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1 USUCAPIÃO DE IMÓVEIS: QUADRO ATUAL DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA NO BRASIL José Isaac Pilati Professor de Direito Civil da Universidade Federal de Santa Catarina e Convidado da ESA/SC Curso ministrado na sede da ESA-OAB/SC, em Florianópolis, em 28 de junho de 2012. Introdução O CCB, no Livro III da Parte Especial: Direito das Coisas, tipifica e disciplina três modos de aquisição da propriedade imobiliária: usucapião, registro do título e acessão. Vou tratar aqui do primeiro caso, a usucapião, destacando dois aspectos: o primeiro, de que o contexto da abordagem é de um direito civil constitucionalizado, ou seja, com o foco principal na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de cujos postulados vêm emergindo nos últimos anos novas espécies de usucapião especial; e o segundo, de que a usucapião é modo de aquisição não só da propriedade, mas também de todos os direitos reais de gozo dela desdobráveis: superfície, enfiteuse, servidão, usufruto, uso, habitação, concessão de uso e concessão de uso especial para fins de moradia (art. 1225 do CC). Destaco também que não vou me ocupar da usucapião de bens móveis (CC 1260), voltando-me à realidade imobiliária. O fenômeno da constitucionalização consagrou novas espécies de usucapião, as usucapiões especiais constitucionais, que passam a conviver com a usucapião comum tradicional, bipartida esta em ordinária e extraordinária (conforme a presença ou não dos requisitos do justo título e da boa-fé). As usucapiões especiais cogitam de outros requisitos específicos, pois que surgem por desígnio dos princípios e direitos sociais constitucionais, como o direito à moradia, à proteção da família e ao cumprimento da função social da propriedade e da cidade. Assim, o advogado que propuser uma ação de usucapião constitucional especial vai seguir o rito próprio da espécie, e não o comum do art. 941-945 do CPC, que é destinado aos casos de usucapião tradicional do CC. Usucapião vem de usu capere, que significa tomar pelo uso, pela posse longeva, dentro de determinados requisitos e nos casos permitidos pelo

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USUCAPIÃO DE IMÓVEIS: QUADRO ATUAL DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA NO BRASIL

José Isaac Pilati

Professor de Direito Civil da Universidade Federal de Santa Catarina e Convidado da ESA/SC

Curso ministrado na sede da ESA-OAB/SC, em Florianópolis, em 28 de junho de 2012.

Introdução O CCB, no Livro III da Parte Especial: Direito das Coisas, tipifica e disciplina três modos de aquisição da propriedade imobiliária: usucapião, registro do título e acessão. Vou tratar aqui do primeiro caso, a usucapião, destacando dois aspectos: o primeiro, de que o contexto da abordagem é de um direito civil constitucionalizado, ou seja, com o foco principal na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de cujos postulados vêm emergindo nos últimos anos novas espécies de usucapião especial; e o segundo, de que a usucapião é modo de aquisição não só da propriedade, mas também de todos os direitos reais de gozo dela desdobráveis: superfície, enfiteuse, servidão, usufruto, uso, habitação, concessão de uso e concessão de uso especial para fins de moradia (art. 1225 do CC). Destaco também que não vou me ocupar da usucapião de bens móveis (CC 1260), voltando-me à realidade imobiliária. O fenômeno da constitucionalização consagrou novas espécies de usucapião, as usucapiões especiais constitucionais, que passam a conviver com a usucapião comum tradicional, bipartida esta em ordinária e extraordinária (conforme a presença ou não dos requisitos do justo título e da boa-fé). As usucapiões especiais cogitam de outros requisitos específicos, pois que surgem por desígnio dos princípios e direitos sociais constitucionais, como o direito à moradia, à proteção da família e ao cumprimento da função social da propriedade e da cidade. Assim, o advogado que propuser uma ação de usucapião constitucional especial vai seguir o rito próprio da espécie, e não o comum do art. 941-945 do CPC, que é destinado aos casos de usucapião tradicional do CC. Usucapião vem de usu capere, que significa tomar pelo uso, pela posse longeva, dentro de determinados requisitos e nos casos permitidos pelo

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Direito. O texto antigo mais completo de que dispomos a respeito dos modos de aquisição é o das Institutas de Gaio; que trata da usucapião no Livro 2.41 usque 2.63: um ano para os móveis e dois anos para os imóveis, vedado tal direito ao ladrão, ao adquirente de má-fé, e até ao adquirente de boa-fé que tivesse adquirido do ladrão (2.49). O Digesto de Justiniano dedica à usucapião o Título 3 do Livro 41, como instituto introduzido a serviço do bem público: bono publico usucapio introducta est (41.3.1, Gaio); e adota a seguinte definição, de Modestino: agregação do domínio pelo tempo determinado na lei (41.3.3). Para nós usucapião da propriedade é o modo de aquisição que se dá mediante posse com animus domini, mansa, pacífica e ininterrupta, pelo prazo da lei. Posse própria, pública, sem interrupção e sem oposição juridicamente significativa. Não vou me ater à evolução histórica da usucapião, do medievo às codificações, partindo de imediato para o conceito de cada espécie, a classificação, os requisitos e os procedimentos respectivos. Isso vai me conduzir às lições jurisprudenciais que selecionei em pesquisa, sem perder de vista a exigüidade do tempo disponível para assunto tão vasto, complexo e dinâmico. Vou falar em tom de conferencista, por uma questão de disciplina de exposição e observância do tempo; mas estou franqueando as perguntas e interrupções que julgarem oportunas; cientes todos de que no final estarei aberto ao debate e à troca de idéias com colegas – que pela própria atividade que exercem, muito tem a ensinar a mim e aos demais presentes que me honram com tamanho prestígio. 1 Conceito, fundamento, finalidade e objeto da usucapião Usucapião é um modo originário de aquisição da propriedade mediante posse própria com animus domini; e bem assim, modo de aquisição de outros direitos reais de gozo exercidos com animus rem sibi habendi (como usufruto, uso, habitação, superfície e servidão); aquisição em face de posse ad usucapionem mansa, pacífica e ininterrupta, por determinado tempo fixado em lei, conforme a espécie de usucapião de que se trate. A posse ad usucapionem exterioriza sempre o direito real pretendido: propriedade agrária com atividade agrária, enfiteuse com comportamento de enfiteuta; quem ocupa área de preservação perfilha-se com a preservação ou a concessão de uso especial para fins de moradia. É originário porque a aquisição não se dá por transmissão de proprietário anterior, e sim pelo cumprimento dos requisitos objetivos previstos na lei. A sentença declara-o, e o registro da carta de sentença dá-lhe publicidade; ou seja, a anotação no álbum imobiliário não é

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constitutiva do direito, mas autoriza a dispor doravante do bem como proprietário declarado. 1.1 O fundamento da usucapião é objetivo: utilidade social. Interessa ao Direito sob a civilização, que cada coisa tenha um dono, que cuide dela de acordo com o interesse geral da Sociedade. Proprietário relapso que abandona o bem é preterido pelo direito, de um ponto em diante, em favor daquele que dá à coisa a destinação social de utilidade. A usucapião serve, ainda, para consolidar as aquisições, pacificar os conflitos, dar segurança e estabilidade à propriedade, além de facilitar como meio de prova. Por isso, quem já preencheu os requisitos pode alegá-lo como matéria de defesa (súmula 237 do STF, lei 6.969/81, art. 7º e lei 10.257/01 art. 13)1

; e pode defender-se como proprietário do bem (e não só como possuidor) antes mesmo de propor a ação de usucapião. Estou falando da ação publiciana, que decorre da autonomia desse modo de aquisição.

