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SUPLEMENTO DISTRIBUÍDO EM CONJUNTO COM O JORNAL PÚBLICO / DISTRIBUIÇÃO NACIONAL - NOVEMBRO 2011 / EDIÇÃO Nº 12 Periodicidade Mensal - Venda por Assinatura - 4 Euros “Todos os dias mais de 50 mil portugueses usam os Laboratórios Privados” COOPERAÇÃO CPLP EXCELÊNCIA DOS PRODUTOS LUSOS IMUN – Iberian Model United Nations Papel dos convencionados nas Análises Clínicas é fundamental para o utente do SNS António Taveira Presidente da ANL - Associação Nacional de Laboratórios

Revista Pontos de Vista Edição 12

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“Todos os dias mais de 50 mil portuguesesusam os Laboratórios Privados”

COOPERAÇÃO CPLP EXCELÊNCIA DOS PRODUTOS LUSOS IMUN – Iberian Model United Nations

Papel dos convencionados nas Análises Clínicas é fundamental para o utente do SNS

António TaveiraPresidente da ANL - Associação Nacional de Laboratórios

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É hoje um dado adquirido que os laboratórios de análises clínicas têm uma importância insubstituível no sistema de saúde. Também é perfei-tamente compreendido e aceite que o tratamento dos doentes exige equipas multidisciplinares que se articulem e colaborem no sentido de conseguirem os melhores e maiores ganhos para os doentes com cus-tos perfeitamente adequados à realidade da sociedade em que estamos inseridos. Os portugueses têm sido «bombardeados» diariamente com notícias e apontamentos relativamente à crise económica, aos constran-gimentos financeiros que o nosso país enfrenta e aos cortes que serão necessários em diversos sectores incluindo o da saúde.

“Os Laboratórios Clínicos contribuem para a melhoria da Saúde”

APAC – Associação Portuguesa de Analistas Clínicos

Desde há anos quando se fala de custos em saúde surge de forma recorrente a referên-cia aos laboratórios conven-

cionados procurando dar-se a ideia de que é um sector onde se gasta de-masiado ou como sendo aquele que, através de restrições diversas, seria possível resolver o problema dos cus-tos com a saúde.O facto é que apesar de os exames la-boratoriais estarem na base de cerca de 70% das decisões clínicas tomadas pelos médicos, segundo um estudo re-cente realizado no reino Unido pelo UK

department of Health, que poderemos extrapolar para a Portugal de forma aproximada, representam entre nós me-nos de 2,5 % das despesas em saúde (no reino Unido este valor é < 4%, segundo o estudo referido).A revista Pontos de Vista foi conhecer mais a fundo este sector, uma área que tem evoluído sobremaneira e que é fundamental ao nível da saúde, sendo importante continuar a apostar forte-mente neste sector em prol de serviços de qualidade e excelência, tal como tem vindo a ser realizado até aqui. Ouvimos jorge Nunes de Oliveira, Presidente da

Jorge Nunes de Oliveira

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SAÚDE

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4 Novembro 2011 Pontos de Vista

APAC – Associação Portuguesa de Analistas Clínicos

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APAc – Associação Portuguesa de Ana-listas Clínicos, e ficamos a conhecer as principais potencialidades de um sector que marca a diferença a nível nacional e não só, os diversos problemas que actu-almente enfrenta, sem esquecer que o sector convencionado por vezes consi-derado um «parente pobre» do sistema de saúde em Portugal, é imprescindível para o mesmo.Mas quem é a Associação Portuguesa de Analistas clínicos? de que forma é que esta entidade tem vindo a promover a defesa dos interesses dos associados e consequentemente do sector? Funda-da há cerca de 33 anos, mais concreta-mente em 1978, a APAc surge como um movimento associativo de empregado-res, tendo como principal desiderato desenvolver e apoiar a actividade dos laboratórios de análises clínicas, tendo como ponto de ordem a promoção da sua actividade sob o ponto de vista cien-tífico, económico e social. “Essa defesa tem vindo a ser diariamente colocada em prática e hoje posso garantir que este sector, ou seja, os laboratórios clí-nicos portugueses, estão perfeitamente preparados para responder aos desafios e exigências colocadas pelos doentes/utentes e às necessidades do sistema de saúde português”, salienta jorge Nunes de Oliveira. representante da maioria dos laborató-rios clínicos de proximidade existentes em Portugal, continente e ilhas, a APAc tem vindo a percorrer um trilho de su-cesso e de confiança, sendo actualmente uma entidade sobejamente conhecida e reconhecida pelos seus pares, tudo fruto do brilhante e enorme trabalho que tem vindo a ser feito ao longo destes anos de existência.“Intervimos ao nível da regulamentação dos contratos colectivos de Trabalho, em protocolos firmados com entidades bancárias e seguradoras no sentido de apoiar a actividade dos sócios. Além disso, promovemos o apoio jurídico e fomentamos a formação contínua e o desenvolvimento de sistemas de gestão de qualidade a serem implementados nos laboratórios de que destacamos o processo de “Dupla Certificação ISO 9001:2008 + Normas para o Labora-tório clínico”, em parceria com a Or-dem dos Farmacêuticos, sistema este auditado por entidades externas onde pelo menos um dos auditores deve ser especialista em análises clinicas ou em patologia clinica, e que tem conhecido

desde o ano 2000 um êxito assinalável. Temos neste momento 74 laboratórios com esta dupla certificação”, afirma o presidente da APAc, jorge Nunes de Oli-veira, que referiu ainda que a associação tem também como papel primordial e central na representatividade dos as-sociados da APAc junto dos principais organismos oficiais da saúde como o Ministério da Saúde, A Entidade regu-ladora da Saúde, entre outros parceiros intimamente relacionados com o sector das análises clínicas. Para a APAc a actividade empresarial dos laboratórios tem de estar ligada ao exercício profissional de serviços de saúde na área das análises clínicas. “A nossa singularidade está neste concei-to pois entendemos que a saúde é um negócio com características especiais, que não pode estar sujeito à especula-ção financeira e deve ser bem regulado porque não estamos a negociar um qual-quer produto ou serviço. Estamos a falar de saúde humana e de pessoas. Assim, acreditamos que não podemos encarar esta actividade única e exclusivamente

numa perspectiva económica”, assevera o nosso entrevistado, assegurando con-tudo que este facto não deve ser impe-ditivo de se poupar, mesmo neste sector da saúde. “Naturalmente que existe es-paço para pouparmos ao nível da saúde. Temos apenas de procurar onde isso pode acontecer e reduzir os gastos su-pérfluos e desnecessários”, salienta Jor-ge Nunes de Oliveira.contudo, conforme nos referiu, as res-trições económicas por que passam os laboratórios a acentuarem-se, podem pôr em causa serviços que muitos deles têm vindo a prestar de forma pratica-mente gratuita aos cidadãos e de que é exemplo relevante pela importância que tem, o apoio dado aos doentes hipoco-agulados, a maioria dos quais é consti-tuída por pessoas idosas e dependentes que exigem um atendimento pessoal pelo especialista do laboratório em aná-lises clínicas ou em patologia clínica com esses doentes e ou seus familiares ou pessoas que lhes são próximas, e uma disponibilidade permanente.A APAc está perfeitamente convicta que o sector convencionado das Análises clínicas, que contribuiu, de forma diria decisiva, para os ganhos em saúde veri-ficados em Portugal nos últimos 30 anos - pela proximidade dos especialistas dos laboratórios (existentes numa rede ca-pilar que cobre todo o país) aos médicos e aos doentes a quem disponibilizam os seus conhecimentos e conselhos de forma acessível, competente e imediata, com um custo totalmente controlável pelo Estado – continua a ser o modelo que melhor responde às necessidades dos cidadãos, que responde às questões da proximidade (porque é real), à huma-nização dos serviços (porque o doente/utente é livre na sua escolha), que tem um custo acessível (porque efectiva-mente é possível controlá-lo de forma directa, rápida e clara), sendo ainda o modelo que permite responder aos de-safios que uma medicina actual coloca em termos de actualização técnica, de desenvolvimento científico, de acessibi-lidade, de qualidade e equidade.

A convenção é um conceito que expres-sa um compromisso entre princípios profissionais e preocupações sociais, que enfileira ao lado das diversas moda-lidades que têm por finalidade controlar o aumento das despesas de saúde que nasceu dos princípios mais tradicio-nais da actividade médica e consagra “cedências” dos profissionais de saúde na fixação dos honorários, dando lugar a tabelas negociadas entre o Ministério da Saúde e as respectivas Associações representativas.A negociação de Nomenclatura e pre-ços dos exames de análises clinicas que têm acontecido com os dois últimos go-vernos (Agosto de 2010 e Setembro de 2011) demonstra a actualidade e inte-resse do sistema convencionado.Não percebemos por isso o motivo pelo qual os laboratórios convencionados não são considerados como parceiros e não fazem parte de forma efectiva e de corpo inteiro, da organização dos servi-ços de saúde e de forma particular não é feita a sua articulação com os cuidados de Saúde Primários cuja importância tem sido muito referida e que são um sector que merecerá a particular aten-ção do Governo e porque não foi pos-sível até agora, possibilitar a qualquer médico, em qualquer lugar e a qualquer hora, ter acesso, via internet segura, aos históricos analíticos dos doentes, exis-tentes nos sistemas informáticos dos la-boratórios convencionados, que a APAc vem propondo, sem sucesso junto das autoridades, e que permitiria ganhos económicos e uma maior celeridade de diagnósticos e tratamentos em muitas situações.Para além do “esquecimento” parece haver uma politica de destruição do sec-tor convencionado das análises clínicas, porventura porque não interessa a um certo “loby público”, que nos últimos tempos inventou o jargão da “Capacida-de Instalada”, que se sente “ameaçado” por poder vir a ter a concorrência da actividade privada de laboratórios com quem poderá ser comparada em termos de qualidade e acessibilidade na presta-

Os Laboratórios convencionados portugueses têm capacidade e pessoal alta-mente especializado – farmacêuticos especialistas em análises clínicas e médicos espe-cialistas em patologia clínica - para responder a estas e outras necessidades e continuar a contribuir, como o têm feito, de forma efectiva, nos últimos 30 anos para os ganhos em saúde registados em Portugal. Qual o motivo que leva os responsáveis pela saúde a não aproveitarem toda esta verdadeira e real CAPACIDADE INSTALADA

“ “ A nossa singularida-de está neste conceito pois entendemos que a saúde é um negócio com caracterís-ticas especiais, que não pode estar sujeito à especulação financeira e deve ser bem regulado porque não esta-mos a negociar um qualquer produto ou serviço. Estamos a falar de saúde humana e de pessoas. Assim, acredita-mos que não podemos enca-rar esta actividade única e exclusivamente numa pers-pectiva económica

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PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

ção destes serviços de saúde e, porque não dizê-lo, também a um outro tipo de interesses privados que encaram a saúde como um negócio essencialmente financeiro onde a especulação é consi-derada perfeitamente natural e legitima.A APAc entende que o sector das análi-ses clínicas não poderá ser um serviço unicamente público, sem controlo, nem regras, onde nunca se sabe qual é o seu custo real, nem um serviço privado ao sabor dos arbítrios da especulação fi-nanceira também sem quaisquer regras.Um pouco por todo o país têm surgido ultimamente iniciativas por parte de entidades públicas, realizadas em nome do aproveitamento de uma “capacidade instalada” desconhecida, de contornos duvidosos sob aspectos muito diversos,

e de autonomias administrativas cujos actos não são avaliados nem minima-mente enquadrados com a realidade social.Substituem-se assim laboratórios con-vencionados, que são controlados, por estruturas de custos desconhecidos que prestam serviços com uma qualidade desconhecida e com piores resultados sob todos os pontos de vista. A “capacidade instalada” de um labora-tório é infinita quer ele seja do sector público quer do sector privado e re-presenta a capacidade que as multina-cionais da industria do diagnostico in vitro, que legitimamente fazem os seus negócios e aproveitam as situações, es-tão dispostas a colocar à disposição de mega-estruturas laboratoriais de que se

tornam ”verdadeiras donas” pelas de-pendências que criam.A APAc que tem uma prática efectiva de defesa dos interesses dos seus asso-ciados mas numa perspectiva de defesa do interesse público, porque represen-ta entidades inseridas no tecido social português do qual fazem intimamente parte, gostaria de ver tornados públicos:• os custos dos laboratórios do sector público (tal como são conhecidos os do sector privado) • os gastos realizados em nome da “ca-pacidade instalada” nos locais onde os laboratórios convencionados têm sido substituídos por um serviço inteiramen-te público, assim como os contractos realizados, nos dois últimos anos para “instalar a capacidade instalada”.

• os custos excessivos, diríamos em al-guns casos escandalosos, e o número de doentes abrangidos com o controlo de doentes sujeitos a tratamento hipocoa-gulante, realizados em centros de Saú-de, Unidades de Saúde Familiar, Unida-des Locais de Saúde e Hospitais. • os custos e o número de doentes abrangidos com a auto-monitorização dos diabéticos Tipo ii não insulinode-pendentes, realizada nos centros de Saúde incluindo os meios disponibiliza-dos aos próprios doentes.• os custos do descontrolo no que res-peita às resistências aos antibióticos que não são hoje um problema exclusi-vamente hospitalar. São exemplos concretos de áreas onde os laboratórios convencionados, em muitos casos e regiões do país, têm prestado um verdadeiro serviço público de forma praticamente gratuita e que poderia ser desenvolvida e alargada com custos para o Estado mais baixos e controlados e benefícios muito signifi-cativos para os doentes.Os Laboratórios convencionados por-tugueses têm capacidade e pessoal al-tamente especializado – farmacêuticos especialistas em análises clínicas e mé-dicos especialistas em patologia clínica - para responder a estas e outras neces-sidades e continuar a contribuir, como o têm feito, de forma efectiva, nos últi-mos 30 anos para os ganhos em saúde registados em Portugal. Qual o motivo que leva os responsáveis pela saúde a não aproveitarem toda esta verdadeira e real cAPAcidAdE iNSTALAdA?

Essa defesa tem vindo a ser diariamente colocada em prática e hoje posso ga-rantir que este sector, ou seja, os laboratórios clínicos portu-gueses, estão perfeitamente preparados para responder aos desafios e exigências colo-cadas pelos doentes/utentes e às necessidades do sistema de saúde português

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FICHA TÉCNICA

Os artigos nesta publicação são da responsabi-lidade dos seus autores e não expressam ne-cessariamente a opinião do editor. reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. A paginação é efectuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos da revista, excepto nos anúncios com a localização ob-rigatória paga. O editor não se responsabiliza pelas inserções com erros, lapsos ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes. Quais-quer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabilidade do editor.

Sumário

54XVii conferência Anual iMUN organizada pela carlucci American international School of Lisbon de 10 a 12 de Novembro. conheça os jovens organizadores deste evento e os futuros líderes de amanhã

3A Excelência da Saúde – diversos players abordam esta temática

22Francisco George, director – Geral da direcção – Geral de Saúde, em entrevista

3030 dia internacional das Pessoas com Deficiência – A relevância desta efemé-ride. instituto Nacional para a reabilita-ção em destaque

35O futuro do Universo Empresarial – competitividade e inovação assumem-se como os pilares da iNTErNAciONALi-ZAÇÃO

37crescimento do banco bic português em destaque. Luís Mira Amaral, cEO do banco bic, aborda o «caso bPN»

42Os objectivos de desenvolvimento do milénio, a crise internacional e a estraté-gia de segurança alimentar e nutricional da cPLP. Manuel clarote Lapão, director de cooperação da cPLP, aborda estas temáticas

59Helena Azevedo, Presidente da comis-são directiva do Programa Operacional Temático Valorização do Território – POVT, e os desafios do QREN

6060 O que é Nacional é bom. Produtos portugueses de excelência. A qualidade lusa além-fronteiras

Propriedade, Edição, Administração e Autor Horizonte de Palavras – Edições Unipessoal, LdaTiragem Nacional - 55.000 ExemplaresiSSN 2182-3197

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É todo o cidadão que, no Parla-mento ou assumindo a dimen-são participativa da democra-cia, tem o dever de reflectir

sobre as opções tomadas, a génese das dificuldades e as soluções a apli-car. E contribuir para a definição das correcções a introduzir na gestão da saúde. Contudo, sendo os ganhos de eficiência limitados no tempo e antevendo-se que os recursos finan-ceiros alocados à saúde através do Orçamento de Estado continuarão a diminuir, é aparente que outro dever teremos de cumprir – proceder às es-colhas e à definição das prioridades, em termos dos cuidados de saúde a assumir pelo Estado, que acautelem a equidade do SNS. O debate a fazer e as decisões a tomar requerem conhecimento da realida-de. Em Portugal, tem-se registado um crescimento dos custos da saúde, a um ritmo superior ao da criação de riqueza. Actualmente, a percentagem do Pib alo-cada à saúde é de cerca de 10,6%, sendo a média europeia de 8,5%. Por este ca-minho, serão atingidos níveis incompor-táveis em poucos anos. O co-pagamento privado dos medicamentos foi, em 2008,

de 34,4%, um dos valores mais elevados dos países da OcdE. Os valores de 2007, a despesa com a medicina curativa representa 71% e a reabilitação 25%. com este paradigma, em que a saúde pública e a educação para a saúde são parentes pobres, será difícil contrariar o aumento de custos, sem dolorosos cortes na acessibilidade à medicina curativa e na qualidade da prestação. A inovação e a modernização tecnológica, a pressão demográfica de uma população envelhecida, a falta de li-teracia para a saúde e os hábitos de vida não saudáveis, a falta de planeamento estratégico conhecedor das necessida-des e que limite a redundância de oferta pública sem sentido, o sentimento bem humano de que “a saúde não tem preço” e a crença disfuncional na gratuitidade, o consumismo exagerado de actos mé-dicos e hospitalização e a inconsciên-cia do desperdício em medicamentos e exames, encarregam-se de alimentar o crescimento da despesa, sem ganhos em saúde, nem sequer a manutenção dos níveis actuais. Por outro lado, para os níveis de qua-lidade em saúde actuais, um pequeno incremento, requer um elevado investi-mento. Há muito a manter e muito a per-der se não forem tomadas as decisões correctas e centradas na circunstância social e de saúde das pessoas:1. em 1974, um terço dos partos não tinha assistência, e em 2008, 99% dos partos ocorreram em hospitais;2. em 1974, a mortalidade infantil era de 58/1.000 nascimentos, e em 2008, de 3 por mil; 3. em 1974 havia um médico/1.000 habitantes e em 2010 havia 3,8/1.000 habitantes;4. hoje, a esperança média de vida dos portugueses à nascença (79 anos) é su-perior à média europeia (75 anos); 5. no ano 2000, a OMS colocou Portugal no 12º lugar no ranking dos serviços de saúde do Mundo. Que fazer com o que temos, sem ferir os valores e princípios que sustentam o SNS? Em primeiro lugar, cabe ao cida-dão ter uma visão exacta dos custos da saúde.Defendendo o financiamento da saúde a partir da cobrança de impostos, há vantagem em que o cidadão perceba qual a percentagem do seu imposto

Os cortes orçamentais na saúde são um factor de preocupação, face ao receio de ocorrerem perdas significativas de acessibilidade e de qualidade e aumento dos encargos privados. E, sendo o Serviço Nacional de Saúde (SNS) um factor de coesão social e de legitimação do Estado democrático, não é só ao doente ou utente que cabe preocupar-se.

SNS – a jóia da coroa e os cortes orçamentais

Por Fernando Regateiro, Presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

que é alocada à saúde e quanto custam os cuidados de saúde. Para isso, haverá que identificar, na notificação do IRS, a fracção que é consignada à saúde. dife-renciada na cobrança em função da ri-queza de cada um, seria uma forma de expressar o princípio da solidariedade (paga mais quem mais tem). No acesso aos cuidados de saúde todos teriam os mesmos direitos (igualdade no direito à saúde), em função das escolhas e priori-dades efectuadas pela sociedade e asse-guradas de forma universal e geral pelo Estado. Outra forma de perceber em quanto importam os cuidados de saúde seria possibilitada pela entrega de fac-tura que detalhasse a despesa realizada com os cuidados recebidos do SNS.Em segundo lugar, é o momento de per-cebermos até onde estamos disponíveis para ir. Estamos dispostos para aumen-tar a fracção do irS dedicada à saúde, para manter os actuais níveis de finan-ciamento e de cuidados? Ou não quere-mos pagar mais, porque sentimos que é possível fazer mais com o que pagamos? Ou porque preferimos redefinir prio-ridades na distribuição das verbas do OE? Ou ainda, não estando disponíveis para pagar mais, de que é que estamos dispostos a abdicar? Em síntese, há razão para as preocupa-ções inicialmente enunciadas?certamente que sim, se não for refor-

çada a fatia destinada aos cuidados de saúde primários, à saúde pública, à inte-gração dos diversos níveis de cuidados e à educação para a saúde! certamente que sim se, para compensar os cortes, não valorizarmos economi-camente os recursos que existem e não definirmos prioridades para o seu bom uso, e não fizermos as escolhas difíceis que têm de ser feitas em termos do que é prioritário salvar e consolidar, e não percebermos que uma “boa saúde” ra-dica muito aquém e além dos cuidados hospitalares, e não combatermos o con-sumismo inútil de cuidados de saúde, a medicina defensiva e o encarniçamento terapêutico!certamente que sim, se tratarmos como igual o que é diferente. Há casas bem geridas e com poucas gorduras e casas de abundância que a falta de lucidez ali-menta. À semelhança da Medicina, onde não há doenças mas há doentes, tam-bém no SNS não há uma doença, há sim uma floresta de doentes e, aqui e além, alguns ainda não enfermos. Se não hou-ver um bom curador e a dose for exage-rada, os doentes ficam mais doentes e os não enfermos adoecem!certamente que sim, se a intervenção para a redução dos custos do SNS não colocar o doente no centro dos proces-sos e os profissionais no centro das mu-danças!

O debate a fazer e as decisões a to-mar requerem conhecimento da realidade. Em Portugal, tem-se registado um cresci-mento dos custos da saúde, a um ritmo su-perior ao da criação de riqueza. Actualmen-te, a percentagem do PIB alocada à saúde é de cerca de 10,6%, sendo a média europeia de 8,5%. Por este caminho, serão atingidos níveis incomportáveis em poucos anos. O co-pagamento privado dos medicamentos foi, em 2008, de 34,4%, um dos valores mais elevados dos países da OCDE

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Actualmente quais são os principais indicadores da qualidade ao nível da melhoria dos cuidados de saúde em Portugal? Os últimos indicadores que o iPQ dis-põe são da qualidade apercebida pelos doentes tratados em meio hospitalar através de estudos realizados, há alguns anos, para o Ministério da Saúde, com base na metodologia EcSi. Nessa altura registaram-se valores muito elevados de 70,6; 78,5 e 81,7, respectivamente nas Urgências, consultas Externas e internamento dos Hospitais empresa. Seria desejável que a metodologia EcSi voltasse a ser usada de novo na Saúde em Portugal, como indicador de nível de satisfação dos utentes, para melhorar o desempenho dos serviços prestados.

De que forma tem contribuído o IPQ - Instituto Português da Qualidade para que este desiderato seja cada vez mais uma realidade?O iPQ tem contribuído enquanto entida-de gestora e coordenadora do Sistema Português da Qualidade, sendo respon-sável, entre outras matérias, pela dina-mização de comissões Sectoriais. Tem vindo, desde os anos 90, a promover a dinamização da Qualidade no sector da saúde e a divulgação das melhores prá-ticas através da cS09 – comissão Secto-rial para a Saúde, cuja missão é difundir princípios, metodologias e melhores práticas da Qualidade e da segurança dos cuidados de saúde elevando con-tinuamente a saúde da população por-tuguesa, no domínio voluntário. O iPQ, na qualidade de Organismo Nacional de Normalização, coordena a rede de Orga-nismos de Normalização Sectorial e co-missões Técnicas, da qual faz parte a cT 87 responsável pelo desenvolvimento de normas na área das tecnologias para a saúde. O iPQ tem também participado em vários júris de prémios de qualidade e certificação na área da saúde.

Que análise perpetua do número de entidades de saúde munidas com cer-tificado de qualidade? Sente que esse número é escasso? Ainda estamos aquém do que é preconizado ao nível da certificação em saúde por outros congéneres europeus? Os últimos dados oficiais disponíveis, reportados a 31 de dezembro de 2009, apontavam para 279 entidades associa-das ao sector da saúde certificadas de acordo com a norma NP EN iSO 9001 (Sistemas de Gestão da Qualidade) in-cluindo hospitais, laboratórios de aná-lises clínicas, farmácias ou centros clí-nicos, e para 17 entidades certificadas em Portugal de acordo com a Norma NP EN ISO 13485 – “Dispositivos médicos. Sistemas de gestão da qualidade”. O to-tal de certificados na Europa, de acordo com esta Norma cresceu 21%, face a 2008, e em Portugal 55% o que demons-tra a preocupação cada vez maior pela implementação de metodologias de ges-tão da qualidade neste sector.relativamente a laboratórios de análises clínicas estão actualmente acreditados pelo instituto Português de Acreditação iPAc, de acordo com a NP EN iSO 15189, apenas 9 Laboratórios, o que é de facto escasso. Seria desejável que todas as unidades de saúde tivessem sistemas de gestão da qualidade certificados. A mo-bilidade de doentes no espaço europeu a partir de 2013 irá, por certo, exigir essa generalização. Actualmente, apesar dos progressos, estamos longe do ideal.

Na sua opinião, de que forma pode a qualidade dos serviços de saúde ser influenciada pela existência da certi-ficação de qualidade?A qualidade é transversal a todos os sec-tores de actividade. A liderança, cultura da Qualidade, centragem no doente, a participação e formação dos colabora-dores e a gestão dos processos de cada organização e, desejavelmente, os resul-tados da sua actividade, são algumas das dimensões que beneficiam da certifica-ção da qualidade. Através da implemen-tação de metodologias e ferramentas de gestão da qualidade, quer associadas a sistemas de acreditação ou certificação, é possível garantir as condições que per-mitam aos serviços de saúde melhorar os serviços que prestam, optimizando os processos, racionalizando os custos,

“O sector da Saúde tem vindo a acolher e a aplicar, com crescente êxito, os princípios e metodologias da Qua-lidade – os quais já amplamente demonstraram a sua eficácia noutros sectores da actividade económica - desenvolvendo as soluções mais adequadas para a melhoria dos seus resultados”, afirma Jorge Marques dos Santos, Presidente do IPQ - Instituto Português da Qualidade, assumindo a forma como o IPQ tem contribuído para a melhoria do sector da saúde em Portugal.

“O IPQ continuará a reforçar os princípios da qualidade na Saúde”Instituto Português da Qualidade

combatendo os desperdícios, assegu-rando a sustentabilidade. Acelerar a di-fusão das metodologias e melhores prá-ticas da Qualidade nos serviços de saúde contribuirá para assegurar o primado do doente em todo o sistema, proporcio-nando uma redução contínua de atrasos de diagnóstico e do nível de erros evitá-veis em todos os processos de cuidados e para captar e gerir o conhecimento e a inovação que sustentem a constante actualização do Sistema da Saúde, gerar impactos positivos nos resultados eco-nómicos, clínicos e humanísticos.

Face aos actuais constrangimentos, sente que esta vertente tão importan-te como a qualidade na saúde tem vin-do a ser esquecida devido à contrac-ção económica? A qualidade é imprescindível para a sus-tentabilidade do sistema de saúde, atra-vés da redução do erro e do desperdício que pesam na actual situação. A utiliza-ção de metodologias e ferramentas de gestão da qualidade permitem melho-rias significativas ao nível da eficácia e da eficiência, comprovada em múltiplos sectores, nomeadamente na saúde. A crise económica e os seus reflexos na Saúde são ao mesmo tempo uma limita-ção à acção e um desafio. Como desafio, será um estímulo para evidenciar o con-tributo único dos princípios e métodos da qualidade para superar a crise.Acontece que, apesar da crise e do abrandamento do ritmo de adopção de metodologias da qualidade na Saúde, há muitas actividades inovadoras que estão a emergir nas organizações, em conse-

A necessidade de co-nhecer com rigor o resulta-do de uma medição é uma condição fundamental para a credibilidade das decisões tomadas. Para garantir a qualidade dos resultados das medições são necessários pa-drões, métodos de referência, materiais de referência certi-ficados e calibrações devida-mente rastreados

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quência da existência de sistemas inter-nos da qualidade e das iniciativas da di-recção Geral da Saúde. O sector da Saúde tem vindo a acolher e a aplicar, com cres-cente êxito, os princípios e metodologias da Qualidade – os quais já amplamente demonstraram a sua eficácia noutros sectores da actividade económica - de-senvolvendo as soluções mais adequadas para a melhoria dos seus resultados.

No domínio da saúde, quais são os principais desafios que se colocam ao Instituto Português da Qualidade? divulgar metodologias e ferramentas de gestão da qualidade, enfatizando as vantagens que a implementação de re-ferenciais credíveis pode ter para a se-gurança dos doentes, para a melhoria da prestação dos cuidados de saúde e para a redução de custos associada à diminui-ção de desperdícios. A título de exemplo o iPQ vai realizar no dia 13 de dezembro, um Colóquio sob o tema “A Metrologia na Saúde”, em continuidade de outra iniciativa já realizada em Março deste ano, pela cS09. O objectivo é dinamizar a discussão sobre a importância da Metro-logia em todos os temas relevantes das comunidades científicas e profissionais da área da Saúde, abordando as boas prá-ticas metrológicas aplicadas à saúde bem como a interpretação de análises não in-vasivas, pelas vertentes legais, científicas e aplicadas da Metrologia. A necessidade de conhecer com rigor o resultado de uma medição é uma condição funda-mental para a credibilidade das decisões tomadas. Para garantir a qualidade dos resultados das medições são necessá-rios padrões, métodos de referência, materiais de referência certificados e calibrações devidamente rastreados. As medições físicas, químicas e biológicas são essenciais no diagnóstico médico, na prevenção e tratamento de doenças, na avaliação do risco e monitorização dos pacientes, devendo os resultados dessas medições ser exactos e comparáveis. O iPQ irá, ainda, continuar a acompanhar e reforçar o papel dos agentes principais nos seus esforços para a generalização dos princípios e metodologias da qualidade na área da saúde. A autoridade que repre-senta e a imagem da sua imparcialidade e rigor são essenciais para a valorização do contributo da Qualidade para a melhoria sustentada da Saúde em Portugal.

Jorge Marques dos Santos

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“Na senda daquilo que tem sido o trabalho dos Laboratórios Privados em Portugal nas últimas três décadas, o nosso objectivo continuará a ser o de servir os portugueses, possibilitando-lhes o acesso às análises clínicas perto de casa de forma rápida, com eficiência e com grande qualidade”, afirma António Taveira, Presidente da Associação Nacional de Laborató-rios Clínicos, em entrevista à Revista Pontos de Vista. Veja que desafios se colocam actualmente ao sector, bem como a importância dos convencio-nados na prestação de um serviço de qualidade ao utente do SNS.

“Convenções nas Análises Clínicas permitem o melhor dos mundos possíveis com benefício claro para os utentes”

António Taveira, Presidente da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, em discurso directo

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

Como Presidente da Associação Nacio-nal de Laboratórios, como vê o actual estado da saúde em Portugal?com enorme preocupação. Efectivamen-te compreendemos que no momento ac-tual o principal objectivo do Governo e do Ministério da Saúde é o de redução da despesa. Todavia, temos consciência clara que não é fácil alcançar este objec-tivo sem por em causa a qualidade do serviço e quiçá a sua própria prestação.A única forma de conseguir em simul-tâneo reduzir despesa sem prejudicar a prestação e a qualidade dos serviços de saúde é através de uma melhor e mais eficaz gestão que garanta ganhos de efi-

ciência, produtividade e eficácia e que minimize o desperdício e o supérfluo. E, naturalmente, fazer as duas coisas ao mesmo tempo não é fácil, sobretu-do porque a implementação de novos modelos e soluções de gestão que pro-porcionem os ganhos referidos exigem timings muito mais longos do que os curtíssimos prazos em que tem que se implementar as medidas de redução da despesa. Na nossa opinião iremos atra-vessar duas fases em que na primeira a preocupação central e única será a da redução da despesa, e a segunda será a da implementação de um novo modelo mais sustentado, mais eficiente e mais

A ANL tem tido uma postura de diálogo constru-tivo e contínuo com o Minis-tério da Saúde “ “

António Taveira

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coerente. O desafio que assumimos na ANL ao nível das nossas empresas é o de, preservando os altos critérios de qualidade que hoje praticamos e os ele-vados níveis de serviço que hoje somos capazes de fornecer, ser capazes de aco-modar as reduções de preços que decor-rem das reduções de despesa através de ganhos de eficiência e produtividade. Este desafio todavia terá que ser posto também ao sector público e ao sector social que, tal como nós, integram o Sis-tema Nacional de Saúde.

Reparei que disse Sistema Nacional de Saúde e não Serviço Nacional de Saú-de. Foi intencionalmente que o fez?de algum modo sim. Na perspectiva da ANL existe um Sistema Nacional de Saú-de que integra o sector público, privado e social e em que todos os prestadores, independentemente da sua natureza e do sector de actividade em que oferece serviços, coexistem.Surge já aqui uma primeira questão pois os requisitos de licenciamento ou fisca-lização que se aplicam ao sector privado não são exigidos ao sector público ou ao sector social. Atrevo-me a dizer que, se alguns Laboratórios do sector público fossem sujeitos ao mesmo escrutínio que são os Laboratórios privados, se-riam imediatamente encerrados. Mas voltando ao tema. A oferta pública de serviços de saúde é o Serviço Nacional de Saúde. No que se refere aos cuidados de saúde primários e especificamente na área das análises clínicas, o SNS nunca teve, nem tem, capacidade de cobertura do território nacional e não tinha, nem tem, capacidade real de prestar os servi-ços, e por isso contratualizou, através do regime das convenções, com os privados para que suprissem as suas incapacida-des de resposta. Esta é a situação que se manteve até hoje, num contexto em que a erosão dos preços foi acontecendo anualmente por via da não actualização do preço e em que além disso houve des-cidas e correcções pontuais e sistémicas dos preços contratualizados. com uma vantagem clara para o SNS que resultou

no facto de sempre que o SNS quis con-trolar os custos do sector convencionado teve a capacidade de o fazer. coisa que aliás não conseguiu em nenhuma outra área fora dos convencionados.

Mas então, na sua opinião, qual é o papel que deve ter o sector convencio-nado, nomeadamente numa área tão essencial ao utente do SNS, como a das Análises Clínicas?Na minha opinião o modelo existente provou que tem uma valia muito alta. Vejamos então, e do ponto de vista do SNS. No sector das análises clínicas o SNS tem, assegurada pelo sector priva-do, uma cobertura total do território na-cional, uma excelente qualidade técnica e científica no fornecimento do serviço, um controle total sobre a despesa e igualdade de custos para o utente.realmente, e salvo melhor opinião, não haveria razão para alterar este estado de coisas já que, o SNS e o Ministério da Saúde tem o melhor dos mundos possí-veis com benefício claro para os utentes.

A Associação Nacional de Laborató-rios assinou recentemente um acor-do com o Ministério da Saúde para a redução do custo das análises clínicas no sector convencionado. Foi um acor-do necessário? de forma objectiva e esquecendo total-mente o impacto que esta redução de 12,5% directos nos preços das análises clínicas dos Laboratórios privados e na nossa qualidade de Associação Empre-sarial de empresas portuguesas respon-sáveis, realistas e pragmáticas, direi que foi um acordo necessário. A gravíssima crise que o país atravessa exige de todos um esforço de que não nos poderíamos alhear. Aliás, e isso facilitou imenso as conversas com o Ministério da Saúde, a partir do momento que foi conhecido o acordo com a Troika, iniciámos proacti-vamente um trabalho interno de análise sobre a forma como poderíamos cola-borar com o Ministério da Saúde para contribuir para o cumprimento das me-didas negociadas.

Se me é permitido o auto-elogio, corro-borado todavia pelas referências públi-cas que quer o Senhor Ministro e os Se-nhores Secretários de Estado, bem como a Administração da AcSS têm feito, direi que a ANL se assumiu com plena res-ponsabilidade como parte da solução para o alcance dos objectivos negocia-dos pelo Estado português com a Troika.Só espero que ninguém se esqueça que no final de 2010 tivemos uma redu-ção de preço de 5% e que portanto em menos de um ano os preços contratu-alizados para os convencionados no sector das análises clínicas baixaram 17,5%, isto para além das análises que deixaram de ser comparticipadas e das

efectivas restrições à prescrição. Não há nenhum outro sector do SNS que te-nha sido capaz de contribuir com uma poupança equivalente para a redução da despesa pública. Mas fizemo-lo con-victos que não só estamos a dar o nosso contributo para a crise financeira como ainda que seremos capazes de acomo-dar estas quedas de receita.claro que estamos a falar de valores médios que não atingem todos os labo-ratórios por igual, mas nas negociações das variações dos preços com a AcSS tivemos particular preocupação na pro-tecção dos Laboratórios menos especia-lizados, de menor dimensão e, porven-tura, mais vulneráveis.

Alguns responsáveis parecem desconhecer que hoje os preços a que o Estado paga as análises feitas pelos convencionados é inferior aos preços do SNS em mais de 35%“ “

No sector das análises clínicas o SNS tem, assegurada pelo sector privado, uma cobertura total do território nacional, uma excelente qualidade técnica e científica no fornecimento do ser-viço, um controle total sobre a despesa e igualdade de custos para o utente“ “

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António Taveira, Presidente da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, em discurso directo

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É verdade que além disso existe uma tabela para os privados e outra para o sector público?É e infelizmente nunca nenhum Governo aceitou que existisse apenas uma única tabela de preços para o SNS e os con-vencionados. já várias vezes propuse-mos isso aos vários Governos mas sem sucesso. E as diferenças entre as tabelas são quer em termos de preços, quer das análises que figuram, isto é a tabela dos convencionados tem muito menos aná-lises e o preço é cerca de 30% inferior. Acresce que, e corre-se o risco que esse limiar se comece a aproximar-se perigo-samente, há um custo técnico mínimo de produção de resultados analíticos com a qualidade e a fiabilidade necessárias. Todavia terei que reconhecer e faço-o sem esforço que apesar das dificuldades da situação actual temos encontrado por parte dos altos responsáveis, diri-gentes e tutela do Ministério da Saúde uma clara compreensão desta situação e louvámos a iniciativa de elaboração con-junta pela dGS e a Ordem dos Médicos de um conjunto de Normas de Orienta-ção que serão um instrumento funda-mental para uma prescrição criteriosa e eficaz no diagnóstico e na terapia.

Se continua a ser mais barato con-tratar e fazer as análises clínicas no privado, como se justifica então estas medidas de internalização que têm vindo a ser postas em prática em vá-rios serviços públicos?Na nossa opinião tem havido algum abuso na interpretação do despacho do Senhor Secretário de Estado de Agosto. Assim, e tivemos já as garantias por parte dos al-tos responsáveis e da tutela do Ministério Saúde que o referido despacho visa so-bretudo disciplinar práticas que estariam esquecidas e seriam porventura ignora-das e não promover a internalização dos meios complementares de diagnóstico. Aliás qual seria a vantagem prática para o Governo de tendo garantido a redução da despesa do sector acima dos objectivos da Troika, desviar as análises para dentro dos hospitais com base num conceito ab-solutamente teórico e abstracto de capaci-dade instalada que teria como consequên-cia, para além do descontrole da despesa que tem sido apanágio do SNS, a ruptura da prestação de serviço?

