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Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda. Suplemento distribuído em conjunto com o jornal Público a nível nacional e não pode ser vendido separadamente MAIO 2014 / EDIÇÃO Nº 35 - Periodicidade Mensal Venda por Assinatura - 4 Euros DIA NACIONAL DE PREVENÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO MIGUEL CRUZ – PRESIDENTE DO IAPMEI E A INOVAÇÃO DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS FRANCISCO SALVADOR “A QUALIDADE DAS PERITAGENS EM PORTUGAL é ELEVADA, AO NíVEL DAS MELHORES PRáTICAS EUROPEIAS” Administrador Executivo da GEP – Gestão de Peritagens, S.A. afirma: ANTÓNIO SARAIVA, PRESIDENTE DA CIP pág. 13 VERIFONE INOVAÇÃO E VALOR pág. 25 ANTONIO RAAB DIRETOR GERAL DA HILTI PORTUGAL EM DESTAQUE pág. 8 Fotografia: Diana Quintela de Vista Pontos ESPECIAL IV ANIVERSáRIO

Revista Pontos de Vista Edição 35

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Page 1: Revista Pontos de Vista Edição 35

Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda.Suplemento distribuído em conjunto com o jornal Público a nível nacional e não pode ser vendido separadamente

MAIO 2014 / EDIÇÃO Nº 35 - Periodicidade MensalVenda por Assinatura - 4 Euros

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Francisco salvador

“a qualidade das peritagens em portugal é elevada, ao nível das

melhores práticas europeias”

Administrador Executivo da GEP – Gestão de Peritagens, S.A. afirma:

ANTÓNIO SARAIVA,PRESIDENTE DA CIP

pág. 13

VERIFONEINOVAÇÃO E VALOR

pág. 25

ANTONIO RAABDIRETOR GERALDA HILTI PORTUGAL EM DESTAQUE

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de Vistapontos especial iv aniversário

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A Revista Pontos de Vista comemora neste mês quatro anos de existência. Depois de 34 edições lançadas para o público, que significado tem esta 35ª edição e este quarto aniversário?A 35ª edição não gera nenhum sentimento dife-rente das anteriores, toda a equipa irá sofrer uma certa angústia até ver a revista nas bancas, sub-sistem sempre dúvidas se está tudo em ordem, um erro ortográfico, uma legenda trocada, entre outros. A diferença reside mesmo nos quatro anos de existência da publicação. Durante esse tempo procuramos apresentar ao leitor da revista alguns dos projetos (públicos, privados e projetos público-privados) que visam a melhoria da com-petitividade do país, de uma região, de um setor. Projetos que possuam como objetivo dar resposta a problemas comuns, traduzindo os seus resulta-dos na provisão de bens públicos e na geração de externalidades positivas indutoras de efeitos de arrastamento na economia.

Quais foram as principais vicissitudes encontra-das ao longo deste projeto? De que forma têm conseguido contornar essas dificuldades e colo-car a Revista Pontos de Vista ao alcance de todos os cidadãos? As vicissitudes deste projeto foram um pouco mitigadas pela experiência que cada um dos ele-mentos que compôs o grupo inicial trouxe. De resto todas as barreiras e obstáculos que se depa-raram foram sendo ultrapassados “caminhando”. Como a revista não é um produto de moda nem focaliza os seus conteúdos numa janela de tempo equacionada por determinados acontecimentos é comum encontrar várias edições ao dispor dos leitores em hotéis, feiras, workshops ou locais de atendimento ao público. O seu conteúdo edito-

rial não se esgota no dia que vai para as bancas como encarte do Jornal “Público”, em última ins-tância qualquer cidadão tem acesso às edições via internet ou na Biblioteca Nacional.

Afinal, o que significa e o que é a Revista Pontos de Vista? É mais uma publicação semelhante a outras presentes no mercado…? O que marca a diferença da mesma? A Revista Pontos de Vista é e será sempre um espaço aberto de veiculação de opiniões, não é a interpretação das palavras de um interlocutor ou entrevistado, não é a política do “se”, se ele afirmou isto é porque pode ser aquilo ou se isto é assim é porque não é bem assim, não! É a sua mensagem, o seu ponto de vista sobre uma determinada temá-tica ou questão. Temos a consciência que existem outras publicações no mercado, e ainda bem que existem. Do meu ponto de vista as publicações deste género dividem-se em três grandes grupos, os inovadores, como a Revista Pontos de Vista que procuram apresentar conteúdos editoriais distin-tos pouco conhecidos do público, que investem num layout gráfico apelativo em que se privilegia a informação. Depois temos o grupo dos imitadores, que são aqueles que embora não tenham capacida-de nem formação adequada, aproveitam as nossas edições para efetuar benchmarking. Por último temos o grupo dos «idiotas», que não percebem nada de publicações e das suas vicissitudes, mas entendem que produzir uma revista ou um suple-mento é o mesmo que organizar uma «caderneta de cromos» ou fazer enchidos, em que a política seguida é a do “toca e foge”. A longevidade da Re-vista Pontos de Vista sob a mesma direção e sob a mesma visão editorial é a prova diferenciadora que nos consagra líder neste segmento de mercado.

«O Homem sonha e a obra nasce». Este bem que poderia ser o desígnio da edificação do projeto da Revista Pontos de Vista que completa quatro anos de existência este mês. 35 edições e muitos «Pontos de Vista» aqui redigidos por parte daqueles que muito têm dado ao nosso país, mas que nem sempre são ouvidos. A redação da Revista Pontos de Vista conversou com Jorge Antunes, Administrador da Horizonte de Palavras, detentora desta publicação. Os quatro anos de atividade foram o mote desta conversa.

Fomos tentar compreender como tem este projeto crescido e deixado a sua marca. Porque nada como um Ponto de Vista para fazer singrar a nossa opinião e cimentar a nossa comunicação.

Uma IdeIa, Uma ComUnICação,um ponto de vista

Aquando da sua génese, em 2010, Portugal já passava por uma enorme crise financeira. Desta forma, porquê esta aposta num meio de comu-nicação social sabendo que houve um “abranda-mento” forte da economia e que por consequên-cia as empresas “cortam” imediatamente na sua comunicação para fazer face aos custos? A Revista Pontos de Vista, como órgão de comu-nicação social, nasceu de um conjunto de situações anormais, num ano anormal e normalmente não se queixa da crise económica. A situação do país era difícil e assim continua, mas existe sempre espaço para bons projetos e para pessoas com vontade de vencer e de lutar. Não vou fazer deste projeto um hino ao empreendedorismo, até porque a banali-zação da própria palavra acabou por retirar o méri-to aos verdadeiros empreendedores, mas a criação da revista exigiu muito sangue, suor e lágrimas das pessoas que o iniciaram. Ser-se empreendedor não é a criação do próprio emprego como muitos fa-zem crer, representa um custo social e psicológico enorme. Uma má decisão pode levar o empreende-dor a perder tudo, a casa, o carro, os rendimentos do cônjuge, e muito mais. Por isso se não vai criar algo diferente ou de valor, não arrisque.O investimento em comunicação por parte das empresas diminuiu mas, existe sempre um ponto de equilíbrio entre o orçamento de marketing e os resultados das vendas. O que se denota mais nos investimentos é a seletividade nos meios e o profissionalismo dos departamentos de marketing com base nas ferramentas que dispõem.

Quais os desafios futuros da Revista Pontos de Vista e que mensagem lhe aprazaria deixar a to-dos os leitores da mesma? O maior desafio da Revista Pontos de Vista tem sido encontrar recursos humanos adequados ne-cessário ao crescimento da equipa. Em quatro anos duplicamos os recursos humanos mas desejávamos mais. Um outro desafio será a internacionalização da publicação, fazer a distribuição num dos países da CPLP com um parceiro local. Já distribuímos algumas edições em Angola e Moçambique mas sem regularidade, casos pontuais fruto de parcerias esporádicas. Existe o interesse das organizações apresentarem os seus projetos promovendo o in-cremento das relações a nível produtivo e comercial entre Países de modo a estimular o progresso eco-nómico e social, mas os custos de envio e desalfan-degamento ou de produção no próprio país não são competitivos. Pode ser que com os novos fundos comunitários destinados à comunicação social ve-nha a ser possível a internacionalização.

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4º ANIVERSÁRIO PONTOS DE VISTA

Jorge Antunes

LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

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Ficha técnica Os artigos nesta publicação são da respon-sabilidade dos seus autores e não expres-sam necessariamente a opinião do editor. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. A pagi-nação é efectuada de acordo com os inter-esses editoriais e técnicos da revista, excepto nos anúncios com a localização obrigatória paga. O editor não se responsabiliza pelas inserções com erros, lapsos ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes. Quais-quer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabilidade do editor.

Propriedade, Edição, Administração e AutorHorizonte de Palavras– Edições Unipessoal, Lda

Administração – Redação – Depº GráficoRua Rei Ramiro 870, 5º A4400 – 281 Vila Nova de GaiaTelefone/Fax +351 220 926 879

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ImpressãoLidergrafDistribuição Nacional | Periodicidade MensalRegisto ERC nº 126093NIF: 509236448ISSN: 2182-3197 | Dep. Legal: 374222/14Distribuição Nacional gratuita com o Jornal Público

DIRETOR: Jorge AntunesEDITOR: Ricardo AndradePRODUÇÃO DE CONTEÚDOS:Andreia Azevedo | Sara SoaresGESTÃO DE COMUNICAÇÃO:João Soares | José Moreira | Luís AlvesMiguel Beirão

em destaque Índice de TeMAS

46Cm aLPIaRça

Em ano de Centenário, Alpiarça assume-se como um concelho de enorme potencial e valia.Mário Pereira, edil da autarquia de Alpiarça, deu-nos o retrato deAlpiarça, lembrando, acima de tudo, as importância que as«gentes» da terra têm tido. Conheça ainda a Casa dos Patudos, a casa de José Mascarenhas Relvas, um dos mais proeminentescidadãos de Alpiarça.

65emBaIXada da PoLÓnIa

Bogdan Zagrobelny, 1º Conselheiro e Chefe do Departamento de Promoção do Comércio e do Investimento da Embaixada da Polónia em Lisboa, em entrevista sobre as potencialidades das relações entre Portugal e a Polónia. O que falta fazer? Quais as mais valias? Quais os desafios?

58InFaRmed

A Farmacovigilância tem como principal objetivo a proteção da Saúde Pública, a fim de prevenir, detetar e avaliar reações adversas aos medicamentos de uso humano que se encontram no mercado. Eurico Castro Alves, Presidente do Conselho Diretivo do INFARMED, I.P., revela a importância da Farmacovigilância.

AssinaturasPara assinar ligue +351 220 926 877 ou envie o seu pedido para Autor Horizonte de Palavras– Edições Unipessoal, Lda - Rua Rei Ramiro 870, 5º A, 4400 – 281 Vila Nova de GaiaFax 220 993 250E-mail: [email protected]ço de capa: 4,00 euros (iva incluído a 6%)Assinatura anual (11 edições):Portugal: 40 euros (iva incluído a 6%),Europa: 65 euros, Resto do Mundo: 60 euros

*O conteúdo editorial da Revista Pontos de Vista é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.

especial iv aniversário

6 Propriedade Industrial8 Peritagens de Qualidade14 Consultoria18 Dia Nacional da Energia23 Dia Internacional da Biodiversidade25 Inovação com Valor26 Qualidade de Vida28 Educação & Formação32 Tempo para pensar34 Dia Nacional da Prevenção e Segurança no Trabalho 43 Fórum do Mar

44 Dia Internacional dos Museus52 Dia Internacional do Café55 Ano Europeu Contra o Desperdício Alimentar 58 Saúde em Portugal66 Relações bilaterais Portugal/Suíça72 Relações bilaterais Portugal/Rússia

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1 • Antes de encerrar o tema que tem sido tratado nestes últimos me-ses – a contrafação com agregação ou adjunção – parece importante voltar a analisar o conceito de imitação de marca registada, que é fundamental para uma decisão correta para o registo de marcas. Este aspeto foi já tratado em artigo relativo à imitação de marca por contrafação com agregação (novembro de 2013), onde se salienta-ram dois pontos verdadeiramente essenciais:

a) Que a imitação tanto pode resultar da conjugação ou combinação de vários elementos existentes em ambas as marcas, como da existência de um só elemento comum, se este for de tal forma saliente e predominante

que domine o conjunto e lhe imprima a semelhança necessária para determinar a confusão; e

b) Que a semelhança de conjunto – sendo, sem dúvida, importante – não é determinante na apreciação do conceito de imitação.

2 • Em todo o caso, continuam a aparecer despachos de registos que foram concedidos porque não haveria semelhança no aspeto de conjunto das marcas. Há uma falta de coerência nestas decisões que é indispensável cor-rigir, até porque também são recusados registos sem atender à falta de semelhança do aspeto de conjunto.

3 • A verdade é que nem a Diretiva de 1988, ou a sua versão revista de 2008, fazem qualquer referência ao aspeto de conjunto das marcas, sucedendo o mesmo com o nosso Código da Propriedade Industrial.

4 • A Diretiva 89/104/CEE do Conselho, de 21 de dezembro de 1988, que harmoniza as legislações dos Estados Membros em ma-

o ConCeITo de ImITaçãode marca registada

téria de marcas, foi alterada pela Diretiva 2008/95/CE, do Parla-mento e do Conselho, de 22 de outubro de 2008, onde o problema da imitação de marcas registadas vem tratado no artigo 5º, referindo os direitos conferidos pela marca, da seguinte forma:

“1. A marca registada confere ao seu titular um direito exclusivo. O ti-tular fica habilitado a proibir que um terceiro, sem o seu consentimento, faça uso na vida comercial:

a) De qualquer sinal idêntico à marca para produtos ou serviços idênticos àqueles para os quais a marca foi registada;

b) De um sinal relativamente ao qual, devido à sua identidade ou se-melhança dos produtos ou serviços a que a marca e o sinal se destinam, exista um risco de confusão, no espirito do publico; o risco de confusão compreende o risco de associação entre o sinal e a marca.”

5 • Estas disposições da Diretiva de 2008 – bastante semelhante à de 1988 – foram transpostas para a lei portuguesa, da seguinte forma:

a) “O registo confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina” (artigo 224º, nº1, do Código da Propriedade Industrial).

b) E o artigo 245º, nº 1, acrescenta: 1. A marca registada considera-se imitada ou usurpada por outra, no todo ou em parte, quando, cumulativamente:

“a) A marca registada tiver prioridade;

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

A CONTRAFAÇÃO COM AGREGAÇÃO E OS ASPETOS DOMINANTES E DE CONJUNTO DAS MARCAS

A OPINIÃO DE Jorge Cruz, Agente Oficial da Propriedade Industrial

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b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou afins;

c)Tenham tal semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra que in-duza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma a que o consumidor não as possa distinguir senão depois de exame atento ou confronto.”

6 • Não há, portanto, quaisquer exigências de semelhança do aspeto de conjunto, que não passa de uma fantasia sem suporte legal – bas-tando referir, por exemplo, que o consumidor não dispõe, em regra, das duas marcas para comparar o conjunto dos seus elementos.

Aliás, como parece óbvio, a semelhança do aspeto de conjunto ape-nas se aplicaria às marcas mistas ou figurativas.

7 • Enunciados os princípios, resta analisar como deverão ser aplicados.

A este respeito é importante verificar que a sentença proferida pelo 1º Juízo do Tribunal da Propriedade Intelectual, relativamente ao caso do registo da marca nº 495560, para concluir se entre as marcas em conflito (“LISBOA GLAMOUR WEEK” e “ “GLAMOUR”), se verifica uma situação de imitação, começa por referir o artigo 224º, nº 1, do Código da Propriedade Industrial:

“A questão que, nestes autos, importa analisar é saber se entre a marca nacional nº 495560 “LISBOA GLAMOUR WEEK” (mista) e a(s) marca(s) da(s) recorrente(s) se verifica uma situação de imitação.”……….“Pelo registo o titular adquire o direito de propriedade e o exclusivo da marca para os produtos e serviços a que se destina (artigo 224º, nº 1, do Código da Propriedade Industrial), conferindo-lhe o registo o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício das ati-vidades económicas, qualquer sinal igual ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos ou serviços, possa causar um risco de confusão, ou de associação, no espirito do consumidor (artigo 258º do Código da Propriedade In-dustrial).

O titular de marca registada adquire o direito de a usar, em exclusivo, para os produtos indicados no seu pedido de registo, pelo que os tercei-ros, ao escolherem as marcas para os seus produtos e serviços , têm que evidenciar espirito criativo e inovatório, de forma que as marcas que pretendem registar, por um lado, cumpram a referida função distintiva e, pelo outro, não sejam iguais ou confundíveis para os mesmos produtos ou serviços, ou para os produtos ou serviços que revelem uma relação de afinidade (principio da especialidade) – cf. artigo 224º, nº 1, do Código da Propriedade Industrial.”

Este é, na verdade, o princípio mais importante a tomar em conside-ração: o registo confere ao respetivo titular o direito de propriedade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina.

E este direito vem assegurado pelo nº 3 do artigo 245º do nosso Código:

“Considera-se imitação ou usurpação parcial de marca o uso de certa denomi-nação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada.”

Fica claro que não poderá ser concedido qualquer registo de marca que contenha

a) Reprodução de marca já registada para produtos ou serviços idênticos ou afins; ou

b) Apenas certa denominação de fantasia que faça parte dessa marca.

Por outras palavras: a contrafação com agregação é expressamente proibida pelo Código da Propriedade Industrial.

8 • Portanto, na análise a fazer para apurar da registabilidade de determinada marca, a primeira preocupação deve ser se esta contém reprodução total ou parcial de marca já registada para produtos ou serviços idênticos ou afins.

Em caso afirmativo, o assunto fica encerrado e o registo deverá ser recusado.

9 • Se esse não for o caso, a análise da existência de imitação pros-segue com a procura das semelhanças referidas na alínea c), nº 1, do artigo 245º do Código da Propriedade Industrial (gráfica, figurativa ou fonética) e ainda outras que possam ser aplicáveis, como a seme-lhança conceptual ou o aspeto de conjunto.

10 • Assim, a semelhança do aspeto de conjunto, sendo, sem dúvida, um fundamento de recusa de registo de marcas, não é o mais im-portante, nem exigível como condição “sine qua non” para que possa falar-se em imitação de marca registada.

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“Fica claro que não poderá ser concedido qualquer registo de marca que contenha a) Reprodução de marca já registada para produtos ou serviços idênticos ou afins;b) Apenas certa denominação de fantasia que faça parte dessa marca.Por outras palavras: a contrafação com agregação é expressamente proibida pelo Código da Propriedade Industrial”

“Este é, na verdade, o princípio mais impor-tante a tomar em consideração: o registo con-fere ao respetivo titular o direito de proprie-dade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina”

especial iv aniversário

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Quando é que foi edificada a GEP – Gestão de Pe-ritagens, que tipos de peritagens faz e como se encontra organizada?A GEP foi criada em 1996. Na altura dedicava--se exclusivamente à prestação de serviços de peritagem automóvel, mais precisamente na ava-liação dos danos em veículos automóveis, resul-tantes de acidentes de viação. Mais tarde a nossa atividade foi sendo progressivamente alargada à prestação de serviços de Averiguação de Sinis-tros, Prevenção da Fraude e Reconstrução Técni-ca de Acidentes. No início de 2008 iniciamos a prestação de serviços de Peritagens Patrimoniais, incluindo os riscos industriais e engenharias. Te-mos uma estrutura simples e por isso ágil, que assenta nas três grandes linhas de negócio, Peri-tagens Automóvel, Averiguações de Sinistros e Peritagens Patrimoniais e num Staff Técnico e Administrativo de suporte.

No domínio da GEP, de que forma estão e são preparados os vossos peritos? Que investimento tem sido realizado ao nível da formação na área da peritagem por parte da GEP nos últimos anos? A GEP avalia anualmente o seu desempenho e os resultados das auditorias técnicas a que a se submete. Em função disso, determina o plano de formação a que tem de submeter todos os seus peritos, com vista à melhoria contínua das res-petivas competências técnicas e comportamen-tais. Fazemos deste processo de trabalho um dos princípios base da nossa organização e investi-mos fortemente nele.

Na preparação desta entrevista pudemos cons-tatar que a GEP é uma empresa certificada, que os vossos peritos automóveis e patrimoniais são igualmente certificados e, ouvidos alguns deles, ficámos com a sensação que trabalharem na GEP é sinónimo de reconhecimento dessa qualidade. O que pode dizer relativamente a isto?De facto assim é. A GEP possui desde há prati-camente sete anos a certificação de qualidade ISO 9001. A dado momento entendemos que não bas-tava acreditarmos que tínhamos uma organização eficiente, assente em bons processos de trabalho, em pessoas qualificadas e em bons resultados. Era importante submetermo-nos a um processo de certificação exigente como forma de reconheci-

“Há uns anos a esta parte, iniciámos um projeto que denominámos internamente de «humanização do perito». Consistiu exatamente em preparar os peritos para os fazer sair do seu “casulo” e começarem a ter a disponibilidade para falar com os proprietários e

explicar-lhes com transparência o porquê das opções técnicas tomadas”, afirma Francisco Salvador, Administrador Executivo da GEP – Gestão de Peritagens, S.A. em entrevista à Revista Pontos de Vista. Mais do que perceber o papel da GEP no seu vasto domínio ao

nível das peritagens, nesta conversa ficámos a conhecer o que tem sido realizado no âmbito da «humanização do perito», em prol de uma relação com o cidadão mais credível e de maior confiança. Saiba mais.

“a CeRTIFICação dos PeRITosé o gaRanTe da qUaLIdade

que o seu papel tem na cadeia de valorda regularização de sinistros”

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PERITAGENS DE QUALIDADE

Francisco Salvador

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especial iv aniversário

mento externo do que fazemos e de como o faze-mos. Atendendo ao estádio organizacional em que nos encontrávamos foi possível obter a certificação em apenas nove meses e sem qualquer não confor-midade. Aliás, constitui para nós um orgulho e um sinal de reconhecimento o facto de pertencermos ao número restrito de empresas que viram a sua certificação ser submetida a seis auditorias conse-cutivas, sempre sem qualquer não conformidade. Efetivamente os peritos da GEP são certificados. Os patrimoniais estão desde 2008 certificados pelo CICCOPN - Centro de Formação Profis-sional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas no Norte – em danos em edificações. Os automóveis são certificados há cerca de sete anos. Esta certificação, da responsabilidade do Centro Zaragoza – Instituto de Investigação sobre a Re-paração de Veículos -, um dos mais reputados cen-tros de investigação automóvel da Europa, foi rea-lizada segundo os mais rigorosos critérios técnicos e, sendo válida por três anos, vai este ano obrigar a uma segunda renovação. E, para lhe dar a noção da importância que isto tem para a GEP, refiro que se algum perito não conseguir renovar a sua certifi-cação, deixará automaticamente de poder exercer a sua profissão para a GEP. Por tudo o que acabei de referir é natural que tenham tido a possibilidade de verificar o orgulho que em geral os peritos sen-tem em trabalhar para a GEP, exatamente porque se sentem permanentemente valorizados.

O Perito nunca foi «visto» com bons olhos por par-te do cliente lesado e na resolução dos problemas e na solução dos mesmos. Para que este paradig-ma cético mude, «basta» que os peritos trabalhem de uma forma isenta e independente? O facto do perito ser pago pelas instituições seguradoras po-derá dificultar essa confiança do cliente lesado ou não existe aqui qualquer choque de interesses? No que à GEP diz respeito julgo que essa ima-gem está ultrapassada. Todo o investimento feito na qualificação dos peritos, nas ferramentas que utiliza e na abordagem comportamental têm possibilitado essa mudança de opinião. Mas há que reconhecer que nem sempre foi assim e que

a mudança teve de começar em nós e na forma como entendíamos a peritagem. Há uns anos a esta parte, iniciámos um projeto que denominá-mos internamente de “humanização do perito”. Consistiu exatamente em preparar os peritos para os fazer sair do seu “casulo” e começarem a ter a disponibilidade para falar com os pro-prietários e explicar-lhes com transparência o porque das opções técnicas tomadas. Mais, este projeto visou reposicionar o perito, colocando--o claramente numa posição equidistante entre a seguradora e o proprietário, enquanto entidade responsável por determinar com rigor a melhor forma de repor o veículo ou a habitação na situa-ção anterior ao acidente e com isso prestar o me-lhor serviço aos segurados ou lesados. Os peritos têm por isso de trabalhar de uma forma isenta e independente. Só assim são peritos. Não vejo por isso que possam existir conflitos de interesses, quando a missão dos peritos é posicionarem-se equidistantes entre as seguradoras e os proprie-tários. Os conflitos só existiriam se alguma das procurasse quebrar a imprescindível indepen-dência técnica, que constitui a pedra basilar do trabalho do perito.

De que forma pode ser explicado o facto de não existir qualquer legislação que regule esta ativi-dade, sabendo à partida que tem uma relevância essencial no processo de quantificação e enqua-dramento dos prejuízos e consequentemente do processo de regularização dos sinistros? É de facto difícil de explicar, atendendo à im-portância que esta atividade tem no processo de quantificação e enquadramento dos prejuízos e consequentemente do processo de regularização dos sinistros, isto apesar dos esforços que têm vindo a ser desenvolvidos. Há no entanto uma questão que gostaria que ficasse clara para todos: apesar da inexistência de legislação específica, o que aliás acontece em tantos outros países euro-peus, na GEP as peritagens são feitas por pesso-as qualificadas para o fazerem e, na esmagadora maioria dos casos, são aceites por todas as partes envolvidas.

No passado a Associação Portuguesa de Segura-doras compôs e fez aprovar por todas as Segu-radoras suas associadas, um código de conduta que, apesar de ter sido dirigido especialmente aos Peritos Averiguadores, é aplicável a todos os que fazem da peritagem o seu trabalho. É este o rumo? E a GEP o que tem feito neste sentido? É efetivamente aplicável a todos os peritos, inde-pendentemente da sua área de atuação ou espe-cialização. Na GEP, “o código de conduta e ética profissional” é por isso parte integrante dos con-tratos de prestação e serviço de todos os peritos.

De que forma é que tem vindo a preconizar um trabalho reconhecido pelos seus pares em prol de um melhor relacionamento entre peritos de segu-ros automóvel e as oficinas? A relação com as oficinas evoluiu muito ao longo dos tempos e hoje não temos dúvidas em referir que estamos perante uma relação profissional de respeito mútuo, alicerçada no objetivo comum da satisfação dos clientes das seguradoras e proprie-tários dos veículos. Mas chegar aqui não foi fá-cil: implicou um grande investimento técnico na formação dos peritos, na adoção de ferramentas de cálculo de reparação e de tabelas de pintura e uma mudança comportamental muito acentua-da, diria mesmo, radicalmente oposta à verifica-da num passado não muito distante. E, há que reconhecê-lo, o mesmo se passou relativamente às oficinas, que estão cada vez mais bem apetre-chadas tecnicamente e dotadas de pessoal igual-mente qualificado. Resumindo, quando peritos e oficinas primam pela competência e pelo respeito pelo traba-lho que cada um desempenha, o resto vem por acréscimo e, posso garantir-lhe, tudo se torna mais fácil.

Os peritos automóveis da GEP são os únicos cer-tificados em Portugal? Porque é que os outros não o são?Sim, são efetivamente os únicos. E isso diferen-cia-os, diferencia-nos e, sobretudo, é reconheci-do. Quanto aos outros e sem colocar em causa a sua competência técnica, julgo que a razão estará diretamente relacionada com a falta de oportuni-dade de quem de direito para que sejam criadas as condições necessárias a essa certificação. É tudo uma questão de prioridades e de se decidir onde se quer investir ou, simplesmente, se se quer investir na qualificação das pessoas.

No âmbito das soluções que viabilizem as repa-rações em detrimento das perdas totais, como forma de salvaguardar os interesses de todas as partes envolvidas (proprietários/seguradoras e oficinas), acredita que o cenário atualmente é ou-tro, ou seja, assiste-se a uma evolução positiva?A resposta a esta questão é muito simples. Tudo o que as partes envolvidas puderem fazer para viabilizar reparações em detrimento das perdas totais é positivo para todos: os proprietários que vêm os seus veículos ser repostos na situação que se encontravam antes do acidente, as oficinas que fazem as reparações e as seguradoras que, pagando sensivelmente o mesmo que pagariam em caso de perda total, acabam por prestar um melhor serviço aos seus clientes e, desta forma, vêm aumentar os seus índices de retenção ou de captação de novos clientes. E a prova de que a evolução tem sido po-sitiva é a incidência de perdas totais que, em Por-tugal, é das mais baixas da Europa.

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AudatexDesde sempre que a GEP se tem apresentado como um dos referenciais estratégicos para o desenvolvimento das nossas soluções e serviços. A comunhão de MISSÃO, assente em objetivos desafiantes, para uma constante ma-ximização da eficiência operacional, sem nun-ca perder o foco na prestação de um serviço de excelência, tem-se traduzido na conceção e concretização de várias soluções tecnológicas, hoje integrantes plenos das respetivas cadeias de valor. Merece destaque a qualidade da sua equipa, em particular dos seus profissionais de terreno, os quais têm sempre revelado uma aderência e adequação rápidas às aceleradas mutações tecnológicas. A partilha de conhe-cimento e experiências na implementação metodológica dos nossos projetos, têm-se constituído como pilares fundamentais de um relacionamento já longo e profícuo para ambas as partes, e que continuamos a cultivar com a máxima exigência e empenho neste futuro que se segue.

João Cid – COO – Chief OperatingOfficer

TESTEMUNHOS TESTEMUNHOS

AccentureA Accenture tem cooperado com a GEP desde há uns anos, no que tem sido uma relação de verdadeira parceria bastante frutuosa.Uma empresa, que tem no seu ADN, princípios norteados pelo grupo a que pertence, e em que cada decisão tomada tem sempre em conta dois grandes vetores: rigor e serviço ao cliente. Profundos conhecedores do negócio, estão sempre apostados em melhorar, não se coibindo também de ajudarem ou serem ajudados por outras entidades com as quais cooperam. Para a GEP não existem dogmas, pelo que o trabalho não se limita a apresentar um bom serviço técnico, querem sempre que possível melhorá-lo, seja através do desenvol-vimento de aplicações existentes, criação de novas plataformas bem como alterações de processos e procedimentos.Este desafio de permanente melhoria, tem-nos permitido manter e desenvolver uma relação sempre franca e aberta, que esperemos se mantenha e cresça nos próximos anos.

Miguel Proença – Managing Diretor

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PERITAGENS DE QUALIDADE

Em tempos afirmou que “os tempos médios de re-solução dos sinistros automóveis em Portugal são dos mais baixos da Europa, independentemente da tipologia do sinistro”. Não sente que essa ima-gem não passou para o cidadão comum? A que se deve isso na sua opinião? Mantenho e reforço o que então disse. Acho que o cidadão comum está mais atento e per-ceciona o bom serviço que lhe é prestado. Isso é aliás reconhecido nos inquéritos de satisfação que, por exemplo, a Fidelidade se submete pe-riodicamente. Reconheço no entanto que esta realidade, muito boa quando comparada com outros mercados, poderia passar melhor junto da opinião pública.

É sabido que a crise «aguça o engenho» e o en-genho pode levar à fraude. No atual panorama económico de crise, sente que ao nível dos sinis-tros a fraude tem vindo a crescer? De que forma é observável esse logro e que impacto tem no setor e respetivos players do mesmo? Como se pode combater este fenómeno?Os sinistros e as fraudes infelizmente caminham de mão dada e é certo que em tempos de crise se agudizem. Para além da fraude é também normal que se procure que sejam incluídas nas coberturas das apólices situações que não constituem sinistro ou que, constituindo, estão fora do âmbito das res-petiva coberturas. Todas as partes envolvidas, in-cluindo os segurados, devem estar despertos para este fenómeno e trabalharem em conjunto para o reduzirem. Ao não o fazerem ou, simplesmente, ao fecharem os olhos “porque é uma companhia de seguros que vai pagar” estão a contribuir para o au-mento do custo dos sinistros e isso, mais tarde ou mais cedo vai ter de ser refletido no custo do se-guro. Para além deste pressuposto coletivo é muito importante que as seguradoras apostem fortemen-te nos meios preventivos, como é o exemplo da pré-vistoria de veículos e outros bens a segurar, da efetiva verificação de existências e da correta

valorização dos valores a considerar para efeitos do seguro. É também decisivo que se invista cada vez mais na formação de todos os intervenientes e na disponibilização e partilha da informação que permita detetar as fraudes. Por fim e não menos importante, há que reforçar a aproximação e a in-teração com as autoridades que se dedicam à in-vestigação criminal.

Com o avanço tecnológico hoje é possível a utili-zação de meios mais sofisticados e, diria mesmo, científicos, para se determinar com rigor as cau-sas e consequências dos sinistros, como é o caso do recurso às “reconstruções técnicas”. A GEP possui estas valências? Como são utilizadas? São aceites nos meios judiciais?Apesar de ser um meio tecnológico moderno, a verdade é que fomos pioneiros e já possuímos esta valência desde há 10 anos. É de facto uma ferramenta muito importante, ao ponto de a con-siderarmos como a “tecnologia ao serviço da ver-dade” pois, através dos softwares que a suportam, como é o caso do “PC Crash”, permite demons-trar cientificamente como ocorreram os aciden-tes, através da determinação das velocidades, ma-nobras efetuadas pelos condutores, deformações sofridas pelos veículos e impactos a que foram sujeitos os condutores e ocupantes. Por incrível que possa parecer, têm-se revelado muito eficaz no combate à fraude, através da demonstração da incompatibilidade dos danos que os veículos, supostamente envolvidos no acidente apresen-tam. Esta ferramentas e, não nos podemos nunca esquecer, os conhecimentos e elevada especiali-zação dos reconstrutores técnicos e as bases cien-tificas de suporte à decisão, têm tornado possível a respetiva aceitação nos meios judiciais, que a começam a entender como aliada da decisão. Aliás, a GEP tem sido solicitada pelos Tribunais para intervir em casos de elevada complexidade, “assessorando” o Juiz na fundamentação das suas decisões. Para concluir deixe-me dizer que é nos tribunais que mais sucesso tem tido esta técnica, exatamente porque serve aí de suporte a decisões tecnicamente difíceis e que sem estes meios se-riam impossíveis de tomar e ainda porque estão normalmente envolvidos valores de indemniza-

ção muito elevados.

As peritagens patrimoniais têm sofrido uma grande evolução e são um instrumento muito im-portante na determinação das causas dos aciden-tes e na determinação do valor dos prejuízos a indemnizar. Quais são para a GEP os aspetos mais relevantes desta atividade?É de facto uma área muito importante, por vários fatores. É diversificada tecnicamente, o que obriga à existência de conhecimentos técnicos e forma-ção académica adequada e um grande nível de es-pecialização. O rigor técnico na determinação das causas do sinistro, no respetivo enquadramento nas condições das apólices e uma correta avaliação dos prejuízos são os pontos-chave desta linha de negó-cio. Mas a grande mudança que temos provocado consiste em fazer isto sustentado em ferramentas de trabalho criadas para o efeito e devidamente “certificadas” por entidades com competência para tal e fazê-lo de uma forma perfeitamente trans-parente para os segurados ou terceiros. Exemplo disto é o que fazemos na avaliação de danos em edifícios onde, através de uma ferramenta criada pela GEP e tecnicamente “certificada” pelo CIC-COPN - Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas no Norte, o GEPoP, garantimos não só a correta avaliação dos prejuízos em edifícios como facul-tamos obrigatoriamente aos interessados todo o detalhe da reparação a efetuar e respetiva estrutura dos trabalhos e custos associados. Por fim e con-trariamente ao que se vinha fazendo no mercado, é preciso fazer tudo isto com rapidez, permitindo que os segurados possam ser ressarcidos no mais curto espaço de tempo.Infelizmente o país tem sido assolado por situ-

APCERA nossa experiência mostra-nos que as em-presas sabem que as estratégias de sobrevi-vência podem ser mais facilmente geridas e implementadas em organizações que tenham sistemas de gestão da qualidade eficazes. Acreditamos por isso, que apesar da atual conjuntura económica, a certificação continua a ser um objetivo claro para a grande maioria das organizações. Os resultados evidenciam um crescimento em todos os referenciais normativos, comprovando a preocupação crescente que as organizações têm em gerir os seus negócios de forma sustentável e eficaz, com resultados positivos para a gestão, tendo como objetivo primordial a satisfação dos seus clientes através de mecanismos de monitori-zação que permitam a redução de produtos e/ou serviços não conformes. Esta foi a estratégia de sucesso da GEP, que desde 2008 se encontra certificada de acordo com a norma ISO 9001 no âmbito da prestação e gestão de serviços de peritagem automóvel, averiguação, reconstrução técnica de acidentes e peritagem patrimonial.

André Ramos - Gestor de Produto, APCER

Alguns dados da GEP,referentes a 31/12/2013

Nº de colaboradores: 61;Nº de peritos: 380;Volume de faturação: 20,5 M€;Nº de peritagens realizadas: 240.000

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ações de catástrofe, mais localizadas como foi o caso da Madeira ou mais abrangentes como a que ocorreu em janeiro do ano passado. Como é que a GEP atua nestas situações? Qual o feedback que têm por parte das populações?Os meios de que dispomos, o sentido de serviço e o nível de exigência da Fidelidade para com os seus segurados permite-nos ajustar de imediato os recursos necessários para atuar em situações de catástrofes, adotando processos de trabalho que, sendo simplificados, são rigorosos na deter-minação dos prejuízos. Desta forma chegamos rapidamente a todos os clientes com prejuízos. Este modo de atuação, claramente diferenciado, é determinante para a rápida regularização e pa-gamento das indemnizações. Acresce referir que nestas experiências temos sido gratificantemente confrontados com o reconhecimento por parte dos segurados em sentirem a diferença por serem clientes da Fidelidade. Pelo que acaba de referir podemos considerar que este sentido de serviço ao cliente está inti-mamente ligado a um também grande sentido de responsabilidade social?É uma abordagem muito interessante a que faz. Não há dúvida que, chame-se-lhe o que se cha-mar, constitui uma das mais importantes variá-veis de que se reveste o nosso trabalho. Cada caso em que intervimos, em situações de catástrofes ou no dia a dia, é um caso em que um segurado está perante uma situação difícil que só podemos entender como um problema que lhe transtorna a vida pessoal ou profissional e como tal terá de ser encarado como um problema de “todos nós”. Aliás, esse é o lema que procuramos ter sempre presente: um problema de um cliente da Fideli-dade é um problema de todos nós, que temos a obrigação de o tratar, resolver e ultrapassar rapi-damente, minimizando os seus efeitos.

Quer dizer que também na área das peritagens patrimoniais é importante a estrutura organiza-cional, os processos de trabalho e a capacidade dos peritos?Importante não. Determinante. É por isso que tanto temos investido nesta área, na formação

técnica e comportamental dos peritos que resulta no empenho e dedicação que colocamos em to-das as peritagens que realizamos, nomeadamente nas situações de “picos de serviço” que constitui uma das características desta área.

Pudemos observar que na GEP se fala com grande ênfase, diria mesmo orgulho no sistema informa-cional que possuem e nos resultados que obtêm através dele. É verdade? Porquê? É de facto verdade e é reconhecido internamente e pelos nossos parceiros. Nos dias de hoje é im-pensável que qualquer organização possa sobre-viver sem indicadores de gestão e dados estatísti-cos rigorosamente apurados e direcionados para o disgnóstico, para a tomada de decisões e para a determinação das mudanças a operar, anteci-pando o futuro. E se isto é uma verdade incon-tornável, nesta atividade é-o ainda mais. Daí que tenhamos investido muito nesta área, nas pessoas que a compõem, na parceria com a SAP / Glintt

e na criação de condições que permitiram criar “tableaus de bord” que espelham cirurgicamente o nosso desempenho. Atingimos um patamar que nos permite que cada perito saiba, diariamente, qual o seu posicionamento face aos objetivos tra-çados e aos restantes peritos da sua especialidade e, desta forma, poderem saber exatamente onde têm de melhorar. O “informacional” da GEP é ainda a ferramenta por excelência das direções e supervisões técnicas.

Podemos concluir que o nível de exigência na GEP é muito elevado? Como é aferido e monitorizado?Exigência elevada? O que é isso? Na GEP enten-demos que só é possível evoluir e prestar um ser-viço cada vez melhor se impusermos a nós pró-prios patamares de qualidade elevados, rigorosos e devidamente aferidos. É por isso que todos os nossos processos de trabalho são monitorizados através de indicadores de gestão rigorosos, as-sentes em ferramentas de “business intelligence”. Mas para nós isto não é suficiente: para além das auditorias que o nosso acionista e principal cliente, a Fidelidade, entende fazer ao nosso trabalho, no caso concreto das peritagens auto-móveis, submetemo-nos anualmente a seis audi-torias externas, realizadas pelo Centro Zaragoza – Instituto de Investigação para a Reparação de Veículos, segundo os critérios que consideram adequados. Estas auditorias abordam e avaliam os mais importantes parâmetros associados à peritagem automóvel, que vão desde a qualidade das fotos que fundamentam as operações técni-cas aprovadas, até à reparação de danos estrutu-rais, passando pela pintura, reparação de chapa e plásticos, etc… O trabalho realizado diariamen-te pelas direções e supervisões técnicas das vá-rias linhas de negócio e os níveis de serviço e de qualidade técnica que nos propomos prestar aos clientes, obriga-nos todos os dias a olhar para a forma como fazemos as coisas e procurar sempre uma “brecha” por onde possamos evoluir.

Qual a importância que tem para GEP as suas par-cerias com entidades ligadas direta ou indireta-mente à área de peritagens?

ProPeoplePara a ProPeople é um privilégio participar ativamente no processo de desenvolvimento contínuo da GEP, na medida em que reconhe-cemos que o seu pioneirismo e diferenciação no setor – que são para nós um constante desafio – têm uma elevada sustentabilidade porque, para além da tecnologia, assentam num fortíssimo investimento nas pessoas. A GEP combina de uma forma muito acertada um rigoroso programa de formação técnica e certificação, com a formação comportamen-tal contínua, transformando por completo o papel do perito, que deixa de ser um mero verificador e avaliador de ocorrências, para passar a ser um agente fundamental na satisfação e esclarecimento do cliente final (segurado ou lesado). Esta relevância que a GEP dá ao serviço ao cliente é absolutamente revolucionária no setor e a ProPeople orgulha--se de contribuir para ela.

Mafalda Carvalho – Partner

Centro Zaragoza – Instituto de Investigación sobre Reparación de Vehículos, S. A.A GEP mantiene entre sus líneas prioritarias la calidad y la mejora continua de los procedi-mientos y actuaciones periciales, prioridad de la que CZ ha sido testigo desde la posición de empresa colaboradora desde hace doce años.Pionera en la implantación de sistemas que aseguran las buenas prácticas, tiene implanta-do un sistema de auditorías técnicas externas e independientes sobre la actividad pericial, que contienen la parametrización y medida de todas las aciones del perito. La formación continuada a todos los peritos y responsables se ha traducido en la primera red cuyos peritos han sido certificados por el referencial CZ ex-clusivamente desarrollado para esta actividad.El resultado convierte a GEP en un gabinete cuya capacidad técnica sobresale en Portugal y en aquellos países en los que CZ tiene pre-sencia profesional.

Jose Manuel Carcaño - Diretor General

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PERITAGENS DE QUALIDADE

São de facto muito importantes e por isso man-temo-las quase todas desde há muito tempo, como são o caso da Audatex Portugal e Centro Zaragoza na área de peritagens automóveis, do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públi-

cas no Norte na área das peritagens patrimoniais, da ProPeople e LMI para o desenvolvimento das pessoas, da FrontWave para a área da qualidade e ainda da Accenture e da Glintt. Na GEP acre-ditamos que, sem estas as parcerias estratégicas que, como atrás referi, mantemos há vários anos, não teria sido possível atingirmos o patamar em que nos posicionamos.

Na sua opinião quais são os principais desafios que vislumbra para o setor nos próximos anos? E para a GEP – Gestão de Peritagens? Considero que o principal desafio para o se-tor das peritagens passará pela aposta séria nas competências técnicas e comportamentais dos peritos. Na GEP os principais desafios passam por manter elevados os níveis de qualidade e exigência, fatores fundamentais para continuar a evoluir, fazendo sempre do rigor, isenção e trans-parência os fatores que nos diferenciam. O resto terá obrigatoriamente de passar pela diversifica-ção dos mercados em que operamos.