1.2 O objeto da usucapião no Direito das Coisas é a res habilis, ou seja, qualquer direito real de gozo suscetível de posse particular ad usucapionem. Nem todas as coisas sujeitas a tal modo de aquisição, ainda que corpóreas. As coisas fora do comércio, como os bens públicos, por exemplo, são insuscetíveis de aquisição particular; bens públicos não se adquirem fora do regime de direito administrativo que lhes é próprio. A mesma coisa se diga dos bens incorpóreos extrapatrimoniais como o ar e o meio ambiente, ou órgãos humanos para transplante. Mas há exceções: o Direito atual prevê a aquisição de concessão de uso especial para fins de moradia sobre imóvel público, assim como usucapião de linha telefônica, apesar de se tratar de simples serviço (STJ, Súmula 197). Os bens gravados com cláusula de inalienabilidade podem ser perdidos por usucapião: a possibilidade de conluio entre as partes, como alerta Gonçalves2

apoiado na opinião de Orlando Gomes, não compromete a regra (cumpre provar a fraude, no caso, e frustrar o intento ilícito das partes). Por outro lado, não corre prazo de usucapião contra certas pessoas, como os menores impúberes e as pessoas que estão a serviço do país no Exterior (art. 1244 c/c 197-204 do CC). Também não corre prazo, regra geral, entre condôminos.

1 Art. 13 da lei 10.257/2001: A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis. 2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das coisas. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 278.

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2 Requisitos da usucapião Para se obter a usucapião devem-se preencher alguns requisitos, pertinentes aos sujeitos, à própria coisa e ao aspecto formal. 2.1 Requisitos pessoais: o pretendente deve ser capaz e ter a qualidade para adquirir o direito no caso concreto (1244 e 197-198). O juiz de uma causa, por exemplo, não pode usucapir bens objeto de sua judicatura; o cônjuge não pode usucapir contra o outro, ressalvada a exceção recente da lei 12424/2011. Outro caso, conforme dito é o do condômino, salvo no condomínio pro diviso. 2.2 Requisitos reais: objeto deve ser suscetível de posse particular, e não pode estar sob outro regime jurídico que não o direito das coisas, como é o caso, por exemplo, das coisas fora do comércio. Os bens públicos, como os terrenos de marinha, por exemplo, não podem ser usucapidos a título de propriedade pura, já que pertencem à União Federal. 2.3 Requisitos formais: são comuns (posse ad usucapionem e prazo) e especiais (justo título e boa-fé). Os requisitos formais especiais, quando presentes, têm o condão de diminuir o prazo de aquisição; é a usucapião ordinária. Uma escritura de posse, por exemplo, não é justo título, é mero instrumento de acessio possessionis. Justo título é uma escritura formalmente perfeita e registrada, mas que não transmite a propriedade em razão de algum defeito, como a procedência a non domino. Se concorrer boa fé, esses dois requisitos – juntos e somados – tem o condão de reduzir em 5 anos o prazo de usucapião extraordinária; sob o nomen iuris de usucapião ordinária. Este justo título ad usucapionem não se confunde com o justo título ad interdicta do parágrafo único do art. 1201 do CC3

, que interessa à presunção da boa fé.

Estes são os requisitos das usucapiões comuns. As usucapiões especiais acrescentam outros, que passo a examinar. 2.4 Usucapiões especiais: as usucapiões especiais, em cada caso, dependem da combinação de requisitos específicos, na forma da legislação própria, caso a caso. 3 Art. 1201, parágrafo único do CC: O possuidor com justo título tem por sai a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

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3 Espécies de usucapião e classificação: comuns e especiais Com a constitucionalização do direito civil, temos hoje um divisor de águas entre espécies tradicionais de usucapião de imóveis, as usucapiões comuns, ou seja, a extraordinária e a ordinária; e as novas espécies, ditas especiais constitucionais – que surgiram desde a usucapião pro labore introduzida pela Constituição Federal de 1934 (art. 125) e mantida pela Carta de 1937 (art. 151, § 3º); objeto hoje das leis 4504/64 (art. 98) e 6969/81; bipartida em urbana e rural pela CRFB/88 (art. 183 e 191), com reflexo no Estatuto da Cidade (art. 9º e 10), no CC (art. 1239 e 1240), na MP 2220/2001 (concessão de uso especial para fins de moradia, singular e coletiva) e na lei 12424/2011 (art. 1240-A do CC, usucapião entre cônjuges); e usucapião extrajudicial (lei 11977/2009). As diferenças entre as duas categorias, comum e especial, são radicais quanto aos requisitos, e especialmente, quanto ao procedimento. Então, as espécies de usucapião no direito contemporâneo são as seguintes: 3.1 Usucapião comum Extraordinária: Art. 1238: aquisição da propriedade em 15 e 10 anos (conforme haja ou não a posse trabalho4

3.2 Usucapião comum Ordinária: art. 1242: em 10 anos mediante justo título e boa-fé, ou até mesmo em 5 anos, se, além disso, concorrer posse-trabalho

do parágrafo único, a qual pode reduzir o prazo, de 15 para 10 anos). Rito do art. 941 do CPC.

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3.3 Especial urbana: art. 1240 do CC, art. 9º do Estatuto da Cidade e 183 da CRFB/88: possuir como sua (posse própria, com animus domini), por 5 anos ininterruptos e sem oposição, imóvel em zona rural ou urbana, área de terra não superior a 250m2, utilizando-a para sua moradia ou de sua família e desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Se tiver uma simples posse de outra área? Não será obstáculo, a menos que esteja pleiteando usucapião da outra área, o que arrastaria os dois pedidos para o âmbito da usucapião comum. O rito é sumário (art. 14 do EC). Não se exige boa fé nem justo título. O seu caráter constitucional prevalece frente a exigência de área mínima maior pelo plano diretor.

(moradia e/ou atividade produtiva). O rito é o do art. 941 do CPC.

3.4 Especial rural: art.1239 do CC, 191 da CRFB e art. 1º da lei 6969/816

4 Parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil: O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

: 5 anos, até 50 ha. de área de terra em zona rural, tornando-a produtiva por seu

5 Art. 1242, parágrafo único do Código Civil: Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

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trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, e desde que não seja proprietário de outra área rural ou urbana. Se o pretendente tiver duas posses, obterá a usucapião daquela que requerer e preencher os requisitos; e posteriormente perseguirá a outra, mediante usucapião comum. O rito é o Sumário (art. 5º da lei 6969/81). Dispensa justo título e boa fé. 3.5 Coletiva urbana: é a prevista no art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei 10257/01). O objeto são áreas urbanas por localização ou por destinação (moradia, comércio), ocupadas por pessoas de baixa renda que não tenham outra propriedade; utilizadas para moradia, e em condições em que não seja possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, cuja fração máxima é de 250 m2. A lei presume frações iguais, a menos que os litisconsortes admitam expressamente diferenças. Se um dos pretendentes não preencher pessoalmente os requisitos, deve lançar mão da via própria, sem prejuízo de ninguém. Se o objeto for imóvel rural, poderá ser considerado urbano por destinação (moradia, comércio). 3.6 Concessão de uso especial para fins de moradia: art. 183, § 1º da CRFB, MP 2220/01, lei 11481/07 e CCB art. 1225, XI. Aquele que tiver possuído por cinco anos ininterruptos e sem oposição, área de até 250 m2 de imóvel público7

3.7 Concessão coletiva de uso especial para fins de moradia. Trata-se do caso anterior, que admite a forma coletiva de aquisição (art. 2º da MP), sendo que a fração ideal de cada possuidor não poderá ser superior a 250 m2. Os ocupantes regularmente inscritos em imóveis públicos, que preencham os requisitos da MP, art. 1º e 2º, poderão optar pelo regime da concessão especial

situado em área urbana, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, tem direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, por via judicial ou administrativa (e registro no álbum imobiliário); desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. O direito é concedido uma única vez ao mesmo concessionário (art. 1º, § 2º) e pode ser concedido à mulher ou ao homem ou a ambos.

