordo. Também, os Ma-gistrados terão, na audiência prévia, de

O Conselho de Ministros de 22 de novembro aprovou a proposta de lei do Código de Processo Civil, a qual se encontra no Parlamento a ser discutida na especialidade. De um modo geral, o Novo Código reduz as formas de processo, simplifica o regime e privilegia o discurso direto entre o juiz, as partes e os advogados. O fim último é assegurar eficácia e celeridade na Justiça. António Jaime Martins, Vice-Presidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados, com o Pelouro da Formação, explicou à Revista Pontos de Vista quais as principais mudanças que esta reforma trará à dinâmica judicial.

“a JuStIça QuER-SE célERE”

calendarizar o julgamento de acordo com a disponibilidade dos mandatários das partes, evitando posteriores adia-mentos. Consagra-se assim o princípio da inadiabilidade da audiência final, que não deve deixar de se realizar, salvo se houver impedimento do tribunal, faltar algum advogado que não tenha con-cordado previamente com a diligência ou ocorrer motivo que constitua justo impedimento. Evita-se, deste modo, a frustração das deslocações dos advoga-dos, das partes e das testemunhas, per-

mitindo uma gestão racional e segura da agenda por parte do juiz e dos advo-gados, estes últimos confrontados com sistemáticos adiamentos.O princípio na base desta alteração é, para o nosso entrevistado, positivo. Para o mesmo, “a justiça quer-se céle-re e não há decisões justas ao fim de 5 ou 10 anos. A justiça que tarda falha e é sempre injusta”. No entanto, António Jaime Martins tem algumas reservas quanto à inadiabilidade dos julgamen-tos por considerar que existem situa-ções que “não estão excecionadas. Uma delas, a qual preocupa sobremaneira os advogados é se, posteriormente àquela calendarização do julgamento, forem agendadas, para o mesmo dia e hora, diligências urgentes, por exemplo, com arguidos presos. Esta e outras situações de impossibilidade de comparecência, não estão previstas de forma expressa na lei adjetiva e deviam estar. Pese em-bora, entenda que o disposto no art.º 140.º do justo impedimento se aplica ao caso, de qualquer modo, era preferível que a situação fosse claramente pre-vista para não dar aso a interpretações díspares. Apesar disso, vejo com bons olhos o princípio da gestão processual, desde que, aplicado com bom senso e sem nunca pôr em causa o princípio do contraditório, corolário do principio da

antónIo jaImE maRtIns, vICE-PREsIDEntE Do ConsElho DIstRItal DE lIsboa Da oRDEm Dos aDvoGaDos, ExPlICa PRInCIPaIs altERaçõEs ao CóDIGo Do PRoCEsso CIvIl

NOVO CÓDIGO DO PROCESSO CIVIL

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Vejo com bons olhos o princípio da gestão processual, desde que, aplicado com bom senso e sem nunca pôr em cau-sa o princípio do con-traditório, corolário do principio da defesa com assento constitucional

“A Justiça exige ponderação e os mandatários devem ter um prazo para ponderar que direito é que deve ser aplicada à factualidade provada na audiência.”

António jaime Martins

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defesa com assento constitucional”. De referir que, atualmente, o adiamento de uma audiência implica, em média, mais 89 dias no processo.

tEMAS DE PROVAVigora desde 1939 até hoje nos tribu-nais portugueses, a cultura da espe-cificação e do questionário em que o juiz elenca a matéria de facto que quer ver discutida em julgamento, no fundo, quais as questões que irão servir para inquirir as testemunhas no julgamento, através da fixação da “base instrutória”. O que o legislador agora propõe é que esta parte do processo deixe de existir e, em seu lugar, os juízes passem a elencar a matéria de facto essencial através dos temas da prova, sem que especifiquem em concreto os factos assentes e os que devem ser objeto de prova no jul-gamento. Com esta alteração, as partes nos articulados deverão concentrar-se na factualidade essencial e com relevo substantivo, pois, a prova em audiên-cia, tendo como referência os “temas da prova” fixados pelo juiz do processo, será feita para a matéria dos articulados. Como hoje, aliás, acontece nas ações em que os juízes se dispensam de elaborar base instrutória.

Para António Jaime Martins, esta alteração exigirá “uma grande preparação dos Ad-vogados e uma maior dedicação dos Ma-gistrados ao processo, nomeadamente, na fase que antecede o julgamento, na qual têm já que conhecer com profundidade o processo, a fim de conseguirem determi-nar com exatidão os “temas da prova”. A instituição de um novo modelo de pre-paração da audiência final vai mais além e desformaliza procedimentos através da oralidade. O novo código privilegia assim o discurso direto entre o juiz e os advogados através do primado da ora-lidade. “O objetivo é aliviar o processo de alguns momentos escritos, já que a nossa prática sempre foi muito escrita, o que, aliás, tem a inegável vantagem

de ser securitário e evitar decisões surpresa. Se existem situações em que consigo perceber que esta alteração tra-ga vantagens, de um modo geral, penso que neste aspecto não iremos ganhar muito porque aquilo que ganhamos em celeridade podemos perder em acerto e fundamentação das decisões, dado que as alegações de direito, por exem-plo, passarão a ser feitas verbalmente na audiência de julgamento, quando os mandatários não sabem qual a resposta do tribunal à matéria de facto”, explica o nosso entrevistado.António Jaime Martins conclui afirman-do, “a Justiça exige ponderação e os mandatários devem ter um prazo para ponderar que direito é que deve ser

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aplicada à factualidade provada na audi-ência. Com esta reforma, esse momento de ponderação escrita desaparece, no meu entender, sem grande virtualidade para a busca da justiça material do caso, dado que, as alegações de direito dos ad-vogados permitem uma melhor decisão, na medida em que sugerem ao juiz do processo uma resolução para o litígio”.

DiMiNUiçãO DOS tÍtULOSEXECUtiVOS

Outra das alterações ao Código do Pro-cesso Civil que António Jaime Martins destaca como uma das principais é a re-forma da ação executiva. Efetivamente, a cobrança de dívidas pela via judicial é hoje um dos grandes problemas da justiça. Em 2011,deram entrada nos tri-bunais mais de 247 mil ações executivas que se juntaram aos 1,2 milhões de pro-cessos pendentes. Para além disso, 80 por cento das ações judiciais são, atual-mente, ações executivas porque com re-forma de 1995, houve uma proliferação incontrolada dos títulos executivos, que poderá ser qualquer documento parti-cular assinado pelo executado. Com o Novo Código do Processo Civil, aquilo que o legislador pretende neste âmbito é diminuir os títulos executivos e obrigar ao recurso à ação declarativa ou ao procedimento de injunção, que em caso de oposição, se convola em processo declarativo. O objetivo é claro, limitar a possibilidade de alguém acabar a pagar uma dívida que não existe ou não existe nos termos reclamados pelo credor.Para além disso, os particulares vão pas-sar a poder recorrer aos funcionários judiciais para cobrarem dívidas até aos dez mil euros, o que tornará este proce-dimento mais económico. No caso de um trabalhador, essa possibilidade alarga--se às execuções destinadas à cobrança de créditos laborais até trinta mil euros.Por fim, os agentes de execução que con-tinuam a poder ser substituídos pelos mandatários sempre que não cumpram os prazos estabelecidos para a prática dos atos que lhe estão acometidos, passam agora a poder pedir diretamente ao Ban-co de Portugal informações sobre a exis-tência de saldos bancários nas diferentes instituições financeiras, procedendo à penhora dos mesmos, sem necessidade de despacho judicial, através de mera co-municação eletrónica aos bancos.

Com o Novo Código do processo Civil, aquilo que o legislador preten-de neste âmbito é dimi-nuir os títulos executivos e obrigar ao recurso à ação declarativa ou ao procedimento de injun-ção, que em caso de oposição, se convola em processo declarativo. O objetivo é claro, limitar a possibilidade de alguém acabar a pagar uma dívida que não existe ou não existe nos termos reclamados pelo credor.

preocupa sobremaneira os advogados é se, posteriormente àquela calendarização do julgamento, forem agendadas, para o mesmo dia e hora, diligências urgentes, por exemplo, com arguidos presos. Esta e outras situações de impossibilidade de comparecência, não estão previstas de forma expressa na lei adjetiva e deviam estar

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o Programa Revitalizar tem sido a pedra de to-que da política econó-mica do executivo lide-rado por Pedro Passos Coelho. Inserido neste programa, entrou em vigor a 1 de setembro

o Sistema de Recuperação de Empre-sas por Via Extrajudicial (SIREVE), uma verdadeira alternativa à via judicial, sendo um processo acompanhado pelo IAPMEI e não pelos tribunais. O grande objetivo é melhorar as condições para a recuperação extrajudicial de empresas em dificuldade que viram a sua estru-tura económica arruinada, mas que ain-da possuem potencial de viabilização. O Programa Especial de Revitalização (PER) veio, igualmente, complementar o Programa Revitalizar, sendo uma al-ternativa à insolvência e uma solução de reestruturação das empresas. Inspi-rado no conhecido capítulo 11 norte--americano, o PER, criado no Código da Insolvência e da Recuperação de Empre-sas (CIRE), permite que uma empresa em situação de insolvência iminente ou com graves dificuldades financeiras mantenha a sua atividade, estabelecen-do negociações com os credores a fim de concluir com estes acordos que os levem a recuperar a sua revitalização. Numa realidade económica propícia ao insucesso de algumas empresas, Duarte Nuno Sottomayor, Sócio da Sottomayor & Associados e Responsável pela For--Mayor, Lda, encara estes instrumentos como ferramentas fundamentais para repor a confiança numa empresa. “Acre-ditar” será sempre a palavra de ordem. Mais do que ter fé na empresa, importa manter a confiança na atividade. “Acre-

ditem nas suas ideias e no negócio. Não pensem só nas empresas, pensem na atividade. Foi com ela que nasceram, foi com ela que criaram uma organização e é com ela que têm de permanecer”, aconselhou.“Não tenha medo da mudança, aceite-a de braços abertos”. No fundo, a citação de Anthony D’Ângelo pode descrever o cenário que se vive no seio de várias empresas. Duarte Sottomayor já teste-

É cada vez maior o número de empresas que aderem ao Programa Revitalizar, lançado em maio do ano passado pelo atual executivo, no âmbito da revisão do Código da Insolvência e Recuperação de Empresas. Este mecanismo permite que empresas em pré-insolvência ne-gociem com os credores um plano de viabilização financeira, dando-lhes um novo fôlego e a possibilidade de enveredar por negócios mais rentáveis. Duarte Nuno Sottomayor partilhou com a Revista Pontos de Vista a sua percepção sobre o quotidiano das atuais empresas, não deixando de antever um futuro que ainda será marcado por momentos de intranquilidade económica.

“não pEnSEm Só naS EmpRESaS, pEnSEm na atIVIdadE. foI com Ela QuE naScERam”

DuaRtE nuno sottomayoR, sóCIo Da sottomayoR & assoCIaDos E REsPonsávEl PEla foR-mayoR, lDa.

For-mayorFormada em 2006, em Torres Novas, a For-Mayor surgiu com o propósito de prestar serviços a empresas em áreas que envolvem o apoio administrativo, a formação profissional, consultoria para os negócios e gestão, bem como, a administração de imóveis por conta de outrem. Dando o seu contributo para a difusão e a discussão de temáticas atuais, a For-Mayor leva a empresários, trabalhadores, estudantes e todos os restantes interessados a oportunidade de esclarecerem dúvidas e conhecerem melhor um mercado de trabalho exi-gente e em constante mudança.

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Duarte Nuno sottomayor

SIREVE E PROGRAMA REVITALIZAR

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munhou isso mesmo. “Já vi muita gente perder dinheiro, empresas, vidas. Mas, por outro lado, já vi outras pessoas a ganharem dinheiro e a conquistarem, do nada, uma boa vida, com um suces-so tremendo”, relembrou o advogado. O importante é não baixar os braços, saber tomar medidas preventivas e aproveitar os apoios existentes de forma a evitar o colapso financeiro. Aí, “tanto o PER como o SIREVE, se forem feitos com antecedência, têm uma taxa de sucesso maior que se forem feitos com a crise iminente da tesouraria, já com ataques ferozes ao património e cortes no acesso a créditos bancários”, garantiu. Para Duarte Sottomayor, hoje, o tecido empresarial segue um de dois rumos: “ou avança para a liquidação, assume que não vale a pena e fecha, ou agarra um destes instrumentos, acredita que haverá um Portugal melhor e que a crise é passageira”. Sem este “empurrão” de apoio, o advogado acredita que muitas empresas ainda poderão cair.

AGRAVAMENtO DO CENáRiODE iNSOLVêNCiAS

Até 2014, continuará a pairar uma nu-vem negra de preocupação e expectati-va. A antevisão é feita por Duarte Sot-tomayor, sobretudo, quando estamos a falar de empresas que têm, hoje, custos elevados e que ainda não se socorreram de qualquer plano de recuperação. A decisão de reestruturar o pagamen-to de empréstimos não chegará, em muitos casos, demasiado tarde? Para o advogado, esse poderá ser um erro repetidamente cometido, mas decla-rar insolvência nem sempre é a melhor solução. “A insolvência pode acelerar a venda e a liquidação de património do Insolvente, seja ela na vertente de pes-soa coletiva ou singular. Se os credores não estiverem de acordo com o plano de negócios/pagamentos, não votam, vai a liquidação e o Insolvente perde todo o seu património. Temos sempre que fazer uma análise caso a caso. Em mui-tas situações, entre o não pagamento da prestação e a entrega da chave ao banco podem passar quatro anos e as pessoas

continuam a viver em suas casas”, expli-cou Duarte Sottomayor. Atualmente, em Portugal, existem “milhares” de pessoas nesta situação descrita pelo advogado.As dificuldades financeiras trazem consigo, invariavelmente, uma onda de preocupações que afetam, direta ou in-diretamente, todas as pessoas ao redor. Por esse motivo, Duarte Sottomayor faz questão de ter na sua equipa alguns psicólogos e psiquiatras, encaminhan-do os seus clientes para estas especia-lidades sempre que seja necessário. “As pessoas entram em pânico, fecham-se e não pedem sequer ajuda à própria família. É importante consultar um es-pecialista e falar sempre abertamente sobre os seus problemas”, explicou. No final, Duarte Sottomayor fala em casos de sucesso de pessoas que, com as tempestades, souberam dar a volta por cima e recomeçar uma nova vida, muitas vezes exercendo atividades completamente distintas das que de-sempenhavam anteriormente.

“AS EMPRESAS ENCERRAMMAS AS MARCAS

SãO PRESERVADAS”Todavia, ultrapassados os momentos de intranquilidade e de dificuldades, as empresas não viverão sempre “assom-bradas” e rotuladas com um “prazo de

validade”? Precisamente para que tal não aconteça, e quando uma empresa não tem a possibilidade total de sobre-viver, opta-se por “manter a marca”. “As empresas encerram mas as marcas são preservadas. Essa marca pode origi-nar outras empresas e novas soluções. Enquanto se mantiver a vontade e o espírito do empresário, a empresa tem grandes possibilidades de sobreviver, mas sempre no caminho da boa fé e dos princípios”, asseverou o especialista.

ALAVANCA AOEMPREENDEDORiSMO

NACiONALA propósito do sistema SIREVE, Álva-ro Santos Pereira, Ministro da Econo-mia, considerou que, além de ter como principal objetivo recuperar empresas em dificuldades, outro dos focos des-te instrumento consiste em reforçar o empreendedorismo nacional. Para Duarte Sottomayor, esse propósito tem sido alcançado mas importa que o referido empreendedorismo “seja apoiado”, acrescentando: “a máquina fiscal é muito complicada para quem se quer lançar agora. As pessoas têm de se habituar a evitar custos à nascença no momento em que criam um negócio, não entrando em endividamentos ini-ciais”, explicou. Para o advogado, essa iniciativa poderia até partir das autar-quias locais, se estas não tivessem tão endividadas, através de gabinetes de apoio aos empresários, por exemplo. “Cada autarquia, em vez de se preocu-par tanto com os cortes, deveria pensar bem nestas situações. Tenho perfeita noção que quando chega aqui um gran-de empresário estrangeiro, é recebido de braços abertos, não sendo valoriza-do o pequeno empresário local”, defen-deu Duarte Sottomayor.

“é iMPORtANtE CONhECER O ORçAMENtO DE EStADO”

Estando sempre atenta aos temas da atualidade, a For-Mayor foi constituída para responder às necessidades e prin-cipais dúvidas dos clientes. Dar a conhe-cer alterações legislativas, adequando

Principais vantagens do siReVe (em vigor desde 1 de setembro de 2012):- Redução significativa dos prazos para o término do processo nego-cial;- Criação de mecanismos de pro-teção do devedor e dos credores;- Desmaterialização da formaliza-ção e desenvolvimento do proces-so negocial;- Possibilidade de qualquer credor não identificado pelo devedor pe-dir a sua participação no processo negocial.

Principais vantagens do PeR (em vigor desde 20 de maio de 2012):- As empresas vêem protegidas a sua capacidade produtiva e os seus postos de trabalho;- As negociações para a aprova-ção de um plano de recuperação desenrolam-se fora dos tribunais, por um prazo máximo de 60 dias, prorrogável, em certas condições legalmente estabelecidas, por mais de 30 dias.

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os esclarecimentos às especificidades de cada caso, sempre tendo como pilar um conhecimento profundo do Orça-mento de Estado é a grande finalidade. “O OE tornou-se um instrumento legis-lativo que altera a vida de toda a gente e nem todos lhe dão o devido interesse. É importante conhecê-lo e lê-lo porque as alterações estão em constante mudança. Tínhamos um princípio de estabilidade que hoje já não existe”, explicou. As for-mações desenvolvidas pela For-Mayor tentam, assim, com o know how dos for-madores, responder às dúvidas de cada um, investindo, também, uma lufada de ar fresco no quotidiano de muitos em-presários.

já vi muita gente perder dinheiro, empresas, vidas. Mas, por outro lado, já vi outras pessoas a ganharem dinheiro e a conquistarem, do nada, uma boa vida, com um sucesso tremendo

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o Programa Revitalizar nasceu em Maio de 2012 – Lei nº 16/2012 de 20 de Abril - com o objetivo de ajudar as empresas a regressa-rem à normalidade de-pois de uma situação

de falência. No início deste ano, já tinha salvo 27 empresas nacionais, o que re-presenta uma taxa de sucesso de mais de 60 por cento. Um número bastante positivo, principalmente se tivermos em consideração que, antes da criação do programa, as empresas que recupe-ravam de uma insolvência tinham uma capacidade de sobrevivência de apenas um por cento.O Processo Especial de Revitalização (PER), a par com o Sistema de Recupe-ração de Empresas por Via Extrajudicial (SIREVE) veio, assim, prometer uma rutura de paradigma à ideia de que uma unidade insolvente é uma empresa para liquidar. Para Américo Torrinha, a alte-ração da lei advém de facto dessa “cons-ciência entre todos os intervenientes, no meio judicial e no próprio meio empre-sarial, de que os Planos de Insolvência, nos termos da lei anterior, eram alta-mente danosos para a economia porque apenas permitiam a recuperação de um número ínfimo de empresas”.Para o mesmo, a grande vantagem dos programas reside no facto de possibili-tar uma maior agilização nos procedi-mentos, para além do mais que no SIRE-VE a grande alteração reside na redução da percentagem necessária à aprovação de um processo de Recuperação, uma vez que, enquanto no código do CIRE, a percentagem necessária é de 66,66 por cento dos créditos, no SIREVE esta per-centagem é apenas de 50 por cento.“Isto significa que com um Plano de Re-vitalização ou com um Plano de Recupe-ração por Via Extrajudicial passe agora a ser mais fácil fazer aprovar a recupe-ração de um devedor do que com um Plano de Insolvência no âmbito do CIRE, na medida em que agiliza e facilita os procedimentos e reduz a base necessá-

ria para a sua aprovação. Ao serem mais permissivos, estes planos possibilitarão, sem dúvida, uma melhor estabilização do tecido empresarial e uma redução do desemprego”, afirma.

SiREVE– DECREtO LEi Nº 178/2012

DE 3 DE AGOStOO SIREVE, um dos instrumentos do Re-vitalizar, que constitui uma das priori-dade de política económica do Governo, veio permitir, desta forma, e como expli-ca América Torrinha “que qualquer enti-

A solução financeira das empresas e particulares nem sempre precisa chegar a um ponto em que apenas a liquidação do ativo ou dos bens pessoais serve para a satisfação dos credores. Revitalizar quando ainda é possível é aquilo a que a SOLUREVIT se propõe através de uma equipa com competência e experiência comprovada nos processos de recuperação/ revitalização e liquidação de ativos, bem como nos Acordos Extrajudiciais de Conciliação. A Revista Pontos de Vista falou com Américo Torrinha, Administrador de Insolvências e Sócio-Gerente da empresa que nos explicou de que forma a SOLUREVIT é a solução indicada para o problema.

SoluREVIt:REVItalIzaR é a pRIoRIdadE

soluREvIt - soluçõEs DE REvItalIzação EmPREsaRIal E PEssoalSIREVE E PROGRAMA REVITALIZAR

quem pode recorrer ao siReVe?Qualquer empresa que se encontre numa situação económica difícil ou numa situação de insolvência iminente ou atual, nos termos do Código de Insolvên-cia e da Recuperação de Empresas (CIRE), pode requerer a sua recuperação através do SIREVE.PrazosApós entrega do requerimento, o IAPMEI tem 15 dias para se pronunciar so-bre a sua aceitação. Caso ocorra convite ao aperfeiçoamento do requerimen-to por falta de documentos, a empresa ou o seu representante tem dez dias para a junção dos mesmos. O IAPMEI tem dez dias para se pronunciar sobre a aceitação do requerimento. Por sua vez, credores têm 60 dias para se pro-nunciarem, após a notificação do despacho de aceitação do IAPMEI.

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para o tecido empre-sarial que está numa situação de agonia e, neste momento, há um grande número de empresas nessa situa-ção, estes planos de revitalização permi-tem, quanto mais não for, perdurar a empre-sa por mais uma série de anos

dade possa requerer a sua recuperação, desde que o pedido seja acompanhado pelo apoio de pelo menos um dos seus credores, seja ele um fornecedor ou um credor institucional, uma vez que a sua proveniência não é limitada, fazendo esse requerimento ao IAPMEI e não ten-do de passar pelo Tribunal. Se o IAPMEI der aprovação, pode então o processo ser remitido ao Tribunal respetivo, altu-ra em que a empresa apresentará o diag-nóstico da sua situação e as medidas propostas para a recuperação. O proces-so será então gerido pelo Tribunal que nomeia um administrador provisório para a gestão ulterior”.

Américo torrinha

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quem pode recorrer ao PeR?Pode recorrer ao PER todo o devedor que se encontre comprovadamente em situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminen-te, independentemente de o devedor ser uma pessoa singular ou uma pessoa coletiva, ou mesmo um ente jurídico não personalizado (por ex.: um património autónomo).PrazosQualquer credor dispõe de 20 dias, contados da publicação no portal Citius do despacho de nomeação do administrador judicial provisório para reclamar créditos, devendo as reclamações ser remetidas ao administrador judicial pro-visório que, no prazo de cinco dias, elabora uma lista provisória de créditos. A lista provisória de créditos é imediatamente apresentada pelo administrador judicial provisório na secretaria do tribunal e publicada no portal Citius. Esta pode ser impugnada no prazo de cinco dias úteis e o juiz dispõe de idêntico prazo para decidir sobre as impugnações formuladas. Findo o prazo para im-pugnação, os declarantes dispõem de dois meses para concluir as negocia-ções encetadas.

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Os planos de Insolvência, nos termos da lei anterior, eram altamente danosos para a economia porque apenas permitiam a recu-peração de um número ínfimo de empresas

“DE QUE FORMA

A SOLUREVit PODEAJUDAR AS EMPRESAS?

O grande objetivo do SIREVE é, assim, melhorar as condições para a recupera-ção extrajudicial de empresas em difi-culdade, que viram a sua estrutura eco-nómica deteriorada, mas que possuem potencial de viabilização.O objetivo da SOLUREVIT, por sua vez, é encontrar forma de dar seguimento a essa mesma viabilização, acompanhan-do as empresas em todo o processo. Desta forma, negoceia com o credor ou credores, tendo em vista o consenso ne-cessário para a apresentação do Acordo Extrajudicial ou do Plano de Revitali-zação. De seguida, faz o apuramento e tratamento dos créditos que integrarão a lista de credores e a representação em atos e contractos durante o período que decorre até à aprovação e homologação do SIREVE ou do plano de Revitalização. Paralelamente, é feita a análise contabi-lística e o diagnóstico económico-finan-

ceiro da empresa para dar a conhecer a situação da mesma ao IAPMEI e propor um Plano de Revitalização com as medi-das de recuperação a implementar.Para Américo Torrinha, a grande van-tagem destes processos é aumentar o tempo das empresas, para que estas consigam mais facilmente, durante esse tempo, dar a volta por cima, ga-nhando um novo fôlego que lhes per-mita investir em projetos empresariais operacionalmente viáveis. “Para o te-cido empresarial que está numa situ-ação de agonia e, neste momento, há um grande número de empresas nessa situação, estes planos de revitalização permitem, quanto mais não for, perdu-rar a empresa por mais uma série de anos. Durante este período de tempo, que pode durar seis, oito ou dez anos e, numa grande empresa, pode ir mesmo até aos 15 anos, a empresa pode res-pirar e olhar para novas propostas do mercado, eventualmente uma interna-cionalização”, conclui.

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No dia 28 de março irá celebrar-se o Dia Nacional dos Centros Históricos. Quais serão as principais novidades e de que forma é importante sensibili-zar a para a importância dos Centros Históricos?A programação prevista é o resultado de uma parceria que anualmente a Câma-ra estabelece com diversas entidades, entre as quais a Porto Vivo, SRU, com o objetivo de promover um programa diversificado, que chegue aos mais di-versos públicos e constitua um convite à visita ao Centro Histórico. Em 2013 o enfoque será nos percursos orienta-dos, possibilitando aos participantes a descoberta de aspetos únicos do nosso património. Simultaneamente realizar--se-ão três mercados e uma feira, ani-mação de rua e visitas a monumentos, bem como cruzeiros em barcos rabelos no Douro. Este ano celebram-se os 250 anos da construção da Torre dos Cléri-gos e será criado um jardim de camélias junto ao monumento.

Que medidas e iniciativas deveriam ser colocadas em prática na defesa dos Centros Históricos?O património é manifestação criativa dos nossos antecessores, fator de de-senvolvimento, de afirmação de identi-dade, um testemunho vivo de valores e saberes. No caso do Porto, o Centro His-tórico é um testemunho da origem da própria cidade e sua evolução ao longo de séculos. Por isso mesmo o município do Porto tem promovido uma política empenhada no sentido da reabilitação urbana do Centro Histórico, não só no que ao edificado diz respeito mas tam-bém ao riquíssimo património imaterial que o mesmo encerra. O Plano de Gestão do Centro Histórico do Porto Património Mundial, define as medidas e iniciativas, estruturando-as em cinco eixos: Patri-mónio edificado; População; Turismo; Indústrias Criativas e Rio Douro. Trata--se de uma tarefa imensa que exige es-forços concertados e permanentes entre todas as entidades responsáveis e a co-munidade em geral.

Quais são as perspetivas de futuro re-lativamente à reabilitação do Centro Histórico e da Baixa Portuense? A estratégia de reabilitação da Baixa Portuense está definida no Masterplan e nos distintos documentos que estão disponíveis no sítio da Porto Vivo, SRU (http://www.portovivosru.pt/). Na se-quência da alteração da legislação, em 2009, procede-se à transformação da Zona de Intervenção Prioritária em Áre-as de Reabilitação Urbana. A primeira dessas ARUs, não por acaso, é a do Cen-tro Histórico do Porto que se encontra constituída e sob gestão da Porto Vivo, SRU, desde meados de 2012. Esperamos, num futuro próximo, ver concluídas as obras de requalificação do espaço pú-blico no Eixo Mouzinho/Flores, lançar no mercado de arrendamento de cariz social as primeiras habitações reabilita-das ao abrigo da linha de financiamento IHRU/BEI, no Morro da Sé, recomeçar as obras de reabilitação conducentes à construção da Residência de Estudantes e da Unidade de Alojamento Turístico, também na Sé, terminar a intervenção em curso no Quarteirão das Cardosas.Por outro lado, continua a verificar-se interesse dos privados pela reabilitação urbana, quer para fins habitacionais quer para fins comerciais e de serviços. A este propósito lembre-se que, de 2005 a 2012, o valor total do investimento privado no nosso território de intervenção atingiu os 508 milhões de euros e o investimento público 51,5 milhões de euros, pelo que,

“O património é manifestação criativa dos nossos antecessores, fator de desenvolvimento, de afirmação de identidade, um testemunho vivo de valores e saberes. No caso do Porto, o Centro Histórico é um testemunho da origem da própria cidade e sua evolução ao longo de séculos”, afirma Gonçalo Mayan Gonçalves, Vereador do Urbanismo e Mobilidade e Administrador da Porto Vivo, SRU, em entrevista à Revista Pontos de Vista, onde ficamos a conhecer os principais projetos inerentes ao Centro Histórico e da Baixa Portuense, espaço de prestígio da cidade Invicta.

poRQuE o patRImónIo é um tEStEmunho VIVo dE ValoRES E SaBERES

por cada euro de investimento público os privados investiram dez.

De que forma é que a Porto Vivo, SRU tem vindo a modificar a forma de es-tar e a promover uma cultura urba-nística em prol do Centro Histórico?A Porto Vivo, SRU concretiza uma política para a reabilitação urbana, num espíri-to de parceria com os proprietários, aos quais cabe a intervenção e a responsabi-lidade por tratar o seu património. Nestes, incute-se a salvaguarda de um espólio classificado pela UNESCO, respondendo aos anseios que as comunidades hoje têm, ao nível das facilidades de acesso, confor-to e eficiência energética. Procura-se que se (re)faça cidade promovendo quer a permanência de residentes e de ativida-des económicas quer a atração de novos residentes e atividades económicas.

O Centro Histórico do Porto foi con-siderado pela UNESCO Património Cultural da Humanidade em 1996. Esta classificação tem sido essencial na reabilitação?A classificação veio aumentar a respon-sabilidade de assegurar a reabilitação do CHP, que passou a constituir um bem de interesse mundial. Há maior exigência na intervenção decorrente das condicio-nantes ditadas por séculos de ocupação. Não há dúvida que esta classificação foi geradora de vetores de atração distin-tos. O turismo e as atividades associadas bem como as indústrias criativas têm-se

afirmado como importantes pilares da reabilitação do Centro Histórico.

É fundamental promover uma estra-tégia de reabilitação do Centro Histó-rico pouco assente no financiamento público? O investimento público é muito impor-tante, pelos sinais que transmite aos in-vestidores privados e pelo seu papel na requalificação do espaço e dos equipa-mentos públicos. Contudo a reabilitação dos edifícios é uma obrigação dos respe-tivos proprietários. A própria dimensão da tarefa com que nos defrontamos no Porto exclui qualquer modelo que se ba-seasse, por si só, em fundos públicos. Há certamente zonas onde a reabilitação do edificado se faz com fundos totalmente privados (quarteirões de Trindade Coe-lho e do Infante, por exemplo), mas nou-tras só a conjugação do investimento público com o privado viabiliza a execu-ção da operação de reabilitação. É o caso do Quarteirão das Cardosas no qual, por cada euro de investimento público líqui-do os privados investiram quinze euros.

De que forma é que a atual crise eco-nómica tem afetado o desenvolvi-mento de estratégias e mecanismos no domínio da reabilitação urbana do Centro Histórico? A situação económica e financeira do País não podia deixar de se repercutir na reabilitação urbana observando-se uma contração do investimento priva-do e uma menor dinâmica do mercado. Contudo, em 2012 nota-se um aumen-to de pedidos de licenciamento e um crescente interesse pela reabilitação de edifícios associados às atividades turísticas.

