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“A política que estamos a adotar não é uma política de rutura. Estamos a analisar o ponto em que nos encontramos e ver o que é considerado mais estratégico e, para este Governo, a estratégia é apostar mais na formação profissional dos jovens do que continuar a apostar ao mesmo nível na certificação de adultos” Gonçalo Xufre Silva Presidente da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP) SUPLEMENTO DISTRIBUíDO EM CONJUNTO COM O JORNAL PÚBLICO / DISTRIBUIÇÃO NACIONAL - AGOSTO 2012 / EDIÇÃO Nº 19 - Periodicidade Mensal - Venda por Assinatura - 4 Euros APLO EM DESTAQUE LINHA PME CRESCIMENTO CIDADES SUSTENTáVEIS Fotografia: Diana Quintela

Revista Pontos de Vista Edição 19

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“A política que estamos a adotar não é uma política de rutura. Estamos a analisar o ponto em que nos encontramos e ver o que é considerado mais estratégico e, para este Governo, a estratégia é

apostar mais na formação profissional dos jovens do que continuar a apostar ao mesmo nível na certificação de adultos”

Gonçalo Xufre SilvaPresidente da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP)

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sumário

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Os artigos nesta publicação são da responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do editor. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. A paginação é efectuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos da revista, ex-cepto nos anúncios com a localização obrigatória paga. O editor não se re-sponsabiliza pelas inserções com er-ros, lapsos ou omissões que sejam im-putáveis aos anunciantes. Quaisquer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabilidade do editor.

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impressãoLisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, S.A.Distribuição NacionalPeriodicidade Mensal | Registo ERC nº 126093NiF: 509236448Distribuição Nacional gratuita com o Jornal Público

DIRETOR: Jorge AntunesEDITOR: Ricardo AndradePRODUÇÃO DE CONTEÚDOS:Andreia Azevedo | Sara SoaresGESTÃO DE COMUNICAÇÃO:João Soares | Luís Alves | Sandra Arouca | José Basto | Luís Pinto

AssinaturasPara assinar ligue +351 220 926 877 ou envie o seu pedido para Autor Horizonte de Palavras – Edições unipessoal, Lda - rua rei ramiro 870, 5º A, 4400 – 281 Vila Nova de Gaia | Fax 220 993 250E-mail: [email protected]ço de capa: 4,00 euros (iva incluído a 6%)Assinatura anual (11 edições):Portugal: 40 euros (iva incluído a 6%),Europa: 65 euros, Resto do Mundo: 60 euros

*O conteúdo editorial da Revista Pontos de Vista é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.

Em dEsTAquE

22«ENSINO PRIVADO DE MEDICINA – PRECONCEITO OU NÃO?» CESPU – Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário assina protocolo com a Universidade Es-panhola Afonso X, EL Sabio e estala a polémica. António Almeida Dias, Presidente do Grupo CESPU, em entrevis-ta aborda declarações polémicas do conselho regional do Norte (CRN) da Ordem dos Médicos

30INTERNACIONALIZAÇÃO

A aposta da Dyrup em chegar a novos mercados foi ganha. A empresa, que está hoje presente em todo o

mundo, assume como pilares a excelência e a qualidade56NOVA LEI-QUADRO

DAS FUNDAÇÕESPara Manuel Lucas, Diretor Financeiro

da AMI, a falta de transparência de algumas fundações não pode servir de

mote a generalizações 38PME CRESCIMENTOO Santander Totta é hoje o primeiro banco na linha PME Crescimento.Atento à conjuntura nacional emundial, o Banco oferece o produto mais adequado ao cliente

4Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas comentou Novo Regime das Parce-rias Público-Privadas

36Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas – António Domingues de Azevedo e o IV Congresso dos TOC

40Instituto de Física e Fusão Nuclear – Portugal está na vanguarda da exploração espacial 44Vítor Pereira, Diretor do Segmento Classe Business do Barclays: “Apoiar o empreendedorismo é apoiar Portugal”

48 Vice-Presidente da Selfenergy,Miguel Matias, explica como podemos tornar as cidades sustentáveis

58Plexus, líder em Portugal na medição legalde combustíveis líquidos

65 Associação Portuguesa de Podologia– População deve ir ao podologista pelo menos uma vez por ano

72 Comissão Vitivinícola do Dão– Região hoje aclamada como “a Arca de Noédas castas portuguesas”

76 Ideal Drinks – Carlos Lucas lançou-se num projeto que considera inovador

A 22 de março deste ano foi aprovado o novo regime ju-rídico das parcerias público privadas (PPP), uma exigên-

cia que consta no memorando de en-tendimento com a Troika. As PPP têm sido apresentadas como parte do pro-blema que afeta as contas públicas por todos os quadrantes da sociedade, de forma mais ou menos fundada, muitas vezes em simples apreciações como “fi-zeram-se demasiadas autoestradas ou demasiados hospitais”. O certo é que as críticas proliferam!Quanto ao diploma, há aspetos em que este poderia ser melhorado, ainda assim, foca em pontos que terão sido descurados no passado. Quem o diz é o Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, que destaca nos pontos positivos a criação de uma Unidade de Acompanhamento das PPP. “Concentrar numa única entidade o processo de gestão deste tipo de modelo

económico-financeiro tem a vantagem de criar não apenas uma política comum mas também definir metodologias de análise, avaliação e acompanhamento dos proje-tos, o que me parece um avanço relativa-mente ao sistema anterior em que as PPP estavam um pouco dispersas de acordo com os ministérios, de acordo com os projetos, com o âmbito de intervenção de cada um e isso, claramente, era um aspeto negativo que levou a que as politicas não tenham sido muito consistentes”, afirma.Outro ponto positivo para José Azevedo Rodrigues é o facto de serem definidos com clareza os vários instrumentos, ao longo de todo o processo de criação de uma PPP.

Risco, “cAsos dE foRçA mAioR”E fiNANciAmENto

Mais complexo é o problema do risco. Um problema que o próprio diploma não pode quantificar já que o risco está asso-

Em entrevista à Revista Pontos de Vista, o Bastonário da ordem dos Revisores oficiais de contas, deu o seu parecer acerca do Novo Regime Jurídico das Parcerias Público Privadas. José Azevedo Rodrigues acredita que o diploma constitui um avanço significativo em termos regulamentares, mas aponta algumas falhas ao nível do risco, do financiamento e da possibilidade de haver alterações contratuais “em casos de força maior”.

“Nem sempre a nossa cultura e éticanos ajudam a ter bons desempenhos futuros”

ciado a factores que não são passíveis de quantificar em termos normativos. “Nós vivemos num período de grande turbu-lência económica mundial e quando fala-mos em PPP, por norma, falamos em con-tractos de 30 anos e daqui a 30 anos nós não temos certeza de como as coisas serão e por mais legislação que façamos esta vai ser sempre uma área não coberta”, explica o nosso entrevistado.Outra das fraquezas do diploma para José Azevedo Rodrigues diz respeito ao facto de deixar espaço a alterações áquilo que foi contratado, em caso de risco de insustentabilidade financeira, sempre que existirem “motivos de força maior”. Ora, motivos de força maior são dificil-mente identificáveis. Um conceito dúbio que o Bastonário acredita que “poderá levar a situações complexas em termos negociais uma vez que nas PPP existe sempre aquilo a que chamamos de con-flito de interesses”.Por fim, um último ponto negativo ou me-nos claro do novo regime jurídico é, para José Azevedo Rodrigues, a questão do fi-nanciamento, quer em termos de custo, quer de risco. “Penso que nesta área o diploma podia ir mais longe. Infelizmente no passado havia a tendência dos gestores públicos entenderem que o problema do dinheiro não se colocava, o dinheiro apa-recia. O problema é que neste momento o dinheiro não aparece, pelo contrário, de-saparece. Estávamos numa altura em que os países estavam ávidos em construir sobretudo infraestruturas e não tinham o chamado risco país em termos de fi-nanciamento. Como tal, o aval do Estado a um empréstimo bancário era garantia de segurança o que fazia com que fossemos

um pouco displicentes em termos das fon-tes de financiamento e dos seus custos, a par de alguma facilidade no acesso ao fi-nanciamento. Isso é passado e, como tal, a área do financiamento deveria estar mais acautelada no diploma para que, quando o parceiro privado começar a ter problemas de financiamento, não aproveite qualquer pequena alteração que o parceiro público pretenda fazer no contrato para se salva-guardar de necessidades de ajustamentos de financiamento”, refere.Uma preocupação que tem como premissa a própria mentalidade e cultura naciona-os, já que José Azevedo Rodrigues acredita que o novo regime jurídico constitui avan-ços significativos em termos regulamenta-res, no entanto, para o mesmo, o problema das PPP não está nas próprias parcerias mas nas práticas e comportamentos de quem as realiza e na escolha dos investi-mentos. “Toda a PPP que resultar de um investimento que não seja minimamente útil do ponto de vista do interesse públi-co e não seja suficientemente razoável do ponto de vista do enquadramento orça-mental vai constituir um problema. Se, pelo contrário, o investimento tiver um enquadramento devido nos fins do Estado e da função do Estado em termos socioe-conómicos, a PPP seguramente será mais dotada ao êxito. Portanto, a regulamen-tação é útil e nós somos um país muito regulamentado, o que se coloca aqui em causa depois é a prática, o comportamen-to, as atitudes e a cultura. Aspectos muito relevantes nesta matéria porque estamos a falar em empreendimentos de grande volume e nem sempre a nossa cultura e a nossa ética nos ajudam a ter bons desem-penhos futuros”, conclui.

JOSé AzeveDO RODRIgUeS, BASTONáRIO DA ORDem DOS RevISOReS OfICIAIS De CONTASPArcEriAS PÚbLicO PriVAdAS

José Azevedo Rodrigues

OPINIÃO

independentemente de alguns insucessos da associação entre o setor público e o setor privado, as últi-mas décadas ficam marcadas pelo crescimento sustentado da colaboração entre os setores público e o privado, na implementação de infraestruturas cujos destinatários e beneficiários finais são os particula-res. Nessa esteira, Angola aderiu também a este modelo de associação entre o Estado e os Privados, sig-nificando para si, a exemplo de outros países, que a celebração de PPP’s (parcerias público-privadas) será norteada pela limitação dos fundos públicos para cobrir os investimentos necessários, mas também de esforços para garantir a qualidade dos serviços públicos.

“O ministro da eco-nomia de Angola

definiu, através de um decreto executivo publicado em janeiro

do corrente ano, a organização e funcio-namento do Gabinete

técnico de Apoio às PPP’s do ministério

da economia. tal medida legislativa é

implementada com a entrada em vigor do

respetivo regulamen-to interno deste Ga-

binete técnico, o qual tem por missão pres-

tar apoio técnico ao ministro da economia no acompanhamento

do desenvolvimento das PPP’s, em coope-ração com os depar-

tamentos ministeriais sectoriais e órgãos da Administração direta

do estado”

O Ministro da Economia de Angola definiu, através de um decreto executivo pu-blicado em janeiro do cor-

rente ano, a organização e funciona-mento do Gabinete Técnico de Apoio às PPP’s do Ministério da Economia. Tal medida legislativa é implementa-da com a entrada em vigor do respe-tivo Regulamento Interno deste Gabi-nete Técnico, o qual tem por missão prestar apoio técnico ao Ministro da Economia no acompanhamento do desenvolvimento das PPP’s, em coo-peração com os departamentos Mi-nisteriais sectoriais e órgãos da Ad-ministração Direta do Estado. O referido regulamento surge na se-quência da entrada em vigor da Lei das PPP’s publicada em 2011, a qual veio definir o regime jurídico aplicável à in-tervenção do Estado na determinação, conceção, preparação, concurso, adju-dicação, alteração, fiscalização e acom-panhamento global das PPP’s, passando esta lei a ser aplicável, por um lado, a todas as parcerias público-privadas que, careciam de despacho de autorização pelo Titular do Poder Executivo à data da sua entrada em vigor, e, por outro lado, às renegociações, contratualmen-te previstas ou acordadas pelas partes, das parcerias existentes à referida data, nos limites da disponibilidade negocial legalmente permitida. Esta lei estabele-ce como fins das parcerias público-pri-vadas: (i) melhoramento da eficiência na afetação de recursos públicos; e, (ii) aumentar a capacidade do Estado para realizar investimentos e a melhoria qua-litativa e quantitativa do serviço.

O modelo das PPP’s adotado em Ango-la visa estimular o crescimento de um conjunto predefinido de setores desti-nados a assegurar o desenvolvimento de atividades tendentes à satisfação de necessidades coletivas no País. O execu-tivo utilizará na regulação jurídica das relações entre entes públicos e privados os instrumentos seguintes: a) o contrato de concessão de obras públicas; b) o contrato de concessão de serviço público; c) o contrato de fornecimento contínuo; d) o contrato de prestação de serviços; e) o contrato de gestão; f) o contrato de colaboração, quando esteja em causa a utilização de um estabelecimento ou uma infraestru-tura já existente”. Este modelo consubstancia-se no facto de os projetos de PPP’s carecerem de uma apreciação preliminar da denomi-nada CMAPPP (Comissão Ministerial de avaliação das Parecerias Público- Priva-das, a qual é composta pelos Ministro das Finanças, Ministro do Planeamento e pelo Ministro da Economia, que é o Coordenador. Atendendo a esta com-petência de coordenação parecia im-

As PPP’s em ANGOLA

prescindível a criação daquele Gabinete Técnico de Apoio às PPP’s do Ministério da Economia, pelo que daí considerar-se pertinente terem-lhe sido atribuídas as competências de: “a) Validar a estrutu-ração financeira dos contratos no âm-bito das Parcerias Público Privadas; b) Auxiliar o ente público nas negociações com os parceiros privados; c) Acompa-nhar e supervisionar os serviços a se-rem prestados no âmbito das Parcerias Público Privadas, inclusive quanto às cláusulas de desempenho previstas na Lei; d) Elaborar os documentos técni-cos e diplomas legais complementares à Lei; e) Elaborar pareceres preparatórios da tomada de decisão nos domínios das suas atribuições; e f) Realizar as demais tarefas que lhe sejam atribuídas pelo Ministro da Economia”. A implementação do Regulamento In-terno do Gabinete Técnico de Apoio às PPP’s do Ministério da Economia vem enquadrar a estrutura do Regime Jurí-dico das Parcerias Público Privadas em Angola, que está em fase de construção, e que teve o seu primeiro alicerce na re-ferida Lei nº2/11 de 14 de janeiro.

PArcEriAS PÚbLicO PriVAdAS LUíS gAmeIRO, DA gAmeIRO e ASSOCIADOS - SOCIeDADe De ADvOgADOS, R.L. Pontos de Vista Agosto 2012 5

A implementação do regulamento interno do Gabinete técnico de Apoio às PPP’s do ministério da economia vem enquadrar a estrutura do regime Jurí-dico das Parcerias Público Privadas em Angola, que está em fase de constru-ção, e que teve o seu primeiro alicerce na referida Lei nº2/11 de 14 de janeiro

A presença da Troika em Por-tugal é, dia após dia, notada de forma intensa. Por im-posição do Memorando de

Entendimento e de modo a assegurar o controlo do impacto financeiro, era peremtório alterar o regime jurídico das parcerias. Assim, a 1 de julho en-trou em vigor o Novo Regime das Par-cerias Público-Privadas (PPP), publi-cado pelo Decreto-Lei n.º 111/2012, de 23 de maio, aplicável tanto aos novos processos bem como aos con-tratos já celebrados.A partir de agora, todos os riscos a assu-mir por cada um dos parceiros interve-nientes nas PPP devem ser identificados, tal como explicou Hélder Rosalino, Secre-tário de Estado da Administração Públi-ca: “todos os contratos deverão integrar uma matriz de riscos, com clara identifi-cação da tipologia dos riscos assumidos por cada um dos parceiros”. A par disso, com o novo regime, é obrigatório, antes de se avançar para o lançamento e con-tratação de PPP, estudar os impactos orçamentais provisionais, no que diz res-peito às receitas e despesas previstas, ve-rificando ainda a sua comportabilidade de curto, médio e longo prazo.Pedro Leite Alves, Advogado da Jardim, Sampaio, Magalhães e Silva & Associados, encara estas alterações com bons olhos, apesar de ainda conseguir evidenciar vá-rias lacunas. “É um grande avanço. Vem tornar mais previsível o custo público e a sua comportabilidade. Além disso, é importante controlar os gastos das par-cerias que já existem, em dois aspetos: nos processos de reequilíbrio financeiro e nos, porventura excessivos, ganhos dos parceiros privados que decorram desses contratos”, esclareceu. Mas, segundo o advogado, setores com PPP como saúde, obras públicas ou ambiente, continuam a pecar por uma falta de organização, sendo ainda necessário um trabalho mais contínuo e institucional. “A forma de intervenção dos Ministérios nas PPP continua a ser com boas comissões que fazem uma espécie de biscate e depois desaparecem. Deveriam existir unidades que concentrassem o conhecimento so-

bre as PPP e a gestão dos contratos por-que a fase da gestão de uma PPP é o perí-odo mais difícil de todo o procedimento. Ainda existem boas experiências mas são pouco institucionais e temporárias, asse-gurando pouca estabilidade às pessoas que lá trabalham”, defendeu Pedro Leite Alves em conversa com a Revista Pontos de Vista.

UtAP REfoRçA PAPEl do EstAdo

Nos últimos anos, a generalidade das PPP foi feita com recurso a escritórios externos, por “outsourcing”, o que foi reduzindo as competências da Adminis-tração Pública. Assim, e de forma a redu-zir os encargos estatais com consultoria externa, foi criada uma Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos das PPP, na dependência direta do Ministro das Finanças. Para Pedro Leite Alves, esta unidade há muito tempo que de-veria ter sido criada uma vez que “con-centra o conhecimento financeiro sobre as PPP, tal como já acontece nos quatro ou cinco países europeus que têm um grande número de parcerias público--privadas”. À unidade, que será coorde-nada por um elemento que terá um esta-tuto equivalente a diretor-geral, cabe a responsabilidade de liderar os estudos, lançar projetos, negociar contratos de reequilíbrio financeiro e prestar todo e qualquer apoio técnico solicitado.O caso base é, para Pedro Leite Alves, o “coração” da parceria, mais até do que o contrato de gestão. A medição do impac-to das decisões públicas no caso base e do reequilíbrio financeiro e a gestão do contrato de forma a minorar os efeitos desse reequilíbrio financeiro são tarefas que devem ser desenvolvidas por pesso-as perfeitamente capazes e habilitadas para tal. De acordo com o advogado, “dos 40 ou 50 contratos de PPP mais relevan-tes, há dois ou três modelos de caso base. Se o Estado conseguir percebê-los bem, sem recorrer a assessorias externas, e souber compará-los com a realidade, isso será o mais importante. Até hoje não tem sido possível, espero que isso aconteça com esta unidade”, defendeu.

A criação de uma unidade técnica de acompanhamento de projetos na dependência direta do ministro das finanças é a grande novidade do Novo Regime das Parcerias Público-Privadas. de um modo geral, as medidas merecem uma apreciação positiva de Pedro leite Alves. mesmo assim, continua a ser vital “parar, pensar e fazer as coisas de forma refletida”, defendeu o advogado.

Novo regime das PPPem torno de uma maiordisciplina orçamental

fAtoREs QUE PotENciARAmA cRiAção dE PPP

Para Pedro Leite Alves, os regimes de 2003 e 2006 defendiam conceitos que manifestamente traziam maus resul-tados. “Estavam baseados na ideia de que bastava demonstrar que uma PPP custava no limite um cêntimo menos do que um contrato de empreitada, para se poder fazer uma PPP. Era um conceito mau para lançar uma parceria público--privada. Até junho deste ano, ainda era possível lançar uma parceria se se mos-trasse que o custo era inferior ao de uma empreitada, independentemente do va-lor”, disse. Esse facto, juntamente com a ausência de controlo parlamentar sobre os gastos da PPP, na opinião do advoga-do, potenciaram a criação de parcerias público-privadas em catadupa e, como

tudo, existem bons e maus projetos. “A maioria era boas ideias mas a reboque vieram maus projetos que denegriram a ideia das PPP. Quando se percebeu que havia uma despesa grande com elas, em vez de se entender que isso derivava, em grande parte, da falta de controlo parla-mentar, fazia mais jeito falar mal de to-das as PPP”, afiançou Pedro Leite Alves. Hoje, estão reunidos os fatores externos para que as regras impostas pelo novo regime sejam cumpridas. “Estamos em crise, estamos controlados pela Troika, não temos dinheiro para investimento público”, garantiu o advogado. A conju-gação destes elementos são o “driver” para o cumprimento da lei. Mesmo as-sim, Pedro Leite Alves deixou um conse-lho: “temos que parar, pensar e fazer as coisas de forma refletida”. Um conselho que já tem sido colocado em prática.

PeDRO LeITe ALveS, ADvOgADO DA JARDIm, SAmPAIO, mAgALhÃeS e SILvA& ASSOCIADOS fALA SOBRe NOvO RegIme DAS PPP

Pontos de Vista Agosto 2012 7PArcEriAS PÚbLicO-PriVAdAS

Pedro Leite Alves

OPINIÃO

O quadro económico apresen-ta-se extremamente desfa-vorável e os indicadores que diariamente nos chegam

não são, infelizmente, animadores. Aumento da taxa de desemprego, au-mento da carga fiscal, estagnação do crescimento económico, incumpri-mento, por parte das famílias e das empresas, das suas obrigações e com-promissos económicos.A atividade seguradora, como referimos, não é exceção, verificando-se fortes que-bras na sua área de negócio. Em particular no ramo vida, estruturalmente com um peso importante de componente finan-ceira, verificou-se uma queda de 38,1% nos prémios, em 2011. No ramo não vida a queda ficou-se pelos 0,9%, sendo de menos 28,6% para o total do setor. No entanto o setor conseguiu manter, fruto de uma gestão eficiente da sua carteira de investimentos, o saldo positivo entre aqui-lo que devolve à sociedade e aquilo que recebe dos seus tomadores de seguros. Em 2011, o setor recebeu um total de 12,2 mil milhões de euros dos seus tomadores, acabando por devolver à sociedade cerca de 13,3 mil milhões de euros. Na área dos seguros de vida, seguros de pessoas, a redução dos benefícios fiscais tem um efeito sempre negativo na de-cisão de aquisição, como se o governo negasse a importância dos seguros para o bem-estar das pessoas e das famílias e outrossim para o gerar de riqueza com efeitos evidentes no PIB nacional. Em 2011, o peso dos Prémios de Seguro Di-reto sobre o PIB ascendiam a 6,8%, bem evidenciador da importância da ativida-de seguradora para a economia portu-guesa. Em igual sentido, um total de 645 milhões de euros pagos ao Estado em ter-mos de carga fiscal e parafiscal. Acreditamos que a crise que atravessa-mos é também geradora de oportuni-

dades. A preocupação das famílias em relação ao seu porvir dá uma particular importância aos chamados seguros de risco. Coberturas como a Morte, Invali-dez, Incapacidade, encontram assim boa recetividade.Se, por um lado, estamos a falar dum natural aumento dos compromissos mensais familiares, por outro, há um re-forço claro da estabilidade económica e da salvaguarda dos patrimónios através da realização deste tipo de contratos. Bem assim, os seguros de saúde ganham particular destaque, sobretudo e quando o Estado se retira cada vez mais da pro-teção e da oferta, universal e tendencial-mente gratuito, diz a Constituição, e dei-xa ao encargo de cada um a obrigação de suportar custos, normalmente elevados. Neste domínio, o setor segurador têm--se mostrado particularmente dinâmico, ora no volume de produção, ora na dife-renciação e inovação. Tratando-se de um seguro não obrigatório, o seguro de saú-de tem tido taxas de crescimento muito importantes (+8,5% de pessoas seguras em 2010, com um universo populacional de quase 2,2 milhões de indivíduos). Em termos de garantias, o internamento hos-pitalar, o ambulatório e a estomatologia são as coberturas mais frequentemente contratadas. O Setor Segurador é visto, nesta matéria, como uma opção valida à

o ano de 2011 ficou marcado por uma redução significativa no volume de negócios

do setor segurador com uma quebra de cerca de 4.7 mil milhões de euros, comparado com 2010. Que futuro para a atividade segurado-

ra num quadro económico e financeiro ad-verso que, como é sabido, se estende a toda

a Europa comunitária? A gestão prudente, lema fundamental dos seguradores, não

esteve isenta dos resultados dos mercados financeiros, nomeadamente da dívida pú-

blica, que originou perdas significativas nos resultados.

“A atividade seguradora é capazde responder pelos seus compromissos”

redução que se tem verificado no papel social do Estado em relação à população.Uma palavra também para a área da dependência. O aumento da esperança de vida e o envelhecimento da popula-ção vão criar claras necessidades neste domínio. A população sénior em Portu-gal representa 30% da população total. Entre os 65 e os 69 anos de idade, 62% das mulheres e 66% dos homens têm limitações nas suas atividades. A idade média de entrada numa situação de de-pendência (de outrem para auxílio em situação do dia a dia) é aos 71 anos, sen-do que em 2010, 260.000 seniores eram dependentes. Outra oportunidade para a atividade seguradora.Se as oportunidades existem, importa que elas sejam acompanhadas, do lado da gestão das seguradoras, de um grande esforço de racionalização administrativa, controlo de rácios de exploração, num momento de desconhecimento quanto ao próximo futuro quadro de resultados financeiros.Do lado da distribuição, as tradicionais redes de Mediadores, e sobretudo os Mediadores Vida assumirão um papel fundamental no crescimento do ramo vida e particularmente nas áreas do ris-co e dos seguros mistos.O desenvolvimento da atividade comer-cial junto dos Clientes, explicando e con-

vencendo da importância da aquisição de proteção contra as vicissitudes da vida, e num contexto económico e social adversos, ganha particular acuidade e importância.Diversificação, redes de distribuição, capacidade de inovação, espírito empre-endedor e sobretudo vontade e determi-nação, são a resposta adequada ao mo-mento atual e futuro que vivemos.A atividade seguradora revelou sempre, e de forma clara, que é capaz de respon-der pelos seus compromissos e respon-sabilidades. Os portugueses sabem que a sua proteção pessoal, familiar e patri-monial se encontra solidamente entre-gue a empresas que estão na primeira linha da construção da riqueza nacional e de forma sólida. No final de 2011, o rá-cio de solvência global do setor atingiu 181%, sendo a margem de solvência exi-gida de cerca de 2,2 mil milhões de eu-ros e os elementos disponíveis de capi-tais totais atingiram quase 4 mil milhões de euros. No final de 2010 o rácio de solvência era de 174%, o que é demons-trador que, apesar das diversidades económicas, o Setor Segurador é capaz de responder aos seus compromissos. Acreditamos que o “Risco”, elemento in-dispensável para a nossa atividade, está, como sempre esteve, adequadamente ponderado e controlado.

LUíS feRRAz, mANDATáRIO geRAL DA PRévOIR-vIe gROUPe PRévOIR S.A. SETOr SEGUrAdOr

- QUE FUTUrO?

OPINIÃO

Do ponto de vista puramen-te concetual, as parcerias público-privadas encerram, face aos modelos de contra-

tação pública tradicional, a incontor-nável vantagem de transferirem para o setor privado riscos e responsabi-lidades pelo financiamento e a ex-ploração dos projetos. Este aspeto da transferência de riscos, que se deseja, e pressupõe, associado a ganhos de eficiência, racionalidade e qualidade, é suposto propiciar um melhor “va-lue for money” do que as alternativas clássicas de execução de projetos pú-blicos (máxime as empreitadas). O anátema que atualmente se encontra lançado sobre as parcerias público-priva-das respeitará pois, verdadeiramente, às opções políticas de planeamento e investi-mento àquelas associadas, e ao sobre-en-dividamento que geraram, sem esquecer a menos feliz condução de alguns processos (fator este que também se verifica nos modelos de contratação tradicional), não pondo, nem devendo pôr em causa, o con-ceito jurídico de parceria público-privada em si mesmo considerado. Ora, precisamente no plano jurídico, é agora tempo de analisar e avaliar as prin-cipais mudanças trazidas ao regime das parcerias público-privadas, pelo Decre-to-Lei n.º 111/2012, de 23 de maio (de ora em diante designado por NRJPPP). Na senda do anterior Decreto-Lei n.º 86/2003, de 26 de abril, revisto e repu-blicado pelo Decreto-Lei n.º 141/2006, de 27 de julho, o NRJPPP continua a ter

por objeto os procedimentos internos a observar pelo setor público estatal, tan-to na fase da preparação e lançamento das parcerias público-privadas, como na fase de execução e acompanhamento dos respetivos contratos. O NRJPPP mantém como pedra de toque a demonstração do interesse público das parcerias e da sua maior racionalidade e eficiência relativamente a formas al-ternativas de contratação. Mantém-se, igualmente, a exigência de uma clara iden-tificação da partilha de riscos e de uma significativa e efetiva transferência destes para o parceiro privado. O setor público deverá, além disso, continuar a ponderar os encargos e os riscos das opções toma-das, nomeadamente no que respeita à sua comportabilidade orçamental. O NRJPPP segue, pois, a rota traçada pela anterior legislação, à qual introduz al-guns aprimoramentos, designadamente ao nível da análise da comportabilidade orçamental em diversos cenários ma-croeconómicos, estabilizando e afinan-do práticas de escrutínio com lastro na lei, na prática e na cultura dominantes, o que se crê de louvar. Fiel à filosofia e aos princípios já conso-lidados, o NRJPPP altera fundamental-mente a orgânica do lançamento, ges-tão e acompanhamento das parcerias, aí instituindo, como novidade fulcral, a Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos (UTAP). Trata-se de uma entidade com autono-mia administrativa, na dependência di-reta do membro do Governo responsá-vel pelas área das finanças, que passa a assumir responsabilidades na prepara-ção, lançamento, gestão e acompanha-mento das parcerias público-privadas (incluindo as vigentes), podendo ainda prestar apoio técnico ao Governo e às

Não cumpre ao presente artigo abordar o modo como foram implementadas as parcerias público-privadas ao longo de sucessivas governações. tal tema, acerca do qual já muito se disse e escreveu, e muito se con-tinuará seguramente a discorrer, respeita essencialmente à esfera - prática - do político e não ao domínio – teórico - do jurídico.

A Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos de Parcerias Público-Privadas (UTAP) - “Prognósticos, só no fim do jogo”

entidades públicas na gestão de contra-tos, assumir a qualidade de gestora dos mesmos, e promover ações de formação.A criação da UTAP visa assegurar a con-tinuidade do conhecimento dos projetos, de forma a dotar o setor público de expe-riência e valências adequadas na área das parcerias público-privadas, assim como de um acervo centralizado de informação suscetível de ser instrumento de acerta-das decisões políticas e técnicas. Na fase de lançamento das parcerias, a UTAP deverá, em síntese, estudar e pre-parar os processos, designar as equipas de projeto e indicar membros para os júris do procedimento, prestando apoio técnico e administrativo a umas e a ou-tros, e podendo / devendo ainda fazer parte da sua constituição. Na fase de gestão dos contratos, compete essencialmente à UTAP designar as equi-pas de acompanhamento da fase inicial dos projetos e, quando necessário, as comissões de negociação dos contratos, prestando apoio técnico e administra-tivo a ambas as entidades, e intervindo, previamente, na verificação da compor-tabilidade orçamental de processos de reposição do equilíbrio financeiro por de-terminação unilateral do parceiro público. Finalmente, no âmbito do acompanha-mento global das parcerias, incumbe à UTAP preservar, e disponibilizar às enti-dades públicas, a experiência e o conhe-cimento adquiridos, elaborar relatórios, estudos e pareceres, seguir a situação económico-financeira dos contratos, e reportá-la à tutela, identificar situações suscetíveis de agravar o encargos do se-tor público, apresentar modelos de do-cumentos e recomendações, e publicitar em sítio próprio os dados relevantes re-lacionados com as parcerias. Corre-se o risco de um tão vasto, e até

díspar, leque de atribuições – da regu-lação, supervisão e fiscalização, ao lan-çamento, avaliação, negociação, renego-ciação e até gestão contratual direta – se revelar excessivamente ambicioso para uma única entidade, e espartilho para a atuação do Estado, ademais contando a UTAP com um relativamente espartano número de membros – um Coordenador e, no máximo, doze consultores.Neste particular, mal ficaria que não se lamentasse o indiscriminado objetivo de eliminar o recurso à consultadoria exter-na, quando, mesmo ajuizando em causa própria, é bom que se diga que esta se mostrou profícua em vários e relevantes processos de parceria; salientando-se ain-da que, porventura cientes disso, os par-ceiros privados dela não abdicam, mesmo em cenários de elevada experiência e qua-lificação das suas estruturas internas. Espera-se, não obstante, que a UTAP ve-nha a desempenhar de forma eficiente a importante missão e relevantes atribui-ções que lhe são cometidas, rentabili-zando aprendizagens, otimizando recur-sos e propiciando a melhor preparação do Estado no lançamento, negociação e gestão dos processos. Nesta dinâmica, será bom que o enfoque na comporta-bilidade orçamental das parcerias não ofusque a igualmente relevante necessi-dade de rigor na preparação, promoção concorrencial, negociação e gestão dos projetos que, em lugar de gerar encar-gos, libertam receitas para o Estado. Em caso de sucesso, será porventura interessante ponderar a criação de um mecanismo equivalente no âmbito da ad-ministração regional e autárquica. Entre-tanto, e até que se possam colher frutos positivos da atuação da UTAP, será caso para dizer, cautelosamente, que “prog-nósticos, só no fim do jogo”.

CLARA vALeNTe DA SILvA, ADvOgADA DA fDR - PINTO DUARTe, CôRTe-ReAL,CASADO NeveS & ASSOCIADOS SOCIeDADe De ADvOgADOS, RLPArcEriAS PÚbLicO PriVAdAS Pontos de Vista Agosto 2012 9

OPINIÃO

A nível nacional, a legislação relativa às parcerias pú-blico privadas foi surgindo no âmbito dos contratos de

concessão segundo as necessidades específicas de cada setor. Só com a aprovação do Decreto-lei n.º 86/2003

de 26 de abril foram estipuladas as regras gerais relativas à intervenção do Estado na definição, conceção, preparação, concurso, adjudicação, alteração, fiscalização e acompanha-mento global das parcerias público privadas (RJPPP).

No contexto atual de crise dos mercados financeiros, crescente endividamento público e subida dos juros da dívida pública, parece-nos natural que se reflita sobre o papel do Estado na economia nacional, em particular no modelo de governação em que surge como regulador da prestação de serviço público em vez de prestador, através da implementação de parcerias público privadas.

O Estado e as Parcerias Público Privadas

Este diploma veio a sofrer diversas alte-rações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 141/2006 de 27 de julho, que procurou incrementar o controlo financeiro, re-forçando a tutela do interesse público no lançamento de novas parcerias e nas alterações a contratos já celebrados,

particularmente no que se refere à par-tilha de riscos e benefícios entre os par-ceiros público e privado.Mais recentemente, por força da apro-vação do Código dos Contratos Públicos, através do Decreto-lei n.º 18/2008 de 29 de janeiro, o regime aplicável às parce-rias público privadas registou novos de-senvolvimentos. Com efeito, o RJPPP tem vindo a conviver com a legislação aplicá-vel em matéria de contratação pública, situação que a nosso ver se mantém e se aprofunda com a aprovação do referido Código (entendimento não consensual ), o qual além de conter um conjunto de normas genericamente aplicáveis à con-tratação pública, prevê disposições que versam especificamente sobre as parce-rias público privadas, tendo introduzido visíveis melhorias no processo de avalia-ção das propostas e simplificado alguns procedimentos, quer na fase de elabora-ção e celebração dos contratos de parce-ria, quer na fase de execução contratual.Porém, volvidos cerca de seis anos des-de a sua última alteração, continuaram a ser apontadas falhas significativas ao RJPPP que no atual contexto económico urge colmatar, designadamente a au-sência do comparador público no lança-mento e contratação da parceria público privada, i.e., a falta de elaboração de um estudo que demonstre que a modalidade

LUíSA fILIPe fReITAS, ADvOgADA DA JOÃO PINTO geRmANO & ASSOCIADOSPArcEriAS PÚbLicO PriVAdAS

Assim, no contexto do Pro-grama de Assistência econó-mica e Financeira a Portugal, concretizando os compro-missos assumidos no memo-rando de entendimento cele-brado com a “troika” (mou) e com vista a ultrapassar as falhas apontadas ao rJPPP à data em vigor, designa-damente com o objetivo de reforçar a avaliação ex ante dos riscos de partici-pação em parcerias público privadas e a monitorização da respetiva execução, foi aprovado o decreto-lei n.º 111/2012 de 23 de maio, em vigor desde o passado dia 1 de julho

Pontos de Vista Agosto 2012 11

de parceria público-privada é mais ade-quada e apresenta para o parceiro pú-blico vantagens relativamente a formas alternativas de alcançar os mesmos fins; a falta de partilha efetiva de riscos entre o parceiro público e o parceiro privado ou o desequilíbrio na assunção de riscos (assiste-se a uma progressiva assunção pelo Estado de riscos típicos do parceiro privado); a falta de transparência, de ava-liação da comportabilidade dos encargos públicos com a parceria público privada e do seu impacto orçamental durante a vigência do contrato e o défice de mono-torização e fiscalização pelo Estado da execução dos contratos de parceria.Assim, no contexto do Programa de As-sistência Económica e Financeira a Por-tugal, concretizando os compromissos assumidos no Memorando de Entendi-mento celebrado com a “Troika” (MoU) e com vista a ultrapassar as falhas apon-tadas ao RJPPP à data em vigor, desig-nadamente com o objetivo de reforçar a avaliação ex ante dos riscos de parti-cipação em parcerias público privadas e a monitorização da respetiva execução, foi aprovado o Decreto-lei n.º 111/2012 de 23 de maio, em vigor desde o passado dia 1 de julho. Este diploma veio introduzir modifica-ções significativas ao RJPPP, até então regulado pelo Decreto-lei n.º 86/2003 de 26 de abril na redação dada pelo Decre-to-Lei n.º 141/2006 de 27 de julho, das quais merecem destaque as seguintes:Desde logo, aplaude-se o maior contro-lo dos efeitos financeiros e orçamentais decorrentes deste modelo de contrata-ção plasmado no novo RJPPP. O que se verifica quer na vertente de lançamento de novas parcerias, através da exigên-cia de um conjunto de requisitos, como sejam o estudo dos impactes orçamen-tais previsíveis, em termos de receita e despesa, e a sua comportabilidade, bem como as respetivas análises de sensibili-dade em termos de procura e de evolu-ção macroeconómica, a análise de custo--benefício e a identificação discriminada e detalhada dos riscos a assumir por cada parceiro elaboração de uma matriz de partilha de riscos (artigo 6.º do novo RJPPP). Quer na vertente de execução e modificação dos contratos, através da obrigatoriedade de, previamente a qualquer decisão unilateral do parceiro público suscetível de fundamentar um pedido de reposição do equilíbrio finan-ceiro do contrato em causa, se estima-rem os efeitos financeiros decorrentes dessa determinação e verificar a corres-pondente comportabilidade orçamental (artigo 20.º do novo RJPPP).Outra das falhas apontadas ao anterior RJPPP, no que se refere à falta de mo-notorização e fiscalização pelo Estado da execução dos contratos de parceria, parece poder ser ultrapassada através da criação da Unidade Técnica de Acom-panhamento de Projetos, a qual passa a

assumir de forma centralizada tarefas que anteriormente eram confiadas a di-versas entidades do setor público ao ní-vel do acompanhamento na preparação, desenvolvimento e execução de proces-sos e contratos de parceria, assumindo um papel central a nível do controlo da execução dos contratos de parceria. De realçar que esta Unidade Técnica fica incumbida de informar o membro do Go-verno responsável pela área das finanças da situação económico-financeira dos contratos de parcerias e da sua evolução, bem como de identificar situações sus-cetíveis de contribuir para um eventual agravamento do esforço financeiro do se-tor público (artigo 35.º do novo RJPPP).Refira-se que o facto de as entidades que prestam serviços à Unidade Técnica ou ao parceiro público ficarem impedidas, no âmbito do mesmo projeto, de prestar serviços ao parceiro privado ou a enti-dades que se apresentem como concor-rentes (artigo 43.º do novo RJPPP) não é uma total novidade na medida em que já existia uma previsão similar no anterior regime no que se refere aos consultores externos que prestassem tais serviços

ao parceiro público (artigo 14-F n.º 2 do anterior RJPPP).Afigura-se-nos igualmente relevante a preocupação manifestada pelo novo RJPPP com o aumento das exigências de transparência dos processos relativos às parcerias público privadas, desig-nadamente através da obrigatoriedade de publicitação obrigatória de diversos documentos relevantes (artigo 33.º do novo RJPPP)Por outro lado, verifica-se um alarga-mento do âmbito subjetivo de aplicação do RJPPP e uma alteração do seu âm-bito objetivo que importa realçar. Com efeito, cumpre assinalar o facto de, por um lado as empresas públicas e as en-tidades por estas constituídas passarem a ser consideradas parceiros públicos (artigo 2.º n.º 2 alíneas d) e e) do novo RJPPP), sem prejuízo de se prever um regime especial para as empresas pú-blicas com natureza comercial ou in-dustrial (assim considerada quando a sua atividade económica se submete à lógica do mercado e da livre concorrên-cia à semelhança da definição constante do Código dos Contratos Públicos) que

lancem parcerias sem apoios, diretos ou indiretos, do Estado e cujos custos daí decorrentes não sejam suscetíveis de afetar, direta ou indiretamente, a dívida pública (artigo 24.º do novo RJPPP). E, por outro, do RJPPP passar a abranger as subconcessões de obras públicas e de serviços públicos (artigo 2.º, n.º 4, alíneas a) e b) e a excluir as concessões de sistemas multimunicipais de abaste-cimento de água para consumo humano, de saneamento de águas residuais e de gestão de resíduos sólidos urbanos, e as concessões atribuídas pelo Estado, através de diploma legal, a entidades de natureza pública ou de capitais ex-clusivamente públicos (artigo 2.º, n.º 5, alíneas b) e c).No cômputo geral, é nosso entender que o diploma em análise comporta al-terações significativamente positivas, na medida em que permite ultrapassar as principais falhas apontadas ao ante-rior regime, embora se mostre, em certa medida, aquém do desejável quanto à estipulação da partilha de responsabi-lidades e repartição dos riscos entre os parceiros público e privado.

“refira-se que o facto de as entida-

des que prestam serviços à unida-de técnica ou ao parceiro público ficarem impedi-

das, no âmbito do mesmo projeto, de prestar serviços ao

parceiro privado ou a entidades

que se apresentem como concorren-

tes (artigo 43.º do novo rJPPP) não é uma total novida-

de na medida em que já existia uma

previsão similar no anterior regime no

que se refere aos consultores exter-

nos que prestas-sem tais serviços

ao parceiro pú-blico (artigo 14-F

n.º 2 do anterior rJPPP)”

OPINIÃO

A “coNstitUcioNAliZAção”dA VidA lABoRAl

PoRtUGUEsA

A urgência de controlar o “deficit” das contas públicas e de evitar a situação de default levou, numa primeira instância, à utilização da lei do orçamento geral do Estado como um “cavalo de Tróia” para introduzir alterações ou restrições aos princípios em que tradicionalmente as-sentam as leis laborais. Esta atuação do legislador trouxe para a ordem do dia a necessidade de serem invocados, de for-ma sistemática, os princípios estrutu-rantes do Estado de Direito. Princípios como o da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da proibição do excesso (razoabilidade, indispensabilidade ou meio menos restritivo, proporcionali-

dade) passaram a estar em permanente ponderação e atuação.Portugal percorre um caminho cujo ob-jetivo é atingir a sustentabilidade finan-ceira do Estado, através de um “roteiro” denominado Memorando de Entendi-mento outorgado entre o Estado Portu-guês, a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Inter-nacional. Esta caminhada introduz, de facto, no nosso ordenamento jurídico, um “estado de emergência económico--social”, que, mau grado não ter assento constitucional, tem-se imposto como uma realidade inelutável. Este “estado de emergência” tem legitimado a ado-ção de uma série de medidas de caráter excecional, onde os critérios económi-cos têm prevalecido sobre os critérios sociais. Essa mesma tendência foi intro-

identificar os efeitos decorrentes da entrada em vigor das últimas alterações verificadas no código do trabalho obriga-nos, ainda que sumariamen-te, a procurar caracterizar o momento em que se encontra a nossa vida coletiva.

