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ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO / DISTRIBUIÇÃO NACIONAL - OUTUBRO 2011 / EDIÇÃO Nº 11 Francisco Batel Marques Administrador da Quinta dos Abibes “Provar um vinho da Quinta dos Abibes é abrir um vasto leque de sensações que jamais esqueceremos” ORDEM DOS ENFERMEIROS O Futuro de uma classe profissional DIA MUNDIAL DO MAR OEIRAS MAIS VERDE

Revista Pontos de Vista Edição 11

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    - OUTUBRO 20

    11 / EDIO N

    11

    Francisco Batel MarquesAdministrador da Quinta dos Abibes

    Provar um vinho da Quinta dos Abibes abrir um vasto leque de sensaes que jamais esqueceremos

    OrdeM dOs enFerMeirOsO Futuro de uma classe profissional

    dia Mundial dO Mar

    Oeiras Mais Verde

  • FICHA TCNICA

    Propriedade, Edio, Administrao e AutorHorizonte de Palavras - Edies Unipessoal, LdaTiragem Nacional - 55.000 ExemplaresISSN 2182-3197

    Impresso: Lisgrfica, Impresso e Artes Grficas, SADistribuio NacionalPeriodicidade MensalDistribuio Nacional gratuitacom o Jornal Pblico

    Rua Rei Ramiro 870, 6 B4400-281 Vila Nova GaiaTelefone/ Fax +351 220 993 250Outros contactos: +351 220 926 877/78/79/80E-mail: geral@pontosdevista.com.ptwww.pontosdevista.com.ptwww.horizonte-de-palavras.pt

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    Sumrio34 Ordem dos Enfermeiros em destaqueO exerccio profissional da enfermagem em Portugal enfrenta, na actual realidade, diversos desafios e dificuldades associados aos distintos dom-nios da sua interveno. Maria Augusta de Sousa, Bastonria da Ordem dos Enfermeiros, revela em grande entrevista o contributo que pode ser dado a Portugal pelos Enfermeiros. O que aportaro ao sector da Sade os cortes previstos nesta rea?4 Vinho de ExcelnciaAs principais razes que levam a fileira do Vinho a ser fundamental para Por-tugal. Conhea os melhores Vinhos de Portugal19 Susana Guedes PomboDirectora Geral de Veterinria da Direc-o Geral de Veterinria, em grande en-trevista. Saiba o que est a ser feito no mbito da Sade Animal28 O Centenrio da Repblica Portuguesa e as crisesdo CentenrioTema das II Jornadas OLAE - Observat-rio Lusfono de Actividades Econmicas

    38 Antnio Flores de AndradePresidente do Conselho Directivo do INCI - Instituto da Construo e do Imo-bilirio, I.P e o impacto das medidas da Troika no sector da construo40 Gesto da guaConhea os principais players no dom-nio de um recurso to precioso como a gua. Jaime Melo Baptista, Presidente do Conselho Directivo da ERSAR, aborda o tema50 Ricardo Costa BarrosVereador do Ambiente de Oeiras, revela as razes que perpetuam o municpio como um dos mais verdes em Portugal

    56 Dia Mundial do MarFuturo do sector em debate na celebra-o oficial do Dia Mundial do Mar. Co-nhea os diversos players que podem fomentar um dos principais activos do nosso pas: o Mar

  • 4 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Na zona litoral, marginando a costa Atlntica, locali-zam-se as quatro regies produtoras de vinhos de Denominao de Origem: DOC La-gos, DOC Lagoa, DOC Portimo e DOC Tavira.A regio uma produtora histrica e tradicional de vinhos; a prov-lo temos a nica Adega Cooperativa do Algarve, CRL. (Ex. Adega Cooperativa de Lagoa), fundada e a produzir desde 1945, sendo a terceira Adega Cooperativa mais anti-ga de Portugal.A CVA - Comisso Vitivincola do Al-garve, tem por principais funes a certificao, controlo e promoo dos produtos vnicos produzidos na regio e o maior desafio que enfrenta actual-mente, o processo de acreditao, a decorrer junto do IPAC para a obteno do estatuto de Entidade Certificadora de produtos vincolas, pela norma NP EN 45011, requisito essencial para po-der dar continuidade certificao das produes vnicas da regio, razo pela qual todas as suas energias esto direc-cionadas nesse sentido.A rea total de vinha do Algarve abrange cerca de 2000 hectares, dos quais, cerca de 500 tm vindo a ser reestruturados nos ltimos 10 anos, com o recurso a no-vas castas e s mais modernas tcnicas de instalao, conduo e manuteno. Este facto permitiu normalizar a produ-o que actualmente na ordem dos 2 milhes de litros. Vinhos de qualidade aptos a serem certificados, na sua maio-ria comercializados como Vinho Regio-nal Algarve.A mais significativa mudana sofrida pela indstria do vinho nas dcadas recentes, tem sido uma melhoria geral da qualidade. Para merecer a designa-

    o de vinho de qualidade, no dever apenas saber bem, como tambm con-tribuir para o bem-estar fsico. Parece portanto, que consumir vinho regu-larmente, de forma responsvel e com moderao (Wine in Moderation), pode contribuir para uma maior longevidade e qualidade de vida.Embora a qualidade mdia do vinho produzido na Europa, tenha atingido um recorde, os diferentes estilos e tipos de vinhos tornam-se cada vez mais unifor-mes. A proliferao da cultura das mais populares castas por todas as zonas do globo, associada s modernas tcnicas e conhecimentos em enologia e viticul-tura, aumentam ainda mais a referida tendncia para a uniformidade. Actual-mente, esta realidade tende a inverter--se, tornando-se moda beber vinhos dis-tintivos com enorme carcter regional e gentico.Hoje em dia, o Mundo dos Vinhos maior e bastante mais diversificado. As indstrias do vinho operam agora em todas as regies do Mundo, utilizando as redes de transportes modernas que

    O desenvolvimento da Vitivinicul-tura est intrinsecamente ligada ao nascimento da civilizao e cul-turas europeias, particularmente na regio Mediterrnea. A Regio Vitivincola do Algarve localiza-da no extremo Sul de Portugal, coincide geograficamente com o distrito de Faro. Toda a sua rea corresponde zona produtora de Vinho Regional Algarve e vinho Licoroso de Indicao Geogrfica "Algarve".

    Os Vinhos e a Regio Vitivincola do Algarve

    Por Carlos Gracias, Presidente da CVa Comisso Vitivincola do algarve

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    existem sua disposio, o que lhes per-mite exportar e importar com grande facilidade os seus produtos. O mundo globalizado actual j no se coaduna com vises romnticas em relao ao vi-nho; a atraco do vinho abrange, agora, todas as camadas da populao, tornan-do-se um produto de transformao e consumo em massa.As diferentes referncias de vinhos disposio dos consumidores so enor-mes, mesmo para os peritos do sector. No entanto podemos tentar dividi-las em quatro grandes categorias: O maior grupo com um padro de qua-lidade mnimo, o que comercializado a baixos preos no mercado; O segundo grupo engloba vinhos mo-dernos para consumidores mais sofisti-cados e a preos elevados que justificam o seu prestgio; A terceira categoria inclui os vinhos tradicionais, no melhor sentido do ter-mo, que esto a ter um real crescimento junto dos consumidores conhecedores. Estes vinhos so produzidos e engarra-fados perto das vinhas com os melhores

    cuidados e sentido de responsabilida-de, utilizando mtodos naturais tan-to na vinha como na adega. Reflectem as caractersticas das castas regionais de uvas de que so feitos e a sua maior vantagem so o facto de serem fceis de beber e da relao qualidade/preo ser facilmente compreendida pelo con-sumidor; O quarto grupo, mais pequeno, rene os vinhos verdadeiramente notveis e de alta qualidade, que so comercializa-dos a elevadssimos preos no mercado e consumido apenas pelas elites.No querendo fazer juzos, deixo para vossa reflexo a potencial incluso dos Vinhos do Algarve numa dessas cate-gorias, reforando a ideia que a regio pretende afirmar-se, no pela quanti-dade, mas sim pela qualidade e especifi-cidade das suas produes que, aliando a sua localizao nica, de influncia Mediterrnea e Atlntica, confere carac-tersticas especiais aos vinhos aqui pro-duzidos, determinadas essencialmente pelo Terroir e competncia do vitivini-cultor e enlogo.A crescente internacionalizao dos vi-nhos portugueses, no est limitada aos apoios financeiros existentes, tem-se desenvolvido sim, em consequncia do aumento da nossa capacidade produ-tiva, da diminuio do consumo inter-no e ao aparecimento de novos pases consumidores. Mesmo assim, no fcil coloc-los em condies vantajosas em muitos mercados externos. Os Vinhos do Algarve com uma boa relao pre-o/qualidade, esto a conquistar novos mercados e tm altas expectativas para futuras exportaes, nomeadamente China, Rssia e Amrica do Norte.Num perodo em que as exportaes so essenciais para a recuperao financei-ra do pas, o sector do vinho contribui para essas exportaes com mais de 600 milhes de euros. Se o anunciado aumento da taxa do IVA para o vinho for concretizado, dar-se- uma grande machadada no sector, retirando e redu-zindo a margem de manobra e compe-titividade, que associado actual crise econmica, contribuir concerteza para o encerramento de muitas estruturas produtivas.

  • Herana de famlia, a Quin-ta da Vinha um projecto iniciado por Jos Manuel Cabrita, empresrio que assumiu, no incio deste sculo, as rdeas da produo vitivincola aps falecimento do seu progenitor, an-terior proprietrio dos cerca de 6,6 hectares pertencentes Quinta e que produzia vinho de cariz tradicional.Depois do falecimento do meu pai de-cidi elaborar um projecto com cunho mas profissional para a feitura de vinho de qualidade e isso passou, primeira-mente, pela remodelao das vinhas, introduzido, uva indgena Negra Mole, algumas variedades de uva como a Ara-gons, Touriga e Trincadeira, castas que me passaram a dar outras garantias. A ideia inicial no era contruir adega, pas-sava por transportar o vinho para a Co-operativa de Lagoa, todavia optei, e em boa hora o fiz, por avanar de forma in-dividual na feitura e comercializao do vinho, contextualiza o empresrio. Com a ajuda de incentivos do PRODER Pro-grama de Desenvolvimento Rural, Jos

    Manuel Cabrita colocou o know how de famlia para, j em 2006, dar um passo rumo excelncia, rodeando-se de uma equipa capaz de responder aos seus an-seios, onde se destaca Cludia Favinha, enloga e actual directora de produo.MARCA CAbRITA j FEz HISTRIAOs vinhos com a marca Cabrita esto posicionados como Vinhos da Regio do Algarve, sendo que a Quinta da Vinha produz, no presente, trs tipos distintos: branco, tinto e ros. Estamos a planear a introduo da reserva branco e reser-va tinto que, muito possivelmente, es-

    taro no mercado por alturas do Natal, desvenda Cludia Favinha.No estando vocacionada para a produ-o em grande escala, a Quinta da Vinha obtm uma mdia de quatro toneladas de uva por hectare, metade do que os nossos entrevistados desejariam, po-rm estes nmeros que originam cerca de 20 mil garrafas tm uma razo: o controlo de qualidade logo no incio da cadeia de feitura de vinho fazemos uma

    Em Silves est situada a primeira casa algarvia a ter um vinho premiado com a Grande Medalha de Ouro num certame internacional. Foi este ano, no Grande Con-curso Mundial, em bruxelas, que o tinto Cabrita 2009 foi condecorado, vinho que muito embora ainda no es-teja nos circuitos de comer-cializao poder funcionar como uma alavanca para o reconhecimento dos ncta-res algarvios perante o gran-de pblico.