Quais são os principais desafios de futuro? Que mensagem gostaria dei-xar a todos os portuenses relativa-mente ao Dia Nacional dos Centros Históricos? Preservar o caráter único e os valores re-conhecidos pela UNESCO, é talvez o maior desafio. É um desafio de todos, privados e entidades públicas, e não só do poder político. Gostaria, por fim, de convidar todos(as) a visitar o CHP no próximo dia 23, usufruindo das inúmeras atividades oferecidas e aproveitando para conhecer, no local, o muito que tem sido feito em prol da reabilitação do Centro Histórico do Porto Património Mundial.

DIa naCIonal Dos CEntRos hIstóRICos – 28 DE maRçoREABILITAÇÃO URBANA

Gonçalo Mayan Gonçalves

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é um Programa que procura, em simul-tâneo, reabilitar edifícios degrada-dos, melhorar as condições de vida de uma população que se pretende manter no seu habitual local de re-sidência e chamar novas famílias e pessoas mais jovens a este território, assim refrescando a comunidade lo-

cal. Para além disto, a decisão de assumir esta ta-refa, decorre também de haver um conjunto, com expressão, de edifícios que foram propriedade do Município e da Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto, não antes intervencio-nados, causadores de constrangimentos na sua envolvente urbana direta, e destoando numa área classificada como património mundial pela UNES-CO em 1996. A Porto Vivo, SRU, dada a sua missão, adquiriu aquele património, tal como 9 outras par-celas privadas, 5 das quais através de um proces-so de permuta por frações futuras, criando assim numa oportunidade para alavancar uma mudança física e social no Morro da Sé.

Este Programa de Realojamento, a gerir no âm-bito de contratos de arrendamento, destina-se, primeiro, a famílias residentes no Morro da Sé que foram temporariamente deslocalizadas dada a integração noutros programas dos edifícios em mau estado que habitavam; destina-se ainda a ins-talar famílias que atualmente vivem em locais sem condições de habitabilidade; e destina-se, por fim, a disponibilizar ao mercado, fogos para a instala-ção de novas famílias que procuram o Morro da Sé como local de residência.Trata-se, ao todo, de reabilitar 32 edifícios que se integram em 10 Operações e geram 15 interven-ções, edifícios estes, muitos deles em estado de

ruína ou próximo disso, e que atingem um total de cerca de 8.770 m2. Do Programa resultarão 11 T0, 38 T1, 28 T2, 6 T3 e ainda 20 espaços comerciais, para colocar no mercado de arrendamento.Destas intervenções, 13 têm os seus projetos de execução já concluídos, estando em obra 5, e es-tando 4 outras para se iniciar. Quer isto dizer que no final de 2013 os primeiros fogos estarão dispo-níveis para alojar quer as famílias temporariamen-te desalojadas quer novos residentes.

A ambição do Programa de Realojamento não para nas importantíssimas razões da sua existência. Sur-ge também noutras dimensões, estas de cariz físico, mas sustentadas em perceções, conceitos e desejos a integrar na reabilitação urbana, na recuperação de edifícios e na revitalização de património.À partida destaca-se pelas opções seguidas em matéria de emparcelamento de prédios, assim se conseguindo majorar áreas habitáveis e minimizar custos de construção, por se evitar repetir caixas de escadas e equipamentos que cada empreendi-mento por si só teria de incluir.Por outro lado, assumem-se soluções de organiza-ção espacial mais arrojadas, à custa da definição de tipologias mais informais e menos convencio-nais, mas capazes de responder à vida de hoje; anexam-se edifícios com diferentes cotas de solei-ra e de pavimento, e geram-se lógicas de estrutu-ração funcional adaptadas a essas características de base e aos objetivos em vista; e assume-se um desenho contemporâneo, mas dialogante com a identidade do local, quer em termos morfológicos, quer na escolha de acabamentos e de métodos construtivos.

O Programa de Reabilitação Urbana do Morro da Sé, entre outras operações estruturantes em que se sustenta, aposta também na promoção de um Programa de Realojamento.

pRoGRama dE REaloJamEnto do moRRo da Sé

Por fim, quiçá ainda com maior relevância, enve-reda-se por caminhos que levam à eficiência ener-gética dos fogos, bem assim como a economias nos custos destinados ao seu conforto, assumindo-se o risco de alguma polémica que estas situações pos-sam fazer correr, face a um espírito mais conserva-dor de intervir em áreas como esta aqui em apreço. E neste contexto seguiu-se, escrupulosamente, as recomendações do Guia de Termos de Referência para o Desempenho Energético-Ambiental produ-zido em parceria com a Agência de Energia do Por-to, o Instituto da Construção, a Direção Regional de Cultura do Norte e a Porto Vivo, SRU, alcançando--se, em projeto, classificações energéticas de A e A+, com um sobrecusto reduzido, de cerca de 8%, no investimento realizado em cada intervenção. As soluções seguidas centram-se na utilização de rebocos térmicos quando não colidem com a mor-fologia das fachadas, ou por isolamentos interiores nos outros casos, sabendo-se, de antemão, ser esta uma alternativa menos eficaz. As coberturas ou as esteiras de teto, são isoladas por forma a melhorar o desempenho dos edifícios, designadamente dos fogos de último piso. Utilizam-se caixilharias com vidro duplo, com desenho mais contemporâneo sempre que possível, ou adaptando a sua mecânica quando tal, por razões de imagem, não é possível. E assume-se, deliberadamente, a utilização de painéis solares, naturalmente tendo os cuidados necessá-rios na sua visibilidade, seguindo-se aquilo que o Guia havido definido.

Este Programa de Realojamento do Morro da Sé, cujo investimento ultrapassa os M€ 7, tem como apoio à sua execução geral um financiamento do Banco Europeu de Investimento e uma comparti-cipação a fundo perdido do QREN naquilo que res-peita às opções e materiais utilizados em fachadas, vãos e coberturas, e vocacionados para a melhoria da eficiência energética.

PoRto vIvo, sRu

REABILITAÇÃO URBANA a oPiniÃo de...

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A sua origem remonta a 1962, em França. Mas, foi em pleno ano da Revolução de abril, que a Edenred, hoje líder mundial nos serviços pré-pagos para empresas, chegou a Portugal. Decorria o ano de 1974 e, por essa altura, já o sistema da titularização estava em voga em França. Dois anos mais tarde, a Edenred abandonou o mercado português, tendo regressado em 1984 em grande força, trazendo como principal solução o título de refeição Euroticket. Juntamente com o Cheque Creche e o Cheque Estudante, estes modelos têm contribuído para aproximar o trabalhador daquela que é, em muitos casos, a sua segunda casa.

EStado, EmpRESa E tRaBalhadoR:a BaSE do SIStEma dE títuloS

f oi pela voz de Rui Proença, Diretor Geral, que a Revista Pontos de Vista ficou a co-nhecer melhor aquela que é, atualmente, a estrutura líder, a nível mundial, nos serviços pré-pagos para empresas, está presente

em 40 países e conta com a dedicação e a paixão de cerca de 6000 colaborado-res. A filial em Portugal do grupo francês Edenred trouxe para o país o sistema da titularização, nascido em França no seio da Restauração. Nesse período, muito se falava das cantinas, do transporte priva-do que a empresa disponibilizava ao tra-balhador e de outras infraestruturas so-ciais dedicadas à concessão de benefícios para os trabalhadores e também para as suas famílias. Em contrapartida, existia um conjunto de empresas que não tinha capacidade para erguer essas estruturas mas tinha, igualmente, vontade de dispo-nibilizar esse tipo de benefícios. Nasce, assim, o conceito do título, explicado por Rui Proença. “O sistema de titularização de benefícios consiste em transferir de uma infraestrutura para um título de forma a permitir que o trabalhador e as empresas pudessem receber e entregar esse apoio social”. Para o Diretor Geral da Edenred, antes de se perceber a lógica do sistema, é crucial compreender o “racional”, que envolve três entidades: Estado, Empre-sa e Trabalhador. Qual foi o principal objetivo do Estado? “Entendeu que era importante dinamizar, no caso concreto da política laboral, uma política social ativa para a alimentação. Como tal, deu incentivos às empresas para que elas pusessem em prática essa política, con-cedendo um incentivo fiscal não só às cantinas como ao sistema de títulos”, de-clarou Rui Proença. Por que é que as em-presas aderem? “Porque existem certas componentes que giram à volta do mun-do do trabalho que são fundamentais para a produtividade laboral. As empre-sas têm vindo a integrar estas figuras de concessão de benefícios sociais e labo-rais aos trabalhadores porque têm um impacto direto no seu bem-estar”, de-fendeu. Para as empresas, este sistema não é encarado, de modo algum, como um programa assistencialista. É sim um programa de produtividade. E, por fim, por que é que o sistema é benéfico para a classe trabalhadora? “Além da clássica remuneração, com estes benefícios ex-

RuI PRoEnça, DIREtoR GERal Da EDEnRED PoRtuGal Em GRanDE PlanoCARTÃO REFEIÇÃO

trassalariais, o trabalhador tem acesso a mais poder de compra e aumenta a sua capacidade de aceder a determinadas áreas sociais materialmente relevantes na vida das famílias”, rematou o diretor geral. Este trinómio, no seu conjunto, valida o sistema de títulos.

“EM PORtUGAL,O SiStEMA EStá A

SER REVALORizADO”Apesar de ter sido o primeiro país, de-pois de França, a adotar o sistema de tí-tulos, Portugal foi o primeiro a abando-ná-lo. A expansão da Edenred na senda internacional começou, exatamente, em Portugal. No final dos anos 80, surgiu uma inovação que se equiparou à canti-na e ao título, nomeadamente a entrega em dinheiro. “Portugal decidiu que a entrega de subsídio de refeição em di-nheiro também estava isenta de carga fiscal”, relembrou Rui Proença. A partir daí, as empresas, os trabalhadores e as estruturas sindicais demitiram-se do sistema de títulos que sempre foi mais benéfico do que a entrega em dinheiro. “Segundo os dados de 2010, se um tra-balhador podia receber 7,26 euros por dia de subsídio de refeição em vale, em dinheiro recebia 6,41 euros”, explicou o responsável. Portugal é hoje o único país europeu que permite a entrega do sub-sídio de refeição em dinheiro isento de carga fiscal. Ao contrário dos exemplos que nos chegam de Espanha ou França, em que os trabalhadores e os sindica-tos fazem pressão junto das entidades competentes para reivindicarem o valor máximo do subsídio de refeição, em Por-

Revista Pontos de Vista- aos portugueses que ainda desconhecem este modelo ou que ainda estão céticos relati-vamente ao mesmo, que men-sagem lhe aprazaria deixar?Rui Proença – Façam uso do sis-tema que hoje existe. Por dia, existem 6,83 euros que os traba-lhadores podem pedir às empre-sas. Realço ainda o papel das es-truturas sindicais que ainda não deram sinais de estarem a apro-veitar esses 6,83 euros. Espero que o façam porque é benéfico para todos.

20

Rui proença

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Pontos de Vista Março 2013

tugal, tanto as empresas como os traba-lhadores, começaram a posicionar-se no sistema menos benéfico. Todavia, hoje o sistema de títulos voltou a ocupar o lugar que antes assumia e com mais veemência. Para que, tal como no passado, não corramos o risco de abandonar o modelo, a Edenred está a trabalhar ativamente para que, desta vez, sejam capazes de explicar à sociedade as vantagens “e o racional do sistema”, como tantas vezes nos relembra Rui Proença.

EStADO E EMPRESASCAMiNhAM LADO A LADO

Mostrando ser uma ferramenta es-sencial para estimular a economia, ao dinamizar, por exemplo, o setor da res-tauração, seria expectável que o Estado e as empresas caminhassem no mesmo sentido. O Governo optou por apertar na questão dos subsídios de alimentação, sendo que os valores pagos em dinhei-ro que ultrapassem os 4,27 euros estão sujeitos a IRS e Segurança Social. Já os valores pagos em vales de refeição ficam isentos de pagamento de IRS e Segu-rança Social desde que não excedam o limite legal em 60 por cento. As recentes alterações fiscais foram, para Rui Proen-ça, somente um alinhamento da prática da entrega destes subsídios com o que está em voga noutros países europeus. “O Estado não retirou a entrega em di-nheiro, apenas quis fomentar a entrega em título e, com isto, as empresas estão a redescobrir essa possibilidade, saben-do que consiste numa forma eficiente não só de aproveitar a isenção fiscal, como é também um modo inteligente de balancear o bem-estar social”, defendeu Rui Proença. O responsável deixou ain-da uma sugestão: “devemos pensar em dinamizar este benefício social noutras áreas, como acontece em Espanha e no Brasil, com os apoios à compra do passe social, ou no Brasil, com o recente vale cultura”.

OUtROS EXEMPLOSOs quadros de incentivo a este sistema não ficam apenas pela concessão de isenções fiscais, como no caso do subsí-dio de refeição. Vão mais além, tal como nos explicou Rui Proença. “Além de isen-ções fiscais, o sistema passa pela com-participação e pelo sistema exclusivo do salary sacrifice”, disse. O Diretor Geral da Edenred avançou, então, com alguns exemplos. “No caso da comparticipação,

o Estado autoriza uma política social ati-va para a empresa comparticipar o trans-porte do trabalhador. De forma a dinami-zar a utilização dos transportes públicos, o Estado diz, por exemplo, que, autoriza, anualmente, mil unidades monetárias, sendo 80 por cento financiado pela em-presa e 20 por cento pelo trabalhador”, explicou. O salary sacrifice é a etapa se-guinte do sistema de comparticipação. “No Reino Unido, o Childcare Voucher diz-nos que um trabalhador que tenha uma criança na creche, jardim de infân-cia ou similar, é autorizado a tirar parte do salário com limites anuais, não sendo cobrados impostos. Mas, em contraparti-

- o que é o euroticket?Trata-se de um título de refeição que visa promover uma correta alimentação dos trabalhadores durante o seu horário de trabalho. Isento de IRS e TSU, é aceite na generalidade dos restaurantes, supermercados e lojas alimentares. Está dispo-nível em cartão eletrónico e cheque.

- o que é o Cheque Creche?Possibilita às empresas a comparticipação nas despesas de educação dos filhos dos trabalhadores com menos de sete anos de idade. Disponível em e-voucher e cheque, pode ser utilizado em estabelecimentos públicos e privados (creches, jardins de infância e similares). Está isento de IRS e TSU e tem uma majoração de custo fiscal para a empresa de 40 por cento em sede de IRC.

- o que é o Cheque estudante?Permite que as empresas apoiem as despesas de educação e formação profissional dos trabalhadores e dos seus respe-tivos filhos. Pode ser usado em estabelecimentos públicos e privados (todos os níveis de ensino, formação profissional, aquisição de livros e material escolar). Disponível em cartão eletrónico e cheque, está isento de TSU.

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da, deverá titularizar-se para que a em-presa saiba que aquela parte do salário é, efetivamente, utilizada para esse fim”, exemplificou o responsável. Muito além dos evidentes benefícios fis-cais, o sistema de títulos é uma porta aberta para a inserção do trabalhador no seio da sua empresa ou num grupo, sendo ainda um mecanismo com provas dadas de fidelização do trabalhador em relação à sua entidade empregadora. Tendo em conta o atual contexto económico, “o conjunto de novas relações que se pode criar entre a empresa e o seu trabalhador tem um im-pacto direto no seu quotidiano e na vida da sua família”, concluiu Rui Proença.

O Estado não retirou a entrega em dinheiro, apenas quis fomentar a entrega em título e, com isto, as empresas estão a redescobrir essa possibilidade, sabendo que consiste numa forma eficiente não só de aproveitar a isenção fiscal, como é também um modo inteligente de balancear o bem-estar social

o sistema de titulari-zação de benefícios

consiste em transferir de uma infraestrutu-ra para um título de

forma a permitir que o trabalhador e as

empresas pudessem receber e entregar

esse apoio social

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No caminho da sustentabilidade e res-ponsabilidade económica, quais os benefícios trazidos pela correta gestão dos mesmos para o ambiente e saúde pública?Embora o setor do medicamento repre-sente menos de 0,5% dos Resíduos Sólidos Urbanos é de uma grande importância a existência de um sistema de recolha de embalagens vazias e medicamentos fora de uso. De facto, a especificidade do medica-mento aconselha e exige a existência de um processo de recolha seguro em contento-res devidamente identificados e invioláveis que estão colocados nas farmácias e, por isso, o projeto justifica-se em termos de saúde pública e ambiental. Foi consciente disso mesmo que a in-dústria farmacêutica criou há cerca de 12 anos a VALORMED, instituindo dessa forma um sistema autónomo e próprio para o setor do medicamento, fechando aquilo a que podemos denominar o “ciclo do medicamento”. Os cuidados especiais exigidos na manipulação dos medicamen-tos aconselham a que também os medica-mentos fora de uso e as respetivas emba-lagens vazias, tenham um sistema seguro de recolha. Graças a essa recolha seletiva, a VALORMED contribui também para o uso racional do medicamento ao impedir que aqueles produtos que foram prescritos para combater ou debelar uma doença e destinados a um determinado tratamento sejam utilizados posteriormente sem o ne-cessário controlo médico e sanitário.Embora desde a publicação da Diretiva 2004/27/CE os Estados Membros devem

estar vinculados à criação de sistemas de recolha e valorização de resíduos de em-balagens de medicamentos são apenas, para além da VALORMED, conhecidas duas outras sociedades gestoras de resí-duos de embalagens de medicamentos - Sigre e Cyclamed - respetivamente em Espanha e França. Faço notar, por fim, que desde 2007 o âmbito de intervenção da VALORMED foi alargado não só para os resíduos de em-balagens de medicamentos e produtos equiparados recolhidos em farmácias co-munitárias, mas também para resíduos de embalagens de medicamentos separados em farmácias hospitalares e resíduos de embalagens de medicamentos e produtos de uso veterinário, neste último caso, único em toda a Europa.

Que tipos de materiais podem ser en-tregues nas farmácias e qual o destino final destes resíduos?O sub-sistema das farmácias abrange re-síduos de embalagens e resíduos de pro-dutos fora de uso. Por resíduo de “produto fora de uso” entende-se o produto cujo prazo de validade ou de consumo se en-contra ultrapassado ou que, por qualquer outro motivo, já não deve ou deixou de ser consumido (por exemplo, por ter sido in-terrompida a medicação). De outro modo, a definição do produto embalado serve quer para delimitar os resíduos de emba-lagens abrangidos, quer para delimitar os resíduos de produtos admitidos para re-colha. Assim, estão abrangidos os produ-tos, sempre de consumo “doméstico”, “ur-

Em entrevista à Revista Pon-tos de Vista, o Diretor-Geral

da VALORMED falou sobre a importância de um sistema de recolha de medicamentos fora de uso no caminho da susten-tabilidade e responsabilidade social. Luís Figueiredo afirma

que a adesão por parte das farmácias é total e que a ação em escolas tem sido, também

ela facilitada, maioritariamente devido à intervenção das farmá-cias em campanhas de divulga-ção da atividade da VALORMED.

No entanto, lamenta a baixa receptividade das autarquias

ao projeto, condicionadas pelas dificuldades burocráticas rela-cionadas com a estrutura das empresas intermunicipais de

recolha de lixos.

ValoRmEd: um ImpoRtantE paSSono camInho da SuStEntaBIlIdadE

bano” ou “ambulatório”, os medicamentos de uso humano e outros produtos equipa-rados a medicamentos e medicamentos de uso veterinário.Ora, o sistema da VALORMED utiliza uma lógica de logística inversa pelo que, após terem sido seguidas as instruções do mé-dico ou farmacêutico na utilização de um determinado medicamento os utentes devem voltar e fazer a entrega na sua far-mácia da embalagem vazia adquirida e de todos os materiais que originalmente dela fizeram parte.

A sociedade civil, o Estado e o setor pri-vado estão cada vez mais unidos na de-fesa do ambiente e sensibilizados para a correta gestão dos medicamentos fora de uso? Como é que temos vindo a evo-luir neste parâmetro? Saliento que a VALORMED, tutelada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), é uma sociedade sem fins lucrativos e a sua ação para a gestão do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens de Medicamentos (SIGREM) envolve direta-mente o Estado, pois a sua atividade só é possível após a atribuição de uma licença que lhe é concedida pelos Ministérios da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Or-denamento do Território (MAMAOT) e da Economia e do Emprego (MEE). A VALORMED faz a recolha, depois sepa-ra de acordo com os materiais recolhidos encaminhandos-os para reciclagem, e os medicamentos fora de uso são incinerados de forma segura e respeitando o ambiente. No início não era assim e tudo era incine-

rado, facto que representa uma evolução muito significativa de todo este processo com evidentes vantagens e benefícios para o meio ambiente.Se repararmos nos aumentos sucessivos dos números anuais de recolhas, eles mostram a evolução constante da ativi-dade da VALORMED, e demonstram o envolvimento dos cidadãos e o empenho das diferentes entidades neste projecto de cariz ambiental.

Há já muitas farmácias a solicitar ações de sensibilização por parte da VALOR-MED?A experiência da indústria farmacêutica em matéria de produção, acondicionamen-to e embalagem de medicamentos, associa-da à logística operacional garantida pelosdistribuidores, é potenciada com a adesão da quase totalidade das farmácias existen-tes a nível nacional, que funcionam como locais de recolha de embalagens vazias e medicamentos fora de uso e de aconse-lhamento ao público da atividade e missão da VALORMED. E estamos a falar não ape-nas das farmácias existentes em Portugal Continental mas também as das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira onde, apesar das dificuldades inerentes à distân-cia e transportes utilizados, as recolhas funcionam naturalmente.As ações de sensibilização que têm vindo a ser feitas com grande empenho por par-te da classe farmacêutica e farmácias, sem qualquer tipo de retorno financeiro ou de outra natureza, ainda têm a iniciativa de transmitir a mensagem da VALORMED

luís fIGuEIREDo, DIREtoR-GERal Da valoRmED, Em EntREvIstaGESTÃO DE RESÍDUOS

EM PORTUGAL

22Luís Figueiredo

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Pontos de Vista Março 2013

por entre as diversas entidades ou insti-tuições, nomeadamente escola, das áreas geográficas onde se localizam. O trabalho de informação junto das populações rea-lizado pelos farmacêuticos e profissionais de saúde que trabalham nas mais de 2800 farmácias aderentes ao SIGREM – Siste-ma Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens de Medicamentos, tem sido muito importante e o alicerce principal de toda a ação da VALORMED.

Quais as campanhas que a VALORMED tem atualmente em vigor?Para além de uma presença e publicidade regular na imprensa escrita, rádio e tele-visão (concretamente, através de ações de softsponsorings, tele-promoções e patrocí-nio de programas, nomeadamente a novela de grande audiência Dancing Days que atu-almente passa com grande sucesso na esta-ção SIC), a VALORMED tem neste momento em curso em 169 escolas do ensino básico dos distritos de Lisboa e do Porto uma ação denominada Grande Corrida de Sacos. Esta ação tem envolvido de uma forma muito empenhada não apenas toda a comunida-de escolar (alunos, professores e encar-regados de educação e familiares destes) mas também, e como sempre, as farmácias envolventes a essas escolas.

Como tem sido a recetividade das au-tarquias a acolher as iniciativas da VA-LORMED, nomeadamente ao nível das escolas? As crianças são um importante público-alvo a atingir?

As crianças são o futuro, mas temos que distinguir claramente as escolas das autar-quias. Se com as escolas a nossa ação tem sido facilitada, muito pela intervenção das farmácias em campanhas de divulgação da atividade da VALORMED, a recetividade por parte das autarquias ao projeto ainda se situa a um nível que posso considerar baixo, em parte e muitas vezes devido às di-ficuldades burocráticas relacionadas com a estrutura das empresas intermunicipais de recolha de lixos que prestam serviço a uma ou mais autarquias e que, por isso, muitas vezes “dificultam” a atuação direta da VA-LORMED. Apesar das dificuldades, estão já instituídos protocolos de colaboração com inúmeras câmaras municipais e até algumas juntas de freguesia a nível nacio-nal, autorizando por exemplo a afixação de um autocolante de alerta nos contentores de recolha dos resíduos urbanos com a in-dicação de que aí não devem ser colocadas embalagens vazias e medicamentos fora de uso, havendo, contudo, um longo caminho a percorrer. Nesse sentido vamos procurar estabelecer um protocolo com a Associa-ção Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) tentando obter uma via que nos facilite o acesso a este importante meio de divulgação da nossa ação.

O que é que ainda pode e deve ser feito no sentido de melhorar a adesão da po-pulação a esta causa?Vai ser dada continuidade às campanhas de sensibilização do tipo das que temos desenvolvido e que referi anteriormente,

e outras ações, nomeadamente de rua, que de uma forma alegre e divertida possam fazer aumentar os conhecimentos dos ci-dadãos para os riscos de retenção em suas casas de medicamentos que já não utilizam ou se encontram fora de prazo. Contamos, como sempre, continuar a en-volver ativamente na sua divulgação os profissionais de saúde, nomeadamente os que trabalham nas farmácias, dando par-ticular destaque à necessidade de tornar-mos melhor o meio em que vivemos.

Quais os principais desafios e obstácu-los que a VALORMED enfrenta relati-vamente à mobilização da sociedade a esta causa?No momento atual de profunda crise eco-nómica e financeira que o País atravessa, a atenção e prioridades das pessoas estão desviadas para outros fatores. De facto, e em face da atual conjetura macroeconó-mica, o profundo impacto que provoca nos diferentes agentes económicos e sociais traduz-se numa significativa contração do consumo e numa maior racionalização do mesmo, resultado que maioritariamente advém da degradação do poder de com-pra por parte da população.Esta nova realidade afeta diretamente os objetivos de recolha previstos, quer no que concerne à aquisição de medicamen-tos e seu consumo, quer na predisposição e preocupação ambiental da população na separação das embalagens vazias de me-dicamentos e medicamentos fora de uso. Não menos importante será o fator de

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minimização do desperdício de medica-mentos, utilizando-o de uma forma mais racional e na maior adesão à terapêutica da parte dos doentes. Apesar de tudo os resultados têm sido os esperados e em linha com as nossas previsões de recolha, ainda que queremos e estamos sempre à espera de mais e melhores índices.

Quais as estratégias definidas pela VALORMED para os próximos tempos e quais as expectativas em relação às mesmas?Aumentar os níveis de recolha e obviamen-te o aumento das taxas de reciclagem dos materiais, mantendo os atuais pontos de recolha nas farmácias, que desde a primei-ra hora têm colaborado com a VALORMED, e consolidar o seu âmbito de ação a outros setores do medicamento, como sejam, as farmácias hospitalares e explorações vete-rinárias, aliás um sistema único a nível eu-ropeu, são os nossos principais objetivos.Vamos, ainda, continuar a procurar au-mentar as taxas de adesão ao SIGREM dos embaladores a operar em Portugal e a es-tabelecer e apoiar projetos de investigação e desenvolvimento de cariz ambiental, re-lacionados com o medicamento e sua ação no meio ambiente, privilegiando a ação da VALORMED na sua proteção.Finalmente, o estabelecimento de proto-colos de colaboração com as autarquias e/ou ANMP, é outra das prioridades da VALORMED.LER NA INTEGRA EMWWW.PONtOSDEViStA.Pt

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a ser concretizado, o contributo da reciclagem de embalagens para a economia nacional não pode ser posto de forma alguma em causa. A gestão de resíduos de embalagens deve continuar a potenciar uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, contribuindo para a redução dos impactes ambien-tais da extração de novos recursos e para a dispo-nibilidade de recursos essenciais às nossas econo-mias, criando, ao mesmo tempo, oportunidades de negócio, valor acrescentado e emprego.

a título de exemplo, a gestão dos re-síduos de embalagens no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SI-GRE) encontra-se entre os ramos de atividade com maior efeito multiplicador na economia. Por cada euro investido no mercado

nacional pelo SIGRE, são gerados 1,25 euros de va-lor acrescentado no resto da economia. Por outro lado, permite a redução de 116 mil toneladas de CO2 para a atmosfera e contribui para a criação de 2.400 postos de trabalho.Para que fosse possível chegar ao momento atual foi necessário percorrer um longo caminho. Até ao iní-cio dos anos 90, a generalidade das autarquias limi-tava-se a fazer a recolha do lixo urbano. Estava quase tudo por fazer na área dos resíduos sólidos urbanos. Para dar resposta a esta situação e aplicar efetiva-mente a responsabilização alargada do produtor aos resíduos de embalagens, os diversos agentes encetaram negociações, logo em 1996, no sentido de se encontrar uma plataforma de entendimento sobre a estratégia e o modelo de gestão mais efi-cazes para se alcançarem os objetivos da Diretiva Embalagens e, sobretudo, sobre a melhor forma de obter a adesão das populações.Apesar dos interesses por vezes antagónicos entre os diversos agentes, conseguiu-se um rápido consen-so para a criação da entidade que em Portugal viria a assumir a responsabilidade pela gestão dos resíduos de embalagens: a Sociedade Ponto Verde (SPV). O modelo implementado foi decisivo para que Portu-gal cumprisse as metas comunitárias, de valorização e de reciclagem de resíduos de embalagens a que se encontrava obrigado, quer em 2005, quer em 2011. O novo enquadramento que está a ser preparado para a gestão de embalagens deve assegurar que o País continuará a fazer mais e melhor.Para continuar a alcançar e superar os seus objeti-vos, o País necessita de uma população esclarecida e motivada no sentido de separar em casa e fora de casa os resíduos de embalagens. Atualmente, graças ao trabalho que tem sido desenvolvido, cerca de 70 por cento dos lares portugueses fazem reciclagem.Contudo, mais de 16 anos passados sobre a cria-ção da SPV, muito há ainda a fazer pela melhoria e eficiência do setor e ao nível da sensibilização dos portugueses. Esta consciência levou a Sociedade Ponto Verde a pedir voluntariamente ao Estado Português para estabelecer metas mais ambicio-sas de reciclagem para 2020. Mas como alcançar ainda melhores resultados? Há muito que a So-ciedade Ponto Verde acredita que o modelo ide-al para alcançar em Portugal elevadas metas de valorização e de reciclagem na área dos resíduos de embalagens, tendo em conta o atual enquadra-mento legal e nível tecnológico, deveria basear-se

num sistema integrado gerido por uma entidade gestora em estreita colaboração com os sistemas municipais com infraestruturas modernas e otimi-zadas para as quantidades potenciais de resídu-os a recolher. É convicção da SPV que o país tem condições para reciclar mais, sensibilizar melhor e tornar mais eficiente toda a cadeia de valor da re-ciclagem. Esse é o modelo que a SPV defende para os desafios que 2020 apresenta. Independentemente do modelo final que venha

Numa altura em que os temas relacionados com a crise e o desemprego dominam a atualidade, devemos olhar para os resíduos para que possamos reintroduzir valor na economia. A gestão de resíduos tem provado que se integra por excelência no conceito de economia verde e, como tal, pode desempenhar um papel fundamental na atual conjuntura.

QuE modElo dE REcIclaGEm paRa 2020?

luís vEIGa maRtIns, DIREtoR-GERal Da soCIEDaDE Ponto vERDE

GESTÃO DE RESÍDUOS EM PORTUGAL a oPiniÃo de...