O Estado tem capacidade instalada para assegurar o acesso dos utentes às Análises Clínicas sem ter que recor-rer aos convencionados?Obviamente que não. Todos os dias mais

de 50.000 portugueses usam os Labo-ratórios privados para terem acesso a informação sobre o seu estado de saú-de. Essa informação é fundamental para garantir diagnósticos e avaliar a eficá-cia das terapias. Se todos esses utentes fossem forçados a ir aos hospitais pú-blicos não só, do ponto de vista estrito dos meios, passariam a existir listas de espera e atrasos no diagnóstico e nas terapias, como ainda existiria um agra-vamento geral dos custos da saúde. Toda a gente sabe que o diagnóstico precoce e a monitorização das terapias diminuem os custos do tratamento hospitalar.

Têm conhecimento de algumas situa-ções de ruptura em que o acesso esteja já a ser dificultado?infelizmente temos e a imprensa tam-bém. Sabemos todos que em muitos sítios do país que não vou mencionar porque são hoje conhecidos por todos, particularmente pelos responsáveis do Ministério da Saúde, os utentes estão a ser forçados a ir aos hospitais fazer as análises em clara violação da Lei de bases da Saúde e das convenções exis-tentes e com os prejuízos que acima referi. Aliás com peculiaridades extra-ordinárias. Num dos sítios o Hospital tem atrasos de pagamento enorme em relação aos seus fornecedores, está fa-lido e investiu uma exorbitante soma para pretensamente criar capacidade de resposta nas análises clínicas. O ridículo

disto é que estas unidades hospitalares exibem uma enorme incompetência na realização dos cuidados de saúde hospi-talares e em vez de procurarem melho-rar os cuidados que prestam, querem contrariamente alargar a sua inefici-ência e, repito, a sua incompetência, a sectores onde tudo corre bem. Há his-tórias objectivas e conhecidas em que administrações hospitalares, mesmo sem capacidade para tal, se propõem a internalizar as análises clínicas e depois serem eles mesmos a subcontratá-las aos Laboratórios privados. claro está que a ocorrência destas perversidades é directamente proporcional ao mau esta-do económico e financeiro do hospital.Confiamos todavia que estamos em pre-sença de situações pontuais que pela sua insustentabilidade se autodestrui-rão ou que o Ministério saberá corrigir estes devaneios.

E se tal não acontecer?Obviamente que se tal não acontecer, o que objectivamente não acreditamos, reagiremos com todos os meios legais e jurídicos que estejam ao nosso alcance e até às últimas consequências.

Os utentes têm consciência da diversi-dade dos custos para o erário público em termos das tabelas públicas e pri-vadas?julgo que não. Acho que, e talvez por cul-pa nossa, o utente muitas vezes nem se-

quer sabe que as taxas moderadoras são iguais quer ele vá ao hospital ou ao La-boratório privado. Mais grave é que, em alguns momentos, alguns responsáveis parecem também desconhecer que hoje os preços a que o Estado paga as análi-ses feitas pelos convencionados é mais de 35% inferior aos preços do SNS. Se acrescentarmos a isto tempo e qualidade de resposta, do ponto de vista do utente, e o valor acrescentado, as contribuições fiscais e sociais que os Laboratórios pri-vados assumem, não pode haver dúvidas no balanço.

E a questão do Direito de Livre Escolha do Utente, considera ser do conheci-mento geral?Também não e também, em grande par-te, culpa nossa que não temos sabido divulgar. Há de facto uma intimidação objectiva e ilegal ao utente e um cercear dos seus direitos, liberdades e garantias quando lhe é negada a entrega da pres-crição das análises e lhe é imposto que se dirija ao hospital. isto para além da violência que constitui obrigá-lo a es-perar quinze ou vinte dias para ter os resultados que poderia ter em vinte e quatro horas.

Soube que fizeram há pouco tempo uma proposta ao Ministério da Saúde que apontava exactamente na direc-ção oposta, ou seja, a da externaliza-ção das análises clínicas. Quer expli-car em que consistia?O que temos insistido e reiterado aos res-ponsáveis do Ministério da Saúde é o fac-to de que não haverá ganhos de eficiên-cia, de serviço ou de despesa pública ao amalgamar, no nosso sector, os cuidados de saúde primários com os hospitalares. Pelo contrário, temos referido que se há -e sabemos que há - dificuldades na rea-lização das análises clínicas dos próprios hospitais; a solução da concessão dos serviços, da parceria, ou outra qualquer fórmula, pode garantir uma estabilidade da despesa e uma qualidade de serviço dentro do próprio hospital que trará be-nefício para todos. São experiências que têm ocorrido pontualmente e com enor-me sucesso e que poderiam e deveriam ser generalizadas. Todavia não temos uma visão sectária da situação e conside-ramos que cada caso é um caso e como tal deverá ser tratado.

Qual tem sido a actuação da ANL ten-do em conta os desenvolvimentos dos últimos meses?A ANL tem-se colocado numa perspec-

A iniciativa de elaboração conjunta pela DGS e a Ordem dos Médicos de um conjunto de Normas de Orientação será um instrumento fundamental para uma prescrição criteriosa e eficaz no diagnóstico e na terapia“ “ Muitos portugueses desconhecem o que sig-nifica o Direito de Livre Escolha do Utente e como este Direito consagrado na Lei lhes permite fazer as suas análises na entidade pública ou convencionada que lhes for mais conveniente“ “

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tiva de diálogo construtivo e contínuo com o Ministério da Saúde procurando, dentro dos condicionalismos inevitá-veis, defender os interesses dos associa-dos. importa aqui fazer justiça referindo que por parte da AcSS, em particular, tem havido uma igual postura que, na-turalmente não pondo em causa os objectivos essenciais acordados, tem possibilitado o encontrar das melhores soluções. Em paralelo, e para negativos, temos tido uma postura vigilante e aten-ta face a alguns atropelos ao despacho anteriormente referido. Assumimos já que qualquer atropelo aos direitos de qualquer associado será assumido pela ANL a qualquer preço e com qualquer custo. Esperamos todavia que o bom senso impere e não ter que ir tão longe. Há 30 anos que existem Laboratórios privados em Portugal. Como vê o fu-turo?Na senda daquilo que tem sido o trabalho dos Laboratórios Privados em Portugal nas últimas três décadas, o nosso objec-tivo continuará a ser o de servir os por-tugueses, possibilitando-lhes o acesso às análises clínicas perto de casa, de forma rápida, com eficiência e com grande qua-lidade. Face a tempos que se adivinham conturbados, continuaremos a pugnar para que este trabalho meritório que os nossos associados desenvolvem há mais de 30 anos continue a ter condições de ser assegurado, a bem dos mais de 50 mil portugueses que diariamente usam os Laboratórios Privados. Esse é o objectivo que guia a ANL no futuro imediato.

Face a tempos que se adivinham conturbados, conti-nuaremos a pugnar para que a Rede de Laboratórios conti-nue a servir o utente, para bem dos mais de 50 mil portugue-ses que diariamente usam os Laborató-rios Privados

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Qual seria a vantagem prática para o Governo de, tendo garantido a redução da despesa do sector aci-ma dos objectivos da troika, desviar as análises para dentro dos hospitais com base num conceito absoluta-mente teórico e abstracto de capacidade instalada que teria como consequência, para além do descontrole da despesa que tem sido apanágio do SNS, a ruptura da prestação de serviço?

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14 Novembro 2011 Pontos de Vista

A qualidade nos cuidados de saú-de é um tema actual e premente, numa altura em que a conjuntura macroeconómica do país atraves-sa pontos de indecisão e que pode-rão afectar as instituições de saú-de, designadamente nos eventuais cortes no Serviço Nacional de Saú-de. Todavia há um item que nunca poderá ser descurado pelos profis-sionais: a qualidade. Em entrevis-ta à revista Pontos de Vista, Ana Escoval, presidente da direcção da APDH faz, entre a descrição do tra-balho da associação, uma análise do panorama vivido em Portugal.

“Urge gerir inteligentemente os recursos disponíveis”

APDH - Associação Portuguesa Para o Desenvolvimento Hospitalar

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A APDH, Associação Portu-guesa para o Desenvolvi-mento Hospitalar, foi criada em 2002, com os propósitos

de, entre outros, promover a coope-ração entre as instituições hospitala-res portuguesas e entre estas e as ins-tituições hospitalares estrangeiras, fomentando e desenvolver a inovação no que concerne à gestão hospitalar.A APdH é a representante do Ministério da Saúde nacional junto da Federação Europeia dos Hospitais (HOPE) bem como junto da Federação internacional dos Hospitais, e está na génese da APdH participar de forma activa e premente nas actividades cuja finalidade passe pela promoção dos hospitais bem como pelo desenvolvimento dos mesmos. No que diz respeito à prossecução de intentos, Ana Escoval descreve que a “APDH tem um projecto anual, que con-sideramos muito importante, que é o denominado Projecto de intercâmbio, no qual há profissionais de saúde por-tugueses que se deslocam, durante um mês, para vários hospitais na Europa previamente seleccionados, sendo que o inverso verifica-se, igualmente, com as instituições de saúde nacionais a reali-zarem esse mesmo acolhimento. Estre intercâmbio já vem sendo realizado há vários anos e consideramos que os de-sígnios têm vindo a melhorar significa-tivamente e os profissionais de saúde que fazem o HOPE – que é o programa de intercâmbio – nunca mais são os mesmos, trazem um valor acrescentado na medida em que lhes dá um outro co-nhecimento, sobre distintas realidades da saúde que, em alguns dos casos, não tinham anteriormente permitindo a re-

lação com pessoas de outros países num evento que existe no final desse mes-mo estágio”. O referido estágio termina com um encontro, onde são partilhadas experiências entre os diversos interve-nientes e, segundo adianta entrevista-da há uma temática final apresentada pelos representantes dos vários países; para 2012 o tema seleccionado – cujas candidaturas já poderão ser efectua-das – é o “Envelhecimento”, quer dos profissionais, quer dos cidadãos. Ana Escoval sublinha que “esta é uma rea-lidade que não podemos escamotear, é uma preocupação da Europa e vai ser o tema proposto para o ano. E vai ser in-teressante organizarmos o mês no qual os profissionais de saúde europeus vêm a Portugal, visto que irão ficar ao cor-rente da realidade do nosso Sistema de Saúde e irão conhecer os projectos que,

de alguma maneira, seja pensados nesta visão do envelhecer, sejam eles ligados à gestão da doença ou, eventualmente, projectos que se articulem com preocu-pações de uma vida activa saudável”.

FORMAçãO TéCNiCA eM PORTu-gAL É DE ALTA QUALIDADE

Focalizando entre-portas e concreta-mente no que concerne ao trabalho relativo ao desenvolvimento hospitalar em Portugal, a presidente da direcção da APdH observa que são realizadas ini-ciativas ligadas a temáticas que urgem ser discutidas, das quais se destaca “as conversas de fim de tarde, actos que já duram há vários anos. Não posso, ainda, deixar de mencionar o prémio de boas--práticas que a APdH, em parceria com os órgãos de topo da Saúde, atribui anu-

almente a projectos que já estejam im-plementados no terreno”. Visando o trabalho qualitativo realizado no nosso país, a interlocutora sublinha que em Portugal a formação técnica em Saúde é de alto calibre e deste ponto de vista não é necessário adquirirmos competências extra. Todavia, para Ana Escoval, os conceitos de gestão denotam algumas lacunas em termos formativos. “Temos profissionais muito bem forma-dos para a prática, mas gerir recursos, ou uma unidade hospitalar, requere também um conhecimento diferencia-do daquilo que é a prática clínica. O que pretendemos, com estes intercâmbios, passa por colocar profissionais que já tenham tido experiências de gestão em contacto com outras realidades para aí colherem conhecimento sobre a melhor gestão de recursos para os objectivos pretendidos, que são, obviamente, me-lhorar a saúde das pessoas”.

COrTES NA SAÚDE VErSUSquALidAde NOs seRViçOs

relativamente às sucessivas notícias que têm vindo a público a respeito dos cortes orçamentais no sector da Saúde que o Governo português está, eventualmente, a preparar, a nossa entrevistada defende que uma gestão criteriosa pode suplan-tar a redução de verbas. “Estas dificulda-des não são somente do espaço nacional, são, também, de domínio europeu e glo-bal. É imperativo denotarmos uma pos-tura distinta na área da Saúde e ela exige que persigamos objectivos de tratar e continuar a tratar de acordo com aquilo que é necessário para as pessoas e, subli-nho, com o máximo de qualidade. Agora, como é que podemos compaginar a qua-lidade com os cortes que aí temos? Em minha opinião, a gestão inteligente dos recursos disponíveis é imperativa, sendo que esta deve ser feita em consonância com uma estratégia para o sector que implicará necessariamente uma visão distinta sobre as respostas que hoje se oferecem aos cidadãos. O sector, em Por-tugal, cresceu, ao longo de décadas sob a perspectiva de criar respostas, algumas das quais, não suficientemente plane-adas… não fazia sentido abrirmos uni-dades de saúde em todos os locais, uma vez que temos vias de comunicação que facilitam, imensamente, as deslocações. Por conseguinte, as respostas devem ser reajustadas às novas realidades, que é a de grande proximidade dos locais e a acedência, em períodos de tempo clini-camente aceitáveis, aos estabelecimen-tos de saúde”.

Ana Escoval

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O fim dos serviços convencionados pode-rá ser uma realidade. Considera que isso acontecerá, que o Estado irá “dispensar” os serviços dos privados?Neste momento temos conhecimento de uma política de diminuição do número de actos dados aos convencionados por parte do Ministério da Saúde. Agora, considero muito difícil que os protocolos de conven-ção entre os privados e o SNS terminem. As pessoas devem ter a noção que os conven-cionados fazem, também, parte do sistema nacional de Saúde, uma vez que o papel que lhes cabe é importantíssimo e são uma mais-valia para o Estado. Por ventura, a população em geral não tem a real noção do quão nós, convencionados, somos re-almente importantes; utilizam os nossos serviços sem saberem que pertencem a um privado que está a trabalhar para o Estado.

È um longo casamento que poderá ter-minar. Caso aconteça, quais as vicissi-tudes que acarretará?Efectivamente é um casamento que dura há bastantes anos e tem sido feliz. Os re-sultados têm sido muito positivos e tem sido bom para todas as partes. Tem havido um crescimento em várias áreas médicas e, neste momento, o Estado está a partir dum pressuposto de que tem capacidade instalada para poder substituir-se ao sec-tor convencionado. Penso que isso não é possível, o Estado não consegue substituir os convencionados, embora compreenda essa intenção que se relaciona com conten-ção de custos; não estou é a vislumbrar, na prática, a possibilidade de o fazer de uma forma global no nosso País. conheço bem a estrutura – não apenas na área das análises clínicas – dos serviços de saúde nacionais e tenho perfeita noção de que em algumas zonas do nosso território tal intenção é possível, todavia do ponto de vista integral é totalmente impossível.

Quais serão as zonas onde a medida terá mais dificuldade de implantação?As grandes cidades. Não é possível que em Lisboa e no Porto se consiga essa imple-mentação. Operacionalizar e gerir são os grandes vectores que impedem a finalidade; mesmo com as grandes reestruturações a

nível estatal no que diz respeito a congre-gação de laboratórios, não acredito que haja capacidade instalada nos grandes centros urbanos para se poder afirmar que se subs-tituirá o sector privado na plenitude.

Tudo por uma questão de racionaliza-ção de custos…Está provado em estudos independentes, e posso mencionar um em particular re-alizado pela deloitte, que o custo é bem maior no Estado do que no sector privado. Todos nós, profissionais do ramo sabemo--lo e se assim não fosse não seria o sector privado, no âmbito das PPP´s (Programa de Parcerias Público-Privadas), a colocar o laboratório da área da patologia clínica no outsoursing; Não seria rentável.

Qual é o segredo do sector privado?A gestão criteriosa! O sector privado faz uma gestão de contenção de custos, não apenas ao nível do reagente, mas sobre-tudo no que aos recursos humanos diz respeito. Pela nossa capacidade de opera-cionalização e de flexibilização consegui-mos racionalizar uma parte importante na factura de custos, sendo que a nossa gestão acaba por ser muito mais rentável.

Quais as vantagem que os convencio-nados oferecem ao cidadão utente e que se poderão perder caso o Estado assuma a totalidade dos serviços?As pessoas não fazem noção da qualidade dos serviços que estão a usufruir! E para além do factor qualidade, perder-se-á a ca-pacidade de resposta que as diligências do privado permitem. Posso acrescentar que, em muitas partes do país, os serviços dos convencionados estão num patamar de tal forma elevado que permite responder, em termos de informação e logística, no próprio dia; até já são possíveis consultas em website! Estamos, portanto a oferecer uma série de comodidades aos utentes que se perderão, visto que o sector público não possui ainda essa capacidade de resposta e de interacção. O factor “tempo de resposta” é incomparável entre e sabemos, o quão é importante o “tempo” nos dias que correm.Falando no que concerne aos laboratórios hospitalares, o principal objectivo dos mes-mos é proporcionar capacidade de respos-ta quer aos doentes, quer da urgência, quer do internamento; agora, se vamos colocar esses mesmos laboratórios hospitalares a responder ao triplo ou quádruplo que re-presentam os doentes do ambulatório, vão,

Os contratos de adesão celebrados entre o Ministério da saúde e os privados com o fundamento da prestação de cuidados de saúde articulados com o Serviço Nacional de Saúde poderão vir a cessar. Neste âmbito a revis-ta Pontos de Vista foi escutar a perspectiva de Laura Brum, directora-geral da general Lab Portugal – empresa líder na gestão de laboratórios hospitalares e com convenção na prestação de serviços ao SNS – e aquilatar quais os desideratos que poderão resultar.

“Estado não consegue substituir sector convencionado”

General Lab acerca do, eventual, fim dos serviços convencionados em Portugal

eles próprios, diminuir a sua capacidade de resposta interna às solicitações do hospi-tal. Os atrasos não serão somente para os pacientes externos, mas também para os do próprio hospital, com as consequências que advêm da má operacionalização.

Voltando agulhas para core business da General Lab, quais as demandas desta empresa líder em serviços de gestão de laboratórios hospitalares?A General Lab está presente em Portu-gal desde há cinco anos, iniciando a sua actividade em regime de outsoursing no Hospital da Luz. A partir daí crescemos em parceria com o Espírito Santo Saúde para outras unidades, com os HPP (Hos-pitais Privados de Portugal) igualmente para várias unidades do norte ao sul do país e estamos, também no projecto do

Hospital de cascais, a primeira PPP (Pro-grama de Parcerias Público-Privadas) com outsousing de laboratório. Presen-temente estamos envolvidos em mais um projecto de relevo que é o Hospital de Loures, instituição na qual iremos fazer a gestão dos serviços laboratoriais já a par-tir de janeiro próximo. A empresa tem tido bastante sucesso junto dos seus parceiros, propiciando todo o seu know-how, profissionalismo e mais-valias, vendo o seu trabalho valoroso reconhecido no meio médico. Na base do sucesso está o perfeito entendimento do que significa a actividade de um laboratório dentro de um hospital, quais as prioridades da instituição hospitalar e responder “just in time” às to-das as exigências.

LEr NA íNTEGrAwww.PONTOSdEViSTA.cOM.PT

Laura Brum

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

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A Saúde e as novas tecnologias são dois vectores que costumam andar de «mãos dadas», com todas as mais-valias que esse facto aporta à melhoria dos serviços prestados e consequentemente à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. gamma Knife? Conhece? Vamos perceber as vantagens de uma tecnologia e de um tratamento de renome e prestígio a nível internacional e que tem comprovado a sua fiabilidade e eficácia, principalmente junto daqueles que perderam a esperança de vida.

“Benefícios evidentes na Saúde em Portugal”

Centro Gamma Knife – Hospital Cuf Infante Santo

O Centro Gamma Knife as-sume-se como um espaço localizado em Lisboa, mais concretamente no Hospital

Cuf Infante Santo, estando em activi-dade há cerca de quatro anos, período que possibilita asseverar, sem qualquer sombra de dúvida, que este é um trata-mento que realmente devolve a espe-rança e a qualidade de vida daqueles que infelizmente viviam acompanha-dos pelo espectro das doenças. A revista Pontos de Vista conversou com Maria begoña cattoni, Neurocirurgião do centro Gamma Knife, que deu a conhecer as principais mais-valias deste centro e do tratamento em questão, onde ficamos

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a perceber que os portugueses possuem actualmente, com o centro Gamma Knife, melhorias significativas ao nível dos ser-viços de saúde, sendo portanto desneces-sário recorrer a países estrangeiros para realizar este tipo de tratamento. Pioneiro em Portugal, o centro Gamma Knife recorre a tecnologia de vanguarda no sentido de tratar lesões localizadas no interior da caixa craniana, deixando, em muitos casos, de parte a tradicional cirur-gia «aberta». Assim, bisturis, hemorragias, infecções, complicações, internamentos, cuidados intensivos, entre outros, são ter-mos que não se colocam no centro Gamma Knife, tal como explica a nossa entrevista-da. “O tratamento Gamma Knife baseia-se

na radiocirurgia que nos permite intervir no doente de uma forma minimamente invasiva, ou seja, é realizada a intervenção do exterior para o interior, atingindo-se a patologia que deve ser tratada sem neces-sidade de abrir a caixa craniana. Assim, a radiocirurgia é um tratamento que utili-za uma única e elevada dose de radiação, actuando de forma localizada, com todas as vantagens que esse facto aporta, pois evita-se danificar as células saudáveis, tal como acontece na radioterapia con-vencional”, assevera a nossa entrevistada, explicando que com o tratamento Gamma Knife não existe a tradicional cirurgia con-vencional, logo não existe um período pós--operatório, facto que permite ao utente

fazer o seu quotidiano normalmente. Além de ser um tratamento extremamente fiável, o Gamma Knife aporta outras mais--valias, pois é um procedimento realizado em apenas uma sessão, sendo desprovido de significativa existência de dor durante o mesmo, tal como exemplifica Maria Be-goña Cattoni. “Na existência de um tumor cerebral, a neurocirurgia tenta remover toda a massa. com o Gamma Knife, o tu-mor é combatido através de doses eleva-das de radiação em todo o seu volume, através dos quais todas as células serão danificadas, travando assim a senda evo-lutiva do tumor. desta forma, podemos oferecer qualidade de vida evidente ao pa-ciente, evitando as cirurgias convencionais e tratamentos bastante dolorosos”.

rESULTADOS grATIfICANTES

Há quatro anos em actividade, o centro Gamma Knife é hoje sobejamente reco-nhecido como uma enorme mais-valia ao nível da saúde, principalmente nos casos que num passado bastante recente se adi-vinham de difícil prognóstico e resolução. Segundo explica a nossa entrevistada, hoje, passados quatro anos de actividade, é possível efectuar um balanço deste tra-tamento e a forma como o mesmo mudou vidas e devolveu qualidade de vida. “O tra-tamento através da radiocirurgia Gamma Knife não aporta um efeito imediato, ou seja, os resultados não são visíveis num curto espaço de tempo, bem pelo contrá-rio, pois a radiocirurgia apresenta efeitos lentos e demorados. No entanto, o facto de estarmos em actividade há cerca de quatro anos permite-nos ter resultados da actua-ção do Gamma Knife, pois temos doentes que estão a ser tratados desde o início do centro Gamma Knife. Assim, conseguimos obter resultados bem assentes do benefí-cio e do sucesso que o procedimento pro-voca no paciente e na patologia em causa.

Maria Begoña Cattoni

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Temos tido resultados bastante gratifi-cantes e compensadores, pois muitos dos doentes que são alvo deste tratamento tiveram a vantagem de nunca terem sido operados através da cirurgia convencional. Aqueles que numa fase anterior ao Gam-ma Knife foram operados e a patologia da qual padeciam voltou a aparecer, em vez de serem novamente operados, aplica-se a Radiocirurgia Gamma Knife”, afirma a Neurocirurgião do centro Gamma Knife, Maria begoña cattoni.

rEfErENCIAr NOVOS DOENTES

como já foi salientado o centro Gamma Knife é particular, estando inserido na orgânica do Hospital cuf infante Santo, unidade também ela de cariz privado. de que forma é que o centro Gamma Knife e o tratamento com semelhante desígnio representam uma mais-valia ao nível dos cuidados de saúde prestados? interessa compreender que a mais-valia deste pro-cedimento é toda ela direccionada para o bem dos doentes. Mas será este tratamen-to comparticipado para pacientes do Ser-viço Nacional de Saúde - SNS, beneficiários de seguradoras ou subsistemas de saúde? “Neste momento possuímos diversas par-

cerias e acordos com determinados hos-pitais do SNS, sendo que aqueles utentes cuja indicação passa pelo tratamento Gamma Knife são enviados para o nosso centro no contexto de protocolos previa-mente celebrados, de forma que existem doentes do SNS que beneficiam deste tipo de procedimentos, únicos no país.Apesar do sucesso do tratamento, Maria begoña cattoni reconhece contudo que ainda existem algumas lacunas, principal-mente ao nível da necessidade em aplicar este tratamento nos doentes oncológicos. “Tratamos patologias de doentes referen-ciados por neurocirurgiões e otorrinola-ringologistas, e sentimos que este proce-dimento, Gamma Knife, pode ser aplicado em benefício de inúmeros doentes que desenvolveram metástases cerebrais. O problema é que esses pacientes ainda não estão referenciados no número correcto. Se analisarmos os principais centros de re-ferência mundial a este nível, a maior parte dos doentes tratados nos centros Gamma Knife são pacientes com metástases cere-brais, cenário que em Portugal ainda não se verifica”, revela, assegurando que o caminho neste domínio é bastante longo, sendo necessária a cooperação de todos os agentes envolvidos no centro Gamma Kni-

fe no sentido de “continuarmos a divulgar as indicações e os resultados positivos do tratamento Gamma Knife, principalmente nesse grupo particular que são os doentes oncológicos”.

“NA sAúde NãO POdeMOsrEgrEDIr”

Questionamos a nossa entrevistada se, com a introdução do tratamento Gamma Knife, estaríamos a assistir a uma revolução na Saúde em Portugal? A resposta é negativa, até porque a radiocirurgia é uma prática realizada há mais de quatro décadas, tendo sido já aplicada em Portugal, embora atra-vés de tecnologias menos evoluídas. “Mas é legítimo afirmar que há quatro anos que é usada em Portugal uma tecnologia de van-guarda e com benefícios evidentes ao nível da saúde. Posso garantir que neste mo-mento não existe, a nível mundial, equipa-mento mais evoluído que o Gamma Knife Perfexion”, assegura a nossa interlocutora, lembrando que esse panorama pode ser verificado pelo número de doentes envia-dos pelos respectivos especialistas. “Temos claramente um feedback extremamente positivo por parte dos médicos especialis-tas que referenciam doentes”.

A finalizar, Maria Begoña Cattoni assumiu que o desiderato primordial passa actual-mente por continuar a melhorar a qualida-de de vida daqueles que tinham perdido a esperança, sendo que o fito passa também por convencer as administrações hos-pitalares das mais-valias do tratamento Gamma Knife. “Estamos apenas a abordar questões puramente económicas, ou seja, sem entrar no campo da qualidade de vida que proporciona ao doente, até porque ao nível do sistema de saúde não podemos permitir retrocessos. É evidente que a cri-se económica que nos assola actualmente atinge todos os sectores em Portugal, mas existem determinadas premissas que, como profissionais, não deveríamos admi-tir. Temos de continuar a apostar na quali-dade dos serviços de saúde prestados. As-sim, iremos continuar a alargar horizontes com os nossos parceiros, os médicos es-pecialistas, que apesar de ainda não esta-rem verdadeiramente habituados com o manuseamento do tratamento da Gamma Knife, vão, pouco a pouco, entrando num eixo de admissão de que hoje existe uma alternativa fiável à cirurgia e que se deno-mina radiocirurgia Gamma Knife”, conclui Maria begoña cattoni, Neurocirurgião do centro Gamma Knife.

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18 Novembro 2011 Pontos de Vista

O Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral recebeu, no dia 17 de Outubro, uma menção honrosa aquando do Encontro Sobre a Quali-dade e Inovação na Saúde (prémio de boas práticas), atribuída pela Asso-ciação Portuguesa para o Desenvolvi-mento Hospitalar. O que significa, na sua perspectiva, esta atribuição?Esta menção foi recebida pela Equipa da Saúde Oral da direcção Geral da Saúde (dGS) com natural satisfação. Temos a noção que nos foram dadas as condi-ções essenciais para a realização de um trabalho aprofundado na construção das ferramentas necessárias à recolha de dados, à monitorização e avaliação do programa nacional, à elaboração de documentos, relatórios e toda a infor-mação necessária à compreensão do seu desenvolvimento. Refiro-me ao Sistema de informação da Saúde Oral (SiSO) que temos vindo a construir, reconheci-damente bastante robusto e completo, instrumento utilizado na gestão de um vasto conjunto de funcionalidades, que proporcionam um enorme volume de trabalho, realizado com um reduzido envolvimento humano. A elevada quan-tidade de cheques-dentista emitidos (1,5 milhões), de utilizados (mais de 1 milhão) e de tratamentos efectuados (mais de 2,5 milhões), desde 2008 – ini-maginável há algum tempo atrás – foi possível graças ao sistema de informa-ção, que se tem revelado de qualidade muito satisfatória. A inexistência de di-

ficuldades técnicas intransponíveis ou de obstáculos ao desenvolvimento das actividades que pretendíamos realizar no âmbito do programa através do SiSO, nomeadamente todo o processo de pa-gamento dos cheques-dentista, dentro dos prazos curtíssimos que nos foram impostos, comprovam as anteriores afirmações.

O processo de auditoria interna será um dos itens do sistema de informa-ção. Como está a decorrer a criação deste módulo? O SiSO tem-se revelado um instrumento de qualidade, em constante evolução. Na presente data está praticamente conclu-ído o módulo de suporte às auditorias internas que iremos associar ao PNPSO, num processo sistemático de monitori-zação da realização efectiva dos servi-ços de saúde oral prestados ao sector público, processo que em Portugal ocorrerá pela primeira vez associado a um programa de cuidados de saúde pri-mários. Na presente data já se encontra concluído o projecto-piloto, efectuado no Agrupamento de centros de Saúde (ACES) do Zêzere, numa área geográfi-ca que engloba as cidades de Abrantes e Tomar e com resultados muito satisfa-tórios. Estamos certos de que este pro-cesso de monitorização de más práticas induzirá uma prestação de cuidados de saúde oral de maior qualidade, tornan-do o programa progressivamente mais eficiente. Perspectivamos que o início da

As doenças orais constituem, no seu conjunto, uma séria questão do âmbito da saúde pública, afec-tando a grande maioria da popu-lação e influenciando acentuada-mente a sua qualidade de vida. O Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) estabe-lece uma estratégia de interven-ção de fundo, determinada pelo Ministério da saúde e integrada no Plano Nacional de Saúde. Em entrevista à Pontos de Vista, rui Calado, Coordenador do PNPSO comenta, através de uma análi-se global, as acções que têm sido empreendidas, perspectivando, ainda, futuras iniciativas e linhas orientadoras.

Agilização de métodos na base do sucesso

Prémio de qualidade e inovação atribuído ao Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

implementação desta actividade ocorra nos primeiros meses de 2012 e espera-mos com esta nova iniciativa, ter uma forte motivação para concorrermos uma vez mais, já no próximo ano, ao prémio de boas práticas da APdH.

No processo de realização de audito-rias internas, para quando se prevê a abrangência da totalidade dos Agru-pamentos de Centros de Saúde?Pretendemos auditar, em cada ciclo, pelo menos 6 médicos dentistas em cada AcES, de dois em dois anos. Quando nos deslocarmos a um AcES para a reali-zação de auditorias, serão observados os utentes de seis médicos escolhidos aleatoriamente, que tenham utilizado o cheque-dentista nos seis meses prece-dentes. No final teremos um relatório de auditoria de AcES e seis relatórios dos médicos auditados, onde constarão as inconformidades detectadas. Eles pro-porcionarão os elementos necessários à correcção de procedimentos indese-jáveis praticados pelos prestadores de cuidados de saúde oral nos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A iniciativa cheque-dentista tem por base a adesão do médico-dentista, sendo que somente o elevado número de praticantes actualmente verificado tem permitido o seu sucesso e o suces-so da saúde oral em Portugal…Naturalmente que sem médicos den-tistas não pode haver medicina den-

tária. Lembro-me bem que, em 1986, quando comecei a trabalhar na área da saúde oral eram muito escassos os profissionais habilitados existentes no país. Anteriormente, sendo Portugal um país pobre e depauperado, o país não foi provido com um número adequado destes profissionais. Após o 25 de Abril, foi necessário passar por uma fase de construção de escolas e de formação académica de profissionais e por isso, tivemos que dar tempo ao tempo para chegar à fase em que nos encontramos. de realçar que só a partir do ano 2000 é que o sector público começou a pro-porcionar aos seus utentes acesso a me-dicina dentária, uma vez que, anterior-mente, não existiam médicos dentistas em número suficiente. Felizmente, nos dias de hoje, cerca de 3000 médicos dentistas, que representam quase me-tade dos profissionais existentes em Portugal, mostram disponibilidade para trabalhar, em parceria com o sector pú-blico, com quem nos relacionamos do ponto de vista remuneratório, através dos cheques-dentista. Naturalmente, só quando o número de médicos cres-ceu é que foi possível percorrer um novo caminho, capaz de satisfazer as necessidades curativas dos grupos mais vulneráveis da nossa população e com-plementar algum trabalho realizado em Unidades de Saúde públicas com inter-venções preventivas, de que se destaca a aplicação de selantes de fissuras em dentes permanentes.

Rui Calado

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Como este plano engloba muitas es-colas, recentemente foi feita a sua avaliação junto dos estabelecimentos de ensino, referente ao corrente ano. Quais as conclusões?concluímos que ainda temos algumas questões por resolver ao nível da comu-nicação, uma vez que não conseguimos chegar tão longe e de forma tão abran-gente como pretendíamos. Há cerca de um ano, também nos foi atribuída a res-ponsabilidade pela prevenção primária das doenças orais. do diagnóstico de situação efectuado resultou a convicção de que, ao longo dos anos, os serviços de saúde não tiveram engenho e arte para aliviar os educadores de infância e professores do ensino básico da respon-sabilidade quase absoluta de transmiti-rem aos alunos informação sobre saúde oral e assegurarem a prática de compor-tamentos entendidos como adequados, na procura de condições favoráveis à manutenção da sua saúde. Naturalmen-te, as suas preocupações dominantes se-rão educacionais, não necessariamente relacionadas com a saúde. Foi por isso que pensámos que poderíamos con-tornar este contexto, através da intro-dução de um “Plano B” do PNPSO, que preconiza um conjunto de caminhos alternativos para a informação e a edu-cação para a saúde oral, que não passam obrigatoriamente pelos professores, mas que lhes estão acessíveis através de materiais disponibilizados nas biblio-tecas escolares, abrangendo também os auxiliares de educação e os próprios pais. Os quais, através de Associações de Pais poderão desempenhar um papel de entreajuda precioso na implementação, em ambiente escolar, de actividades muito simples e há muito entendidas como bastante eficazes no combate às doenças orais, como o são, por exem-plo, a adopção de hábitos alimentares saudáveis, a administração de flúor (em comprimidos ou bochechos) e a escova-gem dos dentes.

No “Plano B” está prevista a constru-ção de um parque temático e pedagó-

gico destinado à população escolar…

Efectivamente, estabelecemos um pro-tocolo com uma empresa privada, ten-do por finalidade a construção de um parque temático de saúde oral, mas in-felizmente surgiram dificuldades orça-mentais que podem por em causa a sua execução. Queríamos construir algo de diferente, acessível a todas as crianças e que, de certa forma, viesse aligeirar as responsabilidades atribuídas aos pro-fessores na educação para a saúde oral dos seus alunos. A nossa intenção seria deslocar, através do país, um parque temático de notável qualidade, onde as crianças se pudessem divertir e apren-der. Mas ainda não desistimos. Estamos a procurar os indispensáveis patrocina-dores, sem os quais este projecto tão bo-nito não poderá ser concretizado.

Têm estado na ordem do dia os cortes orçamentais na área da Saúde. De que forma o PNPSO se poderá ver afectado com tal situação? Não faço qualquer drama a esse res-peito. Falei há dias, sobre essa matéria, com o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde e não me pareceu que houvesse, por parte do Governo, von-tade de diminuir o ritmo do nosso tra-balho, muito pelo contrário. A margem de manobra que possuímos na área da saúde oral é imensa, visto que a maior eficiência do processo só se alcança através de acções sistemáticas e persis-tentes de informação, de educação para a saúde e de medidas de prevenção pri-mária, como por exemplo o uso de flúor e a aplicação dos selantes de fissuras. Pode não haver dinheiro suficiente para tratar todas as cáries da nossa popula-ção, mas haverá sempre possibilidade de aumentar os seus conhecimentos e capacidades em matérias relacionadas com a prevenção. Quero com isto dizer que estamos preparados para enfrentar um momento de crise como o actual, em que o factor “critério” pode ser mais estreito, mas a gestão terá de ser muito mais rigorosa.

O SISO tem-se revelado um instrumen-to de qualidade, em constante evolução. Na presente data está praticamente concluído o módulo de suporte às auditorias internas que iremos associar ao PNPSO“ “

20 Novembro 2011 Pontos de Vista

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Personalidade de grande repu-tação e experiência no meio, Genilson Silva Neto, nascido no Brasil, foi durante dez

anos professor na faculdade de Me-dicina Dentária da Universidade de Lisboa, tendo vindo para terras lusas há cerca de 25 anos a convite do pro-fessor Simões dos Santos, represen-tando a instituição de ensino. “Havia uma ideia de transformar o que se fazia na medicina tradicional em Portugal, bastante rudimentar na épo-ca, sendo que o professor Simões dos Santos viajou pelo brasil para tomar conhecimento do funcionamento do sector que estava num patamar bem mais avançado do que em Portugal. Na realidade, só existia o curso de Medici-na, sendo que, depois, os médicos espe-cializavam-se em Estomatologia. O pro-blema residia no facto de não haver uma “cultura” de Medicina Dentária, quer ao nível de disciplinas quer no que diz res-peito à especificidade e diferenciação da

área. Assim sendo, a minha vinda deu-se para integrar o quadro de docentes da Faculdade, bem como de formação pro-fissional, para ministrar o curso de Téc-nico de Prótese dentária, inexistente até àquela data”, contextualiza Silva Neto.Três décadas volvidas o cenário é com-pletamente distinto, graças ao traba-lho de formação de profissionais que foi sendo desenvolvido pelos estabe-lecimentos de ensino, sendo que na perspectiva do entrevistado, “na área específica de prótese dentária, o cami-nho percorrido pelos técnicos foi feito de forma mais sustentada do que o dos médicos dentistas. No centro de Pre-venção e reabilitação Oral é ministrado o mais antigo curso de pós-graduação em Aperfeiçoamento de Prótese Fixa no nosso país; já vamos na 26ª edição e entendo que os médicos dentistas têm, de facto, essa lacuna que urge ser me-lhorada ”.Os tempos mudaram, as exigências também. Mas o que fazer para respon-der às demandas do mercado, quando a classe tem excesso de profissionais a saírem das escolas para o mercado de trabalho? Genilson Silva Neto responde com “bom senso”. Bom senso por parte dos responsáveis políticos, observa. “O país não necessita de tantos profissio-nais. isso leva a que exista desemprego, pessoas a trabalharem a 20 por cento

Hoje e sempre a saúde oral representa um vector importante dentro do espectro da saúde, havendo, porém a necessidade de uma maior e mais profícua base de informação acerca dos cuidados primários. Nesse sentido, nada melhor que escutar a opinião de genilson Silva Neto, mestre em reabilitação dentária e doutorado em biologia na área da implantologia, sendo, no presente, director clínico do Centro de Prevenção e reabilitação Oral que, em entrevista à Revista Pontos de Vista, aborda os assuntos mais prementes desta área do ponto de vista de um especialista de créditos firmados.