    A nica Grande Medalha de Ouro do Algarve mora aqui

    Quinta da Vinha

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    pr-vindima e seleccionamos apenas a uva adequada, na relao de 1/3 da to-talidade, observa o interlocutor. Este ano, o Cabrita tinto de 2009 j fez histria sendo-lhe atribuda a Grande Medalha de Ouro em Bruxelas, o primei-ro vinho do Algarve a merecer tal distin-o. Vale o que vale, mas uma coisa certa, vamos ficar para a histria dos vi-nhos algarvios como os primeiros grande medalhados. Uma honra que nos deixa vaidosos e que vem na senda do Cabrita 2008 ao qual j tinha sido atribudo, em certames anteriores, pontuaes de pra-ta, em Londres, e ouro em Bruxelas. O Cabrita 2009 superou a barreira e trouxe a Grande Medalha de Ouro, destacam os entrevistados, visivelmente regozijados pelo facto. Questionada acerca da com-petitividade dos vinhos nacionais na l-tima dcada, a enloga foi eloquente: o vinho portugus , agora, sinnimo de qualidade, j que existe uma preocupa-o na feitura dos vinhos, para que estes sejam assumidos como vinhos de quali-dade, caso contrrio no penetrariam no mercado externo; tudo isto se deve ino-

    vao tecnolgica e capacidade e know how que os intervenientes no sector fo-ram adquirindo. No que concerne comercializao, os apreciadores poderam encontrar a mar-ca Cabrita em alguns pontos de Lisboa, mas no mercado local, concretamen-te na restaurao e garrafeiras que se concentra a maior fatia das vendas. Na sustentao do caminho que a empresa est a percorrer, a estratgia futura j est delineada por Jos Manuel Cabri-ta: o lanamento de mais duas marcas com a chancela de qualidade Quinta da Vinha, vinho que seja assumido como topo de gama que seja visto pela crtica nacional e internacional, destaca Cla-dia Favinha, declarao complementada por Jos Manuel Cabrita: os mercados da Blgica, Sua e Alemanha sero oportunidades de negcio que quere-mos explorar. De ressalvar ainda que os nossos entre-vistados esto empenhados em abrir a adega ao pblico em geral, com visitas s vinhas, instalaes e participao na prova de vinhos Cabrita.

    Cladia Favinha e Jos Manuel Cabrita

  • 6 Outubro 2011 Pontos de Vista

    A que se deve a criao da Quinta do Bar-ranco Longo, sabendo de antemo que no tinha qualquer relacionamento com a actividade vitivincola?Em termos de projecto, a quinta do Bar-ranco Longo surge h cerca de 10 anos, projecto sem tradio de famlia e sem heranas, ao invs do que acontece em muitos outros casos. Acima de tudo ini-cimos um grande desafio, uma vez que o vinho algarvio no tinha uma imagem nada favorvel, de certo modo compreen-svel j que no havia bons vinhos na re-gio. Foram 40 anos de interregno no que diz respeito produo de bons vinhos, tal devendo-se a alguns factores como: a presso e crescimento urbanstico, com o desenvolvimento do turismo, uma vez que as vinhas estavam situadas na orla mar-tima, terrenos pouco valorizados contra-pondo com terrenos mais interiores que serviam de base produo de amndoa, alfarroba, entre outros, e com o boom das construes, que todos ns sabemos qual o destino desses espaos; os vinhos

    que existiam eram de menor qualidade, com pouca cor e tendo muita graduao, privilegiando-se a quantidade e no dei-xavam saudades a quem os consumia. Nos ltimos anos tem havido uma tenta-tiva de tornear essa imagem desfavorvel, atravs dos pequenos produtores, sem qualquer tipo de concertao com as coo-perativas. No fcil recuperar e apanhar um comboio que j est em andamento, com estruturas bem montadas como so os exemplos dos vinhos do Douro e do Alentejo. Repare que os terrenos no Algar-ve so bem mais onerosos de adquirir do que noutras regies o que nos prejudica. No menos importante, outro dos facto-res que lesaram os vinhos algarvios est relacionado com a falta de mo-de-obra especializada. Foram quatro dcadas de completo abandono.E, observando o marasmo latente, encon-trou neste sector uma oportunidade de negcioA Quinta do Barranco Longo nasce como

    Os consumidores construrama nossa grandeza

    Quinta do Barranco longo o maior produtor privado de vinhos do algarve

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    um desafio pessoal. Decidi explorar esta nova vertente profissional e lanar vi-nhos de qualidade num mercado cheio de oportunidades. No tinha nenhum passado relacionado com o sector, nem sequer a minha rea de formao est relacionada com actividades agrcolas. Todavia, como j estava ligado rea dos citrinos desde 1995, no foi to compli-cado comear a actividade vitivincola.

    Na primeira fase da estrutura de vinhas foram plantados cerca de 10 hectares, sem ter nenhuma experincia nas vi-nhas. Mas essa aventura inicial foi posi-tiva, por vezes bom comear do zero e executar os planos nossa imagem sem qualquer tipo de relacionamento com geraes passadas. Este projecto comeou a potenciar resultados em 2004, ano em que apa-Marcas Barranco longo e Qu As 150 mil garrafas de produo mdia anual tm como grande fatia do mercado a indstria da restaurao. A Quinta do Barranco Longo tem como ex-libris os produtos da marca Barranco Longo Branco Grande Escolha e Branco Viognier, Ros, OakedRose (ros fermentado em madeira), Tinto Aragonez Cabernet-Sauvignon, Tinto Colheita Seleccionada, Tinto Reserva e quatro Reservas Monocasta (Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Cabernet-Sauvignon), bem como o espumante Qu Ros Reserva Bruto, produtos destinados aos mercados nacional e internacional. Ainda durante este ano vai ser lanada uma nova marca Remexido branco e tinto que ser o icon da Quinta da Barranco Longo.

    Rui Virgnia

    Rui Virgnia, licenciado em Gesto de Empresas, no tinha qualquer relao com o sector. Aps um repto lanado por amigos, decidiu colocar em prtica o seu empreendedorismo tendo em vista dotar a regio algarvia de uma marca de qualidade no que concerne ao sector dos vinhos. Uma d-cada aps os planos iniciais a Quinta do barranco Longo um nome incontornvel quando se fala em vinhos da regio do Algarve. A revista Pontos de Vista foi a Algoz conhecer este empresrio que, em entrevista, aborda alguns temas sensveis ao sector, concretamente sua regio vitivincola.

  • Pontos de Vista Outubro 2011 7

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    nhamos as primeiras uvas da quinta e fizemos os primeiros vinhos, sendo que a partir de ento no mais paramos de crescer, a explorao agrcola hoje conta com 75 ha sendo 15 ha de vinha, saben-do de antemo que este um projecto a longo prazo. A Quinta do Barranco Longo surge numa altura em que os vinhos nacionais esta-vam a fazer a transio para o patamar de qualidade que hoje patenteiam em todo o mundo. Consideram que a evoluo tecnolgica e a introduo de exigncias superiores verificadas em Portugal contri-buram para a fora deste projecto?H dez anos, esse impulso estava a ser dado, primeiro com o Alentejo e, mais tarde, com o Douro. O Algarve no pode responder a estas regies em termos de domnio de sector porque no produ-zimos em quantidade suficiente para o efeito; auguro que o Algarve ter, sem-pre, poucos produtores cuja vocao centrar-se- em operar em determina-dos nichos de mercado, nunca ter pro-duto que consiga dar resposta para co-brir todo o mercado nacional em massa, nem sequer para hipermercados. Temos que ser objectivos e, actualmente, a rea-lidade do Algarve a aposta nos referi-dos nichos de mercado, como restaura-o, garrafeiras e clientes mdios/altos.E o nosso projecto surge por a, pela explorao dos nichos, como os turis-tas nacionais e estrangeiros que vm procura de produtos regionais. Ora, no fazia sentido no haver vinhos do Algar-ve nos bons restaurantes e o Barranco Longo tem vindo a quebrar sucessivas barreiras na introduo e promoo dos

    Vinhos da Regio e essa proactividade levou-nos a suplantar os outros produ-tores, somos lderes de mercado.Ter qualidade para ter mercado, esse o vosso propsito?H dois anos a Regio de Turismo do Algarve editou um guia subordinado gastronomia e restaurantes da regio, no qual questionavam os proprietrios dos restaurantes acerca das marcas de vinho das suas garrafeiras, sendo que a resposta foi elucidativa: 80 por cento dos clientes tinham o nosso vinho. Esse tem sido meu trabalho desde o primei-ro dia; em primeiro lugar, ter qualidade, em segundo, ter mercado. Quem pensar o contrrio melhor dedicar-se a outro tipo de actividade.Qual a estratgia comercial adoptada para a tal conquista do mercado?Abordmos o mercado de uma forma muito objectiva, que passou por, primei-ramente, atingir os que esto nossa volta e ir, posteriormente, alargando o raio de aco. A estratgia revelou-se eficaz com a grande aposta a ser o boca--a-boca. A Quinta do Barranco Longo no envia vinhos para concursos, porque acredito que as medalhas so efmeras e um produtor no pode estar espera que um vinho seu vena um concurso para poder vend-lo. No concordo que um trabalho que leva anos a preparar seja avaliado por um jri restrito, para se levar uma medalha quando muitos dos concursos so negcios com inscries carssimas. A verdade est no mercado, e so os consumidores que nos avaliam e que fazem a triagem.

    A Quinta do Barranco Longo nasce como um desa-fio pessoal. Decidi explorar esta nova vertente profissional e lanar vinhos de qualidade num mercado cheio de opor-tunidades. No tinha nenhum passado relacionado com o sector, nem sequer a minha rea de formao est relacio-nada com actividades agrcolas

  • 8 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Terra de enormes tradies vitcolas e vincolas, a deno-minada Costa Azul, situada a sul do esturio do Tejo, assume-se como o bero de duas cas-tas muito afamadas, o Castelo (casta tinta) e a casta branca Moscatel de Setbal, casta essencial na produo do premiado e aclamado vinho lico-roso com o mesmo nome. A Revista Pontos de Vista foi conhecer esta Regio e os vinhos que aqui se pro-duzem, tendo conversado com Henrique Soares, Presidente da Comisso Vitivin-

    cola Regional da Pennsula de Setbal, nestas funes h trs anos, que nos revelou as verdadeiras potencialidades do sector dos vinhos nesta Regio, as dificuldades que atravessam muitos dos players existentes no sector, as razes porque os vinhos desta rea geogrfica so dos mais afamados do mundo, sem esquecer que necessrio ter extremo cuidado com as alteraes fiscais que se pretendem implementar no sector dos vinhos, pois se no forem bem estuda-das e analisadas podero representar uma machadada fatal para alguns dos

    A Pennsula de Setbal circundada pelo Oceano Atlntico e pelos rios Tejo e Sado. A Regio, situada a sul de Lisboa, distingue-se es-sencialmente pelo turismo e pelas grandes exploraes vitcolas. Desde as grandes exploraes dominadas pela casta Castelo at ao Moscatel de Setbal, um dos mais celebrados vinhos generosos nacionais, esta regio sempre teve um lugar cimeiro na histria dos vinhos portugueses, sendo uma referncia ao nvel dos vinhos em Portugal e alm-fronteiras.