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“Para continuar a alcançar e superar os seus objetivos, o País necessita de uma população esclarecida e motivada no sentido de separar em casa e fora de casa os resíduos de embalagens. atual-mente, graças ao trabalho que tem sido desenvolvido, cerca de 70

por cento dos lares portugueses fazem reciclagem”

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Apesar dos progressos que se verificaram, nos úl-timos anos, da investigação, em geral, em Portugal, verifica-se ainda uma discrepância importante entre a criação de conhecimento, a transferência de conhe-cimento e a sua tradução em valor económico. Esta realidade, é evidente no setor florestal, particular-mente ao nível da produção, sendo uma das princi-pais causas a insuficiente ligação entre a investigação pública e o setor privado, que urge inverter.Consciente desta situação e da importância que a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a ino-vação têm para o crescimento e aumento da compe-titividade da fileira florestal, esta matéria consistirá numa forte aposta da AIFF no curto prazo, onde se pretende, no âmbito de uma estratégia de eficiên-cia coletiva, articular as atividades das entidades do sistema científico e tecnológico nacional com as necessidades do setor privado, garantir uma rápi-da transferência do conhecimento para a atividade produtiva e assegurar a continuidade temporal do prosseguimento, com êxito, dos projetos de investi-gação. O curto prazo dos programas de apoio ao in-vestimento e dos ciclos políticos, não se compadece com as necessidades de investigação a longo prazo do setor florestal.Considerando que, a sustentabilidade económica do setor florestal necessita que se desenvolva uma cultura de gestão florestal inovadora, baseada na aplicação do conhecimento gerado pela investiga-ção, na aposta nos cuidados ambientais e sociais e na qualificação dos intervenientes na floresta, verifica--se que a implementação de sistemas de certificação de gestão florestal sustentável/responsável, poderá representar um forte contributo para assegurar que o aproveitamento dos recursos florestais, seja feito de forma a garantir no presente e no futuro as suas funções económicas, ecológicas e sociais.Considerando ainda, que a certificação florestal as-segura benefícios para a economia já que permite o acesso e garantia de mercado para os produtos florestais (promovendo a competitividade das filei-ras nos mercados internacionais), cria produto com mais valor, assegura maior eficiência na gestão flo-restal, aumenta a produtividade florestal, valoriza o trabalho florestal e assegura a sustentabilidade eco-nómica da atividade florestal a longo prazo, a AIFF tem também como objetivo promover o aumento da área florestal nacional certificada e do número de entidades certificadas no âmbito na cadeia de custó-dia/responsabilidadePor fim, importa ainda referir que é fundamental para o crescimento e desempenho do setor florestal, que a sociedade em geral tenha consciência da pro-funda relevância e riqueza que a floresta, nas suas múltiplas funções (económicas, sociais e ambien-tais) diretas e indiretas, representa para o país e não associar os espaços florestais apenas a incêndios e a zonas de lazer.

o país tem feito uma clara aposta nos PCT cujas respetivas entidades di-namizadoras encontram-se sob a tutela do Ministério da Economia e Emprego. Os Pólos e Clusters funcionam como plataformas cen-trais de inovação e competitivi-dade, pelo efeito de mobilização

integrada que os caracteriza, envolvendo empresas, universidades, centros de I&D e outros players rele-vantes das respetivas áreas. A importância reconhe-cida daquelas entidades, e do conceito que lhes está associado, para o crescimento e competitividade da economia na UE-27, é uma evidência clara nas novas agendas europeias do Horizonte 2020.A AIFF tem um âmbito de atuação nacional e a sua estrutura associada é extremamente diversificada o que torna a sua representação bastante adequada numa ótica de fileira. Fazem parte da estrutura as-sociada da AIFF empresas, organizações associativas empresariais, organizações associativas de produto-res, entidades do sistema científico e tecnológico e entidades do sistema de educação e formação,A ação do Pólo (AIFF) tem como missão contribuir para que Portugal se torne competitivo na investi-gação, conceção, desenvolvimento, fabrico e comer-cialização de produtos e serviços associados à Filei-ra Florestal em setores de mercado e de tecnologia selecionados, tendo como alvo os mais exigentes e relevantes mercados internacionais. O Pólo preten-de assim, apoiar os agentes da fileira no desenvolvi-mento da floresta portuguesa, na sua capacidade de produção de matéria-prima em quantidade e quali-dade suficientes e de forma sustentável.O setor florestal é um setor da maior importância para o país, ao nível dos três grandes pilares da sus-tentabilidade: económico, social e ambiental:• A nível económico, este setor caracteriza-se por ser fortemente exportador de bens transacionáveis, por contribuir de forma positiva na balança comercial do país atualmente as indústrias florestais já são líderes de mercado em alguns segmentos, e por apresentar um elevado VAN (valor acrescentado nacional). Nes-te âmbito e face à atual situação económica e social que se atravessa, o setor florestal representa um for-te contributo para a melhoria da economia nacional, podendo aumentar esse contributo, designadamen-te no processo de reindustrialização, considerado estratégico para o país.• A nível social, verifica-se que a fileira florestal, con-tribui de forma relevante para a criação de emprego, gerando milhares de postos de trabalho diretos e indiretos, salientando-se a particularidade da oferta de emprego gerada pela atividade associada a esta fileira, ocorrer nas zonas mais desfavorecidas, con-tribuindo para a fixação das populações nesses ter-ritórios.• A nível ambiental, o desempenho da floresta, e con-

sequentemente da fileira que lhe está associada, é muitís-simo importante. A floresta contribui de forma positiva para a mitigação das alterações cli-máticas (como su-midouro de CO2), para a melhoria da qualidade da água, para a conservação dos habitats e da biodiversidade, entre outros.Considerando os crescentes desafios económicos, ambientais e sociais, que a União Europeia enfrenta, é convicção da AIFF que o papel da fileira florestal, já de si bastante positivo, pode ser ainda mais relevante se houver uma articulação concertada dos objetivos e dos meios para os atingir, nomeadamente no que respeita à disponibilidade de matéria-prima nacio-nal que satisfaça as necessidades da indústria e as exigências do mercado.De facto, verifica-se que a performance do tecido in-dustrial das fileiras florestais representadas na AIFF tem levado a um aumento da procura de matéria-pri-ma, que não tem vindo a ser acompanhado, na mes-ma proporção, por um aumento da oferta, muito pelo contrário em alguns casos. Esta situação, representa, atualmente, uma das principais preocupações da Di-reção da AIFF, uma vez que se traduz, por um lado, na perda de competitividade da indústria nacional, num mercado global extremamente concorrencial e, por outro, num prejuízo para a economia portuguesa ao nível da balança comercial e do VAN em resultado do consequente aumento da importação.Neste âmbito, a AIFF encontra-se a concluir a elabo-ração de um Estudo Prospetivo, para as fileiras flo-restais que representa, no qual serão apresentadas um conjunto de políticas para o setor, a implementar no curto-médio prazo, no sentido de contribuir para o aumento, no médio-longo prazo da oferta de ma-téria-prima face à procura, expectável, da indústria num horizonte temporal de 30 anos.É sem dúvida, urgente inverter as atuais tendências, criando condições que atraiam capital para o se-tor, em particular para a produção (o investimento florestal, dadas as suas características de retorno a longo prazo e elevado risco associado, é pouco atra-tivo) promovam o aumento da produtividade dos povoamentos já instalados, contribuam para a exis-tência de novas áreas plantadas e reduzam o risco de incêndio e de ataques de pragas e/ou doenças dos espaços florestais, através do aumento da resiliência dos povoamentos.Um outro aspeto muitíssimo importante para a AIFF, e que também representa uma preocupação da dire-ção, é a Investigação no setor florestal.

A AIFF – Associação para a Competitividade das Indústrias da Fileira Florestal é a entidade dinamizadora do Pólo de Competitivi-dade e Tecnologia das Indústrias de Base Florestal, um dos 19 Pólos de Competitividade e Tecnologia (PCT) criados no nosso país em 2009, que representa pela primeira vez na história da indústria de base florestal portuguesa, os três principais sub-setores industriais tradicionais designadamente a Cortiça, a Madeira e a Pasta e Papel.

a fIlEIRa floREStal – uma apoSta dE futuRo

fRanCIsCa lIma, CooRDEnaDoRa téCnICa aIff - assoCIação PaRa a ComPEtItIvIDaDE Da InDústRIa Da fIlEIRa floREstal

DIA MUNDIAL DA ÁRVORE a oPiniÃo de...

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na atual conjuntura eco-nómica, não restam dúvidas de que o se-guro de crédito é uma ferramenta essencial de apoio à gestão das empresas, por permi-tir que as mesmas não

fiquem a perder nas situações de incum-primento de pagamento que têm vindo a proliferar. Desta forma, o risco de crédi-to é transferido para um segurador, que monitoriza continuamente a evolução da carteira de clientes do segurado, aler-tando atempadamente para um aumen-to do risco de incumprimento.Desde 2008, a sinistralidade, ou seja, a falta ou atraso nos pagamentos das ven-das a créditos por parte das empresas, tem assistido a um aumento contínuo. Nesta situação de agudização da de-gradação do risco das empresas, seria positivo que estas apostassem então neste tipo de cobertura, de modo a di-ferenciarem as oportunidades de cresci-mento das ameaças, da morosidade e do incumprimentos de pagamento, assim como, no caso de maior dificuldade de cobrança ou mesmo de insolvência, pu-dessem ter uma almofada que lhes per-mitisse minimizar as potenciais perdas.No entanto, lamentavelmente, esse não é, de todo, o cenário mais comum em Por-tugal. Como tal, o número de utilizadores tem vindo a encolher e, num universo de 300 mil PMEs, apenas 2400 empre-sas utilizam os seguros de créditos.Para Nuno Francisco, tal facto, reflete uma falta de resposta viável e precisa por parte das próprias seguradoras, capaz de fidelizar as empresas que já utilizam este serviço e de captar aquelas que ain-da não o fazem.Na CESCE, para enfren-tar esta situação, tem-se investido cada vez mais em soluções inovadoras, numa área tão comummente tradicional.

SERViçO GLObAL DE GEStãODO RiSCO DE CRéDitO

Tendo em conta que os negócios das empresas são cada vez mais exigentes e globais, surge também a necessidade de implementar novas fórmulas e serviços que se adaptem ao contexto atual e às necessidades das empresas e que pro-porcionem uma proteção mais comple-ta. “Desde logo sentimos necessidade de descolar da ideia de que uma segurado-ra de créditos vende seguros de crédito e ponto final e avançar para um conceito diferente, de prestação de serviços, ca-

paz de ajudar os nossos clientes a outros níveis”, refere Nuno Francisco.Inicia-se, assim, um novo ciclo de ofer-ta na CESCE, que pretende potenciar a utilização da melhor informação dispo-nível, das melhores técnicas de previsão e tecnologias existentes, oferecendo um produto mais ajustado às necessidades das empresas. Noutras palavras, incor-pora-se um conjunto de serviços que transforma o mero seguro num serviço global de gestão de risco de crédito e que apoia as empresas desde a procura de novos clientes e prospeção de novos mercados, até ao apoio na redução dos incobráveis e na cobrança contenciosa, passando pelas facilidades de acesso ao financiamento, sem esquecer o carácter indemnizatório inerente a um seguro de crédito.Neste sentido, “pretendemos aju-dar os nossos segurados na procura de novos clientes em Portugal ou de servi-ços que permitam encontrar esses novos parceiros no estrangeiro. Parceiros esses que sejam solventes e, nessa perspetiva, ajudamo-los também a conhecer as expe-riências de pagamento dos seus clientes no mercado. Dou um exemplo, enquanto empresa, é-me importante saber, não só, a que prazo o meu cliente me está a pagar, mas também, no mesmo mercado, quais

Num momento em que as dificuldades de tesouraria fazem parte do dia a dia de tantas empresas, fazer face ao risco de não recebimento das vendas a crédito de bens e serviços ganha claramente uma importância acrescida. Para isso, existem os seguros de crédito. No entan-to, estes ainda não são utilizados, em Portugal, tanto quanto seria desejável. Com o intuito de captar novos clientes e fidelizar aqueles que tem já em carteira, a CESCE tem vindo a apostar em ferramentas inovadoras, que vêm romper com o paradigma de que uma seguradora de créditos se limita a vender seguros de crédito. Ser um verdadeiro parceiro dos clientes é o objetivo do Grupo no momento atual. À Revista Pontos de Vista, Nuno Francisco, Diretor-Geral da espanhola CESCE em Portugal, explicou quais são estes novos produtos que prometem ter um forte impacto no mercado nacional.

cEScE dá InícIo a cIclo dE InoVação

os prazos que esse cliente está a praticar com os outros fornecedores. Isto conduz a uma política comercial e de concessão de crédito mais saudável para as empre-sas”, explica Nuno Francisco.

FiM DO PRiNCÍPiODA GLObALiDADE

Neste ciclo de inovação, a CESCE che-gou também a uma fase em que “já nos é possível romper com um princípio muito tradicionalista do seguro de cré-dito que é o princípio da globalidade. Ou seja, uma empresa que queira fazer uma cobertura apenas para uma parte dos seus clientes, no momento atual, não tem uma solução no mercado. As seguradoras ou aceitam a carteira toda de clientes, como forma de mitigar os riscos - incluindo os bons, os médios e os piores clientes - ou então simples-mente não aceitam porque não podem fazer escolha de riscos. Atualmente, todo o investimento que temos vindo a fazer em sistemas de análises de risco e de evolução em termos de conheci-mento dos clientes e devedores têm-nos vindo a conduzir para a capacidade de disponibilizar aos nossos segurados a possibilidade de escolher quais os clien-tes aos quais querem que nós façamos

cobertura. Esta é uma situação que vai permitir também ajustar os orçamen-tos dos clientes e o custo do seguro aos mesmos”, explica.De facto, o romper com este princípio é, cada vez mais, uma das grandes ten-dências do seguro de crédito moderno. Um exemplo recente aplicou-se em re-lação aos créditos concedidos a empre-sas gregas. Nas apólices tradicionais, as seguradoras optaram por excluir a possibilidade destes créditos estarem cobertos enquanto, nas apólices mais modernas, o risco do país foi medido e a possibilidade de manutenção dos riscos foi apresentada aos clientes, que podem, assim, decidir incluir ou não, no seguro, as vendas a crédito para a Grécia,. Esta última opção foi a escolha da CESCE. A tendência é, portanto, as seguradoras fazerem, a partir de agora, a sua análi-se para a globalidade dos clientes, mas virem a permitir aos segurados não in-cluir no seguro as vendas para os clien-tes em que discordem da avaliação de risco da seguradora ou até mesmo es-colher quais os clientes que pretendem segurar, de acordo com as condições que a seguradora aplica a cada um, como será possível dentro de pouco tempo na CESCE.

CEsCE PoRtuGal, Em DEstaquESETOR SEGURADOR

26 Nuno Francisco

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Pontos de Vista Março 2013

APOiO AO FiNANCiAMENtObANCáRiO

DE CURtO PRAzOUma vez que, um dos fatores que contri-bui decisivamente para o agravamento da atual situação económico-financeira das empresas, nomeadamente das pe-quenas e médias empresas, reside na crescente restrição que têm no acesso ao crédito bancário, outro dos serviços que a CESCE passará a disponibilizar será um sistema que permita os seus clientes aceder com maior facilidade ao financiamento bancário de curto prazo. Para Nuno Francisco, este é “um projeto que estamos agora a terminar, que será bastante interessante e terá um impacto forte em termos de mercado. Enquanto seguradora, não podemos ceder finan-ciamento porque a legislação inerente não o permite mas, nada nos impede de tentar facilitar o acesso ao crédito ban-cário, nomeadamente de curto prazo, aos nossos clientes. Como tal, estamos a investir em parcerias com alguns bancos e decidimos recorrer também a alguns investidores da esfera privada no sen-tido de criar um fundo de investimento que tem, exatamente, como objetivo, fi-nanciar as empresas que trabalham com a CESCE. De referir que as taxas serão muito mais competitivas do que aquilo que é hoje a taxa média de financiamen-to a uma empresa no nosso mercado”.Outra das grandes novidades da CESCE a curto prazo será dar aos seus clientes a possibilidade de terem nas suas apóli-ces um prazo de indemnização de 2 me-ses, o mais baixo do mercado.

OPERAçõES DE EXPORtAçãO

Nesta entrevista, Nuno Francisco referiu que, nos últimos dois anos, tem-se assis-tido a uma tendência crescente, por par-te dos clientes, no pedido de opiniões e limites de crédito para internaciona-lização. Naturalmente, com o mercado português visivelmente afetado pelos efeitos da conjuntura económico-finan-ceira, apostar noutros mercados é o ba-lão de oxigénio de muitas empresas que, de outra forma, não seriam capazes de sobreviver. Desta forma, os seguros de crédito para operações de exportação são aqueles que têm ganho mais peso na fatura das seguradoras.Os mercados privilegiados, de acordo com a experiência da CESCE são, a nível europeu, França e Alemanha, dado que, para além de serem países para os quais as nossas empresas conseguem expor-

tar com alguma facilidade, são também países convidativos pelo histórico de experiências positivas em termos de pagamentos e prazos, em que a sinis-tralidade é ainda muito reduzida, e os prazos de pagamento muito raramente ultrapassam os 30 dias. Fora da União Europeia, a América Latina, com par-ticular enfâse para o Brasil e o México, tem vindo a ganhar terreno no que toca ao investimento por parte das empresas nacionais.

COMPEtitiViDADEAGRESSiVA DO SEtOR

Em Portugal, é do conhecimento geral, que existe uma competitividade agressi-va, por parte das seguradoras, na ofer-ta de limites de crédito e preços muito reduzidos. Se a primeira pode eventu-almente ser positiva, a questão do pre-ço preocupa Nuno Francisco. “Aquilo que temos vindo a assistir nos últimos tempos é que, apesar do risco de crédi-to inerente às transacções comerciais aumentar todos os anos desde 2008, os preços dos seguros não são, hoje, superiores a 2008, em alguns casos são até inferiores. Na minha opinião, não existe uma guerra de preços mas, cer-

o Grupo CesCeConstituída em 1979, a CESCE foi criada por iniciativa do Estado Espanhol e das principais instituições financeiras do país com o objetivo de facilitar a in-ternacionalização das empresas e oferecer instrumentos ágeis e flexíveis que permitissem aceder aos mercados externos com cobertura dos riscos comer-ciais e políticos.No início dos anos 90, alargou a sua gama de produtos ao Seguro de Crédi-tos Interno e ao Seguro de Caução bem como, optando por uma política de expansão e diversificação, desenvolveu uma ampla rede comercial em todo o território espanhol e europeu e constituiu empresas afiliadas que fornecem produtos e serviços complementares ao seu negócio principal. Com resultado dessa política de expansão, abriu, no ano 2000, uma sucursal em França e, em 2003, a sua sucursal em Portugal.

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tamente, persiste uma forma de pensar nas seguradoras que tem de mudar. Os preços médios praticados não são sufi-cientes para assegurar uma rentabili-dade das seguradoras a médio prazo e a consequência desta politica não tem sido positiva e tem um impacto negati-vo em termos de mercado, provocando desconfiança nos clientes. Isto tem feito com que os resultados das seguradoras, nos últimos cinco anos, sejam muito instáveis. Não há uma política coerente nos preços e verifica-se uma tendência para que, assim que a situação melhora um pouco, se baixem imediatamente os valores praticados, mesmo com os risco de crédito a aumentar”, explica. O resul-tado não podia ser outro: uma forte que-bra dos resultados das seguradoras e o afastamento de muitas empresas deste produto.Ainda assim, o balanço desta década de atividade da CESCE, em Portugal, é, na ótica de Nuno Francisco, positivo, in-clusive para o Grupo em termos globais, por estimular o negócio ibérico e permi-tir uma partilha de informação a nível interno bastante benéfica. Quanto aos próximos dez anos, o nosso entrevista-do acredita que serão ainda melhores, como resultado de todo este investi-mento que tem vindo a ser feito.

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E O MUNDO DOS SEGUROS,MUDOU OU VAi MUDAR?

O nosso mercado continua a sua marcha aparen-temente inexorável de redução, e todos os dias somos confrontados com realidades tão aterrado-ras como o aumento dos veículos automóveis em circulação sem seguro; diminuiu o número de au-tomóveis, é certo, em valores que há uns escassos cinco anos pareciam impensáveis, mas a propor-ção perversa dos que circulam em incumprimento flagrante da lei e da mais elementar responsabili-dade humana agrava-se a cada dia.Também no seguro de acidentes de trabalho os nú-meros impressionam; e par da extinção de empre-sas e de postos de trabalho decorrentes do decrés-

cimo da nossa economia continuam a praticar-se em muitas seguradoras preços claramente abaixo de qualquer custo mínimo. Vivemos tempos que desafiam a lógica e o bom senso.

MAS há REALiDADESQUE NãO MUDAM

Os seguros continuam a ser um negócio de pesso-as, no qual a intervenção humana é o fator deci-sivo. Há pelo menos duas décadas que ouvimos o prenúncio do triunfo do canal de venda direto so-bre todos os outros, nas palavras dos profetas que traçam o curso do mundo nas páginas dos jornais. E há pelo menos duas décadas que as segurado-ras que privilegiam o canal de venda da mediação

Tudo muda, e tudo permanece o mesmo. Num ano que se perspetiva tão difícil e complexo, muito já mudou e muito vai ainda mudar. Estão a mudar os hábitos de consumo, desejavelmente no sentido de uma contenção muito necessária e em nome da necessidade imperiosa de cumprirmos os compromissos assumidos.

2013: o QuE muda?

profissional continuam a fazer negócio, a ter lucro, em alguns casos a crescer, e a proporcionar um serviço de qualidade alicerçado nas competências humanas e profissionais dos seus parceiros de ne-gócios, os Agentes de seguros.Tudo isto porque os seguros são a resposta às necessidades humanas de proteção perante os inúmeros riscos decorrentes da vida e da ativida-de económica e social; essa proteção vende-se e compra-se em nome da confiança. E essa confian-ça nasce das pessoas e para as pessoas.Por isso a Liberty Seguros continua e continuará a sua aposta no canal da Mediação profissional de seguros, nos Agentes a quem nos orgulhamos de chamar Parceiros de Negócio.São estas pessoas e as suas organizações que me-recem a confiança dos nossos clientes e a nossa; são estas pessoas que partilham os mesmos valo-res que nós. Quais são? Trabalho em Equipa, Ho-nestidade, Excelência, Compromisso, Rigor. Estas são palavras que se vivem todos os dias na prática profissional, desta forma:• Unimos e partilhamos esforços, competências e experiências, com vista a atingirmos um fim co-

tEREsa CaRvalho, DIREtoRa Do GabInEtE juRíDICo & ComPlIanCE lIbERty sEGuRos, s.a.

SETOR SEGURADOR a oPiniÃo de...

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“também no seguro de acidentes de trabalho os números impressio-nam; e par da extinção de empresas e de postos de trabalho decor-rentes do decréscimo da nossa economia continuam a praticar-se em muitas seguradoras preços claramente abaixo de qualquer cus-to mínimo. Vivemos tempos que desafiam a lógica e o bom senso”

Que esta reflexão nos possa ajudar a manter a serenidade em tempos de convulsão como os que vivemos, nunca perdendo de vista que está na mão dos profissionais e suas organizações abraçar a mudança que caracteriza a nossa época, mas sempre alicerçados nos valores e princípios – tão imutáveis na sua essência como dinâmicos na sua vivência - que nos devem reger

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renidade em tempos de convulsão como os que vivemos, nunca perdendo de vista que está na mão dos profissionais e suas organizações abra-çar a mudança que caracteriza a nossa época, mas sempre alicerçados nos valores e princípios – tão imutáveis na sua essência como dinâmicos na sua vivência - que nos devem reger.

mum em que todos contribuem e são necessários, pois “o todo é maior do que a soma das partes”. • Relacionamo-nos respeitando as diferenças in-dividuais, com integridade, de acordo com a ver-dade. Tratamos todos com dignidade e respeito, estabelecendo relações baseadas em confiança, franqueza e transparência. • Destacamo-nos pela excelência dos produtos e dos serviços prestados ao cliente, indo mais além, superando as expectativas de mercado pela procu-ra constante da otimização. • Cumprimos as nossas promessas em total ali-nhamento com os nossos princípios evidenciando espírito de entrega e sentido de responsabilidade perante colegas, acionistas, clientes e fornecedores. • Demonstramos credibilidade aos que nos ro-deiam, trabalhando de forma precisa, isenta e ob-jetiva.São estes os valores da Liberty Seguros, partilhados com os seus Parceiros de Negócio. E alicerçados na observância de padrões de ética e conduta profis-sional que são um património fundamental do gru-po Liberty Mutual Insurance em todo o mundo.Parafraseando um dos presidentes do nosso gru-po, afirmamos que o princípio fundamental que qualquer empresa tem de ser um compromisso sério de condução da sua atividade com o máxi-mo de honestidade e integridade. Só esta atitude garante a reputação e continuidade do sucesso das organizações, seja em que contexto for. E num contexto como o atual, essa atitude é ainda mais importante. Senão, vejamos: a austeridade atual, e que vai continuar (tem de continuar, e afirmar o contrário é prova de demagogia e de uma total irresponsabilidade, embora tais afirmações pro-liferem provindas de todos os setores da nossa sociedade), implica um maior cuidado e rigor dos clientes de seguros em relação aos produtos de detêm ou adquirem, e uma acrescida exigência em relação ao valor pago por esses produtos. Se as empresas seguradoras não se pautarem na sua atuação, sobretudo na conservação e gestão dos

interesses que lhes são confiados, com o maior ri-gor e integridade, muito dificilmente conseguirão estar à altura daquela exigência – justa e compre-ensível – dos seus clientes e de todos aqueles com quem mais se relacionam: beneficiários, terceiros, prestadores de serviços e fornecedores de bens.Isto porque a atividade seguradora tem um impacto fortíssimo na economia e na sociedade, seja por que prisma se analise. E do bom funcionamento dos seus players principais, seguradoras e agentes depende pois a situação económica e situal atual e futura.Com este panorama, e apesar da diversidade de abordagens possíveis, a estratégia e linhas de orientação das empresas seguradoras têm de se concentrar numa gestão rigorosa, na excelência de prestação de serviços e na maximização dos seus recursos, de forma a acompanhar a crescente exigência dos seus clientes. E não esquecendo os acionistas, que esperam resultados.Também em momentos de crise como o que vive-mos surgem novas necessidades e daí a possibili-dade de novos produtos, nomeadamente de pro-teção face a situações de desemprego, de seguros de saúde acessíveis que possam dar resposta à diminuição de prestações do Serviço Nacional de Saúde, e tantos mais que nos possam ocorrer.Trata-se da proteção dos valores da vida, como diz a nossa assinatura corporativa. É esse um dos nossos objetivos primordiais, também partilhados com os nossos Agentes, conhecedores das efetivas necessidades dos nossos comuns clientes e sem-pre atentos à forma de melhor as satisfazer.Por isso, continuamos empenhados no rumo que seguimos, com determinação e bons resultados, desde há alguns anos, e que nos tem permitido crescer com consistência e segurança. Privilegian-do a qualidade de serviço, a inovação de produtos, o rigor de gestão e o bom relacionamento com os nossos Clientes e Parceiros. Os seguros são um negócio de números? Sem dúvida, mas são as pes-soas que fazem esses números. E isso, não muda.Que esta reflexão nos possa ajudar a manter a se-

Os seguros continuam a ser um negócio de pessoas, no qual a intervenção humana é o fator decisivo. há pelo menos duas décadas que ouvimos o prenúncio do triunfo do canal de venda direto sobre todos os outros, nas palavras dos profetas que traçam o curso do mundo nas páginas dos jornais. E há pelo menos duas décadas que as seguradoras que privilegiam o canal de venda da mediação profissio-nal continuam a fazer negócio, a ter lucro, em alguns casos a crescer, e a proporcionar um serviço de qualidade alicerçado nas competências humanas e profissionais dos seus parceiros de negócios, os Agentes de seguros

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Pontos de Vista Março 2013

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Quando é que foi criada a AGROZOO-TEC e de que forma é que a mesma tem vindo a calcorrear um caminho que lhe permita alcançar o sucesso? Qual o balanço que é possível realizar?A Agrozootec, Lda foi criada em outubro de 2010, data das suas primeiras im-portações. O balanço tem sido bastante positivo, notando-se um crescimento substancial ao longo deste período.

Quais são as principais dificuldades com que se tem debatido a marca no sentido de singrar no mercado em que atua? Angola é um País que se encontra em crescimento e está numa fase da adapta-ção. Como qualquer País nesse estado de desenvolvimento existem vários proces-sos burocráticos que sofrem processos de alteração e adaptação, mas a empre-sa estava bem ciente dessas transfor-mações que podem originar obstáculos. Para além dessa situação burocrática, a falta de informação por parte do cliente final, também exige mais da nossa equi-pa, mas vemos tudo isso como uma fase de aprendizagem e crescimento.

Que género de produtos e serviços apresenta a AGROZOOTEC? Quais são as principais características da mar-ca no sentido de se firmar como um parceiro de confiança em relação aos seus clientes? A Agrozootec é a representante da Val-tra para o mercado angolano e de outras marcas a nível Internacional (Portugal, Itália e Brasil). Temos uma vasta gama de produtos para a agricultura, desde a preparação de solo, sementeira, colhei-ta, moagem, irrigação, sementes para pastagens, geradores e cerca de 10 por cento das nossas importações são em peças de substituição. Desta forma va-mos de encontro às necessidades do cliente final e evitamos prejuízos por máquinas ou alfaias paradas.

A internacionalização é fundamental para as marcas que assumem uma posição de relevo no seu mercado de origem. Neste âmbito, como tem sido o crescimento da marca além-fron-teiras? Em que mercados estão neste momento presentes?Neste momento estamos presentes uni-camente no mercado angolano e não temos intenções imediatas de expan-

são além-fronteiras. Estamos num País como uma grande dimensão, 14 vezes e meia Portugal, por isso temos imenso espaço para crescer.

Quais as razões que levaram à apos-ta no mercado Angolano? Neste mo-mento como está a ser realizada a expansão da marca em terras ango-lanas? Estão apenas centrados na capital Luanda? Existem perspetivas de alargamento para outros pontos do país? Se sim, quais e para quando? A empresa está sediada em Luanda e te-mos uma rede de distribuição em várias

Com um crescimento substancial e sustentado, a AGROZOOTEC tem vindo a percorrer um caminho assente em pilares essenciais para o seu desenvolvimento, sendo atualmente uma marca de prestígio, reconhecida pelos seus pares, no âmbito de soluções destinadas à agricultura. Fomos conhecer a AGROZOOTEC e conversámos com José Alexandre, Diretor Geral da marca, que nos deu a conhecer as po-tencialidades da mesma, bem como tem sido realizado o seu crescimento no mercado angolano que, como se sabe, apresenta um enorme potencial. Saiba mais.

“nunca pERdEmoS o noSSo foco:clIEntE SatISfEIto”

províncias e também pontos de venda próprios. Divulgamos a marca através de uma rede comercial, publicidade nos me-dia e presença em feiras por todo o País. Temos o compromisso com o País para fomentar o desenvolvimento da agrope-cuária, daí o enorme esforço de estarmos presentes junto do cliente e no terreno.

Qual é o nível de investimento da mar-ca ao nível infraestruturas em Luanda como oficinas, armazéns, show room, escritórios, entre outros? Que outros investimentos estão a ser previstos?Temos um investimento inicial a rondar

os 3 milhões de dólares americanos em infraestruturas, oficinas e show-room, mas chegamos a um ponto que temos necessidade de ampliar os nossos es-paços, por isso temos previsão de inau-gurar até ao final do corrente semestre as novas instalações, onde poderemos mostrar uma grande parte dos equipa-mentos disponíveis.

Sente que tem havido uma aposta forte por parte das entidades gover-namentais no âmbito do fomento da agropecuária? Sente que este fator é absolutamente vital para que a AGROZOOTEC consiga ser rentável? O que ainda falta para que essa aposta seja ainda mais consistente? A agricultura em Angola poderá ser um segundo petróleo, existindo condições e recursos naturais para que Angola seja uma referência. A agropecuária está como uma das grandes prioridades por parte das entidades governamentais e tem-se notado um grande esforço para alavancar este setor, facilmente reco-nhecido por facilidades de acesso ao crédito bancário, campanhas de forma-ção, divulgação e apoio à população, combatendo a fome e a pobreza. Este trabalho terá de ter continuidade e sob o ponto de vista de grandes explorações há necessidade de investimento sólido e presença de know-how, uma carência no mercado angolano.