A Via (“Sacra”) da Sustentabilidade

duzida nas últimas reformas da lei labo-ral. A procura da necessária sustenta-bilidade jurídico-constitucional para as medidas excecionais adotadas não foi, num primeiro momento, considerada essencial para percorrer o “roteiro da sustentabilidade”, eventualmente foi até considerada incómoda. O trabalho dos juristas foi secundarizado relativamente ao labor dos economistas e a execução do “roteiro” é acompanhada por diver-sas entidades cujo único objetivo é ava-liar a aptidão dos meios utilizados para a realização do fim último: o afastar do risco de incumprimento por parte do Estado português.A avaliação da necessidade, proporcio-nalidade e adequação das medidas que sucessivamente são tomadas, nomea-damente no que diz respeito à reforma

mANUeL RAmIRez feRNANDeS, ADvOgADO e SóCIO DA mmm & ASSOCIADOS, SOCIeDADe De ADvOgADOSNOVO cÓdiGO dE TrAbALHO

“Se o tribunal Constitu-cional não é chamado a

realizar este controlo – ou não o realizar com eficácia

e autoridade -, ocorrerá um aumento do recurso

aos mecanismos tradicio-nais de gestão de conflitos

sociais, e um recrudesci-mento do sindicalismo ra-

dical, o que não é, de todo, o melhor caminho para

atingir a sustentabilidade financeira e afastar o risco

de incumprimento”

Pontos de Vista Agosto 2012 13

laboral, não pode ser unicamente polí-tica e económica. Tem de se efetuar um controlo jurídico. Esse controlo jurídico só pode ser feito pelo Tribunal Constitu-cional.É neste contexto que entraram em vigor, no dia 1 de agosto de 2012, as últimas alterações operadas no Código do Tra-balho pela Lei n.º 23/2012, de 25 de junho.

EfEitos imEdiAtosdA ENtRAdA Em ViGoR

dAs AltERAçÕEsAo cÓdiGo do tRABAlHo

No nosso entender, os efeitos mais ime-diatos que as últimas alterações podem introduzir na relação jurídica laboral são:a) A procura, por parte dos emprega-dores, da utilização do banco de horas individual através de acordo com os tra-balhadores. Como alternativa ao traba-lho suplementar, o recurso à criação de bancos de horas individuais (com possi-bilidade de extensão a bancos de horas grupais), adapta, quase sem restrições, o horário de trabalho contratado às ne-cessidades concretas (quase diárias) de mão de obra;b) Aumento do recurso ao trabalho su-plementar. A diminuição, em 50%, dos custos que normalmente lhe estavam associados e a eliminação do direito a descansos compensatórios (que só se mantêm para o trabalho suplementar prestado em dia de descanso obriga-tório ou que impeça o gozo do período mínimo de descanso diário), facilitará o recurso a esta forma de extensão do tempo de trabalho;c) Eliminação do fator de criação de em-prego que era induzido pelos anteriores custos associados ao trabalho suple-mentar. Este aligeiramento de custos, conjugado com a possibilidade de cria-ção de “bancos de horas”, elimina esta que era considerada uma forma indireta de promoção do emprego;d) Diminuição da utilização ilícita dos chamados “recibos verdes” e do recur-so fraudulento à contratação a termo. O efeito conjugado da diminuição do valor da compensação por caducidade de contrato a termo e do custo com o recurso ao despedimento coletivo ou à extinção de postos de trabalho possi-bilita ao empregador soluções menos onerosas de cessação dos contratos de trabalho sem termo. Este fator, no nosso entender, induz a desnecessidade de re-curso a formas ilícitas de flexibilização da contratação laboral. Não se prevê

uma diminuição da contratação a termo, mas sim um menor recurso fraudulento a esta figura;e) Aumento da conflitualidade laboral extrajudicial por motivos extraempre-sariais (não diretamente ligados a uma atuação do empregador). As associa-ções sindicais utilizarão, de modo mais frequente, o recurso à greve como uma forma de pressão sobre poder político e de combate ao chamado “Direito do Tra-balho de exceção”, procurando adesões sectoriais ou nacionais;f) Reformulação das políticas de gestão de recursos humanos e de marketing interno nas empresas, com reforço da prestação recíproca de informações e consulta entre os sujeitos da relação de trabalho, de forma a salvaguardar, em primeira linha, a estabilidade e viabi-lidade das empresas, individualmente consideradas. Neste enquadramento, é provável que o protagonismo das co-missões de trabalhadores (existentes ou a criar) possa ocupar algum espaço de tradicional ação sindical;g) Maior dificuldade de conciliação da vida profissional com a vida particular, por parte dos trabalhadores, por via da eliminação de parte do direito ao descanso (férias, feriados e descansos compensatórios) e da maior flexibili-dade dos regimes relativos ao tempo de trabalho (com especial destaque para a utilização de “bancos de horas”);h) Aumento do recurso à arbitragem obrigatória para definição de serviços mínimos, com aumento do seu âmbito material, relativamente a empresas que se destinem à satisfação de necessida-des sociais impreteríveis. A alteração e aumento do âmbito deste instituto jus-tifica-se na medida em que os serviços mínimos definidos em períodos de “nor-malidade económica e social” não se adequam ou acautelam as necessidades sociais impreteríveis e os interesses na-cionais em jogo neste tipo de empresas, em períodos de excecional austeridade.

o PAPEl dos tRiBUNAis

No nosso entender, urge enquadrar, em termos jurídico-constitucionais, as medidas adotadas, de uma forma clara e consistente. A prossecução do contro-lo do deficit não pode por em causa os

princípios fundamentais do Estado de direito democrático. Nenhuma restri-ção a direitos fundamentais pode deixar de se fundar na própria Constituição e deixar de se destinar à salvaguarda de outros interesses ou direitos constitu-cionalmente protegidos. Esta reforma laboral prossegue diretamente interes-ses empresariais que, sem prejuízo de poderem ser considerados legítimos, não podem atentar, de forma excessiva e injustificada, contra os princípios cons-titucionais que enquadram a condição do trabalhador subordinado.Se o Tribunal Constitucional não é cha-mado a realizar este controlo – ou não o realizar com eficácia e autoridade -, ocorrerá um aumento do recurso aos mecanismos tradicionais de gestão de conflitos sociais, e um recrudescimento do sindicalismo radical, o que não é, de todo, o melhor caminho para atingir a sustentabilidade financeira e afastar o risco de incumprimento.Os “mercados” valorizariam negativa-mente um período de instabilidade de-mocrática, ou seja, uma situação em que um número significativo de cidadãos não aceita as regras que definem o jogo democrático ou considera que o contra-to social implícito que estabeleceu com o Estado está a ser violado. Esse contra-to é a relação que se estabelece entre o pagamento de impostos e o abdicar do uso de qualquer forma de “justiça pelas próprias mãos”, em contrapartida do re-cebimento de bens e serviços públicos. Por outro lado, a apreciação da constitu-cionalidade das alterações ao Código do Trabalho deveria ter sido feita de forma preventiva. Caso existam dúvidas funda-das sobre a sua constitucionalidade, a fiscalização sucessiva introduz um fator de insegurança nos empregadores rela-tivamente à estabilidade das medidas legislativas laborais que, sucessivamen-te, entram em vigor.Embora consideremos que a reforma da lei laboral que foi encetada era glo-balmente necessária e já estava prevista no “supra” referido memorando, a ver-dade é que se sucederam as vozes que alertaram para existência de indícios de inconstitucionalidade na última revisão do Código do Trabalho, essencialmente ligadas:a) À dificuldade em conciliar o novo re-

gime do banco de horas e diminuição do direito ao descanso (férias, feriados e descansos compensatórios), com o res-petivo aumento de tempo de trabalho não remunerado e com a proteção cons-titucional da vida familiar;b) Ao conceito constitucional de inexigi-bilidade e impossibilidade prática asso-ciado à proibição de despedimento sem justa causa e à dificuldade em conciliá--lo com a eliminação do ónus de verifi-car se há posto de trabalho compatível com um trabalhador sujeito a um des-pedimento não disciplinar (extinção de posto de trabalho e inadaptação).E não esqueçamos o art.º 204.º da Constituição da República Portuguesa que determina “nos feitos submetidos a julgamento não podem os Tribunais aplicar normas que infrinjam o dispos-to na Constituição ou os princípios nela contidos”. Ou seja, qualquer Tribunal (nomeadamente laboral) pode decidir não aplicar determinada norma jurídi-ca, se o magistrado judicial titular desse tribunal e processo entender que a nor-ma em causa é inconstitucional. Na atual conjuntura, esta é uma autêntica “caixa de pandora”.Seja qual for o nosso posicionamento quanto a estas questões, é essencial que o poder político e os empregadores re-conheçam que esta, como qualquer ou-tra reforma laboral, só atingirá os seus objetivos se for acompanhada de boas práticas governativas e empresariais. Por outro lado, sem a inversão urgente do ci-clo de desemprego em que nos encontra-mos, o “retrocesso social” pode inviabili-zar o progresso económico. O emprego deixou de ser um objetivo a prosseguir depois de se atingir a sustentabilidade, para ser, ele próprio, uma condição para a sustentabilidade O “emprego” é, cada vez mais, a palavra-chave.

“Portugal percorre um caminho cujo objetivo é atingir a sustentabilida-de financeira do estado, através de um “roteiro”

denominado memorando de entendimento outorgado

entre o estado Português, a união europeia, o Banco Central europeu e o Fundo

monetário internacional. esta caminhada introduz,

de facto, no nosso ordena-mento jurídico, um “estado de emergência económico-

-social”, que, mau grado não ter assento constitucional, tem-se imposto como uma

realidade inelutável”

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Coordenar a execução das po-líticas de educação e forma-ção profissional de jovens e adultos e garantir o desen-

volvimento e a gestão do sistema de reconhecimento, validação e certifi-cação de competências tem sido esta a missão abraçada pela Agência Na-cional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP), mas o trabalho desta entidade vai muito mais além do que simples definições. A agência tem procurado dar resposta às neces-sidades formativas de todo o género de público, procurando adaptar essas exigências à realidade de cada região, de cada indivíduo e de cada empresa que procura o número 138 da Aveni-da 24 de julho, em Lisboa. Os últimos dez anos foram de profundas e radicais mudanças. Eleições, conferên-cias, atentados, guerras. Vários aconteci-mentos transformaram a última década, criando instabilidade e insegurança. Em Portugal, o cenário não é diferente. O país atravessa uma crise financeira sem precedentes, mas mais do que no bolso dos portugueses, esta conjuntura sente-se nos setores com os quais con-tactamos diariamente. A educação não é exceção. Dentro das escolas, o senti-mento de inconstância reina, sobretudo no seio dos professores que veem o seu futuro cada vez mais incerto. Todavia, e apesar de sentir os reflexos do período de dificuldades económicas que o país atravessa, a formação profissional tem seguido um trilho de sucesso, quer no número de alunos quer na oferta de cur-sos. Em termos quantitativos, esta via de

qualificação quase triplicou na última década, uma realidade que faz brilhar os olhos de Gonçalo Xufre Silva, Presidente da ANQEP. Vislumbrando os números confiantes do passado, este percurso faz com que o nosso entrevistado acredite, firmemente, que o ensino profissional será um dos mais valiosos instrumen-tos de qualificação nos próximos anos e, consequentemente, será a “arma” a usar no combate que se começou a tra-var para baixar a taxa de desemprego jovem que, atualmente, ronda os 36,4 por cento.Se antes existia a ideia preconcebida de que uma formação superior era sinóni-mo de emprego imediato, hoje, o cená-rio é outro. “A sociedade já começou a assimilar a realidade de que um curso superior não é suficiente para ter um emprego e temos, a nível superior, mui-tos problemas de empregabilidade. Um aluno que terminou o 12º ano pela via dita comum, a científico-humanística, recebeu uma preparação teórica mui-to forte que lhe permite aprofundar os seus conhecimentos a nível superior, mas não lhe permite ter competências que o ajudem a entrar no mercado de trabalho”, garantiu Gonçalo Xufre Silva. Nestes casos, as empresas ficam, em muitas situações, sem saber o que fazer com estes jovens. É, então, que surge uma alternativa que abre outras portas, oferece soluções para a empregabilida-de aos 18 anos de idade e permite mi-nimizar os níveis de desemprego jovem que, de acordo com o Presidente da AN-QEP, atinge, sobretudo, “jovens que op-taram pela via científico-humanística e

Não há um limite de idade para aprender. dos 15 aos 90 anos, a formação será sempre uma ferramenta indispensável para se alcançar o tão alme-jado sucesso, pessoal e profissional. Esta tem sido a bandeira da ANQEP. No passado, ficou a ideia de que a formação profissional está direcionada para os alunos com maus resultados escolares. No entanto a mesma não é uma “escapatória”. Pelo contrário. É uma escolha que confere ao forman-do as competências fundamentais que o ajudarão a marcar a diferença no mercado de trabalho.

ANQEP: uma ponte sólida entre Educação e Sociedade

não seguiram para o ensino superior ou, tendo seguido para a faculdade, escolhe-ram cursos com baixa empregabilidade”. O caminho diferente proposto pela for-mação profissional é, assim sendo, o seguinte: no 12º ano, os alunos podem escolher um curso superior no segui-mento da formação técnica adquirida ou podem procurar no mercado de tra-balho uma atividade que coincida com os conhecimentos obtidos. Neste último caso, a entrada na tão falada vida aca-démica não é cancelada, apenas pode ser adiada para um outro momento das suas vidas. Por outro lado, o fascínio pela vida aca-démica já não é o que era. O excessivo preço das propinas, as despesas com alimentação ou transportes atiraram por terra o sonho de muitos jovens de poderem um dia vivenciar experiências como a praxe, a queima das fitas ou ou-tros momentos que marcam o percurso de um estudante universitário. “Tenho a noção de que há poucos jovens que vão para o ensino superior apenas porque é mais um prolongamento da sua vida de estudante e do conforto de estar em casa dos pais, exercendo a “profissão de estudante”, que é sempre bem mais atrativa. É complicado para as famílias manter os jovens durante muito tempo e essa pressão começa a ser sentida nas opções que eles tomam”, defendeu Gon-çalo Xufre Silva.Este novo paradigma levanta outra questão já muito esmiuçada pelos meios de comunicação social: o abandono es-colar, um fenómeno que se começa tam-bém a sentir no primeiro ano do ensino superior. Quer por desencanto com o curso, quer por dificuldades financei-ras, “esses alunos acabam por chegar ao mercado de trabalho apenas com as competências que o 12º ano proporcio-na e o mercado não consegue absorvê--los porque não têm competências pro-fissionais, disse o responsável. No final,

o resultado acaba sempre por ser o mes-mo: “temos uma população com níveis de conhecimentos elevados mas que está frustrada a fazer tarefas que não correspondem aos conhecimentos teó-ricos que adquiriram”, afiançou. Na voz de Gonçalo Xufre Silva, é esta falha que o ensino profissional quer preencher.

Um sistEmA QUE REsPoNdAàs coNVicçÕEs

Mais do que vias profissionalizantes, Gonçalo Xufre Silva gosta de usar a ex-pressão “vias vocacionais”. E o ensino profissional mais não é do que exata-mente isso: uma procura pela vocação de um jovem de forma a motivá-lo e a torná-lo num profissional com verda-deira paixão pela sua “arte”. No outro prato da balança, o abandono escolar é atacado pela raiz e minimizado. “Estas vias permitem que o aluno encontre no sistema resposta às suas convicções e expetativas”, defendeu. Quando se fala em insucesso escolar, que anda de mãos dadas com um enor-me sentimento de frustração, Gonçalo Xufre Silva acredita que este fenómeno não pode ser combatido através de faci-lidades no sistema. A solução terá de ser outra. “Temos de arranjar alternativas, mantendo o rigor e a exigência e ajudan-do-os a adquirir hábitos de trabalho e de esforço que, em muitos casos, não são conseguidos em casa”, partilhou. A diversidade de cursos profissionais permite que os formandos consigam, dentro da sua vocação, encontrar uma solução que corresponda às suas expec-tativas. Gonçalo Xufre Silva desenhou um cenário muito comum, hoje em dia, com alguns desses jovens. “Antes estavam frustrados e eram obrigados a ir para a escola. Mas, quando aban-donaram a via científico-humanística e enveredaram pela via profissional, transformaram-se. Agora acordam às

gONÇALO XUfRe SILvA, PReSIDeNTe DA AgêNCIA NACIONAL PARA A QUALIfICAÇÃO e O eNSINO PROfISSIONAL (ANQeP)EdUcAÇÃO E FOrMAÇÃO

Próximo ano letivo na perspetiva de Gonçalo Xufre Silva:“Vamos preparar a implementação plena de todos os instrumentos que estamos a criar do ponto de vista legislativo. Este ano já foram dados alguns passos para que o número de turmas e de cursos a abrir venha ao encontro de algumas necessidades divulgadas pelo Governo e mencio-nadas no Acordo de Concertação Social. Demos ainda passos para que haja uma maior partilha entre os vários operadores, ou seja, há escolas secundárias que têm cursos profissionais mas não possuem equipamen-tos para lecioná-los nas melhores condições. Ao lado, existe um centro de formação profissional que tem essa estrutura mas não tem professo-res para dar as componentes de formação sociocultural e/ou científica. Assim, promovemos a parceria entre estas entidades para que o curso tenha o que de bom cada uma das estruturas pode oferecer”.

“A sociedade já começou a assimilar a realidade de que um curso superior não é suficiente para

ter um emprego e temos, a nível superior, muitos problemas de empregabilidade”

gONÇALO XUfRe SILvA, PReSIDeNTe DA AgêNCIA NACIONAL PARA A QUALIfICAÇÃO e O eNSINO PROfISSIONAL (ANQeP) Pontos de Vista Agosto 2012 17

seis da manhã porque têm de apanhar transportes mas estão muito motivados e interessados. A diversidade permite que os alunos encontrem respostas no sistema, muitas vezes com muito sacri-fício da parte deles”, asseverou.

cENtRos NoVAs oPoRtUNidAdEs com NoVAs PERsPEtiVAs

No momento em que foi lançada pelo anterior executivo, a iniciativa “Novas Oportunidades” estava alicerçada em dois principais eixos: os jovens e os adul-tos. Contudo, a divulgação pública trou-xe mais notoriedade aos centros novas oportunidades e à formação de adultos. No eixo dos jovens, a iniciativa tinha como objetivo desenvolver o ensino pro-fissional e a dupla certificação, mas esse trabalho acabou por não ser muito divul-gado. A verdade é que, hoje, cerca de 50 por cento dos jovens no 9º ano escolhem esta via de formação que a ANQEP quer reforçar, valorizando-a e adaptando-a às necessidades do tecido empresarial. O atual executivo elege a formação pro-fissional como uma “nova prioridade” em Portugal. Tal como foi recentemente tornado público, o Governo vai redire-cionar a rede de CNO’s e uma parte do seu financiamento para o ensino profis-sional, mantendo apenas alguns destes centros com as atuais funções e com financiamento limitado aos que tiverem melhor classificação no concurso. Para tal, foi criado um grupo de trabalho com membros do Ministério da Economia, da Educação e da ANQEP. Neste momen-to, os centros continuam a funcionar nos mesmos moldes mas o Executivo pretende implementar estas mudanças já no próximo ano letivo. Mas, Gonçalo Xufre Silva adiantou à Revista Pontos de Vista que esta transição pode ser leva-da a cabo somente no início do próximo ano civil. “Os centros como os conhece-mos hoje podem estender-se por mais quatro meses para coincidir com o início do ano civil e para que a legislação pos-sa seguir todos os tramites. Queremos consultar os parceiros sociais porque, como envolve o ensino profissional, a ANQEP considera que estes, quer sejam entidades patronais como sindicais, de-vem dar um contributo para que as solu-ções correspondam às suas expectativas mais abrangentes”, explicou. No fundo, estão a ser tomadas todas as precauções para que não exista um espaço de tempo vazio entre o término dos centros novas oportunidades por falta de financiamen-to (o Governo estipulou um limite de 50 milhões de euros de financiamento atra-

Revista Pontos de Vista – Qual o papel da ANQEP no momento em que uma empresa opta por apostar na formação dos seus colaboradores?

Gonçalo Xufre Silva – Os centros novas oportunidades trabalharam muito com as empresas que procuraram qualificar os seus trabalhadores. Por outro lado, as empresas procuram a agência para saber se existem cursos profissionais que correspondam às suas necessidades. Neste aspeto, elas vêm dar uma ajuda grande num dos instrumentos que a ANQEP tem que é o catálogo nacional de qualificações que discrimina cada uma das qualifi-cações do ponto de vista do perfil profissional e dos referenciais de formação para que a pessoa adquira aquela qualificação. Construir este catálogo tem de ser feito em constante diálogo com as empresas, parceiros sociais e especialistas e, para tal, temos conselhos setoriais para cada um dos setores de atividade.

Gonçalo Xufre Silva

gONÇALO XUfRe SILvA, PReSIDeNTe DA AgêNCIA NACIONAL PARA A QUALIfICAÇÃO e O eNSINO PROfISSIONAL (ANQeP)EdUcAÇÃO E FOrMAÇÃO

vés do Programa Operacional Potencial Humano – POPH) e a entrada em vigor de uma nova resolução.

“NUNcA foi NossA iNtENçãodEsmoNtAR PoR dEsmoNtAR”

Com a sucessão de governos em Portu-gal, as medidas implementadas por uns são, muitas vezes, colocadas em segun-do plano por outros. Cada vez mais, e em particular no setor da educação, há uma necessidade premente de criar uma po-lítica comum e contínua que não sofra profundas alterações com estas pas-sagens de testemunho. “A política que estamos a adotar não é uma política de rutura. Estamos a analisar o ponto em que nos encontramos e ver o que é con-siderado mais estratégico e, para este Governo, a estratégia é apostar mais na formação profissional dos jovens do que continuar a apostar ao mesmo nível na certificação de adultos”, explicou Gon-çalo Xufre Silva. A ANQEP, tendo essas duas vertentes, pretende, a partir de agora, investir mais na primeira opção, continuando o bom trabalho que lhes foi deixado como legado. “Nunca foi nossa intenção desmontar por desmontar para depois construir outra coisa igual ao lado. Tudo tem coisas boas e menos boas. Queremos identificar as boas para mantê-las e melhorar as menos boas, tanto para aquilo que recebemos como herança como para aquilo que formos construindo ao longo destes anos”, con-cluiu o Presidente.

dEsENVolVimENto mAisUNifoRmE do ENsiNo

PRofissioNAl NA EURoPA

A forte aposta no ensino profissional é uma das razões que explica o sucesso de países como a Alemanha enquanto potência industrial. Neste momento,

existe, a nível europeu, um enorme es-forço em criar instrumentos comuns que permitam um desenvolvimento mais uniforme do ensino profissional na Europa. A crise criou novas visões e os grandes agentes económicos europeus adotaram novas perspetivas, olhando para esta via de ensino como um instru-mento fundamental para combater os problemas atuais. Alemanha, Holanda ou Dinamarca comandam este “barco”, tendo um sistema de ensino profissional muito desenvolvido, caraterizado por um perfeito entrosamento com a indús-tria. Mais a sul da Europa existem siste-mas diferentes e, uns com outros, todos querem aprender. Como tal, a União Europeia desenvolveu três instrumen-tos fundamentais para criar esta linha comum entre todos os países. Aqui, Por-tugal, através da ANQEP, tem desempe-nhado um papel ativo. O primeiro objetivo é facilitar o reconhe-cimento dos resultados de aprendiza-gem no ensino e formação profissional e estimular a mobilidade geográfica (das pessoas e das qualificações), através do European Credit System for Vocational Education and Training (ECVET). “Vai obrigar a uma descrição das qualifica-ções em termos de unidades de resulta-dos de aprendizagem às quais são atri-buídas pontos. Um aluno quando tira uma determinada qualificação e chega ao meio e percebe que não é bem aquilo que queria, não deve ser obrigado a vol-tar ao início. Há matérias que são trans-versais a outras qualificações”, explicou Gonçalo Xufre Silva. Em termos gerais, consiste num sistema de créditos em que, mesmo que não conclua o curso, a formação que lhe foi dada é reconhecida mais tarde.A partir do Quadro Europeu de Qualifi-cações, a União Europeia pretende ainda estimular esta coerência. Portugal tem o seu próprio quadro (que tal como o

europeu, tem oito níveis). Contudo não é um processo fácil pois cada país tem a sua especificidade. Por exemplo no ensino superior o Processo de Bolonha trouxe dificuldades quando em Portugal decidimos manter o nome de licencia-tura para o 1º ciclo do ensino superior. Assim, a licenciatura que corresponde ao nível 6 do Quadro Nacional de Qua-lificações, atribuí o mesmo nível para uma licenciatura de 5 anos que para uma de equivalente com 3 anos de for-mação. Com esta situação o mercado não consegue distinguir uma licencia-tura pré-Bolonha e pós-Bolonha. O qua-dro tem como objetivo discriminar as várias competências que um indivíduo pode adquirir e o Processo de Bolonha acabou por criar leituras diferentes. “Do ponto de vista do mercado, identificar a formação de uma pessoa é agora mais difícil”, disse o responsável. Por fim, a terceira arma estratégica con-siste em reforçar a qualidade do ensino e formação profissional (EQAVET), atra-vés da monitorização de um conjunto de indicadores de qualidade. Perguntas como “Qual a taxa de empregabilidade dos cursos?”, “Quais são as principais necessidades do mercado de trabalho” ou “Qual é o nível de qualidade de en-sino de cada um dos cursos?” terão, fi-nalmente, respostas concretas. De um modo geral, “são três instrumentos em que o objetivo é que as experiências po-sitivas de alguns sejam um exemplo para outros, sempre com a perfeita noção de que não existem países iguais. Não po-demos abandonar as nossas caracterís-ticas mas, no ensino profissional, temos muito a aprender com os países nórdi-cos”, declarou Gonçalo Xufre Silva.

APRENdER Ao loNGodA VidA

Um dos grandes objetivos que a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional se propôs concretizar con-siste em criar um sistema de aprendi-zagem ao longo da vida. A evolução dos centros novas oportunidades vem, na opinião de Gonçalo Xufre Silva, poten-ciar esta aprendizagem, nunca desva-lorizando o facto de um indivíduo ter sempre de possuir vontade própria para querer aprender ao longo da sua vida. Para tal, o sistema tem de disponibilizar um vasto leque de ofertas que corres-pondam às expectativas dos formandos. Gonçalo Xufre Silva pintou alguns desses perfis: “um jovem frustrado com o sis-tema de educação nacional e que quer uma qualificação que corresponda à sua verdadeira vocação; um jovem que quer terminar o 12º ano mas que pretende entrar logo no mercado de trabalho; um adulto que ficou desempregado e que quer adquirir novas competências; um adulto que está empregado e que quer evoluir dentro da sua empresa para poder competir com os seus colegas”, enunciou. A este conjunto de pessoas--alvo acresce um público mais especial, portador de deficiência, ao qual o sis-tema tem de estar preparado para dar resposta. “Nesta área, existe um esforço grande para que esta onda de cortes não aconteça do ponto de vista da qualifica-ção, ou seja, que a deficiência continue a ser algo em que apostemos”, revelou. Já não existem empregos para toda a vida e é importante que as entidades competentes consigam prever todas as necessidades em todas as fases da vida

quadro nacional de qualificações:NÍVEL 1 – 2º Ciclo do ensino básicoNÍVEL 2 – 3º Ciclo do ensino básico obtido no ensino regular ou por percursos de dupla certificaçãoNÍVEL 3 – Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de es-tudos de nível superiorNÍVEL 4 – Ensino secundário obtido por percursos de dupla certifica-ção ou ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estu-dos de nível superior acrescido de estágio profissional, mínimo de seis mesesNÍVEL 5 – Qualificação de nível pós-secundária não superior com cré-ditos para prosseguimento de estudos de nível superiorNÍVEL 6 – LicenciaturaNÍVEL 7 – MestradoNÍVEL 8 – Doutoramento

“temos uma população com níveis de conhecimentos elevados mas que está

frustrada a fazer tarefas que não corres-pondem aos conhecimentos teóricos que

adquiriram”

“tenho a noção de que há poucos jovens que vão para o ensino superior apenas

porque é mais um prolongamento da sua vida de estudante e do conforto

de estar em casa dos pais, exercendo a «profissão de estudante», que é sempre

bem mais atrativa”

Pontos de Vista Agosto 2012 19

de uma pessoa. O sistema tem de dar soluções quer uma pessoa tenha 20, 40 ou 60 anos de idade. “Está provado que se nós continuarmos a adquirir conheci-mentos mesmo quando já não os vamos pôr em prática numa vida profissional, temos processos de envelhecimento mais positivos”, desmistificou Gonçalo Xufre Silva. Sendo 2012 o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo, a ANQEP, mais uma vez, abraçou este desafio, coordenando a agenda europeia para a educação de adultos em Portugal. “Con-sideramos que é necessário fazer este trabalho para que as pessoas se man-tenham mentalmente ativas nesta fase e isto terá um impacto positivo na vida delas e na sociedade. A população por-tuguesa envelhecida aproxima-se dos 30 por cento, já não é um público resi-dual. Por isso, o sistema de qualificação tem de contar com eles nos seus vários processos”, afirmou.

fUtURo PREssioNAdoPElA PREmêNciA

dA EmPREGABilidAdE

Todos os dias, os níveis de desemprego nacional entram em casa dos portu-gueses pelos noticiários. Nos centros de emprego, as filas são intermináveis e a paciência, essa, vai sendo esgotada. A formação profissional vive, hoje, essa pressão da empregabilidade, sendo cada vez mais urgente e imediato res-ponder ao problema do desemprego. A qualificação profissional enfrenta esse repto. “Mas é um desafio redutor porque quando queremos apenas redu-zir o desemprego não estamos a criar profissionais para outras áreas que até possam potenciar o crescimento do país. Neste momento, estamos a tentar dar esta resposta que se impõe e espe-ramos que a economia consiga reagir e absorver rapidamente estes profissio-nais para que a formação profissional passe para outro patamar”, rematou Gonçalo Xufre Silva.

“não podemos abandonar as nossas caracterís-ticas mas, no en-sino profissional, temos muito a aprender com os países nórdicos”

“Penso, logo organizo”. A time4thinking poderia ser uma espécie de René descartes dos tempos modernos. Nesta empresa fundada há dois anos por uma licenciada em gestão inconformada com os métodos de ensino e de trabalho atuais, treinar o cérebro é o grande objetivo. Afinal, por que é que há pessoas que têm capacidades que outras não têm? A resposta é simples e a Revista Pontos de Vista foi conhecê-la.

Afinal, a memória continua a ser o que era

Depois de dezoito anos dedi-cados à vida de estudante, que culminaram com uma licenciatura em gestão de

empresas, Tânia Dimas sentia uma vontade enorme em vingar no merca-do de trabalho. Tinha a formação ne-cessária mas sentia que faltava qual-quer coisa que a preenchesse. Mesmo assim, agarrou a sua nova vida pro-fissional, que passou por grandes empresas portuguesas.Mas, ao longo de dezasseis anos, apesar de focada no seu trabalho, Tânia Dimas continuava a ter a mesma frustração que a invadia quando era estudante: “sentia que me estavam a engarrafar informação para eu debitar num teste e era avaliada durante uma hora sobre

TâNIA DImAS, BUSINeSS PROCeSS SeNIOR mANAgeR e ImIND mAP mASTeR INSTRUCTOR NA TIme4ThINkINgEdUcAÇÃO E FOrMAÇÃO

conhecimentos que me tinham sido en-garrafados. Os estudantes são forçados a estudar matérias que debitam para um teste mas depois esquecem”, partilhou. Nasceu, então, uma onda de curiosida-de sobre o esquema de memória do ser humano e a forma como a informação é organizada pelo cérebro. Mesmo quan-do estava a trabalhar, fazia questão de acompanhar todas as investigações que eram feitas noutros países e não tardou até que começasse a aplicar em si mes-ma as técnicas apreendidas. É assim que nasce a Time4Thinking, a empresa que serve para pensar e que trouxe para Portugal uma ideia totalmente inovado-ra. “Ensinar a usar o cérebro” tem sido a grande missão desta equipa composta por vários elementos, educadores de in-

fância e consultores treinados por Tânia Dimas, Business Process Senior Mana-ger e iMind Map Master Instructor na Time4Thinking.As pessoas não são ensinadas a usar o melhor computador do planeta: o cére-bro. A tecnologia é fantástica mas sem usarmos a cabeça são inúteis. A missão da T4T é, por isso, aparentemente sim-ples: Pensar. Nas escolas e nas empresas, a equipa, tendo como base metodologias usadas há mais de quatro décadas em pa-íses como EUA, Japão ou Austrália, ajuda a desenvolver capacidades escondidas no interior de cada um. “Quando desafio as pessoas nas empresas ou as crianças nas escolas a pensar, para mim, todos são potenciais génios. Não há menos que um Einstein, um Leonardo da Vinci ou um Steve Jobs. Todo somos génios”, afiançou Tânia Dimas. O importante é sabermos como lá chegar e a T4T tem sido um par-ceiro indispensável nessa procura.

t4t NAs EscolAs

Dos 12 meses aos 16 anos de idade, como diz o velho ditado, “é de peque-nino que se torce o pepino”. Quando foi criada, em Abril de 2010, a empresa es-tabeleceu uma parceria com três escolas de Lisboa, com o objetivo final de pôr as crianças a pensar. Durante uma hora por semana, os mais pequenos (já cerca de 400) praticam Brain Training. São fer-ramentas de ensino já muito utilizadas em escolas noutros países. Para este público-alvo, este tempo semanal é en-carado como uma brincadeira, mas, no fundo, a T4T está a criar um músculo de memória, a exercitar o seu cálculo men-tal, ajudando-os a ler e a compreender melhor e mais rapidamente textos que outrora pareciam densos e complicados. “Deixamos as matérias das escolas para os pedagogos e criamos uma base mus-cular que permita às crianças aprende-rem melhor e perceberem que podem treinar o cérebro para serem excelen-tes”, explicou a responsável. Mesmo inconscientemente, para Tânia Dimas,

uma mãe está a prejudicar o desenvol-vimento do seu filho quando, por exem-plo, diz que o leão que ele defende, com todas as forças, ter acabado de desenhar, se assemelha a um avião. “São situações que barram as nossas capacidades. Essa criança nunca mais vai perceber que sabe desenhar”, partilhou. Temos que usar os dois hemisférios do cérebro para tudo: matemática ou desenho. É só isso que fazem os génios!

t4t NAs EmPREsAs

A rotina é, cada vez mais, a palavra de ordem no seio de uma empresa. Esta caraterística cria estabilidade mas, por outro lado, acarreta custos que, em mui-tos casos, são completamente desconhe-cidos. Para a T4T, as pessoas não param para pensar, fazem apenas o Sempre-foi--assim. “Nas empresas consigo perceber que existem grãos na engrenagem. As pessoas fazem as suas tarefas de forma mecânica, por isso, ficam desmotivadas. A criatividade traz motivação. Aquilo que faço enquanto consultora é tirar as pessoas das suas zonas de conforto durante pelo menos meia hora”, expli-cou Tânia Dimas. E porquê meia hora? “Segundo vários cientistas, meia hora é a nossa capacidade de concentração. Passado esse tempo, começamos a dis-persar.” justificou. A Time4Thinking já passou por vá-rias empresas. Em cada uma delas, é lançada a mesma questão: “O que é que pretendem ter como objetivo final?”. Todos trabalham para cumprir as suas tarefas, mas não entendem o impato que isso terá na concretização das me-tas da empresa. Mais uma vez, o ponto originador do problema é o mesmo: falta tempo para parar e pensar: “Como posso fazer isto melhor?”. A “aversão” a pensar, é geradora, por sua vez, de más decisões de negócio. Tânia Dimas parti-lhou com a Revista Pontos de Vista uma situação numa empresa em que uma má informação de base gerou uma série de efeitos em catadupa. “A empresa estava

Como correr uma maratona…“Falta explicar desde pequeno às crianças que elas têm capacidade para isso e muito mais e que podem estimular a aprendizagem. Estamos a exi-gir que as pessoas corram maratonas sem treiná-las. Elas acabam por conseguir mas o esforço é tão grande que chegam ao fim completamen-te estafadas e nunca mais vão querer correr a maratona porque aquilo doeu muito”, afirmou Tânia Dimas.

Tânia Dimas

Pontos de Vista Agosto 2012 21

a passar por decisões de investimento e quando analisei a razão que justificava determinado valor, percebi que a infor-mação de base estava errada: não eram 600 clientes a reclamar do mesmo pro-duto. Foi um cliente que reclamou 600 vezes”, revelou. É nessas tarefas lentas, obsoletas e repetitivas que está a raiz de muitos problemas que afetam muitas organizações. As pessoas têm as solu-ções, os sistemas só executam o que lhes mandam.

“NiNGUÉm tRABAlHAPARA os oUtRos”

Acreditar que se consegue é o primeiro passo para o sucesso, pessoal, escolar e profissional. Pensar que a memória já não é o que era faz parte do passado. Se houver um treino sistemático da me-mória, da criatividade e da capacidade de concentração, tudo é possível. “Re-parem nos pormenores, olhem para as coisas de outra maneira, vejam a mesma paisagem de outra perspetiva, dêem im-portância a ideias que normalmente não dão, não encarem o trabalho ou o estu-do como uma grande chatice. Ninguém

trabalha para os outros, trabalhamos sempre para nós mesmos. Tudo o que aprendemos é nosso. Sou fã de com-putadores, iPhones e afins, conheço-os bem. Nada tem a capacidade criativa de um cérebro treinado”. Se os conselhos dados por Tânia Dimas forem assumi-dos como filosofias de vida, o cérebro torna-se o nosso melhor aliado em tudo. No trabalho ou na escola, “penso, logo organizo” e respondendo à questão ini-cial: há pessoas que têm capacidades que outras não têm simplesmente por-que treinam.

1 – Mind Mapping: é uma forma de esquematizar textos e matérias compactas para que as revisões, o processo de memorização e inovação sejam mais simples e atra-tivos. Esta metodologia permite aumentar as nossas ca-pacidades em 500% uma vez que obriga a utilização, em simultâneo, do hemisfério esquerdo e direito do cérebro.

2 – Técnicas de Memorização: treinam a memória de longo prazo de forma a facilitar a retenção da informa-ção por mais tempo.

3 – Técnicas de Leitura Rápida: conjunto de exercícios que permite ler e assimilar mais informação em menos tempo. Diminui o tempo de leitura e aumenta a capaci-dade de compreensão.

4- Self-Management: conjunto de metodologias que permitem a cada colaborador ser mais produtivo. Uma empresa rentável é um conjunto de pessoas produtivas.

Algumas técnicas utilizadas

Antes de irmos aos contornos que têm criado alguma polémica na opinião pública, interessa compreender quais foram as razões que levaram a CeSPu – Cooperativa de ensino Superior, Po-litécnico e universitário a celebrar um protocolo com a universidade espanho-la Afonso X, eL Sabio? quais as mais--valias do mesmo?

Desde a sua génese, a CESPU tem de-monstrado uma particular apetência para trabalhar em rede com institui-ções internacionais, das quais destaco a Universidade de Barcelona, a Uni-versidade de Lille II, a Universidade de George Washington, a Universidade de Santiago de Compostela, a Universida-de de Salamanca, entre outras. Recen-temente estabelecemos um protocolo com a Universidad Alfonso X el Sabio, que foi a primeira universidade priva-da española aprovada pelas Cortes Ge-nerales, em 1993. Para termos a noção da dimensão desta instituição, são cerca de 12 500 os alunos que a frequentam, sendo a universidade privada espanhola com maior número de alunos oriundos

de outros países da europa. Das várias Faculdades que a integram, situadas num campus de elevadíssima qualida-de construído na periferia de Madrid, duas estão intimamente relacionadas com a atividade da CESPU, a Faculdade de Ciências da Saúde e a Faculdade de Medicina. O acordo assinado contempla a colaboração e intercâmbios em todas as áreas científicas da saúde comuns ou complementares. Esta Universidade também tem aposta-do no desenvolvimento de unidades de saúde próprias e em redes internacio-nais de investigação, à semelhança do que se passa na CESPU. Esta proximida-de de objetivos estratégicos facilitaram o desenvolvimento do referido acordo.

uma das principais críticas feitas ao protocolo celebrado passa pelo plano curricular entre o curso de ciências bio-médicas da CeSPu e os primeiros anos de qualquer curso de medicina, como o da universidade espanhola. existem incongruências nesses planos curricu-lares ou os alunos que se candidatam a

o conselho regional do Norte (cRN) da ordem dos médicos (om) afirmou que os cursos privados de medicina comprometem o futuro da formação médica especializada, declarações que criaram alguma celeuma entre os agentes existente no setor, principalmente depois do protocolo celebrado entre a cEsPU – cooperativa de Ensino superior, Politécnico e Universitário e a Universidade Espanhola Afonso X, El sabio. A Revista Pontos de Vista conversou com António Almeida dias, Presidente do Grupo cEsPU, que referiu, entre outras informações, que “colar essa preocupação à existência de cursos privados de medicina não tem qualquer sentido”.

“Somos capazes de ensinar Medicina”

essa universidade são colocados no ano em que lhes é dada a equivalência às disciplinas que são iguais? O acordo assinado entre as duas institui-ções universitárias prevê que, todos os anos, os alunos que tenham concluído os três anos da licenciatura em Ciências Bio-médicas na CESPU, acrescidos de 7 uni-dades extracurriculares com um total de 50 ECTS, possam ingressar, na qualidade de titulares de curso superior, no curso de Medicina na Universidad Alfonso X El Sabio, até ao máximo de 30 vagas. Para além dos requisitos curriculares exigi-dos, os quais resultaram de um aprofun-dado trabalho de avaliação dos conteú-dos programáticos e das competências a adquirir, existe uma avaliação para a seriação dos candidatos de forma a pode-rem prosseguir os seus estudos no 4º ano do Curso de Medicina, então na qualida-de de alunos da Universidade madrilena. É assim garantido o cumprimento inte-gral da formação médica pré-graduada, com a frequência e avaliação, de facto, de todas as unidades curriculares.Para rematar esta questão quero acres-

centar que é absolutamente lamentável que alguém teça publicamente comen-tários sobre o plano curricular de cada um dos cursos, desconhecendo por completo o contéudo das várias unida-des curriculares. É de uma enorme falta de respeito para com estas instituições.

Como explica as declarações da Ordem dos médicos (Om), mais concretamente pelo conselho regional do norte (Crn) da instituição, que afirmou que os cur-sos privados de medicina comprome-tem o futuro da formação médica espe-cializada?

Colar essa preocupação à existência de cursos privados de medicina não tem qualquer sentido. Entenderia que res-ponsáveis do CRN dissessem que o au-mento do número de titulares de cursos de medicina põe em causa a formação médica especializada, tendo em conta uma hipotética dificuldade em existirem vagas suficientes para essa formação em locais com reconhecida idoneidade. De qualquer forma discordaria. Por um lado, ter um curso não pode ser sinónimo de acesso ao exercício profissional, fun-damentalmente no caso das profissões altamente reguladas, como é o caso. Ter um curso, cumprindo todas as regras de acesso em vigor, deve fazer parte da liberdade individual do cidadão e que a constituição portuguesa protege de for-ma clara. Exercer uma profissão, e muito em especial a de médico, deve depender de mecanismos que garantam à popula-ção a qualidade dos atos praticados. Aí sim, a Ordem deve ter um papel deter-minante. Por outro lado, no estrangei-ro, e em particular no espaço europeu existem muitas instituições que garan-tem formação médica especializada de elevada qualidade, não se colocando, portanto a questão de falta de oportuni-dades para esse fim. Lamento que o CRN não se manifeste sobre as questões reais que hoje se colocam. Por exemplo, temos vindo a assistir a um aumento brutal de vagas para medicina nas universidades públicas, pondo em causa a qualidade da formação médica pré-graduada, o que já levou alguns dos diretores dessas escolas médicas a manifestarem-se nesse senti-do. Provavelmente a abertura de um ou mais cursos privados poderia ajudar a atenuar a pressão colocada sobre os cur-sos públicos, com a vantagem atenuar o esforço que até agora é suportado exclu-sivamente pelo orçamento do estado.

ALheIO àS CRíTICAS, ANTóNIO ALmeIDA DIAS, PReSIDeNTe DO gRUPO CeSPU, AfIRmA«ENSiNO PriVAdO dE MEdiciNA –

PrEcONcEiTO OU NÃO?»

