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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA COMPETENTE POR DISTRIBUIÇÃO DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA EM VITÓRIA, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. CARLOS ... , brasileiro, promotor de vendas, portador do Documento de identificação de nº 000.000-SSP/ES, devidamente inscrito no CPF sob o nº 000.000.000-00, e sua esposa, SARA ... , brasileira, portadora do documento de Identificação de nº

AÇÃO ORDINÁRIA REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS DO CONTRATO PARA AQUISIÇÃO DE IMÓVEL HABITACIONAL NO TOCANTE AO CREITÉRIO DE REAJUSTE DOS ENCARGOS MENSAIS E DO SALDO DEVEDOR,

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA COMPETENTE POR DISTRIBUIO DA SUBSEO JUDICIRIA EM VITRIA, ESTADO DO ESP

EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA COMPETENTE POR DISTRIBUIO DA SUBSEO JUDICIRIA EM VITRIA, ESTADO DO ESPRITO SANTO.

CARLOS ..., brasileiro, promotor de vendas, portador do Documento de identificao de n 000.000-SSP/ES, devidamente inscrito no CPF sob o n 000.000.000-00, e sua esposa, SARA ..., brasileira, portadora do documento de Identificao de n 000.000-SSP/ES, devidamente inscrita no CPF sob o n 000.000.000, residentes e domiciliados na Rua xxx, n 456, apto. 404, nesta Capital, atravs do procurador in fine subscrito, constitudo pelo instrumento de mandato incluso, vem presena de Vossa Excelncia, respeitosamente, com fulcro na Lei n 4.380/64, art. 5, 1 (instituidora da correo monetria nos Contratos Imobilirios); no Decreto-lei 22.626/33 (Lei de Usura); na Smula 121 do STF; e na Lei 8.078/90 (CDC); , propor a presente

Em face da CAIXA ECONMICA FEDERAL CEF instituio financeira sob a forma de empresa pblica federal, dotada de personalidade jurdica de direito privado, inscrita no CGC/MF sob n 00.360.305/0001-04, sediada em Braslia-DF, e com sua Agncia nesta Cidade de Vitria, na Rua Pietrngelo de Biase, n 33, CEP 29.010-190, onde dever ser citada na pessoa de seu Representante Legal dos termos da presente.DOS FATOS

Nos contratos de financiamento habitacionais, tpicos e indiscutivelmente de adeso, predomina a regra da assinatura pelo muturio no balco do agente financeiro, s pressas, sem uma leitura acurada das quase sempre ininteligveis clusulas que vo gerar obrigaes e compromissos de 10, 15 anos ou at mais.

Buscando a aquisio de um apartamento para moradia da famlia, sem recursos prprios totais para o empreendimento, os Requerentes lavraram o contrato objeto da presente demanda com a Requerida, sujeitando-se s clusulas que demonstraro abusivas e que lhes trazem enorme desvantagem.

A alienao do apartamento se operou, portanto, mediante contrato de adeso, redigido exclusivamente pela R, tolhendo a autonomia volitiva dos Requerentes (consumidores), obrigando-os a aceitar as inmeras clusulas leoninas para a concretizao do "sonho da casa prpria".

Inobstante o financiamento no ter sido operado pelas normas do Sistema Financeiro de Habitao, no estando portanto sujeito s suas normas, a autonomia da vontade no to livre que permitisse R a imposio das inmeras clusulas abusivas (como ficar devidamente demonstrado), que devero ser revisadas para restaurar o equilbrio contratual e afastar a enorme vantagem que geraram alienante.

H de se deixar consignado aqui que a j sabido que a R tm lanado e vendido outros empreendimentos, em conjunto ou separadamente, usando publicidade enganosa, consistente em iludir o Muturio/Consumidor de que pagando certo nmero de parcelas, no fim do plano, ter quitado seu imvel (publicidade enganosa por omisso).

Basta ver os processos que lotam as prateleiras de nossa Justia Federal.

Apesar de todos os esforos envidados pelo Autor, a requerida esquivou-se s responsabilidades que lhes so prprias, no atendendo s tentativas de reviso do contrato, no restando outra sada seno a interposio desta "actio".

Para melhor compreenso e esclarecimento da matria, passa-se a relacionar, em seguida, as clusulas abusivas e suas irregularidades.

1) Clusula Sexta Juros compensatrios: Sobre a quantia mutuada, at a soluo final da dvida, incidiro juros compensatrios taxa nominal de 12,00% (doze por cento) ao ano, equivalente taxa efetiva de 12,6825% (doze inteiros, seis mil oitocentos vinte e cinco dcimo-milsimo por cento) ao ano. Pargrafo nico Sobre todas as importncias despendidas pela CEF para a preservao de seus direitos, decorrentes do presente contrato, incidiro, tambm, juros taxa referida no caput desta clusula.Sem maiores esforos retricos vislumbra-se a abusividade da clusula sexta do contrato, visto que a taxa de juros efetiva do contrato supera o limite constitucional de 12% ao ano (artigo 192 da Carta Magna).

Entretanto, necessrio antecipar assunto que ser discutido em outro tpico, j que essa majorao no de apenas 0,6825% pois que o contrato adotou o sistema price, que como ser devidamente demonstrado, inaplicvel a contratos com a previso de correo monetria e eleva a taxa de juros a percentuais bem maiores que os impressos no contrato.