A vossa atividade centra-se acima de tudo na vertente da maquinaria agrí-cola. Porquê a aposta neste setor? De futuro, será possível ver a AGROZOO-TEC em negócios complementares à maquinaria agrícola? Se sim, quais os setores que estão a ser perspetivados? A grande necessidade do mercado na altura da criação da empresa era ma-quinaria apropriada à realidade e acima de tudo existência de peças de substi-tuição. Sob forma a ultrapassar essas falhas, decidimos acrescentar valor com peças e serviço técnico. Foi cria-da uma estrutura com sustentabilida-de e experiência para não defraudar o cliente final, na esperança de haver re-conhecimento, que existe. Existem ver-tentes do negócio da agropecuária que pretendemos nos dedicar a curto prazo, tais como insumos agrícolas, produtos veterinários, sementes de hortícolas e agrodefensivos. Este projeto de alarga-

josé alExanDRE, DIREtoR GERal Da aGRozootEC, Em EntREvIstaINTERNACIONALIZAÇÃO

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A agricultura em Angola poderá ser um segundo pe-tróleo, existindo condições e recursos naturais para que Angola seja uma referência. A agropecuária está como uma das grandes prioridades por parte das entidades governamentais e tem-se notado um grande esforço para alavancar este setor, facilmen-te reconhecido por facilidades de acesso ao crédito bancário, campanhas de formação, divulgação e apoio à população, combatendo a fome e a pobreza

“josé Alexandre

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Pontos de Vista Março 2013

mento das soluções para o cliente está neste momento a ser desenvolvido e em breve será uma realidade.

De que forma tentam «não oferecer apenas máquinas, mas apresentar aos vossos clientes outras soluções»? De que forma é fundamental possuir esta polivalência e funcionalidade perante os vossos clientes? A filosofia é apresentar soluções atra-vés de acessórios e/ou serviços. Sem-pre tentamos fornecer o produto que o cliente precisa, conhecendo a realidade do mesmo e dar continuidade à venda, através de formação e apoio técnico. Esta polivalência é o segredo para o su-cesso dos clientes e consequentemente uma continuidade da relação comercial e parceria com os mesmos.

A AGROZOOTEC apresenta ainda ou-tra vantagem, pois consegue garantir aos empresários que possuem equi-pamentos imobilizados por falta de acessórios as respetivas peças. De que forma é fundamental possuir um stock vasto de peças acessórias? É um risco possuir um stock tão vasto? Tenho referido ao longo desta entrevis-ta no apoio pós-venda, que eu considero sem dúvida uma imagem desta marca e o segredo do reconhecimento. Não exis-te stock vasto para acessórios, dentro da razoabilidade claro, tem de existir é um cliente produtivo que não se pode dar ao luxo de ter os seus equipamentos para-dos e negócios rentáveis com os nossos parceiros. O sucesso dos nossos clientes é o nosso sucesso, por isso tal como eles, nós também temos de investir.

Estão neste momento a ser perspeti-vadas novas entradas em outros mer-cados? Se sim, quais? Para 2013? No momento apenas temos como obje-tivo o mercado angolano, mas no futuro e acompanhando o desenvolvimento do País, a entrada noutros mercados pode-rá ser uma realidade.

De que forma têm conseguido ultrapas-sar a crise económica que assola uma grande parte das economias mundiais?Estamos num País com crescimento po-sitivo e onde existem políticas definidas para incrementar o setor que nós traba-lhamos. Assim convivemos com a crise da melhor maneira e nunca perdemos o nosso foco: cliente satisfeito e rentável.

Neste momento, quais são os princi-pais desafios que se colocam à mar-ca? Quais as perspetivas de cresci-mento da mesma? Perspetivamos um crescimento que acom-panhará o crescimento do País, portanto um crescimento francamente positivo. Os desafios são os de sempre: irmos de encontro às necessidades do cliente final e continuar a acrescentar valor.

Escolher produtos da AGROZOOTEC é…?Qualidade, operacionalidade, garantia e rentabilidade.

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Estamos num país com crescimento positivo e onde existem políticas definidas para incrementar o setor que nós traba-lhamos. Assim convivemos com a crise da melhor maneira e nunca perdemos o nosso foco: cliente satisfeito e rentável

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O Colégio Vieira de Castro tem como tema aglutinador “Saber ser/ saber estar – consigo, com os colegas, com a comunidade educativa e com a socie-dade”. Tão importante como lecionar os conhecimentos que fazem parte dos programas escolares é formar cidadãos com princípios e capazes de se relacionar em sociedade?Sem dúvida alguma que a nossa maior preocupação é formar bons cidadãos. Acreditamos no desenvolvimento in-tegral dos nossos alunos, nas compo-nentes intelectual, social e afetiva. A transmissão de princípios e valores e a educação para a cidadania são dois dos pilares do nosso Projeto educativo. Tra-balhamos diariamente para preparar os nossos alunos para um futuro em cons-tante mudança, potenciando o desenvol-vimento das suas personalidades, tendo em conta o ritmo e a individualidade de cada um, com vista ao seu crescimento integral enquanto cidadãos ativos, com elevadas aspirações sociais e competên-cias cívicas.

Como caracteriza o projeto educativo do Colégio Vieira de Castro?O Projeto Educativo do Colégio Vieira de Castro assenta num modelo pluridimen-sional, que potencia o desenvolvimento integral das crianças e jovens que acom-panhamos. As suas finalidades passam pela promoção da construção autónoma da aprendizagem, pela educação para a cidadania, formação para o mercado de trabalho e transmissão de princípios e valores universais.Apostamos na inovação das práticas pe-dagógicas e na adequação das estraté-gias de ensino às características de cada aluno, explorando as suas motivações e interesses. Introduzimos atividades de enriquecimento curricular que façam de facto a diferença para o futuro das crianças e jovens. Incluímos os pais e educadores como parceiros no nosso projeto educativo, como uma extensão do mesmo até ao lar de cada aluno. Edu-camos para a cidadania promovendo e valorizando o respeito por si próprio, pelos outros, por regras e sensibilizan-do para o respeito pela diferença. Inclu-ímos ainda uma forte componente de

educação ambiental, participando em projetos, promovendo cursos de verão e semanalmente cultivando a nossa Horta Pedagógica. Transmitimos valores como a solidariedade, cooperação e responsa-bilidade social, pela participação ativa e colaborativa com instituições de solida-riedade social.No fundo, temos uma escola que não limita a sua ação à transmissão de sabe-res disciplinares mas que cria diferen-tes dimensões de aprendizagem, com o objetivo de tornar os nossos alunos em cidadãos ativos, responsáveis, comuni-cativos, com personalidade e capazes de intervir e tomar decisões autonoma-mente na construção do seu futuro.

O Colégio Vieira de Castro baseia os seus métodos no ensino tradicional ou procura encontrar formas de en-sino e de contacto com os alunos di-ferentes, ajustando-o à própria evo-lução da sociedade e aos avanços a nível tecnológico? De que forma?A busca pela inovação pedagógica é constante e o Colégio acompanha os avanços tecnológicos ao dispor do en-sino, atualizando os seus equipamentos

Formar bons cidadãos é o principal objetivo do Colégio Vieira de Castro cujo lema é “Saber ser/ saber estar – consigo, com os colegas, com a comunidade educativa e com a sociedade”. Em termos curriculares, destaque para a aposta na inovação das práticas pedagógicas e na adequação das estratégias de ensino às características de cada aluno, explorando sempre as suas motivações e interesses. Porque o investimento em formação profissional e aprendizagem ao longo da vida é de extrema importância, o colégio conta também com uma unidade de formação financiada que disponibiliza cursos de educação e formação (CEF) para conclusão do 9º ano de escolaridade e for-mações modulares certificadas (FMC) destinadas a adultos. Fique a conhecer esta instituição de referência na cidade do Porto, com mais de 72 anos de história ao serviço da Educação, através da entrevista que se segue ao Diretor Executivo, Carlos Viana.

“a BuSca pEla InoVação pEdaGóGIca dEVE SER conStantE”

e fornecendo aos docentes ferramentas que transformam cada aula num pro-cesso dinâmico e interessante para os jovens. A geração atual vive e convive com a tecnologia de uma forma muito natural e vêem-na e utilizam-na como um recurso diário. Se a escola não tiver a capacidade de os acompanhar neste processo, perderá certamente o seu in-teresse. A utilização dos quadros intera-tivos diariamente, de recursos didáticos on-line, de aulas assistidas por compu-tador e a introdução das tecnologias de informação logo a partir do pré-escolar, são alguns exemplos da nossa utilização das tecnologias ao serviço da pedagogia. No entanto, gostamos de estar um passo à frente e disponibilizamos cursos gra-tuitos aos nossos alunos nas interrup-ções letivas, ensinando-os a tirar maior partido das tecnologias e a usá-las de forma consciente e responsável. Estes cursos vão desde a utilização de ferra-mentas de produtividade office, à foto-grafia digital, cinema digital, internet, entre outros.O recurso às tecnologias não é a única fonte de inovação pedagógica: uma di-versidade de atividades complementares

e enriquecedoras do currículo oficial do 1.º ciclo, a oferta de apoio ao estudo nos 2.º e 3.º ciclos, clubes de promoção da Leitura, do interesse pela Ciência e pela Atividade Física e Desporto. Um corpo docente estável, experiente, dedicado aos alunos, motivado e extremamente competente, trabalha o nosso projeto educativo dando-lhe a consistência e qualidade, reconhecida pelos nossos alu-nos e encarregados de educação.

O Colégio Vieira de Castro tem tam-bém alguns cursos de formação finan-ciada. A procura deste tipo de forma-ções é cada vez mais elevada? Quais os cursos que têm mais procura?O Colégio Vieira de Castro conta com uma Unidade de Formação Financiada que disponibiliza cursos de educação e formação (CEF) para conclusão do 9.º ano de escolaridade e formações mo-dulares certificadas (FMC) destinadas a adultos. A procura por estes últimos é sempre grande, pois é uma oportuni-dade para os cidadãos adquirirem ou melhorarem competências através da frequência em cursos de curta dura-ção, com uma oferta muito abrangente

EntREvIsta a CaRlos vIana, DIREtoR ExECutIvo Do ColéGIo vIEIRa DE CastRoEDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

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Neste momento o Colégio Vieira de Castro está em contraciclo relativamente à recessão que afeta o país e verificou um aumento do número de alunos face ao ano letivo passado

“Carlos Viana

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e conteúdos valorosos para qualquer curriculum. Nestes cursos, as áreas que apresentam maior procura atualmente são o apoio a crianças e jovens, anima-ção sociocultural e principalmente as línguas estrangeiras.

Qual a sua opinião acerca do investi-mento na formação profissional em Portugal? Este tipo de ensino é, no seu entender, uma boa alternativa para os alunos que não pretendam seguir para o ensino superior?O investimento em formação profis-sional e na aprendizagem ao longo da vida é de extrema importância para o crescimento do país. Portugal tem dé-fice de técnicos especializados com ha-bilitações intermédias e neste contexto a formação profissional adquire um pa-pel preponderante, como alternativa ao ensino superior. Para além do forte in-vestimento do estado em financiamento de formação para aumentar o nível de escolaridade do país, assiste-se a outro movimento de profissionais que inves-tem em formação e especialização técni-ca, recorrendo a fundos próprios. É uma

perspetiva inteligente por parte desses profissionais que ganham assim vanta-gem competitiva relativamente a outros profissionais que se deixam estagnar.

De que forma a crise económico--financeira tem sido sentida no Colé-gio Vieira de Castro? Sendo o mesmo uma entidade de ensino privada, o número de inscrições tem vindo a di-minuir? Sente uma maior dificuldade no pagamento das mensalidades por parte dos educadores ou mesmo um abandono do ensino privado por par-te de alguns alunos por se tornar in-sustentável no orçamento familiar?Neste momento o Colégio Vieira de Cas-tro está em contraciclo relativamente à recessão que afeta o país e verificou um aumento do número de alunos face ao ano letivo passado. Fizemos natural-mente, alguns ajustes no nosso modelo de gestão de forma a que o projeto con-tinue a crescer de uma forma sustenta-da e para precaver situações futuras, no entanto, ainda não verificamos aban-donos motivados pela perda de poder de compra das famílias, o que é franca-

mente positivo, tendo em conta a atual conjuntura.

Nota uma preocupação crescente por parte dos pais em oferecer o melhor ensino possível aos seus filhos? A educação está cada vez mais no cen-tro das famílias?É de facto uma preocupação por parte de quem nos procura, oferecer aos seus filhos o melhor ensino possível. Mas para além de uma educação de qualidade, os pais procuram um local onde os filhos possam crescer com maior acompanha-mento escolar, com segurança, com ser-

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viços integrados que proporcionem um desenvolvimento integral, com um am-biente familiar e carinhoso que os faça sentir felizes por vir para a escola. São as-petos que o ensino privado disponibiliza e que o Colégio Vieira de Castro assume como os seus pontos fortes.

Quais os objetivos e estratégias do Colégio Vieira de Castro para os pró-ximos tempos?Continuar a crescer de forma sustentada, mantendo a qualidade destes 72 anos de história, mas procurando sempre a me-lhoria contínua e a inovação.

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Este ano, o CINFU completa 32 anos. Que balanço faz destas três décadas e de que forma se tem afirmado na va-lorização do setor de fundição?O CINFU iniciou a sua atividade com a missão de valorizar o setor de fundição, nomeadamente através da formação pro-fissional dos seus recursos humanos. Ao longo destes quase 32 anos muitas têm sido as mudanças nas respostas que po-dem ser proporcionadas, quer seja aos ativos do setor, quer seja aos que nele pretendem ingressar, jovens ou desem-pregados que encarem uma reconversão das suas qualificações para a área da fundição ou afins. Acresce o facto de ser a única instituição no país que promove formação não superior na área da fundi-ção, tendo um conjunto de oficinas e la-boratórios que permitem uma formação compatível com os requisitos das empre-sas onde se pretende integrar os forman-dos no final da sua qualificação.Nestas últimas 3 décadas o CINFU tem sabido responder aos desafios que se lhe têm vindo a colocar, adaptando o enquadramento legal vigente àquilo que são as necessidades dos formandos e das empresas. Assim pretendemos con-tinuar.

Como avalia a evolução do setor de fundição ao longo deste trinta anos e quais os principais desafios que atu-almente se colocam?Tecnologicamente o setor evoluiu mui-tíssimo, temos empresas que fabricam para clientes de elevada exigência em termos de qualidade, como é o caso do setor automóvel, ferroviário, máquinas--ferramenta, etc.Mas não só a evolução tecnológica me-rece relevância, as melhorias ao nível da resposta às exigências dos clientes no cumprimento de prazos de entrega, no desenvolvimento do produto, nas

condições de segurança do trabalho ou ambientais, em suma, a evolução para um setor altamente competitivo a nível global, é uma realidade absoluta, que só peca por não ter conseguido passar para a sociedade essa imagem, traduzi-da na deficiente apetência para cativar jovens para este tipo de indústria. É nes-sa batalha, também, que o CINFU está diariamente envolvido, constituindo um dos seus principais desafios, dignificar a formação profissional dirigida ao setor.

A oferta formativa do Centro tem evo-luído de acordo com os desafios que se têm vindo a impor ao setor?O CINFU promove uma oferta formativa de longa duração, no âmbito do sistema de aprendizagem (dual) destinado a jovens que pretendam terminar o nível secundário de ensino, concomitante-mente com uma qualificação profissio-nal, e ingressar no setor e no âmbito dos cursos de educação e formação de adultos (EFA), em que promovemos os cursos de Técnico de Programação e Ma-quinação CNC, de CAD/CAM, de Projeto

O CINFU – Centro de Formação Profissional da Indústria de Fundição foi criado em 1981 através de um protocolo assinado entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Associação Portuguesa de Fundição (APF). O objetivo do centro é, desde o início, valorizar o setor da fundição, nomeadamente através da formação profissional dos seus ativos e daqueles que nele pretendam integrar. Helena Oliveira, Diretora do Centro, em entrevista à Revista Pontos de Vista, explica de que forma se têm empenhado nessa missão ao longo de 32 anos, respondendo aos desafios crescentes que têm surgido e adaptando o próprio enquadramento legal àquilo que são as necessidades dos formandos e das empresas.

ValoRIzaR o SEtoR da fundIçãoatRaVéS da foRmação

de Moldes e Modelos, de Laboratório ou de Segurança no Trabalho ou, ainda, os cursos de Operador de Fundição ou de Fundição Injetada, para adultos que pretendam completar o nível básico de ensino e uma qualificação profissional. Para além desta oferta de longa dura-ção, o Centro promove, também, uma diversificada oferta destinada a ativos das empresas, não só nas áreas técnicas e tecnológicas, mas também em áreas transversais como a qualidade, o am-biente, a segurança no trabalho, passan-do pela gestão, informática, línguas, até à área comportamental. Esta formação é na sua esmagadora maioria levada a cabo nas empresas, com formadores de reconhecida competência previamente aprovados por elas.

Adaptar os projetos educativos à rea-lidade do mercado de trabalho é um dos grandes desafios. O que é que o CINFU tem feito no sentido de se adaptar a essa realidade?A formação profissional faz sentido se a aplicabilidade das aprendizagens dos for-mandos, sejam eles colaboradores atuais da empresa ou novos colaboradores, re-sultar em proveito para a eficiência dos processos e para a competitividade global da empresa. A experiência do CINFU na formação dos ativos em estreita articu-lação com as empresas e com as necessi-dades demonstradas e, por outro lado, a permanente atualização de equipamentos e de formadores são a chave do sucesso.

Se uma empresa recorre ao CINFU com

o objetivo de melhorar a formação dos seus colaboradores, o CINFU propõe--se desenvolver cursos elaborados à medida das suas necessidades?

O CINFU é reconhecido junto dos seus clientes pela flexibilidade e pela quali-dade dos projetos formativos que lhes proporciona. É determinante, por um lado, o conhecimento do contexto legal em que a formação profissional pode ser colocada ao serviço do desenvolvi-mento das empresas e, por outro lado, um sólido conhecimento do setor e dos conteúdos formativos de que elas neces-sitam. Nesse sentido, o CINFU oferece às empresas a gestão do seu plano de for-mação interno, nomeadamente através da gestão de todo o processo de candi-datura e execução de projetos formati-vos financiados pelo POPH.

Que tipo de serviços o CINFU disponi-biliza nos seus laboratórios?Para além da formação profissional, o CINFU disponibiliza um vasto leque de serviços, desde a promoção do desen-volvimento de novos processos ou no-vos materiais até ensaios laboratoriais, muitos deles acreditados, que incluem as análises químicas ou metalográficas, ensaios mecânicos, ensaios de corrosão, ensaios não-destrutivos, avaliação das condições de exposição dos trabalha-dores em matéria de segurança no tra-balho ou a determinação das emissões gasosas de chaminés industriais. São igualmente desenvolvidos, em parceria com os clientes, ensaios à medida de ne-cessidades específicas.

Quais os objetivos e expectativas do CINFU para 2013?Para além da resposta às necessidades de formação dos ativos das empresas que o CINFU sempre privilegia, o grande desafio coloca-se ao nível do desenvolvi-mento dos cursos no âmbito do já refe-rido sistema de aprendizagem, objetivo de política do ministério da economia e do emprego, estando a efetivar todos os esforços para cativar jovens que farão um percurso que conjuga a formação no Centro com a prática em contexto de trabalho na empresa ao longo de cerca de dois anos e meio. Pretende-se, desta forma, uma preparação preferencial dos jovens para um ingresso rápido e quali-ficado no mercado de trabalho.

EntREvIsta a hElEna olIvEIRa, DIREtoRa Do CInfuEDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

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Acresce o facto de ser a única instituição no país que promove formação não superior na área da fundição, tendo um con-junto de oficinas e laboratórios que permitem uma formação compatível com os requisitos das empresas onde se pretende integrar os formandos no final da sua qualificação”

helena Oliveira

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Existem várias ferramentas de forma-ção em e-learning, mas na sua grande maioria não estão acompanhadas de uma metodologia de ensino diferente e adaptada. Não se pode considerar a simples transposição dos conteúdos e know-how já adquiridos na formação presencial para os meios eletrónicos,

como o ponto central deste tipo de formação. O ob-jetivo deverá ser a estruturação da aprendizagem tendo por base as valências da era digital, utilizan-do pedagogias ativas e colaborativas em ambientes online, e paralelamente oferecer uma interativi-dade fácil, com conteúdos apelativos e facilmente acessíveis, permitindo uma aprendizagem flexível em termos de tempo e conteúdo.A Master.D aplica na sua metodologia o melhor de dois mundos, utilizando um modelo de b-lear-ning. Este combina a formação presencial com o e-learning. Esta metodologia distingue-se por ser personalizada, ou seja, cada formando tem o seu plano de estudos, de acordo com as suas necessi-dades individuais. Com esta metodologia disponi-bilizamos um conjunto diversificado de horários e conteúdos, tendo como objetivo respeitar o ritmo de trabalho de cada formando e satisfazer todas as suas necessidades. De acordo com a necessidade e disponibilidade de cada aluno é definido o modelo presencial onde se destaca um sistema de acom-panhamento pedagógico e orientador.Os pontos fortes do b-learning, por estar associa-do à cultura digital, são a fácil interatividade, a rapidez de partilha e troca de informação, flexibili-dade e fácil acesso a conteúdos, o ritmo personali-zado e a flexibilidade de horários, conjugados com um acompanhamento presencial personalizado e realmente adequado a cada um dos utilizadores.Uma das preocupações constantes da Master.D é o da aplicabilidade profissional das formações que disponibiliza. Procuramos ter uma oferta formativa representativa das necessidades e da realidade do mercado laboral atual de modo a ter em portefólio formações de futuro e com alta empregabilidade. Associamos esta visão a todos os nossos cursos de formação profissional, e como consequência a atualização constante dos conteúdos formativos impera como necessidade e garantia da qualidade dos mesmos, fazendo chegar os mesmos aos nossos formandos através do nosso Campus Virtual.O mercado laboral apresenta uma grande lacuna nas áreas técnicas e em formações profissionali-zantes, é exatamente nestas áreas que procuramos posicionarmo-nos, ministrando ações de forma-ção dirigidas a perfis mais operacionais, em linhas de desenvolvimento de vanguarda e antecipando--nos às necessidades de mercado.Na Master.D complementamos a formação com um treino ativo de procura de emprego (TAPE), onde trabalhamos com cada formando o seu cur-

riculum, postura em contexto de procura de em-prego, entrevista de seleção entre outros aspetos importantes e relevantes no processo de busca de um lugar para trabalhar. Trabalhamos com várias empresa parceiras que nos permitem oferecer aos nossos formandos lo-

A sociedade contemporânea é caracterizada por mudanças rápidas no que respeita a conhecimentos e conceitos técnicos, tecno-lógicos, comunicacionais e organizacionais, por isso exige uma atualização profissional que a acompanhe e que vá ao encontro das necessidades do mercado de trabalho. Dentro desta evolução cresce a necessidade de uma atualização de conhecimentos efetiva num curto espaço de tempo. O ensino personalizado (e-learning) surge como um sistema de formação alternativo e contínuo de forma a dar uma resposta que privilegie a qualidade e a validação da aprendizagem, ajustada à disponibilidade e à inovação da era em que vivemos e acima de tudo capaz de responder às necessidades do mercado laboral.

a foRmação é uma Solução

cais de estágio e uma bolsa de emprego, em cons-tante evolução, acreditando que aumento a rede de contactos com várias entidades e organismos, e o facto de os formandos poderem estagiar e conhecer o dia a dia laboral, é um fator importante no aumen-to do capital humano, sendo uma experiência a va-lorar em futuras oportunidades de emprego.Trabalhamos com cada formando os seus obje-tivos, para que lhes possamos ajudar a mudar as suas vidas. O nosso êxito está na personalização do serviço, desde o momento do pedido de informa-ção, até à colocação no mercado laboral. Estamos a conseguir fazer face à crise económica instalada ajudando a aumentar as competências dos nossos formandos, e fazemos todos os dias o nosso traba-lho a acreditar que a formação é uma solução.

mastER.D PoRtuGal

FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO a oPiniÃo de...

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A Les Roches International School prepara o aluno para exercer uma carreira internacional. Hoje em dia, e dada a conjuntura atual, quais são as principais barreiras a ultrapassar nessa “afirmação profissional além fronteiras”?Cada vez mais, o sector vem à procura dos profissionais mais qualificados para o bom funcionamento das suas empre-sas. O gestor hoteleiro do século XXI tem de ter uma visão mais alargada do sector, estando habilitado para desen-volver e gerir empresas relacionadas com uma Unidade Hoteleira, mas não apenas. Hoje em dia um gestor tem que ter mais capacidade de liderança, versa-tilidade, mobilidade geográfica e espíri-to de globalização. Nas escolas Laureate pedimos cada vez mais que o perfil dos alunos seja muito “open mind”, que te-nham capacidade de integração em am-bientes internacionais e multiculturais, e que escolham escolas e programas de estudos que lhes sirvam de ferramenta para trabalharem em qualquer parte do mundo. O modelo de gestão pode ser aplicado numa variedade de empresas, relacio-nadas com o turismo e o sector dos ser-viços. Os nossos Cursos de Hospitality Management convertem os nossos alu-nos em profissionais muito solicitados por empresas da Banca Internacional, Good Luxury (Marcas de Luxo) ou Even-tos, por citar alguns exemplos. A Les Roches International School fundamenta o seu trabalho num obje-tivo: formar profissionais que sigam um caminho de sucesso. O que é que o mercado de trabalho português atual “oferece” aos vossos diplomados?A Les Roches tradicionalmente, prepara profissionais para a Indústria Hotelei-ra Internacional. Atualmente, há muita procura para determinadas regiões do Mundo, com um crescimento muito su-perior a outras. Por exemplo, em países asiáticos e alguns do médio oriente a percentagem de crescimento está nou-tra dimensão comparada com a Europa. Atualmente, um em cada 12 trabalhos no Mundo estão nesta Indústria, ou seja, quase 300 milhões de pessoas. Curiosa-mente, e apesar da crise em Países como Portugal, Itália e Espanha, o Turismo continua a ser o sector com maior taxa de Investimento. Muitos grupos conso-lidados continuam a investir em novos projetos, e pequenos e novos empresá-

rios em projetos mais personalizados e inovadores. As previsões atuais que o Turismo pode ser uma Tábua de Sal-vação para a nossa situação económica, durante os próximos anos. Segundo o último relatório do “World Travel and Tourism Council”, durante os próximos dez anos, o segmento de viagens e tu-rismo deverá crescer a um ritmo anual de 4 por cento, sendo por isso uma área com cada vez mais futuro e consequente empregabilidade.

Num país “dominado” por preocu-pantes taxas de desemprego jovem, qual é, atualmente, a vossa taxa de empregabilidade? As empresas têm demonstrado interesse em recrutar diretamente nas instalações?A nossa taxa de empregabilidade ronda os 100 por cento porque as principais cadeias hoteleiras reconhecem a exce-lência das nossas escolas e vêm direta-mente às nossas instalações contratar todos os semestres. Mais de 15 cadeias hoteleiras e estabelecimentos hotelei-ros e turísticos nacionais e internacio-nais visitam a escola para apresentar as suas empresas e entrevistar os nossos alunos, de modo a selecioná-los para os estágios profissionais. Ano após ano, estas empresas contratam diplomados pela Les Roches Marbella. Entre elas, podemos encontrar: Four Seasons, Hil-

Liderança, versatilidade, mobilidade geográfica e espírito de globalização. São estas as caraterísticas indispensáveis à afirmação de um bom gestor. Apesar da crise, o sector da hotelaria continua a “dar cartas” e, segundo o último relatório do "World Travel and Tourism Cou-ncil", durante os próximos dez anos, o segmento de viagens e turismo deverá crescer a um ritmo anual de quatro por cento. A Les Roches, que conta hoje com filiais nos quatro cantos do Mundo, está preparada para essa expansão.

“a lES RochES pREpaRa pRofISSIonaISpaRa a IndúStRIa hotElEIRa IntERnacIonal”

ton International, Holiday Inn, Hyatt, Intercontinental, Mandarin Oriental, Marriot Internernational, Radisson SAS International, Rezidor Group, Ritz Carl-ton Hotels, Sol Meliá e Starwood Hotels & Resorts, entre outros. De 26 a 29 de Abril realiza-se mais uma Feira de Educação, Formação, Juventude e Emprego. A Qualifica tem sido um espaço onde muitos jovens “dão os primeiros passos nos trajetos educativos”. A Les Roches Interna-tional School estará presente? Quais são as expetativas para esta que é já uma das maiores feiras nacionais do sector?A Les Roches utiliza algumas platafor-mas a nível nacional para divulgar os

seus programas de estudos. A Futurália é uma delas, sendo o início do contacto com potenciais alunos. Depois utiliza-mos os personal meetings (entrevista mais personalizada com esses prospec-tives (alunos potenciais) em Portugal ou in loco nas respetivas escolas (muitas vezes durante os Open Days que se re-alizam todos os semestres nas mesmas).

O sector da hotelaria está em cresci-mento e, como comprovam algumas estatísticas, será um player de rele-vo na esfera económica na próxima década. Que desafios se colocam à atuação da Les Roches International School?O Turismo é um sector cada vez mais exigente, devido à exigência do próprio consumidor e à concorrência entre os vários mercados. Hoje em dia, é funda-mental ser versátil e ao mesmo tempo estar atualizado às novas tendências da indústria, para poder fazer face ao nível de qualidade que o mercado exige. As-sim sendo, e seguindo a filosofia do “Sa-voir faire” suíço, para se saber mandar tem que se saber fazer, logo os nossos alunos têm que ter uma capacidade pro-fissional e pessoal para se adaptarem às inovações do sector, serem pró-ativos, líderes, criativos, versáteis, internacio-nais e globais, em qualquer parte do Mundo.

PEDRo maRtIns, REPREsEntantE Das EsColas lEs RoChEs Em PoRtuGalEDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

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Curiosamente, e apesar da crise em países como portugal, Itália e Espa-nha, o turismo continua a ser o sector com maior taxa de Investimento

“Aula na Les Roches Marbella

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Começou em Coimbra com 15 escolas e hoje representa cerca de 90 esta-belecimentos dispersos por todo o país. Nunca assumindo uma posição de opositor de outras associações, de que forma o MEPEC (Movimento de Escolas Privadas com Ensino Públi-co Contratualizado) tem sabido lutar contra o “protecionismo” do Estado no setor da educação?Existe uma clara falta de conhecimento de uma grande parte da população por-tuguesa do que são estas escolas priva-das que prestam um serviço público de educação, que convém esclarecer. Estas escolas, com diferentes regimes jurídi-cos (privadas, cooperativas e da Igreja Católica) celebram contratos de asso-ciação com o Ministério da Educação, de forma a permitir aos alunos que as frequentam, um ensino gratuito. O Esta-do tem o dever de garantir o direito dos alunos a um serviço público de educa-ção. Contudo, este serviço público não deve ser “monopólio” do Estado. O ME-

PEC defende o direito da liberdade de aprender e ensinar. Defende a diversida-de de projetos educativos, um sistema público de educação plural, com inicia-tiva legítima dos cidadãos e das forças cívicas. É pois, no nosso entendimento, que os responsáveis pela educação dos seus filhos são os pais, e, são estes que

Representando, hoje, cerca de 90 estabelecimentos de ensino dispersos por Portugal, o MEPEC, movimento surgido em Coimbra, sempre direcionou a sua atuação para uma estratégia construtiva. Afirmar o ensino privado e cooperativo como um benefício para todos em Por-tugal sempre foi o grande objetivo, tal como revelou o Presidente, Valter Branco.

“o mEpEc dEfEndE o dIREItoda lIBERdadE dE apREndER E EnSInaR”

devem ter o direito de escolher a escola e o projeto educativo que mais se ade-qua à educação e à formação que pre-tendem dar aos seus filhos.A posição do MEPEC foi sempre cons-trutiva unindo esforços onde as pers-petivas são convergentes especialmente quanto ao objetivo, isto é, a afirmação do ensino privado e cooperativo como um benefício manifesto a todos os níveis para Portugal.