    Sector com potencialem Portugal

    Vinhos da Pennsula de setbal

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    intervenientes neste sector. Quando se aborda a temtica dos vinhos e a actuao de instituies anlogas Comisso Vitivincola Regional da Pe-nnsula de Setbal desde logo compre-endemos que os desafios so dirios e de enorme dimenso. Assim, num con-texto de crise econmica os desafios esto sempre limitados, embora a din-mica imposta na CVR da Pennsula de Setbal tenha permitido contribuir para perpetuar um trabalho de relevncia em prol dos vinhos da regio, levado a cabo por todos os seus produtores alguns dos quais so empresas centenrias. O desa-fio passa por continuar a consolidar os servios da Comisso Vitivincola Regio-nal da Pennsula de Setbal ao nvel da certificao da origem, numa vertente mais direccionada para o servio aos nossos clientes que so as empresas produtoras e/ou engarrafadoras de vi-nho da Regio. Por outro lado, o desa-fio passa tambm por continuar a criar iniciativas e mecanismos que permitam a promoo e a divulgao do Moscatel de Setbal, dos Vinhos de Palmela e dos Vinhos da Pennsula de Setbal aqum e alm-fronteiras. Embora deva reconhe-cer que neste mbito estamos sempre condicionados pela nossa capacidade oramental, reconhece Henrique Soa-res. importante compreender que a Co-misso Vitivincola Regional da Penn-sula de Setbal assume-se como uma estrutura interprofissional, munida de uma assembleia geral, composta pelos produtores e comerciantes de vinho da regio, sendo que as prioridades e es-tratgias, bem como os investimentos realizados na vertente da promoo e divulgao passam sempre pela deciso anual dos principais interessados, ou

    seja, aqueles que so os clientes da Comisso Vitivincola Regional da Pe-nnsula de Setbal, produtores e comer-ciantes da regio. Assim, sempre que temos uma opor-tunidade e as empresas achem interes-sante o nosso envolvimento, realizamos aces de cariz promocional em prol do mercado externo, esclarece o nosso entrevistado, lembrando que neste mo-mento a preponderncia passar por uma promoo no mercado interno. A crise econmica encontra-se cada vez mais presente e sente-se sobremaneira em todos os sectores econmicos do pas. Ser que a regio da Pennsula de Setbal tem sabido adaptar-se aos cons-trangimentos provocados por esta crise econmica? Segundo Henrique Soares no existem quaisquer dvidas que sim, principalmente no domnio do binmio qualidade/preo. o mercado que o afirma. A regio tem sido, ano aps ano, exemplar nesse domnio. No ltimo ano, esta regio acabou mesmo por ser a nica regio a conseguir aumentar a sua quota de mercado nos vinhos com origem certificada. Temos inclusiva-mente a esse nvel um peso ainda mais

    As exportaes do vinho portugus tm aumen-tado nos ltimos anos, consi-deramos portanto que temos dado um contributo decisivo para a melhoria do equilbrio da balana de transaces correntes

    Henrique Soares

  • Pontos de Vista Outubro 2011 9

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    significativo e superior em termos de quota de mercado comparando com o que o nosso peso global no contexto de produo de vinhos em Portugal. Isso demonstra bem a nossa relevncia no mercado do vinho em Portugal. Acredi-to que a regio tem sabido adaptar-se e comportar-se muito bem ao nvel das vendas, pois tem tido a capacidade de produzir vinhos adaptados ao gosto do consumidor e capacidade financeira de cada um, afirma o nosso entrevista-do.

    NOVAS MEDIDAS FISCAISPODEM SER NEFASTASA notcia de uma possvel mexida na taxa de IVA nos vinhos, caiu que nem

    uma bomba na fileira do vinho. Quais sero as consequncias caso estas alte-raes sejam colocadas em prtica? A Ministra da Agricultura, Assuno Cristas, admitiu recentemente que sensibilizou Vtor Gaspar, Ministro das Finanas, para a necessidade de no termos um enquadramento que desfa-vorea o sector do vinho, sendo necess-rio medidas que ajudem este sector, to fundamental para o pas. Ser que esta medida ir ser apresentada no prximo Oramento de Estado? Quais as reais implicaes que ter? Apesar de assumir que difcil ser im-parcial nesta matria, para Henrique Soares, caso se confirmem estas mudan-as, poder ser bastante pernicioso para o sector dos vinhos, sobretudo porque, neste momento, o mesmo encontra-se completamente espartilhado pela de-nominada grande distribuio, vulgo supermercados e hipermercados, que apresentam actualmente um peso enor-me no circuito comercial, cerca de 80 por cento, tal como explica o presiden-te da Comisso Vitivincola Regional da Pennsula de Setbal. Neste momento cerca de 80 por cento do vinho que se vende no circuito comercial paga, garan-tidamente, impostos. O valor das uvas e do prprio vinho, nos ltimos anos, tem estado estagnado e tem inclusive diminudo. Assim, neste contexto as margens encontram-se muito esmaga-das e se forem introduzidos mais estes factores (IVA e eventualmente IEC) a repercusso at poder no chegar ao consumidor, mas ser absolutamente devastadora para os produtores de vi-nho. importante alertar que caso essa

    medida v avante todas as empresas vi-ncolas sero afectadas e corremos o ris-co dos produtores de vinho desistirem o que aportar um efeito nefasto em toda a cadeia de valor, admite convicto o nosso entrevistado. Embora todas estas questes ainda es-tejam numa fase embrionria, caso seja decidido alterar o IVA no sector do vi-nho o que ser feito pelos intervenien-tes de toda a cadeia de valor do sector do vinho? Segundo o nosso interlocutor o ltimo momento em que o sector do vinho esteve unido, numa situao com contornos semelhantes, remete para o perodo do Governo de Antnio Guter-res, quando o responsvel pela pasta da Administrao Interna de ento anun-ciou um aumento na taxa de alcoolemia.

    Aps dois anos de luta conseguimos ver essa alterao anulada e o valor ini-cial reposto. Poder este cenrio ser novamente re-petido? A conjuntura actual outra e bastante diferente da anterior. Se a deci-so for radical, eliminando, por exemplo, a taxa intermdia ficaremos com menos margem de contestao, caso contrrio no deixaremos de o fazer. No entanto, se for confirmada essa alterao, o futu-ro do sector avizinha-se extremamente complicado.

    O SECTOR DO VINHOj CONTRIbUI Questionamos o nosso entrevistado so-bre qual poder ser a contribuio do sector dos vinhos para o Pas, principal-mente numa altura em que praticamen-

    te diariamente so pedidos sacrifcios ao pas. Assim, se as empresas estatais e privadas foram chamadas para darem o seu contributo para que o pas vena o seu deficit e melhore o seu PIB, o que poder a fileira do vinho fazer? Para Henrique Soares o sector do vinho

    um importante contribuinte bastante para alm daquilo que a opinio pbli-ca muitas vezes sabe e, por isso, no reconhece com rigor a dimenso desse contributo, que vai para alm da impor-tncia das suas exportaes. O sector do vinho contribui decisivamente atravs do pagamento de impostos. Inclusiva-mente existe uma taxa que incide sobre todo o vinho que se produz em Portugal e que se designa por Taxa de Promoo, criada em 1997, que, como o prprio nome indica, foi criada para ajudar a promover os vinhos nacionais e a sua venda em mercados de exportao, algo que acontece de diversas formas em ou-tros congneres europeus. O que ori-ginal no caso portugus que essa taxa tem funcionado como se de um imposto

    Neste momento cerca de 80 por cento do vinho que se vende no circuito comer-cial paga, garantidamente, impostos. O valor das uvas e do prprio vinho, nos ltimos anos, tem estado estagna-do e tem inclusive diminu-do. Assim, neste contexto as margens encontram-se muito esmagadas e se forem in-troduzidos mais estes facto-res (IVA e eventualmente IEC) a repercusso at poder no chegar ao consumidor, mas ser absolutamente devasta-dora para os produtores de vinho.

    No ltimo ano, esta regio acabou mesmo por ser a ni-ca regio a conseguir aumentar a sua quota de mercado nos vinhos com origem certificada. Temos inclusivamente a esse n-vel um peso ainda mais significativo e superior em termos de quota de mercado comparando com o que o nosso peso global no contexto de produo de vinhos em Portugal

    se tratasse. Este valor pago tem servido para financiar as nossas prprias estru-turas de controlo pblico e dessa forma poupado muitos milhes de euros ao errio pblico, apesar da restruturao das mesmas, o valor sacado ao sector permanece imutvel o que faz com que essa taxa se tenha tornado literalmente num imposto, revela Henrique Soares. Desta forma, na opinio do nosso en-trevistado, o sector do vinho tem vindo claramente a contribuir nos ltimos anos, principalmente, como j foi referi-do, ao nvel das exportaes, at porque o mercado dos vinhos, a nvel interno, tem estado estagnado em matria de consumo. As exportaes do vinho portugus tm aumentado nos ltimos anos, consideramos portanto que temos dado um contributo decisivo para a me-lhoria do equilbrio da balana de tran-saces correntes.

    AGILIzAR PROCESSOSEM PROL DO SECTORPara Henrique Soares as expectativas das vindimas para 2011 so franca-

    mente positivas do ponto de vista da qualidade, afirma convicto, lembran-do que, normalmente, quando existem anos complicados ao nvel da quantida-de, a qualidade superada relativamen-te a outros anos. Este ano vai passar-se o mesmo e estamos bastante preocu-pados, porque conhecemos casos bas-tante anmalos de pessoas que trata-ram igualmente vrios campos em que alguns foram vindimados e outros no. Estimamos uma quebra na ordem dos 25 por cento, face ultima campanha, mas estamos muito optimistas relativa-mente qualidade do vinho, salienta o nosso entrevistado.A terminar, Henrique Soares assegurou que a orgnica da Comisso Vitivin-cola Regional da Pennsula de Setbal manter o mesmo diapaso, ou seja, apoiar os seus clientes em tudo o que nos for possvel. Iremos ainda apos-tar na proximidade com as empresas atravs do nosso novo portal. Estamos a proceder a uma melhoria significati-va nesta componente que vai permitir aproximar, facilitar e agilizar a relao com os nossos clientes. Ir encurtar prazos de resposta, melhorar o fluxo de informao e poupar tempo e ou-tros recursos s empresas, sendo uma verdadeira oportunidade de criao de valor, ou seja, queremos promover um instrumento de valorizao do negcio das empresas. O segmento privado do portal estar pronto ainda este ms de Outubro, sendo que a vertente pblica estar operacional em Novembro, fi-naliza Henrique Soares, presidente da Comisso Vitivincola Regional da Pe-nnsula de Setbal.