6 Reza o art. 1º da lei 6969/81: Todo aquele que não sendo proprietário rural nem urbano, possuir como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua, não excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado produtiva com seu trabalho e nela tiver sua mordia, adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de justo título e boa-fé, podendo requerer ao juiz eu assim o declare por sentença, a qual servirá de título para transcrição no Registro de Imóveis. Por essa lei, a usucapião especial abrange terras devolutas em geral (art. 2º) excetuando-se áreas indispensáveis à segurança nacional, terras habitadas por silvícolas, ares de interesse ecológico consideradas como tais as reservas e parques assim declarados, assegurada aos atuais ocupantes a preferência para assentamento em outras regiões, pelo órgão competente (art. 3º). No caso de terras devolutas pode ser reconhecida administrativamente (art. 4º, § 2º). Esta modalidade de usucapião foi introduzida pelo art. 125 da CF/34, para imóveis rurais e urbanos (até 10 ha), mantido na CF/37 (art. 151, § 3º, 125 ha), passando para o Estatuto da Terra, lei 4.504/64, art. 98, e depois para a lei 6969/81. 7 O DL 271/67 trata de concessão de uso de terreno público e particular.

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(art. 3º), assim como Poder Público, em caso de risco à vida e à saúde dos ocupantes, pode garantir o direito em outro local (art. 4º); a mesma coisa pode ser feita no caso de a área situar-se em imóvel de uso comum do povo, destinado a projeto de urbanização, de interesse da defesa nacional, preservação ambiental e de ecossistemas, reservado à construção de represas ou situado em via de comunicação (art. 5º). O direito pode extinguir-se, cancelando o registro, se o concessionário der destinação diversa ao imóvel ou se adquirir a propriedade ou a concessão de uso de outro imóvel urbano ou rural (art. 8º). Esse direito pode ser hipotecado, conforme art. 1473, VIII do CC (e arrematado por quem preencha os requisitos da lei, evidentemente), alienado e herdado, com preferência para o herdeiro que se encontre na posse, sem direito dos demais. O art. 9º da MP também faculta ao Poder Público conceder o direito à concessão de uso para fins comerciais, nas mesmas condições, mutatis mutandis. Os dispositivos dessa MP também se repetem, na mesma linha, na lei 11977/2009, inclusive na possibilidade de o direito ser concedido pelo Poder Público, a qualquer momento, em outro lugar (art. 71-A e parágrafos). 3.8 Usucapião entre cônjuges: art. 1240-A, introduzido pela lei 12424/2011. O exercício de posse exclusiva sobre imóvel urbano de até 250 m2, em caso de propriedade dividida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, desde que utilizada para moradia ou de sua família, acarreta a aquisição do domínio integral (sic) – desde que o pretendente não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural; e não tenha sido beneficiado mais de uma vez pelo mesmo direito. Destaca-se a impropriedade técnica das expressões: posse direta (o caso é de usucapião entre co-proprietários e não de desdobramento da posse) e domínio integral (bastaria dizer domínio). 3.9 Usucapião extrajudicial: lei 11977/2009 (art. 46 et seq). Esta lei de cunho social é dedicada à regularização fundiária de assentamentos de pessoas de baixa renda, localizados em áreas urbanas. A regularização fundiária – seja de interesse social (art. 53) seja específico (art. 61) – pode incluir imóvel público, e permite a averbação do auto de demarcação no Registro de Imóveis, com concessão de título de legitimação de posse aos ocupantes cadastrados (art. 58 e § 1º). Essa legitimação de posse assegura e constitui direito à moradia aos que não tenham outro imóvel e não tenham gozado de idêntico benefício anterior (art. 59 e § 1º). E confere direito a usucapião após 5 anos de posse, mediante procedimento que corre extrajudicialmente, perante o oficial do Registro de Imóveis (art. 60). Se a área for maior do que 250 m2, a usucapião será concedida no prazo da espécie pertinente.

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3.10 Usucapião de direitos reais sobre coisa alheia de gozo: assim como se adquire propriedade também se adquirem por usucapião direitos limitados de gozo, como usufruto e superfície, por exemplo. Qual é o prazo e qual é o procedimento? O mesmo da usucapião correspondente da propriedade. Se o usufruto é sobre área urbana de 250 m2, para moradia, e o usufrutuário não possuir outro bem imóvel, o prazo será de cinco anos. Se for usufruto de dois milhões de m2 de terras, por exemplo, será pelo prazo de usucapião ordinária ou extraordinária, conforme haja ou não justo título e boa fé. 3.11 Casos anômalos de usucapião: em princípio usucapião recai somente sobre coisas, no sentido técnico jurídico, ou seja, bens corpóreos que estão no patrimônio privado e que sejam suscetíveis de posse. Todavia, não é incomum a lei criar espécies de usucapião que escapam desse figurino, como é o caso da concessão de uso especial para fins de moradia. Mas, no Brasil, o direito pretoriano criou a usucapião de linha telefônica, conforme a súmula 193 do STJ. É um caso anômalo, considerando que se trata de criação de um novo direito real pela jurisprudência. Contraria o dogma dos direitos reais como numerus clausus da lei, e é isso que chama atenção. 3.12 Desapropriação judicial: art. 1228, §§ 4º e 5º: em autos de ação reivindicatória, tendo por objeto extensa área, ocupada por mais de cinco anos por considerável número de pessoas, de forma ininterrupta e de boa-fé, com realização, em conjunto ou separadamente, de obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante, o juiz pode fixar o valor da justa indenização devida ao proprietário, e os réus, pagando tal preço, obterão, pela sentença, o título de propriedade para registro. Observe-se que, por falta de algum requisito, essas pessoas não têm direito a usucapião especial. 3.13 Retificação de área: após as leis 11977/09 e 12424/11 instituindo a usucapião extrajudicial, feita em cartório, começa a perder chão o entendimento do STJ que refutava a retificação de área do art. 212 e seguintes da Lei 6015/73, simplificada pela lei 10931/04. Com efeito, o STJ vem decidindo assim: A ação de retificação de registro não se presta para a aquisição de propriedade de imóvel sem o correspondente título dominial, nem tampouco para o acréscimo significativo da área original (STJ, Resp. n° 689.628/ES. Quarta Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 06/12/2005). Ora, se a usucapião – que é o mais – pode ser feita em cartório, porque não o pode a retificação meramente administrativa não impugnada? E que não opera coisa julgada?

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3.14 A ação publiciana: também merece menção frente ao direito de usucapião como modo de aquisição; porque frente ao art. 1.212 do CC8

4 Diferenças principais entre usucapião comum e usucapião especial

, é um recurso jurídico valioso para o caso de perda da posse por quem não disponha de título de propriedade já tendo tempo de usucapião. É uma ação petitória de emergência, em que a usucapião é meio de prova, meramente; recuperada a posse com base no direito de usucapião, incumbe ao interessado propor a ação competente de usucapião para usufruir de todos os direitos pertinentes.

Sãos muitas as diferenças entre essas duas categorias, sendo de se destacar as referentes a rito, requisitos, prazos, e alegação em defesa (exceção de usucapião). 4.1 Quanto à usucapião comum O procedimento do processo de usucapião comum ordinária e extraordinária, tanto no caso da propriedade quanto dos direitos reais limitados correspondentes, como a servidão (1379 do CC), está disciplinado nos art. 941-945 do CPC. O art. 942 estabelece que o autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, obrigatoriamente requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo; bem assim, dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado quanto ao prazo, o disposto no art. 232 IV (entre 20 e 60 dias contados da publicação do edital). Os Documentos exigidos são: comprovantes de residência, de renda, certidão atualizada do terreno ou documento de posse, nome e endereço das partes confrontantes, rol de testemunhas com endereço e qualificação, planta descritiva da área, assinada por profissional habilitado, carnê do IPTU, fotografias com negativos. Diversas Súmulas disciplinam a matéria. Súmula 340 STF (bens dominicais públicos não podem ser adquiridos por usucapião desde o CC/16); Súmula 263 STF (possuidor deve ser citado pessoalmente); Súmula 391 STF (idem o confinante); Súmula 99 STJ (o MP tem legitimidade para recorrer, mesmo que não haja recurso da parte); Súmula 150 STJ (competência da Justiça Federal ns ações de interesse da União). Art. 943: intimação de representantes da Fazenda de União, Estados e Municípios, DF e Territórios: será por via postal. Os requisitos da usucapião comum são aqueles do n. 2 a 2.3 supra.