Com os cortes sucessivos no setor, as dificuldades na implementação de alguns projetos educativos e os constantes desafios que as escolas enfrentam, o princípio da liberdade de educação, apregoado pelo MEPEC, pode estar em risco?É evidente que, enquanto vigorar o mo-delo educativo pombalino, que consi-dera o Estado o único competente para promover a educação, confundindo a obrigação de este garantir a educação a todos os cidadãos com a exclusividade

de iniciativa educativa, estamos sempre em risco.Os vários governos em Portugal têm demonstrado uma grande apetência em controlar tudo, como uma prova de poder, procurando tirar proveito desse mesmo poder. Contudo, como a história recente tem comprovado, o controlo da educação e dos seus recursos humanos tem provocado muitos prejuízos a Por-tugal e também prejuízos políticos aos vários governos. É nosso entendimento que o Estado deve ser, apenas, o regula-dor da educação. É importante realçar que os cortes implementados por estes dois últimos governos às escolas com contrato de associação não prejudica-ram a qualidade da educação prestada aos seus alunos. As direções das escolas tiveram de se adequar a esta realidade, reformulando e definindo novas estraté-gias para não prejudicar a implementa-ção dos seus projetos educativos.

valtER bRanCo, PREsIDEntE Do movImEnto DE EsColas PRIvaDas Com EnsIno PúblICo ContRatualIzaDo Pontos de Vista Março 2013EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

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LER NA INTEGRA EMWWW.PONtOSDEViStA.Pt

Valter Branco

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uando, em 1911, João de Deus Ra-mos, filho do Poeta autor da Car-tilha Maternal de João de Deus, inaugura o 1.º Jardim-Escola João de Deus em Coimbra, a mais an-tiga escola infantil em Portugal, propõe-se ajudar as crianças a desenvolverem capacidades, des-trezas, habilidades, conhecimen-tos, valores e atitudes que contri-

buam para o sucesso na vida.Já nessa data, o meu avô João de Deus Ramos de-fendia que a Escola Infantil não servia para “guar-dar” as crianças enquanto os pais trabalhavam. Opunha-se a que a Escola fosse meramente o local onde os meninos decoravam “coisas”, mas, sim, onde desenvolviam as “ferramentas mentais”. Foi um visionário, por compreender a importância da Escola no desenvolvimento humano e, sobre-tudo, na aquisição de valores e naquilo que hoje se designa por inteligência emocional. A Escola Superior de Educação João de Deus nasceu da reconversão do Curso de Educadores de Infância fundado em 1920, o primeiro e, durante largas dé-cadas, o único existente no País.O Curso visava formar o pessoal docente para os quatro Jardins-Escolas já existentes e permitir a ampliação da ação educativa a outros centros. Prestou um contributo decisivo no incremento da Educação Infantil. Em 1943, os estabelecimentos de ensino infantil portugueses eram frequentados apenas por 872 crianças, das quais 602 eram alu-nos dos sete Jardins-Escolas existentes à época. Em 1954, ano da criação de uma segunda Escola de Educadores, existiam já 5258 alunos distribuídos por 128 escolas. Destas, um significativo número resultara da iniciativa de diplomados com o Curso de Didática Pré-Primária pelo Método João de Deus.Inúmeros missionários foram diplomados por este Curso, para poderem lecionar e, sobretudo, ensinar a ler e a escrever pela Cartilha Maternal de João de Deus nos países africanos de expressão oficial portuguesa ou em Macau e Timor.Na sequência da preocupação da Escola Superior de Educação João de Deus em formar profissionais para trabalharem ajudando algumas populações mais fragilizadas da nossa sociedade, criou-se, em 2007, o Curso de Gerontologia Social, orientado para um envelhecimento mais ativo, mais longo e de melhor qualidade.Atualmente, a Associação de Jardins-Escolas João de Deus é detentora de 54 centros educativos – neles dando trabalho a 1314 colaboradores - fre-quentados por 8314 crianças.No passado dia 1 de março, inaugurámos o mais recente Jardim-Escola João de Deus, em Ponta Del-gada. Esta escola tem as valências Creche e Jardim de Infância do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico, emprega 37 pessoas e custou cerca de 4,5 milhões de euros, sem qualquer apoio estatal. Com este novo centro, a Associação estende a sua ação edu-

cativa à única região do País que ainda não dispu-nha desta oferta. Foi, pois, com muito agrado que testemunhámos a recetividade do Governo da Re-gião Autónoma dos Açores, da Câmara Municipal de Ponta Delgada e, em particular, das muitas fa-mílias que optaram por inscrever as suas crianças.Encontra-se em fase de conclusão a construção de um grande edifício para o Jardim-Escola João de Deus de Odivelas, onde funcionarão as valências Creche, Jardim de Infância e 1.º Ciclo, com dois grupos para cada faixa etária. Este centro educati-vo entrará em funcionamento em setembro e cria-rá mais 40 postos de trabalho, num investimento a rondar os 5 milhões de euros. Estes investimentos foram realizados com recurso a crédito bancário.Acredito que é nestes momentos de crise que a Sociedade Civil se deve mobilizar num esforço co-letivo, de forma a dinamizar a economia e a poder oferecer uma alternativa de serviços de qualidade. Temos de acreditar que a nossa querida Pátria tem futuro e que, todos juntos, poderemos garantir, com esforço, empenho e dedicação, a sua viabilidade.Defendo que o Estado Português deveria ser o garan-te da existência de um serviço público de Educação com qualidade, independentemente da entidade proprietária. O serviço público de Educação pode ser prestado por escolas, cujo proprietário é o Governo central, um Município, uma Associação de Pais, uma IPSS ou uma empresa. Fundamental é a qualidade do serviço que presta e não a entidade proprietária.Ainda continuamos sem cumprir o que está con-signado na Constituição da República e na Con-venção dos Direitos da Criança, em que se refere o direito das famílias a escolherem o modelo peda-gógico, científico, cultural, ideológico ou religioso que pretendem para os seus filhos.Esta livre opção de escolha não existe em Portu-gal. Quando, eventualmente, as famílias a exercem, têm que pagar duas vezes a educação dos seus

Desde a fundação da Associação de Jardins-Escolas João de Deus, em 1882, no propósito de ensinar a ler, escrever, contar e realizar as quatro operações aritméticas, que a sua ideia fundamental era a de qualificar os recursos humanos de Portugal.

uRGE oRIEntaR a Educação Em poRtuGal

filhos: uma através dos seus impostos, que su-portam a dita Educação Pública, e outra quando pagam a Escola que escolheram exercendo o seu direito constitucional.O Governo de Portugal, em vez de tudo querer fa-zer, deveria, à semelhança da solução encontrada noutros países de sucesso, contratualizar com ins-tituições que prestem um Serviço Público de Edu-cação de qualidade. Desta forma se economizaria até 50 por cento com os custos da Educação, se garantiria uma Educação de melhor qualidade e se respeitaria a Constituição dando, verdadeiramen-te, opção de escolha às famílias.Já se comprovou em Portugal, nas últimas décadas, que o monopólio do Estado na Educação não pro-porciona melhores resultados. Basta analisar o ele-vado montante dispendido sem que os resultados nos rankings internacionais sejam satisfatórios.O facto de só ser permitido recuperar metade do valor do IVA pago pelas novas construções limi-ta extraordinariamente o papel relevante que as IPSS desempenham na criação de postos de tra-balho, na dinamização da economia e, sobretudo, no bem-estar das populações. Temos conseguido construir melhor e mais barato.Todos os estudos demonstram que um dos fatores de sucesso numa escola reside na sua autonomia. Ora, ainda estamos muito longe, quer nas escolas ditas públicas, quer nas ditas privadas, de esta ser uma realidade. A título de exemplo, referirei a in-tromissão abusiva: temos sido confrontados com a crítica, pasme-se, de que nos Jardins-Escolas se lecionam horas a mais.O nosso país padece, há muito, da febre do “iguali-tarismo”. Procura igualar tudo, mesmo o que não é igual, não pode ser igual, não deve ser igual e não quer ser igual. A diversidade é promotora de suces-so e de bem-estar. O que deve ser igual são os direi-tos. Temos, sim, a obrigação de promover e garantir a igualdade de oportunidade e de escolhas.Outro aspeto que dificulta o desempenho das es-colas tem sido a falta de políticas educativas a mé-dio e a longo prazos, estando o Sistema Educativo em permanente mudança, sem se saber para onde vai e quais as regras com que se há de nortear. Os cerca de 30 ministros, que já tutelaram a Educa-ção desde o 25 de Abril de 1974, têm sistemati-camente introduzido alterações, muitas vezes sem sequer avaliarem o que pretendem reformar.

antónIo DE DEus Ramos PonCEs DE CaRvalho, PREsIDEntE Da DIREção Da assoCIação DE jaRDIns-EsCola joão DE DEus,

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO a oPiniÃo de...

38

Q “Já se comprovou em Portugal, nas últimas décadas, que o mono-pólio do estado na educação não

proporciona melhores resultados. Basta analisar o elevado montan-te dispendido sem que os resulta-

dos nos rankings internacionais sejam satisfatórios”

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À data da sua criação, a APEO pretendia ser essencialmente uma associação capaz de agregar os vários pro-fissionais da área por questões de desenvol-vimento profissional.

Preocupada com a forma como, na altu-ra, os cerca de oitocentos enfermeiros especialistas exerciam as suas funções no país, a APEO sentiu necessidade de alargar os horizontes e encetou conta-tos com o objetivo de orientar e alinhar as práticas dos Enfermeiros de Saúde Materna e Obstétrica (EESMO) com o que acontecia no contexto internacio-nal, tornando-se, no início deste século, membro efetivo da EMA – European Mi-dwives Association – e da ICM – Interna-tional Confederation of Midwives.Enfermeiro Especialista de Saúde Ma-terna e Obstétrica (EESMO) é o título profissional que se convencionou atri-buir em Portugal á profissão cuja forma-ção e áreas de atividade são reguladas por Diretivas Europeias 80/154/CEE de 21 Janeiro, 36/2005/CE de 7 Setembro e é o equivalente ás Midwives (Reino Unido), Matronas (Espanha) ou Sages--femmes (França). Isto significa que possuímos o mesmo tipo de formação e estamos consequentemente habilitados para as mesmas funções destes profis-sionais, a nível da europa e do mundo. Este facto está reconhecido pelo Estado Português na Lei 9/2009 de 4 Março (Transposição da diretiva 36/2005/CE de 7 Setembro).

“PORtUGAL NãO EStá NADA AtRáS DO REStO DA EUROPA

E DO MUNDO”No seu percurso, a APEO tem vindo a alargar os seus propósitos. Atualmen-te, tem feito um esforço para contribuir para o desenvolvimento profissional e produzir investigação científica nesta área. No entanto, como já vem sendo comum em Portugal, os apoios à inves-tigação são inexistentes. “Todo o trabalho desenvolvido é volun-tário e maioritariamente apoiado pelos membros da associação que investem muito do seu tempo e também com o con-tributo dos sócios que se disponibilizam para tal. Muitas são as atividades de cariz científico desenvolvidas anualmente para apoiar e promover o trabalho desenvol-vido pelo EESMO. Além da participação anual na Assembleia Geral da EMA e da ICM Sul, participamos, de três em três anos, na Assembleia Geral e Congresso da ICM, com trabalhos científicos para de-bater conhecimentos e refletir as diferen-

tes realidades profissionais. Nesta área, Portugal não está nada atrás do resto da Europa e do mundo, muito pelo contrário. Temos uma formação muito sólida, de nível superior e profissionais de elevada qualidade”, afirma Dolores Sardo.

“é PRECiSO MUDARA hiStÓRiA…”

No entanto, esse reconhecimento nem sempre existe e há já algum tempo que os Enfermeiros Especialistas de SMO vêm a pedir uma maior intervenção em diferen-tes áreas contempladas no Regulamento das competências especificas do ESMO n.º 127/2011, nomeadamente nas áreas da vigilância pré-natal e do parto, o que promoveria uma maior sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde. Sendo essa uma das grandes exigências orçamentais a nível nacional, a presidente da APEO lamenta que a maior autonomia destes profissionais tarde em ser concedida por bloqueios de classes.“No meu entender o reconhecimento do EESMO como profissional autónomo passa pela sua integração plena no Ser-viço Nacional de Saúde e no seu reconhe-cimento como profissional de referência na assistência da gravidez e do pós parto nos Cuidados de Saúde Primários. É pre-ciso mudar a história e informar o cida-dão das competências deste profissional de saúde especializado” refere.Apesar disso, Dolores Sardo reforça que “temos que trabalhar em equipa inter-disciplinar pois situações que ultrapas-sem a nossa área de competência devem ser devidamente encaminhadas para o Obstetra”.

“AiNDA NãO SOMOSOS NECESSáRiOS”

Uma vez que a Associação não tem uma sede física, o próximo passo a ser dado pela APEO é exatamente esse: “uma sede que nos permita aproximar da popula-ção, que esteja aberta ao público pelo

Em 1997, surgiu a Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras (APEO). Uma vez que a 5 de Maio se comemora o Dia Internacional do Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstétrica/Parteira, a Revista Pontos de Vista esteve à conversa com Dolores Silva Sardo, Presidente da APEO, que falou sobre os grandes desafios que se colocam atualmente a esta área da Enfermagem especializada.

“São pREcISoS maIS EnfERmEIRoS ESpEcIalIStaS”

menos uma vez por semana e onde pos-samos, inclusive, realizar cursos de pre-paração para o parto e para a parentali-dade. Dada a conjuntura nacional, e como não temos orçamento para isso, nem po-demos dar passos demasiado grandes, teremos de tentar fazer alguma parceria com organismos que nos possam ofere-cer as melhores condições e alargar a nossa intervenção á comunidade”.Este ano, as atividades para o Dia Inter-nacional do Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstétrica/Parteira ainda não estão definidas porque esta comemoração é feita em parceria com a ICM, com o lema “Os Enfermeiros Es-pecialistas de Saúde Materna e Obstétri-ca/Parteiras salvam vidas”. No entanto, todos os anos desde 2006, a APEO assi-nala esta data com atividades dirigidas aos profissionais da área, mas também à população em geral.A conversa acabou com uma mensagem positiva. Apesar da preocupante dimi-nuição da taxa de natalidade em Portu-gal e das dificuldades com que a classe dos enfermeiros Especialistas de Saúde

Materna e Obstétrica se tem deparado, graças ao elevado número de enfermei-ros em situações de desempenho de fun-ções especializadas sem reconhecimen-to remuneratório, impossibilitados de exercer as funções para as quais detêm formação sendo mantidos a trabalhar em serviços fora da área de especiali-dade, ou por não aplicação plena da Lei 9/2009 de 4 Março por exemplo no que concerne á prescrição e pedido de exa-mes (art. 39, alínea c), Dolores Sardo acredita que a Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica “é uma profissão de futuro. Ainda não somos os necessá-rios para que o cidadão possa ter acesso aos cuidados produzidos pelo EESMO nas diferentes áreas de intervenção (Pla-neamento familiar e pré-concecional, Gravidez, Parto, Pós parto, Climatério e Ginecologia). São precisos mais enfer-meiros especialistas, no entanto, é preci-so que lhes sejam dadas as possibilida-des de intervenção nas diferentes áreas para que sejam rentabilizados”.

assoCIação PoRtuGuEsa Dos EnfERmEIRos obstEtRas (aPEo) Em DEstaquE Pontos de Vista Março 2013

DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICA/PARTEIRA

39LER NA INTEGRA EMWWW.PONtOSDEViStA.Pt

Dolores silva sardo

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é, contudo, a Florence Nightingale que se deve a criação da formação espe-cífica para quem cuida de doentes, com a criação da sua Escola de Enfer-magem. Desde então, alguns fatores contribuíram para o desenvolvimento da enfermagem como profissão - um crescimento sem precedentes da

ciência e da tecnologia, o desenvolvimento das filo-sofias humanistas e grandes mudanças sociais. Hoje, o suporte científico, técnico e tecnológi-co dos cuidados é considerável. Os conceitos transformaram-se e as teorias de enfermagem desenvolveram-se. Há provas de mudanças mais estruturadas, a considerar, o destinatário dos cui-dados como parceiro na decisão e a envolvência da família nos cuidados. Podemos mesmo afirmar que a saúde assumiu posição de realce enquanto estratégia de otimização da qualidade de vida dos cidadãos. Em perfeita consonância estratégica, o exercício profissional da enfermagem centra-se, fundamentalmente, no relacionamento interpes-soal entre um enfermeiro e uma pessoa ou um grupo de pessoas (família ou comunidades), que se desenvolve através de atitudes humanizantes. Cuidar é comprometer-se a manter a dignidade e integridade da pessoa que é cuidada.Não obstante, vivemos hoje tempos tremenda-mente difíceis, não apenas como resultado dos constrangimentos económico-financeiros que o país e a Europa atravessam, mas também em con-sequência das alterações sócio-demográficas e das exigências políticas em matéria de gestão dos serviços de saúde e da qualidade desses serviços. Nesta matéria, temos que ter bem presente que este setor da atividade apresenta características sócio-económicas muito particulares, em que o cliente/utente é, ainda, o contribuinte e o cidadão, cada vez mais consciente e exigente dos seus direi-tos. Para enfrentar este desafio, estamos convictos de que a alternativa é melhorar continuamente os serviços prestados e apostar em experiências ino-vadoras de prestação de cuidados de proximidade com os cidadãos.Em consonância com este posicionamento, a Orga-nização Mundial de Saúde salienta a “importância das metodologias de trabalho direcionadas para a família e que assente na efetividade, integralidade e na proximidade”. Neste contexto, parece clara a importância da proximidade dos cuidados (atra-vés dos diversos players do setor da saúde) junto dos cidadãos, numa lógica de cooperação, não ape-nas em termos geográficos, mas num sentido mais humanizador e global.Foram também estas, as principais conclusões que

foi possível obter das cercas de duas dezenas e meia de visitas institucionais que o Conselho Di-retivo Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros realizou junto do poder autárquico da região Nor-te, a propósito dos recursos e das respostas dis-poníveis em matéria de cuidados de saúde de pro-ximidade. De facto, para os autarcas, existe uma necessidade clara de cuidados de saúde para os cidadãos em geral e para os seus munícipes, muito em particular. Todos eles nos deram testemunhos que apontam para um novo paradigma na presta-ção de cuidados de enfermagem de proximidade, onde a figura de “Enfermeiro de Família” é apenas uma das possibilidades de concretização desses cuidados. Neste âmbito, foram assumidas algumas posições de convergência de sinergias de trabalho, que poderiam, inclusivamente, passar por enten-dimentos nesta matéria, em sede das Comunida-des Inter-Municipais. Em função de toda esta realidade, e já que a go-vernação política e organizacional não tem encon-trado, ou não tem querido encontrar, as melhores soluções, cabe aos enfermeiros assumir um papel

Refletindo um pouco sobre o caminho percorrido pela Enfermagem, verificamos que desde os tempos mais remotos até à Idade Média, se identifica o exercício dos cuidados com a imagem da mulher que tem a função de cuidar e alimentar o seu filho, e ainda os cuidados aos mais velhos, aos doentes e fracos, aos indigentes. E como cuidar era instintivo, aprendido com a experiência e fruto do senso comum, não se exigia para o seu exercício conhecimentos específicos nem raciocínio crítico. Desta fase, ficaram--nos nomes como Parcella Paula e Fabíola, damas romanas que, convertidas ao cristianismo, por caridade, passaram a acolher e cuidar de pobres e doentes.

o papEl do EnfERmEIRo no ÂmBIto da SocIEdadE E na QualIdadE doS SERVIçoS pREStadoS

de liderança nesta problemática e, sobretudo, nesta conjuntura atual. Os enfermeiros têm hoje a oportunidade de aprofundar uma metodologia de trabalho de proximidade, inseridos em equipas de saúde junto dos cidadãos ou através do pró-prio exercício autónomo de enfermagem; o qual, se traduzir-se-á em ganhos de saúde para as po-pulações e, consequentemente, com redução dos custos associados.Estamos convictos de que é nas fases de maior dificuldade que devemos apelar à nossa criativi-dade, ao nosso valor intrínseco. Aos enfermeiros cabe, pois, a responsabilidade de reinventar novas formas do exercício profissional, de encontrar no-vos caminhos, novos métodos e novas estratégias. Face às condições adversas dos nossos dias, devem assumir essas adversidades como janelas de opor-tunidade para novas expressões (externas) do seu desempenho profissional; serem empreendedores em áreas do seu domínio, já que, é apenas através da interioridade dos seus gestos e da expressão dos afetos que, verdadeiramente, acedem ao outro, con-cretizando o cuidado de enfermagem.

joRGE CaDEtE - PREsIDEntE Da sECção REGIonal Do noRtE Da oRDEm Dos EnfERmEIRos

12 DE MAIO - DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO a oPiniÃo de...

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O enfermeiro constitui o grupo maio-ritário no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, a nível internacional, cor-responde mesmo a 80 por cento dos profissionais desta área. Atualmente, qual é o papel do enfermeiro no SNS?Atualmente o enfermeiro tem um papel de pivô fundamental nas equipas e nos cuidados de saúde, mercê de uma evolu-ção académica e profissional bastante sig-nificativa que lhe permite hoje em dia su-portar cientificamente toda a sua prática.Contudo, apesar desta evolução, com a introdução dos cuidados de saúde como um bem comercializável, essencialmente centrados na resposta à doença, à subor-dinação da obtenção de ganhos em saúde às lógicas económico-financeiras, foram introduzidas lógicas de organização e funcionamento que levaram a um afu-nilamento dos cuidados de saúde numa perspetiva medicocentrica, no tratar por oposição ao cuidar, sendo, este último, in-trínseco à prática de enfermagem.

Quais são as principais dificuldades e desafios que atingem atualmente esta profissão?Resumidamente, penso que as princi-pais dificuldades e desafios passam pela precariedade no acesso ao emprego e crescente aumento do fenómeno de emigração, precariedade nas condições laborais para o exercício profissional, a qualidade deficitária de um excessivo número de escolas existentes, um des-conhecimento das reais e regulamen-tadas competências dos enfermeiros e pouca perceção da sociedade e do poder político do papel dos enfermeiros.

Há alguma falta de reconhecimento por parte do poder político e orga-nizacional do papel da Enfermagem? O Enfermeiro tem sido regularmente relegado para segundo plano?Sem dúvida. Contudo, paulatinamente, tem-se verificado, muito por força da evi-dência científica demonstrada pelos enfer-meiros, uma melhor perceção de que uma das soluções do problema terá de passar por uma maior aposta na prevenção e nos cuidados de proximidade e, por inerência, por uma maior aposta nos cuidados de en-fermagem. Prova disso é o reconhecimento do Enfermeiro de Família, por muito que isso custe a muito boa gente.

Os médicos têm sido uma força de bloqueio neste sentido?Eu diria que esses ditos “bloqueios”

provêm de várias frentes. Existem mui-tos interesses instalados. Demasiados feudos, impérios construídos à base da exploração das condições de saúde dos cidadãos. Muitos “senhores dos anéis” que em tempos de crise se agarram às suas “preciosidades” como se de oxigé-nio se tratasse para sobreviver. Os tem-pos são de mudança e a procura pela sustentabilidade está e irá levar a que os enfermeiros se posicionem na linha da frente com vista à viabilidade econó-mica e financeira do SNS. O reconheci-mento das reais competências dos en-fermeiros não deve ser visto como uma usurpação de funções. Aquilo que um enfermeiro consegue produzir quanti-tativamente e qualitativamente, por si só, é único e insubstituível. O reconheci-mento dessas competências tem de ser visto como uma maximização e renta-bilização de todos os intervenientes no setor da saúde.

O número de enfermeiros em situ-ações precárias, desempregados ou obrigados a emigrar não pára de au-mentar. Como é que se chegou até aqui? A oferta desregulada de forma-ção nesta área foi o grande motivo que esteve na origem desta situação?É um triste facto. A proliferação de esta-belecimentos de ensino e a sua mercan-tilização levaram a que tenhamos, actu-almente, todos os anos, um número de recém-licenciados muito superior ao que é necessário, desequilibrando a balança

A precariedade no acesso ao emprego e crescente aumento da emigração, bem como a precariedade nas condições laborais para o exer-cício profissional, a qualidade deficitária de um excessivo número de escolas existentes, um desconhecimento das reais e regulamentadas competências dos enfermeiros e a pouca percepção por parte das pessoas em geral e do próprio poder político do papel dos enfermeiros, numa sociedade marcada pelo modelo medicocentrico na prestação de cuidados de saúde, são algumas das dificuldades com que os enfermeiros se deparam hoje em dia. Tiago Lopes, Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros fala, nesta entrevista, desses diferentes desafios com os quais o setor se depara diariamente.

“ExIStEm muItoS IntERESSES InStaladoS”

da oferta e da procura e, dessa forma, ba-nalizando e desqualificando o processo de contratação de enfermeiros.A solução passa por fechar algumas faculdades? O que é que é necessário fazer para inverter este cenário?A solução passa por reduzir o número de recém-licenciados. O número de va-gas para os cursos de enfermagem tem de ser substancialmente reduzido. É incomportável termos, neste momento, cerca de 3.500 enfermeiros formados por ano, quando o mercado de traba-lho depois não “absorve” este potencial qualificado. Infelizmente, a solução para demasiados, passa por emigrar e exer-cer no estrangeiro.

Todos os dias, uma média de dez en-fermeiros pede à Ordem a documen-tação necessária para trabalhar no estrangeiro. No entanto, estima-se que as unidades de saúde portugue-sas necessitam de 10 a 15 mil enfer-meiros. Portugal está a “exportar” profissionais dos quais precisa?Temos um excesso de enfermeiros em formação e não um excesso de enfermei-ros formados. O número de enfermeiros formados e desempregados é mais que suficiente para suprir necessidades, so-bretudo, ao nível dos cuidados de saúde primários. Não obstante, o enfermeiro tem de ser encarado como um precio-so recurso para além das unidades de saúde. Contextos como a Saúde no Tra-balho, o Desporto, os Estabelecimen-

tos Prisionais, as Instituições de Saúde Mental, os Lares de Idosos, bem como, na comunidade ao nível das Autarquias na definição de políticas de saúde, a pre-sença de enfermeiros têm de ser refor-çada na lógica da prevenção e dos cuida-dos de proximidade.

O cenário nos Açores é igual àquele a que se assiste no Continente? O que é que a Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros tem feito no sentido de combater esta situação?Nos Açores o cenário começa a ser cada vez mais preocupante. Temos vindo a in-tervir junto da tutela no sentido de alertar, demonstrar os erros cometidos no Conti-nente, de modo a tentar prevenir uma es-calada deste flagelo ao nível regional.

O Dia Internacional da Enfermagem ou Dia Internacional dos Enfermeiros é comemorado mundialmente desde 1965. De que forma a Secção Regio-nal da Região Autónoma dos Açores irá assinalar esta data?É um dia de extrema relevância e impor-tância para nós. Ao nível regional iremos assinalar esta data em proximidade com os colegas e com a população. Ao lon-go de 3 dias iremos promover visitas de acompanhamento profissional, ras-treios à população e realizar uma confe-rência comemorativa alusiva ao dia.

Que futuro avista para o SNS? O au-mento dos recursos financeiros por via das taxas moderadoras será a so-lução para os problemas financeiros do SNS?O aumento dos recursos financeiros por via das taxas moderadoras é um enviesamento do intuito para o qual as mesmas foram criadas. De modo algum poderá ser a solução para os problemas financeiros do SNS. Estes problemas possuem raízes bem mais profundas e a questão das taxas moderadoras é duma superficialidade tal que não chega para atingir o cerne da questão.Acredito, e quero acreditar, num SNS sustentável e que mantenha a sua gra-tuitidade prevista constitucionalmente. Contudo, para tal, cabe ao Governo e aos órgãos de soberania assumir, de uma vez por todas, a definição de políticas promotoras dessa sustentabilidade, tal como tem assumido tantas outras tão ou mais polémicas e com maiores impli-cações na vida dos cidadãos.

tIaGo loPEs, PREsIDEntE Do ConsElho DIREtIvo Da sECção Dos açoREs Da oRDEm Dos EnfERmEIRos Pontos de Vista Março 2013

12 DE MAIO - DIA INTERNACIONALDO ENFERMEIRO

41tiago Lopes

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t odavia, a presente discriminação, em função do posto militar, da licen-ciatura em Enfermagem, e a limita-ção do desenvolvimento pleno das funções dos enfermeiros militares tem tido a nossa atenção, como uma desigualdade com prejuízo maior do exercício autónomo da enferma-

gem e dos utentes dos serviços de saúde militares.A não aplicação prática do estatuído nos norma-tivos legais correspondentes aos três Ramos das FA’s apenas aos titulares de licenciatura da área de Enfermagem, constitui uma discriminação em relação a outras formações do mesmo nível acadé-mico, apesar da Escola de Serviço de Saude Militar (ESSM) que habilita os militares com a formação na área de enfermagem ter a natureza de estabele-cimento de ensino superior politécnico conferindo o grau académico de bacharel desde 1993 e, mais recentemente, a licenciatura em enfermagem. A permanência nos postos de sargentos impossi-bilita estes enfermeiros, não só da coordenação, avaliação, chefia e planeamento do respetivo setor profissional, bem como do exercício da docência, gestão e de assessoria técnica, nas condições legal-mente definidas. Acresce que desde a publicação do EMFAR em 1990 e sucessivas revisões manteve o artigo 166º inalterado: “O regime dos quadros especiais das áreas de saúde é estabelecido em diploma próprio”. E não o foi em mais de 23 anos. Por outro lado, a coexistência, nos estabelecimen-tos hospitalares, e outros organismos de saúde, sob a tutela do Ministério da Defesa, de Enfer-meiros, com tipos remuneratórios e estatutários diferentes e que praticam exatamente os mesmos cuidados, segundo a regulamentação da profissão (REPE) e submetidos ao mesmo controlo deon-tologico pela Ordem dos Enfermeiros pode cons-tituir uma redução no incentivo, e à qualidade do exercício de Enfermagem nas Forças Armadas.Igualmente, a APEM espera ver valorizado o pa-

pel dos enfermeiros militares, não só no Hospital único das Forças Armadas, bem como nas com-ponentes Operacional e Ocupacional do Sistema de Saúde Militar e para a qual queremos chamar a atenção da especificidade desse exercício pro-fissional e do contributo que isso significa para a Enfermagem em geral.A prevista realização do I Encontro internacional de Enfermagem militar, este ano em Portugal, po-derá nesse contexto, aumentar a visibilidade e a valorização profissional dos enfermeiros milita-res, e consequentemente o prestígio das Forças Armadas em Portugal.

A APEM fundada em 1996 pretende criar um espaço próprio de discussão e reflexão técnico-cientifica da Enfermagem Militar, agrupando enfermeiros interessados nessa area. Entendendo por Enfermagem Militar, a ação dos enfermeiros no contexto duma instituição, com uma história e especificidade próprias, mas que não se separa da Enfermagem como um todo, antes a enriquece através dos contributos duma sensibilidade, ação e experiências específicas do exercício em contexto militar. A história e o local de ação da enfermagem militar, constituem objeto de estudo e reflexão, já que está intimamente ligada à própria génese da En-fermagem como uma sua corrente de influência de origem muito longínqua.

a ValoRIzação E REconhEcImEntopRofISSIonal doS EnfERmEIRoS mIlItaRES

aPEm - assoCIação PoRtuGuEsa DE EnfERmaGEm mIlItaR

12 DE MAIO - DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO a oPiniÃo de...

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“todavia, a presente discriminação, em função do posto militar, da licenciatura em enfermagem, e a limitação do desenvolvimento ple-no das funções dos enfermeiros militares tem tido a nossa atenção, como uma desigualdade com prejuízo maior do exercício autónomo da enfermagem e dos utentes dos serviços de saúde militares”

A prevista realização do I Encontro internacional de Enfermagem militar, este ano em portugal, poderá nesse contexto, aumentar a visibilidade e a valorização profis-sional dos enfermeiros militares, e consequen-temente o prestígio das Forças Armadas em portugal

[email protected]/anossaapem

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ENtiDADES PROMOtORAS:Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e Ad-ministração Regional de Saúde do Centro. Entida-des parceiras: DREC, Direção Regional de Educa-ção do Centro; Centro Hospital e Universitário de Coimbra, Consulta de Prevenção de Suicídio. Hos-pitais da Universidade de Coimbra; Departamento de Pedopsiquiatria do Hospital Pediátrico; Hospi-tal Infante D. Pedro, Serviço de Pedopsiquiatria.