António Almeida Dias

Pontos de Vista Agosto 2012 23

na sua opinião existe aqui algum pre-conceito relativamente aos cursos privados de medicina? na sua opinião quais as razões que levam a esta toma-da de posição por parte da Om? O preconceito existe, mas não deve ser atribuída á Ordem dos Médicos, enquan-to instituição. Também sou membro da Ordem e, como eu, muitos colegas pre-ocupam-se realmente com a qualidade daqueles que acedem ao exercício da medicina em Portugal. Temos a situação dos médicos oriundos de países em que a formação é manifestamente inferior à observada no nosso país e acabam por ser contratados para trabalhar no nosso Serviço Nacional de Saúde. Recordo que cerca de 10% dos inscritos na OM são oriundos do estrangeiro.Também a criação dos novos curso públi-cos com quatro anos de duração gera al-guma preocupação quanto às competên-cias adquiridas durante esse período. Os alunos ingressam através de um modelo assente em entrevistas e podem ser can-didatos os detentores de licenciaturas ou mestrado, com a classificação mínima de 14 valores, de algumas áreas, nem sempre relacionadas com a saúde. Aos selecionados é dada a equivalência a 120 ECTS. Como reforço das preocupações, as instituições em causa tem uma experien-cia limitada no que respeita ao ensino das Ciências da Saúde, conforme se pode constatar pelo seu histórico.Estes e outros problemas, como o êxo-do de cerca de 1500 jovens portugue-ses que procuram no estrangeiro tirar o curso de medicina, nem sempre nas melhores condições, deveriam fazer parte do discurso institucional da OM de forma mais consistente, em vez de se fomentar a polémica sobre um acordo entre duas instituições universitárias que se regem por princípios rigor aca-démico, científico e ético. Ficamos com a noção de que se tratasse de duas en-tidades públicas não haveria qualquer comentário, já que, de facto, não há nada a apontar à situação.

Podem estas declarações fazer manie-

tar os desideratos da CeSPu no âmbito do ensino de medicina? Tenho a certeza que tudo o que tem sido dito de forma tão leviana sobre este assunto não irá beliscar o imenso o trabalho que a nossa instituição tem de-senvolvido para poder ter a acreditação de um Mestrado Integrado em Medicina. Temos a experiência de quase 30 anos no ensino da Medicina Dentária, Ciên-cias Farmacêuticas, entre outos cursos em que fomos pioneiros no setor pri-vado português. Mais recentemente ti-vemos a acreditação da licenciatura em Ciências Biomédicas cuja classificação média de ingresso dos candidatos ma-triculados este ano se situou em 169.4, sendo a nota mais baixa de 156.9 e a mais alta de 180.2, o que demonstra a confiança na instituição.

São críticas sem sentido? em pleno sé-culo XXi crê que estes comentários e crí-ticas já não têm razão de ser? São críticas disparatadas. Nos dias de hoje tem sentido é preocuparmo-nos com a formação aos nossos jovens em profissões com elevada empregabilida-de, como é o caso da medicina. De acordo com um relatório da Comis-são Europeia, de abril deste ano, have-rá necessidade, entre 2016 e 2030, de cerca de um milhão de profissionais de saúde na europa, entre os quais 230.000 médicos. Noutros continentes, e em particular nos países onde se fala português, são constantes as oferta de trabalho no âmbito da saúde.Claro que alguns dizem que a formação de um médico é muito cara para depois ir trabalhar para outro país. Pois essa é mais uma razão para abrir o ensino mé-dico ao setor privado, já que aí o esforço financeiro é todo ele suportado pelo alu-no e não pelos contribuintes.

É uma falsa questão quando se diz que os cursos privados de medicina compro-metem o futuro da formação médica e por conseguinte dos cuidados de saúde prestados? No caso de Portugal essa questão nem

sequer se coloca, já que não há nenhum curso de medicina no setor privado. Nos países onde há essa experiência tudo in-dica o contrário. Entre as primeiras dez escolas médicas do ranking mundial, cinco são de natureza privada, como é o caso de Harvard que lidera essa lista. É a prova cabal de que natureza públi-ca ou privada das instituições que ensi-nam medicina não tem nada a ver com a qualidade dos cursos. Em outras áre-as do setor da saúde, o ensino superior particular e cooperativo português já demonstrou ser capaz de estar na linha da frente, formando profissionais de grande qualidade, como acontece com diversos cursos ministrados na CESPU. Muitos estão a trabalhar com imenso su-cesso em sistemas de saúde muito com-petitivos, como é o caso do Reino Unido.

Sendo a CeSPu uma instituição que se dedica exclusivamente ao ensino das Ciências e tecnologias da Saúde, tem de alguma forma contribuído para a quali-ficação dos médicos portugueses?É no âmbito das pós-graduações que a CESPU tem vindo a contribuir para a for-mação de médicos, tendo mesmo alguns cursos sido contratualizados com o Mi-nistério da Saúde. Das várias formações destacamos o “Ad-vanced Cardiac Life Support”, para 140 médicos distribuídos por 14 edições, o “Curso Avançado em Trauma Hospi-talar”, para 60 médicos, em 5 edições, o “International Trauma Life Support”, para 20 médicos, em 4 edições, a “Pós--graduação em Cuidados Continuados e Paliativos”, para 40 médicos, em 10 edições. São mais de 500 os clínicos que melhoraram ou adquiriram mais com-petências na nossa instituição.

na sua opinião, existem diferenças en-tre o ensino de medicina ao nível do en-sino público e privado? Crê que o ensino privado em medicina nunca foi visto com a mesma credibilidade da vertente pública? Como explica este cenário? Conforme já disse, entre as melhores escolas médicas do mundo encontram-

-se muitas instituições de natureza pri-vada. No nosso país não podemos fazer comparações, pois o ensino médico é totalmente monopolizado pelo Estado. No entanto, no que respeita às restantes profissões de saúde, o setor particular e cooperativo é responsável por cerca de 30% da formação, chegando mesmo a liderar em algumas áreas, como é o caso da Medicina Dentária. Quanto às dife-renças de qualidade verificadas entre as escolas, não existe relação com a sua na-tureza ser pública ou privada. Não tenho dúvidas que, havendo a oportunidade, se passará o mesmo em relação à Medicina. quais são os grandes desafios da CeSPu no domínio do ensino de medicina? em termos globais o que podemos esperar da CeSPu? A experiência que a CESPU adquiriu ao longo dos seus 30 anos dedicados ao en-sino superior das várias ciências e tec-nologias da saúde, contando atualmente com um corpo docente diferenciado, do qual se destaca a existência de 174 doutorados, levam-nos a perseguir, com toda a convicção e legitimidade, o objeti-vo de vermos acreditado o nosso proje-to de Mestrado Integrado em Medicina. Para o funcionamento dos primeiros três anos, diria que está praticamente tudo instalado e a funcionar, já que os recursos necessários coincidem, numa grande parte, com os utilizados na licen-ciatura em Ciências Biomédicas. Para o ensino clínico, contamos com o envolvi-mento institucional da Universidade de Barcelona, com o reforço de docentes portugueses com larga experiência no ensino da medicina, maioritariamente médicos doutorados, com a participa-ção de 3 hospitais públicos de grande dimensão, com um hospital privado, detido maioritariamente pela CESPU, e com unidades dedicadas à saúde públi-ca e medicina familiar. Mas mais do que os argumentos que poderia colocar na defesa do nosso projeto, o importante é termos a oportunidade de demonstrar-mos, na prática, que somos capazes de ensinar Medicina.

Não tenhamos dúvidas. São as empresas e não as clas-ses políticas, as principais geradoras de crescimento

sustentável, emprego e riqueza. No entanto, as PME não conseguem per-petuar o seu papel agregador e com-petitivo se não existir uma filosofia por parte das entidades políticas que promova o seu apoio e crescimento. Assim, para que essas políticas sejam eficientes é necessário que se tenha uma visão correta da realidade. O COMPETE é o Programa Operacional Fatores de Competitividade que gere os fundos comunitários do Quadro de Re-ferência Nacional – QREN, tendo como desiderato apoiar projetos de investi-mento promovidos por empresas, a as-sociações empresariais ou entidades do Sistema Cientifico e Tecnológico (SCT) direcionados para a intervenção nas PME, tendo em vista a inovação, moder-nização e internacionalização, através da utilização de fatores dinâmicos da competitividade.Olhando para a atual conjuntura, de crise económica um pouco por todos os mercados globais, são necessária alte-rações e modificações claras que apon-tem «agulhas» para um novo rumo que promova novas linhas de força em prol de empresas mais fortes e capazes, pois

são estas as grandes promotoras de uma economia forte de um país que se auto-denomina de desenvolvido. O novo gestor do COMPETE é Franque-lim Alves, anterior Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia Carlos Tavares do XV Governo Constitucional, liderado por Durão Barroso e pretende continuar a promover o COMPETE como uma marca que tem como fito primor-dial o apoio às empresas lusas, ou seja, maximizar o apoio ao empreendedo-rismo e inovação, assim apresentem as mesmas projetos de valor e mais-valias reconhecidas. Neste sentido, o QREN tem estado a so-frer uma reestruturação, sendo que está em curso em processo de reestrutura-ção com o objetivo de maximizar os efei-tos de apoio ao empreendedorismo e à inovação, reforçando portanto o nível de competitividade das empresas por-tuguesas, lembrando ainda que esta re-formulação serve também para apoiar o

As Pequenas e médias empresas, PmE’s, assumem atualmente uma enorme relevância na estrutura e no universo empresarial luso. Nos dias que correm, as pequenas e médias empresas representam cerca de 98 por cento das empresas, 55 por cento do volume de negócios e geram cerca de 75 por cento do emprego em Portugal. ora, este cenário retrata e bem o enorme dinamismo que as PmE possuem, bastante superior ao dos grandes grupos, e que faz com que detenham um importante papel no futuro da economia portuguesa.

Portugal… as Empresas… e a Competitividade da Economia

seu, das empresas, esforço de afirmação num mercado fortemente globalizado e concorrencial.

o QUE Está disPoNíVElEm fUNdos do QREN

Interessa perceber que no âmbito do COMPETE, cerca de 73 por cento da do-tação global do programa, superior a 5,5 mil milhões de euros, encontra-se afeta ao apoio direto ao investimento empre-sarial através de mecanismos distintos como o Sistema de Incentivos QREN - SI I&DT, SI Inovação e SI Qualificação e Internacionalização das PME – e dos instrumentos de Engenharia Financeira – Fundos de Capital de Risco, Business Angels e Linhas de Crédito. Desta forma, existirá uma disponibili-dade de cerca de 400 milhões de euros, valores estes que concernem exclusi-vamente ao COMPETE, destinados ao apoio de projetos de investimento de

empresas até ao final do atual quadro comunitário, isto se considerarmos os compromissos atuais corrigidos com a taxa de desativação e sem considerar eventuais efeitos da Reprogramação Es-tratégica do QREN. De referir ainda que todos os apoios destinados a empresas são para mar-cas de bens transacionáveis. A grande prioridade no domínio dos Sistemas de Incentivos QREN reporta ao apoio à in-ternacionalização e às exportações. Este rumo tem sido assim desde o primórdio, registando-se uma forte concentração no apoio a empresas inseridas em seto-res com potencial de exportação. E são estas as principais linhas com que se tem vindo a «traçar» o COMPETE, instrumento de excelência ao nível do apoio das empresas portuguesas. Aqui se comprova que é possível desenvolver políticas que fomentem o crescimento e o desenvolvimento das PME, em Portugal e na Europa. O apoio às mesmas é fun-damental, embora seja vital termos em linha de conta que não podemos apenas olhar para a orgânica da empresa no seu estado «puro e duro». É importante ob-servar o sistema envolvente às mesmas para assim gerar um efeito positivo nas mesmas. Portugal deve aproveitar estas oportunidades pois só tem a ganhar.

COmPeTe - PROgRAmA OPeRACIONAL fATOReS De COmPeTITIvIDADeiNTErNAciONALiZAÇÃO

neste sentido, o qren tem estado a sofrer uma

reestruturação, sendo que está em curso em processo

de reestruturação com o objetivo de maximizar os

efeitos de apoio ao empre-endedorismo e à inova-

ção, reforçando portanto o nível de competitividade

das empresas portugue-sas, lembrando ainda que

esta reformulação serve também para apoiar o

seu, das empresas, esforço de afirmação num merca-do fortemente globaliza-

do e concorrencial

“de referir ainda que todos os apoios destinados a empresas são para marcas de bens transacionáveis. A grande prioridade no do-mínio dos Sistemas de incentivos qren reporta ao apoio à inter-nacionalização e às exportações. este rumo tem sido assim desde o primórdio, registando-se uma forte concentração no apoio a empresas inseridas em setores com potencial de exportação”

Pontos de Vista Agosto 2012 25

As competências da PrOCiFiSC permi-tem-lhe acompanhar todas as fases de “vida” de um empreendimento. que serviços disponibilizam, dentro das áre-as de projeto, consultadoria técnica e fiscalização?Somos uma empresa de engenharia e consultadoria cuja atuação centra-se em três áreas distintas: projeto, fiscali-zação de obras e consultadoria técnica.

A terceira área é mais abrangente por-que prestamos todo o tipo de serviços de ordem técnica que os nossos clientes necessitam. O nosso percurso tem sido de crescimento, com a postura de olhar para as dificuldades como oportunida-des e encarar a crise como uma forma de sairmos da nossa área de conforto. O empresário português não sabe viver sem o seu sofá mas eu tenho de o fazer

Nas áreas de projeto, consultadoria técnica e fiscalização, a PRocifisc anda lado a lado durante todas as fases de desenvolvimento de um empre-endimento. Presente, atualmente, no mercado angolano, a começar o seu trajeto no Brasil e a espreitar o mercado chinês, a empresa sabe arriscar, orientando a sua atuação, cada vez mais, para a inovação e internacionalização.

“Não ser apenas mais uma sempre foi a nossa filosofia”

porque disso depende a minha vida e a das pessoas que trabalham nesta em-presa. Temos lutado e orientado a nossa atuação cada vez mais para a internacio-nalização e inovação.

O investimento em zonas da geografia mundial que se estão a desenvolver acima do crescimento mundial, é um ca-minho que uma empresa deve seguir se quiser consolidar-se no mercado?Atualmente, estamos em Angola, no Bra-sil estamos a dar os primeiros passos, temos contatos adiantados com S. Tomé e Príncipe e não descuramos este ano o mercado chinês. Aquilo que pretende-mos levar para o mercado brasileiro é um produto inovador porque este país tem requisitos bastante distintos do mercado africano. No africano há uma carência de serviços técnicos, no brasileiro não é tan-to assim. Eles carecem de mão-de-obra técnica mas de empresas como a nossa eles não necessitam. Temos de saber po-sicionar-nos, ver quais são as carências e trabalhar nesse sentido. A maior parte das empresas está a fe-char e aquelas que não fizerem alguma coisa no sentido da internacionalização rapidamente vão ter os dias contados. Para se poder fazer alguma coisa lá fora, há uma série de barreiras jurídicas que têm de ser ultrapassadas. Para se perce-ber o cenário, tem que se respirar aque-le ar, falar com as pessoas e ser quase como bebés que acabaram de nascer naquele país. Isto não é fácil, envolve di-nheiro e tempo mas, como em tudo na vida, só aquilo que custa é que tem valor.

num período difícil para Portugal em que a construção civil está praticamen-te estagnada, que estratégia é utilizada pela PrOCiFiSC para contornar esta re-alidade?Temos apostado na diferenciação. Não ser mais uma sempre foi a nossa filosofia de base. Apostar sempre num serviço di-recionado para o cliente é o nosso objeti-vo. Para podermos consolidar esta filoso-fia, implementamos o sistema de gestão da qualidade e certificamos o sistema. Somos uma das 150 empresas nacionais certificadas ao abrigo da ISO 9001, o que nos permite sustentar a nossa filosofia de base. Para conseguirmos ultrapassar a crise que se vive em Portugal na área da construção, pautamos o nosso dia a dia por sermos inovadores naquilo que

fILIPe LOUReNÇO, SóCIO e geReNTe DA PROCIfISC – eNgeNhARIA e CONSULTADORIA, LDA.iNTErNAciONALiZAÇÃO

“A maior parte das empre-sas está a fechar e aquelas

que não fizerem alguma coisa no sentido da interna-

cionalização rapidamente vão ter os dias contados”

Lídia Lourenço e Filipe Lourenço

Pontos de Vista Agosto 2012 27

prestamos aos clientes, ou seja, conside-ramos que a nível regional (onde presta-mos o serviço ao pequeno empreiteiro), prestamos um serviço bastante inovador porque lhe damos aquilo que ele efetiva-mente necessita. Temos uma percenta-gem de satisfação dos nossos clientes na ordem dos 90 por cento, o que nos deixa muito contentes. Além disso, temos pro-jetos inovadores que nos lançam para o futuro, projetos que vão no sentido de transformar o paradigma da construção. Aí temos soluções para apresentar mas o mercado nacional não consegue comprar nada. Temos que começar a divulgar lá fora e começar a vender cá quando hou-ver alguma libertação.

A PrOCiFiSC, através do estabeleci-mento de parcerias estratégicas, dis-ponibiliza aos seus clientes serviços de engenharia e consultoria de qualidade. A constituição desses elos entre vários parceiros é fundamental na prossecu-ção dos vossos objetivos?

Somos uma empresa que desde sem-pre aceitou a filosofia de trabalhar em parceria com outras. Quando estamos perante as adversidades dos mercados, temos que saber olhar para as empre-sas que fazem o mesmo que nós como potenciais aliados e não como inimigos porque temos a consciência de que sozi-nhos não vamos a lado nenhum. Temos que nos unir às pessoas que nos inte-ressam e criarmos um núcleo forte que consiga trazer valor acrescentado. Esta-mos felizes com as parcerias que temos conseguido fazer nos últimos anos e hoje sentimo-nos à vontade para poder-mos concorrer com qualquer empresa a nível internacional no nosso ramo.

num futuro marcado por esta crescente aposta na internacionalização, que de-safios se colocam?Olhamos para o mercado com otimismo. Não baixamos os braços porque temos que dar confiança às pessoas que estão connos-co, aos nossos fornecedores. Temos que dar um bom rumo a este barco. Somos oti-mistas porque sabemos onde estamos po-sicionados. Os projetos para o nosso futuro passarão sempre mais por fora do que por

Portugal. Queremos potenciar a internacio-nalização da empresa de forma a sermos uma empresa sólida nos mercados onde vamos atuar, sem sermos mais uma. Portu-gal vai continuar a ser o nosso cérebro. Mas em termos de mercado real de trabalho vai passar a ser um mercado residual na ótica de ser o mercado que paga as despesas ine-rentes à estrutura.

em algumas palavras, como descreve-ria a PrOCiFiSC?Empreendedorismo, espírito de sacri-fício, perseverança e profissionalismo. Tudo aquilo em que acreditamos, conse-guimos alcançar. É assim que levo a mi-nha vida pessoal e profissional. Acredito que esta geração de empresários portu-gueses que tem a coragem de ir para fora vai dar uma grande ajuda para que o país volte a criar condições para as gerações futuras. Acredito que eu e a minha em-presa vamos fazer parte dessa história. Estamos a voltar ao tempo dos descobri-mentos, mas com um novo nome: redes-cobrimento empresarial.

“Acredito que esta geração de empresários portugueses que tem a coragem de ir para fora vai dar uma grande ajuda para que o país volte a criar condições para as gerações futuras. Acredito que eu e a minha empresa vamos fazer parte dessa história”

A empresa já conta com mais de vinte anos de experiên-cia no financiamento da Investigação, Desenvolvi-

mento e Inovação, centrando-se no acompanhamento sistemático aos seus clientes. Na F. Iniciativas, a ju-ventude, a abertura de espírito e o conhecimento são os grandes valores que tornam a empresa num perfeito aliado que atua em todos os setores da atividade empresarial, prestando todo o tipo de consultoria profissio-nal no âmbito do financiamento a empresas. Em 2006, depois do sucesso atingido por terras francesas e espanholas, tinha chegado o momento de responder às so-licitações de alguns clientes e desloca-rem-se para Portugal. Telma Paz, Direto-ra Geral Adjunta da F. Iniciativas, recuou ao passado e explicou à Revista Pontos de Vista a origem dessa necessidade. “Este conceito de negócio, bastante pró-prio, surgiu da casa-mãe e quando cá

chegamos, este mercado ainda era pou-co explorado. Tendo por base todo o co-nhecimento já utilizado noutros países, em sistemas completamente diferentes, agarramo-nos a esse suporte e trouxe-mos para Portugal todo o nosso know how”, explicou. Foi, então, que a F. Inicia-tivas chegou para marcar a diferença no mercado nacional. Focando-se em dois principais programas, nomeadamente o SIFIDE (Sistemas de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial) e o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), a empresa iniciou, assim, a sua atividade na prestação de serviços de consultoria profissional, tratando os seus clientes, desde o início, não como clientes mas como verdadeiros parceiros de negó-

A estrutura foi erguida na década de 90 em frança mas, rapidamente, abriu outros horizontes. trazendo na bagagem um know how especializado, a f. iniciativas chegou a Portugal em 2006 com o objetivo de, na procura de financiamento público para os seus projetos, impulsionar a competitivi-dade empresarial dos seus clientes que mais não são do que verdadeiros parceiros de negócio.

Um braço direito no financiamento de I&D e Inovação

cio. O objetivo é partilhado por ambos: “queremos ganhar e queremos ganhar o máximo”, ressalvou Telma Paz. Neste sentido, todos os esforços são reunidos para que o projeto, que concorre a finan-ciamento, chegue a bom porto.

difERENçAs ENtRE QRENE sifidE

Se, por um lado, o SIFIDE concede incen-tivos fiscais às atividades de I&D empre-sarial de forma a apoiar as empresas na intensificação dos seus investimentos nestas áreas, o QREN é um programa de incentivos comunitários que visa apoiar, através de incentivos reembolsáveis ou não (a fundo perdido), vários tipos de

investimentos. Por outras palavras, “no QREN é apresentado a um “investidor” um projeto, mostrando que pretende-mos fazer determinadas ações ou inves-tir em certa área, esperamos, então, ter certo retorno e, para isso, precisamos de determinado apoio. O SIFIDE é o contrá-rio. Agarramos no que já fizemos e faze-mos um balanço, descrevemos o esforço que dedicamos em investigação em ter-mos técnicos e financeiros e solicitamos a dedução à colecta correspondente. São programas que poderão ser comple-mentares”, explicou Telma Paz. Embora seja um programa nacional, o SIFIDE, e apesar de existir hoje uma outra dinâmi-ca na sua divulgação, não é tão conheci-do como o QREN, mas continua a ser o core business da F. Iniciativas.

fiNANciAmENtos diREtosE iNdiREtos

A F. Iniciativas tem como grande finali-dade apoiar os seus parceiros na procu-

TeLmA PAz, DIReTORA geRAL ADJUNTA DA f. INICIATIvAS em DeSTAQUeiNTErNAciONALiZAÇÃO

F. iniciativasem números:

- Mais de 20 anos de experiência;- Mais de 250 peritos ao serviço do cliente;- Sucursais espalhadas por 7 países;- Mais de 35M€ de faturação anual;

temos projetos que começam a surgir num âmbito mais rural (PrOder) e temos outros menos comuns, como o PrOmAr, ligado à economia do mar

“ “

Telma Paz

Pontos de Vista Agosto 2012 29

ra de soluções de financiamentos para atividades de investigação, desenvolvi-mento e inovação. “Quando falamos em financiamento, falamos de uma forma direta (através de um subsídio para a empresa) e indireta (através de uma poupança fiscal)”, explicou a diretora geral adjunta. Por imperativos do mer-cado, a empresa alargou a sua área de negócio, nunca perdendo o foco nos se-tores em que são especialistas. “Temos projetos que começam a surgir num âm-bito mais rural (PRODER) e temos ou-tros menos comuns, como o PROMAR, ligado à economia do mar”, evidenciou. A pedido de alguns clientes, a empresa começou a fazer a reavaliação do valor patrimonial tributável efetivo das pro-priedades que, por vezes, contêm falhas que, se forem corrigidas, podem origi-nar uma significativa poupança fiscal (IMI).

iNtERNAcioNAliZAção como GRANdE APostA

Dadas as exigências dos mercados, tan-to nacional como internacional, a F. Ini-ciativas está, constantemente, atenta a novas perspetivas de negócio. A grande aposta do momento está centrada na internacionalização. Crescer enquanto grupo e suportar as empresas com as quais trabalham atualmente é o grande foco desta equipa composta por enge-nheiros e doutorados. “Queremos incen-tivar os nossos parceiros a participarem em projetos com outro nível de atuação, ou seja, em vez de concorrerem a fun-dos como o QREN, candidatarem-se a consórcios europeus no âmbito da I&DI, como o Sétimo Programa-Quadro, o Eu-rostars ou o CIP”, afirmou Telma Paz. Existe um vasto leque de oportunidades

que também podem abrir as portas à internacionalização de uma empresa. É, acima de tudo, uma oportunidade para se estabelecerem parcerias que podem ser usadas como ferramentas primor-diais no momento de entrarem num determinado mercado. É nesta recente aposta que a F. Iniciativas tem concen-trado muitos esforços e, sabendo que não consegue responder a todas as ne-cessidades dos seus clientes, a empresa pretende fazer tudo o que estiver ao seu alcance para disponibilizar um leque de serviços o mais alargado possível.

“EmPREsAs cAlEJAdAs com más EXPERiêNciAs”

Em Portugal, muitas vezes devido a más experiências do passado, muitas empre-sas mostram-se renitentes no momento de se candidatarem a este tipo de pro-gramas de financiamento. A tarefa da F. Iniciativas fica dificultada mas, ainda as-sim, são concentradas energias para que a empresa acredite que o passado fica atrás das costas. Telma Paz já encontrou empresas “muito calejadas com más ex-periências no âmbito do QREN, que já foi bem mais complexo, mas ainda é muito burocrático”. Ao longo de todo o proces-so, é necessário haver um acompanha-mento profissional para que nada fuja do controlo. “Existem obrigatoriedades de parte a parte que têm de ser cumpri-das e, muitas vezes, não existe o conhe-cimento por parte das empresas para o fazer”, comentou a responsável. Da F. Iniciativas chega, então, um espírito de confiança e de segurança. Mas, mais do que mostrar os prós deste grande pas-so, a empresa quer, acima de tudo, que o seu parceiro tenha perfeita consciência da responsabilidade que está a assumir.

PoRtUGAl iNcREmENtA APostA Em i&d E iNoVAção

Nos últimos tempos, Portugal tem per-corrido um caminho interessante e tem aumentado a aposta em investigação, desenvolvimento e inovação apesar do revés sofrido no último ano. A opinião é de Telma Paz que acredita ainda existir, da parte pública, interesse em reforçar a qualificação dos recursos, criando be-nefícios para apoiar as empresas e ab-sorver essas competências. “Enquanto pequeno país, os portugueses têm muito para dar e os projetos que conhecemos diariamente mostram isso. Temos mui-to valor e a aposta que se tem feito nos apoios tem surtido efeito. Portugal tem escalado a montanha e tem melhorado a sua prestação”, concluiu Telma Paz. A F. Iniciativas quer continuar a escalar essa montanha, ao lado dos seus parceiros, sendo consultores cada vez mais com-pletos e presentes.

Revista Pontos de Vista – A F. Ini-ciativas trabalha quer com em-presas que já têm os projetos em curso, quer com aquelas que estão agora a iniciar os seus projetos. Quando é que o desafio é maior?Telma Paz – Não é fácil apanhar um projeto a meio. Vamos supor que uma empresa apresentou uma candidatura ao QREN e liga-nos porque não saber fazer o acompanhamento. Numa can-didatura, para além da parte descritiva, existe uma compo-nente financeira, onde estão as projeções financeiras feitas com base em determinados pressu-postos que, se nós não conhecer-mos, é difícil conseguir justificar o que aconteceu. Os projetos são todos interessantes. Mas, a nível pessoal, dá-me particular gosto ver um projeto a começar por ser uma ideia, materializar-se, fazer-se uma candidatura, vê--la ser aprovada e fazer todo o acompanhamento, vendo-o tornar-se realidade.

Reconhecida como uma marca que possui um perfil claro e uniforme, a dyrup assume-se como empresa presente em diferentes e diversos países e culturas, tendo como pilar fulcral da sua orgânica uma postura de excelência e qualidade em prol de um acompanhamento contínuo e positivo dos seus clientes e parceiros, sendo estes os principais condimentos de uma marca sobejamente conhecida e reconhecida por todos.

“A aposta na internacionalização foi ganha”

A internacionalização assume--se hoje como um vetor pri-mordial das marcas lusas, um pouco à imagem de ou-

tras congéneres europeias, sendo que o passo da internacionalização deve ser somente dado quando as marcas atingem um patamar de maturidade elevado e pretendem assim ultrapas-sar fronteiras para oferecer os seus produtos e serviços em outros mer-cados. Na atual conjuntura o rumo da internacionalização surge também no sentido de fazer face aos constrangi-mentos em que vive uma grande parte das economias mundiais. “A operação da Dyrup Ibérica conta atu-almente com dez por cento da faturação nos mercados internacionais”, afirma Eduardo Cevasco, Presidente-Executivo para a Península Ibérica da Dyrup, em entrevista à Revista Pontos de Vista, onde ficamos a conhecer as razões que levaram a Dyrup a apostar fortemente na internacionalização e de que forma é que a sua implantação tem sido realiza-da nos diversos mercados onde a marca fabricante de tintas atua. São diversas as razões que levam a que a Dyrup seja atualmente um dos princi-pais players existentes no mercado. Se a qualidade «emprestada» a determinados produtos e serviços é sem dúvida um fator primordial, não obstante, existem outros parâmetros que permitem com-preender as razões que perpetuam o sucesso de uma marca. A qualidade na Dyrup é portanto um vetor intrínseco à orgânica da marca, tanto na sua orga-nização, como nos produtos e serviços apresentados, “um pouco à imagem do que fazem atualmente os grandes grupos presentes neste setor”, afirma o nosso entrevistado, dando contudo a conhe-cer um aspeto onde a Dyrup consegue «bater» a concorrência. “Uma venda não acaba quando fechamos um acordo com o nosso cliente/parceiro. Só damos por finalizado o processo de venda quando o nosso cliente está realmente satisfeito com a operação realizada e com o produ-to ou serviço que adquiriu. É esta a nossa forma de estar e de atuar, pois acredita-mos que essa filosofia mantem a linha de seriedade que sempre seguimos, poden-do até nem dar resultados práticos a cur-to prazo, mas temos uma perspetiva de longo prazo, ou seja, queremos estar na linha da frente na preferência dos nossos clientes e só com uma política de serieda-de, credibilidade e acompanhamento dos nossos parceiros é que podemos singrar”, revela Eduardo Cevasco.

eDUARDO CevASCO, PReSIDeNTe-eXeCUTIvO PARA A PeNíNSULA IBéRICA DA DyRUP, em fOCOiNTErNAciONALiZAÇÃO

Revista Pontos de Vista: Que desafios se colocam Dyrup de futuro?Eduardo Cevasco: 2012 está quase «acabado» para nós e já estamos a pensar em 2013. Pretendemos conti-nuar a ser mais eficientes e a oferecer os mesmos produtos e semelhante serviço de qualidade que temos dado até aqui, se possível com menos custos, porque os volumes de negócios caem e o principal desafio é manter o mesmo entusiamo e alegria das nossas equi-pas e parceiros em momentos difíceis como os que se estão a viver em Portu-gal e Espanha.

Eduardo Cevasco

Pontos de Vista Agosto 2012 31

«soU Um dyRUPiANo»

A mensagem tanto a nível interno como externo é só uma, ou seja, a Dyrup inti-tula-se de «Happy Company», ou seja, tem vindo a ser criado um espírito de integração de todos aqueles que fazem parte do universo da Dyrup. “Trabalha-mos diariamente para que todos os co-laboradores se sintam parte desta gran-de família e isso também se transmite pela qualidade dos serviços e produtos, bem como pela relação criada com os clientes”, assume convicto o nosso in-terlocutor. «Sou um Dyrupiano». É esta a expressão utilizada no seio da Dyrup. O que significa a mesma? “Indica que a marca vai além do «vestir da camisola», a marca tem de estar no coração de to-dos aqueles que diariamente permitem que a Dyrup seja ainda mais reconheci-da e que têm contribuído para o sucesso que temos tido nos últimos anos”, asse-vera o nosso entrevistado. O passo rumo à internacionalização da Dyrup deu-se há cerca de três ou quatro anos, tendo a mesma surgido no âmbi-to de alargar a atuação da marca, mas também para conseguir manter o volu-me de negócios anteriormente existente e que hoje não passa de uma miragem em mercados como Portugal ou Espa-nha, onde a crise económica tem-se feito sentir ferozmente. No sentido de renta-bilizar e capitalizar o capital humano e capital investido, a Dyrup apostou em mercados além-fronteiras estando atu-almente presente em diversos mercados como os Palop’s e outros. Líder de mercado até à década de 70, a Dyrup sempre foi uma marca reconheci-da por todos, sendo que em Angola essa visibilidade foi legitimada com a entra-da da marca no país, principalmente pelas gerações mais antigas, “que iden-tificam a nossa marca e a qualidade da

mesma e isso deu-nos outro alento e fa-cilitou o início das operações em países africanos de língua portuguesa”, assume Eduardo Cevasco. A aposta tem sido realmente forte ao nível da internacionalização por parte da Dyrup e se há três anos o volume de faturação da empresa com o mercado internacional era zero, hoje representa cerca de dez por cento, tendo sido inclu-sive inaugurada, no ano transato, 2011, a primeira unidade fabril em Angola. “Está a ser um grande ano em Angola e que está a compensar um ano fraco ao nível da Península Ibérica dadas as circunstâncias macroeconómicas. Estes resultados são demonstrativos de que a ideia de compensar as exportações com a diminuição de volume de negócios nos mercados locais, Portugal e Espanha, foi uma ideia correta e que se está a cum-prir segundo as expectativas que tínha-mos. A aposta na internacionalização foi ganha”, afirma o nosso entrevistado, lembrando que este sucesso pode tam-bém ser espelhado na América Latina, onde a Dyrup também marca presen-ça. “Estes mercados possuem oportu-nidades de desenvolvimento para os próximos anos que os países europeus e mesmo os da América do Norte não apresentam e temos de os aproveitar”.

liGAção à PPG iNdUstRiEs

Se em 2011 o volume de faturação da Dyrup em mercados internacionais representa dez por cento, para os pró-ximos anos as perspetivas são de cres-cimento, até porque a partir de janeiro deste ano a Dyrup foi alvo de um pro-cesso de aquisição por parte da PPG Industries, um dos líderes mundiais em produtos de revestimento, pelo montan-te de 135 milhões de euros. Assim, as expectativas da Dyrup em mer-

cados africanos são agora mais positivas. Senão vejamos, a Dyrup, com o posicio-namento das suas marcas no setor da arquitetura, construção e decoração, pre-sentes na Dinamarca, França, Alemanha, Península Ibérica e Polónia, complemen-tam a oferta da PPG que, para além do continente Europeu, comercializa os seus produtos no Médio Oriente, África e em inúmeros mercados ultramarinos, sob as marcas registadas Sigma, Seigneurie e Johnstone’s. Portugal, Espanha e Alema-nha são mercados onde a PPG, através da Dyrup, reforçará também a sua presença.A aposta da Dyrup nos Palop’s não foi concertada, ou seja, não houve uma es-tratégia estandardizada por parte da marca no momento de «atacar» estes mercados, tendo a marca apostado em determinados locais a solo e em outros acompanhada por parceiros locais que se revelaram fundamentais na prosse-cução dos desideratos da marca. “Em Angola fizemo-lo com uma associação local que é um parceiro no negócio e na fábrica edificada. Temos contudo outros lugares em que o nosso parceiro local é o próprio cliente, ou seja, o distribui-dor local como é o caso de São Tomé e Príncipe ou Guiné. Neste momento es-tamos a avaliar algumas oportunidades de negócio e parceria em Moçambique. Há algumas decisões preparadas, mas que ganharão velocidade e prioridade à medida que formos conhecendo e avan-çando no território”.

com VAloR Não Há fRAcAsso

Se em tempos passados os empresários apostavam em mercados como os Palop’s com produtos de qualidade dúbia e ser-viços que em nada faziam jus à excelên-cia que se pretende, hoje o panorama mudou radicalmente. Desde que decidiu apostar na internacionalização a Dyrup

jamais entendeu fazê-lo por considerar ser mais fácil a entrada no mesmo e con-sequentemente o aumento do volume de negócios. “Apostamos nos Palop’s porque temos uma proposta de qualidade de serviço e produto. Jamais apostaríamos em mercados com propostas desprovi-das de valor por serem países que, em termos teóricos, são menos desenvolvi-dos. Isso seria desvirtuar o conceito e a filosofia desde sempre apresentada pela Dyrup, pois apresentamos qualidade seja onde for”, afirma o nosso entrevistado, lembrando que a Dyrup pretende conti-nuar a apostar na diferenciação, sendo que isso se faz, “através da proximidade e acompanhamento dos nossos clientes e parceiros para assim entendermos as suas necessidades. A partir daqui a qua-lidade do produto e do serviço surgirá naturalmente”. Mas terão estes mercados, «teorica-mente menos desenvolvidos», maiores necessidades que os restantes? Para Eduardo Cevasco essa questão não se coloca. “Não posso falar de necessidades que não existam nos chamados merca-dos tradicionais. São de facto mercados em crescimento onde a única diferença de atuação passará somente por expli-car melhor a utilidade de determinados produtos que em Portugal ou Espanha, por razões históricas, são mais conheci-dos. Mas são de facto mercados com um enorme potencial e que devemos apro-veitar, até porque possuem uma grande necessidade ao nível da construção, de manutenção e de recuperação de edifí-cios. Se conseguirmos apresentar uma proposta de valor credível e aliar uma marca conhecida como a Dyrup a par-ceiros locais então tenho a certeza que não há nenhuma hipótese de fracasso”, conclui o nosso entrevistado Eduardo Cevasco, Presidente-Executivo para a Península Ibérica da Dyrup.

OPINIÃO

Os empresários normalmen-te culpam os bancos e o governo por não estarem a ajudar as empresas como

deviam ou como ajudaram noutros tempos. Culpam a banca e o governo de retirar de forma abrupta os apoios que normalmente concediam, muitas vezes sem pré-aviso ou antecedência necessária por forma a estes encon-trarem alternativas.Provavelmente, estes empresários, foram mal habituados e andaram ano após ano baseados num modelo de financiamento dos seus negócios frágil, em que as empre-sas obtinham a liquidez necessária “à cus-ta do dinheiro dos outros” (banca, estado, fornecedores, etc). O empresário só tinha a ideia e era fácil obter o financiamento necessário, o qual era disponibilizado de forma imediata, por diversos agentes no mercado, sem que estes analisassem com rigor a viabilidade do mesmo.Quem deve acreditar no projeto é o seu promotor (empresário) e por que mo-tivo não é ele seu principal financiador, uma vez que, quando as coisas correm bem, é ele quem mais ganha ou louros retira? Quando corre mal, o mais penali-zado não é ele mas sim os seus credores.O dinheiro que os seus credores ganha-ram ao fornecer ou apoiar a empresa não chega, na maior parte dos casos, para cobrir as perdas causadas em caso de incumprimento por parte da empre-sa ou, em último caso, se esta fracassar. Este modelo de financiamento era o ideal numa conjuntura favorável, quan-do os negócios estavam a crescer e as margens a aumentar. Qualquer parcei-ro está disposto a fornecer produtos ou financiar negócios para partilhar lucros, nunca para partilhar prejuízos. Na atual conjuntura é praticamente impossível manter este modelo de financiamento.Os parceiros quando se apercebem que as coisas estão mal, as vendas e margens a baixar, querem sair da empresa o mais rápido possível, enquanto que, o empre-sário, quando se apercebe que o “navio esta a afundar”, por falta de conhecimen-to, informação ou mal aconselhamento, “enterra” tudo o que ganhou ate aquela

data na empresa, colocando inclusive em risco o seu próprio património pessoal, muitas vezes arrastando os seus fami-liares diretos. O empresário deve olhar para a sua empresa de forma profissional e fria e não de forma emotiva, nunca es-quecendo que na vida tudo nasce, cres-ce, vive e morre. Deve saber sair quando constata que o negócio não funciona mais, não devendo insistir numa coisa que ele não acredita. Quanto mais demo-rar mais o problema se agrava.A conjuntura mudou, o paradigma de fi-nanciamento das empresas foi alterado. Os tradicionais financiadores das PME’s nacionais (banca, estado e fornecedo-res) não podem mais financiar como até então o faziam.

BANcA

A Banca está com grandes dificuldades em se financiar, em virtude da crise fi-nanceira de 2008 e da nota de rating “lixo” que carrega às costas. Em 2008 com a crise do subprime, que levou à falência de um banco de referência cen-tenário - Lemon Brothers - os bancos nunca mais confiaram uns nos outros como até então, o mercado interbancá-rio parou, tendo inclusive o estado que avalizar empréstimos de bancos portu-gueses para que estes se pudessem fi-nanciar. Em 2010, com o pedido de aju-da externa do estado português, o rating dos bancos portugueses, muitas vezes conotado com o rating do país, passou para “lixo”. Esta notação inviabiliza o acesso da banca portuguesa aos merca-dos tradicionais onde se financiava.

EstAdo

Os empresários não podem ver o estado como fonte de financiamento como até então. O estado português por si só não tem meios financeiros para poder ajudar as empresas, em virtude do próprio esta-do débil em que se encontram as contas públicas, tendo apenas à sua disposição alguns fundos da União Europeia, os quais apenas estão disponíveis para al-guns setores específicos da economia, sendo que os projetos que beneficiam dos incentivos desses fundos são, regra geral, muito exigentes em termos do ca-pital a realizar pelo próprio empresário.

foRNEcEdoREs

Habitualmente o empresário financiava o negócio corrente: crédito a clientes e

Nos tempos que correm ouvimos falar, várias vezes, que as empresas enfrentam muitas dificuldades porque estão com falta de liquidez. mais do que um problema de "falta de trabalho", motivado pela diminuição do consumo interno e pela falta de aptidão para exportar, este é um dos graves obstáculos ao sucesso das em-presas nacionais.

Mudança do modelo de financiamento das empresas

stock, através do crédito dado pelos seus fornecedores, o que, normalmente, leva-va a que se cometessem erros na conces-são de crédito aos clientes, bem como se adquirisse produtos para stock que não necessitavam e não eram de rotação, o que originava o aumento do número de “monos” nas empresas e consequente acumulação de prejuízos. O facilitismo provocava graves erros de gestão.

cAso PRático

O fornecedor financiava a 120/180 dias e a empresa dava 90 dias aos seus clientes.Esta prática gerava dois problemas: dí-vida a fornecedores relativa a 4/5 meses de fornecimento e criação de dívida pe-los clientes relativa 3/4 meses de ven-das. Na prática existia negócio mas que não implicava fluxos financeiros. Se os clientes pagassem a empresa conseguia cumprir com os compromissos juntos dos fornecedores, se não pagassem esta prática criava um grave problema para a empresa, uma vez que esta deixava de ter meios líquidos para honrar os seus compromissos juntos dos fornecedores.

No cenário atual, os fornecedores altera-ram as práticas de concessão de crédito, pelos motivos abaixo expostos, o que inviabiliza a que a empresa se financie juntos dos fornecedores como fazia ha-bitualmente:• Os Fornecedores têm dificuldade de se financiar na banca.• Os fornecedores têm menos créditos junto dos seus próprios fornecedores. • As seguradoras de crédito atribuem um plafond de crédito aos clientes mui-to mais reduzido em virtude da recessão que assola o país, o que origina a que os fornecedores não estejam dispostos a assumir o risco de concessão de crédito a clientes que a seguradora não assuma.O empresário ver-se-á obrigado a procu-rar formas alternativas de financiamen-to do seu negócio, baseadas em capitais próprios e recursos alheios estáveis. A dificuldade em obter estas formas de financiamento poderá ter como conse-quência a diminuição do investimento e da atividade de algumas empresas, bem como, em último caso, provocar o encer-ramento de algumas delas.Este cenário ou esta consequência fará parte da solução e não do problema de liquidez que assola as empresas nacio-nais.Uma empresa para ser financeiramen-te viável Só tem duas alternativas, ou o

empresário tem capital suficiente para financiar grande parte do seu negócio, ou então terá de ser muito atrativa em termos de vendas, margens e resulta-dos, para que exista um interesse efeti-vo nela por parte de investidores, para financiar o negócio e partilhar o risco com o empresário.Algumas Formas alternativas de finan-ciamento no contexto atual:• Capital de risco• Empréstimos de sócios• Mercado de capitais (ações/obrigações)• Auto financiamentoAs novas alternativas de financiamento, quer por capitais próprios quer por ca-pitais alheios, implicam uma gestão com mais rigor e disciplina.