8 Art. 1212 do CC: O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.

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A exceção de usucapião comum ou usucapião como defesa é matéria da Súmula 237 do STF, que diz: O usucapião pode ser argüido em defesa. A jurisprudência dispensa a presença do MP nos casos de alegação de usucapião como defesa, na modalidade de usucapião comum (RJTJSP 110/366)9

De qualquer modo, perante a alegação de usucapião comum como defesa, o sucesso da exceção não dispensa a parte de propor, posteriormente, a ação de usucapião própria para obter a declaração do domínio ou outro direito real.

; embora o disposto no art. 944 do CPC. Na usucapião especial, em face da legislação, é sempre obrigatória a presença do MP, mesmo nos casos de alegação como exceção (art. 11, § 1º do Eci). O MP catarinense, por força do art. 944 do CPC e do Provimento 07/75 e hoje o Ato 103/2004/PGJ, deve ser intimado e manifestar-se nos processos de usucapião como fiscal da lei, ou como representante dos ausentes, velando contra irregularidades; inclusive para verificar se o imóvel está descrito com exatidão, tendo em vista os requisitos para o registro da nova propriedade imobiliária (v. Anexo II).

4.2 Quanto à usucapião especial É previsto o procedimento sumário para as usucapiões especiais rurais, do art. 1239 do CC e da lei 6969/81(art. 5º); e para as urbanas do art. 1240 do CC e Estatuto da Cidade (art. 14). A lei 6969/81 faz referência à competência (comarca da situação do imóvel, art. 4º); aos requisitos da petição inicial (art. 5º e §§), prevendo a dispensa da respectiva planta, que deverá ser providenciada pela autoridade judicial no âmbito da justiça gratuita, a qual inclui as despesas com Registro (art. 6º). Quanto à usucapião urbana, o Estatuto da Cidade acrescenta outros aspectos relativamente ao procedimento: legitimidade ativa do possuidor, isolado ou em litisconsórcio originário ou superveniente; dos compossuidores; de substituto processual, a associação de moradores, regularmente existente, e desde que explicitamente autorizada (art. 12); sendo obrigatória a intervenção do MP e bem assim a concessão da justiça gratuita, incluindo as despesas de cartório e registro (§§). Estas vantagens, próprias das usucapiões especiais, são ampliadas pela lei 11977/09 e 12424/11. E também pelos dispositivos pertinentes da concessão de uso especial para fins de moradia da MP 2220/01. O § 1º do art. 1º desta MP dispõe, na linha da CRFB, que o direito é concedido gratuitamente ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil; o § 1º do art. 2º autoriza expressamente a soma de posses ou acessio possessionis; e o § 3º do art. 1º, na sucessio possessionis prevê a exclusividade do direito em favor do herdeiro que reside com o antecessor e continua a posse (num caso de 9 Apud AQUINO, Leonardo Gomes de. Aquisição pela usucapião (prescrição aquisitiva). www.ambito_jurídico.com.br. Acesso em 22/06/2012.

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sucessão anômala). O art. 6º estabelece a via administrativa, só se recorrendo à esfera judicial em caso de recusa ou omissão da Administração Pública titular do imóvel. Tanto a lei 6969/81 como o ECI prevêem expressamente a possibilidade de alegação da usucapião especial como defesa (art. 7º e 13, respectivamente), com um acréscimo importante no art. 11 do Estatuto: Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo. Isso significa dizer que o juiz deve dar prioridade máxima à alegação de usucapião especial, parando o processo principal e tratando de julgá-la imediatamente nos próprios autos em que foi suscitada, sejam eles de ação possessória ou petitória. Nesse caso, apesar do caráter de exceção, é obrigatória a intervenção do Ministério Público, incidindo sem dúvida a ressalva contida no Ato n. 103/2004/PGJ (art. 3º, XIII) constante do Anexo II. É um tratamento que modifica a regra geral de direito comum prevista no art. 923 do CPC10

Assim, além dos requisitos especiais, como não ter outra propriedade, não ter sido beneficiado em outra ocasião pelo mesmo direito, ter baixa renda, outras mais se acrescentam: na usucapião rural, o autor de baixa renda é dispensado de ITR no caso de imóvel abaixo do módulo (art. 8° parágrafo único da lei 6969/81), vantagens que se ampliam pela lei Minha Casa Minha Vida, n. 11977/2009.

, que dá prioridade ao possessório frente ao petitório.

Na usucapião especial urbana também o Estatuto prevê successio possessionis anômala (art. 9° § 3°), conforme dito, e a possibilidade de accessio possessionis, se contínuas as posses, art. 10 § 1°), denotando a desnecessidade de cessão por documento escrito, o que enfrenta a jurisprudência reinante da usucapião comum. Altera as regras da legitimação para a ação: o possuidor, os compossuidores em litisconsórcio, e como substituto processual, a própria associação de moradores legalmente instituída, nos termos do § 12 do Estatuto. E a lei 11977/2009 amplia as vantagens e aumenta os requisitos, como por exemplo, no art. 3º. No tocante a usucapião coletiva urbana, a lei dispõe sobre as frações do condomínio e a sua indivisibilidade, vedando a extinção salvo no caso de execução de urbanização posterior. Observa-se que a intenção da lei é fazer com que tais condomínios funcionem no modelo edilício, estreitando os laços comunitários e transformando essa modalidade de usucapião em instrumento de re-ordenamento urbano. Se o imóvel for rural, a ocupação coletiva 10 Art. 923 do CPC: Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu intentar a ação de reconhecimento do domínio.

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transforma-o em urbana por destinação, a teor da legislação própria, sem falar nos aspectos da lei 11977/09 e seus programas nacionais de habitação urbana e rural. Esses requisitos especiais também se aplicam à concessão de uso especial para fins de moradia, que pode ser deferida, administrativa e judicialmente, na modalidade coletiva, já que surgiu no bojo do Estatuto da Cidade, onde foi vetada por alguns aspectos corrigidos pela MP 2220/01, como se observa no art. 5º (hipóteses em que o Poder Público pode conceder o direito em outro local). Também prevê a concessão de uso para fins comerciais (art. 9º da MP). Obs.: terrenos de marinha: DL 4120/42 e 9760/46: destinação do DL 9760/46 e lei 9636/98. Obs.: terra devoluta: DL 9760/46 (art. 5º)11

Regularização fundiária: as autoridades competentes e o Ministério Público, na forma da legislação, especialmente do Estatuto da Cidade, da lei 6766/79 (art. 44 e 40), das leis 11977/2009 e 12424/2011 podem lançar mão da usucapião coletiva, para regularização fundiária. Aí se destacam o procedimento e os requisitos da usucapião extrajudicial.

e 1414/75, leis 6383/76, 6925/81, CF art. 225, § 5º. Reza a CRFB: São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

5 Efeitos da usucapião A usucapião é um modo de aquisição autônomo em relação ao registro do título, completando-se tão somente com o preenchimento dos seus requisitos, independente da Sentença judicial, que é meramente declaratória. Seus efeitos operam desde logo, retroagindo ao primeiro dia de posse para todas as finalidades: frutos, benfeitorias; redimindo o titular da condição possuidor injusto e de má fé. Tanto que a sua renúncia deve ser expressa e não prejudicar os eventuais credores. As hipotecas pendentes do período anterior, do antigo proprietário, perecem com a perda da propriedade, já que não são obstáculos à aquisição por usucapião.