Há alguma razão para a GEP não trabalhar para outras seguradoras? E no futuro?A razão é apenas uma: ainda não foi considerado oportuno pelo acionista estender significativa-mente a atividade da GEP para fora do grupo. Relativamente ao futuro, uma alteração desta posição decorrerá sempre da política definida pelo acionista.

E relativamente a uma eventual aposta na inter-nacionalização, nomeadamente nos mercados emergentes de língua portuguesa ou, porque não, na China, país do vosso novo acionista?Há vários anos a esta parte que temos vindo a ser desafiados por alguns dos nossos parcei-

ros, nomeadamente a Audatex e a Accenture, a acompanhá-los em mercados onde estão im-plantados e onde acham que poderíamos consti-tuir uma mais-valia neste negócio. Por razões de variadíssima ordem, tem sido entendimento do acionista que não era oportuna essa abordagem. Com a chegada do novo acionista alterou-se a estratégia e estamos agora mesmo a preparar--nos para a possibilidade de internacionalizar-mos o nosso negócio. Para onde? Logo se vê. Obviamente que os países de língua portuguesa são apetecíveis. Para a China? Na GEP falamos dessa possibilidade desde que a Fosun adquiriu a Fidelidade.

CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas no NorteO CICCOPN tem como atribuição fundamental a atividade de formação profissional para a valorização dos recursos humanos do setor. Neste contexto, foi estabelecido um protocolo de cooperação com a GEP, em 2008, no qual se estabeleceram objetivos específicos para o desenvolvimento de projetos comuns nomea-damente certificação dos Peritos Patrimoniais em danos em edificações e formação técnica enquadrada na esfera de competências técnicas do CICCOPN. Igualmente foi por nós concluída a acreditação/ certificação do Sis-tema de Orçamentação para Reparações em Edificações - desenvolvido pela GEP, o GEPoP. Este projeto veio responder à preocupação da GEP em valorizar os seus peritos patrimoniais como um objetivo primordial, considerando prioritárias as competências técnicas, aliadas ao suporte tecnológico. Em conclusão, pode apurar-se uma mais-valia de qualificação de competências, fator que distingue por um lado a formação ministrada pelo CICCOPN, bem como o efeito diferenciador dos peritos da GEP, face a outros existentes no mercado.

Amilcar Sampaio Rodrigues – Diretor Geral

Glintt – Global Intelligent TecnologiesA colaboração da Glintt com a GEP teve início em 2006 e consistiu no desenvolvimento de uma solução de Informação de Gestão para o sistema de Peritagens. Esta solução assenta tecnologicamente num produto líder de mercado (SAP BO) no qual a Glintt tem uma larga experiência.Desde essa altura a solução sofreu diversas evoluções com o intuito de melhor responder à crescente necessidade de informação de Gestão. Tem sido constante o desejo da GEP em aumentar a qualidade do seu sistema informacional com vista a incrementar o rigor e o detalhe dos reports. Esta missão de constante melhoria, aliada a um elevado grau de exigência, tem sido um desafio permanen-te que a GEP nos apresenta e que nos ajuda a crescer juntos.

Luís Andrade Silva - Diretor IT Consulting

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Quando é que foi edificada a Royal Haskoning-DHV em Moçambique e de que forma é que se tem vindo a assumir como um player de relevo e destaque? Tudo começou em 1981 em Moçambique com o primeiro projeto de Assistência Técnica à UDAH, Unidade de Aproveitamentos Hidráulicos, seguido, em 1988 do PRU, Projeto de Reabilitação Urba-na de Maputo e Beira. Nestes projetos a empresa trabalhou sem interrupção em Moçambique até 1997, altura em que a empresa local de consultoria de engenharia se passou a designar SEED, empre-sa do Grupo DHV. Em 2011, a SEED atinge os cem trabalhadores e torna-se “Home Country”, passando a adotar a designação DHV, e pondo oficialmente em prática o lema do Grupo “Local delivery of world class solutions”. E como forma de responder à demanda dos serviços prestados, à con-corrência e ocupação do mercado nacional e estran-geiro, a 2 de julho de 2012 é anunciada a fusão do Grupo DHV com a empresa internacional Royal Haskoning, criando-se uma única empresa: Royal HaskoningDHV, que está presente em 35 países.

Quais são os principais serviços colocados à dis-posição dos vossos clientes/parceiros que vos procuram no sentido de os apoiar? Porque é a consultoria importante num processo de interna-cionalização? A Royal HaskoningDHV é uma empresa in-ternacional, líder na prestação de serviços de Consultoria de Engenharia e Gestão de Pro-jetos, especializada nas áreas de planeamento, transportes, infraestruturas, águas, engenharia marítima, aviação, indústria, energia, edifícios, e mineração. O conhecimento acumulado ao longo dos seus mais de cem anos de atuação na área da engenharia e planeamento permitiu à Royal HaskonigDHV a sua internacionalização. Sendo que o desenvolvimento que se regista em várias partes do mundo tem o seu suporte em estudos credíveis que permitem que governos e empresas privadas tomem decisões com base em pressu-postos sólidos, credíveis e devidamente funda-mentados. Portanto não há desenvolvimento.

Os perigos da internacionalização de empresas são por demais evidentes. São inúmeras as razões que podem transformar este processo num ver-dadeiro pesadelo. Neste domínio, de que forma é que a vossa atuação deve ser encarada como uma mais valia para os empresários que buscam os vossos serviços no seu processo de internacio-nalização para Moçambique? Nós entendemos que este processo de interna-cionalização tem mais benefícios do que riscos e isto tem a ver com a forma como nós no Gru-po Royal HaskoningDHV encaramos os nossos

mercados. A nossa filosofia é simples: aliamos o conhecimento técnico elevado detido pelo grupo ao conhecimento existente localmente. Os nos-sos colaboradores são na sua maioria recrutados localmente e cada vez mais há movimentações de profissionais dentro das empresas do Grupo. Esta filosofia tem-se mostrado eficaz.

De que forma é que os vossos serviços profissio-nais são essenciais para quem pretende concorrer em mercados externos? Como é realizado o acom-panhamento dos vossos clientes/parceiros neste processo? Somos uma empresa que prima pela qualidade e exigência em tudo o que fazemos. Só atuamos onde é possível garantir que o pudemos fazer com a qualidade que nos carateriza. Este facto faz com que os nossos clientes tenham confiança e traduzam esta confiança em investimentos. Dos mais de cem em 35 países em todos os conti-nentes atuamos por forma a satisfazer os nossos clientes e parceiros fornecendo os profissionais de que estes necessitam tanto para a realização de estudos e projetos como fiscalizações, entre outras atividades.

O conhecimento do mercado local é essencial, ou seja, aporta uma parte relevante no êxito ou insucesso do processo de internacionalização. Neste âmbito, de que forma promovem este co-nhecimento das empresas perante as vicissitudes e caraterísticas dos mercados locais?A nossa atuação em Moçambique é mais do que fazer estudos, projetos e fiscalizações. Nós suge-rimos, aconselhamos e quando necessário enca-minhamos os nossos clientes não sua atuação no mercado.

“A nossa filosofia é simples: aliamos o conhecimento técnico elevado detido pelo grupo ao conhecimento existente localmente”. Quem o diz é Mário Macaringue, Diretor Geral da Royal HaskoningDHV, uma empresa internacional, líder na prestação de serviços

de Consultoria de Engenharia e Gestão de Projetos, especializada nas áreas de planeamento, transportes, infraestruturas, águas, engenharia marítima, aviação, indústria, energia, edifícios e mineração. Localizada em Moçambique desde 1981 e com escritórios em

Maputo e Tete, esta organização disponibiliza serviços de consultoria de estudos, projetos, assistência técnica e fiscalização.

“a RoyaL HaskonIngdHV PRomoVeprojetos e oportunidades de investimento aos seus clientes”

Além do conhecimento do mercado local, que outros parâmetros são fundamentais conhecer para que um processo de internacionalização seja positivo? É importante perceber o que se passa a volta do local onde pretendemos investir, a proveniência dos investimentos e entender quais os objetivos que o país onde nos instalamos persegue.

Em tempos de crise é natural que muitas empre-sas lusas apostem em mercados externos para as-sim “fugir” às agruras da mesma. Parece-lhe que este pode ser um erro crasso, ou seja, as empresas apostarem apenas na internacionalização para escapar às dificuldades do mercado interno? É um erro recorrente? Moçambique é apelativo para as empresas de génese portuguesa? Moçambique é um país em crescimento rápido, resultado da descoberta de recursos energéticos. Contudo é importante que as empresas portugue-sas tenham uma atitude diferente das que têm tido até agora. Muitas das empresas atuam no sistema “pick and run”, não criando a sustentabilidade que o país pretende que essas empresas tenham. Mo-çambique é apelativo mas a integração de quadros moçambicanos nas empresas, incluindo em posi-ções de decisão, é fundamental e as empresas que assim não procederem falharão redondamente.

Que conselho deixaria aos empresários que pre-tendem apostar em mercados externos? Quais são atualmente os mercados mais apelativos? É fundamental a existência de um parceiro como a Royal HaskoningDHV? É importante estudar os mercados em causa e usar parcerias como meio de entrada dos novos mercados. Esta deve ser feita com profissionais ou organizações que tenham um potencial de crescimento. O mercado África tem-se mostrado promissor nos últimos anos e as perspetivas mos-tram que assim continuará a ser nos anos. Um parceiro como a Royal HaskoningDHV com competência internacional e um conhecimento local é fundamental. Mais do que estudos, pro-jetos e fiscalização a Royal HaskoningDHV pro-move projetos e oportunidades de investimento aos seus clientes.

Quais são os principais desafios de futuro da Royal HaskoningDHV? A empresa busca no crescimento sustentável e por isso vai continuar a apostar na formação de quadros internos e no trabalho com os gran-des clientes do setor público e privado. Para tal prevê-se nos próximos três anos um crescimento de volume de negócio anual superior a 15% com-parativamente ao que é habitual a nível nacional e internacional.

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CONSULTORIA

Mário Macaringue

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A empresa, que recebeu o seu selo “Made in Mozambique” em 2013, tem vocação para prestar serviços de assistência técnica de vários tipos mas com grande capacidade para os serviços “on de-mand, on call”. Tem particular vocação para a área de formação.

O quadro de pessoal da empresa é combinação de talentos nas áreas de Finanças, Desenvolvimento e Formação. Contam com consultores senio-res que acumulam mais de 20 anos de experiência de trabalho mas conta igualmente com consultores jovens, dinâmicos e altamente qualificados, em áreas que vão da economia política, indústria extrativa, passando pela administração pública, finanças até às modernas áreas de coaching & mentoring.Essa diversificação da equipa de consultores da MB Consulting tem possibilitado à empresa servir um grupo bem diversificado de Clientes: Parceiros de Cooperação, Instituições Públicas (de diferentes setores e níveis geográficos), Sociedade Civil, Associações de Parlamentares e Par-lamentos. Mais recentemente a empresa começou a interagir com o Setor Privado e a começar a prestar os seus primeiros serviços neste segmento de mercado.Como projeto de responsabilidade social a MB Consulting escolheu apoiar o IPEME – Instituto de Pequenas e Médias Empresas de Moçam-bique por acreditar que já existem muitos projetos de responsabilidade social que acolhem os setores de Saúde ou Educação. A MB acredita que é necessário ter em Moçambique um setor privado pujante, organizado e profissional onde maior concorrência signifique maior qualidade e me-lhores serviços. Com o IPEME estabelecer um Memorando de Enten-dimento onde está a proceder à formação de formadores e a formar as PME’s de Moçambique em mais de 55 áreas de formação. Ainda na área de Finanças Públicas, a MB é implementadora experiente de metodologias de avaliação de sistemas de finanças públicas nomeada-mente da metodologia PEFA – Public Expenditure and Financial Ac-countability e derivações e adaptações desta. A MB tem igualmente capacidade de resposta em outras áreas afins às Finanças Públicas.Ao contrário de muitas empresas de consultoria em Moçambique e mes-mo estando nos seus primeiros cinco anos de vida, a MB Consulting in-vestiu em ter as suas próprias instalações onde existe uma sala de forma-ção devidamente equipada e respetivo centro de documentação.

CONSULTORIA

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mB ConsULTIng na VangUaRdada gestão de Finanças públicas em moçambique

Com apenas quatro anos de idade, conta com uma diversificada equipa de profissionais experientes e altamente qualificados. Trata-se de uma média empresa moçambicana de consultoria que está na vanguarda da implementação

de serviços relacionados com a gestão de finanças públicas (GFP) podendo prestar serviços em Moçambique, nos países vizinhos e em quaisquer países de expressão portuguesa.

A OPINIÃO DE Thomas Selemane, Consultor Sénior da MB Consulting

Quem é a MB Consulting?MB Consulting, Lda. é uma empresa 100% moçambicana especializada na prestação dos seguintes serviços: consultoria, assistência técnica, for-mação, desenvolvimento de setor privado, gestão de projetos e serviços de apoio à sociedade civil. Tem ainda uma vocação especial nas áreas de Planificação Estratégica e Gestão de Finanças Públicas. A empresa é detida por Mariam Umarji, cidadã moçambicana, reconheci-da como especialista de nível internacional na área da Gestão de Finanças Públicas e conta com uma equipa com uma ampla e sólida experiência no uso do PEFA (Despesas Públicas e Responsabilidade Financeira).

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PRIMEIRA ACADEMIA DE FINANÇAS PúBLICAS EM MOÇAMBIQUE

Para fazer diferença na componente de capacitação em gestão de finanças públicas (GFP), a MB Consulting criou uma Academia de Finanças Pú-blicas sendo a primeira do género no país. Pretende-se com essa Academia melhorar a oferta de cursos de GFP a diversos atores da sociedade que procuram por eles, nomeadamente, jornalistas, deputados, funcionários das agências de cooperação e das instituições públicas que lidam diretamente com a GFP sem serem especialistas na área. A MB acredita que no seio das instituições públicas é urgente criar-se a capacidade técnica, de nível vocacional, para responder aos desafios da implementação das reformas de

GFP e que uma formação superior e de longo prazo dificilmente serão capazes de endereçar. Mais especificamente, o objetivo da Academia é o de disponibilizar for-mação, capacitação, facilitação e acompanhamento dedicado (coaching & mentoring) para quadros do setor público em Moçambique para que estes possam prestar os serviços que deles se esperam com eficiência, eficácia e economia e apresentando ganhos de produtividade quer individuais quer coletivos para as organizações onde estão inseridos. Venha conhecer a nossa equipa e estes nossos projetos. Esperamos por si.

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Principais áreas de intervenção:- Consultoria;- Formação;- Planificação estratégica e finanças públicas;- Gestão de projetos;- Desenvolvimento de setor privado;- Fortalecimento da sociedade civil.

A MB ConsultingA MB Consulting quer ser uma referência no mercado moçambicano na área da Consultoria, Assistência Técnica, Formação e Gestão de Projetos, nomeadamente nas componentes de Planificação Estratégica e Gestão de Finanças Públicas. Para tal, a empresa tem orientado a sua atuação pela introdução de inovação e por uma melhoria contínua dos trabalhos desenvolvidos.

“Como projeto de responsabilidade social a MB Consulting escolheu apoiar o IPEME – Instituto de Pequenas e Médias Empresas de Moçambique por acreditar que já existem muitos projetos de responsabilidade social que acolhem os setores de Saúde ou Educação. A MB acredita que é necessário ter em Moçambique um setor privado pujante, organizado e profissional onde maior concorrência signifique maior qualidade e melhores serviços”

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A LFS Advogados concorre a ser um dos principais escritórios de advogados em Moçambique. Dei-xa-nos transparecer que, no decorrer do último ano, o trabalho desta equipa permitiu consolidar a imagem deste escritório como um dos poucos de renome internacional a operar em Moçambi-que. O que vos torna diferentes?Antes de mais, importa esclarecer que existem muitos outros escritórios de renome internacio-nal a operar em Mocambique. Contudo, a LFS, tem adotado uma política de angariação de clien-tes internacionais, com um enfoque particular na área do setor energético e laboral.O que nos torna diferente é certamente a nossa filosofia de trabalho. Para além de sermos um es-critório de advocacia, antes de tudo somos tam-bém um empreendimento como outro qualquer – para que prossiga o rumo de sucesso e se man-tenha ativo e a gerar lucros, é necessário lançar mão de estratégias eficientes de controlo finan-ceiro, gestão de pessoas, atendimento de qualida-de ao cliente e manutenção do branding.Devido à sua rotina agitada, muitos advogados não se dão conta de que uma eficiente gestão em-presarial também é necessária nos escritórios de advocacia. Para além disso, um outro marco que nos caracteriza é a aposta na formação de jovens advogados.

A LFS Advogados está preparada para oferecer soluções inovadoras e serviços jurídicos perso-nalizados. O que é que um potencial cliente pode esperar deste escritório?A sociedade presta serviços jurídicos altamente especializados em várias áreas, com particular enfoque na área Laboral, Comercial e de investi-mentos estrangeiros, primando sempre pela pes-soalidade e precisão técnica no atendimento às demandas que lhe são confiadas e ainda pela ex-celência e eficiência na busca de soluções jurídi-cas eficazes. O escritório dispõe de profissionais altamente qualificados, todos com ampla experi-ência profissional e académica nas suas áreas de atuação. O propósito da LFS é fazer apenas aqui-lo que se conhece com profundidade e distinção, oferecendo aos clientes a melhor solução jurídica disponível. Por isso, o potencial cliente pode es-perar deste escritório uma combinação única de conhecimento técnico e eficiência na prestação de serviços jurídicos. Talvez um outro aspeto é o da facilidade na comunicação. Nós trabalhamos com vários idiomas, desde inglês, italiano, portu-guês, russo, chinês, etc.

Fala-se numa eventual grave crise económica em Moçambique, motivada pela intensa onda de in-segurança originada pelos recentes raptos e pela

forte tensão político-militar. Têm sentido alguma instabilidade entre clientes ou potenciais investi-dores na região? Que mensagem têm procurado transmitir?Os efeitos políticos, económicos e sociais mais perversos da atual crise política e militar inci-dem-se, sobretudo, nos distritos de Machanga, Chibabava, Maringué, Gorongosa, Nhamatanda e Dondo em Sofala; Moatize em Tete; Macossa em Manica; Rapale e Mecuburi em Nampula; Homoine, Funhalouro e Vilanculos em Inham-bane. Obviamente a continuação desta situação pode, sem falta, contribuir para uma degradação económica de escala nacional. Aliás, a indústria do turismo, desde o início das tensões políti-co militares, foi um alvo. Este setor sofreu um grande défice de demandas, prejudicando assim as suas receitas comparativamente com os anos passados. Em relação aos raptos, houve um pe-ríodo em que a questão chegou a atingir propor-ções muito alarmantes, criando um pânico não só para os investidores, mas sobretudo para os na-cionais. Todavia, graças a uma eficaz intervenção policial, vários grupos associados a este tipo de crime encontram-se a prestar contas à justiça e,

Com uma equipa determinada a transformar a LFS Advogados num dos principais escritórios em Moçambique, a organização tem apostado na angariação de clientes internacionais, sobretudo na área do setor laboral e energético. A Revista Pontos de

Vista conversou com Laurindo Saraiva, Partner da LFS Advogados, e ficou a conhecer algumas das expetativas e visões de uma sociedade de advogados que quer reforçar a formação de jovens advogados. “A LFS aposta e avançará para o terreno o seu plano de formação técnico jurídico de jovens provenientes das universidades em diversas áreas, com principal enfoque na Oil and Gas

Labour Management”, referiu.

“é ImPoRTanTe não IgnoRaRo quadro legal existente e em vigor no país”

atualmente, vive-se um clima bastante sereno e seguro. Ora, é óbvio que qualquer investidor, por natureza, é cético a investir num lugar onde nao haja estabilidade política, e sobretudo ameaças do tipo armado militar. Contudo, a mensagem que levamos aos investidores é a de que a Guerra Civil em Moçambique não teve origem étnico tribal ou em disputas de terras, como de norma, é caracterizada em vários países africanos em con-flitos. A nossa foi uma guerra que surgiu como consequência de um desentendimento político ideológico. Só este aspeto é motivo para refle-xão. Aliado a isso, Moçambique é um dos únicos países que, após o período de conflito, não hou-ve tentativas de regresso ao recurso das armas. Celebrou-se uma paz e esta tem sido duradoura há 21 anos, embora os últimos acontecimentos tentem demonstrar a existência de uma certa fragilidade em relação à manutenção da mesma. Porém, mesmo assim, as partes em conflito abri-ram espaço a negociações e tudo indica que seja essa a direção prevalecente. Pelo que a mensagem é de encorajamento pois nós, os moçambicanos, temos consciência dos males trazidos pela guer-ra, mas que, sobretudo, não estamos interessados,

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CONSULTORIA

Laurindo Saraiva

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por nenhum motivo, em retroceder àquilo que foi criado. Não existirá nenhuma guerra e os investi-mentos estrangeiros são sempre bem-vindos.

Portugal tem um laço considerado quase “umbi-lical” com os restantes membros da CPLP. De que forma Moçambique pode ajudar Portugal a ultra-passar este período económico conturbado?Acredito que existe muito espaço para investi-mentos portugueses em Moçambique e acredito, igualmente, que os empresários portugueses po-dem fazer a sua parte, através dos seus investimen-tos, transferência de tecnologias e pagamento de impostos, etc. Esse tipo de cooperação bilateral umbilical que Portugal tem com Moçambique pode servir de alavanca para impulsionar o rela-cionamento entre os empresários nacionais e ou-tros cidadãos, através da facilitação da obtenção dos vistos de entrada no espaço geográfico portu-guês, no contexto da reciprocidade ao tratamento e consideração que Moçambique concede aos ci-dadãos portugueses. Tal cooperação pode, em cer-ta medida, contribuir para que Portugal ultrapasse este período económico conturbado, por um lado e, por outro, pode igualmente melhorar o comba-te às más práticas (quer as de natureza ilegal e/ou irregular), que podem advir de situações informais e pouco “ortodoxas”, e muitas destas até galvaniza-das pelos sindicatos do crime.

No momento em que uma empresa externa opta por explorar o seu negócio no mercado moçambi-cano, o que importa saber, em termos legais?Antes de mais, é importante não ignorar o qua-dro legal existente e em vigor no país para não incorrerer involuntariamente em irregularida-des. Para isso, não existe melhor conselho se não aquele fornecido pelos atores credenciados, que podem ser advogados, escritórios de advogados, etc. Mas, tentando responder sinteticamente à sua pergunta: os investidores devem saber que existe a possibilidade de apresentar a sua pro-posta de investimento ao Centro de Promoção de Investimentos (CPI) ou ao Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acele-rado (GAZEDA), para beneficiar de garantias e incentivos, tais como, o direito à importação de capital, exportação de lucros e reexportação do capital investido, isenções aos direitos aduaneiros e respetivo IVA, entre outros.Devem registrar a sua empresa ou representação comercial, com auxílio de um escritório de advo-gados que os aconselhará sobre a melhor forma de incorporação societária, tendo em conta as ne-cessidades do investidor e a tipologia de investi-mento que se pretende fazer. E saber que, estando a empresa legalmente registada e pronta para iniciar as ati-vidades, depois de declarado o início de atividades junto às Finanças, exis-te uma série de obrigações legais que a empresa está sujeita a cumprir.

Neste processo de internacionaliza-ção, em termos jurídicos, que bar-reiras devem ser ultrapassadas para abrir as portas ao investimento?O Governo de Moçambique atribui ao setor privado o papel predomi-nante de motor do desenvolvimento e crescimento económico do país. Uma série de reformas têm sido co-

locadas em prática com o objetivo de liberalizar e diversificar a economia, redefinir o papel do Es-tado e promover o setor privado. Todavia, o atual dinamismo económico do país exige uma nova dinâmica institucional, uma melhor coordena-ção e articulação dos procedimentos legais inter institucionais. Só para citar um exemplo: ainda existem algumas situações em que, nós, atores jurídicos, não sabemos o que e como aconselhar os nossos clientes (investidores) por carência de esclarecimento institucional. Isso acontece fre-quentemente no âmbito da contratação de mão deobra estrangeira, sobretudo nos casos em que se pretenda contratar um trabalhador provenien-te de um país que não possui uma representação diplomática moçambicana. Existe aqui um va-zio de coordenação institucional entre as insti-tuições que zelam por estes aspetos, que muitas vezes, por falta de respostas tempestivas, têm-se prejudicado e podem prejudicar as atividades do investidor. Portando, existe uma série de barrei-ras que devem ser ultrapassadas em prol de uma maior flexibilidade institucional, em detrimento das práticas burocratizantes, propiciando, desta forma, a criação de condições favoráveis ao in-vestimento. Uma das soluções que propomos é o reforço das capacidades das instituições respon-sáveis por esses procedimentos de meios técnicos, humanos, financeiros, formação, etc, por um lado. Por outro, a adoção ou a revisão de textos legais (leis, decretos, regulamentos, etc.) deve estar em constante atualização para responderem adequa-damente ao dinamismo e às perspetivas econó-micas, sobretudo nesta nova era das grandes des-cobertas dos recursos naturais.

No seio da advocacia moçambicana, qual tem sido o impacto da crescente instalação de gran-des escritórios portugueses no país?De facto existe uma proliferação crescente de grandes escritórios portugueses no país, muitos deles graças a colegas de profissão que continu-am, em minha opinião, a apadrinhar atos de pro-curadoria ilícita (prática direta ou indireta de atos próprios da profissão de advogados em benefício de terceiros) e o exercício ilegal da advocacia. Que seja claro, não sou contrário à vinda de ad-vogados portugueses a Moçambique, que certa-mente em alguns casos, até poderiam constituir uma mais valia para o país e para a classe da ad-vocacia moçambicana. Sou contrário à prática ilí-cita da profissão, sou a favor do cumprimento das regras, e nós temos regras que devem ser cumpri-das. Acredito que estes são os maiores desafios da Ordem dos Advogados. Em 2011, no mandato

do bastonário Gilberto Correia, houve um com-bate determinado e cerrado contra a procurado-ria ilícita. Porém, a mesma começa a reaparecer, com novas características por via das chamadas parcerias entre escritórios locais e escritórios de advogados estrangeiros, com particular realce para Portugal.Por outro lado, o modus operandi e de sustentação e promoção de tais práticas ilícitas passaram a ser diferentes. Ao invés dos advogados vindos de Por-tugal terem domicílio profissional nos escritórios em Maputo, estes passaram a trabalhar para os clientes do escritório de Maputo a partir de Lis-boa e por via telemática. Várias vezes, sob camufla-gem da formação, transmissão de conhecimento, gestão da parceria, alguns advogados portugueses instalaram-se nos escritórios dos alegados parcei-ros em Maputo, onde praticam de forma mais ou menos camuflada atos próprios da profissão de advogado em benefício de terceiros clientes aqui em Moçambique, daí a tal massiva “proliferação’ de escritórios de advocacia portugueses.

Num futuro próximo, marcado pela instabilidade dos mercados mundiais, que estratégia será utili-zada pela LFS Advogados para continuar a ser um paradigma de sucesso? Que projetos avançarão para o terreno?A LFS poderá escolher determinado tipo de estratégia que seja o mais adequado, tendo em vista a sua capacitação e o objetivo estabelecido. Entretanto, estamos cientes de que tal escolha poderá nortear o nosso desenvolvimento por um período de tempo que poderá ser longo. Pelo que as nossas estratégias serão estabelecidas de acordo com a situação da empresa: podem estar voltadas à sobrevivência, manutenção, cresci-mento ou desenvolvimento, conforme a postura estratégica da LFS em relação à instabilidade dos mercados. Tal combinação é imprescindível, enquanto forma para melhor capitalizar todas as oportunidades possíveis e utilizando a estratégia certa no memento certo. A LFS aposta e avança-rá para o terreno o seu plano de formação técnico jurídico de jovens provenientes das universidades em diversas áreas, com principal enfoque na Oil and Gas Labour Management.

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especial iv aniversário

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Há uns anos atrás, as tecnologias, STE e PV vinham a desenvolver--se ao seu ritmo próprio, no sentido de uma redução progressiva do custo do kWh produzido, mas com um sucesso diferente. O PV suscetível de ser usado em produção totalmente descentra-

lizada ou centralizada de energia elétrica, em sistemas de pequena ou de grande dimensão, com grande versatilidade e facilidade, desenvolveu-se muito mais depressa. Estão hoje instalados, em todo o Mundo, mais de 120 GWe de potência pico, resultando em custos que hoje começam a atingir o que se designa por paridade com a rede, ao nível da distribui-ção, sobretudo no setor doméstico e mesmo para utilizadores nos setores industriais e serviços O STE, que, na realidade, só faz sentido se consi-derado para produção centralizada, tem de ser competitivo ao nível da produção, onde a paridade com as tecnologias convencionais (produção a gás ou a carvão) impõe um custo de kWh produzido muito mais baixo.Alguns países, de que é principal exemplo a Espanha, optaram por criar condições, mercado, para o desenvolvimento da STE, comprando a respe-tiva eletricidade a tarifas mais elevadas, por forma a rentabilizar os investi-mentos nas tecnologias em evolução. Estão assim instalados em Espanha, e em funcionamento, aproximadamente 2.4 GW de sistemas STE (apro-ximadamente 3.5GW em todo o Mundo, neste momento). A Espanha, sobretudo em colaboração com a indústria alemã, apostou no desenvolvi-mento destas tecnologias e as respetivas empresas, Universidades e Centros de Investigação, são líderes a nível mundial nestas matérias, colocando-se agora em condições estratégicas para a exploração das próximas etapas e para a transferência destas tecnologias para outros países do Mundo.

PV VERSUS STE: É ISTO QUE ESTÁ A ACONTECER?Não exatamente. Por duas razões: a primeira é circunstancial e relaciona--se com uma mudança abrupta da política energética espanhola nesta área, a pretexto da crise que está a criar enormes dificuldades aos investi-dores nas centrais espanholas.A segunda, é a seguinte questão de fundo:- em Espanha, o valor para o kWh produzido estava em torno de 0.25 euro/kWh em 2009-2010.- de então para cá o PV entrou numa redução de custo vertiginosa, que hoje já oferece valores equivalentes de 0.07-0.09 euro/kWh! E pode ainda baixar!Pergunta: alguma vez o STE poderá competir? Vale a pena prosseguir com o seu desenvolvimento?Esta pergunta influenciou a decisão política espanhola e é verdadeiramen-te pertinente.A resposta que proponho é a que está novamente a ser proposta por muita gente, em particular a indústria do setor e decisores políticos de alguns países chave. Vale a pena!

MAS PORQUê? PARA QUê O STE?Um primeiro argumento vai no sentido de se dizer que há ainda uma grande oportunidade de redução de custo das atuais tecnologias STE. Mas, tal como vimos, a capacidade instalada de PV é praticamente 100 vezes superior, o que não pode deixar de ter impacto sobre os valores já atingidos para o custo do kWh produzido. Isto é o STE precisa de mer-cado, para beneficiar como beneficiou o PV.Felizmente que tem havido novos investimentos noutros países e é possí-vel ver que valores praticados noutros países (USA, India, Israel, Africa do Sul, Marrocos) de centrais estão a ser feitas/operadas, hoje (2011-2013),

uma vez corrigidos para serem suscetíveis de ser comparados, são já mais baixos, 0.15 e 0.18 euro/kWh; nalgumas situações, com a acumulação de outros incentivos, temos hoje já valores como os praticados na central de Ivanpah (392MW em tres torres de 130MW) com o seu ppa de 0.11 dólar/kWh.Isto é, há um grande potencial para uma redução substancial de custo, com o desenvolvimento do mercado. O Programa SUNSHOT, do De-partment of Energy (DOE) americano, está a financiar I,D&D para se alcançar 0.06 dólar/kWh, com STE e com PV,em 2020.Mas, e mais importante, emerge uma nova realidade e que é a da possi-bilidade de armazenamento de energia térmica, a baixo custo, para uma total despachabilidade da energia produzida, até muitas horas depois do sol se pôr (há já sistemas instalados com 15 horas de armazenamento [por exemplo Torressol/Gemasolar, Andaluzia]).Assim, o STE seria verdadeiramente complementar do PV: à medida que o PV vai diminuindo a sua produção, mesmo em dias de bom sol, com a aproximação do pôr-do-sol, veria a sua prestação a pouco e pouco substi-tuída pela STE pelo período da noite, com energia captada e armazenada durante o dia.Vários estudos apontam para que o valor do kWh armazenado se situe entre 0.025 e 0.04 dólar/kWh, o que coloca a fasquia do SUNSHOT entre os 0.09 e os 0.1 dólar/kWh.

PORTUGAL E O STEA pergunta é esta: devemos esperar que o STE se desenvolva noutros países e depois decidimos pela sua adoção no nosso país? A resposta é claramente “NÃO devemos esperar!”É possível demonstrar que um programa de desenvolvimento bem estru-turado e funcional terá benefícios muito acima dos custos (algum tipo de ppa, ou apoio ao investimento inicial, e/ou isenções fiscais ou outras para os promotores, etc.).- um programa de STE é gerador de atividade económica alguns anos an-tes de começar a ter os seus custos, por exemplo ao nível de um programa de ppa; nos E.U.A. o impacto do programa SUNSHOT sobre a geração de emprego tem sido notável- o conteúdo de engenharia e componentes à escala local – e a sua conse-quente contribuição para o PIB – é uma realidade diferenciadora destas tecnologias.- a experiência das empresas portuguesas que se criem ou que venham a participar fica demonstrada em casa e esse é um passo essencial para a exportação.- Portugal tem DNI a níveis iguais ou superiores aos do sul de Espanha (são mesmo os mais elevados da Europa) e um conjunto grande de em-presas (ver, por exemplo, os Associados do IPES) com capacidade para desenvolverem o setor. Portugal está integrado em todas as redes euro-peias de ID nesta área e está a montar na Universidade de Évora uma Infraestrutura de Investigação (RI) que será suportada por fundos geridos pela FCT, numa proposta que teve a classificação máxima entre todas as propostas de (RI) recebidas pela FCT.O que nos está então a faltar? Um programa claro, com objetivos e meios, que dê os sinais corretos, à indústria e aos demais atores. O IPES está disponível para colaborar na definição desse programa.

DIA NACIONAL DA ENERGIA

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eLeTRICIdade soLaR TéRmICa (sTe),uma aposta ganhadora para portugal?!

Produzir eletricidade com energia solar pode ser conseguido por duas vias principais: a conversão direta (processo quântico) da radiação solar (exemplo: o fotovoltaico-PV) ou a conversão pela via térmica, em que um fluido aquecido pela radiação solar é a fonte

quente de um processo termodinâmico de conversão (STE).

A OPINIÃO DE Manuel Collares Pereira, Presidente da Direção do Instituto Português de Energia Solar

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Quando é que foi edificada a Lowjoule e de que forma é que tem vindo a assumir-se como um player de relevo no seu mercado de atuação?A Lowjoule foi edificada a 05 de novembro de 2009, fruto de um projeto pessoal da sócia Maria da Graça Gomes, que sempre desejou criar uma empresa espelhada na otimização de energia das indústrias que lidava há cerca de uma década. Engenheira química de formação base com es-pecialização em Gestão de Energia, tendo tam-bém passado pelas áreas ambientais nas empresas onde laborou, conhece as necessidades técnicas que as empresas têm nestas áreas: energéticas e ambientais pelo que a transformou em oportu-nidade de negócio, trabalhando atualmente na racionalização de consumos energéticos nos dife-rentes ramos de indústria existente em Portugal.

Quais são as mais-valias da marca e que contrarie-dades e óbices têm enfrentado ao longo do vosso período de atividade? O principal ponto forte da Lowjoule é o conhe-cimento das necessidades de mercado, conhecer o mercado alvo e ter um serviço de acompanha-mento muito próximo do seu cliente. Obviamen-te que em todas as áreas a concorrência existe, e no nosso entendimento é muito saudável pois equilibra o mercado.

Quais são os principais serviços apresentados pela Lowjoule e quais as vantagens que apresen-tam para os clientes que vos procuram?A filosofia da Lowjoule é abordar cada caso con-soante as necessidades de cada cliente, apresentan-do desde um serviço de caraterização da situação energética a processos, equipamentos, linhas de fabrico ao serviço de auditoria energética seja a in-dústrias, frotas, edifícios, identificando e contabi-lizando as oportunidades de redução de consumos em cada caso. Após esta fase é corrente a imple-mentação de sistema de gestão de energia: ISO 50001 o qual damos total apoio. A negociação de contratos (procurement) das várias fontes de ener-gia – energia elétrica, gás natural, óleos lubrifican-tes é uma consequência da atividade de auditoria e vem reforçar a ligação com os nossos clientes. O serviço de proximidade e acompanhamento dos projetos é com certeza uma forte aliança que se cria entre a Lowjoule e quem trabalha connosco.

No dia 29 de maio comemora-se o Dia Nacional da Energia, que tem como principal desiderato alertar a população para a necessidade de desenvolver estratégias de eficiência energética. A Revista Pontos de Vista conversou com Graça Gomes, Diretora

Técnica da Lowjoule, Lda. Saiba mais de uma marca edificada em 2009 e que tem vindo a trilhar um caminho de sucesso.

“ConHeCemos as necessidades de mercado”

DIA NACIONAL DA ENERGIA

Que análise perpetua do mercado da Energia em Portugal? Que medidas deveriam na sua opinião de ser colocadas em prática? É um mercado em ascensão e bastante empol-gante para se trabalhar. Com ainda mais dina-mismo e mais incentivos financeiros por parte de Portugal, muitos mais projetos de otimização de energia se poderiam abraçar nestes próximos tempos. Ainda há muito mercado industrial que se poderá alcançar e no setor doméstico também.

O Dia Nacional da Energia celebra-se a 29 de maio. A celebração desta data visa alertar a popu-lação para a necessidade de desenvolver estraté-gias de eficiência energética. Crê que estamos no caminho certo para esse desiderato?Portugal é um país com bastante legislação am-biental e energética, o que permite de certa forma que todos estejamos dentro dos parâmetros es-tabelecidos, contrariando desta forma as coimas existentes. Para o domínio da eficiência ener-gética definiu-se um Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética (PNAEE) onde se estabeleceu como meta uma redução do consu-

mo de energia final em 10% até 2015. Foram então definidas 50 medidas organizadas em 12 programas, com o objetivo de reduzir o consumo energético nas áreas de Transportes, Residencial e Serviços, Indústria, e Estado. Acompanhando os resultados obtidos durante o PNAEE 2008-2015 e do PNAER 2010 verifica-se que Portugal apresenta uma intensidade energética da energia primária em linha com a União Europeia (UE), os últimos dados reportam 35,1% de FER no eixo de aquecimento e arrefecimento (objetivo de 30,6%), 41,1% na eletricidade (objetivo de 55,3%), 5,6% nos transportes objetivo de 10,0%) e 24,7% no consumo final bruto de energia (ob-jetivo de 31,0%). Estes resultados vêm de facto reforçar a necessidade de intensificar os esforços na atuação direta sobre a energia final, em parti-cular da economia produtiva. Para 2020, a meta estabelecida é de 20% de redução de consumo da energia final. A atuação nas várias vertentes: indústria, transportes e mercado doméstico têm apresentado resultados positivos em qualquer das áreas, no entanto, a fasquia está mais alta pelo que é imperativo continuar a perseguir o objetivo que é exequível na nossa opinião.

O que tem feito a Lowjoule nesse sentido? De que forma é possível reduzir os gastos energéticos atuais? Das vertentes referidas anteriormente, a Low-joule tem investido know-how junto dos seus clientes na implementação de soluções ambien-tais e energéticas conducentes a um aumento da pegada ecológica, redução das emissões de CO2 para a atmosfera contribuindo para um futuro mais verde das gerações vindouras. Estas medi-das são alvos de um estudo económico-financeiro que tendo viabilidade e havendo predisposição para o investimento, são projetos bem-sucedidos e que se refletem nos resultados das empresas.

É possível quantificar a energia que já economiza-ram aos vossos clientes? De que forma o perpetuam?Claro que sim, aliás na nossa página incluímos o contador de energia, que é atualizado trimes-tralmente. É um índice importante para a Lowjoule.

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Graça Gomes

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Localizada no sul do país, qual foi o principal propósito da criação da Associação Empresarial de Energia Solar de Alcoutim? De que forma têm sabido representar os interesses dos empresários locais, ao mesmo tempo que colocam esta região no mapa como uma referência neste setor?Enercoutim – Associação Empresarial de Ener-gia Solar de Alcoutim, no âmbito da sua ati-vidade de desenvolvimento da Plataforma de Demonstração de Energia Solar, tem como prin-cipal objetivo a criação de infraestruras que per-mitem atrair o investimento em tecnologia solar, proporcionando economias de escala e reduzindo o impacto ambiental quando comparado com parques solares promovidos individualmente. A Enercoutim tem procurado envolver, desde o iní-cio deste projeto, os empreiteiros e trabalhadores locais, condicionado às necessidades de especia-lização técnica que o projeto exige e aos requisi-tos de contratação a que está obrigada pelo facto de este ser um projeto apoiado pelo Programa Operacional Algarve21. Por outro lado, sempre tivemos consciência da importância estratégica desde projeto para a região, contribuindo para o seu dinamismo económico e para a sua visibilida-de no plano nacional e internacional.

De que forma é que este projeto tem sido funda-mental para Alcoutim e, em particular, para dina-mizar a economia local?Como mencionado antes, consideramos este projeto estratégico para a região, pelo que temos sido acompanhados pelo município, pela visibili-dade que dá à mesma, pela dinamização da eco-nomia local através da criação direta e indireta de empregos e contratação de serviços locais, quer no processo de construção da mesma, quer no processo de operação e manutenção que garan-te atividade duradoura durante, pelo menos, os próximos 20 anos.

Segundo dados da EPIA (European Photovoltaic Industry Association), embora Portugal seja dos países da Europa com maior exposição solar, ocu-pa somente a 12ª posição no ranking dos maiores

produtores de energia solar na Europa. De que forma se pode e deve inverter esta situação?

Nos últimos anos foram definidas políticas de incentivo ao investimento na produção de ener-gia a partir de fontes renováveis com resultados muito positivos, que colocam Portugal numa posição cimeira no plano internacional.Em particular, ao nível da fonte solar, Portugal dispõe de condições de radiação excecionais, o que torna o nosso país num potencial exporta-dor de energia assim sejam acautelados a nível europeu os necessários investimentos em infra-estruturas de transporte, onde a ação política é fundamental para o seu enquadramento nas polí-ticas e programas comunitários como, por exem-plo, o novo quadro comunitário. Por outro lado, a maturidade das tecnologias do solar em conjunto

No seguimento da sua atividade no desenvolvimento da Plataforma de Demonstração de Energia Solar, a Associação Empresarial de Energia Solar de Alcoutim (Enercoutim) tem centrado a sua atuação na criação de infraestruturas que permitam captar investimento em tecnologia solar. Em discurso direto, Marc Rechter, um dos responsáveis pela empresa, apresenta uma entidade que quer tornar Portugal um player importante, a nível europeu, no segmento da energia, com uma especial valorização dos recursos de que o país

dispõe ao nível solar e marítimo.

aLCoUTIm qUeR esTaRno mapa europeu da energia solar

com uma estratégia bem direcionada nesta área, podem possibilitar a adequada rentabilidade dos projetos e assim a atração dos investidores.

Embora a água e o vento sejam as fontes de ener-gia mais exploradas, para o futuro, o sol e o mar apresentam um enorme potencial. No seu enten-der, quais são as principais razões para Portugal apostar na energia solar?Portugal dispõe, a nível europeu, das melhores condições de radiação solar, que lhe permite, numa base anual, produzir mais energia solar elétrica ou térmica por m2 que países concorren-tes, garantindo assim condições de maior renta-bilidade dos projetos. A utilização potencial de terrenos de baixo valor agrícola e florestal cons-titui também um fator de oportunidade para a valorização do solo e economia local.A aposta na energia solar contribuirá também para o desenvolvimento do cluster solar Por-tuguês, contribuindo para o aumento do valor acrescentado nacional. Por último, o solar pode dar um contributo decisivo para tornar Portugal num país exportador de energia (limpa), o que contribui para a redução da dependência energé-tica externa e melhoria da sua balança comercial.

Para o futuro, o que podemos esperar da atuação da Associação Empresarial de Energia Solar de Alcoutim? Que objetivos esperam ver cumpridos?A Enercoutim está já a preparar um projeto de expansão da plataforma solar atual prevendo um aumento de capacidade considerável, com vista a colocar definitivamente Alcoutim no mapa Eu-ropeu da energia solar, proporcionando investi-mentos significativos na região e garantindo uma atividade duradoura com grande repercussão na economia local e nacional.Como grande objetivo futuro, gostaríamos de contribuir para que Portugal tivesse um papel importante, no plano europeu, ao nível da ener-gia, valorizando, em particular, os fantásticos re-cursos de que dispõe ao nível solar e do mar.