  • 10 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Repleta de espaos mpares, as vinhas da Casa Ermelinda Freitas localizam-se em Fer-nando P, zona privilegiada da regio palmelense, sendo que esta casa h j quatro geraes que vive dedicada produo de vinhos, com diversas castas, facto que per-mite, entre outros, produzir alguns dos melhores vinhos da regio e do mundo. Aqui nada deixado ao acaso, sendo esse pequeno pormenor que marca a diferena e que tem permitido Casa Ermelinda Freitas ser hoje uma refern-cia a nvel nacional e no s, permitindo que cada um de ns deguste alguns dos melhores vinhos, o verdadeiro nctar dos Deuses. A Revista Pontos de Vista foi conhecer a Casa Ermelinda Freitas e chegados l fomos imediatamente recebidos pela anfitri Leonor Freitas, rosto da quarta gerao frente dos destinos da Casa Ermelinda Freitas e que respira amor em toda a sua essncia por todo este es-pao e pelo que ele representa para si, para a sua famlia, para a regio e para Portugal. Mas quais as principais razes do suces-so da Casa Ermelinda Freitas? Qualidade do vinho? Das vinhas? Capacidades tec-

    nolgica imposta na orgnica da mar-ca? Todas estas razes so validas para exprimir e justificar o xito alcanado por esta casa. Contudo, segundo a nos-sa entrevistada, a principal razo pas-sa mesmo pelo facto de Leonor Freitas representar a quarta gerao da Casa Ermelinda Freitas, bem como pelo facto de ter sido reunida uma equipa que tm contribudo sobremaneira para o elevar do desgnio da marca. Reunimos uma equipa jovem, qualificada e com amor por tudo o que envolve esta casa, assu-me a nossa entrevistada, no sem antes deixar uma palavra de apreo e reco-nhecimento a Jaime Quendera, enlogo da Casa Ermelinda Freitas e que tem sido fundamental. Tem acompanhado esta casa desde sempre e at costumo dizer que crescemos juntos. muito im-portante para ns, refere Leonor Frei-tas, lembrando que a potencialidade da regio onde se encontram tambm tem sido essencial para o nosso sucesso.

    SAbOREAR EM QUALQUERPARTE DO MUNDODeslindadas algumas das razes do su-cesso de uma marca que, por curiosida-de, quase sempre teve mulheres no seu comando, foi s a partir de 1997 que a

    A Revista Pontos de Vista foi visitar um dos espaos mais nobres de Portugal, a Casa Ermelinda Freitas, que pode ser encontrada depois de atravessarmos campos infi-nitos de vrzea observando o Castelo de Palmela que se avista at da margem lisboeta do Tejo, tendo a Ar-rbida como pano de fundo. Desviando para Fernando P rapidamente se encontra com a excelncia da Casa Ermelinda Freitas e aqui co-mea esta viagem, onde se respira histria e culturae envolvemo-nos

    Excelncia dos Vinhos e a Histria de uma Regio

    Casa ermelinda Freitas

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    nossa entrevistada, Leonor Freitas co-meou a liderar a empresa, tendo sido neste perodo que a marca iniciou a sua produo com marca prpria, embora em quantidades muito exguas, tendo chegado ao mercado dois anos depois, em 1999, continuando a empresa a co-mercializar vinho da mesma forma que sempre o fez, ou seja, a granel, algo mo-dificado a partir de 2002, em que deixa-mos de comercializar a nossa produo a granel e criamos marcas prprias, per-feitamente identificadas com o que pre-tendamos, ou seja, vinhos de excelncia e que aliam o binmio qualidade/preo na sua globalidade, assevera a nossa in-terlocutora.

    Apesar da actual conjuntura econmica no ser a mais positiva, fruto da crise econmica sentida um pouco por todo o mundo, a Casa Ermelinda Freitas vive actualmente um perodo de grande ex-panso, cenrio visvel e reflectido nos investimentos realizados em novas in-fraestruturas e equipamentos e que tm permitido Casa Ermelinda Freitas ser hoje um exponente nesta rea. Assim, o mercado externo tem sido tam-bm alvo de uma forte expanso na or-gnica da marca, representando actual-mente cerca de 35 por cento do volume de negcios da Casa Ermelinda Freitas, existindo boas perspectivas para que esta quota seja incrementada ainda no No tenho dvidas que as dificuldades aumenta-ro e alguns players existen-tes nesta rea, principalmen-te os mais pequenos, vero a sua sobrevivncia e continui-dade em risco

    Leonor Freitas

  • Pontos de Vista Outubro 2011 11

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    decorrer deste ano. Temos boas expec-tativas para alcanar os 40 por cento a nvel externo, refere a nossa entrevista-da, lembrando que actualmente pos-svel encontrar vinhos made in Casa Ermelinda Freitas em diversos pontos do mundo, como em praticamente todo o continente europeu, Angola, EUA, Ca-nada, Moambique, China, Macau, entre outros. Sempre que surge uma oportu-nidade a nvel externo apostamos for-temente porque queremos continuar a ser uma referncia nos vinhos a nvel internacional. Alm disso, devo realar uma riqueza enorme que possumos em todo o mundo que so as comuni-dades portuguesas, tambm conhecido como o mercado da saudade e no qual pretendemos estar presentes para as-sim servir os portugueses que mesmo fora preferem produtos lusos, assume Leonor Freitas, garantindo que os prxi-mos mercados a conquistar passam pela Rssia e a ndia. Estar o mercado interno em segundo plano na Casa Ermelinda Freita pela aposta forte realizada a nvel internacio-nal? Segundo Leonor Freitas o mercado portugus extremamente importante para ns e temos grande respeito pelo

    nosso mercado que ainda o nosso principal foco de negcios, explica, as-segurando que a aposta no mercado interno para manter, se possvel forta-lecer, pois ainda existem zonas em Por-tugal em que vendemos pouco e quere-mos aumentar essa quota, assevera. Mas o que mudou na orgnica da Casa Er-melinda Freitas a partir do momento em que foi decidido realizar uma forte apos-ta na expanso dos vinhos desta casa? Competitividade encontra-se intima-mente ligada com a capacidade das em-presas em modernizar-se e apetrechar--se de meios para alcanar os seus fins, ou seja, o sucesso em mercados novos. Assim, a Casa Ermelinda Freitas foi alvo de diversos investimentos fortes ao nvel de equipamentos, como a adega, apetre-chada com a mais moderna tecnologia e que apresenta uma simbiose perfeita entre o moderno e o tradicional. Alm disso, a imagem e o marketing no foram esquecidos pela nossa entrevistada e seus pares, que apostaram fortemente na dinmica da imagem e nas potencialida-des dos seus produtos vitivincolas. Ten-tamos conhecer os mercados em que pretendemos apostar para que os nossos vinhos estejam adaptados aos mercados

    externos e s necessidades existentes, assegura Leonor Freitas, asseverando que no binmio qualidade/preo que assenta o sucesso da marca. Se anteriormente, aquando da chegada da nossa entrevistada, a Casa Ermelinda Freitas apenas detinha vinho Castelo no segmento dos tintos e Ferno Pires nos brancos, este panorama foi altera-do, tendo havido uma forte aposta na modernizao da vinicultura. S assim possvel competir a nvel externo e as-sim preparamo-nos tecnologicamente,

    facto que nos permite oferecer pro-dutos de enorme qualidade. Acima de tudo pretendemos que o consumidor ao ver um vinho da Casa Ermelinda Freitas, seja mais ou menos dispendioso, saiba que est a beber a melhor relao qua-lidade/preo, afirma convicta, assegu-rando que tem sido esta capacidade de oferecer vinhos de qualidade para todas as bolsas que tem permitido tambm ultrapassar a crise econmica instalada e que tambm, naturalmente, se faz sen-tir no sector dos vinhos.

  • Casa ermelinda Freitas

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    O PAPEL IMPORTANTEDO SECTOR DO VINHODiariamente bombardeados com no-tcias que revelam mais constrangimen-tos econmicos, todos os portugueses e sectores econmicos tm sido afectados

    com estes pedidos de sacrifcio por parte do Executivo liderado por Pedro Passos Coelho. Ora, o sector dos vinhos no ser excepo, e poder ser alvo de um conjunto de impostos que podem co-locar em causa a continuidade do sector. Esta possibilidade surge num momento em que o Governo estuda alteraes fis-cais em vrios sectores e produtos, sendo o vinho um dos possveis produtos que podero ver o IVA aumentado e o IEC (Imposto Especial de Consumo) alterado. Para Leonor Freitas, caso essas altera-es venham a ser introduzidas, o futu-ro do sector ficar em risco. No tenho dvidas que as dificuldades aumentaro e alguns players existentes nesta rea, principalmente os mais pequenos, vero a sua sobrevivncia e continuidade em risco, assegura, lembrando que o sector do vinho no per si, ou seja, arrasta consigo um conjunto vasto de outros sectores como a cortia, o vidro, o papel, entre outros e que tambm estes ficaro em risco se essas alteraes vierem a ser concretizadas. Felizmente que o sector tem sabido atravessar as dificuldades actualmente existentes, embora com muitas dificuldades, e assim no pode-mos sobrecarregar, ainda mais, as em-presas existentes neste sector, podendo isso levar inclusive ao encerramento de algumas marcas e naturalmente ao au-mento do desemprego. A Casa Ermelinda Freitas encontra-se lo-calizada numa zona rural, sendo o maior empregador desta rea, devendo este perspectiva do Ministrio das Finanas, liderado por Vtor Gaspar, ter este facto em conta. Neste momento desconheo se os nossos responsveis tm a verda-deira noo do papel importante que a viticultura possui como entidade em-pregadora. Assim, creio que necess-rio ter muito cuidado com as alteraes que se proponham neste sector, pois no podemos correr o risco de criar medidas incomportveis com as consequncias

    que esse facto poder ter no futuro. Alm disso, caso essas alteraes no IVA e IEC venham a ser introduzidas, tenho dvidas que o consumidor tenha capa-cidade para poder continuar a adquirir vinho, revela convicta Leonor Freitas, assegurando que a aposta da Casa Er-melinda Freitas na internacionalizao tambm passou pelas dificuldades eco-nmicas sentidas em Portugal. Temos de encontrar alternativas, salienta.

    PRMIOS E ARESPONSAbILIDADE ACRESCIDATerras do P, Dona Ermelinda e Quin-ta da Mimosa so apenas algumas das estrelas produzidas na Casa Ermelin-da Freitas e que tm alcanado diver-sos prmios, provando que possvel produzir-se excelncia e qualidade em Portugal e ombrear com os melhores a nvel externo. Ora, se estes prmios so motivo de enorme orgulho para a nossa entrevistada e sua equipa, estes tambm aportam consigo maiores responsabi-lidades, pois medida que as expec-

    tativas se elevam, a responsabilidade tambm aumenta. No podemos falhar porque estamos, acima de tudo, a divul-gar o nome da nossa regio e de Por-tugal. Queremos continuar a dignificar o trabalho rural porque fundamental para o pas, revela a nossa entrevistada, ela que em 2008, conquistou o Prmio de Inovao e Empreendorismo, conce-dido pelo Ministro da Agricultura e no ano seguinte, foi-lhe atribuda a Comen-da de Ordem de Mrito Agrcola, pelo Presidente da Repblica. Em 2010, foi distinguida com a medalha municipal de Mrito Grau de Ouro pelo Municpio de Palmela.

    APESAR DAS DIFICULDADES,VINHO DE ESTE ANO

    FANTSTICOA poca das vindimas apesar de ser uma fase de imenso trabalho sempre considerada como o ponto alto no sec-tor dos vinhos, sendo fundamental para que se alcancem sucessos a nvel comer-cial. Assim, segundo Leonor Freitas as

    vindimas este ano foram complicadas, embora a nossa interlocutora esteja bastante animada e optimista, princi-palmente ao nvel da qualidade do vinho que promete ser de excelente qualidade. No entanto, a produo de 2011 foi me-nor, facto que leva a nossa entrevistada a estar bastante preocupada, principal-mente com os pequenos viticultores que no conseguiram controlar a doena do mldio e no tiveram uvas para colher, revela, assegurando que a realidade na Casa Ermelinda Freitas o inverso, pois a produo foi em quantidades mais elevadas, fruto da capacidade do nosso enlogo Jaime Quendera que conseguiu controlar a doena, revela. Apesar de este ano estar prevista uma quebra de cerca de 20 por cento ao n-vel da produo, para Leonor Freitas a qualidade do vinho algo muito posi-tivo. H alguns anos que no tnhamos uma qualidade to boa, refere a nossa entrevistada.A concluir Leonor Freitas referiu que os projectos em que a Casa Ermelinda Frei-tas se encontra envolvida so diversos, sendo que aquele que requere maior cui-dado e ateno passa pelo alargamento das instalaes existentes. Estamos a lutar para que esse desiderato seja al-canado, embora esteja a ser difcil obter as devidas autorizaes devido a ques-tes do PDM (Plano Director Municipal). Mas acredito que iremos ter este proces-so desbloqueado o quanto antes, porque queremos continuar a ser uma refern-cia e s seremos se continuarmos a apos-tar na qualidade de tudo o que envolve o nosso vinho em prol da nossa regio, finaliza Leonor Freitas.