Para demonstrar esse fato a matemtica bem simples: o valor mutuado (Cr$-78.876.560,00 ou R$-28.682,39 o contrato foi lavrado na converso de cruzeiros reais para o real) submetido taxa de 12,6825% ao ano, ao final de 1 ano, sem que nada nesse perodo fosse pago, geraria juros compensatrios no valor de R$-3.637,64, enquanto, de acordo com a planilha fornecida pela prpria R (doc. junto), apesar de ter pago prestaes ms-a-ms, somente a ttulo de juros, no primeiro ano de contrato, pagou a importncia de R$-5.941,47, conforme transcrito abaixo:

Juros pagos julho/94421,26

Juros pagos agosto/94443,25

Juros pagos setembro/94453,71

Juros pagos outubro/94465,90

Juros pagos novembro/94476,96

Juros pagos dezembro/94490,15

Juros pagos janeiro/95503,62

Juros pagos fevereiro/95513,26

Juros pagos maro/95521,95

Juros pagos abril/95533,21

Juros pagos maio/95550,61

Juros pagos junho/95567,59

TOTAL5.941,47

FONTE: PLANILHA FORNECIDA PELA R (DOC.ANEXO)

Note, Excelncia, que no se discute aqui a auto aplicabilidade do art. 192 da Constituio (que o STF j decidiu necessitar de lei complementar), mas a tentativa de iludir o Muturio sobre uma taxa de juros que no a realmente praticada, indo de frente com o artigo 13 do Dec. Lei 22.626/33, verbis:

Art. 13. considerado delito de usura, toda a simulao ou prtica tendente a ocultar a verdadeira taxa do juro ou a fraudar os dispositivos desta lei, para o fim de sujeitar o devedor a maiores prestaes ou encargos, alm dos estabelecidos no respectivo ttulo ou instrumentoAssim deve a taxa de 12% ao ano prevalecer, pois que sua veracidade foi induzido o Muturio/Consumidor, nos termos do artigo 48, da Lei 8.078/90, verbis:

Art. 48. As declaraes de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pr-contratos relativos s relaes de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execuo especfica, nos termos do art. 84 e pargrafos

Alm disso, o pargrafo primeiro da aludida clusula obriga o Requerente (consumidor) a ressarcir os custos de cobrana de sua obrigao, sem que igual direito lhe seja conferido contra o Agente Financeiro (fornecedor), o que a torna nula, nos termos do inciso XII, do artigo 51, da Lei 8.078/90 (Cdigo de Proteo e Defesa do consumidor).

2) Clusula Stima Do Encargo Mensal: A quantia mutuada ser restituda pelo DEVEDOR CEF por meio de 180 (cento e oitenta) encargos mensais e sucessivos, sendo o primeiro encargo no valor de Cr$-1.060.052,86 (hum milho, sessenta mil, cinqenta e dois cruzeiros reais e oitenta e seis centavos), composto pela prestao de amortizao e juros de Cr$ 946.651,28 (novecentos e quarenta e seis mil, seiscentos e cinqenta e um cruzeiros reais e vinte e oito centavos), calculada pelo Sistema Francs de Amortizao (Tabela Price) e prmios de seguro de Cr$-113.401,58 (cento e treze mil, quatrocentos e um cruzeiros reais e cinqenta e oito centavos). (grifos nossos).

Percebe-se pela leitura da clusula que o contrato adotou a denominada Tabela Price para calcular o valor da primeira prestao.

O referido modelo um sistema francs de amortizao, e assim definido por Abelardo de Lima Puccini, em sua obra "Matemtica Financeira Objetiva e Aplicada (engenheiro civil pela PUC/RJ; M. S. em Engenharia Econmica pela Unifersidade de Stanford - USA, professor de matemtica financeira no IAG/PUC, ADECIF, ABEG e IBMEC; Superintendente Geral da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro de 1983 a 1987; Diretor-Presidente do Grupo Supergasbrs):"O financiamento pago em prestaes iguais, cada uma sendo subdividida em parcelas de: - juros do perodo, calculados sobre o saldo no incio do perodo;- amortizao do principal, obtida pela diferena entre o valor da prestao e o valor de juros do perodo.Essa modalidade de pagamento comumente conhecida com "Price". (texto obtido da pgina 17 da obra supra citada) (Grifos nossos)"A sua grande caracterstica ter a taxa nominal como elemento de entrada, ao passo que os fatores so calculados com a taxa efetiva dela decorrente. Assim, muito cuidado deve ser tomado com a chamada "Tabela Price", pois a taxa nominal de juros de cada tabela sempre menor do que a taxa efetiva anual correspondente, podendo essa diferena alcanar valores bastante significativos." (GRIFAMOS)(texto obtido da pgina 107 da obra supra citada)"Nos problemas desse item, usaremos um financiamento com as seguintes caractersticasPrincipal financiado = 10.000,00Taxa efetiva = 3% ao msPrazo = 10 mesesMsPrincipalJurosAmortizaoPrestao Constante

010.000,00---

19.127,69300,00872,311.172,31

28.229,21273,83898,481.172,31

37.303,78246,88925,431.172,31

46.350,58219,11953,201.172,31

55.368,79190,52981,791.172,31

64.357,54161,061.011,251.172,31

73.315,96130,731.041,581.172,31

82.243,1399,481.072,831.172,31

91.138,1167,291.105,021.172,31

10-34,201.138,111.172,31

Soma-1.723,1010.000,0011.723,10

(texto obtido da pgina 302/303 da obra supra citada)