“Excelência em primeiro lugar”

Centro de Prevenção e Reabilitação Oral

e também a uma quebra da qualidade dos serviços prestados. Vejo isso na área em que trabalho. Penso que deve-ria haver uma vontade política em solu-cionar essas questões de forma asser-tiva e directa e para isso é imperativo haver bom senso, que por vezes falta no espectro político. A escassez de traba-lho leva a profissão a uma disputa fe-roz, onde a política comercial e de pre-ço passa a sobressair. O nível não pode baixar numa área fundamental como a da Saúde! A qualidade deve sobrepor--se a qualquer outro factor!”Voltando agulhas para a área dos cui-dados primários, o especialista destaca que o elemento “prevenção” urge estar na ordem do dia. “A sociedade portugue-sa carece de informação acerca dos cui-dados preventivos, constato isso quan-do recebo novos pacientes na clínica. Os portugueses não estão bem informados a respeito da importância da prevenção, como consequência da falta de aposta das instituições com responsabilidades neste país. É uma área que, no currículo do médico dentista, é reduzida e pouco trabalhada privilegiando-se quase que totalmente os aspectos do tratamento. ressalvo: o médico dentista tem o de-ver de retribuir à comunidade o que lhe foi propiciado em termos de formação! deve assumir o compromisso em fazer algo pela sociedade, informar, estimular e mostrar métodos de prevenção. Ga-ranto-lhe que o Governo iria despender muito menos verbas para programas e serviços que visam apenas o tratamen-to das doenças instaladas. A medicina dentária é muito simples, se você não tem um paciente orientado e motivado, dificilmente o tratamento irá resultar, visto que tudo depende de um paciente conhecedor dos seus problemas e moti-vado para mudar hábitos”.

seRViçOs e ViRTudes DO CENTrO

dotado de uma equipa multidisciplinar e especializada, o centro de Prevenção e reabilitação Oral está a par e passo com os mais modernos avanços da medicina, aliando a inovação com o co-nhecimento e experiência técnica em áreas como a estética, oclusão, próte-se, periodontologia e implantologia e a não menos importante área da pre-venção e cuidados relacionados. “Estes serviços, feitos de forma personalizada e aliados à procura da excelência nos processos, fazem com que o paciente sinta que esta a ter um acompanha-mento global e integrado”, sublinha o entrevistado.de ressalvar o importante contributo que esta clínica lisboeta oferece no que respeita ao âmbito formativo e de espe-cialização: desde 1994 que é ministrado o curso de Aperfeiçoamento em Prótese Fixa Sobre dentes e implantes, cami-nhando já para a 27ª edição, sendo que nas acções de formação empreendidas, estiveram presentes cerca de 150 médi-cos dentistas.A destacar ainda a acreditação como entidade formadora, do centro de Prevenção e reabilitação Oral por parte da dGErT, processo que está na fase final, uma mais-valia reveladora dos princípios de qualidade que este centro clínico pretende reforçar. “Se todo o processo decorrer da forma como esperamos, posso revelar que seremos uma das primeiras clínicas nacionais a ficar dotada com esta cer-tificação de qualidade e o curso aqui ministrado será, com certeza, o pri-meiro a obter a acreditação por parte da entidade reguladora”, conclui Ge-nilson Silva Neto.

Genilson Silva Neto

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A sociedade portu-guesa carece de informação acerca dos cuidados preventi-vos, constato isso quando re-cebo novos pacientes“ “

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tados com o envelhecimento da popula-ção e a emergência de doenças crónicas mas não podemos ignorar problemas antigos como por exemplo aqueles que se referem à Saúde Oral.

Num passado não muito longínquo, a Saúde Oral foi quase considerada como o «parente pobre» da Saúde Pública em Portugal, inúmeras vezes contemplada de uma forma diminuí-da no Serviço Nacional de Saúde, uma vez que existem muitos hospitais onde

A Saúde deve ser vista como um pilar fundamental dos denominados países desenvolvidos. Portugal não foge a essa regra, sendo necessário con-tinuar a apostar em serviços de saúde de qualidade em prol dos cidadãos. francisco george, Director – geral da Direcção – geral de Saúde revela a sua visão da Saúde em Portugal, lembrando contudo que existe, quando falamos de saúde, uma premissa fundamental e que jamais poderemos esquecer, ou seja, “temos de assegurar a qualidade, na perspectiva das boas práticas e da eficácia dos serviços a prestar aos cidadãos”

“O SNS continuará a dar resposta aos desafios na Saúde”

Francisco George, Director – Geral da Direcção Geral da Saúde, em discurso directo

A Direcção-Geral da Saúde completa 111 anos, data de relevância de uma entidade fundamental para Portugal e os portugueses. Quais os principais desafios que se colocam à entidade e à Saúde em Portugal?É verdade, a direcção-Geral da Saúde foi criada ainda no tempo da Monarquia em 1899, poucos meses depois da epidemia de peste no Porto. Naturalmente as suas atribuições têm evoluído de acordo com os problemas que representam maiores preocupações. Estamos agora confron-

Confirmo que só mais recentemente foi possível impul-sionar o programa nacional de promoção da saúde oral a nível nacional, de forma abrangente complementando as actividades de promoção da saúde com a prestação de cuidados especiali-zados direccionados a grupos específicos de maior vulnerabili-dade tendo em atenção níveis de equidade indiscutíveis

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Estamos agora confrontados com o envelhe-cimento da população e a emergência de doenças crónicas mas não podemos ignorar problemas an-tigos como por exemplo aqueles que se referem à Saúde Oral

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Francisco George

não existe qualquer serviço de Esto-matologia e, em outros, ele existe, mas não é suficiente para as necessidades, assim como acontecia nos centros de saúde. Que análise perpetua das me-didas tomadas em prol da Saúde Oral em Portugal?

A Saúde Oral vai para além da Especia-lidade médica de Estomatologia. Actual-mente existem outros actores que inter-vêm muito eficazmente neste domínio, nomeadamente os médicos dentistas e os higienistas orais. No entanto, confirmo que só mais recentemente foi possível impulsionar o programa nacional de pro-moção da saúde oral a nível nacional, de forma abrangente complementando as actividades de promoção da saúde com a prestação de cuidados especializados direccionados a grupos específicos de maior vulnerabilidade tendo em atenção níveis de equidade indiscutíveis.

Portugal, à imagem de outros con-géneres europeus, tem vindo a ser «alvo» de um conjunto de constrangi-mentos económicos que afectam todos os sectores. A Saúde não «escapou» a esse desígnio. De que forma podem

estes cortes fazer perigar os cuidados de saúde dos portugueses? Poderemos assistir a uma diminuição da qualida-de dos serviços prestados pelo SNS?

As respostas têm que ser inteligentes e assegurar a qualidade, na perspectiva das boas práticas e da eficácia dos ser-viços a prestar aos cidadãos.

Ao longo dos anos o sistema conven-cionado tem florescido à «custa» dos clientes enviados pelo SNS, embora se saiba que a capacidade tecnológica instalada na rede pública é mais que suficiente para dar resposta as neces-sidades internas, cuidados de saúde primários incluídos. A proibição dos hospitais de fazerem requisição de exames a prestadores está a gerar um «aumento exponencial» da lista de espera nesses estabelecimentos para marcação de exames. Que comentário lhe merece este cenário?

Em regra não comento questões de or-dem política. Porém, faço nota que o Ser-viço Nacional de Saúde irá adaptar-se de forma inteligente aos novos desafios sem deixar de dar respostas às necessidades de saúde dos cidadãos.

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24 Novembro 2011 Pontos de Vista

Devemos pensar no ser hu-mano como um todo; tra-tar o paciente com todas as valências debaixo do mes-

mo teto, isto é, na mesma clínica. Na criação da CDI – a primeira clínica dentária integrada portuguesa com marca registada – foram, desde logo, incorporadas a reabilitação oral, a manutenção, a prevenção oral e a in-vestigação.Mas não nos ficámos por aqui; passá-mos a inovar, integrando os conheci-mentos de medicina na medicina den-tária, desenvolvendo o projecto por equipas, com ajudas prévias de meios auxiliares de diagnóstico computoriza-dos, culminando com a integração entre a engenharia biomecânica e a tecnologia na medicina dentária, com a vantagem acrescida de ser significativamente acessível em termos económicos e per-sonalizados para o paciente. Numa pa-lavra: a arte, a tecnologia e a ciência ao serviço do bem-estar do paciente.depois, a criação de um departamento científico na clínica tornou-se um impe-rativo. com os nossos métodos de traba-lho multidisciplinares e integrados, pas-sou a ser uma preocupação constante a evolução permanente e os programas de educação contínua, a fim de que pu-déssemos realizar desenvolvimentos de técnicas médicas dentárias e laborato-riais, visando soluções mais cómodas e económicas. Por isso se trata hoje de um projecto maduro e sustentável, embora eu já o tenha há 29 anos em evolução. Agora mais uma vez, uma das principais preocupações é inovar. Tem sido para nós uma preocupação constante reciclar e inovar com segurança todas as áreas

referidas, para que consigamos atingir uma inegável qualidade funcional e es-tética, sem nunca deixarmos de pensar também em termos económicos para o paciente.Por outro lado, como por vezes ocorrem fracturas e desgastes dentários de ori-gem não mastigatória, as chamadas pa-rafunções (stress e sono), que são muito difíceis de controlar e, muitas vezes, de identificar, é necessário ter preparação e os meios auxiliares de diagnóstico e laboratoriais para diagnosticar a causa, tanto local como sistémica. Por isso o apoio prestado pela electrónica, exis-tente neste ramo na cdi, ajuda-nos a compreender e a actuar com precisão nos tratamentos. E o que é mais inte-ressante é que o próprio paciente par-ticipa nos nossos testes, o que facilita a compreensão para o plano de trata-mento proposto após a explicação da sintomatologia. Num outro aspecto, o bruxismo é uma manifestação que não tem propósito funcional. É considerado uma actividade de movimento involun-tária e inconsciente, caracterizada pelo

raul Vaz de Carvalho é o director clínico da Clínica Dentária Integrada (CDI), sendo dos pioneiros a fazer implantes dentários em Portugal. O seu interesse passa também, pelo tratamento da apneia obstrutiva do sono, do bruxismo e da roncopatia através da reabilitação oral, dentária e da implantologia, não esquecendo a sempre presente estética dento-facial.

A Arte, a Tecnologiae a Ciência na Medicina Dentária

Clínica Dentária Integrada

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

excessivo aperto ou pelo ranger dos dentes, podendo ocorrer durante o sono ou quando se está acordado. Presente-mente, defende-se que está amplamente associado ao nosso actual modelo de vida, como as exigências de competição e de desempenho no mercado de traba-lho, a insegurança social, diversos cons-trangimentos e frustrações, conflitos e

divergências familiares… O indivíduo está, em tempo total, em situação de alarme, de ansiedade e de stresse, o que faz com que desenvolva uma excessiva excitação no cérebro. daí resulta um estado permanente de tensão neuro--muscular, cujos efeitos podem alcançar o pescoço e os ombros, até se admitindo que influenciem a própria postura do corpo, uma potencial fonte de cefaleias e outras dores crónicas. É frequentemen-te associado a diversos níveis de mau estar, como os zumbidos, a diminuição da audição as vertigens, a fadiga física ou mental… do ponto de vista clínico, o fenómeno está associado a algumas fontes irrever-síveis e não tem cura definitiva, embo-ra possa ser perfeitamente controlável através de tratamentos com pequenos aparelhos não invasivos, especificamen-te desenhados para o paciente, com re-sultados normalmente excelentes. já no que diz respeito à apneia do sono,

Agora mais uma vez, uma das principais pre-ocupações é inovar. Tem sido para nós uma preocu-pação constante reciclar e inovar com segurança em todas as áreas da Medicina Dentária, para que con-sigamos atingir uma inegável qualidade funcional e estética, sem nunca deixarmos de pensar também em termos económicos para o paciente

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Antes

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está frequentemente associada às do-enças cardiovasculares. Aliás, estima-se que 40 por cento dos pacientes porta-dores de hipertensão arterial sistémica apresentam apneia associada, não diag-nosticada e não tratada. Mais: têm sido observadas evidências de um aumento na taxa de mortalidade cardiovascular em pacientes portadores de apneia do sono. Entre os numerosos efeitos adver-sos da apneia (físicos, mentais e com-portamentais), deve também ser discu-tido o importante papel da apneia como factor de risco para acidentes (de viação e de trabalho), o que já está comprovado por diversos estudos. A cdi disponibi-liza um departamento, desenvolvido pela nossa equipa, para o tratamento e controlo deste tipo de apneia: aparelhos não invasivos de avanço mandibular, concebidos após planeamento prévio e com os apoios mais avançados a nível da engenharia biomédica e da tecnologia, indicados como terapêuticas alternati-vas tanto para os tratamentos cirúrgicos

Cada vez as pessoas procuram valorizar mais a sua estética, sabendo e reconhecendo que frequente-mente isso pode ser um importante contributo para o seu êxito no contexto social em que se inserem. Assim, a estética, a nível da medicina dentária, é um sector cada vez mais procurado

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como para os aparelhos que forçam a entrada de ar nas vias aéreas.Por último, mas não menos importan-te, sublinhe-se que a cdi é uma clínica que presa também a sua actividade por uma concepção dinâmica dos fenóme-nos sociológicos que pautam o mundo em que vivemos. cada vez as pessoas procuram valorizar mais a sua estética, sabendo e reconhecendo que frequen-temente isso pode ser um importante contributo para o seu êxito no contexto social em que se inserem. Assim, a esté-tica, a nível da medicina dentária, é um sector cada vez mais procurado. Atenta ao desenvolvimento deste fenómeno, a cdi muniu-se da mais moderna tecno-logia, susceptível de dar resposta em tempo recorde a quem nos procura para esse efeito, através de entre outros, das denominadas facetas dentárias – peque-nos procedimentos realizados sobre a estrutura dentária, que visam mascarar pigmentações e defeitos dos dentes. São finas lâminas de resina composta ou de

porcelana – estas últimas, as mais avan-çadas –, colocadas sobre a face frontal dos dentes. São também a melhor indi-cação contra as manchas dentárias, para aplicar onde o clareamento não alcan-

Por último, mas não menos importante, sublinhe-se que a CDI é uma clínica que presa também a sua actividade por uma concepção dinâmica dos fenómenos sociológicos que pautam o mundo em que vivemos“ “

çou o resultado esperado, para dentes já bastante restaurados, para colmatar espaços entre dentes e para corrigir dentes mal posicionados (tortos).

Clínica Dentária IntegradaRua de S. Romão, 422 • Vermoim • 4470-365 MAIATel. 229 485 414 - 229 416 471Fax. 229 471 784Telm. 969 524 134email: [email protected]

Raul Vaz de Carvalho

Antes Depois

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26 Novembro 2011 Pontos de Vista

A privação de sono, sobre-tudo quando continuada, pode ser responsável por muitos acontecimentos ne-

gativos na nossa vida.O aumento da probabilidade de contrair vários tipos de doenças crónicas, dificul-dades no desempenho, na concentração e no estado de ânimo, são algumas das repercussões da má qualidade do sono. Além disso, associa-se a um aumento do risco de acidentes de trabalho e viação com as suas consequências, por vezes trágicas.

O nosso equilíbrio físico e emocional de-pende em muito desta função. Por isso é importante que ela seja entendida e res-peitada. Para tal, a medicina do sono e os clínicos a ela ligados tentará ajudá-lo a conhecer um pouco melhor o seu sono. Neste site, www.apsono.com, poderá en-contrar informações úteis sobre os meca-nismos que regulam o sono, saber quais os comportamentos mais adequados para o promover e os que deverá evitar. Pensámos contribuir, desta forma, para que se aperce-ba da importância que boas noites de sono têm na qualidade dos seus dias.

Porque é que o sono é importante? O sono é fundamental na vida de todos nós. dormir não é um luxo, mas sim uma necessidade fisiológica.

A Importância do Sono

Texto gentilmente cedido por Marta Gonçalves, Directora Clínica do Instituto do Sono no Porto e Presidenteda Associação Portuguesa de Sono

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

Dicas para quem tem dificuldade em dormir

- deite-se apenas quando tiver sono. O deitar antes de ter sono forçando o seu adormecer, só irá aumentar a sua ansiedade e como consequência atrasar a hora do adormecimento.

• Se não conseguir adormecer passados 30 minutos, levante-se, vá para a sala e faça algo relaxante, leia um livro, ouça um pouco de música sem a preocupação de ter sono. deite-se apenas quan-do sentir sono de novo.

• realize rituais, que o ajudem a relaxar e que lhe preparem o sono um pouco antes da hora de deitar; leia um livro, se tiver fome faça uma refeição ligeira.

• Tente levantar-se à mesma hora todos os dias, independente-mente das horas que tenha dormido.

• Evite fazer sestas, e se as fizer que sejam curtas, de 20 a 30 minutos e não depois das 15 horas.

• Não veja televisão no quarto.

• Não tenha relógio ou telemóvel à cabeceira, pois ver as horas durante a noite poderá estragar o seu sono ao gerar ansiedade.

• Evite bebidas alcoólicas 2 horas antes de se deitar.

• Evite bebidas estimulantes com cafeína durante a tarde ou/e noite, não só o café mas também cola, chá preto ou guaraná.

• Evite fumar antes de se deitar, pois a nicotina é um estimulante.

• Não se deite a pensar nas preocupações do dia seguinte. Não tente ir para a cama achar a resolução dos seus problemas.

• Não se deite com fome, mas também não faça refeições pesadas antes de se deitar.

• Evite o exercício físico 4 horas antes da hora de deitar.

• Mantenha o seu quarto silencioso, escuro e fresco.

• Evite medicamentos para dormir ou use-os de forma cautelosa, não regularmente, e sempre sob vigilância médica.

...a apneia de sono na criança poderá ocasionar atrasos no seu desenvolvimento estato ponderal por diminuição na secreção da hormona de crescimento?

...a apneia de sono na criança poderá causar hiperactividade e não sonolência como nos adultos e que embora poucas vezes diagnosti-cada é frequente nas crianças hiperactivas?

...unir frequentemente durante a noite, sintoma que se chama nic-túria, é um sintoma frequente da apneia de sono no adulto?

...não se deve fazer exercício perto da hora de deitar? Porque este eleva a temperatura corporal e assim atrasa a descida da tempera-tura fisiológica que acompanha a sonolência e o consequente sono.

...chocolate tem cafeína e por isso deve ser evitado à noite, princi-palmente se o costuma utilizar nas noites de insónias?

...há estudos que indicam que a privação do sono, ou seja, dormir horas insuficientes pode fazê-lo aumentar de peso?

...a apneia de sono poderá ser uma causa de sonambulismo?

Sabia que...

?

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28 Novembro 2011 Pontos de Vista

Integrado em unidades de saúde de enorme prestígio e reconheci-mento como a ClínicaCuf Cascais, HospitalCuf Porto e do Hospital-

Cuf Descobertas, o My Style assume--se como um espaço de estética e de bem-estar que presta serviços a pa-cientes que se encontrem internados e/ou com mobilidade reduzida. Pio-neiro e inédito em Portugal este novo conceito protagonizado pelo My Style disponibiliza diversos serviços como manicura e pédicure, depilação, mas-sagem ou cabeleireiro. Quem disse que não podemos estar bonitos? Se o conceito é inovador, o espaço em si não deixa de ser extremamente ape-lativo, pois além de ser algo novo, este conceito é também muito útil para o sta-ff do hospital, para pessoas que vão fa-zer exames e que têm que esperar pelos resultados, e ainda para os familiares e visitas dos pacientes, que aproveitam o tempo de espera ou a visita ao hospital,

para pôr o seu visual em dia. desenhados para si e pensando apenas em si, o espaço My Style foi desenhado por uma arquitecta de feng shui, tendo este espaço sido pensando com o desi-derato de proporcionar momentos de pura descontracção, lazer e pura des-contracção. Algumas estruturas adap-tadas, aliadas ao apoio imprescindível dos enfermeiros e à disponibilidade e optimismo das colaboradoras da My Style, permitem levar estes momentos até aos quartos, proporcionando o bem--estar e transmitindo a energia positiva, àqueles que não conseguem deslocar-se ao espaço

MAs COMO COMeçOu?

A revista Pontos de Vista quis conhecer este espaço de enorme elegância e con-versou com conceição Melo, Adminis-tradora do primeiro centro de estética instalado numa unidade hospitalar, o

My style? Já ouviu falar? sabe o que é? Nós explicamos. Marcando a di-ferença e primando pela excelência da qualidade o My style é uma ideia completamente inovadora e útil e que irá fazer as delícias de todos os que o visitarem, pois neste centro de estética a principal prioridade passa pela satisfação total dos clientes.

Sinta-se bem,sinta-se com «Style»

My Style – Conceito inovador de um espaço de requinte

PV12 SAÚDE DE QUALIDADE

My Style, onde ficamos a conhecer as verdadeiras mais-valias deste espaço e porque são importante para quem as utiliza. A convite da dona do cabeleireiro que frequentava, foi em 2006 que con-ceição Melo fez sociedade com esta, e abriu o seu primeiro cabeleireiro, o refresh. O primeiro passo estava dado. Passados três anos, mais concretamen-te em 2009, surgiu o convite de alguém ligada ao grupo josé de Mello Saúde no sentido de ser criado um cabeleireiro na clínicacuf cascais. conceição Melo aceitou esta proposta e começou por transferir o espaço já existente para esta clínica, sendo que foi no decorrer deste ano, 2011, que a nossa interlo-cutora decidiu reposicionar o espaço e criou o primeiro My Style, um centro

de estética e bem-estar orientado para prestar serviços para os pacientes, staff e visitas clínicas. “A principal priorida-de é a de proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida em termos estéticos a toda a comunidade próxima do hospital, ou seja, aqueles que o frequentam, trabalham ou visi-tam”, assume a nossa entrevistada. comprovando o sucesso e a excelência do Espaço My Style, este começou a ser «replicado» em outros pontos do país, sendo que este passo foi concretizado depois da visita do responsável de ma-rketing do Hospitalcuf Porto, em que a nossa entrevistada, conceição Melo foi convidada para inaugurar um espaço análogo ao da clínicacuf cascais na ci-dade do Porto, mais concretamente no Hospitalcuf Porto. Apesar das distân-

Os centros My Style estão abertos a todas as pessoas que queiram usufruir de serviços de cabeleireiro, estética e bem-estar, independentemente de serem clientes destes hospitais. A marcação pode ser feita através dos nú-meros 96 546 47 01 (My Style Cascais), 96 619 75 45 (My Style Porto) e 92 619 34 78 (My Style Lisboa). Para os pacientes internados, a requisição dos serviços pode ser feita pelo próprio doente, por um familiar ou por um enfermeiro, através destes mesmos contactos ou utilizando uma extensão interna criada para o efeito.

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Pontos de Vista Novembro 2011 29

cias poderem funcionar como entraves à abertura de novos projectos, a capaci-dade empreendedora da nossa entrevis-tada foi determinante para aceitar este projecto ambicioso, tendo contratado uma colaboradora no sentido desta tra-tar de todos os pormenores inerentes à abertura do espaço My Style no norte do país. Satisfeita com a evolução do projecto, segundo Conceição Melo o mais gratifi-cante nesta área passa pelo bem-estar que é dado “principalmente aos utentes que estão internados, porque consegui-mos perceber que estamos de facto a contribuir para o seu bem-estar psicoló-gico e emocional”. Nos Espaços My Style a qualidade é algo recorrente em todos os pormenores, no entanto, para a nossa entrevistada a grande mais-valia dos Espaços My Style passa pela sensibilidade, amabilidade e boa disposição das colaboradoras do My Style, características aliás que fazem parte da personalidade de conceição Melo. “São elas que lidam diariamente com os pacientes e portanto foi ponto de ordem conceber uma equipa que reunis-se esse tipo de características pessoais “porque estamos a lidar com pessoas em dificuldades e um carinho é sempre bem-vindo”, refere. O My Style da Cuf Descobertas, que era desde sempre o seu sonho, foi possível através de josé Luís carvalho, director de marketing do josé de Mello Saúde que batalhou bastante para que a di-rectora destes centros conseguisse esse espaço. A terminar, conceição Melo re-velou porque dá tanto de si a estes pro-jectos e porque pretende continuar com os mesmos, pois a nossa entrevistada tem dois filhos dependentes, “algo que me tornou bastante sensível às doenças, às incapacidades e às limitações das pessoas”, salienta convicta, lembrando

Serviços My Style

My Style Cascais e My Style Porto• Cabeleireiro: lavagem, corte (crian-ças e adultos), coloração, madeixas, ondulação; brushing, desfrisante.• Rosto: limpeza de pele, tratamen-to anti-manchas, tratamento anti--envelhecimento, tratamento peles acneicas, tratamentos de olhos, rá-dio frequência facial.• Corpo: reafirmação de seios, pee-ling corporal e hidratação, peeling corporal aromático, algoterapia, radiofrequência, mesoterapia, pee-ling ultrasónico.• Depilação: convencional; Masculi-no IPL Fotodepilação, Luz pulsada.• Manicure e Spa Mancure.• Pedicure e Spa Pedicure• Massagem: Relaxamento, drena-gem linfática, tailandesa, geoterma (pedras quentes e frias) localizada.• Envolvimentos: Detox, Gisego, reafrimante anti-celulite, redutor, argila, chocoterapia, vinioterapia.• Maquilhagem: de dia e de noite.• Tratamentos de rosto: limpezas à pele.

My Style Lisboa• Cabeleireiro: lavagem, corte (crianças e adultos), coloração, ma-deixas, ondulação, brushing, desfri-sante, spa cabelo.• Depilação: convencional.• Manicure e Spa Manicure.• Pedicure e Spa Pedicure.

A principal priorida-de é a de proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida em termos estéticos a toda a comunidade próxima do hospital, ou seja, aqueles que o frequentam, trabalham ou visitam

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que o grande «sonho» passa por abrir um centro My Style num Hospital Públi-co. “Se tiver essa oportunidade não a irei desperdiçar”, conclui conceição Melo, Directora do Centro My Style.

Conceição Melo

Onde encontrar os Centros My Style

»My Style, Cascais - ClínicaCuf, 2.º piso.Morada: Rua Fernão Lopes 60, Cobre, 2750-663 Cascais.Tlm: 96 546 47 01Horário: De terça a sexta-feira das 9 às 18.30 horas. Sábado das 10 às 15.30 horas.

» My Style, Porto - HospitalCuf Porto, 4.º Piso.Morada: Estrada da Circunvalação, 14341, 4100-180, Porto.Tlm: 96 619 75 45Horário: De terça a sexta-feira das 9 às 18.30 horas. Sábado das 10 às 18.30 horas.

» My Style, Lisboa - HospitalCuf Descobertas, 1.º piso.Morada: R. Mário Botas, 1998-018 Lisboa-Parque das Nações.Tlm: 92 619 34 78Horário: De terça a sexta-feira das 9 às 18.30 horas. Sábado das 10 às 18.30 horas.

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O INR, I.P. e os Direitos das Pessoas com Deficiência

Por José Madeira Serôdio, Director do INR, I. P.

De acordo com os dados das Nações Unidas cerca de 10% da população mundial é composta por pessoas

com deficiência, sendo que, destas, 80% vive em países em desenvolvi-mento.As pessoas com deficiência encontram muitas dificuldades de inserção e de oportunidades pela igualdade nas suas sociedades, são por isso muitas vezes sujeitas ao estigma da discriminação. Encontram-se marginalizadas da socie-dade, são desproporcionalmente mais pobres, muitas vezes desempregadas, têm maiores taxas de mortalidade, são amplamente excluídas dos processos civis e políticos e, na maior parte das vezes, não são ouvidas nos assuntos que as afectam e da sua sociedade.No entanto, em Portugal, felizmente a experiência começa a mostrar-nos que quando as pessoas com deficiência es-tão habilitadas a participar, lideram muitas vezes o processo de desenvolvi-mento com benefícios para a sociedade em geral, criando uma oportunidade para todos, beneficiando toda a socie-dade.Portugal está na linha da frente na de-fesa dos Direitos das Pessoas com Defi-ciência, contra os preconceitos e discri-minações. O instituto Nacional para a reabilitação, i.P., (iNr, i.P.) foi absoluta-mente determinante para a tomada de consciência social da dignidade pessoal e da cidadania plena destes nossos con-cidadãos, bem como para o desenvolvi-mento da cultura da igualdade de opor-tunidades, em todos os sectores de vida em sociedade.

As Nações unidas definiram, como lema para as comemorações do Ano internacional da Pessoa com deficiência em 2011, “Todos Juntos Para um Mundo Melhor incluindo as Pessoas com deficiência em Países em Desenvolvimento”.

O instituto Nacional para a reabilitação, i.P., criado em 1977, é desde a sua géne-se o órgão coordenador da política na-cional de reabilitação, sempre pautando a sua actuação de acordo com os princí-pios dos direitos Humanos, da Não dis-criminação e da igualdade de Oportuni-dades, através de programas, projectos e actividades inovadoras, com impacto directo na qualidade de vida dos cida-dãos com deficiência e da sua inclusão social, pelo que conquistou a confiança de todas as parcerias comprometidas na construção de uma sociedade para todos.Não cabe neste artigo, infelizmente, re-ferenciar, nem que de um modo sucinto, todo o universo qualificado de produtos e serviços do iNr, i.P., pelo que se suge-re uma visita, entre outras fontes docu-mentais de referência, ao nosso portal na internet – www.inr.pt Este património que prestigia a história da reabilitação e a cultura dos direitos humanos, em Portugal, responsabiliza fortemente o presente e o futuro do iNr, i.P., face às novas exclusões e aos novos preconceitos, decorrentes da alteração das atitudes sociais e dos valores da so-ciedade do consumo.Neste sentido, o iNr, i.P., assume ple-namente os seus compromissos na sal-vaguarda dos direitos das Pessoas com Deficiência, definidos na sua Missão e Objectivos, em conformidade com o Programa do XiX Governo constitucio-nal e com os Princípios da convenção da ONU sobre os direitos das Pessoas com Deficiência e do seu Protocolo Opcional, ratificados por Portugal em 2009.No quadro destes compromissos, a in-

tervenção do iNr, i.P., prioriza áreas cruciais para a defesa dos direitos das Pessoas com Deficiência –a informa-ção /sensibilização, a qualificação da legislação, a formação dos técnicos e gestores da reabilitação, a investigação/acção, o apoio a projectos inovadores e inclusivos para a capacitação, a qualida-de do movimento associativo e a coope-ração europeia e internacional.Estas urgentes tarefas pressupõem, en-tre outros não menos importantes facto-res, mais e melhor co-responsabilidade de todas as políticas sectoriais, através do exercício activo da audição, consul-ta, informação e participação das ONGs

e dos parceiros sociais, em conjugação com a cooperação activa de todos os parceiros sociais.contudo, para a prossecução das metas de uma Sociedade inclusiva e Solidá-ria, é absolutamente determinante a mudança de atitudes sociais, que ain-da excluem e marginalizam as Pessoas com deficiência, bem como a inovação das respostas da educação e formação orientadas para a verdadeira capacita-ção e participação das Pessoas com de-ficiência, como protagonistas de corpo inteiro dos seus projectos de vida e acto-res imprescindíveis no desenvolvimento da qualidade social de Portugal.Existem exemplos avassaladores de boas práticas de participação e de inclu-são plena, que exigem maior visibilida-de mediática, como temos feito através do magazine televisivo cONSiGO, na rTP2, de modo a servirem de estímulo às novas gerações e de convite para no-vos olhares sobre as capacidades dos cidadãos com deficiência.Quanto mais inclusiva, mais a nossa sociedade é coesa e saberá ultrapassar com sucesso as actuais dificuldades, rumo ao desenvolvimento.

No quadro destes compromissos, a intervenção do INR, I.P., prioriza áreas cruciais para a defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência –a informação /sensibilização, a qualificação da legislação, a formação dos técnicos e gestores da reabilitação, a investigação/acção, o apoio a projectos inovadores e inclusivos para a capacitação, a qualidade do movimento associativo e a cooperação europeia e internacional

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O Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., criado em 1977, é desde a sua génese o órgão coordenador da política nacional de reabilitação, sempre pautando a sua actuação de acordo com os princípios dos Direitos Humanos, da Não Discriminação e da Igualdade de Oportunidades, através de programas, projectos e actividades inovadoras, com impacto directo na qualidade de vida dos cidadãos com deficiência e da sua inclusão social, pelo que conquistou a confiança de todas as parcerias comprometidas na construção de uma socieda-de para todos

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30 Novembro 2011 Pontos de Vista

DIA INTERNACIONALDAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

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Mesmo numa conjuntura económico-financeira desfavorável, o nosso país continua a ver brotarem

empreendedores atrás de empreen-dedores, como que fazendo finca-pé às condicionantes que vão envolven-do a maioria das áreas de actividade. Maria da Graça Gomes é mais um caso de iniciativa empresarial que, ao vis-lumbrar um nicho de mercado numa área tão sensível como a da Saúde, não hesitou em apostar num conceito ino-vador no que à gestão de medicamen-tosos diz respeito: caixas, com alarme, distribuidoras de comprimidos, uma optimização tecnológica importante para a promoção da saúde do paciente. A empresária explica como tudo nasceu: “Tinha uma amiga cujo pai – uma pes-soa com alguma idade – estava doente com Alzheimer e já não conseguia tomar conta da medicação que estava a tomar; por vezes havia falta de controlo das tomas das dosagens e, como sabemos, tomar o comprimido na hora certa é tão importante como tomar o próprio com-primido. A minha amiga confidenciou-

-me a sua preocupação com a situação e comecei a questionar se, eventualmente, haveria alguma solução para o proble-ma; aquando de uma visita a inglaterra deparei-me que naquele mercado havia caixas de medicamentos que através de um alarme avisavam da toma do medi-camento, comprei um desses artigos e trouxe para a minha amiga experimen-tar. Foi um sucesso! Toda esta situação coincidiu com a minha intenção de esta-belecer um negócio e, após esta experi-ência, não tive dúvidas que seria neste segmento de mercado que iria apostar”.

PrODUTOS, PrOTOCOLOSE NOVIDADES

A Simplemed começou a laborar muito recentemente, sendo que nesta fase ini-cial os gadgets podem ser consultados através do catálogo virtual em www.simplemed.pt e adquiridos após contac-to via website da empresa. “Para quem sofre de Alzheimer, Parkinson, diabetes, ou tem mais de 65 anos e tem de tomar inúmeros medicamentos várias vezes ao dia, estes gadgets são essenciais.

Proporcionar soluções e ajudas tecnológicas para promover a saúde dos pacientes está na génese da constituição da Simplemed, empresa distri-buidora de artigos auxiliares na gestão dos medicamentos, com sede em Cascais. Maria da Graça Gomes é a directora executiva da simplemed e, em entrevista à Pontos de Vista, explica as vantagens destes gadgets que vêm revolucionar o mercado português.

O “melhor amigo” na gestão de medicamentos

Simplemed, especialistas em caixas distribuidoras de comprimidos

Para os familiares que prestam cuida-dos a estes doentes, estes artigos são enorme fonte de ajuda na gestão dos medicamentos, acredite que é um peso enorme que sai dos ombros”, ressalva a entrevistada. Mas afinal como funcionam estes re-cipientes com alarme? Maria da Graça Gomes explica sucintamente: “comer-cializamos caixas de comprimidos programáveis com alarme, bem como caixas doseadoras de comprimidos, com um sistema electrónico de moni-torização. Estes produtos funcionam de maneira muito simples, as caixas são programa-das para determinada hora e o alarme soa, não dando azo a esquecimento; se a caixa continuar por abrir mesmo de-pois do alarme tocar, existe uma luz que só pára de acender depois da caixa ser aberta.Existem também as caixas doseadoras que automaticamente abrem o compar-timento à hora à qual foram programa-das, compartimento esse que tem os comprimidos a serem tomados naquele momento. Fácil de programar, fácil de manusear”.

No mesmo dia que conversámos com a cEO da Simplemed, foi-nos adianta-do, em primeira mão, a chegada de um novo gadget: trata-se de um relógio com sistema GPS incorporado que funciona como um telemóvel, permitindo fazer chamadas e enviar SMS para três nú-meros configurados. Quer isto dizer que “é muitíssimo útil no caso de quedas ou dificuldades de deslocação a telefone, bastando carregar no botão para enviar o SOS. Por sua vez, quem receber a SMS saberá qual a localização do pedido de auxílio devido ao sistema GPS”, destaca a interlocutora. No que concerne à estratégia de comu-nicação, Simplemed já começou a en-vidar esforços para divulgação destes produtos junto dos principais públicos--alvo. “Estabelecemos protocolos com a Alzheimer Portugal e com o portal Ajudas.com, e estamos, também, numa fase adiantada de negociações com a As-sociação Portuguesa de Parkinson e As-sociação Portuguesa de diabetes.Nunca é de mais colaborarmos com quem ne-cessita e penso que os nossos serviços serão uma mais-valia junto destas insti-tuições”, sublinha.

Maria da Graça Gomes

PV12 diA iNTeRNACiONAL dAs PessOAs COM deFiCiÊNCiA

Pontos de Vista Novembro 2011 31

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Por Miguel Sousa Neves - Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Gestão de Saúde

SAÚDE DE EXCELÊNCIA

Reflexões sobre as alterações nas requisições de meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT)

como fundamentação para tal mudança, o Secretário de Estado da Saúde refere em termos gerais que é necessário asse-gurar uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis acrescentando que vai garantir cuidados de saúde com ele-vada qualidade. invoca o que está des-crito na Lei de bases da Saúde e na regu-lamentação do regime de celebração das convenções para lembrar que o recurso às entidades convencionadas não pode pôr em causa o bom aproveitamento da capacidade instalada no sector público.

O despacho impede os estabelecimentos hospitalares de utilizar as requisições de prescrição de Meios complementares de diagnóstico e Terapêutica (McdT) para as entidades com convenção com as Administrações regionais de Saúde e obriga os hospitais do sector público a efectuar todos os McdT necessários no sector público evitando recorrer a serviços externos que, até há pouco, eram um excelente e rápido suporte de apoio para uma avaliação atempada das possíveis patologias e tratamentos dos

pacientes.

O objectivo desta medida pretende, como é óbvio, maximizar a capacida-de instalada nas unidades hospitalares evitando gastos desnecessários fora do sistema público.

como medida de controlo das determi-nações do despacho existe apenas um parágrafo – número 6 – que determina que “os hospitais que integrem o Servi-ço Nacional de Saúde devem publicitar e manter actualizados, com uma periodi-cidade trimestral, nos respectivos sítios da internet, a informação relativa aos McdT realizados e respectivos tempos de espera.”

Numa primeira análise verifica-se que há uma vontade do actual governo de se cortar nos desperdícios do sector públi-co obrigando estas unidades a maximi-zar o trabalho dos seus profissionais e a utilização de equipamento que mui-tas vezes não funciona de forma eficaz e eficiente. É um aspecto louvável que

acompanha outras medidas de gestão pura e dura tomadas nos últimos meses pelo Ministério da Saúde e que visam melhorar a capacidade instalada do Ser-viço Nacional de Saúde.

No entanto várias questões devem ser colocadas tendo em conta a determina-ção do Secretário de Estado de Saúde de que vai garantir cuidados de saúde ele-vada qualidade. Esta premissa, escrita no despacho assinado pelo governante, responsabiliza directamente o Secretá-rio de Estado de Saúde no caso de des-vios negativos no funcionamento das medidas anunciadas.