    Sempre que surge uma oportunidade a nvel externo apostamos fortemente porque queremos continuar a ser uma referncia nos vinhos a nvel internacional. Alm disso, devo realar uma riqueza enorme que possumos em todo o mundo que so as comunidades portuguesas, tambm conhecido como o mercado da saudade e no qual pretendemos estar presentes para assim servir os portugueses que mesmo fora preferem produtos lusos

    12 Outubro 2011 Pontos de Vista

  • J l vai mais de meio sculo desde que a Cooperativa Agr-cola, constituda por Alvar de 7 de Maro de 1958, foi imple-mentada para dar o apoio tcnico e logstico elaborao dos primeiros vinhos da zona, num grande projecto de colonizao de centenas de casais agrcolas e numa plantao de cerca de 830 hectares de vinha.Todavia, a partir da entrada no novo sculo que a inovao aliada a uma nova estratgia ofereceu um novo rumo na valorizao dos vinhos da marca Peges. Entre investimentos de variada ordem, como sistemas de vinificao e estabili-zao a frio, revestimento a EPOXY dos antigos depsitos de cimento, cubas de INOX para fermentao com controle de temperatura, linhas de enchimento e ro-tulagem mais modernas, estao de tra-tamento de guas residuais, a Coopera-tiva de Sto. Isidro de Peges estabeleceu um plano de organizao interna, dando um passo importante na informatizao da empresa e na implementao do Sis-tema da Qualidade certificao pela Norma NP EN ISO 9001 - e HACCP.Duas vezes premiada, a ltima das quais em 2006, pela Revista de Vinhos como a Cooperativa do Ano, a casa de Santo

    Isidro de Peges , nos dias que correm, uma adega modernizada e competitiva, com reconhecimento quer no mbito nacional quer nos mercados mundiais, detentora de variadssimas distines e prmios nos mais destacados certames internacionais de vinhos. Alias, e como nota de rodap, a Revista Pontos de Vis-ta testemunha dos inmeros prmios que vo entrando na listagem desta cooperativa; estvamos a realizar esta entrevista quando fomos interrompidos por uma boa notcia: as castas Syrah e Touriga receberam duas medalhas de

    A histria dos vinhos nacionais nos ltimos 50 anos mescla-se com a da Cooperativa Agrcola de Santo Isidro de Peges, uma refern-cia na produo de vinhos nacionais que, como no poderia deixar de ser, modernizou-se, encontrou novos mercados, internacionali-zou vrias marcas e tem vindo a receber prmios atrs de prmios nos mais variados certames mundiais. A Pontos de Vista esteve em Peges Velhos, no distrito de Setbal, e foi recebida por Mrio Figueiredo, presidente da direco, pelos directores Maria Helena Oliveira e Carlos Pereira e pelo gerente e enlogo jaime Quendera, que nos ajudaram a conhecer melhor o sucesso dos vinhos da casa e as mais-valias resultantes da aposta na inovao.

    Legado honroso, futuro de sucesso2011 ano excepcional nos vinhos da Cooperativa agrcola de santo isidro de Peges

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    ouro e a Aragons foi brindada com a medalha de prata num Feira na Sua. Um boa-nova que fez rejubilar toda a direco, muito embora j seja uma si-tuao habitual, como nos refere Jaime Quendera: felizmente para ns que esta uma das adegas mais premiadas de Portugal, um feito que nos apraz regis-tar. Nos ltimos 10 anos a Cooperativa de Sto. Isidro de Peges j obteve mais de 250 prmios nacionais e internacio-nais. Maria Helena Oliveira comple-menta, sublinhando que muito usual que, em cada evento que participemos, saiamos galardoados. Isto deve-se qualidade dos vinhos de Peges, uma constante nos ltimos 10/15 anos.

    SEM A QUALIDADE DAS UVASNO SE PODE FAzER NADAAs boas prticas laborais, a inovao, o know-how e os melhoramentos tecno-lgicos so fundamentais para a elabo-rao de um vinho de qualidade, porm h um elemento que assume o prota-gonismo de estrela e sem o qual no se brilha: a uva. Sem a qualidade das uvas no se pode fazer nada. Sem boas uvas no h bom vinho. Representamos uma zona privilegiada, as vinhas so muito

    bem trabalhadas pelos scios, e toda esta conjugao faz com que os nossos vinhos sejam reconhecidos e apreciados mundialmente, sublinha o gerente da cooperativa. Jaime Quendera adianta, tambm, que este ano os deuses do nc-tar estiveram do lado de Peges, j que as colheitas so de superior qualidade; os testes de micro-refrigerao reve-laram que este ser dos melhores anos que alguma vez tivemos, portanto posso assegurar-lhe que nos prximos tempos vamos continuar a ganhar prmios. Com esta qualidade impossvel no ganhar-mos prmios, 2011 trouxe-nos vinhos extraordinrios. A Cooperativa de Peges engloba, actu-almente, uma rea vincola de cerca de 1100 hectares, produzindo em mdia dez milhes de quilos de uva, sendo 74 por cento tinta e 26 por cento branca. As castas tintas so compostas pelo Caste-lo (Periquita) 80 por cento, Touriga Na-cional, Aragons, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Shiraz, entre outros, com 18 por cento. Nas brancas predominam o Ferno Pires com 40 por cento, o Mosca-tel 25 por cento, Tamarez, Arinto, Anto Vaz, Chardonnay, rondando os 35 por cento. Com estas castas, a adega conse-gue registar grande diversidade de mar-

    um Terroir nico em PegesTerroir aquilo que todos gostavam de ter mas que muito poucos tm. Esta palavra de origem francesa representa um nmero complexo de factores que influenciam a biologia da videira determinando, dessa forma, a qualidade final da uva e do vinho resultante. As notas aromticas e gosto nico e prprio so caractersticas singulares das vinhas Terroir. A zona de Peges, localizada entre as reservas naturais do Esturio do Tejo e do Sado, Serra da Arrbida e Barros Alentejanos, apresenta condies geogrficas e clim-ticas privilegiadas.O clima de influncia mediterrnea e situada em solo plano designado por Pliocnio de Peges (um solo arenoso formado ao longo de milhes de anos pelo depsito das areias transportadas pelos rios Tejo e Sado) d origem vinhos de caractersticas nicas, um Terroir que s em Peges existe.

    Jaime Quendera

    14 Outubro 2011 Pontos de Vista

  • PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    cas para a sua gama de produtos, indo dos vinhos de mesa aos regionais, aos DOC, garrafeira, colheita seleccionada, Moscatel, aguardentes e espumantes. De ressalvar que a produo engarrafada (mais de 10 milhes de garrafas/ano) vendida totalmente, sendo na ordem dos 80 por cento para o mercado nacio-nal e 20 por cento para o internacional (32 pases) onde se destacam os merca-dos do Reino Unido, Holanda, Blgica, Estados Unidos, Canad, Japo e Pases Africanos de Lngua Portuguesa.Com uma aptido natural para a produ-o vitivincola, Portugal tem ao longos dos ltimos anos a criar uma imagem de superior qualidade, no faltando adjec-tivos para qualificar os vinhos lusos. A subida de patamar deve-se profissio-nalizao e inovao tecnolgica que se reflecte na subida da procura. A ideia muito antiga que os estrangeiros tinham de que o vinho portugus era carras-co dissipou-se completamente. Ac-tualmente os vinhos nacionais so dos melhores do mundo, Portugal criou uma marca de qualidade e os prmios so disso exemplo, contextualiza Mrio Fi-gueiredo. Somos uns privilegiados. No h Pas no Mundo que possua as castas

    de caractersticas indgenas como ns; o clima e solos nacionais oferecem quali-dades uva que so nicas. Temos tudo em Portugal, um territrio to pequeno e com tanta diversidade de vinho; des-de o vinho verde, muito hmido e frio a vinho maduro como o vinho alente-jano ou do Alto Douro, completa Jaime Quendera.

    MOSCATEL DE PEGES NOVA APOSTAEste ano marca, igualmente o lanamen-to de um novo produto Moscatel, casta rainha da regio de Setbal. Sob o nome

    de Moscatel Adega de Peges lanado durante este ms de Outubro e um re-gresso ao passado desta cooperativa no que concerne casta. Estivemos mais de 10 anos sem produzir moscatel devi-do ao adiamento do estabelecimento da Regio Demarcada, regressando agora com um produto de qualidade com es-tgio em barrica de carvalho, vinho que, ressalvo, de enorme qualidade e ser colocado venda por um preo muito competitivo. Esta a grande novidade que apresentamos para o futuro prxi-mo, finaliza Jaime Quendera.

    A nossa principal aposta passa, portanto, pela criao de um centro de competncias de excelncia no s nos ramos da engenharia, energia, segurana, qualidade que caracteriza a nossa presena no mercado, mas tambm em reas como a gesto, sade, desenvolvimento pessoal, con sul toria no sentido de dar continuidade aplicao da nossa misso, principal-mente nas PMEs que so o tecido empresarial que caracteriza a regio onde nos encontramos

    Pontos de Vista Outubro 2011 15

    Da esquerda para a direita: Maria Helena Raposo de Oliveira (Directora), Mrio Figueiredo (Presidente da

    Direco), Carlos Pereira (Director)

  • 16 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Com cerca de dez hectares de superfcie, sete dos quais de vinha, a Quinta dos Abibes reflecte, e bem, a qualidade de um vinho mpar e a excelncia de uma forma distinta de estar no mer-cado, consubstanciado num projecto cujo imaginrio radica em ancestrali-dades caras Bairrada, a Portugal e aos portugueses, ou seja, a vinha e o vinho como elementos estruturantes da cultura lusa. O nosso anfitrio foi Francisco Batel Marques, professor universitrio de carreira na Universidade de Coimbra, proprietrio da Quinta dos Abibes, que apostou na revitalizao da Quinta aps 12 anos de total abandono. Foi adqui-rida pelo nosso entrevistado em 2003, tendo sido alvo de um plano de enge-nharia agrcola de envergadura, mais

    concretamente ao nvel da drenagem e correco de solos, e de subsequente planificao e execuo do plantio das vinhas. Comeamos a viagem e fomos conhecer o espao onde o verdadeiro nctar dos deuses produzido, a vinha da Quinta dos Abibes: e logo a percebe-mos que a distino um acto soberano neste espao, onde o verde se mistura com o aroma da vinha. Mas como que um professor universi-trio se dispe a apostar na vinicultura e nas condicionantes e desafios que este sector comporta? Alm do amor que possui pela terra e a paixo pela eno-logia, para o nosso entrevistado este passo foi importante, tambm por uma questo de essncia de vida, pois temos de ser capazes de fazer coisas diferentes ao longo da nossa vida e sei que este foi o rumo correcto a seguir, revela, lem-

    O dia corria sereno e vistoso num Outono deslumbrado por um Ve-ro tardio que emprestou a sua sagacidade e brisa clida para que este fosse um dia perfeito, principalmente quando chegamos ao nosso destino, ou seja, Quinta dos Abibes, retratada de uma for-ma esplendorosa no sop da Serra do buaco, freguesia de Aguim, concelho de Anadia.