ENQUADRAMENtO:A prevenção do suicídio é uma tarefa global e prioritária da OMS e recentemente ratificada pela EU, no Pacto Europeu para a Saúde Mental e Bem--estar, como a primeira de cinco prioridades em saúde mental (2008). A nível nacional o Plano Na-cional de Saúde Mental 2007-2016 elege como um dos seus quatro objetivos um programa de pre-venção da depressão e suicídio.O perfil do indivíduo com comportamentos auto-lesivos na região centro caracteriza-se por ser do género feminino, jovem, baixo nível de educação ou com dificuldades escolares, com problemas psi-cossociais, embora frequentemente não aparente doença psiquiátrica anteriormente diagnosticada (Saraiva, 1997; Santos, 2006). A escola aparece como centro promotor de saúde mental quando associada à sua função educacional uma educação para as emoções sociais e habilida-des para a vida (Social Emotional Learning e Skills for Life) num estudo de análise sistemática condu-zido por Diekstra (2008). A inclusão de toda a esco-la (pessoal docente e não docente) nas estratégias definidas e duração superior a seis meses otimizam os resultados alcançados a curto e médio prazo, nomeadamente aprendizagem ou melhoria de ha-bilidades sociais, atitudes positivas em relação a si e aos outros, redução de comportamento antissocial, prevenção ou identificação precoce de doença men-tal, melhoria dos resultados escolares.

MEtODOLOGiA: Para a concretização do projeto + contigo, utiliza-mos para o seu planeamento o modelo PRECED / PROCEED (Green & Kreuter, 2005). No sentido do diagnóstico e avaliação de resultados serão utili-zados instrumentos psicométricos validados para a população portuguesa com maior incidência no bem-estar, autoconceito, coping e depressão, assim como entrevistas com os atores definidos como prioritários. O público-alvo são jovens estudantes do 7º ao 12º ano nos estabelecimentos públicos. Os objetivos gerais são: Promover a saúde mental e bem-estar em jovens do 3º ciclo e secundário; Pre-venir comportamentos autodestrutivos; Prevenir o suicídio; Combater o estigma em saúde mental; Criar uma rede de atendimento de saúde mental.

DESENROLA-SE EM CiNCO EtAPAS: Uma primeira de formação dos profissionais de saú-de do programa saúde escolar das USP e equipas da

área onde se insere a escola alvo de intervenção; Segunda etapa de formação e identificação de sen-tinelas junto da comunidade educativa da escola alvo de formação; Terceira etapa de formação / sensibilização junto dos encarregados de educação; Na quarta etapa, ao longo do ano letivo, as equi-pas de saúde escolar fazem a avaliação e realizam a intervenção com os alunos, em sala de aula, com base num guião de intervenção (metodologia ex-positiva, interrogativa e interativa, role-play e jogos socioterapêuticos) e articula com as entida-des envolvidas (ex: equipa de saúde do aluno) na orientação dos casos identificados. Na quinta etapa faz-se a avaliação da intervenção através da parametrização de variáveis como o coping, bem-estar, autoconceito e depressão. Para avaliar a efetividade da intervenção recorreremos a um grupo de controlo com características idênti-cas à amostra em estudo.

RESULtADOS: O projeto + contigo envolveu, no ano letivo 2011/2012, 66 profissionais de saúde (incluindo os que frequentaram as formações e todos os que estiveram envolvidos na sua implementação) 228 professores e/ou assistentes operacionais, 153 en-carregados de educação, 741 estudantes do 3º ciclo. Com os profissionais e encarregados de educação foi combatido o estigma em saúde mental, aumentada a literacia e identificados fatores protetores e de risco para os comportamentos de risco e, particularmente

pRoJEto + contIGo

da esfera suicidária. Com os estudantes foi combati-do o estigma, treinada a comunicação assertiva, o re-forço do autoconceito, da capacidade de resolução de problemas, combatida a sintomatologia depressiva, feito o diagnóstico precoce de situações de risco. O projeto ajudou a cumprir o planeado no plano nacio-nal de saúde escolar, o plano nacional de saúde men-tal e pela avaliação oral efetuada pelos profissionais envolvidos contribuiu para uma maior proximidade entre as equipas de saúde escolar e a escola e ainda entre os cuidados de saúde primários e serviços de especialidade na área da pedopsiquiatria e consultas de prevenção do suicídio. Na globalidade, a intervenção parece incrementar o bem-estar, diminuir a sintomatologia depressiva, aumentar o coping e o auto conceito. Os resultados positivos têm tendência a manter-se após seis me-ses, sendo mais evidente no domínio do aumento do bem-estar e diminuição da depressão. No corrente ano letivo estão em projeto 1699 estudantes distri-buídos por vários agrupamentos de escolas e 9 agru-pamentos de centros de saúde da região centro.

josé CaRlos PEREIRa Dos santos, PRofEssoR Da EsCola suPERIoR DE EnfERmaGEm DE CoImbRa,

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equipa coordenadoraJosé Carlos Santos (ESEnfC, Investigador Responsável)Jorge Façanha (CHUC, HSC)Maria Pedro Erse (CHUC, HSC)Rosa Simões (CSRSI)Lúcia Amélia (ARSC, IP)

José Carlos Pereira dos Santos, Professor da Escola Superior de Enfermagem de Coim-bra, Enfermeiro, Doutorado em Saúde Mental e investigador da UiCiSA-E, Adjunto da Presidência para as Relações internacionais, Presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia e Membro do Painel de Peritos da horatio.

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de facto, a diversão adquiriu nas sociedades desenvolvidas do séc. XXI um novo significado, que tem sido alvo de diversos estudos, ob-servando-se um elemento comum às diversas abordagens: uma visão crítica da sua função consumista e alienante e do significado que

está a alcançar bem como da sua igualização a ou-tros ideais aos quais está vinculada como sejam o prazer, a felicidade, o amor ou a aventura. É neste contexto que, na atualidade, a diversão é socialmen-te definida como uma necessidade que faz parte da vida juvenil. No entanto, a conceção de diversão e lazer dos jo-vens é, desde o final dos anos 90, distinta do modo como é percebida pelos adultos. Os jovens, na ge-neralidade, dispõem de menos deveres do que os adultos, o que configura que a diversão seja tida como um espaço fundamental na sua vida, sendo, em muitos casos, vivida como algo tão importante como o trabalho para os adultos. Assiste-se a uma crescente valorização hedónica do tempo livre em que, para muitos jovens, divertir-se implica “sair à noite”; ou seja estar com amigos em locais recre-ativos da moda, e desfrutar de atividades ligadas à música e à dança. Por outro lado, existe uma tal centralidade da diversão nos grupos juvenis que se verifica ser nas atividades de entretenimento e de desfruto (mas também de consumo) que os jovens realizam uma grande parte das suas aprendizagens sociais, se sentem realizados e afirmam a sua iden-tidade tanto pessoal como coletiva. O reconheci-mento atribuído às atividades recreativas é de tal ordem que as Nações Unidas (ONU, 2004) subli-nham a sua importância como parte integrante do desenvolvimento juvenil ao reconhecer a contri-buição fundamental do tempo de lazer para a pro-moção da inclusão social, acesso a oportunidades e desenvolvimento em geral dos jovens.Sabe-se, no entanto, que é nas saídas noturnas que os jovens se expõem em maior medida a diferentes riscos e adotam condutas perigosas, nomeadamen-te na área do consumo de álcool e drogas, sexuali-dade, condução rodoviária e violência. De facto, a recreação noturna tem uma ligação intrínseca com o consumo de álcool e drogas tanto que, o uso de substâncias psicoativas em ambientes recreativos é atualmente tão elevado que estes contextos são considerados fatores de risco para o seu consumo (Bellis, Hughes e Lowey, 2002; Simões, 2005; OEDT, 2007). Neste enquadramento, a problemática dos consumos recreativos levanta novos desafios à in-vestigação, atendendo não apenas aos problemas decorrentes do consumo em si mesmo mas tam-bém pelo potenciar de outros comportamentos de risco associados.

A influência da adoção de comportamentos de risco e do estilo de vida sobre os níveis de saúde e qua-lidade de vida dos jovens tem sido amplamente do-cumentada na literatura da área da saúde pelo que o levantamento, monitorização e intervenção sobre os comportamentos de risco têm sido considerados por diversas agências de saúde como uma priori-dade de saúde pública. Neste sentido, a Ordem dos Enfermeiros (2010), com o intuito de promover a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de enfermagem aos adolescentes e jovens, alerta para a necessidade de se criarem programas que visem a sua saúde integral e que estes equacionem, de for-ma integrada, não apenas os fatores biológicos mas também os estilos de vida e os comportamentos de risco, o ambiente físico, cultural e socioeconómico, assim como a oferta e a organização dos serviços prestadores de cuidados a esta população.Foi neste enquadramento que se desenvolveu um estudo sistemático em 10 cidades portuguesas (Lisboa, Porto, Coimbra, Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Odivelas, Funchal, Viana do Castelo, Aveiro e Viseu), numa população de 1343 adolescentes e jovens adultos frequentadores de ambientes re-creativos, no intuito de se esclarecer quem são es-tes jovens, quais os seus hábitos recreativos e que comportamentos de risco adotam nestes contextos.

A noite, com o seu tempo e espaço individualizado do dia, é vivida na atualidade pelos jovens como uma oportunidade de rutura da experiência normalizada do quotidiano produtivo, das relações estipuladas e do formal e como o tempo de não obrigações. Neste contexto, a noite transforma-se num espaço de massificada apropriação pelos jovens, o que explica a proliferação atual dos espaços recreativos específicos a eles dirigidos.

compoRtamEntoS dE RISco Em JoVEnS fREQuEntadoRESdE amBIEntES REcREatIVoS notuRnoS. contRIButoSpaRa aS IntERVEnçõES Em SaúdE

Como fim último pretende-se a produção de uma base científica que permita guiar a prática de um modo consistente e ainda contribuir para a defini-ção de estratégias e politicas inovadoras de preven-ção e de promoção da saúde nesta matéria. A análise discriminada dos resultados apurados em cada uma das 10 cidades deste estudo permite veri-ficar que não existem grandes diferenças em relação ao perfil geral dos jovens e respetivos hábitos recre-ativos. Ou seja, apesar da diversidade dos contextos de diversão noturna oriundos de dez cidades com características próprias e diferenciadas, verifica-se uma tendência para a igualização daqueles que neles participam e subsequente vinculação a hábitos re-creativos hegemónicos e normalizados, fortemente enraizados na cultura juvenil atual. No entanto, em Lisboa, Coimbra e Funchal alguns indicadores apon-tam para hábitos recreativos noturnos mais vinca-dos e, em simultâneo, prevalências mais elevadas para muitos dos indicadores dos comportamentos de risco estudados. Estes achados sugerem que os comportamentos de risco se relacionam e interligam entre si, eventualmente potencializando-se numa contextualização ambiental e social favorável à sua ocorrência, o que confirma fazer sentido, no dese-nho de programas de promoção da saúde dirigido a populações jovens, atender à influência da cultura recreativa nos seus estilos de vida e na adoção de subsequentes comportamentos de risco.O consumo de álcool é generalizado a mais de 80% dos jovens em cada uma das dez cidades do estudo e as taxas obtidas referentes ao consumo de can-nabis, cocaína e ecstasy são muito superiores às taxas de consumo da população geral portuguesa, na mesma faixa etária. Os resultados apontam para que 53% dos jovens se embriagaram no mês que precedeu a entrevista, em média mais de uma vez por mês e que 26% são consumidores de cannabis. Acrescente-se ainda que 27% são policonsumido-res, ou seja, usam mais que 1 substância psicoativa em simultâneo.Confirmam-se hábitos recreativos mais frequentes nos jovens consumidores do que nos não consumi-dores e mais prevalentes nos consumidores mais assíduos de álcool, cannabis e policonsumidores. Esta vulgarização do consumo de álcool e drogas em contextos recreativos tem como implicações o desvio da problematização do consumo da tradi-cional questão da quantidade e frequência para o atual padrão de consumo recreativo típico. Embora estes “novos consumos” possam ser pontuais por se concentrarem aos fins de semana; não deixam de ser problemáticos pelas substâncias consumi-das; pelo predomínio do policonsumo (assente no consumo abusivo do álcool e de outras drogas ile-gais); pelos comportamentos de risco associados (derivados das alterações psíquicas induzidas pelas

maRIa DE luRDEs loPEs DE fREItas lomba, EnfERmEIRa, PRofEssoRa Da EsCola suPERIoR DE EnfERmaGEm DE CoImbRa, DoutoRaDa Em EnfERmaGEm E InvEstIGaDoRa Da uICIsa-E

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substâncias psicoativas consumidas); e pelos efei-tos nocivos a longo prazo do consumo continuado (psiquiátricos, psicológicos, físicos e problemas financeiros). Embora estes consumos possam ser separados da (tóxico)dependência como doença, pela sua irregularidade na frequência e por não conduzirem linearmente a padrões de consumo compulsivo ou descontrolados, são comportamen-tos que, embora hedónicos, correspondem a estilos de vida determinantes de problemas de saúde, par-ticularmente nas faixas etárias mais jovens, em que as taxas de morbilidade e mortalidade mais se asso-ciam aos estilos de vida e que, por tal, constituem--se importantes focos de atenção dos Enfermeiros. Por outro lado os resultados indicativos do estreitar de relações entre o consumo de álcool e drogas e a implicação dos jovens nas atividades recreativas, reforçam mais uma vez a necessidade de uma in-tervenção estrategicamente dirigida aos contextos e atividades desenvolvidas nos ambientes recreati-vos, numa perspetiva destes serem os locais onde uma mescla de fatores favorecedores do consumo conflui e subsequentemente um conjunto de com-portamentos de risco eclode.A análise dos resultados apurados neste estudo re-ferentes aos comportamentos sexuais possibilitou também algumas conclusões. Dos 95% dos jovens que já iniciaram a sua vida sexual, em média, cada jovem teve cerca de 2 parceiros sexuais nos últimos 12 meses. No mesmo período, 52% teve relações sexuais sob o efeito de álcool; 24% sob o efeito de drogas e 63% teve relações sexuais desprotegidas (sem preservativo). Para 45% destes jovens, álcool e drogas influenciam a decisão de ter uma relação sexual de risco e 8% reconheceu ter tido relações sexuais de que mais tarde se arrependeu, devido ao consumo de drogas ou álcool. Excetuando para o sexo desprotegido, verificou-se haver inter-rela-ção entre os comportamentos sexuais de risco, o consumo de álcool e drogas e a implicação dos jo-vens na vida recreativa. Constatada a confluência de frequências mais elevadas de comportamentos sexuais de risco nos consumidores; e sendo esta relação reforçada pelo facto de a prevalência des-tes comportamentos aumentar diretamente com a frequência dos consumos; confirma-se a influência de álcool e drogas nas práticas sexuais, cujo consu-mo inclusivamente muitos jovens referem valorizar pelos seus efeitos nas práticas sexuais. Por tudo isto, medidas de promoção da saúde no âmbito da sexualidade e dos consumos nocivos não deverão ser planeadas isoladamente, pois tal será ignorar o modo como os jovens integram ambos os compor-tamentos na sua vida social. Os profissionais que orientam as suas intervenções no âmbito da saúde sexual deverão compreender tanto o potencial se-xual como os efeitos desorientadores das substân-cias psicoativas, o que lhes permitirá, de um modo mais eficaz, identificar algumas razões subjacentes aos comportamentos sexuais de risco e desenvolver uma resposta mais holística.Quanto aos comportamentos rodoviários de risco, verificou-se que no mês que antecedeu a entrevista, 36% dos jovens inquiridos foi conduzido por alguém embriagado ou sob o efeito de drogas, 19% conduziu em estado de embriaguez e 9% fê-lo sob o efeito de drogas ilegais. Concluiu-se ainda que “ser conduzi-do” ou “conduzir” sob a influência de álcool ou dro-gas não apenas é mais frequente nos consumidores mas a sua ocorrência aumenta com a frequência do consumo e na razão direta da implicação na vida recreativa. Para além disso, os resultados eviden-

ciaram que os acidentes rodoviários decorrentes do consumo são mais frequentes nos jovens que perma-necem mais tempo na noite. É neste contexto que se propõem, não apenas medidas promotoras do trans-porte seguro, como o aumento da disponibilidade dos transportes públicos noturnos como alternativa ao transporte privado, mas também algumas medi-das de restrição da associação recreação-consumo--condução que, seguramente, irão afetar a sinistrali-dade associada ao consumo de álcool e drogas.A cultura recreativa noturna é responsabilizada por encerrar em si mesma, estímulos ambientais que funcionam como fatores de risco promotores de violência. Fatores sócio-contextuais como o tipo e volume da música, a disponibilidade de álcool ba-rato, a sexualização dos locais recreativos, o fun-cionamento em horários tardios, a sobrelotação, o desconforto, o excesso de fumo ou a falta de su-pervisão dos locais entre outros, podem induzir a ocorrência de atos violentos; sendo o consumo de álcool e de drogas amplamente referenciado como um dos fatores de risco de maior peso e como tendo uma relação direta com comportamentos violentos na generalidade. Este estudo permitiu confirmar algum envolvimento destes jovens em comporta-mentos violentos como lutas físicas, discussões, ameaças, problemas com a polícia ou até mesmo

A análise discriminada dos resultados apurados em cada uma das dez cidades deste estudo permite verificar que não existem grandes diferenças em relação ao perfil geral dos jovens e respetivos hábitos recreativos. Ou seja, apesar da diver-sidade dos contextos de diversão noturna oriundos de dez cidades com caracte-rísticas próprias e diferenciadas, verifica-se uma tendência para a igualização daqueles que neles participam e subsequente vinculação a hábitos recreativos hegemónicos e normalizados, fortemente enraizados na cultura juvenil atual

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transporte de armas para os ambientes recreativos, confirmando-se uma relação positiva entre a maio-ria dos comportamentos violentos estudados com o consumo de álcool e drogas e com a implicação na vida recreativa noturna. Por fim, refira-se que o género (masculino) e a idade (20 - 29 anos) mostraram ser as variáveis demográ-ficas com maior capacidade preditiva de consumos mais marcados e de alguns dos comportamentos de risco estudados, pelo que a sua influência deverá ser atendida no âmbito de uma prevenção mais indicada.Face aos resultados, delinearam-se propostas no âmbito da promoção da saúde e da prevenção de comportamentos de risco em contextos recrea-tivos, numa contextualização da intervenção de Enfermagem num referencial harmónico com os princípios da redução de riscos, da promoção da saúde e da aprendizagem social e focalizada quer para os ambientes recreativos quer para a interven-ção personalizada aos jovens. Defende-se a adoção de programas compostos, que combinem elemen-tos informativos e de mudança de atitudes, fatores reativos à pressão externa do consumo e de outros comportamentos de risco e componentes de prote-ção geral promotores do desenvolvimento de com-petências amplas e da saúde do indivíduo.No âmbito da promoção da saúde, a sua aplicação à prevenção de comportamentos de risco em ambien-

tes recreativos permite identificar e modificar fato-res ambientais (políticos, legislativos, económicos e sociais) que aumentem o risco dos jovens adota-rem esses comportamentos (abordagem segundo o género, idade, exposição a fatores de risco, …); e identificar os fatores que condicionam a sua preva-lência, tais como os fatores de acessibilidade (idade de acesso, horários de funcionamento, …), fatores de disponibilidade (preços, espaços disponíveis, …), fatores promotores do consumo de substâncias (publicidade direta, indireta e estratégias encober-tas de promoção, …); promover ambientes mais sau-dáveis e com menos riscos (condições de higiene e segurança, formação dos profissionais da industria recreativa, medidas de segurança e de controlo dos comportamentos de risco, …) e promover a captação de jovens para a aproximação aos serviços de saúde.Quanto à redução de riscos, algumas medidas suge-ridas que se enquadram neste modelo são o “con-dutor zero” (campanha 100% Cool, em Portugal) que promove a redução de riscos relacionada com o consumo de álcool; medidas de minimização de danos (distribuição de preservativos, acesso a tes-tes de alcoolemia, uso de copos de plástico…), o desenvolvimento de capacidades pessoais de valo-rização, mudança de atitudes e tomada de decisões através da educação e da acessibilidade a recursos e

a serviços; ações preventivas nos locais de diversão noturna onde os comportamentos se dão; etc.Por fim, veja-se que no modelo da aprendizagem social um dos seus postulados básico é que os pro-cessos que condicionam a aprendizagem humana incluem, entre outros, a motivação. É neste contex-to que se defende o recurso à consulta motivacional como estratégia que se adequa aos objetivos da in-tervenção junto destes jovens e cuja finalidade prin-cipal seja promover a mudança de atitudes e consoli-dação de comportamentos saudáveis. Como exemplo de outras medidas preventivas que resultam deste constructo cite-se o treino das habilidades sociais, a intervenção no ambiente próximo do indivíduo (fa-mília, escola, grupo de pares, …) e o conhecimento sobre os riscos associados aos comportamentos.Ressalve-se que para o sucesso da implementação destas medidas o Enfermeiro deverá atuar, de um modo interdisciplinar, com outros profissionais da saúde e instâncias sociais, focando a sua interven-ção na sensibilização dos responsáveis políticos, comunitários e da indústria recreativa para os pro-blemas ligados à cultura recreativa, no sentido de estabelecer parcerias institucionais e obter a sua colaboração e envolvimento na implementação das medidas propostas, enfatizando os benefícios que daí poderão advir para os jovens, para a própria in-dústria recreativa e para a comunidade.

Pontos de Vista Março 2013

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no total são 26 fotogra-fias, a preto e branco, fielmente retratadas por fotógrafos portu-gueses de renome no nosso país. Cada uma delas dá a conhecer bem mais do que uma

doença rara. Paramiloidose, Doença de Wilson, Acromegalia ou CAPS foram associadas a rostos, a pessoas que par-tilharam com o público expressões que descrevem uma vida repleta. Mais do que rostos, a Raríssimas, em colabora-ção com a Assembleia da República, deu a conhecer 26 exemplos de vida. “Mais perto do que é raro” pretendeu sensibilizar a população em geral para a questão das doenças órfãs, focando uma problemática: a discriminação dos doentes no acesso a terapêuticas, um alerta já levantado pela Presidente da Raríssimas, Paula Brito e Costa. Para a responsável, em Portugal, não existe equidade no acesso ao tratamento pe-los doentes raros, apelando às entida-des competentes para uma adaptação no estatuto do medicamento de forma a colocar um ponto final nesta “discri-minação”. “Se um dia precisasse de um tratamento órfão para um filho, fazia greve de fome à porta do Ministério da Saúde e não saía de lá sem essa tera-pêutica, desde que soubesse que tinha autorização de introdução no mercado e estaria para aprovação pela entidade re-guladora do medicamento. Era isso que devia fazer toda a gente”, afirmou Paula Brito e Costa, em declarações à Agência Lusa, no âmbito das comemorações do Dia Mundial das Doenças Raras.As fotografias estiveram expostas no corredor principal da Assembleia da Re-pública, um local privilegiado que pode ser visitado por todos os interessados. Na inauguração deste evento que mos-trou o rosto das doenças raras, Paula Brito e Costa agradeceu aos presentes, juntamente com o deputado do PSD, Ricardo Batista Leite, Maria Antónia Almeida Santos, deputada do PS, a de-putada do CSD-PP, Teresa Caeiro, João Semedo, deputado do Bloco de Esquer-da, e José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos. Pelo Parlamento, passaram ainda Maria de Belém Roseira, Quim Barreiros, Mota Amaral, António Vaz Carneiro, Manuel Pizarro, entre vá-rias outras individualidades. Mas, neste evento, os protagonistas não deixaram de marcar presença. Alguns dos rostos ali retratados passaram também pelo corredor da Assembleia da República, registando, para memória futura, uma imagem fotográfica do momento. Para cada imagem, foi criada uma frase.

“Também tu podes ser como eu…raro”. “Tenho um físico débil numa essência sã”. “Deficiente é aquele que não vê o sofrimento do seu semelhante”. “De pés feridos calço a tua consciência, num apelo à igualdade”. São, de facto, pessoas únicas, afetadas por patologias que atingem uma em cada 2000 pessoas. “Mais perto do que é raro” contou-nos 26 histórias, num universo composto por 600 a 800 mil portugueses raros, em estimativa.

Como uma forma de prestar homenagem a todos os portadores de uma doença rara, a Raríssimas (Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras) inaugurou a 2ª edição da exposição fotográfica “Mais perto do que é raro”. Exibidas na Assembleia da República, as 26 imagens foram dadas a conhecer no passado dia 28 de Fevereiro, Dia Mundial das Doenças Raras.

“maIS pERto do QuE é RaRo”ExPosIção EstEvE PatEntE DE 28 DE fEvEREIRo a 14 DE maRçoDOENÇAS RARAS

46António Vaz Carneiro

paula Brito e Costa,Ricardo Batista Leite

e Maria Antonia Almeida santos

Manuel pizarro e quim Barreiros

Mota Amaral e paula Brito e Costa

Maria Antonia Almeida santos, paula Brito e

Costa, Ricardo Batista Leite, teresa Caeiro,

jose Manuel silvae joão semedo

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Pontos de Vista Março 2013

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a Bioalvo é detentora de várias coleções de extra-tos naturais e sustentá-veis exclusivamente por-tuguesas. Uma delas está já concluída, a Pharma-BUG e é a única coleção comercial no mundo que

contém extratos naturais de micro-orga-nismos isolados a partir de amostras reco-lhidas a três mil metros de profundidade. As outras duas colecções, denominadas LUSOEXTRACT E LUSOMAREXTRACT, estão ainda a ser desenvolvidas mas, qual-quer uma delas, conta já com um grande manancial de extratos bioativos. Ao todo, são cerca de 40 mil amostras e ainda este ano serão coletadas mais 500 bactérias marinhas portuguesas.Tirar proveito das potencialidades da plataforma marítima portuguesa esteve na base do negócio da Bioalvo. “Portu-gal tem vantagens estratégicas e com-petitivas muito interessantes. Temos a maior plataforma continental da europa e a 4ª maior do mundo, é uma das mais profundas mas também uma das menos exploradas. Se nós tivéssemos um poço de petróleo no fundo da nossa platafor-ma, certamente o país prestaria imensa atenção e a sua exploração por terceiros teria que recompensar a Portugal. Ora, uma vez que temos recursos vivos que têm também eles um elevado valor, faz sentido investirmos nesta área”, explica Helena Vieira, CEO da Bioalvo.Para termos uma ideia da riqueza gené-tica do fundo dos oceanos, Helena Viei-ra fez um paralelismo, “estima-se que todos os micro-organismos que há no oceano correspondam ao equivalente a 278 mil toneladas de elefantes e 99 por cento da vida está no oceano, no entan-to, nós sabemos mais sobre o espaço do que sobre o fundo do mar”. Como tal, apenas 5 por cento da biodiversidade microbiana dos oceanos é conhecida. A Bioalvo pretende mudar esse paradig-ma, dando a conhecer a biodiversidade da plataforma nacional e, mais do que isso, encontrar materiais bioactivos e conceder-lhes uma aplicação às diferen-tes áreas industriais.

VALOR COMERCiALDOS COMPOStOS

As indústrias farmacêutica e cosmética foram aquelas com as quais a Bioalvo con-seguiu estabelecer parcerias mais facil-mente. Deste modo, em abril será lançado o primeiro produto comercial desenvol-vido pela empresa. Trata-se de um botox

marinho totalmente desenvolvido pela empresa portuguesa e de origem 100 por cento nacional e que agora pretendem co-mercializar internacionalmente.Sendo a grande estratégia da Bioalvo ma-ximizar as aplicações possíveis de cada uma destas amostras, a bactéria que deu origem a este botox terá também aplica-ções na indústria farmacêutica, no trata-mento de uma doença metabólica.Esta aplicação permitiu a entrada no mer-cado norte-americano no ano passado através de um acordo de colaboração ce-lebrado com o grupo farmacêutico Alpha-Vektor, líder nos EUA no desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Um importan-te passo dado pela Bioalvo, principalmen-te se tivermos em conta o quão difícil é “às empresas portuguesas entrar no mercado americano”, como afirma orgulhosa Patrí-cia Calado, Diretora de Desenvolvimento de Bioactivos na Bioalvo.Mas as potencialidades destes micro--organismos não se resumem a estas duas áreas e, portanto, já estão a ser desenvolvidas parcerias noutras áreas industriais. Helena Vieira deu alguns exemplos, “temos ativos nas nossas bi-bliotecas que podem servir, na agricul-tura, como agentes biológicos de contro-los de pestes; enzimas que, por terem a particularidade de funcionarem a tem-peraturas muito altas ou muito baixas, podem ser utilizadas desde a indústria química para melhorar processos e mi-nimizar gastos energéticos, a uma série de produtos de grande consumo, de que são exemplo os detergentes, por permi-tirem lavar a frio. Para além disso, temos micro-organismos que possuem mais do que uma enzima e que podem ser extraídas juntas para serem utilizadas, por exemplo, no fabrico de tira-nódoas

Líder em Portugal na área dos ingredientes de origem marinha para diversas aplicações industriais, a Bioalvo teve em 2012 um ano de afirmação a nível nacional e internacional. 2013 será o ano da afirmação comercial da empresa e já em abril será lançado aquele que é conhecido como o botox marinho português e que foi desenvolvido pela Bioalvo.

a EmpRESa poRtuGuESa lídEREm BIotEcnoloGIa

capazes de remover diferentes tipos de nódoas. Outra área em que ainda não conseguimos entrar mas temos aplica-ções para isso é a indústria têxtil, atra-vés da junção de um ingrediente fun-cional que venha, por exemplo da área cosmética, tais como os anticelulíticos”.

biOALVO PODERá LANçARMARCA PRÓPRiA

A Bioalvo pretende, desta forma, subs-tituir os ingredientes químicos que hoje existem por ingredientes naturais, oriundos de uma fonte totalmente sus-tentável e cujo processo de produção é muito mais ecológico. As vantagens são muitas. Por um lado, implicam uma única intervenção no ecossistema uma vez que as amostras coletadas podem ser depois reproduzidas laboratorialmente, o que provoca o menor dos impactos no meio ambiente. Por outro, este facto permite que as quantidades para comercialização sejam sempre asseguradas, já que é mui-to fácil replicar as condições necessárias

em laboratório e vezes sem conta. Para além disso, não depende de condições alheias como a luz solar ou o vento e não há qualquer tipo de manipulação genéti-ca aos organismos que se mantêm todos 100 por cento naturais.Se 2012 permitiu à Bioalvo ser reconhecida como um exemplo a seguir - sendo inclu-sivamente caso de estudo a nível europeu - e estar presente em todas as networks do sector, as expectativas para 2013 são igualmente elevadas. “Nos últimos anos apostamos muito nas áreas da cosmética e farmacêutica, este ano queremos expan-dir para as tais outras áreas para que, em 2015, já possamos ter provas dadas nas mesmas. Como queremos que 2013 seja o ano de afirmação comercial, vamos tentar continuar a lançar produtos a um passo rit-mado, queremos reforçar ainda mais a nos-sa presença nos EUA e, quem sabe, lançar uma marca própria na área da cosmética”, conclui Helena Vieira, levantando o véu das surpresas com que a Bioalvo nos poderá presentear ainda este ano.

bIoalvo Em DEstaquE Pontos de Vista Março 2013BIOTECNOLOGIA EM PORTUGAL

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patrícia Calado e helena Vieira

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Como caracteriza a ORPHANET? A ORPHANET (www.orpha.net) é um portal de referência internacional para doenças raras e medicamentos órfãos. Foi criada para garantir o acesso fácil a informação credível e cientificamente válida sobre essas doenças, assim como sobre os recursos médicos e sociais existentes em diversos países, agrega-dos num único sítio. É um repositório único em todo o mundo, prestando um serviço que de outro modo seria impos-sível. Atualmente, a informação cobre mais de 40 países.