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DIA NACIONAL DA ENERGIA

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Marc Rechter

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O Centro Escolar de Angeão não faz parte da rede da Parque Es-colar. Assim, a equipa de projeto não foi condicionada pelas exi-gências dos programas da Parque Escolar que, tornaram os custos de primeiro investimento elevados, e que geravam soluções pou-

co sustentáveis com custos energéticos e de manutenção muito elevados. Pode-se assim desenvolver soluções sustentáveis, com especial enfoque, nas relacionadas com a energia, sendo os encargos com a sua utilização quase nulos por via da que é gerada pelo próprio edifício. Em simultâneo, projetaram-se sistemas de climatização em que as soluções naturais têm um peso apreciável.A conceção das instalações mecânicas norteou-se pela utilização de um sis-tema seminatural de ventilação e, na exploração de soluções arquitetónicas que potenciam soluções de climatização onde o paisagismo tem um papel primordial no arrefecimento das salas de aula nas épocas quentes. As cargas devidas à iluminação são também diminutas, atendendo à solução arquite-tónica que em simultâneo privilegia a luz natural e cria sombras, evitando as cargas externas no tempo quente por via da radiação.O aquecimento é conseguido por meio de um sistema de distribuição de água quente produzida numa bomba de calor sendo que o seu consumo é totalmente compensado pela energia produzida pela central fotovoltaica existente na cobertura do edifício.A seguir apresenta-se um resumo das características técnicas da instalação:• Área total útil tratada (climatizada) 2600 m2• Caudal total de ar movimentado (seminatural) 21300 m3/h• Capacidade de arrefecimento (mecânico) 80 KW• Capacidade de aquecimento 135 KW• Potência de aquecimento por unidade de área 52 W/m2• Potência de arrefecimento por unidade de área 30 W/m2• Potência elétrica total instalada (AVAC) 56 KW

Consumo de Energia KWh/ano• Ventiladores 20 000

edIFÍCIos Com BaLançoeneRgéTICo ZeRo

- centro escolar de angeão - um caso concreto

• Arrefecimento 1 500• Aquecimento 23 000• Circuladores 5 000

Total AVAC 49 500• AQS 60 000• Cozinha 20 000• Iluminação 45 000

ToTAl 174 500Produção à data do projeto 70 000Produção possível atual (1) 140 000(1) Com o mesmo investimento estimado à data do projeto.

A conceção de um imóvel com elevado índice de sustentabilidade, exige que a equipa de projeto se empenhe na transversalidade das especialidades nesse objetivo, e obriga a que haja uma recolha de informação dos futuros utilizadores tipo ou reais do edifício.

SUSTENTABILIDADEA sustentabilidade não é uma simples perspetiva nem um estado imutável, mas sim um processo criativo, local e em equilíbrio.

In “Carta das cidades Europeias para a sustentabilidade”

DIA NACIONAL DA ENERGIA

Os estados da UE têm um compromisso de a partir de 2020 todos os novos edifícios serem próximos de balanço energético

zero (abreviadamente NZEB - Near Zero Energy Buildings), o que significa que o valor da energia utilizada é próximo da energia por ele produzida. Em Portugal já existem alguns empreendimentos em que esse objetivo fazia parte das

intenções da equipa de projeto. Entre eles, assume-se o exemplo concreto, do Centro Escolar de Angeão, tendo sido esse o fator decisivo para a escolha da solução por parte do dono da obra,

neste caso, a Câmara Municipal de Vagos.

A OPINIÃO DE António Lopes do Rego

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especial iv aniversário

Projeto de arquitetura e coordenação: Arq.to Miguel MarcelinoProjeto de climatização e produção de energia: Eng.º António Lopes do RegoProjeto de paisagismo: Arq.ta Catarina Assis Pacheco

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Transparência, integridade e experiência com uma abordagem direta e pessoal. Estes são al-guns dos valores que estão agregados à atuação da ESC – Engineering Solutions Consulting. De que forma se têm apresentado como um parceiro ideal para acrescentar valor a um negócio?Ao longo do nosso percurso como empresa que atua na área dos serviços energéticos, temos traba-lhado com os nossos clientes no desenvolvimento dos seus sistemas de gestão e consequente otimi-zação dos recursos energéticos existentes. Quando trabalhamos com um cliente assumimos a postura de pertença na equipa, todos os processos dese-nhados são feitos à medida das necessidades dos nossos clientes. O nosso maior objetivo é que o trabalho que desenvolvemos com as empresas seja algo que perdure e que seja reconhecido como sendo delas e não algo que foi deixado.A nossa experiência como gestores de instalações em ambientes multiculturais e exigentes como é o caso da indústria automóvel, permite-nos uma abordagem mais focada na obtenção de resultados assim como no desenvolvimento de processos em que o envolvimento de toda a organização é fun-damental. O facto de termos um conhecimento de “saber feito” nesta área aliado ao facto de trabalhar-mos diretamente com todas as pessoas envolvidas

tem-nos permitido uma participação das empresas na implementação de medidas e processos com re-sultados bastante significativos. Podemos dizer que tem sido um privilégio poder fazer parte da mudan-ça de abordagem à gestão de energia.

Que serviços a ESC tem ao seu dispor para melho-rar a competitividade dos seus clientes?A atividade principal da ESC assenta na imple-mentação de Sistemas de Gestão de Energia in-cluindo a maioria dos processos associados. Mais recentemente iniciamos atividade de consultoria para os processos de aquisição de energia (gás e ele-tricidade) não só na fase de negociação de contratos de fornecimento mas também no acompanhamen-to da evolução dos mercados permitindo uma oti-mização dos ganhos. Na área de sistemas atuamos numa extensão bastante ampla que vai desde a realização de ações de formação, desenvolvimento de equipas de gestão de energia, implementação de sistemas de acordo com a ISO50001, auditorias in-ternas, sistemas de monitorização, auditorias ener-géticas, entre outros.

Atualmente, já existe a consciência de que uma correta utilização de energia contribui para a sustentabilidade do planeta e para uma maior

competitividade de pro-dutos e serviços? Que hábitos continuam en-raizados e que devem ser banidos?O principal “hábito” é considerarmos que a gestão de energia é res-ponsabilidade de outro. É fundamental que a gestão de energia seja vista como responsabili-dade de todos, e quando dizemos todos falamos desde a Gestão até à empresa subcontratada. É em fases como aquela que as nossas empresas atravessam que é mais fácil (embora não pa-reça) fazer algo efetivo e consistente. Sabemos que muitas vezes não existe grande margem para investimento e aí só nos resta procurar as oportunidades existentes e a otimização necessária. O primeiro passo é saber onde se consome energia e acima de tudo porquê. Temos que questionar a forma como se utiliza essa energia, será que podemos desenvolver

“Quando trabalhamos com um cliente assumimos a postura de pertença na equipa, todos os processos desenhados são feitos à medida das necessidades dos nossos clientes”. Dolores Nobre sintetizou, assim, os valores e princípios que regem a atuação da ESC – Engineering Solutions Consulting, uma empresa especializada nas áreas da eficiência de processos com especial destaque na Gestão de Energia. Conheça uma entidade que se tem sentido privilegiada por fazer parte da mudança de abordagem à gestão de energia.

a gesTão de eneRgIa é Uma “responsabilidade de todos”

algumas atividades e processos pro-dutivos de forma diferente? A nossa experiência tem--nos demonstra-do que todo este trabalho necessita de ser feito e que realmente quando envolvemos toda a organização, os re-sultados e as opor-tunidades surgem. Posteriormente há que manter esta dinâmica, mas antes de se avançar para investimentos mais ou menos avultados temos que percorrer este caminho.

No seio de muitas empresas há frequentemente a ideia de que a energia é uma despesa fixa e pou-co poderá ser feito sobre a mesma. Não há nada mais incorreto? O que pode ser feito para reduzir os desperdícios energéticos?Concordo plenamente. O consumo de energia varia em função de vários fatores que vão deste a ativi-dade produtiva às condições climatéricas. É preciso saber qual a contribuição de cada um desses fatores para que possa atuar. Cada vez mais é importante esta análise pois algumas empresas já têm em conta a eficiência de utilização de energia nas suas toma-das de decisão em investimentos estratégicos.

A utilização pouco eficiente da energia traduz-se em ameaças para o país, do ponto de vista eco-nómico, social e ambiental. Na sua opinião, esta questão tem ocupado o devido espaço na agenda política nacional?Muito embora existam em Portugal medidas implementadas, o maior enfoque tem talvez sido a produção de energia via fontes renováveis. É necessário dar cumprimento às diretrizes da co-munidade europeia 2012/27/UE e desenvolver a implementação de sistemas de gestão efetiva como a ISO50001. Existem muitos exemplos europeus já testados e com provas dadas de in-centivo à implementação destes sistemas. Há ainda muito que pode e deve ser feito e se não são tomadas medidas numa fase como a que o país atravessa então estamos a perder um poten-cial imenso de oportunidades.

Para o futuro, o que podemos esperar da atuação da ESC? Que objetivos esperam ver cumpridos?Acima de tudo queremos fazer mais e melhor. Queremos inovar na forma como atuamos, de-senvolver um serviço integrado de soluções para que os nossos clientes possam continuamente me-lhorar o seu desempenho. Queremos trazer para a gestão de energia ferramentas de trabalho que possam garantir a sustentabilidade dos seus siste-mas e efetivamente reduzir os seus custos.

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DIA NACIONAL DA ENERGIA

Dolores Nobre

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Presentemente existem nos Açores cerca de 6200 espécies e subes-pécies de organismos terrestres, das quais 452 são endemismos do arquipélago, ou seja, apenas ocorrem nestas ilhas. A grande maioria destas espécies endémicas terrestres são de animais invertebrados (in-

setos, aranhas, caracóis, lesmas) e plantas vasculares, representando os ver-tebrados (aves,e morcegos) apenas 3% deste grupo. Os artrópodes, onde se incluem os insetos, com cerca de 60% da diversidade terrestre endémica (266 espécies e subespécies), desempenham um papel fundamental no mundo dos ecossistemas terrestres. Muitas destas espécies endémicas foram descober-tas recentemente em consequência dos esforços dos cientistas do Grupo da Biodiversidade dos Açores, mas muitas outras estarão ainda por descobrir.

O GRUPO DA BIODIVERSIDADE DOS AÇORESO Grupo da Biodiversidade dos Açores (GBA) (http://www.gba.uac.pt/ ) per-tence ao Centro de Investigação e Tecnologias Agrárias dos Açores (CITA-A) e ao PEERS (Platform for Enhancing Ecological Research & Sustainability). O GBA é um grupo composto por 20 cientistas doutorados e 23 estudantes de doutoramento, baseados na Universidade dos Açores. No final de 2013, o nosso grupo foi convidado para constituir um novo centro de investigação, o Centre For Ecology, Evolution And Environmental Change (Ce3C), que sur-ge da fusão de três grupos/centros de investigação (GBA, CBA e CCIAM), com sede em Lisboa, e com o qual formou uma nova parceria para o período 2014-2020, a qual aguarda aprovação pela FCT.

OS NOSSOS TRABALHOS MAIS RELEVANTES E SUCESSOS RECENTESNo período de 2008 a 2013, o GBA publicou um total de 357 trabalhos, sendo 131 deles artigos em revistas internacionais indexadas com Fator de Impacto. Numa colaboração sem precedentes de mais de 200 taxonomistas e outros cientistas, o GBA coordenou, entre 2007 e 2010, a elaboração de duas listagens exaustivas da biodiversidade dos arquipélagos dos Açores e Madeira e Selvagens, cujos PDFs se encontram disponíveis online no Portal da Biodiversidade dos Açores. O Portal (http://www.azoresbioportal.angra.uac.pt ) é um dos projetos com maior visibilidade do grupo, onde se dispo-nibilizam imagens e informação sobre a taxonomia e distribuição da maior parte das espécies que ocorrem nos Açores,além de ser o depósito de uma vasta bibliografia de biologia e ecologia, sobretudo relativa aos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde).A compilação de informação acerca da riqueza e distribuição das espécies pelas ilhas foi fundamental para detetar quais as principais lacunas de co-nhecimento da biodiversidade. Estes dados são importantes para testar no-vas teorias biogeográficas e ecológicas sobre a diversidade em ilhas, e estão a ser utilizados em diversas colaborações connosco por diversos grupos de investigação para testar novas teorias sobre ilhas.

A NOSSA MISSÃO PARA 2014-2020Nos próximos seis anos o GBA pretende dinamizar o estudo dos ecossiste-mas insulares terrestres a partir das ilhas dos Açores, criando um laboratório de excelência (“Island Lab”), vocacionado para o estudo e valorização dos recursos naturais dos Açores. Pretende-se compreender melhor quais os im-pactos na biodiversidade das ilhas de fatores como as alterações do uso do solo e perturbação dos habitats naturais das espécies exóticas invasoras e as mudanças climáticas (impactos diretos e indiretos).

BIodIVeRsIdade TeRResTRe dos açoRes:riqueza e desafios para o seu estudo e conservação

Qualquer uma destas linhas de investi-gação tem grande relevância para a sus-tentabilidade do planeta, e os seus resul-tados permitirão o desenvolvimento de estratégias adequadas para a mitigação dos impactes negativos das alterações em curso. Por exemplo, pretendemos avaliar o impacto das mudanças globais no funcio-namento das florestas naturais dos Açores e nos sistemas agrícolas da região. Mais concretamente, pretendemos acompanhar as alterações da estrutura das comunidades naturais nas suas várias componentes, ou

seja, variações na riqueza de espécies, sua diversidade funcional e genética.Outro desafio importante é a continuação da inventariação da biodiver-sidade e recursos naturais dos Açores (desde a profundeza das cavidades vulcânicas às florestas nativas, zonas húmidas e habitats agrícolas) e a sua valorarização económica. Constitui igualmente missão permanen-te do GBA promover estudos que incluam a interação entre os seres humanos e o seu ambiente, tendo em vista a utilização sustentável dos recursos naturais existentes e a mitigação de riscos ambientais junto da população. Com a nossa investigação fundamental sobre a biodi-versidade, ecologia e evolução em ilhas, estamos a contribuir à escala internacional para um debate desafiante sobre o conhecimento destes maravilhosos ecossistemas insulares e sobre as medidas de salvaguarda e conservação deste património natural e construído, que formam o ar-quipélago dos Açores.

DIA INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE

Os Açores possuem ecossistemas únicos no mundo, caracterizados por uma biodiversidade elevada. Esta

biodiversidade determina os processos ecológicos e os serviços que os ecossistemas nos prestam, constituindo o alicerce para a

existência de solos férteis, de agricultura sustentável, de florestas de produção equilibradas e ainda para a disponibilidade

de alimentos.

A OPINIÃO DE Paulo Borges, Coordenador de Investigação do Grupo da Biodiversidade dos Açores

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especial iv aniversário

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Lançado em 2010 pela Câmara de Vila Real em parceria com a UTAD, ICNF e o TAGIS (Centro de Conservação de Borboletas de Portugal), que ba-lanço pode ser feito do Programa de Preservação da Biodiversidade de Vila Real?Um balanço positivo. Desde logo, por ter sido o primeiro programa ligado ao tema da biodiversi-dade lançado por um município em Portugal. Não é comum um município dar prioridade à conser-vação de espécies e habitats. Mas Vila Real, per-cebendo a importância que a biodiversidade tem no seu território, que inclui uma área significa-tiva no Sistema Nacional de Áreas Classificadas (Parque Natural do Alvão, Sítio Alvão/Marão da Rede Natura 2000), desenvolveu um progra-ma abrangente, com inúmeras ações dedicadas à monitorização das espécies, medidas de gestão do território destinadas à preservação, sensibili-zação da sociedade e dinamização económica. O reconhecimento internacional que a Associação Internacional de Cidades Educadoras atribuiu a Vila Real, conjuntamente com Barcelona (Espa-

nha), Munique (Alemanha), Sorocaba (Brasil) e Changwon (Coreia do Sul), atesta o mérito do trabalho realizado. Quais as principais metas que o Programa preten-de atingir?Destaque para a inventariação das espécies da flora e fauna locais, a cargo da UTAD e do TAGIS, um importante acervo informativo desse património biológico, que permite saber onde estão as espécies e o seu estado de conservação, e atuar com me-didas de gestão concretas para a sua preservação. Construção de infraestruturas destinadas à pre-servação, caso do murete de proteção de anfíbios em Lamas de Olo que reduziu acentuadamente a mortalidade dos anfíbios por atropelamento. A nível da educação e da sensibilização, lançamento da coleção didática sobre as espécies locais, criada por Maria João Lopo de Carvalho, para o público juvenil. Workshops ligados à fotografia e cinegra-fia da natureza. De salientar ainda o sucesso de “O Valor dos Simples”, dedicado ao conhecimento e

uso das plantas autócto-nes na alimentação hu-mana, importante para a economia do mundo rural. Realce para a rede de voluntariado “Rogas dos Rios” que reúne mais de 200 voluntários na limpeza dos nossos rios.

Quais os principais pro-jetos atualmente em curso nesse âmbito?O Concurso de Foto-grafia, o Encontro de Cinegrafia, um docu-mentário sobre a biodi-versidade de Vila Real, que deverá ser produ-zido por Luís Quinta e Ricardo Guerreiro, algumas intervenções infraestruturais inscri-tas nas medidas de ges-tão do Plano Setorial da Rede Natura 2000, a fim de reforçar as ações destinadas à preserva-ção. Ao nível da inves-tigação, continuamos a trabalhar com a UTAD no incremento do co-nhecimento sobre o pa-trimónio genético das

Vila Real é conhecida além fronteiras pelo trabalho que desenvolve do ponto de vista do ambiente, sustentabilidade e educação ambiental. O Programa de Preservação da Biodiversidade é um dos melhores exemplos desse excelente trabalho. Este tem

como principal objetivo contribuir para a perda da biodiversidade num concelho que é constituído por várias áreas classificadas, promovendo o lema “Preservação da Biodiversidade é Promoção da Vida”. Em entrevista a Revista Pontos de Vista, Adriano Pinto de Sousa, Vereador do Pelouro do Ambiente da Câmara de Vila Real e responsável pelo programa explica os projetos que estão a ser

desenvolvidos no âmbito do mesmo.

VILa ReaL:um exemplo na protecção da biodiversidade

espécies da fauna e flora locais, sobretudo das mais emblemáticas, como é o caso da borboleta azul.

O observatório da Biodiversidade é um projeto que está incluído no Programa, no entanto, a obra está há algum tempo parada devido a dificulda-des do empreiteiro. A autarquia já encontrou uma solução para este problema? Quando será aberto um novo concurso?Vamos rescindir o contrato com o adjudicatário e abrir, no próximo mês, novo concurso de modo a termos a obra pronta este ano.

Este projeto contará com 8 hectares que vão fun-cionar como uma montra da biodiversidade do concelho. Que importância o observatório terá para o turismo e economia local?Este observatório terá um papel significativo na investigação. Pretendemos que neste local, sito no Vale da Campeã, se possa conhecer melhor a bio-logia de várias espécies botânicas ameaçadas. Que-remos que este observatório cumpra um papel no ecoturismo e na educação ambiental. Pretendemos ter uma montra neste hotspot da biodiversidade, promover o seu conhecimento e divulgar esta zona rural de rara beleza e riqueza.No âmbito do Pro-grama de Preservação têm sido lançados inúmeros concursos, seja de fotografia, ilustração…

Este tipo de iniciativas por parte das autarquias reveste-se de particular relevância numa altura em que o desemprego jovem atinge valores tão elevados e muitos se encontram desapontados com o que o país lhes tem para oferecer?Uma das vertentes mais promissoras destas inicia-tivas é poder revelar o património biológico local e o surgimento de novos talentos nessa arte. Estamos em crer que o contributo dos concursos e workshops é fundamental para revelar e abrir caminhos para esses jovens. O contato com referências nacionais e internacionais na área da fotografia proporcionam sempre novas oportunidades profissionais.

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DIA INTERNACIONALDA BIODIVERSIDADE – 22 DE MAIO

LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

Adriano Pinto de Sousa

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A VeriFone assume-se como uma empresa líder mundial em tecnologia de pagamento eletrónico seguro, com mais de 5000 profissionais a nível mundial e uma presença em mais de 110 países. Portugal está naturalmente nesse leque de países onde é possível observar a presença da VeriFone. Neste sentido, de que forma tem a marca vindo a crescer a nível nacional e quais as principais mais--valias que apresenta aos seus clientes?A presença da VeriFone em Portugal conta com mais de 25 anos. A partir de junho de 2013 essa presença tornou-se direta, após aquisição da uni-dade de pagamentos da Gfi, que era até então re-presentante dos produtos VeriFone no território nacional. Desde então temos, com algum sucesso, aumentado a nossa base de clientes e de soluções.Esta operação consolidou a experiência acumu-lada de uma equipa local com a escala global do líder desta indústria a nível mundial. A presença da VeriFone em Portugal traz, naturalmente uma escalabilidade e um acesso a um vasto portfólio de produtos e serviços de valor acrescentado, para além da dinâmica de inovação constante que ca-racteriza a marca em todo o mundo.

Que género de serviços apresenta a VeriFone aos seus clientes em Portugal?A VeriFone Portugal oferece uma gama completa de soluções de pagamento seguro de última gera-ção: TPAs de Balcão, Pagamento Móvel, Pinpads e Pagamentos não-atendidos (self-service).Para além disso, garantimos diretamente o aces-so a uma especialização e a um leque alargado de soluções e serviços de valor acrescentado para os clientes, bancos, acquirers, comerciantes e consu-midores finais. Oferecemos um tempo médio de resposta de 24 horas em manutenção e um serviço Premium para grandes clientes. Temos uma equi-pa de Call Center e Help Desk, operacional to-dos os dias das 8h00 às 20h00 e estrutura própria de Field Service. Estamos presentes em Portugal Continental e nas ilhas da Madeira e Açores e es-tabelecemos parcerias locais nos países africanos de língua oficial portuguesa. Em breve teremos uma oferta cada vez mais enfocada em PaaS (Pay-ment as a Service), uma solução de serviço único (hardware e serviço) com soluções adaptáveis à medida dos comerciantes (exemplo: soluções de fidelização, reporting, controlo de stocks, apoio à venda, base de dados de clientes, etc).

De que forma garantem o acesso a uma especiali-zação e a um leque alargado de soluções e servi-ços de valor acrescentado para bancos, acquires, comerciantes e consumidores finais? Atualmente, a VeriFone tem 20 milhões de so-luções instaladas e testadas em todo o Mundo, entre as quais destacamos de soluções mobile,

contacless/NFC, Mobile POS (Point Of Sale). A nossa presença direta é sinónimo, obviamente, de um acesso também ele direto a estas soluções, ajustadas e adaptadas às necessidades locais.

Para que setores de mercado estão direcionados os produtos e serviços da VeriFone? Quais são as vantagens dos mesmos?As soluções da VeriFone foram desenhadas para responder às necessidades específicas de vários setores. Temos clientes em áreas como o Retalho, Bancos,Transportes, Gasolineiras e outros negó-cios de self service (parking, ticketing...).Por exemplo, no Retalho estamos a desenvol-ver soluções de pagamentos móveis no ponto de venda, através da ligação a dispositivos mó-veis como smartphones e tablets. Estas soluções oferecem novas experiências de compra, venda e pagamento, a partir de qualquer lugar, por meio de aplicações que transformarão por completo as interações entre comerciante e consumidor. As vantagens são enormes para os clientes finais, Bancos, acquires e comerciantes, uma vez que aumenta a receita, melhora a experiência de con-sumo e fideliza o cliente.

De que forma é que esses produtos e serviços «made in» VeriFone presentes nos vossos clientes, são tam-bém uma mais-valia para o cidadão comum?A VeriFone está na linha da frente quando se fala em solução de pagamento. Este posicionamento traz uma responsabilidade acrescida na garantia de inovação, valor acrescentado e segurança nas mais sofisticadas experiências de pagamento do consumidor em todo o mundo. É importante que o consumidor não se preocupe com questões de certificação e segurança quando efetua os paga-mentos das suas compras. A VeriFone garante que todas as suas soluções estão em conformida-de com todas as normas de segurança mundiais de pagamentos. Para além disso, os nossos servi-ços oferecem valor acrescentado para o cidadão, tornando a sua experiência de compra mais in-tuitiva e cómoda. Ao potenciar a agradabilidade

Com presença direta em Portugal desde o ano passado, a VeriFone é sinónimo de comodidade, velocidade e segurança na realização de operações de pagamento eletrónico e serviços de valor acrescentado no ponto de venda, através de uma gama completa de soluções de última geração: TPA de balcão, pagamento móvel, pinpads e pagamentos não atendidos. A Revista Pontos de Vista falou com João Girardi, General Manager da VeriFone em Portugal, que é também responsável pela gestão dos mercados africanos de língua oficial

portuguesa. “Nestes mercados ambicionamos uma quota superior a 50% nos próximos 2/3 anos”, afirmou nesta entrevista.

“a VeRIFone esTá na LInHa da FRenTequando se fala em solução de pagamento”

da sua experiência de compra, está a potenciar claramente o consumo e consequentemente a fi-delização – pontos positivos para o comerciante.

Com uma presença bastante assinalável em Por-tugal, a VeriFone encontra-se também presente nos mercados africanos de língua oficial portu-guesa como operadora local que contempla a prestação direta de serviços de suporte e solu-ções de valor acrescentado na área dos pagamen-tos. Porquê esta aposta?A VeriFone Portugal é também responsável pela gestão dos mercados africanos de língua oficial portuguesa. Esta gestão é feita em conjunto com entidades locais, com quem temos uma relação de parceria sólida e de longa data. Estes parcei-ros representam a nossa marca nestes mercados e têm acesso às várias famílias distintas de pro-dutos e soluções VeriFone. São também respon-sáveis por garantir os serviços de suporte, manu-tenção e segurança a nível local, obviamente em estreita relação com a VeriFone. Nestes mercados ambicionamos uma quota superior a 50% nos próximos 2/3 anos. Para tal,queremos proceder ao lançamento de novos produtos e certificações, aumentando assim o portfólio da VeriFone nes-tes países. Apostaremos igualmente na qualidade de serviços, sempre através dos nossos parceiros, e na melhoria da manutenção de terminais jun-to dos comerciantes, o que se vai traduzir num fator diferenciador nestes mercados. Entraremos também nos vários segmentos de mercado, à se-melhança do que estamos a fazer em Portugal.

Que análise perpetua do mercado de TI em Portu-gal? Quais são as principais mais-valias do mesmo e as principais vicissitudes? Estamos atrasados re-lativamente a outros congéneres europeus?Do ponto de vista geral, o mercado de IT em Portugal é naturalmente reduzido. O que impor-ta referir é que temos ativos/condições enquanto país, que podemos e devemos exportar. Como por exemplo serviços especializados e outsour-cing de IT para grandes grupos internacionais, assentes nos nossos excelentes técnicos de IT, com capacidade de falarem várias línguas a um custo competitivo. Ainda não estamos a conse-guir alavancar devidamente estas competências.Ao nível do setor de pagamentos, Portugal ain-da se situa na cauda da Europa. Situação que, por exemplo, não se compadece com o facto de termos uma das maiores penetrações de terminais de paga-mento per capita na Europa. Falamos de um atra-so sobretudo ao nível das soluções. Na Europa do Norte, as soluções de reporting, loyalty, clienteling são já uma realidade de muitos anos. O Mobile é já também uma realidade nestes países, e em Portugal ainda se está a discutir os primeiros passos.

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INOVAÇÃO COM VALOR

João Girardi

especial iv aniversário

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Qualidade de vida em Torre de Moncor-vo resume-se a isto: “é poder cumpri-mentar as pessoas com um sorriso, ser muito bem recebido por todos, desde o

mero transeunte até ao comerciante local, é poder estacionar o carro e fazer um passeio pelo centro da vila. É poder dizer: ‘estou a sorrir, estou em Moncorvo’”. Mais do que as palavras do Presi-dente da Câmara Municipal, estas são expressões de um homem da terra. Nuno Gonçalves nasceu em Torre de Moncorvo. Fez a instrução básica e secundária e mais tarde partiu para Coimbra para concretizar o seu desejo de ser advogado. Mas, há oito anos, quis o destino que ele regressasse ao seu “berço”. Se foi com a intenção de ser Presi-dente da Câmara? “Não”, respondeu. Aliás, os 24 anos de mandato com maiorias significativas de Fernando Aires Ferreira reforçavam este desafio ao qual disse sim e nas últimas eleições autárqui-cas a população acolheu-o novamente. A advoca-cia ficou de lado mas um dia irá regressar, depois de terminar a sua missão em Torre de Moncorvo.A propósito das celebrações dos 40 anos do 25 de abril, Nuno Gonçalves afirmou: “o 25 de abril não é de direita nem de esquerda. É um caminho que temos de continuar a fazer para chegarmos ao intuito desta data. No nosso mandato, é um intuito claramente social”. Num território com baixa densidade populacional e que de dia para dia vai perdendo os seus habitantes, é premente captá-los e convidá-los a ficar. “Temos paisagens fabulosas, o melhor turismo gastronómico que uma região pode ter, produzimos os melhores vinhos do Mundo. Podemos e temos de nos vol-tar para o turismo e para o incremento da nossa ação social”, explicou o autarca. O que tem sido feito neste sentido? Com a Fundação Francisco António Meireles, a autarquia lançou o programa “Ninguém fica de fora”, uma iniciativa que visa reforçar o acesso à cultura das crianças e jovens institucionalizados. Basta um exemplo: “podem ir à Escola Municipal Sabor Artes aprender ca-vaquinho, viola, piano, violino, entre outros, de forma totalmente gratuita, assim como usufruir de outros equipamentos”, contou Nuno Gonçal-ves. O projeto Cento e 12 Social é outra concre-tização no terreno da preocupação da autarquia. Em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Torre de Moncorvo, esta iniciativa de cariz social proporciona reparações domésticas e cui-dados de saúde à população idosa e sem recursos económicos do concelho. Trocar uma lâmpada ou solucionar um problema da canalização deixam de ser preocupações sem fim à vista. O Banco

Solidário de Torre de Moncorvo, que celebrou um ano de existência no passado dia 24 de mar-ço, é outro grande exemplo. Intervindo junto da população mais vulnerável no combate à pobreza e exclusão social, esta equipa recolhe, ao longo de todo o ano, alimentos e vestuário que são depois encaminhados para as famílias mais carenciadas.

“CULTURA É CAPITAL”Numa das suas linhas de campanha, Nuno Gonçalves realçava a importância de promover e apoiar projetos concretos de educação para a cultura, uma questão que fez o autarca relembrar um trocadilho que usavam: “cultura é capital”. O objetivo é mostrar que a cultura não está somen-te em Lisboa, na capital do país. Está também em Torre de Moncorvo. É preciso transmitir essa mensagem aos jovens porque “quanto mais cul-tura adquirirem, menos expostos estão quando saírem de Torre de Moncorvo”, defendeu. E falar de cultura nesta região é falar do Museu da Fo-tografia onde estão registadas mais de cem mil imagens datadas desde o século XIX. É falar do facto de aqui estarem as primeiras filmagens do Douro Superior que nem a Cinemateca possui, em 8mm, 8,5mm, 9mm e 9,5mm. É falar do Mu-

Torre de Moncorvo ou simplesmente Moncorvo. Pertencente ao distrito de Bragança, esta terra sabe receber com o coração aberto. Protegida pelos rios Sabor e Douro, Torre de Moncorvo tem tesouros que fazem com que Portugal sinta orgulho de si próprio.

Aqui está o Castelo de Torre de Moncorvo, mandado construir por D. Dinis, monarca que outorgou a carta de floral que lhe deu a designação que hoje se conhece. É de história que aqui se fala. Esta é, aliás, uma terra preenchida por monumentos históricos e

cada um fala de um passado que se quer preservar. Esta é a missão de Nuno Gonçalves, advogado de profissão e, desde as últimas eleições autárquicas, Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, uma oportunidade que o levou a retornar à sua terra

natal, aquele que diz ser o seu berço.

“esToU a soRRIR,estou em moncorvo”

seu da Arte Sacra onde está disponível um extra-ordinário espólio de figuras de santos e roupas caraterísticas da Igreja. Todas as entradas são gra-tuitas e o convite será sempre válido. Além disso, Torre de Moncorvo apoia os escritores morado-res ou provenientes da terra ou simplesmente que tenham nesta região uma fonte de inspiração e escrevam sobre Moncorvo. Estas são formas de combater o abandono da população e de preparar os jovens para o ensino superior, sempre com a perspetiva de regresso. Dentro deste cenário, há um forte desejo de que o projeto mineiro seja em breve uma realidade. O interesse pelo ferro é fomentado desde há muito pela existência do Museu do Ferro, único no país. “Se conseguir-mos que o projeto mineiro seja uma realidade, estamos a falar de postos de trabalho diretos e indiretos na ordem dos 2500 trabalhadores. É um incrível fomento empresarial numa terra como é Torre de Moncorvo”, garantiu Nuno Gonçalves. A MTI – Ferro de Moncorvo, em-presa concessionária das minas de ferro de Torre de Moncorvo, no Nordeste Transmontano, pers-petivou recentemente que a exploração mineira irá começar no final de 2016, antecipando, assim, em um ano o prazo dado pelo Governo para a conclusão da conceção experimental do projeto.Este é um setor em crescimento mas ideias para outros projetos têm no mais recente Gabinete de Apoio ao Investidor um parceiro. Este espa-ço serve para dar a conhecer as oportunidades existentes e ajudar a empreender um negócio. “O gabinete quer ser um parceiro desde o primeiro contato até à implementação no terreno do ne-gócio. Temos técnicos especializados que falam com a pessoa, analisam o sentimento e o interesse em investir na região e encaminham para as me-lhores medidas. Depois da aprovação do projeto, ajudamos a concretizá-lo no terreno”, explicou o autarca. Torre de Moncorvo tem algo difícil de encontrar noutra qualquer região: a qualidade do seu pro-duto. E foi sabendo disso que a autarquia criou a insígnia “made in Torre de Moncorvo”, uma for-ma de levar os produtos tradicionais além fron-teiras com uma marca comum e de preservar os ex-líbris desta região transmontana. Foi, assim, criada uma bolsa online com produtos regionais com uma certificação de qualidade. A autarquia abre as portas aos comerciantes, levando-os a marcar presença em feiras e eventos de renome internacional e ajudando-os a potenciar contatos, vendas e, no final, haverá certamente um retorno de turistas.

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QUALIDADE DE VIDA

Nuno Gonçalves

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UNIÃO ENTRE MUNICíPIOSEnquanto Presidente das Associações dos Muni-cípios do Douro Superior e do Baixo Sabor, são muitos os desafios que terá de enfrentar. Uma medida que desde logo implementou é chamar todos os presidentes de Câmara destas regiões sempre que se reúne com um membro do exe-cutivo. Querer todas as valências e o concelho vizinho não ter nenhuma faz parte do passado. Aliás, Nuno Gonçalves diz mesmo terem apren-dido com as consequências da localização de três hospitais distritais na linha do IP4. “Temos de pensar no território como um todo. Os muni-cípios que têm o problema da baixa densidade populacional vão ter de coordenar as estratégias que querem ver implementadas nas suas regiões. É esta cooperação que terá de acontecer não só pelas restrições orçamentais mas também por-que o tempo das quintinhas acabou”, defendeu. Estando à frente das associações destes municí-pios, Nuno Gonçalves levantou dois principais problemas. Se no Douro Superior a principal prioridade será reforçar a comunicação que é fei-ta, mostrando o que de melhor aqui se faz, no Baixo Sabor o problema está na gestão do fundo de 700 mil euros que os quatro concelhos rece-bem por ano. “É o ICNF (Instituto de Conserva-ção da Natureza e Florestas) que nos diz onde é que devemos investir. Ora, isto é caricato. Como é que uma entidade que está em Lisboa gere os interesses dos municípios?”, questionou. Mas, com a criação de uma agência de desenvolvimen-to regional o panorama pode mudar, permitindo avançar com alguns projetos estruturantes consi-derados de extrema relevância para as regiões. Os municípios não podem ter 70 quilómetros nave-gáveis ao abandono e é, por isso, premente avan-çar com projetos que rentabilizem este espaço. Com vista ao desenvolvimento turístico de toda a área abrangida pela barragem, a Associação de Municípios criou o projeto “Lagos do Sabor”, a nova marca turística para a albufeira do Baixo Sabor. “Este projeto está pensado para desen-volver o turismo em comunhão com a natureza. Para quem quiser passar cá um fim-de-semana, pode alugar uma casa barco, entra em Moncorvo, tem sempre onde deixar o barco atracado e per-corre todo este espaço”, explicou. Neste projeto é proposta a colocação de casas flutuantes nos três lagos, nomeadamente o Lago de Cilhades (Torre de Moncorvo), o Lago do Medal (Mogadouro) e o Lago dos Cerejais (Alfândega da Fé). Voltando a Torre de Moncorvo, Nuno Gonçal-ves espera ver outra ideia concretizada: a Aldeia da Foz, a última aldeia piscatória do distrito de Bragança e uma das últimas a nível nacional. Aqui, ainda se respira o dia a dia da pesca. Aqui, um peixe é apanhado de manhã e ao almoço já o pode desfrutar num dos restaurantes típicos. Em

julho há, aliás, o Festival das Migas e do Peixe do Rio, um evento que faz jus a toda esta tra-dição. Neste sentido, Nuno Gonçalves lançou o repto: “as nossas instituições e o nosso poder central têm de ver uma coisa simples. Não podem querer preservar uma aldeia como esta e esque-cerem-se que é vital ter lá um cais para barcos de grande porte. A Foz do Sabor merece isso”, realçou. Outro dos problemas de Moncorvo está na inexistência de uma unidade hoteleira. Os es-paços de turismo rural e agroturismo são de uma qualidade extrema mas, em momentos de grande afluência turística, é difícil hospedar muita gente. “Temos um projeto que está a ser aprovado pelas instâncias competentes que é a pensão de Cam-pos Monteiro e temos ainda um magnífico hotel que nos anos 80 era muito conhecido e hoje está abandonado, o Hotel Brasília”, explicou o edil. Ainda no seguimento das suas ambições para aquela que é a sua terra, Nuno Gonçalves quer implementar o bairro judaico e marrano. Este será um passo importante para que Torre de Moncorvo possa ter um centro histórico com vida. O património de uma terra é erguido pe-los monumentos que trespassam gerações mas, essencialmente, por homens e mulheres e estes povos, aqui, em Torre de Moncorvo e por toda a região de Trás-os-Montes deixaram uma heran-ça que deve ser sempre recordada.

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Particularidades de Torre de Moncorvo- Amendoeiras em FlorNos meses de Fevereiro e Março, a floração das amendoeiras criam um retrato descrito como um “lindíssimo manto branco e rosa”. Este “mi-lagre” da Natureza é assinalado todos os anos com algumas atividades, entre elas a Feira Medieval, que além de comemorarem o início da Primavera, contribuem para o fomento dos comerciantes locais.

- Capital Mundial do FerroTorre de Moncorvo tem sido, ao longo dos tempos, considerada a “capital mundial do ferro”. Aqui estão localizadas as maiores jazidas de ferro existentes na Europa, as minas de Torre de Moncorvo. Atualmente, a reativação das minas pode implicar um investimento de cerca de 600 milhões de euros, num processo que está ainda dependente de uma série de formalidades.

- Produtos tradicionaisHá muito que o concelho de Torre de Mon-corvo tem conquistado o estômago de quem por lá passa, nomeadamente pela doçaria tradicional, em especial a Amêndoa Coberta. Destacam-se ainda os pratos de borrego e o tradicional queijo terrincho e terrincho velho.

especial iv aniversário

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É do conhecimento comum que aprender uma segunda língua nos primeiros anos de vida estimula a inteligência, a criatividade e é um passo à frente para competir no

mercado de trabalho global. Escolher um projeto educativo que abra oportunidades internacionais para os filhos é, por isso, o principal desiderato dos pais quando matriculam os seus educandos no St. Peter’s School. A par, obviamente, da importância dada aos bons resultados do colégio, que fica sem-pre classificado numa posição cimeira na listagem de graduações das escolas nacionais, pelos bons resultados dos alunos nos exames nacionais e ad-missão ao ensino superior. “Temos sempre alunos bolseiros, por exemplo, na Universidade Católica porque têm ótimas médias. Para além disso, vão muito bem preparados e têm sempre sucesso no primeiro ano de faculdade quando todos sabemos que o primeiro ano é sempre um ano de grande razia a nível da massa estudantil porque a falta de pré-requisitos não permite que os alunos ascen-dam”, afirma Isabel Simão.Em 2013, este estabelecimento de ensino ficou em segundo lugar nacional no ranking das es-colas de sexto ano. Quando acrescentamos a es-tas provas também as de nono ano, o St. Peter’s School passa para terceiro lugar na classificação das escolas nacionais, num panorama pouco fa-vorável para as escolas públicas em que mais de 90% obtiveram resultados insuficientes.No que concerne às escolas secundárias, ocupa o 12º lugar nacional. De referir que, no passado ano letivo, constatou-se uma descida nas médias dos exames a nível nacional, o que não significou, no entanto, uma descida dos resultados obtidos pelo colégio na tabela das escolas nacionais. Pelo con-trário, verificou-se uma subida de três posições.Este ano o St. Peter’s School junta-se ao restri-to leque de escolas com currículo International Baccalaureate (IB), assumindo assim o estatuto de Escola Internacional. Apenas seis colégios portugueses são escolas IB, são eles o Carluc-ci American International School of Lisbon, o colégio Planalto, o Oeiras International School, o Oporto British School e o St. Julian’s Scho-ol. Ser uma escola IB é ser certificada pela In-ternational Baccalaureate em todos os níveis de ensino, do fundamental ao médio, o que faz com que a mesma seja reconhecida internacio-nalmente como uma escola de altíssimo padrão, que prepara os seus estudantes para o sucesso nos principais exames nacionais e para o difícil

mundo do acesso às melhores universidades do mundo, como Harvard ou Cambridge. Ao ser uma escola IB, o St. Peter’s School proporciona maior flexibilidade aos estudantes que transitam de um país para o outro durante o seu período de formação. Estas escolas são por isso muito procuradas por aqueles que apostam num currículo de excelência e cosmopolita; por aqueles que querem seguir o ensino superior em universidades além frontei-ras, assim como pelos pais cuja nacionalidade difere do país onde o filho estuda - ainda mais se tiver uma profissão que obriga a mudar várias vezes de residência – dado que assim se consegue um currículo mais uniforme, amplo e rigoroso para o educando. O IB é uma fundação educacional sem fins lu-crativos, com sede na Suíça e atuação em 146 países. Foi criada por um grupo de professores da Escola Internacional de Genebra que vislumbra-vam uma nova educação, voltada para um mundo dinâmico e globalizado. O seu sistema de ensino é reconhecido pelo alto rendimento académico, pela qualidade e modernidade do seu programa e pelos esforços em formar jovens questionadores, responsáveis e atentos e preocupados com as ques-tões globais relevantes e atuais. O IB oferece assim uma formação que enfatiza o desenvolvimento pessoal dos alunos, valiosa não só para alunos com

O Colégio St. Peter’s School surgiu no início dos anos 90 pelas mãos de Armando Simão e da esposa Isabel Simão, num contexto em que, “a educação era pouco exigente e, para quem estava ligado ao ensino público, como era o meu caso, havia sempre o sonho de

fazer algo pela educação, uma educação menos massificada e com preocupações que ultrapassam o currículo”, explica a própria, Diretora Pedagógica deste estabelecimento de ensino de referência em Portugal. Foi assim, com a missão, de fugir ao modelo

tradicional de ensino, no qual Isabel Simão não se revia, que nasceu, na margem sul do Tejo, um colégio cujo plano curricular assenta no ensino bilingue, com a língua portuguesa e inglesa logo a partir dos três anos de idade. Este ano o colégio assume como desafio o papel de ser uma escola IB! Há apenas seis colégios IB em Portugal! Criatividade, imaginação, interculturalidade, cosmopolitismo

e cortesia são alguns dos principais valores promovidos por um instituto de ensino no qual o desenvolvimento dos talentos e competências pessoais dos alunos vem em primeira instância.

Um CoLégIo IB qUe PRePaRaos alunos para o mundo global

habilidades médias, mas também amplamente de-safiadora para os alunos mais inteligentes e valio-sos, sendo por isso considerado por muitos como a educação ideal para os jovens do século XXI.