    Conhea, desfrutee prove

    Quinta dos abibes

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    brando que este caminho surge tambm porque conseguimos encontrar um es-pao como a Quinta dos Abibes, que fica localizada na zona de onde sou natural, Aveiro, na regio demarcada da Bairra-da, e porque o terreno propcio e tem uma dimenso adequada para o que pretendamos, alm de estar emparcela-do, o que raro nos dias de hoje. Assim, associando a mobilizao de recursos financeiros assinalveis a esses factores, decidimos encetar este projecto que tem representado um desafio constante e com o qual me sinto bastante satisfeito, assegura Francisco Batel Marques.Os investimentos foram assinalveis tendo em conta os 12 anos de total abandono. E assim, o nosso interlocu-tor procedeu a um conjunto de investi-mentos no sentido de corrigirmos os encharcamentos do solo, de natureza argilo/calcrio, em que inmeras vezes os nveis freticos se encontravam mui-to prximos da superfcie, esclarece o nosso entrevistado, assegurando, ainda, que foi tambm necessrio adequar as castas ao perfil de vinhos que tnhamos imaginado e delineado deste o incio deste projecto. E qual era esse perfil? Passava por produzir vinhos de exce-lncia, de qualidade elevada, principal-mente ao nvel dos vinhos espumantes, em que pretendamos que os mesmos fossem modernos e fugissem do cariz etnogrfico comum, sendo mais abertos ao mundo e mais jovens, revela Francis-co Batel Marques.Alm desta aposta no segmento dos vi-nhos espumantes, o nosso entrevistado resolveu tambm dinamizar a produo ao nvel dos vinhos tranquilos, branco e tinto, DOPs Bairrada e que tm sido de excelente qualidade, facto comprovado pelos inmeros galardes e prmios alcanados. De facto temos tido vas-tas compensaes ao nvel de prmios, principalmente atravs de conquistas que realizamos nas designadas provas cegas, nacionais e internacionais, que

    para alm de nos indicarem que o p-riplo que estamos a calcorrear o mais correcto, oferece-nos tambm um es-tmulo para prosseguir, refere o nosso entrevistado, dando a conhecer apenas alguns dos prmios alcanados. Vamos lanar, pela segunda vez, o denominado Quinta dos Abibes Sublime tinto, co-lheita de 2009, em que ganhamos uma medalha de ouro no Concurso de Vinhos de Coimbra e duas medalhas de prata no Concurso Nacional de Vinhos e no Con-curso Mundus Vini, assumidamente um evento internacional de enorme credi-bilidade e prestgio. Devo salientar que, dado a nossa exgua histria e curto pas-sado, estes galardes representam um enorme motivo de orgulho, assume, fi-cando bem explcito nas suas palavras o orgulho por estes feitos, principalmente se analisarmos que, depois de cinco co-lheitas/produes, a Quinta dos Abibes e os seus vinhos, conseguiram conquis-tar, entre ouro e prata, 27 medalhas.

    MERCADO LOCAL DA bAIRRADAESSENCIAL PARA O SUCESSO

    No sector dos vinhos os desafios so dirios e constantes, obrigando a uma enorme capacidade de adaptao e fle-xibilidade. Assim, apesar dos passos da-dos serem de extrema importncia para a Quinta dos Abibes, o prximo desafio

    Francisco Batel Marques

    O vinho espumante da Bairrada assume-se como um vinho caracterstico e es-pecfico da Bairrada, regio me deste vinho e, assim, os grandes provadores e o selo de qualidade dado aos vinhos espumantes desta zona rea-lizado pelo consumidor bair-radino

  • Pontos de Vista Outubro 2011 17

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    passa por concluir a adega, processo que est a decorrer. Pretendemos uma ade-ga simples, funcional e eficiente, sendo esse o nosso principal objectivo a curto prazo, revela o nosso entrevistado. Assegurando que o desiderato da Quin-ta dos Abibes no passa por aumentar o volume de produo, actualmente o espao possui uma capacidade de pro-duo, entre os vinhos espumantes e os vinhos tranquilos, de cerca de 35 mil garrafas. No pretendemos aumentar essa quota, pois sabemos que, ao faz--lo, o projecto ganharia uma dimenso que no seria compatvel com o que pre-tendemos fazer, ou seja, vinhos da mais elevada qualidade, no massificados e direccionados para nichos de mercado e consumidores diferenciados, asseve-ra Francisco Batel Marques, advogando, ainda, que tambm so essas as razes que fazem com que no se possa en-contrar vinhos da Quinta dos Abibes no sector da grande distribuio alimentar, vulgo hipermercados e supermercados. Alm disso no possumos quantidade suficiente para o fazer e por outro lado o nosso mercado de 30 mil garrafas assume-se como um espao de procura de excelncia e que nos satisfaz plena-mente pela quantidade de oferta que possumos. Mais direccionados para um segmento social elevado, logo com capacidade de compra, segundo Francisco Batel Mar-ques quem no tiver sucesso no mer-cado local da Bairrada dificilmente ter xito no mercado dos vinhos. Mas quais as razes que levam o nosso entrevista-

    do a proferir estas palavras? O vinho espumante da Bairrada assume-se como um vinho caracterstico e especfico da Bairrada, regio me deste vinho e, as-sim, os grandes provadores e o selo de qualidade dado aos vinhos espumantes desta zona realizado pelo consumidor bairradino. O Bairradino um consumi-dor muito exigente no que toca a vinhos espumantes, esclarece Francisco Batel Marques, assumindo que a aceitao por parte do bairradino pode consagrar um vinho espumante, dando-lhe um cunho de qualidade to bom ou melhor que em concursos de provas cegas. Por esse facto o mercado local da Bairrada extremamente importante em termos econmicos, mas acima de tudo ao nvel da afirmao e credibilidade da marca.

    ONDE AS RAzESNO SO ESQUECIDAS Reconhecidos internamente como vi-nhos de enorme excelncia e credibili-dade, hoje possvel encontrar vinhos provenientes da Quinta dos Abibes em pases como Brasil, Repblica Checa e Sua, embora este processo, tal como reconhecido por Francisco Batel Mar-ques, no tenha sido promovido por ns. O facto de termos iniciado o proces-so de internacionalizao da marca com

    a Repblica Checa e com a Sua prende--se com a especificidade de trabalhar-mos com garrafeiras locais, autctones, e no com distribuidores. Na realidade, o contacto inicial foi realizado por eles, sendo que o passo seguinte passou pela aquisio dos nossos produtos, ainda que em quantidades relativamente pe-quenas, assevera o nosso interlocutor. Reconheo que neste processo fomos mais reactivos do que pro activos, em-bora nesta fase estejamos a fomentar a afirmao da marca no mercado, assu-me, dando a conhecer a estratgia para a internacionalizao da marca. H trs anos ningum conhecia a Quinta dos Abibes. Assim, a nossa estratgia passa por estabilizarmos a produo, algo que ainda no foi concretizado, e posterior-mente pretendemos analisar os mer-cados que consideramos estratgicos, principalmente ao nvel de nicho, solidi-ficando os mesmos com os nossos par-

    ceiros, ajustando essa posio interna-cional com as necessidades do mercado interno. Jamais iremos descurar o sector interno, pois tem realizado um ptimo trabalho sob o ponto de vista comercial com os nossos vinhos e porque estamos gratos ao mesmo pelo apoio que nos deu a quando da nossa gnese. Foi o merca-do alicerce da Quinta dos Abibes, asse-gura convicto o nosso entrevistado.

    QUINTA DOS AbIbESCOMO ESPAO DE REFLEXO A notcia de uma possvel mexida na taxa de IVA nos vinhos e do IEC Imposto Especial de Consumo, provoca agitao no sector do vinho, sendo importante perceber quais sero as consequncias, caso estas alteraes sejam colocadas em prtica. Para Francisco Batel Marques este tema aporta-lhe um misto de senti-mentos, porque embora este aumento,

    no conhece? Gosta de vinho? ProveQuestionamos o nosso interlocutor sobre as mais-valias dos vinhos da Quinta dos Abibes, principalmente para aqueles que gostam de vinho, mas no co-nhecem os produzidos neste espao. Conciso e elucidativo, caso para dizer que as palavras de Francisco Batel Marques nos deixam vinho na boca, pois quem escolhe os vinhos da nossa casa assume desde logo uma experi-ncia nova, capaz de mobilizar os nossos sentidos e de desafiar as pessoas a degustarem os vinhos em diferentes contextos. ser mais selectivo e exigente, pois ao provar um vinho da Quinta dos Abibes estamos a abrir um vasto leque de sensaes que jamais queremos esquecer.

    Vamos lanar, pela segunda vez, o denominado Quinta dos Abibes Sublime tinto, colheita de 2009, em que ganhamos uma medalha de ouro no Concurso de Vinhos de Coimbra e duas medalhas de prata no Concurso Nacional de Vinhos e no Concurso Mundus Vini, assumidamente um evento internacional de enorme credibilidade e prestgio. Devo salientar que, dado a nossa exgua histria e curto passado, estes galardes representam um enorme motivo de orgulho

  • caso se concretize, possa prejudicar o sector, pode tambm funcionar como um verdadeiro estmulo, promovendo uma presso positiva sobre os agentes existentes do sector para fomentar a exportao. Alm disso, permitir uma seleco natural do mercado e apenas resistir quem tem capacidade de inovar e promover a criao de valor, revela o proprietrio da Quinta dos Abibes. A Investigao e o Desenvolvimento deveriam encontrar-se intimamente li-gados ao sector dos vinhos. legtimo afirmar que uma parte do sucesso da Quinta dos Abibes passa tambm pela aposta realizada do ponto de vista tec-nolgico, embora, segundo Francisco Batel Marques, esse pressuposto no seja verificado to aprofundadamente como deveria no nosso pas. Apesar do sector do vinho se assumir como uma fileira econmica de enorme valia para Portugal, no vislumbro que o pas este-ja a fazer o esforo necessrio ao nvel do I&D (Investigao e Desenvolvimen-to). Existem alguns casos, mas considero os mesmos demasiadamente pontuais. Este facto deve ser objecto de reflexo pelos diferentes agentes do sector , as-sume o nosso interlocutor que pretende promover, na Quinta dos Abibes, um es-pao de reflexo entre um conjunto de personalidades interessadas nesta te-mtica. No h nenhum sector de acti-vidade que se possa manter competitivo e sustentvel se no investir em investi-gao e desenvolvimento. O vinho no , por conseguinte excepo referiu.Assumindo-se optimista relativamente ao resultado das vindimas de 2011, para Francisco Batel Marques a qualidade do vinho ser de enorme qualidade, embo-