O investimento por parte do empresário de dinheiro próprio ou o reinvestimento dos lucros obtidos levará, da sua parte, a uma gestão mais cuidada e eficiente do crédito que concede aos seus clientes, da sua política de investimento e de stocka-gem. Se não o fizer corre o risco de perder o seu próprio dinheiro, sendo que teria sempre outras alternativas de aplicação das suas poupanças com uma relação ris-co/remuneração de capital bem melhor.As empresas de capital de risco normal-mente colocam um seu gestor a acompa-nhar o dia a dia da empresa, tal facto, irá aumentar o rigor da gestão, uma vez que os empresários (promotores) percebem do negócio mas, na sua grande maioria, não têm conhecimentos profundos de práticas de gestão. A empresa ao entrar para o mer-cado de capitais, passará a ser vigiada por órgãos de supervisão próprios do sistema, e terá de prestar informação com regula-ridade aos investidores, pelo que, obriga-toriamente, terá de apostar numa gestão mais rigorosa para que os investidores não queiram desinvestir na empresa.Os Recursos escassos são sinónimo de práticas de boa gestão, a abundância de recursos e o facilitismo poderão levar o empresário a cometer erros de difícil resolução. Os tempos que correm são de mudança e cada empresário deve apro-veitar para corrigir as suas práticas, mu-dar a sua conduta, para encarar o futuro de forma risonha.

máRIO COSTA, ADmINISTRADOR DA BeLIeveiNTErNAciONALiZAÇÃO

www.believe.pt [email protected]

quando é que surge a eco-modus e de que forma é que se tem vindo a imple-mentar no mercado em que atua? A Eco-Modus Lda surge através de um parceiro de origem chinesa que preci-sava de matéria-prima para as fábricas asiáticas. Os resíduos plásticos foram uma boa opção para ultrapassar a es-cassez de matérias-primas em Portugal. Esta prática já existia em toda a Europa e Portugal ainda tinha um mercado para desenvolver. A E.M. Lda é uma empresa familiar que exporta resíduos plásticos para todos os cantos do mundo.

quais os principais serviços e ativida-des apresentados pela empresa? de que forma é que os mesmos promovem a competitividade e eficácia nos vossos clientes?A Eco-Modus Lda exporta resíduos plás-ticos para as fábricas que precisam de materiais secundários. Preocupamo-nos com a qualidade dos plásticos enviados. Para isso tivemos que encontrar forne-cedores que estavam aptos para aceitar o nosso método de trabalho e exigência. Os nossos olhos são os olhos dos clien-tes e não podemos negligenciar nenhu-ma etapa da compra como da venda. Os nossos clientes fidelizados gostam do nosso trabalho e sobretudo do controlo pormenorizado que fazemos das cargas até às instalações do cliente final.

de que forma é que atualmente as es-tratégias de exportação/internaciona-lização são hoje ferramentas funda-mentais para as empresas singrarem no mercado? As estratégias de exportação são hoje ferramentas fundamentais para qual-quer empresa no mundo, ajudam a en-frentar qualquer crise existente no país. Em Portugal, temos um setor de expor-tação emergindo cada vez mais, desde ideias, frutas, calçado, têxtil, mármore, cortiça, óleo, vinho, entre outros. Portu-gal tem excelentes produtos com suces-so no mercado exterior. Hoje em dia não

exportar é não pertencer ao século em que vivemos.

de que forma é que as empresas lu-sas devem apostar nesta solução para fugirem à crise económica que o País atravessa? Sente que a nova geração de empresários nacionais olha para este género de instrumentos como impor-tantes na prossecução dos desideratos das suas organizações?

As empresas lusas devem associar-se a quem tem conhecimento do mercado exterior: quem tiver experiência neste ramo tem meio caminho realizado para desenvolver qualquer negócio. Feliz-mente a nova geração segue os passos dos antepassados lusos. Não podemos esquecer que Portugal foi um dos gran-des descobridores do mundo e nessa altura a exportação foi a salvação e o crescimento económico e territorial de Portugal no mundo.

qual a importância da eco-modus no mercado empresarial e de que forma é que se pode fazer a diferença através dos seus serviços? A E.M. Lda exporta em média 1200 to-neladas por mês, equivale a mais de 50 contentores mensais e o volume de ne-gócios vai aumentando. A nossa experi-ência e exigência faz com que os clientes de qualquer parte do mundo acreditem nos materiais portugueses e os pedidos vão aumentando.

quais os mercados onde se encontra presente? Estamos presentes em Xangai, na China, e estamos prontos para abrirmos em outros países emergentes.

A imagem é hoje essencial em qualquer área da sociedade. neste domínio, a empresa tem essa preocupação?Sim, a imagem é fundamental. É impos-sível exportar uma ideia ou uma empre-sa sem uma imagem estudada. Então, no setor da reciclagem ainda temos muito

A internacionalização é hoje um dos passos mais naturais das marcas lusas, sendo um rumo que deve ser bem pensado e acima de tudo sus-tentado no know how e experiência da empresa que pretende apostar além-fronteiras. A Eco-modus lda é o paradigma desse cenário, tendo apostado na internacionalização de uma forma calculada e engloba-

da na estratégia interna da empresa, tendo tido resultados bastante positivos. A Revista Pontos de Vista conversou com stanislas de Beck

spitzer, cEo & co-founder da Eco-modus lda, que revelou a forma como tem sido realizado este passo por parte da marca, lembrando que atualmente “Portugal tem excelentes produtos com sucesso no

mercado exterior”.

“Hoje em dia não exportar é não pertencer ao século em que vivemos”

que fazer, sobretudo na sensibilização: as sociedades ainda hoje desconhecem este mundo!

quais são as grandes prioridades de fu-

turo da eco-modus?

São várias. Mas queremos principal-mente continuar a atuar no mercado junto com os nossos parceiros e diversi-ficar os materiais que exportamos.

STANISLAS De BeCk SPITzeR, CeO & CO-fOUNDeR DA eCO-mODUS LDA, ReveLA iNTErNAciONALiZAÇÃO

Stanislas de Beck Spitzer e Amelie Spitzer com clientes chineses

Pontos de Vista Agosto 2012 33

Para que esta dinâmica seja de facto uma realidade possível e intrínseca é necessário que existam agentes preparados

para apoiar as empresas lusas. Des-ta forma, é relevante salientar a po-sição do Banco BIC, que, com cerca de quatro anos de atividade, desde maio de 2008, tem vindo a realizar um périplo assente em pilares como a excelência, a sustentabilidade e a realidade financeira, atuando atra-vés do conhecimento que possui das diversas economias e dos sistemas financeiros e económicos de Por-tugal e de Angola, este último uma economia emergente e em franca ex-pansão e que deverá ser aproveitado ao máximo pelo universo empresa-rial luso.Assim, tendo como principal fito fomen-tar e promover a aproximação entre os investidores portugueses e angolanos e estabelecer-se como uma «ponte» entre ambos os países, o Banco BIC Portugal direciona a sua orgânica no sentido de apoiar as empresas lusas na sua estra-tégia de internacionalização para aquele país africano, perpetuando-o também

no sentido inverso, ou seja, em relação aos investidores angolanos que operam ou pretendam realizá-lo em Portugal ou noutro país europeu.Importa realçar que Angola já ultrapas-sou os EUA como mercado não comu-nitário para as exportações lusas, facto que deve ser considerado de notável atendendo à reduzida população e po-der de compra da população angolana face aos americanos.Questionamos Luís Mira Amaral, Chief Executive Officer (CEO) do Banco Bic, que reconhece que este «fenómeno» é corrente e real “porque os angolanos reconhecem a qualidade dos produtos portugueses e das marcas portuguesas”, esclarece convicto, assegurando que os americanos não conhecem os nossos produtos e a qualidade dos mesmos, re-velando ainda que o mercado americano “é um dos grandes falhanços do nosso mercado externo.Quase que não conseguimos entrar no mercado americano e possuímos uma quota incipiente face à dimensão do mercado americano”, afirma Luís Mira Amaral em entrevista à Revista Pontos de Vista.

Numa era contemporânea vive-mos num mundo competitivo e

dinâmico, estando portanto em constante mutação. A atual con-

juntura de crise funciona, entre outras coisas, como uma espécie de advertência, desafiando por-

tanto muitos dos pressupostos do passado. Assim, urge um espírito

empreendedor e de determinação para nos adaptarmos às novas

realidades desta década, em que Portugal, país com uma forte

tradição comercial e de relaciona-mento com outras culturas, neces-

sita de estratégias e dinâmicas que promovam a competitividade

e o desenvolvimento do seu uni-verso empresarial e consequen-temente da economia nacional,

pois se Portugal alicerçar o futuro no seu instinto empresarial e nas suas raízes comerciais tem todas

as hipóteses de voltar a ter um crescimento robusto.

Angola e o reconhecimento das marcas portuguesas

mIRA AmARAL, CeO DO BANCO BIC PORTUgAL, em gRANDe PLANOiNTErNAciONALiZAÇÃO

Banco BiC…«uma pedrada no charco»Portugal vive atualmente sob égide da crise económica, onde os por-tugueses lutam diariamente não para viver, mas para sobreviver face às agruras sentidas. A banca portuguesa tem sofrido também os resquícios desta conjuntura, que não poupa mesmos os grandes grupos bancários que dia após dia são obrigados a ajustar modelos e comportamentos financeiros para assim conseguirem manter a sua marca no mercado. O Banco BIC Português tem tido a capacidade para ultrapassar estas dificuldades, sendo uma verdadeira exceção no marasmo em que vi-vemos em Portugal. Como? Aquando da edificação do Banco BIC, Mira Amaral afirmou em praça pública que só avançaria com este projeto num contexto de constrangimentos económicos. Porquê? “Porque o Banco BIC encontra-se ligado a um dos mais fortes bancos do sistema financeiro angolano, o nosso irmão gémeo o Banco Bic Angola, e o nosso fito passa por trabalhar o desenvolvimento das relações econó-micas entre Portugal e Angola, que é um país que apresenta níveis de desenvolvimento impressionantes. Tínhamos portanto em 2008 um potencial muito grande de aproveitamento das relações económicas entre Portugal e Angola e o que alcançamos desde maio de 2008 até hoje mostra que eu tinha razão. O nosso código genético demonstra uma forte ligação a Angola e em 2008 constituímos um bom banco de empresas e aproveitamos para trabalhar em conjunto com o Ban-co BIC Angola para financiar as empresas portuguesas presentes em Angola. Portanto houve uma clara aposta de capitais angolanos na banca portuguesa que até agora teve muito sucesso”, salienta Luís Mira Amaral.

Mira Amaral

Pontos de Vista Agosto 2012 35

coNtRiBUto do BANcoBic PARA EssE REcoNHEcimENto

Munido com uma estrutura acionista bastante forte, o Banco BIC é uma entida-de bancária bem capitalizada e com uma vasta experiência em termos de banco de empresas, assente num código gené-tico com um grande relacionamento com Angola e com uma enorme experiencia no comércio externo entre Portugal e Angola. Desta forma, o Banco BIC tem sido um promotor fundamental no reco-nhecimento das marcas e produtos por-tugueses em Angola. Como? “Ao financiar um conjunto de empresas portuguesas de qualidade que exportam para Angola obviamente que tem, enquanto agente financeiro, ajudado às exportações des-sas empresas portuguesas com marcas de qualidade para o mercado angolano”, revela o nosso interlocutor.Nesta senda positiva do Banco BIC por-tuguês interessa salientar a forma de atuação do seu «irmão gémeo» o Banco BIC Angola que tem também contribuí-do decisivamente para esta «onda» po-sitiva de empresas e marcas lusas em Angola, “pois tem financiado inúmeras operações de empresas portuguesas em Angola através de projetos de investi-mento e na sua operação corrente”, ex-plica, salientando que o êxito tem sido também alcançado pelas duas entidades bancárias, “pois temos trabalhado em conjunto e contribuído para a exporta-ção dos produtos, marcas e empresas portuguesas, através de um trabalho po-sitivo e reconhecido por todos”. Se numa primeira fase o investimento direto português realizado em Angola passava somente por áreas como a ban-ca, a construção civil e obras públicas, hoje o panorama é um pouco distinto, até porque “tudo na vida tem o seu tem-po e é natural que esses setores fossem os que envolvessem um maior investi-mento direto”, revela Luís Mira Amaral.Nesta fase, é então possível perspetivar-

-se investimentos para criação de capa-cidade de produção em Angola das em-presas portuguesas que já exportavam, casos de alimentação e bebidas, mate-riais de construção, metalomecânica, têxtil, vestuário e confeções. “O investi-mento direto assenta numa segunda fase do comércio externo, sendo que a pri-meira fase é a da exportação e portanto é perfeitamente compreensível que um conjunto de empresas portuguesas, que anteriormente exportavam para Ango-la, passem a perspetivar uma presença física para produzirem em Angola e dei-xarem de vender somente a partir de Portugal”, assegura o nosso entrevistado, deixando também a ideia de que atual-mente também se começa a perspetivar o investimento português no setor da saúde e educação em terras angolanas.

APoiAR E mitiGAR o Risco

Vivemos atualmente uma fase em que os bancos portugueses atravessam um clima de descapitalização. Nesse senti-do, estará o Banco BIC preparado para promover o financiamento de projetos empresariais portugueses em Angola? Apesar de ter «somente» quatro anos de atividade, o Banco BIC apresenta uma estrutura financeira bastante sólida e com um bom nível de solvabilidade. No entanto, face à necessidade de possuir uma provisão para risco país de dez por cento para os financiamentos da banca portuguesa aos investimentos em An-gola, “não é realista o financiamento pelo Banco BIC Português de projetos empresariais em Angola. Tem de ser o Banco BIC Angola a fazê-lo, tal como tem realizado, que está em condições para financiar localmente os projetos de empresas portuguesas”, assume. No âmbito de empresas portuguesas e angolanas, o Banco BIC Português tem financiado ambos, embora em determi-nadas situações com garantias “a nosso favor emitidas pelo Banco BIC Angola”. O Banco BIC Português encontra-se tam-bém a financiar em Portugal empresas portuguesas, nomeadamente nos seto-res de construção civil e obras públicas, que atuam em Angola e que dão como garantia ao Banco BIC Angola ativos que possuem em Angola. “Nesta lógica, o Banco BIC Angola emite-nos garantias para que as financiemos em Portugal”, revela o CEO do Banco BIC Português, que em qualquer operação realizada efetua sempre uma avaliação do risco envolvido em cada negócio, analisando posteriormente o binómio risco/renda-bilidade, tendo em conta as garantias oferecidas para mitigar o risco.

“ANGolA E moçAmBiQUEAPREsENtAm sistEmAs

fiNANcEiRos sofisticAdos”

Com um vasto potencial, Angola tem-se vindo a afirmar a nível mundial, sendo um dos destinos prediletos das empre-sas lusas. Que paralelismo é possível fazer relativamente ao setor financeiro de Portugal e de Angola? Segundo Luís Mira Amaral, Angola e Moçambique apresentam hoje dos sistemas financei-ros mais sofisticados, a par com África do Sul, e isso deve-se “à competência dos bancos portugueses que operam em Angola e Moçambique. Neste sentido, a banca em Angola está a seguir o mesmo caminho que a banca portuguesa teve

em Portugal, embora o ciclo económico em Angola seja completamente diferen-te, pois a taxa de bancarização em An-gola é apenas vinte por cento e todos os meses o Banco BIC Angola abre agências em todo o país pois trata-se de uma eco-nomia em expansão e que tem uma taxa de bancarização baixa. Em Portugal, como se sabe, o cenário é o inverso pois todos os dias são fechadas agências, a população está bancarizada e a econo-mia portuguesa encontra-se recessão e portanto o ciclo económico de ambos os países é completamente diferente, sen-do as expectativas em Angola bastante elevadas, pois este cenário mostra o enorme potencial que ainda existe para o crescimento da banca angolana”.

um Banco de dimensão nacionalO Banco BIC é atualmente o novo proprietário do Banco Português de Negócios – BPN, tendo saído das mãos do Estado um banco que foi nacio-nalizado há quase quatro anos. A proposta do Banco BIC foi selecionada em julho de 2011 pelo Ministério das Finanças para comprar o BPN. Com esta aquisição quais são as mais-valias que o BIC aporta na sua orgânica? “O Banco BIC Português passa a ter uma rede de retalho que anteriormente não tinha, complementando dessa forma os negócios em que já operávamos, ou seja, banca de empresas, banca de corresponden-tes e private banking”, revela o nosso entrevistado.Olhando para o atual cenário económico em Portugal, não será um risco demasiado elevado para o Banco BIC Português? Segundo Mira Amaral tudo passa por uma questão de realismo. “Os meus acionistas têm per-feita consciência que com a integração do BPN não vão ter lucros nos próximos anos. No entanto, são suficientemente pacientes para esperar que o Banco BIC recupere o antigo BPN, para que, quando a economia portuguesa estiver recuperada, este seja um dos melhores e mais sólidos bancos portugueses, embora mantendo sempre o seu código genético e a sua ligação a Angola”, assevera, aproveitando para elogiar algo que não é comum, principalmente nos dias que correm. “Esta combinação entre uma estrutura acionista muito forte e a paciência da mesma não é comum atualmente e por isso é que se explica quando o Governo provi-denciou o concurso de compra do BPN o único operador que surgiu com uma proposta realista e credível foi o Banco BIC. Mais ninguém apare-ceu com estas condições. Um investidor europeu ou americano não está disposto a apostar em Portugal mediante a atual conjuntura, ou seja, ter de esperar vários anos para ter lucros. Os meus acionistas fazem-no e resolveram apostar neste projeto porque têm uma estratégia de médio/longo prazo para assim sermos, no futuro, cada vez mais fortes”, finaliza o CEO do Banco BIC Português, Luís Mira Amaral.

“Ao financiar um conjunto de empresas portuguesas de qualidade que exportam para Angola obviamente que tem, enquanto agente financeiro, ajudado às exportações dessas empresas portuguesas com marcas de qualidade para o mercado angolano”

“O investimento direto assenta numa segunda fase do comércio externo, sendo que a primeira fase é a da

exportação e portanto é perfeitamente compreensível que um conjunto de empresas portuguesas, que ante-

riormente exportavam para Angola, passem a perspe-tivar uma presença física para produzirem em Angola e

deixarem de vender somente a partir de Portugal”

importa realçar que Angola já ultrapassou os euA como mercado não comunitário para as exportações lusas, facto que deve ser considera-do de notável atendendo à reduzida população e poder de compra da po-pulação angolana face aos americanos

A atual crise económica mun-dial trouxe consigo uma série de novas exigências, obrigando os profissionais

a adaptarem-se a outros paradigmas. No seio dos técnicos oficiais de con-tas, essa nova realidade tem exigido uma nova atitude perante o cenário que os envolve e perante o desempe-nho da sua profissão. A Ordem dos TOC, pela voz do Bastonário António Domingues de Azevedo, tem vindo a equacionar variadas questões no universo da regulação profissional, reforçando a ideia de que esta ins-

tituição trabalha, diariamente, para aproximar os seus membros e toda a sociedade. O IV Congresso dos Técni-cos Oficiais de Contas é disso exem-plo. A 14 e 15 de Setembro, entidades de relevo darão o seu testemunho sobre a evolução da contabilidade, a nível europeu e mundial, e sobre os novos desafios que são colocados a estes profissionais. Neste contexto, “uma nova atitude” é o que se exige, tanto aos contabilistas como aos empresários. “Os profissionais da contabilidade têm de ter uma nova atitude perante o que estamos a viver

“Uma nova atitude”. É com esta máxima que, nos próximos dias 14 e 15 de setembro, o Pavilhão Atlântico, em lisboa, será palco do iV congresso dos toc (técnicos oficiais de contas). Está já tudo a postos para este que é já considerado o maior evento alguma vez realizado por uma associação profissional em Portugal.

Empresário e TOC: o reforço de uma relação de “cumplicidades positivas”

no mundo. Conhecendo a estrutura e a composição do cenário empresarial por-tuguês, é necessário ter preocupações acrescidas na prestação de um apoio sustentado a estas empresas para que elas consigam sobreviver à crise”, afir-mou António Domingues de Azevedo. Este paradigma obriga o profissional a ter a contabilidade sempre feita a “tem-po e horas” para que a informação seja útil para a gestão. Como tal, é necessário reforçar o diálogo entre empresário e contabilista, duas estruturas vitais para que uma empresa chegue a bom porto. “É indispensável conversarmos com os

ANTóNIO DOmINgUeS De AzeveDO, BASTONáRIO DA ORDem DOS TéCNICOS OfICIAIS De CONTAS em DeSTAQUe iV cONGrESSO dOS TOc

Os trabalhos que serão apresentados obedecem aos seguintes temas:- A Formação Profissional dos Técnicos Oficiais de Contas;- A adequação do ensino aca-démico às necessidades das empresas;- Novos espaços de intervenção profissional dos TOC;- Contabilidade/Fiscalidade: tendências de evolução.

António Domingues de Azevedo

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empresários sobre os resultados conta-bilísticos para que eles conheçam a situ-ação da sua empresa e possam tomar as decisões mais adequadas. O empresário tem de ver no TOC um parceiro e, con-sequentemente, vai ser criada uma rela-ção de confiança”, afiançou o Bastonário. Sendo a aventura e o risco duas das ca-raterísticas inerentes a um empresário, o contabilista deve apoiar este processo empreendedor com o know how que lhe é intrínseco. “Este empreendedorismo tem de ser apoiado por um bom sistema de organização que vai evoluir de acor-do com a evolução da própria empresa”, ressalvou. A este sistema, António Do-mingues de Azevedo atribuiu a designa-ção de “contabilidade”.A nova atitude aclamada pela Ordem dos TOC não se exige apenas aos profis-sionais da contabilidade. Os empresá-rios têm, também eles, que assumir uma nova postura, tendo outra perceção do risco e da criatividade. O momento certo para investir carece de um “timing”, mas, mais do que isso, é preciso que esse pas-so seja acompanhado por decisões que garantam o crescimento e a sustenta-bilidade da sua empresa. António Do-mingues de Azevedo deixou, como tal, o repto: “os empresários quando tomam decisões de negócio devem contatar os seus contabilistas. Há certas opções que são tomadas sem terem como base este conhecimento. É, por isso, importante que estes dois profissionais se tornem conselheiros e companheiros de viagem que vão acompanhando o crescimento da empresa”, concluiu. Pela primeira vez, a organização do congresso vai desenvolver um sistema de sessões paralelas para apresentação de trabalhos. A Ordem ficou agradavel-mente surpreendida com a quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados e, apesar de apenas ter selecionado me-tade, não quer que os restantes fiquem esquecidos. Como tal, estão já à procura de outro sistema de exposição para que estes trabalhos sejam do conhecimento do público geral.

cRisE REfoRçA PAPEl sociAldAs EmPREsAs

“Quando uma empresa se constitui ela assume um compromisso com a so-ciedade”. A opinião do Bastonário da Ordem dos TOC assume, em tempos

de crise, uma outra supremacia. Se, no passado, um trabalhador abandonava o seu posto de trabalho e encontrava, com alguma facilidade, outro emprego, hoje o cenário é bem diferente. Tal pa-radigma, exige outra postura por parte dos empresários, como sugeriu, em conversa com a Revista Pontos de Vista, António Domingues de Azevedo. “Temos de começar a equacionar de uma forma diferente a preparação dos empresários para o desempenho do seu papel e evi-denciar a criação de um quadro jurídico que clarifique as condições do exercício da atividade de empresário para que eles tenham consciência do papel so-cial da sua empresa”, asseverou. A nova atitude, anteriormente referida e tema central do IV Congresso dos TOC, abran-ge o reforço da ideia de que uma empre-sa é um fator de criação de estabilidade social.

sNc fAcilitoU A VidAdos coNtABilistAs?

A resposta é assertiva: “não, até com-plicou”. O sistema de normalização contabilística exigiu do contabilista um espírito mais aberto e um conhecimento mais aprofundado do negócio. “O SNC acabou por ser um grande desafio para o profissional e nós fizemos esta transi-ção de uma forma espetacular. Fizemos a adaptação em dois anos, o que é bas-tante bom. Esta mudança enriqueceu o TOC porque o profissional passou a fa-zer parte da própria contabilidade. Mais do que uma mudança de denominação,

foi uma alteração de valores”, descre-veu o Bastonário. Mas, para que esta transformação fosse possível, a Ordem investiu cerca de dois milhões de euros em formação gratuita. “Este investimen-to foi importante porque, por vezes, as situações são avaliadas em função dos resultados mas é necessário ver que, por trás, existe um processo muito bem concebido e uma máquina capaz de pro-duzir estes resultados”, garantiu.

“toc, cRiAdoR dE VAloR”

Na pequena, média ou grande empresa, o TOC deve ser visto como um profissional capaz de criar valor. É com esta ideia que se irá iniciar o segundo dia do congresso. Pode aparentar ser uma tarefa extrema-mente difícil, mas António Domingues de Azevedo desmistificou. “Temos a ten-tação de ver que tudo é sempre muito difícil. Mas o TOC pode criar valor em vários aspetos. Pode acompanhar os em-presários na sua gestão, ver como é que eles estão a trabalhar, perceber se os pre-

mensagem do Bastonário,António domingues de Azevedo:“O momento de crise económica que se vive em Por-tugal e na Europa e a forma como as notícias nos são transmitidas, deixam-nos inseguros, sem rumo e sem esperança. Para recuperarmos o ânimo é necessário mudarmos de paradigma, termos uma atitude diferente perante a vida e perante a própria realidade que nos envolve.Os técnicos oficiais de contas, profissionais constru-tores da informação económica e financeira das em-presas, desempenham neste processo um papel de grande relevância e, porque com maiores respon-sabilidades sociais, por maioria de razões, também eles têm que ter UMA NOVA ATITUDE. Esse foi exata-mente o tema que escolhemos para o IV Congresso dos Técnicos Oficiais de Contas: “TOC – UMA NOVA ATITUDE”.É neste esforço de construir o futuro, nesta vontade de não deixar morrer a esperança, neste acreditar que somos capazes de fazer melhor, que durante dois dias abordaremos, sob as mais diversas formas, a constru-ção de uma nova atitude para os contabilistas.Não estaremos sós, pois, embora sob realidades di-ferentes, teremos entre nós colegas do Brasil, Ango-la, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. É essa a razão porque acreditamos que do nosso IV Congresso sairá uma profissão mais forte e mais esclarecida.”

ços praticados deixam margem ou não, ver qual é a estrutura dos custos e, pelo menos de dois em dois meses, conver-sar com o empresário e apresentar-lhe a contabilidade”, descreveu. No fundo, trata-se de saberem onde estão e para onde estão a caminhar. “Costumo dizer que eles têm de criar cumplicidades po-sitivas que passam por essa ideia do TOC como criador de valor e por uma mudan-ça de atitude na profissão”, concluiu. São esses os temas que serão colocados em cima da mesa, tendo como objetivo pri-mordial fortalecer o setor.

“Ordem dos tOC é um case study”“Dos cerca de 74 800 mil membros inscritos na Ordem, apenas 31 mil assinam declarações no final do ano, ou seja, mais do dobro dos seus membros não exercem a profissão mas continuam ligados à Ordem. No meu entender, isto acontece porque eles continuam a ver interesse na entidade, quer pela informação quer pelas contrapartidas que recebem. Este fenómeno faz da Ordem dos TOC a maior instituição de regulação profissional do país”, afirmou António Domingues de Azevedo.

“Os empresários quan-do tomam decisões de negócio devem conta-tar os seus contabilis-tas. há certas opções

que são tomadas sem terem como base este

conhecimento”

O Santander totta integra-se num dos maiores e mais sólidos grupos finan-ceiros mundiais, tendo uma presença diversificada e significativa que o des-taca da concorrência, estando ainda disponível para dar o seu contributo ao universo empresarial. de que forma tem sido perpetuado esse apoio e qual a importância do mesmo?

O Santander Totta integra-se num dos maiores e mais sólidos grupos financei-ros mundiais, que tem uma presença in-ternacional significativa e diversificada. Está integrado num grupo que tem uma presença forte em Espanha, Inglaterra, Alemanha, Brasil e América Latina, en-

tre outros, o que não só facilita a relação das empresas que têm negócios fora de Portugal, como lhes disponibiliza a ex-periência de um Banco Internacional de enorme solidez.Concretamente, o crédito a PME tem vindo a assumir uma importância cres-cente na estratégia comercial do Banco Santander Totta, com um contributo cada vez maior para os resultados do banco, o que é um indicador que cada vez mais somos um banco de apoio às PME. Além do mais, existem produtos que são específicos do Santander, nos quais fomos pioneiros e inovadores, como é o caso da Super Conta Negócios,

“Estamos sempre atentos à evolução da conjuntura nacional e internacional, de forma a estarmos preparados para oferecer os melhores produtos e os mais adequados aos nossos clientes”, revela luís santos, diretor do departamento de Produtos de crédito, Recursos e Parcerias do Banco santan-der totta, em entrevista à Revista Pontos de Vista. conheça a linha PmE crescimento do Banco santander totta e saiba as razões que fazem desta entidade bancária a líder nesta linha.

“Somos o Primeiro Bancona Linha PME Crescimento”

do Confirming que é uma marca regista do grupo Santander, ou das novas fun-cionalidade de gestão de Pagamentos e Cobranças do nosso NetBanco.

Atento a esta realidade, ou seja, às ne-cessidades de desenvolvimento das em-presas, o Santander totta disponibiliza atualmente aos seus clientes uma nova Linha de Crédito: Pme Crescimento. Porquê a aposta neste novo conceito? quais são as principais mais-valias des-ta nova solução?

A atribuição de uma garantia mútua, emi-tida pelas Sociedades de Garantia Mútua e cujos custos têm sido na íntegra su-

portados pelo Estado, bem como o facto dos spreads a aplicar estarem standardi-zados e serem aplicados de acordo com dados objetivos e que avaliam o risco das empresas, são duas vantagens muito sig-nificativas para as empresas.Mas existem outras vantagens, nomea-damente, o facto dos fundos associados a este tipo de créditos tanto poderem ser utilizados para investimento como para reforço dos capitais permanen-tes, aliviando, assim, a tesouraria das empresas, que numa altura de crise e redução das encomendas é muito im-portante. A inexistência de qualquer bu-rocracia de relação com o Estado, para

BANCO SANTANDeR TOTTA e A APOSTA NA LINhA Pme CReSCImeNTOPME crESciMENTO

“Os fundos prove-nientes deste crédito podem ser utilizados

quer para novos investimentos quer

para o reforço dos capitais permanentes

da empresa”

Luís Santos

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os clientes que solicitam estas linhas de crédito, tem sido uma das vantagens mais evidenciada pelos nossos clientes. Efetivamente, toda a ligação com o Esta-do e a parte burocrática fica do lado do banco, sendo que o cliente nem dá conta dessa relação. De salientar ainda que es-tas operações estão isentas de todas as comissões usualmente cobradas pelos bancos na formalização de crédito, po-dem ser liquidadas a qualquer momento sem nenhum custo associado e têm pra-zos e condições muito apelativas para os empresários.A perceção das vantagens destas linhas para os nossos clientes, desde o primei-ro momento, a disponibilidade do banco para conceder crédito e a rapidez com que o Santander Totta disponibiliza os fundos associados a estes créditos, faz com que a nossa quota de mercado seja de cerca de 23 por cento na Linha PME Crescimento em comercialização, o que faz de nós o primeiro Banco nesta Linha.

quem pode aceder à Pme Crescimento? que requisitos deve reunir no sentido de estar apto a fazer parte da mesma e a usufruir dos seus benefícios?Em termos genéricos, e para não entrar em especificidades demasiado técnicas, podem aceder todas as Empresas que não tenham incidentes não justificados junto da banca, do IAPMEI, Turismo de Portugal-IP e das SGM e que cumulativa-mente tenham a situação regularizada perante o Fisco e a Segurança Social. A empresa deve ainda manter o volume de emprego observado à data da contra-tação. Como é evidente, a empresa deve ter resultados positivos e mostrar que vai gerar os fluxos de Tesouraria sufi-cientes para liquidar o crédito.

era uma solução que ainda não existia no mercado? Sente que a mesma care-cia no setor empresarial? O que pode mudar com a introdução da Linha de Crédito Pme Crescimento?A Linha PME Crescimento já existe há algum tempo, apenas foi reforçada em termos de dotação em mil milhões de Euros, mantendo-se as características da Linha, as quais, aliás, vêm na sequên-cia das restantes Linhas Investe que fo-ram lançadas pelo Estado nos últimos três anos.

A Linha de Crédito Pme Crescimento apoia somente investimentos finan-ceiros ou também perpetua o apoio do fundo de maneio ou de capitais perma-nentes? Os fundos provenientes deste crédito podem ser utilizados quer para novos

investimentos quer para o reforço dos capitais permanentes da empresa.

na sua opinião, e olhando para a atual conjuntura económica e para as dificul-dades do universo empresarial, qual a relevância na criação de soluções de fi-nanciamento e crédito específicos para as empresas? A atual conjuntura económica, que se caracteriza por uma redução substan-cial da procura e dilatação dos prazos de pagamento, resulta consequentemente em apertos significativos na gestão da Tesouraria de curto prazo das empresas. Este facto, aliado às restrições de crédi-to, tornam esta Linhas indispensáveis para a sobrevivência e revitalização do tecido empresarial português.

É legítimo afirmar que perante a vossa atual carteira de clientes conseguem continuar a apoiar e a conceder crédito às empresas de bom risco? Como per-petuam o estudo e análise no sentido de conhecer a realidade de um determi-nado cliente, ou seja, se representa um bom ou mau risco?

A solidez do nosso Balanço permite-nos ter a liquidez necessária para conceder-mos crédito, como aliás sempre o fize-mos. Utilizamos os modelos e procedi-mentos de risco corporativos do grupo que são certamente uma mais-valia do Santander e que se repercutem na sua solidez financeira. Analisamos o risco da empresa de acordo com estes critérios e disponibilizamos crédito às empresas que mostram estar em condições para o poder receber.

de que forma tem sido a vossa oferta condicionada pelo atual contexto eco-nómico? de que forma buscam produ-tos que sejam adequados às necessida-des dos vossos clientes? No Santander Totta, as empresas con-tam com um gestor especialista que as ajudas a encontrar a solução de fi-nanciamento mais adequada para o seu caso específico. Existem diversas modalidades de crédito, que vão desde a Conta Corrente, mais adequada para as necessidades de Tesouraria de cur-to prazo, aos Mútuos e Leasings, mais adequados para projetos de investi-mento de médio/longo prazo, aliadas a enormes possibilidades de se adequar cada um destes produtos às verdadeiras necessidades do cliente, desde o pra-zo, à carência, bem como aos spreads e comissões bancárias associadas. No Santander Totta, cada necessidade dos nossos clientes é tratada com a máxima prioridade e eficiência, de forma a asse-

gurarmos que estamos a dar ao cliente a melhor solução financeira para o seu caso, com a máxima rapidez possível.Estamos sempre atentos à evolução da conjuntura nacional e internacional, de forma a estarmos preparados para ofe-recer os melhores produtos e os mais adequados aos nossos clientes.

Atualmente qual a vossa quota de mer-cado no âmbito da nova Linha de Crédi-to: Pme Crescimento? existe uma meta para atingir? Se sim, qual?Atualmente somos o primeiro Banco na Linha PME Crescimento com uma quota de 23 por cento e mantemos como nos-so objetivo ter uma posição de destaque no financiamento às PME em Portugal.

Ainda no domínio das Pme, o Santander totta é também um dos principais par-ceiros do iAPmei no âmbito dos estatu-tos Pme Líder e excelência. que motivos levaram o Santander totta a agregar-se ao iAPmei neste domínio? O Banco encara o Programa do IAPMEI, que atribui os estatutos PME Líder e PME Excelência, como uma contribui-ção positiva para incentivar as empre-sas a melhorar as suas performances e a transparência da situação económica e financeira, tendo em vista criar condi-ções diferenciadoras a estas empresas para acederem ao crédito em condições mais favoráveis e a obterem junto do mercado, nomeadamente dos seus for-necedores e clientes, um reconhecimen-to que lhes permitam obter condições negociais mais vantajosas.O Santander Totta fez parte do grupo inicial de bancos que decidiram desde a 1ª hora colaborar com o IAPMEI, porque cedo percebemos que a obtenção deste estatuto seria uma mais-valia para as empresas, sobretudo à medida que o estatuto fosse ficando mais maduro e consistente no mercado. Assim, o Ban-co desde a primeira edição do estatuto candidatou as suas empresas melhores clientes e divulgou ativamente junto dos seus clientes as vantagens de se candi-datarem aos referidos estatutos.

O que significa ser uma Pme Líder e/ou excelência e quais são os reais benefí-

cios obtidos pelas Pme ao obterem es-ses estatutos?Em primeiro lugar significa que as empre-sas galardoadas apresentam rácios eco-nómicos e financeiros equilibrados, e que desenvolvem estratégias de crescimento da sua atividade. Por outro, são empresas que obtiveram notação de risco atribuídos pelos Bancos aderentes ao Programa, que valorizam o perfil de risco, o que lhes per-mite melhorar as suas condições de com-petitividade no mercado.Estes galardões representam assim um reconhecimento pelo sistema financeiro aderente quanto ao perfil de risco das empresas, o qual constitui um bom car-tão de visita das empresas galardoadas perante o sistema financeiro e o mercado em geral. As PME Líder/Excelência têm assim melhores condições de acesso ao crédito, como é o caso das Linhas PME In-veste e PME Crescimento, que aplica a es-tas empresas um spread mais favorável. Constitui uma melhor imagem perante clientes e fornecedores que as distingue das restantes empresas no mercado.

A internacionalização das empresas lusas tem sido um dos temas mais re-correntes na praça pública nos últimos tempos. A solução da Linha de Crédito: Pme Crescimento pode ser o instru-mento que faltava para capitalizar esse processo de internacionalização das empresas portuguesas?

A linha PME Crescimento é certamente uma das soluções disponíveis para as empresas que necessitem de crédito po-derem fazer os investimentos necessários para se conseguirem internacionalizar.

quais são os grandes desideratos do Santander totta de futuro? É com me-didas similares à Linha de Crédito: Pme Crescimento que Portugal pode sair da crise económica em que se encontra? Estamos confiantes no tecido empre-sarial português na sua determinação, solidez e qualidade, pelo que achamos que vai sair fortalecido desta conjuntura económica muito difícil e, como dizem os economistas, a seguir a uma reces-são, só pode vir um forte crescimento económico. A economia é mesmo assim, funciona em ciclos.

A solidez do nosso Balanço permite-nos ter a liquidez ne-cessária para concedermos crédito, como aliás sempre o fizemos. utilizamos os modelos e procedimentos de risco corporativos do grupo que são certamente uma mais-va-lia do Santander e que se repercutem na sua solidez fi-nanceira. Analisamos o risco da empresa de acordo com estes critérios e disponibilizamos crédito às empresas que mostram estar em condições para o poder receber

Afinal, não existe nenhum mistério relacionado com as estrelas cadentes. Em con-versa com a Revista Pontos

de Vista, Mário Lino, Investigador no Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear desmistificou aquilo que para muitos continua a ser o momento de cruzar os dedos e pedir um desejo e que é um dos objetos de estudo do IPFN.“Nós estudamos plasmas de reentrada que é o acontece quando um veículo es-pacial entra na atmosfera de um planeta.

Como este entra na atmosfera a grandes velocidades, forma-se uma onda de cho-que a jusante da qual se forma um plas-ma de reentrada, isto é, as chamadas estrelas cadentes. É útil que a atmosfera de um planeta consiga desintegrar os meteoritos que entram nesta”, explicou. Quando se trata de um veículo espacial, é ao invés importante que este aterre com todas as condições de segurança e não se desintegre, tal como aconteceu em 2003 com o Space Shuttle Columbia. A área espacial é um setor já bastante

fruto da união do centro de fusão Nuclear e do centro de física de Plasmas, o instituto de Plasmas e fusão Nuclear (iPfN), integrado no instituto superior técnico de lisboa, é hoje a maior unidade de investigação em física de Portugal. o trabalho desta equipa composta por cerca de 155 pro-fissionais, 75 dos quais são doutorados, centra-se em investigação em fusão Nuclear controlada e tecnologias de Plasma e lasers intensos.

Portugal na vanguarda da Exploração Espacial

consolidado. A partir do momento em que o Homem teve acesso ao Espaço e viajou a bordo de voos tripulados, o número de investigadores interessados em aprofundar o tema cresceu. Portugal está a viver um novo desafio, assumin-do um lugar de liderança durante algum tempo com a instalação no país do Tubo Cinético Europeu para a Investigação de Alta Entalpia (ESTHER). Em 2010, foi conseguido um contrato com a Agên-cia Espacial Europeia de um milhão de euros, para desenvolver uma instalação experimental onde se simulam as condi-ções da reentrada atmosférica. Na actual fase do projecto, acaba de ser concluído o edifício de acolhimento, localizado no Novo Campus Tecnológico e Nuclear do IST situado em Loures nas instalações do antigo Instituto Tecnológico e Nucle-ar (ITN). “Esta instalação será a maior estrutura de pesquisa Espacial em Por-tugal. É um grande avanço para um país com a nossa dimensão, pois as instala-ções do tipo de tubo cinético são críti-cas para assegurar o acesso ao Espaço pelas diferentes potências espaciais”,

revelou Mário Lino. Assim sendo, a par-tir de agora, todas as futuras atividades de exploração Espacial definidas pela Agência Espacial Europeia passarão ne-cessariamente por esta instalação, onde serão feitas as validações necessárias às diferentes missões. “Esta instalação dará apoio às missões num horizonte de trinta anos no mínimo. É um grande reconhecimento da incrementação da capacidade científica que temos vindo a desenvolver e o facto de termos uma instituição sólida com massa crítica foi crucial para termos ganho este contra-to”, garantiu o investigador. Após a de-sativação, em 2005, da única estrutura semelhante existente na Europa, Portu-gal vem agora assumir a vanguarda, re-forçando a sua posição estratégica neste domínio de investigação.

“iNtERNAcioNAliZAção NãoÉ UmA NEcEssidAdE, É UmA

REAlidAdE”

Se em Portugal a integração da acade-mia à indústria enfrenta algumas difi-culdades, no estrangeiro a realidade é outra. Há muito tempo que esta equipa está habituada a trabalhar em parceria com consórcios internacionais e ou-tras equipas de investigação. Daí que, quando se fala em internacionalização, a resposta de Mário Lino é premente: “a internacionalização não é uma necessi-dade, é uma realidade”. Já em Portugal, é difícil chegar à indústria uma vez que a área de especialização da academia não responde por vezes às necessidades atuais de muitas empresas. “Vivemos numa era de especialização. Olhamos para o lado e vemos que as empresas portuguesas não são sempre comple-

máRIO LINO, INveSTIgADOR NO INSTITUTO De PLASmAS e fUSÃO NUCLeARiNTErNAciONALiZAÇÃO

Competências do iPFn:- Dispositivos para Fusão Nuclear por Confinamento Magnético- Sistemas de Engenharia de Fusão Nuclear- Sistemas de Controlo e Aquisição de Dados- Sistemas de Diagnóstico de Plasmas (em particular Microondas)- Fusão Inercial- Aceleradores Laser-plasma- Computação Avançada- Novas fontes de Radiação- Fotónica Ultra-intensa- Plasmas Espaciais e de Reentrada- Física do Espaço e Astrofísica - Plasmas para aplicações ambientais- Cinética de descargas e pós-descargas- Modelização de fontes a plasma- Plasmas Quânticos

“tem havido um aumen-to da excelência no iSt e

noutras universidades, sobretudo porque as inte-rações com o estrangeiro

têm crescido e também porque há uma preocupa-

ção acrescida em concorrer a estas fontes de financia-

mento alternativas”

Mário Lino

Pontos de Vista Agosto 2012 41

mentares com aquilo que fazemos”, ex-plicou. Mesmo assim, o IPFN está aberto a novas parcerias mas cabe às empresas procurarem a academia e não o contrá-rio. “Elas têm de ver se o trabalho que realizamos pode ter alguma aplicação industrial imediata”, afiançou Mário Lino. Atualmente, o instituto tem apos-tado na divulgação dos seus resultados e vai colhendo frutos. “Na área do Espaço nem tanto, mas noutras aplicações dos plasmas, por exemplo, para tratamento de biomassa ou produção de hidrogénio, tem havido alguns contatos com firmas portuguesas”, revelou o responsável.

ist REcoNHEcidoiNtERNAcioNAlmENtE

“Tem havido um aumento da excelência no IST e noutras universidades, sobre-tudo porque as interações com o estran-geiro têm crescido e também porque há uma preocupação acrescida em con-correr a estas fontes de financiamento alternativas”, afirmou Mário Lino. A verdade é que o mérito e o trabalho dos investigadores do IST têm chegado além fronteiras e, recentemente, um físico do instituto recebeu um financiamento de

Revista Pontos de Vista – O que mais o fascina no trabalho que desenvolve?Mário Lino – Esta é uma paixão de juventude. Quando era criança, so-nhava ser Astronauta mas rapida-mente me disseram que Portugal não era os EUA. Decidi que queria ser Engenheiro Aeroespacial e tra-balhar na área do Espaço.