“AS CRIANÇAS SÃO UM MUNDOE O NOSSO OBJETIVO É ExPLORAR ESSE

MESMO MUNDO”Assumindo-se como uma referência de ensino bilingue em Portugal, no St. Peter’s School, o processo de alfabetização inicia-se logo no jar-dim de infância, a partir dos três anos de idade. “Entre os três e os quatro anos os nossos alunos já sabem ler e escrever. As crianças são um mundo e o nosso objetivo é explorar esse mesmo mundo, optando pela estimulação. É fantástico ver como as crianças gostam e se divertem, aos quatro anos, a aprender matemática ou a excitação com que ficam por já saberem escrever o nome dos pais. Para além disso, uma criança fala uma língua es-trangeira num tempo recorde em que um adulto nunca seria capaz”, explica a diretora do colégio.O prazer do conhecimento e da descoberta no jardim de infância são estimulados tanto em ati-vidades desenvolvidas no espaço do colégio como em visitas e passeios a jardins, parques, museus, teatros…Tendo como fim uma formação universal, o co-légio St. Peter’s School promove também, desde

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EDUCAÇÃO COM VALOR

Isabel Simão

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cedo, o ensino de outras línguas. Assim, no se-gundo ciclo, enquanto ciclo de transição, é alar-gado o plano de estudos da língua inglesa, como forma de desenvolver a oralidade, aprofundar os conhecimentos de literatura inglesa e preparar os alunos para a certificação pela University of Cambridge. No quinto ano, o currículo é enri-quecido pela introdução do estudo da língua espanhola, do latim e do mandarim, sendo este último opcional. No sétimo ano, é introduzido o alemão. Para Isabel Simão, não faz sentido a ex-clusão do latim nos planos curriculares do ensino público, algo que considera “fundamental para

que se conheça e perceba a língua portuguesa”. O mandarim, por sua vez, surgiu de forma natural no colégio, como resposta ao pedido de inúme-ros pais e pelo facto de “termos uma comunidade chinesa simpática cá dentro”, refere a diretora, fruto da atração que Portugal exerce sobre os investidores estrangeiros, nomeadamente como resultado da atribuição dos golden visa.

“NóS NÃO LIQUIDAMOSMATÉRIAS, ACRESCENTAMOS”

Já no ensino secundário é adotado um currículo concebido para jovens com ambição académica e cultural, que têm perspetiva de conhecimento interdisciplinar, que não se feche num acumular de aquisições compartimentadas, mas se abra às necessidades de todos e cada um, numa dimen-são nacional e internacional. Assim, é facultado aos alunos um programa académico que lhes confira a possibilidade de adquirirem um nível global superior, através de um alargamento dos planos curriculares. “Nós não liquidamos maté-rias, acrescentamos, por isso apesar do currículo diferenciador que temos não fugimos à matriz daquilo que o ministério da educação considera obrigatório para o plano de estudos de cada ano”, faz questão de frisar Isabel Simão.Para além disso, a motivação para atividades de pesquisa e experimentação são prementes, bem

como a diversificação da oferta de atividades e projetos extracurriculares. Como tal, tendo sem-pre em consideração a importância atribuída ao desenvolvimento de graus linguísticos mais ele-vados nas diferentes línguas lecionadas, é pro-movido um horário de preparação dos alunos do ensino secundário para os exames de certificação oficial emitidos pelos British Council e pelo Ins-tituto Cervantes. Os exames são ainda realizados no próprio colégio, uma vez que o St. Peter’s School é reconhecido e certificado como centro de exames por algumas das mais importantes instituições de ensino linguístico: o British Cou-ncil, o Instituto Cervantes, o Goethe-Institut e a Escola Chinesa a partir deste ano.Os alunos têm a possibilidade de certificar o seu nível de língua inglesa desde o terceiro ano através dos exames da University of Cambridge, ferramenta consideradas por Isabel Simão como imprescindível para o futuro. Realizam assim os primeiros testes: Startes, Moers e Flyers, passan-do pelos exames intermédios: os Key English Test (KET) e Preliminary English Test (PET) e o First Certificate in English (FCE) que é realizado, em grande parte, pelos alunos do nono ano do colégio e, por fim, culminam com a realização dos níveis mais avançados: Certificate in Advanced English (CAE) e Certificate of Proficiency in English (CPE), realizados durante o ensino secundário.

“O CICLO Só SE FECHAVA QUANDOTIVÉSSEMOS A OPORTUNIDADE

DE COLOCAR OS NOSSOS ALUNOSNA UNIVERSIDADE”

O St. Peter’s School começou por funcionar noutras instalações, mais pequenas, no centro de Setúbal, mudando-se em 1998 para as fantásti-cas instalações onde se encontra atualmente, em Palmela. “Quando o colégio nasceu apenas fun-cionava como jardim de infância e primeiro ciclo, desde logo com um currículo bilingue. Uma vez que este foi muito apreciado e a procura imen-sa, passado quatro anos tivemos que nos mudar de Setúbal para Palmela, para um espaço maior e isso permitiu também que surgisse o segundo ciclo, terceiro ciclo e por fim o secundário, há cer-ca de dez anos. Este é um projeto educativo que tinha sempre que chegar ao secundário porque o ciclo só se fechava quando tivéssemos a oportu-nidade de colocar os nossos alunos na Universi-dade para que estes, enquanto alunos do ensino superior, vissem refletidos todo o background do colégio”, refere Isabel Simão.O ensino superior é realizado, a posteriori, tanto em algumas das melhores Universidades nacio-nais como também, frequentemente, nas grandes referências de ensino universitário dos quatro cantos do mundo. Problemas linguísticos não existirão certamente, essa barreira é quebrada logo a partir dos três anos de idade, quando se inicia o ensino da língua inglesa num sistema bi-lingue. Falta de pré-requisitos nas diferentes ma-térias também não graças ao abrangente currícu-lo do colégio. Assim, do St. Peter’s School saem alunos preparados para estudar em qualquer instituto a nível mundial e enfrentar o complexo mundo global em que hoje vivemos. Para além disso, saem pessoas conscientes dos seus deveres enquanto cidadãos, com fortes convicções cívicas e de solidariedade - valores desde cedo elevados no dia a dia do colégio.

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Revista Pontos de Vista: Quais os principais desafios que se colocam ao ensino privado nos dias que corre?Isabel Simão: É muito importante que o ensino privado em Portugal mantenha o nível de exi-gência elevado e prepare efetivamente crianças e jovens para uma vida académica, pessoal e social com qualidade, algo que é árduo hoje em dia. A oferta lá fora é enorme e as tentações mais do que muitas! Os jovens hoje começam a sair muito cedo e há muitas distrações e incentivos que levam os alunos, cada vez mais, a afastarem se do estudo.

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Há quem defenda que, na maioria dos casos, o en-sino bilingue não está ao alcance de todos. É ver-dade? De que forma esta instituição tem sabido contornar estas dificuldades, ajudando os pais a investirem numa educação que abra oportunida-des internacionais aos seus filhos?O Queen Elizabeth’s School foi criado pela sua fundadora, Miss Margaret Denise Eileen Lester como uma escola inglesa para crianças portugue-sas com a valência de creche (introduzida no pre-sente ano letivo), educação pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico, que segue as orientações e o currículo oficial do primeiro ciclo do ensi-no básico português para quem os pais ou en-carregados de educação desejam uma educação inglesa coextensiva com a educação portuguesa. É dado um papel de primordial importância à aprendizagem precoce do inglês, sendo o en-sino desta segunda língua e a cultura britânica introduzidos aos alunos de uma forma intuitiva e natural em contexto bilingue português-inglês, desde os doze meses de idade. A Fundadora ao conceber o projeto educativo da nossa Escola, em 1935, quis dar a oportunida-de a alguns encarregados de educação de os seus educandos crescerem num ambiente bilingue, fazendo parte da cultura do Queen Elizabeth’s School manter certas tradições à semelhança do que se passa nas escolas do Reino Unido (Guy Fawkes Day, Remembrance Day, St. George’s Day e Sports Day).Foi de acordo com o ideário e desejo de Miss Denise Lester que foram consagrados nos es-tatutos da Fundação, instituição que esta criou com o seu nome para dar continuidade ao Que-en Elizabeth’s School para além da sua vida, a preservação dos laços históricos e culturais entre Portugal e o Reino Unido (a aliança mais anti-ga do mundo) na ação educativa que desenvolve. Esses ideais mantêm-se atendendo à grande vi-são que a fundadora desta instituição sempre teve para antecipar necessidades futuras. O Queen Elizabeth’s School procura acompa-nhar os programas de ensino vigentes nas es-colas britânicas, honrar as bandeiras destes dois países que deverão ser hasteadas a par em todos os dias e atos solenes da história dos dois países, fazendo sempre parte integrante do seu quadro de professores e administradores cidadãos de nacionalidade inglesa. Desde a sua origem que o Queen Elizabeth’s School pretende abrir, a todas as crianças que frequentam este estabelecimen-to de ensino, novos horizontes por dominarem bem uma língua franca, com a importância da

língua inglesa, numa sociedade que valoriza cada vez mais a diversidade cultural e linguística na àrea das qualificações profissionais e científicas, atendendo à crescente globalização da economia e dos mercados de trabalho.

Num momento em que o mercado de trabalho nacional está saturado e não consegue captar os nossos talentos, sente que o interesse dos pais em investir numa educação bilingue tem crescido? A escolha do estudo precoce da língua inglesa torna-se uma prioridade, atendendo a que cada vez mais os pais pretendem que os seus educan-dos iniciem a aprendizagem de uma segunda lín-gua mais cedo dado que, para muitos, a saída de Portugal e a aposta em carreiras internacionais é uma possibilidade a considerar. É na continuidade dos objetivos delineados por Denise Lester para o projeto educativo da Queen Elizabeth’s School que já estamos a implementar o Programa Internacional Cambridge Prima-ry nas áreas do Inglês como segunda língua, da Matemática, das Ciências e das Tecnologias da Informação e Comunicação, passando estas úl-timas três disciplinas também a ser lecionadas em inglês, a par da Educação Pré-Escolar e do

“A prioridade da ação educativa do Queen Elizabeth's School está direcionada para uma cultura humanista e holística que pressupõe uma pedagogia de desenvolvimento integrado e global da criança”, afirma Maria da Conceição de Oliveira Martins, Diretora do

Queen Elizabeth's School e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Denise Lester, em entrevista à Revista Pontos de Vista. Uma instituição sem paralelo, que presta um importante serviço à comunidade, sendo atualmente uma entidade de

enorme relevo na promoção de um ensino de qualidade e excelência. Não esquecer ainda que a Fundação Denise Lester e o Queen Elizabeth's School têm vindo a desenvolver junto dos seus alunos várias iniciativas de voluntariado no âmbito da integração social.

onde a PRIoRIdadeé a educação

Currículo Oficial Português do Primeiro Ciclo do Ensino Básico. A introdução do Programa Internacional da Universidade de Cambridge constitui uma mais--valia para a nossa escola e corpo docente, bem como um fator de diferenciação para os nossos alunos, uma vez que toda a comunidade educa-tiva irá usufruir de um currículo considerado de excelência a nível internacional, em complemen-tariedade com o currículo nacional português.A partir do ano letivo 2014/2015, os alunos serão avaliados por este programa bilingue da Universi-dade de Cambridge na disciplina de Inglês como segunda língua, certificada pela Cambridge En-glish Language Assessment (Cambridge ESOL – Young Learners English Tests – Starters, Movers, Flyers e First Certificate in English para os an-tigos alunos que frequentam os Clubes de Inglês do Queen Elizabeth’s School, níveis A1, A2 e B1 do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas), pelos “Cambridge Primary Progression Tests” e pelos “Cambridge Primary Checkpoint” (http://www.cie.org.uk/images/122974-cam-bridge-primary-brochure.pdf ) nas disciplinas de Matemática e Ciências lecionadas em inglês, re-correndo a uma nova abordagem no ensino de lín-guas estrangeiras no âmbito da Aprendizagem In-tegrada de Línguas e Conteúdos - AILC (CLIL – Content Language Integrated Learning), para além das provas finais de Português e Matemá-tica e exames de Inglês como segunda língua dos “Integrated Skills in English” do Trinity College London (ISE 0, ISE I, ISE II, GESE VII, GESE VIII, GESE IX e GESE X, correspondentes aos níveis A2, B1, B2 e C1 do Quadro Europeu Co-mum de Referência para Línguas. Com exceção do ISE 0, os restantes níveis são obtidos pelos an-tigos alunos que frequentam os Clubes de Inglês do Queen Elizabeth’s School).As disciplinas de Ciências e Matemática vão ser estudadas em duas línguas, português e inglês, re-correndo a materiais autênticos destes dois siste-mas educativos. Trata-se de a nossa escola passar a ter um currículo bilingue integrado, o qual culmi-nou com o reconhecimento do Queen Elizabeth´s School como Cambridge International School e Cambridge Primary School em outubro de 2013, do Programa Internacional Educativo e de Exa-mes da Universidade de Cambridge. Tem-se vindo a assistir a uma procura da nossa Escola por parte de encarregados de educação estrangeiros que pretendem fixar residência em Portugal e cujos educandos frequentaram escolas internacionais noutras partes do mundo.

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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

Maria da Conceição de Oliveira Martins

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O domínio de várias línguas é, indubitavelmente, um fator de diferenciação. Na sua opinião, este tema tem ocupado o devido espaço na agenda do Ministério da Educação e da Ciência?A meu ver tem havido uma preocupação por parte do Ministério da Educação e Ciência no que diz respeito ao ensino de línguas estran-geiras, principalmente da língua inglesa, tendo sido implementado um projeto-piloto, inova-dor no sistema de ensino público, denominado Projeto Ensino Bilingue Precoce no Primeiro Ciclo do Ensino Básico, que visa lecionar no primeiro ciclo do ensino básico, em língua in-glesa, parte dos conteúdos das áreas curricula-res de Estudo do Meio e de Expressões (http://www.dgidc.min-edu.pt/outrosprojetos/index.php?s=directorio&pid=202#i).Este projeto de ensino bilingue resulta de uma colaboração entre o Ministério da Educação e Ciência (através da Direção Geral de Educação) e o British Council Portugal e tem por base um modelo de currículo integrado, no qual a apren-dizagem é realizada através de duas línguas vei-culares – a língua materna e a língua inglesa. Outro projeto que é de assinalar é o Projeto Key for Schools Portugal, com início no corrente ano letivo. O Key for Schools Portugal (http://www.

gave.min-edu.pt/np3content/?newsId=515&fileName=INFO_1.pdf ) é um projeto que tem como principal objetivo a aplicação obrigatória aos estabelecimentos de ensino público, coopera-tivo e privado que lecionem o 9º ano de escola-ridade de um teste de língua inglesa que permita certificar níveis de proficiência linguística por uma entidade externa reconhecida internacional-mente, a Universidade de Cambridge, segundo os níveis A1 a B1 do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas. O teste Key for Schools pode ainda ser realiza-do opcionalmente por alunos com idades com-preendidas entre os 11 e os 17 anos a frequentar outros níveis de escolaridade que o solicitem (6.º, 7.º, 8.º, 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade).

Acredita que “a prioridade da ação educativa nos sistemas de ensino deve estar direcionada para o bem estar, formação pessoal e social do aluno”. Na realidade nacional, esta tem sido uma linha de atuação dos agentes deste setor?A prioridade da ação educativa do Queen Elizabeth’s School está direcionada para uma cultura humanista e holística que pressupõe uma pedagogia de desenvolvimento integrado e global da criança, respeitando a sua individuali-

dade, realização pessoal e sucesso escolar com a responsabilização do aluno pelo seu percurso de aprendizagem e inserção na vida ativa, promo-vendo a educação para a cidadania e a defesa dos direitos humanos no combate a todas as formas de exclusão e discriminação.A Fundação Denise Lester e o Queen Elizabeth’s School têm vindo a desenvolver junto dos seus alunos várias iniciativas de voluntariado no âm-bito da integração social de idosos residentes em lares de terceira idade, de apoio a crianças desfa-vorecidas e a jovens portadores das mais variadas deficiências.O Ministério da Educação e Ciência tem privile-giado a Educação para a Cidadania, entendendo--a como uma dimensão transversal ao currículo, de acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, artigo 3º, alínea m). Por outro lado foi aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 29/2013, de 8 de maio, o Plano Nacional do Voluntariado 2013-2015 que define um conjunto de medidas condu-centes à valorização e reconhecimento de ações de voluntariado como essenciais para o exercício de uma cidadania ativa e à criação de um am-biente propício ao exercício do voluntariado em Portugal.

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Se possui um telemóvel, um computador ou simplesmente uma televisão, não te-nha dúvidas: vive na era do retangolítico. Estamos rodeados de retângulos digitais

que nos ajudam a produzir melhor mas, por ou-tro lado, são excelentes instrumentos de distração que nos afastam das nossas tarefas essenciais. Por isso, quando alguém nos diz: “tens de aprender a gerir o teu tempo”, não há nada mais erróneo. Não é por saber geri-lo que o tempo deixará de ter as 24 horas que, muitas vezes, “passam a cor-rer” e outras parecem intermináveis.Tânia Dimas, Business Process Senior Manager e iMind Map Master Instructor e partner da Ti-me4Thinking, acredita que as grandes soluções são encontradas em pequenos momentos em que paramos para pensar. “Não há time mana-gement, há task management. O tempo não se gere e os dias não esticam. Faça eu alguma coisa ou não faça nada, o tempo passa e é impiedoso. Quando chegamos ao final do dia e não fizemos nada, sentimo-nos frustrados, um sentimento a que tenho assistido muito nos últimos anos nas empresas com as quais trabalho. Por outro lado, o cérebro sente-se feliz quando nos sentimos produtivos e eficazes”, explicou. Esta é a grande mudança em que a T4T está a trabalhar. Gerir as tarefas e organizar o que se tem para fazer é a chave para que um profissional se sinta realizado e é a chave para que uma empresa seja produtiva. E é aqui que entram as novas tecnologias e o pa-pel arrebatador que têm desempenhado no nosso quotidiano. Se, sem elas, o Ser Humano já tem uma grande dificuldade em concentrar-se, com os telemóveis a tocar e a barra do chat no Face-book a piscar, o cérebro tem de fazer um esforço redobrado para se concentrar no que deve ser fei-to. “O nosso objetivo é orientar o trabalho para a gestão de tarefas para que os projetos cumpram os prazos estipulados, o que em grande parte dos casos não acontece porque o trabalho foi mal definido ou mal implementado. As pessoas estão muito tempo nos seus postos de trabalho e o nosso cérebro também ajuda a não sermos produtivos porque este não é o nosso ambiente natural. Para tudo o que estiver fora das nossas necessidades básicas (fome, sono, frio), o cére-bro terá de fazer um esforço grande”, disse Tânia

Dimas. A concentração é, por isso, uma técnica treinada e, fazendo uma ligação entre as inter-mináveis capacidades do cérebro e as tarefas que devem ser feitas com ou sem a influência da era do retangolítico, este é o trabalho que a T4T se propõe a fazer. Hoje, esta equipa continua a colaborar com es-colas e ajuda estudantes a treinar a concentração e a maneira como estudam mas foi, sobretudo, na vertente empresarial que esta conversa se centrou. Partindo do mesmo princípio de que o cérebro tem um potencial enorme que não é uti-lizado e não é devidamente valorizado, o objetivo é treinar a memória, a concentração e a criativi-dade para melhorar a capacidade de resolver pro-blemas. Também as novas tecnologias entraram no quotidiano das empresas portuguesas e, com esta “invasão”, surgiram as naturais vantagens e desvantagens. Neste cenário, a T4T pretende li-gar a utilização de metodologias de pensamento (como organizar ideias, como resolver proble-mas com o uso das tecnologias. “Além de fã do cérebro, sou uma adepta das tecnologias. Adoro tudo. Mas uma das coisas a que tenho assistido é que as pessoas entregam às tecnologias muitas das capacidades que temos. A nossa capacidade de resolver problemas está melhorada a partir do momento em que temos uma memória muito

Não faça a gestão do seu tempo porque o tempo não se gere. Faça a gestão das suas tarefas e resultados. O dia não passará a ter mais de 24 horas. Por isso, não importa pedirmos para que ele, excecionalmente, nos dê mais duas horas para terminar algum

trabalho que ficou pendente porque, por acaso, “perdemos” alguns longos minutos a navegar pela internet e pelo incansável mundo das redes sociais. Pare e pense no que tem para fazer. Escreva, esquematize, desligue o email e o telemóvel por algum tempo. Estas

são algumas das dicas que Tânia Dimas fez questão de deixar numa visita da Revista Pontos de Vista às instalações da Time4Thinking, uma empresa que trata o cérebro e os computadores por “tu”.

Faça a gesTão das TaReFas

bem treinada e numa determinada situação va-mos buscar a informação que precisamos. Já as tecnologias não resolvem problemas, não têm criatividade, têm memória mas não é associativa”, defendeu Tânia Dimas. Desde a gestão de email

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GESTÃO DE TAREFAS

ConsultoriaTask Management – Produtividade:- Otimização de processos manuais;- Requisitos e testes em sistemasde informação;- Manuais de procedimentos;- Análise de redução de custos.

FormaçãoTask Management – Produtividade:- Ferramentas Office (especial Outlook);- Técnicas de Resoluçãode Problemas/Criatividade;- Escrita de emails, relatórios, propostas comerciais;- Ferramentas de organização de informação;- Produtivity Coaching;- Executive Coaching;- PAC: Produtividade AtividadeComercial – NOVO

• Liberte o seu email de newsletters que não lê, spam e publicidade não desejada;

• Desligue o email e o telemóvel durante uma hora. Concentre-se!

• Escreva tudo o que ache que precisa de fazer. Faça apenas o que é importante.

Tânia Dimas

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até à identificação clara de objetivos, passan-do pela melhoria da forma como se organizam reuniões, existem metodologias que devem ser implementadas. Como é que gerimos as nossas tarefas na era do retangolítico? “Não faz mal ne-nhum que as pessoas tenham um tempo de pausa para ir à rede social ou para fumar um cigarro. Faz mal sim quando passa a ser regra e não exce-ção. Perde-se a noção do tempo quando estamos a fazer alguma coisa de que gostamos e, pelo con-trário, quando é aborrecido, o tempo parece que não passa. Mas o nosso cérebro não faz a mínima ideia do que é o tempo e tudo isto não tem mal, desde que seja controlado”, aconselhou.

PARCERIA COM A 4GPEOPLEComo podemos viver na era do retangolítico? Tânia Dimas procurou dar a resposta a esta e a outras perguntas lançando o e-book: “Produza mais: 101 técnicas para viver na era do retan-golítico”, publicado em fevereiro passado. “Os retângulos que nos rodeiam não têm sido ne-cessariamente uma ajuda à produtividade por-que as pessoas dispersam-se e podem estar, por exemplo, duas horas numa rede social sem se aperceberem. Nesta nova era temos quase que reaprender a ler e a escrever de forma a ligarmos o modo como pensamos ao uso das tecnologias”, referiu Tânia Dimas. A T4T fez recentemente uma parceria com a 4GPeople, uma empresa de formação que traba-lha na área comercial e que aproveitou as ideias transmitidas pelo livro para desenvolver um tra-balho na área da produtividade na vertente co-

mercial. São especialistas em formação que estão a adotar estas técnicas e a criar metodologias próprias de produtividade com base nas ideias defendidas pela T4T direcionadas para todos os níveis de uma empresa, desde o vendedor até ao diretor. Com estas ideias surgiu ainda a criação de três workshops que ensinam a utilizar estas metodologias. Dois já se realizaram (5 de abril e 10 de maio) e o próximo será no dia 27 de se-tembro. “Durante um dia inteiro são treinadas cerca de 35 metodologias e ferramentas de pro-dutividade sempre com uma ligação à compo-nente neurocientífica. Se as pessoas perceberem por que é que o cérebro funciona assim, usarão muito mais facilmente determinada ferramenta”, afirmou Tânia Dimas. A T4T está, neste momento, a apostar com a 4GPeople na formação orientada para as téc-nicas de produtividade para as áreas comerciais. Mas, além disso, a empresa desenvolve conte-údos à medida que podem passar por todas as áreas de uma organização, desde recursos huma-nos, produção, marketing, entre outras. São ain-da realizadas sessões de coaching individual, em que é feito um acompanhamento que ensina até a escrever um email. “As pessoas passam o dia a ver emails e não veem nada. Passaram os olhos mas não ficou nada retido porque a outra pes-soa também não teve a preocupação de perceber

como é que pode captar a atenção de quem vai ler aquela mensagem. Temos dez segundos para captar a atenção da outra pessoa. Nesse tempo o cérebro fica atento, se não estiver interessado, desliga”, explicou a responsável.

“O QUE MAIS ME FASCINAÉ AQUILO QUE EU NÃO SEI”

Mais do que ficar fascinada com a satisfação das pessoas quando conseguem finalmente ter resul-tados, Tânia Dimas confessou que o que real-mente a deixa mais feliz é o desconhecido. “Este é um mundo tão vasto que o que me fascina é ir à procura de mais coisas. Não estou satisfei-ta. O que mais me fascina é aquilo que eu não sei em relação ao nosso cérebro”, afirmou. Nes-te sentido, Tânia Dimas confidenciou-nos uma regra que implementa em si própria: “todos os dias tenho de olhar para o capítulo de um livro nem que seja apenas por 15 minutos. Tenho de aprender algo novo”. Também na era das tecno-logias isto acontece. Estamos sempre a aprender e é necessário parar para perceber como é que o cérebro funciona. Assim, para fazer uma ges-tão eficaz das suas tarefas, Tânia Dimas deixou a mensagem: “utilizem as tecnologias mas com cabeça. Percebam como é que o cérebro organi-za, gere e controla aquilo que depois vai ser feito com as tecnologias”.

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• Identifique o real problema antes de ten-tar resolver uma dificuldade.

• Dedique os primeiros cinco minutos do dia a analisar o que fez ontem e o que preci-sa de ser feito hoje.

• Antes de aceitar ir a uma reunião pergun-te: o que vou fazer? Que informação vou levar e que informação vou trazer?

• Use apenas ferramentas informáticas que o ajudem. Não se disperse com muitas.

• Se trabalha num ambiente confuso, com muitas pessoas, marque uma reunião con-sigo mesmo e isole-se durante um período do dia.

• Identifique claramente as suas limitações e procure formação adequada.

• Use uma agenda.

• Divida o trabalho em pequenas tarefas. Fazer controlo com check list.

• Para cada tarefa - defina prazos curtos. Garanta que as termina.

• Crie períodos de tempo – depois de definir bem as tarefas, concentre-se 30 minutos e conclua uma ou duas.

especial iv aniversário

Page 34: Revista Pontos de Vista Edição 35

Indústria química, estaleiros da construção, la-boratório, hospitais ou outros locais durante a ocorrência de atividades de limpezas são os mais afetados pelos riscos químicos. Alguns

inquéritos revelaram que mais de 20 por cento dos europeus dizem estar expostos a fumos, va-pores e poeiras no trabalho. O maior problema é, no entanto, o risco cancerígeno. Existem dados que apontam para a existência de 32 milhões de trabalhadores europeus expostos a agentes cance-rígenos profissionais com doses consideradas pe-rigosas para a saúde, o que se traduz anualmente em milhares de doenças fatais. Entre os produtos mais perigosos contam-se o amianto, os aminoá-cidos, o cromo, hidrocarbonetos e corantes.

OLHANDO PARA PORTUGAL...…e para os acidentes laborais de um modo mais geral, em 2012 foram 149 as vítimas mortais, va-lor que diminuiu para 141 no ano passado. Os setores com maior índice de acidente foram a construção civil e indústria transformadora. De referir ainda que grande parte dos acidentes ocorrem no local de trabalho.Apesar da descida, Pedro Pimenta Braz admite que ainda é cedo para falar numa efetiva contínua redução da sinistralidade mortal uma vez que se assistiu a uma diminuição dos acidentes mortais mas a taxa de incidentes de trabalho por popu-lação empregada tem-se mantido nos mesmos valores. “Isto leva-nos a ficar um pouco descon-fiados deste número porque pensamos que possa haver uma influência da própria redução do te-cido produtivo na redução dos mesmos. Ainda assim, como é óbvio, é melhor estar a reduzir do que a aumentar e, portanto, queremos contribuir decisivamente para que esse numero continue a reduzir. Esse é o nosso objetivo máximo! En-quanto morrer uma pessoa no meio laboral nós temos que existir”.Questionado sobre a possibilidade de a crise con-tribuir para um aumento das infrações no que diz respeito à segurança, o Inspetor Geral da ACT garante que não existem indicadores formais nesse sentido. “A conjuntura levou, por exemplo, a um aumento do trabalho não declarado. Neste aspeto da segurança, não temos dados que mos-trem esse aumento. O que percebemos no ter-reno é que quando uma empresa está em crise esta é uma das áreas em que desinveste imediata-mente. Acreditamos, no entanto, que essa mesma crise possa funcionar como um fator de estímulo para que os empresários olhem para os seus locais

de trabalho e entendam que o investimento na segurança e saúde no trabalho é um investimento estrutural, com futuro e com reprodutividade”.Prova disso é o facto das grandes empresas expor-tadoras e com melhores resultados serem aquelas que “durante ano fizeram investimentos nesta área. Já as empresas que sempre desinvestiram na prevenção dos riscos profissionais são as que estão a desaparecer. São também os países em que esse investimento é mais intenso que têm aguentado melhor a crise”, garante Pedro Pimenta Braz.O inspetor geral da ACT refere ainda que aquilo que se verificava há alguns ano atrás em termos de infrações é aquilo que se verifica atualmente, ainda que com roupagens diferentes e com um alerta maior para determinados temas, de que são exemplos os riscos psicossociais ou o assédio moral e sexual. “Infelizmente, aquilo que aconte-ce é que a fenómenos antigos chamamos agora nomes novos mas não há nada de inovador no que diz respeito à segurança no trabalho. O que existe sim é um incumprimento que continua a existir em termos gerais e alguns progressos em determinadas empresas”.Recentemente, Pedro Pimenta Braz pediu um reforço orçamental para a ACT, uma vez que as verbas atribuídas para 2014 não correspondem àquelas que constavam no orçamento de estado.

A 28 de abril comemora-se tradicionalmente o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, em homenagem às vítimas dos acidentes e doenças profissionais. Este ano, a Organização Internacional do Trabalho escolheu como tema “a segurança na

utilização de produtos químicos”. Em Portugal, para comemorar a efeméride que é celebrada como Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho, a ACT promoveu uma sessão comemorativa em Lisboa. O objetivo central das comemorações é sensibilizar

os empregadores, trabalhadores e cidadãos em geral para a necessidade de prevenção e proteção, com especial enfoque para os riscos químicos que existem em diversos locais de trabalho. Para o Inspetor Geral da ACT, Pedro Pimenta Braz, é lamentável que “os portugueses ainda não assumam esta matéria como matéria central de cidadania. Fala-se de segurança e saúde no trabalho

como um tema lateral e esquecemo-nos de o ligar à vida, de o ligar às pessoas que morrem”. Um exemplo atual para essa falta de associação é a morte de inúmeros pescadores, às quais raramente é feita a referência de acidente de trabalho.

“a FenÓmenos anTIgos CHamamosagora nomes novos mas não há nada de inovador”

Questionado sobre se os cortes orçamentais estão a colocar em causa a missão desta entidade e as condições laborais em Portugal, garante que “em termos internos já otimizamos as nossas metodo-logias. No que diz respeito à nossa capacidade de estar nos locais de trabalho, ela ressente-se nalguns aspetos, designadamente na quantidade de inspe-tores no terreno, ou porque uma equipa deveria sair e não pode, ou porque um carro está avariado e não pode ser reparado. Com isto, as coisas às vezes não são feitas com a urgência que gostaríamos”.Apesar disso, a ACT tem feito um investimento contínuo na área da prevenção de riscos, menos conhecida do que a vertente inspetiva mas de igual relevância. “Estamos com um programa de sensibilização e informação em empresas e esco-las e temo-lo feito do Minho ao Algarve, este ano com maior intensidade do que no ano passado”, explica Pedro Pimenta Braz. Este papel da ACT reveste-se de uma enorme importância mas é ain-da insuficiente. Em vez de ações de sensibilização, esta entidade defende há vários anos a introdução de uma matéria curricular da segurança e saúde no trabalho, à semelhança de outros países da UE em que esta matéria faz parte do plano de estu-dos. Para o inspetor geral: “é muito difícil formar cidadãos 100% disponíveis para estas matérias en-quanto isso não acontecer”.

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DIA NACIONAL DA PREVENÇÃOE SEGURANÇA NO TRABALHO

Pedro Pimenta Braz

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Uma das principais missões do ISEC passa pela promoção da realização integral da pessoa, atra-vés do desenvolvimento do ensino e da investiga-ção moldados em padrões de qualidade. Desta for-ma, quais são as principais características do ISEC no domínio da realização humana e no fomento do capital humano?No ISEC preocupamo-nos com o aluno como um todo, na sua dimensão individual integrada num contexto de valores, social e económico. E toda a nossa oferta formativa pretende valorizar esses aspe-tos como um todo. Interessa-nos a formação global do indivíduo e não apenas os aspetos técnicos e cien-tíficos. Trabalhamos os valores humanistas, a respon-sabilidade, a motivação, o empreendedorismo.

O ensino universitário tem sido por diversas vezes «acusado» de formar recursos humanos que não são necessários ao nível do mercado do trabalho. Como é que ISEC analisa este cenário? Como é que se contorna esta inevitabilidade? A empregabilidade é uma das nossas preocupações constantes. Desde logo, como é próprio do subsis-tema do ensino superior politécnico a que pertence-mos, a forte componente profissionalizante dos nos-sos cursos, por um lado e a intensa ligação ao setor empresarial e económico e o envolvimento constante de Organizações representativas dos diferentes seto-res em que operamos, por outro, são duas caracte-rísticas do ISEC desde sempre. Por outro lado, ao apostarmos em nichos de mercado com necessidades específicas de formação superior, trabalhamos espe-cificamente em áreas com necessidades de mercado e portanto, com maiores taxas de sucesso ao nível de empregabilidade. Repare que de acordo com os da-dos que temos publicados relativamente a anos an-teriores, os nossos cursos com menores taxas de em-pregabilidade, situam-se, ainda assim, acima dos 75% de empregabilidade, o que é francamente positivo. E todos os restantes na casa dos 80-90% de emprega-bilidade. Precisamente, devido a esta nossa preocupa-ção de responder às necessidades de mercado.

No leque de ofertas formativas, de que forma é possível constatar nos mesmos uma forte compo-nente inovadora? Em que moldes? De que forma é essa característica inovadora essencial para a insti-tuição e para os vossos alunos? A inovação ao nível da conceção de novas ofertas formativas é uma clara aposta do ISEC. A criação de cursos absolutamente inovadores no panorama do ensino superior em Portugal e em áreas deficien-tes ao nível da formação superior nacional nas quais se prevê grandes necessidades de formação, é uma marca do ISEC. Temos vários cursos em que fomos absolutamente pioneiros na sua introdução ao nível do ensino superior em Portugal. São exemplo disso os nossos cursos de licenciatura em Engenharia da Segurança do Trabalho e em Engenharia da Prote-ção Civil ou o nosso Mestrado em Riscos e Proteção

Civil. Neste mesmo sentido estamos neste momento a aguardar a acreditação de um Mestrado em Gestão e Políticas Públicas de Sáude e Segurança no Tra-balho e a desenvolver vários Cursos Técnicos Su-periores Profissionais (os recém criados cursos de 2 anos no Ensino Superior) na área da Proteção Civil e Segurança e na área da Saúde Ocupacional. A com-ponente experimental tem vindo a ser substancial-mente reforçada com investimento em mais e me-lhores laboratórios que servem tanto a componente específica dos cursos como a componente científica. São também realizados exercícios práticos fora das nossas instalações, bem como visitas técnicas ajustadas aos conteúdos lecionados.

O paradigma da edu-cação, aos mais diver-sos níveis, mudou em Portugal. A mobilidade assume-se hoje como uma importante medida ao nível do conhecimen-to dos alunos. De que forma promovem pro-gramas de mobilidade, promovendo assim o conceito de «Universida-de aberta ao Mundo»?A mobilidade assume um papel determinante na estratégia de desen-volvimento do ISEC, envolvendo toda a co-munidade académica. Para além da adapta-ção de toda a sua oferta formativa ao Processo de Bolonha, o ISEC é detentor da Carta Uni-versitária Erasmus que lhe garante o estatuto de parceiro internacional de pleno direito, no âmbito do Lifelong Learning Programme (LLP). Re-

A Empregabilidade, a Internacionalização e a Inovação são três premissas essenciais no domínio das instituições de ensino. O ISEC - Instituto Superior de Educação e Ciências é o paradigma disso mesmo, ou seja, canaliza a sua orgânica no domínio do aluno, tendo sempre como principais características a excelência da sua oferta formativa, a preocupação com a empregabilidade, a promoção no domínio da internacionalização e um foco relevante na Inovação, um pilar daquilo que chamamos atualmente de «aldeia global». E é por isto e muito mais, que o ISEC é hoje uma instituição de ensino de excelência. A Revista Pontos de Vista conversou com Cristina

Ventura, Presidente do ISEC e IPA onde ficamos a conhecer um pouco mais do que se tem feito no raio de ação do ISEC.

a FoRmação gLoBaL do indivíduo

cebemos e enviamos com regularidade estudantes e docentes em programas de mobilidade, resultan-do destas trocas um grande enriquecimento para a nossa formação. Destacamos o trabalho do nosso Gabinete de Relações Internacionais que constitui a estrutura de coordenação, acompanhamento e apoio operacional ao desenvolvimento das iniciativas de cooperação nacional e de internacionalização no âmbito da formação, da investigação científica e da mobilidade académica e que desenvolve estratégias de cooperação com estabelecimentos de ensino su-perior e empresas, dentro e fora do espaço europeu, no âmbito dos programas de mobilidade de estu-dantes e docentes, ações de cooperação internacio-nal ao nível de projetos de investigação científica e que apoia o intercâmbio de docentes e alunos entre o ISEC e estabelecimentos de ensino superior e empresas estrangeiros e coordenar a mobilidade dos mesmos no âmbito de programas internacionais. Estamos igualmente já a trabalhar para a receção de estudantes estrangeiros para o próximo ano letivo ao abrigo do muito recente Estatuto do Estudante Internacional criado pelo recente Decreto-Lei nº 36/2014, de 10 março.

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EDUCAÇÃO DE VALOR

LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

Cristina Ventura

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Page 36: Revista Pontos de Vista Edição 35

Nestas primeiras décadas do século XXI, o envelhecimento da po-pulação é um dos maiores desafios sociais e políticos que os países desenvolvidos enfrentam. Para as organizações de trabalho euro-peias, a maioria da população ter mais de 50 anos é uma perspetiva

nova que determina uma visão diferente da população ativa naquilo que concerne a uma maior diversidade de idades, hábitos e estilos de vida e características individuais. O reconhecimento dos problemas decorrentes do notório envelhecimento da população tem conduzido a uma tendência natural para o prolonga-mento da vida ativa, numa perspetiva de sustentabilidade social, o que tem determinado um maior interesse pelo estudo das relações entre a idade e o trabalho. Na visão da ergonomia, esta problemática determina a necessida-de urgente de se conceberem sistemas de trabalho que integrem o processo de envelhecimento desde o início da vida ativa.As transformações ligadas à idade em relação com a atividade de trabalho podem emergir sob a forma de dificuldades encontradas pelos trabalha-

a eRgonomIae os benefícios da gestão da idade nas empresas

dores. A análise ergonómica do trabalho centra-se na análise da atividade em contexto real de trabalho, o que permite a identificação destas dificul-dades. Nesta perspetiva, é muito relevante identificarem-se os aspetos de inadequação entre as solicitações e as exigências impostas pelas situações de trabalho e a modificação da capacidade de trabalho ao longo da vida.O declínio que caracteriza o processo de envelhecimento pode ser acelera-do ou atrasado pelas características do trabalho. Deste modo, os indivíduos elaboram compromissos entre os recursos de que dispõem e os constrangi-mentos que lhes são impostos. Estes compromissos não são estáveis e vão--se adaptando às transformações técnicas, tecnológicas e organizacionais do trabalho, assim como às mudanças do próprio organismo ao longo do tempo. É reconhecido que uma elevada exposição a fatores de carga física, mental ou psíquica tem consequências para a segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores e, por conseguinte, implicações no desempenho, produ-tividade e qualidade ao nível da empresa.Deste modo, torna-se evidente que não é possível prolongar a vida ativa, ou aumentar a idade de reforma, sem que se encontrem estratégias para manter e promover a capacidade de trabalho, que irão permitir aos tra-balhadores manter níveis de produtividade e desempenho adequados aos imperativos atuais das empresas. Assim, compreende-se que a adoção de políticas e estratégias para a gestão da idade no trabalho deva ser, nos dias de hoje, uma prioridade para todos os países europeus, bem como para as empresas.Este é um momento estratégico para as organizações se prepararem para a gestão da idade no trabalho e os desafios que esta coloca. Cabe às empresas e à sociedade repensar as relações entre a idade e o trabalho e equacionar os benefícios económicos que advém destas mudanças, pois a realidade próxi-ma será a de estruturas etárias muito diversificadas, ao invés de estruturas predominantemente jovens.

DIA NACIONAL DA PREVENÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO

Na comemoração do Dia Nacional da Prevenção e Segurança não se pode deixar de olhar para uma nova realidade, o

envelhecimento da população ativa. A evolução demográfica das últimas décadas impõe que sejam tomadas medidas adequadas aos desafios colocados pelo envelhecimento da população, nomeadamente ao nível dos sistemas de

trabalho que terão que integrar um número significativo de trabalhadores mais velhos. Estas medidas deverão permitir

a máxima eficiência resultante da utilização de uma força de trabalho mais velha, assegurando a saúde e a segurança dos

trabalhadores e criando, simultaneamente, condições que favoreçam a sua motivação.

A OPINIÃO DE Teresa Patrone Cotrim, Professora Auxiliar FMH/ULisboa e Presidente da Associação Portuguesa de Ergonomia

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Page 37: Revista Pontos de Vista Edição 35

Inicialmente e a nível mundial não era espetável este mercado ter conti-nuidade após 2015, o que

foi um erro, pois estamos em 2014 e Portugal ainda está a consciencializar-se e a começar a tomar medi-das sobre esta problemática. Esta falta de antecipação, apesar dos investimentos de laboratórios, criou e cria dificuldades ao mercado de encontrar laboratórios com

capacidade de analisar amostras com tempos de resposta satisfatórios. O Grupo Eurofins Scientific adquiriu os seus dois primeiros laboratórios de amianto em França em 2005 e 2006 e começou a investir nesta área de forma mais intensa em 2010, contando com 50 colaboradores na altura. Atualmente, o Grupo Eurofins Scientific é líder no mercado de análises de amianto em França, contando com 5 laboratórios (em breve 6), 250 colabo-radores e a receber 18.000 amostras de materiais/semana, 1.250 amostras de ar/semana e outras matrizes em quantidades mais reduzidas.Em Portugal, o Grupo Eurofins Scientific é representado pela Eurofins Portugal, que faz a ligação entre o mercado português e os Laboratórios do grupo na área de análises ambientais. Para a análise de amianto todas as amostras são analisadas nos laboratórios de França, que possuem uma vasta experiência nesta área, bem como tempos de resposta otimizados de acordo com as necessidades do mercado nacional. Apesar do amianto poder ser analisado em várias matrizes, as mais analisadas são materiais e ar, utilizan-do várias metodologias descritas de seguida:

• Material- Método PLM (Polarized Light Microscopy) - É um método para de-teção da presença de amianto, pela norma MDHS 77. No caso de não ser detetado amianto por esta metodologia é imediatamente iniciado o proce-dimento pelo seguinte método:- Método TEM (Transmission Electron Microscopy) - É um método para deteção e identificação do tipo de fibras presentes no material pela norma NF X 43-050.

• ar aMbiente- Método PCM (Phase Contrast Microscopy) - É um método grosseiro que tem em conta todos os tipos de fibras (não só o amianto), aplicável em locais onde são utilizados materiais contendo amianto. Este método deteta fibras com diâmetros superiores a 0,25 µm, de acordo com a Norma Francesa XP X43-269.Em Portugal, como o Decreto-Lei n.º 266/2007 estabelece o Valor Li-mite de Exposição (VLE) em 0,1 fibra de amianto/cm3, ao ser aplicado este método serão analisadas todas as fibras (incluindo o amianto) até 0,1 fibras/cm3. Caso seja ultrapassado este valor, deverá ser realizada a análise por TEM (Transmission Electron Microscopy) ou SEM (Scan Electron Microscopy), para aferir quais as fibras que são de amianto.

qUaL a ResPosTa qUe o meRCadooferece para análise de amianto?