Que balanço faz dos 11 anos do proje-to em Portugal?A ORPHANET-Portugal está sediada no CGPP (Centro de Genética Preditiva e Preventiva), no IBMC, desde 2009. Em 2011, lançámos o portal em português (www.orpha.net/national/PT-PT). Des-de então, os acessos diários dispararam,

devido ao número de pessoas de língua portuguesa em todo o mundo, cerca de 240 milhões. Conseguimos ainda par-cerias com o ICBAS, a Direção-Geral de Saúde, a ACSS, o INFARMED, a FCT, a SPGH, o Núcleo das Doenças Raras da SPMI, o CES e a Aliança Portuguesa de Associações das Doenças Raras. Po-demos dizer que o objetivo tem sido cumprido, pois o portal permite acesso e divulga informação que contribui para melhorar o atendimento dos doentes e aumentar a eficácia de utilização dos re-cursos médicos existentes.

Quer dizer com isto que com a OR-PHANET os doentes raros em Portu-gal ficaram menos desamparados? Exatamente. Sendo raras, é sempre di-fícil encontrar especialistas que diag-nostiquem estas doenças e encaminhem os doentes para centros especializados. Porque 80 por cento são genéticas, o seu

“A ORPHANET pode ser um instrumento crucial para a planificação e melhoria dos cuidados de saúde, e uma ferramenta base do Plano Nacional das Doenças Raras, facilitando a vida a inúmeros médicos, cientistas e doentes”, revela Jorge Sequeiros, Médico Geneticista e Coordenador Nacional, ORPHANET-Portugal, em entrevista à Revista Pontos de Vista. Saiba mais sobre a ORPHANET, um portal de referên-cia internacional para doenças raras e medicamentos órfãos.

“com a oRphanEt oS doEntES RaRoS Em poRtuGal fIcaRam mEnoS dESampaRadoS”

impacto é muitas vezes enorme em toda a família. Além de aglutinar informação científica e prática sobre doenças e sintomas, o portal permite dialogar com profissio-nais especializados e cientistas, e ajuda a identificar serviços de aconselhamen-to genético, consultas especializadas, laboratórios de diagnóstico, associações de doentes, projetos de investigação e ensaios clínicos a decorrer em Portugal e restantes países. Nesse sentido, os do-entes podem sentir-se menos isolados.

Qual a relevância deste projeto euro-peu, que existe no nosso país desde 2002?A pertinência, dimensão e credibilida-de da ORPHANET são claras quando olhamos para os parceiros envolvidos, como a Organização Mundial de Saúde, a OCDE, a EMA, a European Science Foun-dation e outros. Sendo originariamente

um consórcio europeu, a ORPHANET está já a difundir-se a nível mundial. O portal contem informação especializada para profissionais, tais como resumos sobre as doenças, recomendações clíni-cas e guias de emergência, mas também materiais de divulgação para doentes e população em geral. Para se ter uma ideia, recebe 20 mil visitas por dia, de 200 países, em todos os continentes.

Qual o público-alvo do portal?A ORPHANET fornece informação visan-do todos os tipos de público: doentes e famílias com doenças raras, associações de doentes, profissionais de saúde e investigadores, indústria farmacêutica, autoridades de saúde, agências regula-doras, meios de comunicação social e outros interessados.

O que se entende por doenças raras? O acesso a tratamentos neste tipo de doenças é ainda escasso?Na Europa, doença rara é definida como a que afeta uma em cada 2 mil pessoas ou menos. No entanto, havendo mais de 8 mil doenças raras já registadas, no seu conjunto afetam 25 a 30 milhões de eu-ropeus. Em Portugal, haverá 600 a 800 mil doentes raros, ou seja 6-8 por cen-to da população. Sendo raras, mesmo médicos especialistas podem ter pouco conhecimento. Em geral, a informação que se encontra é de difícil acesso e nem sempre credível. Isto faz com que o diag-nóstico seja muitas vezes difícil e atra-sado, com enorme perda de tempo e de recursos. Além disso, a maioria são he-reditárias e não tem ainda tratamento.

joRGE sEquEIRos, méDICo GEnEtICIsta E CooRDEnaDoR naCIonal, oRPhanEt-PoRtuGal, REvElaDOENÇAS RARAS

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A ORphANEt fornece informação visando todos os tipos de público: doentes e famílias com doenças raras, associações de doentes, pro-fissionais de saúde e investigadores, indústria farmacêutica, autoridades de saúde, agências reguladoras, meios de comunicação social e outros interessados”

“jorge sequeiros

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Pontos de Vista Março 2013

De que forma tem evoluído em Por-tugal a investigação no âmbito das doenças raras? A falta de apoios à in-vestigação é um problema evidente?Portugal foi um dos primeiros países a aprovar um Plano Nacional de Doenças Raras, em 2008, e a ter um documento para Centros de Referência. Porém, pou-co se adiantou ainda na implementação do Plano. Portugal tem também apro-veitado apenas parte dos programas de investigação em doenças raras finan-ciados a nível europeu, nomeadamente tendo ficado de fora até agora do IRDiRC (International Rare Diseases Research Consortium).

As doenças raras são negligenciadas pela Indústria Farmacêutica por não serem vistas pelos investidores como uma fonte de negócio?Como cada doença afeta poucas pesso-as, a indústria tende a investir menos nelas. Por isso se têm vindo a adotar incentivos a nível europeu e nacional, havendo já alguma indústria interes-sada em medicamentos órfãos (os me-dicamentos para as doenças raras). No entanto, o preço é ainda assim, muitas vezes, incomportável para os doentes e o Estado.

É importante assinalar o Dia das Doenças Raras de modo a chamar a atenção para esta problemática?É um Dia muito especial, a nível interna-cional, em que essas doenças ganham a visibilidade que não têm no resto do ano. Os doentes e as associações fazem ouvir a sua voz, podem conhecer melhor o que

está a ser feito e sentir que se quebra um pouco mais a barreira do isolamento em que muitos ainda vivem. É também uma oportunidade para discutir e juntar, no mesmo local, doentes, médicos, cientis-tas, indústria, políticos, meios de comu-nicação, agências reguladoras e autorida-des de saúde e segurança social.

O que é que podemos esperar da OR-PHANET para os próximos tempos?A equipa nacional continua a procurar os meios para manter atualizada, e em português, toda a informação disponível sobre doenças raras e medicamentos órfãos, além das consultas especializa-

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das, testes diagnósticos, laboratórios de qualidade, projetos de investigação e ensaios clínicos em curso, biobancos, re-gistos e associações de doentes em Por-tugal. Com a ajuda do nosso conselho científico nacional, estamos já a registar os centros que cumprem os critérios do EUCERD (o comité de peritos da CE), para se candidatarem às futuras redes europeias de referência. A ORPHANET pode ser um instrumento crucial para a planificação e melhoria dos cuidados de saúde, e uma ferramen-ta base do Plano Nacional das Doenças Raras, facilitando a vida a inúmeros mé-dicos, cientistas e doentes.

portugal foi um dos primeiros países a apro-var um plano Nacional de Doenças Raras, em 2008, e a ter um documento para Centros de Referência. porém, pouco se adiantou ainda na implementação do plano. portugal tem tam-bém aproveitado apenas parte dos programas de investigação em doenças raras financiados a nível europeu, nomeadamente tendo ficado de fora até agora do IRDiRC (International Rare Diseases Research Consortium)

“ “na europa, doença rara é definida como a que afeta uma em

cada 2 mil pessoas ou menos. no entanto,

havendo mais de 8 mil doenças raras já re-

gistadas, no seu con-junto afetam 25 a 30

milhões de europeus. em Portugal, haverá

600 a 800 mil doentes raros, ou seja 6-8 por cento da população. sendo raras, mesmo

médicos especialistas podem ter pouco co-

nhecimento. em geral, a informação que se encontra é de difícil

acesso e nem sempre credível. isto faz com

que o diagnóstico seja muitas vezes difícil e

atrasado, com enorme perda de tempo e de

recursos. além disso, a maioria são heredi-

tárias e não tem ainda tratamento”

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A APADR - Aliança Portuguesa de As-sociações das Doenças Raras foi fun-dada 2008. Porquê nesse ano? Que objetivos tinha e de que forma tem vindo a colocar em prática a dinâmi-ca existente desde a sua génese?Um grupo de associações, que trabalhou em conjunto na organização da Confe-rência Europeia de Doenças Raras em 2007, em Lisboa, em 2008 voltou a unir--se para dar corpo ao 1º dia das Doenças Raras. Nessa altura, ficou claro que, ape-sar das diferenças específicas das várias doenças, juntas poderiam chegar mais além e defender os objetivos comuns, trabalhando com as entidades oficiais (representando as suas associadas junto das Instituições na área da Saúde, Rea-bilitação, Segurança Social e Educação, ou entidades nacionais e internacionais com objetivos idênticos), defendendo as necessidades de quem vive com doença rara e sensibilizando a opinião pública para esta causa.A organização de eventos nos dias das doenças raras, a par de ações em mais de 60 países por instituições congéne-res, tem sido das atividades mais impor-tantes da Aliança. Neste âmbito, foram realizadas cinco conferências, colhendo sempre grande apoio da classe médi-ca e científica, e na maioria das vezes dos decisores e entidades públicas. A sensibilização tem também passado por campanhas de rua, spots na rádio e televisão, levando ao grande público as necessidades, dificuldades e preocu-pações das pessoas com doenças raras, consciencialização de que estas doenças existem, são diversas entre si e no seu total afetam muitas pessoas.A Aliança participou também em vá-rias sessões de consulta pública e em reuniões de colaboração com os Minis-térios da Saúde e Segurança social. Foi impulsionadora da recomendação para a criação do cartão de doente raro e fez parte do grupo de trabalho da Comissão de Coordenação do Programa Nacional para as Doenças Raras no desenho desse mesmo cartão.

Quais são as principais dificuldades que ainda existem em Portugal nes-te domínio? De que forma procuram contornar esses mesmos obstáculos? Como vivem as entidades, vossas as-

sociadas, face a todos estes constran-gimentos?O Programa Nacional para as Doenças Raras (PNDR), apesar de aprovado em 2008, não está ainda implementado. Dada a raridade destas doenças, é es-sencial a criação dos centros de referên-cia, onde o diagnóstico seja facilitado e haja um tratamento coordenado dos do-entes, formação e investigação. O cartão, já referido, é também de extrema impor-tância para garantir tratamento adequa-do em situação de urgência. Portugal foi um dos países pioneiros na criação de um PNDR, contudo vemo-nos agora a ser ultrapassados por outros países.As doenças raras não são alheias às di-ficuldades financeiras que a sociedade atravessa presentemente. Na Aliança a grande maioria do trabalho é voluntário e não há apoios institucionais, vivendo das quotas das suas associadas e de apoios pontuais de entidades privadas às atividades concretas que organiza.

“Em meu nome e de toda a direção da Aliança, gostaria, primeiro, de deixar uma mensagem de esperança. A investigação prossegue e o avanço da ciência, embora lento para quem sofre destas patologias, tem sido cada vez maior”. Foi esta a mensagem de esperança deixada por Marta Jacinto, Presidente da APADR - Aliança Portuguesa de Associações das Doenças Raras, que nos deu a conhecer um pouco mais da realidade da problemática das doenças raras em Portugal. O que está a ser feito? O que falta fazer? Qual tem sido o papel da APADR neste âmbito? Saiba mais da realidade em Portugal. Porque apesar de termos sidos pioneiros na criação de um Programa Nacional para as Doenças Raras (PNDR), em 2008, o mesmo ainda não se encontra implementado, e estamos a ser ultrapassados por outros países.

uma alIança pEloS dIREItoSdoS doEntES RaRoS

De que forma tem evoluído em Por-tugal a investigação no âmbito das doenças raras? A falta de apoios à in-vestigação é um problema evidente?A investigação e os locais onde é desen-volvida varia de doença para doença. Há projetos de investigação subsidiados, mesmo que parcialmente, por asso-ciações de doentes, tanto em Portugal como no estrangeiro. Infelizmente as verbas disponíveis não são avultadas e muito mais poderia ser feito. As doenças raras são algo que entusiasma e interes-sa os investigadores, e garantindo mais verba certamente se conseguiria melho-res e mais rápidas descobertas.

O Dia Internacional das Doenças Ra-ras assinalou-se no passado dia 28 de fevereiro, em mais de 60 países. Ainda assim, milhões de doentes continuam a não ter diagnóstico ou tratamento. Que comentário merece este cenário?

Em cada ano é escolhido um tema para este Dia. Este ano foi “Doenças raras sem fronteiras”, e pretendeu evidenciar--se que os problemas são similares em todos os países e que indo além-fron-teiras se pode encontrar soluções ou pelo menos mitigar as dificuldades. Não obstante, poucas são as doenças para as quais existe medicação – os chamados medicamentos órfãos – continuando as restantes a sujeitar quem delas padece a uma progressão na maior parte das vezes incapacitante, impedindo um dia a dia independente. No caso das doen-ças para as quais existem medicamentos órfãos, não representando uma cura, os doentes mentêm uma boa qualidade de vida.Quanto ao diagnóstico, muitas vezes é complexo pelo desconhimento das do-enças, pela sua variedade e outras vezes ainda pela confundibilidade das doen-ças e semelhança com variados quadros clínicos. Acreditamos que os centros de

maRta jaCInto, PREsIDEntE Da alIança PoRtuGuEsa DE assoCIaçõEs Das DoEnças RaRas, Em EntREvIstaDOENÇAS RARAS

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As doenças raras não são alheias às dificul-dades financeiras que a sociedade atraves-sa presentemente. Na Aliança a grande maioria do trabalho é voluntário e não há apoios institucionais, vivendo das quotas das suas associadas e de apoios pontuais de entidades privadas às atividades concretas que organiza

Marta jacinto

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referência poderão vir a dar uma res-posta mais adequada a esta questão.

Acredita que o problema reside no facto das doenças raras serem re-gularmente negligenciadas pela In-dústria Farmacêutica por não serem vistas pelos investidores como uma fonte potencial de negócio?Cada doença rara, apesar de afetar um número significativo de pessoas, não atinge uma dimensão apelativa do pon-to de vista comercial. Ainda assim, há a nível europeu incentivos para a investi-gação deste tipo de medicação, como ex-clusividade no mercado mais prolonga-da, e regras especiais para a aprovação deste tipo de medicação.

Sente que no domínio da investigação de doenças raras Portugal ainda se encontra demasiado atrasado relati-vamente a outros congéneres euro-peus e mundiais?É difícil, em termos genéricos, saber o estado da investigação de cada país, sendo a variação significativa de doença para doença. Países como a França e os

EUA promoverão a investigação na área das doenças raras mais que qualquer outro, mas hoje em dia este trabalho é transfronteiriço e a comunicação entre investigadores e doentes está facilitada.

De acordo com os dados da Comissão Europeia, um em cada quatro doen-tes esperou mais de 30 anos antes de lhe ser dado o diagnóstico correto. Como se explica este cenário? De que forma é vital que o Estado não se de-mita das suas responsabilidades nes-te domínio? Qual o nível de diálogo entre a Aliança e o Governo?A Eurordis, organização europeia de do-enças raras, da qual a Aliança faz parte, tem um estudo sobre esse assunto, ex-plicando a demora no diagnóstico pela raridade e complexidade deste tipo de patologias. Consideramos que um levan-tamento a nível nacional das patologias existentes e sua localização, por forma a criar um Registo Nacional, poderá vir também a melhorar o conhecimento e capacidade de ação do próprio Estado. A elaboração deste Registo Nacional implica meios e organização (através das USF/Hospitais Públicos) e procedi-mentos legais, para garantir a proteção de dados e privacidade dos cidadãos, e tem obrigatoriamente de ser apoiada e liderada pelo Estado.O diálogo entre a Aliança e as diversas entidades tem sido variável, tendo tido o seu pico enquanto existiu a Comissão

de Coordenação do PNDR. A Aliança foi recentemente ouvida pelo Grupo Parla-mentar da Saúde, onde teve oportunida-de de expressar as suas preocupações.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os portugueses que infelizmen-te sofrem com estas patologias? Qual o papel que a sociedade pode e deve ter?Em meu nome e de toda a direção da Aliança, gostaria, primeiro, de deixar uma mensagem de esperança. A investi-gação prossegue e o avanço da ciência, embora lento para quem sofre destas patologias, tem sido cada vez maior. De-pois apelar ao envolvimento, trabalho e apoio dos doentes (quando têm capaci-dade para tal) e seus familiares. É essen-cial que a população respeite e compre-enda a situação em que se encontram muitas das pessoas que sofrem destas doenças, assim como o seu apoio, seja material, de trabalho ou de divulgação.

Quais são os principais desafios e li-nhas de ação de futuro da Aliança?Continuaremos a lutar pelos direitos dos doentes raros, a trabalhar para dirimir os problemas transversais a todas as patologias, como centros de referência, cartão de doente raro, regis-to, apoios sociais, escolares, e na idade adulta, etc, e a apostar na divulgação, sensibilização e angariação de voluntá-rios empenhados.

Contactos da aliança:http://aliancadoencasraras.orghttps://www.facebook.com/AliancaDoencasRaras

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Revista Pontos de Vista (RPV) - Que tipos de tratamento da toxicodepen-dência existem atualmente na UE e de que forma se desenvolveu o tratamen-to desde meados da década de 1990?Alessandro Pirona (Respostas sociais e na área da saúde) - Como resposta à epidemia de heroína testemunhada na Europa durante as décadas de 1980 e 1990, o tratamento da toxicodependên-cia na UE tornou-se mais disponível ao longo dos últimos 15 anos. A prestação de tratamento em regime ambulatório, em particular, aumentou consideravel-mente durante este período, com um leque de serviços de tratamento – tais como trabalho de proximidade, servi-ços de baixo limiar e serviços de saúde primária – a serem criados ou a comple-mentar estruturas já existentes. Os atuais sistemas de tratamento na Europa caracterizam-se por uma vasta e diversificada rede de intervenções e de prestadores de serviços. Estes com-preendem abordagens farmacológicas e psicossociais que englobam a grande variedade de necessidades sociais e de saúde de quem consome drogas. Atual-mente, pelo menos 1,2 milhões de Eu-ropeus (15 – 64 anos) recebe todos os anos algum tipo de tratamento. Destes, mais de 700 000 receberam tratamento de substituição opiácea (ex. tratamento por metadona). Houve também um con-siderável investimento na área do trata-mento em Portugal, onde quase 40 000 pessoas estão em tratamento devido a toxicodependência (27 000 em trata-mento de substituição opiácea).Como nota positiva, a procura de trata-mento de problemas com heroína está a decair na Europa, incluindo Portugal. No entanto, tendências recentes mos-tram um aumento de novas procuras relativas ao tratamento de problemas relacionados com o consumo de canna-bis, especialmente por parte da popula-ção jovem. O consumo de novas drogas é também seguido de perto, em especial entre adolescentes, pois num futuro próximo, pode traduzir-se em novas procuras de serviços de tratamento. Paralelamente às intervenções farma-cológicas e psicossociais, os países eu-ropeus estão a desenvolver novas tec-nologias, tais como tratamentos através da internet e smartphones de modo a conseguir chegar aos jovens que pos-sam mostrar-se relutantes em abordar os serviços de tratamento tradicionais.

No entanto, é importante lembrar que abordar outros fatores, como a exclusão ou desemprego, é crucial para o sucesso a longo prazo dos resultados do trata-mento, independentemente da droga. O programa português Vida Emprego, que reabilita pessoas em tratamento de toxi-codependência proporcionando forma-ção e postos de trabalho, é neste campo um bom exemplo de boas práticas.

RPV - O que são as novas drogas e o que sabemos sobre elas hoje na Europa?Michael Evans-Brown (Ação sobre novas drogas) - Novas drogas são subs-tâncias psicoativas que normalmente pretendem reproduzir os efeitos de dro-gas controladas como a cocaína, MDMA (ecstasy) ou cannabis (1). Não são con-troladas pelas leis internacionais e, até muito recentemente, apenas algumas eram controladas em países europeus. Os efeitos destas drogas em humanos e os danos que possam causar são ainda bastante desconhecidos. No entanto, nal-guns casos estão ligadas a danos sérios.Até há 10 anos atrás, a maioria das novas drogas (muitas vezes chamadas “drogas de design”) era vendida diretamente no mercado ilícito e era produzida em la-boratórios clandestinos ou provinham de medicamentos desviados. Apesar de assim continuar a ser, o surgimento de euforizantes (legal highs), tais como a BZP (1-benzilpiperazina), marcou uma reviravolta fundamental no mercado de drogas. Atualmente a maioria das novas drogas é produzida em massa na China e na Índia e importada para a Europa onde é embalada e vendida no florescente mercado de euforizantes. Estes desen-volvimentos têm sido alimentados pela globalização e pelos avanços tecnológi-cos que também permitiram o desenvol-vimento de um mercado mais aberto.Inclui-se aqui também a publicidade e a venda através da internet e head shops. Em suma, a situação levou a um aumen-to dramático do número, tipo e dispo-nibilidade das novas drogas na Europa. O mecanismo de alerta rápido da União Europeia, operado pelo OEDT e pela Europol, monitoriza atualmente mais de 250 novas drogas. Em 2012, foram oficialmente notificadas pela primeira vez na UE através deste mecanismo, 73 novas substâncias, contra 49 em 2011, 41 em 2010 e 24 em 2009. Além disso, a monitorização do OEDT identificou 693 lojas na internet que vendiam novas

O consumo de droga continua a representar uma importante ameaça para a saúde pública europeia. A Revista Pontos de Vista visitou o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), sedeado em Lisboa, e conversou com três dos seus analistas científicos sobre os novos perigos em matéria de consumo de droga no espaço europeu, bem como sobre as políticas que estão a ser postas em prática para fazer face a estes novos desafios.

dRoGaS na EuRopa:noVoS dESafIoS E RESpoStaS

drogas na Europa em 2012 comparando com 314 em 2011 e 170 em 2010.O OEDT tem tido um papel pioneiro ao juntar importantes peritos europeus e internacionais com o intuito de avaliar o fenómeno das novas drogas e irá organi-zar o “3º Fórum internacional sobre novas drogas” em Lisboa de 27 a 28 de junho. O fórum deste ano irá focar-se nos métodos e mecanismos utilizados para monitorizar novas substâncias e tendências emergen-tes. Considerando o atual clima econó-mico, o evento irá explorar, entre outros, como esforços coordenados podem trazer valor acrescentado a nível nacional.(1) http://www.emcdda.europa.eu/activities/action-on-new-drugs

RPV - Como estão os países da UE a responder legalmente ao fenómeno das novas drogas?Brendan Hughes (Legislações nacio-nais) - A rapidez com que as novas subs-tâncias psicoativas podem surgir e ser distribuídas desafia os procedimentos legislativos estabelecidos de controlo das drogas. Um estudo (2) do OEDT mostra como os decisores políticos estão a exigir “novas medidas, mais rápidas e mais efi-cazes para controlo de drogas” que pro-tejam a saúde pública e impeçam os for-necedores de novas drogas de contornar os controlos. Também mostra que, atual-mente, a tradicional legislação em matéria de drogas não é o único meio disponível para responder aos desafios colocados por este fenómeno.O estudo do OEDT descreve alguns dos obstáculos práticos e legais que os Esta-dos-membros enfrentam ao responder

a estas novas substâncias. Testar produ-tos para identificar as substâncias ativas que eles contêm pode ser um processo longo e dispendioso. Podem faltar ini-cialmente dados fiáveis sobre saúde e outros riscos. Os processos legislativos que levam uma substância a ser contro-lada pela legislação em matéria de droga pode demorar mais de um ano.De forma a terem uma resposta mais rá-pida, alguns países invocaram leis sobre medicina, ou regulamentos relativos à segurança do consumidor que exige que os produtos à venda estejam devidamen-te rotulados. Atualmente vários paises mencionam “famílias químicas” na le-gislação em matéria de drogas além das substâncias individuais (de forma a con-trolar grupos inteiros). Alguns introduzi-ram “controlos temporários” enquanto se analisam mais aprofundadamente os riscos. Muitos paises proibiram a oferta não autorizada de novas substâncias psi-coativas sem penalizar a posse.“Os Estados-membros requerem capaci-dade para identificar rapidamente e ava-liar cientificamente as novas substâncias, cada vez mais diversas e complexas, que surgem no mercado” refere Wolfgang Götz, Diretor do OEDT. “Os seus mecanis-mos de resposta devem ser otimizados de modo a protegerem a saúde pública de forma eficaz e eficiente, minimizando as consequências adversas; o controlo ao abrigo da legislação em matéria de dro-ga é uma de várias opções que permitem atingir esse objetivo”.(2) http://www.emcdda.europa.eu/publi-cations/drugs-in-focus/responding-to-new--psychoactive-substances

obsERvatóRIo EuRoPEu Da DRoGa E Da toxICoDEPEnDÊnCIa (oEDt)DEPENDÊNCIAS

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Reconhecendo a adição ao álcool e às drogas como uma Doença e pre-conizando a abstinência como a melhor forma de enfrentar essa situação, a Liberdade XXI, apoiada numa abordagem holís-

-tica do problema, intervem a nível Fí-sico, Psicológico e Emocional de forma a ajudar a pessoa a recuperar uma vida Saudável, com Qualidade e Paz de Espi-rito. Em suma ajudar com que o indivi-duo se torne útil, produtivo, e usufrua do conforto emocional adjacente. Para isso, o plano de Tratamento é adapta-do a cada individuo, cuja própria história é também única e pessoal.Os dias, na Liberdade XXI, estão comple-tamente preenchidos com Terapias Indi-viduais e de Grupo, Palestras/Workshops, Psicoterapias, Terapias de Aconselha-mento, Atividades Terapêuticas, acompa-nhamento Clinico-Psiquiátrico, ginástica, relaxamento, passeios lúdicos, … Carlos Ramos, Diretor Executivo do Centro resu-me o Tratamento numa frase: “é um trei-namento para viver”.

NEGAçãO, CULPA, ACEitAçãOQualquer pessoa que vá iniciar um pro-cesso tão pesado emocionalmente como este tem, antes de mais, de quebrar a negação. Para o nosso entrevistado, cada caso é um caso, uns com maior, outros com menor dificuldade. Realça que aque-les que têm maior dificuldade são geral-mente os Jogadores Patológicos, cujo o bloqueio se chama “a falsa crença do res-gate” e os anoréticos. “Este último chega a ter perturbações ao nível da visão o que dificulta a aceitação, por sua vez, o Jogador Compulsivo está convencido de que o dinheiro é a solução para os seus problemas e que assim que pagar as suas dívidas está curado”. Por ultimo Carlos Ramos reportou-nos também a grande dificuldade vivida em relação ao alcoo-lismo, pura e simplesmente ser cultural no nosso País o consumo, e até por vezes, discriminatório o não consumo.

Quando o paciente deixa de negar o seu problema é a culpa que se abate sobre o mesmo e, como tal, na Liberdade XXI, trabalhar a aceitação do passado é um dos passos mais importantes para que o Dependente aprenda a viver consigo mesmo. É desta forma que a Autoestima é reconstruída e, aos poucos, as sensa-ções de prazer e os sentimentos de de-ver cumprido/utilidade voltam a surgir tornando que a pessoa cada vez goste mais de si mesma e usufrua do prazer inerente. Para Carlos Ramos, “os males mais terríveis são aqueles que fazemos a nós próprios e são nas nossas compo-nentes cognitivo/emocional que está o problema”…”ao mesmo tempo é facilita-dor pois se o problema está dentro do individuo, a solução também lá está.”

SiNAiS DE ALERtAPor mais bem concebido que seja um Tra-tamento, nada garante que não vá haver recaídas. A recaída não faz parte do Trata-mento, mas sim da Doença. Estas ocorrem mesmo em cerca de 60 por cento dos ca-sos. O acumular de situações é geralmen-te o mote, por isso, é necessário que os desconfortos do dia a dia sejam libertados periodicamente não deixando acumular e, por isso, a fase de pós-tratamento e recu-peração é essencial e nós garantimo-la du-rante o subsequente período até perfazer as 52 semanas gratuitamente. Na Liberda-de XXI, são realizados Grupos Semanais de apoio Pós-Tratamento e Prevenção da Recaída e Terapias Individuais de acom-

Alicerçado na Filosofia do Modelo de Minnesota (comummente conhecido por 12 Passos dos Alcoólicos/Narcóticos Anónimos), abriu no passado mês de fevereiro a Liberdade XXI que promete ajudar os Dependentes, Famílias e a Comunidade em geral e que conta com condições físicas acima da média, entre os quais se destacam o SPA, o Ginásio, todos os quartos em contexto de Suite, as condições para mobilidade reduzida e fantásticos espaços verdes na zona exterior. Com uma Equipa Técnica composta por profissionais experientes com provas dadas, na qual refe-renciamos Médicos de Clínica Geral e Psiquiatria, Neuropsicólogo, Psicólogas, Enfermeira e Terapeutas de Aconselhamento na área da Adição.

“é um tREInamEnto paRa VIVER”

panhamento com esse mesmo fim.“Há um conceito que tem de estar bem presente – a Adição não tem cura (Doen-ça crónica, progressiva e fatal), se tivesse, o alcoólico depois de tratado podia beber um copo que isso não implicaria em nada a sua recuperação. Algo que não aconte-ce. Se voltar a beber álcool a doença está automaticamente ativada”, afirma Car-los Ramos. Na identificação da Doença e eventuais recaídas cabe à Família um pa-pel muito importante. Uma simples fuga à regra é muitas vezes um sinal e, prin-cipalmente nos casos de recaída, sendo que ninguém é perfeito, o adicto em re-cuperação, que volta a chegar atrasado ao trabalho ou deixa de fazer a barba, quando por norma a faz regularmente, é caso para atenção e firmeza reforçada.Os sinais de alerta mais comuns são: de-terioração da aparência física, emagreci-mento acentuado, desleixo com a higiene pessoal, quebra súbita da performance profissional ou escolar, mudanças repen-tinas de humor, afastamento dos amigos

de infância e da família, alterações súbitas e inexplicáveis no humor e atitude da pes-soa, irritabilidade e, no caso de algumas drogas, medos irreais, ansiedade injustifi-cada e até mesmo paranoia, entre outros...

O PRObLEMA DAS SMARtShOPSNos consumidores das tão faladas “drogas legais”, à venda nas Smartshops que proli-feram por todo o país, estes últimos com-portamentos são muito comuns porque, como explica Carlos Ramos, “são drogas com uma capacidade nociva muito mais célere a nível do sistema nervoso central, com uma elevada afetação do cognitivo e que provocam uma grande desorientação temporal e espacial. Os efeitos são de tal forma imediatos e nocivos que muitas ve-zes o regresso torna-se impossível”.Por isso mesmo defende, “agilização no combate às Smartshops, cujos produtos à venda, por serem de tão fácil alcance, são as drogas da classe etária dos 20 anos. Temos de pensar seriamente e as politi-cas governamentais agirem no sentido da proibição da venda deste tipo de drogas. Está em risco o futuro o dos nossos jo-vens! Para isso, é preciso leis apertadas, com penas firmes, para quem promove o consumo e é isso que as Smartshops estão a fazer. No entanto, deixo uma ressalva – o problema jamais serão as Smartshops ou as drogas, o problema será sempre a pessoa”. Mas efetivamente estas são mais uma porta aberta para os consumos, com o handicap das substâncias serem rotula-das de uma forma “camuflada”.