Meritssimo Senhor Juiz:Conforme se percebe das informaes tcnicas do renomado autor, a chamada "tabela price" um sistema de amortizao constante, isto , a prestao (amortizao + juros) imutvel no decorrer do financiamento.O principal objetivo do sistema a liquidao do dbito no trmino do prazo contratual, com o percentual relativo amortizao ser crescente, no decorrer do prazo, em relao ao juro.Em seu pas de origem (Frana) o mtodo perfeito, pois l no se adota a figura da correo monetria. Toda a remunerao e correo do contrato esto embutidos na taxa de juros efetiva.No Brasil, entretanto, e em especial nos contratos habitacionais, onde se prev a incidncia de correo monetria, a "tabela price" inaplicvel, pois, ao corrigirmos monetariamente seus valores, alm de no alcanar seu principal objetivo (quitao ao final do prazo contratual), tambm haver capitalizao de juros sobre juros (j que o percentual de juros - que a remunerao do agente financeiro - tambm receber os efeitos da correo monetria) aumentando, consideravelmente, a remunerao do agente financeiro, o que vem configurar o antijurdico ANATOCISMO.Veja o resultado da incidncia da correo monetria no mesmo exemplo acima demonstrado:MsCorre MonetPrincipalJurosAmortizaoPrestao Constante

05%10.000,00---

14%9.584,08315,00915,921.230.92

25%8.986,30299,02981,141.280.16

32%8.374.52283.071.061.091.344.16

45%7.678.84256.261.114.801.371.06

53%6.703.56233.961.205.641.439.60

62%5.558.56203.721.279.071.482.79

71%4.270.36168.661.343.781.512.44

83%3.000.53129.631.397.941.527.57

95%1.667.4790.311.483.081.573.39

104%130.2948.201.603.871.652.07

Soma-2.027.8312.386.3314.414.16

Conforme se v, o percentual de remunerao do agente financeiro consideravelmente aumentado, quando a correo monetria no deveria se prestar a tal, mas simplesmente atualizar o valor principal do financiamento em decorrncia da perda de seu poder aquisitivo (inflao)Alm disso, como tambm se percebe, ao final do prazo contratual, com a incidncia da correo monetria, sempre haver resduo, o que disvirtua a caracterstica da "tabela price", cujo objetivo principal a liquidao do dbito ao final do contrato (no exemplo acima, com correo monetria fictcia, ao pagar a 10 prestao h um resduo de R$-130,29).

Imagine, Excelncia, quando esse prazo de 180 meses.Por ltimo, a adoo do referido sistema de amortizao s traz nus exagerado ao muturio, que tem sua primeira prestao majorada sem que isto lhe traga qualquer benefcio, caracterizando-se como clusula abusiva, nula de pleno direito, nos termos do artigo 51, incisos IV e XV e I e III do 1 do mesmo artigo da Lei 8.078/90 (CDC).Assim tambm entende a vasta jurisprudncia, considerando a "Tabela Price" onerosa e anatocista em contratos habitacionais:N. do Processo AG 96.01.54858-0 /BA ; AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator JUZA ELIANA CALMON (117 ) rgo Julgador QUARTA TURMA DO TRF 1 REGIOPublicao DJ 04 /09 /1997 P.70973 Ementa PROCESSO CIVIL - SFH - PRESTAES DE FINANCIAMENTO: MAJORAO.

1. Deciso equivocada quando manda que a prestao obedea Tabela Price .

2. A Tabela Price forma de clculo de juros.

3. Recurso provido.

Data Deciso 24/06/97 Deciso unanimidade, dar provimento ao recurso.Tribunal de Alada do Paran

APELACAO CIVEL 0145182-1 - IPORA - - Ac. 12070JUIZ CONV. WILDE PUGLIESE - SEGUNDA CAMARA CIVEL - Revisor: JUIZ FERNANDO VIDAL DE OLIVEIRA - Julg: 09/12/99 - DJ: 04/02/00