- Método TEM (Transmission Electron Microscopy) - Este método tem em conta unicamente as fibras de amianto sendo possível detectar fibras até 0,02 µm de diâmetro, de acordo com a Norma Francesa NF X 43-050 - Método SEM (Scan Electron Microscopy) - Este método tem em conta unicamente as fibras de amianto sendo possível detetar fibras até 0,2 µm de diâmetro, de acordo com a ISO 14966 e/ou VDI 3492. Prevê-se que as exigências do mercado nacional e internacional incremen-tem nos próximos anos e será necessário estarmos preparados para a glo-balização do mercado das análises ao amianto em variadas matrizes. Neste âmbito, o Grupo Eurofins Scientific está preparado para dar reposta ao mercado, sendo um parceiro chave não só em termos analíticos com os me-lhores tempos de resposta do mercado das análises de amianto, mas tam-bém um parceiro com experiência e know how comprovado para dar todo o apoio que os seus parceiros necessitem.

AMIANTO - AS DúVIDAS

A utilização e comercialização de produtos contendo amianto foi proibida na União Europeia a partir de 1 de janeiro de 2005, de acordo com a Directiva 1999/77/EC, de

26 de julho. No entanto França, apesar de ter sido o maior importador de amianto do mundo na década de 70, fê-lo em 1997. Com esta consciencialização, ao longo dos anos

a legislação francesa tornou-se numa das mais exigentes do mundo, com um incremento mais acentuado desde 2009, com as novas legislações publicadas quase todos os anos e

estando prevista mais uma em 2015.

A OPINIÃO DE Eliana Teixeira, Gestora de Serviços Analíticos da Eurofins

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especial iv aniversário

Page 38: Revista Pontos de Vista Edição 35

Integridade, ética, consultoria imparcial, foco no cliente e segurança no trabalho. O Bureau Veritas, hoje líder mundial em testes, inspe-ções e certificação, tem-se destacado no mer-

cado, ao longo dos seus respeitáveis 186 anos de existência, por uma perfeita combinação entre estes valores. Numa conversa com Ricardo Lopes Ferro, Diretor da empresa em Portugal, concen-tramo-nos em apenas um tópico, segurança no trabalho, e procuramos conhecer a perspetiva de uma entidade que ajuda os seus clientes a enfren-tar os desafios crescentes de segurança, dando sempre o exemplo. O Bureau Veritas está constantemente atento às melhores práticas internacionais e alterações na legislação e, como tal, realiza uma avaliação detalhada para verificar sempre o alinhamento e cumprimento das mesmas (respetivamente) e, assim, reduzir o número de acidentes que pos-sam ocorrer no local de trabalho. A missão desta equipa é “gerir o risco para o cliente ou utilizador em tudo aquilo que está relacionado com a veri-ficação da conformidade num sentido lato, desde a classificação naval à inspeção de equipamento”, explicou Ricardo Lopes Ferro. Mas, nunca dei-xando de lado o foco no cliente, o cuidado da empresa começa pelos seus colaboradores. “É nossa preocupação primordial garantir a segu-rança daqueles que realizam trabalho em nome do Bureau Veritas. Tudo aquilo que implemen-tamos nos nossos clientes, praticamos dentro de casa”, afirmou. Sendo um grupo disperso pelos quatro cantos do Mundo, qualquer acidente de um colaborador é avaliado por um comité central que irá analisar o incidente, independentemente das avaliações locais efetuadas pelo país em questão. “Se a se-veridade for elevada é inclusivamente avaliado pelo CEO do grupo. Depois disso sairá sempre uma análise do acidente e as ações corretivas que daí advêm, uma informação à qual todos os colaboradores têm acesso”, acrescentou Ricardo Lopes Ferro. Há muito que o Bureau Veritas se comprometeu a desenvolver ações formativas que respondam às necessidades e expetativas do mercado. Nesse sentido, sabendo que o cuidado com a seguran-ça pode ter um efeito muito positivo na produ-tividade e competitividade numa empresa, têm sido desenvolvidos alguns cursos direcionados para as áreas da segurança e saúde no trabalho. No final dos mesmos, os formandos estão aptos

a fazer exatamente o quê? A resposta é variável, dependendo do objetivo concreto dessa forma-ção. “Nos cursos de auditores, o formando, após a frequência e exame, estará habilitado a auditar sistemas de gestão, numa lógica de auditor ex-terno ou interno. Há essa perspetiva de qualifi-car quem avalia. Por outro lado, outra das nossas preocupações consiste em transmitir os cuidados básicos ao nível do utilizador em instalação de terceiros”, explicou Ricardo Ferro. Por outras pa-lavras, esta empresa procura atuar logo a partir de um nível mais básico que é o da sensibilização e informação sobre os riscos e perigos inerentes às atividades profissionais.“Os acidentes ocorrem na maioria das situações por lapsos, por comportamentos menos próprios ou desadequados e não propriamente por ausên-cia de regras. As boas práticas e a segurança no trabalho começam e acabam em nós”, acrescen-tou o responsável. Naturalmente que poderão ocorrer acidentes causados por uma falta de

Quando o tema é a segurança e saúde no local de trabalho, a mensagem é simples: “cada um de nós deve ser um exemplo para os outros”. Muito mais do que de regras impostas e de equipamentos essenciais, um local de trabalho seguro depende de um fator

crucial: o comportamento de cada um. É a nossa atuação que irá ditar a nossa segurança. Quem o diz é Ricardo Lopes Ferro, Diretor do Bureau Veritas, uma empresa que será sempre norteada pelo compromisso permanente de implementar no mercado as melhores

práticas de saúde e segurança no trabalho.

“as Boas PRáTICase a segURança no TRaBaLHo

começam e acabam em nós”

normas mas a lógica da formação desenvolvida pelo Bureau Veritas “deve incidir no domínio de práticas operacionais”.

“HOJE HÁ UMA MAIOR VALORIZAÇÃODA VIDA HUMANA”

Ao longo dos últimos 15 anos, Ricardo Ferro não tem dúvidas: “o país evoluiu imenso uma vez que tínhamos um nível de sinistralidade elevado que baixou drasticamente muito por uma mudança da cultura dentro das empresas”. O Diretor do Bureau Veritas Portugal ainda se recorda de, no passado, quando confrontados com a eventual implementação de sistemas de gestão de higiene e segurança no trabalho, os colaboradores levan-tarem uma resistência interna que dificultava a gestão de avançar com essas medidas. “Hoje há uma maior preocupação com a integridade de e em cada profissional, um maior equilíbrio e pro-teção da integridade de cada colaborador”, ga-rantiu Ricardo Lopes Ferro. Aliás, o responsável vai mais longe, admitindo haver atualmente um maior reconhecimento na competência dos pro-fissionais portugueses nesta área. “Nos últimos anos tivemos grandes projetos, quer do ponto de vista de infraestruturas como a nível industrial, que deu capacidade e experiência aos nossos pro-fissionais”, evidenciou, e Portugal tem apostado nesta exportação de competências. Ao nível do cumprimento da legislação por par-te das entidades patronais, hoje há também uma maior atenção. A postura dos gestores portu-

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DIA NACIONAL DA PREVENÇÃOE SEGURANÇA NO TRABALHO

Porquê escolher o Bureau Veritas?- Experiência: tem mais de 100 mil empresas certificadas em 140 países; -Reconhecimento: por mais de 40 organismos de acreditação internacionais e certificação segundo o referencial ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001;- Rede Internacional: está presente em 140 países;- Conhecimento do negócio: mais de 4800 auditores e 60.000 profissionais qualificados com o intuito de prestar serviços de certifica-ção e verificação de conformidade a qualquer negócio;- Serviços Combinados: o Bureau Veritas permite combinar e/ou integrar certificações segundo uma série de referenciais acreditados.

Ricardo Lopes Ferro

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gueses é mais vigilante e pro ativa até porque “é uma das áreas onde a responsabilidade criminal da administração vem logo ao de cima”, defen-deu. Todavia, Ricardo Lopes Ferro acredita que, do ponto de vista do trabalhador, há uma ten-dência para “baixar a guarda” num trabalho que é rotineiro. “Pela experiência que vai adquirindo, o trabalhador tende a baixar os seus níveis de atenção e de cuidado relativamente àquilo que faz todos os dias. Vai-se sentindo confortável e depois ocorre um descuido que leva a acidentes”, defendeu. É, por isso, premente priorizar um for-te investimento ao nível da atitude para além da aquisição de equipamentos de proteção coletiva e individual ou à implementação de novas regras.

IMPACTO DOS CUSTOS SOCIAISQuer seja por um desconhecimento das normas de segurança, pelo não cumprimento das mes-mas, pela não utilização dos equipamentos de proteção, pelo mau estado de conservação das instalações e equipamentos, pelo funcionário estar sujeito a ritmos de trabalho acelerados, a verdade é que os acidentes de trabalho aconte-cem todos os dias. As consequências materiais e humanas para o trabalhador, para a sua famí-lia, empresa e para o próprio país são bastante significativas e nem sempre existe uma perfeita consciência disso. “A ausência do profissional no local de trabalho é mais sentida pela entidade patronal do que pelo trabalhador. Naturalmente que a principal preocupação deste é recuperar-se e a empresa, claro que tem essa mesma preocupação, mas há um conjunto de compromissos que esta assumiu

com os seus clientes que podem não ser cum-pridos se o seu colaborador falhar de forma não planeada. As empresas não estão devidamente acauteladas e o trabalhador não está sensibili-zado para a importância da sua saúde e para os riscos e impacto das suas distrações”, alertou Ri-cardo Lopes Ferro. Quando se fala em acidentes de trabalho, naturalmente que, à primeira vista, as áreas com mais riscos profissionais são as da construção civil ou mesmo manutenção indus-trial. Mas Ricardo Lopes Ferro consciencializa--nos para o número de acidentes que ocorrem no setor primário, como na agricultura. “Nes-ta área ainda há uma lógica muito familiar, as estruturas estão pouco formalizadas e continua a haver pouco reporte formal dos acidentes de trabalho”, evidenciou o responsável. Para mudar este cenário, Ricardo Lopes Ferro acredita no reforço de campanhas setoriais de prevenção e combate à sinistralidade mas aposta noutra vertente. “Faz sentido que se volte a dar importância às carteiras profissionais que permi-tem ter um pacote de competências base e onde estariam identificados os perigos e os riscos da profissão”, defendeu. Esta necessidade de reciclagem das competên-cias transversais a cada categoria profissional é um trabalho que deve ser desenvolvido por as-sociações patronais, sindicais e por entidades re-presentativas de grupos profissionais. Do Bureau Veritas podemos contar sempre com um parceiro e um aliado na gestão dos riscos de qualquer ne-gócio. “Será sempre nosso objetivo implementar no mercado as melhores práticas de saúde e segu-rança no trabalho”, concluiu.

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“Pela experiência que vai adquirindo, o trabalhador tende a baixar os seus níveis de atenção e de cuidado relativamente àquilo que faz todos os dias. Vai-se sentindo confortável e depois ocorre um descuido que leva a acidentes”

“É nossa preocupação primordial garantir a segurança daqueles que realizam trabalho em nome do Bureau Veritas. Tudo aquilo que implementamos nos nossos clientes, praticamos dentro de casa”

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João Baptista é fundador do Mestrado em Engenharia de Segurança e Higie-ne da FEUP (MESHO) e do Programa Doutoral em Segurança e Saúde Ocupa-

cionais da Universidade do Porto (DemSSO), sendo Diretor do Primeiro e Vice Diretor do segundo. O MESHO é um curso que pretende formar profissionais aptos a desenvolver ati-vidades de prevenção e proteção contra riscos profissionais. O DemSSO envolve 12 das 14 faculdades da UP e pretende formar líderes e desenvolver investigação relevante na mesma área. Mário Vaz é, desde 2000, Diretor do La-boratório de Óptica e Mecânica Experimental, cujo principal objetivo é prestar serviços que suportem a atividade e os projetos de investi-gação nas áreas de teste e de inspeção não des-trutiva de estruturas e componentes mecânicos. Além de professor, é especialista em Mecânica Experimental e Técnicas de Holografia Laser. Ocupou o cargo de Presidente da Sociedade Por-tuguesa de Biomecânica até fevereiro de 2013. Ambos estão ligados ao LABIOMEP (Labo-ratório de Biomecânica do Porto), inaugurado no final de 2012 na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, com o intuito de ajudar a melhorar o desempenho dos atletas e de estudar o movimento humano e animal nas suas múlti-plas vertentes. Este centro de investigação, que teve um investimento total de 1,7 milhões de eu-ros, financiados em 70% pelo QREN e em 30% pela Universidade do Porto, centra a sua ativida-de no desenvolvimento de testes à performance biomecânica, quer desportiva, quer em atividades ocupacionais e de lazer.O LABIOMEP vai muito além do desporto, não sendo por acaso que envolve seis faculdades (Des-porto, Medicina, Medicina Dentária, Ciências, Engenharia e Instituto de Ciências Biomédicas) e um centro de investigação (INEGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial). Além de atletas de elite, são avaliados compor-tamentos biomecânicos de grávidas, pacientes com limitações de mobilidade e grupos específi-cos da população, como obesos, idosos, militares e trabalhadores com movimentos repetitivos ou esforços continuados. Na área médica, por exem-plo, esta vasta e multidisciplinar equipa tem-se focado na mobilidade dos seniores, no estudo de próteses e ortóteses ou na correção da postura dos médicos dentistas, uma das profissões expos-tas ao risco de contrair lesões musculosqueléticas. O LABIOMEP veio dar uma resposta ampla a problemas multidisciplinares que assolam pro-

fissionais de todas as áreas. Para Mário Vaz, “a biomecânica nunca tinha sido tratada com tanta profundidade. A melhor forma de cortar cami-nho é com uma abordagem multidisciplinar logo na génese”. Esse foi o objetivo do LABIOMEP e é, assim, graças à partilha de conhecimento que tem conseguido dar resposta às necessidades com que se tem deparado.No que diz respeito a equipamentos e tecnologia, o LABIOMEP é hoje um dos melhores labora-tórios de biomecânica da Europa e é nesta mis-são de estudar o movimento biológico do corpo que o LABIOMEP tem tornado a Universidade do Porto uma referência internacional no vasto mundo da biomecânica. Por sua vez, ser um dos três melhores da Europa tem uma dupla conse-quência: “visibilidade e responsabilidade”, defen-deu Mário Vaz. “Quando intervimos numa área queremos fazer escola, temos de ser pioneiros e apostar na qualidade e na excelência”, comple-tou o investigador. Apesar de irem divulgando as atividades mais relacionadas com o desporto e a engenharia para o desporto, na área da higie-ne e segurança os projetos não se esgotam. João Baptista tem, aliás, mantido contacto permanen-te com universidades brasileiras cujos estudantes escolhem Portugal e a Universidade do Porto em particular, precisamente por ser das poucas a apostar na área da higiene, saúde e segurança

Que a segurança e a saúde no trabalho são indispensáveis ao sucesso de qualquer pessoa, empresa e sociedade, não há qualquer dúvida. Mas de que forma é que, ao nosso redor, têm sido concretizados avanços efetivos nesta área? Como é que a investigação tem

permitido dar passos significativos na prevenção dos riscos profissionais inerentes a setores de atividade tão distintos? A resposta a estas e a outras questões foram dadas ao longo de uma conversa com João Baptista e Mário Vaz, dois investigadores e docentes na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Esta conversa esclarecedora não começou sem antes a Revista Pontos de Vista conhecer alguns pormenores deste trabalho, numa visita guiada que teve início no LABIOMEP (Laboratório de Biomecânica do Porto), seguindo-se o Laboratório de óptica e Mecânica Experimental (LOME) e, por fim, o Laboratório de Prevenção de Riscos

Ocupacionais e Ambientais, mais conhecido como PROA.

“os LImITes seRão semPReos que a sociedade nos impuser”

com uma qualidade de nível mundial, suportada por laboratórios e equipamentos de ponta. O La-boratório de Prevenção de Riscos Ocupacionais e Ambientais (PROA), uma infraestrutura asso-ciada ao LABIOMEP para a área ocupacional, permite responder aos problemas e criar soluções. Aqui lida-se de forma integrada com questões relacionadas, por exemplo, com ruido, vibrações, movimentos repetitivos e stress térmico, ineren-tes a classes profissionais, desde militares a pesca-dores e engenheiros, A preocupação é encontrar soluções eficazes e economicamente viáveis para a resolução dos problemas encontrados.

DESCONHECIMENTO DOS CUSTOS SOCIAISEm Portugal, o valor médio de um acidente de um trabalhador na construção civil pode custar cerca de sete mil euros, dependendo da catego-ria profissional. Na área da eletricidade esse valor pode duplicar. Face a estes números, avançados por João Baptista, há uma certeza: “não existe noção desta realidade”. No entanto, para o inves-tigador, os custos com os acidentes de trabalho representam uma percentagem muito pequena em comparação com outros, nomeadamente os custos com doenças profissionais. “Há cada vez mais distúrbios musculosqueléticos, desde a hérnia discal à síndrome do canal cárpico. O mecanismo de contração da doença é fácil de

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DIA NACIONAL DA PREVENÇÃOE SEGURANÇA NO TRABALHO

João Baptista e Mário Vaz

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compreender: quando dobramos repetidamente um pedaço de plástico ou metal, acabamos por parti-lo. Isso também acontece com as pessoas. Se fizermos sempre o mesmo movimento sem tempo para recuperar, o resultado é a lesão”, ex-plicou João Baptista. Olhando para o exemplo dos países nórdicos em que os trabalhadores fazem pausas, João Baptista acredita que essa é, sem dúvida, a melhor medida. Antes de se pen-sar na perda de produção causada pela pausa no trabalho, importa olhar por outro ângulo. Todos chegarão à conclusão de que este período de re-cuperação levará a um aumento da produtivida-de pela diminuição do absentismo. O organismo humano também irá agradecer.

CAMPANHAS DE COMBATEà SINISTRALIDADE

Uma solução poderá passar por uma maior aposta em campanhas de prevenção setoriais? Esse tra-balho já começou a ser feito a partir do momento em que todas as empresas foram obrigadas a dar formação aos seus colaboradores na área da segu-rança do trabalho. Mas, as estatísticas mostram que ao mesmo tempo que aumentou o investi-mento, o número de acidentes também cresceu. Contudo, na generalidade das empresas que contrataram técnicos de segurança, os acidentes, pelo contrário, diminuíram. Deste modo e como defendeu João Baptista, “não basta dar formação. É preciso haver um controlo quotidiano para que a cultura de segurança entre efetivamente na vida das pessoas”. “Mas esse é também o nosso pa-pel”, acrescentou Mário Vaz. Com estes dados é mais fácil ultrapassar o problema e sensibilizar os gestores a tomar medidas de prevenção. Mário Vaz acredita que os custos associados ao absen-tismo ainda não são do conhecimento geral mas as perguntas já começam a ser levantadas. Hoje começa a haver a preocupação de saber qual o custo para a organização do aumento do número

de baixas solicitadas pelos seus recursos huma-nos. A partir daí há a perceção de que se tivessem estudado previamente aquele posto de trabalho, não teriam esse problema. Neste sentido, “em vez de pagar o tratamento do acidente ou da doen-ça, é necessário um investimento na prevenção”, concluiu Mário Vaz.

QUANTO AO FUTURO…“Da FEUP, do LABIOMEP, do PROA, do INE-GI, pode-se esperar tudo. Os limites serão sempre os que a sociedade nos impuser”. As palavras de

Mário Vaz descrevem aquela que tem sido e con-tinuará a ser a linha de atuação destes organismos. Os gestos repetitivos podem ser substituídos por um robot ou por uma plataforma que se eleva à medida que a pilha de objetos vai diminuindo em altura, impedindo assim que o trabalhador se bai-xe constantemente. São muitos os exemplos prá-ticos de uma infinidade de possibilidades. Quan-do se fala nos riscos profissionais, não podemos esquecer que destes laboratórios saíram e sairão soluções para qualquer necessidade, sempre numa perspetiva multidisciplinar.

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Trabalhos do LABIOMEP sobre três das principais técnicas de mediçãocom aplicação em Ergonomia e Segurança:

< Estes avatares são obtidos através de um equipamento constituído por centrais inerciais da marca xsense, aqui utilizados para estudar a postura e avaliar os riscos de lesão numa médica dentista, aluna de doutoramento da FMDUP/LABIOMEP

> Equipamento Biodex, dinamómetro isocinético que permite avaliar a capacidade muscular de um indivíduo em cada um dos seus segmentos corporais, braços e pernas. Com este equipamento é também possível avaliar a capacidade física de alguém que sofreu um acidente de traba-lho para assim obter o seu grau de deficiência

< Sensor de EMG (Electromiografia) sem fios que permite obter a sequência de ativação dos músculos de um indivíduo durante a reali-zação de determinada tarefa.

especial iv aniversário

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A presença de amianto em edifícios públi-cos, como escolas ou hospitais, tem sido abordada pelos partidos da oposição na Assembleia da República e pelas asso-

ciações ambientalistas, que insistem na necessi-dade de elaborar a lista dos imóveis do Estado com esta substância, uma tarefa que tinha um prazo definido e que terminou a 14 de fevereiro de 2012.Os pais estão preocupados, os trabalhadores cujos edifícios em que trabalham têm coberturas de fi-brocimento também, mas a situação será assim tão preocupante? Para Jorge Oliveira, em muitas situa-ções está a ser criado um alarmismo desnecessário.“As razoes que levaram a este mediatismo foram um tanto infelizes. Sem dúvida que temos um pro-blema grave em certas situações de risco de amian-to. No entanto, todo este assunto tornou se muito mediático, na minha visão, porque há um conflito de interesses nas indústrias, quer de consultadoria, quer remoção. Como tal, tem-se prestado muita atenção a assuntos relacionados com fibrocimento, que poderão ser um problema ou não, mas está a ser ignorado o problema mais grave, que tem a ver com os amiantos friáveis, que são aqueles que se degra-dam e desfazem com mais facilidade. Aquilo que tem sido encontrado na grande maioria dos casos são amiantos não friáveis, como o fibrocimento e ai não há qualquer tipo de preocupação, a menos que o fibrocimento esteja num estado acelerado de degradação”, explica o especialista.As razões que levam Jorge Oliveira a falar em conflito de interesses são evidentes: “em algumas empresas de remoção, o proprietário tem tam-bém uma empresa de consultadoria nesta área. Isto noutros países não é permitido”.Para além disso, esta situação resulta muitas vezes do próprio desconhecimento dos técnicos de se-gurança que “alarmam demasiado as pessoas em locais de trabalho por causa do fibrocimento e, ao mesmo tempo, ignoram o facto de, por exem-plo, fábricas com muita tubagem e isolamentos não terem um documento que ateste a falta ou presença de amianto, nem inspeções realizadas. Ignoram-se esses factos e alerta-se para outras questões que não são de alarmar”, lamenta.

A Controle de Risco é uma consultoria especializada em análise, diagnóstico, inspeção e soluções para controlo e gestão de amianto. Numa altura em que este mineral está na boca do mundo, uma vez foi utilizado na construção de inúmeros edifícios públicos sem

noção dos malefícios do mesmo para a saúde pública, a Revista Pontos de Vista falou com o Administrador da empresa, Jorge Oliveira - que é também técnico habilitado nesta matéria, com 16 anos de experiência internacional - para descortinar algumas

dúvidas que possam ainda existir quanto a esta problemática. Para o mesmo, a situação não é tão alarmante quanto a querem fazer parecer. Conflitos de interesses ditam a desinformação que circula relativamente aos problemas provocados por este mineral.

amIanTo: não há razões para alarmismo

AMIANTO - AS DúVIDAS

“NÃO É NECESSÁRIO REMOVERSó PORQUE CONTÉM AMIANTO”

Como tal, para o especialista, o que está aqui em falta é que “exista mais profissionalismo e exigência das autoridades para que os processos de inventariação e fiscalização sejam muito mais efetivos. Por exemplo, há demolições a decorrer que começam e acabam sem que haja uma parti-cipação à ACT que confirme a existência de uma avaliação de risco de amianto”. Outro exemplo é a aceitação pela Autoridade da falta de carateri-zação do amianto a remover. Em vez, presume-se sem análise, que as telhas de fibrocimento apenas contêm amianto crisótilo quando regularmente também contém crocodolite (tipo-agulha).Peca, por isso, a própria legislação. Para o ad-ministrador da Controle de Risco, “há muito a fazer em termos legislativos e de sensibilização. Infelizmente, a ACT não tem recursos para aqui-lo a que se propõe, quer no que diz respeito aos próprios recursos humanos, quer no que con-cerne aos conhecimentos dos mesmos, porque os inspetores da ACT não têm conhecimentos profundos para tudo. Existe também a urgente necessidade de certificar as empresas de remoção (como por toda a Europa) para a profissionali-zação do setor o que também viria a libertar os inspetores da ACT para a área de fiscalização, porque de momento cada trabalho de remoção necessita de avaliação de toda a documentação desde dos planos de trabalho á documentação dos trabalhadores e equipamentos. Por isso exis-tem empresas cuja documentação é revista pela Autoridade 20 ou 40 vezes anualmente! Esta cer-tificação seria também um instrumento comer-cial para que estas empresas de remoção possam concorrer a trabalhos no estrangeiro tal como já empresas Espanholas o fazem em Portugal – em Espanha requer-se certificação o que exclui as nossas empresas porque o processo de certifica-ção puramente não existe em Portugal”.O sector de consultoria e laboratórios igualmen-te necessita de profissionalização porque existem empresas sem técnicos com formação específica certificada nas áreas de avaliação de risco e análi-ses de amianto, ou sequer possuírem um sistema

de controlo de qualidade externo que são a base de fiabilidade numa avaliação de amianto. Com um conhecimento muito específico nesta área, a Controle de Risco está recetiva a colabo-rar com as autoridades para que seja dada uma melhor resposta a este tipo de questões e, apesar de tudo, Jorge Oliveira mostra-se confiante num aumento das inspeções nos próximos anos, a par daquilo que acontece noutros países da Europa. “Faço muitos trabalhos fora de Portugal, no Rei-no Unido, na França… e em qualquer um deles os meus colegas ficam sempre muito admirados quando lhes digo que, inspeções completas em Portugal, não fiz mais do que três ou quatro”.Jorge Oliveira já supervisionou e executou pro-jetos de inspeção e remoção para algumas das maiores cadeias comerciais, para o metro lon-drino, para a BBC e ainda para o Ministério da Defesa. Entre os seus serviços conta-se uma área de avaliação de riscos que inclui o levantamen-to de amostras e análise de materiais para dete-ção de amianto – a análise é fundamental para entender e medir o risco a que trabalhadores e utentes estão expostos. Nos casos em que é ne-cessária remoção, a empresa está habilitada para gerir o projeto, quer seja de forma parcial, quer seja de forma integrada, com peritagens nas áreas de avaliação de riscos, análises laboratoriais de ar e materiais, assim como acompanhamento do projeto.Este acompanhamento é muito relevante se ti-vermos em consideração que muitas vezes a remoção de amianto é mal feita e, como tal, torna-se mais perigosa do que deixar o material intacto, devido às fibras que ficam em suspensão na atmosfera. Assim, mesmo nas escolas, é prefe-rível não proceder à remoção desde que as estru-turas estejam bem conservadas e seja realizada a sua manutenção regular.Também a consultadoria e a formação são duas áreas da Controle de Risco que não podem dei-xar de ser referidas, dada a grande capacidade técnica da equipa da empresa, baseada não só na formação mas também na experiência interna-cional, principalmente no Reino Unido, um dos países líderes no controle de amianto.

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A Sorgal integrada no Grupo Soja de Portugal tem vindo a ocupar, nos últimos anos, uma posição de destaque no ranking das empresas mais rentáveis do distrito de Aveiro. Quais as razões destes bons resultados?Uma das principais vantagens competitivas do Grupo Soja reside na forma como o portfólio de negócios foi estruturado. Temos cinco áreas de ne-gócio distintas, mas fortemente geradoras de siner-gias entre si, que nos possibilitam um elevado nível de conhecimento e aperfeiçoamento das matérias--primas e dos processos. A estratégia de sustenta-bilidade associada ao investimento contínuo nas diferentes áreas de negócio, têm sido fatores cru-ciais para o crescimento orgânico e da rentabilida-de do Grupo Soja. Em 2013 investimos cerca de 6 milhões de euros numa nova linha de produção na área de pet-food, duplicando a sua capacidade de produção. No final de 2014 concluiremos um in-vestimento de cerca de 5 milhões de euros na área de alimentos compostos para a aquacultura, fican-do com o triplo da capacidade atual de produção. Também na área de tratamento e valorização de subprodutos iremos investir cerca de dois milhões de euros este ano.

Qual o peso das exportações da AquaSoja e quais os principais mercados em que estão presentes? Têm novos mercados em vista?No mercado nacional de aquacultura ocupamos a posição de líder destacado, contudo e devido à reduzida dimensão deste mercado, assentamos a nossa estratégia nas exportações que representam atualmente cerca de 85% do volume de negócios. Estamos presentes sobretudo em Espanha, Grécia, Chipre, Bélgica e na Arménia. Com a triplicação da capacidade de produção que estará concluída no final do ano, vamos conseguir chegar a outros mer-cados internacionais, estando já em marcha o pro-cesso de negociação para tal. Estaremos presentes em mercados tão distintos como o norte de Africa, a Rússia, a Polónia e a Ásia.

Recentemente a Soja de Portugal assinou um pro-tocolo de colaboração em projetos de investigação com a Universidade do Porto. Que papel a inovação ocupa na empresa e qual a importância da proximi-dade entre as universidades e o tecido empresarial no alavancamento da economia nacional?A inovação faz parte do quotidiano do Grupo Soja e dos seus colaboradores. Nos últimos dois anos in-vestimos 3,5 Milhões de Euros em I&D e temos a decorrer um projeto transversal a todo o Grupo, que é o Projeto SIM – Soja Inovação e Melhoria, que pretende materializar ideias de diversas áreas, que são apresentadas pelos nossos colaboradores. As parcerias com centros de investigação e univer-sidades são essenciais para a Soja de Portugal. Fruto

do nosso processo de internacionalização estamos a desenvolver também parcerias com importantes centros de investigação de países onde pretendemos reforçar a nossa presença.

De que forma a Soja de Portugal irá marcar presen-ça na 4ª edição do Fórum do Mar? Qual a relevância destes eventos para as empresas com atividades ligadas ao mar?A Soja de Portugal é um dos grandes dinamizado-res do Fórum do Mar de 2014. Vamos fazer deste certame um evento internacional, pois convidamos clientes e parceiros institucionais de países como a Arménia, Grécia, Espanha, França e Polónia. Ao todo teremos mais de 50 convidados estrangeiros, alguns dos quais representam bem mais do que todo o mercado português de aquacultura. A con-ferência que estamos a organizar será um momento especial, que contará com oradores internacionais e onde serão apresentadas as melhores práticas a nível internacional no que concerne à Indústria do Mar. Iremos provavelmente fazer um workshop conjunto com uma prestigiada organização internacional que deveremos anunciar muito em breve e que será um dos pontos altos do Fórum. Para além da troca de experiências e de ideias, este evento permitirá criar laços entre as pessoas que lideram a Indústria do Mar internacional, reforçando desta forma a posição de Portugal num setor em franco crescimento a nível mundial e que faz parte da nossa história e cultura.

Quais as suas expetativas em relação a esta 4ª edi-ção? À semelhança das edições anteriores, esta pretende reforçar a componente de “Encontros de Negócios”, espera sair do certame com novos negó-cios firmados a nível nacional e quiçá internacional?O Fórum do Mar será o mais importante even-to a nível nacional relacionado com a Indús-tria do Mar, revestindo-se portanto de enorme

Em vésperas da quarta edição do Fórum do Mar, a Revista Pontos de Vista falou com Alexandre Carneiro, Diretor Comercial da Aquasoja que, mais uma vez, este ano, se afirma como um dos grandes dinamizadores do evento. A empresa, que ocupa no

mercado nacional de aquacultura uma posição de líder destacado e exporta cerca de 85% dos seus produtos, convidou mais de 50 clientes e parceiros internacionais a marcar presenta no Fórum e está a organizar uma conferência que Alexandre Carneiro

promete: “será um momento especial”.

“Vamos FaZeR desTe CeRTameum evento internacional”

importância para este setor. Contamos com o apoio de todas empresas relevantes desta área de atividade para continuarmos a consolidar o crescimento sustentável de um setor que é es-tratégico para Portugal. Fruto do esforço da Soja de Portugal para internacionalizar este evento, os “encontros de negócios” possibilita-rão às várias empresas portuguesas presentes, estabelecerem contactos preciosos para o futuro. O que é que podemos esperar da Soja de Portugal nos próximos anos? Serão lançados novos produ-tos em breve?Estamos atualmente a desenvolver uma reflexão estratégica dentro do Grupo que irá definir o rumo de cada área de negócio no médio-longo prazo. Es-tamos também a trabalhar no lançamento de novos produtos em todas as áreas de atividade e em breve apresentaremos as novidades, pois o segredo conti-nua a ser a alma do negócio. De qualquer forma, é para nós claro que a economia do mar será um pilar central na estratégia da Soja nos próximos 10 anos.

Quais os principais desafios que se colocam atual-mente a estas empresas? Quais os temas que afe-tam a posição financeira das mesmas que não po-dem deixar de ser alvo de reflexão?As empresas nacionais ligadas à Indústria do Mar enfrentam desafios tremendos, pois têm como con-corrência empresas que operam em mercados mais competitivos em termos de custos de financiamen-to e com regulações mais adequadas aos novos pa-radigmas do mercado. A fórmula do sucesso passa inevitavelmente pela eficiência operacional, mas também pela diferenciação e pela valorização dos excelentes produtos e serviços que produzimos. Um excelente exemplo é a indústria conserveira portu-guesa, que cresceu cerca 25% em 2013, fruto da sua estratégia de internacionalização.

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FóRUM DO MAR

Alexandre Carneiro

especial iv aniversário

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A história leva-nos ao reinado de D. Luís, um amante do mar e o único monar-ca português que comandou navios. Em 1863 decretou a constituição de

uma coleção de testemunhos relacionados com a atividade marítima portuguesa. Foi então que a narrativa começou a ser escrita. Desde a sua fundação, em 1863, que ele estava localizado na Escola Naval e desde essa data já tinha peças. Em 1934 assumiu um novo nome, procurando “renascer das cinzas”, depois de um incêndio de grandes proporções. Este ano foi, assim, marcan-te por dois motivos: assinalou o ressurgimento do Museu e foi a primeira referência aos Jerónimos, como local de instalação. A 15 de agosto de 1962 o Museu e os seus cerca de cem anos de existên-cia mudam-se, numa cerimónia marcante, para o espaço que hoje conhecemos. “Com a presença do Chefe de Estado e em cerimónia de enverga-dura, sobejamente justificada pela importância e pelo significado português de tudo quanto está relacionado com os oceanos, é hoje inaugurado o Museu de Marinha”, lia-se então no Diário de Notícias. Hoje, no primeiro passo que aqui se dá, o visitante é imediatamente transportado para a época dos Descobrimentos, com as estátuas de Diogo Cão, João de Santarém, Diogo Gomes, Pedro de Sintra, Gonçalves Zarco, Gil Eanes, Nuno Tristão e o Infante Dom Henrique a “re-ceberem” quem lá entra. É nesta primeira reflexão sobre um passado recente da ligação de Portugal ao Mar que começa esta viagem. Apesar de ser um Organismo Cultural da Ma-rinha de Guerra Portuguesa, o Museu de Mari-nha não nos remete apenas aos grandes feitos da marinha de guerra mas sim à história marítima de Portugal no seu todo. “Este espaço conta a história da marinha num conceito que abrange as diferentes utilizações do mar pelas pessoas, quer seja por lazer, pesca, comércio ou ativida-de militar. Aqui está o passado marítimo por-tuguês”, começou por explicar António Costa

Canas, atual Diretor do Museu de Marinha, para quem contar a história de Portugal é, sem dúvi-da, recordar o passado e a relação do país com o mar. “Sendo Portugal um país marítimo, sempre houve uma ligação dos portugueses ao mar muito forte. O mar esteve sempre presente nos momen-tos mais importantes da nossa história”, explicou. É, por isso, um espaço que além de atrair muitos turistas, cativa a atenção de várias escolas que veem neste museu um complemento da teoria que abordam em contexto escolar. E, de facto, ao entrarmos no museu, eram muitos os jovens que, ladeados pelos professores, não escondiam o en-tusiasmo e o êxtase por estarem naquele espaço. Talvez não soubessem ainda o que lhes esperava mas em breve descobririam um tempo em que os portugueses eram “donos do Mundo”. Para An-tónio Costa Canas, o interesse das escolas pelo museu prende-se ainda pelo facto de estarem ao lado do Planetário Calouste Gulbenkian, sendo

É no coração da cidade de Lisboa, na freguesia portuguesa de Santa Maria de Belém (hoje freguesia de Belém), junto ao Mosteiro dos Jerónimos que o podemos encontrar. Não é difícil, não fosse este um dos mais visitados e reconhecidos museus portugueses.

O Museu de Marinha depois de ter passado por diversos espaços, entre os quais a Antiga Escola Naval ou o Palácio dos Condes de Farrobo nas Laranjeiras, em Lisboa, instalou-se definitivamente na morada atual, em 1962. A sua missão é a de salvaguardar o

passado marítimo de um povo que já conheceu o mar como a palma da sua mão. Foi com António Costa Canas, Diretor do Museu de Marinha, que a Revista Pontos de Vista conheceu algumas das relíquias deste espaço que é a sua missão.

mUseU de maRInHa:um mundo de descobertas

assim possível unir dois mundos fascinantes: a história e a astronomia. Estando num espaço onde se respira história, o que é que os portugueses não sabem sobre o nos-so passado marítimo? Se, por um lado, todos sa-bemos quem foi o Infante Dom Henrique e, em momentos de dificuldades e de pessimismo, mui-tos portugueses não hesitam em proclamar o pe-ríodo áureo dos Descobrimentos, António Costa Canas acredita que depois desta data pouco se sabe, sensivelmente após o reinado de D. Sebas-tião. O Museu de Marinha procura também pre-encher essa lacuna, indo muito além da história das conquistas realizadas pelos portugueses em viagens e explorações marítimas. Além da histó-ria da marinha de recreio que se une um pouco à própria história da coroa portuguesa uma vez que era uma modalidade praticada apenas pela famí-lia real, há ainda uma sala especialmente dedica-da ao tráfego fluvial, um dos meios de transporte

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

Principais informações de acessoHorário de abertura:Das 10 às 17 horas(de 1 de outubro a 30 de abril)Das 10 às 18 horas(de 1 de maio a 30 de setembro)Encerramento:Todas as segundas-feiras e nos seguintesferiados: 1 de janeiro, domingo de Páscoa,1 de maio e 25 de dezembroPreços: Adultos: 5€; Crianças (6 a 18 anos), estudantes e maiores de 65 anos: 2,5€; dispõe de bilhetes de grupo

Sala dos Descobrimentos

Bergantim Real

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de pessoas e mercadorias mais seguros, rápidos e económicos. Mas há pontos na história que António Costa Canas acredita que nem todos conhecem, como por exemplo, a importância do Rei D. Carlos na criação da oceanografia. Além de um pintor talentoso, este monarca foi consi-derado o pai da oceanografia portuguesa. “Ele fez estudos sobre as espécies piscícolas que tínhamos ao largo da nossa costa. Os navios oceanográficos que ia tendo, todos com o nome da mulher, Amé-lia, foram usados para esses trabalhos”, explicou. Na atual sala das camarinhas reais é possível ver as camarinhas usadas pelo rei e pela rainha, preservados depois do desmantelamento do iate “Amélia” em 1938. Por tudo isto e muito mais que vale a pena conhecer, o Museu de Marinha conta “todos os feitos dos portugueses no mar, a começar pela história das gentes mais simples”, rematou António Costa Canas.

OBJETOS MAIS RELEVANTESUm dos objetos mais marcantes deste museu é o Hidroavião com que Gago Coutinho e Sacadura Cabral terminaram a travessia do Atlântico Sul. Mas, António Costa Canas assinalou a doação ao museu da coleção Seixas como um dos marcos deste espaço. “Henrique Maufroy Seixas era apai-xonado pelo mar, tinha dois iates e com eles via-java muito e foi colecionando modelos dos navios que mandava fazer, ligados à pesca, guerra, lazer. Tinha ainda milhares de fotografias, esculturas e outros objetos. Quando morreu deixou tudo em testamento ao museu. Hoje temos mais de 300

modelos e mais de 20 mil fotografias, uma coleção que está distribuída por todas as salas”, evidenciou. O Pavilhão das Galeotas, o primeiro edifício construído em Portugal de raiz para albergar coleções museológicas, é outro dos espaços mais marcantes. Aqui estão expostas as embarcações reais mais sumptuosas, nomeadamente o bergan-tim, datado de 1780 e utilizado pela última vez na visita oficial da Rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal em 1957. “Estas embarcações trans-portavam a família real e a aristocracia nos seus passeios e eram usadas para receber delegações estrangeiras. Quando deixaram de ser usadas, houve a ideia de preservá-las e ficaram, então, guardadas na Margem Sul, num espaço que a Marinha lá tinha, sempre com a intenção de mais tarde colocá-las num museu”, contou o Diretor. A riqueza deste espaço tem-se traduzido no au-mento do número de visitantes. Apesar de um li-geiro decréscimo, o Museu de Marinha tem sido um espaço privilegiado de aprendizagem. 2011 foi o melhor ano, com 145 mil visitas e, embo-ra se tenha registado uma pequena descida nos dois anos seguintes, “2011, 2012 e 2013 foram superiores a qualquer um dos anos anteriores”, garantiu o responsável.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUSA 18 de maio celebram-se os museus e nesta data de âmbito internacional foi escolhido um tema que dignifica a missão destes espaços: “Museus – as coleções criam conexões”. Para António Costa Canas, “este é o papel de qualquer museu. O Mu-

seu de Marinha consegue despertar a atenção dos seus visitantes para as questões do mar, criando, portanto, uma conexão que está sempre presente ao longo de toda a visita”, defendeu. Para este dia não há nenhuma atividade programada, além do que normalmente fazem em datas especiais. “No Dia Internacional dos Museus, no Dia Interna-cional da Juventude ou no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, por exemplo, proporcio-namos visitas guiadas e gratuitas”, explicou. Não sendo uma data especial, o Museu tem ainda vi-sitas gratuitas aos domingos de manhã.

PASSADO, PRESENTE E FUTUROSe já falamos do passado e do presente, importa correr o risco de levantar um pouco do véu da-quele que será o futuro do Museu de Marinha. Além de querer continuar a proporcionar exposi-ções permanentes com assunto de interesse para o público, António Costa Canas pretende continuar a modernizar as metodologias utilizadas. Para os próximos tempos o grande desafio será também preparar o submarino “Barracuda” que esteve mais de 40 anos ao serviço da Marinha e, desde o ano passado, integra o núcleo do Museu de Marinha, em Almada. Habituado ao dinamismo e à rotação inerentes à carreira militar, António Costa Canas sabe enfrentar um desafio. No Museu de Marinha há três anos, o Capitão-de-Fragata sabe que esta é mais uma missão. “Irei concretizá-la da melhor forma possível”, concluiu.