Não conheço quais os estudos em que se baseou o governo para promover esta medida porque aqui trata-se de GErir A SAÚdE dE PESSOAS e não de bens e serviços. No campo da saúde e quando certas medidas podem ter um impacto extremamente negativo no bem-estar da população, é essencial que as medi-das sejam muito bem estudadas e ava-liados os possíveis custos de saúde para

Não conheço quais os estudos em que se baseou o governo para promover esta medida porque aqui trata-se de GERIR A SAÚDE DE PESSOAS e não de bens e serviços. No campo da saúde e quando certas medidas podem ter um impacto extremamente ne-gativo no bem-estar da população, é essencial que as medidas sejam muito bem estudadas e avaliados os possíveis custos de saúde para os portugueses“ “

os portugueses.

O facto de se obrigar os hospitais a publicarem regularmente informação relativa aos tempos de espera para rea-lização de McdT é um aspecto positivo do despacho pois que vai permitir ao Ministério da Saúde avaliar, embora de uma forma retrospectiva, o desempenho das várias unidades hospitalares neste aspecto específico.

imaginemos agora que está em causa um paciente do foro oncológico, alguém que padece de um tumor maligno e cuja realização atempada dos McdT pode determinar se vai conseguir curar a sua doença. O paciente recorre aos serviços públicos e há atrasos nesses exames que podem ter influência directa no resul-tado final. O paciente pode vir a falecer por culpa de um despacho que em mui-tas situações pode não funcionar de for-ma atempada. isto seria algo claramente inaceitável e obrigaria o Secretário de Estado, perante o que está escrito e assi-

O despacho nº 10430/2011 de Agosto passado vem alterar radicalmente as requisições de exames comple-mentares por parte dos Serviços Públicos de Saúde às entidades convencionadas com as Administrações re-gionais de Saúde.

32 Novembro 2011 Pontos de Vista

Page 33: Revista Pontos de Vista Edição 12

PV12 sAúde de eXCeLÊNCiA

Como medida de controlo das determinações do despacho existe apenas um parágrafo – número 6 – que determina que “os hospitais que integrem o Serviço Nacional de Saúde devem publicitar e manter actualizados, com uma periodicidade trimestral, nos respectivos sítios da Internet, a informação relativa aos MCDT realizados e respectivos tempos de espera“ “

nado no respectivo despacho, a assumir uma responsabilidade possivelmente criminal para além da questão moral, ética e política. Este é um exemplo de um caso extremo que esperemos nunca venha a acontecer mas é importante que isto tenha sido muito bem reflectido na fase prévia à emissão do despacho.

Agora imaginemos que há atrasos mais generalizados na realização dos McdT por variadas razões nomeadamente na necessária articulação paciente – médi-co de família – unidade hospitalar onde os McdT serão efectuados. isto iria ne-cessariamente originar desequilíbrios sociais e alterar, para pior, os bons indi-cadores do nosso Sistema Nacional de Saúde.

Preocupa-me que a única medida do despacho que possa controlar poten-ciais ineficiências passe unicamente pela publicitação, via internet, dos pos-síveis atrasos na realização dos McdT.

O meu maior receio é que comecem a haver atrasos significativos na reali-zação de McdT em muitos locais com

implicações gravosas para a saúde de muitos portugueses e que uma possível correcção desses mesmos problemas leve o tempo habitualmente longo de resolução.

É que ainda há muitos gestores na área da saúde que não compreendem que a saúde tem uma gestão própria que mistura, em doses razoáveis, critérios simplistas de gestão com uma avaliação eticamente aceitável do nosso bem mais precioso.

Agora imaginemos que há atrasos mais generalizados na realização dos MCDT por va-riadas razões nomeadamente na necessária articulação paciente – médico de família – unidade hospitalar onde os MCDT serão efectuados. Isto iria necessariamente originar desequilíbrios so-ciais e alterar, para pior, os bons indicadores do nosso Sistema Nacional de Saúde“ “

O meu maior receio é que comecem a haver atrasos significativos na realização de MCDT em muitos locais com implicações gravosas para a saúde de muitos portugueses e que uma possível correcção desses mesmos problemas leve o tempo habitualmente longo de resolução

“ “

Pontos de Vista Novembro 2011 33

Page 34: Revista Pontos de Vista Edição 12

34 Novembro 2011 Pontos de Vista

Em Portugal, o fenómeno dos acidentes rodoviários tem sido particularmente grave. Nos últimos 20 anos mor-

reram cerca de 40.000 pessoas nas nossas estradas (a dimensão de uma cidade média em Portugal), ficaram ainda seriamente feridas cerca de 200.000 pessoas e mais de 1 milhão foram feridos ligeiros. É tradição nacional viver a época de Natal de uma forma muito especial, via-jando mais ao encontro da família e dos amigos, e consequentemente, aumen-tando os volumes de tráfego nas nossas

vias de comunicação.Estando a sinistralidade rodoviária as-sociada a violações sistemáticas dos limites de velocidade e pela prática de velocidades inadequadas às circunstân-cias climatéricas e de circulação, bem como pelo desrespeito das normas que regem a cedência de passagem, é impor-tante que todos nós, condutores, passa-geiros e peões, estejamos sensibilizados para o cumprimento rigoroso destas re-gras e para uma maior responsabilidade na condução.Nesta altura em que as famílias se deslo-cam para celebrarem juntas esta quadra

segundo a Organização Mundial de saúde, todos os anos morrem no mundo 1.200.000 pessoas devido aos acidentes rodoviários, ou seja, morrem cerca de 3.500 pessoas todos os dias; e mais de 50.000.000 ficam feridas, deixando as suas famílias e comunidades completamente destroçadas. enfrentamos um gravíssimo problema de saúde pública, que foi a nona causa de morte em todo o mundo em 2004 e poderá vir a constituir a quinta em 2030.

Segurança Rodoviária– Uma Responsabilidade de Todos

Por Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária

festiva, a preparação da viagem é um factor a ter em consideração. A escolha do itinerário, a verificação das condi-ções mecânicas do veículo, o seu correc-to carregamento e o necessário repouso

do condutor, à partida, são os primeiros cuidados a ter.durante a viagem há que manter as con-dições de segurança: garantir a correcta utilização dos sistemas de retenção (cin-tos de segurança à frente e atrás e cadei-rinhas para as crianças), fazer refeições ligeiras sem consumo de álcool e parar sempre sentir sonolência ou fadiga. É ainda importante ter em consideração que nesta altura, infelizmente, o número de atropelamentos é muito elevado. Os condutores deverão ter este factor em consideração, e os peões deverão atra-vessar apenas em locais com visibilida-de e estar atentos para poderem ver e ser vistos. Se uma exposição mais elevada ao “ris-co de acidentes rodoviários” caracteriza esta época, também o espírito da qua-dra pode potenciar uma maior abertu-ra para reflectirmos sobre um melhor comportamento na estrada. É que se os custos sociais e económicos provocados pelos acidentes rodoviários são astronó-micos, os afectivos são inquantificáveis.É pois necessário que cada um dê o seu contributo, pois a Segurança rodoviária é responsabilidade de Todos.

Estando a sinistra-lidade rodoviária associada a violações sistemáticas dos limites de velocidade e pela prática de velocidades ina-dequadas às circunstâncias climatéricas e de circulação, bem como pelo desrespei-to das normas que regem a cedência de passagem, é im-portante que todos nós, con-dutores, passageiros e peões, estejamos sensibilizados para o cumprimento rigoro-so destas regras e para uma maior responsabilidade na condução

SEGURANÇA RODOVIÁRIA

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Visão inovadora de uma marca LíderHiPerDIST Angola S.A. em destaque

Quando é que foi criada a HiPerDIST Angola e de que forma é a mesma tem vindo a promover serviços e produtos de qualidade que lhe permite assumir uma posição de destaque no mercado em que actua? A HiPerdiST Angola S.A. é uma empresa cem por cento de direito Angolano criada em 2005, para atender às necessidades crescentes do sector de infraestrutura de Tecnologias da informação e Telecomuni-cações, específicas do mercado Angolano. HiPerdiST Angola S.A. tem uma visão ino-vadora no mercado Angolano, actuando em parceria de longo prazo com os seus clientes, provendo Soluções de Ti aderen-tes às necessidades do Negócio, não se pre-ocupando somente com as questões tecno-lógicas envolvidas, mas principalmente no foco da melhoria contínua dos Processos críticos de Negócio dos clientes, utilizan-do-se de mão-de-obra angolana.

HiperDIST Angola assume-se como um centro de Exames autorizado Pe-arson VUE. Explique-me este conceito e de que forma o mesmo é uma mais--valia para a orgânica da marca?Pearson VUE é uma empresa de testes eletrônicos de propriedade britânica fundada em 1994 por clarke Porter como Virtual University Enterprises, a empresa agora opera em 165 países com mais de 5.000 centros de testes autorizados. Pearson VUE oferece ser-viços de teste através de um número de indústrias, desde acadêmicos a empre-go para o governo, por exemplo, o reino Unido exames de condução teoria para a Agência de Padrões de condução e a agência de testes oficiais para o GMAT , Certificações Cisco, NCLEX , Oracle Cor-poration , compTiA e outras. A empresa oferece um grande número de testes em todo o mundo por ano para clientes em licenciamento, certificação, admissões acadêmicas, regulatórias e mercados governamentais serviço de tes-te. centros de Pearson Professional utili-zam um projeto criado especificamente para high-stakes testes com um ambiente de teste controlado e consistente. Person VUE é parte do Pearson inc., uma empre-sa de £ 5,000,000,000 de facturamento anual, se caracterizando como a maior empresa de testes no mundo corporativo

“A HiPerDIST Angola S.A. tem uma visão inovadora no mercado Angolano, actuando em parceria de longo prazo com os seus Clientes, provendo Soluções de TI aderentes às necessidades do Negócio, não se preocu-pando somente com as questões tecnológicas envolvidas, mas principalmente no foco da melhoria contí-nua dos Processos Críticos de Negócio dos Clientes, utilizando-se de mão-de-obra angolana”, afirma Olinda dias, Administradora/directora Geral da HiPerdisT Angola s.A., em entrevista à Revista Pontos de Vista, onde ficamos a conhecer as principais mais-valias de uma marca que tem tido um crescimento exponencial e é hoje uma marca líder de mercado.

LEr NA íNTEGrAwww.PONTOSdEViSTA.cOM.PT

e académico. As principais instalações do Pearson VUE estão localizadas no reino Unido, nos Estados Unidos e na índia, com operações por satélite na china e no japão. com relação a mais-valia desta parceria para a HiPerdiST Angola, está no enten-dimento do direccionamento da mão-de--obra angolana no foco de suas certifica-ções Académicas e corporativas, originada pelas demandas do mercado local. Este in-sumo, se caracteriza como uma das fontes de posicionamento de mercado, para o Pla-neamento Estratégico da empresa, e res-pectiva avaliação e direccionamento anual.

Que análise perpetua do sector em que actuam? Quais as principais lacu-nas que identifica? Considerando-se “lacunas” como as “di-ficuldades” que a HiPerDIST Angola está enfrentando, ressaltamos o “Gray Market” vulgarmente caracterizado como a actua-ção de fornecedores com poucas capacida-des no fornecimento e na implementação de Soluções de infraestrutrua da Tecnolo-gia da informação, que continuam atuando mediante “oportunidades de negócio pon-tuais” e não como Provedores de Soluções efetivas e definitivamente treinados, certi-

ficados e com efectivo compromisso com a “entrega” e com a qualidade”, para o mer-cado corporativo de Angola. Como “Gray maket” entende-se tambem empresas/fornecedores que se utilizam de canais não oficiais para o mercado Angola, com rela-ção a aquisição de materiais e equipamen-tos sem a devida viabilidade de garantia.

Que são as principais linhas de futuro da HiPerDIST Angola? O compromisso principal da HiPerdiST Angola é capacitar, capacitar e capacitar mão-de-obra Angolana. O nosso Planea-mento Estratégico está definido como:

Ano de 2012 • 10% do mercado angolano - Data Cen-ter, cabeamento e infra-estrutura UPS• Expansão de actuação em Soyo e Porto Amboim Porto• Curva de aprendizado e criação de novas habilidades relacionadas ao de-sempenho operacional do serviço de helpdesk HiPerdiST dentro dos limites de Luanda, Soyo e Porto Amboim.• Introdução à habilidade de ação nos ser-viços de manutenção elétrica HiPerdiST do usuário final e infra-estrutura UPS;

Ano de 2013 • 15% do mercado angolano - Data Cen-ter, cabeamento e infra-estrutura UPS;• Reconhecimento pela qualidade de serviço de Helpdesk;• O reconhecimento da qualidade do serviço de cabeamento estruturado e infraestrutura de Prédios inteligentes.

Ano 2014• 20% do mercado angolano - Data Cen-ter, cabeamento e infra-estrutura UPS• Reconhecimento do mercado corpora-tivo angolano como o melhor parceiro para manutenção da infraestrutura de data center, cabeamento estruturado, infra-estrutura elétrica para o usuário final , e infra-estrutura UPS.

Ano 2015• 30% do mercado angolano – infra-estrutura de data center, cabeamento Estruturado, Prédios inteligentes e UPS.

Ano 2016• 50% do mercado angolano – infraestru-tura de data center, cabeamento Estru-turado, Prédios inteligentes e UPS.

Olinda Dias

COOPERAÇÃO/INTERNACIONALIZAÇÃO

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36 Novembro 2011 Pontos de Vista

Quando é que foi edificada a Dataserv e de que forma é que tem vindo a ser realizada a implementação da marca no mercado em que actua? A dataserv foi criada em 1992 em Mo-çambique sendo a segunda empresa in-formática nessa data, em Maio de 2010 foi adquirida pelo Grupo Entreposto. A opção por representar marcas de re-nome e qualidade internacionalmente reconhecidas, tais como HP, cisco, Mi-crosoft, Benq, D-link, Symantec, entre outras, aliado a uma forte componente de serviços, permitiu ao longo destes anos que a dataserv fosse reconhecida pelo “Parceiro Ideal”.

Sendo uma marca líder em soluções, serviços e produtos na área de infor-mática com uma logística e operações altamente desenvolvidas de que for-ma é que apostam na satisfação dos vossos clientes? A satisfação dos nossos clientes é para nós um ponto de honra, para tal temos vindo a apostar na formação dos nossos colaboradores quer a nível técnico como comportamental, por outro lado a garan-tia da entrega atempada dos produtos e serviços permite obter o reconhecimento

dos nossos clientes. Os prémios obtidos durante estes anos da revista Sul-Africa-na PMr, são prova dessa satisfação.

É legítimo afirmar que a aposta nos vossos produtos e serviços aporta um incremento significativo da competi-tividade das organizações dos vossos clientes? Em que medida?Num mercado em que as dificuldades com que os nossos clientes se deparam são enormes a dataserv ao fornecer os seus serviços, produtos e soluções ten-ta facilitar todo o processo de negócio garantindo o bom funcionamento dos sistemas de informação.

Estão presentes no mercado moçam-bicano há cerca de 19 anos, mais con-cretamente desde 1992. Neste sentido, que análise perpetua do mercado em que actuam em Moçambique? Quais as principais lacunas que detecta? Abrangem o território moçambicano na sua globalidade? No início da nossa actividade o merca-do era essencialmente Maputo hoje ele estende-se a todo o território nacional havendo a necessidade de garantir a cobertura especialmente nas zonas de maior desenvolvimento, neste sentido no próximo ano iremos abrir uma de-legação em Tete e Nampula e renovar a nossa delegação da beira. deste modo daremos cobertura às zonas Sul, centro e Norte do país permitindo dar maior e melhor resposta aos nossos clientes.

Quais são os principais serviços e produtos «made in» Dataserv? Quais as principais características dos mes-mos? Existe algum produto que se des-taque dos demais? Se sim qual?desde a instalação de redes, datacenters, comunicações servidores à simples con-figuração de pc´s e impressoras. Em par-

impondo um ritmo de crescimento bastante positivo, a dataserv surgiu na década de 90, sendo, nesse período, a segunda empresa de informática existente em Moçambique, facto que lhe confere maior relevância e prestígio. A Revista Pontos de Vista visitou a dataserv, onde ficamos a conhecer os principais pilares da marca e que permitiram um desenvolvimento sustentado da mesma.

Mais perto, mais rápido... com Dataserv

Dataserv – Marca de Prestígio

ceria com a serviSiS mais uma empresa do Grupo Entreposto, fechamos o nosso leque de oferta com soluções aplicacio-nais ou desenvolvimentos à medida ga-rantindo assim uma oferta total na área das Ti’s aos nossos clientes. Os nossos recursos humanos são 100 por cento Mo-çambicanos que se regem na sua relação com o cliente por padrões internacionais.

A crise económica tem sido comum em praticamente todos os países a nível mundial. Neste domínio, Moçambique tem sabido contornar essas dificulda-des sendo actualmente uma economia em franco desenvolvimento. De que forma é que a crise económica tem fomentado maiores dificuldades no vosso volume de negócios?como qualquer outra economia depen-dente de ajudas externas, as crises in-ternacionais sempre afectam de certa maneira os negócios. contudo em Mo-

çambique devido ao facto da situação política social ser referencia ao nível regional e pelo facto de possuirmos ri-quezas naturais, os investimentos têm crescido neste últimos anos fortemente permitindo atenuar o efeito da crise in-ternacional. A nós cabe estar a altura de garantir as necessidades em termos de produtos, serviços e soluções nas áreas que representamos. Acreditamos que os volumes de negócios venham a crescer nos próximos tempos

A investigação e desenvolvimento na vossa área são fundamentais, pois este é um sector em constante muta-ção. Assim, possuem algum departa-mento de Investigação e Desenvolvi-mento (I&D) ou existe alguma ligação com as denominadas universidades neste domínio? O grupo Entreposto fez desde sempre uma aposta muito forte na formação em Moçambique com o objectivo de me-lhorar o nível académico dos Moçambi-canos. Hoje é accionista duma das uni-versidades de prestígio no nosso país (iSUTc).

Do ponto de vista da internacionaliza-ção, em que outros mercados pretende apostar a Dataserv? Quais as razões que levam a marca a apostar em no-vos mercados?de momento a dataserv não tem preten-sões de se expandir internacionalmente, não pondo de parte essa possibilidade, uma vez que fazemos parte de um grupo que esta presente em três continentes.

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Num mercado em que as dificuldades com que os nossos clientes se depa-ram são enormes a Dataserv ao fornecer os seus serviços, produtos e soluções tenta fa-cilitar todo o processo de ne-gócio garantindo o bom fun-cionamento dos sistemas de informação

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A satisfação dos nos-sos clientes é para nós um ponto de honra, para tal te-mos vindo a apostar na for-mação dos nossos colabo-radores quer a nível técnico como comportamental, por outro lado a garantia da en-trega atempada dos produ-tos e serviços permite obter o reconhecimento dos nossos clientes. Os prémios obtidos durante estes anos da revista Sul-Africana PMR, são prova dessa satisfação

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Tendo como principal deside-rato promover a aproximação entre os investidores portu-gueses e angolanos e esta-

belecer-se como uma «ponte» entre ambos os países, o BancoBIC Portugal direcciona a sua orgânica no sentido de apoiar as empresas lusas na sua estratégia de internacionalização para aquele país africano, perpetuando-o também no sentido inverso, ou seja, em relação aos investidores angolanos que operam ou pretendam realizá-lo em Portugal ou noutro país europeu. Numa fase importante para o bic portu-guês, a possível aquisição do bPN – ban-co Português de Negócios por parte da entidade bancária liderada por Luís Mira Amaral, Chief Executive Officer (CEO) do banco bic, tem estado na ordem do dia, sendo que estas têm sido jornadas que têm conhecido diversos avanços e recuos. A revista Pontos de Vista conversou com Luís Mira Amaral sobre este tema e outros, sendo que, na opinião do nos-so entrevistado, caso a aquisição do bPN por parte do BIC não se concretize “não vemos qualquer drama nisso. A vida con-tinua, até porque este ano, 2011, o ban-co bic irá ter lucros superiores a cinco milhões de euros de resultados líquidos e para quem iniciou este projecto há so-mente três anos, mais concretamente em Maio de 2008, são resultados extrema-mente positivos e que revelam a lógica evolutiva que temos conhecido, pois no ano transacto tivemos resultados positi-vos de 2,4 milhões de euros. isto revela uma duplicação dos lucros e que estamos hoje posicionados como uma entidade sólida e que tem tido um crescimento imenso. caso não se conclua a aquisição do BPN posso garantir que não ficaremos angustiados pois tenho a certeza que irão surgir outras oportunidades”, assevera o cEO do banco bic. Consciente da situação “dramática” do nosso país, para Mira Amaral este facto não representa qualquer novidade, até porque o nosso entrevistado e seus pa-res, aquando da edificação do Banco BIC, afirmou em praça pública que só avan-çaria com este projecto num contexto de

constrangimentos económicos. Porquê? “Porque o Banco BIC encontra-se ligado a um grande banco angolano, o bANcO bic AO (os dois bancos têm a mesma estrutura accionista) e o nosso fito pas-sa por trabalhar o desenvolvimento das relações económicas entre Portugal e An-gola, que é um país que apresenta níveis de desenvolvimento impressionantes”, revela o nosso interlocutor, assegurando que o projecto do banco bic não teria ar-rancado caso este fosse um projecto liga-do a uma entidade bancária portuguesa. “Acredito piamente que existe um eleva-do potencial entre Portugal e Angola e foi neste estado de espírito que decidi, con-juntamente com os accionistas do banco bic, apostar fortemente neste projecto”, assume Mira Amaral, assegurando que a aposta arriscada se revelou acertada “porque temos tido resultados bastante positivos, tendo sido nessa base que os meus accionistas resolveram efectivar a proposta pela aquisição do bPN”.

Com cerca de três anos de actividade, o Banco BIC apostou, para alcan-çar o sucesso, numa forma de estar distinta, actuando através do conhe-cimento que possui das diversas economias e dos sistemas financeiros e económicos de Portugal e de Angola, este último uma economia emer-gente e em franca expansão e que deverá ser aproveitado ao máximo pelo universo empresarial luso.

“Exigimos apenas o que foi acordado pelo Governo”

Mira Amaral, CEO do Banco BIC, aborda o «caso» BPN

O BPN tem feito as capas dos jornais e a abertura dos progra-mas informativos televisivos nos últimos tempos, sendo que este processo encontra-se envolvido sob um manto de algum desalinho, cenário ao qual o Banco BIC é completamente alheio. Se no dia 31 de Julho deste ano foi acordado entre o Banco BIC e o Governo a aquisição do BPN, depois desse período muito se disse sobre este processo. Segundo Mira Amaral têm sido «cozinhados» “alguns disparates e mentiras sobre este processo”, afirma, assegurando que o BIC não está a exigir mais do que aquilo que foi acordado. “Pretendemos apenas que esse acordo seja vertido num texto jurídico que estava no powerpoint que acordamos com o Governo. Não queremos mais nem menos”, revela o nosso entrevistado, cri-ticando aqueles que tiveram a oportunidade de fazer uma proposta pelo BPN e não o fizeram. “Isto demonstra e bem a situação em que está o país, pois não apareceu ninguém que pudesse concorrer connosco de igual para igual. Além disso, revela que os accionistas do BIC, ao decidirem realizar a pro-posta pelo BPN e atendendo ao actual contexto económico do país, incorreram em riscos elevados, ao contrário de outros”, assume o nosso entrevistado. Para Mira Amaral os accionistas do Banco BIC estão perfei-tamente conscientes que ao adquirirem um banco como o BPN “não vão ter lucros de envergadura nos próximos tem-

pos. Naturalmente que existirá uma fase de integração do BPN na orgânica do Banco BIC e isso demora o seu tempo que, aliado ao actual cenário económico português, revela e bem a consciência dos meus accionistas, ou seja, os lucros do BPN não serão imediatos”. Mas foi negociado com o Estado o montante a ser injecta-do no BPN? Segundo Mira Amaral aquilo que foi negociado é que o banco BPN “teria de nos ser entregue com os rácios de solvabilidade exigidos pelo Banco de Portugal”, assegura, lembrando que os accionistas do Banco BIC não estão no BPN, logo não conhecem a situação do mesmo. “Assim, o Go-verno deverá colocar no BPN os recursos financeiros adicio-nais necessários para que o Banco BPN seja recapitalizado e seja entregue com os rácios de solvabilidade que acordamos com o Governo no dia 31 de Julho”, salienta Mira Amaral que assume algum desconforto perante o actual cenário, e recusa qualquer exigência além das acordadas. “A única coisa que fizemos foram actos de boa-fé e respeito perante os acordos firmados”, afirma, alertando para a morosidade em que pro-cesso «caiu», “pois a 31 de Julho fizemos um acordo com o Governo para a compra de um activo e estamos praticamen-te no final do ano e esse processo ainda não terminou, com todas as consequências que daí advêm pois com o tempo a passar o BPN vai degradando-se”, finaliza Mira Amaral.

O «caso» BPN

Isto demonstra e bem a situação em que está o país, pois não apareceu ninguém que pudesse concorrer connosco de igual para igual. Além disso, revela que os accionistas do BIC, ao decidirem realizar a proposta pelo BPN e atendendo ao actual contexto económico do país, incorreram em riscos elevados, ao contrário de outros

“ “Mira Amaral

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Falar da URFIC e não mencionar o nome de Urbano Figueiredo da Cruz é olvidar a “alma” da firma e o pioneirismo de um

visionário. Foi este empresário, pro-genitor dos actuais directores Nuno e Urbano Oliveira da Cruz que, num acto empreendedor raramente visto na época, internacionalizou a firma em 1964, apenas um ano após a cons-tituição da mesma. Não falava uma palavra de inglês, sueco ou alemão, mas isso não o impediu de avançar para os Estados Unidos da América,

Suécia e Alemanha, tendo lá constitu-ído empresas filiais. Meio século após a fundação da UrFic muito mudou neste mundo que gira a grande ritmo. Mas o cariz familiar e de unidade desta empresa de Tonde-la, não. Muito embora tenha crescido substancialmente ao longo de décadas e décadas – estando, inclusive, entre as três maiores exportadoras mundiais de artigos puxadores de portas – nota-se um ambiente amigo e acolhedor entre os quase 200 funcionários que laboram nas duas unidades fabris. Será este o

Empreendedorismo, dinamismo, proactividade! Sim, é isso que necessitamos numa conjuntura macroeconómica desfavorável e são estes três vec-tores que fazem da UrfIC-Indústria de ferragens, um exemplo a seguir no que ao tecido empresarial português diz respeito. Em entrevista à revista Pontos de Vista, Urbano Oliveira da Cruz fala de um legado a respeitar, das boas práticas empresariais e das portas abertas à internacionalização, como pontos dinamizadores do negócio.

“Construímos o nosso know-how”

URFIC, uma “marca” a inovar há quase 50 anos

segredo do sucesso? Não só, mas tam-bém! E por falar em sucesso, a Pontos de Vista não quis deixar de parte as decla-rações de Urbano Oliveira da cruz que, seguindo o legado do seu pai, continua a “inventar” novos mercados, a adaptar a política da empresa às novas tendências de mercado e, acima de tudo, a manter a marca UrFic num patamar elevado, como comprovam os recentes estudos que a colocam muito próxima das mil melhores empresas nacionais.Prestes a alcançar as bodas de ouro, os pontos altos e baixos do percurso da

empresa foram vários, tendo a UrFic conseguido adaptar-se, sempre, às con-tínuas exigências. Num balanço destes 48 anos de actividade, o entrevistado refere que “estar quase a cumprir 50 anos de trabalho é uma situação bas-tante positiva. Mas também tenho que ressalvar as dificuldades inerentes a toda a nossa campanha; o mundo tem sofrido constantes transformações e para nos adaptarmos, tivemos, também, que mudar e fazer as projecções dessas mesmas mudanças. Em Portugal, há 30 ou 40 anos atrás faltava conhecimento,

Urbano Oliveira da Cruz

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estávamos numa esfera um pouco fe-chada; hoje verifica-se o inverso e nós, UrFic, soubemos acompanhar a moder-nidade e abrimos as portas ao conhe-cimento, quer técnico quer comercial. Hoje as demandas são outras e passam muito pela luta contra a competitivida-de e contra a oferta que as firmas con-correntes patenteiam, já que devido a várias circunstâncias macroeconómicas a procura diminuiu e a oferta continua alta. Posto isto, ressalvo que tudo é con-quistado com muito trabalho e só uma forte visão estratégica permite que a UrFic continue a laborar a toda a ve-locidade”, sublinha Urbano Oliveira da cruz. Visão estratégica que para o admi-nistrador, passa “por sermos nós, mui-tas das vezes, a criarmos o know-how e não esperarmos que os conhecimentos venham ter connosco. Num percurso de quase meio século ganhamos os nossos próprios segredos, o que nos confere muitas vantagens nos mercados em que

estamos inseridos. construímos o nosso know-how e continuamos a dar segui-mento às boas práticas constituídas”.

MiRA AMARAL eLOGiALAbOR dA eMPResA

decorria o ano de 1994 quando Mira Amaral, na época ministro da indústria e Energia do Governo de Aníbal cava-co Silva, descerrou a placa aquando da inauguração do espaço showroom na sede da UrFic. Na cerimónia proferiu palavras muito elogiosas para com a firma, ressalvado toda a importância que as boas-praticas constituíam para a região e para o país. Volvidos 17 anos, as boas-práticas continuam, alicerçadas em mais dois importantes vectores: a permanente evolução tecnológica, uma realidade nunca descurada e o i&d (in-vestigação e desenvolvimento) que é feito em parceria com a Universidade de Aveiro, no qual são desenvolvidas novas soluções para os produtos UrFic e que, segundo o Urbano Oliveira da Cruz, “se têm revelado muito interessantes. O projecto com a Universidade de Aveiro está a decorrer de forma positiva e pen-so que em breve tiraremos a rentabili-dade máxima dessa parceria”.E, voltando ao que diz respeito aos es-paços expositores dos “quase infinitos” artigos fabricados pela empresa de Ton-dela, é importante referir-se que para além do showroom situado na sede foi, em 2008, inaugurado um outro, com 5.100 metros quadrados, em plena ci-dade do Porto, demonstrando a vontade de estar bem perto dos parceiros e con-sumidores, tornando-se no mais recente cartão-de-visita da UrFic. A plenitude e as mais-valias exibidas pela empresa no sentido de obter va-lorização junto dos mercados que se apresentam, cada vez mais, fortes e exigentes têm resposta na proactivida-de e na busca de soluções integradas, à medida do cliente, qualidades que são imperativas numa empresa que se quer competitiva no sector. “Historicamente esta empresa não limita a sua actuação apenas no mercado nacional que, infe-lizmente, é de reduzida dimensão e não nos oferecia a possibilidade de renovar-mos e de apresentarmos, regularmente, novas gamas de produtos. Assim sendo, os mercados além-fronteiras permitem--nos aplicar as nossas competências da melhor forma, possibilitando a inclusão de novas ofertas, não descurando, como é óbvio, os segmentos emergentes no nosso país, como a decoração de interio-res e o denominado «faça você mesmo», que está muito em voga. Posso inclusive

afirmar que, grande parte das vezes a UrFic não procura os nichos de merca-do, cria-os, e isso permite-nos ser uma referência no sector já que muitas vezes somos nós a emergir com novas ten-dências, quer em termos de design quer no que concerne aos materiais utiliza-dos. do meu ponto de vista, considero existirem dois trunfos e é com eles que tentamos jogar: preço e diferenciação. Se conseguirmos aliar este dois itens, conquistamos o consumidor”, observa o interlocutor.

POLíTICA DA QUALIDADEE rESPONSABILIDADES

AMbieNTAL e sOCiAL

Nos dias que correm, para uma empre-sa que labore no sector metalúrgico, como é o caso da que aqui reportamos, as questões tão actuais como a qualida-de e responsabilidade ambiental fazem parte do quotidiano. E não podem ser, de forma alguma, descuradas. A UrFic estuda ao milímetro a segurança e qua-lidade dos seus produtos, sendo que no processo de fabrico a preocupação com o meio envolvente é condição sine qua non. O nosso entrevistado adianta que “só com essas preocupações é que conseguimos conquistar a nossa posi-ção nos mercados e marcar a diferença, caso contrário não teríamos hipóteses. destaco, igualmente, que ao adoptar-mos uma política restrita no que res-peita ao ambiente estamos também a enfatizar uma postura de responsabi-lidade social perante os cidadãos. Não menos importante, sentimo-nos no de-

ver de propiciar as melhores condições de trabalho aos nossos colaboradores que, de forma indirecta, se reflecte nas suas famílias. Sintetizando, gostaria de vincar que uma empresa industrial a la-borar na Europa tem, obrigatoriamen-te, nos dias que correm, de oferecer um produto social, já que oferece postos de emprego e tem preocupações com o planeta entre muitas outras questões de cariz social”. inserida num mercado global, compe-titivo e concorrencial, e no sentido de cumprirem as exigências dos mesmos é necessário um profundo conhecimento das demandas e tendências. Nesse âm-bito, a UrFic está atenta às realidades e especificidades dos mercados, tendo em conta uma resposta pronta e eficaz, adaptando os produtos aos novos con-ceitos estéticos. “Quando a procura apa-rece, tentamos surpreender de forma positiva, inovando, criando e sendo os primeiros a apresentar soluções”, expli-ca Urbano Oliveira da cruz. Nesta relação procura versus oferta, a URFIC responde afirmativamente às demandas. E numa área de negócio em constante mutação, já estão em curso novas gamas de produtos com a chance-la da firma tondelense: “o Cities Of The world é um de vários projectos que mui-to em breve estarão patentes ao público; já foram realizados testes de mercado, que se revelaram muito positivos, e já estamos a envidar esforços para a sua inclusão no mercado, sendo que preve-mos que ficará completo na plenitude da sua gama num espaço de cinco anos”, conclui o entrevistado.

Visita de Mira Amaral, em 1994Mira Amaral, então ministro da Indústria e Energia, não teve dúvidas em admitir que a URFIC “é líder mundial” em ferragens, apontando-a como “um excelente exemplo”. Referindo-se a um contexto internacional cada vez mais difícil “é com agrado que registo a URFIC como sendo uma empresa exem-plar, tendo conseguido alcançar o primeiro lugar no sector”.Leia, na íntegra, o discurso completo aquando da visita de Mira Amaral à URFIC: “Eu costumo, nas minhas funções de Ministro da Indústria visitar em todo o país as empresas industriais. Fui convidado pela URFIC em vir visitá--la. Fi-lo com todo o gosto porquanto já a conhecia dos papeis, dos projectos que linha apresentado ao Ministério. Sabia que era uma empresa excelente mas, com esta visita, confirmei tudo o que sabia e mais, a minha opinião foi consideravelmente reforçada Acho extremamente importante que o Ministro da Indústria venha junto das boas empresas e dos bons empresários, trazer--lhe uma grande palavra de estimulo, de apreço, de consideração e de con-fiança na sua actividade, As empresas são ‘ mola real da economia do nosso pais e para que haja empresas competitivas, necessitamos de empresários com talento como é o caso da URFIC, que tem, nos seus quadros, trabalhado-res qualificados e motivados. Foi tudo isto que eu aqui vi e como tal cumpri o meu grande objectivo ao trazer-lhe uma palavra de estímulo, de apreço e de consideração”.

O Cities Of The World é um de vários pro-jectos que muito em breve estarão patentes ao pú-blico; já foram realizados testes de mercado, que se revelaram muito positi-vos, e já estamos a envidar esforços para a sua inclu-são no mercado, sendo que prevemos que ficará completo na plenitude da sua gama num espaço de cinco anos

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Foi a tomada de consciência por parte dos líderes mundiais de que era necessário tomar em mãos a apresentação de

medidas e a definição de objetivos concretos para procurar ultrapas-sar situações de carência verificadas desde final dos anos 60 anos do sé-culo passado, que conduziu à realiza-ção da Cimeira do Milénio, realizada, nas Nações Unidas, em Nova Iorque, entre 6 e 8 de Setembro de 2000, da qual sairia o enunciado dos chama-dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e a consequente apre-sentação, pelo então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, do “Road Map” tendo em vista a adoção da “Declaração do Milénio”.Não obstante este enunciado contar já

com uma década desde a sua definição, os ODM continuam a afirmar-se como o grande marco conceptual e metodológi-co que norteia e delimita a definição das principais políticas de Ajuda e coopera-ção para o desenvolvimento das agências bilaterais e multilaterais. Porém, o maior obstáculo à concretização dos OdM, tal como se voltou a reconhecer em Setem-bro de 2010, na reunião Plenária de Alto Nível para avaliação dos progressos em torno dos OdM, a qual teve como base o relatório do Secretário-Geral das Nações Unidas (SGNU) “Keeping the Promise: a forward-looking review to promote na agreed action agenda to achieve the MDG by 2015”, prende-se com dificul-dades de financiamento da comunidade doadora. E esta não é uma preocupação recente, pois o diagnóstico remonta já a

O início do novo milénio ficou marcado por um renovar de esperança com a introdução no sistema internacional de Cooperação para o Desenvolvimento de um vasto conjunto de recomendações e princípios que alteraram o eixo gravitacional do sistema de relações Interna-cionais, centrando-o em processos ligados às chamadas medidas de Desenvolvimento Humano.