“esta instalação será a maior estrutura de pesquisa espacial em Portugal. É um grande avanço para um país com a nos-sa dimensão, pois as instalações do tipo

de tubo cinético são críticas para asse-gurar o acesso ao espaço pelas diferen-

tes potências espaciais”

1.6M€ do Conselho Europeu de Investi-gação, e o IPFN assinou vários contratos de valor superior a 1.5 M€ para estudos e construção de protótipos para o ITER (o reactor internacional de fusão nucle-ar).. É mais uma prova de que Portugal tem profissionais de excelência, cujo trabalho faz eco por todo o mundo. Este reconhecimento, mesmo não sendo a ní-vel monetário, é uma mais-valia para o investigador. “Fica com o currículo mais rico e isso, no momento em que lideram consórcios que concorrem a financia-mentos, faz a diferença. Nós já éramos excelentes, mas talvez não saberiamos vender tão bem essa excelência”, expli-cou. Daí que a aposta na comunicação seja, hoje, uma das grandes prioridades. Essa aposta passa ainda por reforçar os elos com empresas nacionais. Serão ainda criadas sinergias de relevo que permitirão que os investigadores olhem para o futuro com confiança. Para Mário Lino, um aspeto é certo: “Portugal terá sempre dificuldades em atrair grandes multinacionais da área Espacial por-que é um país pequeno, mas algumas empresas nacionais irão certamente tornar-se players de sucesso a nível Eu-ropeu”, concluiu.

OPINIÃO

Como todo o país, umas mais, outras, felizmente, menos, atravessam neste momen-to um período mais difícil,

deparando-se com problemas no seu dia a dia, mas não deixando de traba-lhar para responder com eficácia aos desafios existentes.Um dos maiores desafios colocados hoje às PME é, de facto, o financiamento. Não só para suprir necessidades de inves-timento, necessárias ao crescimento, como também para responder às neces-sidades de tesouraria da sua atividade.Nesse sentido, as linhas protocoladas PME Investe, atualmente denominadas de PME Crescimento, converteram-se, desde o seu lançamento, no instrumen-to mais comum de financiamento destas empresas.É nossa opinião que este sucesso tem tido por base dois fatores distintos:- Por um lado a evidência para os em-presários de que conseguem aceder de forma mais eficaz e em melhores condi-ções a financiamento para a sua ativida-de, e para a instituição financeira de que os critérios de atribuição e garantias prestadas, através da participação das Sociedades de Garantia Mútua, permi-tem uma gestão do risco também mais eficaz;- Por outro lado, do ponto de vista de execução, o processo tem-se revelado rápido e relativamente simples, o que

torna na prática este instrumento mui-to transparente para as empresas mas também muito fácil de adotar pelas ins-tituições financeiras.No caso do Barclays, e da Classe Busi-ness em particular (segmento de Reta-lho do banco que centraliza os proces-sos relacionados com estas linhas de financiamento), temos sabido aprovei-tar os sucessivos programas PME Inves-te como um motor de crescimento do negócio. Esta oportunidade está mate-rializada em resultados muito relevan-tes, interna e externamente, a saber:- Mais de 6.000 empresas apoiadas- Segundo banco no sistema financeiro português em número de operações em 2011, com 19% de quota de mercado (fonte: SGM). Diga-se em jeito de curio-

É um facto: As PmE representam o grosso do número de empresas nacionais e são as maiores empregadoras em Portugal. são motores do desenvolvimento regional, e mesmo nacional, conjugam inovação com tradição, estão presentes em todos os setores económicos e ajudam a desenvolver o nosso país.

Apoiar o empreendedorismo nacional é apoiar Portugal

sidade que, só em 2011, aprovámos/apoiámos seis (6) empresas ou opera-ções por hora!Refira-se que o novo programa, o PME Crescimento, se apresenta, também, como um importante instrumento de captação de novos clientes. Em cada três clientes apoiados com estas Linhas é um cliente novo, uma demonstração da for-ma como temos procurado divulgar e promover estas linhas de financiamento. Uma das características que a nós, Bar-clays e Classe Business, dá especial or-gulho é o facto de o cluster internacional Business to Business, com capacidade exportadora, ser o maior utilizador des-te tipo de linhas, o que revela a impor-tância quer das linhas de financiamento, quer da nossa ação de promoção das

mesmas, para a dinamização da econo-mia portuguesa.Em relação às linhas PME Investe/Cres-cimento não gostaria de terminar sem fazer referência ao facto de termos vin-do a privilegiar a divulgação das mes-mas nas micro e pequenas empresas (aquelas com faturação inferior a 5 m€) que, como sabemos, constituem a imen-sa maioria do nosso tecido empresarial e que são, talvez, aquelas que mais “to-cam” um maior número de portugueses.A experiência que adquirimos nestas linhas permite-nos manter a ambição e estar na linha da frente no apoio às empresas e à economia. Apoio recente-mente reforçado por novas soluções que permitem às PME, nomeadamente às empresas agora criadas, comummente conhecidas por Start Ups, poupanças nos dois primeiros anos de vida, aqueles que são críticos para a sua consolidação.Todas estas ações de apoio às PME são para nós essenciais. Porque nos orgu-lha muito saber que, com as mesmas, estamos a apoiar as economias regio-nais e, como consequência, a economia nacional. É que para nós, apoiar o em-preendedorismo nacional é, sem dúvida, apoiar Portugal. E agora, mais do que nunca, este apoio é essencial para ul-trapassar um momento menos positivo, permitindo ambicionar por um futuro de afirmação portuguesa neste mundo cada vez mais globalizado.

víTOR PeReIRA - DIReTOR DO SegmeNTO CLASSe BUSINeSS DO BARCLAySEMPrEENdEdOriSMO

“em relação às linhas Pme investe/Crescimento não gostaria de terminar sem fazer referência ao facto de termos vindo a privilegiar a divulgação das mesmas nas micro e pequenas empresas (aquelas com faturação inferior a 5 m€) que, como sabemos, consti-tuem a imensa maioria do nosso tecido empre-sarial e que são, talvez, aquelas que mais “to-cam” um maior número de portugueses”

A experiência que adquirimos nestas linhas permite-nos manter a ambição e estar na linha da frente no apoio às empresas e à economia. Apoio recentemente reforçado por novas soluções que permitem às Pme, nomeadamen-te às empresas agora criadas, comummente conhecidas por Start ups, poupanças nos dois primeiros anos de vida, aqueles que são críticos para a sua consolidação

Portugal aporta uma reduzida dimensão na generalidade das empresas lusas que se posicio-nam para fornecer o setor da

aeronáutica, imagem que é bastante semelhante a outros setores econó-micos. Assim, só através de uma con-jugação de competências, assente em parcerias e da concertação de esforços comerciais se poderá alcançar a escala e dimensão necessárias para promo-ver uma abordagem eficaz aos poten-ciais clientes.Os últimos anos têm sido bastante prós-peros ao nível da oferta nacional no setor aeronáutico, fenómeno culminado com a apresentação pública da Embraer, terceiro maior construtor mundial de aviões, líder mundial de aviões até 140 passageiros, com cerca de 15 biliões de encomendas em carteira e com uma experiência acu-mulada ao longo de décadas, que con-firmou acreditar que existem empresas nacionais com capacidade para se posi-cionarem como fornecedoras de serviços de engenharia, de componentes e de sof-tware para o KC-390. A Revista Pontos de Vista quis saber mais sobre este projeto e sobre a relevância que a indústria aeronáutica pode vir a ter com a integração deste programa na dinâmica das empresas lusas existentes neste setor.

Assim, conversamos com Jacinto Moniz de Bettencourt, Presidente do Conselho de Administração da EEA - Empresa de Enge-nharia Aeronáutica, S.A. que deu a conhe-cer a relevância que este projeto terá para Portugal hoje e nas próximas décadas. Participada por organizações relevantes da indústria aeronáutica nacional e pelo Estado português que tem por objeto a agregação e desenvolvimento da indústria nacional para a consolidação de um clus-ter aeronáutico que possa participar nas cadeias de fornecimento internacionais dos principais projetos globais, a EEA - Empresa de Engenharia Aeronáutica, S.A. foi também convertida para assumir a gestão operacional do Programa KC-390, “porque Portugal necessita de ter uma participação estruturada no desenvolvi-mento de produto aeronáutico desde a conceção até à certificação e isto impli-ca desenhar o produto, testar, produzir o mesmo e as ferramentas que servem para produzir o produto e posteriormente acompanhar a montagem e a certificação final do mesmo. Temos de estar neste pa-tamar para continuarmos a desenvolver a indústria da aeronáutica”, assegura o nos-so entrevistado. Portugal tem essa capacidade e know how? “Não”, revela Jacinto Moniz de Bettencourt, completando, “Portugal não tem ainda essa

como é natural e atendendo à atual conjuntura económica mundial e nacional, a conjugação de esforços permite um reforço forte das compe-tências das empresas e a sua interação em rede, um pouco à semelhan-ça do cenário sentido em outros congéneres europeus como Alemanha, frança, Espanha, Polónia, entre outros, onde já existem clusters aero-náuticos estabelecidos.

“O Programa KC-390 é uma grande oportunidade para Portugal”

capacidade de produzir um produto inte-grado, pois não possui tecnologia própria e não acompanhou nenhum projeto até ao momento desde a fase de desenvolvimento até à fase de certificação. Daí a relevância do Programa KC-390 enquanto desafio à indústria aeronáutica nacional para ten-tar explorar oportunidades e que servirá também para agregar parceiros para que, numa lógica de parceria e colaboração, po-derão concorrer mais tarde a outros pro-gramas desta envergadura”.

lEQUE dE EmPREsAs lUsAsENVolVidA No PRoGRAmA

Kc-390

Interessa compreender que o Programa KC-390 assume-se como um projeto, li-derado pela Embraer, soberano do Estado brasileiro que envolve o desenvolvimento de um novo avião avançado de transpor-te e reabastecimento em voo, não apenas para uso da FAB – Força Aérea Brasileira, mas com um enorme potencial exporta-dor, e que visa substituir no plano comer-cial o Hércules C-130 a nível mundial. “As-sim, o Programa KC-390 é provavelmente o projeto mais complexo e sofisticado em que a Embraer alguma vez se envolveu”, afirma o nosso entrevistado. Onde entra Portugal no Programa KC-390? Como o Brasil procura parceiros estratégi-cos para o programa, “vejo aqui uma gran-de oportunidade para Portugal se inserir geopolítica e industrialmente num projeto com esta envergadura global”. Desta forma, a Embraer dividiu o desen-volvimento e a produção do avião por diversos parceiros a nível mundial, sendo que Portugal é um desses parceiros, tendo sido selecionado com três linhas de mon-tagem para módulos completos: leme de profundidade, barriga do avião que é a maior e mais complexa que a Embraer al-guma vez construiu e a fuselagem central. “Diria que cerca de 40 por cento do avião é quase nosso…de Portugal”, afirma satisfei-to Jacinto Moniz de Bettencourt.O primeiro protótipo deverá estar pronto em 2014, sendo que o Programa KC-390 terminará em 2016, o que corresponde-rá a uma oportunidade de mercado para substituir 695 aparelhos, sobretudo Her-cules C-130, com mais de 25 anos, em 77 países. “Isto é uma oportunidade única para Portugal, pois os longos ciclos de desenvolvimento do avião poderá permi-tir às empresas portuguesas uma partici-pação na vida de cada aeronave durante duas ou três décadas. De repente temos 30 ou 40 empresas portugueses envolvi-das num projeto de enorme envergadura e ambição e que envolve investimentos de

milhares de milhões de euros, cenário fan-tástico para a indústria aeronáutica portu-guesa que pode assim começar a singrar no setor aeronáutico a nível mundial. Te-mos de compreender que nunca subimos tanto na escala de valor da aeronáutica, e que ao mesmo tempo que aumentamos o valor incorporamos no avião vão também surgindo, lateralmente, várias oportuni-dade para as empresas portuguesas que produzem moldes, ferramentas, conceção de softwares, entre outros”, assume o nos-so interlocutor.

modElos dE PARcERiAssão fUNdAmENtAis

A EEA não só pretende apresentar o Pro-grama KC-390, perpetuando um sucesso controlado com as funções que possui dentro do próprio projeto, mas também deseja agregar a indústria nacional e criar um modelo de parceria numa lógica de co-laboração que não “existia, pelo menos de certa forma, até agora, até porque faltava um programa destes para colocar essa di-nâmica em prática”, revela. Do ponto de vista português, económico e político, o Programa KC-390 assume--se de capacitação e desenvolvimento, ou seja, Portugal aposta fortemente neste projeto porque visa com ele e através de mecanismos de financiamento, nomea-damente através de fundos comunitários, dotar as empresas lusas de capacidade para poderem concorrer com outras empresas estrangeiras do setor aeronáu-tico. “Queremos assegurar a capacitação adequada, isto é, a contratação e forma-ção de recursos humanos, obtenção de licenças, bem como ao nível da constru-ção de infraestruturas nesta área, estan-do prevista a edificação de uma área na zona norte do país, necessário para este programa, mas que poderá ainda servir outro tipo de projetos e parceiros. Além disso, apostamos no desenvolvimento de fornecedores, ou seja, na identificação de gaps e na identificação de necessidades concretas de algumas empresas relativa-mente a áreas u tecnologias específicas e que podem ser corrigidas através de par-cerias ou transferência de know-how”, esclarece o Presidente do Conselho de Administração da EEA. Para que este desafio seja uma realidade, a EEA já formou três consórcios: dois for-mais e um informal. “Primeiro na vertente de design e testes, depois para sistemas e software e finalmente na área de produção de ferramentas, relativamente à qual está em formação uma parceria aberta”.

eeA - emPReSA De eNgeNhARIA AeRONáUTICA, S.A. e O fUTURO DA AeRONáUTICA em PORTUgALiNTErNAciONALiZAÇÃO

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Jacinto Moniz de Bettencourt

Pontos de Vista Agosto 2012 45

A Sinergiae Ambiente desenvolve a sua atividade, desde 2004, em torno de qua-tro grandes áreas: estudos ambientais, energias renováveis, space & technolo-gy e ecoturismo & planeamento. que serviços disponibilizam? quais são os mais requisitados?

Orlando Ramos: A Sinergiae Ambiente foi a primeira empresa do grupo a ser criada em 2004. Hoje integra o grupo Sinergiae que possui empresas na área das Energias Renováveis, sendo insta-ladores de micro e mini geração. Existe também uma valência dentro do grupo vocacionada para o I&D que já por duas vezes colaborou com a Agência Espacial Europeia (ESA). Na Sinergiae Ambiente para além dos tradicionais Estudos de Impacte Ambiental, Avaliação Ambiental Es-tratégica, Licenciamentos vários, Mo-nitorizações Ambientais e Avaliações Financeiras de Risco Ecológico, criamos recentemente, através da nossa célula de I&D, um conjunto de serviços inova-dores ao nível da certificação ambiental e sustentabilidade de produtos e servi-

ços tornando-os assim mais aptos para singrar nos mercados externos. Pode-se dizer que estamos a apanhar a boleia do fomento das exportações trazendo para os produtores nacionais ferramentas que acrescentem valor ao seu produto e o diferenciem. Queremos aportar valor e diferenciação à produção nacional atra-vés do ambiente e da sustentabilidade.

uma das grandes missões da Sinergiae Ambiente é desempenhar um papel ati-vo no desenvolvimento sustentável e na valorização do património natural. hoje em dia, e dadas as crescentes an-gústias que atormentam o setor empre-sarial nacional, as empresas partilham dessas preocupações?

Nuno Vilela: Ao nível do setor empresa-rial, é com satisfação que constatamos que os profissionais da área do am-biente já não são vistos apenas como os “tipos inconvenientes”, olhando-se com mais objetividade para as questões ambientais e em como estas podem ser uma mais-valia quer internamente no seio das empresas, quer nos mercados

Através do ambiente e da sustentabilidade, a sinergiae Ambiente pretende aportar valor e um cunho diferente ao mercado nacional. criada em 2004,em coimbra, a empresa integra o grupo sinergiae e está a atirar por terra a ideia errónea de que os profissionais do ambiente são “tipos in-convenientes”. Há já uma maior abertura às questões ambientais que são vistas como uma arma estratégica para vingar nos mercados internos e externos.

Gestos locais com efeitos globais

externos. Evidentemente que encontra-mos ainda algumas irregularidades e retração no investimento nesta área, no-meadamente no que respeita a seguros de Responsabilidade Ambiental, de Pla-nos de Gestão de Solventes, encaminha-mento incorreto de resíduos e efluentes, Planos de Lavra desatualizados (no caso das pedreiras), etc… Talvez também porque os empresários não se sentem suficientemente impelidos a cumprir com essas exigências legais devido à falta de fiscalização. O nosso país é pro-fícuo e vanguardista a legislar, mas peca na implementação da mesma.

quais são as mais-valias das empresas/indústrias quando pensam em apostar no Ambiente? Os empresários nacionais já possuem esse tipo de visão ao nível da gestão? NV: Uma empresa que aposta numa produção e gestão amiga do ambiente obtém a curto prazo economias de cus-tos nos seus fatores de produção (como eletricidade, água, papel, resíduos, utili-zação de materiais mais baratos, ou re-

dução da quantidade do material etiliza-do no produto, adicionalmente aumento da polinização, controlo da erosão e de pragas no que se refere ao setor agro-in-dustrial) devido a um consumo mais ra-cional e eficiente dos mesmos, fortalece a imagem da própria empresa e dos seus produtos, e sobretudo com a valorização acrescida das suas marcas nos merca-dos, ajudando a catapultar as exporta-ções. Ou seja, permite deslocar o para-digma produtivo nacional meramente de baixo custo para uma perspetiva de acrescentar valor ao produto. Em mer-cados mais exigentes que o nacional, como por exemplo o sector da distribui-ção em França, a apresentação da Pega-da de Carbono do produto tem quase tanto destaque como o seu preço. Outro exemplo é o da descartonização à saída das caixas registadoras. Saliento o caso da descartonização de uma pasta dentí-frica, como produto que virou mais sus-tentável para o produtor, distribuidor, consumidor e ambiente. A SAmb tem preparado um conjunto de instrumen-tos que visam dar apoio ao empresário

à CONveRSA COm NUNO vILeLA e ORLANDO RAmOS, SóCIOS DA SINeRgIAe AmBIeNTecidAdES SUSTENTÁVEiS

Nuno Vilela e Orlando Ramos

Pontos de Vista Agosto 2012 47

nestas áreas, desde uma Base de dados onde se consegue determinar os fluxos de importação-exportação país a país e avaliar o potencial dos produtos verdes em cada um dos países, culminando com a preparação dos produtos para a obten-ção de um Rótulo de produto ecológico, isto é, implementamos certificações, selecionamos mercados, a forma de os abordar, e estimamos a rentabilidade/retorno, o que de nosso conhecimen-to torna este serviço exclusivo. Alguns empresários, mais visionários, aceitam com agrado as nossas propostas, mas a generalidade dos empresários portu-gueses não está ainda sensibilizado para esta abordagem de Economia Ecológica, preferindo manter a tónica numa pro-dução indiferenciada e de baixo custo, algo que nos esforçamos para combater apresentando soluções que permitem “savings” a montante, isto é, no processo de fabrico, e aumentos de rentabilidade a jusante, isto é, no “price premium” que o consumidor está disposto a pagar pelo produto “verde”.

Perante a atual conjuntura recessiva o consumidor poderá abdicar dos princí-pios ambientais? e o industrial/Produtor? NV: Do lado do consumidor, face aos dados que possuímos, verifica-se uma grande deslocalização do consumo para produtos de preço, no entanto, a preo-cupação ambiental dos consumidores é crescente, como atestam os cerca de 47% consumidores que responderam positivamente à questão: a sustentabi-lidade ambiental do produto é um fator decisivo no acto da compra? Do lado do produtor, infelizmente uma parte sig-nificativa do tecido nacional olha neste contexto económico para estas questões da sustentabilidade ambiental do pro-duto como sendo supérfluas e encaran-do-as apenas como custos. No entanto, o atual desígnio nacional está muito fo-calizado nas exportações e as questões dos rótulos ecológicos dos produtos são fatores críticos de sucesso para a pene-tração em mercados externos e para o aumento da rentabilidade do produtor nos mercados onde já se encontra, atra-vés do price premium que o consumidor desses mercados está disposto a pagar.

vários produtos apresentam uma imagem amiga do ambiente de forma ilusória para o consumidor, procuran-

do conquistá-lo de forma fácil. este greenwashing é uma realidade? Como reage o consumidor perante este fenó-meno?

NV: A partir do momento em que as em-presas perceberam que o consumidor tem preocupações ambientais, vários os produtos evidenciaram uma imagem verde, embora não o sendo. Trata-se, na maior parte dos casos, de publicidade enganosa, omissões ou distorções da verdade. A certificação ambiental per-mite a uma empresa provar que real-mente é amiga do ambiente (desmistifi-cando os “falsos verdes”), e a partir do momento em que o consumidor toma consciência deste tipo de certificações, se tiver preocupações ambientais no acto da compra, vai escolher o produ-to que de forma certificada também as possui. Quanto mais transparente for o “verde” que se anuncia, mais atenção capta o produto ao consumidor verde.

O consumidor tem um papel fundamen-tal nesta cadeia de responsabilidades ambientais. estará ele disposto a pagar mais por isto? NV: Uma das ferramentas que a SAmb possui visa especificamente o estudo so-cioeconómico relativamente ao produto sustentável, conseguimos mensurar o valor do “mercado verde” por setor de atividade em cada um dos países da EU e extra UE e concluímos que existe uma correlação positiva de 30 por cento entre os maiores importadores e a predisposi-ção para os consumidores desses países pagarem um “price premium” por um produto sustentável (exemplo: Setor Vi-nícola). Em países do norte da Europa essa correlação atinge valores acima de 50 por cento. Por exemplo, em média,

na UE 72 por cento dos consumidores responderam que Sim à questão: Pagaria mais por produtos verdes mesmo que mais caros? Na Suécia esse valor atinge 89 por cento. Uma surpresa com que nos deparámos na análise de dados foi que não são apenas os países tidos como mais evoluídos e ricos, mas também al-guns países emergentes, como o Brasil ou a China, que manifestam estas ten-dências. Na população urbana do Brasil verifica-se que 48 por cento dos consu-midores pagaria até mais 10 por cento de prémio por produto verde e que 29 por cento pagaria um prémio entre 11 e 35 por cento. Pensamos que os empresários deveriam aproveitar mais o prestígio dos produtos Europeus, ao nível da sua qua-lidade, nestes mercados. Relativamente ao perfil socioeconómico do consumidor dos produtos verdes, este é dominado pelo indivíduo na casa dos 30-40 anos, com um filho, e de classe social média e média-alta. Curioso também é que ao contrário da maioria dos mercados, na China é o sexo masculino que mais evi-dencia estas tendências.

em que medida o consumo ambiental-mente sustentável e o respeito pelas exigências legais ambientais por parte dos diversos atores económicos pode contribuir para um mundo urbano mais sustentável e potenciador das chama-das cidades inteligentes?

NV: Efetivamente o papel principal reside no Consumidor, das suas decisões depen-de em grande medida a sustentabilidade Ambiental do território onde está inseri-do, não só à escala local e regional, mas também à escala global. Ao escolher pro-dutos amigos do ambiente o consumidor está a pressionar a cadeia produtiva/in-

dustrial para internalizar e minimizar os impates ambientais nos diferentes locais e regiões onde estes são produzidos. Um gesto local com efeitos globais. Assisti-mos ao regresso ao velho paradigma do “think global, act local” aqui mais focali-zado nas proveniências dos produtos que decidimos consumir.

que desafios se colocam à Sinergiae Ambiente nos próximos tempos? que projetos estão a ser delineados? OR: A curto prazo queremos tornar--nos referência ao nível da consulto-ria em sustentabilidade de produtos e serviços através de certificações em Rótulos Ecológicos (Ex: Eco-label Eu-ropeia, Business&Biodiversity, Pegada Carbónica). Constituindo-nos como parceiros incontornáveis na preparação da empresa e seus produtos para incre-mentar a sua penetração nos mercados externos. Queremos que, por exemplo, casos de sucesso como o da Duorum Vi-nhos, S.A. (Grupo João Portugal Ramos) possam ser replicados a cada vez mais produtores nacionais. A nível de produ-tos que visem a conformidade legal das empresas somos já um importante par-ceiro em preparação de empresas para elaboração de Seguros de Responsabi-lidade Ambiental, Planos de Gestão de Solventes e soluções para encaminha-mento de resíduos. Não descurando as áreas tradicionais de estudos ambientais que estamos a tentar também desenvolver nos Palops, preten-demos, em 2012/2013, acima de tudo triplicar o nosso investimento em I&D para que possamos criar soluções mais completas e inovadoras para ajudar os produtores nacionais, quer ao nível da consolidação e expansão da sua presença no exterior quer ao nível da racionaliza-ção do processo produtivo através da im-plementação de práticas ambientalmente sustentáveis que permitam importantes savings e ganhos de produtividade. O nosso enfoque será cada vez mais o mercado do consumo, pois acreditamos que só conferindo um valor tangível à sustentabilidade ambiental poderemos contribuir para a defesa do ambiente nos mercados. Em resumo teremos um planeta sustentável a longo prazo se conseguirmos transformar o ambiente num negócio de soma positiva.

“estamos a apanhar a boleia do fomento das exportações trazendo para os produtores na-cionais ferramentas que acrescentem valor ao seu produto e o diferenciem”

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Neste reforço aos setores da energia, transportes e TIC como apoio ao desenvolvi-mento urbano sustentável e

à potenciação das chamadas cidades inteligentes, a Comissão Europeia vai alocar 365 milhões de euros para 2013. Para Miguel Matias, estes pro-gramas são importantes principal-mente porque vêm dar “direção às pessoas e mostrar os caminhos que têm de ser seguidos”.No entanto, acredita também que fal-tam algumas metas. “A principal política energética da União Europeia é o 20-20-20, que consiste em 20 por cento de redução de emissões de carbono, 20 por cento de aumento das energias renová-veis e 20 por cento de aumento de efi-ciência energética até 2020. No entanto, destas três metas apenas as duas pri-meiras são obrigatórias. Os 20 por cento de aumento de eficiência energética ser-vem apenas de referência e é pena que assim o seja”, afirma.Para Miguel Matias, a questão da efici-ência energética é relevante, não só pela importância que o tema em si concentra, mas também para a própria economia europeia, porque ajudaria a criar uma liderança em termos tecnológicos nestas áreas. A definição das políticas europeias exerce grande atração sob as empresas, como tal, a vinculação de 15 por cento de eficiência energética faria com que estas se interessassem mais pelo tema, inves-tindo em investigação na área que resul-taria no aparecimento de tecnologia, ino-vação e mesmo emprego numa área em

que a Europa pode liderar e “há pouca áreas em que a europa pode liderar. A Eu-ropa está a perder a liderança na maior parte das tecnologias e esta área da efici-ência energética e das cidades inteligen-tes é claramente uma área onde pode ter vantagem porque tem um campo de ação que nenhum dos outros continentes tem, uma vez as cidades são mais recentes e têm muitas vezes outro tipo de carências, como problemas de saneamento ou habi-tação”, afirma.Miguel Matias vê por isso as cidades in-teligentes de duas formas, “numa pers-petiva egoísta da própria Europa ter de ser mais autossuficiente, mas também numa perspetiva de desenvolvimento futuro de que esta é uma área tecnológi-ca, de emprego e liderança europeia que pode ser continuada no tempo ou pode ser perdida, como foi por exemplo per-dida a liderança na energia solar, uma área que deixou de se apoiar, para se começar a atacar”.

como sE PodEm cRiARcidAdEs iNtEliGENtEsA NíVEl ENERGÉtico?

Uma vez que a Europa é o continente com cidades mais antigas, torná-las in-teligentes é também um processo mais moroso e que não pode ser desenvolvi-do numa perspetiva global, mas a partir dos próprios edifícios e bairros, através da reabilitação urbana. Miguel Matias explica como, “em Portugal, as nossas cidades, já estão todas construídas e esta acaba por ser uma restrição que te-mos de ter em conta. Não vamos partir do zero mas trabalhar em cima de uma cidade que já existe. Como tal, as verbas disponibilizadas têm de ser, grande par-te delas, direcionadas para a reabilitação urbana e essa reabilitação pode ser mais ou menos inteligente. Tornar os edifí-cios inteligentes é que depois vai tornar as próprias cidades inteligentes por que a cidade é composta por edifícios que quando comunicam com os edifícios cir-cundantes e estão integrados numa rede bem estabelecida, essa mesma rede vai dar informações de como atuar. Não se torna uma cidade inteligente, o que se torna inteligente são os edifícios dessa

A comissão Europeia lançou recentemente a plataforma smart cities and communities European innovation Partnership (scc), uma plataforma de suporte a parcerias de investigação e desenvolvimento de tecnologias inteligentes nas cidades. com esta medida a comissão pretende concentrar os recursos de investigação e de-senvolvimento de três setores: energia, transportes e tic. A selfenergy é um dos principais players nacionais na área da energia e, como tal, a revista Pontos de Vista esteve à conversa com miguel matias, Vice Presidente da mesma, que explicou de que forma é possível tornar as nossas cidades mais inteligentes e eficientes.

“Não se torna uma cidade inteligente,o que se torna é os edifícios dessa cidade”

cidade. Fazer agora buracos no centro de Lisboa para se criar um conjunto de condutas para entregar água quente aos edifícios todos teria custos absurdos e por isso é que temos de usar tecnologias que permitam fazer o mesmo, e essas tecnologias já existem, de forma mais simples e mais barata, numa política de cidade mas fazendo isso através dos próprios prédios”.Mas de que forma os edifícios podem cooperar entre si? Miguel Matias explica, exemplificando, “o Hospital Santa Maria precisa de água quente e monta uma pe-quena cogeração. Essa água quente pode ser usada não só pelo hospital mas tam-bém pelos edifícios circundantes quan-do, por exemplo, o hospital não estiver cheio e não precisar de toda a água que produziu, havendo assim uma ligação entre aquilo que cada edifício necessita e produz e aquilo que os seus vizinhos podem precisar. Esta perspetiva de au-tossuficiência hoje em dia já pode ser transposta para uma perspetiva um bo-cadinho maior, por exemplo de bairro. No entanto, se tentarmos fazer uma abstra-ção para o país as coisas complicam-se. Por isso é que eu não me canso de dizer que este trabalho tem de ser feito a um nível em que é possível atuar e esse nível, neste momento, é o nível do edifício ou do bairro. E os nossos edifícios realmen-te precisam disto porque estão a gastar muito mais do que precisam para tra-balhar. Foram montados a pensar num custo de energia baixo e inesgotável que já não existe. O tempo da energia barata acabou! Precisamos partir para outro pa-radigma, em que a energia é cara e os re-cursos escassos e como tal temos de ser mais poupados e eficientes”.Miguel Matias reforça ainda que pou-pança não significa redução do confor-to. “Vamos ter de nos sujeitar a novas regras, fazer algum balanço, mas não podemos pôr como solução baixar o ní-vel de conforto que adquirimos. E por isso é que mais do que poupar, temos de ser mais eficientes. Aquilo que se está a pensar fazer nas cidades, por exemplo, de desligar as luzes à noite não me pare-ce uma solução. Isso vai provocar mais assaltos, insegurança, as pessoas ficam apreensivas em andar na rua à noite e

isso traduz-se em menos compras, me-nos impostos…”.

sElfENERGy NomEAdAPARA EURoPEAN

BUsiNEss AwARds

É este efeito bola de neve que uma pou-pança menos inteligente provoca que a Selfenergy tenta contornar através do seu lema, que consiste em olhar para as cidades com a premissa de que as mes-mas têm de viver por elas próprias, sen-do autossuficientes, e conseguindo den-tro delas gerar energia que dê resposta às necessidades dos edifícios, mantendo a qualidade de vida dos seus cidadãos nos mesmos patamares, mas com me-nos gastos energéticos. O desafio é ajudar individuais e empre-sas a levar este projeto em diante e por isso a Selfenergy tem uma parceria com o Sistema Financeiro nesse sentido. “Há falta de capacidade de investimento e por isso nós ajudamos as pessoas a aceder ao crédito, até porque os bancos muitas ve-zes não entendem este crédito à energia, talvez entendam o crédito à habitação, à energia é mais complexo e muitas vezes não percebem e, como tal, não aprovam. Neste Programa de Reabilitação Eficien-te, em que integramos o programa euro-peu JESSICA, liderado em Portugal pelo BPI e CGD, nós ajudamos a montar um projeto que seja viável para depois rece-ber essa aprovação do banco”, explica.E este acompanhamento dos clientes, conjugado com o alinhamento entre a experiência da Selfenergy e as diretri-zes da União Europeia, tem dado frutos, prova disso é que a Selfenergy é finalis-ta na edição 2012-2013 dos European Business Awards, nomeada na categoria de Costumer Focus. Para Miguel Matias, esta nomeação “é o reconhecimento de que estamos a fazer um trabalho correto na explicação dos desafios e que estamos alinhados com os interesses da União Eu-ropeia, que vêm na direção daquilo que a Selfenergy tem adotado desde a sua fundação. Por isso, estamos contentes, obviamente, e vamos ver se consegui-mos ganhar. Mas, se não conseguirmos, termos sido nomeados e termos chegado até aqui já é muito bom!”.

mIgUeL mATIAS, vICe PReSIDeNTe DA SeLfeNeRgycidAdES SUSTENTÁVEiS

Miguel Matias

Pontos de Vista Agosto 2012 49

A relva viva, apesar de ser uma jovem empresa, edificada em 2010, é uma ideia sustentada com 15 anos. quais as razões que levaram à criação deste projeto somente há dois anos e qual o balanço que é possível realizar deste período de atividade?

Estive oito anos como Diretor técnico numa empresa de referência no merca-do de Jardins, desenvolvi inúmeros pro-jetos e ajudei no crescimento da mesma.

Depois estive ligado a um projeto flo-restal onde trabalhei diretamente com todos os produtos e subprodutos resul-tantes da exploração florestal. A partir daqui fez-me todo o sentido juntar os dois conhecimentos (Jardim e Floresta) e tratá-los como um todo. Existem mui-tas áreas intermédias entre os dois e o que tentamos fazer na Relva Viva é apli-car este conceito desde os Jardins mais naturais às Florestas mais cuidadas (as chamadas Florestas de proteção). Nes-tes dois anos e meio de atividade a gran-de preocupação foi estruturar a empre-sa e publicitá-la a potenciais clientes. O balanço pessoal é positivo, uma vez que acordo todos os dias com muita vontade de fazer coisas novas.

Numa altura em que o Governo se prepara para aprovar um decreto-lei que irá liberalizar a plantação do eucalipto e de outras espécies de crescimento rápido, a Revista Pontos de Vista quis saber sobre esta temática e conversou com Nuno Gonzalez, Administrador da Relva Viva, empresa de referência no âmbito da floresta, Jardins e Arboricultura Urbana, onde além de ficarmos a conhecer mais do impacto que esta medida terá no futuro, percebemos ainda o percurso que tem sido realizado pela marca.

“Para o cidadão e para o país, o não abandono da floresta só pode ser positivo”

A atuação da relva viva baseia-se em três grandes pilares: Floresta, Jardins e Arboricultura urbana. deste trio existe algum que tenha maior preponderância na orgânica da empresa? Se sim, qual? As manutenções de Jardim destacam-se uma vez que as avenças destas, nos tra-zem alguma tranquilidade por permiti-rem uma faturação mensal permanente. A construção de novos Jardins está mui-to parada, no entanto, existe sempre a necessidade de remodelações nos nos-sos clientes. Na Floresta temos executa-do alguns projetos onde não existe con-corrência. Terminámos agora um corte e remoção de árvores secas num sistema dunar onde toda a madeira foi retirada manualmente com ajuda duma Moto 4.

As grandes metrópoles assumem cada vez mais uma dinâmica demasiado ur-bana e pouco natural, facto que tem levado ao «abandono» ao nível da cria-ção de espaços verdes no centro das cidades. de que forma procura a relva viva fomentar um ambiente natural aos jardins urbanos?

Em primeiro lugar, e devido à experiência que temos, tentamos que as espécies a plantar sejam adaptadas ao local. Se não fizermos esta seleção ou escolhermos vegetação exótica, que enche o olho, cor-remos o risco desta não se adaptar e nem sequer florir. Deste modo o ambiente na-tural que refere, é sem dúvida a melhor opção, estética, ecológica e até económica.

existe da parte das autarquias receti-vidade e disponibilidade para a pro-moção de espaços verdes? O cidadão é também fundamental neste vosso desi-derato? de que forma?Algumas autarquias já têm Espaços ver-des muito modernizados para a utilização mais ou menos intensivas dos munícipes. NA nossa opinião, faz todo o sentido, e cada vez mais ter áreas ajardinadas maio-res em detrimento de canteiros ou peque-nas áreas que dificultam e encarecem a manutenção, sendo que não acrescentam nada em termos de utilização.

O Governo prepara-se para aprovar um decreto-lei que liberaliza a plantação do eucalipto e de outras espécies de crescimento rápido. qual a sua opinião

relativamente a esta nova medida? que lacuna identifica no mesmo?Esta é uma questão muito delicada, sen-do que é cada vez mais a única cultura florestal economicamente vantajosa para todos (proprietário, empreiteiro e consumidor). As consequências do abandono são terríveis para todos, de-vendo o governo incentivar a plantação, com uma rigorosa e atenta fiscalização.

É positiva para o cidadão? Acredita que este decreto-lei vem promover um «fa-vor» à indústria de papel sendo penali-zadora para a floresta e ambiente? Para o cidadão e para o país, o não aban-dono da floresta só pode ser positivo. A indústria do papel não precisa de favores, até porque se não produzimos em Portu-gal, importam matéria-prima mais bara-ta. Atualmente a indústria do Eucalipto gera muito trabalho e está muito bem or-ganizada, sustentando famílias inteiras.

numa época em que tanto se fala de incên-dios, acredita que esta medida será preju-dicial para o ordenamento da floresta e do território uma vez que promove o incenti-vo descontrolado à monocultura de espé-cies de crescimento rápido, aumentando portanto o risco de fogos florestais?

Os incêndios só se iniciam em zonas que não estão limpas de matos. Depois a pro-pagação, pode ser feita por copas e neste caso tanto faz serem Eucaliptos ou outra espécie qualquer. Para mim é certo que a economia comanda a limpeza de matos e a vigilância. Parece-me um erro associar os fogos aos Eucaliptos sendo a preven-ção a chave para a resolução deste pro-blema, independentemente da cultura.

O que deveria ser feito por parte do Gover-no que de facto protegesse o meio ambien-te e por conseguinte as nossas florestas? Sabermos quem são os donos da terra é imperativo. Neste momento já se esta á a realizar o cadastro do país que nos vai per-mitir juntar proprietários num só projeto. Na minha opinião espaços florestais com menos de 50 hectares seriam sempre zonas de proteção, turismo e lazer e acima disso, zonas produtivas onde só faria sentido ins-talar culturas economicamente viáveis.

ReLvA vIvA em DeSTAQUeFLOrESTAS EM POrTUGAL

Nuno Gonzalez

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Pontos de Vista Agosto 2012 51EcONOMiA SOciAL

foi há dezoito anos que o so-nho começou. A Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso, fazendo uma

homenagem ao seu nome, começou a “dar asas” a todos aqueles que as vão perdendo, com especial enfoque no trabalho muito próximo que de-senvolvem com crianças e jovens em risco, com uma área de abrangência que cobre, essencialmente, os conce-lhos de Santo Tirso e Trofa. A Revista Pontos de Vista conversou com duas das caras desta instituição, Helena Oliveira, Presidente da Direção, e Gil-da Torrão, Diretora Geral. Todos os dias, a missão é estimular a ca-pacidade de voar de quem chega à ins-tituição. Mas, num momento em que as dificuldades económicas enchem folhas de jornais, o que é que corta as asas da ASAS? “Todos os tempos difíceis que esta-mos a viver vão cortando as asas e vamos tentando, nesta associação, que as asinhas não sintam os cortes. É preciso criativida-de, empenho, força, garra e um corpo téc-nico que veste a camisola para que estes passarinhos que cá temos não sintam nas asas deles essas dificuldades que, infeliz-mente, vamos sentindo no nosso dia a dia”, partilhou Helena Oliveira. Mas, se os obstáculos em termos finan-ceiros vão surgindo no quotidiano desta associação sem fins lucrativos, a verdade é que a crise não prejudicou o espírito solidário da comunidade civil. O traba-lho só tem sido possível muito graças ao apoio incondicional da Segurança Social, do grupo de sócios, parceiros e mece-nas que sempre caminharam ao lado da

ASAS. Desde a cabeleireira que cuida dos cabelos e de toda a componente estética das crianças, ao sapateiro que arranja os sapatos e ao padeiro que, desde o início, fornece o pão, são muitos os amigos que amenizam a dura realidade de muitas destas crianças. “Hoje até se nota uma necessidade maior das pessoas se envol-verem mais. Temos um grupo muito ati-vo que acredita muito na instituição e as crianças são tudo para eles”, afirmou He-lena Oliveira. Daí que seja cada vez mais importante reforçar a ponte entre a ASAS e o mundo empresarial, cujas portas têm estado abertas. “O mundo empresarial tem a consciência de que as instituições precisam do apoio e sozinhas não con-seguem. Há a necessidade de alargar a rede a outras empresas. A ASAS percebeu muito cedo que tinha de abrir as portas à sociedade, que tinha de se mostrar e isso, ela faz muito bem. A sociedade civil não tem como ajudar se não conhecer o trabalho de uma associação”, disse uma porta-voz do grupo de empresários que muito colorido tem dado à ASAS, ajudan-do a associação a penetrar no interior de uma empresa. “O olhar externo que nos trouxe, mostrou-nos as nossas lacunas e os aspetos em que poderíamos melhorar. Ensinou-nos a comunicar com este mun-do”, reforçou Gilda Torrão.

iNoVAção No tERcEiRo sEtoR

Hoje em dia, têm sido levantadas ideias acerca do poder da inovação para o tercei-ro setor, que envolve uma profunda mu-dança nas formas de pensar e de agir, ques-tionando-se a sustentabilidade e o impacto

Para quem acredita que os sonhos não existem, a AsAs tem vindo a comprovar o contrário. Nesta associação, a realidade pode ser dura e toda a equipa tem os pés bem assentes no chão, mas quando se trata de cuidar de crianças desprotegidas, o lema é só um: “dar Asas à Vida”.

Ainda é permitido voar

social associadas a este novo paradigma. Para Helena Oliveira, a inovação está nos serviços e na forma como são prestados. A ASAS caminha no sentido correto. Segundo a lei, um jovem tem de abandonar a insti-tuição aos 18 anos de idade. Mas, apesar da maioridade, a maturidade ainda não está fortalecida e, associações como a ASAS, procuram fazer mais. Daí que, depois de um contacto frutífero com a tutela, a insti-tuição tenha tido uma garantia de que uma ideia sairá do papel: a criação de um apar-tamento autonomia para preparar o jovem para o contexto atual e dar mais consistên-cia ao seu projeto de vida. O caminho para a sustentabilidade finan-ceira tem sido trilhado mas é impossível viver a 100% sem o apoio estatal. “Não temos dúvidas de que as instituições têm que inovar na sua captação de fundos. Nós inovamos quer na captação de apoios externos quer na criação de iniciativas”, explicou Gilda Torrão. A ASAS é tutelada pela Segurança Social em cerca de 75%. Os restantes 25% são fruto da imaginação e da criatividade de toda a equipa. “É-nos dada margem de manobra para irmos au-mentando essa percentagem, mas nunca deixando de depender de financiamentos públicos até porque o modelo de financia-mento das IPSS pressupõe o privado e o público”, disse Gilda Torrão.