Por unanimidade de votos, deram provimento parcial

EXECUCAO - EMBARGOS - INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSAO DE DIVIDA ORIGINARIA DE CONTRATO DE ABERTURA DE CREDITO EM CONTA CORRENTE - DEBITO CONSOLIDADO - TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - ART. 585, INC. II, DOCPC - INTELIGENCIA DO ART. 131 DO CC - IMPOSSIBILIDADEDE DISCUTIR-SE QUESTOES SOBRE O DEBITO ANTERIOR, DADO QUE CONSOLIDADO - CDC APLICAVEL - NULIDADE DA CLAUSULA REFERENTE AOS JUROS REMUNERATORIOS DECLARADA - VEDACAO DA CAPITALIZACAO DOS JUROS - SUCUMBENCIA RECIPROCA - ALTERACAO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1.- O INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSAO DE DIVIDA,FORMALMENTE PERFEITO, E TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, COMO TAL PREVISTO NO ART. 585, INC. II, DO CPC. 2.- OCORRENDO CONSOLIDACAO DO DEBITO MEDIANTE CONFISSAO DA DIVIDA, NAO MAIS SE DISCUTEM OS VALORES ANTERIORES, EMBORA NAO SE IGNORE A ORIGEM (INTELIGENCIA DO ART. 131 DO CC). 3.- "O CONTRATO DE ABERTURA DE CREDITO ROTATIVO EMCONTA-CORRENTE, TAMBEM CONHECIDO COMO CONTA ESPECIAL OU CHEQUE ESPECIAL E UM DOS CONTRATOS BANCARIOS EM QUE MAIS FORTEMENTE SE DA A INCIDENCIA DAS NORMAS DE PROTECAO DO CONSUMIDOR, POIS, COM ESSA OPERACAO, O USUARIO DO SERVICO BANCARIO E EFETIVAMENTE O DESTINATARIO FINAL DOS RECURSOS QUE OBTEVE JUNTO AO BANCO, POR EMPRESTIMO, SENDO IRRELEVANTE QUE VA APLICAR O DINHEIRO EM PRODUCAO OU CONSUMO." (PROF. LUIZ RODRIGUES WAMBIER). 4.- A LEGISLACAO PROTECIONISTA NAO TOLERA A INCIDENCIA DE CLAUSULAS NEBULOSAS E INCOMPREENSIVEIS, A EXEMPLO DAQUELAS QUE SE REFEREM A INCIDENCIA DE JUROS REMUNERATORIOS COM BASE NA "TABELA PRICE", "METODO HAMBURGUES", "EXPONENCIAL" E OUTROS (INTELIGENCIA DO ART. 46 DO CDC). 5.- A CAPITALIZACAO DOS JUROS SOMENTE E ADMITIDA NASHIPOTESES PREVISTAS NA SUMULA N 93, DO C. STJ. 6.- RECONHECIDA A EXISTENCIA DE SUCUMBENCIA RECIPROCA,AS DESPESAS PROCESSUAIS E OS HONORARIOS ADVOCATICIOS FIXADOS SAO DISTRIBUIDOS CONSIDERANDO O QUE CADA PARTE GANHOU OU PERDEU.EMENTA: EXECUCAO. EMBARGOS. SFH. PRELIMINARES AFASTADAS. CONTROLE DE CLAUSULAS CONTRATUAIS ABUSIVAS ESTIPULADORAS DE ENCARGOS FINANCEIROS COM BASE NO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LIMITACAO DOS JUROS CONTRATUAIS, NO CASO CONCRETO, COM BASE NA CLAUSULA GERAL DE COBRANCA DE JUROS POR INSTITUICOES FINANCEIRAS ACIMA DO LIMITE LEGAL SEM EXPRESSA AUTORIZACAO DO CMN. CAPITALIZACAO PELA "TABELA PRICE" AFASTADA, FACE AO CDC E PRINCIPIO DA TRANSPARENCIA DOS CONTRATOS. CORRECAO DO VALOR DE MARCO DE 1990 PELA BTN, POIS FOI O INDICE USADO PARA CORRIGIR OS DEPOSITOS DE CADERNETA DE POUPANCA. NAO SE APLICA A TR COMO INDICE DE CORRECAO MONETARIA E SIM O INPC. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNANIME. (20FLS.) (APC N. 598588069, PRIMEIRA CAMARA ESPECIAL CIVEL, TJRS, RELATOR: DES. LUIS AUGUSTO COELHO BRAGA, JULGADO EM 30/08/2000) EMENTA: CONTRATO DE FINANCIAMENTO DIRETO AO CONSUMIDOR OU USUARIO FINAL. EMPRESTIMO. JUROS - NAO ESTAO LIMITADOS AO PATAMAR DE 12% A.A., SEJA PELA LEGISLACAO CONSTITUCIONAL COMO PELA INFRACONSTITUCIONAL. CAPITALIZACAO - APESAR DE NEGADA A SUA COBRANCA PELA INSTITUICAO FINANCEIRA, O USO DA TABELA PRICE DEMONSTRA A OCORRENCIA DE JUROS COMPOSTOS. REPETICAO DO INDEBITO - TENDO O CREDOR RECEBIDO MAIS DO QUE LHE ERA DEVIDO, CUMPRE-LHE DEVOLVER O EXCESSO JUDICIALMENTE RECONHECIDO, INDEPENDENTEMENTE DA PROVA DE ERRO. SITUACAO QUE NAO SE CONFUNDE COM A PREVISTA NO ART.965 DO CODIGO CIVIL, QUE TRATA DO PAGAMENTO DE DIVIDA INEXISTENTE. CORRECAO MONETARIA E COMISSAO DE PERMANENCIA - INVIAVEL A COBRANCA DESTA ULTIMA SOB QUALQUER HIPOTESE. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (9FLS.) (APC N. 599258498, DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL, TJRS, RELATOR: DES. JOSE FRANCISCO PELLEGRINI, JULGADO EM 16/12/1999)3) Clusula Dcima Atualizao do saldo devedor: O saldo devedor e todos os demais valores constantes desta escritura, exceo dos encargos mensais de que trata a Clusula STIMA, sero atualizados mensalmente, no dia que corresponder ao da assinatura desta escritura, mediante aplicao do ndice de remunerao bsica idntico ao utilizado para atualizao dos depsitos de poupana, com data de aniversrio no dia da assinatura desta escritura.No inteno do autor aqui discutir a legalidade ou no da Taxa Referencial, mas sim o ndice de remunerao bsica utilizado para os depsitos de poupana.

Ocorre que nos termos do artigo 12 da Lei 8.177/91, a poupana tem seu remunerador bsico aumentado de 0,5%, verbis:

"Art. 12. Em cada perodo de rendimento, os depsitos de poupana sero remunerados:

I- como remunerao bsica, por taxa correspondente acumulao das TRDs, no perodo transcorrido entre o dia do ltimo crdito de rendimento, inclusive, e o dia do crdito de rendimento, exclusive;

II- como adicional, por juros de meio por cento ao ms ..."

A Requerida, em todos os seus reajustamentos, praticou a remunerao total da Caderneta de Poupana, com os 0,5% adicionais de juros, praticando, assim, duplicidade de cobrana desse ndice, j que o contrato j prev sua prpria taxa de juros.

Tal clusula, portanto, onera o Muturio/Consumidor devendo ser revisada, para que somente a Taxa Referencial venha a indexar o saldo devedor do Requerente, como ao final requerer.