Os objectivos de desenvolvimento do milénio, a crise internacionale a estratégia de segurança alimentar e nutricional da CPLP

Por Manuel Clarote Lapão, Director de Cooperação da CPLP

2000, momento em que a resolução nº 54/196, da Assembleia-Geral das Nações apelou à realização de uma conferência sobre Financiamento para o desenvol-vimento, evento que viria a ter lugar no México, em Março de 2002, na cidade de Monterrey, que acabaria por dar nome ao consenso a que aí se chegou. Pelo quadro dos indicadores disponíveis e tendo por base os mais recentes rela-tórios da generalidade das organizações multilaterais, os progressos continuam a fazer-se notar a um ritmo exaspera-damente lento. Note-se que certos do-adores continuaram a apelar a melhor governação nos apoios concedidos e muitos beneficiários consideraram que, apesar de generosos, esses apoios não chegam. Porém, os mais esclarecidos não têm dúvidas em afirmar que o que

A conjuntura atual é marcada por uma crise tripla - uma crise global de gover-nança, que, de forma mais evi-dente, irá afetar os Países em Desenvolvimento. Esta crise faz-se sentir a nível financei-ro, ambiental e de segurança alimentar e nutricional

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falta é compromisso político de toda a comunidade internacional, nomeada-mente daqueles que mais podem, no cumprimento das dotações há muito anunciadas.A conjuntura atual é marcada por uma crise tripla - uma crise global de gover-nança, que, de forma mais evidente, irá afetar os Países em desenvolvimento. Esta crise faz-se sentir a nível financei-ro, ambiental e de segurança alimentar e nutricional. Os Países em desenvolvimento vêm assistindo a uma quebra internacio-nal nos preços das matérias-primas de bens essenciais de que são produtores, o que se reflete na redução dos preços das Exportações, com efeitos na coleta fiscal e consequente efeito na criação de emprego e de sistemas de proteção so-cial, a que se junta, ainda, uma quebra acentuada das remessas de emigrantes. Tudo isto projeta consequências gravís-simas no rendimento disponível com efeitos perniciosos na garantia de uma sustentabilidade alimentar e nutricional adequada. como se não bastasse, à crise financeira, junta-se também uma crise ambiental, provocada pelas alterações climáticas, com efeitos particularmen-te preocupantes como por exemplo o aumento de fenómenos climáticos ex-tremos (secas e inundações) com conse-quências devastadoras. Por outro lado, a alta dos preços dos combustíveis, pode motivar estratégias não sustentadas de utilização de solos para produção de biocombustível com efeitos sobre a se-gurança alimentar e nutricional. Por seu turno, a crise ambiental, encontra-se muito ligada uma crise de cariz alimen-tar e nutricional, a qual faz sentir os seus efeitos em termos da crescente escassez de bens alimentares com consequente aumento dos preços dos alimentos, o que provoca fenómenos de malnutrição, fome e ainda uma diminuição no incen-tivo à criação de mercados rurais.Todos estes fatores têm implicações na cooperação multilateral e na conse-quente atribuição de fluxos para Ajuda Pública ao desenvolvimento para con-cretização dos OdM, designadamente comprometendo direitos Humanos como o direito Humano à Alimentação Adequada (dHAA). Ora, como se sabe, a privação em grande escala de direitos humanos pode, em última instância, fa-zer perigar ganhos alcançados a nível da paz e da segurança – situação que se afi-gura como particularmente inquietante em contextos de pós-conflito ou de ins-

tabilidade crónica. Por outro lado, esta situação representa, para muitos países, retrocessos importantes no que concer-ne à consecução dos OdM, não sendo os países que integram a comunidade dos Países de Língua Portuguesa (cPLP) es-tranhos a este contexto. Sabendo que os Estados membros da cPLP não estão imunes à crise, não obs-tante o diferente grau de vulnerabilida-de e de resiliência que os caracteriza, foi a comunidade estimulada a estreitar os fortes laços unem os seus Estados, num exercício de cooperação com vantagens mútuas, baseado em estímulos positivos que juntem os pontos fortes da coope-ração Norte-Sul-Sul, utilizando o “saber--fazer”, as tecnologias adequadas ao contexto dos parceiros, uma abordagem sustentada e o desenho de uma inter-venção que sirva como uma oportunida-de para o futuro.Foi com base nestes pressupostos que a cPLP, sob o estímulo da FAO, resolveu avançar na elaboração de uma Estraté-gia de Segurança Alimentar e Nutricio-nal (ESAN-cPLP). A visão da ESAN-CPLP assenta numa “ comunidade de países com um capital humano saudável e ativo, livre da fome e da pobreza, num quadro de realização progressiva do direito humano à alimen-tação adequada e respeito pela sobera-nia nacional” e o seu objetivo passa pelo estabelecimento do “Direito Humano à Alimentação Adequada, enquanto for-ma de contribuir para a eerradicação da fome e da pobreza na comunidade, atra-vés do reforço da coordenação entre os Estados membros e da maior governan-ça das políticas e programas setoriais de segurança alimentar e nutricional”. As bases da ESAN-cPLP assentam na máxima prioridade política à luta con-tra a fome e a malnutrição nos nossos países; à existência de Estratégias na-cionais de Segurança Alimentar e Nutri-cional e vários compromissos anterior-mente assumidos, nomeadamente: os cinco princípios da cimeira Mundial de Alimentação de 2009, as diretrizes Vo-luntarias para a realização Progressiva do direito à Alimentação Adequada e as prioridades consideradas nas políticas e programas de segurança alimentar e nutricional dos espaços de integração regional regionais onde se inserem os Estados membros da cPLP. A primeira prioridade da ESAN-cPLP será, assim, o fortalecimento da governança da se-gurança alimentar e nutricional a nível comunitário. A segunda será dirigida

ao apoio imediato aos grupos mais vul-neráveis em particular às mulheres e crianças, procurando algumas parcerias com agências especializadas das Nações Unidas. A terceira prioridade encontra--se focada no aumento da disponibili-dade interna de alimentos com base no fomento e dinamização dos pequenos produtores agrícolas e pescadores, pro-movendo modelos de produção susten-táveis e ampliando as dietas locais. Para a cPLP, a aprovação da ESAN-cPLP não constitui meramente um exercício técnico de cooperação para o desenvol-vimento. É, acima de tudo, um desígnio político e estratégico, determinante para o processo de desenvolvimento dos seus Estados membros, que irá mar-car a organização nos próximos tempos, contribuindo para que se possa criar um mecanismo de parceria global e abran-gente sobre a agricultura, alimentação e

nutrição, o qual deverá envolver atores oriundos da sociedade civil e do setor privado, dos parceiros de cooperação, das organizações especializadas das Nações Unidas, das instituições interna-cionais de financiamento e das organi-zações de cariz regional. A apresentação da ESAN-cPLP, em 18 de Outubro de 2011, à 37ª Sessão do comi-té Mundial de Segurança Alimentar e o posterior reconhecimento deste instru-mento por parceiros de desenvolvimen-to como a União Europeia, vêm reconhe-cer o esforço da cPLP na constituição desta parceria global, confirmando-se a máxima prioridade política dada pela cPLP à luta contra a fome e a malnu-trição bem como ao fortalecimento da governança da segurança alimentar e nutricional e, quem sabe, apresentando exemplos de boas praticas para fora do espaço da comunidade.

Sabendo que os Estados membros da CPLP não estão imunes à crise, não obstante o diferente grau de vulnerabi-lidade e de resiliência que os caracteriza, foi a Comunidade estimulada a estreitar os fortes laços unem os seus Estados, num exercício de cooperação com vantagens mútuas, basea-do em estímulos positivos que juntem os pontos fortes da coo-peração Norte-Sul-Sul, utilizando o “saber-fazer”, as tecnolo-gias adequadas ao contexto dos parceiros, uma abordagem sustentada e o desenho de uma intervenção que sirva como uma oportunidade para o futuro

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Ainda que tal aconteça, e que essa realidade não cause qualquer estranheza a um qualquer causídico, parece ir-

refutável que o trabalho de um jurista é transversal e, caso a imaginação e a ini-ciativa a isso dêem lugar, pode abraçar as mais diversas áreas.Grande parte do trabalho de um causídico assenta assim no aconselhamento, na cria-tividade, na perspicácia, enfim… na capaci-dade de encontrar uma e a melhor solução, quando após uma primeira leitura não se consegue conceber uma qualquer alter-nativa. Para que tal suceda, é deveras im-portante, ter um conhecimento, ainda que generalizado, das mais diversas matérias, pois, só dessa forma, se irão vislumbrar caminhos que teimavam em não se revelar.Neste sentido, e salvo melhor doutrina, a área mais frutífera que pode existir para enriquecer toda a experiência de um juris-ta, é sem qualquer margem para dúvida, a área empresarial.Inacreditavelmente desafiante, o sector empresarial é o maior impulsionador da carreira de um advogado, proporcionan-do-lhe, não só inúmeras oportunidades de negócio, bem como todo um conhecimen-to a nível de consultoria ou planeamento

fiscal. Em tempos conturbados, como aqueles que se vivem actualmente, é im-perativo que os profissionais do Direito, procurem desviar o seu centro gravita-cional do mundo jurídico, e absorver as oportunidades que podem brotar de uma incursão nesta área.desde sempre, e actualmente com maior ênfase, os advogados surgem como in-dispensáveis aliados no que à projecção de grandes empresas respeita, o que irá contribuir, última ratio, para um aumento e incremento da riqueza e, consequente desenvolvimento do território nacional.Nesta senda, é indiscutível que Portugal anseia por projectos inovadores que vi-sem incutir na sociedade um forte espírito empreendedor e uma maior propensão negocial, conquanto a conjuntura atribu-lada dos dias de hoje, não deve ser vista enquanto um entrave, mas uma oportuni-dade de promover iniciativas que visem o impulso económico e a capacidade de lide-rança. No território brasileiro, e somente a título de exemplo, o direito Empresarial é uma área que conta com inúmeras publi-cações, a acrescer que os próprios empre-sários têm ainda uma conduta pró-activa no sentido de tentar projectar o seu ter-ritório além-fronteiras, tornando-o mais

competitivo a nível internacional. Nesta senda, e tendo como objectivo fulcral o desenvolvimento económico a par de uma politica social, um empresário e figura de renome em terras de Vera cruz, procurou reunir os mais importantes líderes empre-sariais, no sentido de e através da promo-ção de um lema de cooperação, incremen-tar o desenvolvimento do brasil ao mesmo tempo que procura estreitar as relações comerciais com outros países.Todavia não só o desenvolvimento econó-mico é levado em linha de conta, uma vez que um país desenvolvido e competitivo assenta sobre uma sociedade justa e igua-litária, o que é igualmente impulsionado por este grupo de líderes empresariais, mediante iniciativas que visem a promo-ção de uma política de educação, de saúde, por forma a erradicar por completo as dis-paridades sociais, essas sim, constituindo um forte travão à progressão de um Esta-do. com efeito, este é apenas um exemplo do contributo que o mundo empresarial pode dar para o desenvolvimento de um território.Actualmente, o nosso país enfrenta as di-ficuldades que por todos nós são sobeja-mente conhecidas e que conduziram não só a um descrédito perante o mercado

mundial resultado das classificações que nos foram atribuídas pelas agências de rating , afugentando todos aqueles que até agora ponderaram investir os seus ca-pitais em terras lusas, bem como fizeram diminuir a drasticamente a nossa já parca confiança, enquanto nação capaz de supe-rar as adversidades.Portugal é e será sempre um país de men-tes brilhantes, mas que se encontram en-torpecidas pelo desânimo e frustração, pelo que anseiam por uma força inspira-dora e que quebre a dormência e letargia, que, como um vírus, vai contaminado tudo e todos, conquanto, cumpre dar o mote para que possamos fazer mais e melhor.Assim sendo, importa não medir esforços, e pregar o espírito inovador e empreen-dedor, conseguindo assim reunir apoios de figuras de elevada credibilidade na so-ciedade portuguesa, de molde a, juntos, conseguirmos projectar o nome de Portu-gal além fronteiras, enquanto um país de vanguarda.Não olvidando, no entanto que, e à seme-lhança do que sucedeu com o brasil, um país desenvolvido e competitivo só poderá erguer-se sobre uma sociedade igualitá-ria e equilibrada, dever-se-á apostar for-temente na promoção de iniciativas que

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Este artigo dedica-se a todos aqueles que crêem veemente que o trabalho de um advogado é algo estanque e que se resume somente a pleitos, peças processuais e longas horas de leitura dos mais diversos diplomas.

União entre a advocacia e o mundo empresarial

Por Sara Subtil, Gameiro e Associados Sociedade de Advogados, R. L.

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visem aniquilar as disparidades sociais e incutir nas mentalidades jovens um forte animus empresarial.Acresce que, e para além dos objectivos mencionados anteriormente, é impera-tivo, a esta altura promover por um es-treitamento das relações comerciais dos países lusófonos e não só, todos actuando como uma força motriz para um desen-volvimento económico-social, sustentado e sustentável. Sublinhe-se contudo, que tais objectivos só serão passíveis de serem concretizados, caso exista uma consci-ência verdadeiramente enraizada de que com trabalho, dedicação e perspicácia se consegue almejar qualquer meta desde que exista uma força anímica nesse senti-do, não podendo esta esmorecer em mo-mento algum. São resoluções como estas que nos fazem perceber que o trabalho de um advogado não se dissipa quando saia fora das lides jurídicas, podendo a desenvoltura mental tão característica da profissão, servir como fertilizante de uma força pro-activa latente em cada um de nós e que aguarda o seu despertar.Face às vicissitudes que se nos deparam diariamente, e com as quais somos obri-gados a conviver, importa dotar a nação de pessoas activas e capazes de puxar pelo

País, encarando os sucessos obtidos, não de uma forma egoísta e auto-centrada, sem considerar que os exemplos positivos podem servir como motor de arranque daqueles cuja vontade de vencer teima em não aparecer.Não raras vezes, encontramo-nos já es-tabelecidos profissionalmente não ne-cessitando de muito para singrar na área na qual escolhemos investir. contudo, a ambição de chegar ainda mais alto, desviando-nos do percurso que seria expectável percorrer, à medida em que se investe noutro sector, irá conduzir a que se obtenham dividendos individuais, mas que a médio e longo-prazo, poderão servir como estímulos em larga escala. Muitos advogados encontram-se confor-tavelmente estabelecidos em escritórios de elevado gabarito, patrocinando causas que fazem correr muita tinta nos jornais e alimentam a curiosidade mediática, to-davia logram em não alargar o seu escopo de actuação, não aproveitando desde logo toda uma rede de contactos que têm ao seu dispor e quedando em dar o seu con-tributo à Nação.O papel de um advogado, não se resume à construção de estratégias para uma qualquer defesa ou acusação, pautando-

-se também pela busca na reposição da justiça e pelo auxílio na construção de uma sociedade de elevados valores e aguerrida, designadamente através do aconselha-mento jurídico de prevenção, porquanto existindo uma necessidade periclitante de verdadeiros conselheiros e não milagrei-ros encapotados. É este, em última ratio o que as políticas de cooperação e desenvol-vimento visam enfatizar.cumpre assim recuperar a força destemi-da de outros tempos e que fizeram de Por-tugal uma das maiores potências mundiais de outrora.certo é que muitos dos ilustres colegas entendem que ambas as áreas devem distinguir-se com clareza e, que compete somente àqueles que escolheram o exer-cício do Direito enquanto profissão, fa-zer isso mesmo, exercê-lo. Não obstante, agora mais do que nunca é fundamental reinventarmo-nos a cada dia, e procurar-mos incessantemente novos desafios, que, estou certa, não ter sido em vão o emprego dos adjectivos plasmados no terceiro pa-rágrafo. Em conclusão, o advogado, aquele que chama a si a defesa de uma causa, deve encarregar-se igualmente de chamar a si a defesa de toda uma nação.

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S u b l i n h e - s e contudo, que tais objec-tivos só serão passíveis de serem concretizados, caso exista uma consci-ência verdadeiramente enraizada de que com trabalho, dedicação e perspicácia se consegue almejar qualquer meta desde que exista uma força anímica nesse sen-tido, não podendo esta esmorecer em momento algum

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A água, essencial à vida, é um bem que cada vez mais deve ser preservado e tratado com consciência. Neste senti-do, que papel cabe à Águas da Região de Maputo, quer do ponto de vista da qualidade dos serviços prestados, quer no âmbito da sustentabilidade?É evidente que temos a responsabilidade não só de assegurar a provisão de água potável com elevados níveis de qualida-de, mas também garantir a optimização da exploração reduzindo as perdas, que é para nós um objectivo estratégico. Nesta batalha contamos com a colaboração dos nossos consumidores a quem apelamos pelo uso racional da água potável.

Em termos de cobertura, quais as zo-nas abrangidas e quais as carências vislumbradas num país em desenvol-vimento, onde ainda há muito traba-lho a realizar?No geral o abastecimento de água é da responsabilidade do Governo de Mo-çambique, sendo que para as zonas urbanas foi criado o Quadro de Gestão delegada, sendo que em Maputo está a Águas da região de Maputo como ope-radora na área de cessão e servida pela rede pública de distribuição de água.No tocante ao abastecimento de água há ainda carências devido ao crescimento demográfico, industrial e comercial, que não é acompanhado ao mesmo ritmo pelo crescimento das infra-estruturas de água, pese embora para área de Ma-puto os recentes investimentos permiti-rão a reversão da situação desde que im-plemente os projectos complementares atempadamente. Temos muitas fontes de água bruta, mas carecemos de recur-sos para a potabilização da água. Só com novos investimentos poderemos gradu-almente melhorar o actual cenário, no que estamos profundamente compro-metidos, daí contarmos com parceiros internacionais para a melhoria e expan-são do serviço de distribuição de água.

Qual a missão e valores da Águas de Moçambique no quadro da gestão da água?

Missão - Abastecer água à população de Ma-puto/Matola/boane, com vista a responder à demanda presente e futura, e criar uma organização financeiramente sustentável.Valores• Comunicação• Disciplina e Empenhamento• Aprendizagem e Criatividade• Oportunidade para desenvolver• Fazer acontecer• Trabalhar com gosto• Partilhar o conhecimento

Qual o vosso posicionamento estraté-gico visando a prossecução dos objec-tivos da empresa?decorrente da missão, visão e valores da Empresa, a Águas da região de Maputo aposta nas seguintes estratégias:Foco no cliente:• O que se traduz na crescente descen-tralização da tomada de decisões por meio da responsabilização das áreas operacionais;• Abertura de mais lojas (sobretudo nas zonas peri-urbanas) de modo a apro-ximar-se dos seus clientes e melhorar cada vez mais os seus serviços;• Aumento significativo do número de novos clientes.Melhoria contínua:• Assente num sistema de gestão es-tratégica e de medição do desempenho organizacional, baseado no software “Scientrix Manager”, em torno do qual toda a organização alinha o seu compor-tamento e operacionalização;• Através do compromisso da organiza-ção com a implementação de um sistema de gestão de qualidade pela iSO 9001.Valorização do capital humano:• Através da melhoria das condições so-ciais dos trabalhadores e via revitaliza-ção dos serviços sociais;• Com base num sistema de avalização de desempenho por objectivo, no qual se alia o desempenho individual à pro-gressão salarial;• Através da melhoria das competências dos colaboradores por meio das acções de formação.

Água, um bem precioso, um recurso escasso. É portanto necessário continuar a promover a defesa deste bem tao precioso, criando iniciativas conjuntas que fomentem o uso controlado da água. A revista Pontos de Vista conversou com Frederico Martins, Presidente do Conselho de Administração das Águas da Região de Maputo, que, entre outras premissas, revelou a responsabilidade da entidade que lidera em assegurar a provisão de água potável com elevados níveis de qualidade, sendo fundamental, para a prossecução deste desiderato, a compreensão e o apoio das populações.

“Somos uma empresa estratégicapara o desenvolvimento do país”

Águas da Região de Maputo

A exigência de patamares elevados de qualidade na água é cada vez mais re-querida. Quais os desígnios no que diz respeito ao conceito de Qualidade e de que forma é feito o seu controlo? A AdeM, é a empresa que zela pela distri-buição de água potável nas cidades de Ma-puto, Matola e Vila de boane. A água, capta-da no rio Umbeluzi, passa por um processo de purificação em que é clarificada e de-sinfectada. Em todo o processo de pota-bilização é feito o controlo analítico, com vista a ter-se a garantia da sua qualidade. São igualmente verificados os parâmetros fisico-químicos e microbiológicos na ETA--Estação de Tratamento de Água, cds- cen-tros distribuidores e na rede pública até à torneira do consumidor. A sua qualidade obedece aos requisitos da Norma Moçam-bicana para Água Potável. regozija-nos o facto de termos contribuído para a desace-leração das doenças diarreicas, que muito assolavam a capital moçambicana.

Nem sempre é possível transmitir aos utentes a real noção da importância da água. Nesse sentido qual o papel imputado à Águas da Região de Mapu-to relativamente às responsabilidades social e ambiental?consciente do seu papel, quer na preser-vação da saúde pública, quer na preser-vação do ambiente e reconhecendo a sua pequenez para tão enorme responsabili-dade, a AdeM tem desenvolvido com su-cesso uma campanha de educação, sensi-bilização e informação dirigida aos seus utentes, visando munir os seus clientes e o público em geral de noções importan-tes, por forma a torná-los em verdadei-ros agentes da preservação do ambiente e um factor que acrescente valor à sua cadeia de produção. deste modo foram assinados Memorandos de Entendimen-to com alguns Órgãos de comunicação Social, com destaque para o Grupo SOicO e a TVM, que através dos seus meios vei-culam o manancial de informação dirigi-da a mudança de atitude por parte dos consumidores e público em geral. Assim foi estabelecido um conjunto de acções e de programas que passam nas Televisões

e no Jornal “O PAÍS” cujos conteúdos, cui-dados até ao pormenor, esperamos ve-nham a contribuir para que os munícipes tenham uma outra consciência sobre o valor e importância, não só da água, mas também do modo como geri-la melhor e cuidar das respectivas infra-estruturas. À estas iniciativas, acresce também referir as acções de parceria com as comunida-des dos bairros, onde vezes sem conta colaboradores da empresa actuam em campanhas visando contratualizar o serviço de abastecimento de água, onde ele não o é, eliminar as perdas e fugas de água, proceder a manutenção da rede, tudo para que mais água seja encami-nhada ao abastecimento dos milhares de clientes que a empresa possui.

Que tipo de investimentos têm sido realizados tendo em vista o contínuo melhoramento no acesso à água por parte dos cidadãos? A nível operacional, isto é, ao nível da Águas da região de Maputo temos vindo a investir através de rendimen-to próprio, em pequenas extensões de rede, na abertura de novas lojas e pos-tos de atendimento e cobrança, na aqui-sição de meios circulantes tais como carros e motociclos, na aquisição de computadores, manutenção, reparação e substituição de equipamentos tais como bombas e grande tubagem, na aquisição de novos equipamentos para detecção, controle e reparação das fu-gas, equipamentos para a geo-referen-ciacão dos equipamentos, entre outros. No presente ano foram investidos mais de dez milhões de Euros.contamos neste caso com a contribui-ção do Governo Moçambicano através do FiPAG para a ampliação do sistema de Abastecimento de Água que cobre os Municípios de Maputo e Matola para além do distrito de boane, estando em fase de recepção a nova estacão de trata-mento de água do Umbeluzi, a nova con-duta de transporte para além de cinco novos centros distribuidores e 580 km de rede, num investimento avaliado em 95 milhões de Euros.

Frederico Martins

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Tendo em conta uma área tão sensí-vel como a da água, considera que a Águas da Região de Maputo poderá ser vista como uma empresa impor-tante para o desenvolvimento social e até económico de Moçambique?A AdeM é com certeza uma empresa estratégica e importante para o desen-volvimento social e económico do Pais, tendo em conta que abastece a área Me-tropolitana de Maputo que inclui a capi-tal do Pais, a cidade de Maputo. E nesta área onde estão concentradas as princi-pais indústrias, os estabelecimentos co-

merciais para alem das sedes das enti-dades governamentais e diplomáticas. A AdeM abastece igualmente perto de 50 por cento da população urbana servida de Mocambique e cerca de 10 por cento da população total.

Moçambique é um país carenciado em termos de infra-estruturas de base? Quais os principais desafios e/ou projec-tos da AdM para os próximos tempos? Em Moçambique a responsabilidade do investimento em infra-estruturas de abastecimento de água é do Governo de

A AdeM é com certeza uma empresa estratégica e importante para o desen-volvimento social e económico do Pais, tendo em conta que abastece a área Metro-politana de Maputo que inclui a capital do Pais, a Cidade de Maputo. E nesta área onde estão concentradas as principais indústrias, os estabelecimentos comerciais para alem das sedes das entidades governamentais e diplomáticas. A AdeM abaste-ce igualmente perto de 50 por cento da população urbana servida de Mocambique e cerca de 10 por cento da população total

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Moçambique e nas áreas urbanas este fá-lo através do FiPAG (Fundo de inves-timento e Património do Abastecimento de Agua). No caso de Maputo, conforme referido anteriormente, houve nos últi-mos anos um grande investimento em novas infra-estruturas, no entanto há ainda desafios, nomeadamente novas infra-estruturas para abastecer a popu-lação mais a norte de Maputo e Matola, assim como áreas conexas, para onde tende a expansão da área urbana. Há igualmente necessidade de se continuar com investimentos para reabilitação/

substituição de infra-estruturas e equi-pamentos antigos.A AdeM continuará com os investimen-tos operacionais visando garantir a me-lhor rentabilização das infra-estruturas e garantir que o sistema existente sirva a cada vez mais pessoas através de solu-ções inovadoras, optimização dos equi-pamentos e comunicação adequada. Todas as estratégias da AdeM, têm em conta a realidade específica da área de trabalho, que é maioritariamente am-biente peri-urbano dominado por ren-dimentos e economia informal.

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Tendo sido criado através de uma par-ceria Amorim Holding/Grupo Visabei-ra, o Banco Único é a mais recente ins-tituição financeira em Moçambique. Tendo ainda poucos meses de activi-dade, como tem decorrido a trajectó-ria até ao momento? Antes de mais, e porque é importante es-clarecer, permita-me que assinale que na génese da criação do banco Único, para além da presença destes Accionistas fun-dadores, é fundamental que se compre-enda o verdadeiro espírito desta iniciativa empresarial que incorpora uma parceria entre investidores moçambicanos e por-tugueses. Na realidade, e muito embora a estrutura final accionista do banco ain-da não esteja totalmente fechada, a sua composição foi desenhada no sentido de se acomodar a componente nacional com a presença de instituições representati-vas de diferentes sectores da economia moçambicana. Os accionistas de referên-cia – Grupo Amorim e Visabeira, através da sua parceria formalmente constituída para o efeito, a Gevisar – optaram pela criação de uma instituição constituída em aliança com instituições moçambicanas de elevada representatividade no mundo em-presarial nacional – O instituto Nacional de Segurança Social, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, a Sf Holding, a rural consult e o Grupo dHd são empresas com significativa representatividade em dife-rentes sectores de actividade, como são os casos de energia, media e agro-indústria.

Disse que a constituição do corpo ac-cionista ainda não estava fechada. Quer isto dizer que ainda poderá ha-ver mais novidades com entrada de novos accionistas? O que pretendo dizer é tão somente que a nossa estrutura está ainda em evolução e que é natural que nos próximos meses pos-samos assistir à entrada de mais um ou ou-

tro parceiro, desde que esta entrada signi-fique valor acrescentado para a parceria e venha a traduzir-se num sinal positivo para o futuro do desenvolvimento da nossa ac-tividade enquanto instituição Financeira.

O Banco iniciou a sua operação ao pú-blico em Setembro deste ano. Qual o balanço que faz?diria que estamos a ter uma resposta em linha com aquilo que eram as nossas ex-pectativas tendo em consideração os con-dicionalismos próprios que caracterizam a actualidade dos mercados financeiros na-cional e internacional e a proposta de valor que define a nossa estratégia de penetra-ção de mercado. A economia nacional é uma economia com um enorme potencial, mas que padece ainda de uma curta pro-fundidade. Entre o potencial de mercado e a realidade económica de hoje existe um enorme fosso, que tenderá a esbater-se nos próximos anos, mas que determina a imperiosa necessidade de olharmos para este mercado com uma visão de “médio e longo prazo”. Quem não tiver esta pers-pectiva, facilmente poderá desencantar-se com esta economia que está estruturada e mais adequada para investimentos de natureza estruturante do que para a con-cretização de “negócios de oportunidade”. É neste contexto que nos revimos, e por conseguinte julgamos que 2 ou 3 meses é uma “era” muito curta para fazer um ba-lanço. contudo, devo sublinhar, que a nos-sa proposta de valor foi de facto muito bem acolhida e temos tido uma forte receptivi-dade e procura por parte do público e das empresas que operam em Moçambique.

A instituição tem até ao momento cinco balcões abertos ao público. Con-sidera, para já, que este número é sa-tisfatório ou o objectivo de expansão para a totalidade do território está nas perspectivas a curto prazo?

“A nossa missão é a de Criar valor para os Clientes através de produtos e serviços financei-ros de qualidade superior, ob-servando rigorosos e elevados padrões de conduta e respon-sabilidade corporativa, crescen-do com sustentabilidade e de modo a proporcionar um retorno atractivo a todos os stakehol-ders”, afirma João Figueiredo, Presidente do Conselho de Ad-ministração do Banco Único, em entrevista à revista Pontos de Vista onde ficamos a conhecer as principais potencialidades de um banco que apesar de recente possui um elevado potencial de crescimento.

“A nossa missão é a de Criar Valor”

Banco Único

De facto, devo confirmar que temos, nes-te momento, cinco balcões a operar, mas não posso deixar de sublinhar também, que na “História” da economia nacional, o banco Único é a primeira instituição ban-cária que abriu as suas portas ao público com este número de balcões. Há, inclusive, instituições financeiras com mais de três anos a operar que não tem tantos balcões como nós. Mas isto tem a ver com a nos-sa natureza e com a natureza do próprio banco. Nós somos um banco que embora Universal, tem uma forte vocação comer-cial e de retalho. Queremo-nos posicionar em todo o país e muito em breve estare-mos noutras cidades e o nosso plano de expansão, sustentado na experiencia que detemos do mercado, será agressivo. Sa-bemos para onde queremos e porque é que queremos ir.

Qual a missão e valores que estão inerentes à “política” institucional do Banco Único?A nossa missão é a de criar valor para os clientes através de produtos e serviços financeiros de qualidade superior, obser-vando rigorosos e elevados padrões de conduta e responsabilidade corporati-

va, crescendo com sustentabilidade e de modo a proporcionar um retorno atracti-vo a todos os stakeholders. Pretendemos, ainda e através do nosso desempenho enquanto instituição financeira, contribuir para o fortalecimento do sistema Financei-ro moçambicano e para o desenvolvimen-to sustentável do País.No imediato, diria que o nosso grande objectivo é tornarmo-nos no banco de referência para os nossos clientes, pela qualidade e distinção com que iremos prestar os nossos serviços e pela forma como iremos gerir a nossa relação com cada um dos nossos clientes. Não seremos mais uma instituição para o nosso clien-te e o nosso cliente não será apenas um número para nós. cada cliente será para nós um cliente Único! Este é o verdadeiro valor que pretendemos induzir, nesta fase, no mercado. O valor da excelência e de um serviço em harmonia com as expectativas de cada um dos nossos clientes.Pretendemos, ainda, viver sempre na charneira do mundo da inovação. Sere-mos uma instituição totalmente aberta ao mundo da tecnologia e assentaremos a nossa actividade num forte investimento que temos vindo a fazer no que concerne as infra-estruturas tecnológicas.

Sendo o 16º banco comercial a entrar em funcionamento no país, qual o po-sicionamento e estratégias que poten-ciarão a sua afirmação e que poderão diferencia-lo dos demais?É exactamente como lhe disse. Temos que nos posicionar de forma ímpar no mercado. Ser Único significa exactamen-te isto. É saber responder de forma dife-rente. É tratar cada um dos clientes de forma única e diferenciada. É encontrar em cada um dos clientes um parceiro. É neste contexto que trabalhamos por forma proporcionar aos nossos clientes um ambiente Único nos nossos espaços

Nós somos um Banco que embora Universal, tem uma forte vocação comercial e de retalho. Queremo-nos posi-cionar em todo o país e muito em breve estaremos noutras cidades e o nosso plano de ex-pansão, sustentado na experi-ência que detemos do merca-do, será agressivo. Sabemos para onde queremos e porque é que queremos ir

João Figueiredo

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de atendimento. Quem visita um balcão do banco Único sabe que irá ter uma ex-periência marcante. Entrar num balcão de um banco e ser atendido num espaço muito harmonioso, “clean”, com sinais visíveis de tecnologia e com música am-biente traduz uma vivência diferente. Sentir, respirar um ambiente verdadeira-mente confortante, poder conversar com o seu especialista ou com o seu gestor no “lounge” do Balcão ao sabor de um bom café, vai levá-lo a um conceito diferente da sua relação com um banco. É verda-deiramente uma experiencia única!E na verdade é isto que nos diferencia, é isto que os nossos clientes sentem e co-municam. Esta foi e é a nossa estratégia de entrada no mercado. Seleccionamos um segmento alvo, e procuramos tratá-lo de forma adequada naquilo que pode ser um valor acrescentado para si. O nosso cliente, neste contexto, é todo aquele que reconhece na qualidade de serviço um valor fundamental para sua relação com um banco.

Significa então que a vossa estratégia aponta apenas para um segmento alto de mercado?Não. Não significa isso, nem hoje nem nunca. O que significa, é que segmentos diferentes devem ser alvo de diferenciação no seu tratamento. É preciso saber qual o valor, a importância, que cada segmento atribui na relação com o seu banco. Tratar pessoas e empresas diferentes de forma igual significa não perceber a essência da-quilo que cada um deles valoriza.Trataremos, desde a primeira hora, com muita atenção o segmento de Empresas e de Negócios de forma adequada e mui-to dedicada. As empresas encontrarão no Único, mais do quem banco, um parceiro que procurará compreender a essência do seu negócio e com elas irá desenhar as so-luções adequadas às suas características. Não seremos um banco de Produtos, antes sim, um banco de Soluções! Mais do que a comercialização de produtos massificados e pré elaborados, iremos procurar desen-volver soluções de “Taylor made”.Mas a nossa perspectiva para o futuro não fica por aqui! É importante que se clarifi-que que, e conforme já tive oportunidade de referir, consideramo-nos a nós próprios um banco universal, pelo que está previsto no nosso Plano de negócios avançar ainda para outros segmentos de mercado. Mas como deve calcular, tudo deverá ser feito a seu tempo. A nossa estratégia de penetra-ção é clara e corresponde a esta que acabo de referir, mas no futuro e a seu tempo, caminharemos de forma segura e pelas vias que entendermos mais convenientes na abordagem de outros segmentos de mercado.

Foi há cerca de um mês inaugurado o edifício-sede, em Maputo, que con-

ta, simultaneamente, com mais uma agência e um “espaço corporate”. Este é mais um passo para, rapidamente, se situarem entre os bancos de refe-rência no mercado moçambicano?

claro que sim. O nosso investimento nesta Sede e neste espaço corporate, traduz de forma inequívoca o tal compromisso com o futuro do país. É um investimento forte e que a par do nosso investimento em infra--estruturas tecnológicas dá outra profun-didade à nossa instituição e colocam-na na esfera das grandes intuições financeiras que afirmar-se-ão no futuro do sistema financeiro nacional. Esta é a nossa con-vicção e estamos seguros que o mercado saberá distinguir-nos com a sua preferên-cia. conhecemos o tecido empresarial que opera no mercado moçambicano como ninguém e estamos fortemente empenha-dos em servi-lo com distinção e qualidade e por isso mesmo investimos nas nossas infra-estruturas de acordo com aquilo que julgamos adequado ao serviço que preten-demos oferecer.

O facto do capital do Banco Único ser, maioritariamente, português confere, em sua opinião, um acréscimo de cre-dibilidade perante os moçambicanos?Portugal e Moçambique têm razões histó-ricas, económicas, sociais e culturais que, ultrapassando qualquer interesse econó-mico que uma parceria possa requerer, constitui em boa verdade um valor im-portante a ter em conta nestas alianças. A credibilidade do banco Único está de facto garantida pelo conjunto dos seus parcei-ros, Portugueses e Moçambicanos, não pela identificação da sua origem, mas sim pela notória competência que lhes pro-vém do passado brilhante que todos eles

apresentam. reunimos na estrutura ac-cionista um conjunto de investidores com um passado e um presente brilhante, que nos conferem uma confiança redobrada ao nosso projecto. O suporte e o carinho que os accionistas, e em particular o nosso accionista de referência Grupo Amorim, têm emprestado a este banco constitui não só um elemento garante do funcio-namento da nossa instituição como um elemento fortemente motivacional para a Gestão do banco. O que poderão os investidores institu-cionais ou particulares esperar desta instituição recém-criada?O que os nossos investidores desejam é que, no quadro e na lógica da rentabilida-de dos capitais investidos, se crie uma ins-tituição Financeira de referência para os clientes. Trabalhar no sentido da melhoria do índice de bancarização do país e atra-vés da nossa actividade contribuir para o desenvolvimento económico de Moçam-bique. criar uma instituição sólida e em harmonia com os critérios prudenciais de funcionamento para que possamos, assim, contribuir também para o fortalecimento do sistema financeiro.

A entrada do Banco Único num mer-cado onde já existem instituições so-lidificadas significa que a Economia moçambicana está, de facto, em cres-cendo e o País se tornou numa ópti-ma oportunidade para investimentos (neste e noutros sectores)? Sem margem para duvidas. Em primeiro lugar importa situar a particularidade de Moçambique se enquadrar numa geogra-fia económica com contornos muito es-pecíficos. Desde logo, pela riqueza da sua

terra, que é caracterizada por ter um solo arável dominante com cerca de 80% da terra riquíssima para a produção agrícola. Por outro lado, inúmeros são os projectos que começam a surgir no sector agro-in-dustrial, que poderão abastecer, não só o país, como toda região da SAdc (que por si só é um mercado fantástico com cerca de 300 milhões de consumidores), e final-mente o mercado de exportação em geral, face à longa costa marítima e os portos nela existentes. Por seu turno, e ligado ao próprio modelo de desenvolvimento eco-nómico do país, nos últimos anos, temos assistido a fortes iniciativas que irão cul-minar em avultados investimentos com vista à construção e reabilitação de infra--estruturas ferro portuárias nacionais que servirão de base ao desenvolvimento de outros projectos económicos que carecem de acesso aos mercados de exportação, mas que também constituem uma via im-prescindível de acesso ao mundo exterior por parte de alguns dos países vizinhos.Vivemos numa economia em aqueci-mento, em que muitos projectos ligados à criação de infra-estruturas tais como estradas, pontes, parques habitacionais e plataformas de logística vão emergindo no nosso quotidiano e constituem oportu-nidades para parcerias com investidores estrangeiros e em particular com os de raiz portuguesa.Por último, uma palavra especial para sec-tores como a Energia, recursos Minerais e Turismo que pelas condições naturais do país oferecem uma oportunidade ímpar de investimento nestes sectores.Numa palavra, de facto, julgo que é chega-da a hora dos investidores e empresários portugueses olharem para Moçambique como um Mercado potencial muito forte para a sua internacionalização.

Quais as principais linhas orientado-ras que Conselho de Administração tem estabelecidas para o futuro?O nosso grande desafio é o de construir-mos esta instituição Financeira de forma sólida e consistente. Pretendemos que o mercado apreenda a nossa proposta de valor e que reconheça no nosso “dia-a--dia” a capacidade de entrega dos nossos serviços em linha com os seus desejos. Para isso, os accionistas dotaram o banco com o capital necessário à concretização dos investimentos técnicos, tecnológicos e de infra-estruturas necessários ao nos-so funcionamento. Por outro lado e com-plementarmente, estamos a desenvolver programas intensos de formação para que os nossos colaboradores estejam devida-mente preparados para a sua missão. Ou seja, estamos a criar uma instituição que pretende muito em breve tornar-se numa referência a nível nacional e que se posi-cione no topo da hierarquia dos serviços bancários em termos de qualidade, inova-ção e satisfação dos seus clientes.

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Constituída em 1938, no Reino Unido, a Atkins é, presente-mente, um dos grupos interna-cionais líderes na prestação de

serviços multidisciplinares de consul-tadoria de engenharia.com o passar dos anos e adequando-se às mais prementes demandas do merca-do, a Atkins evoluiu de uma perspectiva histórica e tradicional de projectistas de engenharia, para a consultoria de gestão e a consultoria de base tecnológica. Actual-mente são mais de 17 mil colaboradores a nível global, espalhados por 175 escritó-rios no reino Unido e cerca de 80 noutros países dos cinco continentes, dentro de distintas áreas de actuação que passam pelos caminhos-de-ferro, estradas, tele-comunicações, energia nuclear, aviação, água, saneamento, produção de energia, indústria, petróleo e gás, processo, saúde, educação, lazer, turismo, urbanismo e de-fesa. Todo este percurso tornou a Atkins na maior firma de consultadoria multidis-ciplinar na Europa e na quinta maior de projecto a nível mundial. dentro de uma oferta de serviços onde a multidiscipli-naridade assume um factor “plus” a mul-

tinacional responde afirmativamente às solicitações quer de clientes públicos quer privados, sendo um elemento aglutinador e integrador dentro dos diversos parâme-tros exigidos nos projectos. inserida numa perspectiva global, a Atkins Portugal, que está prestes a completar um quarto de sé-culo de existência, passa por um processo de afirmação nos mercados lusófonos e nesse sentido a Pontos de Vista abordou júlio Moita, director-geral e Luís Palma Ferro, director da divisão de Estudos e Projectos, acerca dos desideratos da inter-nacionalização:

Em síntese, qual o core business que pauta a actuação da Atkins em Por-tugal?júlio Moita (jM) – A Atkins Portugal tem a sua área de negócio focalizada em duas vertentes distintas: Estudos e Projectos, e Gestão de Empreendimentos e Fiscali-zação. dir-lhe-ia que nos dias que correm a empresa está mais focalizada na ver-tente de Estudos e Projectos, uma área que demonstra maiores necessidades e procura, sendo que a parte de Gestão de Empreendimentos tem, igualmente,

Operando sob o lema Plan, Design, Enable, a Atkins, empresa cujo core business se centra na prestação de serviços multidisciplinares de consulta-doria de engenharia, é considerada a número 1 a nível europeu e uma das dez maiores a nível mundial. A Atkins Portugal, parte integrante do Grupo Atkins e com inúmeros projectos de relevo nacional está, actualmente, num processo de forte aposta nos mercados lusófonos e, a este respeito, a equipa de reportagem da revista Pontos de Vista esteve à conversa com Júlio Moita, director-geral e Luís Palma Ferro, director da divisão de estudos e Projectos, no sentido de aquilatar quais as demandas da presença da firma nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e brasil.