11 Art. 5º do DL 9.760/46: São devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito Federal, as terras que, não sendo próprias nem aplicadas a algum uso público federal, estadual ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado: a-fg (desde a lei 601/1850 até a posse trintenária).

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6 Aspectos práticos

6.1 Petição Inicial de usucapião A ação de usucapião é uma ação declaratória12

. Ante a propositura da ação, devem-se tomar alguns cuidados específicos.

6.1.1 Competência Será da comarca da situação do imóvel a competência para a ação de usucapião, em geral, da justiça comum estadual; mas há casos de competência da Justiça Federal, conforme a Súmula 150 do STJ:

Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.

A Súmula 11 do mesmo STJ referindo-se à usucapião especial da Lei 6969/81:

A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel.

Não se podem esquecer, também, as peculiaridades dos casos de usucapião especial administrativa e extrajuidicial. No caso de ação que envolva sociedade de economia mista13

, o entendimento, quanto à competência Apelação Cível n. 2003.003403-0, de Tubarão.Relator: Des. Luiz Cézar Medeiros:

Nos termos da Súmula n. 42 do Superior Tribunal de Justiça, compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de

12 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2006. v.4, p. 83-84.A ação de usucapião, destaco, é declaratória, porque basta o atendimento dos requisitos estabelecidos na lei para que o o possuidor adquira desde logo a propriedade da coisa. [omissis] De outro lado, por não ser constitutiva a ação, a usucapião pod ser alegada também como matéria de defesa em reivindicatória. 13 SALLES, José Carlos de Moraes. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6 ed. São Paulo: RT, 2005, p. 88, alerta para o fato de que bens imóveis de Sociedade de Economia Mista podem ser usucapidos.

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economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

6.1.2 Qualificação Seja qual for a espécie de usucapião de que se trate, o advogado ao elaborar a petição inicial deve qualificar o Requerente, com precisão, indicando identidade, CPF, profissão, endereço completo, estado civil, e se casado for, o nome da mulher, com identidade, CPF, regime de bens e ano da celebração do casamento – se realizado anteriormente ou na vigência da lei 6.515/77, que alterou o regime de universal para comunhão parcial. Esses dados são importantes por ocasião do registro da sentença no álbum imobiliário, mais tarde. A falta de uma informação dessa natureza pode embaraçar o registro e provocar contratempo. 6.1.3 – Descrição do objeto da usucapião Deve o autor informar a origem e o caráter da posse (posse própria, com animus domini), o seu início, os atos de senhoria (afinal, se a posse é fato, é poder sobre a coisa, cumpre descrever os atos correspondentes), o tempo de exercício, a união de posses anteriores (accessio possessionis ou successio possessionis), juntando os respectivos comprovantes; enfim, individualizar a coisa (orientando-se pela L. 6.015/73, art. 225-6 e 167, n. 28 e pela planta de situação e locação elaborada por profissional habilitado). Deve constar da inicial, também, o número do cadastro do imóvel perante a Prefeitura ou perante o INCRA (se rural), pois sem esse dado o Registro de Imóveis não abre a matrícula. É importante incluir, na narração dos fatos, todos os requisitos da espécie de usucapião pretendida. Assim, se for o caso de usucapião especial rural, deve o autor narrar a posse trabalho, a não existência de outra propriedade em seu nome (comprovada por certidão negativa do registro de imóveis) e a extensão compatível do terreno com a exigência legal (não superior a 50 ha, no caso de usucapião especial rural). Deve o advogado, ao demais, juntar: 6.1.4 – Documentos

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Além de procuração, comprovante do recolhimento de custas, enfim, dos documentos rotineiros de qualquer petição inicial, juntam-se:14

a) Instrumento de cessão de posse, pelo qual o autor tenha adquirido o direito, documento que deve indicar origem, data inicial e caráter da posse, descrição do imóvel, identificação do cedente (e cônjuge), cadeia de accessio ou successio possessionis. Pode ser público ou particular. Deve juntar também cópia dos instrumentos dos antecessores e respectivas cessões, provando a cadeia sucessória desde o início.

:

b) Planta do imóvel com levantamento topográfico, constante de locação15

c) Certidão atualizada do imóvel pelo Registro de Imóveis, se houver. Este documento é importante para definir o pólo passivo da ação (CPC, art.), ou então:

do imóvel (situando-o no local) de situação (entre os confrontantes), e bem assim, memorial descritivo (medidas, confrontações, vegetação, acessões) feito por profissional inscrito no CREA, acompanhado da ART – Anotação de Responsabilidade Técnica (CREA). Não existe regra fixando a escala, que pode ser 1/250, 1/500, ou outra, dependendo do imóvel, da situação e da comodidade à consulta nos autos. A lei 6969/81, § 1º do art. 5º, no caso de usucapião especial rural, dispensa, expressamente, a necessidade de juntada da respectiva planta com a petição inicial, dado o cunho social dessa espécie de usucapião. Transfere ao magistrado e aos órgãos públicos envolvidos tal responsabilidade.

d) Certidão negativa do Registro de Imóveis, frente ao Indicador Real; e) Certidões vintenárias expedidas pela Justiça Federal e pela Justiça Estadual, que atestem a existência ou não de ação possessória ou qualquer outra envolvendo o imóvel, autores e cedentes e respectivos cônjuges; f) Comprovantes de pagamento de impostos relativos ao imóvel, se houver (IPTU, ITR); g) Faturas de pagamento de energia elétrica, água ou telefone, se houver.

14 Interessante observar que na Ilha de Santa Catarina, em função dos problemas com a União Federal, a tramitação dos processos em massa pelas esferas da Justiça Federal e da Justiça Estadual, acabou definindo um perfil de exigências quanto à prova documental, que antes não se notava no foro. Daí a necessidade de apontar o rol de documentos normalmente exigidos pelos juízes, a fim de evitar as delongas que a sua falta pode provocar. 15 “Locação” aqui está no sentido de conjunto de operações com que se marcam, num terreno, os pontos de uma obra. FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 1220.

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h) Fotografias do local. Obs.: juntar jogo completo de petição inicial e cópia das plantas do imóvel para cada um dos mandados de citação a serem expedidos. 6.2 – Requerimento final Além do pedido de procedência da ação e registro da sentença no álbum imobiliário, deve o autor requerer: a) citação por mandado (CPC 942 e súmulas 263 e 391 STF): a.1 - da pessoa e cônjuge que tiverem o imóvel em nome (devidamente qualificados); a.2 – dos confrontantes com respectivos cônjuges (às vezes, a Prefeitura, no caso de confrontação do imóvel com rua municipal); b) citação por edital (CPC 942 in fine e 232,IV) b.1 dos réus em lugar incerto16

b.2 dos eventuais interessados

c) intimação por via postal (CPC, 943) para que manifestem interesse, dos representantes da Fazenda Pública da União, do Estado e do Município. d) intimação por via postal do representante do Ministério Público (CPC, 944). Obs.: assistência judiciária: a lei 1.060/50 sofreu alteração da lei 7.510/86, pelo que a condição de pobre deve ser provada por declaração do próprio interessado, na inicial ou em documento avulso, ou por procurador com poderes (art. 4º, § 1º)17. No caso específico de ação de usucapião, interessa destacar que a assistência judiciária dispensa a publicação do edital em outro jornal, bastando a publicação do órgão oficial (art. 3º, parágrafo único)18.O art. 6º da lei 6969/81 e o art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade, lei 10.257/01, incluem no benefício da assistência judiciária despesas com o Registro de Imóveis.19

16 No caso de ausente, cumpre lembrar a necessidade de nomear curador, a teor do art. 22 et seq. do Código Civil.

17 A redação atual do art. 4º, § 1º da lei 1.060/50 é a seguinte: Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos desta lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais. (Redação dada pela Lei nº 7 510, de 04/07/86). 18 É a seguinte a redação do dispositivo: Parágrafo único. A publicação de edital em jornal encarregado de divulgação de atos oficiais, na forma do inciso III,

dispensa a publicação em outro jornal. (Incluído pela Lei nº 7.288, de 18/12/84). 19 Diz o art. 6º, caput da lei 6969/81: O autor da ação de usucapião especial terá, se o pedir, o benefício da assistência judiciária gratuita,, inclusive para o Registro de Imóveis.