“Há Um lUGAR oNdEtU PodEs soNHAR…”

“…Onde os sonhos ganham asas para nos fazer voar”. A partir do momento em que uma criança entra num dos centros de acolhimento, são movidos mundos para

que ela se sinta como parte de uma fa-mília. A ASAS assume um compromisso com elas, desenvolvendo todo o trabalho que os orienta para o seu projeto de vida, aliado a uma componente técnica que traça o caminho que ela deverá seguir. Neste sentido, a ASAS, em cooperação com a tutela, os tribunais e Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, tem de ver se a família tem condições para rein-tegrar a criança no seu seio ou se será reencaminhada para adoção. “Desde o momento que entra, a ASAS tem de lhe dar proteção e segurança”, garantiu Gilda Torrão. Num universo em que as emo-ções e os sentimentos são colocados à prova, ambas as responsáveis reviam um aspeto que, nas suas perspetivas, altera o desenvolvimento emocional da crian-ça. “Há necessidade de rever a medida de acompanhamento dos pais enquan-to as crianças estão institucionalizadas. Temos casos de crianças que em 7 dias são visitadas 4 vezes pelos pais e ainda poderão passar o fim de semana. É um paradoxo a necessitar de reflexão pois os atos de socialização que adquirem cá, são perdidos em dois dias em casa”, defen-deu Helena Oliveira. Para Gilda Torrão, as crianças ficam numa “situação de du-alidade”. “As crianças institucionalizadas interiorizam sempre que a culpa é deles. Estão à procura do erro e querem melho-rar para não falharem com outros pais. Assim, não conseguem ter serenidade de espírito nem para estudar nem para estar”, concluiu. É esse o papel da ASAS: dar-lhes o conforto e tranquilidade vitais para se tornarem seres humanos e nunca perderem a capacidade de voar.

Gilda Torrão e Helena Oliveira

ASSOCIAÇÃO De SOLIDARIeDADe e ACÇÃO SOCIAL De SANTO TIRSO em DeSTAQUe

EcONOMiA SOciALveRgíLIO feRReIRA, PROveDOR DA SANTA CASA DA mISeRICóRDIA DA PóvOA DO vARzIm

A importância do terceiro se-tor para a economia é hoje indiscutível. Os dados com-provam-no. As Organizações

sem Fins Lucrativos geram cerca de seis por cento do PIB nacional e em-pregam mais de 270 mil pessoas. De acordo com Vergílio Ferreira, apesar da crise, estas continuam a ser “enti-dades empregadoras, que garantem o emprego estável e o salário a tempo e horas”. Só a Santa Casa da Misericór-dia da Póvoa do Varzim tem 220 tra-balhadores nos quadros e nos últimos tempos não houve despedimentos.No entanto, a conjuntura atual faz com que muitas destas instituições se depa-rem com inúmeros problemas que Ver-gílio Ferreira considera que poderão ser ultrapassados através da diversificação das fontes de rendimento das mesmas.“Numa altura em que os pedidos de ajuda crescem, o Estado reduziu em alguns pro-tocolos as comparticipações e há cada vez menos mecenas, estas instituições têm de lançar atividades que permitam sustentar a ação social”, afirma o Provedor.É isso que a Santa Casa da Misericór-dia da Póvoa do Varzim tem vindo a fazer, através de unidades de saúde e

fisioterapia que ajudam a colmatar os buracos financeiros resultantes da ação social e cuja dimensão é ainda maior se tivermos em conta que o trabalho desenvolvido pela instituição não se restringe aos protocolos estabelecidos com o Estado, mas tenta responder, na medida das suas possibilidades, a mais situações de carência social. Exemplo disso é o programa de emergência ali-mentar que está a decorrer e ao qual esta misericórdia aderiu. Aquilo que fi-cou acordado com a segurança social foi que a instituição fornecesse 65 refeições por dia, mas neste momento estão a ser fornecidas 75 e Vergílio Ferreira acredi-ta que este número poderá ainda sofrer aumentos para que haja uma real adap-tação às necessidades locais. De modo a suportar este diferencial de custos, as instituições têm de encontrar outros meios financeiros, que não se tra-duzem em fins lucrativos uma vez que as receitas geradas servem apenas para colmatar este défice. É a imaginação da direção das instituições que irá ditar quais as actividades a partir das quais se consegue gerar resultados financeiros positivos, numa altura em que “o Estado Social está a enfraquecer. Tem cada vez

Num momento tão difícil para o país como o atual, o terceiro setor assume cada vez mais posição de relevo na geração de emprego e coesão social. A santa casa da misericórdia da Póvoa do Varzim é umas das instituições do setor que tem estado atenta aos constrangimentos económi-cos, encontrando formas de os ultrapassar, de modo a dar resposta às crescentes solicitações de cada vez mais estratos da população. o Provedor, Vergílio ferreira, explicou como, em entrevista à Revista Pontos de Vista.

Sustentabilidade passa por colmatar os défices da ação social

meios para suportar o apoio social que tem vindo a manter nos últimos anos e têm de ser as instituições a garantir que as pessoas com maiores dificuldades te-nham pelo menos uma assistência social que lhes permita sobreviver. Os protoco-los estabelecidos com o Estado indicam valores geralmente insuficientes para ga-rantir os serviços que nós prestamos por isso temos de ter criatividade para criar atividades complementares à actividade social e eventualmente também captar ajudas e parcerias com outras institui-ções da sociedade neste sentido”, explica.

“A QUEstão dos lAREs Está A tRANsfoRmAR-sE NUm dRAmA

PARA As misERicÓRdiAs”

Tendo esta Misericórdia a sua atividade muito direcionada para o apoio à ter-ceira idade, através de lares de idosos e serviços de apoio domiciliário, depara-se com outro problema que contribui para o aumento deste défice. De acordo com Virgílio Ferreira, “a questão dos lares está a transformar-se num drama para as mi-sericórdias uma vez que as pessoas que recorrem aos mesmos para internamento são normalmente pessoas com muita ida-de que chegam já num estado físico bas-tante debilitado, e requerem outro tipo de cuidados, não apenas o apoio social, mas com uma grande componente de saúde”. Como tal, a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa do Varzim possui uma unidade de grandes dependentes que requer gastos avultados mas que são necessários, dado

o estado de dependência dos idosos.Neste momento, todas as valências des-ta Misericórdia encontram-se a funcio-nar a 100 por cento e no que respeita ao internamento nos lares a procura é muito grande e não há capacidade de resposta para todas as pessoas que so-licitam internamento.

“fAltA lEGislAçãocomPlEmENtAR”

Para além das alternativas que permitam a autonomização e sustentabilidade das instituições sem fins lucrativos, Virgílio Ferreira é de opinião que “falta legislação complementar que faça com que estas instituições consigam suportar este perí-odo de crise, com um tratamento próprio no mundo da economia, uma vez que o objetivo não é o lucro mas a ação social, e em que sejam vistas também como parceiros económicos que são, uma vez que têm já um peso significativo na nossa económica e é preciso que as suas apos-tas sejam adequadas à conjuntura atual e geridas de forma sustentada”.Estas e outras questões serão debatidas já no próximo mês, entre os dias 20 e 22 de setembro, no décimo Congresso Internacional das Misericórdias, que o nosso entrevistado acredita ser um bom momento para refletir mais uma vez so-bre a questão da dependência em rela-ção ao Estado, da economia social e da sustentabilidade e futuro das mesmas face às alterações que se estão a verifi-car na área social.

“numa altura em que os pedidos de ajuda crescem, o estado reduziu em alguns protocolos as comparticipações e há cada vez menos mecenas, estas instituições têm de lançar atividades que permitam sustentar a ação social”

Vergílio Ferreira

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em janeiro deste ano foi aprovada, por Conselho de ministros, uma nova Lei--quadro das Fundações que visa restrin-gir “o uso do termo fundação”. O grande objetivo é “devolver o regime fundacional à sua original natureza altruísta”. no seu entender, essa característica intrínseca das fundações desapareceu?

Em minha opinião a natureza altruísta das fundações nunca esteve em causa, o seu conceito implica a afetação irrevogá-vel de um património que seja suficiente à prossecução de um fim de interesse social. Este conceito de fundação já vinha consa-grado no Código Civil de 1966 e agora na nova Lei-Quadro das Fundações. O proble-ma é que se assistiu nos últimos tempos a um crescimento do setor fundacional, não sendo muitas das fundações consti-tuídas autossuficientes financeiramente

e dependendo de ajudas estatais para a prossecução dos seus fins. Por outro lado, deu-se uma proliferação das fundações públicas de direito privado que apesar de terem um regime jurídico misto de Direito Privado e de Direito Administrativo, não estavam sujeitas ao controlo do Tribunal de Contas. Com a aplicação desta nova Lei-Quadro, a participação de entidades públicas na criação de fundações privadas fica dependente de prévia autorização do Governo ou de outros órgãos da adminis-tração indireta ou autónoma do Estado, sob pena de nulidade; assim como, tais entidades ficam impedidas de participar futuramente na criação de fundações pri-vadas cujas receitas provenham exclusi-vamente ou predominantemente de bens atribuídos por entidades públicas (artigo 16º da Lei-Quadro). Por sua vez, o Estado,

“A fundação denise lester, tal como todas as fundações deverá adaptar-se às disposições da nova lei-Quadro e fazer por continuar a merecer a confiança pública na sua atuação”, afirma maria da conceição de oliveira martins, diretora da Queen Elizabeth's school - fundação denise lester, onde ficamos a conhecer o impacto que terá a Nova lei-Quadro das fundações que visa restringir “o uso do termo fundação”. saiba mais.

“A natureza altruísta das fundações nunca esteve em causa”

Regiões Autónomas, Autarquias Locais e demais pessoas coletivas públicas estão impedidas de criar ou participar em no-vas fundações públicas de direito privado (artigo 57º, nº1 da Lei-Quadro).

A nova lei-quadro visa tornar mais eficaz o controlo da utilização de dinheiros pú-blicos e/ou benefícios fiscais uma vez que obriga as fundações a reportarem as suas atividades, de uma forma mais aberta e sistemática. qual é a posição assumida pela Fundação denise Lester?

A aprovação da Lei–Quadro das Fundações surgiu no atual contexto de contenção da despesa pública assumida por Portugal no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro perante a “Troika” e na sequên-cia da aplicação de medidas preventivas dirigidas a avaliar o respetivo custo/bene-fício e viabilidade financeira das fundações, tendo tais situações levado à determinação da realização de um censo de participa-ção obrigatória às fundações por Lei da Assembleia da República (Lei nº1/2012, de 3 de janeiro). A nova Lei com todo este enquadramento, sem dúvida alguma, obri-ga as fundações a adotarem formalmente e sistematicamente códigos de conduta de regulação de boas práticas, transparência e publicidade, nomeadamente a nível dos relatórios de gestão e contas, entre outros (artigos 7º e 9º da Lei-Quadro, artigo 166º da Lei nº24/2012, de 9 de julho, que apro-va a Lei-Quadro das Fundações e altera o Código Civil de 1966). Penso que estas me-didas vão repor a dignidade do setor fun-dacional junto da opinião pública, a qual ul-timamente se encontrava bastante afetada pela necessidade sentida de melhor dar a conhecer a utilização e destino dos recur-

sos afetos ao chamado “Estado Paralelo”.

As fundações privadas de utilidade pú-blica e as fundações públicas terão de “adequar a sua denominação, os seus estatutos e a respetiva orgânica” à lei--quadro no prazo de seis meses. É o tem-po necessário para que isso aconteça na plenitude?

Penso que o ideal seria o prazo de um ano, sendo de seis meses vai implicar um esfor-ço e acréscimo de trabalho para as funda-ções e Governo para que tudo se processe da melhor forma devido à burocracia que envolve, a saber: o pedido de autorização de modificação dos estatutos e sua instru-ção (artigo 38º da Lei-Quadro); a publi-cação no Diário da República dos respe-tivos estatutos atualizados e composição do novo órgão diretivo ou executivo com funções de gestão corrente (artigo 166 da Lei nº24/2012 e 26º nº1, alínea b) da Lei nº24/2012); a confirmação do estatuto de utilidade pública administrativamente atribuído a fundações privadas e públi-cas de direito privado no prazo máximo de seis meses após a entrada em vigor da presente Lei (artigo 6º, nº7 da Lei nº 24/2012); aprovação e publicitação de có-digos de conduta que autorregulem boas práticas (artigo 7º da Lei-Quadro); sujei-ção a registo numa base de dados única disponibilizada pelo Instituto dos Regis-tos e Notariado (artigo 8º da Lei-Quadro); disponibilização na página da Internet de informação tida como relevante em ter-mos de transparência de atuação (artigo 9º, n.º1, alínea d)).

A nova lei cria um Conselho Consultivo das Fundações, junto da Presidência do

fUNDAÇÃO DeNISe LeSTeR em DeSTAQUeNOVA LEi-QUAdrO

dAS FUNdAÇõES

Maria da Conceição de Oliveira Martins

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Conselho de ministros, composto por um representante das Finanças, outro da Se-gurança Social e mais três profissionais designados pelo Primeiro-ministro. no seu entender, o conceito de transparên-cia, evocado pelo Governo, será alcança-do? esta almejada transparência coloca-rá em causa a autonomia das fundações?

A transparência do setor fundacional será alcançada com a aplicação imperativa da presente Lei-Quadro a todas as fundações portuguesas e estrangeiras, à exceção das fundações instituídas por confissões reli-giosas que são reguladas pela Lei da Liber-dade Religiosa e pela Concordata celebrada entre Portugal e a Santa Sé, que exerçam a sua atividade em território português (ar-tigo 2º da Lei-Quadro). O incumprimento das obrigações de transparência previs-tas na lei impedem o acesso a quaisquer apoios financeiros durante o ano económi-co seguinte àquele em que se verificar o in-cumprimento e enquanto o mesmo durar (artigo 9º, nº8 da Lei-Quadro). Não creio que se deva falar em perda de autonomia das fundações mas em maior regulação do setor fundacional por parte do Estado ao prever o funcionamento de um Conselho Consultivo no âmbito da Presidência do Conselho de Ministros, que pode por sua iniciativa tomar posição sobre qualquer assunto relativo às fundações na esfera das atribuições da entidade competente para o reconhecimento, entre as demais com-petências que lhe são atribuídas no artigo 13º, n.º5 da Lei-Quadro. Não obstante, é de mencionar que as fundações privadas que beneficiem de apoios financeiros estão su-jeitas à fiscalização e controlo dos serviços competentes do Ministério das Finanças (artigo 16º, n.º3 da Lei-Quadro).

Apesar de existirem mais fundações pri-vadas com utilidade pública do que públi-cas, esta lei trata as fundações privadas como se fossem da esfera pública, como algumas vozes já se levantaram a dizer. que problemas daí advirão?As fundações privadas com estatuto de utilidade pública sofrem uma perda con-siderável de autonomia, ao serem equipa-radas às fundações públicas em termos da administração e gestão do seu patri-mónio, estando agora sujeitas a limites de despesas com pessoal e administração (artigo 10º da Lei-Quadro), bem como dependentes de autorização da entidade competente para o reconhecimento quan-do se tratar da alienação de bens que in-

tegrem o património inicial da fundação, sob pena de nulidade do negócio jurídico celebrado (artigo 11º da Lei-Quadro).

O levantamento realizado para avaliar o custo/benefício e a viabilidade financeira das fundações existentes em Portugal re-gistou 578 fundações privadas e 135 en-tidades públicas com estatuto de funda-ção. Algumas fundações não são criadas pelas razões mais idóneas e, por causas dessas, todas ficarão a perder?

Depois de analisados os resultados do censo obrigatório realizado às fundações pelo Governo cabe a este decidir, num pra-zo de 30 dias a contar da publicação do Relatório de Avaliação, sobre a extinção ou não das fundações objeto de análise, a manutenção, redução ou cessação dos apoios financeiros e do estatuto de utili-dade pública de que algumas têm vindo a usufruir, em função da aplicação de um modelo de avaliação assente em critérios de pertinência/relevância, eficácia, sus-tentabilidade e em critérios qualitativos para o caso das fundações de solidarieda-de social. Dos resultados disponibilizados no relatório de avaliação das fundações e seus anexos, verifica-se que houve funda-ções com boa avaliação, embora na gran-de maioria os resultados das avaliações tenham ficado aquém do esperado.

de forma a controlar esta proliferação de fundações em Portugal, na sua opinião, o que deveria ser feito? Antes de serem in-jetados cortes orçamentais e no dinheiro dado às fundações, acredita que deveria existir uma fiscalização mais apertada? Acredito que com uma análise mais rigo-rosa do pedido de reconhecimento e dos seus elementos de instrução com base em critérios objetivos definidos legalmente, e a consequente recusa do reconhecimento da constituição de uma fundação por não obedecer a tais critérios, que tal obstará à difícil tomada de decisões, caracterizada por alguma discricionariedade, das autori-dades administrativas a quem cabe avaliar do interesse social dos fins a que se destina a fundação, da suficiência da dotação patri-monial afeta à prossecução daqueles fins, da desconformidade ou não dos estatutos com a lei e vícios de forma que afetem a formação e exteriorização da vontade dos intervenientes no ato de constituição.

Com o novo quadro legal, vários orga-nismos terão de se adaptar a uma nova

realidade. de que forma, estas alterações estão a ser sentidas no seio da Fundação denise Lester? que estratégia será uti-lizada para contornar os efeitos destas medidas?A Fundação Denise Lester, tal como todas as fundações deverão adaptar-se às dis-posições da nova Lei-Quadro e fazer por continuar a merecer a confiança pública na sua atuação.

Com a difusão do termo “fundação”, as suas especificidades são, muitas vezes, desvalorizadas. que papel é que a Funda-ção denise Lester desempenha na socie-dade? Sentem que o vosso trabalho diário é devidamente reconhecido?A Fundação Denise Lester atua, predomi-nantemente, na área da educação pré-esco-lar e do ensino básico, sendo proprietária de um estabelecimento de ensino particu-

lar e nessa medida desempenha um papel ativo na formação de crianças, sendo o seu trabalho diário alvo de reconhecimento pela própria comunidade educativa.

que desafios a Fundação denise Lester terá de enfrentar num futuro que se prevê ser de profundas mudanças?O maior desafio com o qual a Fundação Denise Lester se defronta neste momen-to é ter sido constituída em fevereiro de 1965, anteriormente ao Código Civil de 1966, ao abrigo do artigo 416º do Código Administrativo de 1940 com a natureza jurídica de Pessoa Coletiva de Utilidade Pública Administrativa, e agora ter sido classificada no Relatório de Avaliação das Fundações com a natureza jurídica de Ins-tituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), tal situação merece ser objeto de análise e enquadramento devido.

qual importância da Lei-quadro das Fun-dações?Desde há bastante tempo que se vinha sentindo a necessidade de clarificar e regulamentar o funcionamento das fun-dações em Portugal. O Centro Português de Fundações, organismo que representa uma parte significativa das fundações com mais atividade, por diversas vezes sugeriu essa clarificação. Não é razoável nem justo que sempre que se fala em fundações haja o preconceito de atuações menos claras, pondo-se em causa todo o universo funda-cional independentemente dos objetivos e modo como atuam. É por isso urgente separar o trigo do joio. Penso que a publi-cação da Lei Quadro das Fundações, jun-tamente com as consequências do censo a que se procedeu no início do ano, vem tornar as regras do jogo muito mais claras e transparentes.

de que forma as alterações implementa-das pela nova Lei-quadro das fundações irão afetar a atuação das mesmas?As fundações que têm na sua génese ob-jetivos filantrópicos e preocupação de desenvolvimento de atividades que con-tribuam para uma sociedade mais justa e equilibrada não têm que ter receio das novas exigências. É possível, todavia, que algumas tenham que aperfeiçoar os seus métodos de gestão e aumentar o profis-sionalismo subjacente ao seu funciona-mento de forma a poderem disponibilizar com rigor e abrangência o conjunto de informação exigida.

quais os aspetos que considera mais ne-gativos nesta lei?Tendo em conta os objetivos com que esta lei foi criada deveria ter havido o cuidado de não deixar indefinições e argumentos para o seu incumprimento. Saliento os que me parecem mais significativos:Registo - É estabelecido que as fundações que desenvolvem os seus fins em territó-rio nacional estão sujeitas a registo nos termos da lei. Mas não estando clarificado nem regulamentado esse registo cria-se uma indefinição e dúvidas sobre como atuar para se estar em perfeita legalidade.Código de Conduta - Talvez tenha sido precipitado obrigar a que determinada informação passasse a estar publicada na data de entrada em vigor da lei. Note-se que a entrada em vigor ocorreu 5 dias após a publicação. Embora em relação à maioria dos elementos pedidos não se coloquem

grandes dificuldades há informação que seria difícil disponibilizar se não estivesse já elaborada. Refiro-me concretamente ao Código de Conduta. Estou à vontade para fazer este reparo na medida em que tenho responsabilidades numa fundação que cumpre rigorosamente as exigências desta lei. Às vezes é preferível dar algum tempo para se fazerem as adaptações do que abrir caminho para o não cumprimento.Aceitação de heranças - Estabelece-se que as fundações só podem aceitar heran-ças a benefício de inventário. Embora não esteja clarificado o que isso significa pen-so que, exceto nos casos em que o doador imponha regras quanto ao destino dos bens doados, que o beneficiário pode ou não aceitar, as fundações não devem ficar condicionadas em relação ao destino a dar ao património que lhes é doado.

de acordo com o governo, esta nova lei pretende devolver às fundações a sua ori-ginal natureza altruísta. Acha que é isso que esta lei vem realmente fazer? esta ca-racterística tem vindo de facto a perder-se com o proliferar de fundações?Se tomarmos como verdadeiras as suspei-

de acordo com manuel lucas, as dificuldades com que a Ami se depara atualmente não resultam da aplicação da Nova lei-Quadro das fundações, mas do aumento substancial dos pedidos de ajuda por parte da população mais carenciada, ao mesmo tempo que as doações particulares dimi-nuem. Para o diretor de Gestão financeira da Ami é injusto o preconceito que existe em relação às fundações, uma vez que é preciso “separar o trigo do joio” e a falta de transparência de algumas não pode servir de mote a generalizações. Quanto aos pontos mais negativos da nova legislação destaca as indefinições no que diz respeito ao registo, o diminuto prazo dado para a elaboração dos códigos de conduta e os constrangimentos na aceitação de heranças.

“É urgente separar o trigo do joio”

ções que existem é bem possível que haja fundações onde o espírito altruísta está ausente. Esta lei, com exigências ao nível da utilização de recursos, de auditoria ex-terna para as de maior dimensão e de dis-ponibilização de um conjunto alargado de informação vem condicionar a existência de fundações que não se enquadrem den-tro do conceito que deve nortear a cons-tituição e funcionamento das fundações.

está de acordo com as premissas das quais partiu a elaboração desta lei, como a falta de transparência e o uso inapro-priado do termo fundação?O resultado do Relatório de Avaliação das Fundações, elaborado na sequência do censo às fundações, onde se constata que das cerca de 800 fundações registadas apenas foram avaliadas 401, tendo ficado de fora cerca de 200 que não responde-ram e 157 por não se enquadrarem no âmbito de fundações privadas, público--privadas e públicas de direito privado responde a esta questão.

A criação de um conselho que acompanhe e emita pareceres sobre toda a atividade

da administração em matéria das funda-ções era de facto necessária?

Penso que não era indispensável. No en-tanto, tendo em conta a especificidade deste setor, pode ser importante a exis-tência de um órgão de acompanhamento desde que atuante e que tenha condições para exercer as suas funções com inde-pendência tal como está previsto na lei.

O dia a dia das fundações e mesmo coisas simples do quotidiano das mesmas vão ser agora mais difíceis de realizar com tanta burocratização? Não me parece que as obrigações agora criadas venham dificultar grandemente o trabalho das fundações.

esta lei deveria ser rectificada? que medi-das, na sua opinião, deveriam ser imple-mentadas?Nesta fase devemos estar todos preocupa-dos com o cumprimento desta lei e procu-rar tirar proveito das suas vantagens.

quais as principais dificuldades com as quais a Ami se vai deparar e de que forma irá sobreviver neste cenário?As dificuldades com que a AMI se está a defrontar, e que são comuns a muitas outras organizações equivalentes, não re-sultam da aplicação desta lei. Estão mais relacionadas com o aumento assustador de solicitações que temos, principalmente por parte da população mais carenciada do nosso país, e diminuição dos apoios de doadores particulares.

no caso das fundações mais pequenas e que respondem a problemas essencial-mente locais ou muito específicos, esta lei não irá fazer com que muitas delas vejam os seus dias contados?Penso que não. Se não for possível o seu enquadramento dentro do estatuto de fundações têm outras formas de atuar, nomeadamente como associações onde o grau de exigência não é tão elevado.

quais os principais desafios que se colo-cam à Ami neste momento e que expeta-tivas têm em relação ao futuro?A grande preocupação da Ami neste cenário de grandes dificuldades centra-se no esfor-ço para não diminuir a resposta às solicita-ções que todos os dias nos surgem por parte de pessoas que não estavam habituadas a ser confrontadas com a falta de bens bási-cos, nomeadamente alimentares.

mANUeL LUCAS, DIReTOR De geSTÃO fINANCeIRA DA AmINOVA LEi-QUAdrOdAS FUNdAÇõES

Manuel Lucas

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foi em 2004 que dois irmãos, João e David Pires, com for-mação e experiência na área da automação iniciaram uma

equipa que viria, mais tarde, a origi-nar a criação da Plexus. O primeiro é o mais velho e trabalha no ramo des-de 1989, há mais de 20 anos, o segun-do fez a formação nesta área mas es-teve vários anos a trabalhar noutra. Para David, foram diferentes saberes e experiências que se juntaram, não deixando de salientar também o im-portante contributo do encarregado geral da empresa, Francisco Delfino, que se juntou à equipa em 2008.A empresa tem como principal ativida-de a integração de sistemas industriais e, para conseguir integrar os diversos subsistemas independentes uns dos outros num único sistema homogéneo e harmonioso, domina áreas tecnológicas como a eletricidade, a instrumentação, a automação, o controlo processual, as re-des de dados e a fibra ótica, a par de um amplo conhecimento sobre vários tipos de protocolos de comunicação.

UmA EmPREsA tRANsVERsAl

Poucas empresas em Portugal são capa-zes de dar o tipo de reposta que a Plexus dá, com a transversalidade que lhe é ca-racterística. David Pires explica: “somos uma empresa muito vertical e, como tal, encontramos concorrência nos vários ti-pos de oferta que temos, mas há poucas empresas a oferecer uma solução tão completa e integrada”. Para além disso, das empresas a operar em Portugal ao nível da integração de sistemas indus-triais, grande parte estão direcionadas para outros segmentos de mercado, como o das águas ou o alimentar, que obedecem a diferentes normas. “Há em-presas a fazer aquilo que nós fazemos no setor alimentar, mas este obedece a outras normas, não são as normas ATEX e, portanto, o perigo não é de explosão mas de contaminação bacteriológica. O setor petrolífero é um setor muito específico e não havendo em Portugal muita gente a trabalhar nele, nós acaba-mos por concorrer quase sempre com empresas muito grandes. Isso faz com

A Plexus é a empresa líder em Portugal na medição legal de combustíveis liquidos, tendo em carteira clientes como a Galp e a Prio. Apesar de ser uma empresa relativamente recente, os bons resultados são o espelho do bom desempenho e de uma atitude baseada na ética e nos princípios, que põe o Homem à frente do lucro. Uma atitude de louvar nos tempos que correm e que conjugada com o know how de anos de experiência na área da automação, que vinha já de outra empresa, explicam o sucesso.

“Há poucas empresas a oferecer uma solução tão completa e integrada”

que tenhamos de sustentar muito bem as soluções que propomos, fazer muitos testes e mostrar por A mais B que não há riscos”, afirma.É isso que a Plexus tem feito e com su-cesso sendo atualmente líder nacional em medição legal de combustíveis líqui-dos. Na sua carteira de clientes conta com nomes como a Prio Energy e a Galp Energia, através do controlo de enchi-mento de cisternas de combustíveis nos diversos parques e refinarias existentes de Norte a Sul: Porto, Aveiro, Barreiro, Setúbal e Sines.

ÉticA E PRiNcíPiossoBREPÕEm-sE Ao lUcRo

A Plexus não se limita a concorrer com grandes empresas, tem vindo a esta-belecer também parcerias de peso. Assim sendo, é integradora oficial Endress+Hauser, utilizando toda a gama de instrumentação e análise em linha deste fabricante Suíço nos projetos que implementa e é representante em Por-tugal da empresa alemã M+F, especialis-

JOÃO e DAvID PIReS, SóCIOS geReNTeS DA PLeXUSAUTOMAÇÃO E rObÓTicA AO

SErViÇO dA iNdÚSTriA

“O setor petrolífero é um setor muito espe-cífico e não havendo

em Portugal muita gente a trabalhar

nele, nós acabamos por concorrer quase sempre com empre-

sas muito grandes. isso faz com que te-

nhamos de sustentar muito bem as solu-

ções que propomos, fazer muitos testes e

mostrar por A mais B que não há riscos”

não queremos pagar 10 cêntimos por uma folha, em vez de 11 cêntimos, se esse cêntimo estiver a ser poupado à custa dos trabalhadores. ten-tamos ter sempre essa perspetiva muito huma-na porque não podemos separar nunca o homem do produto final

“A Equipa da Plexus

Pontos de Vista Agosto 2012 59

tas na gestão de armazenamento e distribuição de combustíveis, com os seus sistemas de medição e de transferência de líquidos para camiões, navios, aeroportos, produtos embalados e oleodutos. É também através desta parceria que presta suporte técnico nos sistemas de enchimento e de controlo de acessos de camiões-cisterna nas refinarias da Petrogal.Mais do que uma simples fornecedora, a Endress+Hauser é atualmente também cliente da Plexus. Entre as várias empresas para as quais for-nece, escolher a Plexus quando chega o momento de desenvolver um projeto para eles próprios é, para João Pires, uma prova da confiança que depo-sitam neles e o reflexo da boa relação que mantêm com clientes e fornecedores. “Isto é significado de alguma coisa e nós sentimo-nos honrados”.David Pires não tem dúvidas em afirmar, “por um lado, se nós somo uma empresa pequena que se tem dado relativamente bem é porque fazemos coisas diferentes das demais, por outro lado, é porque baseamos o nosso trabalho na confiança mútua e temos atitudes que mantêm as pessoas connosco, sejam elas os nossos funcionários, se-jam os nossos parceiros. Trabalhamos com princí-pios, com ética, tendo as relações pessoais como o principal e não o dinheiro. Não vamos ao cêntimo e pensamos que esse tipo de clientes nem sequer é fidelizável porque é fiel apenas ao preço”.

PolíticA dEiNtERNAcioNAliZAção

Os princípios estão na base de todo o trabalho da Plexus e, por isso, os próprios planos de interna-cionalização têm partido desta premissa. João Pi-res explica: “temos feito alguns contactos, nome-adamente com Espanha, mas não queremos dar passos maiores do que as pernas. Também temos alguns pedidos para África, aos quais vamos res-pondendo com muita cautela e ponderação. Para além disso, temos ido a várias feiras no exterior e visitado as fábricas dos nossos fornecedores porque preocupa-nos como os produtos são pro-duzidos, com que condições de trabalho e se hu-manamente faz sentido para nós. Não queremos pagar 10 cêntimos por uma folha, em vez de 11 cêntimos, se esse cêntimo estiver a ser poupado à custa dos trabalhadores. Tentamos ter sempre essa perspetiva muito humana porque não pode-mos separar nunca o Homem do produto final.

Para nós ambição é positiva porque estabelece objetivos. Porém, ambição é diferente de ganância. A ganância é negativa porque não tem limites e co-loca os ganhos acima de tudo o resto”.

PolíticAs E mENtAlidAdENAcioNAl

Apesar dos resultados serem positivos, o que é louvável na conjuntura atual, David Pires não pou-pa críticas às políticas e à própria mentalidade na-cional que, para o mesmo, constituem verdadeiros entraves ao investimento, empreendedorismo e sustentabilidade das empresas. “Por exemplo, as empresas portuguesas são obrigadas a manter um quadro mínimo de pessoal para poderem manter também o seu alvará de construção, enquanto as empresas estrangeiras que vêm para Portugal não precisam de alvarás, basta-lhes uma declaração do INCI que, por sinal, até é grátis. As empresas portuguesas não conseguem ter uma poupança, uma bolsa de ar, porque está tudo demasiado di-recionado para a Banca e para que as pessoas não poupem. Se as empresas chegam ao final do ano com resultados, o Estado quer levar parte desses resultados e acabam por ser prejudicadas em ter-mos fiscais. Como é que as empresas portuguesas podem competir neste contexto? Isto não tem a ver com crise, tem a ver com cultura e mentalida-de. Nós somos governados por pessoas que não fazem ideia daquilo que é gerir uma empresa, nem sequer uma loja. Têm carreiras académicas, par-tidárias e parlamentares mas nunca fizeram nada na vida. O estado não tem boa-fé com as empresas e com as pessoas e o principal problema do país é o peso gigante do mesmo na economia”.Para a Plexus, no entanto, as coisas estão assegu-radas. Quando o país submergiu nesta situação de rutura económica estavam a desenvolver um pro-jeto que, em conjunto com outros mais pequenos, foi suficiente para manter os bons resultados da empresa. Para finais de 2012 e 2013, há já previ-são de novos projetos. Como tal, a crise é sentida essencialmente por esta “sensação de impotência face áquilo que poderíamos fazer e aquilo que con-seguimos fazer. Temos consciência que Portugal tem capacidade para ir lá fora fazer projetos e le-vá-los a bom porto, assim pudéssemos também ter algum apoio institucional e menos entraves para que as empresas consigam amadurecer e crescer”, refere David Pires.

“Por exemplo, as empresas portu-guesas são obrigadas a manter um quadro mínimo de pessoal para poderem manter também o seu alvará de construção, enquanto as empresas estrangeiras que vêm para Portugal não precisam de alvarás, basta-lhes uma declaração do inCi que, por sinal, até é grátis”

OPINIÃO

A SEW-EURODRIVE soluciona, de forma flexível e eficien-te, as mais variadas tarefas de automatização com a sua

tecnologia de controlo. O software do controlador universal e escalável MO-VI-PLC®, pode ser integrado, eficaz-mente e de forma rentável, nos mais variados conceitos de automatização. E isto independentemente de o mo-vimento requerer uma programação livre ou ser realizado através de um módulo de aplicação padronizado. A SEW-EURODRIVE desenvolveu o controlador de movimento (Motion Controller) MOVI-PLC® para tarefas de automação junto ao acionamento. Oferecendo ainda acesso conveniente a toda a funcionalidade do acionamento, o que lhe permite implementar tarefas de controlo sofisticadas em pouco tempo. Durante anos, os clientes usaram este controlador livremente programável, baseado na IEC 61131, para múltiplas aplicações.Para além do conhecido MOVI-PLC® que é um controlador livremente con-figurável, a SEW-EURODRIVE oferece também um controlador configurável para aplicações standard. Esta Unidade de Controlo Configurável (UCC) simpli-fica a engenharia e a colocação em fun-cionamento com módulos de aplicação para aplicações de mono-eixo e multiei-xo, que disponibilizam a sua funcionali-dade a um controlador de nível superior através de interface de Bus de Campo.Os utilizadores deixam de ser obrigados a programar inúmeras aplicações stan-dard. Tudo o que têm de fazer é confi-gurar o controlador. E isso é realmente fácil: um programa de PC com assistente irá pedir toda a informação relevante. É utilizada parametrização gráfica sim-ples para adaptar a funcionalidade à aplicação específica. Diagnósticos inte-grados permitem um procedimento de colocação em funcionamento rápido e direto, diminuindo significativamente a possibilidade de erros.Os módulos de aplicação oferecem fun-cionalidade standard ao controlador de

nível superior através da interface de dados do processo. Atualmente, estão disponíveis módulos de aplicação para funcionalidades mono-eixo e multieixo. Estes últimos incluem o posicionamen-to por cam, o posicionamento via bus e o módulo universal, que oferece vários modos de posicionamento tais como o Módulo, baseado em sensores, e posi-cionamento linear. O módulo de aplica-ção multieixo inclui “SyncCrane” para o controlo simples de elevadores e gruas, bem como o “Energy-saving SRU” para o controlo otimizado do ponto de vista energético de armazéns automáticos.

moViAXis®A filosofiA dos

sERVo-AcioNAmENtosmUltiEiXos

Versátil, potente e polivalente – são as palavras que definem a família MOVIA-XIS® da SEW-EURODRIVE. Devido à sua gama de potência e às suas funcionali-dades, a gama MOVIAXIS® abrange um vasto leque de aplicações industriais de movimentação de materiais, robótica, embalagem e sistemas logísticos. Na base destes controladores está, o obje-tivo de transformar as funções tecnoló-gicas e de controlo do movimento mais amigas do utilizador, numa estrutura de PLC à qual o utilizador está habitu-ado. Nos acionamentos tradicionais as

A tecnologia de Acionamentos inovadores da sEw-EURodRiVE é procurada por todo o mundo. As opções de aplicação são tão diversas quanto a sua gama de potências. Quando se conduz um carro, recebe uma encomenda, bebe um copo de água ou se apanha a sua bagagem no carrossel do aeroporto podemos ficar surpreendidos ao perceber quantas das coisas do dia a dia, em muitos processos de produção e em muitos lugares do mundo são possíveis graças às soluções de acionamento da sEw-EURodRiVE. As necessidades de maior qualidade e eficiência não conhecem fron-teiras. Nem as soluções de acionamentos da sEw-EURodRiVE.

Tecnologia de Automação, “made by SEW-EURODRIVE” Tecnologia de Controlo MOVI-PLC ®

- Configuração de aplicações rápida e fácil

funções de posicionamento exigem um controlador adicional: os servo-acio-namentos MOVIAXIS® trazem consigo essa função, entre muitas outras que facilitam a programação e o comissiona-mento dos sistemas. Os servo-acionamentos multieixo MO-VIAXIS® foram projetados para má-quinas compactas e aplicações de au-tomação. Graças à alimentação elétrica normalizada, ao sistema de bus Twin--CAN intregrado e à distribuição inteli-gente de funções, todos os componentes do sistema podem ser combinados de

modo flexível para dar lugar a soluções de acionamentos por medida. Os servo-acionamentos MOVIAXIS® têm um elevado grau de escalabilidade e as opções de comunicação e a tecno-logia de controlo são igualmente flexí-veis. Qualquer que seja a arquitetura do sistema de automação – descentraliza-da, centralizada ou híbrida – os servo--acionamentos multieixo MOVIAXIS® podem sempre ser ajustados, o que faz deles uma solução extremamente fiável não só para os requisitos atuais, mas também para os requisitos futuros.

SeW-eURODRIve PORTUgAL

“A SeW-eurOdrive desenvolveu o controlador de movimento (motion Controller) mOvi-PLC® para tarefas de automação junto ao acionamento. Oferecendo ainda acesso conveniente a toda a funcionalidade do acionamento, o que lhe permite implementar tarefas de controlo sofisticadas em pouco tempo. durante anos, os clientes usaram este controlador livremente programável, baseado na ieC 61131, para múltiplas aplicações”

“Os servo-acionamentos mOviAXiS® têm um elevado grau de escalabilidade e as opções de

comunicação e a tecnologia de controlo são igualmente flexíveis. qualquer que seja a arqui-

tetura do sistema de automação – descentrali-zada, centralizada ou híbrida – os servo-acio-

namentos multieixo mOviAXiS® podem sempre ser ajustados, o que faz deles uma solução

extremamente fiável não só para os requisitos atuais, mas também para os requisitos futuros”

AUTOMAÇÃO E rObÓTicA AO SErViÇO dA iNdÚSTriA

Pontos de Vista Agosto 2012 61

A adequação para aplicações industriais e a simplicidade de montagem foram dois importantes aspetos tidos em conta no desenvolvimento dos servo-aciona-mentos multieixo MOVIAXIS®. O resul-tado é uma construção estável, robusta, fácil de instalar e com separação física entre os níveis de potência e sinal (otimi-zação EMC). Estas unidades podem ser instaladas de forma rápida e fácil graças a uma matriz de furações para fixação e à integração de todos os componentes de arrefecimento na unidade base.A SEW-EURODRIVE continua focada no desenvolvimento de componentes de acionamentos que permitam aos seus clientes realizar mais economias de energia e elevar os seus níveis de efici-ência. O conceito effiDRIVE® adota uma abordagem sistémica da economia de energia, que envolve o desenvolvimen-

to de componentes modulares mais eficientes, o serviço de consultoria em energia, em que a SEW-EURODRIVE coloca a sua experiência ao serviço dos clientes, e a procura de soluções de efici-ência para aplicações concretas.Este acionamento permite a otimização do tempo e dos custos na realização de

aplicações e tarefas de automação dinâ-micas e precisas. Os servo-acionamentos multieixo MOVIAXIS® podem ser com-binados e adaptados de forma a cumprir os requisitos de automação em causa, de forma flexível e otimizada, de acordo com o conceito de máquina e sistema.A nova solução MOVIAXIS® da SEW-

-EURODRIVE PORTUGAL foi distingui-da com o terceiro prémio do concurso “Melhor Produto de Automação e Acio-namentos 2006“, atribuído pela revista especializada “Automation & Drive“, sendo o primeiro produto na área dos conversores de frequência/servo-con-troladores a ser premiado.

Os módulos de aplicação oferecem funcionalidade standard ao con-trolador de nível superior através da interface de dados do processo. Atualmente, estão disponíveis módulos de aplicação para funcionali-dades mono-eixo e multieixo. estes últimos incluem o posicionamento por cam, o posicionamento via bus e o módulo universal, que oferece vários modos de posicionamento tais como o módulo, baseado em sen-sores, e posicionamento linear. O módulo de aplicação multieixo inclui “SyncCrane” para o controlo simples de elevadores e gruas, bem como o “energy-saving Sru” para o controlo otimizado do ponto de vista energético de armazéns automáticos

A eSt tem vindo a afirmar-se no merca-do nacional e internacional no que diz respeito à conceção e desenvolvimen-to de soluções de automação. quais os projetos mais inovadores ao nível da automação e da robótica desenvolvidos pela empresa?

A EST tem desenvolvido trabalhos de au-tomação e sistemas em diversas áreas de indústria, e um pouco por todo o mundo. Prova disso é o nosso curriculum, onde constam áreas de atuação desde automa-ção de máquinas de grande porte para a indústria do cimento, papel, agroalimen-tar, petrolíferas, ambiente, etc. tanto em Portugal, como no resto do mundo. Sendo, no entanto, a área de “Plant Automation” - automação de fábricas, aquela em que temos desenvolvido mais soluções. Cos-tumo categorizar o nosso tipo de trabalho em duas categorias: automação de máqui-nas - “machine automation” e automação de fábricas – “plant automation”. E é neste que temos tido trabalhos mais relevantes, como a automação do setor de handling de produto acabado de uma fábrica de adubo no Irão, realizada em 2000, outro exemplo são as centrais de produção de energia elétrica de CaboVerde em 2010 e as de Angola que estamos neste momento a executar, entre muitos outros projetos que envolvem diversas tecnologias e para as quais desenvolvemos sistemas dedica-dos, como sendo a automação integral de diversas unidades industriais de produ-ção de alimentos compostos para animais, vulgarmente chamadas de fábricas de ra-ções, área na qual somos líderes nacionais e que esteve na génese da criação da EST e do departamento de automação, e para a qual desenvolvemos soluções à medida para a automação integral de uma fábrica, desde a receção das matérias-primas à expedição em saco ou a granel do produto acabado.Ao nível de projetos com uma compo-nente maior de inovação, desenvolve-mos alguns sistemas de visão artificial, para a indústria da madeira, filme plás-tico e indústria automóvel – Autoeuro-pa. Foram (e são), sem dúvida, sistemas inovadores na medida em que não havia

no mercado soluções já desenvolvidas.Recentemente, desenvolvemos dois sis-temas. Um deles, na área rodoviária e do qual já temos a patente registada, trata--se de um dispositivo para condicionar o estacionamento a locais reservados, como deficientes, por exemplo. E um outro sistema, ainda em fase de desen-volvimento e atualização, para a área das energia renováveis, permitindo o funcionamento autónomo e remoto de uma unidade de produção de energia, água potável, biogás e fertilizante.

há poucas empresas em Portugal capa-zes de oferecer este tipo de soluções?Sim, de facto a EST graças à sua diversi-dade na oferta de serviços, fruto dos di-versos departamentos que a constituem, torna-nos numa empresa com capacidade de fornecer uma solução chave-na-mão, em trabalhos tão variados como a conce-ção de Sistemas de Automação e Robóti-ca, à conceção e montagem de quadros elétricos, eletrificação, assistência técnica, entre outros. Na minha opinião, a EST é uma das poucas empresas, se não a única, a conseguir fornecer praticamente todos os serviços do âmbito da eletricidade, ins-trumentação e automação industrial, sem necessidade de recorrer a sub-contrata-ção. E, neste campo, quando comparamos a nossa empresa com outras de eletricida-de, na minha opinião o departamento de Automação torna a EST diferente de mui-tas outras empresas, alargando o leque de oferta dos serviços da EST, potenciando a concretização de muitos negócios, pois conseguimos oferecer ao cliente uma so-lução chave-na-mão.Na EST, e em particular no departamen-to de Automação, temos a facilidade de nos adaptarmos com facilidade às par-ticularidades e exigência de cada tipo de indústria, o nosso trabalho é mesmo esse, fazer o que nos solicitam, prestar soluções. No panorama nacional e mes-mo internacional, muitas das empresas que se dedicam à automação, fazem-no como uma resposta, ou complemento ao que vendem, que na maioria são fa-bricantes de máquinas. Muitas dessas

marca de enorme prestígio, a Est afirma-se diariamente no mercado nacional e internacional como um dos principais players no âmbito da automação, sendo uma das poucas empresas, se não a única, a conse-guir fornecer praticamente todos os serviços do âmbito da eletricidade, instrumentação e automação industrial, sem necessidade de recorrer a sub-contratação. mário Rodrigues e carolina Rodrigues, sócios Geren-tes da Est e cláudio costa, Responsável do departamento de Automa-ção, Robótica e sistemas da Est, falaram à Revista Pontos de Vista, e deram-nos a conhecer as diferenças de uma marca que ano após ano tem dado cartas neste setor.