    Quinta dos abibes

    PV11 VINHOS DE EXCELNCIA

    Vinho com HistriaO Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de Coimbra, imortalizado pela Rainha Santa Isabel, Dona Isabel de Arago, tinha como renda das terras de Anadia e que eram posse do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, um vinho que era obtido bica do lagar. Assim, os agricultores entregavam o vinho ao mosteiro e desse nctar a Rainha Santa Isabel fazia um preparado farmacu-tico com fins medicinais destinado aos enfermos, s mes que no conseguiam amamentar, entre outros. Aps a morte da Rainha Santa Isabel, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha manteve essa tradio, em que o povo designou esse vinho como Vinho Santo, e que foi sempre produzido at ao sculo XIX, perodo em que sua produo foi interrom-pida por dois motivos: a extino das ordens religiosas e a submerso, pelas guas do rio Mondego, do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Recuperado recentemente e depois de ter recebido diversos prmios, entre eles, o Prmio Europeu de Reconstruo Arqueo-lgica, foi projectado pela equipa liderada pelo Arquitecto Artur Crte-Real reatar a produo do que era feito no passado, ou seja, doaria conventual, como as clarissinhas de Coimbra, e o Vinho Santo. A Quinta dos Abibes, segundo Francisco Batel Marques, teve o privilgio de colaborar neste projecto tendo produzido um vinho tinto, monocasta de touriga na-cional, especificamente para o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, vinho que alcanou uma medalha de prata no Concurso Mundus Vini. O que representa para a Quinta dos Abibes esta ligao a um projecto de referncia histrica e cultural? Consubstancia uma componente essencial do vinho, ou seja, estar associado nossa cultura e nossa ancestralidade. algo que devemos fazer recorrentemente, ou seja, associar o patrimnio histrico/cultural, que bastante vasto e rico, com o que sabemos fazer bem na actualidade. Essa simbiose fundamental para que Portugal possa encarar o futuro com esperana, , afirma Francisco Batel Marques.

    ra o nosso entrevistado assegure que a mais-valia de um produto afere-se no fim da cadeia de valor, ou seja, quando o consumidor provar o vinho e manifes-tar a sua opinio.No querendo particularizar, segundo o nosso entrevistado o ano de 2012 ir ser difcil, sendo necessrio, usar da criativi-dade e da inteligncia para conseguirmos

    resistir aos momentos difceis que se avi-zinham. Acredito que quem sobreviver aos anos de 2012 e 2013 ser muito mais forte nos anos seguintes. Temo que a isto se sobreponha um mau ano agrco-la, fruto das condies da natureza, e a a situao pode tornar-se muito mais preo-cupante. Mas estou confiante e optimista, conclui o nosso entrevistado.

  • Pontos de Vista Outubro 2011 19

    A Direco Geral de Veterinria assume--se como o principal bastio ao nvel da Sade Animal em Portugal. Neste mbito, quais os desafios e estratgias que se im-pe actualmente no sentido de promover a Sade Animal? Pela legislao vigente reconhecido DGV o papel de Autoridade Sanitria Veterinria Nacional. Compete-lhe exe-cutar e avaliar as polticas sanitrias, de proteco animal e de sade pblica e animal, no mbito das suas atribuies.A promoo da sade animal reveste-se assim de uma importncia vital no exer-ccio das nossas funes, fazendo sempre parte de toda e qualquer estratgia defi-nida pelos nossos servios. Actualmente, pode afirmar-se peremptoriamente exis-tir um caminho percorrido pelos servios veterinrios oficiais em prol da defesa da sade animal e pblica, que tem dado provas significativas da sua eficcia e efi-cincia no combate a muitas das doenas que tm grassado nos nossos animais. Sempre ser uma das principais preo-cupaes, o combate s zoonoses, tendo especialmente em vista a erradicao dos nossos efectivos pecurios de enfer-midades como a Tuberculose e a Bruce-lose. Estamos certos que o investimento j feito, quer pelos servios veterinrios oficiais, quer especialmente pelos produ-tores pecurios, conduzir naturalmente ao sucesso das polticas em curso. No en-tanto, e no actual contexto, permito-me salientar a importncia cada vez maior do desempenho das nossas funes na resoluo das barreiras sanitrias im-postas por pases terceiros no acesso dos animais e de produtos de origem animal nacionais a esses pases. Facili-tar o acesso a outros mercados, significa que os animais produzidos em Portugal e, naturalmente, os seus produtos tm condies sanitrias certificadas, repre-sentando segurana para os consumido-res portugueses e para os consumidores dos quatro cantos do mundo. Continuar a garantir a entrada de animais e pro-dutos nacionais seguros em mercados

    internacionais, levar naturalmente ao reconhecimento do trabalho exercido pelos nossos produtores, contribuindo para aumentar a cadeia de valor do que produzido em Portugal. possvel olhar a Sade Animal num con-ceito animais/pessoas, ou seja, integrada na Sade Pblica?Essa uma certeza. Tal como referi o pa-radigma sempre animais sos, alimen-tos seguros, consumidores tranquilos. Os surtos de doenas animais podem ter consequncias devastadoras para a sa-de dos animais, para o abastecimento de alimentos, para a economia e para a sociedade no seu conjunto. Algumas do-enas animais provocam tambm gra-ves ameaas para a sade humana. So as denominadas zoonoses. De facto as doenas dos animais tm actualmente um impacto crescente na sade pblica e, por conseguinte, elevados padres em termos de sade animal tm um impac-to positivo na sade humana e no bem--estar dos consumidores. tambm por este motivo que os ser-vios veterinrios em todos os Estados Membros consideram a preveno e o controlo das doenas animais como uma grande prioridade para a Unio Europeia. Esta mensagem insere-se tambm no mbito da estratgia de sa-de animal da UE 2007-2013 na qual abordado e defendido o tema Animais + Humanos = Uma s sade. Esta estra-tgia defende uma abordagem integrada destas matrias, uma vez que muitas so as doenas que afectam tanto as pessoas como os animais. exactamente por essa razo que a o sec-tor de Sade Animal crtico e devemos continuar a apostar no mesmo?O sector de sade animal, ou seja a pro-moo da sade animal, com o trabalho de todos os que nela investem, desde mdicos veterinrios a outros profissio-nais, inclusive os produtores ou deten-tores de animais, tem como prioridade, nomeadamente, proteger e aumentar o estado de sade e a condio dos ani-mais, em especial dos animais destina-dos alimentao humana, permitindo assim o livre comrcio de animais e de produtos animais, de acordo com nor-

    De facto as doenas dos animais tm actualmente um impacto crescente na sade pblica e, por con-seguinte, elevados padres em termos de sade animal tm um impacto positivo na sade humana e no bem-estar dos consumidores, esclarece Susana Guedes Pombo, actual Directora Geral de Veterinria da Direco Geral de Veterinria, em entrevista Revista Pontos de Vista, onde ficamos a conhecer o que tem sido realizado em Portugal em matria de sade animal e que actualmente possvel a Portugal estar ao nvel dos congneres europeus nesta matria.

    Animais sos, alimentos seguros, consumidores tranquilos

    direco Geral de Veterinria

    PV11 SADE ANIMAL

    mas de sade adequadas e as obrigaes internacionais. Quais so as principais lacunas que o sec-tor da Sade Animal enfrenta actualmen-te? Portugal est bem posicionado neste domnio comparativamente aos seus con-gneres europeus?A execuo das necessrias medidas para promoo da sade animal, no ac-tual contexto econmico vivido em Por-tugal, revela-se um desafio que todos te-mos de saber enfrentar. Ser necessrio que as polticas sanitrias desenhadas no coloquem em crise o actual estatuto sanitrio dos efectivos pecurios e, logo, do pas. Pedem-nos portanto maior efi-ccia e eficincia no desempenho das aces. Estaremos altura da resposta em prol da sade e do bem-estar dos nossos animais. Tal como j havia referi-do, os animais e produtos de origem ani-mal produzidos em Portugal tm acesso aos mercados internacionais. Esta situao s possvel porque reconhecido aos nossos animais e pro-dutos um estatuto sanitrio elevado, e porque os controlos exercidos pelos ser-vios veterinrios oficiais so um garan-te de segurana e transmitem confiana aos consumidores dos mercados da UE e dos pases terceiros. A ttulo de exemplo podemos mencionar que a visita de pe-ritos da Federao Russa aos operado-res portugueses que se revelaram inte-ressados em exportar os seus produtos para aquele mercado, foi um enorme sucesso, uma vez que todos eles viram deferida a sua pretenso. At data, e para aquele mercado, esta situao, con-siderando todos os Estados Membros, s foi alcanada por Portugal. Conclu-mos assim, que possvel a Portugal, com empenho de todos os envolvidos, estar ao nvel dos congneres europeus.Que investimento tem sido perpetuado pela Direco Geral de Veterinria no domnio de novos laboratrios, Investiga-o & Desenvolvimento, recursos huma-nos nesta rea, entre outras? No estrito cumprimento da misso que nos confiada, a investigao veterin-ria no faz parte das nossas competn-cias. No entanto, e como no poderia deixar de ser, trabalhamos em parceria

    com um conjunto muito alargado de la-boratrios, designadamente o Laborat-rio Nacional de Investigao Veterinria, que nos prestam a maior colaborao no diagnstico das doenas dos animais e na pesquisa de resduos.Teme que fruto dos cortes que se adivi-nham em diversos sectores de Portugal este sector tambm venha a sofrer cor-tes? Que consequncias podero advir desse cenrio caso se confirme esses cor-tes?Face s enormes restries oramentais sobejamente conhecidas, ser inevitvel que as mesmas abranjam tambm estes domnios. De momento, os servios ve-terinrios esto a avaliar os oramentos previstos para o prximo ano, para que se possam desenhar as adequadas es-tratgias. Todos faremos o melhor para que os investimentos aplicados sade animal nos ltimos 20 anos e que permi-tiram s exploraes pecurias do nosso pas atingir estatutos sanitrios elevados, no tenham sido em vo. O mesmo di-zer, que o principal objectivo, sempre promover o garante da sade animal.De que forma pretende a Direco Geral de Veterinria promover um servio de qualidade nico em Portugal no sentido de Portugal ser actualmente uma refe-rncia nos cuidados animal?Os servios veterinrios oficiais, no pleno desempenho das suas competncias, con-tinuaro a desenhar polticas sanitrias adequadas s enfermidades que assolam os efectivos pecurios existentes no nos-so pas, procedendo sua contnua avalia-o tendo em vista o sucesso da aplicao das mesmas. A execuo destas polticas continuar a ser feita sempre em parceria com as organizaes representativas das vrias fileiras produtivas, dos produtores pecurios e tambm dos particulares. No entanto, devo salientar que deve continu-ar a ser feito um investimento na infor-mao, educao e formao dos consu-midores, dando-lhes a conhecer os seus direitos, riscos e deveres. Esta aposta na divulgao de informao, contribuir por certo para uma sociedade mais es-clarecida, exigente, e que reconhece na-turalmente o papel do animal na vida de todos ns.