CaRlos Ramos, DIREtoR ExECutIvo Do CEntRo lIbERDaDE xxI Pontos de Vista Março 2013DEPENDÊNCIAS

duplos diagnósticosA Liberdade XXI está também vocacionada para o Tratamento dos chamados Diagnósticos Duplos, que dizem respeito à ocorrência em simultâneo de per-turbações do foro psiquiátrico, como esquizofrenia, bipolaridade, psicoses, bo-derline, entre outros. Nestes casos, estas perturbações são potenciadas pelos comportamentos aditivos. O abuso de algumas substâncias, particularmente o álcool, canabinoides, alucinogénios e outros estimulantes ou alteradores po-dem mesmo ser a causa das referidas perturbações, podendo elas ser eféme-ras e somente fruto dos consumos de substâncias psicoativas.

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LER NA INTEGRA EMWWW.PONtOSDEViStA.Pt

Diana jorge, Carla Guedes, josé Ramos, Maria Alice Cabrinha e Carlos Ramos

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as funções dos rins no organismo são diversas, mas a mais conhe-cida e mais divulgada consiste na eliminação das substâncias tóxi-cas resultantes do funcionamento normal de todos os órgãos do cor-po; por isso se costuma ouvir di-zer que os rins “filtram” o sangue.

Os rins contribuem ainda, direta ou indiretamente, para o bom funcionamento do organismo, através de várias outras funções, como por exemplo, a re-gulação da quantidade de água e sal eliminados diariamente, a regulação da pressão arterial, a re-gulação da produção de sangue pela medula óssea, o funcionamento endócrino (hormonal), e o meta-bolismo mineral dos ossos. Os rins desempenham ainda um papel fundamental na eliminação prefe-rencial de medicamentos, ou de outras substâncias estranhas ao próprio organismo, acompanhando a intervenção do fígado. Pelo desempenho de todas estas funções os rins são órgãos muito importantes para o ser humano e sem o seu correto funciona-mento é impossível a vida sem dependência de tra-tamento dialítico ou transplante renal.

RiNS PARA A ViDA,PARE A LESãO RENAL AGUDA

As palavras “lesão aguda” significam que acontece uma alteração súbita nas funções do rim. Isto quer dizer que quando acontece uma “lesão renal agu-da”, o rim deixa, de forma súbita, de ser capaz de cumprir as suas funções ou seja, deixa de trabalhar.

MAS O QUE CAUSAA FALêNCiA AGUDA DOS RiNS?

Há várias causas que determinam que haja falên-cia aguda da função renal. As principais aconte-cem em situações de:• Falência cardíaca, ou seja, quando o coração não consegue impulsionar, com a força suficiente, o volume normal de sangue que deve irrigar os rins• Agressões ao próprio rim, tais como infeções, tumores, doenças inflamatórias (denominadas de nefrites) e ingestão de alguns medicamentos (an-ti-inflamatórios, antibióticos, anti tumorais)• Obstrução das vias de excreção da urina, quer a nível do rim, quer nos canais que drenam a urina do rim para o exterior – uretero, bexiga, uretra. Na base deste bloqueio estão problemas da próstata (no homem), tumores e cálculos

RECONhECER OS SiNtOMASMuitas vezes, logo no início da doença, as pessoas não se apercebem dos sintomas. Se estão hospita-lizadas, a doença é revelada pelas análises ao san-gue. Contudo, quando não existe o internamento a doença dá alguns sinais e manifesta-se através:• Diminuição da quantidade de urina (oligúria) ou ausência total de urina (anúria)

• Presença de sangue na urina (hematúria) ou uri-na muito escura• Edema (inchaço) das pernas e pés• Vómitos• Sensação de fraqueza e de cansaço fácil• Confusão mental• Convulsões

CONFiRMAçãO DE SiNtOMASSe tiver algum ou vários dos sintomas descritos deve-rá consultar um médico nefrologista que fará os testes necessários ao diagnóstico. O inquérito médico, análi-ses ao sangue, urina e exames de raios-x e ecográficos, serão suficientes, na maioria dos casos, para chegar ao diagnóstico da falência aguda do rim. Em alguns casos será necessário proceder a outro tipo de exames de imagem, mais sofisticados, que evidenciam imagens muito pormenorizadas do interior do corpo, como o TAC e as ressonâncias. Estes exames são bastante inócuos e não causam desconforto aos doentes. Se mesmo assim não se concretizar o diagnóstico, e caso o médico suspeitar de lesão intra renal não diagnosti-cada pelos exames anteriores, poderá estar indicado fazer uma biópsia ao interior do próprio rim.A biópsia só se faz em caso de internamento hos-pitalar e com anestesia local, através de uma fina agulha que, inserida na região lombar, removerá uma muito pequena quantidade de rim que será posteriormente observada num microscópio por outro médico especializado na execução destes exames e que num grande número de casos efetu-ará o diagnóstico. É também um exame confortá-vel para o doente e que na maioria dos casos ape-nas obriga a um dia de internamento.

A doença renal crónica é uma doença progressiva que se caracteriza pela diminuição do funcionamento dos rins, que pode levar à falência da sua função e à necessidade de diálise ou transplantação. Apesar de ter uma maior incidência nos adultos e nos idosos, a doença renal crónica pode atingir indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades. Com base na capacidade filtrante renal está estabelecida a existência de cinco estádios de evolução.

800 mIl poRtuGuESES SofREm dE doEnça REnal cRónIca

O tRAtAMENtO DA LESãO RENAL AGUDA

O tratamento vai depender da causa da lesão re-nal. Uma vez feito o diagnóstico, e determinando a origem, atuar-se-á no sentido de resolver o pro-blema. • No caso de infeção administrar-se-ão antibióticos• No caso de serem medicamentos a causa da in-suficiência, a medida adequada será parar de ime-diato a medicação a decorrer e administrar outras formas de tratamento (corticosteroides), para aju-dar na cura e na recuperação.• Caso o diagnóstico sejam tumores ou cálculos, devem ser removidos cirurgicamente ou por lito-trícia (cálculos). Nesta técnica, não cirúrgica, os cálculos são reduzidos a pequenas partículas que serão posteriormente eliminadas na urina.• As Nefrites necessitarão de terapêutica e medi-camentos específicos• Em todos os diagnósticos será instituída uma dieta adequada ao grau da lesão renal• Na maioria dos casos a cura será total e decorre-rá entre duas a três semanas. Por outro lado, em alguns casos mais raros, a recuperação será mais difícil e longa, havendo necessidade de interna-mento prolongado e de recorrer à utilização de técnicas terapêuticas que implicam o recurso a máquinas que substituem o rim na sua função de-purativa. Estas técnicas de substituição renal são, fundamentalmente, a hemodiálise – máquina que substitui o rim no filtrar do sangue – e a diálise pe-ritoneal – pode ser feita pelo próprio doente, em casa, e que é composta por um fluido introduzi-do diariamente no abdómen (peritoneu), através dum pequeno orifício executado pelo médico, que drenará para o exterior “arrastando” os tóxicos prejudiciais ao organismo.Seja durante duas ou quatro semanas, nos casos mais fáceis, ou durante várias semanas ou meses, nos casos mais complicados, convém frisar que uma boa parte dos casos de lesão renal aguda se curam completamente e que apenas raros casos poderão não curar havendo a possibilidade de, nestas situa-ções, perpetuar-se algum grau de insuficiência renal.Em Portugal estima-se que cerca de 800.000 pesso-as devam sofrer de doença renal crónica, mas numa boa parte, a doença passa despercebida. A doença renal crónica, numa qualquer fase da sua evolução, pode afetar 1 em cada 10 indivíduos na idade adulta. É para estas pessoas que se dirigem estas palavras de informação e de advertência. Na sua fase mais avançada, chamada de insuficiência renal crónica de grau severo, a vida só é possível através da diálise, ou de um transplante renal. Neste preciso momento, e no nosso País, já estão dependentes de tratamento substitutivo da função renal cerca de 16000 doentes (2/3 em diálise e 1/3 já transplantados).

fERnanDo nolasCo, PREsIDEntE Da soCIEDaDE PoRtuGuEsa DE nEfRoloGIa

DIA MUNDIAL DO RIM a oPiniÃo de...

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LER NA INTEGRA EMWWW.PONtOSDEViStA.Pt

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uma boa relação entre o doente e o enfermeiro é crucial para o sucesso de um tratamento, sobre-tudo quando estamos a falar de doentes cróni-cos, como é o caso dos insuficientes renais, que

passam, em média, cerca de 12 horas por semana com este profissional. A Revista Pontos de Vista esteve com Fernando Vi-lares, Presidente da Associação Portugue-sa de Enfermeiros de Diálise e Transplan-tação (APEDT), fundada em 1984 com o objetivo de melhorar as competências dos enfermeiros, particularmente dos que prestam cuidados aos doentes com insu-ficiência renal. Nestes casos, desde a fase da prevenção que envolve os cuidados de saúde primários até ao tratamento, o en-fermeiro está sempre ao lado do doente, podendo ser visto como a ponte entre o doente e o resto da equipa que o está a acompanhar. Com uma formação adequa-da aos altos níveis de exigência, o enfer-meiro tem competências para criar com o doente uma relação privilegiada. Apesar de, muitas vezes, num centro de diálise, ser visto como um enfermeiro que assume funções de outros grupos profis-sionais, para Fernando Vilares este profis-sional tem a sua ação bastante delimitada. “A função do enfermeiro é detetar o pro-blema e propor intervenções. Se não for da nossa competência, orientamos para outro profissional da equipa”, afiançou. Naturalmente que esta relação de proxi-midade exige uma extraordinária capaci-dade para dominar emoções. O enfermei-ro acaba por ser “adotado” quase como um elemento da família, sendo transpor-tado para um mundo de emoções difíceis de controlar. Apesar de ser exigente, o enfermeiro está preparado para isso,

sabendo “separar as águas”, nunca trans-mitindo ao doente qualquer sensação de frieza ou distanciamento que poderia levar à não adesão do doente à terapêu-tica. Este “treino” faz parte da sua forma-ção básica. Mas, quando se entra na área da nefrologia, para Fernando Vilares, a questão é bastante mais específica. “É diferente tratar um doente em ambien-te hospitalar depois de uma cirurgia. No caso das doenças crónicas, há uma re-lação prolongada”, disse. Esta exigência implica, além da formação base, uma for-mação pós-base que algumas unidades e serviços de nefrologia já vão realizando.

DESCONhECiMENtOSObRE A DOENçA

Apesar de se terem verificado melhorias significativas ao longo dos anos, a verda-de é que um insuficiente renal crónico, na maioria dos casos, não conhece bem a sua doença. Aqui o enfermeiro assume um pa-pel preponderante. Informa, ensina, treina

Informar, ensinar, treinar e avaliar. O enfermeiro da área de Nefrologia deve ser capaz de conciliar estas quatro intervenções no desempe-nho de um trabalho que é considerado fundamental junto do doente renal. Num centro de diálise, o enfermeiro pode ser bem mais do que um executor da técnica dialítica, deve contribuir para uma boa adesão ao regime terapêutico por parte do doente.

“o EnfERmEIRo é fundamEntalna EQuIpa QuE tRata o doEntE REnal”

e trata. Contudo, “a disponibilidade para formar não é a mais adequada, tanto em termos de espaço como de equipamento”, esclareceu Fernando Vilares que, rapida-mente, avançou com um exemplo. “Se um enfermeiro estiver a fazer um tratamento de hemodiálise que demora quatro horas, segue uma estratégia prescrita pelo mé-dico que tem de monitorizar e registar, não podendo em simultâneo esclarecer e informar com eficácia, porque a sala de tratamento não tem essa finalidade”.Portugal é um dos países da Europa com maior prevalência da doença renal cróni-ca, surgindo, segundo dados da Socieda-de Portuguesa de Nefrologia, anualmen-te, mais de dois mil novos casos em fase terminal da doença. A informação acerca dos tratamentos disponíveis é, muitas vezes, considerada insuficiente, mas, apesar disso, Fernando Vilares acredita que essa realidade está a mudar. Hoje, embora cada caso tenha as suas particu-laridades, os doentes já podem optar por

uma das técnicas de substituição renal: tratamento conservador, transplante re-nal, hemodiálise ou diálise peritoneal.

“DOAR UM RiMFAz bEM AO CORAçãO”

Foi com esta campanha que a Sociedade Portuguesa de Transplantação quis “che-gar” à sensibilidade dos portugueses. Em Portugal, os números de doação renal em vida estão aquém do desejado quer pelos profissionais quer pelos próprios doentes, representando cerca de dez por cento do total de transplantes renais efetuados. Para Fernando Vilares, esta expressão relativamente baixa está mui-to relacionada com aspetos culturais e falta de informação. “Os portugueses são supersticiosos e questionam muito este tipo de dádiva”, declarou. Por outro lado, a legislação que permite que qualquer pessoa seja dador de órgãos em vida, independentemente de haver relação de consanguinidade, é recente e, como tal, os resultados ainda estão a surgir. Mas, o que falta fazer? “Apostar na divulgação e apelar ao altruísmo das pessoas no sen-tido de ajudarem o próximo”, partilhou o Presidente da APEDT. Esta sensibilização deve ir bem mais além do dia 14 de Mar-ço (Dia Mundial do Rim).

PREVENiR A DOENçA RENALé A MELhOR SOLUçãO

Exercício físico regular, uma alimenta-ção saudável e a realização de check--ups periódicos contribuem para evitar o aumento da patologia renal. Para que a mensagem seja entregue, Fernando Vilares deixou o repto: “as organizações competentes que não se preocupem em investir, ainda mais, nas campanhas de informação e sensibilização, porque es-tão a contribuir para a melhoria da quali-dade de vida dos portugueses e redução dos custos com a saúde”.

fERnanDo vIlaREs, PREsIDEntE Da assoCIação PoRtuGuEsa DE EnfERmEIRos DE DIálIsE E tRansPlantação (aPEDt) Pontos de Vista Março 2013DIA MUNDIAL DO RIM

a aPedtCriada a 22 de Março de 1984, a APEDT tem como missão “a re-presentação dos Enfermeiros da área de Nefrologia, propondo e defendendo de forma responsá-vel o seu exercício profissional. Em colaboração com outras asso-ciações e organizações, procura dar o seu contributo para que o exercício da enfermagem se faça dentro dos mais altos padrões de qualidade e segurança”.

Perspetivas para o encontro Renal 2013“É um encontro muito importante para a comunidade portuguesa de nefrologia. É um espaço privi-legiado onde enfermeiros e mé-dicos se encontram, trocam im-pressões e conhecem o trabalho de profissionais de outros países. Ao conhecermos, ficamos orgu-lhosos porque percebemos que estamos ao mesmo nível quer na prestação de cuidados quer no tratamento”

– Fernando Vilares

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Fernando Vilares

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Especialista em nefrologia e medicina intensiva, Pe-dro Ponce foi, durante 19 anos, diretor do serviço de nefrologia da unidade de transplantação do Hospital Garcia de Orta. Hoje, é di-retor clínico da unidade de

diálise do Lumiar, coordenador do cen-tro de acessos vasculares Nephrocare e Country Medical Director da Fresenius Medical Care Portugal. Não está na em-presa desde a sua entrada em Portugal, em 1993, mas conhece-a como a palma da sua mão.Introduzindo níveis que procuram no mínimo a excelência nos cuidados de saúde aos doentes renais, desde a sua génese que a Fresenius se comprometeu a desenvolver produtos e terapêuticas de diálise inovadores, construindo um lugar de destaque no mercado em que atua. Mas, para que se tenha conseguido impor nesta posição, a Fresenius teve de saber adaptar-se às exigências de um mundo em constante mudança, sempre alicerçando o seu crescimento em dois fatores primordiais: qualidade e organi-zação. “Esta tem sido a única forma de continuarmos a prestar a mesma qua-lidade de trabalho, apesar das violen-tas restrições em termos de reembolso pelo Serviço Nacional de Saúde ao tra-tamento destes doentes. Se não fosse a integração de toda esta companhia de equipamentos e cuidados, dificilmente se poderiam aguentar as atuais limita-ções”, defendeu Pedro Ponce. É, assim, graças ao trabalho integrado de uma rede de colaboradores muito vasta, “co-mandada” por um equipa de diretores clínicos bastante organizada que a Fre-senius tem conseguido fazer face à nova realidade portuguesa.

Essa é também a opinião dos pacientes que diariamente entregam as suas vidas nas mãos destes profissionais. Através de inquéritos de satisfação validados internacionalmente, a Fresenius dá voz a quem dá sentido ao nome da empre-sa. Apesar das avaliações positivas, a empresa não tem estado indiferente às preocupações sentidas pelos doentes. “Existe uma gama de cuidados comple-mentares que fazemos e que tem esta-do mais restrita aos nossos doentes. As opiniões têm sido positivas mas, ainda assim, nota-se uma grande preocupação em relação a aspetos que eram julgados assegurados e que podem não estar”, asseverou Pedro Ponce. Serviços ligados a cuidados de alimentação ou apoio psi-cológico, mesmo não estando contratu-alizados com o SNS, eram assegurados pela Fresenius de forma a garantir um maior conforto a doentes que dedicam muitas horas do seu dia em cuidados de saúde. A famigerada crise, mais uma vez, ditou o rumo destes serviços mas, ter-

Com 36 clínicas de hemodiálise e mais de 2000 colaboradores, a Fresenius Medical Care faz chegar, diariamente, cuidados renais integrados a mais de 4000 insuficientes renais crónicos. Implementou-se em Portugal em 1993 mas, a nível internacional, era já considerada a “Com-panhia de Diálise do Mundo”. Com um conhecimento vanguardista e uma constante aposta na inovação, com a Fresenius, os pacientes em diálise terão a garantia de que lhes será dada a “melhor perspetiva possível de vida”.

“pRomoVEmoS um tRatamEnto GloBal, holíStIco E IntEGRado do doEntE REnal cRónIco”

minado um período mais conturbado, Pedro Ponce acredita que estão criadas condições para que os doentes voltem a ter acesso a estes cuidados extra.

CENtRO DE ACESSOSVASCULARES

De acordo com estudos científicos, os problemas dos acessos vasculares são os principais causadores de interna-mentos e mortalidade dos doentes. Além de ser uma fonte de sofrimento e angústia sem precedentes. Como tal, a Fresenius procurou dar resposta a esta necessidade dramática, preenchendo uma lacuna que, segundo Pedro Ponce, o SNS não conseguiu responder. O que começou como uma experiência pontu-al levada a cabo por dois cirurgiões, ra-pidamente tomou outras proporções e, em 2004, foi erguida uma estrutura que obrigou à presença de uma equipa per-manente de cirurgia ao longo de toda a semana. Os resultados não tardaram a chegar. “Verificou-se uma redução dos

internamentos por problemas de aces-sos vasculares, o número de doentes a fazer diálise por cateter de longa dura-ção (pior tipo de acesso existente, com um enorme risco de infeção) diminuiu muito e a qualidade do trabalho de-senvolvido é de excelência”, descreveu Pedro Ponce, coordenador do Centro de Acessos Vasculares. Todavia, em 2008, o processo acabou por ser abalado por uma nova legisla-ção sobre os reembolsos e a Fresenius foi obrigada a interromper o apoio que dava a vários hospitais no sentido de su-prir esta carência em cirurgia de acessos vasculares. Estes acessos voltaram a ser desenvolvidos pelas instituições hospi-talares públicas, passando, recentemen-te, a integrar o preço compreensivo, que obrigou ao investimento em condições necessárias ao crescimento do serviço através da integração da unidade de an-giografia. A funcionar nas instalações da Clínica de Diálise do Lumiar, o Centro de Acessos

PEDRo PonCE, DIREtoR ClínICo naCIonal Da fREsEnIus mEDICal CaRE Em DEstaquEDIA MUNDIAL DO RIM

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serviços Clínicos:- Hemodiálise na Clínica- Diálise Domiciliária- Acessos Vasculares- Diálise em Férias- Gestão de Fluidos- Assistência Técnica- Transporte de Doentes

pedro ponce

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Pontos de Vista Março 2013

Vasculares “tem sido uma experiência muito gratificante para os doentes, bem como para a logística das unidades de di-álise”. Para Pedro Ponce, além da “grande satisfação humana e pessoal, estou or-gulhoso do excelente trabalho efectuado por toda a equipa. Ninguém tem ficado a perder. Conseguimos prestar este ser-viço de excelência dentro do orçamento apertado com que nos comprometemos com a nossa administração, condiciona-da por quem paga os cuidados de saúde. Temos efectivamente conseguido resul-tados palpáveis, uma redução assinalável do número de doentes dialisados por cateter e uma queda de 45 por cento do número de internamentos motivados por problemas do acesso vascular ”, salientou o responsável. A expansão de mais centros de acessos vasculares para outros pontos do país tem sido colocada em causa pelas deci-sões da esfera política. “A desculpa que as autoridades só estão preocupadas com os custos e que a qualidade é cla-ramente secundária, não colhe. Prefiro que se preocupem com o dinheiro, não deixem o sistema ir à ruina, nós preo-cupamo-nos com a qualidade e com o bem estar das pessoas. O importante é não alterarem as regras a meio do jogo, e sermos respeitados como parceiros as-sistenciais e não olhados com a descon-fiança habitual, mas nunca justificada”, partilhou Pedro Ponce.”

NEPhROCARE:“thE WAy OF CARiNG”

“A forma de cuidar” é o mote da plata-forma de serviços disponibilizados pela Fresenius. Enquanto prestadora de cui-dados diretos aos doentes, a empresa adoptou um nome que descreve um vas-to conjunto de serviços e produtos que promove um “tratamento global, holísti-co e integrado do doente renal crónico”: Nephrocare. Cuidar do doente é a grande missão e a Fresenius é a prova de que é possível fazê-lo cuidando, simultaneamente, do meio ambiente, tendo em atenção aspe-tos considerados como obrigações para a comunidade. Desde o consumo de água e de eletricidade ao destino dado ao lixo, a empresa tem tentado reduzir estes consumos “abusivos para a popu-lação em geral e para a ecologia”.

PREVENçãO DEDOENçAS RENAiS

“O trabalho de prevenção de doenças renais coincide com o trabalho de pre-

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venção da diabetes, da obesidade e da hipertensão”. Segundo Pedro Ponce, os cuidados a ter são basicamente idên-ticos, alterando apenas alguns aspetos mais específicos de cada um destes pro-blemas. Nesta preocupação partilhada por médicos e doentes, há um grande enfoque na ação dos especialistas em medicina geral. Mas, a par do que já tem sido feito, Pedro Ponce acredita que este trabalho de sensibilização pode ir mais além, tendo sido já uma preocu-pação da Fresenius enveredar por um caminho de prestação de serviços an-

tes da diálise. Contudo, a estrutura do país é, para Pedro Ponce, uma barreira a ultrapassar. “Mesmo assim, ainda não desistimos de estudar formas de articu-lação mais produtivas com os cuidados médicos primários”, afirmou. Mas, para uma empresa que “vende” diálise, qual é a lógica de apostar com tanta veemên-cia na prevenção? “Os doentes que che-gam à diálise vão chegar em melhores condições. Além de que menos doentes é sempre melhor do que doentes que estão constantemente internados e que, infelizmente, morrem”, respondeu.

Fresenius no mundoSurgiu em 1912 como uma empresa especializada no sector dos produtos para a área da diálise. Depois, a sua área de negócio passou a abranger os produtos de infusão, transfusão e nutrição, prestando ainda serviços para as áreas de consultoria e prestação de serviços de diálise. Hoje, é considerada a “Companhia de Diálise do Mundo”, sendo um nome de sucesso no sector dos serviços e produtos para diálise, assim como na prestação de cuidados de saúde a doentes em regime hospitalar e ambulatório.

dia mundial do Rim– 14 de março“Este dia tem sido importante para trazer atenção aos doentes. As campanhas têm que ser sempre feitas com muito cuidado para não induzir o pânico e o medo e trazer a perspetiva de que isto não é uma desgraça. Nos próximos dias mundiais do rim temos de ir mais longe e tentar levantar soluções fáceis e baratas para minimizar esta epidemia. De qualquer forma, este é um dia importante para mostrarmos aos doentes que estamos preocupados e atentos”

– Pedro Ponce

tRANSPLANtE DE RiMDE DADOR ViVO

Em Portugal, o transplante de rim oriun-do de dador vivo ainda tem uma expres-são pouco significativa. “Eu quero ser dador” é, para Pedro Ponce, uma ideia pouco estimulada, não tendo havido ainda um grande investimento nesse caminho. A doação em vida exige uma “forte máquina de campanha junto das pessoas”, um trabalho que já começou a ser desenvolvido. “É uma campanha que vale a pena fazer e que não pode ser pontual. Mas acredito que existirão mui-tos mais dadores porque a sociedade nunca foi trabalhada no sentido de ser dador em cadáver, quanto mais em vivo”, explicou. Atualmente, a transplantação renal de dador vivo representa cerca de dez por cento do total de transplantes renais realizados.

NO CAMiNhO DA iNOVAçãOPela excelente organização e pela aposta coerente e acertada na inovação, Portu-gal tem sido escolhido, de forma continu-ada, por outros países ligados ao Grupo Fresenius para testar novos conceitos de desenvolvimento de equipamentos e técnicas de tratamento. É nessa ver-tente vanguardista que a empresa quer continuar a apostar. “Vamos continuar a inovar e a progredir, trazendo novas solu-ções porque estamos no caminho delas”, garantiu Pedro Ponce. Paralelamente, es-tão a ser estudados e desenvolvidos vá-rios aspetos ligados ao desenvolvimento de monitores de diálise, membranas e filtros, no sentido de apresentar melho-res resultados, sem qualquer custo adi-cional para o doente que estará sempre no centro das preocupações desta equipa multidisciplinar.

se não fosse a integração de toda esta companhia de equipamentos e cuidados, dificilmente se poderiam aguentar as atuais limitações“

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foi, mais uma vez, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que a AMGEN, líder inter-nacional em biotecnologia, desempenhou o seu papel nas celebrações do Dia Mun-dial do Rim. Alicerçadas no tema “rins para a vida, stop à

lesão renal aguda”, as iniciativas de 2013 têm lançado uma série de alertas sobre as doenças que contribuem para que, de uma forma súbita, os rins deixem de fun-cionar. Dentro deste lema, decorreu no passado dia 14 de março, uma conferên-cia subordinada aos efeitos tóxicos dos fármacos e lesão renal aguda, numa pers-petiva fisiopatológica (Patrícia Cotovio), Clínica (Luís Rodrigues) e da Medicina Geral e Familiar (José Augusto Simões). A campanha deste ano visa, sobretudo, chamar a atenção da população para as causas que levam à falência aguda da função renal e que podem originar uma doença renal crónica. Podendo ser a fase inicial de uma doença renal cróni-ca, “é importante que estas campanhas alertem para a existência de situações evitáveis, como infeções, a toma, por vezes exagerada, de alguns medicamen-tos, situações obstrutivas como a litíase renal, frequente nos homens a partir dos 60 anos ou a obstrução pela hiper-plasia prostática. São situações evitáveis que se perpetuam no tempo e que vão evoluir para uma doença renal crónica”, alertou Filomena Sousa, Diretora Médi-ca da AMGEN, uma empresa que “tem investido com muito gosto e orgulho na educação para a ciência e saúde”. Efetivamente, a toma exagerada de al-guns medicamentos, sobretudo pela ca-mada mais idosa da população, tem sido um dos focos deste trabalho de preven-ção. “Queremos chamar a atenção para a questão dos fármacos que são tomados de uma forma crónica, sobretudo por indivíduos mais idosos que combinam a polimedicação com o facto de terem al-gum grau de insuficiência renal, próprio da sua condição de envelhecimento”, acrescentou Rui Alves, Professor de Ne-frologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.Como tantas outras patologias, a pre-venção da doença renal crónica está relacionada, essencialmente, com a in-formação e a educação da população em geral. Educar para prevenir é a men-sagem que tem feito eco. “Uma simples ida rotineira ao médico de família, aná-

lises regulares de sangue e urina” são, segundo Rui Alves, passos suficientes para que seja feita uma definição razo-ável da situação clínica de um possível doente renal. Filomena Sousa coloca ainda outro grande objetivo: “educar os portugueses para a redução da ingestão de sal, para o consumo de quantidades adequadas de água ou para a prática de exercício físico”. No fundo, importa modificar comporta-mentos e é essa a mensagem que deve, inevitavelmente, fazer parte do vocabu-lário de uma população que, apesar de tudo, não conhece bem a sua doença. “A medicina é muito difícil de explicar. Os doentes sabem, sumariamente, aquilo que têm mas têm sempre dúvidas. Por isso é que eles saltam de médico e pe-dem segundas opiniões. As pessoas jul-

No âmbito das comemorações do Dia Mundial do Rim, celebrado no passado dia 14 de março, o lema foi lançado no sentido de tocar a consciência da população. Estar atento aos sinais nem sempre é fácil uma vez que se trata de uma doença silenciosa. Mas o trabalho de prevenção é da responsabilidade de cada um. Os alertas para as doenças que fazem com que o rim, inesperadamente, deixe de desem-penhar as suas funções, estão, há muito tempo, no terreno.

“RInS paRa a VIda.Stop À lESão REnal aGuda”

gam que, com o avanço da ciência, tudo é explicável, mas é muitas vezes difícil explicar o que não tem explicação”, afir-mou em conversa com a Revista Pontos de Vista Mário Campos, Diretor do Ser-viço de Nefrologia do Centro Hospitalar de Coimbra. Decorridas mais de três décadas desde o início da nefrologia em Portugal, Mário Campos, um dos primei-ros internos de especialidade, assinala profundas mudanças. “Portugal tem uma boa cobertura nefrológica nacional, tem centros de diálise 24 horas por dia. Ao nível do transplante, fomos, no ano passado, o primeiro país por milhão de habitante a transplantar rins”, explicou. Ainda que Portugal seja dos países eu-ropeus com maior taxa de doação de ór-gãos, o número continua a estar muito aquém do esperado e desejado.

ENtREGA DO PRéMiONEFROLOGiA

Ana Margarida Novo e Rita Loreto Ilhão Moreira. As duas alunas do 5º ano mé-dico obtiveram a melhor classificação na disciplina de nefrologia e, por isso, trabalharam por merecer o Prémio Ne-frologia, no valor global de 1000 euros em material didático, com o apoio da AMGEN. Pelo oitavo ano consecutivo, a disciplina de nefrologia da Faculdade Medicina da Universidade de Coimbra e o Serviço de Nefrologia do Centro Hospita-lar e Universitário de Coimbra entregam este galardão no Dia Mundial do Rim, com o objetivo de estimular e dinamizar o espírito trabalhador dos estudantes. “Quero que os meus alunos sejam bons naquilo que fazem”, afiançou Rui Alves. Mas, além do trabalho e da motivação dos profissionais e dos alunos, nada seria possível sem o apoio inestimável da AM-GEN. “Queremos apostar nos jovens mé-dicos que serão, num futuro próximo, os grandes responsáveis pela melhoria da qualidade dos serviços e, também, pela melhoria da prevenção da doença renal”, afirmou Filomena Sousa. Inspirada no lema deste Dia Mundial do Rim, “são eles que nos vão ajudar a manter os rins para a vida”, concluiu.

DIa munDIal Do RIm, CElEbRaDo a 14 DE maRço, na quInta Das láGRImas, Em CoImbRaDIA MUNDIAL DO RIM

a propósito do dia mundial do Rim, que mensagem deve ser deixada?Filomena Sousa – “Gostaria que houvessem mais investimentos na prevenção e na educação para a saúde”Rui Alves – “A doença renal exis-te. As pessoas devem olhar pelos seus rins, preocuparem-se e pro-curarem saber qual é o seu grau funcional, tal como procuram sa-ber como funciona o coração”

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Armando Carreira, Filomena sousa, patrícia Cotovio, Luís Rodrigues, Mário Campos, Rui Alves e josé Augusto simões

Mário Campos, Ana Margarida Novo, Rita Ilhão Moreira e Rui Alves

“Portugal tem uma boa co-bertura nefrológica nacio-nal, tem centros de diálise

24 horas por dia. ao nível do transplante, fomos, no

ano passado, o primeiro país por milhão de habitan-

te a transplantar rins”

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