“Queremos prestarsoluções no mundo inteiro”

empresas evoluíram precisamente de departamentos de empresas fabricantes de máquinas que se tornaram autóno-mos. Não sendo esse o nosso caso, não estamos dedicados exclusivamente a nenhuma área de indústria, nem a ne-nhuma área específica de trabalho. Pelo que somos uma empresa com grande fa-cilidade de adaptação por forma a pres-tarmos soluções eficazes e funcionais.

quais as mais-valias trazidas pela au-tomação e pela robótica à indústria? O futuro das empresas passa inevitavel-mente por estas áreas?A Automação e a Robótica na indústria assumem papéis de extrema importân-cia. Eu diria mesmo de vital importân-cia! Todos sabemos que na economia atual, é impossível ser competitivo sem garantir o cumprimento de dois objeti-vos: a qualidade do produto acabado e a eficácia/rendimento na produção do mesmo por outro.Só com processos automáticos se con-seguem atingir níveis de qualidade e de repetitibilidade adequados. No caso de

algumas das aplicações de automação de-senvolvidas pela EST e, dando o exemplo dos sistemas de doseamento automáti-cos que implementamos nas fábricas de rações, uma fábrica atualmente pode ter no circuito de produção até sete lotes em simultâneo, efetuando a pesagem de in-gredientes em quatro balanças simultane-amente, injeção de líquidos, para além do controlo de todo o restante processo. Um processo destes é impossível de controlar manualmente e, mesmo que o seja, deixa de ser rentável, pelos tempos envolvidos. Quando começamos o desenvolvimento dos primeiros sistemas, há mais de 20 anos, ainda era possível, pois eram poucas matérias-primas e os ritmos de produção eram muito mais reduzidos.Por outro lado, para assegurar a boa qualidade dos produtos, e referindo--me mais uma vez a linhas de produção, o processo produtivo não pode estar apenas dependente do ser humano. Se em muitos processos o ser humano é insubstituível, há outros que têm forço-samente de estar imunes ao cansaço do ser humano, minimizando os erros.

eST - emPReSA SeRvIÇOS TéCNICOS, LDA em fOCO

Mário Rodrigues e Carolina Rodrigues

AUTOMAÇÃO E rObÓTicA AO SErViÇO dA iNdÚSTriA

Pontos de Vista Agosto 2012 63

estas áreas permitem uma melhoria da eficiência e do desempenho, flexibili-zam a produção e permitem uma redu-ção de custos. no entanto não agregam algumas desvantagens, de que é exem-plo a substituição do homem e conse-quente diminuição do emprego?

Relativamente ao problema do empre-go, e neste caso à eventual substituição do homem pela máquina, tenho uma opinião bastante formada. Podemos ver a questão de diversos prismas. Se pensarmos, por exemplo, numa nova unidade fabril, cujos investidores deci-diram implementar num determinado

local... Se a fábrica vai ser uma realida-de, é porque financeiramente o poderá ser, ou seja, se não fosse automatizada provavelmente não iria existir e não iria criar os postos de trabalho. Por outro lado, se a mesma não fosse auto-matizada poderia de facto dar emprego direto a muitos mais colaboradores, mas não nos podemos esquecer das empresas do tipo da nossa, que dão emprego a muita gente. No caso da EST somos cerca de 150 funcionários e que dependem em grande parte da automa-ção dessas fábricas, são os chamados empregos indiretos, criados para pres-

tar serviços e manter essa automação e robotização. Ou seja, o que se passa é que de facto há uma deslocalização de empregos. Se por um lado a automação possa retirar postos de trabalho na li-nha de produção, cria empregos a mon-tante, em quem desenvolve a automa-ção, nas fábricas onde se produzem os robots e os autómatos, etc. A questão, é que os empregos criados exigem maior nível de conhecimento e especialização em detrimento dos postos de trabalho, normalmente menos especializados e desempenhados por funcionários com poucas habilitações.

Como é que se encontram estas áreas em Portugal em termos de investigação e desenvolvimento?Relativamente às áreas de Automação e Robótica, o nosso país tem mostrado ter competência e ser capaz, com diversas empresas a desenvolver equipamentos e soluções de grande qualidade. Basta visitarmos as grandes feiras europeias a nível industrial e encontramos sempre empresas portuguesas a apresentar no-vos produtos e de excelente qualidade. Infelizmente nem sempre é fácil rentabi-lizar esse investimento em investigação e desenvolvimento de novos equipamen-tos ou soluções mais específicas, pois

se considerarmos a dimensão do nosso tecido industrial, ele é relativamente pe-queno, sendo difícil vender e implemen-tar muitas unidades numa economia de reduzida escala industrial quando com-parada com outros países, obrigando as empresas a tentar a exportação, com as dificuldades e custos inerentes. No en-tanto, na minha opinião estas dificulda-des não têm demovido os empresários e técnicos portugueses, cuja capacidade técnica e criatividade continuam bem vi-síveis. Pena é que, ao contrário de outros países, ainda nos cruzamos com clientes e empresários que nem sempre preferem as nossas soluções.

quais os objetivos da eSt para o futuro? Os planos passam por liderar a área da automação e da robótica no mercado nacional?As respostas anteriores já respondem a esta questão. Sim, claro, queremos con-tinuar a liderar a área da automação e da robótica no mercado nacional e con-tinuar a expandir para o mercado inter-nacional. Crecer no mundo com todas as nossas áreas de negócio no âmbito da eletricidade, instrumentação e automa-ção industrial, é o nosso objetivo. Resu-mindo, queremos PRESTAR SOLUÇÕES no mundo inteiro!

“relativamente às áreas de Automação e robótica, o nosso país tem mostrado ter competência e ser capaz, com diversas empresas a desen-volver equipamentos e so-luções de grande qualidade. Basta visitarmos as grandes feiras europeias a nível indus-trial e encontramos sempre empresas portuguesas a apresentar novos produtos e de excelente qualidade”

Cláudio Costa

Não é a toa que se chama Radar d’Ideias, o nome foi escolhido por representar na perfeição aquilo que

a empresa se disponibiliza a fazer. Alexandre Oliveira, Sócio Gerente, explica porquê, “nós vamos às em-presas e ouvimos toda a gente, desde os funcionários à chefia, e a partir daí apresentamos as melhores soluções. Enquanto os nossos concorrentes são como um pronto-a-vestir, baseando os seus serviços em soluções predeli-neadas, nós somos os alfaiates desta área. Ou seja, tendo por base aquilo que ouvimos oferecemos soluções à medida, o que faz com que os nossos produtos tenham bastante sucesso”.Nasceu há quatro anos com o objetivo de ajudar as empresas a projetar ou oti-mizar processos, facilitando a funciona-lidade da indústria em geral. Numa altu-ra em que as mesmas se encontram, de um modo geral, descapitalizadas, o lema da Radar d’Ideias é aproveitar ao máxi-mo os recursos disponíveis. Para isso, é também importante o conhecimento que têm das tecnologias disponíveis no mercado mas, Alexandre Oliveira garan-

te não agarrar-se a marcas ou conceitos fixos. “Neste momento temos apostado cada vez mais nas ferramentas livres, como o Linux e outros sistemas de co-municação abertos porque percebemos que os preços das licenças são absur-dos e que as aplicações que fazemos em open source se fossem feitos em pro-gramação tradicional ficariam cinco ou seis vezes mais caros só por causa das licenças”.Por esse motivo, Alexandre Oliveira ga-rante que aquilo que de mais inovador a Radar d’Ideias tem para oferecer é o facto de as soluções apresentadas terem a mesma qualidade mas custarem mui-to menos do que as soluções oferecidas pela concorrência. “A nossa inovação é, geralmente, manter a mesma qualidade reduzindo os custos. No mundo da au-tomação há várias empresas que estão agarradas a determinadas máquinas e o cliente acaba por pagar cinco por cento de ferro, 70 por cento de licenças, mais a margem para a empresa. Nós consegui-mos tirar esses 70 por cento”, afirma. E dá um exemplo, “um dos nossos proje-tos mais recentes foi para uma empresa que não tinha qualquer controlo de sto-

Engenharia de processos adaptada a cada empresa, como verdadeiros alfaiates da indústria, é aquilo a que a Radar d’ideias se propõe a fazer, conseguindo ainda manter a qualidade ao mesmo tempo que reduz os custos. Uma empresa com o lema “making the future” e com os olhos postos nesse mesmo futuro.

Os alfaiates da indústria

cks. Por vezes, era mesmo necessário andar por todo o pavilhão à procura de um artigo. Neste momento, já sabem as localizações exatas de tudo e a única coi-sa que tiveram de comprar foi um tablet. O resto do material que utilizamos era material que estava em armazém sem qualquer tipo de utilização. Nós recupe-ramos esses computadores, limpamos, estabelecemos sistemas Linux e, como tal, neste momento, para além de terem visto o seu problema resolvido, os mate-riais que tinham em desuso estão a ser utilizados e rentabilizados”.

fAltA dE cUltURA do mUNdo diGitAl NAs EmPREsAs

Alexandre Oliveira lamenta a falta de cultura do mundo digital que existe no mercado, o que faz com que, muitas vezes, os empresários considerem este tipo de serviços caros, alheios às vanta-gens que estes podem trazer à empresa. “O problema é que quando se compra uma máquina, essa máquina está à vis-ta, quando se compra um software não se vê nada”.Esse desconhecimento leva também, frequentemente, a uma outra situação problemática. “Eu muitas vezes, quan-do chego às empresas, deparo-me com panoramas abismais, de clientes que en-comendam coisas sem saber realmente o que estão a encomendar. Se tiveram a sorte de negociar com uma empresa séria, as coisas não correm mal, quando não é caso, às vezes, quando lá chega-mos, já é tarde de mais e foram feitos investimentos avultados em equipa-mentos completamente desajustados. Nós, enquanto engenheiros mecânicos com uma forte formação em gestão in-dustrial, conseguimos encontrar esses desperdícios e é lá que vamos buscar o nosso ganha-pão”, afirma.Alexandre Oliveira critica ainda a men-talidade do empresário português, ge-ralmente avesso à mudança e perito em

utilizar a palavra “impossível”. Para o nosso entrevistado, não há impossíveis e a forma como a Radar de Ideias se po-siciona no mercado é encontrando os impossíveis dos outros.“Estamos agora a acabar de reconstruir uma máquina que sempre deu proble-mas e ninguém conseguiu encontrar solução para eles. Como tal, estava há cerca de três anos fora de serviço já que a empresa gastava mais dinheiro a tê-la em funcionamento do que aquilo que conseguia ganhar com ela. Não era mi-nimamente rentável. Nós conseguimos triplicar a velocidade inicial de funcio-namento dela, resolvemos os problemas que tinha e entretanto chegamos à con-clusão que, neste momento, é a máquina mais rápida no mercado e, como tal, já temos mais clientes interessados. Neste caso, tivemos a sorte de encontrar um empresário com visão e que apostou em nós”, exemplifica.Alexandre Oliveira terminou esta con-versa apontado uma última crítica aos empresários portugueses e que diz res-peito à falta de confiança naquilo que é nacional, enquanto as grandes em-presas internacionais montam centros de desenvolvimento em Portugal, por possuirmos das melhores engenharias de processos, sistemas informáticos e redes a nível mundial.

ALeXANDRe OLIveIRA, SóCIO geReNTe DA RADAR D’IDeIASAUTOMAÇÃO E rObÓTicA AO

SErViÇO dA iNdÚSTriA

“A nossa inovação é, geral-mente, manter a mesma qualidade reduzindo os

custos. no mundo da auto-mação há várias empresas

que estão agarradas a determinadas máquinas e o cliente acaba por pagar

cinco por cento de ferro, 70 por cento de licenças, mais a margem para a empresa.

nós conseguimos tirar esses 70 por cento”

Alexandre Oliveira, Cederico Oliveira e Valter Vieira

O que é a Podologia? Ape-sar de ser uma pergunta cada vez menos frequente, muitos portugueses ainda

a colocam. Nesta ciência da área da saúde, o protagonista é o pé que ca-minha, lado a lado, com vários pro-blemas que fogem à nossa atenção. Na ausência de dor, a saúde dos pés nem sempre é uma prioridade. Mas, quando chega o Verão, o cenário é ou-tro e as idas ao podologista aumen-tam substancialmente. Por razões estéticas ou não, a visita a este es-pecialista é obrigatória, pelo menos uma vez por ano. A Revista Pontos de Vista conversou com Manuel Portela, Presidente da Associação Portuguesa de Podologia (APP) e conheceu mais aprofundadamente este que, para muitos, é o órgão mais importante do corpo humano e, em simultâneo, o mais mal tratado. “Os nossos pés não são todos iguais”, começou, desde logo, Manuel Portela por defender. Crianças, atletas, adultos, idosos ou diabéticos, os cuidados a ter, quando o assunto é a saúde dos pés, são muitos e bastante distintos. Aos pais, é deixado um conselho primordial: a par-tir dos três anos de idade uma criança deve “visitar” um podologista. “Existem patologias específicas do pé que têm re-

Anda a maior parte do tempo escondido mas é a fonte de muitos problemas de saúde. o pé é a base de sustentação de todo o aparelho locomotor e deve ser alvo de cuidados especiais. do bebé ao idoso, com especial enfoque no doente diabético, a saúde dos pés tem tocado a consciência dos portugueses que, cada vez mais, recorrem a um profissional quando sentem que algo não está em consonância com a normalidade.

Passagem pelo podologista é obrigatória

percussões em todo o organismo, não só ao nível do próprio pé, mas também da marcha, do joelho, anca e coluna. É im-portante perceber o que é e onde está a origem porque não chega tratar os sintomas mas sim as causas”, garantiu o especialista. E porquê aos três anos? Até chegar a esta idade o pé tem uma evolução muito rápida do ponto de vista muscular, adotando uma postura com-pletamente diferente. Como tal, a crian-ça deve ser examinada pelo médico em posição ortostática (de pé). “Se obser-varmos uma criança deitada ou sentada, a curvatura do pé existe mas quando damos carga e peso, essa curvatura de-saparece e temos de averiguar se isso é benigno ou se está associado a alguma patologia”, explicou Manuel Portela. Mais do que alertar a consciência dos pais, importa sensibilizar os próprios pediatras. Da mesma forma que este está alerta para os problemas oftalmo-lógicos, dentários ou auditivos, deve ter a mesma perceção relativamente à saú-de dos pés e, em caso de dúvida, enca-minhar a criança para um podologista.

“diZ-mE o QUE cAlçAs, diR-tE-Ei como É o tEU PÉ”

O calçado é um dos melhores aliados do pé. Na fase de crescimento de uma criança, é muito importante a escolha do calçado que deve conferir ao pé es-tabilidade e flexibilidade. “Um sapato extremamente pesado e rígido não é aconselhado num pé de uma criança em crescimento porque ele precisa de movimento para se desenvolver e tudo o que está preso atrofia”, afirmou. Como tal, para Manuel Portela, o calçado ideal será: “um tipo de sapato que permita o movimento do tornozelo e que possa ter um pouco de contraforte para orientar o pé para que ele não tenha inclinação para dentro ou fora. Deve ainda ser um calçado que seja respirável e que permi-ta ventilação”, explicou. Já nos adultos, são vários os tipos de calçado aos quais devemos dizer “não”. A começar pelo calçado sem contrafor-te e a terminar no mítico sapato alto. Manuel Portela explicou o fenómeno de um sapato que continua a ser o melhor amigo da mulher. “Ao elevar o calcanhar, fazemos com que todas as pressões inci-dam na zona anterior do pé que não está preparado para essa distribuição de pressões. Estas pressões chegam atra-vés da tíbia e depois distribuem-se pelo calcanhar e pela zona da frente. O sapato

de tacão alto contraria toda a fisiologia do ponto de vista de funcionalidade do pé”. A curto prazo, a mulher chega a casa com as malfadadas dores nos pés. A longo prazo, os efeitos são outros e bem mais preocupantes. “Começam a ter dedos em garra, joanetes (desvio do primeiro dedo em sobreposição do segundo), encurtamento dos gémeos e complicações ao nível dos joelhos, anca e coluna”, alertou o Presidente da APP. Apesar de tudo, o calçado não é o princi-pal responsável pelas patologias do pé. Juntamente com fatores de ordem he-reditária ou hormonal, o calçado é mais um elemento que pode ou não condicio-nar e agravar estes problemas.

diABÉtico dEVE iR AoPodoloGistA dUAs VEZEs

PoR ANo

Em Portugal, estima-se que cerca de um milhão de pessoas são diabéticas, ou seja, aproximadamente 11,4 por cento da população. As três principais compli-cações da doença são a retinopatia (de ordem oftalmológica), nefropatia (in-suficiência renal) e o pé diabético que mais não é do que o momento em que um doente diabético perde sensibilida-de. Se não for tratada com os devidos cuidados, pode culminar numa amputa-ção. “Sendo a principal caraterística do pé diabético a perda de sensibilidade, um doente que tenha uma unha encra-vada, um calo, um joanete, um sapato que aperta, deixa de ter dor. Sendo a dor um fenómeno de defesa, qualquer coisa vai criar uma ferida e quando o indiví-duo se apercebe disso, já passou muito tempo e, na maior parte dos casos, já existe uma infeção, com dificuldades de cicatrização que leva à gangrena e, por sua vez, à amputação”, explicou. Na última década, ao mesmo tempo que o número de diabéticos aumentou drasticamente, a percentagem de am-putações realizadas não acompanhou essa subida, pelo contrário. Quer pela

mANUeL PORTeLA, PReSIDeNTe DA ASSOCIAÇÃO PORTUgUeSADe PODOLOgIA (APP), e A SAÚDe DOS PéS

2012: SAÚdE EM POrTUGAL – ESPEciAL POdOLOGiA

Ação de rastreio aos PésA Associação Portuguesa de Podologia (APP), no dia 22 de Setembro, irá estar presente no Parque da Cidade do Porto (junto ao Pavilhão da Água) com o objetivo de sensibilizar a população para a importância da saúde dos pés, numa inicia-tiva desenvolvida em parceria com o calçado ECCO. O rastreio podológico contempla a ava-liação clinica e a realização de estudos biomecânicos compu-torizados, que permitem des-pistar a presença de alterações do apoio plantar e do cami-nhar através de alguns meios auxiliares de diagnóstico como uma plataforma de pressões plantares. Após a avaliação po-dológica é explicada a situação de cada rastreado assim como entregue informação sobre o exame podológico realizado.

Patologias mais frequentes:Onicomicoses (unhas com micose), Queratopatias (calo-sidades), Onicocriptose (unhas encravadas), Úlceras Plantares, Fasceites Plantares (devido a alterações biomecânicas) e Papilomas víricos (verrugas).

Manuel Portela

Pontos de Vista Agosto 2012 65

mANUeL PORTeLA, PReSIDeNTe DA ASSOCIAÇÃO PORTUgUeSA De PODOLOgIA (APP), e A SAÚDe DOS PéS2012: SAÚdE EM POrTUGAL –

ESPEciAL POdOLOGiA

melhoria das políticas de saúde, quer pela constante sensibilização direciona-da aos doentes com diabetes, o número de amputações diminuiu, sobretudo no norte, região do país onde está localiza-da a APP e o único curso de podologia, na CESPU.

tAXA dE EmPREGABilidAdEsUPERioR A 95 PoR cENto

Ser podologista passou a ser possível a partir de 1994, ano em que a podologia apareceu na área das ciências da saúde. Num período em que as graves dificul-dades refletem-se na empregabilidade dos licenciados, a podologia parece ser uma área bastante apetecível, sendo, atualmente, a taxa de empregabilidade superior a 95 por cento. “Um podologis-ta pode ter o seu próprio consultório e esta autonomia profissional contribui para a taxa de empregabilidade alta”. Esta é, para Manuel Portela, a explicação para o reconhecimento da profissão.

ii JoRNAdAs sAúdE Em PÉ

De 20 a 23 de Setembro, Olhão recebe a II Edição das Jornadas Saúde em Pé, cujo principal objetivo consiste em fa-zer uma apresentação de vários estudos

pioneiros na área. Com a colaboração da CESPU, a APP pretende divulgar al-guns trabalhos relacionados com três grandes vertentes, nomeadamente: pé da criança, estudo do laser e, por fim, posturologia, um sistema de diagnósti-co terapêutico em que, através do estí-mulo de certos pontos do pé, é possível controlar determinadas posições a nível lombar e cervical. Os resultados são surpreendentes. “Uma má função da articulação temporomandibular pode ser controlada com o pé”, explicou Ma-nuel Portela. Mais do que um evento científico, as Jornadas Saúde em Pé são o momento de aproximação entre todos os profissionais para que o desconheci-mento sobre a podologia seja, cada vez mais, uma questão do passado.

Principais cuidados a ter com os pés:- Lavar os pés diariamente;- Secar muito bem os pés, especialmente nos espaços entre os dedos;- Hidratar com creme hidratante diariamente;- Usar meias de fibra naturais (algodão, seda ou lã) e trocá-las todos os dias;- Cortas as unhas de forma reta (não arredondar os cantos);- Não usar queratoliticos (calicidas);- Não caminhar em locais públicos;- Consultar um Podologista regularmente;- Usar calçado de acordo com as dimensões do pé (em comprimento e largura).

diga não ao uso prolongado de vernizAfinal, o uso de verniz por tempo prolongado pode trazer sérios riscos ao pé é um mito ou verdade? Infelizmente para muitas mulheres, a afirmação é verdadeira. “A unha tem prati-camente a mesma constituição da pele e acaba por ser uma capa córnea e um espessamento da pele nas terminações dos dedos. Tal como a pele precisa de respirar, a unha também. Com o verniz, deixamos a unha impermeabilizada e sem contato com a luz, e ela acaba por desen-volver patologias. As pessoas devem cuidar dos pés mas não devem pintar as unhas por tem-pos muito prolongados e devem permitir que a unha tenha períodos de descanso e possa respi-rar, não a intoxicando diariamente com produ-tos sintéticos”, evidenciou Manuel Portela.

Pontos de Vista Agosto 2012 67

A Podologia é a ciência, na área da saúde, que analisa e investiga o membro inferior e tem como objetivo o diag-

nóstico e a terapêutica das patologias que afetam o pé e as suas repercus-sões no organismo humano. Em Portugal, esta é uma área ainda des-conhecida a uma boa parte da popu-lação. No entanto, tem assistido a um grande desenvolvimento, quer ao ní-vel da descoberta de novas terapias, quer ao nível dos próprios produtos de combate às várias patologias.Neste último plano, umas das empresas que mais tem contribuído para esse fim é a Ortomedifar, que surgiu em 2001, pelas mãos de José Santos, desde sem-pre ligado à área farmacêutica. Se, ini-cialmente, a empresa estava bastante direcionada para a cirurgia vascular, de-pressa aproveitou uma lacuna do merca-do, que até então tinha poucas soluções ligadas à podologia, e encaminhou-se no sentido de trazer produtos inovadores ao mercado farmacêutico no combate às patologias do membro inferior.Com uma oferta que vai desde a mani-cura, aos cremes ou palmilhas, o cres-cimento da Ortomedifar foi rápido mas sustentado. Para José Santos, o sucesso prende-se com o facto de precaverem sempre “as dificuldades, conseguindo ultrapassá-las através do nosso conhe-cimento do mercado e da credibilidade que fomos adquirindo, já que somos uma empresa que prevalece ao longo dos anos, enquanto grande parte das empresas da área tanto aparecem, como desaparecem”.

VENdA Em HiPERmERcAdosNão É oPção

As dificuldades advêm principalmente da mudança de paradigma que se tem assistido no canal farmacêutico. Segun-do o nosso entrevistado, este deixou de ser “a galinha dos ovos de ouro” e o ce-nário tende a piorar devido ao impacto das medidas previstas no Memorando de Entendimento da Troika na atividade das empresas farmacêuticas e no aces-so dos doentes portugueses ao medi-camentos. As medidas de austeridade adotadas na área da saúde, na opinião de muitos, poderão prejudicar o futuro da Investigação e Desenvolvimento de novos medicamentos, levando os portu-

gueses a depararem-se com dificuldades no acesso a medicamentos inovadores.Apesar de tudo, José Santos garante que a Ortomedifar continuará a lançar pro-dutos inovadores no mercado. Este ano ainda, será lançada uma nova gama de

A ortomedifar é uma das empresas de referência nacional na comercialização de produtos ligados à área da podologia. com uma gama vasta de artigos, a empresa não se limita à simples comercialização dos mesmos mas, vai mais longe, e tem sido uma verdadeira impulsionadora desta área da saúde em Portugal. Em entrevista à Revista Pontos de Vista, o diretor da ortomedifar explicou de que forma têm levado a cabo esse objetivo e aquilo que tem sido feito no sentido de ultrapassar as dificuldades que se colocam ao mercado farmacêutico atualmente.

“Somos uma das empresas que mais colaborou para o desenvolvimento da podologia em Portugal”

produtos. Mais do que isso, apesar das dificuldades com que o mercado far-macêutico se depara e que tem levado à insolvência de inúmeras farmácias, o canal de venda não vai ser diversificado. Ainda que possamos encontrar em al-

gumas superfícies comerciais produtos da área da podologia, o posicionamento desta marca não passa pela venda em hipermercados.“A nossa estratégia é direcionada para farmácias por isso, no máximo, estamos

JOSé SANTOS, DIReTOR DA ORTOmeDIfAR2012: A SAÚdE EM POrTUGAL –

ESPEciAL POdOLOGiA

José Santos

Pontos de Vista Agosto 2012 69

presentes nas para-farmácias desses grandes grupos. Já estivemos na Sonae e, neste momento, estamos apenas nas para-farmácias do grupo Jerónimo Mar-tins. Quando o cliente vai à farmácia comprar um dos nossos produtos vai com a expectativa de encontrar algo diferente daquilo que encontra nos su-permercados e é nesta diferenciação pela marca e pela qualidade, que não está presente noutros canais e em que a pessoa está disponível a pagar mais em troca dessa mesma qualidade, que nós temos vindo a apostar e vamos conti-nuar a fazê-lo, apesar de todos os cons-trangimentos”, explica.Esta estratégia é um dos motivos que faz com que a Ortomedifar seja uma das empresas de referência na área em que atua e as marcas que comercializa incontornáveis pela qualidade e pela sa-tisfação que trazem ao cliente final.Apesar das dificuldades referidas, José Santos é da opinião que, ainda assim, o canal farmacêutico continua a ser um dos canais mais interessantes e dinâ-micos já que “se as pessoas vivem mais tempo, querem viver também com mais qualidade. Para além disso, se têm cada vez mais acesso à informação também procuram cada vez mais produtos que em termos de saúde ou estéticos satis-façam as suas necessidades”.

APoio Ao dEsENVolVimENtodA PodoloGiA Em PoRtUGAl

Para satisfazer essas necessidades, a Or-tomedifar mantém uma relação de gran-de proximidade com os próprios pro-fissionais da área e, muitas vezes, são os próprios a sugerir à empresa ideias de produtos que acabam por ser desen-

volvidos e comercializados. “Com estas parcerias conseguimos estar sempre atentos às lacunas do mercado e, como fabricantes que somos, lançar produtos novos que os podologistas sintam ne-cessidade de desenvolver, permitindo a evolução natural da empresa e da podo-logia”, afirma.Com o objetivo de desenvolver e dar a conhecer esta área científica, a Ortome-difar tem promovido rastreios gratuitos em farmácias de todo o país. Foram já cerca de 400 rastreios no Continente e Ilhas que envolveram cerca de 40 po-dologistas, sem custos para os clientes, nem para as farmácias, e que permiti-ram chamar a atenção do público para o que é a podologia, ajudando a colocar esta área no mercado. Uma necessidade que é maior no Sul do país, uma vez que a maior parte dos podologistas se en-contram a Norte e é nesta zona que exis-te um maior desenvolvimento ao nível da podologia. José Santos afirma, com algum orgulho, “somos uma das empre-sas que mais colaborou para o desenvol-vimento da podologia em Portugal”.Para isso, tem contado também com o apoio da Associação Portuguesa de Podo-logia. “Temos uma relação muito boa com a APP, que temos vindo a desenvolver ao longo dos anos. Quando sentimos a ne-cessidade de nos aproximarmos da clas-se de podologia, começámos a aparecer junto das iniciativas da APP, nomeada-mente nos congressos, fazendo chegar os nossos produtos aos podologistas, o que fez com que aumentassem as prescrições dos mesmos e temos produtos que são, de facto, muito prescritos pelos podolo-gistas. Estamos a solidificar essa relação e de futuro penso que iremos entrar em mais projetos conjuntos”, conclui.

“Conseguimos estar sempre atentos às lacunas do mercado e, como fabricantes que somos, lançar produtos novos que

os podologistas sintam necessidade de desenvolver, permi-tindo a evolução natural da empresa e da podologia”

quando é que foi edificada a APLO - As-sociação de Profissionais Licenciados de Optometria e de que forma é que tem vindo a promover a defesa da profissão e de todos os agentes envolvidos na mesma?A APLO foi criada em 1998 com a fina-lidade de alterar o paradigma da Opto-metria em Portugal. Na altura os Licen-ciados em Optometria eram ainda uma minoria e sentiam que o seu conceito de Optometria não estava representado: Cuidados de saúde primários à visão (CSPV) de qualidade com o paciente como ponto focal. Esta abordagem da Optometria ao serviço do utente e o pro-fissional preocupado em resolver o seu problema em vez de ter preocupações comerciais, tem sido o melhor cartão de visita da APLO quando se reúne com os diversos organismos governamentais e ONGs.

quais são as principais dificuldades que a APLO tem tido nessa defesa da Opto-

metria e dos seus profissionais? O que deve mudar rapidamente neste pano-rama?A melhor forma de se zelar pela saú-de pública e pelo direito dos utentes a CSPV de qualidade é a regulamentação da prática da Optometria e a definição das habilitações mínimas para o exercí-cio da mesma. Só assim se pode defen-der adequadamente a Optometria e os optometristas. Enquanto continuarem a existir charlatães fazendo-se passar por optometristas, o público corre riscos e é denegrida a imagem dos Optometristas Licenciados. Por isso, todos os Optome-tristas associados na APLO estão clara-mente identificados e prescrevem numa “receita” que é exclusiva nossa.

É de conhecimento comum que a re-lação entre Optometristas e Oftal-mologistas nem sempre foi a melhor. neste sentido, qual a sua opinião relati-vamente a esta matéria?Devo dizer que discordo dessa ideia pré-

“se é certo que do ponto de vista institucional, a relação entre a APlo e os representantes da oftalmologia tem sido manifestamente insuficiente, o mesmo não se passa a um nível pessoal, onde diversos optometristas colaboram diariamente com oftalmologistas, quer sejam integrados em equipas multidisciplinares, quer sejam nas situações de encaminhamento de pacientes”, revela Jorge Rocha da silva, Presidente da direção da As-sociação de Profissionais licenciados de optometria (APlo) em entrevista à Revista Pontos de Vista, assegurando-se estupefacto pela optometria ainda não se encontrar regulamentada com todas as dificuldades que isso aporta, principalmente para o utente.

“A APLO irá continuar a lutar pela regulamentação da profissão”

-concebida. Se é certo que do ponto de vista institucional, a relação entre a APLO e os representantes da Oftalmologia tem sido manifestamente insuficiente, o mesmo não se passa a um nível pessoal, onde diversos optometristas colaboram diariamente com oftalmologistas, quer sejam integrados em equipas multidisci-plinares, quer sejam nas situações de en-caminhamento de pacientes. Um exem-plo disso é a integração de optometristas no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douto; no Hospital de Santa Luzia em Viana do Castelo e também no Algar-ve. Ainda para mais, a APLO tem contado com a colaboração preciosa de diversos oftalmologistas, bem como outros médi-cos de outras áreas, em diversas ações de formação que promovemos regularmen-te para os nossos associados.

Podem a Optometria e a Oftalmologia ser complementares? que problemas podem surgir? existe diálogo com enti-dades governamentais neste âmbito?

Elas são efetivamente duas áreas com-plementares dos cuidados de saúde à visão. Sendo que a Optometria está vocacionada para os cuidados de saú-de primários, e a oftalmologia para os outros. Neste relacionamento existem, claro está, zonas de fronteira que por vezes não são fáceis de definir, existindo inclusive áreas em que se sobrepõem. Isto não é nada de novo. Existem mui-tos bons exemplos no mundo e bastará bom senso para que adequação à rea-lidade portuguesa se faça sem grandes complicações. Todos têm a ganhar e em particular o utente. A APLO tem manti-do contacto com as entidades compe-tentes, nomeadamente o Ministério da Saúde, Direção Geral de Saúde e a Admi-nistração Central dos Serviços de Saúde, precisamente na tentativa encontrar so-luções para esta questão.

Sendo a Optometria uma profissão com-plementar e essencial na melhoria das condições da saúde visual dos cidadãos

JORge ROChA DA SILvA, PReSIDeNTe DA APLO, em eNTRevISTA ReveLA «OPTOMETriA VS OFTALMOLOGiA»

“A nossa intenção de integração com

o SnS tem sido o mote dos últimos

anos. Pensamos que a difícil situa-ção do país é a al-

tura ideal para que essa integração se

faça, tendo ainda a vantagem adicio-

nal de termos visto as nossas ideias

serem bem recebi-das pelas entidades

competentes”

Jorge Rocha da Silva

Pontos de Vista Agosto 2012 71

e do próprio funcionamento do serviço de saúde português, como explica que a mesma ainda não esteja regulamentada?É uma excelente pergunta a qual eu re-torno: “Realmente, como é possível!”. A resposta também eu gostaria de a ter, pois esta é provavelmente a pergunta que mais me fazem. Os benefícios para a Saúde Pública e para o orçamento para a saúde são óbvios. Já temos exemplos em Portugal como os que referi ante-riormente, mas se dúvidas houvesse, recentemente foi divulgado um estudo comparado sobre os CSPV em Inglaterra, França e Alemanha (www.ecoo.info/mm/WASEMstudyWebsite.pdf), que concluí que o Optometrista é o profissional que melhor desempenho tem nos CSPV, sen-do eficiente, mais económico e acima de tudo, sem riscos para os utentes. Se juntarmos a isto a aprovação unâni-me, por parte dos partidos com acento parlamentar, dos pedidos que a petição “Regulamentação da Optometria” fa-zia e que foi promovida pela APLO em 2010, ainda mais perplexos ficamos. A meu ver, a qualidade dos Optometristas Licenciados e a sua distribuição geográ-fica, tem acabado por atuar contra nós neste sentido. Na realidade os cerca de um milhão de portugueses que consul-tamos anualmente e desviamos do Sis-tema Nacional de Saúde, tem mantido as populações servidas.

O que tem sido feito pela APLO nesse

sentido? Crê que atualmente estamos mais perto desse panorama? mais que a defesa dos interesses profissionais, com este passo estamos a promover a defesa dos interesses dos utentes?

Já falei da Petição Pública promovida pela APLO. Em paralelo temos mantido diversos contactos com todos os Grupos Parlamentares, o que tem dado origem a diversos Projetos de Resolução ao lon-go dos anos, tendo o mais recente sido aprovado pela Assembleia da República e publicado em DR em março, onde se recomenda ao Governo que regulamen-te a atividade e o exercício da profissão.A APLO zela pela defesa da Optometria e do optometrista apenas porque isso é no melhor interesse do utente. A nossa intenção de integração com o SNS tem sido o mote dos últimos anos. Pensamos que a difícil situação do país é a altura ideal para que essa integração se faça, tendo ainda a vantagem adicional de termos visto as nossas ideias serem bem recebidas pelas entidades competentes.

Acredita que o estado Português não está a capitalizar o investimento econó-mico que faz na formação dos optome-tristas?Eu tenho a certeza absoluta. O curso de optometria pré bolonha (cinco anos) era dos cursos superiores que mais caro fi-cava aos contribuintes, só ultrapassado pelo de medicina. Para mais, com a atual quantidade de Doutorados e Mestrados

em Optometria, está-se também a des-perdiçar toda a competência técnica e científica destas pessoas. Hoje em dia o que Portugal pode dar de melhor ao mundo é a capacidade inventiva dos seus cientistas. A APLO tem feito um es-forço para promover nas universidades a investigação científica dando apoios aos investigadores. Mesmo com estes parcos recursos vários trabalhos têm sido publicados nas revistas cientificas de maior renome e alguns investigado-res já ganharam prémios internacionais. A regulamentação aumentaria a nossa capacidade de captar bolsas e subsídios.

de que forma avalia a forma como a Optometria e os seus profissionais são avaliados e observados a nível inter-nacional? Somos reconhecidos nesta matéria?Se pensarmos que, na Europa comunitá-ria, Portugal é o único país em que a Op-tometria não esta regulamentada, mas que apesar disso, o nosso nível formativo universitário é suficientemente elevado para que um Optometrista da APLO seja autorizado a trabalhar em Inglaterra, que é o país europeu onde a Optometria está mais avançada, teremos uma boa ideia do reconhecimento internacional da Op-tometria portuguesa. Se pensarmos ain-da que o Conselho Mundial de Optome-tria é parceiro da Organização Mundial de Saúde para a erradicação da cegueira evitável, então compreendemos ainda

melhor o papel importantíssimo que a Optometria tem hoje em dia no mundo.

quais são os grandes desideratos da APLO de futuro?A APLO irá continuar a lutar pela regu-lamentação da profissão e pela definição da Licenciatura como a habilitação míni-ma obrigatória para o exercício da mes-ma. Em simultâneo continuaremos a lu-tar pela contínua melhoria da qualidade técnica dos Optometristas Licenciados através do programa de Formação Contí-nua em Optometria. Este programa obri-ga os associados a frequentarem todos os anos formações em Optometria para se manterem atualizados. E continuaremos a fomentar os estágios profissionais para os recém-licenciados para que entrem no mercado de trabalho com um excecional nível de qualidade.

“Se é certo que do ponto de vista institucional, a

relação entre a APLO e os representantes da Oftal-

mologia tem sido mani-festamente insuficiente, o mesmo não se passa a

um nível pessoal, onde diversos optometristas

colaboram diariamente com oftalmologistas”

elas são efetivamente duas áreas complementares dos cuidados de saúde à visão. Sendo que a Optometria está vocacionada para os cui-dados de saúde primários, e a oftalmologia para os outros. neste rela-cionamento existem, claro está, zonas de fronteira que por vezes não são fáceis de definir, existindo inclusive áreas em que se sobrepõem. isto não é nada de novo

“Os vinhos do Dão são uma espécie de Ma-cintosh, ou seja, não são uma maioria no

mercado mas têm uma marca e uma qualidade muito especiais”. É esta a definição habitualmente sugerida por Arlindo Cunha, Presidente da Co-missão Vitivinícola Regional do Dão para descrever aquela que é já a sua “identidade”.A CVR do Dão é a entidade que represen-ta os interesses dos agentes económicos envolvidos na produção e comercializa-ção dos vinhos ou outros produtos víni-cos que possuem as Denominações de Origem Protegida “Dão”, a Denominação de Origem “Lafões” e a Indicação Geo-gráfica Protegida “Terras do Dão”. Cabe à CVR, juridicamente considerada uma as-sociação de direito privado de carácter interprofissional, a tarefa de assegurar a genuinidade e qualidade dos produtos, ao mesmo tempo que controla, certifica e autentifica os vinhos através da atri-buição de Selos de Garantia. O trabalho desenvolvido pela equipa de Arlindo Cunha, desde 2010, desenvolve--se em várias frentes. Assim, foi efetuada uma reorganização dos procedimentos

internos de certificação para que os agentes económicos possam ter respos-tas mais céleres, tendo menos custos. “Criámos uma plataforma informática, a partir da qual os nossos produtores po-dem, através do seu computador, asse-gurar todo o tipo de serviços que preci-sam da CVR, desde pedidos de análises, de selos, declarações de colheita, entre outros”, explicou o responsável à Revis-ta Pontos de Vista. O fator exigência é outro dos elementos mais importantes que a CVR quer incutir aos produtores,

É com carácter e elegância que a região vitivinícola do dão se apresenta ao mundo. com os seus invernos chuvosos e verões quentes e secos, “tudo nestas paragens são grandezas”, já dizia José saramago. foi ao longo de uma viagem de aromas e requintes pelos vinhos do dão que Arlindo cunha desvendou os segredos daquela que é hoje aclamada como “a Arca de Noé das castas portuguesas”.

“Dão, um prazer que perdura”

conseguido através de um maior contro-lo. “Uma região com o prestígio do Dão tem que ter esta exigência em termos de política de qualidade e de controlo”, asseverou Arlindo Cunha. O trabalho de promoção é outra das grandes missões desta CVR. Para o pre-sidente, “o Dão tem boas armas para ter sucesso”. O importante é saber como trabalhá-las e como incentivar os pro-dutores a fazerem ainda melhor e pas-sar a mensagem aos consumidores. Para isso, foram colocadas, de imediato, mãos à obra. “Temos um site renovado e um facebook, que são novas formas de co-municação com os nossos associados e com o mundo exterior. São esforços que fazemos dentro da missão de procurar reforçar a comunicação”, afirmou.

“A ARcA dE NoÉ dAs cAstAsPoRtUGUEsAs”

A expressão foi utilizada pelo jornalis-ta internacional Paul White quando se referiu à região vitivinícola do Dão. Ao contrário de várias regiões de grande prestígio a nível nacional, o Dão tem uma particularidade que torna os seus vinhos especiais. Os solos graníticos dão

aos vinhos uma maior acidez e frescura, tal como explicou Arlindo Cunha. “É este solo e a grande amplitude térmica no período de maturação, com dias muito quentes no verão e noites bastante frias, que explicam a frescura e o equilíbrio dos nossos vinhos”.A par disso, o Dão é o “berço da touriga nacional”, considerada, entre os tintos, a casta mais nobre. A região tem deze-nas de castas, mas existem duas que se destacam, nomeadamente: a Touriga Nacional, nos tintos, e o Encruzado, nos brancos. “A Touriga está muito inter-nacionalizada. A Encruzado está agora a ser descoberta, mas dá vinhos muito frescos, minerais e com uma grande es-trutura”, descreveu Arlindo Cunha.

EXPoRtAção REPREsENtA cERcA dE 1/3 dA PRodUção

Tal como acontece noutras regiões na-cionais, também o Dão concentra gran-de parte da sua atenção em mercados externos onde vivem grandes comuni-dades portuguesas. Estamos a falar de países como os EUA, Angola, Brasil e Canadá que recebem cerca de 85% das exportações. Cerca de 1/3 da produção

ARLINDO CUNhA, PReSIDeNTe DA COmISSÃO vITIvINíCOLA RegIONAL DO DÃO em DeSTAQUeiNTErNAciONALiZAÇÃO dO

SETOr ViNícOLA

Os vinhos do dão são uma espécie de macin-tosh, ou seja, não são uma maioria no mer-cado mas têm uma marca e uma qualida-de muito especiais

Pontos de Vista Agosto 2012 73

destina-se à exportação, o que compro-va o que já não é desconhecido do pú-blico: “as empresas concentram mais os seus recursos nos mercados externos porque o interno está em contração acentuada e para sobreviverem têm mesmo de ir para fora”, afiançou Arlin-do Cunha. A China surge agora como o quinto mercado alvo, sendo a maior par-te dos vinhos com denominação de ori-gem que chegam ao país proveniente da região do Dão. De acordo com o respon-sável, o setor dos vinhos é “das fileiras agroalimentares mais competitivas que temos em Portugal”. O país tem essa consciência, daí que se aposte, cada vez mais, na promoção ex-terna dos vinhos portugueses. Exemplo disso é o plano de ação de comunicação denominado “Wines of Portugal”, pro-movido pela ViniPortugal, associação na qual Arlindo Cunha assume a função de Presidente da Assembleia Geral, em representação da Andovi (Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícola).A eleição para este cargo assume uma especial importância para o Presidente da CVR Dão. “É uma forma dos produ-tores do Dão sentirem que estão a ser participantes ativos num trabalho de promoção dos vinhos portugueses a nível mundial. Também me sinto muito honrado por fazer parte de uma equipa que está a ter sucesso nesse plano de promoção e conseguiu sensibilizar o Go-verno e a Tutela sobre a necessidade de reforçar esses meios de apoio, que não fazem parte do Orçamento do Estado, mas são pagos pelos próprios produto-res”, disse Arlindo Cunha.