4) Clusula Dcima Primeira Saldo Residual: Ao trmino do prazo contratual, o DEVEDOR obriga-se a pagar CEF, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, de uma s vez, o saldo residual gerado pelas atualizaes, do saldo devedor aps o ltimo reclculo da prestao de amortizao e juros, declarando que tm plena cincia das origens desse saldo residual, bem como que o aceitam como encargo inerente e complementar do presente contrato. Pargrafo Primeiro: O saldo residual, at sua liquidao, estar sujeito atualizao monetria na forma prevista na Clusula DCIMA e incidncia de juros compensatrios calculados taxa convencionada na Clusula SEXTA. Pargrafo Segundo: Aps o pagamento do ltimo encargo mensal previsto neste contrato, a liberao e conseqente baixa da hipoteca, que grava o imvel objeto deste financiamento, condiciona-se ao pagamento do saldo residual de que trata o caput desta clusula.Como dito antes, o objetivo da tabela price que ao pagamento da ltima prestao contratual o saldo devedor seja liquidado. Essa lgica do Sistema Francs de Amortizao pode ser comprovada pela percia tcnica que o autor requerer.

Ora, Excelncia, se o contrato adotou esse sistema, que no gera saldo residual, qual o porqu da existncia desta clusula.

bvio que a Requerida, por desvirtuar o sentido lgico da Tabela Price sabe que haver resduo e assim acrescenta clusula para se locupletar s custas do Requerente.

Veja, excelncia o quo abusiva essa clusula, j que estipula o prazo de 48 horas para pagamento do dito resduo fazendo ainda o Muturio/Consumidor declarar sua plena cincia das origens desse saldo residual, quando a prpria r no tem cincia dessa origem.

A clusula abusiva pois que, conforme demonstraro os Autores no item abaixo no pode haver saldo residual, j que aps o pagamento da penltima prestao, o saldo devedor remanescente ser exatamente o valor da ltima prestao

O disposto nesta clausula tambm nulo de pleno direito, conforme previso do Artigo 51, IV da Lei 8.078/90, por se constituir no que a doutrina denomina de "clusula surpresa" (berraschende Klauseln), que se caracteriza por produzir um efeito que, se cognoscvel por princpios, evitaria a celebrao do prprio contrato por um dos contratantes.

Veja-se o que diz Nlson Nery Jnior (in Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor, 4a edio, Rio de Janeiro, Forense Universitria, 1995, p. 350): "A proibio da clusula surpresa tem relao com a clusula geral de boa-f, estipulada no inciso IV do Artigo 51 do CDC. Ambas configuram uma tcnica de interpretao da relao jurdica do consumidor, e, tambm, verdadeiros e abrangentes pressupostos negativos da validade e eficcia do contrato de consumo, quer dizer, as clusulas contratuais devem obedincia boa-f e eqidade e no deve surpreender o consumidor aps a concluso do negcio, pois este contrato sob certas circunstncias e devido aparncia global do contrato. (....).

Vrios critrios podem ser utilizados na investigao da surpresa extraordinria trazida por uma clusula de contrato de consumo. Uma regra pratica de grande utilidade parece aquela que coloca a questo da seguinte forma. preciso que se investigue: a) o que o consumidor espera do contrato (expectativa); b) qual o contedo das clusulas contestadas ou duvidosas. Se a discrepncia entre a expectativa do consumidor e o contedo das clusulas for to grande, a ponto de justificar a sua estupefao e desapontamento, a clusula se caracteriza como surpresa."

No caso em anlise, percebe-se que o consumidor no foi cientificado desta clusula (ao menos com clareza, por tratar-se de contrato de adeso) muito menos de seus desdobramentos. Assim, a falsa expectativa do muturio de que quitar seu imvel aps o pagamento de 180 parcelas ruir, no momento prprio, e o consumidor ver como foi enganado em sua boa-f. Sua estupefao e desapontamento ser maior ainda quando perceber que corre srios riscos de nem sequer poder quitar seu apartamento, em virtude da exorbitncia que ter que pagar nas quarenta e oito horas que sucederem ao pagamento da ltima prestao.

Quem, em s conscincia, ir admitir em fazer um financiamento, e aps ter pago as 180 parcelas no valor anunciado, e com a possibilidade de no ter como quitar a ltima prestao (resduo)? Teria o consumidor celebrado o negcio se tivesse cincia dessa situao? Claro que no. A menos que estivesse seguro de que o Judicirio corrigiria tal ilegalidade antes de ela tornar-se exeqvel. Logo, a clusula no pode prevalecer, devendo ser fulminada de nulidade, conforme preceitua o Artigo 51 do CDC.

5) Clusula Dcima Segunda Reclculo da Prestao de Amortizao e Juros: A prestao de amortizao e juros ter seu valor recalculado a cada perodo de trs meses, contados a partir da data de assinatura deste instrumento ou do crdito da ltima parcela, quando tratar-se de Construo ou Reforma/Ampliao. Pargrafo Primeiro: O reclculo ser efetuado no dia que corresponder ao da assinatura deste contrato, com base no saldo devedor atualizado monetariamente, na forma prevista na Clusula DCIMA, taxa de juros, sistema de amortizao e prazo remanescente de amortizao, pactuados no presente instrumento.Esta clusula dcima segunda do contrato demonstra claramente a abusividade na cobrana de juros, pois a cada perodo de 3 meses a prestao recalculada com base no sistema de amortizao pactuado (tabela price) e, como demonstrado anteriormente, no primeiro perodo do contrato o juro cobrado bem superior ao contratado.

Alm disso, recalculando a prestao a cada trs meses, fere-se a periodicidade dos juros contratados (ao ano)

Como tambm j dito, no se pretende aqui falar em planos vinculados ao S.F.H., mas a uma forma justa de amortizao do dbito.

Atualizando-se a prestao pela diviso do saldo devedor atualizado pela Taxa Referencial e sujeito taxa de juros pactuada (mtodo de juros simples, sem capitalizao mensal e com a periodicidade pactuada, ou seja, ao ano) pelo nmero de prestaes remanescentes do contrato, no s se obtm um valor justo como tambm a liquidao total do financiamento com o pagamento da ltima prestao.