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Principais espaços do Museu de Marinha:- Descobrimentos;- Grandes Veleiros;- Séculos xIx e xx;- Marinha na Atualidade;- Tráfego Fluvial;- Pesca Longínqua;- Pesca Costeira;- Camarinhas Reais;- Marinha de Recreio;- Marinha Mercante;- Sala de Henrique Maufroy de Seixas(exposições temporárias);- Sala D. Luís (exposições temporárias);- Pavilhão das Galeotas.

especial iv aniversário

Camarinha da Rainha no Iate Amélia

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Comecemos pelo princípio, e dada a im-portância que deve ser atribuída a esta efeméride, é importante realçar o marco que é alcançar a mítica marca de um sé-

culo de vida. Assim, entre 2 de abril de 2014 e 2 de abril de 2015, irão realizar-se diversas iniciati-vas integradas num programa de comemorações denominado por «Alpiarça, Concelho Centená-rio 1914-2014, que terá como desiderato princi-pal, assinalar e celebrar a forma marcante e digna destes cem anos de vida. De um povo e de uma comunidade que tem vindo a reforçar a identi-dade da terra e que teve um papel relevante na procura e na concretização de valores como a li-berdade e a democracia. A Revista Pontos de Vista conversou com Mário Pereira, edil da autarquia de Alpiarça desde no-vembro de 2009, que nos deu a conhecer a im-portância desta efeméride a nível local e também a nível externo. Que novidades? Que futuro e de-safios? Ficamos ainda a saber a importância que tem no concelho o espaço da Casa dos Patudos, residência de José de Mascarenhas Relvas, um dos mais ilustres cidadãos de Alpiarça e de Portugal. Os tempos conturbados que vivemos atualmen-te têm afetado sobremaneira os municípios e o seu quotidiano, onde hoje é preciso fazer mais com menos, obrigando portanto uma certa «dose de criatividade» e de agilização de processos. O nosso entrevistado tem vindo, juntamente com o seu Executivo, a promover isso mesmo, ou seja, a elaborar um plano de recuperação financeiro da autarquia, “com resultados bastante positivos. Te-mos conseguido reencaminhar as finanças mu-nicipais para patamares seguros, com níveis de execução orçamental bastante elevados”, revela o

nosso entrevistado, assegurando que mesmo com todas as dificuldades existentes a nível nacional e com impacto a nível local, a autarquia de Al-piarça tem conseguido concretizar algumas obras de enorme relevância. “Fizemos a recuperação da Casa dos Patudos, um dos edifícios mais em-blemáticos do nosso concelho e que necessitava claramente de uma renovação ao nível interior e exterior. Fizemos isso e estamos extremamente satisfeitos por termos concretizado um fito im-portante”, salienta Mário Pereira. Infelizmente a vertente da cultura e das artes «so-frem» sempre com as conturbações financeiras existentes, ou seja, tem que se apostar em outras prioridades. Mesmo assim, a Câmara Municipal de Alpiarça decidiu-se pela renovação da Casa dos Patudos, até pelo momento que se vive em Alpiar-ça, a comemoração do centenário. Assim, e ape-sar de um orçamento municipal exíguo, de cerca de oito milhões, foi gasta uma importante «fatia» para que a Casa dos Patudos tivesse uma «cara nova». “Investimos cerca de 2,5 milhões e posso afirmar que foi o maior investimento que fizemos a nível artístico e arquitetónico em Alpiarça”.

ALPIARÇA, CONCELHOCENTENÁRIO 1914 – 2014

Qual a importância desta efeméride para o atu-al presidente da autarquia de Alpiarça? “Obvia-mente que é uma marca simbólica, mas que vai muito mais além. São cem anos em que Alpiarça tem demonstrado a capacidade de afirmação das nossas gentes e do nosso concelho. Um concelho que surgiu na sequência da República e em con-

Terra de gentes nobres, de um povo habituado a lutar pelos seus desideratos, Alpiarça assume-se como um concelho de enorme potencial, sendo que o mesmo tem vindo a conhecer um desenvolvimento positivo, num ano que assinala os primeiros 100 anos

sobre a criação do Município de Alpiarça – por Lei de 2 de abril de 1914 –, para o que deram determinante contributo vários alpiarcenses de então, dos quais se destaca, pela sua relevância, a figura de José Relvas.

aLPIaRça– cem anos marcantes

dições muito específicas. Teve na sua génese a figura de José Mascarenhas Relvas, que foi uma personalidade essencial na criação do concelho e o proprietário da Casa dos Patudos. Tenho ainda de salientar um dos aspetos mais carismáticos e característicos das nossas gentes, e que está rela-cionada com toda uma memória de resistência à opressão no período da criação do concelho, mas também da fase do «salazarismo» e do Estado Novo, em que a população de Alpiarça teve um papel destacado nessas lutas. Assim, acredito que este é o momento para valorizarmos e projetar-mos todo este património de memórias”, esclarece Mário Pereira, assegurando que apesar de existir aqui uma forte preocupação com a memória e o passado, este centenário tem de ter como deside-rato uma visão para o futuro. “Temos de aprovei-tar este passado rico para discutir e projetar linhas de futuro e desenvolvimento para o concelho e para a nossa população. Assim, vamos trabalhar em união com as nossas gentes, a comunidade, os movimentos associativos, entre outros e abordar temáticas que fiquem para o futuro e que sejam aprofundadas através de uma discussão política, económica e social. O programa das comemora-ções deste centenário ainda não está fechado, mas acredito e confio que será do agrado de todos os alpiarcences. Faço votos para que centenário avi-ve e reafirme esses valores de empenho, trabalho, dedicação e lutas pelos direitos dos trabalhadores, mas também dos membros da comunidade, pois estes são os grandes elementos identificadores para o futuro do nosso concelho e das nossas gen-tes”, conclui o edil de Alpiarça, Mário Pereira.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

Mário Pereira

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O dia estava solarengo…daqueles dias de verão, e ao longe estava a Casa dos Patudos, um edifício resplandecente, onde a marca de asserto cultural se faz

diariamente em prol da comunidade local e de todos aqueles que visitam esta terra magnífica. A Revista Pontos de Vista foi visitar a Casa dos Patudos. Conversou com Nuno Prates, Con-servador da Casa dos Patudos desde 2011, mas um homem dedicado a estas lides desde muito novo e que, em cada palavra, deixa transparecer a paixão e o amor que nutre por este espaço, por este projeto, pela sua história… pela vontade de fazer mais e de «abrir as portas» da Casa dos Patudos a todos os que já conhecem e que ainda não conhecem. Se num passado bastante recente a Casa dos Pa-tudos estava a ser desaproveitada, com a renova-ção e reestruturação que sofreu recentemente esse transato foi esquecido e agora chegou o momento de pensar e idealizar mais e novos desafios. “Esta renovação foi absolutamente vital porque permi-tiu abrir espaços da casa que estavam fechados ao público e possibilitou ainda criar um novo circui-to museológico intitulado «José Relvas entre os seus…», que concerne a um espaço mais íntimo da família”, explicou, lembrando que se anterior-mente a coleção de arte era mais valorizada, hoje esse protagonismo é dividido com a faceta mais privada da família de José Relvas e do próprio. Além de novos espaços e uma nova faceta, de que forma é que esta aposta na renovação do espa-ço trouxe um maior número de visitas? Segundo Nuno Prates, os últimos anos têm sido bastan-

te profícuos ao nível de visitantes. “Logo após a abertura do espaço sentimos esse impacto e em 2012 tivemos cerca de 13344 visitantes. No ano seguinte, 2013, cerca de 13 mil e para este ano as perspetivas são bastante positivas, até porque estamos a comemorar o centenário de Alpiarça”, salienta o conservador da Casa dos Patudos. A comunidade local é portanto um importante veículo de transmissão das culturas locais e dos espaços mais interessantes. Desta forma, Nuno Prates tem consciência que este é um trabalho desafiante e ambicioso, mas assegura que a po-pulação local tem visitado com regularidade um espaço “que é seu também. Temos realizado um conjunto de iniciativas regulares como concertos de música, palestras, conferências, entre outros, que funcionam como atrativo para que as pessoas visitem uma das casas mais magníficas em Al-piarça e Portugal”, assevera, esclarecendo ainda que existe um interesse muito grande ao nível de faixas etárias jovens e de terceira idade.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

O Dia Internacional dos Museus comemora--se a 18 de maio, sendo uma efeméride extre-mamente relevante na orgânica da Casa dos Patudos, pois todos os anos são realizadas um conjunto de atividades interessantes sobre a

Casa dos Patudos… conhece? Quer conhecer? Sabe onde é? Alpiarça. Sabe o que está a perder por ainda não ter conhecido? Venha visitar. Venha conhecer um sítio onde a magia se mistura com a realidade, onde se sente uma mescla de sentimentos do passado,

do presente e do futuro. Onde a arte e a cultura são levadas a um patamar extremamente elevado. Faça uma visita a um local mítico repleto de simbolismo… ou não fosse esta a casa de José Mascarenhas Relvas, um dos mais proeminentes cidadãos de Alpiarça.

Casa dos PaTUdos…porque a cultura vale a pena

importância do património local. “Este ano não será uma exceção e as portas da Casa dos Patu-dos estarão abertas para que todos possam visitar este espaço gratuitamente”, afirma Nuno Prates, lembrando ainda que se realizará uma conferên-cia no dia 16 de maio, que será proferida por José Raimundo Noras, que está precisamente a preparar uma tese de doutoramento sobre José Relvas. Essa Conferência intitula-se: José Relvas e as estratégias diplomáticas da I República (1909-1913).A finalizar, o nosso interlocutor deixou uma mensagem para quem nunca visitou a Casa dos Patudos e o concelho de Alpiarça. “Não vão ficar defraudados e será uma visita que irá perdurar na memória. Obviamente que Alpiarça tem muito para visitar, mas é obrigatório «dar um saltinho» à Casa dos Patudos, que é atualmente um espa-ço de reconhecido prestígio pela sua história e por congregar no seu seio cerca de 8 mil obras de arte colecionadas por José Relvas”, conclui, Nuno Prates.

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DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUSespecial iv aniversário

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O museu dispõe de quatro salas expositivas:

1.ª Sala: “O Ciclo do Pão”- Através de 14 painéis ilustrados, a que se juntam as alfaias re-

tratadas em cada painel, reconstitui-se o ciclo tradicional do pão português: a terra, a eira, a moagem, o trabalho caseiro da farinha, o forno, a distri-buição. Recria-se ainda uma antiga padaria portuguesa com a utilização de modelos em tamanho natural e pode-se observar três moinhos em contínua laboração.

2.ª Sala: “O Pão Político, Social e Religioso”- Nesta sala reconstitui-se a história do pão em Portugal desde a Restau-ração da Independência (1640) até à Restauração da Democracia (1974). Deste modo a “Questão do Pão” em Portugal é recriada através de docu-mentação da mais variada índole (editais, alvarás, artigos de jornal/revistas, caricaturas, livros, cartas, relatórios, postais comemorativos, etc.), num le-que de mais de 350 anos de História. Ainda nesta sala se observa a simbó-lica do pão na religião, mediante a exposição dos objetos religiosos que ao pão estão associados no cristianismo e no judaísmo, que são as únicas reli-giões para quem o pão tem uma conotação sagrada: a hóstia e o pão ázimo.

3.ª Sala: “A Arte do Pão”- Aqui se expõem uma série de objetos que têm inspiração no pão, suas alfaias, tradições e labores: azulejaria, vidros, arte sacra, madeiras, postais antigos, filatelia, diplomas, calendários, iconografia, cerâmica, prata, etc. Assim é toda uma tradição de arte nacional que se recria numa tradição multisecular.

4.ª Sala: “Ala Temática– O mundo fantástico dos Hérmios”- Dedicada ao público infanto-juvenil, esta sala recria uma viagem imaginária ao passado dos lusitanos nos antigos Montes Hermínios, reconstituindo livremente as suas atividades cerealíferas e o seu modo de vida, onde realidade e fantasia se conjugam para forjar um es-paço de encantamento. Através de modelos animados, de efeitos visuais e de uma cuidada cenografia musicada, é todo um mundo que se ergue aos olhos

TRadIções, HIsTÓRIae arte do pão português

dos visitantes mais novos… e não só. Esta sala contempla ain-da uma secção pedagógica onde os mais novos podem manipular a massa de pão e fazer os seus próprios pães.

Para além destes espaços, o Museu do Pão contempla igual-mente um restaurante de refe-rência onde a tradição da nossa gastronomia se conjuga com a busca de novos sabores e saberes; uma Mercearia tradicional; uma biblioteca temática, um bar e um atelier de objetos artísticos em massa de pão. Assim sendo, é legítimo referir que o Museu do Pão se assume como um espaço com várias valências, onde a cultura e o lazer se associam na sua plenitude.Mas as funções o os objetivos do Museu do Pão não se esgotam na sua va-lência museológica e de lazer. Pretendendo associar, num todo coerente, a tradição antiga do pão português com as atuais necessidades da sociedade moderna, o Museu iniciou o fabrico e comercialização de novos tipos de pão que se somam aos pães mais tradicionais que também confeciona. É exemplo disso o Pão São, um tipo de pão especificamente elaborado para cidadãos com necessidades específicas em termos de saúde. O Pão São para o Coração, elaborado em cooperação estreita com a Fundação Portuguesa de Cardiologia tem já um percurso sedimentado junto de quantos necessitam de cuidados cardiológicos particulares; o Pão São para os Diabéticos, feito em colaboração com a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, destina--se e recomenda-se em particular aos diabéticos. Para além do Pão São, outra forte aposta do Museu é o Pão Biológico, com o qual se regressa ao que há de mais natural e orgânico no pão, recorrendo às mais antigas sabedorias e aos mais apurados conhecimentos de saúde modernos.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

O Museu do Pão, em Seia, é um museu que exibe e preserva o património do pão português nas suas várias vertentes: etnográficas, políticas, religiosas e artísticas. Desde a sua

abertura em setembro de 2002, o Museu do Pão pretendeu sempre ser um espaço de cultura e de lazer para todos os

seus visitantes.

A OPINIÃO DE Sérgio Carvalho, Diretor do Museu do Pão

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Para além destes espaços, o Museu do Pão contempla igualmente um restaurante de referência onde a tradição da nossa gastronomia se conjuga com a busca de novos sabores e saberes; uma Mercearia tradicional; uma biblioteca temática, um bar e um atelier de objetos artísticos em massa de pão. Assim sendo, é legítimo referir que o Museu do Pão se assume como um espaço com várias valências, onde a cultura e o lazer se associam na sua plenitude.

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BREVES

recorde: 298 praias portuguesas com bandeira azulPela primeira vez, Portugal vai, este ano, ultrapassar a marca dos 300 galardões atribuídos pela Associação Bandeira Azul da Europa a praias e marinas. De acordo com o anunciado, a bandeira azul vai ser atribuída a 298 praias portuguesas, das quais 18 fluviais, e a 17 marinas. De acordo com José Archer, presidente daquela associação, houve, entre 2013 e 2014, uma subida significativa nos prémios atribuídos às praias nacionais, com o número de bandeiras azuis a saltar de 277 para 298, isto é, com mais 21 praias galardoadas este ano do que no ano anterior. Também as marinas melhoraram o seu desempenho, com uma subida na percentagem de bandeiras na ordem dos 21%. Em declarações à Lusa, o responsável mostrou-se satisfeito face ao “empenho muito grande” apresentado pelos municípios quanto ao cumprimento dos requisitos, em particular depois de um inverno rigoroso, lembrando que a atribuição da bandeira azul prevê o cumprimento de 30 requisitos, dos quais “26 são imperativos”, e que a qualidade da água é “um pré-requisito”. Com vista à atribuição destes galardões, a Associação Bandeira Azul da Europa efetua uma avaliação na altura do início da época balnear. Ao longo do verão, a entidade realiza uma monitorização permanente para assegurar o respeito pelos requisitos estabelecidos.

‘vinhos do teJo’ À conquista do tra-de americano em nova iorque Os ‘Vinhos do Tejo’ querem reforçar a presença no merca-do americano, através do segmento de trade, naquele que é já o seu 3º maior mercado na exportação. Em Nova Iorque (Astor Center), a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) promove uma Masterclass sobre a região di-ri gida a importadores, dis-tribuidores e retalhistas ame-ricanos. São várias as ações que a Comissão tem previstas para o mercado norte-americano, o principal mercado de inves-timento dos Vinhos do Tejo para 2014.Inserida nesta estratégia de promoção delineada pela CVR Tejo esteve a visita de Roger Voss, editor da revista Wine Enthusiast, à região vitivinícola, no mês de abril.Será na semana de 12 a 16 de maio que 4 importadores norte-americanos estarão de visita à região vitivinícola do Tejo. Ainda durante 2014, vão ser várias as ações de prova de Vinhos do Tejo, em lojas de vinho e restaurantes, que a CVR irá organizar em Nova Iorque.

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especial iv aniversário

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De acordo com a Convenção de Faro, aprovada pela Resolução da Assembleia da República n.º 47/2008, o património cultural é iden-tificado, igualmente, como um recurso essencial para a construção de uma sociedade pacífica e democrática, constituindo hoje um dos

direitos do Homem, da democracia e do Estado de direito. O direito à frui-ção do património cultural coexiste com a responsabilidade individual e cole-tiva perante o património, e deve manifestar-se pela valorização deste patri-mónio cultural, alcançada através da sua identificação, estudo, interpretação, proteção, conservação e apresentação, sempre com o objetivo de permitir à sociedade no seu todo, o direito à fruição destes valores e bens, promovendo o

saLVagUaRda do PaTRImÓnIo CULTURaL,um dever de cidadania

desenvolvimento da personalidade através da realização cultural.Os espaços museológicos consti-tuem, por inerência, locais dispo-níveis para o exercício do direito de cidadania de acesso à fruição do património, e são fundamen-tais dentro da sociedade ao repre-sentarem ambientes de excelência nos quais se permite que o cidadão possa fruir de todo o património dos seus acervos, de uma forma protegida, identificada e contex-tualizada. Como intervenientes privilegiados nesta conexão entre o cidadão e o património cultu-ral que consubstancia a sociedade em que vivemos, os museus assu-mem um papel de facilitadores da apreensão e da compreensão do património cultural e da memória dessa sociedade. A responsabilidade da sociedade perante o património cultural não pode, por isso, ser displicente nos seus deveres de preservação e de conservação desse património e de transmissão do mesmo às gerações fu-turas, devendo respeitar sempre a sua autenticidade (Convenção de Nara) e integridade (Convenção de Burra): a memória, a compreensão, a identi-dade, e a criatividade. Essa transmissão deve efetuar-se de uma forma sus-tentável, e todas as ações conducentes nesse sentido deverão ser suportadas inevitavelmente pela conservação ativa desse património. Neste contexto, o conservador-restaurador assume um papel central, ao ga-rantir que uma dada decisão de utilização e/ou de manutenção sustentável desse património respeita o valor cultural intrínseco do mesmo, e não so-mente o valor que a sociedade lhe atribui num dado momento. A sustentabi-lidade do património cultural assenta, portanto, na promoção de uma elevada qualidade das intervenções realizadas diretamente nesse mesmo património. É neste âmbito que o conservador-restaurador, no interesse do bem públi-co, cumpre a sua função como profissional que mais diretamente atua na salvaguarda deste património, sendo assim de vital importância o seu perfil, assim como os deveres, competências e obrigações que lhes estão atribuí-dos. As intervenções de Conservação e Restauro conducentes à preservação do património cultural estão hoje consubstanciadas nos fundamentos de uma metodologia científica e num conhecimento profundo das obras, e não apenas no saber resultante da destreza manual. Como resultado do desenvolvimento da formação especializada de conservação e restauro, e da evolução das metodologias científicas e do conhecimento técnico de conservação e restauro, existe atualmente uma consciência clara da neces-sidade de evitar intervenções em património cultural, com base apenas na experiência prática quotidiana.Quando pensamos nos museus, no património cultural à sua guarda, no valor intrínseco desse património enquanto representação da identidade cultural, e nas ações que estas entidades desenvolveram para a sua preser-vação e conservação, é importante referir que é exatamente neste contexto que surge, através da Lei 55/2001 referente às carreiras de museologia e de conservação e restauro na administração pública, a definição do perfil do conservador-restaurador e o reconhecimento indispensável deste profissio-nal para a preservação integrada deste património.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

O património cultural é definido pelo Estado Português, através da Lei 107/2001 que estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural, como englobando todos os bens materiais e imateriais que

constituam parcelas estruturantes da identidade e da memória coletiva portuguesas, que sejam testemunhos com valor de civilização ou de cultura e portadores de interesse cultural

relevante, e que sejam da maior relevância para a compreensão, permanência e construção da identidade nacional, e

possibilitem, ao mesmo tempo, uma democratização da cultura.

A OPINIÃO DE Rui Camara Borges, Presidente da ARP - Associação Profissionalde Conservadores-Restauradores de Portugal

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LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

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Há alguns anos, o preço elevado dos produtos constituía um entrave à mas-sificação do café em cápsulas. Mas a vontade de tornar acessível ao confor-

to do lar um café de grande qualidade e preço bastante mais reduzido levou a um aumento da procura. Ao mesmo tempo, as máquinas de café em cápsulas passaram a ter preços mais baixos e a estar disponíveis em grandes superfícies, que apostaram forte nesta categoria. O café em cáp-sulas tornou-se assim um luxo acessível à grande maioria dos portugueses.De acordo com a Associação Industrial e Co-mercial de Café (AICC), 80% dos portugueses consomem esta bebida diariamente mas se antes o faziam essencialmente numa ida ao café, agora é tao habitual juntar os amigos na mesa de um estabelecimento comercial para “beber uma bica” como à volta da mesa de jantar de casa, visto que grande parte têm nas suas habitações uma máquina de cápsulas de café. Este é um padrão tipicamente europeu que Portugal tem vindo a adotar, maioritariamente nos últimos dois anos, registando-se assim uma aproximação aos hábi-tos no resto da Europa. A redução do peso do

consumo em cafés, restaurantes ou bares contras-ta com o aumento das vendas no retalho.“O que noto neste momento é uma transição porque o cliente está a beber menos café na rua e a transferir esse consumo do mercado eureka para a cápsula, um segmento que tem crescido todos os anos na ordem dos dois dígitos. Acredi-tamos que a tendência continuará a ser esta nos próximos anos até porque se consegue um café de altíssima qualidade em casa e a um preço muito mais barato. O café hoje está muito conotado à cápsula!”, afirma Óscar Galvão.

CAFÉ É TRADIÇÃO DE FAMíLIADe uma família tradicionalmente ligada ao café, foi o seu bisavô que introduziu o negócio na fa-mília, o seu pai deu lhe forma ao criar, no início dos anos 60, a Kaffa e Óscar Galvão a solidez necessária, principalmente após 2004 com a in-trodução da cápsula.Mas recuando no tempo, foi no Brasil que Adria-no Telles iniciou o negócio de comércio de café. Aqui faz fortuna e decide trazer o seu café bra-sileiro para Portugal. Mas a entrada do mesmo não lhe foi facilitada por aqueles que considera-

As cápsulas de café já entraram em metade das casas portuguesas. De acordo com os dados da consultora Kantar Wordpanel, a penetração deste produto duplicou em dois anos, chegando a 49,5% dos lares no ano passado. Em 2010, apenas 14% das famílias consumiam café em cápsulas. Em 2011, esta percentagem alcançava os 26% e em 2012 chegava a 38%. A empresa de estudos de

mercado baseou-se numa amostra de 4 mil famílias de Portugal Continental. Conheça a empresa pioneira na colocação a nível nacional do café em cápsulas nas grandes superfícies. O seu nome é Kaffa e foi criada em 1960. A Revista Pontos de Vista foi conhecê-

la e falou com o Administrador da empresa, óscar Galvão.

“o CaFé Hoje esTámuito conotado à cápsula”

vam esta bebida amargosa, antieconómica e com mau gosto. Ainda assim, não baixou os braços, em 1908 voltou a Portugal para mudar menta-lidades. É em casa que cultiva o gosto pelo café oferecendo momentos degustativos às visitas que ia recebendo.Desta forma, é em casa que os Galvão Telles mo-dificam o gosto pelo café brasileiro e este torna--se, aos poucos, apreciado por todos. Alguns anos depois, Adriano Telles inaugura a conhecida casa “A Brasileira”, em Lisboa, no Porto e em Coimbra.A paixão pelo café é herdada pelas gerações se-guintes e é por isso que o neto, Óscar Telles de Noronha Galvão cria, em 1960, a Cafa – Arma-zém do Café Lda. enquanto fábrica de torrefação e comercialização de cafés. “Estivemos sempre ligados à importação de cafés crus para torrar, sendo portanto a nossa atividade até 2004 voca-cionada para o mercado eureka”.Quem o diz é Óscar Galvão, filho do criador da empresa e atual administrador da mesma. Foi ele que introduziu as grandes alterações estratégicas cruciais ao crescimento acentuado que a antiga Cafa, atual Kaffa Caffé (quem em etíope significa a origem do café), tem assistido nos últimos anos.

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DIA INTERNACIONAL DO CAFÉ

Óscar Galvão

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No fundo, não só dá seguimento à empresa do pai como empreende esforços no sentido de mo-dernizar a imagem do legado que assumiu.

E PORQUE É QUE 2004 FOI UM ANODECISIVO PARA A EMPRESA?

Óscar Galvão explica. “Em 2004 entendi que de-víamos inovar e procurar novos nichos de merca-do. Como tal, optamos por entrar no mundo das cápsulas de café. Inicialmente, decidimos arranjar um parceiro italiano que produzisse o nosso café, adequado ao público português. Até então, aqui-lo que existia em termos de cápsulas de café em Portugal era simplesmente a Nespresso”.Para Óscar Galvão, o modelo de negócio da Nes-presso “não era o mais adequado para o público português que não se identificava com o método de distribuição do produto, apenas online ou nas lojas específicas da marca”.O Administrador da Kaffa percebeu assim que um negócio que era até então um nicho pode-ria chegar a muito mais gente. “Entendemos que o nosso processo tinha sempre que passar pela massificação da cápsula do café e, por isso, fo-mos à procura de parceiros nas grandes superfí-cies para colocar o nosso produto à venda. Desta forma, fomos pioneiros na colocação do café de cápsula nas grandes superfícies e conseguimos entrar quase na totalidade das grandes superfícies existentes em Portugal”, afirma.Resultado? “O sucesso nas vendas foi muito superior às expectativas. Como tal, a partir daí, decidimos investir em produção própria e não ficar dependentes dos italianos, até porque eles

não tinham capacidade de acompanhar o nosso crescimento. Neste momento temos uma fábrica muito moderna, com uma capacidade produtiva de 350 milhões de cápsulas por ano”.De facto, a Kaffa é hoje um dos mais importan-tes players em Portugal e na Europa no processo de fabrico de cápsulas de café. A fábrica garante um processo completamente automatizado, de elevada eficiência e produz cápsulas para as mais importantes marcas, incluindo a insígnia própria - Kaffa.

LINHA DE MONTAGEM NO BRASILAtualmente a marcar presença em vários países da Europa e com 40 por cento das vendas di-recionadas para a exportação, é tempo de apos-tar no Brasil com um projeto que Óscar Galvão classifica como “ambicioso”. “Estamos a montar uma linha de montagem no Brasil. A nossa fá-brica lá irá arrancar em junho deste ano. É um mercado em que a cápsula de café não está tão desenvolvida como na Europa mas acreditamos que dentro de cinco / seis anos vai estar ao mes-mo nível. Nós, como todo o nosso know how e experiência, penso que vamos desempenhar um papel importante a esse nível. Será um modelo de negócio diferente daquele que temos em Portu-gal, uma vez que vamos trabalhar essencialmente com as marcas próprias, mas pensamos que irá funcionar bem”.Para que o sucesso seja alcançado neste processo, Óscar Galvão está consciente de que “não pode-mos ir para o Brasil a achar que somos os donos da sabedoria da cápsula de café, até porque esta-

mos a falar de um país muito entendido em cafés e com muito a ensinar-nos. Acredito que desta troca de experiências poderá sair um resultado muito positivo”.Em Portugal, o objetivo é “cimentar a nossa posi-ção a nível nacional e melhorar continuamente um produto que tem vindo a melhorar muito ao longo destes últimos anos”, garante Óscar Galvão para quem “é importante inovar nos aromas e texturas principalmente por uma questão de marketing, uma vez que representam um número reduzido as pessoas que consomem café com aroma. No en-tanto, é relevante apostar também nos nichos de mercado para que todos fiquem satisfeitos com os nossos produtos. Deste modo, já desenvolve-mos cinco cápsulas de café diferentes, todas elas desenvolvidas por nós, fabricadas em Portugal e reconhecidas tanto no nosso país como lá fora”.A Kaffa comercializa assim cafés elaborados a partir de uma cuidada seleção de grãos de café arábica e robusta, passando por chás puros e na-turais, sem aditivos, conservantes ou corantes. Assim como, o verdadeiro sabor de um chocolate quente e a magia de um cappuccino cremoso.Para o nosso entrevistado, o setor do café em Por-tugal “estagnou durante alguns anos mas está a acordar e a entender que tem que se modernizar e que não pode pensar apenas no mercado local. Num país de dimensão tão reduzida temos que exportar e cada vez mais as empresas percebem que têm que entrar em novos produtos e em no-vos mercados”. Como tal, conquistar mais quota de mercado na exportação é outro dos grandes de-sideratos da Kaffa para os próximos tempos.

especial iv aniversário

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A Evolução do mercado nacional de café nos últimos dois anos, em volume e em faturação:Num contexto em que cerca de 80% dos portugueses ingere dia-riamente café, a bebida aparece associada a hábitos sociais e tradi-

ções, como traço distintivo da cultura portuguesa. De uma forma geral, os portugueses preferem o “café expresso”, um tipo de café que sendo comum também em outros países do sul da Europa, em Portugal apresenta caracte-rísticas únicas que definem o Expresso Português.De acordo com os últimos dados da ECF (European Coffee Federation) relativos a 2011, a diferença de consumo de café entre portugueses e os congéneres europeus está mais estreita: a média de consumo de café em Portugal ronda os 4,7 kg por pessoa/ano enquanto nos países europeus se situa perto dos 6,4 kg por pessoa/ano.Neste momento, segundo dados Nielsen, o mercado de café em Portugal vale 424.441.528 euros. À escala global, o café é a segunda bebida mais consumida no mundo e a segunda matéria-prima comercializada em todo o mundo (a seguir ao petróleo).A constante reinvenção do setor e adaptação às exigências do mercado – como, por exemplo, através introdução de cápsulas para o segmento lar – e a aposta contínua nos mercados externos, faz com que se registe uma dina-mização bastante positiva das vendas no setor.O consumo de café em Portugal ainda se faz maioritariamente fora de casa.A maioria dos portugueses continua a beber café fora de casa. No entanto, o

a ImPoRTânCIado setor do café

consumo em casa tem vindo a aumentar nos últimos dois anos, registando--se uma aproximação aos hábitos de consumo de café verificados no resto da Europa, ou seja uma redução do peso do consumo do canal Horeca no consumo total.Num cenário de mudança de hábitos de consumo, em que o consumidor final, um pouco por todo o mundo, tende a consumir mais café em casa, sem no entanto se privar desse hábito, as vendas no retalho têm contribuído para a dinamização do setor. Segundo dados da Nielsen, o início do ano de 2013 pautou-se por um aumento de valor em +46% e de volume em +30% relativo às cápsulas, apresentando quotas de 105 milhões de euros e 2586 toneladas, respetivamente.O café é a segunda bebida mais consumida no mundo e uma das principais matérias-primas comercializadas. Nesse sentido, o mercado internacional assume uma importância extrema no setor do café, em Portugal, tendo em conta que, segundo dados no INE, em 2012 as exportações ultrapassaram os 50 milhões de euros.

www.aicc.pt www.cafeesaude.com

DIA INTERNACIONAL DO CAFÉ

A Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) é uma associação patronal sem fins lucrativos, cujo principal objetivo é promover e divulgar o café e

apoiar todo um setor industrial e comercial que lhe está associado, no quadro no estrito respeito pelas normas do ordenamento jurídico português. Dessa

forma, tendo em conta o volume de exportações registado, o mercado internacional assume, de facto, uma importância extrema no setor do café,

em Portugal. Nesse sentido a AICC trabalha de forma contínua para ajudar as empresas portuguesas no processo de internacionalização.

A OPINIÃO DE Teresa Ruivo, Secretária Geral da AICC – Associação Industrial e Comercial do Café

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Page 55: Revista Pontos de Vista Edição 35

Acrescentam-se a isso as perdas durante e pós colheita que são imensas na África Subsaariana, sul da Ásia e partes da América Latina: a pobreza extrema a que estão votados alguns países, co-munidades e famílias, faz com que perdas involuntárias por falta

de tecnologia de colheita e armazenagem também exerçam hoje um peso significativo na quantidade de alimentos que não são utilizados, após todo o sacrifício humano e ambiental para os produzir.Estudos recentes demonstram que cerca de um terço dos alimentos que são produzidos no mundo são desperdiçados ao longo da cadeia de valor dos alimentos, perfazendo cerca de 1.3 mil milhões de toneladas por ano. Um terço do que se desperdiça daria para alimentar, com sobras, as 842 milhões de pessoas que passam fome no mundo hoje. Em Portugal, estima-se que são desperdiçados um milhão de toneladas de alimentos por ano, 17% da produção total. Muito abaixo da média mundial, mas ainda preocupante. Infelizmente, no modelo de desenvolvimento em voga no mundo de hoje, o lucro colocou-se no centro da racionalidade. Para o lucro o que conta é o dinheiro: o que se gasta e o que se ganha. Mas esses sistemas económicos ditos modernos não levam em consideração os custos e ganhos sociais e ambientais. A dignidade dos seres humanos e a preservação do equilíbrio ecológico no planeta não aparecem nos orçamentos e balancetes. Por exemplo, uma pessoa que decide comprar um quilo de tomate para participar no chamado festival de “tomatina”, segundo a lógica consumista, não faz nada de errado. Pagou o tomate com o seu próprio dinheiro e pode fazer dele o que bem entender. Porém, a realidade é bem mais complexa do que isso: ao deitar fora uma certa quantidade de tomate, ele está a reduzir a disponibilidade de alimentos no mundo, privando certas pessoas (os mais pobres e vulneráveis) de algo que podia matar a sua fome. Por outro lado, produzir um quilo de tomate teve custos ambientais (de-gradação de solos, utilização de água, emissão de gases estufa, poluição ambiental com agroquímicos, etc.) e investimentos em insumos agrícolas, transporte e armazenagem que, naquele gesto de arremesso de tomates, são literalmente esmagados e deitados fora. O mesmo gesto se repete quando o trabalhador de um supermercado se-leciona frutas que lhe parecem menos adequados para o consumo, porque são menos redondas, menores do que o tamanho mais procurado, ou que têm minúsculos pontos inofensivos, que não ficariam bem na prateleira, e as põe no caixote de lixo; quando alguém põe no prato mais do que o que vai consumir, e acaba deitando o resto fora; quando o gerente de um restaurante decide que os seus excedentes devem ser jogados ao lixo para não ocuparem espaço.Para além da perspetiva económica e ambiental, há uma dimensão social e moral a levar em conta: Desperdiçar alimentos é uma agressão moral aos milhões de pessoas que passam fome, às crianças subnutridas, às mães que procuram em vão alimentos para os seus filhos, e desrespeito à humanidade e à natureza que nos sustenta.

desPeRdÍCIo de aLImenTos(hora de mudar, para salvar vidas)

Chegou, assim, a hora de mudar os paradigmas económicos, sociais e cultu-rais, para o bem do mundo e para salvar vidas. Urge repensar a relação entre os seres humanos e os alimentos. Se hoje consideramos a alimentação um direito humano, é importante que esse direito venha acompanhado de obri-gações: para cada indivíduo, família, comunidade e país. Menos desperdício também irá implicar menos gastos municipais, na coleta, transporte, trata-mento e depósito de lixo, particularmente os resíduos orgânicos urbanos.Naturalmente que não será uma tarefa fácil eliminar completamente as perdas e desperdício, mas os esforços e sacrifícios vão sempre valer a pena, mesmo sabendo de antemão que alguns deles nos levarão para os extremos da nossa zona de conforto. No caso das perdas que ocorrem maioritariamente nos países mais pobres, predominantemente, por causas ligadas à falta de infraestruturas e tecnolo-gias de conservação e transporte, o caminho seria investir em infraestrutu-ras de transporte e comercialização, bem como em tecnologias simples de armazenagem, conservação e processamento: celeiros melhorados, proces-samento de grãos, frutas, legumes e pescado.Nos países mais desenvolvidos, onde o desperdício ocorre predominante-mente por razões culturais, sociais, comportamentais e comerciais, o tra-balho requereria por um lado a conscientização e educação das pessoas sobre o impacto do desperdício, para promover a mudança de atitudes e, por outro, o reajustamento dos regimes institucionais, privilegiando políti-cas e legislação que promovam práticas a favor da redução do desperdício. Há muitas práticas que podem e devem ser estimuladas: doação dos ex-cedentes para os mais necessitados, usando organizações vocacionadas (escolas, creches, infantários, lares de idosos, organizações humanitárias); desenvolvimento de mercados para produtos rejeitados mas ainda com va-lor nutritivo; aproveitamento de sobras para alimentar animais ou abastecer fábricas de rações ou fertilizantes; desenvolvimento de embalagens e paco-tes para diferentes tipos de consumo (individual, duas pessoas, familiar) e outras iniciativas que privilegiem a poupança reutilização, reciclagem, clas-sificação, preservação dos alimentos. É hora de mudar! Ao reduzir o desperdício, não só aumentamos a disponi-bilidade de alimentos no mundo, e reduzimos o seu preço, como também reduzimos o impacto da produção agrícola no ambiente.

* Hélder Muteia, Responsável pelo Escritório da FAO em Portugal. Licenciou-se em Veterinária na Universidade Eduardo Mondlane e concluiu um mestrado em Economia Agrícola na Universidade de Londres. Foi Ministro da Agricultura em Moçambique e Presidente da Comissão de Agricultura no Parlamento. Como Representante da FAO já trabalhou na Nigéria e no Brasil.

ANO EUROPEU CONTRA O DESPERDíCIO ALIMENTAR

O desperdício de alimentos não é um tema novo. Novo é o olhar com que encaramos esta realidade que a humanidade

vem arrastando desde a sua existência: desde rituais pré-históricos em que alimentos eram queimados, enterrados,

ou jogados ao mar; passando por orgias medievais de aristocracias dominantes, em que alimentos e vinho serviam

o intuito da ostentação; festivais modernos para lazer e divertimento como as famosas “tomatinas” (arremesso de tomates); até práticas sociais, culturais e económicas que

banalizam o valor dos alimentos.

A OPINIÃO DE Hélder Muteia*, Responsável pelo Escritório da FAO em Portugal

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Page 56: Revista Pontos de Vista Edição 35

Quando a tarefa era sensibilizar, através do seu testemunho, para a questão do desperdício alimentar, Henrique Leite, Administrador da Eurest em Portugal,

não hesitou. Enquanto fornecedora de cerca de 28 milhões de refeições por ano, a empresa tem bem presente o seu papel na educação alimentar, acreditando ser possível haver um elo de ligação entre os temas sociais e ambientais e as questões de índole mais económica. Líder no fornecimen-to de Serviços de Alimentação e Gestão de res-taurantes para o mercado corporativo e público, a Eurest tem apostado numa relação de grande proximidade com o seu cliente, atuando em áreas tão diversas como a restauração coletiva e públi-ca, catering, áreas de serviço e vending.Na sua estratégia, a sustentabilidade será sempre a palavra de ordem. Mas ser sustentável não é apenas sinónimo de rentabilidade económica. É bem mais do que isso. É ter em linha de conta, todos os dias, o impacto da redução de desperdí-cio e da preocupação permanente com a produ-ção alimentar consciente e com a segurança dos seus recursos humanos. Mas isto não é novidade no seio desta empresa.São princípios há muito enraizados, daí que falar desta luta contínua contra o desperdício alimen-tar é falar do quotidiano desta equipa, tal como explicou Henrique Leite em conversa com a Revista Pontos de Vista. “A questão do desper-dício alimentar faz parte do nosso dia a dia, está na nossa génese e está enraizada de tal maneira que às vezes nem nos apercebemos disso”, expli-cou. Tal como em todos os passos que dá, tam-bém para esta “luta” a Eurest entrega todo o rigor e profissionalismo que a carateriza. “Por ser uma atividade de risco, sujeita a várias ameaças, como por exemplo intoxicações alimentares, as marcas de qualidade estão implementadas nos nossos serviços e seremos sempre muito rigorosos nesse aspeto”, afirmou. Rigor é também a caraterística que esta empresa coloca sempre nas ações e cam-panhas que desenvolve e que, independentemente da natureza das mesmas, são, para Henrique Lei-te, “importantes para motivar outros exemplos”. Henrique Leite foi mais longe, confessando mes-mo não se importar que a concorrência “copie” as suas ideias, desde que seja pelo benefício de todos e para mudar mentalidades. Esta empresa tem sido, aliás, pioneira em vários domínios. Quando ainda não se falava da recolha de óleos usados, a Eurest deu o primeiro passo. “Nessa altura tínha-

mos até de pagar para fazer a recolha e hoje em dia é uma atividade não só da indústria mas do consumidor em geral”, partilhou.

CAMPANHAS DE REDUÇÃODO DESPERDíCIO ALIMENTAR

Externa e internamente, o objetivo é exato: aler-tar para a redução imediata do desperdício ali-mentar. Em Portugal, segundo dados estatísticos datados do ano passado, cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano, ou seja, 17% do que é produzido, vai para o lixo. São números preocupantes sem dúvida. Mas são, sobretudo, números que todos devemos combater. A Eurest dá o exemplo com uma campanha que Henri-que Leite considera bastante abrangente, desig-nada por CCRA: consumo consciente respeita o ambiente. O destaque que esta campanha tem recebido mostra o mérito da mesma. A nível na-cional, europeu e mundial, a iniciativa recebeu o prémio pelo projeto “Choose Beans – Uma op-ção saudável e sustentável” no Nutrition Awards 2012 e o Prémio Mafre/ACT no domínio da prevenção e segurança no trabalho. Para assim reduzir o consumo de recursos naturais, esta

2014 foi declarado pelo Parlamento Europeu o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar, um problemática à qual nem todos estão sensíveis. De empresas ao consumidor comum, é premente uma mudança de mentalidades que começa na despensa e no

frigorífico de cada um. A Revista Pontos de Vista foi conhecer um exemplo neste campo. Uma empresa que tem esta preocupação sempre muito presente na sua atuação e que há muito que a incutiu nos seus colaboradores, com campanhas e ações direcionadas

que visam reduzir o desperdício que todos fazemos, mesmo inconscientemente. A Eurest, pertencente ao Grupo Compass, líder mundial na área da restauração, está em Portugal há 40 anos e tem sido pioneira e exemplar em áreas tão sensíveis como esta. É uma

empresa que quer sempre deixar a sua marca, não tivesse ela surgido em Portugal na véspera da Revolução de abril de 1974.

LUTaR ConTRao desPeRdÍCIo aLImenTaR

“está na nossa génese”

campanha pretende sensibilizar os consumidores para a necessidade de reduzir desperdícios, uma ideia que começa pelos próprios colaboradores da Eurest. No refeitório, no final de cada refeição, se o tabuleiro estiver vazio, o consumidor recebe uma ficha que será convertida em dez gramas de alimentos que depois serão doados a uma ins-tituição de solidariedade social. Em suma, “não provocando lixo, não vamos destruir o ambiente. Esta é, sem dúvida, a campanha mais completa que temos”, evidenciou o responsável. Num pólo oposto, Henrique Leite realçou algumas campa-nhas que descreveu como “pseudo-sociais” que

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ANO EUROPEU CONTRA O DESPERDíCIO ALIMENTAR

Eurest em números:- 2690 colaboradores;- 28 milhões de refeições por ano;- 100 M€ em volume de negócios;- Está presente em 17 distritos e regiõesautónomas dos Açores e Madeira;- 715 unidades das quais 60% com confeção própria e 40% com refeições transportadas a partir de cozinhas centrais.

Henrique Leite

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em nada respeitam esta bandeira da responsa-bilidade social levantada por empresas como a Eurest. “Algumas campanhas visam recolher ali-mentos ou restos das refeições confecionadas em restaurantes com a motivação de ‘tapar a fome’ aos mais carenciados. Esta é uma caridade no seu pior uma vez que, por um lado, está a dar pro-dutos que nem sempre estão nas melhores con-dições e, por outro lado, não educa em nada a sociedade uma vez que está a passar a mensagem de que se não comermos não haverá problema, haverá alguém que coma. Esta não é uma solu-ção do ponto de vista sustentável”, defendeu. Em casa ou nas empresas, é importante que entidades se dediquem a outro tipo de campanhas para le-var as pessoas a repensarem os seus hábitos en-quanto consumidores. Tarefas simples como ge-rir a lista de compras ou ver o prazo de validade dos produtos poderão sempre fazer a diferença. Henrique Leite sabe que desenvolver este tipo de campanhas nem sempre é fácil, sobretudo pela logística que tal exige. Mas basta querer e, em 48 campanhas realizadas, a Eurest conseguiu redu-zir em 26% o desperdício.