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Obs: os honorários advocatícios são devidos, também, por entes públicos, quando sucumbentes.20

Obs.: o valor da causa não será o valor do terreno em si, porque a sentença é meramente declaratória de uma propriedade que já existe; mas, certamente, leva-se em conta o aumento de valor que terá o imóvel, com a obtenção da sentença.

Obs. Só se inclui no pedido a área efetivamente ocupada. Quantum possessum tantum praescriptum (TJSC, ,Ap. civ. 2000.024358-2, rel. des. Dionísio Jenczak). Obs.: Na ação de usucapião, a revelia não implica, simplesmente, a procedência da ação. Não se dispensa a prova dos requisitos (TJSC, Ap. Civ. 2002.010572-0, rel. Des. Sérgio Baasch Luz). A prova do início da posse é também ônus do autor, sendo irrelevante o silêncio da contestação a respeito (TJSC, Ap. Civ. 2004.031327-7, Rel. Juiz Sérgio Izidoro Heil). 6.3 Registro da sentença no Registro de Imóveis Sentenciado o feito, a parte deve apresentar, perante o registro de imóveis, com cópia da sentença e da petição inicial, Mandado ou Ofício contendo todos os requisitos para a abertura da matrícula, previstos no art. 167 da Lei 6.015/73.21

Convém juntar, também, cópia do Cadastro Imobiliário Municipal, caso não tenha sido mencionado na petição inicial (às vezes pode ter sido providenciado após o ajuizamento da ação).

E recolhe-se, finalmente, na Recepção do Cartório, a importância (em torno) de R$ 50,00 de emolumentos e selo de autenticação.

Obs.: O art. 22, §5º da lei 4947/66, com a redação da lei 10267/01 dispõe sobre a usucapião de imóvel rural, dizendo: Nos casos de usucapião, o juiz intimará o INCRA do teor da sentença, para fins de cadastramento do imóvel rural.

20 Apelação Cível n. 2003.029498-8, de Imbituba.Relator: Des. Luiz Cézar Medeiros: Embora os honorários advocatícios se incluam no conceito de despesas judiciais, não podem ser tidos como custas judiciais, motivo pelo qual são devidos também pelos entes públicos, quando sucumbentes. 21 No caso de já haver matrícula, com registro em nome de proprietário anterior, não é incomum o Oficial do Registro mantê-la, realizando nela as anotações pertinentes à usucapião.

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ANEXO I – JURISPRUDÊNCIA DE INTERESSE CATARINENSE (Emenda 46/2005).

Apelação Cível n. 2004.025374-5, da Capital. Relator: Des. Luiz Cézar Medeiros.

CIVIL – USUCAPIÃO – POSSE VINTENÁRIA DEMONSTRADA – PRESCRIÇÃO AQUISITIVA CONFIGURADA – TERRAS LOCALIZADAS NA ILHA DE SANTA CATARINA – EC N. 46/2005 – AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO

Com a edição da Emenda Constitucional n. 46/2005 restou inequívoca a ausência de interesse da União nas ações de usucapião em que a alegação de Florianópolis estar sediada em ilha costeira consistia o único fundamento da intervenção.

Nessa situação, o atendimento do pleito da União Federal, mais de quinze anos depois da edição da sentença hostilizada, quando já sacramentado e devidamente registrado o ato aquisitivo de propriedade, se traduziria num atentado contra o princípio da segurança jurídica. A anulação da sentença e o encaminhamento do processo à Justiça Federal, além da iniqüidade da medida, não atenderia a qualquer interesse. O único efeito seria o de incutir no jurisdicionado a descrença na atividade jurisdicional e, repita-se, colocar por terra a segurança jurídica que deve emanar dos provimentos judiciais.

Consta do corpo do acórdão: “Ao sentenciar o feito, o Magistrado registrou:

“Apesar de ter havido manifestação do douto Procurador da República para que os autos fossem encaminhados à Justiça Federal, deve a Justiça Estadual decidir o presente usucapião vez que superados, desde há muito, os pareceres apresentados pela douta Fazenda Nacional. “O pedido deve ser reconhecido diretamente por se tratar de matéria exclusivamente de direito (art. 330, I, do C.P.C). “A Ilha de Santa Catarina, como ilha costeira e compondo a quase totalidade da Capital do Estado não pode ter enquadramento igual ao das outras ilhas oceânicas. “Por outro lado, ‘inexiste em nosso Direito regra que firme a presunção de serem públicas as terras que não forem objeto de transcrição...’ in RT 337/78 ‘apud’ ‘O Processo Civil à Luz da Jurisprudência’ Vol. VIII de Alexandre de Paula (pág. 21).

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“Na verdade, a nenhum Estado unitário é dado considerar como de sua propriedade terras que criaram gerações de cidadãos, simplesmente por estarem essas terras situadas numa Ilha Costeira, habitada antes mesmo que o restante do território nacional, muito menos, isso seria possível numa República Federativa e Democrática, como é o Brasil. “O Superior Tribunal de Justiça, em oportunidade em que decidiu casos idênticos, considerou competente para processar e julgar ações de usucapião de imóveis localizados na Ilha de Santa Catarina a Justiça Estadual, motivo porque indefiro o requerimento da Procuradoria da República. “Ante ao exposto, julgo procedente a presente ação de usucapião e declaro o domínio de Cláudio da Silva Braga sobre a área de terras descrita na inicial. “Após o trânsito em julgado expeça-se mandado para registro no Cartório competente. “Custas legais” (fl. 75).

E O SEGUINTE VOTO: 1. Da apelação

O recurso interposto não pode ser conhecido. Durante a tramitação do feito, sobreveio a Emenda Constitucional n. 46/2005 que, dando

nova redação ao inc. IV do art. 20 da Constituição Federal, excluiu do rol de bens da União as ilhas costeiras que sejam sede de Municípios, situação que se amolda ao presente caso.

Desse modo, conforme autoriza o art. 462 do Código de Processo Civil (RSTJ 12/290), reconheço o direito superveniente para julgar prejudicado o recurso, em razão da perda do interesse recursal, haja vista a literalidade do dispositivo constitucional citado.

Impende ressaltar que o atendimento do pleito da União Federal, mais de quinze anos depois da edição da sentença hostilizada, quando já sacramentado e devidamente registrado o ato aquisitivo de propriedade, se traduziria num atentado contra o princípio da segurança jurídica. Noutros termos, a anulação da sentença e o encaminhamento do processo à Justiça Federal, além da iniqüidade da medida, não atenderia a qualquer interesse. O único efeito seria o de incutir no jurisdicionado a descrença na atividade jurisdicional e, repita-se, colocar por terra a segurança jurídica que deve emanar dos provimentos judiciais. 2. Do reexame necessário

2.1. A mesma fundamentação poderia ser brandida para afastar a necessidade do reexame, já que ausente o interesse da pessoa jurídica de direito público que interveio no feito. Não obstante, como houve contestação pela União Federal e a sentença a ela se reportou, com a finalidade de evitar futura alegação de nulidade passa-se à análise do decisum. A sentença merece ser confirmada, pois deu o correto equacionamento à lide.

2.2. Partindo-se da premissa de que a União não possui interesse no feito, conforme o dispositivo constitucional antes mencionado, firma-se a competência da Justiça Estadual para o julgamento da lide, de modo que a sentença proferida pelo Juiz de Direito merece ser tida como válida.