Cultura universal agiliza processo de internacionalização

Atkins Portugal

um desenvolvimento considerável e, no que respeita à Fiscalização, esta tende a revelar algum decréscimo num modelo em que até há bem pouco tempo atrás era entendível como a fiscalização prati-cável no nosso mercado. No que concer-ne aos Estudos e Projectos, a firma tem valências próprias reveladas em cinco ramificações distintas: Ambiente, onde cobrimos todo o tipo de estudos ambien-tais; Urbanismo e Planeamento do Ter-ritório; Hidráulica e recursos Hídricos; Transportes; e Fundações e Estruturas e Obras Especiais.No que diz respeito à Gestão de Empreen-dimentos, temos tido maior intervenção, fundamentalmente, nas áreas hospitalar e ferroviária, com alguma presença – mas em menor preponderância – na área in-dustrial e no apoio a clientes na imple-mentação de novas indústrias em Portu-gal. No que diz respeito à Fiscalização em obra, e em todo o seu espectro lato, este acaba por ser o item com menor peso muito devido à postura do mercado.

Dentro da postura de multidisciplina-riedade nas suas intervenções, qual

o modus operandi que os clientes podem esperar quando solicitam a Atkins como parceira estratégica? jM – Existem dois valores que a Atkins versa os seus clientes e é com base neles que a empresa se propõe actuar: o pri-meiro está relacionado com o conceito de parceria, sendo que a Atkins não quer ser reconhecida como um fornecedor--tipo como muitas vezes o mercado iden-tifica, em que responde a uma solicitação, desenvolve uma solução e, depois não acompanha o cliente nas fases de imple-mentação e conclusão; a Atkins, por seu lado, pretende estabelecer um conjunto de relacionamentos que, em parceria com o cliente, identifique os problemas, propo-nha e estude as soluções, implemente-as e monitorize as referidas soluções ao longo do tempo, excedendo, largamente, o con-ceito de “fornecedor-tipo”.O segundo valor passa pela qualidade, não vamos atrás da estratégia simples de, por problemas de economia de mercado, diminuir a qualidade em função do preço. Temos que saber resolver essas questões internamente e continuar a ser compe-titivos nunca descurando a qualidade. A

Júlio Moita Luís Palma Ferro

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Atkins tem uma imagem de marca conso-lidada e aquilo que não pode, de forma al-guma, acontecer, é o decréscimo do factor qualidade do nosso trabalho.

Nesta nova vertente do rumo da Atkins e que se relaciona com a inter-nacionalização, quais as estratégias propostas, nomeadamente para os países lusófonos?Luís Palma Ferro (LPF) – Quando falamos numa estratégia de internacionalização, devemos ter presente qual é a base da es-trutura empresarial na qual estamos inse-ridos. Neste sentido, a nossa estratégia de internacionalização para os países lusófo-nos não é mais do que aplicar o AdN natu-ral da Atkins que assenta num modelo de empresa conceptualmente multinacional mas que valoriza, particularmente, a com-ponente da ligação local das suas unidades de negócio. A Atkins Portugal, estando, agora, a aparecer com maior frequência nos mercados de expressão oficial portu-guesa não pode deixar de ser reconhecida como uma unidade de negócio do Grupo Atkins, onde desde a sua constituição os aspectos de interligação internacional com diferentes parceiros – internos e externos ao Grupo – são muito valorizados. Não es-tamos pois a abrir-nos a novos mercados,

mas sim a apresentar-lhes de uma forma mais contínua as nossas competências e valores. Há um aspecto que valorizamos imenso em todas as experiências que te-mos vindo a acumular e que resulta da ne-cessidade de conhecermos e reconhecer-mos o enquadramento social, económico e cultural dos nossos potenciais clientes/parceiros, sendo que ao entendê-lo, avalia-remos e proporemos as melhores soluções e opções técnicas de engenharia por forma a potenciar o sucesso dos seus projectos e investimentos, criando um crescente inte-resse em colaborarem connosco. Ora este conceito de parceria só é possível caso en-tendamos quem está ao nosso lado e perce-bamos o framework dos seus valores e am-bições. O que se pede, nos dias que correm, a todas as empresas do grupo Atkins, é que tenham uma visão global do negócio com propostas locais.

Prestar serviços com ênfase na dife-renciação, é essa a postura?LPF – Atentas as experiências da Atkins nas mais variadas áreas técnicas, a estra-tégia passa por apostar, primeiramente, na diferenciação – quer ao nível dos servi-ços prestados, quer ao nível dos segmen-tos de mercado – e, consolidada a ligação, explorarmo-la a partir de uma diversifica-

ção concêntrica baseada num pólo central que é o interesse do cliente. diria que no triângulo preço-prazo-qualidade comum a qualquer projecto de engenharia, o seu incentro chama-se “Confiança”. E nestes novos mercados lusófonos o factor con-fiança entre parceiros é crucial.Acresce a este ponto um conjunto de as-pectos que, segundo nós, constituem van-tagens muito significativas quando vamos interagir nestes mercados, num processo de externalização de competências. São eles: uma posição sólida no mercado do-méstico e a Atkins tem-na; a proximidade cultural e raízes lusófonas; competências técnicas e facilidade de adaptação a novas circunstâncias, potencial de internacio-nalização e massa crítica existente, todos eles denominadores comuns da Atkins Portugal. Porque também relevante, é de referir ainda a disponibilidade para acompanharmos os projectos dos nossos parceiros nacionais e internacionais, re-correndo sempre que necessário primeiro ao in-house sourcing e, se justificado, ao in-group sourcing quer ao nível das inter-venções, quer das competências. diria por último que para estes mercados, com características muito próprias, urge criar e manter em permanência uma linha aberta para o cliente/parceiro, com uma

face por este reconhecida. Por outro lado, nestes espaços de desenvolvimento de no-vos negócios, projectos, e conceitos, é im-perativo identificar e estar em permanen-te interacção com os stakeholders locais envolvendo-os, também, enquanto parte integrante das soluções a propor para os projectos ao longo do seu ciclo de vida.

A finalizar, quais os projectos que es-tão em marcha por parte da Atkins Portugal nos países lusófonos?jM – Por motivos imperativos ao segredo do negócio, não posso, para já, adiantar nomes de projectos em curso. Posso, todavia, mencionar que o factor da in-ternacionalização não surge hoje, dando continuidade natural a alguns projectos internacionais onde esteve presente, como foi por exemplo no empreendimen-to da barragem da cabora bassa, no rio Zambeze, em Moçambique, serviço que, conjuntamente com outros, marcou a ten-dência da internacionalização da empre-sa. A concluir não posso deixar de passar a mensagem de que a Atkins, ao entrar num mercado, tem por objectivo permanecer nesse mercado e vir a constituir-se como um player de referência no mesmo. É uma máxima do Grupo e desta administração também.

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A concretização efectiva das políticas de igualdade de género é da responsabi-lidade primeira do Esta-

do, de acordo com a Constituição, com a legislação nacional e todos os compromissos internacionais assu-midos neste âmbito. No entanto, a promoção da igualdade diz também respeito a todas as pessoas, cidadãs e cidadãos, pois só uma sociedade igualitária permite um verdadeiro desenvolvimento económico, social, cultural e humano.

A igualdade de género implica, pois, a mudança de valores sociais e relacionais entre mulheres e homens para o provei-to de ambos, mas implica também uma mudança de paradigma. É necessário re-flectir e questionar sobre a forma como as sociedades se organizam e como que-remos que venham a ser. É, assim, fun-damental desenhar e implementar as políticas públicas garantindo resultados conducentes à eliminação das desigual-dades estruturais que levam às injusti-ças sociais, a pobreza e a discriminações com base no sexo.

A igualdade entre mulheres e homens, ou igualdade de género, constitui hoje uma das prioridades da agenda internacional de direitos humanos e de desenvolvimento. Nesse contexto, Portugal tem vindo a participar com particular empenho no trabalho levado a cabo pelas várias instâncias interna-cionais e europeias, com destaque para a Organização das Nações Unidas, a União Europeia e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A Estratégia da Cooperação Portuguesa para a Igualdade de Género

Por Teresa Fragoso, Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

A comissão para a cidadania e igual-dade de Género (ciG) é o organismo da administração pública central do Estado que visa apoiar o Governo na elaboração de políticas públicas para a promoção da cidadania e da igualdade de género e participar na sua execução. Nesse sentido o o iV Plano Nacional para a igualdade, Género, cidadania, e Não--discriminação 2011-2013 (iV PNi) é o documento orientador destas políticas e prevê, entre várias medidas, o reforço da cooperação com os Estados Membros da cPLP, bem como a necessidade de se implementarem políticas sectoriais de cooperação para o desenvolvimento, incluindo a perspectiva da igualdade de género e a não discriminação. Ao mesmo tempo, cabe ao iPAd, i.P. (ins-tituto Português de Apoio ao desenvol-vimento) propor e executar a política de cooperação portuguesa e coordenar as actividades de cooperação desenvol-vidas por outras entidades públicas que participem na sua execução tendo, entre outras atribuições, a responsabilidade pela elaboração dos Planos indicativos de cooperação (Pic), principais instru-mentos base de acção.É neste contexto que, em 2010, a ciG e o iPAd, i.P. elaboraram conjuntamente a Estratégia da cooperação Portugue-sa para a igualdade de Género que tem como principais objectivos a promoção dos direitos das mulheres e das rapari-gas e da igualdade de género nos planos político, económico, social e cultural; o acesso à educação e à saúde; o empo-deramento a nível da participação e da decisão política, bem como da participa-ção no mercado laboral e a autonomia

económica, entre outros. como principais parceiros de desenvol-vimento, os Estados Membros da cPLP beneficiam de particular atenção por parte da ciG e do iPAd, i.P. e os laços de cooperação têm-se reforçado significa-tivamente na última década através da definição de objectivos e políticas co-muns na área da igualdade de género. A igualdade entre mulheres e homens está, aliás, consagrada na própria decla-ração constitutiva da cPLP como uma prioridade, reconhecendo o papel im-prescindível da mulher “para o bem-es-tar de desenvolvimento das sociedades”. Será importante relembrar, no entanto, que a implementação das políticas pú-blicas, tanto a nível interno como no âm-bito das relações internacionais, nome-adamente dentro da cPLP, necessita de constante apoio político por parte de to-dos os Estados Membros, bem como de recursos humanos e financeiros para as executar, de forma bem coordenada en-tre os vários interlocutores no terreno. Apesar dos objectivos atingidos na úl-tima década o caminho a percorrer é ainda longo. Se é evidente que os direi-tos fundamentais das mulheres e dos homens têm de ser respeitados, promo-vidos e protegidos, nomeadamente por um Estado de direito verdadeiramente democrático, é fundamental relembrar que a igualdade de género permite o efectivo desenvolvimento da sociedade como um todo, nomeadamente ao nível do desenvolvimento humano e social, e também do aumento da sua competiti-vidade económica. Sejamos, pois, todos e todas, cidadãos e cidadãs, governos e Estados, parte desse processo.

Será importante relembrar, no entanto, que a implementação das políticas públicas, tanto a nível interno como no âmbito das relações internacionais, nomeadamente dentro da CPLP, necessita de constante apoio político por parte de todos os Estados Membros, bem como de recursos humanos e financeiros para as executar, de forma bem coordenada entre os vários in-terlocutores no terreno

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Teresa Fragoso

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O Grupo HRV adquiriu de forma rápida, notorieda-de ao nível da instalação, manutenção linhas de pro-

dução de alimento composto, sendo em 1984 a empresa representante em Portugal das marcas agora de-nominadas Andritz Feed & BioFuel e Geelen Tecniek, nomeadamente na instalação e manutenção das suas máquinas.

O Grupo HRV foi criado em 1982, com a denominação Heleno, ri-beiro & Verissimo, Lda., por três técnicos especializados: no fabrico, manutenção de peças metálicas; na instalação, manutenção de equipamentos e instalações eléctri-cas industriais; na instalação e ma-nutenção de linhas de produção de alimento composto para animais.

Marca de notoriedade

Administração da HRV – Equipamentos de Processo, S.A.

Em 1987, o grupo mudou para instala-ções maiores e expandiu a actividade no fornecimento / processo de equipamen-tos para a produção de alimentos com-postos para animais de estimação / Pet, adquiriu a representação da Technipes, empresa internacional com competên-cias reconhecidas na produção de equi-pamentos pesagem / ensacamento. Em 1992, o grupo HrV alargou o âmbito da sua actividade para linhas de produção de granulados para alimentação animal com base em subprodutos alimentares, passando a fornecer pontualmente solu-ções para a indústria química. Em 2004 o Grupo HrV, decide apostar no sector bioenergético, desenvolvendo equipamentos e processo para a produ-ção de “pellets” de biomassa. Desde então, o grupo evoluiu e expandiu a sua actuação neste segmento de mercado. Actualmen-te, o grupo HrV constituído pela empresa HrV - Equipamentos de Processo, S.A., di-vide as suas actividades entre a instalação

de linhas de produção de pellets, linhas para produção de rações para animais de consumo e as linhas para produção de ra-ções para animais de companhia.No sector químico tem soluções ao nível de argamassas, argila expandida, plás-tico granulado, sal, açúcar, café, cereais em geral e todos os produtos sólidos possíveis de serem armazenados, trans-portados, manuseamento e ensacados. com o crescimento do seu negócio, a apos-ta em diversos sectores adquiriu as com-petências e o know-how necessário para a produção de estruturas e software para máquinas inseridas nas linhas de produ-ção. Nesse sentido, foram criadas as em-presas, a HrV - Trabalhos Eléctricos S.A. e a HrV – indústria Transformação Metálica, S.A., passando a HrV - Equipamentos de Processo, S.A. a ser a empresa responsável pela componente comercial, pelos contac-tos com clientes, pela coordenação dos ser-viços de manutenção, e pelas actividades de investigação e desenvolvimento.

Actualmente, o grupo HRV constituído pela empresa HRV - Equipamentos de Processo, S.A., divide as suas actividades entre a instalação de linhas de produção de pellets, linhas para produção de rações para animais de consumo e as linhas para produção de rações para animais de companhia“ “

Com o crescimento do seu negócio, a aposta em diver-sos sectores adquiriu as competências e o know-how necessário para a produção de estruturas e software para máquinas inse-ridas nas linhas de produção. Nesse sentido, foram criadas as empresas, a HRV - Trabalhos Eléctricos S.A. e a HRV – Indústria Transformação Metálica, S.A., passando a HRV - Equipamentos de Processo, S.A. a ser a empresa responsável pela componente comercial, pelos contactos com clientes, pela coordenação dos serviços de manutenção, e pelas actividades de Investigação e Desenvolvimento

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Quais são os principais desideratos da XVII Conferência Anual IMUN a reali-zar de 10 a 12 de Novembro? É importante sublinhar, como ponto de partida, que o iMUN é inteiramente or-ganizado e gerido por estudantes. À luz disto, o meu objectivo é fazer com que os estudantes percebam o seu potencial nas competências em que participam: delegado, oficial, pessoal administrativo ou imprensa. O iMUN dá aos estudantes a oportunidade de desenvolver tantas competências e de aprender tanto sobre relações internacionais. Espero que os estudantes se ouçam realmente uns aos outros e genuinamente tentem atingir consensos na resolução de alguns dos mais urgentes problemas do mundo. Porque é que este tipo de evento pode ser importante para o futuro de jovens alunos?

Os programas de simulação das Nações Unidas promovem uma compreensão global. Lutamos para promover nos es-tudantes competências de liderança, va-riedade de perspectivas e autoconfiança para que trabalhem cooperativamente com outros para alcançar mudanças po-sitivas. O iMUN proporciona um fórum para os estudantes desenvolverem estas competências e se tornem nos líderes globais do futuro. O iMUN tenta propor-cionar o entendimento da complexidade dos problemas que afectam o mundo e os desafios que enfrentamos para os resolver. Através de uma combinação de resoluções escritas, debates, discur-sos e lobbying os delegados procuram consenso. Reconhecendo estes desafios imensos, o iMUN enfatiza o processo de procura de soluções para os temas que estão na ordem do dia das Nações Uni-

A Revista Pontos de Vista esteve presente na XVii Conferência Anual iMuN organizada pela Carlucci American international school of Lisbon e re-alizada de 10 a 12 de Novembro, tendo conversado com Peter Andrews, o Professor Coordenador desta iniciativa, onde ficámos a conhecer qual a relevância deste evento para os jovens participantes e o seu futuro.

“Estou muito satisfeito com a evolução do IMUN”

XVII Conferência Anual IMUN

das, mais até do que o produto final, o que, na verdade, reflecte a realidade his-tórica das Nações Unidas. De que forma é que este evento de-senvolve capacidades para o futuro, incluindo liderança e auto confiança? Mais uma vez, a conferência abrange muitas facetas e algumas delas não são visíveis. À medida que escrevo isto, o pessoal administrativo está ocupado a imprimir e a organizar as pastas da conferência. A chefe de redacção da nossa imprensa está ocupada a tratar da primeira edição do jornal do iMUN. Os oficiais dos estudantes estão a re-ver os procedimentos parlamentares. E, finalmente, vários delegados estão a trabalhar nas suas resoluções finais ou em propostas para resolverem temas específicos da agenda do IMUN. A maio-

ria dos participantes são delegados e as suas competências de liderança e auto--confiança claramente se desenvolvem no decurso de uma conferência. Os es-tudantes assumem papéis de enorme responsabilidade e eles colocam-se, re-almente, à altura deles. O IMUN é um programa criado pela Carlucci American International Scho-ol of Lisbon (CAISL). Quais foram as bases que permitiram a sua criação? O programa de simulação das Nações Unidas da cAiSL é uma continuação do que propomos como escola. A missão da CAISL é ser “uma comunidade educati-va centrada no aluno na qual todos nos desafiamos a fazer o nosso melhor con-tribuindo positivamente para um mun-do rico em diversidade e em constante mudança”. Este programa é centrado nos

IMUN – Iberian Model United Nations

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Pontos de Vista Novembro 2011 55

É necessário ter a consciência, que no mundo actual, estamos a viver mudanças profundas e objectivas, que nos «obrigam» a olhar a realidade de outra forma. Actualmente, para muitos dos intelectuais e actores sociais, não estamos apenas a viver uma época de mudanças significativas e ace-leradas, mas sim uma mudança de época. Essa realidade provoca e suscita um intenso e acalorado debate que aporta soluções e decisões sobre os actuais problemas mundiais.

Unidos por um bem comum

PV12 iMuN – ibeRiAN MOdeL uNiTed NATiONs

alunos, desafia-os a fazerem o seu melhor e permite-lhes contribuir de forma po-sitiva para o nosso mundo em constante evolução. A cAiSL também fomenta a ci-dadania global e local, tal como o iMUN faz. O reconhecimento do quão valioso pode ser o MUN na conquista dos nossos objectivos educativos aqui na cAiSL levou a que o iMUN fosse criado há 17 anos. A conferência cresceu de um tradicional encontro com a Escola Americana de Ma-drid, a meio caminho, em Mérida, todos os meses de Novembro, para debaterem en-tre si. À medida que outras escolas locais começaram a desenvolver programas de simulação das Nações Unidas, identificá-mos uma oportunidade de fundar a nos-sa própria conferência aqui em Lisboa. A Fundação Luso-Americana convidou-nos a usarmos o seu auditório para as duas primeiras conferências, mas rapidamen-te ultrapassámos a capacidade das suas óptimas instalações mudámo-nos para o centro cultural de belém, onde estamos desde então.

O IMUN deste ano, 2011, será a XVII

conferência deste género. Como é que avalia a evolução deste evento ao longo dos anos? Que lacunas ainda deteta? Estou muito satisfeito com a evolução do iMUN ao longo dos anos. Original-mente nós apenas simulávamos a As-sembleia-Geral das Nações Unidas mas agora simulamos também a conferência Especial e o conselho de Segurança. Te-mos, deliberadamente, mantido núme-ros razoavelmente baixos por delegação de forma a permitirmos o maior núme-ro de delegações possível. Gostaria de mencionar que estamos muito gratos a Hans christian Naess, da Escola interna-cional Stavanger, na Noruega, que coor-dena todos os anos o nosso conselho de Segurança. Provavelmente a única falha, comum a praticamente todas as confe-rências IMUN, é que os delegados ficam frequentemente frustrados com a difi-culdade em conseguirem um lugar, ou seja serem eleitos para falarem.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os alunos que participam neste tipo de eventos?

Acredito fortemente que as Nações Unidas, mesmo com a burocracia asso-ciada e às vezes dificuldade de gestão, são absolutamente necessárias para o futuro da humanidade. É actualmente a única figura mundial de manutenção da paz e, juntamente com as suas filiais, é extremamente importante para o nosso futuro. Obviamente que há países que exercem mais influência que outros, mas fornece uma plataforma importan-te para os povos menos desenvolvidos

Qual o papel dos jovens nes-te caminho de mudança? Serão os mesmos ouvidos pelos dirigentes de hoje?

Qual o papel destes jovens como lí-deres de amanhã? Estas e outras questões puderam ser idealizadas no Iberian Model United Nations, que se realizou de 10 a 12 de Novembro no Centro Cultural de Belém e que reu-niu jovens de vários países, todos eles ávidos por contribuir para que a mu-dança existente no mundo seja posi-tiva e de valor, para todos os cidadãos do Mundo. O Model United Nations consiste numa simulação académica das Nações Uni-das e não é algo de novo especialmente, em países como os Estados Unidos que fazem ensaios deste género a nível uni-versitário desde a fundação da própria organização. Na verdade, também não é algo novo em Portugal, porque a carluc-ci American international School of Lis-

do mundo serem ouvidos. Os estudantes são expostos aos valores e objectivos fundamentais das Nações Unidas: man-ter a paz e a segurança internacional, promover os direitos fundamentais da humanidade, cultivar a dignidade e o valor do ser humano e promover pro-gresso social e tolerância. Quanto mais promovermos estes ideais da melhor forma que podemos, num ambiente de aprendizagem autêntica, melhor será a humanidade.

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bon (cAiSL), uma escola internacional que ensina crianças do pré-escolar ao 12º ano, já organiza conferências deste género há vários anos, chamando-lhe “Iberian” pela localização geográfica. Este ano foi a XVii conferência, na qual participaram mais de 300 alunos de 21 escolas oriundas de 10 países (Áustria, brasil, Alemanha, Países baixos, Norue-ga, Portugal, roménia, Espanha, Suíça e Turquia).O IMUN promove uma infinidade de competências, especialmente porque são os próprios alunos da cAiSL (não os professores) a organizar a totalida-de do evento, incluindo a escolha dos oradores, os temas de discussão e toda a logística de uma atividade de três dias para mais de três centenas de pessoas - isto ao nível da organização. Ao nível da participação, os alunos têm que fazer pesquisa sobre o país ou organização não-governamental que vão represen-tar e depois desempenham o papel de diplomatas, consultando, debatendo, deliberando e desenvolvendo soluções, tudo isto num ambiente favorável e pro-tegido, mas também carregado de res-ponsabilidade uma vez que se chegam a resoluções concretas finais. Alguns dos temas discutidos neste iMUN incluem como gerir refugiados e emigração mas-siva em tempos de discórdia climática, social e política, como assegurar o cum-primento da declaração dos direitos Hu-manos das Nações Unidas em situações

em que existe privação legal de liberda-de, como assegurar o direito de autode-terminação para todas os povos e etnias, entre muitos outros. Para documentar e ilustrar a activida-de é também publicado um jornal com duas edições (uma antes e outra no final do evento) da completa responsabili-dade de um grupo editorial formado e liderado por alunos o “IMUNION”, que reflecte sobre as posições do diálogo e

Fernando Teixeira, Paula Nacif, Bárbara Mesquita, Cosmina Neacsu, Duarte Reis, Guilher-me Reis, Miguel Sobral e Ale-

xander Asrrestad. O que têm estes oito nomes em comum? São jovens, pretendem marcar a diferença e são os principais responsáveis pela orga-nização do XVII Iberian Model United Nations – IMUN -. A revista Pontos de Vista conversou com estas oito personalidades, jovens de hoje e possivelmente os líderes de amanhã, ficando a conhecer as suas mo-

tivações e aspirações, bem como o que os leva a despender do seu tempo livre para enveredar pela organização de um evento tão conceituado e reconhecido como o iMUN. «Pequenas mentes bri-lhantes» que através das suas respostas e convicções assumem querer fazer algo pelo mundo e pelos seus problemas. Mais do que entusiasmante, é de fac-to compensador ouvir da boca destes jovens as ideias que possuem, a forma como as pretendem colocar em prática, ficando na nossa mente a ideia de que o futuro, com a avidez, vontade e confian-

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XVII Conferência Anual IMUN

do decorrer da conferência, sendo edita-do in loco e em simultâneo com as con-versações.O orador convidado para a cerimónia de abertura do iMUN deste ano foi o dr. jorge Sampaio, na qualidade Alto repre-sentante da ONU para a Aliança das civi-lizações, figura amplamente respeitada nos diversos quadrantes mundiais. Sa-tisfeito pela audiência tão diversificada que perfazia a plateia da 17.ª conferên-

cia Anual do iMUN, considera o dr. jorge Sampaio que são os jovens que podem fazer a diferença, sendo que são estes exemplos, as conferências do iMUN, o paradigma perfeito de iniciativas que podem aproximar os jovens dos proble-mas e das suas resoluções, assim lhes seja dada essa oportunidade. “Juntos, podemos fazer a diferença no mundo e é essencial que exista uma relação de proximidade e parceria entre as novas gerações e as mais antigas, numa lógica de cooperação e solidariedade. O mun-do necessita da presença de mais jovens e da cooperação dos mesmos e estou bastante impressionado com o nível de adesão que esta conferência tem”, reve-lou dr. jorge Sampaio, lembrando ainda que “a educação é a chave para qualquer transformação sustentável” e que “os jo-vens são agentes por excelência da paz e desenvolvimento”. Presentes nesta cerimónia estavam, ainda, membros da comunidade diplo-mática em Lisboa, incluindo os próprios embaixadores, ou seus representantes, das Embaixadas da Angola, Áustria, bra-sil, chile, Estados Unidos, Espanha, in-donésia, Moçambique, Noruega, reino Unido, república dominicana, Turquia e Tailândia, que tiveram a oportunidade de dialogar com os seus jovens repre-sentantes na conferência.Para saber mais sobre esta e as passadas conferências iMUN, pode visitar o web-site: www.caislisbon.org/imun.cfm

Confiantes, ambiciosos e determinados em fazer a diferença no mundo e pelo mundo, os jovens que ajudaram a colocar em prática a XVII Confe-rência Anual do iMuN – iberian Model united Nations -, que se realizou de 10 a 12 de Novembro, deram a conhecer a sua perspectiva sobre o que é fazer parte de uma iniciativa desta envergadura e relevância.

Oportunidade para fazer a Diferença

REALAjuda-nos a desenvolver capacida-des intelectuais e cria uma verdadei-ra educação que podemos aplicar no mundo real

Miguel Sobral, 16 anos,Vice-President at Security Council

Numa palavra o que representa o IMUN?

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ça destes jovens, está assegurado. Fernando Teixeira, Secretário-geral da XVii iberian Model United Nations, pode ser considerado «veterano» destas andanças, pois o iMUN faz parte da vida deste jovem promissor há cerca de sete anos, tendo de facto mudado a perspec-tiva que o mesmo possui do mundo. “Aci-ma de tudo acredito que fazer parte do iMUN ajudou-me a crescer enquanto ser humano e a alargar os meus horizontes de conhecimento e de como vejo o mun-do, bem como a compreensão que tenho sobre os problemas mundiais e qual a extensão dos mesmos”, revela, convic-to, assegurando que a ideia de que os jovens não atentam ao que se passa nos diversos países mundiais é errada, facto também assumido pela perfeccionista chefe de redacção, cosmina Neacsu. “Hoje acedemos às notícias em tempo real e estamos atentos, tal como os adul-tos, pois preocupamo-nos bastante com o que se passa a nível mundial e com o que vamos herdar. Queremos fazer par-te de um futuro melhor e o iMUN tem--me permitido fazer a diferença, pois possibilita-nos desenvolver as nossas capacidades de liderança e desenvolver o nosso entendimento e compreensão perante as dificuldades a nível mundial”.Para a Vice-Presidente do conselho Es-pecial, Paula Nacif, a participação no iMUN possibilita compreender os de-safios do futuro e abarcar a realidade do denominado mundo real, onde os líderes de hoje enfrentam diversas di-

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ficuldades. “É necessário compreender esses reptos e o iMUN permite-nos per-ceber, na sua globalidade, essas novas perspectivas”, afirma, assegurando que o efeito deste evento não surge a curto prazo. “Estamos a formar os líderes e os políticos de amanhã e acredito sincera-mente que estes jovens, quando tiverem as suas próprias responsabilidades e quando puderem tomar decisões, irão usar dos valores e princípios aprendi-dos no iMUN para fazer a diferença”. Mas será que estes jovens promissores são ouvidos? Será que o iMUN marca a diferença em contexto real? Alexander Aarrestad, Presidente do conselho de Segurança, não tem qualquer dúvida re-lativamente ao raio de acção do iMUN. “Tenho a certeza que somos e continua-remos a ser ouvidos”, assume, deixando um elogio à forma como a XVii confe-rência Anual do IMUN se realizou. “Do que vi dos delegados e do conselho de Segurança do iMUN, bem como das ex-periências que vivi anteriormente, esta é uma forma impressionante de com-preender os problemas mundiais e as soluções para os mesmos e acredito que podemos marcar a diferença”, esclarece, lembrando que o ambiente sentido e vivido no iMUN facilita a comunicação, mesmo para os delegados mais tímidos e com mais receio em dar a sua opinião. “São ouvidos igualmente e aprendem com os outros. Esta é sem dúvida uma das mais-valias do iMUN, pois permite--nos absorver conhecimentos de pesso-

FUTUROPermite-nos criar bases para o futu-ro e capacidades de nos integrarmos no mesmo, fazendo a diferença

Bárbara Mesquita, 17 anos,President of Administrative Staff

MODELOPorque somos um exemplo e um modelo para os políticos de hoje e de amanhã

Alexander Aarrestad, 18 anos,President of Security Council

Pontos de Vista Novembro 2011 57

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as originárias de pontos completamente distintos do globo, facto que nos forta-lece e prepara para o futuro”, assevera bárbara Mesquita, chefe do Pessoal Ad-ministrativo.Segundo duarte reis, Sub-Secretário Geral do iMUN, os jovens participan-tes neste evento lutam “para serem os líderes de amanhã e para marcarem a diferença em prol de todos os cidadãos mundiais”, afirma, assegurando que o grande objectivo passa por «abrir» o evento à comunidade civil em geral. “É uma forma de contribuirmos para a melhoria da qualidade de vida das pes-soas”, assume, ideia reforçada também pelo Presidente do conselho Especial, Guilherme reis que sublinha que uma, entre muitas, das boas partes do iMUN passa pelo ambiente criado, “pois per-mite-nos explorar temas políticos em voga a nível mundial. Acima de tudo dá--nos a possibilidade de fazer algo para tentarmos mudar as coisas. indepen-dentemente de este ser um ambiente si-mulado, aquilo que nos preocupa são os

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XVII Conferência Anual IMUN

ÚNICONão há nada tão completo e arreba-tador como o iMUN

Fernando Teixeira, 17 anos, Secretary General

COMPENSADORInvestimos tanto de nós e é gratifi-cante assistir ao resultado final e à satisfação das pessoas em participar

Paula Nacif, 17 anos,Vice-President of Special Conference

COOPERAÇÃONada pode alcançar um estado de grandiosidade sem cooperação e para resolver os problemas do mun-do temos de promover parcerias e relações entre todos. com o iMUN aprendi que só podemos resolver os problemas mundiais se caminhar-mos juntos

Guilherme Reis, 16 anos,President of Special Conference

COMPREENSÃOEsta é a imagem que o iMUN passa. compreensão para tentar estabele-cer limites, algo que no mundo real não acontece com frequência, no sentido de criar um espírito de equi-pa com um objectivo comum, ou seja, promover a harmonia entre países

Duarte Reis, 17 anos,Deputy Secretary General

IGUALDADENo iMUN temos uma verdadeira mul-ticulturalidade, sendo recompensa-dor estar com pessoas de diferentes culturas e passados, sendo que no final do dia, apesar das diferenças, o objectivo é sempre o mesmo, ou seja, apresentar opiniões e soluções para os problemas mundiais

Cosmina Neacsu, 18 anos,Editor in Chief

problemas reais e a forma como pode-mos contribuir para os mesmos”, afirma. O que sentem que já mudaram? A última questão foi respondida pelo Vice-Presi-dente do conselho de Segurança Miguel Sobral, que assume que o evento tem actualmente um nível de reconhecimen-to elevado e não apenas pelas comuni-dades escolares envolvidas no mesmo. “Participar no IMUN é ter a possibili-dade única de fazer algo pelas nossas mãos. É também uma transição porque desengane-se quem pensa que as coisas mudam da noite para o dia. Temos de ter consciência que as mudanças são moro-sas e lentas, mas temos de as começar em algum ponto. Nós decidimos come-çar pelo iMUN e sentimos que estamos a marcar a diferença, fato extremamen-te gratificante para todos nós”, conclui o nosso interlocutor. Todos os entrevistados concordam entre si que o evento proporciona um palco no qual se podem manifestar e cometer erros mas prometem não os repetir se o mundo vier a cair nas suas mãos.

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Pontos de Vista Novembro 2011 59

Qual o grande desiderato estratégico assumido pelo Quadro de Referencia Estratégico Nacional – QREN para o período de 2007-2013, no qual se inse-re o Programa Operacional Temático Valorização do Território – POVT? O Quadro de referência Estratégico Na-cional (QrEN) assume como grande de-sígnio estratégico a qualificação dos por-tugueses, valorizando o conhecimento, a ciência, a tecnologia e a inovação, bem como a promoção de níveis elevados e sustentados de desenvolvimento sócio--económico e de qualificação territorial, num quadro de valorização da igual-dade de oportunidades e, bem assim, do aumento da competitividade e da eficiência e qualidade das instituições públicas. A prossecução deste grande desígnio estratégico é assegurada pela concretização, com o apoio dos Fundos Estruturais e do Fundo de coesão, por todos os Programas Operacionais, no período 2007-2013, de três grandes Agendas Operacionais Temáticas, que incidem sobre os domínios essenciais de intervenção, o potencial humano, os factores de competitividade da econo-mia e a valorização do território.

Atendendo que estamos actualmente com quatro anos passados sobre o iní-cio do QREN 2007-2013 como avalia o que foi concretizado e alcançado até agora? Quais as vantagens e lacunas que ainda identifica ao longo des-te processo? É legítimo afirmar que Portugal não aproveitou conveniente-mente esses fundos? Portugal tem já uma grande experiência na utilização dos fundos estruturais e de

coesão da União Europeia sempre com resultados muito positivos e de boa uti-lização das dotações disponíveis, o que se espera também concretizar no actual período de programação.

Acredita que Portugal conheceu uma superação ao nível do desenvolvimen-to económico e social do ponto de vista do crescimento e do emprego através da aposta na qualificação dos portu-gueses, bem como na qualificação do território? certamente que o país não teria os ní-veis de desenvolvimento que tem hoje em dia, sem o contributo dos financia-mentos comunitários. Sem os fundos comunitários que têm sido atribuídos ao nosso país ao longo dos últimos 25 anos, as regiões não teriam os elevados níveis de mobilidade e de acessibilidade que têm, nem as populações teriam os padrões de qualidade dos serviços am-bientais (abastecimento de água, sanea-mento e tratamento de resíduos sólidos urbanos) que têm, nem os principais centros urbanos disporiam dos equi-pamentos colectivos (escolas e equi-pamentos de saúde, sociais, culturais e desportivos) de que dispõem e que per-mitem elevados padrões de qualidade de vida às populações. Ao nível do emprego, todos sabemos que o investimento em infra-estruras cria emprego durante a sua execução e também durante a sua exploração e ma-nutenção para usufruto dos utentes.Por outro lado, os fundos comunitários apoiam também projectos que visam criar melhores condições para a gestão sustentável do território, através da re-dução dos riscos da sua vulnerabilidade a fenómenos naturais e tecnológicos ad-versos, através do reforço dos sistemas nacionais de prevenção e gestão de ris-cos, da recuperação de passivos ambien-tais e da protecção da orla costeira.

Caso alguns dos projectos não sejam

“Portugal tem já uma grande experiência na utilização dos fundos estruturais, sempre com resultados muito positivos e de absorção total das dotações disponíveis”, esclarece Helena Azevedo, Presidente da Comissão Directiva do Programa Operacional Temático Valorização do Território – POVT, em entrevista à revista Pontos de Vista. Nesta conversa, ficamos a conhecer os projectos que o POVT esta a financiar e de que forma são os mesmos fundamentais para o reforço da internacionalização e da competitividade da economia nacional.

“Reforço da internacionalizaçãoe da competitividade da economia nacional”

Programa Operacional Temático Valorização do Território – POVT

concretizados que consequências po-derão advir desse facto? De que forma se pode contornar estas dificuldades económicas?

É natural que ao longo da execução do actual período de programação (2007 – 2013), alguns projectos que se encon-travam inicialmente previstos não sejam executados no todo ou em parte. Nestas circunstâncias os projectos podem ser substituídos por outros ou reprograma-dos para ajustar o investimento previsto à sua realização efectiva. As Autoridades de Gestão têm mecanismos para alocar os recursos disponíveis, à medida da necessidade e capacidade de cada enti-dade executora, através da reprograma-ção financeira, material e temporal dos projectos aprovados, e da capacidade de resposta dos executores para enquadrar novos investimentos em candidaturas a apresenta futuramente, aproveitando as oportunidades de financiamento que ainda existem.

A não concretização da nova infra--estrutura aeroportuária de Lisboa e a não integração de Portugal na Rede Transeuropeia de Alta Velocidade Ferroviária são dois exemplos claros dessas dificuldades face aos actuais constrangimentos económicos? O QrEN, resulta de um compromisso assumido pelas autoridades nacionais e a comissão Europeia, ao nível das prio-ridades de alocação dos investimentos a financiar, e como tal é natural que as opções tomadas sejam ajustadas ao actual contexto. Neste enquadramen-to, foi apresentada junto da comissão Europeia, uma reprogramação técnica do POVT, no sentido de realocar algu-mas verbas previstas inicialmente para investimentos em infra-estruturas de transportes que não será possível re-alizar no período de programação do actual QrEN, como é o caso do Novo Ae-roporto de Lisboa, para outras áreas que se apresentam prioritárias e com eleva-

dos níveis de execução e de procura. No entanto, as intervenções que visam a construção de infra-estruturas de trans-portes continuam a ser prioritárias para o POVT, pelo que mantém-se um planea-mento de financiamento de projectos do domínio dos transportes e desenvolvi-mento da mobilidade sustentável que se prevê absorver cerca de 28% da dotação global do Programa.