Tudo isso se depara da inclusa planilha, elaborada por perito da Associao Paulista dos Muturios do S.F.H., entidade renomada no Estado de So Paulo na defesa dos interesses de Muturios de contratos habitacionais vinculados ou no ao S.F.H.

Assim, requerero, tambm, os Autores, a reviso da clusula acima, por ser onerosa ao Muturio/Consumidor e ofender os princpios jurdicos do sistema a que pertence.

6) Clusula Dcima Terceira Atualizao dos Prmios de Seguro: Os prmios mensais de seguro sero atualizados a cada perodo de trs meses, na mesma data de reclculo da prestao de amortizao e juros, mediante a aplicao acumulada dos trs ltimos coeficientes de atualizao monetria, que incidiram sobre o saldo devedor.Outra clusula que fere frontalmente os princpios jurdicos do sistema a que pertence a atualizao monetria dos prmios de seguro, eis que, se h erra no reajustamento da prestao tambm haver no dos seguros.

Chega a dispensar opinio tcnica a idia de um prmio de seguro ser calculado e atualizado pela Tabela Price.

O valor dos prmios de seguro devem obedecer os valores de mercado de acordo com o valor do imvel, como sabena.

Ademais, o Requerente foi compulsoriamente obrigado a adquirir o seguro do mesmo grupo integrante da Requerida, o que caracteriza venda casada, vedada pelo inciso I, do artigo 39 da Lei 8.078/90 (Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor)

Segunda Cmara Cvel do Tribunal de Alada de Minas GeraisApelao CivilData: 29/05/2001 No publicado CONTRATO DE ADESO - A imposio da instituio financeira de que se faa o seguro em contrato do sistema financeiro da habitao, com pessoa integrante do mesmo grupo econmico seu, revela venda casada, prtica abusiva e repudiada pelas leis consumeristas. - Recurso no provido. Requerero, ao final, a nulidade da clusula, com o requerimento da livre contratao do seguro em condies mais favorveis no Mercado Financeiro

DA CARACTERIZAO DA RELAO DE CONSUMO APLICAO DO CDIGO DE PROTEO E DEFESA DO CONSUMIDOR.

inegvel que o muturio integrante da relao jurdica consubstanciada no contrato de mtuo, identifica-se como consumidor nos moldes do art. 2 da Lei 8.078/90 (CDC). Ao seu turno, o agente financeiro, ao pactuar o contratro de financiamento pelo SFH, exerce duas atividades: a primeira, a concesso do crdito (produto, art. 3, 1, Lei 8.078/90); a segunda, a aprovao de financiamento ao muturio obedecendo s normas do SFH e a prestao de um servio contnuo com prazo de durao equivalente ao nmero de meses do financiamento (servio, art. 3, 2, L. 8.078/90).

Desse modo, as atividades das Requeridas esto identificadas com ambos os conceitos estabelecidos nos 1 e 2 do art. 3 do CDC: o produto: a concesso do crdito; o servio: aprovao do financiamento e a prestao de servio contnuo at o termo final do contrato.

Com efeito, os contratos de mtuo em referncia tm por finalidade o crdito de dinheiro, que utilizado para aquisio da casa prpria, caracterizando relaes jurdicas de consumo.Nessa esteira proferiu o Eg. Tribunal de Alada do Rio Grande do Sul a seguinte deciso:

"Ementa Oficial: O conceito de consumidor, por vezes, se amplia no CDC, para proteger quem "equiparado". o caso do art. 29. Para efeito das prticas comerciais e da

proteo contratual, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas, determinveis ou no, expostas s prticas nele previstas.

O CDC rege as operaes bancrias, inclusive as de mtuo ou de abertura de crdito, pois relaes de consumo.

O produto da empresa de banco o dinheiro ou o crdito, bem juridicamente consumvel, sendo, portanto, fornecedora; e consumidor, o muturio ou creditado."

Dessa forma, estando qualificados os Muturios substitudos como consumidores, lhes promove a lei a facilitao na defesa de seus direitos, por representarem a parte mais frgil na relao de consumo (princpio da vulnerabilidade do consumidor CDC, art. 4, I), prevendo a interpretao dos contratos sempre favorvel a eles e a possibilidade de inverso do nus da prova em proveito dos mesmos (CDC, arts. 47 e 6, VIII, respectivamente).

1) Significado das Expresses "de Ordem Pblica" e "Interesse Social do C.D.C.:

No artigo 1 da Lei n 8.078, de 11.09.90, dito que as normas de proteo e defesa do consumidor estabelecidas pelo Cdigo so: "de ordem pblica e interesse social ..."

Tal determinao, inserida no primeiro artigo do CDC, significa que suas regras devem ser aplicadas at mesmo de ofcio pelo Magistrado, mitigando o princpio dispositivo existente no direito processual civil.

Com efeito, no somente as clusulas apontadas pelo autor como abusivas podem sofrer os efeitos da declarao de abusividade decorrente da prestao jurisdicional, mas qualquer outra que desrespeite as regras inclusas nos artigos 51 at 54 do CDC.

Neste sentido a lio de Nelson Nery Jnior, inclusa na Revista do Consumidor n 1, editora Revista dos Tribunais, p. 201, palavras que merecem transcrio:

"O art. 1 do CDC diz que suas disposies so de ordem pblica e interesse social. Isto quer dizer, em primeiro lugar, que toda a matria constante do CDC deve ser examinada pelo juiz ex officio, independentemente de pedido da parte...".

Tal posio pacfica e dispensa maiores comentrios, eis que o artigo auto-explicativo.

No se olvide, tambm, a regra inclusa no artigo 47, quando delimitada a maneira de interpretar as clusulas contratuais modernamente.