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2.3. Quanto ao mérito propriamente dito, compulsando-se os autos, verifica-se que o autor comprovou a posse mansa e pacífica do imóvel por mais de 20 anos (39-41), de modo que o reconhecimento da ocorrência da prescrição aquisitiva se impõe. Do termo de depoimento de Artur João de Souza, extraem-se as seguintes informações: “que em realidade o depoente nasceu no imóvel, praticamente, o qual pertencia ao seu avô, ou mais precisamente a sua bisavó; até ser transmitido ao depoente; que a questão de dez anos, digo, 30 anos, o depoente vendeu a posse do imóvel ao sr. Máximo Pereira, que há dez o alienou ao autor, Cláudio da Silva Braga, que lá reside e ocupa integralmente o imóvel, que é cercado pelo mesmo; [...] que jamais houve qualquer litígio ou dúvida com relação as linhas divisórias do imóvel; que o depoente jamais soube de qualquer litígio envolvendo o imóvel” (fl. 39) (sic)

Do depoimento de José Silvio Cristóvão, que trabalha como topógrafo, colhem-se outros argumentos que corroboram a tese do autor:

“que o depoente é topógrafo e por volta de 1983 efetuou o levantamento topográfico do imóvel do usucapiente, de aproximadamente 136.000 m²; que a parte da frente confronta com o próprio reqte., e que nos fundos com as encostas de um morro, nas laterais com a SERTE, uma sociedade beneficente do local; que o depoente constatou a existência de marcos bem antigos e de cercas velhas; que o imóvel é bem delimitado, com divisas certas, inexistindo qualquer litígio a respeito das mesmas; que o imóvel tem a dimensão de 150 m de frente por 900, aproximadamente da frente aos fundos; que o autor é dito por todos no local como titular do domínio do imóvel e lá reside na parte da frente e atua como se fosse titular deste domínio; que o autor ainda explora este imóvel economicamente, com lavouras diversas de manutenção e ainda cafezal e bananal; que o imóvel é integralmente ocupado pelo autor; que pelo que pode observar a sua posse é mansa e pacífica, no local, o mesmo ocorrendo com seus antecessores; que o depoente conhece o imóvel há 17 anos, que pertencia a testemunha anterior e o explorava da mesma forma, que por sua vez transmitiu a Máximo Pereira, que continuou ocupando da mesma forma; que o depoente fez o levantamento topográfico a 7 ou 8 anos, mas o autor o ocupava há algum tempo, na forma supra referida” (fl. 40).

Desse modo, tem-se como correta a decisão proferida pelo Magistrado a quo, eis que a

posse mansa e pacífica restou devidamente justificada e comprovada. Além disso, não há registro do imóvel, bem como não há provas de que as terras pertençam a qualquer ente público.

Assim, se as terras não são presumidamente da União, como visto, cabia a esta a comprovação do efetivo domínio. Inexistente provas nesse sentido, a confirmação da sentença em reexame se impõe.

Sobre a matéria, colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

“CIVIL. USUCAPIÃO. ALEGAÇÃO, PELO ESTADO, DE QUE O IMÓVEL CONSTITUI TERRA DEVOLUTA. A ausência de transcrição no Ofício Imobiliário não induz a presunção de que o imóvel se inclui no rol das terras devolutas; o Estado deve provar essa alegação. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial não conhecido” (REsp n. 113255 / MT, Min. Ari Pargendler).

3. Diante do exposto, em face da superveniência da Emenda Constitucional n. 46/2005 não conheço do recurso e, em sede de reexame necessário, confirmo a sentença.

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DECISÃO:

Nos termos do voto do relator, por votação unânime, não conheceram do recurso e, em sede

de reexame, confirmaram a sentença. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Newton Trisotto e Jaime Ramos. Pela douta Procuradoria-Geral de Justiça lavrou parecer o Excelentíssimo Senhor Doutor Raulino Jacó Brüning. Florianópolis, 5 de julho 2005. Newton Trisotto PRESIDENTE Luiz Cézar Medeiros RELATOR

TRF1 - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO: AGA 51101 MA 2007.01.00.051101-5 Compartilhe Constitucional e Administrativo. Terras Situadas em Ilha Costeira. Ec-46/2005. Reconhecimento da Legitimidade do Domínio Municipal. Constituição Federal, Artigos 20, Inciso Iv e 26, Inciso Ii, Decreto-lei 9.760/46. Processo: AGA 51101 MA 2007.01.00.051101-5 Relator(a): DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA Julgamento: 18/06/2008 Órgão Julgador: QUINTA TURMA Publicação: 29/08/2008 e-DJF1 p.133

Ementa CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TERRAS SITUADAS EM ILHA COSTEIRA. EC-46/2005. RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DO DOMÍNIO MUNICIPAL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTIGOS 20, INCISO IV E 26, INCISO II, DECRETO-LEI 9.760/46. 1. "Com a superveniência da EC 46/2005, que alterou o artigo 20, IV, da Constituição Federal e retirado do domínio da União as ilhas costeiras nas quais se situam sedes de Municípios, carece a União legitimidade para contestar, em ação de usucapião, o domínio de terreno situado na ilha de Santa Catarina, onde sediado o Município de Florianópolis (...)". 449422, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 08/09/05, p. 69) 2. Quando a Constituição menciona "ilhas oceânicas e costeiras, excluídas, destas", significa que se está referindo a ilhas costeiras, ou seja, as ilhas oceânicas não estão incluídas na exceção. As ilhas costeiras que tenham zona urbana de município são do Estado. Pertence a União as áreas afetadas ao seu serviço e a unidade ambiental federal. Resta claro na Emenda Constitucional que a sede de município tem o condão de afastar a ilha costeira da dominialidade da União. 3. Os terrenos de marinha, onde quer que estejam localizados, continuam sendo do domínio da União, ex vi do art. 20, VII, in verbis: 4. A União não está impedida da cobrança de foros e laudêmios dos terrenos de marinha situados em ilhas costeiras que sejam sede de município. 5. Agravo regimental da União parcialmente provido.

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STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 724487 SC 2005/0010113-1 Compartilhe Processual Civil. Ilha de Santa Catarina. Propriedade. Usucapião. Fundamento Constitucional. Não-conhecimento. Inteiro Teor Ementa para Citação Andamento do Processo

Inteiro teor (pdf)

Dados Gerais Processo: REsp 724487 SC 2005/0010113-1 Relator(a): Ministro HERMAN BENJAMIN Julgamento: 20/11/2007 Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA Publicação: DJe 23/10/2008

Ementa PROCESSUAL CIVIL. ILHA DE SANTA CATARINA. PROPRIEDADE. USUCAPIÃO. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. NÃO-CONHECIMENTO. 1. Hipótese em que o Tribunal de Justiça fixou o entendimento de que o imóvel localizado na Ilha de Santa Catarina não é de propriedade da União, sendo passível de usucapião, analisando-se exclusivamente dispositivos das Constituições de 1967 e 1988. 2. Não houve prequestionamento, sequer implícito, a respeito do DL 9.760/46, que, segundo a recorrente, qualificaria a ilha costeira como bem federal. 3. Inviável o conhecimento do Recurso Especial, sob pena de invasão da competência exclusiva do egrégio STF. 4. Recurso Especial de que não se conhece

ANEXO II – INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS AÇÕES DE USUCAPIÃO

Ato n. 103/2004/PGJ (http://portal.mp.sc.gov.br/portal/webforms/normas/detalhes.aspx?cd_norma=145). Com destaque em vermelho para o art. 3º, XII e XIII. ATO N. 103/2004/PGJ Orienta acerca da racionalização da intervenção do Ministério Público no processo civil.

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Republicado em 10.05.2005. Alterado pelo Ato n. 251/2012/PGJ.