De que forma é que a não execução de ambos afecta fortemente o reforço da internacionalização e da competivi-dade da economia nacional? O POVT está a financiar projectos muito importantes para o reforço da interna-cionalização e da competitividade da economia nacional, nomeadamente, e para citar apenas alguns exemplos, ao nível dos investimentos em infra--estruturas ferroviárias e da melhoria da capacidade operacional dos Portos Portugueses e da sua ligação às cadeias logísticas e plataformas intermodais.

Do ponto de vista da valorização do território quais serão, até 2013, as principais intervenções?Estão previstas obras estruturantes que passam por intervenções que permiti-rão contribuir para o reforço da conec-tividade exterior do território, através da rede ferroviária interoperável de mercadorias entre Portugal e Espanha, nomeadamente com o desenvolvimento de uma ligação directa em ferrovia entre Sines e Elvas.Prevê-se ainda a conclusão das inter-venções que permitem aumentar a co-bertura e a qualidade de serviço da rede de Abastecimento de Água e Saneamen-to e outros sistemas ambientais, bem como a requalificação das escolas com ensino secundário e superior para dar alguns exemplos.

LEr NA íNTEGrAwww.PONTOSdEViSTA.cOM.PT

Helena Azevedo

QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional

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que daí advêm e que medidas deveriam ser asseguradas para aumentar as po-tencialidades do sector?

Este é um sector que se tem desenvolvido muito rapidamente nos últimos anos, sen-do que em alguns países, e por força da pesca intensiva, os recursos do peixe come-çam a escassear. A área do pescado é fun-damental e nesse âmbito a administração dos recursos piscatórios assume-se como importante fonte de cooperação entre os nossos países. Temos administrado de for-ma sustentada, em conjunto com Portugal e rússia, a pesca de bacalhau nas nossas águas e asseguro-lhe que há mais de cinco décadas que não se pescava tanto bacalhau como durante este ano. A sustentabilida-de é muito importante para nós e é essa a mensagem que passamos quando estamos em contacto com os demais parceiros eu-ropeus. como acrescento posso referir que estamos muito empenhados na aquacultu-ra; somos o maior país produtor no mundo e estamos a exportar salmão para os qua-tro pontos do globo, entre outras espécies, sendo que vemos extremo potencial neste tipo de actividade.

Que projectos/protocolos estão a decor-rer noutras áreas tão relevantes como na inovação, investigação ou até no en-sino e trabalho? Há inúmeros sectores onde a contribuição tem sido muito efectiva. Por outro lado tem também havido cooperações de modo infor-mal e um dos exemplos é no campo da jus-tiça, nomeadamente no combate ao crime organizado e no tráfico de seres humanos. Por outro lado temos protocolos nas áreas da Saúde e Medicina, desenvolvimento ma-rítimo, oceanografia, entre outras fontes de recursos como as energias renováveis. Não menos importante, gostaria de referir que os índices de desemprego na Noruega rondam os três por cento. Somos uma nação que está a recrutar profissionais qualificados em inúmeras áreas e, desta forma, oferecemos a oportunidade de emprego aos portugue-ses que se enquadrem no perfil pretendido e poderão, desta forma, encontrar solução para o problema de desemprego que vivem em Portugal.

são mais de 2.600 quilómetros de distância entre Lisboa e Oslo! Portugal é destino de sol e praia, Noruega é de neve e ski. Para os mais distraídos, estas duas nações poderão não ter muito em comum… exceptuando o bacalhau. Mas não é assim: desde há muito, que estes países têm fortes relações comerciais e para conhecer melhor os seus trâmites, Ove Thorsheim, recentemente empossado embaixador da Noruega em Portugal, ex-plica, entre outras questões bilaterais, assuntos fundamentais nos que respeita à “ponte” e ao comércio entre estas duas nações tão longínquas, e afinal…tão próximas.

“Somos nações amigas e as nossas trocas comerciais são históricas”

Embaixada da Noruega dá o mote

Portugal e Noruega são, historica-mente, dois países com fortes relações comerciais. Que função assiste à Em-baixada no sentido de assegurar a “pro-ximidade” entre as nações? Portugal é uma nação com elevada estima na Noruega, um país, tal como o nosso, que possui longa costa marítima e nesse sentido sentimos uma “ligação” e uma “proximidade”, mesmo com milhares de quilómetros a separarem ambos os territó-rios. Os habitantes de cada uma das nações não têm conhecimento profundo do que se vai passando na outra, quer em aspectos sócio-culturais, quer políticos e económi-

cos, sendo que o papel da embaixada pas-sa, exactamente, por conectar esse mesmo conhecimento. como embaixador, tenho a incumbência de fazer a “ponte” entre am-bos os governos, reportando sobre os de-senvolvimentos económicos e políticos de Portugal, havendo um grande interesse da parte dos governantes noruegueses sobre as questões portuguesas. Ambos os países partilham dos mesmos valores morais e têm muitos objectivos políticos idênticos, uma vez que a Noruega faz parte do mer-cado interno europeu e tudo o que se passa em Portugal, política e economicamente, “toca” de perto a Noruega.

No quadro bilateral, o relacionamento de Portugal com a Noruega assume um papel de relevo. Quais as áreas de in-tervenção que asseguram o reforço dos laços entre ambos?Somos nações amigas, fundadoras da NATO e militarmente, estamos juntos há mais de meio século. No comércio, o peixe é, por tradição, o artigo com maior expor-tação, sendo que no sentido inverso o vi-nho percorre esse caminho há centenas de anos. Actualmente, o peixe continua a ser o item número um em termos de exportação, seguido dos derivados do petróleo e no que diz respeito a importações provenientes de Portugal, os têxteis e produtos agrícolas, com especial destaque para o vinho.

Quais as cooperações para potenciar o desenvolvimento que, neste momento, estão em curso?O sector marítimo é, presentemente, a nos-sa principal prioridade. A Noruega, tal como Portugal, explora os recursos da orla marí-tima envidando esforços para a obtenção de proveitos até agora inexplorados. de sa-lientar que a área da medicina tem, também, uma cooperação de pesquisa e desenvolvi-mento, sendo atribuída grande importância por parte das autoridades norueguesas.

De que forma as relações comerciais são foco de solução dentro deste quadro de crise europeia generalizada, no qual Portugal já recorreu a ajuda externa?A Noruega não integra a União Europeia, todavia faz parte do seu mercado interno. Significa isto que podemos fazer as trocas comerciais directamente com Portugal e nesse sentido, regozijamo-nos por verificar que a crise económica não afectou as rela-ções comerciais entre nós. Neste momento está em fase de negociação um conjunto de acórdãos, para os anos vindouros, onde ire-mos apoiar economicamente algumas áreas de actividade em Portugal e, desta forma, prestarmos o nosso contributo para a coe-são e desenvolvimento social em Portugal.

A área das pescas é fundamental para ambos os países, quer para a geração de riqueza quer no assegurar de empre-go. Em sua opinião, quais as vantagem

Ove Thorsheim

LEr NA íNTEGrAwww.PONTOSdEViSTA.cOM.PT

60 Novembro 2011 Pontos de Vista

EXCELÊNCIA DOS PRODUTOS PORTUGUESES

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Quando é que surgiu a AIB - Associação dos Industriais do Bacalhau e de que forma é que tem vindo a promover o sector em que actua, bem como os prin-cipais interesses dos seus associados?A Associação dos industriais do baca-lhau tem a sua constituição em 1993 e tem de âmbito nacional. A Aib é uma associação de empregadores, que tem como objectivo a promoção e desen-volvimento da actividade industrial do bacalhau e defesa e promoção dos inte-resses empresariais do sector.

Que análise é que perpetua do sector e da actividade industrial do bacalhau em Portugal? Que lacunas ainda de-tecta num sector que é extremamente importante para Portugal? O facto de esta actividade integrar toda uma fileira, embora a pesca de bacalhau pela frota nacional seja quase residual face ao que já foi no passado, é, sem dú-vida, uma marca distintiva que se per-petuará. Uma maior cooperação entre as empresas nas operações de aprovi-sionamento poderia colmatar essa dimi-nuição das possibilidades de pesca pela frota nacional.

Sendo esta, a indústria do bacalhau, um sector com uma vasta história em Portugal, de que forma é importante continuar a fomentar a promoção da investigação tecnológica neste sector em prol de projectos de desenvolvi-mento inovadores?Tendo em conta o caminho percorrido até à actualidade, as dinâmicas ao ní-vel da investigação e desenvolvimento serão determinantes para o futuro dos projectos empresariais.

Acredita que este é um sector moderni-zado em Portugal? De que forma procu-ram os diferentes players deste sector promover a inovação e a tecnologia? Qual o contributo da AIB neste domínio?Sem dúvida. Todo o património de co-nhecimento desenvolvido resulta em unidades de produção modernas e efi-cientes. Pode-se mesmo considerar que foi a aposta na inovação por parte das companhias que as trouxe até aos dias de

hoje. O continuado investimento em tec-nologias e processos de melhoria contí-nua permitiu às empresas diversificarem a sua oferta de produtos no sentido de se adaptarem à procura extremamente exi-gente dos mercados mantendo-se, ape-sar das dificuldades, competitivas.

Quantos associados possui a AIB? Quais são os principais constrangimentos com que os mesmos operam no mercado?Actualmente são 19 as companhias asso-ciadas na Aib as quais representam mais de 75 pro centro do volume de negócios do sector. Os custos crescentes dos facto-res de produção, a escassez de crédito, o relacionamento com as grandes cadeias de retalho e as crescentes importações de produto acabado, nomeadamente da Noruega, são alguns dos constrangimen-tos com que o sector se debate. Porém nem tudo é negativo, as exportações têm aumentado de forma sustentada repre-sentando, em 2010, mais de 60 milhões de euros facto que reflecte a reacção das companhias às dificuldades encontradas no mercado doméstico.

Em Portugal o bacalhau é um elemen-to importantíssimo na culinária tra-dicional portuguesa, representando mais de um terço de todo o pescado consumido em Portugal. Os portugue-ses são os maiores consumidores per capita a nível mundial, consumindo cerca de 60 mil toneladas de bacalhau por ano, 90% do qual é vendido salga-do e seco. Com a crise económica que se sente em Portugal, teme que o con-sumo de bacalhau decresça?

É difícil prever o que vai acontecer exac-tamente. Se por um lado a diminuição

“O continuado investimento em tecnologias e processos de melhoria contínua permitiu às empresas di-versificarem a sua oferta de produtos no sentido de se adaptarem à procura extremamente exigente dos mercados mantendo-se, apesar das dificuldades, competitivas”, afirma Luísa Melo, actual Presidente da Aib - Associação dos industriais do bacalhau, em entrevista à Revista Pontos de Vista onde ficamos a conhecer os caminhos a seguir pela fileira do bacalhau em Portugal, uma marca distintiva do nosso país.

Defesa de algo muito português

AIB - Associação dos Industriais do Bacalhau

do rendimento disponível das famílias pode ter algumas consequências ao ní-vel do consumo, não podemos deixar de ter em linha de conta que no passa-do, mesmo nos tempos mais difíceis, o bacalhau foi sempre uma das principais fontes de proteína, o que aliás explica o peso que tem na nossa gastronomia. Mais, o aproveitamento/rendimento que este produto tem na confecção de refeições tornam este produto muito competitivo, em termos de preço, quan-do comparado com outras fontes de pro-teína, nomeadamente outros peixes.

Que medidas deveriam ser colocadas em prática, principalmente se anali-sarmos a actual conjuntura económi-ca, no sentido de proteger o sector, os seus players e principalmente o con-sumidor no sentido de este não deixar de consumir bacalhau?defendemos uma efectiva actuação das autoridades na fiscalização dos produtos disponíveis no mercado, independente-mente da sua origem, nomeadamente no que respeita ao cumprimento das regras estabelecidas para a comercialização. Esta é uma acção muito importante que visa inibir práticas de concorrência des-leais. Por outro lado, a garantia do cum-primento, por todos, das regras institu-ídas incute no consumidor a confiança necessária no momento em que toma as suas decisões de compra.

No domínio internacional, qual tem sido o âmbito de intervenção da AIB? Qual a importância dessa «abertura ao mundo» por parte da AIB, entidade representativa máxima do sector do bacalhau?

A Aib tem procurado posicionar-se como um interlocutor privilegiado com as organizações sectoriais de outros pa-íses, nomeadamente com aqueles que fornecem matéria-prima à indústria nacional através da promoção de encon-tros regulares.

Que mensagem lhe aprazaria deixar a todos os associados da AIB?Perante os tempos de dificuldades e incertezas que o país e a Europa atra-vessam gostaria de reforçar o apelo ao reforço do associativismo por entender que, unidos, seremos mais fortes e ca-pazes de assegurar o futuro deste sector em melhores condições.

Quais são as principais linhas de ac-ção de futuro da AIB?continuar a defesa da indústria aten-dendo aos interesses empresariais dos associados, tendo em conta toda a en-volvência económica, social e ambiental dos mercados onde as empresas desen-volvem a sua actividade.

O facto de esta actividade integrar toda uma fileira, embora a pesca de bacalhau pela frota nacional seja quase residual face ao que já foi no passado, é, sem dúvida, uma marca distintiva que se perpetu-ará. Uma maior cooperação entre as empresas nas operações de apro-visionamento poderia colmatar essa diminuição das possibilidades de pesca pela frota nacional

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D e f e n d e m o s uma efectiva actuação das autoridades na fis-calização dos produtos disponíveis no mercado, independentemente da sua origem, nomeada-mente no que respeita ao cumprimento das re-gras estabelecidas para a comercialização

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A laborar no mercado da in-dústria do bacalhau há cer-ca de seis anos, os conheci-mentos na Frigoríficos da

Ermida vão muito além da meia dúzia de anos que datam da sua fundação.É que o proprietário, Leonardo Aires, la-bora no sector há várias décadas e pos-sui todo o conhecimento que um profis-sional deve ter; há quatro décadas no sector, foi um dos maiores exportadores de bacalhau do canadá entre os anos de 1982 e 1995, tendo trazido, para Por-tugal, uma média de 25 mil toneladas

de matéria-prima, números verdadei-ramente impressionantes. Por outro lado, a Frigoríficos da Ermida surge da remanescência de uma outra firma que laborava nas mesmas instalações: “Esta empresa descende de uma outra, muito antiga, com três sócios, sendo que, pre-sentemente, a administração dos des-tinos da Frigoríficos da Ermida é feita única e exclusivamente por mim. relati-vamente à técnica de transformação do bacalhau, essa permanece e já é muito antiga, fazendo justiça à tradição desta zona da Gafanha da Nazaré”, contextu-

“Respeitamos o legadoe isso traz a melhor qualidade”

Frigoríficos da Ermida em destaque no sector

aliza o interlocutor. Não sendo nova no que concerne à aplicação das referidas técnicas de tratamento do peixe, a Fri-goríficos da Ermida trouxe novidades, sim, no que respeita á comercialização de produtos. Leonardo Aires explica: “As técnicas já vêm dos nossos anciãos e nós respeitamos esse legado, todavia inovei ao introduzir novos produtos no mercado; fomos os primeiros a fazer o bacalhau desfiado, uma lacuna que verificamos existir. Como a indústria dos pré-cozinhados está a ter enorme projecção, a introdução do bacalhau

desfiado nessas mesmas receitas foi uma mais-valia encontrada e um nicho de mercado aliciante. Nós importamos matéria-prima maioritariamente da rússia e do Alasca, nos Estados Unidos da América, tratámo-la na nossa fábrica através dos melhores métodos tradicio-nais e feito artesanalmente. Apostamos na diferenciação e, nesse sentido, lan-çámos produtos marca Aires, com des-taque para o Aires Fiel Amigo e o Aires Tradição marcas dedicadas ao bacalhau tradicional, e o Aires Gourmet, o nosso ex-libris e que se distingue (até pela sua caixa preta) precisamente por ser um bacalhau desfiado de qualidade supre-ma, podendo ser encontrado em lojas gourmet e pequenos comerciantes”. Os interessados em conhecer melhor estes produtos não os encontrarão nos gran-des hipermercados; o empresário ex-plica esta estratégia de comercialização com o volume que o negócio envolvia,

são cerca de 30 anos a laborar no sector e o bacalhau, peixe tão apreciado pelos portugueses, não tem, para ele, qualquer tipo de segredo. Falamos de Leonardo Aires, gerente da Frigoríficos da ermida, empresa aveiren-se dedicada à indústria do tratamento do bacalhau. Nesta entrevista, o empresário aborda temas bem actuais à indústria, onde nem tudo navega em águas tranquilas: “quase todas as firmas de bacalhau portuguesas atravessam dificuldades financeiras. existem um sem-número de burocracias e impostos que nos condicio-nam”, sublinha. Bacalhau transformado em Portugal ou na Noruega…qual o melhor? A explicação vem a seguir.

Leonardo Aires

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optando por dar hipótese a outros ca-nais de venda mais específicos, como os pequenos armazenistas e outras lojas de comércio tradicional. “Aí dão o devido valor ao produto! Nos hipermercados só querem saber da política de preço e, por isso, deixei de lhes vender”, diz.

MOdO ARTesANAL VeRsusNOVAS TÉCNICAS OU QUALIDADE

VeRsus RAPideZ?

O entrevistado mencionou anterior-mente o respeito evidenciado pelo modo artesanal como o bacalhau era tratado pela sua indústria, com o pro-duto final a respeitar a tradição do bom sabor e textura. Nos dias que correm e com a introdução novas técnicas mais rápidas mas menos frutuosas, o resul-tado final pode não ser o pretendido: “Estamos numa nova era, com novas tecnologias que permitem à indústria ser mais célere na cura do bacalhau. Há quem ainda faça à moda antiga, outros aderiram às novas práticas na injecção do bacalhau para que, de modo rápido, seja introduzido nos circuitos de comer-cialização”, refere Leonardo Aires. Um dos paradigmas desta última prática é com conjunto de empresas de origem norueguesa, país que domina o merca-do mundial em termos de exportação. como é do conhecimento do leitor, o bacalhau made in Noruega também está presente no nosso país e o nosso entre-vistado não tem pejo em afirmar que, “dada aplicação dessas novas técnicas” a qualidade sai prejudicada. “Sendo os noruegueses detentores de 50 por cento da matéria-prima mundial, são também quem mais compra o peixe ao canadá, rússia e E.U.A, outros grandes detento-res de pescado de bacalhau. São os de-tentores do monopólio mundial e, com tanto domínio, o consumidor português acaba por adquirir produtos noruegue-ses nas grandes superfícies comerciais. Para além desse monopólio, a indústria portuguesa é, ainda, prejudicada por concorrência pouco leal e ética. A in-dústria nacional é sujeita a plafonds de importação, há uma quantidade limite à qual somos sujeitos, sendo que as em-presas norueguesas podem entrar no mercado português sem qualquer taxa-ção”, lamenta. Traduzindo em valores,

há perdas de receita na ordem dos 20 por cento para as empresas portuguesas e estas vão definhando em problemas, contrariando a imagem exterior de que o sector está bem e recomenda-se. “Qua-se todas as firmas de bacalhau portugue-sas atravessam dificuldades financeiras, principalmente nos últimos cinco anos. Existe um sem-número de burocracias e impostos que nos condicionam; aos no-ruegueses é muito fácil entrar no nosso mercado e negociar directamente com as grandes superfícies. E o pior de tudo é que o bacalhau é seco, de má qualidade, cheio de sal devido às infusões e nada ao gosto dos apreciadores portugueses . Esses produtos entram nos supermerca-dos a preços baixíssimos, com os quais não conseguimos concorrer devido às condicionantes que mencionei. Está bem visível que está a ser prejudicado”, reivindica Leonardo Aires. A defesa das marcas portuguesas é acér-rima por parte do nosso interlocutor, sendo que para o próprio, o comprador final está a consumir produtos de quali-dade bem inferior quando comparados com os produtos nacionais. As bem or-questradas campanhas de marketing e comunicação dos artigos made in No-ruega aliadas aos preços mais compe-titivos, fazem com que a decisão aquan-do da selecção penda os mencionados produtos. “Eles têm enormes quantias para despender em campanhas de ma-rketing e publicidade, inundam os con-sumidores com os seus artigos e passam a mensagem de qualidade. Qualidade, essa, que é bem inferior ao bacalhau made in Portugal, asseguro veemen-temente”. O interlocutor deixa, ainda, antever que mais ideias e soluções para o mercado devem surgir por parte dos empresários. Este grande defensor da marca Portugal refere que o mercado é “imenso mas dominado por outros”. E a concluir dá o mote para os colegas industriais: “Urge trabalhar em prol do produto nacional, é um desafio cons-tante e devemos estar sempre a inovar. Nós vamos, em breve, lançar uma nova embalagem chamada Sou Português; só assim uma empresa portuguesa conse-gue fazer face à concorrência externa, encontrando novas oportunidades que possam proporcionar mais-valias no mercado”.

E o pior de tudo é que o bacalhau é seco, de má qualidade, cheio de sal devido às infusões e nada ao gosto dos apreciadores portugueses“ “

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Instituído pelo Parlamento da Noruega em 1991, qual o core business da Norge - Conselho Norueguês das Pescas?A Norge, conselho Norueguês das Pes-cas, com representação em vários paí-ses, incluindo Portugal, é a organização representante dos exportadores de peixe da Noruega, tendo como princi-pal objectivo promover o consumo dos melhores produtos do Mar da Noruega. Habitat ideal onde as várias espécies nascem e crescem saudáveis, a Noruega criou todos os pré-requisitos necessá-rios para garantir uma pesca sustentá-vel e ecológica. Em Portugal, focamo--nos essencialmente em espécies como o bacalhau e Salmão, embora espécies como o Skrei, bacalhau fresco e mais recentemente o Tørrfisk tenham sido introduzidas no nosso mercado.

Quais as funções do Conselho Norueguês das Pescas junto do Governo, concreta-mente junto do Ministério da tutela? colaboramos com as autoridades norue-guesas apoiando uma actividade econó-mica sustentável que é extremamente importante para o nosso país. Estudamos os mercados onde estamos presentes, detectamos oportunidades, promovemos o consumo dos nossos produtos. Na No-ruega apoiamos a protecção das espécies marinhas que habitam a zona Árctica, o berço do peixe que alimenta a Europa.

Um esforço continuado, conseguido atra-vés da combinação de inovações técnicas e a tradição pesqueira norueguesa, para manter uma pesca sustentável, preser-vando as características únicas de espé-cies como o bacalhau e Salmão, muito apreciadas em Portugal.

De uma forma geral, quais os serviços que prestam junto dos profissionais do sector?Trabalhamos com todos os operadores do mercado. Pescadores e exportado-res noruegueses, com Associações de Produtores de Portugal, com os trans-formadores portugueses que importam bacalhau e Salmão da Noruega, com as

“O conhecimento que o consu-midor português tem sobre pei-xe é inato, é um conhecimento que é adquirido quase desde que se nasce. Daí sabermos que, quando os consumidores portugueses escolhem peixe no-rueguês, eles estão a reconhe-cer a qualidade”, revela Cris-tian Nordahl representante do Conselho Norueguês da Pesca, em entrevista à revista Pontos de Vista. Conheça mais de uma marca que tem conquistado os portugueses.

Norge – Marca de Origem

Cristian Nordahl representante do Conselho Norueguês da Pesca, em discurso directo

cadeias de distribuição, com chefes e restaurantes. Acreditamos que é do es-forço conjunto que surgem os resulta-dos, e o que tem acontecido em Portugal é prova disso mesmo.

Qual a proveniência do pescado da Nor-ge e quais as marcas presentes em Por-tugal? Que cuidados é que apresentam na selecção e processos de preparação?Norge significa Noruega em norueguês. Não somos uma marca “comercial” so-mos uma Marca de Origem. As várias espécies de peixe que em Portugal têm o símbolo Norge vêem garantidamente das águas frias e cristalinas da Noruega, símbolo de qualidade garantida. Pro-movemos a denominação de Origem, Noruega, considerada uma das origens mundiais, que garante sustentabilidade no que respeita a critérios de captura e gestão de stocks marinhos. O logotipo Norge, presente nas etiquetas de baca-lhau e Salmão, garante aos distribuidores e consumidores, que o peixe é de origem certificada, controlada e sustentável.

A exigência de patamares elevados de qualidade é cada vez mais obrigatória. Quais os processos que têm sido envi-dados no sentido do reconhecimento da qualidade made in Noruega?O processo de garantia e certificação de qualidade começou há muitos anos, com

a mudança de técnicas de manuseamen-to e processamento do peixe. Os pesca-dores adoptaram técnicas de pesca que não danifica o peixe. As fábricas de pro-cessamento possuem critérios de higiene elevadíssimos, que estão acima dos exigi-dos tanto pela União Europeia como pela FdA dos Estados Unidos. A exportação é feita segundo normas de elevada eficácia. Mas essencialmente, o reconhecimento da qualidade foi sentido pelos consumi-dores finais e profissionais, através do sabor e excelente qualidade aquando da sua experimentação. Porque é que o ba-calhau e Salmão da Noruega é o preferido dos portugueses? Porque é que o Salmão da Noruega é o preferido pelos japone-ses, que o consomem cru?

Como caracteriza o consumidor português quando comparado com os demais merca-dos para os quais exportam pescado? O consumidor português é um dos mais exigentes do mundo. Não é por acaso que os portugueses são dos maiores consumidores de peixe em todo o mun-do. O conhecimento que o consumidor português tem sobre peixe é inato, é um conhecimento que é adquirido quase desde que se nasce. daí sabermos que, quando os consumidores portugueses escolhem peixe norueguês, eles estão a reconhecer a qualidade.

Esta é uma área de actuação bastante competitiva, na qual a formação tem um papel preponderante. O que tem sido feito nesse âmbito? Falando de Portugal, temos produzido material destinado à formação dos pro-fissionais do sector, para que possam manusear com maior à-vontade o peixe com origem na Noruega. desta forma partilhamos os conhecimentos e práti-

Para a promoção do peixe da Noruega é pre-ciso que este seja um recur-so durável, que não coloque em risco a natureza, logo a nossa actividade começa no apoio à investigação no nos-so território e estende-se ao apoio informativo nos vá-rios mercados onde estamos presentes

Cristian Nordahl

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cas que temos no nosso país de origem. Esta é uma atitude que nós entende-mos como a melhor forma de estar nos mercados. A nossa função não é apenas apoiar a venda de peixe da Noruega, é também apoiar quem o prefere e quem lida com ele. O negócio não pode ficar apenas por uma acção de compra e ven-da. isso era uma atitude do século XiX. O nosso apoio aos mercados passa por este tipo de acções. Temos disponíveis módulos de formação para todos os pro-fissionais do sector, sejam eles colabo-radores que estão no balcão da peixaria a arranjar as várias espécies de peixe, sejam jovens Chefes à procura de afir-mação, como é o caso do concurso re-volta do Bacalhau, onde são desafiados a reinventar as tradições portuguesas com base no bacalhau da Noruega.

Quais são as principais dificuldades que têm encontrado no sector? Qual o posicio-namento da Norge face à concorrência?Uma das nossas preocupações é pro-mover uma alimentação saudável com

base nos produtos que exportamos para Portugal. O bacalhau e o Salmão são pro-dutos valiosos quer pelo seu valor nutri-cional, quer pelas suas características. No caso do bacalhau por exemplo, é um pro-duto artesanal e logo muito valioso. Fe-lizmente os portugueses sabem disso e, geração após geração o produto tem sido mantido e a tradição tem passado de pais para filhos. O Salmão que se consome em Portugal é praticamente todo de origem norueguesa. O crescimento do consumo tem sido verdadeiramente espectacular desde que foi introduzido no mercado.

Sendo o peixe um recurso renovável, quais os investimentos realizados na sustentabilidade e nos recursos pisquei-ros, nomeadamente em aquacultura?

Para a promoção do peixe da Noruega é preciso que este seja um recurso du-rável, que não coloque em risco a natu-reza, logo a nossa actividade começa no apoio à investigação no nosso território e estende-se ao apoio informativo nos vários mercados onde estamos presen-tes. A Noruega tem feito investimentos enormes no sector. Gerimos o maior e o mais sustentável stock de bacalhau do mundo que se encontra em excelentes condições. As quotas de pesca são esta-belecidas e controladas de acordo com as recomendações científicas interna-cionais do ICES. A recente certificação de origem sustentável feita pelo MSc (Marine Stewardship council) prova que o nosso trabalho de longo termo, tem tido resultados que são internacio-

nalmente reconhecidos. A aquacultura surgiu na Noruega na década de 70 do século passado. Hoje produz resultados fantásticos em espécies de interesse comercial para o homem. desta forma evita-se pressão sobre os stocks selva-gens. A nossa forma de criar peixe em aquacultura é um exemplo que tem sido uma referência para os outros países.

Do ponto de vista legislativo, quais as principais virtudes e/ou vicissitudes enfrentadas?Não temos tido grandes questões rela-cionadas com legislação.

Quais as principais linhas de acção que Conselho Norueguês das Pescas tem estabelecidas para o futuro?Em Portugal vamos continuar com a nos-sa estratégia de promover o consumo de bacalhau e Salmão através de actividades com os exportadores, parcerias com as principais cadeias de distribuição e im-plementando campanhas nos principais órgãos de comunicação social.

A nossa função não é apenas apoiar a venda de pei-xe da Noruega, é também apoiar quem o prefere e quem lida com ele. O negócio não pode ficar apenas por uma acção de compra e venda. Isso era uma atitude do século XIX. O nosso apoio aos mercados passa por este tipo de acções“ “

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São cerca de dez hectares de superfície, dos quais sete são dedicados à vinha; eis a Quinta dos Abibes, espaço

que espelha a qualidade de um vinho ímpar e a vontade de estar no merca-do de uma forma particular, alicerça-do num projecto que nos transporta para as ancestralidades tão queridas à Bairrada, em particular e aos por-tugueses em geral: a vinha e o vinho como elementos estruturantes da nossa cultura. Francisco batel Marques, professor uni-

versitário de carreira na Universidade de coimbra, é o proprietário da Quinta dos Abibes, tendo apostado na sua re-vitalização após 12 anos de marasmo e total desleixo. Assim, em 2003, batel Marques toma conta do projecto, tendo, posteriormente, enveredado por “um plano de engenharia agrícola de enver-gadura, mais concretamente ao nível da drenagem e correcção de solos, e de subsequente planificação e execução do plantio das vinhas”, descreve. A paixão pela terra e pela enologia, levou o nosso entrevistado a enveredar nesta

No sopé da Serra do Buçaco, na freguesia de Aguim, concelho de Anadia, está situada a Quinta dos Abibes, outrora abandonada, mas reabilitada em 2003 por Francisco batel Marques, professor universitário em Coimbra e um apaixonado pela vitivinicultura. Remodelou e restabeleceu a quinta, apostou em vinhos de excelência e a marca quinta dos Abibes conquistou mercados. são vinhos da bairrada…que abraçam o Mundo.

Vinhos com identidade…da Bairrada para o Mundo!

Quinta dos Abibes

aventura. “Temos de ser capazes de fazer coisas diferentes ao longo da nossa vida e sei que este foi o rumo correcto a seguir. conseguimos encontrar um espaço como a Quinta dos Abibes, que fica localizada na zona de onde sou natural, Aveiro, na região demarcada da bairrada; e porque o terreno era propício e tinha a dimensão que pretendíamos, para além de estar emparcelado, apostamos decididamen-te. Assim, associando a mobilização de recursos financeiros assinaláveis a esses factores, decidimos encetar este projecto que tem representado um desafio cons-tante e com o qual me sinto bastante satisfeito”, assegura Francisco batel Mar-ques adiantando ainda que foi necessá-rio adequar as castas “ao perfil de vinhos que tínhamos imaginado e delineado deste o início deste projecto”. contornos, esses, que passavam pela diferenciação através da produção de vinhos de exce-lência, fundamentalmente no que dizia respeito aos vinhos espumantes, “em que pretendíamos que os mesmos fossem modernos e fugissem do cariz etnográfi-co comum, sendo mais abertos ao mundo e mais jovens”, revela.Para lá da aposta nos vinhos espumantes – tão característicos da região – o nosso interlocutor enveredou, também, pela dinamização no que concerne à produ-ção dos denominados vinhos tranquilos (branco e tinto), e dOP´s bairrada que, segundo o próprio, têm sido de “grande qualidade”, comprovação que pode ser vislumbrada através dos vários galar-dões e menções alcançadas. “De facto temos tido vastas compensações ao ní-

vel de prémios, principalmente através de conquistas que realizamos nas desig-nadas provas cegas, nacionais e interna-cionais que, para além de nos indicarem que o périplo que estamos a calcorrear é o mais correcto, oferecem-nos também um estímulo para prosseguir”, refere o empresário, regozijando-se pelas 27 medalhas que os néctares da Quinta dos Abibes receberam ao longo da sua acti-vidade.

MeRCAdO LOCAL dA bAiRRAdA fACTOr “PLUS” PArA O SUCESSO

É do conhecimento generalizado que neste sector, em particular, os desafios são diários e permanentes, sendo que capacidade de adaptação, flexibilidade e proactividade são itens indispensá-veis. E por falar em desafios, o próximo passa pela conclusão da adega, “um espaço simples, funcional e eficiente, sendo esse o nosso principal objectivo a curto prazo”, revela batel Marques. E por falar em objectivos, a estratégia deli-neada pela Quinta dos Abibes passa por manter o volume de produção, cifrando--se, presentemente, nas cerca de 35 mil garrafas. “Não pretendemos aumentar essa quota, pois sabemos que, ao fazê--lo, o projecto ganharia uma dimensão que não seria compatível com o que pre-tendemos fazer, ou seja, vinhos da mais elevada qualidade, não massificados e direccionados para nichos de mercado e consumidores diferenciados”, con-textualiza o entrevistado, ressalvando, igualmente, a estratégia na recusa em colocar vinhos da Quinta dos Abibes no sector da grande distribuição alimentar: “por um lado não possuímos quantidade suficiente para o fazer e por outro lado o nosso mercado de 35 mil garrafas as-sume-se como um espaço de procura de excelência e que nos satisfaz, plenamen-te, pela quantidade de oferta que possu-ímos”. Assim sendo, a política comercial aponta para um estrato social mais ele-vado, logo com maior capacidade aqui-sitiva, sendo que para Francisco batel Marques “quem não tiver sucesso no mercado local da Bairrada dificilmen-te terá êxito no mercado dos vinhos”. E fundamenta a sua leitura: “O vinho es-pumante da bairrada assume-se como

Queremos, aci-ma de tudo, inovar e nesse sentido é prá-tica comum no nosso quotidiano executar novas experiências sem nunca, ressalvo, alterar o código gené-tico das castas

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Francisco Batel Marques

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um vinho característico e específico da bairrada, região mãe deste vinho e, as-sim, os grandes provadores e o selo de qualidade dado aos vinhos espumantes desta zona é realizado pelo consumidor bairradino. O bairradino é um aprecia-dor muito exigente no que toca a vinhos espumantes; por esse facto, o mercado local da bairrada é extremamente im-portante em termos económicos, mas acima de tudo ao nível da afirmação e credibilidade da marca”.

iNTeRNACiONALiZAçãOseM desCuRAR

O MeRCAdO iNTeRNO

A internacionalização das marcas made in Quinta dos Abibes é um dado adquiri-do. Países como brasil, república checa e Suíça, já são mercados contemplados, todavia “este processo não foi promovi-do por nós. O facto de termos iniciado o processo de internacionalização da marca com a república checa e com a Suíça prende-se com a especificidade de trabalharmos com garrafeiras locais, autóctones, e não com distribuidores. Na realidade, o contacto inicial foi rea-lizado por eles, sendo que o passo se-guinte passou pela aquisição dos nossos produtos, ainda que em quantidades re-lativamente pequenas. reconheço que neste processo fomos mais reactivos do que pro activos, embora nesta fase este-jamos a fomentar a afirmação da marca no mercado”, assume o entrevistado, mostrado a estratégia adoptada para a internacionalização da marca bem como as intenções de âmbito nacional: “há três anos ninguém conhecia a Quin-ta dos Abibes. Assim, a nossa estratégia passa por estabilizarmos a produção, algo que ainda não foi concretizado e, posteriormente, pretendemos analisar os mercados que consideramos estraté-gicos, principalmente ao nível de nicho, solidificando os mesmos com os nossos parceiros, ajustando essa posição inter-nacional com as necessidades do mer-cado interno. jamais iremos descurar o sector interno, pois temos realizado um óptimo trabalho sob o ponto de vista comercial e porque estamos gratos ao mesmo pelo apoio que nos deu aquando da nossa génese. Foi o mercado alicerce da Quinta dos Abibes”, elucida.

Parte do sucesso da Quinta dos Abibes está intimamente relacionada com a aposta nos mais modernos vectores tecnológicos, métodos que ajudaram ao boom qualitativo dos vinhos. Nes-te âmbito batel Marques declara que “apesar do sector do vinho se assumir como uma fileira económica de enorme valia para Portugal, não vislumbro que o país esteja a fazer o esforço necessário ao nível do i&d (investigação e desen-volvimento). Existem alguns casos, mas considero-os demasiadamente pontu-ais. Este facto deve ser objecto de refle-xão pelos diferentes players do sector e não só”.E já que estamos na vertente de i&d faz todo o sentido mencionar o cuidado no “fabrico” do vinho desta casa. Para o efeito, na Quinta dos Abibes labora o enólogo Osvaldo Amado. desde 2003 que o reputado enólogo trabalha em conjunto com Francisco batel Marques na definição das características e pro-dução dos vinhos Quinta dos Abibes. “Queremos, acima de tudo, inovar e nesse sentido é prática comum no nosso quotidiano executar novas experiências sem nunca, ressalvo, alterar o código ge-nético das castas. A inovação não pode alterar a linha inerente a um determina-do produtor, caso contrário cai o carác-ter e a personalidade do próprio vinho. Uma marca cria-se com identidade!”, sublinha o interlocutor, finalizando com uma frase sintomática acerca da sua perspectiva relativamente ao tratamen-to dado ao vinho: “a enologia não come-ça na porta da adega, a enologia tem o seu início na vinha e as intervenções e definições começam desde aí”.

Decidimos en-cetar este projecto que tem representa-do um desafio cons-tante e com o qual me sinto bastante satisfeito

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Faça uma breve descrição da Casa Ana-dia, englobando o contexto sócio-cultu-ral, bem como em termos geográficos e climatéricos?O azeite casa Anadia agora lançado no mercado é herdeiro de uma antiga tradi-ção que remonta pelo menos ao séc. XVii, época da construção do antigo Solar com capela, hoje integrado na Quinta do bom Sucesso, em Alferrarede.

O slogan “azeite com história” significa que mesmo em tempos de modernidade existe um respeito pelo passado e por toda a história envolvente?O azeite casa Anadia é pois o continua-

dor de uma ligação centenária à cultura do azeite. Esta tem grande relevância no presente e para o futuro pois, num mun-do que corre veloz, as raízes são cada vez mais um importante factor distintivo. A tradição traduz-se por um “saber fazer” que dá personalidade aos produtos, ofe-rece confiança aos consumidores, e repre-senta uma clara mais-valia para ambos.

Numa era onde a inovação e tecnologia assumem grande importância quais os métodos utilizados na produção do azei-te da Casa Anadia?A elaboração do azeite ocorre nas horas imediatas à sua apanha, o que resulta em

recém-lançado no mercado o azeite Casa Anadia “respira” a história de uma região intimamente ligada ao sector. A Pontos de Vista dá a conhe-cer esta nova aposta vinda de Alferrarede, em Abrantes e, nesse sentido, nada melhor que uma conversa com o director de marketing da empre-sa, rui Pereira Coutinho.

“A tradição traduz-se por um «saber fazer»”Casa Anadia

azeites produzidos no mesmo dia reco-lhendo assim as melhores características. No lagar é muito importantes as novas tecnologias para que seja o mais anaeró-bico possível, mas sempre em processos mecânicos e a frio.