    Susana Guedes Pombo

  • 20 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Quando foi criada a Ceva e de que forma que tem vindo a promover a excelncia e qualidade no sector de mercado em que atua no sentido de ser cada vez mais uma referncia neste domnio? A Ceva como empresa a actuar no cam-po da Sade Animal existe desde o final de 1999, criada virtualmente do zero, aps a excluso da diviso veterinria da Sanofi. A filial portuguesa tem cres-cido e pretende ter cada vez mais um papel activo como interveniente no pa-norama da sade e bem-estar animal em Portugal, em sintonia com todo o Grupo a nvel global. O sucesso da empresa deve-se con-fiana que os profissionais de sade veterinria, clientes e parceiros de ne-gcio depositam na nossa equipa bem como nos produtos e servios que for-necemos, onde tentamos integrar desde sempre, inovao e diferenciao.Os nossos valores passam pela dedica-o, contacto de proximidade e, acima de tudo, pela transparncia na resposta s necessidades e expectativas das pes-soas e entidades que connosco estabele-cem uma relao.Temos uma forte presena nos secto-

    res de produo animal (ruminantes, avicultura e suinicultura) onde nos es-foramos, atravs das ferramentas que providenciamos, por acrescentar valor a toda a cadeia de produo, ao contri-buir, para alm da sade dos animais, encontrar solues que optimizem a prpria produo.Na rea dos animais de companhia, trabalhamos no s para melhorar a sade, mas tambm o bem--estar dos animais e, consequentemen-te, prolongar e tornar mais harmoniosa a convivncia entre humanos e os seus animais de estimao. Que solues tem apresentado a Ceva no domnio da Sade Animal? As solues da Ceva, enquadram-se na nossa viso holstica da sade, de ir mais alm na sade animal, abordando preocupaes sociais mais amplas.Mais do que fornecer medicamentos veterinrios, queremos encontrar com os parceiros envolvidos na produo de protena animal solues que a tor-nem cada vez mais eficiente a produo e que impliquem ganhos no bem-estar dos animais.Estamos a trabalhar no combate a zoo-

    A temtica da sade veterinria acarreta pontos bem mais vastos do que somente a preocupao com o animal, so as preocupaes de mbito global, quer de cariz social quer em relao biodiversidade. uma viso holstica do sector, como faz questo de frisar, em entrevista Pontos de Vista, Antnio Pedro Pinho, Mdico Veterinrio e Responsvel de Marketing da Ceva.

    Compromisso para o bem-estarCeva

    noses, doenas transmitidas entre ani-mais e humanos, que representam uma grande ameaa de pandemias. Toda a equipa Ceva, desde o R&D ao Marketing est empenhada em desenvolver actual-mente e no futuro medicamentos biol-gicos que assegurem produo de pro-tena animal segura e de qualidade, uma questo incontornvel nos dias de hoje. sabido que os animais de companhia contribuem fortemente para o nosso bem-estar no s emocional como psi-colgico. Apostamos no prolongamento do elo entre o dono e o seu animal, ao fornecer solues com o intuito de au-mentar a esperana de vida dos animais mas, indo mais alm, para que tenham qualidade de vida. Exemplos dessa aposta passam pela nossa gama de produtos cada vez mais orientada para cardiologia, locomoo e tambm com-portamento. Refere-se mudana de comportamento dos animais?A tendncia que cada vez mais pessoas vivam em cidades e consequentemente os animais de companhia sejam tambm mais urbanos, pouco adaptados vida dos nossos dias. Mudar o comportamen-to dos animais, passa tambm por con-tribuir na mudana de comportamentos e mentalidades das pessoas. Estamos convencidos que a classe veterinria tem um papel determinante na educa-o das pessoas sobre a melhor forma de conviver com os seus animais de companhia, minimizando o seu stress.Tomemos por exemplo o caso dos gatos. Animais muito territoriais e que prefe-rem espaos amplos. Na vida moderna os animais esto confinados a espaos pequenos e sem acesso ao exterior. Por vezes adoptam comportamentos indese-jveis (tais como agressividade, arranhar em excesso, marcao atravs de urina) quando o seu espao invadido ou altera-do. Aqui o dono dever, em conjunto com o seu veterinrio, avaliar o problema, e en-contrar-se um compromisso de bem-estar tanto para o animal como para o dono. A Ceva intervm aqui ao disponibilizar no mercado Feliway, um produto base de uma feromona felina, apenas reconheci-da pelos gatos. Pelas suas caractersticas, Feliway ajuda a criar um ambiente, que na percepo dos gatos, seguro e fami-liar controlando e evitando a adopo de comportamentos inadequados. O objecti-vo proporcionar o bem-estar, tanto para o animal como para o dono.

    Que anlise perpetua para o sector da sade animal em Portugal? No contexto social actual, o sector da sade animal tambm est afectado pela crise econmica que atravessamos. A sade animal resulta da actuao de uma srie de intervenientes: indstria farmacutica, veterinrios, tcnicos, engenheiros zootcnicos, produtores, donos de animais, empresas de nutrio animal, autoridades reguladoras e p-blico em geral. Produzir protena animal tem uma for-te componente econmica. Hoje em dia os custos de produo so de tal forma elevados, com os preos de matrias--primas, combustveis a terem um enorme peso na balana, que obrigam consequentemente a fortes ajustes ora-mentais. Sofremos tambm com a con-corrncia de outros mercados, uma con-sequncia inerente globalizao. No caso dos animais de companhia, a ques-to no se coloca nestes termos pois falamos de afectos; contudo correm-se sempre alguns riscos: de se descurarem tratamentos bsicos ou acrscimo no abandono de animais. importante en-contrar solues e recursos sustentados e sustentveis para que tanto a sade e bem-estar animal e sade pblica como a desejvel viabilidade financeira dos nossos produtores sejam asseguradas. nas situaes de crise que mede a for-a de uma sociedade, e na Ceva acredi-tamos que no dilogo entre todos os intervenientes que se podem chegar a solues de compromisso. Depositamos grandes esperanas no futuro.Que lacunas ainda identifica sector em Portugal? Nem sempre tem havido no sector uma viso integrada que desafie o seu futuro. Contudo, felizmente, por razes de via-bilidade de toda estrutura a tendncia para uma maior eficincia de todo o sistema, envolvendo no s os profissio-nais mas tambm todos os cidados.A legislao existente actualmente , na sua opinio, suficiente?Como pas da Unio Europeia, para alm da nossa prpria legislao, temos nor-mas directivas a cumprir. Claramente a legislao suficiente, podendo em al-guns casos at ser complexa, burocrati-zando assim a sua aplicao. Um impor-tante aspecto a melhorar seguramente a fiscalizao da aplicao dessa mesma legislao.

    PV11 SADE ANIMAL

    Antnio Pedro Pinho

  • 22 Outubro 2011 Pontos de Vista

    Quando que foi criada a Digidelta Sof-tware e de que forma que tem vindo a apresentar solues inovadoras que lhe permitem ser actualmente uma refern-cia a nvel nacional?Ao longo dos ltimos 20 anos, a Digi-delta Software tem conseguido cultivar relaes duradouras com diversas enti-dades governamentais tendo-se mesmo tornado um parceiro preferencial para o desenvolvimento de sistemas de infor-mao oficiais de gesto. O PISA.net um dos nossos principais produtos e foi se-lecionado pelo Governo Portugus como o sistema oficial para a gesto da sade animal em todo o territrio nacional. Quando em 1989, fui abordado acerca da criao de um Sistema de Informa-o capaz de gerir o Efectivo Animal das Exploraes afectas ao Agrupamento de Defesa Sanitria (ADS) de Torres Novas, estava longe de imaginar os sucessos que o Programa Informtico para a Sade Animal (PISA) viria alcanar.Iniciei o desenvolvimento da aplicao ainda em 1989 atravs da Linguagem de programao COBOL com base no Siste-ma Operativo MS-DOS. O desenvolvimen-to da aplicao durou alguns meses e a sua implementao no tardou. Ainda no

    mesmo ano, a Direco Regional do Riba-tejo Oeste, na pessoa do Dr. Silva Cordeiro, pediu a todos os ADS do Pas que elabo-rassem uma listagem de todas as suas Ex-ploraes e Efetivos Animais. Numa poca em que a Informtica em Portugal dava ainda os seus primeiros passos, o ADS de Torres Novas distinguiu-se dos demais ao apresentar uma impressionante lista-gem informatizada que contrastava com as listas manualmente elaboradas pelas restantes Entidades. Impressionados com a listagem obtida atravs do PISA, os res-ponsveis da Direco Geral de Pecuria (actualmente chamada de Direco Geral de Veterinria - DGV), procuraram saber mais informaes e promoveram de ime-diato uma apresentao da Aplicao a to-dos os responsveis de todas as Direces Regionais de Agricultura (DRA) do Pas.Esse encontro causou uma excelente im-presso em todos os presentes levando a que de imediato fosse decidido criar novos mdulos capazes de dar resposta s neces-sidades de controlo da sade Animal no m-bito da abrangncia de cada ADS: O Mdulo de Laboratrio que permitiria a gesto dos resultados dos testes de Laboratrio; e a in-troduo da Ficha Individual do Animal. j em 1990 que o Ministrio da Agricul-

    A Digidelta Software tem conseguido cultivar relaes duradouras com diversas entidades governamentais tendo-se mesmo tornado um parceiro prefe-rencial para o desenvolvimento de sistemas de informao oficiais de gesto, revela Carlos Neves, CEO da Digidelta Software, marca de renome e prest-gio e que tem vindo a cotar-se como uma referncia no domnio da sade animal, principalmente atravs do PISA.net, soluo seleccionada pelo Governo portugus como o sistema oficial para a gesto da sade animal em todo o territrio nacional. Conhea mais ao longo desta entrevista.

    O PISA est em desenvolvimento permanente

    Carlos neves, CeO da digidelta software, em discurso directo

    PV11 SADE ANIMAL

    tura adopta o PISA como o Sistema Ofi-cial para a Sade Animal em Portugal. Ao longo dos anos surgiram outros projetos para particulares e estado. J em 2006 a Digidelta foi escolhida para desenvolver o SiAGRI (Sistema de Informao Agr-cola da Regio Autnoma dos Aores) que consiste num sistema de informao centralizado, em ambiente Web. Esta aplicao permite aos SDAs (Servios de Desenvolvimento Agrrio) a recolha de candidaturas no mbito do POSEI (Regu-lamento (CE) n 247/2006, que estabele-ce medidas especficas no domnio agr-cola a favor das regies ultraperifricas da Unio Europeia) e possibilita ainda s entidades competentes, a gesto, o acom-panhamento e o controlo, imprimindo aos processos celeridade e transparncia. Tambm para a regio dos Aores, somos responsveis pelo SiRURAL (Sistema de Informao Rural), um instrumento de gesto e avaliao, no que diz respeito a recepo, anlise, controlo e acompanha-mento administrativo, tcnico e financeiro das candidaturas e projectos no mbito do PRORURAL. J na rea do ambiente, inici-mos em 2009 o desenvolvimento do SRIR - Sistema Regional de Informao sobre Resduos na regio dos Aores.Apresentam diversas solues para diver-sos sectores de negcio, em especial nas aplicaes para entidades governamen-tais nas reas de sade animal, gesto de fundos comunitrios e ambiente, entre

    outras. Quais so as principais caracte-rsticas dessas inovaes? De que forma representam as mesmas uma mais-valia para os vossos clientes?A implementao de procedimentos internos no levantamento rigoroso dos requisitos, metodologia Scrum e Agi-le no planeamento das equipas de de-senvolvimento, a gesto de incidentes, e gesto documental informatizados, permitem-nos apresentar solues com-petitivas, de elevado nvel de qualidade, dentro dos prazos. A preocupao em criar sempre um User Interface amigvel e funcional, assim como a inovao dos processos da lgica de negcio do cliente, tm-se revelado como fatores-chave para o sucesso da Digidelta no mercado.O PISA.net assume-se como um dos vos-sos principais produtos, tendo sido selec-cionado pelo Governo portugus como o sistema oficial para a gesto da sade animal em todo o territrio nacional. De que forma esta ferramenta importante? Quais so as suas principais funcionali-dades?O PISA utilizado por todas as entidades oficiais e privadas, responsveis pela identificao e sade animal, em todo o territrio continental, regio autnoma dos Aores e da Madeira. Gere cerca de 180.000 exploraes, seus propriet-rios, identificao colectiva e individual do efectivo existente (grandes r