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, no exercício das atribuições que lhes são conferidas pelo art. 18, inciso IX, da Lei Complementar Estadual n. 197, de 13 de julho de 2000, e considerando: a) a teleologia dos preceitos constitucionais contidos nos artigos 127 e 129 da Constituição da República, que emolduram o Ministério Público como órgão predominantemente agente; b) a obrigatoriedade de interpretarem-se as normas jurídicas, entre as quais o Código de Processo Civil, em conformidade com os princípios e preceitos constitucionais; c) a legitimidade do Ministério Público para, com vista dos autos, proceder com exclusividade à análise da existência ou não de interesse por ele tutelável; d) a legítima expectativa da sociedade de ver o Ministério Público atuando com eficiência e eficácia na plenitude e exata dimensão da sua moldura constitucional; e) a necessidade de otimizar, no contexto dos valores e necessidades sociais, o resultado prático da outorga funcional conferida ao Ministério Público; f) o atraso na entrega da prestação jurisdicional, que está relacionado, também, com a falta de racionalidade da intervenção do Ministério Público no processo civil; g) as limitações de ordem financeira, inclusive aquelas estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal; h) o resultado da pesquisa acerca da intervenção do Ministério Público no processo civil, promovida pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional; i) a Carta de Florianópolis expedida pelo Conselho Nacional de Corregedores do Ministério Público, em face das conclusões do seu XLI Encontro, realizado no dia 19 de agosto do corrente, reconhecendo a necessidade da racionalização das atribuições legais da Instituição; e j) por fim, a deliberação, por expressiva maioria, do Colégio de Procuradores de Justiça, na sessão realizada no dia 29 de setembro do corrente, favorável à racionalização da intervenção do Ministério Público no processo civil, RESOLVE, respeitado o princípio da independência funcional, editar, sem caráter vinculativo, o seguinte Ato: Art. 1o Intimado a pronunciar-se na condição de fiscal da lei, o órgão do Ministério Público, não vislumbrando interesse relevante a reclamar sua tutela, poderá dar à intervenção caráter meramente formal, declinando de maneira sucinta as razões do seu posicionamento. § 1° Considera-se meramente formal a intervenção que, muito embora decorra de interpretação de dispositivo legal, não importe, necessariamente, no exercício de defesa de interesse tutelável pelo Ministério Público. § 2° A análise da presença de interesse tutelável no processo poderá ser feita subseqüentemente a cada intimação, ou a qualquer momento, a juízo do órgão do Ministério Público. § 3° É desaconselhável, para efeito de intervenção meramente formal, invocar-se, simplesmente, a inexistência de interesse público no feito. Art. 2° Quando houver intervenção em defesa de interesse tutelável, recorrendo as partes, poderá o órgão do Ministério Público de primeiro grau manifestar-se apenas sobre os pressupostos de admissibilidade do recurso. Art. 3° A intervenção do Ministério Público no processo civil, na forma prevista no art. 1° e seus parágrafos do presente Ato, poderá ser considerada nas seguintes hipóteses: I - habilitação de casamento; II - separação judicial consensual sem a presença de interesse de incapazes; III - ação de divórcio sem a presença de interesse de incapazes; IV - ação declaratória de união estável e respectiva partilha de bens sem a presença de interesse de incapazes; V - ação ordinária de partilha de bens entre pessoas capazes; VI - ação de alimentos e revisional de alimentos entre pessoas capazes; VII - ação executiva de alimentos (CPC, art. 732) entre pessoas capazes; VIII - ação relativa ao implemento de disposições de última vontade sem a presença de interesse de incapazes, salvo se envolver reconhecimento de paternidade ou legado de alimentos; IX - procedimento de jurisdição voluntária sem a presença de interesse de incapazes; X - ação para obtenção e revisão de benefício previdenciário sem a presença de interesse de incapazes; XI - ação indenizatória de direito comum decorrente de acidente do trabalho;

XII - ação de usucapião de coisa móvel; XIII - ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ressalvadas as hipóteses da Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001; XIV - requerimento de falência, na fase pré-falimentar; XV - ação de cunho patrimonial sem a presença de interesse de incapazes, em que seja parte sociedade de economia mista; XVI - ação individual de cunho patrimonial, sem a presença de interesse de incapazes, em que seja parte sociedade em liquidação extrajudicial; XVII - ação de execução fiscal e respectivos embargos; XIII - ações que envolvam discussão de direitos estatutários promovidas por servidores públicos para fim de obtenção de vantagem patrimonial; XIX - ação de repetição de indébito ou consignatória, quando forem partes o Estado ou o Município, as respectivas Fazendas Públicas, ou empresas públicas a eles vinculadas; XX - ação de desapropriação indireta, sem a presença de incapazes, exceto as que envolvam terras rurais objeto de litígio possessório coletivo ou que se destinem para fins de reforma agrária; XXI - ação ordinária de cobrança, indenizatória, possessória ou de despejo, quando forem partes o Estado ou o Município, as respectivas Fazendas Públicas, ou empresas públicas a eles vinculadas; XXII - ação anulatória de ato administrativo, embargos de terceiro, cautelares, conflito de competência ou impugnação ao valor da causa, quando forem partes o Estado ou o Município, as respectivas Fazendas Públicas, ou empresas públicas a eles vinculadas; XXIII - mandado de segurança cujo objeto se restrinja à transferência ou licenciamento de veículo sem prévio pagamento das multas de trânsito; XXIV - ação que tenha por objeto a tutela de direito individual de consumidor, de caráter não homogêneo, sem a presença de interesse de incapazes; XXV - ação que tenha por objeto a tutela de interesse particular de entidade de previdência privada. § 1º A prerrogativa de optar pela intervenção meramente formal, nos termos deste Ato, não implica renúncia ao direito de receber os autos com vista nas hipóteses em que a lei prevê a participação do Ministério Público no feito. § 2º Além das hipóteses a que alude este artigo, poderá o membro do Ministério Público optar pela não intervenção ou pela intervenção meramente formal nos processos compreendidos no contexto de Enunciados emanados da Procuradoria de Justiça Cível. (parágrafo acrescido pelo Ato PGJ n. 089 /MP, de 2 de maio de 2005 ) Art 3º- A É facultativa a intervenção do Ministério Público para efeito de homologação das rescisões de contrato de trabalho a que alude o § 3º do art. 477 da Consolidação das Leis do Trabalho. (Parágrafo acrescido pelo Ato n. 251/2012/PGJ)

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Art. 4° O presente Ato vigorará como parâmetro de orientação a partir da data de sua publicação. Florianópolis, 5 de outubro de 2004. PEDRO SÉRGIO STEIL PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA

ANEXO III – REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DA LEI 11977/2009

O auto de demarcação urbanística poderá abranger parte ou a totalidade de um ou mais imóveis inseridos em uma ou mais das seguintes situações:

I - domínio privado com proprietários não identificados, em razão de descrições imprecisas dos registros anteriores;

II - domínio privado objeto do devido registro no registro de imóveis competente, ainda que de proprietários distintos; ou

III - domínio público.” (NR)

“Art. 57. .................................................................................................................................

§ 1o Realizadas as buscas, o oficial do registro de imóveis deverá notificar o proprietário e os confrontantes da área demarcada, pessoalmente ou pelo correio, com aviso de recebimento, ou, ainda, por solicitação ao oficial de registro de títulos e documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, para, querendo, apresentarem impugnação à averbação da demarcação urbanística, no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2o O poder público responsável pela regularização deverá notificar, por edital, eventuais interessados, bem como o proprietário e os confrontantes da área demarcada, se estes não forem localizados nos endereços constantes do registro de imóveis ou naqueles fornecidos pelo poder público para notificação na forma estabelecida no § 1o.

Art. 58 Averbação de auto de demarcação urbanística pelo Poder Público.

§ 1º Título de legitimação de posse aos ocupantes cadastrados.

Art. 59 Legitimação de posse: assegura e constitui direito à moradia.

§ 1º - Condição: de que não tenham imóvel anterior, nem sejam beneficiários anteriormente.

Art. 60 A usucapião pode ser requerida cinco anos após, perante o Oficial do Registro.

§ 3º Se a área é maior que 250 m2, o interessado requererá a usucapião cabível no prazo previsto.