O azeite D.O.P Casa Anadia é a marca ex-libris. Como caracteriza este azeite, quais as suas particularidades que o tor-nam tão apetecível?Este dOP – denominação de origem pro-tegida – é um azeite certificado pela CER-TiS e que obriga a um controlo desde da produção da azeitona até ao engarrafa-mento do azeite, no qual apenas são utili-zadas variedades de azeitona portuguesas e regionais. O olival cumpre as normas de produção integrada (normas ambientais), sendo que temos um compromisso não só ambiental, como também na escolha de todos os produtos utilizados no olival. No que concerne à produção de azeitona, esta é feita de acordo com as normas do sis-tema de protecção e produção integrada, pelo que se obtém um produto de eleva-díssima qualidade.

Ainda no que respeita ao azeite comer-cializado, que outras marcas estão dis-poníveis e quais os mercados em que apostam? Destaco o “Casa Anadia DOP Virgem Extra”, exclusivo de azeitona cobrançosa galega, vendido em garrafas de 500ml. O “Casa Anadia Virgem Extra”, um lote selecciona-do e que inclui quase todas as variedades produzidas na Quinta, comercializado em garrafa de 750 ml e, finalmente, o azeite “Castelo de Alferrarede Virgem Extra”, que é comercializado em 3 e 5 litros. relativamen-te a mercados estamos, naturalmente, no nacional, representados pela “Farovinhos” que abrange a totalidade do território no segmento HOrEcA. Exportar faz, sem dú-vida, parte do nosso plano, sendo cada mer-

cado tratado caso a caso, com o objectivo de vender mas também acompanhar e ajudar na divulgação do “Casa Anadia” sempre ao lado do nosso agente e distribuidor.

Como encara a recém-crescente evolu-ção do sector do azeite, à semelhança do que tem vindo a acontecer com a área dos vinhos na última década? O Azeite vem seguindo um pouco os pas-sos do Vinho. Umas décadas atrás com-právamos vinho branco ou vinho tinto e hoje temos a possibilidade de escolher a casta, a região, mais frutado, entre outros itens. O azeite vem sendo cada vez mais especifico, podendo o consumidor esco-lher o que quer utilizar e para cada fim. Ou seja, não se deve ter um só azeite em casa, mas três ou quatro para poder utilizar em ocasiões distintas.

Quais as estratégias de marketing/co-mercialização envidadas? Os mercados internacionais são uma mais-valia em termos estratégicos? Temos o nosso plano de marketing, mas que vamos utilizar em Portugal apenas para 2012, quando o “Casa Anadia” estiver mais implantado, pois só está no mercado desde Outubro deste ano. O mercado in-ternacional tem uma estratégia de marke-ting global, mas adaptada a cada mercado; temos o apoio de um projecto QrEN que estamos a utilizar muito cuidadosamente e optamos por ser o nosso agente local a pro-por as acções a realizar no seu mercado.

Quais os planos e directrizes que vão nortear as apostas de futuro? Fundamentalmente, pretendemos que quan do o consumidor abra uma garrafa “Casa Anadia” não veja apenas azeite, mas desde o momento em que abre até à pro-va, consiga sentir toda a longa história da “Casa Anadia” , como todo o amor com que foi produzido aquele sumo de azeitona.

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A WINE IN AZORES Wine and Sea ´11 teve lugar em Ponta Delgada, no edifício Portas do Mar, nos dias 11, 12 e

13 de Novembro e podemos afirmar, peremptoriamente, que foi um êxito. A equipa de reportagem da Pontos de Vista esteve presente neste certame, promovido pela empresa de orga-nização de eventos Angular XXL, e confirmou, no local, o sucesso da re-alização deste certame que vai na ter-ceira edição. De acordo com os dados fornecidos, no decorrer dos três dias estiveram presentes cerca de 10 mil visitantes, 70 stands distribuídos por produtores, distribuidores e comer-ciantes locais e de Portugal continen-tal e ainda 10 chefs de cozinha que, num espaço central, iam abrilhan-tando o evento com as suas iguarias.Já no final do segundo dia conseguimos chegar à fala com joaquim coutinho costa, responsável por esta organização, e aquilatamos todo o envolvimento que a realização da wine in Azores tem para a região e a importância que já adquiriu no panorama nacional: “as expectativas começaram por ser bastante elevadas, comparativamente ao ano transacto, e a nossa perspectiva passava por ultra-passar o recorde de visitantes. Esta feira tem-se revelado um verdadeiro êxito e regozijamo-nos por ver o agrado quer dos participantes quer do público que nos visita. Todo o nosso trabalho foi fei-to com muita antecedência prévia para que, nestes dias, tudo decorra positiva-mente. Tivemos a preocupação em dis-ponibilizar as melhores condições aos produtores participantes para que estes sintam que a organização tem o máximo cuidado para com eles”, destaca couti-nho costa.

PrODUTOrES E CHEfSPARTiLHAM CONVíViO

COM VisiTANTes

A parte gastronómica, intimamente li-gada ao vinho, foi também protagonis-ta de peso e, segundo o entrevistado, a wine Azores é, actualmente a feira de vinhos que mais protagonismo ofere-ce aos chefs de cozinha. “Vieram perto de uma dezena de reputados chefs de várias regiões do país e essa presença deixa-nos bastante satisfeitos. Os pró-prios demonstraram-me a sua felicida-de afirmando que dispunham de muito

melhores condições de trabalho e vi-sibilidade comparativamente às feiras realizadas em Portugal continental”, refere.como já mencionamos e voltamos a sublinhar, mesmo sofrendo das vicis-situdes próprias da insularidade, esta feira de vinhos açoriana dispões de todas as condições para se firmar no top nacional; o trabalho incansável, esse, tem sido obra de coutinho costa. “Tenho vindo a receber convites para a realização de eventos no continen-te e isso deve-se ao bom desempenho que temos efectivado aqui na região”, adianta o responsável pela organização da wine Azores. coutinho costa destaca, sobretudo, “o bom ambiente” que se vislumbrou ao longo dos três dias da wine Azores

dez mil visitantes, 70 stands locais e do continente e ainda dez chefs de cozinha que abrilhantaram o certame! Foi este o cartão de visita da WiNe iN AZORes Wine and sea ´11 e a equipa de reportagem da revista Pontos de Vista foi até Ponta delgada e verificou in loco o que Joaquim Coutinho Costa vem afirmando: esta feira caminha a passos largos para se tornar na mais importante, do sector, a nível nacional.

Festa do vinho reforça laços entre participantes

WINE IN AZORES, A New Palate - Wine & Sea 2011

2011. “A nossa estratégia passa pela boa relação entre todos e visa também a promoção da região Autónoma dos Açores; espero que para 2012 possamos contar com mais pessoas ainda, quer ao nível de visitantes quer no número de expositores, aumentando, mais, a nossa notoriedade. O feedback que temos re-cebido relativo ao nosso trabalho tem sido bastante favorável e queremos con-tinuar nesta senda, melhorando ainda mais, se possível”, conclui o responsável pela empresa organizadora de eventos Angular XXL.Esta verdadeira festa do vinho, teve como damas de honor o azeite a carne e o pei-xe; os produtores promoveram os seus produtos, os distribuidores alargaram horizontes e os visitantes deliciaram-se nas provas. Para o ano há mais.

Em Ponto de AçucarNa feira WINE IN AZORES Wine and Sea 2011, descobrimos, mesmo á entrada do open space, um stand muito peculiar. Por lá estava a simpática Mónica Silva, a distribuir pequenos quadra-dinhos de um delicioso bolo. Provámos, gostámos, repetimos…e quisemos saber mais. Mónica é cake designer e estava na feira a promover a sua empresa, a Ponto de Açucar, tendo também confeccionado o bolo que serviria de mote para o culminar da festa. Esta micaelense de gema, da Ribeira Grande, aposta no que a região tem de melhor; e passou a confeccionar doces e bolos tradicionais açorianos. “Apostei no que de melhor sei fazer e tento trazer inovação, quali-dade e criatividade. O nosso ex-libris é o bolo de caramelo e nozes e hoje em dia podemos dizer que que até o presidente da República já o provou!” , refere Mónica Silva. Para mais informa-ções acerca da empresa pode consultar em monica-pontodeacucar.blogspot.com .

Joaquim Coutinho Costa

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Com 65 empresas associadas, que no global correspondem a mais de 90 por cento do total de azeite comercia-lizado em Portugal e exportado além-fronteiras, a Casa do Azeite tem tido um papel fundamental num sector que se pretende dinâmico e valoroso. em entrevista à Pontos de Vista, Mariana Matos, secretária-geral desta associação, aborda as temáticas mais prementes do “mundo” olivícola.

“Promovemos o maior reconhecimentodo azeite português no mundo”

Casa do Azeite - Associação do Azeite de Portugal

Sendo uma entidade de cariz associati-vo, quais os valores e missão d´A Casa do Azeite e de que forma tem vindo a pautar a sua actuação até ao presente?A casa do Azeite é uma associação patronal privada, fundada em 1976, que tem como missão primordial a promoção do con-sumo do azeite, em Portugal e no mundo. Paralelamente, desenvolve um intenso tra-balho com os diversos organismos oficiais nacionais, comunitários e internacionais, no sentido de garantir a defesa dos inte-resses dos seus associados e de contribuir para que todo o sector esteja ciente e cum-pra as suas obrigações legais.

Quanto associados estão vinculados à instituição e quais os serviços prestados perante os mesmos? Neste momento temos cerca de 65 empre-sas associadas, que no seu conjunto repre-sentarão mais que 90 por cento do total de azeite comercializado em Portugal e expor-tado para os mais diversos mercados. Em termos dos serviços que prestamos são essencialmente relacionados com a asses-soria técnica e legal, bem como o apoio ás exportações. Nesta última vertente, é im-portante salientar o trabalho que a casa do Azeite promove, juntamente com as marcas de azeite, para a promoção institu-cional do Azeite Português, e que contribui seguramente para um maior reconheci-mento do Azeite Português no mundo.

Estando intimamente ligado com a gé-nese de Portugal, que caracterização faz do sector da olivicultura e qual a sua im-portância/contribuição para o desenvol-vimento das actividades rurais no País?

É um dos sectores importantes da agricul-tura portuguesa, que tem sabido evoluir de forma a responder adequadamente a uma procura internacional crescente deste produto, principalmente nos últimos anos. Portugal tem condições naturais excelen-tes para esta cultura, o que nos permite produzir produtos de elevada qualidade que tem cada vez maior reconhecimento internacional. Em termos de balança co-mercial agrícola, é um dos produtos “estre-la” dos últimos anos, tendo em conta que as exportações de azeite são hoje cinco vezes superiores, em valor, ás do ano de 2006. de referir que a balança comercial apresen-tou em 2010, pela primeira vez em muitos anos, saldo positivo, que seguramente se reforçará nos próximos anos.

De que forma a evolução tecnológica, aliada à formação dos profissionais ligados à olivicultura, tem contribuído para, à semelhança do sector dos vi-nhos, aumentar a qualidade do produto final e, assim, potenciar o crescimento do sector?A evolução tecnológica, bem como a for-mação profissional, tem sido fundamentais para a melhoria da qualidade dos azeites produzidos em Portugal. Não só ao nível da produção agrícola, onde melhores prá-ticas culturais conduzem á obtenção de azeitonas mais saudáveis, que produzirão azeite de melhor qualidade e com custos de produção mais baixo, como ao nível dos lagares. Aí, a evolução tecnológica tem sido muito rápida, e encontramos hoje em Portugal lagares que em dimensão e capa-cidade tecnológica se encontram ao nível do que melhor existe no mundo.

Quais as iniciativas realizadas pela associação visando, essencialmente, a resolução dos problemas que poderão afectar a actividade?Um dos principais problemas do sector, hoje em dia, é o nível de preços do produto,

que está bastante baixo. Este facto provo-ca grandes problemas, particularmente na produção mais tradicional, menos pro-dutiva e que por isso apresenta custos de produção muito elevados. No nosso enten-der, este nível de preços deve-se essencial-mente á evolução da produção de azeite, que tem aumentado a um nível superior ao consumo, causando um desajustamento entre oferta e procura. Por isso, pensamos que é primordial a promoção do consumo de azeite (que só representa cerca de 4% do consumo de gorduras líquidas, em ter-mos mundiais), para que possa haver um aumento da procura deste produto e um equilíbrio estrutural neste mercado.

Portugal é, por tradição, exportador de azeite. Quais os principais mercados e quais as novas oportunidades de negó-cio que poderão advir? desde sempre, o mercado brasileiro é o nosso principal mercado de destino das exportações nacionais. É um mercado que tem tido uma evolução incrível, com um consumo a aumentar anualmente a um ritmo muito elevado, á medida que a eco-nomia brasileira cresce, também de forma muito expressiva. Mas existem outros mer-cados muito apetecíveis, nomeadamente os mercados emergentes asiáticos (china, índia, coreia do Sul, ...) onde existe um enorme potencial de consumo e onde as campanhas promocionais devem ser cons-tantes, pois são consumidores que desco-nhecem completamente o produto e tem que ser “ensinados”.

Num cenário de constrangimento econó-mico (como se tem verificado em Portu-gal) que papel caberá ao sector olivícola, quer na criação de valor quer na criação de emprego?Felizmente, e como já mencionámos, o sector olivícola tem evoluído imenso nos últimos anos em Portugal, e a sua cadeia de valor é constantemente valorizada, com a obtenção de produtos cada vez mais di-ferenciados, com uma imagem muito ape-lativa. Mas apesar disso, penso que ainda existe algum trabalho a desenvolver, no-meadamente ao nível mais regional, com a valorização do azeite, integrando-o na oferta gastronómica, turística, etc. criando sinergias com outros produtos e agregan-do valor e diferenciação ao conjunto da

oferta regional. Em termos de criação de emprego também é um sector importante, pois cria postos de trabalho em zonas alta-mente desertificadas e onde existem muito poucas oportunidades, como o Alentejo, ou Trás-os-Montes.

Na última década houve um cresci-mento médio no consumo de azeite, a nível internacional, da ordem dos 3 por cento. Portugal está entre os principais consumidores mundiais?Portugal está entre os principais consumi-dores de azeite, se bem que tenhamos um consumo per capita bem mais modesto (+/- 7kg/ano) que outros países produto-res, como Espanha (+/- 13kg/ano) ou itália (+/- 14kg/ano). Por isso entendemos que existe também necessidade de fazer uma campanha de promoção do consumo de azeite a nível nacional.

Que tipo de divulgações têm sido efectu-adas no sentido de promoverem os bons hábitos alimentares – nomeadamente os benefícios para a saúde do consumo de azeite – junto do grande público?A casa do Azeite faz regularmente várias acções de promoção do consumo de azeite junto de diversos públicos-alvo, como por exemplo as crianças em idade escolar (1º e 2º ciclos do ensino básico). Mas será ne-cessário pensar em acções de comunicação mais abrangentes, para o grande público, que levem os consumidores a utilizar mais esta saudável gordura e a diversificar a sua utilização culinária, reintroduzindo hábitos ancestrais e saudáveis, como a fritura em azeite, por exemplo.

Quais as principais linhas orientadoras de futuro da Casa do Azeite? dar continuidade ao trabalho de promo-ção internacional da imagem do Azeite Português, através de várias acções de promoção em mercados – alvo criterio-samente seleccionados; trabalhar em estreita parceria com os diversos organis-mos oficiais, comunitários, nacionais ou internacionais, no sentido de garantir a defesa dos interesses dos nossos associa-dos e fazer a divulgação atempada de toda a informação técnica e de mercado, ou de negócio, devidamente tratada, relevante para as empresas e para uma sã concor-rência no mercado.

Mariana Matos

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A laborar desde 1993, em que contexto sur-ge a Prolagar e quais os principais desem-penhos e marcos a ressalvar até à data?A Prolagar iniciou a sua actividade no ano de 1993 no Lagar de carvalhais, nome pelo qual era conhecido o lagar clássico e tradi-cional, situado na localidade de carvalhais. Este lagar estava munido com sete prensas e a sua laboração assentava nos métodos tra-dicionais de extracção de azeite. Em 1995, verificou-se a primeira grande remodelação da unidade, no sentido da sua moderniza-ção, salientando-se não só a instalação do pátio de limpeza, como também a total alte-ração da sua sala de fabrico, com a aquisição de uma batedeira vertical e um “decanter” de grande capacidade (120 mil quilos de azeitona por dia). Estas modificações, pela modernidade dos seus equipamentos, fize-ram da Prolagar uma instalação pioneira na zona geográfica do Nordeste Transmonta-no, conferindo-lhe uma grande capacidade de produção e um aumento de produtivi-dade considerável. Actualmente, continua a empresa a prosseguir uma estratégia de modernização, procurando acompanhar a evolução tecnológica verificada no sector, por forma a manter-se competitiva num mercado cada vez mais dificil a nível nacio-nal e internacional. Em Novembro de 2010, a sociedade Prolagar foi adquirida por um conjunto de investidores da região de Mi-randela, que são simultaneamente produto-res de azeitona, tendo a empresa readquiri-do uma dinâmica produtiva de relevo, com especial atenção na qualidade dos produtos fabricados e comercializados sob as marcas “Ouro do Tua” e “Mirandella”.

O slogan “nasce da terra, puro e saudá-vel” significa que, ainda hoje, está bem presente o compromisso com o legado tradicional e toda a história na produção de azeite?Num mundo onde cada vez surgem mais produtos “artificiais”, o slogan não deve ser apenas um conjunto de palavras sem sig-nificado, mas sim um compromisso muito sério de proporcionar aos consumidores uma opção de escolha de produtos naturais, que ao longo dos séculos comprovaram ter virtualidades alimentares sadias.

Numa era onde a optimização tecnológi-ca tem especial destaque, quais os méto-dos utilizados na produção do azeite da Prolagar?começarei por dizer que defendemos e so-mos a favor de tudo aquilo em que a evolu-

ção tecnológica possa proporcionar melho-rias qualitativas e ganhos de eficiência, que permitam às empresas aumentar a sua ca-pacidade competitiva. Assim, pugnamos por manter a Prolagar a laborar de acordo com os métodos que a evolução tecnológica nos proporciona, isto é, depois de seleccionada criteriosamente a matéria prima, transfor-mamo-la por meios mecânicos, a frio, no azeite puro que é o nosso produto.

Os azeites Ouro do Tua e Mirandella são as marcas apresentadas. Como caracte-riza cada uma delas, quer em termos de particularidades quer no que diz respeito ao posicionamento no mercado?A marca “Mirandella” pretende ser uma homenagem e um chamar de atenção para a terra onde o olival e os produtos dele derivados tem um significado muito gran-de na actividade económica da região. Ao criarmos uma embalagem familiar de 5 li-tros com azeite seleccionado de qualidade superior, Virgem Extra dOP (denominação de Origem Protegida), pensamos ser uma boa forma de a Prolagar materializar essa homenagem à terra de Mirandela e às suas laboriosas gentes. A marca “Ouro do Tua” engloba um conjunto de azeites de quali-dade superior e azeite biológico engarra-fados não só em garrafas de 250ml,500ml e 750ml, como também em embalagens fami-liares (garrafões) de 2 e 5 litros.

Tendo em conta a sustentabilidade am-biental e biodiversidade, a produção de azeite biológico é uma realidade?cada vez mais as populações tomam cons-ciência do bem que representa a sua saúde e consequentemente procuram ter hábitos alimentares que a preservem. Por outro lado, os cuidados com a defesa ambiental constituem hoje em dia um dever de todo o cidadão. A utilização de produtos isentos de químicos, isto é, biológicos, tem vindo a aumentar, especialmente em mercados in-ternacionais, onde existe uma maior consci-ência destes problemas.

Quais as estratégias da Prolagar em ter-mos de mercado, quer nacional quer in-ternacional?Em termos de estratégia comercial a Pro-lagar tem vindo a prosseguir três vectores importantes e que são: a qualidade dos seus produtos, o aumento da notoriedade das suas marcas e a conquista de novos merca-dos não só a nível nacional, mas muito espe-cialmente a nível internacional.

empreendedorismo é o termo que nos surge quando olhamos para Jorge Pires, homem que esteve ligado à administração de várias empresas nacionais e lusófonas e ligado inclusive ao governo de Cavaco Silva que, em vez de gozar a plenitude de uma aposentação, resolveu “pegar” – é mesmo esta a expressão – numa empresa definhada por graves problemas económicos e financeiros e tornou-a, num dinâmico trabalho de equipa, numa das mais recentes bandeiras da região e numa das mais promissoras do sector olivícola.

Vontade empreendedora origina sucesso

Prolagar,Lda.

Como encara a evolução do sector do azeite, numa perspectiva de comparação com o sector dos vinhos que teve um “boom” expo-nencial a partir do início do novo milénio?como é sabido, a produção nacional de azei-te tem vindo a aumentar de forma susten-tada nos últimos anos, prevendo-se que a curto prazo Portugal seja auto-suficiente. As áreas de plantação de olival têm vindo a au-mentar, especialmente no Alentejo, com re-curso ao olival intensivo. com esta evolução, o sector do azeite tem, obrigatoriamente, que reforçar a sua profissionalização e criar empresas sólidas, de dimensão e competiti-vas, fortalecendo a capacidade negocial e de conquista de novos mercados. O sector dos vinhos com alguns anos de avanço sobre o do azeite, poderá ser um modelo a seguir para se alcançar o sucesso. Esta evolução poderá vir a ter um forte impacto em regi-ões onde o minifúndio predomine, pois, com a estrutra actual, a capacidade competitiva e

concorrencial dos seus agentes é pratica-mente inexistente. Ganhar dimensão nas áreas de produção (olival) e na transforma-ção, criando-se infraestruturas de distribui-ção e comerciais adquadas, constituem con-dições básicas essenciais para o sucesso do sector do azeite no Nordeste Transmontano.

Quais as apostas que a Prolagar pensa realizar a breve trecho?Face ao anteriormente referido e conside-rando a sua actual dimensão, a Prolagar, situada nas áreas da transformação e da co-mercialização, irá procurar atacar os nichos de mercado consumidores de produtos com características específicas e próprias, ten-tando manter um elevado nível qualitativo da sua oferta.

Jorge Pires

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Paúla, em Cabanas de Torres, no concelho de Alenquer é um pequeno lugar que, para a maioria dos leitores da Pon-

tos de Vista, é totalmente desconhe-cido. Todavia, é nesta aldeia que se encontra o único lagar de azeite no distrito de Lisboa. Nesta freguesia, situada na vertente oeste da Serra de Montejunto, por entre moinhos de vento, lagares de vinho, eiras e azenha, numa viagem que nos leva ao século XX, encontrámos o Lagar do Almocreve. Nesta típica casa de cam-po portuguesa, podemos vislumbrar em funcionamento uma adega, uma destilaria de bagaço e, como mais uma vez ressalvamos, o único lagar de azeite em todo o distrito de Lis-boa. Neste edifício dá-se o encontro da história com os mais modernos métodos de produção.

Zona de forte componente agrícola, Cabanas de Torres tem na OLiCePA, empresa de cariz familiar, uma bandeira no que diz respeito à produção de vinho e azeite. Em entrevista à Pontos de Vista, Artur Nobre traça uma apresentação da empresa por si gerida, bem como faz questão de desmisti-ficar alguma descrença que eventualmente possa existir na opinião pública acerca dos vinhos de mesa, ou não-regionais. “Não ficamos a dever em termos de qualidade”!

“Produzimos o que a região tem de melhor”

OLICEPA

esPAçO FOi CONsTRuídOeM 1963

É no Lagar de Almocreve que está sede-ada a OLicEPA, empresa que se dedica à produção e comercialização de azeite e vinho, cujo proprietário, Artur Nobre, um homem da terra, faz a gestão destes negócios dentro de uma conjuntura na-cional que o próprio apelida de “difícil” mas que não o faz demover dos intuitos de mostrar aos consumidores o que de melhor se produz na região. “Este espa-ço foi construído pelo meu avô há mais de 65 anos, ele que era almocreve, con-dutor de animais de carga, um transpor-te típico de então. O meu avô, que já se dedicava à vitivinicultura, edificou em 1963 o lagar para produção de azeite, sendo que posteriormente foi o meu pai a tomar conta do negócio mas mais dedicado à área do vinho. Mais recen-temente, e como o meu filho se espe-cializou no sector agrícola e alimentar, investimos na modernização de toda a área, seguindo à risca as normas de boas práticas de higiene e segurança alimen-tar, apostando forte na qualidade. Tudo isto resultou na fundação da OLicEPA, que registámos em 1998”, contextualiza o interlocutor.Foi a partir do início do novo milénio que, com organização e empreendedo-rismo, a OLicEPA passou a produzir e a embalar vinho e azeite próprios sob as designações de Vale joaninho – o tinto é feito das castas tinta roriz, alicante bouschet e caladoc e o branco através das castas seara nova, rabo de ovelha e vital –, um vinho não-regional que, para o interlocutor, “em nada deve aos vinhos mais famosos do mercado”; e Lagar do

Almocreve, azeite nas variedades vir-gem e virgem extra. Mais dedicado ao sector dos vinhos, Artur Nobre definiu a comercializa-ção para restaurantes, mini-mercados e venda directa como a estratégia de mercado mais adequada à realidade da empresa, havendo igualmente “alguma exportação pontual, nomeadamente para os mercados holandês e alemão”, explica.

COMeRCiALiZAçãO VAiALARGAR eM PORTuGAL

e ALéM-FRONTeiRAs

No que concerne à vertente do azeite, como a OLicEPA não possui olivais pró-prios, exerce um serviço “à troca”. O em-presário explica: “Cedemos o lagar para a feitura de azeite de matéria-prima vin-da de diversos produtores e cobramos uma percentagem que nos é paga em gé-nero. Não há compra, não há venda, há

Este espaço foi construído pelo meu avô há mais de 65 anos, ele que era almocreve, con-dutor de animais de car-ga, um transporte típico de então

“ “ O meu avô, que já se dedicava à vitivinicul-tura, edificou em 1963 o lagar para produção de azeite

“ “

Cedemos o lagar para a feitura de azeite de matéria-prima vinda de diversos produtores e cobramos uma percenta-gem que nos é paga em género

“ “

uma permuta! do azeite recebido é pro-duzido o Lagar do Almocreve – em ho-menagem ao meu avô –, marca de azeite propriedade da OLicEPA e introduzida no mercado em 2007. Por enquanto este artigo é vendido no nosso espaço e está presente em Lisboa e na loja Por-tugal rural. Este é um azeite decantado de forma natural, não é filtrado, o que confere características muito especiais. Nestas garrafas está, apenas, o que sai da azeitona, nada mais”. A concluir, o en-trevistado passa a mensagem de que a estratégia para o azeite Lagar do Almo-creve vai contemplar o alargamento da comercialização quer em Portugal quer em termos de exportação.

Artur Nobre

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“Estamos perante mercados dinâmicos, e uma conjuntura económica particularmente difícil, pelo que a cria-tividade, a inovação, e o empenho em tudo o que fazemos são pontos fundamentais, para garantir que al-cançamos de forma bem-sucedida os objectivos a que nos propomos”, revela João Cardoso, Administrador da riazor - Azeites e Óleos Vegetais SA, em entrevista à revista Pontos de Vista, onde percebemos os principais motivos que levam esta empresa a uma posição de realce no mercado.

“O desafio é saber fazer mais e melhor”

Riazor - Azeites e Óleos Vegetais SA

Quando é que foi erguida a Riazor - Azeites e Óleos Vegetais SA e de que forma é que tem vindo a perpetuar a sua actuação até ao presente? A riazor surgiu em 2004, tendo como actividade a comercialização de azeites e óleos refinados a granel. Ao longo dos anos tem vindo a conquistar mercado, o que lhe possibilitou recentemente es-tender a sua área de desempenho para o mercado dos embalados.

De que forma caracterizaria os vossos produtos? O que permite com que os mesmos sejam produtos de alta quali-dade e de diversas tipologias?A nossa aposta baseia-se na qualidade não só dos produtos como também dos serviços. Por esse motivo todas as fa-ses do processo são importantes para que se consiga alcançar objectivos num mercado tão competitivo. Obter um bom produto depende de um acompa-nhamento minucioso ao longo da cadeia de valor. desde a matéria-prima até ao produto final.

De que forma a evolução tecnológica, aliada à formação dos profissionais ligados à olivicultura, tem contribu-ído para, à semelhança do sector dos vinhos, aumentar a qualidade do pro-duto final e, assim, potenciar o cresci-mento do sector e da própria marca?Ao longo dos anos tem havido um cres-cente interesse na área da olivicultura. desde os técnicos no terreno que acom-panham e monitorizam o olival, aos la-gares com que trabalhamos e que utili-zam as tecnologias mais avançadas, por forma a garantir cada vez mais a extrac-ção de azeites com qualidade superior e de forma sustentada.

A Riazor comercializa azeites da mais alta qualidade e de diversas tipologias. De que forma é que esta condição lhe tem va-lido prémios nos concursos onde tem par-ticipado? Quais os de maior referência?O trabalho desempenhado reflecte-se na qualidade do produto. Para além do ca-sal da Amendoeira e do Sabor da Olaia, apostamos no Azeite capitoa, como marca e produto com qualidade de ex-celência. Esta aposta foi este ano reco-nhecida a nível nacional e internacional, Medalha de Prata na Ovibeja, Medalha de bronze na Feira da Agricultura de Santarém, Azeitona de Prata, e Melhor

azeite português a concurso em Zurique e Medalha de Prata no prestigiado con-curso Mario Solinas integrado no comi-té Oleícola internacional (cOi).

De que forma se encontra preparada a Riazor ao nível de espaço de vinha e de olival intensivo? Existe a perspecti-va de expandir este espaço? Neste momento contamos já com 400 hectares de olival. O plantio de culti-vares variadas com um exponencial de qualidade fabuloso, irá contribuir sem dúvida para inovar a nossa gama de produto. destacam-se as variedades: Galega, cobrançosa, Picual, Arbequina e Koroneiki. Para o ano que vem está ain-da prevista a plantação de mais 100ha de olival. No que respeita à vinha temos neste momento 130ha de vinha entre os 3 e os 11 anos, na região do Alentejo. Em breve apresentaremos a marca Paço dos infantes, um vinho desta região que obteve vários prémios nacionais e inter-nacionais na qual estamos a trabalhar afincadamente de forma a alcançar o patamar de qualidade que caracteriza todos os produtos que comercializamos.

Que caracterização faz do sector da olivicultura e qual a sua importância/contribuição para o desenvolvimento das actividades rurais no País?O sector da olivicultura tem vindo a ca-tivar cada vez mais o interesse de agri-cultores e empresários. As paisagens de olival fazem parte dos nossos campos, a sua rentabilização e muitas vezes reac-tivação tem vindo felizmente a ser cres-cente. Para além da importância reco-nhecida do azeite numa dieta saudável esta é uma actividade que integra a nos-sa cultura e que merece ser preservada.

Portugal é, por tradição, exportador de azeite. Quais os principais merca-dos e quais as novas oportunidades de negócio que poderão advir? A Riazor já se encontra em mercados interna-cionais? Se sim, quais? Que expectati-vas para o futuro? Na generalidade os principais mercados serão o brasil, EUA, EU e china, merca-dos em que de resto também apostamos para exportação dos nossos produtos. O consumo do azeite tem vindo a aumen-tar a nível mundial e como tal existem mercados nos quais valerá a pena apos-tar. iremos aliar os azeites aos vinhos e

no fundo procurar exportar um pouco da nossa cultura. É fundamental integrar es-tes paladares com outros da gastronomia portuguesa, aprimorados pelo magnífico cariz turístico que o nosso país tem.

Na última década houve um cresci-mento médio no consumo de azeite, a nível internacional, na ordem dos três por cento. Portugal está entre os prin-cipais consumidores mundiais? Que lacunas ainda detecta neste mercado? divulgar as mais-valias do azeite como gordura de eleição pelas suas caracte-rísticas organolépticas e nutricionais, é um trabalho que se faz todos os dias cá dentro e lá fora. A globalização contri-bui para a generalização da informação, bem como o esforço de diversas empre-sas que contribuem para este objectivo. É de realçar o trabalho meritório da

casa do Azeite, que tem vindo ao longo de algumas décadas, a levar os Azeites Portugueses além-fronteiras.

Quais são os principais desafios que se colocam à Riazor? Diria que o desafio de todos os dias é saber fazer mais e melhor. Para além das nossas marcas, estamos neste mo-mento a embalar para a Grande distri-buição, sendo esta para nós, uma aposta de suma importância. Estamos perante mercados dinâmicos, e uma conjuntura económica particularmente difícil, pelo que a criatividade, a inovação, e o empe-nho em tudo o que fazemos são pontos fundamentais, para garantir que alcan-çamos de forma bem-sucedida os objec-tivos a que nos propomos.

LEr NA íNTEGrAwww.PONTOSdEViSTA.cOM.PT

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Fica situada em Abrantes, Ri-batejo, uma das empresas que mais aposta na vanguarda da produção de azeite, aliando a

inovação às melhores práticas tradi-cionais que década após década fize-ram parte da região cuja paisagem se estende por entre olivais, cultivo, afi-nal de contas, tão importante para as populações locais. A Sociedade Agrícola Ouro Vegetal, pro-jecto que nasce em 2004 por intermédio de Alberto Serralha e ilídio Francisco vem dar uma lufada de ar fresco a um sector que, à semelhança dos vinhos, necessitava de dar um salto qualitativo. E tal como os vinhos nacionais são, hoje, uma referência internacional, o azeite português também o começa a ser: o consumidor final é cada vez mais conhe-cedor e exigente e o azeite nacional é sinónimo de qualidade.Para conhecer melhor a actividade desta sociedade produtora, a equipa de repor-tagem da Pontos de Vista esteve nesta zona de grande tradição olivícola e cons-tatou, in loco, os métodos de trabalho da SAOV. como interlocutora tivemos rita Marques, responsável técnica da empre-sa, que entre outros assuntos nos expli-cou a receita do sucesso dos produtos SAOV. “Tudo começou há cerca de sete anos, quando ainda trabalhávamos com dois lagares arrendados e compráva-mos azeitona a diversos produtores do país. Em 2005 sentimos a necessidade de controlar a produção dessa matéria--prima e, nesse sentido, estabelecemos um contrato de exploração com a Quinta do Pouchão, herdade muito próxima às nossas instalações, na qual possuímos cerca de 250 hectares de olival, desde o tradicional até ao intensivo e com uma grande variedade de azeitona; a SAOV faz o controlo da qualidade da matéria--prima, sendo que o facto da quinta se situar perto do lagar permite-nos, após

a apanha, trazer de imediato a azeito-na e laborá-la, não se perdendo as suas qualidades”, contextualiza rita Marques.As actuais instalações, inauguradas em 2009, são sinónimo de proactividade e empreendedorismo. O investimento na inovação e melhoria de processos de fei-tura revelaram-se acertados: “nesse ano reuniram-se todas as condições para de-senvolvermos um trabalho de qualidade superior, que nos permite, além do já re-ferido controlo da matéria-prima, cum-prir os requisitos em termos de higiene e segurança alimentar para a produção de azeite, tem em vista a finalidade úni-ca de aumentar a excelência das nossas marcas. A nossa aposta é, indubitavel-mente, a diferenciação pela qualidade”.De referir que a edificação desta moder-na infraestrutura era um sonho antigo de ilídio Francisco que, infelizmente, não a pôde ver concluída tendo falecido vítima de acidente de trabalho alguns meses an-tes da inauguração. “Foi um choque para todos nós e demoramos imenso a recupe-rar emocionalmente da perda. Esta obra é a melhor homenagem que podemos fazer ao ilídio”, confessa rita Marques.

MARCAs de AZeiTes

Advindo essencialmente da azeitona ga-lega e cobrançosa (indígenas da região

São os maiores produtores de azei-tona do ribatejo e a sua gama de azeites já obteve os mais variados galardões nacionais e internacio-nais. Digno representante do azei-te português além-fronteiras, a SAOV combina as mais modernas formas de produção com o conhe-cimento, saber e tradição trans-mitido de geração em geração. Os prémios falam por si…

Na peugadado sucesso

SAOV – Sociedade Agrícola Ouro Vegetal, Lda.

ribatejana), muito embora, como nos adiantou Rita Marques, “se adquira ou-tras variedades para atribuição de acrés-cimo de outas propriedades organolép-ticas”, a gama de azeites com a chancela da Sociedade Agrícola Ouro Vegetal tem granjeado um vasto leque de admirado-res. E voltamos a sublinhar: os prémios falam por si! (Ver caixa de prémios).A reunião das variedades de azeitonas e os testes e provas que vão fazendo em laboratório têm como resultado final azeite de alta qualidade a preços compe-titivos, transportando esse saber fazer em duas marcas comercializadas: cabe-ço das Nogueiras e Quinta do Pouchão. A marca cabeço das Nogueiras é a pri-meira, tendo sido aquela que deu início à actividade da SAOV, dentro da qual se destacam os lotes cabeço das Nogueiras Premium (que inclui no currículo um vasto rol de prémios), cabeço das No-gueiras Virgem Extra, uma gama mais intermédia e mais acessível ao consumi-dor final e o Cabeço das Nogueiras Vir-gem, mais apontado para a restauração. Devido à filiação no Clube de Produtores do continente, foi criada a marca Quinta do Pouchão, de venda exclusiva nos hi-permercados Modelo e continente. Tra-ta-se de um azeite com designação dOP (denominação de Origem Protegida) “Azeite do Ribatejo”, composto exclusi-

vamente por azeitonas das variedades Galega e cobrançosa. Diversificar a oferta é condição impor-tante na política da empresa, sendo que indústria da restauração, lojas gourmet, grande distribuição e venda directa são pontos abrangidos pela estratégia de mercado da Sociedade Agrícola Ouro Ve-getal. Para a entrevistada, o mercado ex-terno não é, de forma alguma, olvidado, “embora haja muitas demandas a serem envidadas. Suíça, bélgica, Hungria, Esta-dos Unidos e china são o foco actual da nossa política de exportação. Até ao mo-mento a aposta nos mercados internacio-nais tem corrido de acordo com as nossas expectativas, objectivo que definimos de forma paulatina e sustentada”, descreve. Ao invés de outras actividades de cariz agrícola a olivicultura é um sector que tem crescido, beneficiando, também, das campanhas de comunicação relati-vas aos benefícios do consumo de azei-te. desde 2004 que o volume de vendas da SAOV tem aumentado sem quebras, reflectindo o crescente do consumo de azeite que está intimamente ligado à melhoria substantiva na qualidade do mesmo. A concluir, uma boa notícia para os em-presários do sector que pretendem ver o seu trabalho reconhecido. A SAOV re-cebeu, já este ano, um prémio inovação atribuído pela SONAE. Tal se refere ao método inovador do sistema de arre-fecimento da pasta de azeitona que au-menta ainda mais as potencialidades do azeite – uma vez que é extraído a baixas temperaturas – processo esse que se re-flecte no produto final.

Prémios e menções Em pouco mais de sete anos, o azeite Cabeço das Nogueiras acu-mulou dezenas de prémios nacionais e internacionais. Não referi-remos todos, deixamos para o leitor as menções deste ano, quiçá as mais relevantes no historial da SAOV:Medalha de ouro no Concurso Internacional da Qualidade Mário Salinas em Madrid; Prémio da Qualidade de Azeite Virgem Extra na Feira Expoliva (Espanha); Grand Prestige Gold no Concurso In-ternacional Terraolivo (Israel); Medalha de ouro no Concurso Na-cional de Azeite Virgem Extra na Feira Nacional de Agricultura de Santarém.

Alberto Serralha e Ilídio Francisco

PV12 eXCeLÊNCiA dOs PROduTOs PORTuGueses

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