CARE SAúDE,TRIM TRAx E AIAAlém de empresas e escolas, a Eurest está presen-te em diversos estabelecimentos de saúde e, aqui, tem concentrado uma atenção especial, através da campanha CARE Saúde. A questões como “por que é que as pessoas não terminaram determinada refeição?” é possível dar uma resposta. Este é um instrumento que permite a monitorização da in-gestão alimentar dos consumidores em contexto hospitalar, através da análise da quantidade ingeri-da e, a partir daí, é possível identificar as causas da não ingestão. No final, estes dados são importantes

não só para os Serviços de Alimentação e Nutri-ção Hospitalares como para a gestão de resíduos produzidos. “É difícil controlar toda a cadeia mas estamos a tentar fazer estudos que permitam essa poupança, por um lado para baixar o desperdício e, por outro, para combater a desnutrição hospita-lar”, explicou Henrique Leite. A nível interno, destaca-se ainda o programa Trim Trax, aplicado a todo o grupo Compass e que pretende minimizar a produção de resídu-os orgânicos. O objetivo é sensibilizar as equi-pas operacionais para que estas implementem práticas que reduzam a produção de resíduos nas diferentes unidades de restauração. Por fim, Henrique Leite falou-nos ainda do AIA (Apro-veitamento Integral dos Alimentos) que é quase um regresso aos nossos antepassados gastronó-micos. Este programa incentiva o consumo in-tegral dos alimentos, mesmo as partes normal-mente desprezadas, como por exemplo a casca da batata, hoje muito utilizada para confecionar alguns tipos de entradas ou a casca da cenoura, bastante útil para a produção de doçarias.

REDUZIR O DESPERDíCIO PARA METADEATÉ 2025: É POSSíVEL?

“Sem dúvida”, respondeu Henrique Leite. O administrador acredita que poderemos ir mui-to além desse valor uma vez que o desperdício atual não está perfeitamente quantificado. Mas, para tal, importa implementar uma série de me-didas cuja base será sempre uma mudança efe-tiva e radical de mentalidades. As crianças aqui assumem um papel crucial uma vez que são um importante veículo de transmissão de mensagem. “A educação alimentar é importante mas não chega colocar um alimento à frente da criança. É

um trabalho que é feito com as escolas, os pais e os professores. Sendo a Eurest um dos principais players neste mercado, temos que ser o motor deste tipo de atividades”, salientou. A mudança está em cada um. “Não comprar em demasia. Não ter excesso de produtos no frigo-rífico. Ter atenção aos prazos de validade. Não produzir refeições em excesso. Utilizar os produ-tos da época. Como civilização moderna, temos de ter em consideração todas estas questões”, evi-denciou Henrique Leite. Gerir o frigorífico dia-riamente não é fácil. É uma tarefa exigente que pede disponibilidade e, acima de tudo, vontade. Mas os resultados são notórios, para a carteira e para o meio ambiente. “São detalhes que fazem a diferença”, colmatou o nosso entrevistado. Quanto à Eurest, podemos continuar a contar com a mesma postura. Mas Henrique Leite lan-çou um desafio: “queremos que os clientes sejam mais exigentes nesta área e que sejam mais críticos. Tomem consciência no dia a dia do impacto que os vossos hábitos irão ter na cadeia alimentar”.

Unidades certificadas:2012ISO 9001 – 45 unidadesISO 22000 – 6 unidadesISO 14001 – 4 unidadesOHSAS 18001 – 5 unidades

2013ISO 9001 – 33 unidadesISO 22000 – 8 unidadesISO 14001 – 7 unidadesOHSAS 18001 – 5 unidades

especial iv aniversário

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O INFARMED é a enti-dade responsável pelo acompanhamento, coor-denação e aplicação do

Sistema Nacional de Farmacovigi-lância (SNF), tendo que assegurar de forma permanente, através da monitorização da relação benefí-cio-risco a utilização segura dos medicamentos, nomeadamente através da identificação de riscos associados à sua utilização, a sua avaliação, a implementação de me-didas de minimização do risco e a comunicação destes aos profissio-nais de saúde, doentes, consumido-res e cidadãos em geral.O SNF é constituído por 4 Unida-des Regionais de Farmacovigilância (URF) - Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Sul - pelos profis-sionais de saúde, serviços de saúde, Titulares de Autorização de Intro-dução no Mercado (AIM) e mais recentemente pelos utentes.O sistema permite a recolha de informações sobre suspeitas de reações adversas resultantes da utilização de um medicamento, ou seja as notificações de suspeitas de reações adversas. Embora esta notificação seja espontânea, o sistema conta com a participação ativa dos profissionais de saúde que pres-crevem, dispensam e administram medicamentos e pelos doentes e utentes. Todos estes notificadores podem enviar as suas suspeitas de reações ad-versas a medicamentos (RAM) diretamente ao Infarmed ou às URF ou indiretamente através dos Titulares de AIM.Todas as notificações de suspeitas de reações adversas recebidas diretamen-te e indiretamente no Infarmed encontram-se inseridas na base de dados nacional de suspeitas de reações adversas a medicamentos de uso humano – SVIG.Desde a sua implementação, o SNF tem apresentado resultados crescentes em número de notificações por ano, tendo em 2011 atingido as 250 noti-ficações de reações adversas por 1 milhão de habitantes e quadruplicado o número de 2000, no entanto, uma das principais limitações que persiste é a subnotificação. A notificação espontânea de RAM continua a ser um dos principais instru-mentos da farmacovigilância e tem contribuído muito significativamente para a deteção de reações adversas aos medicamentos depois de estes serem introduzidos no mercado. A Farmacovigilância é uma atividade bastante regulamentada sendo a legislação nacional em vigor decorrente da transpo-sição de legislação europeia.

FaRmaCoVIgILânCIa

De acordo com a nova legislação europeia publicada em 2010 e atualmente em implementação, o Infarmed terá que, de forma robusta, recolher infor-mações sobre suspeitas de reações adversas, provenientes quer de profissio-nais de saúde quer dos utentes. Estas suspeitas de reações adversas podem resultar da utilização de um medicamento nos termos da autorização de introdução no mercado, bem como da utilização fora desses mesmos ter-mos, sendo de grande relevância a comunicação efetiva de informação de segurança a todos os intervenientes do circuito do medicamento.Uma das principais alterações decorrentes da nova legislação de farmaco-vigilância foi o estabelecimento de uma relação direta entre o os doentes/utentes e o Infarmed, passa a haver um maior envolvimento dos doentes/utentes no processo de notificação, visto que estes podem notificar as sus-peitas de RAM. O processo de notificação foi simplificado, dado que para o efeito, os utentes e os profissionais de saúde tem à sua disposição um portal online – Portal RAM – uma nova ferramenta de notificação online de rea-ções adversas a medicamentos desenvolvida pelo Infarmed e que entrou em funcionamento em julho de 2012.O Portal RAM permite a notificação de reações adversas por profissionais de saúde e utentes, mediante o preenchimento de um formulário específico para cada um destes tipos de notificadores.Para além de permitir efetuar e submeter notificações de RAM, o Portal disponibiliza também diversa informação, nomeadamente notícias e links úteis no âmbito da farmacovigilância.

FARMACOVIGILÂNCIA

A Farmacovigilância tem como principal objetivo a

proteção da Saúde Pública, a fim de prevenir, detetar

e avaliar reações adversas aos medicamentos de uso

humano que se encontram no mercado.

A OPINIÃO DE Eurico Castro Alves, Presidente do Conselho Diretivo do Infarmed, I.P.

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Page 59: Revista Pontos de Vista Edição 35

A ESEnfSM está aca-demicamente acre-ditada pela A3ES – Agência de Avalia-

ção e Acreditação do Ensino Superior e do ponto de vista funcional e procedimental pela APCER. A sua ativida-de formativa desenvolve-se em estreita articulação com o Hospital de Santa Maria (Porto), propriedade da mes-ma congregação religiosa, e trabalha em rede com um

vasto conjunto de instituições de saúde com as quais foram celebrados pro-tocolos, especialmente da Área Metropolitana do Porto, numa ação de coo-peração visando assegurar a melhor formação possível aos seus diplomados através de estágios e de práticas clínicas em contexto real.A ESEnfSM ministra o curso de licenciatura em enfermagem, pós-licen-ciaturas de especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrí-cia, Enfermagem de Reabilitação e Enfermagem Comunitária e oferece um amplo portefólio de formações sob a forma de pós-graduações, de que se destacam Instrumentação Cirúrgica e Emergência, Trauma e Catástrofe, e cursos breves, alguns realizados com entidades parceiras, como é, atual-mente, o caso do Centro de Simulação Médica do Porto (CESIMED).A formação contínua surge atualmente como um desafio fundamental para os profissionais de saúde e como uma oportunidade de os mes mos se atuali-zarem e adquirirem conhecimentos avançados essen ciais para dar resposta à complexificação profissional decorrente da evolução técnica e científica que coloca, quotidianamente, novas exigências aos profissionais de enfermagem. A ESEnfSM está comprometida com um processo de desenvolvimento estratégico que assenta numa matriz de consolidação institucional baseado em ações fulcrais:• Planeamento integrado com os operadores do mercado de propostas cur-riculares inovadoras, que acrescentem valor, e que sejam mais-valias para a sociedade, correspondendo a áreas de necessidades em expansão, pers-petivando o seu crescimento futuro num quadro de globalização cada vez mais acentuado e de gestão planetária dos recursos humanos e das ofertas de emprego.• Recrutamento de formadores muito qualificados que aliem sólidas for-mações académicas a percursos profissionais exercidos em contextos reais de modo a rentabilizar as sinergias entre teoria e prática, única forma de conseguir valorizar o percurso académico e as potencialidades profissionais dos futuros diplomados.• Reforço da capacidade de acolhimento e de melhoria dos apoios sociais aos estudantes no acesso à ESEnfSM, na frequência dos cursos e na transi-ção para o mundo do trabalho.• Aposta na internacionalização como pilar fundamental na prossecução da estratégia de desenvolvimento, seja através das oportunidades dos progra-mas de mobilidade para estudantes, docentes e pessoal de administração e serviços, seja pela captação direta de estudantes internacionais para quem estudar em Portugal seja uma opção aliciante.

sanTa maRIa, maIs de meIo séCULoa formar enfermeiros únicos

• Alargamento da sua área da atividade como forma de ganhar escala e maior sustentabilidade, rentabilizando sinergias com outras unidades pertencentes à mesma congregação religiosa, consolidando as condições indispensáveis para se dotar de um corpo docente cada vez mais qualificado e estável, apro-fundar as parcerias existentes numa perspetiva de enriquecimento e de vanta-gens mútuas, e aumentar a prestação de serviços nas suas áreas fundamentais, seja no espaço nacional, seja onde se identificarem oportunidades, tendo em conta que ESEnfSM está preparada para intervir onde for solicitada.Finalmente, uma palavra para todos os que aspiram a tirar a licenciatura em enfermagem: a ESEnfSM é tudo a que podem aspirar, uma escola com óti-mas instalações, com um ambiente familiar onde os estudantes estão primei-ro, com preocupações humanísticas e atenção aos problemas dos mais fragi-lizados, um ensino rigoroso e tecnicamente avançado, práticas de excelência em contexto de trabalho em colaboração com os parceiros institucionais e uma grande preocupação em conseguir saídas profissionais para os finalistas. Em suma, a ESEnfSM é a tua escola e nós esperamos por ti.

DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

A Escola Superior de Enfermagem de Santa Maria – ESEnfSM –, propriedade da Província Portuguesa das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, é uma instituição de Ensino Superior Politécnico prestigiada, com um projeto

pedagógico e de formação sólido, traduzido numa formação que associa o rigor técnico-científico às melhores práticas e a uma atitude humanista e de atenção particular aos mais fragilizados, inscrita na matriz franciscana que inspira o seu

quadro de valores formativos fundamentais.

A OPINIÃO DE José Manuel Silva, Presidente do Conselho de Direção

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especial iv aniversário

Page 60: Revista Pontos de Vista Edição 35

A modernização da Diretiva 2005/36/CE relativa ao reconhecimento das qualifi-cações profissionais, a Transposição de Diretivas Europeias e demais legislação,

a Regulamentação Europeia sobre o Turismo de saúde, a Definição Europeia das Dotações Se-guras, a Acreditação Internacional das Unidades de Saúde e a Saúde Eletrónica foram alguns dos temas que dominaram o encontro.Sobre o objetivo deste debate, Germano Couto, Bastonário da OE afirmou ser «fundamental que se debata o tema da Saúde com quem poderá ter um papel interventivo a nível da União Europeia. É esse o objetivo do nosso encontro.» O mais alto representante da Ordem dos Enfermeiros decla-rou ainda que a OE procura, desta forma, «con-tribuir para a integração dos principais temas que preocupam atualmente a Enfermagem nacional e europeia para a preparação das Eleições Euro-peias de 2014.»A candidata a eurodeputada pela Aliança Portu-gal, Ana Clara Birrento, destacou na sua interven-ção o facto de estas eleições permitirem recupe-rar a confiança dos cidadãos na União Europeia, afirmando que «há que apostar numa Europa mais ativa e menos reativa», com destaque para o “reconhecimento do mérito profissional dos pro-fissionais de saúde» e para a «modernização dos sistemas de saúde», assim como para a necessi-dade de dar uma dimensão europeia à sociedade

civil, ou seja, «deixar de pensar a Europa de uma forma muito intelectualizada, para não afastar as pessoas», como referiu. Por sua vez, João Lavinha, candidato pelo Bloco de Esquerda afirmou que o seu painel «reflete as ações políticas/temas de pre-ocupação expostos pela Ordem dos Enfermeiros». Carla Cruz, candidata pela Coligação Democrática Unitária afirmou que «com o atual rumo da União Europeia, um rumo capitalista, com uma tendência privatizadora, estamos a criar um SNS a duas velo-cidades: um para os que podem pagar, e outro, para

A Ordem dos Enfermeiros (OE) reuniu, no passado dia 21 de abril, em Lisboa, num debate político, cinco candidatos a eurodeputados com o intuito de os sensibilizar para os desafios/problemáticas que a Enfermagem portuguesa enfrenta hoje em dia e abordar o

papel do Parlamento Europeu na área da Saúde, dos Assuntos Sociais e da mobilidade profissional dentro da Europa.

oRdem dos enFeRmeIRos Reúne CandIdaTos a eURodePUTados

para debate do tema “saúde nas europeias”

os que não podem pagar». Acrescenta ainda que «estamos a criar uma Europa de assimetrias, uma vez que somos um país exportador de mão de obra», referindo-se ao grande número de profissionais de saúde que estão a abandonar o país para ir trabalhar para o estrangeiro quando, segundo a eurodeputa-da, «estamos perante uma grande falta destes mes-mos profissionais no nosso país.»Na sua intervenção, o candidato pelo Movi-mento Partido da Terra Marinho Pinto, afir-mou que «é preciso combater a Europa dos in-teresses. É necessário dar mais importância às pessoas.»Segundo este candidato, «a mercantili-zação da Saúde conduz a circunstâncias desas-trosas para a condição humana.» E utilizou uma analogia como exemplo disso mesmo: «as mer-cadorias circulam com mais facilidade na Euro-pa, do que as pessoas. Os países ricos exportam mercadorias e capitais, os países pobres exportam pessoas. Devemo-nos empenhar numa Europa das pessoas, em detrimento de uma Europa de mercadorias e de capitalismo.»Por fim, o candidato pelo Partido Socialista, o Enf. Miguel Rasquinho, defendeu que os pro-fissionais de Enfermagem têm um grande co-nhecimento da população e que o seu papel é preponderante nas Unidades de Saúde da Euro-pa. Afirma ser necessário «resolver primeiro os problemas em Portugal e apostar numa demo-cracia participativa, onde as escolas têm um pa-pel fundamental.» Referiu ainda haver um gran-de distanciamento dos deputados europeus dos cidadãos, que deve ser resolvido o quanto antes.A moderação do debate esteve a cargo da Enf.ª Isabel Oliveira, Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Centro da Or-dem dos Enfermeiros.

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EVENTOS

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Sobretudo, temos por resolver o problema gravíssimo do desempre-go, que atingiu níveis social e economicamente incomportáveis. É certo que a economia começou a dar sinais de recuperação ao longo de 2013, sendo já visíveis os reflexos desta evolução no mer-

cado de trabalho.Em muitas áreas foram levadas a cabo, ou pelo menos iniciadas, reformas estruturais importantes, que melhoraram o enquadramento da atividade empresarial. Estaremos já a recolher os frutos deste esforço, nomeadamente ao nível da resposta rápida do mercado de trabalho aos primeiros sinais de recuperação. O objetivo imediato do Programa de Ajustamento – o re-gresso aos mercados – está agora ao nosso alcance, com as taxas de juro da dívida soberana de regresso a níveis anteriores à crise.No entanto, o cenário com que nos confrontamos é significativamente mais desfavorável do que do que o aquele que o Programa de Ajustamento original projetava. Temos hoje uma dívida pública significativamente mais elevada, o que representa um fardo pesado, que prejudica o nosso desen-volvimento futuro. Além disso, suportámos aumentos da tributação muito superiores aos compromissos iniciais, aumentos esses que nos deixam hoje um forte constrangimento à competitividade das empresas e uma procura interna profundamente deprimida.O sistema financeiro foi estabilizado, apresentando níveis mais saudáveis de alavancagem e de solvabilidade. Contudo, o financiamento da economia foi fortemente comprometido. A sua escassez e o seu custo contribuíram para o desaparecimento de muitas empresas e são um freio à recuperação da economia sustentada no investimento.Apesar das dificuldades que esse cenário implica, acredito que é possível iniciar um novo ciclo de desenvolvimento equilibrado, de um tipo muito

PRomoVeRum compromisso nacional

diferente do crescimento registado em grande parte da década de noventa e no início deste século. É nas empresas – PME’s e grandes empresas, de todos os setores – que reside o potencial de recuperação da economia por-tuguesa para relançar Portugal nesse ciclo de desenvolvimento.É, por isso, fundamental recentrar o sucesso da economia nos seus prota-gonistas: as empresas. As empresas terão de aumentar a sua produtividade, o que exige investimento e uma forte aposta na afirmação de marcas, na inovação, na organização e na capacidade de gestão. Este esforço cabe, em primeiro lugar, às próprias empresas, mas só poderá concretizar-se plena-mente se for criado um ambiente propício à atividade empresarial.De facto, persistem diversos fatores que estão a travar a retoma do cres-cimento económico em Portugal. Fatores a que só as políticas públicas podem responder. Tenho defendido que é preciso que o rumo traçado na condução dessas políticas seja previsível e concretizado num compromis-so nacional. Esse rumo pressupõe uma estratégia de crescimento equilibra-do, assente na competitividade internacional da economia e no estímulo ao investimento empresarial e à criação de emprego. Uma estratégia que deverá contemplar um foco particular na necessidade de recapitalização das empresas, na contenção dos custos energéticos e na redução dos custos de contexto, nomeadamente do domínio da justiça e do licenciamento.No domínio da sustentabilidade das finanças públicas, o caminho passa por uma verdadeira Reforma do Estado, sem a qual não será possível passar de uma lógica de cortes transversais e potencialmente reversíveis a uma lógica de redução estrutural da despesa corrente primária, de modo a possibilitar a redução da carga fiscal e políticas que favoreçam o inves-timento. É este o caminho pelo qual somos todos, políticos, empresários, trabalhadores, responsáveis.

PORTUGAL E O FUTURO

O processo de ajustamento por que estamos ainda a passar corrigiu desequilíbrios graves que quase nos conduziram a um ponto de rutura. Contudo, deixou-nos um país que, em termos de produção, retrocedeu mais de uma década e em termos de

investimento está ao nível do final dos anos 80 do século passado.

A OPINIÃO DE António Saraiva, Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal

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especial iv aniversário

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Vidas com sentido. É este o lema que a Fundação Romão de Sousa abraça diariamente. A saúde mental ainda é um estigma na sociedade portu-guesa? De que forma têm contribuído para derru-bar barreiras que persistem?Na sociedade portuguesa e não só. É um proble-ma global. Vivemos num mundo de inúmeros estímulos e muitas pressões. Não estar apto, in-formado ou ‘na norma’ autoexclui o indivíduo. É natural, mas não necessariamente saudável, que a pessoa que sofre se queira ‘esconder’, e que a pró-pria sociedade não tenha interesse em ‘descobrir’. Poderíamos dizer que o estigma é co-criado.A perturbação mental, para além de muitas outras coisas, é também uma ‘mensagem’. Uma mensa-gem de que algo não está bem no mundo (interno e externo) do indivíduo. É uma forma criativa de ser ‘visto’ numa sociedade e, por vezes, numa fa-mília que, de forma mais ou menos explícita, não soube acolher a sua individualidade. Isto não sig-nifica que andemos à procura de culpados. Acima de tudo, queremos ajudar as pessoas a perceber o papel que têm na construção do problema (e a invertê-lo quando possível). É responsabilidade de todos. É com este tipo de ação educativa e res-ponsabilizante que a Fundação Romão de Sousa pensa contribuir. É preciso ouvir, estar curioso e aberto à diferença para conseguir ajudar.

O consumo do número de antidepressivos, a evo-lução dos suicídios ou o consumo de substâncias psicoativas colocam Portugal entre os países europeus que registam a maior taxa de doenças mentais. O que se está a passar?O consumo de substâncias e, no limite, o suicídio, adormece a consciência de um mundo (intrapsí-quico e interpessoal) que é, ou se tornou, intole-rável. É intoleravel não sermos reconhecidos pelo Outro, ouvidos ou ajudados a crescer. Seja esse Outro um familiar, um professor ou, num sentido mais geral, o governo de um país.Mas estes são, de facto, os dados apresentados pelo Estudo Epidemiológico Nacional de Saú-de Mental. É um problema multi-fatorial. Para além do contexto histórico-cultural Português e da atual conjuntura politico-financeira existem outras questões de fundo que poderíamos cha-mar de ‘micro-fatores’ do quotidiano e da relação. A falta de disponibilidade psicológica, o ato de prescrever para abafar sintomas sem perceber a ‘mensagem’, ou a própria ‘colusão’ de alguns agentes sociais ao procurar ‘restringir’ ou ‘inter-ditar’ a pessoa dos seus direitos fundamentais, contribuem para a perpetuação do problema. Isto se acreditarmos que a separação-individua-ção é um fator protetor da saúde mental. Aliás, tanto a Lei Portuguesa de Saúde Mental como

o Parecer do Comité Económico e Social Eu-ropeu sobre o Ano Europeu de Saúde Mental mencionam que se deve reforçar a autonomia das pessoas com problemas de saúde mental através de direitos legais e de abordagens que não substi-tuam as decisões próprias. É urgente inverter esta tendência.

Durante dez anos no Reino Unido a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde Britânico (NHS), João G. Pereira, Doutorado em Psicoterapia pela Universidade de Middlesex, trabalhou tmbém em escolas com o objetivo de educar e sensibilizar para os sintomas

da doença mental e os efeitos dos estupefacientes. Hoje, enquanto Diretor Clínico da Casa de Alba, uma comunidade terapêutica direcionada para adultos com perturbações mentais graves, a base está na “construção de relações seguras e de confiança, mas com

limites e fronteiras bem estabelecidas, onde se estimula muito a individualidade”, afirmou em conversa com a Revista Pontos de Vista.

“é PReCIso oUVIR, esTaR CURIosoe aberto à diferença para conseguir ajudar”

Em Portugal, com a informação a um passo de distância, ainda existem barreiras que impedem as pessoas de receber o tratamento de que neces-sitam? A informação existe mas nem sempre é de qua-lidade. O que necessitamos é de serviços huma-nizados e programas profissionais continuados no tempo. É necessário investir na prevenção primária.

Todos os dias ouvimos falar num aumento de difi-culdades para todos os portugueses, que trazem naturalmente mais preocupações. Acredita que deverá haver uma maior educação e sensibiliza-ção para a saúde mental?No início do meu percurso de dez anos pelo Rei-no Unido trabalhei em escolas a educar/sensibi-lizar para os sintomas da doença mental e os efei-tos de estupefacientes. Não creio que tenha tido qualquer resultado. Aliás, os estudos demonstram que este tipo de ações não é eficaz. Nestas sessões falava-se essencialmente de sintomas e de doen-ças, como se fossem questões exclusivamente do domínio biológico, o que a meu ver aumenta o estigma (ao assinalar a diferença) e desresponsa-biliza o Outro. Hoje sabemos que a grande maio-ria dos problemas mentais são relacionais e, como tal, causados ou potenciados ‘em relação’.Em vez de ‘debitar’ informação, parece-me mais importante investir em programas que ajudem as pessoas a relacionar-se de forma saudável e se-gura desde muito cedo. Programas de prevenção primária a longo prazo e com consistência (que não terminem com a mudança de governos), contratação de psicólogos e outros profissionais para os infantários, escolas primárias e centros de saúde e, de forma mais geral, mudança das men-

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João G. Pereira

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talidades através de bons exemplos. A consistên-cia e a previsibilidade geram segurança.

Para alcançar os resultados a que se propõem, qual tem sido a importância de um trabalho de cooperação com outras organizações nacionais e internacionais? De que forma é que esta parti-lha de conhecimento tem sido essencial para o desenvolvimento de novas terapias e diferentes modelos de atuação?Criámos recentemente uma Comissão Consultiva com especialistas internacionais de Portugal, Es-panha e Reino Unido que nos ajudam a ‘pensar’ e a melhorar os nossos programas. Para além disso, participamos em diversos Congressos e Reuniões Científicas e contribuímos com frequência para pu-blicações na área da Saúde Mental. A comunicação é essencial para a construção dos nossos modelos e gostamos de falar com toda a gente independen-temente da abordagem ou ‘disciplina’. Não perten-cemos, nem queremos pertencer, a nenhum clube.

A Fundação Romão de Sousa criou na sua sede, Casa de Alba, uma comunidade terapêutica dire-cionada para adultos com perturbações mentais graves. A partir do momento em que se entra nes-tas instalações, o que se pode esperar?Interesse, dedicação e curiosidade. A nossa base é a construção de relações seguras e de confiança, mas com limites e fronteiras bem estabelecidas, onde se estimula muito a individualidade. Apos-tamos fortemente na formação e na supervisão. Muitos dos nossos profissionais estudaram mais de 10-12 anos a nível universitário e fizeram um longo percurso pessoal para poderem ser sensíveis aos múltiplos ‘micro-aspectos’ das relações.

A partir desta base surgem as intervenções. Te-mos psicoterapia individual e de grupo com psi-coterapeutas acreditados, consulta de psiquiatria, enfermagem, trabalho social e ocupacional, bem como um leque variado de terapias expressivas, desporto, equitação, projetos de agricultura na nossa propriedade, entre outros... O projeto é re-sidencial e temos apoio 24 horas por dia.

Tendo em conta os desafios que continuam a sur-gir, qual continuará a ser a linha de atuação da Fundação Romão de Sousa no sentido de conti-nuar a ser uma “aliada” das pessoas que sofrem perturbações mentais graves?Para além do nosso compromisso em estabele-cer uma relação segura e de qualidade com os nossos residentes (sem dúvida o maior dos desa-fios) sentimo-nos na obrigação de avaliar o que fazemos para podermos melhorar. Trabalhamos com várias universidades nacionais e estrangeiras nesse sentido. O Departamento de Psicologia da Universidade de Évora tem sido o nosso maior aliado, o que é ótimo pois estamos muito próxi-mos geograficamente.

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especial iv aniversário

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LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

Na psicoterapia existencial o centro é sempre o individuo ao invés da perturbação mental. De que forma a relação interpessoal e o autoconhe-cimento são aspetos fundamentais à recuperação dos doentes que sofrem destas patologias? A relação interpessoal criada no processo tera-pêutico é fundamental para que as pessoas que realizem uma psicoterapia existencial possam, em primeiro lugar, encontrar um espaço de segurança e de confiança. Este é um primeiro aspeto decisivo. Não estando baseada ou focada numa postura téc-nica, a psicoterapia existencial desde a sua origem que privilegiou a dimensão humana da relação te-rapêutica. Isto não significa que os psicoterapeutas existenciais, com formação profissional nesta área, não tenham um saber-fazer específico que inclui o uso de técnicas de intervenção. Contudo, poderí-amos dizer que esse saber-fazer do psicoterapeuta existencial está assente num conjunto de compe-tências relacionais. Assim, o estabelecimento de uma relação interpessoal privilegiada, introduz esse fator tão importante – o fator humano – que irá propiciar as condições essenciais para que as pessoas possam realizar o seu processo terapêutico, no qual o próprio sujeito, será verdadeiramente um sujeito ativo na sua mudança e na sua transforma-ção pessoal. Sabemos que em psicoterapia é muito importante que as pessoas possam aumentar um autoconhecimento e desenvolver a sua capacidade de refletir sobre a sua vida, sobre a sua existên-cia. No entanto, esse processo não é meramente reflexivo ou de autoconhecimento. Terá necessa-riamente de incluir a Pessoa como um todo, ou seja, considerar também as dimensões emocionais e afectivas.

Uma vez que a psicoterapia existencial não é con-ceptualizada como um tratamento ou uma tera-pêutica de perturbação mental, nem se focaliza necessariamente no alívio de sintomas, mas é aci-ma de tudo um processo de confronto com as po-tencialidades e de mudança pessoal, quem é que pode beneficiar mais desta área da psicologia? Em primeiro lugar é preciso considerar o pedido da pessoa que procura uma psicoterapia existen-cial. Esse é o ponto de partida. O que levou a pessoa a procurar apoio psicológico. Quais são as suas necessidades, o que gostaria de encontrar ou de resolver na psicoterapia? Quais são as suas

expectativas? Nós partimos sempre da pessoa e não do modelo teórico que nos orienta. Essa é aliás uma das características chave da psicotera-pia existencial: através do método fenomenoló-gico, o primeiro passo do processo será sempre o de tentar compreender como é a pessoa que nos procurou, aceitá-la tal como se apresenta. Assim, não é a pessoa que tem de se moldar ao nosso modelo teórico, será o psicoterapeuta e o seu mo-delo teórico que irá adaptar-se à pessoa e ao seu pedido. Esta postura terapêutica permite que o psicoterapeuta reúna um conjunto de competên-cias e aptidões para lidar com um vasto conjunto de problemáticas que as pessoas possam trazer para a psicoterapia. Por outro lado, não obstante a não focalização no sintoma, não significa que o psicoterapeuta existencial não tenha os meios de cariz psicológico para ajudar as pessoas a trans-formarem momentos de maior dificuldade, quer sejam a nível cognitivo, quer seja a nível emo-cional. Pode-se assim adaptar a intervenção te-rapêutica a um nível mais de apoio psicológico para pessoas que se encontrem em momentos de maior fragilidade, ou promover um processo te-rapêutico, digamos, de maior profundidade, para pessoas que pretendam outro tipo de transfor-mação pessoal. Como referiu, a psicoterapia exis-tencial não se focaliza numa visão médica ou no alívio do sintoma, contudo, o que observamos é que a elaboração e a compreensão do significados inerentes a esse sofrimento ou a essas experiên-cias de vida, possibilitam não apenas o seu alívio como também uma transformação e adaptação da pessoa a si mesma e às suas condições de vida. A psicoterapia existencial já está suficientemente

Fundada em 2006, a Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Existencial (SPPE) tem como objetivo promover a formação científica e o exercício profissional da Psicoterapia Existencial. Esta destina-se essencialmente àqueles que se confrontam com crises pessoais (de que são exemplo o luto, o divórcio ou problemas profissionais), dilemas ou contradições pessoais e que pretendem lidar com

esses problemas, conhecer e compreender-se melhor, relacionar o seu mal-estar e sofrimento com os acontecimentos da sua vida, estabelecer relações mais genuínas consigo próprio e com os outros e agir de forma mais livre e determinada. Saiba mais através

desta entrevista a Daniel Sousa, Psicólogo Clínico e Presidente de SPPE.

“PaRTImos semPRe da Pessoa”

divulgada no nosso país? Em Portugal, com a in-formação a um passo de distância, ainda existem barreiras que impedem as pessoas de receber o tratamento de que necessitam? Para além de desconhecimento, haverá ainda algum ceticismo face a disciplinas como a psicoterapia?

A psicoterapia existencial tem sido mais divul-gada no nosso país, sobretudo depois de 2006, quando foi criada a SPPE – Sociedade Portu-guesa de Psicoterapia Existencial (ww.sppe.pt). A Sociedade trouxe uma alteração significativa no contexto português porque tem permitido a formação especializada, de psicólogos e médicos em psicoterapia existencial, uma formação que segue as normas e regras da EAP – European Association of Psychotherapy. Precisamos de divulgar ainda mais a psicoterapia existencial e os benefícios a esta associada. Por vezes as pes-soas ainda desconhecem que as intervenções psicológicas e a psicoterapia têm sido objeto de investigação científica sistemática ao longos das últimas décadas, e que essa mesma investigação tem repetidamente comprovado os benefícios da intervenção psicológica. Porventura existe ainda esse desconhecimento, e um certo constrangi-mento na procura de apoio psicológico. Embora, sobretudo nos grandes centros as pessoas este-jam hoje mais disponíveis e sensíveis para soli-citar apoio psicológico, um conjunto de crenças ainda associadas ao mundo da saúde mental, não contribui para que as pessoas sintam o à von-tade e a confiança para pedirem esse apoio. Por exemplo a crença que se não nos sentimos bem do ponto de vista psicológico é porque algo de errado há em nós, a crença que algumas atitu-des e comportamentos não têm explicação, ou a crença de que solicitar apoio psicológico pode ser sinónimo de doença, neste caso, mental. E de facto não é assim. É importante que haja uma mudança de perspetiva. O nosso eventual mal estar psicológico pode acontecer em determina-dos momentos da vida, muitas vezes, mantemos esse mal estar guardado dentro de nós por muito tempo. Um primeiro passo importante é poder-mos nomear as nossas preocupações, as nossas aflições. Depois, podemos então compreender porque razões é que surgiram e o que está na ori-gem dessas preocupações.

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2014 ANO EUROPEU DA SAúDE MENTALE DO CÉREBRO

Daniel Sousa

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A crescer a um ritmo duas vezes mais rápido que a Europa Ocidental, a Polónia é, hoje, a 21ª maior economia mundial e a nona maior da Europa. A sua localização geográfica, bem no centro da Eu-ropa, abre portas a uma série de possibilidades para as relações comerciais. Tudo isto com uma das populações mais jovens da Europa. São ne-cessárias mais razões para investir na Polónia?Existem inúmeras razões para investir na Po-lónia. Principalmente, a base sólida de desen-volvimento da economia polaca, cuja estrutura foi profundamente alterada no começo dos anos 90. O capital estrangeiro, que investiu até agora 170 mil milhões de euros, desempenhou e continua de desempenhar um papel impor-tantíssimo neste processo. O acesso aos recursos financeiros da UE será um outro pilar para o de-senvolvimento da Polónia. Esses recursos para anos 2014 – 2020 serão quase de 83 mil milhões de euros. Uma grande parte destes será investida no desenvolvimento da infraestrutura, energéti-ca, proteção do ambiente e outros setores. Isso deveria principalmente chamar a atenção das empresas portuguesas, que adquiriram muita experiência neste âmbito.

Acredita que Portugal e a Polónia estão a atraves-sar um período próspero em termos relacionais? De que forma a Polónia, uma das poucas econo-mias dinâmicas da União Europeia, pode ajudar Portugal a ultrapassar este período conturbado?Estamos a observar um aumento considerável da riqueza da sociedade polaca, enquanto a economia do país está a modernizar-se rapida-mente. Esse clima económico fomenta possibi-lidades de vender os produtos portugueses no mercado polaco. Estamos a falar sobre o país que em 2013 importou bens num valor de 155 mil milhões de euros.

O que é que os portugueses não sabem sobre a Polónia? Qual tem sido o papel da Embaixada neste trabalho de promoção das potencialidades do mercado polaco?Creio que os portugueses continuam a saber cada vez mais sobre a Polónia e não há dúvida

que, além do trabalho realizado pela Embaixada, são os bons exemplos de investimentos de com-panhias portuguesas, como a Jerónimo Martins e outras, que permitiam mudar a perceção da Polónia, como um país moderno, que cria inú-meras oportunidades de negócio. A Embaixada por seu lado, está empenhada em criar uma boa imagem da Polónia através de seminários, artigos na imprensa portuguesa e participação nas feiras, tanto em Portugal continental como nas regiões autónomas.

Em 2013 o volume de negócios do comércio en-tre a Polónia e Portugal atingiu os 931 milhões de euros, o que representa 6% a mais que em 2012. Estes números continuarão a crescer?Os dados de Fevereiro de 2014 sobre o inter-câmbio comercial apontam para um crescimento

A Polónia é o quinto destino mundial dos investimentos portugueses, é a 21ª maior economia mundial e ocupa a nona posição a nível europeu. Existe, de facto, um sem número de razões para investir neste país localizado bem no centro da Europa e os

portugueses têm sabido aproveitar essas oportunidades. A Revista Pontos de Vista esteve à conversa com o 1º Conselheiro, Bogdan Zagrobelny, Chefe do Departamento de Promoção do Comércio e do Investimento da Embaixada da Polónia em Lisboa.

PoRTUgaL e PoLÓnIa,uma relação ambiciosa

superior a 20%, tanto para as exportações portu-guesas como polacas. Isso mostra que ambos os países são atrativos como parceiros de negócios, com uma tendência crescente de intercâmbio co-mercial e investimento.

Cada vez mais, para um empresário, a interna-cionalização é o caminho a seguir. Qual o papel da Embaixada da Polónia no decorrer deste pro-cesso?Este papel é fundamental. Nós oferecemos in-formações sobre como investir na Polónia e aju-damos identificar os potenciais parceiros de ne-gócios. Para as empresas interessadas em investir na Polónia nós podemos, em acordo com nossa Agência de Investimentos (PAIIZ), organizar vi-sitas a Polónia para preparar o investimento, sua localização e acertar o sistema de incentivos. Neste processo de internacionalização, que bar-reiras devem ser ultrapassadas no sentido de captar a atenção de potenciais investidores por-tugueses na Polónia e vice-versa? Não existem nenhumas barreiras, especialmen-te em relação à lei o que se reflete também no facto que a Polónia é o quinto destino mundial dos investimentos portugueses. Na minha opi-nião, o que é mais importante para conseguir o sucesso no mercado polaco, é conhecer bem a sua especificidade, bem como o perfil do consumi-dor polaco. Não se deve “copiar” modelo comer-cial que foi talvez certo para Portugal, mas não necessariamente na Polónia. Para encorajar os investidores portugueses, gostaria de sublinhar que nessa região da Europa, não há nenhum ou-tro país com um mercado tão grande (40 milhões de consumidores), que é politicamente estável e oferece atrativo sistema de incentivos para in-vestimentos.

Para concluir, que desafios se colocam, no futuro, ao relacionamento entre estes dois países?Não vejo nenhuns desafios significativos, mas vejo muitas oportunidades. O papel crescente da economia polaca na UE criam sobretudo novas e interessantes possibilidades para desenvolver a nossa cooperação.

RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL/POLóNIA

Bogdan Zagrobelny

especial iv aniversário

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Portugal atravessa uma crise económica sobe-jamente reconhecida por todos. De que forma é que este cenário de dificuldade tem manietado as relações bilaterais entre os dois países? O que pode a CCISP feito no sentido de ultrapassar este obstáculo? Lá fora, a crise teve sobretudo um impacto a nível da imagem do país. Penso que o problema prin-cipal continua a ser esse: a falta de branding de Portugal ou então a falta de uma imagem positiva e atual. É natural que só se invista em algo que se conhece e em que se confia. Mas esta confiança tem que ser ativamente conquistada. Felizmente de há um ano para cá, a imagem e a perceção geral de um suíço sobre Portugal tem vindo a melhorar. Os maiores vencedores são as cidades de Lisboa e Porto. Começam ser consi-deradas trendy, são cidades em movimento, há espaço para ideias, são inspiradoras. Há 15, isso valia para Barcelona. Toda a gente tinha que lá ir. Agora são as duas cidades portuguesas. Mas há ainda muito trabalho a fazer. A CCISP já organizou perto de Zurique um jantar de gala com cavalos lusitanos (veja: www.lusitano-gala-dinner.com). Temos consciência que cada uma destas iniciativas é apenas uma gota, mas para mudar é preciso começar nalgum lado e executar as ideias, e é isso que fizemos por iniciativa pró-pria, porque muitas gotas também foram um rio que pode ter o seu impacto. Porém, a CCISP não pode estar sozinha a assu-mir esta tarefa. É preciso de ações de branding concertadas com entidades públicas e privadas portuguesas. Como plataforma de negócio, fa-zemos esse esforço, mas tanto com os primeiros como com os segundos já fizemos experiências que mostram que ainda falta este espírito de fa-zer as coisas em conjunto. Uma vez um produtor de vinho de uma herdade bastante conhecida disse-me, depois de eu ter apresentado o conceito para um evento na Suíça para qual cada um po-dia contribuir com uma parte e assim ficaria mais barato para todos, que com certeza não partici-pava com dinheiro porque “produzo vinho e não imprimo dinheiro”. Estes exemplos mostram que em Portugal, ao contrário de outros países como a Espanha ou a Itália, o espírito de fazer as coisas em comum ainda não está muito desenvolvido. Mas malgrado estas adversidades continuaremos o nosso trabalho. Neste sentido estamos a sondar a organização de uma feira imobiliária durante o 2015 em Lausanne.

Há uma forte imigração na Suíça, onde cerca de 160 mil trabalhadores são de origem portuguesa. Esta relação que os portugueses possuem com a Suíça funciona também como elemento agrega-dor entre ambos os países? De facto, na minha opinião pessoal, o fenómeno da imigração e o seu impacto na economia da Su-

íça ainda está a ser subvalorizado pelas instituições políticas, sobretudo pelas instituições da Suíça. Na verdade, fala-se de cerca de 250.000 portugueses registados na Suíça, e o número total, incluindo os não-registados, aponta para cerca de 300.000 por-tugueses. Estes números fazem dos portugueses (depois dos italianos e alemães) o terceiro grupo de estrangeiros na Suíça, muito antes dos espa-nhóis. Porém, embora estes números sejam claros, nos anos passados tem havido poucas iniciativas governamentais entre os dois países. Do ponto de vista suíço, o foco tem ido para os países vizinhos e aos países emergentes como os países asiáticos. O governo português tem-se virado nos últimos anos mais para os PALOP. As razões para estas escolhas são compreensíveis, porém não se deve esquecer os factos acima expostos. Recentemente houve uma iniciativa da parte do Governo português para organizar um encontro governamental, o que considero muito positivo. O grande grupo de portugueses na Suíça terá com certeza uma importância crescente nas rela-ções entre os dois países. Muitos portugueses da primeira geração da imigração começaram com trabalhos simples. Hoje, estas mesmas pessoas, ou os filhos delas, são empresários, gestores, funcionários, empregados bem qualificados da economia suíça. Há cada vez mais casos em que uma empresa suíça, fundada por um imigrante português, constitui uma filial em Portugal. Por isso, há que dar a devida atenção a esta realidade, e penso que irá haver um impacto forte e positi-vo na relação entre os dois países.

De que forma é possível continuar a potenciar o conhecimento das oportunidades existentes nos dois mercados, facilitar a realização de negócios e as relações comerciais entre os mercados portu-guês e suíço? Em que áreas é possível continuar a apostar em prol de ambos os países? O desenvolvimento de informações sobre os mercados, bem como uma grande rede de con-tactos pessoais e com empresas é um trabalho contínuo que a CCISP tem vindo a fazer. Mas as empresas também devem fazer a sua parte. Como o número de pedidos à nossa Câmara

Torna-se importante investir no futuro especialmente em momentos difíceis, como a atual crise que os dois países atravessam. Portugal e Suíça assumem-se como dois parceiros por excelência, ao ponto de, por exemplo, a Suíça ocupar a 8ª posição dos

países que exportam para Portugal. Mas é possível continuar a melhorar esta aproximação de ambos? A Revista Pontos de Vista conversou Gregor Zemp, Secretário-Geral da Câmara de Comércio e Indústria Suíça em Portugal – CCISP, onde ficamos a conhecer as potencialidades desta ligação, bem como as medidas de apoio existentes para empresas que vêm na Suíça e em Portugal um destino

importante na melhoria da sua competividade.

PoRTUgaL/ sUÍça – relações que crescem

tem vindo a crescer nos últimos anos, temos que ser cada vez mais criteriosos, ou seja, temos que aplicar os nossos recursos sobretudo para os pro-jetos com maior preparação e probabilidade de sucesso. Isso significa também que deixamos de tratar de e-mails onde as pessoas e as empresas não estão devidamente identificadas. Por outro lado, não podemos limitar as áreas da nossa atuação. Já não há só negócios nos clusters tradicionais de Portugal. Qualquer área que pode levar à realização de um negócio entre empresas dos dois países deve ser explorada. Neste sentido foi por exemplo interessante de constatar, desde há dois anos para cá, um interesse crescente na área de empresas de informática da suíça que procuram programadores em Portugal.