A presente ao visa impugnar as clusulas especficas do contrato juntado, contedo, objetivo e resultados abusivos ora apontados, bem como visa retirar e ajustar as clusulas e prticas comerciais abusivas utilizadas no contrato ora examinado.

Alm destas clusulas outras podero ser reconhecidas como abusivas pelo Magistrado, j que as normas do Cdigo de Defesa do Consumidor so de ordem pblica e de interesse social, na forma j ressaltada.

Tambm deve ser destacado que o contrato impugnado dever atender s exigncias do artigo 54 e seus pargrafos, do C.D.C, pois suas disposies so de difcil leitura e no esto destacadas aquelas disposies que limitam direitos dos consumidores2) Das Conseqncias do Uso de Clusulas Abusivas em contrato de adeso:

Tanto no direito ptrio quanto no direito estrangeiro proibido o uso de clusulas abusivas em contratos de relao de consumo, em ambos os direitos a conseqncia do uso desse tipo de clusulas uma s: o reconhecimento de sua nulidade.

Sobre o assunto, a doutrina lusitana dispe: "O consumidor deve ter em ateno a possibilidade de serem inseridas, neste tipo de contratos (2), clusulas abusivas, isto , formuladas de tal forma que obriguem os consumidores contra a prpria vontade, contra os seus interesses ou mesmo em violao de normas legais. As clusulas proibidas so nulas, ou seja, no produzem qualquer efeito vlido e qualquer interessado pode invocar essa nulidade, a todo o tempo, perante o fornecedor ou perante os tribunais. (....).

Por outro lado, as clusulas que normalmente passem despercebidas, ou pela epgrafe enganosa ou pela especial apresentao grfica (por, exemplo, em caracteres reduzidos), no geram tambm quaisquer obrigaes para o consumidor.

Proibio de utilizao das clusulas abusivas:

A lei oferece outro caminho, visando j no tanto o seu contrato em particular, mas a proibio da utilizao de clusulas abusivas em qualquer contrato.

Assim, ao ter conhecimento da utilizao de clusulas proibidas, pode o consumidor comunicar a uma Associao de Consumidores, ao Provedor de Justia ou ao Ministrio Pblico, de forma a que o tribunal venha a proibir o seu uso." (Doutrina retirada do site da INFOCID, entidade portuguesa, no endereo: "http://www.infocid.pt/Infocid/1215_1.htm").

No direito brasileiro, o Artigo 51 do Cdigo de Defesa do Consumidor dispe que so nulas de pleno direito, no produzindo qualquer efeito, as clusulas abusivas e este mesmo artigo, em seu pargrafo 4o, estabelece que: " facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministrio Pblico que ajuze a competente ao para ser declarada a nulidade de clusula contratual que contrarie o disposto neste Cdigo ou que de qualquer forma no assegure o justo equilbrio entre direitos e obrigaes das partes."

Inegvel a ingerncia do princpio da autonomia da vontade no direito contratual. Tal assero, alis, integra o prprio contexto evolutivo da livre iniciativa e da liberdade mercantil, cujo pressuposto vestibular igualdade das partes.

Se de um lado sazonaram os regulamentos acerca do "pacta sunt servanda", no menos certo que estes devem ser analisados com extrema desconfiana, principalmente nos casos de contratos tipicamente de adeso.

Indubitavelmente, esta mxima cede diante do interesse pblico na subjugao do equilbrio nas relaes de consumo. Ausente este requisito, inquo qualquer dispositivo pactuado.

A maioria das transaes imobilirias opera-se atravs da assinatura de documentos nefastos, cujo contedo encerra patente agresso aos ditames legais, quer omitindo clusulas essenciais, quer limitando direitos por lei assegurados. So os chamados contratos de adeso, ardil predileto dos gananciosos, onde no h vez para as exigncias dos consumidores. Sua previso legal encontra-se positivada em nosso CDC, no art. 54, "caput", in verbis:

"Art. 54 - Contrato de adeso aquele cujas clusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servios, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu contedo".

Assim, como bem salienta Leonardo Roscoe Bessa, Promotor de Justia do Distrito Federal:

" utpico falar-se nesta rea em liberdade contratual e autonomia da vontade. No h qualquer espao para expresso da vontade do consumidor. O propalado 'pacta sunt servanda' deve ser olhado com forte desconfiana. E, ainda, depois de 'celebrado' o contrato, havendo divergncia quanto legalidade de alguma clusula, caber a ele o 'nus' de acionar a empresa, j que esta tem sempre a posse antecipada de parte do preo".

Ora, como bem se explicitou, no h que se questionar o desequilbrio existente no caso sub judice. Embados por uma lbia extremamente sedutora, os Requerentes confiaram suas reservas patrimoniais administrao das requeridas, na esperana de adquirir um imvel residencial.

Deste modo, estando repleto de clusulas restritivas e ajustes leoninos, a reformulao do contedo contratual impe-se de forma soberana.

Na Apelao Cvel n. 213.070 - 1, onde foi Relator o Juiz Duarte de Paula, a 3a Terceira Cmara do TRIBUNAL DE ALADA DE MINAS GERAIS, analisando a existncia de clusulas abusivas em contratos de adeso, assim decidiu: "A lei veda a imposio destas clusulas, mormente quando utilizadas em contratos de adeso, onde a superioridade econmica e jurdica de uma das partes leva a imposio de todas as clusulas do negcio sem qualquer possibilidade de discusso da parte mais fraca. A esta cabe somente aderir ou no aderir ao contrato, como um todo, sem previso alguma de negociao para efeito de acordo, j que o contrato lhe apresentado pronto, estereotipado, alheio a qualquer restrio humana, fato que compromete sobremaneira o prestgio da autonomia da vontade". (Ac. Da 3a Cm. Civ. Do TAMG - ApCiv 213.070 - 1 - rel. Juiz Duarte de Paula - j. 15.05.1996 - v.u.)