RotA dE ViNHos do dãoPARA BREVE

A CVR Dão pretende continuar a apos-

tar em novos procedimentos de certifi-cação a fim de simplificar o processo e dar respostas mais rápidas e baratas aos produtores. Mas, os planos continuam a ser em grande escala. Para além do re-forço do marketing, estará para breve a implementação de uma Rota de Vinhos do Dão. “Sabemos que o enoturismo é uma actividade que casa muito bem com o mundo do vinho”, defendeu. A proximidade com regiões onde a afluên-

Revista Pontos de Vista – O que significa, para si, o Dão?Arlindo Cunha – O Dão é a minha identidade. Há quase dez anos que saldei as minhas contas com a política e sinto--me profundamente realizado com o que estou a fazer. Gosto de ter uma atividade académica porque me obriga a estudar e a estar atualizado. Mas, também gosto muito desta função de presidente da CVR porque penso que devo um tributo à região e procuro, com o meu empenho e conhecimento, contribuir para que o Dão volte a ser mais falado e tenha ainda mais notoriedade. Posso mesmo dizer que tenho um pé no Dão e o outro no Douro.

O perfil dos vinhos do Dão, segundo Arlindo Cunha:“É um vinho que não é excessivamente encorpado, não tem excessiva cor nem é excessivamente graduado. É um vinho com muita frescura, acidez e equilíbrio. É o meu perfil de vinho”.

Características dos vinhos do dão

VINHO TINTOCor: rubi com subtis reflexos atijoladosAroma: intenso a fruta maduraSabor: complexo e delicadoTextura: aveludado e encorpado

VINHO BRANCOCor: amarela-citrinaAroma: frutado, complexo e delicadoSabor: fresco e com um final exuberanteTextura: suave, com acidez equilibrada

VINHO ROSÉCor: rosadoAroma: floral e frutadoSabor: fresco e persistenteTextura: leve, com acidezequilibrada

ESPUMANTECor: citrina, rubi ou rosadoAroma: frutadoSabor: fresco, equilibrado e persistenteTextura: elegante e boa acidez, elevado requinte e seduçãoPerlage: bolha fina e persistente

cia de turistas é bastante notória, como o Porto ou Fátima, é um fator que joga a favor. “Não é difícil encontrar agências turísticas que façam um tour mais alar-gado, que passe, por exemplo, pelo Dou-ro, Serra da Estrela e Dão. É importante, por isso, explorar esta vertente do eno-turismo”, concluiu. A CVR já está a criar o projeto para fazer uma candidatura a fundos comunitários, por forma a tornar esse sonho uma realidade.

“uma região com o prestígio do dão tem

que ter esta exigência em termos de políti-ca de qualidade e de

controlo”

Arlindo Cunha

Localizada na aldeia de Sabugosa, em viseu, a quinta das Camélias está si-tuada numa propriedade que, antes de ser adquirida em 2002 por Jaime de Almeida Barros, estava em estado de semiabandono. reerguer esta estrutu-ra foi um grande desafio profissional e pessoal?

Efetivamente para iniciar este projeto houve necessidade de conjugar diver-sos fatores nomeadamente, uma grande apetência para a atividade agrícola em geral e vitícola em particular uma vez que três dos quatro sócios têm forma-ção superior agrícola, a existência de alguma disponibilidade económica e a possibilidade de um dos quatro sócios possuir tempo disponível para assumir a tempo inteiro a gestão e organização de todos os trabalhos associados.

Os vinhos da quinta das Camélias são comercializados sob as marcas quinta das Camélias e Cabeço do mocho. O que distingue cada uma destas insígnias?O Cabeço do Mocho foi a primeira marca que se conseguiu registar e consequen-temente a primeira referência a apare-

cer no mercado, ocupando atualmente o espaço dos nossos vinhos com menor tempo de estágio e que mais rapidamen-te é lançado no mercado e consequente-mente, com preço de venda ao público mais acessível. O designativo Quinta das Camélias reporta aos nossos produtos de gama média e alta com um tempo variá-vel de estágio – nunca inferior a um ano.

no seu entender, a região demarcado do dão está a solidificar um caminho que a consolide na linha da frente das regiões demarcadas portuguesas?A Região Demarcada do Dão foi criada há mais de cem anos e teve um percurso com alguns altos e baixos, constatando--se que nos últimos anos houve um in-vestimento forte na região que se traduz na existência, no mercado, de algumas dezenas de marcas de qualidade assi-nalável.

A marca “vinhos do dão” tem vindo a conquistar grande notoriedade junto dos consumidores e júris dos mais des-tacáveis concursos de vinhos, a nível nacional e internacional. O que é que

A Excelência existe…

torna os vossos vinhos tão especiais, em particular os da quinta das Camélias?

O terroir da região do Dão está muito bem tipificado para os vinhos do Dão e suporta-se numa delimitação geográfica muito particular – planalto beirão – com uma coroa montanhosa quase perfeita com solos a integrar granitos e/ou xis-tos, com um verão normalmente seco mas com invernos com precipitação sig-

nificativa que vai originar boas reservas hídricas para o estio do julho e do agosto. A Quinta das Camélias está apoiada prin-cipalmente em solo xistoso, pedregoso, que permite maturações muito precoces relativamente à média para a Região, conseguindo-se assim, normalmente efe-tuar a vindima bastante cedo, com uvas muito maduras e em muito bom estado sanitário sem necessidade de grande tra-balho de escolha antes do esmagamento. É este o principal fator qualitativo a favo-recer os nossos produtos.

hoje em dia, o elemento qualidade, pa-tente na vossa estratégia de crescimen-to, está associado às novas tecnologias e produtos inovadores. de que forma, estes fatores estão presentes no vosso trabalho?A nossa principal preocupação do ponto de vista qualitativo e atendendo à nossa dimensão – 15 hectares de vinha – pren-de-se com a manutenção da homogenei-dade dos nossos produtos; pautamos assim o nosso trabalho na adega com a criação de lotes de vinho que suportem essa mesma qualidade não caindo na

QUINTA DAS CAméLIAS e A APOSTA NA QUALIDADe

Edificada com um enorme esforço, dedicação e vontade de fazer mais e melhor, a Quinta das camélias é hoje o paradigma de tão bela frase, «deus quer, o Homem sonha e a obra nasce», de um dos poetas e escri-tores lusos mais reconhecidos de todos os tempos, fernando Pessoa. A Revista Pontos de Vista conversou com José carlos Barros, Adminis-trador da Quinta das camélias, que nos deu a conhecer as razões que levaram à criação deste projeto, bem como a forma como a marca tem evoluído nos diferentes mercados em que atua.

A região demarcada do dão foi criada há mais de cem anos e teve um percurso com alguns altos e baixos, cons-tatando-se que nos últimos anos houve um investimento forte na região que se traduz na existência, no mercado, de algumas dezenas de marcas de qualidade assinalável

José Carlos Barros

iNTErNAciONALiZAÇÃO dOSETOr ViNícOLA

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tentação de “esticar” esses mesmos lo-tes em função duma maior procura de produtos no mercado. dentro de um cenário de internaciona-lização, quais serão os mercados alvos para os próximos anos? quais são as ex-pectativas e por que é que esses países se destacam na cena internacional dos vinhos? Os nossos mercados alvos para os pró-ximos anos já são e continuarão a ser os países lusófonos, os EUA e Canadá e o mercado europeu.

no quotidiano de qualquer empresa, o reconhecimento externo é sempre um motivo de orgulho. neste sentido, que prémios têm sido alcançados pelos produtos da quinta das Camélias? que impacto é que introduzem nas preferên-cias dos consumidores?

As diversas medalhas de ouro obtidas no concurso de vinhos ao produtor organiza-do pela Comissão Vitivinícola do Dão, por parte da Quinta das Camélias, têm sido muito importantes no trabalho de promo-ção e afirmação dos nossos vinhos.

Tendo como pano de fundo a conjuntura económica atual, que desafios se colocam para o futuro da Quinta das Camélias?O aumento da quota de vinhos engarrafados a colocar no mercado ex-terior – fomento da internacionalização dos nossos produtos – é a nos-sa grande aposta, uma vez que o mercado nacional se encontra efeti-vamente saturado no que respeita à elevada quantidade de marcas e produtos disponíveis.

“A quinta das Camélias está apoiada principal-mente em solo xistoso, pedregoso, que permi-

te maturações muito precoces relativamente à média para a região, conseguindo-se assim,

normalmente efetuar a vindima bastante cedo,

com uvas muito ma-duras e em muito bom

estado sanitário sem necessidade de grande

trabalho de escolha antes do esmagamento.

É este o principal fator qualitativo a favorecer

os nossos produtos”

Após vários anos a viver na Suíça, onde criou a marca de relógios de luxo Roger Dubuis, o empresário e in-

vestidor português, Carlos Dias, deci-diu voltar ao seu país de origem, Por-tugal, e dar cartas na área vitivinícola nacional, através de uma dos projetos mais arrojados da área.Foi assim que surgiu em 2010 a Ideal Drinks SGPS, SA, sub-holding do Gru-po Ideal Tower, SA e proprietária dos vinhos Colinas de São Lourenço, Quin-ta Dão Bella Encosta, Quinta da Pedra, Milagres e Quinta do Paço da Palmeira, cujas vinhas se encontram localizadas nas regiões da Bairrada, Dão e Minho/ Vinhos Verdes. Tudo somado, são apro-

ximadamente 160 hectares de vinha, onde estão plantadas algumas das mais reconhecidas castas nacionais, como Alvarinho ou Touriga Nacional, e inter-nacionais, como a casta francesa Pinot Noir.O empresário de sucesso, que fez fortuna no ramo do design através da sua marca de relógios, e que quer agora marcar o panorama vínico nacional, rodeou-se de alguns dos nomes mais reconhecidos e aclamados na área. Entre eles, destaca--se o de Carlos Lucas, o enólogo cujo re-conhecimento surgiu cedo, tendo sido o “Enólogo do Ano 2007”. Uma figura irre-preensível que esteve à conversa com a Revista Pontos de Vista e deu a conhecer um pouco mais deste projeto.

falar no panorama vínico nacional implica falar daqueles que dedicam a sua vida a impulsionar o nome dos vinhos portugueses no mundo e a fazer deles verdadeiros néctares dos deuses. Um dos nomes mais sonantes na área é sem dúvida o de carlos lucas, um apaixonado por vinhos, com um percurso brilhante na área. A assumir funções de cEo na ideal drinks, o enólogo lançou-se de cabeça num projeto que considera arrojado e que promete dar que falar.

Conhecimento do mundo e dos vinhos são aliados em projeto arrojado

Um dEsAfio AliciANtE,com Um ARRoJo NUNcA

ANtEs Visto Em PoRtUGAl

Quando assumiu funções na Ideal Drinks, Carlos Lucas assumiu que este era um desafio extremamente aliciante, dadas as ambições de projeção inter-nacional do grupo e pela oportunidade de trabalhar com alguns dos mais repu-tados técnicos a nível mundial. Foi há quase um ano! Hoje não têm dúvidas em afirmar que o projeto tem vindo a mos-trar-se ainda mais aliciante do que al-guma vez imaginou. “É um projeto, que quando abracei, fi-lo a pensar no desafio que seria fazer carreira fora de Portu-gal. Eu já fazia vinho fora do país mas

nunca com a dimensão que este projeto me propõe, de maneira que, qualquer enólogo em Portugal gostaria de fazer vinhos em países muito reconhecidos, como acontece na Ideal Drinks. Obvia-mente aceitei por ser um projeto que me dava a oportunidade de trabalhar também com pessoas de muito gabarito, com uma grande capacidade e conheci-mento do Mundo”, refere.O enólogo não poupa elogios a Carlos Dias, o empresário que se lançou de ca-beça nesta área. Uma área que sempre o apaixonou! Para Carlos Lucas trata-se de arrojo, vindo de alguém cuja fortu-na que fez permite investimentos para os quais poucas figuras do panorama vínico nacional têm capacidade e com

CARLOS LUCAS, CeO e eNóLOgO DA IDeAL DRINkS

Carlos Lucas

iNTErNAciONALiZAÇÃO dOSETOr ViNícOLA

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um conhecimento do mundo que lhe dá um know how único na promoção e alocação de marcas nos mercados mais desejados. “O que se pretende fazer com a Ideal Drinks é algo que nunca foi feito, inovador e arrojado. Para isso é preci-so ter alguma capacidade financeira, porque demora muito tempo, e poucos podem fazer como o doutor Carlos Dias. Não se trata de mais um industrial ou empresário português que fala nisso mas que não tem o conhecimento do Mundo que o permita. Ele tem, de fac-to, conhecimento daquilo que é impor no Mundo coisas caras, de luxo, de alta qualidade”.

idEAl dRiNKs APostANo mERcAdo dA cUltURA

De facto, em tão pouco tempo, os vinhos da Ideal Drinks já conseguiram entrar em alguns dos mercados mais invejá-veis. Como tal, encontram-se à venda em vários países asiáticos, no Brasil, Es-tados Unidos, Angola, Bélgica, Inglater-ra, Alemanha e França, sendo que nestes mercados são vendidos nas zonas mais magnificentes, como a Côte d’Azur ou Saint Tropez, em França. “Marcamos presença em sítios onde julguei ser im-possível vender vinho português e ain-da ontem recebi uma belíssima notícia, o nosso rosé principal participou numa prova cega de uma conhecida revista italiana, a Spirito di Vino, que compa-rou os vinhos rosé da Provence, a zona francesa onde se fazem muitos rosés e cujos vinhos são conhecidíssimos, com os rosés do resto do mundo e o nosso foi o vencedor”, afirma, evidenciado algum orgulho e a confiança que tem neste projeto.Para entrar em mercados como estes não basta ser mais um, é preciso inovar, é preciso ter conhecimento, é preciso produzir bons vinhos e, acima de tudo, arriscar não só nos vinhos, mas em tudo o que compõe os mesmos, desde a gar-rafa, ao rótulo. Como tal, a Ideal Drinks concebeu algumas garrafas, feitas em Itália, que Carlos Lucas diz serem umas “joias”. Nestas garrafas serão vendidos os vinhos Alvarinho e Loureiro do Grupo. A Revista Pontos de Vista teve a oportu-nidade de ver as garrafas, ainda vazias e sem rótulo, mas foi o suficiente para

perceber que esta é uma opção arrisca-da mas que certamente irá fazer as delí-cias do consumidor atual, cada vez mais atento a estes pormenores que marcam a diferença. A fazer lembrar as garrafas das bebidas destiladas, com um formato úni-co e um trabalhado que não é comum nas habituais garrafas de vinhos, esta “joia” remete-nos para um mundo de charme, de requinte e de festa!Com uma estratégia de exportação que visa estabelecer parcerias de negócio nos principais mercados do Mundo, Carlos Lucas prefere falar em mercado da cultu-ra do que em mercado de luxo e explica porquê: “muitas vezes associamos o luxo a pessoas incultas, que compram pelo preço. Mas não é verdade, o luxo também está associado a pessoas que têm cultu-ra e saber e Portugal também se encaixa aqui. Temos pessoas com capacidade para comprar produtos de luxo, possi-velmente não em quantidades massifi-cadas, mas com capacidade para o fazer, com bastante cultura e há vários vinhos em Portugal que mostram isso e que per-duram ao longo dos anos. Nós queremos fazer isso também a nível nacional, prin-cipalmente a Norte, porque praticamente todas as grandes marcas estão a Sul. Por exemplo, no Dão vamos fazer algo muito arrojado e aí eu entro como grande co-nhecedor da Região.

dão No coRAção

Sendo um apaixonado assumido pela região do Dão, este é um projeto que dá ainda mais prazer a Carlos Lucas. Para o nosso entrevistado, o Dão é, sem dúvida, “onde se fazem os vinhos mais intelectuais de Portugal, é o encruza-do que para mim é uma das melhores castas portuguesas, a Touriga Nacional que eu considero a rainha das castas nacionais. A beira alta sabe receber e as pessoas ainda agradecem e dizem bem--haja, é a região em que fui muito bem acolhido e que tanto tenho a agradecer, foi no Dão que cresci e é, sem dúvida, a minha região de eleição, a minha região do coração”.Ainda assim, confessa que, quando en-trou na área dos vinhos, fê-lo a pensar produzir vinhos do porto, ou não fosse Carlos Lucas um amante de coisas do-ces confesso. Depois de enviar currículo

para praticamente todas as casas e não conseguir uma única entrevista, entrou para a região do Dão e agora, com uma das carreiras mais sólidas e premiadas a nível nacional, dá sempre resposta aos jovens enólogos que tentam entrar na área e lhe enviam currículo, uma aten-ção de alguém que já esteve na mesma posição e conseguiu vingar neste mundo como poucos.Apesar desta assumida preferência pelo Dão, quando questionado sobre quais os vinhos da Ideal Drinks que mais lhe enchem as medidas, Carlos Lucas elege os vinhos feitos no Paço da Palmeira, na região do Minho. “Gosto de vários mas, eu próprio, achei impressionante a qua-lidade que encontrei nos loureiros da empresa. Não há em Portugal loureiros como os do Paço da Palmeira, até por-que ninguém tem esta casta no top das castas nacionais, mas este realmente é muito bem feito e extremamente inte-ressante. São vinhos com capacidade de guarda, muito tropicais quando novos e que evoluem para notas de fruta ma-dura, flores brancas, complexos e ele-gantes, que mantêm uma frescura que permitem acompanhar muito bem a co-mida latina e, inclusivamente, os pratos dos asiáticos”, afirma.

iNoVAR tAmBÉmNo ENotURismo

Não deixando o setor dos vinhos de ser um setor industrial, que tem de estar na linha da frente em termos de desenvol-vimento e inovação, a Ideal Drinks tem apostado em sistemas inovadores e equipamentos topo de gama nas adegas, que deixam qualquer um de boca aber-ta. “Há que fazer a transição daquilo que temos na tradição e transportar para os tempos atuais. Ninguém hoje pode olhar para vinhos do passado e não gostar, porque os bons vinhos eram realmente muito bons, mas não deixam de querer algo mais. Somos hoje consumidores completamente esclarecido e exigentes e o vinho tem de acompanhar”, refere.Ainda assim, Carlos Lucas gostava que os portugueses fossem ainda mais exigen-tes e, dá um exemplo, “o porto é em todo o mundo reconhecido como uma cidade de vinho e, no entanto, pedimos um vi-nho do porto e é-nos servido a 25 graus”.

Vinho é cultura e, como tal, educar para o vinho é uma das apostas em termos de enoturismo da Ideal Drinks. “Queremos difundir o vinho através da aprendiza-gem e não apenas das provas, que já são banais, até porque qualquer um gosta de brilhar com o vinho, através de uma ati-tude que vai desde a escolha da garrafa, até à forma como se abre e como se fala do mesmo.A adega da Quinta da Bella Encosta vai ter um enoturismo muito interessante, a localização permite isso uma vez que está situada em Prime, ao pé de Viseu. Não vai ter alojamento por essa mesma razão, iremos aproveitar as sinergias da cidade, estabelecendo algumas par-cerias. Estamos a pensar em algumas ações diferenciadas, que tragam inclusi-vamente turistas estrangeiros, associan-do desporto e natureza e com a imagem do vinho muito ligada à cultura, a obras de arte, à música…”, explica.

mAis cAUtElA do QUEEm tEmPos Nos Riscos

A coRRER

Ainda que arrojo seja uma das palavras de ordem na vida do enólogo, Carlos Lucas tem um nome e um percurso que não lhe permitem errar e, por isso mes-mo, ainda que se assuma como um irre-verente, que gosta de arriscar tudo e de colocar o pé a fundo, afirma estar num fase de vida demasiado madura para ar-riscar tanto como há alguns anos atrás. “A expectativa agora é de fazer coisas bem feitas. Quando era um desconheci-do podia arriscar e fazer coisas menos bem feitas, atualmente não posso, prin-cipalmente estando a trabalhar para um público muito exigente”, afirma, com cautela. Ainda assim, deixa a promessa, “vou fazer algumas coisas mais arrisca-das mas certamente serão muito bem testadas e experimentadas antes de ir para o mercado. Como já referi, o Dão é uma região em que vou apostar fortíssi-mo porque gosto do Dão, gosto muito da atual direcção da CVR do Dão que está a fazer alguma coisa diferente e a dinami-zar a região, e acredito que esta vai ser uma região que se vai tornar diferente em Portugal. O Douro e o Alentejo con-tinuarão, mas o Dão vai sobressair pela diferença”.

O que se pretende fazer com a ideal drinks é algo que nunca foi feito, inovador e ar-rojado. Para isso é preciso ter alguma capacidade financeira, porque demora muito tempo, e poucos podem fazer como o doutor Carlos dias. não se trata de mais um industrial ou empresário português que fala nisso mas que não tem o conhecimento do mundo que o permita. ele tem, de facto, conhecimento daquilo que é impor no mundo coisas caras, de luxo, de alta qualidade

mas vamos por partes. A autarquia de Oeiras tem vindo a protagonizar mais um ato pioneiro, não fosse

a única câmara municipal do país pro-dutora de vinho, vindo a dar passos de continuidade histórica ao Vinho de Carcavelos, mantendo a respetiva pro-dução e promovendo a sua comerciali-zação nacional e internacional.Assim, com o desiderato de dar início à comercialização do vinho licoroso de Carcavelos «Conde de Oeiras», com mar-ca registada em 2006 no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, o Executivo camarário criou e aprovou a edificação da Confraria do Vinho de Car-cavelos, entidade que tem como deside-rato zelar pela dinamização da região demarcada, através de ações que asso-ciem o vinho ao desenvolvimento turís-tico, cultural e ambiental do território onde é produzido. Esta entidade, a Con-fraria do Vinho de Carcavelos, foi funda-da em 2009, com a ideia primordial de agregar as autarquias de Oeiras e Cas-cais, pois a Região Demarcada abrange área geográfica dos dois concelhos. O dinamismo dado pela Confraria do Vi-nho de Carcavelos a este setor é impor-tante pela credibilidade que aporta, bem como pela notoriedade e visibilidade que perpetua ao vinho, pois conta com 82 confrades, organiza jantares vínicos, provas, cursos e visitas guiadas à adega. Esta «aventura» começou contudo em meados de 1999, quando foi celebrado um protocolo entre a autarquia de Oei-ras e o Ministério da Agricultura e foi com base nesse acordo que a câmara oeirense começou a investir e a pro-duzir o seu próprio vinho. Assim, foi estabelecido um protocolo com a Esta-ção Agronómica Nacional, instalada na Quinta do Barão (Marquês de Pombal) desde 1961, para exploração da vinha, que revitalizou a produção vitivinícola na região, que até então, 1999 estava reduzido a um talhão experimental que estoicamente alguns técnicos da Es-tação Agronómica Nacional tentaram manter mas sem nenhum apoio. “Eram as únicas cepas do vinho que historica-mente foi sendo produzido”, afirma em entrevista à Revista Pontos de Vista, Maria de Lurdes Vaz, Secretária Geral da Confraria do Vinho de Carcavelos, onde ficamos a conhecer as razões pelas quais se tem vindo a apostar fortemente na produção vitivinícola em Oeiras e con-sequentemente no enoturismo. Apesar da aposta forte realizada pela autarquia de Oeiras e pelo seu edil,

E se lhe dissessem que pode estar na cidade e ter como pano de fundo vinhas e uma adega que além da vertente rural que lhe aporta, dão-nos ainda um pendor tradicional e característico de um espaço onde se produz vinho? Gostava de visitar? Quer conhecer? Venha a oeiras e venha descobrir a produção vínica de oeiras…venha compreender as razões que levaram ao regresso do Vinho de carcavelos.

Muito mais que um Vinho…

Isaltino Morais, o investimento até aqui realizado é de cerca de dois milhões de euros, a produção realizada é bas-tante exígua, cerca de 40 mil litros em 12,5. Poderá haver espaço para crescer neste domínio? Segundo a nossa inter-locutora espaço existe, mas devem ser criadas outro tipo de condições, pois a autarquia não pode continuar a investir num espaço que não é totalmente seu. “A autarquia oeirense passou a investir a produzir o vinho, sendo que no final, todos os anos, metade da produção per-tence à Estação Agronómica Nacional, ou seja, ao Estado. Obviamente que não pagamos qualquer renda pelo uso do es-paço mas todo o investimento tem sido nosso. Falo ao nível de plantação da vi-nha, tratamento existente, revitalização

da adega, entre outros pontos que foram alvo de investimento”, revela Maria de Lurdes Vaz, assumindo ainda o esforço que tem sido feito pela autarquia para alterar o atual cenário, principalmente pelo seu atual presidente da autarquia, Isaltino Morais. “Tem feito um enorme esforço para que este projeto avance, e tem negociado com os diversos gover-nos para adquirir os terrenos em defini-tivo para assim continuarmos a investir. Se essas negociações não chegarem a «bom porto» não tem sentido continuar o investimento porque os terrenos não nos pertencem e a qualquer momento podemos ter que sair de lá”, revela.

ViNHo dE EXcElêNciAE QUAlidAdE

Foi lançado em 2009 o lote inaugural do vinho de Carcavelos, de seu nome Conde de Oeiras, onde foram produzidas cerca de sete mil garrafas. A ideia é que este vinho, Conde de Oeiras, continue a ser um vinho raro e não um néctar que pos-sa ser encontrado em qualquer super-fície comercial, estando atualmente em poucos pontos de venda, sendo a Loja da Confraria do Vinho de Carcavelos um deles. “Não temos produção que permi-ta «inundar» o mercado, pois não temos quantidade suficiente para o fazer e além disso não o pretendemos”, revela a nossa entrevistada.Mas qual a razão que leva a nossa inter-locutora a afirmar que não pretende um incremento substancial de produção? A qualidade dos vinhos é regulada por um decreto-lei que tem como um dos requi-sitos mínimos o facto de o vinho ter um período de dois anos de envelhecimento em madeira e seis meses em garrafa. O vinho «Conde de Oeiras» não é lançado para o mercado com menos de cinco anos de envelhecimento em madeira, diminuindo portanto a frequência e a quantidade de vinho que é disponibili-zada. “Preferimos a qualidade à quanti-dade”, assevera. Será importante referir que, sendo a Câmara Municipal de Oeiras “Estado”, o objetivo não é entrar no mercado com um produto abaixo dos preços e com-petir com os demais produtores, antes terá o fito de recuperar um património de excelente qualidade, de topo, aci-ma do que o mercado oferece, assim se justifica a quantidade e a qualidade, numa perspetiva de mecenato cultural, em que o consumidor se deverá rever quando adquirir uma garrafa «Conde de Oeiras», não só pelos aspetos culturais

vINhO De CARCAveLOS – “CONDe De OeIRAS”

“tem feito um enorme esforço para que este projeto

avance, e tem negociado com os diversos governos

para adquirir os terrenos em definitivo para assim conti-

nuarmos a investir. Se essas negociações não chegarem a «bom porto» não tem sentido

continuar o investimento porque os terrenos não nos

pertencem e a qualquer momento podemos ter que

sair de lá”

Maria de Lurdes Vaz

iNTErNAciONALiZAÇÃO dOSETOr ViNícOLA

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e patrimoniais do vinho na região, mas pelo que isso implica também na recu-peração do património construído do século XVIII do Marquês de Pombal, que caracteriza também Oeiras.

coNdE dE oEiRAs - GRANdEmEdAlHA dE oURo

Os prémios são o culminar de um proje-to em qualquer área e o desejo de todos aqueles que se empenham na concretiza-ção do mesmo. O setor vinícola não foge a esta regra, sendo o paradigma claro de como o esforço e a dedicação acabam por compensar. A participação da Câmara Municipal de Oeiras na edição dos Vinhos La seleccion del Sindaco’ 12, com o Lote 1 de 2012 Conde de Oeiras foi premiada com a Grande Medalha de Ouro, obtendo a classificação de 93,6 pontos em cem, tendo sido considerado o melhor vinho a concurso, num total de 1300 vinhos originários de toda a Europa. “Aposta-mos pela primeira vez em eventos deste género o ano passado e curiosamente alcançamos três medalhas de prata. Foi naturalmente um feito importante. No concurso deste ano ficamos extrema-mente satisfeitos e orgulhosos porque a Grande Medalha de Ouro foi entregue a Portugal e é nossa. Portugal foi o segundo país com mais prémios neste concurso, onde dos 98 vinhos lusos que concorre-ram, 42 trouxeram medalhas. Temos de

nos orgulhar deste feito”, afirma satisfeita a Secretária Geral da Confraria do Vinho de Carcavelos.

fAlAdo No mUNdo…PRoVAdo AQUi

De salientar que o néctar premiado com este prémio, de seu nome Vinho de Car-cavelos “Conde de Oeiras”, é composto por diversos lotes, sendo que o vinho mais novo existente tem cerca de sete anos, “quanto mais tempo envelhecer, maior é a qualidade”, sendo portanto fundamental que se criem condições para que as marcas possam produzir vinhos de maior qualidade, embora isso tenha maiores entraves económicos. “As plantações de Cascais são entidades de cariz privado, sem qualquer apoio esta-tal. Nós, como entidade pública e com al-gumas possibilidades financeiras conse-guimos manter o vinho em processo de envelhecimento e suportar esse período em madeira, sem o retorno financeiro imediato, algo que é impossível em em-presas privadas e sem qualquer apoio”, revela Maria de Lurdes Vaz. Mas qual a expressão que este vinho pos-sui além-fronteiras? Poderão estes pré-mios funcionar como o «click» que faltava para que o mesmo possua uma dimensão internacional? É necessário recuar um pouco para percebermos que este vinho já tem um importante cartão de visita a ní-vel internacional. São vários os dados que apontam nesse sentido. Existem registos romanos sobre a existência de um vinho na zona, ou de dados que confirmam o cultivo de vinhas no século XIV. O momen-to alto e de glória passou-se em meados do século XVIII, período em que o Rei D. José I enviou duas garrafas do vinho de Carcavelos à corte de Pequim. Além disso, este vinho foi ainda afamado por William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês

e tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. “O nosso vinho é conhecido”, asse-vera a nossa entrevistada. “Temos recebi-do diversas propostas de vários pontos do globo, mas temos de recusar aquelas que apontam para maior quantidade de garra-fas a exportar pois não temos capacidade para produzir em quantidades assim tão elevadas” reconhece.

Posição dE dEstAQUE No ENotURismo

A aposta forte no Vinho de Carcavelos “Conde de Oeiras” aponta também na introdução de Oeiras como um ponto enoturístico por excelência, panorama no qual o concelho nunca viveu. Oeiras faz hoje parte da Rota dos Vinhos de Car-cavelos, Bucelas e Colares que apesar de ainda estar numa fase embrionária tem--se vindo a desenvolver nos últimos qua-tro anos, facto que tem permitido uma maior visibilidade e aguçado a curiosi-dade dos visitantes. “Hoje temos uma posição importante no enoturismo em Portugal e inclusive realizamos alguns estudos para descobrir a apetência do tu-rista de Oeiras. O nosso turista/visitante é especial, ou seja, é de negócios que por vezes fica instalado nas nossas unidades hoteleiras e posteriormente, como fica agradado com o que vê, decide trazer a família com ele para um fim de semana em família. Tem sido nesse nicho de mer-cado que temos conseguido colocar Oei-ras no mapa do enoturismo em Portugal. As pessoas acham «piada» ao facto de es-tarem no meio da cidade com vinhas…”, afirma, lembrando ainda que a adega, que fica no topo da quinta do Marquês de Pombal, trabalha todos os dias (está aberta ao público nos últimos sábados de cada mês) até às duas e meia da tarde e pode ser visitada por todos.

“hoje temos uma posição importante no enoturismo em Portugal e inclusive realizamos alguns estudos para descobrir a apetência do turista de Oeiras. O nosso turista/visitante é especial, ou seja, é de negócios que por vezes fica instalado nas nossas unidades hoteleiras e posteriormente, como fica agradado com o que vê, decide trazer a família com ele para um fim de semana em família”

O que é beber umvinho de Carcavelos “Conde de Oeiras”?

Já lá vamos. As pipas que a Câmara de Oeiras adquiriu são de carvalho francês, feitas numa tanoaria em Palaçoulo, Miranda do Douro e, apesar de o Conde de Oeiras ser um branco doce (juntamente com o Porto, Madeira e Moscatel de Setúbal, é um dos quatro generosos portugueses). Então mas o que é bebê-lo? “É degustar um vinho de excelência. Bebam-no bastante fresco como aperitivo ou então como digestivo acompanhado por um doce…quanto mais doce melhor”, revela Maria de Lurdes Vaz.

“Apostamos pela primeira vez em eventos deste género o ano passado e curiosamente alcançamos três medalhas de prata. Foi naturalmente um feito importante”

Como caracteriza os vinhos da quinta dos Penassais?Os vinhos da Quinta dos Penassais ca-raterizam-se pela sua qualidade que foi sempre o nosso lema como atestam as várias distinções nacionais e internacio-nais atribuídas aos nossos vinhos, pure-za, elegância e frescura, sendo sempre o nosso objetivo engarrafar vinhos que proporcionem verdadeiros momentos de prazer e convívio.

de que forma foi feita a escolha das cas-tas a plantar na vinha?Apesar de parte dos nossos vinhedos já datarem desde 1385, a seleção criteriosa das melhores castas do Dão, começou no início do século XX. Estas castas vieram posteriormente a ser as recomendadas pelo centro de estudos da Região do Dão.

nos últimos anos procedeu-se à amplia-ção da adega da quinta e à aquisição de equipamento de ponta. É importante inovar num setor tão tradicional como este? essa inovação tem de passar tam-bém pelos sabores e texturas?Foi e continua a ser importante uma constante atualização e modernização, não só dos equipamentos utilizados, mas também a nível da imagem, sabo-res e aromas, tentando captar e servir um público cada vez mais diferenciado e exigente. Com isto pretende-se um

convívio entre tudo o que é tradicional e inovador, não esquecendo que o ideal é a harmonia onde a inovação e a tradição andem de mãos dadas.

qual o uso que têm dado ao salão de pro-vas que possuem na quinta? investir no enoturismo passa pelos seus objectivos?A sala de provas tem sido o local onde se reúne o vinho, os amantes do vinho e os vinhedos à distância de um abraço. O enoturismo faz parte das diretrizes de um projeto, que possivelmente se con-cretizará a curto prazo.

A quinta dos Penassais tem sido galar-doada com vários prémios pela qua-lidade dos seus vinhos, apresentando no seu curriculum diversos diplomas de Concursos à Produção e de Concursos internacionais para vinhos engarrafa-dos. qual a importância destes prémios para a quinta? Ao nível das vendas, nota um aumento da procura sempre que são distinguidos nos concursos?

É sempre bom verificarmos, que os nossos vinhos foram valorizados e re-conhecidos pela sua qualidade, quer a nível nacional quer internacional, o que nos incentiva a produzir cada vez com melhor qualidade. A nível de vendas traduz-se sempre num acréscimo, uma vez que os prémios são uma mais-valia na divulgação do produto.

É no lugar da cumieira, na fre-guesia de são João de lourosa, em Viseu, que podemos encon-

trar os dez hectares de vinha da Quinta dos Penassais. Um vinha

com idade média superior a 20 anos e com uma produção de sensivelmente 20 mil litros de

vinhos tintos e 10 mil litros de vi-nhos brancos, que faz parte desta empresa familiar, exclusivamente

ligada ao sector vitivinícola, mantendo assim a tradição desde

1385, de acordo com os arquivos existentes na torre do lombo. Em entrevista à revista Pontos

de Vista, o Administrador, Pedro oliveira, deixou-nos a conhecer um pouco mais da mesma, dos

vinhos e do dão.

“O reconhecimento dos vinhos portugueses ainda está muito restrito aos vinhos generosos e verdes”

entre estas distinções, há algum que lhe tenha dado um particular orgulho e sa-tisfação à equipa em arrecadar? qual?Todas as distinções nos orgulham, pois cada distinção corresponde a um deter-minado vinho com caraterísticas pró-prias. O nosso maior orgulho está no re-conhecimento por parte do consumidor.

A quinta de Penassais já está a exportar ou ainda não deram esse passo?A Quinta dos Penassais tem exportado vi-nhos desde as últimas décadas do séc XX, para alguns países dentro e fora da Europa.

numa altura como esta, o futuro do sec-tor passa inevitavelmente pela interna-cionalização?Temos que ver a internacionalização como um alargamento do mercado que tem permitido nos últimos anos compensar a quebra de consumo dos mercados tradicio-nais, resultantes da alteração dos hábitos de vida, da diminuição do poder de compra do consumidor, do fruto das pressões das campanhas anti-alcoólicas, excessivamen-te focalizadas no consumo do vinho. Deste modo a internacionalização aparece como necessária para colmatar as quebras acen-tuadas por estes fatores,

recentemente, uma importante figura norte-americana no sector vinícola disse considerar os vinhos do dão dos melho-

res a nível mundial. no entanto, apesar da evidente qualidade dos vinhos, esta é uma das regiões demarcadas nacionais que se tem deparado com mais dificulda-des. na sua opinião, o que é preciso fazer para contrariar esta situação?É necessário proceder-se a uma maior di-vulgação da Região do Dão, incentivando os seus produtores a participar em even-tos nacionais e internacionais, dinamizan-do o circuito vinícola, de forma a valorizar a qualidade dos produtos da região.

Acha que os vinhos nacionais já têm o merecido reconhecimento lá fora?Não, uma vez que penso que o reconhe-cimento dos vinhos portugueses ainda está muito restrito aos vinhos genero-sos e verdes.

quais as prioridades e linhas estratégi-cas da quinta dos Penassais?Continuar a apostar cada vez mais na qualidade e na imagem, mantendo um contacto estreito com o consumidor, de forma a compreender as suas tendências; manter uma relação preço/qualidade en-quadrável no atual contexto de competi-tividade e economia; utilizar um esforço extra na redução de custos, através da rentabilização dos meios operacionais e do aperfeiçoamento de melhores técni-cas vitivinícolas, conciliando a experiên-cia e conhecimento acumulado.

PeDRO OLIveIRA, ADmINISTRADOR DA QUINTA DOS PeNASSAIS

Pedro Oliveira e José Carlos Oliveira

iNTErNAciONALiZAÇÃO dOSETOr ViNícOLA

mas já lá vamos. Conversá-mos com Maria do Carmo Guilherme, representan-do da Rota dos Vinhos da

Península de Setúbal, onde ficamos a conhecer as mais-valias que este pré-mio, Palmela, Cidade Europeia do Vi-nho 2012 tem tido e pode continuar a ter para a região. Soubemos ainda o papel que têm tido os diversos atores existentes na região e não só no sen-tido de promoverem a Rota de Vinhos da Península de Setúbal que junta as vontades de adegas, instituições e agentes para exaltar a identidade própria desta região, em torno dos seus principais valores, fazendo com que valha a pena visitá-la.Interessa recordar que a Rota de Vinhos da Península de Setúbal teve o seu pre-lúdio há cerca de 12 anos, mais concre-tamente em 2000, período em que o enoturismo ainda era pouco conhecido e acima de tudo falado, devendo assim, a região de Palmela, ser considerada pioneira também no alavancar deste ni-cho relacionado com o turismo. Importa salientar que o grande pólo dinamizador de todo este projeto é a Casa Mãe, que inaugurada no mesmo ano da Rota de Vi-nhos da Península de Setúbal, em 2000, encontra-se localizada em Palmela, numa antiga adega adaptada para o efeito, onde o visitante é surpreendido pela beleza in-terior do edifício, pelas inúmeras marcas de vinhos e produtos regionais de quali-dade, assim como pela oportunidade de provar vinhos e efetuar as marcações de visitas guiadas às adegas. “Estamos satis-feitos com o trabalho até aqui realizado, até porque temos contado com o apoio dos diversos agentes deste setor na re-gião e que, através da sua participação, têm permitido a valorização do trabalho que a Rota dos Vinhos tem vindo a per-petuar e a desenvolver em prol da qua-lidade dos vinhos, dos produtos locais, entre outros”, afirma a nossa entrevis-tada, lembrando contudo que Palmela não é só vinho. “O nosso negócio não é só vinho, mas também a cultura do vinho em prol das potencialidades turísticas de uma região. Queremos atrair à região um fluxo crescente de visitantes que visitem o nosso mundo rural, as nossas casas agrícolas, os nossos produtores e que evidenciem a região, porque não esta-mos a falar de uma região com fronteiras, mas de toda a Península de Setúbal que é a área da Rota dos Vinhos”, assevera Ma-ria do Carmo Guilherme, lembrando que nos últimos anos, fruto deste trabalho em

rede e parceria, “temos vindo a triplicar o número de visitantes na região”.

UmA distiNção QUE PAlmElAPARtilHA com os PARcEiRos

E todA A REGião

Depois de ter sido nomeada Cidade do Vinho Nacional em 2009, primeira cida-de a alcançar semelhante distinção, eis que Palmela surge uma vez a primar pela distinção, pois foi eleita Cidade Europeia do Vinho 2012 pela RECEVIN, a Rede Eu-ropeia de Cidades do Vinho. O concurso visou distinguir uma cidade símbolo do desenvolvimento vitivinícola, a nível europeu e Palmela é, assim, a primeira cidade europeia do vinho. A distinção as-sentou nos sucessivos êxitos dos vinhos de Palmela e da região em certames na-cionais e internacionais, o sucesso da ex-periência de parceria entre produtores, municípios e outros agentes económicos.Para Maria do Carmo Guilherme este títu-lo é merecido pelo esforço que tem sido realizado na região por todos, nomeada-mente pelos produtores e todas as entida-des parceiras, mas também pelo empenho da autarquia de Palmela, “que desde o primeiro momento se empenhou neste projeto, revela a nossa interlocutora, par-tilhando a distinção alcançada com todos os produtores da região “que afirmaram nos últimos anos a elevada qualidade dos nossos vinhos. Como promotora da candi-datura Palmela foi capaz de construir um projeto que vai muito além do programa de eventos, mas que passa igualmente por projetos com objetivo de acrescentar competências e conhecimento sobre a vi-tivinicultura e sobre o enoturismo, assim como o trabalho que se pretende perma-nente para criar novos públicos e sensibi-lizar para um consumo moderado do vi-nho. Por outro lado, o cumprimento deste programa só tem sido possível através de um trabalho em parceria e de partilha de recursos e com o apoio de patrocinadores como a Caixa de Crédito Agrícola. Não te-nho dúvidas: O título de Cidade Europeia do Vinho 2012 constituirá um importan-te contributo para alargar a notoriedade e o prestígio dos vinhos de Palmela e da região”, revela a nossa entrevistada, asse-gurando que Palmela assumirá sempre orgulhosamente este título. O futuro? “Este reconhecimento é positi-vo, mas também aporta um nível superior de exigência e não queremos defraudar aqueles que em nós acreditaram. Podem contar connosco neste longo caminho, em que pretendemos continuar a organizar

A Revista Pontos de Vista visitou Palmela, cidade Europeia do Vinho 2012. marcada por uma paisagem de contrastes, em que uma parte do seu território faz parte da Reserva Natural do Estuário do sado e a outra do Parque Natural da Arrábida, Palmela é uma vila de inúmeros encantos, en-globando na sua oferta o património histórico e cultural, a natureza, a gastronomia e os vinhos. Venha conhecer. Este é o cartão de visita daquela que alcançou um prémio do qual temos que nos orgulhar. Bem-haja Palmela. Que venham mais prémios.

Venha visitar... será uma viagem memorável

o nosso produto cada vez mais de acordo com os gostos dos potenciais públicos, através de ofertas capazes de atrair as agências e os operadores turísticos. Além disso, iremos continuar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido entre a au-

tarquia, os produtores e as várias entida-des ligadas ao setor, pois aliados à quali-dade dos nossos produtos, foram estes os fatores primordiais desta vitória que é de todos nós”, conclui a nosso entrevistada Maria do Carmo Guilherme.

PALmeLA, CIDADe eUROPeIA DO vINhO 2012

LER NA INTEGRA EMWWW.PONTOSDEVISTA.PT

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Pontos de Vista Agosto 2012 81

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