A Suíça ocupa a 8º posição no painel dos países que exportam para Portugal. É possível melhorar este ranking? Como? Hoje em dia são os produtos farmacêuticos que perfazem praticamente a metade da mercadoria suíça importada em Portugal. Mas ao contrário do que muitas pessoas pensam, a economia suíça não é constituída só por bancos e empresas farmacêu-ticas. Três quartos da economia suíça continua a ser empresas industriais, que produzem produtos tais como metalomecânica de alta precisão (incl. relógios), equipamentos de técnica e tecnologia médica, máquinas e robótica para a indústria, etc. Como se sabe, os produtos suíços são de qualidade, mas normalmente têm um preço superior a outros que se encontram no mercado. Por conseguinte, os produtos suíços serão sempre interessantes para entidades que apostam na qualidade e não apenas no preço, o que no passado, sobretudo em tempos de escassez de liquidez, não foi a aposta de muitas empresas portuguesas. Mas a comparação meramente do preço está mal feita: Infelizmente muitas vezes empresas que planeiam uma aquisição só comparam o preço da compra do equipamento. Trata-se de uma forma de pensar a muito curto prazo, porque a verda-deira comparação devia ser feita com um cálculo dos custos ao longo de 5 anos de utilização. O que custam os consumíveis? As reparações? As peças de substituição? O custo de ter a máquina para-da por causa de uma reparação? As empresas que fazem este tipo de cálculo a longo prazo são – à partida – aquelas que têm mais interesse em pro-dutos de empresas suíças. Tudo isso é uma ques-tão de mentalidade. Seja como for, uma vez que julgo que o único caminho para Portugal é o de apostar numa produção de qualidade, com pro-dutos de nicho em pequenas séries (o que a Ásia não consegue fazer), as condições serão favoráveis para que haja cada vez mais procura por empresas portuguesas para produtos da Suíça.

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RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL/SUíÇA

LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

Gregor Zemp

Page 67: Revista Pontos de Vista Edição 35

Num contexto de instabilidade dos mercados fi-nanceiros, a Zurich volta a demonstrar a sua ca-pacidade financeira, atribuindo no último ano ta-xas de rentabilidade acima das taxas garantidas. Quais as razões que permitem estes resultados positivos num contexto adverso?Ano após ano, mesmo em contextos de instabili-dade dos mercados financeiros, a Zurich tem dado excelentes taxas de rentabilidade, posicionando--se entre as melhores do mercado. Tal resulta de uma gestão sólida dos nossos ativos e de uma forte política de rigor. Este nosso desempenho é uma importante garantia para os nossos clientes. Os resultados refletem o nosso compromisso em potenciar as suas opções financeiras para que, no futuro, possam concretizar sonhos ou usufruir da estabilidade financeira que sempre desejaram.

A Zurich realizou um estudo que pretendia perce-ber como os portugueses estão a lidar com a crise económica e como isso se reflete no setor segura-dor. Quais as principais conclusões que se podem tirar do mesmo? O estudo conclui que a maioria dos portugueses (80%) considera importante poupar para a reforma, mas 36% confessa não ter orçamento familiar que lhe permita fazê-lo. Outra conclusão é que os segu-ros estão no top 4 dos aspetos que os portugueses consideram mais importantes - os seguros surgem paralelamente às despesas com educação, renda da casa e alimentação. O setor segurador, tal como to-dos os outros, não está imune à crise e existe uma redução na matéria segurável (menos venda de au-tomóveis, aumento do desemprego e menos inves-timento das empresas, por exemplo). Por outro lado, estas dificuldades deixam os portugueses alerta para a importância de fazerem as suas poupanças. Na Zurich, iremos continuar a criar as melhores solu-ções para fazer face às necessidades dos Clientes.

A Zurich procurou antever o futuro ao ser o pri-meiro segurador a criar programas de segurança global. De que forma continua a trazer inovação às suas soluções? A inovação é um elemento de diferenciação essen-cial para o sucesso das empresas. Na Zurich, todos os anos temos lançado novas soluções de proteção. Por exemplo, o ano passado lançámos uma nova solução “all risks” dirigida a hotéis introduzindo um

novo conceito de seguro, em que apenas não se ga-rantem os riscos que se encontrem expressamente excluídos do contrato. Também em 2013, lançámos uma nova solução dirigida às famílias, designada por Zurich Lar Seguro, compreendendo mais de 40 riscos. Tudo isto como consequência de uma forma de estar e trabalhar assente na inovação.

Até 26 de maio quem contratar uma nova apólice se seguro lar ou automóvel habilita-se a ganhar um automóvel Smart Fortwo. Como tem sido a adesão a esta campanha?Contribuindo para o aumento da notoriedade da marca Zurich, podemos afirmar que os resultados têm sido bastante positivos, o que nos tem levado a desenvolver novas dinâmicas e a aposta em novos formatos, como a ação na página de Facebook da imobiliária portuguesa HomeLovers, na qual se alerta as pessoas que procuram casa para os riscos que a solução Zurich Lar Seguro pode garantir. Esta última tem sido alvo de várias críticas positi-vas, mesmo a nível internacional, pela sua inovação e disrupção.

A Zurich irá lançar no-vas soluções em breve?Temos previsto um conjunto de iniciativas que incidem na criação e reformulação de solu-ções para particulares e empresas, neste segundo caso em setores que se encontram em desen-volvimento, como o tu-rismo, agricultura, ser-viços de saúde, indústria alimentar e do calçado. Concretamente, destaco a nova solução designa-da por Adegas & Laga-res, vocacionada para as empresas da indústria do vinho e do azeite.

Como perspetiva a evolução do setor se-gurador nos próximos anos? Já se sentem os sinais de retoma?Como em qualquer ou-tra atividade económica, se assistirmos a uma evolução favorável da economia o setor segu-rador será impactado de uma forma igualmen-te positiva. Por outro lado, se a austeridade se prolongar, manter-se-á uma retração do con-sumo. O ano de 2014 e

Mais do que uma marca, a Zurich é hoje a garantia de qualidade e credibilidade no âmbito do seu setor de atuação. Este patamar foi alcançado através de padrões de exigência e excelência em prol do cliente. A Revista Pontos de Vista conversou com António

Bico, Ceo da Zurich Portugal, onde ficamos a conhecer um pouco mais de uma marca de renome, bem como a posiçao da marca no domínio das relações entre Portugal e Suíça, até porque o Grupo Zurich está sedeado em Zurique.

ZURICH – uma marca diferenciadora

seguintes, a confirmar-se a tendência económica, já serão menos negativos e os indicadores do primeiro trimestre indicam isso mesmo. Do nosso lado, tra-balhamos para a Zurich estar preparada para os no-vos desafios que se colocam, continuando a orientar a nossa oferta no sentido de adaptar as soluções às novas condições financeiras dos portugueses, dispo-nibilizando mais opções para os clientes de forma a corresponder às suas expectativas, assegurando o serviço e assistência de qualidade.

O Grupo Zurich está sedeado em Zurique. Que con-sequências lhe parece que o referendo suíço em favor da introdução de restrições à livre circulação de cidadãos na UE poderá refletir-se em Portugal, um país com tradição de emigração para a Suíça?A Confederação Helvética não é membro da UE mas beneficia de um acesso alargado ao merca-do interno comunitário, incluindo a liberdade de circulação de cidadãos, mercadorias, capitais e serviços, pelo que será necessário examinar as implicações de tal introdução.

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RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL/SUíÇA

António Bico

especial iv aniversário

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Sendo uma marca de cariz global, uma das principais características da Hilti assenta na sua capacidade em promover a credi-bilidade em prol da satisfação dos seus

clientes/parceiros, talvez o principal desiderato desta marca, que atua na área da construção civil, um setor que foi dos mais afetados com a recente crise económica e financeira que assolou todos os mercados a nível planetário, corria o ano de 2008.A Revista Pontos de Vista quis saber mais e conversou com Antonio Raab, Diretor-Geral da Hilti Portugal, que está à frente dos destinos da marca desde 2002, estando no seio da empresa há mais de três décadas, mais concretamente há 32 anos. Ao longo desta conversa percebemos os efeitos que a crise teve na dinâmica da marca, as formas encontradas para contornar essas vicissi-

tudes, sem esquecer que uma marca como a Hilti assume um padrão essencial também na comu-nidade, através da responsabilidade social e civil. Fazendo uma retrospetiva, a crise da construção civil em Portugal iniciou-se em 2002, perturba-ção que não afetou a orgânica e produtividade da Hilti, que manteve níveis de rentabilidade bastante elevados, estando inclusive presente em eventos de enorme relevância a nível nacional e mundial, como o Campeonato da Europa de Fu-tebol em 2004, realizado em Portugal. “Estive-mos presentes em todos os estádios construídos nesse período, e mesmo com as dificuldades do setor conseguimos ter sempre resultados positi-vos ao nível de vendas e de crescimento de recur-sos humanos”, assume, lembrando que em, 2009, a Hilti Portugal possuía 180 colaboradores.

Há marcas e marcas. Umas que são conhecidas, outras que são sobejamente reconhecidas pela sua qualidade e acima de tudo pela credibilidade que aportam no mercado em que atuam e não só. Algumas fazem a diferença, outras são a diferença. A Hilti é um

desses casos, ou seja, consegue fomentar um nível de mais-valia e reconhecimento que lhe concede uma presença relevante nos mercados onde está presente, neste caso, em mais de 120 países, perpetuando portanto a distinção, qualidade e excelência.

mUITo maIs qUe Uma maRCa…um parceiro

O pior para a construção civil ainda estava para vir e chegou em pleno 2008, ano em que a crise «rebentou» neste setor, criando inúmeras dificul-dades a todas as empresas existentes no mesmo. De salientar e para se perceber o nível desta crise, que em 2002 foram construídos 120 mil fogos e em 2012 cerca de 17 mil. Nesse período o setor perdia anualmente cerca de 15 a 20% da sua ca-pacidade, numa fase que gerou mais de cem mil desempregados.

ESTRATÉGIAS PARA CONTORNAR A CRISEAo invés de se conformar, a Hilti decidiu apostar em estratégias que viriam a ter resultados práti-cos, tendo inclusive consolidado a marca a nível nacional e mundial. “Levamos o nosso armazém e assistência técnica para Espanha e com isso ti-

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RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL/SUíÇA

Antonio Raab

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vemos uma redução evidente dos custos otimiza-ção de processos, fomentando uma melhoria da produtividade. Escolhemos Espanha por razões óbvias, ou seja, já detinha uma infraestrutura de armazém e reparação forte e dessa forma criamos um dinamismo maior no seio da empresa. Além disso, transferimos cerca de 30 pessoas para ou-tros mercados da Hilti internacional como Brasil, Angola, Itália, Liechtenstein, França entre outros. Não podíamos desperdiçar as competências des-ses recursos humanos e dessa forma procedemos à sua recolocação e assim continuaram a oferecer mais-valias à marca”, salienta Antonio Raab, que não quis deixar de elogiar quem esteve neste pro-cesso de fortalecimento da marca. “Foi um perí-odo complicado, mas creio que é legítimo dizer que ao longo desses quatro anos aprendemos a trabalhar de outra forma, ou seja, num mercado em plena crise. Percebemos que amadurecemos muito e devo elogiar as pessoas da Hilti que tiveram uma atitude bastante positiva, sendo essenciais para ultrapassarmos estes momen-tos de crise. Essa união e empenho permitiram superar as dificuldades da crise da construção civil em Portugal”, afirma o diretor geral da Hilti Portugal. Interessa ainda compreender que esta estratégia assentou e muito na relevância que os principais clientes da Hilti Portugal tiveram e na busca por novos setores também ligados à cons-trução civil, como a reabilitação urbana. Nomes como a Mota Engil, Martifer, Soares da Costa, Teixeira Duarte, entre outros foram também vi-tais neste contornar da crise por parte da Hilti. Como? “Estas grandes empresas começaram a apostar em mercados externos distintos como Moçambique, Angola, EUA, Argélia, Marrocos

entre outros. Com esse passo recorreram à Hilti Portugal para adquirir material e assim levarem o mesmo para esses destinos. Além disso, decidi-mos seguir a dinâmica de autarquias como Lis-boa, Porto, Coimbra, entre outras, que decidiram apostar fortemente na reabilitação de casas de-volutas e prédios abandonados. Assim, criamos uma equipa especializada de engenheiros nestas matérias, que foram também fundamentais para este processo. Desta forma, começamos a recupe-rar os níveis de faturação da marca desde meados do segundo semestre de 2013”, revela o nosso interlocutor.

GESTÃO DE FROTA – SERVIÇO INOVADORE DIFERENCIADOR

Comprovadamente, a Hilti é uma empresa que assume uma forma distinta de estar no merca-do, tendo como principal prioridade a satisfação total dos seus clientes/parceiros. Desta forma e atenta às dificuldades dos seus clientes., foi cria-da uma nova solução, denominada por serviço de Gestão de Frota, sendo a Hilti é a única empre-sa que fornece este serviço em Portugal, tendo sido lançado em 2005. Qual a principal finali-dade desta solução? “Este processo foi realmente um enorme achado para a Hilti e temos crescido imenso nesta vertente. Hoje as empresas preten-dem reduzir ao máximo possível os seus custos. Usam o renting para frotas automóveis e para material de escritório, entre outros. Então porque não fazer o mesmo com as máquinas?”, questiona Antonio Raab. Quais são as vantagens deste serviço? “O cliente paga uma renda mensal pela utilização da ferra-menta e em contrapartida utiliza as mesmas de última geração e beneficia ainda de um pacote completo de serviços da Hilti, não tendo que se preocupar com os seus equipamentos. Nós tra-tamos disso. Além disso, essa prestação mensal cobre os serviços de reparação, assim como os custos de transporte de recolha e entrega dos equipamentos. No final as máquinas são subs-tituídas por modelos mais recentes. Tem ainda uma cobertura de roubo, mas na minha opinião, a principal mais-valia é mesmo poder «desligar-se» por completo dos problemas relacionados com os equipamentos, até porque todas as máquinas são etiquetadas com o nome do cliente, permitindo--nos portanto um controlo rigoroso e mais eficaz do material”, refere o nosso interlocutor. Apesar de este serviço ter sido iniciado para as chamados grandes clientes, a Hilti apostou também nos de-nominados pequenos e médios clientes, tendo ain-da outra vantagem para os seus parceiros, ou seja, “se existir um aumento do volume de trabalho, por exemplo, numa obra, quem tiver esse contrato pode usufruir de um empréstimo de maquinaria para colmatar as exigências do momento”.

PRIMEIROS A «SENTIR» O MERCADOJá compreendemos algumas das mais-valias da marca, contudo, é importante realçar que a Hilti aporta uma grande mais-valia com a sua presença no mercado, ou seja, opera com a venda direta,

isto é, junto ao consumidor final, algo inverso à concorrência, que trabalha primordialmente com revendedores. “Somos os primeiros a sentir o mercado e a perceber as suas necessidades. Isso leva-nos a desenvolver produtos mais adequados às necessidades dos clientes, que assim têm na Hilti um parceiro que os apoia na evolução do seu modelo de negócio”, assevera Antonio Raab. É neste ponto que entra a capacidade inovadora e de aposta em novas tecnologias da Hilti. Como? De diversas formas. Apesar de operar com várias Universidades em todo o mundo e de possuir um Centro de I&D (Investigação e Desenvolvimen-to) no Liechtenstein, de onde a marca Hilti é originária, a principal fonte de informação e de desenvolvimento de novos produtos “é o cliente final. É ele que nos dá a conhecer o que necessita o mercado”, salienta o nosso entrevistado, lem-brando que a Hilti irá concluir um novo Centro de I&D em dezembro deste ano e que a mesma investe anualmente cerca de 150 a 200 milhões de francos suíços em desenvolvimento de novos produtos. “Lançamos entre 25 a 35 novos produ-tos por ano e todos eles apetrechados com tec-nologia de vanguarda, porque a nossa filosofia não assente em sermos «apenas» o número um. Queremos ser também o número dois, três e por aí adiante”, esclarece convicto Antonio Raab, sa-lientando que a faturação anual da Hilti a nível mundial ascende a cerca de cinco mil milhões de francos suíços, onde “parte significativa desse ca-pital é destinado para o desenvolvimento e pes-quisa de novos produtos, onde a segurança jamais é esquecida. Desta forma apostamos fortemente na segurança dos nossos produtos e na forma-ção dos clientes para que reúnam conhecimentos para os equipamentos que vão operar. Costumo dizer que é quando o cliente recebe o nosso equi-pamento que começa a venda, porque temos a preocupação de acompanhar este processo, per-sonalizando o contacto e a ligação com o nosso cliente para que se crie uma relação de confiança e mesmo de cumplicidade entre o cliente final e o nosso vendedor”.

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Portugal/Suíça – relação em crescimentoO Grupo Hilti nasceu no Liechtenstein - onde se encontra a sua sede - principado que faz fronteira com a Suíça e a Áustria, da qual é historicamente aliado. Pelo vasto background que reúne, até porque Antonio Raab é o repre-sentante da Câmara de Comércio e Indústria Suíça em Portugal - CCISP no Norte do país, questionamos o nosso entrevistado sobre as potencialidades das relações bilaterais entre Portugal e Suíça, país que mesmo não estando no seio da União Europeia, mantém com a mesma acordos de livre comércio. Para o diretor geral da Hilti Portugal as atuais relações são “francamente positivas. Temos assistido a uma «troca» de empresas e know how nos mais diversos setores entre ambos os países, e espera-se que de futuro esse fluxo aumente”, assevera, revelando algumas das razões de proximidade da Hilti com a Suíça. “A Hilti foi criada no Liechtenstein e fundada pelo Prof. Martin Hilti em 1941, originário do mesmo principado mantendo ainda hoje a sua sede, Centro de I&D, armazéns e fábricas nesse local. Estamos nesse principado porque nascemos aí”.

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«fechados entre nós e para nós» e preparamos anualmente algumas iniciativas onde todos os colaboradores trabalham em ações de solida-riedade. Como exemplo, já estivemos todos a melhorar as condições de uma aldeia de crian-ças (com o arranjo de jardins, construção de um alpendre, semear verduras, limpezas e pinturas dos espaços). É comum o sentimento de estar junto da comunidade local através deste tipo de atividades”, esclarece o nosso interlocutor, lembrando que a Fundação Hilti é o paradig-ma disso mesmo. Com um budget de cerca de 10 milhões de francos suíços, encontra-se atu-almente presente em quase 40 projetos a nível mundial, como na Etiópia, Jordânia, Egito, Fai-xa de Gaza, entre outros. Mas a preocupação da empresa com os seus co-laboradores não cessa aqui. Desta forma, são rea-lizados anualmente inquéritos denominados por GEOS que são completamente anónimos e ava-liados por uma entidade externa, onde as pessoas respondem a cerca de 80 questões sobre o grau de satisfação no seu local de trabalho envolvendo diversas áreas como a política da empresa, a rela-ção com o seu superior, com o colega de trabalho, entre outras. Depois, esses mesmos resultados são avaliados e “reunimos com esses grupos para melhorar os padrões da empresa”, revela o nosso entrevistado, lembrando que este processo está cada vez mais difícil pelo nível de excelência a que a dinâmica da empresa tem alcançado. “Es-tes inquéritos aportam uma dimensão de -50 a +50 e no ano passado obtivemos um resultado histórico com 34 pontos positivos. Estamos a 16 pontos dos 100% ao nível do grau de satisfação e isso obviamente que nos deixa extremamente agradados”. O nosso resultado está no TOP 5 a nível mundial da Hilti Internacional.

RECURSOS HUMANOSE O SUCESSO

É comum dizer-se que uma grande parte do sucesso de uma determinada marca está intima-mente ligada com o nível de satisfação dos seus recursos humanos. Na Hilti, esta filosofia é as-sumida diariamente, tendo como desiderato pri-mordial, a satisfação total dos colaboradores da marca. Desta forma, a Hilti Portugal tem marca-do presença regular na iniciativa anual da Revista Exame, no âmbito do estudo das 100 melhores empresas para trabalhar e consiste numa análise criteriosa do Grau de Compromisso dos colabo-radores com a empresa onde trabalha, em con-junto com a análise das suas Práticas de Gestão de Capital Humano.Visivelmente satisfeito com a prestação dos cerca de 100 funcionários da empresa em Por-tugal, Antonio Raab sabe que é essencial, para servir com excelência os clientes da Hilti, que os colaboradores se sintam satisfeitos e recom-pensados. “O êxito de uma marca assenta, mais

RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL/SUíÇA

do que em qualquer outro vetor, nos recursos humanos. É por isso que no nosso conceito or-gânico os recursos humanos estão em primei-ro lugar. Aqui as pessoas são tratadas de uma forma completamente diferente, em todos os aspetos. São diversas as atividades que temos para os nossos colaboradores como o Hilti Day, em que reunimos todos os funcionários com os seus familiares e passamos um dia divertido e em família. Preparamos, quase mensalmente, iniciativas internas que visam o bem estar dos colaboradores, como experiências de massa-gens, simuladores de corridas, jogos de futebol, workshops de culinária, workshops de maqui-lhagem, iniciativas relacionadas com a saúde, entre outras, assinalando datas como o dia da Mulher, dia dos namorados, o dia do Homem Hilti, etc. Isto é uma forma de motivar os nos-sos colaboradores e compreenderem que a em-presa exige, mas também dá. Temos ainda uma grande componente no domínio da responsabi-lidade social e civil. Não queremos viver apenas

Desafios nunca cessamUma marca como a Hilti nunca cessa a sua busca por melhores soluções, por produtos mais inovadores e por formas de continuar a satisfazer os seus clientes e funcionários. Desta forma, 2014 afigura-se como um ano repleto de desafios. Parar é morrer e assim, Antonio Raab e a sua equipa pretendem continuar a aumentar o número de recursos humanos da empresa e “queremos apostar num novo departamento de engenharia que tem como objetivo auxiliar os clientes na resolução de problemas que possam eventualmente ter nas obras ou construções. Além disso, vamos continuar a apostar na formação dos nossos colaboradores, tendo já iniciado esse processo através de uma ação de formação que tem como fito principal a satisfação ao máximo do cliente. Já lançamos cerca de 10 a 15 novos produtos este ano, e até final do ano preten-demos chegar aos 30 produtos. Além disso, iremos continuar a apostar no Serviço de Ges-tão de Frota, onde queremos dobrar o número de contratos que temos até ao momento. São desafios sem dúvida ambiciosos, mas sei que, com o empenho e rigor a que os nossos colaboradores já nos habituaram, podemos alcançá-los, porque tenho perfeita noção que se tivermos colaboradores/funcionários satis-feitos, isso irá refletir-se na satisfação do nosso cliente”, conclui Antonio Raab, diretor geral da Hilti Portugal.

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A BESIGN Design & Comunicação nasceu pelas suas mãos, em 2004, em Lisboa. Desde o início que têm procurado desenvolver, com inteligência e originalidade, os produtos e serviços das empre-sas que vos procuram. De que forma se têm sabido destacar num mercado tão competitivo, tendo em conta a recente aposta na marca ZIPZ® Shoes?“Quem ouve as borboletas a cantar, sabe como as flores falam”. Desde o início, a Besign apostou sempre na sua própria criatividade porque sabe que tal tem um papel cada vez mais importante - o talento é a única coisa que não pode ser co-piada, é uma ferramenta fundamental para atin-gir o sucesso! Juntando a qualidade suíça com a flexibilidade portuguesa, possuo o know-how necessário em várias áreas de comunicação para ajudar a lançar os ténis ZIPZ®. Não é apenas uma marca original é também um produto que pode transmitir emoções, sobretudo aos jovens, mas não só! É uma marca com grande potencial de negócio.

Quando e como surgiu a oportunidade de apos-tar numa ideia tão original e que promete revolu-cionar o mercado português?Descobrimos a marca ZIPZ® na Suíça. Um país no centro da Europa onde novas ideias/produtos de todo o mundo se cruzam. Em Por-tugal com mais de 3000 horas de sol por ano, achámos que este tipo de ténis, que se adapta ao estilo de cada um graças ao sistema de fecho ZIPZ®, serão perfeitos.

Estes são definidos como “os primeiros ténis no mundo que se adaptam ao teu estilo”. Por que é que ZIPZ® é também sinónimo de inteligência?Esta é realmente uma definição dos ténis ZIPZ®. Inteligência pois permitem mudar diariamente as diversas capas, de várias cores e padrões, na mesma sola. Económicos no sentido de poupar dinheiro. Confortáveis para a liberdade dos pés sentindo o conforto a cada passo. Práticos porque levam a moda consigo para todo o lado, sem pro-blema de excesso de peso de bagagem.

Acredita que a criatividade continua a desempe-nhar um papel fulcral no seio de qualquer em-presa. Hoje em dia, nesta procura incessante pelo lucro imediato, essa ideia está presente na consci-ência dos empresários portugueses?Hoje vivemos num mundo diversificado em que o sucesso pode aparecer num dia e desaparecer noutro. Eu acredito que a fórmula para o sucesso a médio e longo prazo junta inovação com tra-balho empenhado, persistente e direcionado. A organização e o improviso são duas caraterísticas importantes que ajudam a enfrentar e a construir um negócio de sucesso. Em Portugal não há falta de criatividade e ideias, mas muitas vezes falta uma base de investimento, tal como saber pro-mover-se profissionalmente.

Tendo nascido em Zurique, no início da década de 90 mudou-se para Portugal, teve alguns “cho-ques” em termos profissionais e culturais? Na Suíça a democracia é para toda gente. Infe-lizmente só se dá real valor quando se vive num país que nem sempre foi democrático. Na minha infância aprendi que podia falar e dizer o que pen-sava abertamente sobre assuntos de trabalho, polí-ticos, etc. Mesmo na escola era sempre bem visto trocar ideias e pensamentos. Além disso, Zurique, onde vivi, já era uma cidade multicultural com gente de toda a Europa/Mundo. Tudo isso formou a minha infância e moldou o meu caráter, o que ajudou a desenvolver a minha criatividade. Portu-gal mudou durante os últimos 25 anos, contudo, a cultura de comunicação aberta e verdadeira ainda é pouco aplicada. Diz-se muito mas ao mesmo tempo nada em concreto, há falta de comunicação eficaz. Opiniões e outras ideias são vistas muitas vezes como críticas e não como oportunidades de abrir e atingir novos horizontes.

Na sua opinião, que desafios se colocam, no futu-ro, ao relacionamento entre estes dois países?A curiosidade é o primeiro caminho. Mostrar interesse pelas outras formas de pensar, outras maneiras de viver. Querer descobrir é a chave

“Juntando a qualidade suíça com a flexibilidade portuguesa, possuo o know how necessário em várias áreas de comunicação para ajudar a lançar os ténis ZIPZ®”, uma marca que Barbara Lehmann, CEO/Art Director na BESIGN Design + Communication e a sua

equipa descobriram na Suíça. Inteligentes, práticos, económicos e confortáveis, estes ténis são perfeitos para um país onde o sol está quase sempre “a espreitar”. Conheça mais de uma empresa que desde sempre tem apostado na sua própria criatividade.

“o TaLenTo é a únICa CoIsaque não pode ser copiada”

para um desenvolvimento e a compreensão para a diferença. Só quem está aberto no seu pensa-mento está aberto para novas ideias e desafios no mundo de negócio.

Voltando ao ZIPZ®, qual é a vossa linha de atua-ção com a marca para o futuro?O Website da ZIPZ® já está online. Neste mo-mento estamos a desenvolver a loja online que estará pronta dentro de poucos dias, onde todos poderão comprar facilmente os seus novos ténis. Está planeada a abertura de uma loja própria multifuncional, que pode servir durante o dia como ponto de venda e à noite ser transformada numa galeria de arte urbana, num bar ou em algo diferente. E claro, brevemente aparecerá noutras lojas selecionadas pelo país fora.

RELAÇõES BILATERAISPORTUGAL SUíÇA

Homepage: www.visite-besign.comFacebook: www.facebook.com/Besign.CommunicationLinkedIn: http://linkd.in/1fQ9CD4

Barbara Lehmann

especial iv aniversário

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A Consultan tem quase 40 anos de história desde a sua fundação no Brasil em 1975 e em Portugal cerca de 25 anos de existência. Dá para fazer um balanço da atividade da empresa e quais as prin-cipais valias que trouxe ao mercado imobiliário?A Consultan iniciou a sua atividade em Portugal em 1989 com o lançamento do empreendimento Parque Europa no Lumiar, trazendo para o mer-cado português uma série de inovações a nível de planeamento e marketing imobiliário do Brasil, que gerou notoriedade à empresa, modernizou o mercado nacional e proporcionou a empre-sa muitas oportunidades de novos lançamentos imobiliários que tiveram um grande sucesso de vendas.Ao longo dos 25 anos de atuação em Portugal a Consultan participou em mais de 100 grandes lançamentos imobiliários com enorme sucesso por todo o país, sendo que a maioria dos projetos foi realizado na Grande Lisboa. A experiência do mercado brasileiro, um dos mercados imobiliá-rios mais dinâmicos e criativos a nível internacio-nal foi fulcral para o sucesso das vendas, que pas-sou pela introdução de novas técnicas de vendas e Marketing, formação da equipa, utilização de andares modelos, anúncios nos primeiros cader-nos, distribuição de folhetos de grandes dimen-sões nas ruas e anúncios na televisão.Para além destas inovações de marketing, que hoje já fazem parte de qualquer projeto nacional, trouxemos uma nova metodologia de planea-mento, estudo de mercado, elaboração de tabelas de preços e planeamento do calendário das ven-das e campanhas publicitárias, que na altura não existia em Portugal, para além de introdução de novos produtos imobiliários como os condomí-nios fechados, flat services ou Lofts, que tiveram enorme sucesso em Portugal.Atualmente o mercado está mais profissional e mais preparado no entanto exige novos desafios, como é o caso do mercado internacional, onde nos obriga a estar em constante inovação e em busca de novos caminhos.

Como correram estes primeiros quatro meses do ano de 2014 e quais as expectativas para o resto do ano? Com a recuperação económica que se prevê para Portugal e para a Europa, 2014 será um ano forte para a Consultan?O primeiro trimestre de 2014 está a correr bem. Temos feito alguns negócios com o Brasil, quer a nível de clientes residenciais, quer a nível de investidores institucionais, no entanto foi um período de preparação de alguns eventos que re-alizamos na Rússia e na China, com o objetivo de atrair investimentos para o mercado imobiliário português, prevendo excelentes perspetivas para o segundo semestre de 2014.

A estratégia de internacionalização tem dado especial foco, este ano, à Rússia, Brasil e China. Porquê a escolha destes mercados? De que forma têm corrido os eventos e ações de promoção nes-tes países?Na Consultan temos apostado principalmente nos mercados dos BRIC, com destaque para a Rússia, Brasil e China, onde temos participado, há cerca de dois anos, em diversos eventos entre feiras imo-biliárias e seminários e organizando os nossos pró-prios eventos. Em 2013 realizamos no Brasil duas edições da Mostra Imobiliária de Portugal, que decorreu no Consulado de Portugal em São Paulo e no Rio de Janeiro e este ano realizamos em Mos-covo o Portugal Invest, uma feira multissectorial que decorreu no mês de abril na Expocentre em Moscovo em paralelo com um seminário imobi-liário. No mercado chinês temos participado em diversas feiras imobiliárias, iremos estar com um stand na próxima edição da LPS de Pequim pela segunda vez e pretendemos organizar um seminá-rio imobiliário com parceiros chineses em Pequim e Shanghai no mês de setembro.Todos estes eventos tem gerado um excelente ne-twork e muitas perspetivas de negócios a médio longo prazo, para além de alguns clientes imedia-tos que tem investido em projetos residenciais, principalmente na Região da Grande Lisboa.

Os Golden Visa estão a atrair principalmente in-vestidores Chineses, Russos, Brasileiros e Ango-lanos. Que impacto este programa está a ter nas vendas do imobiliário da Consultan?

A Revista Pontos de Vista foi conhecer a Consultan e conversou com Guilherme Grossman, Partner da marca que nos deu a conhecer um pouco mais da mesma, que desde o seu início apostou forte em produtos inovadores e tem sido, ano após ano, um paradigma de

como se deve atuar no mercado. Uma marca que vale a pena conhecer.

“esTamos em ConsTanTe InoVaçãoe em busca de novos caminhos”

Temos feito alguns negócios com Golden Visa, principalmente no mercado brasileiro, estamos com boas perspetivas no mercado russo, onde temos parceiros importantes que nos apoiam neste mercado, que tem muito potencial para Portugal.No Mercado Chinês, onde existe talvez o maior potencial para o Golden Visa, temos algumas perspetivas interessantes, mas é o mercado onde existe a maior dificuldade devido as comissões exorbitantes que são praticadas pelos agentes lo-cais. Estamos com alguns projetos em curso para criar uma operação diferenciada na China, com apoio local mas com comissões aceitáveis a nível internacional.

Que futuro a médio prazo podemos esperar para a vossa empresa e quais as áreas que continuarão a apostar para continuar o processo de cresci-mento económico?A Consultan está muito focada no mercado in-ternacional, onde iremos continuar a apostar no desenvolvimento dos mercados brasileiros, chi-nes e russo, onde já temos operações a decorrer e parceiros locais e queremos começar a operar no mercado francês e escandinavo devido ao benefício fiscal que existe e forte demanda para Portugal.Estamos a contratar um profissional que atuará no desenvolvimento destes mercados e desenvol-vimentos de ações próprias em cada um destes países através de seminários para investidores e feiras imobiliárias.

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RELAÇõES BILATERAIS PORTUGAL/RúSSIA

Guilherme Grossman

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No ano passado referiu que o TROIA RESORT iria, este ano, alargar a sua oferta ao ecoturismo e ao desporto. Quais são essas novidades que o em-preendimento da Sonae Turismo nos traz a partir este ano?No segmento de desporto, estamos a concluir o projeto do futuro centro de estágios de Tróia, pre-vendo iniciar a construção ainda durante o ano de 2014. No ecoturismo e no âmbito da Tróia-natura, concluímos no final de 2013 o Catálogo de Ativi-dades de Ecoturismo no Estuário de Sado. Este catálogo está agora a ser a base de trabalho para a apresentação dos vários produtos aos nossos Clientes e operadores deste setor, pois acreditamos que esta é uma área onde nos diferenciamos de outros destinos turísticos. Ainda neste âmbito, em colaboração com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), vamos continu-ar a colaborar no desenvolvimento e crescimento da Observanatura - evento dedicado ao Turismo de Natureza que já vai na sua 5ª edição - tendo como objetivo ajudar a posicioná-lo como uma re-ferência ao nível Europeu, neste segmento.

O TROIA RESORT tem vindo a consolidar o seu cres-cimento todos os anos e esta zona turística é cada vez mais uma referência no turismo nacional. No entanto, continua a ser uma zona de elites e pouco massificada. O objetivo é continuar a apostar num turismo de luxo, onde podemos encontrar calma-ria e qualidade de vida, ou, com o tempo, Tróia po-derá tornar-se “a nova Algarve” em Portugal?Pretendemos posicionar Tróia não como um destino de luxo mas sim como um destino ex-clusivo que permite viver experiências únicas. A sua localização - a menos de uma hora de Lis-boa – constitui uma das suas grandes vantagens, mas o acesso por barco através da Atlantic Fer-ries confere-lhe um apreciado isolamento e uma localização geográfica privilegiada que mantém este local livre de trânsito, onde prima a seguran-ça. Esta nova Tróia vai assim continuar a crescer, a ganhar escala – o que é diferente de massificar – mantendo sempre a sua identidade.

Quais as principais potencialidades deste desti-no? O que faz de Tróia um destino turístico único em Portugal?Destacam-se a qualidade das suas infraestruturas

e a sua concentração e integração de serviços e va-lências. Em mais nenhum destino do nosso país, é possível encontrar tantos e tão diversos pontos de interesse - uma oferta diversificada de turismo residencial e de hotelaria, um campo de golfe, uma marina, praias, as Ruínas Romanas de Tróia, es-paços comerciais, áreas desportivas, espaços para congressos e um casino – todos concentrados num só local. A envolvente natural do destino é outro dos atores diferenciadores do TROIA RESORT uma vez que permite aos nossos visitantes partici-par em atividades como a observação de golfinhos, passeios pedestres ou de bicicleta e enriquecer a sua experiência. Um terceiro vetor muito impor-tante é a localização, nomeadamente a proximida-de com Lisboa que nos posiciona de uma forma muito competitiva com outros destinos turísticos. Importante ainda referir a segurança que a Sonae Turismo transmite a todos os que já investiram e aos futuros investidores, quer na aquisição de se-gunda habitação quer, como referimos, numa ótica de investimento ou utilização.

Que balanço pode já ser feito de 2014 e quais as expetativas para o resto do ano? Com a recupera-ção económica que se prevê para Portugal e para a Europa, 2014 será um ano forte para o TROIA RESORT?O primeiro balanço, considerando já dados pre-liminares dos primeiros quatro meses de 2014,

“Pretendemos posicionar Tróia não como um destino de luxo mas sim como um destino exclusivo que permite viver experiências únicas”, quem o diz é João Madeira, Diretor Geral do TROIA RESORT. Esta zona turística continua a crescer a grande escala, sem que se possa falar em massificação e mantendo sempre a sua identidade. Saiba mais sobre este destino que é cada vez mais uma referência

do turismo em Portugal graças aos 486 hectares que o TROIA RESORT tem para oferecer, a apenas 45 minutos de Lisboa.

o PaRaÍso esTá a 45 minutos de lisboa

é positivo, o que vai ao encontro das perspetivas com que iniciámos o ano: mantermos o ciclo de crescimento sustentado que o TROIA RE-SORT tem registado desde a sua abertura. Para dar resposta a estas perspetivas e com o intuito de aumentar e melhorar a nossa resposta, intro-duzimos o conceito TROIARESIDENCE. Este novo conceito vai englobar toda a oferta de alo-jamento dos Apartamentos Turísticos e Beach Houses do TROIA RESORT e de uma forma integrada maximizar os esforços de promoção e comercialização destes produtos turísticos. No Turismo Residencial, continuamos a assistir a um grande interesse de cidadãos de mercados internacionais, como o França, Rússia, Escandi-návia, China e Brasil.

A estratégia de internacionalização do Tróia Re-sort tem dado especial foco, este ano, à Rússia, Alemanha, Bélgica, Suécia e França. Porquê a es-colha destes mercados? De que forma têm corrido os eventos e ações de promoção nestes países?Estes são os marcados que consideramos terem maior ligação a Tróia e à oferta que disponibili-zamos. Os resultados têm sido bastante positivos. Em 2013, o número de turistas estrangeiros que visitou o TROIA RESORT quase duplicou, so-bretudo dos mercados Francês, Espanhol e Es-candinavo.

Os Golden Visa estão a atrair principalmente in-vestidores Chineses, Russos, Brasileiros e Ango-lanos. Que impacto este programa está a ter nas vendas do imobiliário turístico do Tróia Resort?As vendas de Turismo Residencial resultam so-bretudo da qualidade da oferta e da segurança do investimento que distingue o TROIA RESORT. 2013 foi um ano positivo a este nível, com a con-cretização de mais de 50 vendas, fruto dos atri-butos atrás referidos e do esforço comercial e de promoção que temos realizado. A competitividade da nossa oferta, nomeadamente do produto de Rendimento Garantido - assegurado através da exploração turística das nossas unidades e que nos permite oferecer um retorno mínimo de 6%, sobre o valor de aquisição do imóvel, durante três anos - também contribuiu para estes resultados.

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RELAÇõES BILATERAIS PORTUGAL RUSSIAespecial iv aniversário

João Madeira

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As PME têm feito um esforço notável nestes últimos anos nesta área, esforço que é aliás confirmado pelos resultados do Painel de Avaliação da Inovação na UE 2014, recentemente divulgado pela Comissão Europeia, onde Portugal surge como um dos paí-

ses que registaram uma melhoria mais significativa em termos de atividade inovadora.Mas este esforço é também bem visível no perfil dos investimentos associa-dos ao último quadro comunitário de apoio.Oitenta e cinco por cento do investimento aprovado no âmbito dos vários sistemas de incentivo às empresas do QREN centrou-se em atividades de inovação empresarial e de investigação e desenvolvimento tecnológico e permitiu alavancar resultados em termos de reforço da capacidade produti-va e inovadora das empresas, ao nível dos produtos, processos, tecnologias ou marketing, e também da expansão do negócio e da sua reorientação para mercados externos.O número de projetos de inovação superou os 3 milhares e meio com um montante de investimento que rondou os 4,7 mil milhões de euros e que contou com um incentivo associado de 2,5 mil milhões de euros.São investimentos que apostam na subida da cadeia de valor e reforço da vocação exportadora e internacional das empresas, investimentos que as empresas sabem que valem pelos resultados que geram nos seus negócios.A inovação, seja ela ao nível do produto, dos processos, da tecnologia, das vendas ou da gestão, é hoje assumida como fundamental para que as empresas possam incrementar a sua capacidade competitiva no mercado global, de forma mais eficiente, produtiva, e com uma maior qualidade e diferenciação.Aliás, é significativo explorar a relação entre capacitação empresarial e esforço de inovação e a capacidade concorrencial em mercado externo. Apenas tendo como base os sistemas de incentivos QREN geridos pelo IAPMEI, no âmbito da promoção da Inovação e da I&D, da criação e re-forço de competências internas, e da promoção do empreendedorismo e da qualificação de PME, a expetativa real de incremento de exportações de-corrente do investimento apoiado ronda os 6 mil milhões de euros, número particularmente relevante, a que deveremos acrescer efeitos de substituição de importação. As PME sendo muito mais flexíveis em termos de estrutura dimensional têm condições para serem mais criativas e mais ágeis no seu relacionamento com o mercado e de se posicionarem como motor do crescimento econó-mico que se anseia para o país.É por isto e pela importância do seu contributo para a economia e o empre-go (as PME representam mais de 99% do tecido empresarial e absorvem mais de metade do valor acrescentado bruto do setor empresarial e mais de três quartos do emprego nacional), que as pequenas e médias empresas sempre tiveram e continuam a ter um papel central nas políticas públicas, em Portugal e na Europa.A estruturação do novo ciclo de fundos estruturais é um claro exemplo disto, com a focalização da maioria das verbas disponíveis (são 21 mil mi-lhões de euros para Portugal no período 2014-2020) para o apoio à ativi-dade direta das PME, onde o empreendedorismo e a inovação têm lugar de destaque, no contexto dos instrumentos de incentivo à competitividade e internacionalização da economia, e onde o IAPMEI vai continuar a ter um papel fundamental de interface com as empresas. Sabemos que a utilização que as empresas fazem dos recursos que têm à sua disposição através da envolvente pode ser determinante no sucesso das suas estratégias empresariais no futuro e queremos ser um parceiro de referência

InoVaçãocontinua a ser uma prioridade

na oferta de soluções integradas que respondam às suas necessidades de reforço competitivo.Desde soluções na área do financiamento e capitalização de empresas, à inovação, à qualificação de recursos, à promoção do empreendedorismo, ao reforço da capacidade de gestão, ao apoio ao investimento e à atividade internacional das empresas, à promoção dos negócios e de redes de for-necimento com aumento do nível de incorporação nacional, à assistência técnica e tecnológica, através da ponte com a nossa rede de parcerias e participadas especializadas garantindo às empresas competências externas necessárias ao aumento da sua competitividade, e à revitalização empresa-rial, o IAPMEI acompanhará todo o ciclo de vida das empresas.Recentemente foram tornadas públicas boas notícias com a publicação pelo INE dos resultados atingidos pela balança de bens e serviços do ano passa-do. O peso das exportações no PIB cresceu para 40,8% em 2013 e superou o peso das importações, que foi de 39,7%.A prioridade política no apoio às empresas de bens transacionáveis foi obviamente importante, sendo que não temos qualquer dúvida de que as PME tiveram uma responsabilidade enorme neste resultado com a sua re-siliência, a sua criatividade e empreendedorismo, a sua aposta na inovação e na diversificação de mercados.Importa alargar a base de PME inovadoras e exportadoras, e essa é uma atuação chave de futuro do IAPMEI.

INOVAÇÃO E PORTUGAL

Mesmo em ciclos económicos de maior exigência como o que atravessamos, a inovação continua a ser uma vantagem

competitiva perseguida pelas empresas nacionais.

A OPINIÃO DE Miguel Cruz, Presidente do IAPMEI

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