Na atual fase de globalizao, bem assim da corrida tecnolgica averiguada nos diversos mtodos de produo, o consumidor o alvo imediato das vidas concentraes capitalistas. A pea mais frgil nesta execrvel corrente de dominao econmica.

Outrossim, a Constituio Federal e o Cdigo do Consumidor, como instrumentos da Justia que so, patrocinam arrimo ao consumidor indefeso, esbulhado em seus direitos, proporcionando o acesso quilo que lhe prprio. Altercando sobre sua hipossuficincia, reza o artigo 4o deste Cdex: "Art. 4o - A poltica Nacional de Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transferncia e harmonia das relaes de consumo, atendidos os seguintes princpios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo".

Magistratura incumbe zelar por relaes sociais harmnicas, bem assim propugnar pelo equilbrio ora inexistente, expungindo do contrato todas as clusulas abusivas. Nos termos da lei protetiva, principalmente no que dispe seu artigo 51:

"Artigo 51 - So nulas de pleno direito, entre outras, as clusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e servios que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vcios de qualquer natureza dos produtos e servios ou impliquem renncia ou disposio de direitos. Nas relaes de consumo entre fornecedor e o consumidor, pessoa jurdica, a indenizao poder ser limitada, em situaes justificveis;

II - subtraiam ao consumidor a opo de reembolso da quantia j paga, nos casos previstos neste Cdigo;

(....);

IV - estabeleam obrigaes consideradas inquias, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatveis com a boa-f ou a eqidade;

(....);

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negcio jurdico pelo consumidor;

(....);

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variao do preo de maneira unilateral;

(....);

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrana de sua obrigao, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o contedo ou a qualidade do contrato, aps sua celebrao;

(....);

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteo do consumidor;

XVI - possibilitem a renncia do direito de indenizao por benfeitorias necessrias.

1 - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princpios fundamentais do sistema jurdico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigaes fundamentais inerentes natureza do contrato, de tal modo a ameaar seu objeto ou o equilbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e contedo do contrato, o interesse das partes e outras circunstncias peculiares ao caso.

2 - A nulidade de uma clusula contratual abusiva no invalida o contrato, exceto quando de sua ausncia, apesar dos esforos de integrao, decorrer nus excessivo a qualquer das partes.

(....).

4 - facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministrio Pblico que ajuze a competente ao para ser declarada a nulidade de clusula contratual que contrarie o disposto neste Cdigo ou que de qualquer forma no assegure o justo equilbrio entre direitos e obrigaes das partes."

"Artigo 52 - No fornecimento de produtos ou servios que envolva outorga de crdito ou concesso de financiamento ao consumidor, o fornecedor dever, entre outros requisitos, inform-lo prvia e adequadamente sobre:

I - preo do produto ou servio em moeda corrente nacional;

II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

III - acrscimos legalmente previstos;

IV - nmero e periodicidade das prestaes;

V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

1 - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigaes no seu termo no podero ser superiores a 2% (dois por cento) do valor da prestao. (Nova redao dada pelo Art. 1 da Lei n. 9.298, de 1/08/96).

Pontifica Nelson Nery Jnior que "Por sistema de proteo ao consumidor h de se entender no apenas o Cdigo de Defesa do Consumidor, mas, tambm, aqueles diplomas legais, que, indiretamente, visem a proteo do consumidor, entre os quais pode-se citar a Lei de Economia Popular (Lei 1.521/51)".

Em comentrios a esta Lei, Nelson Hungria declara guerra aos dardanrios, profiteurs e burles, que no sabem acomodar seu prprio interesse com os do pblico, desconhecendo que direito algum pode ser exercido em contraste com o princpio da solidariedade social.

Assevera, ainda, o jurisconsulto: "As vidas concentraes capitalistas, o arbtrio dos interesses individuais coligados, a opresso econmica, a artificial desnormalizao dos preos, os lucros onzenrios, o indevido enriquecimento de alguns em prejuzo do maior nmero, as arapucas para a captao do dinheiro do povo, as clusulas leoninas nas vendas a prestaes, o viciamento dos pesos e medidas, e, em geral, as burlas empregadas em detrimento da bolsa popular j no podero vingar impunemente".

Neste sentido torna-se imprescindvel a atuao jurisdicional a fim de repelir as clusulas abusivas, retificar as imperfeies contratuais, bem como suprir as omisses verificadas, restabelecendo o equilbrio nas relaes de consumo.

Dos Pedidos

Por todo acima exposto os Autores requerem respeitosamente a Vossa Excelncia:

a) Seja revisada a clusula sexta do contrato, para que fique convencionada a taxa de 12% ao ano a ser aplicada sobre a dvida pelo mtodo de juros simples e na periodicidade pactuada, assim como declarado nulo o seu pargrafo primeiro, por obrigar o Requerente (consumidor) a ressarcir os custos de cobrana de sua obrigao, sem que igual direito lhe seja conferido contra o Agente Financeiro (fornecedor);b) Seja declarada nula a clusula stima do contrato que estipula a tabela price como forma de clculo para determinar que o valor das prestaes seja apurado pela diviso do saldo devedor atualizado pelo mtodo de juros simples pelo nmero de parcelas remanescentes, na forma da planilha acostada a esta inicial.

c) Seja determinado a aplicao correta da clusula dcima para que o saldo devedor seja atualizado mensalmente pelo ndice de remunerao bsica aplicvel aos depsitos de poupana somente, sem o adicional de 0,5%;

d) Seja declarada nula a clusula dcima primeira por ser impossvel a existncia de saldo residual se corretamente aplicados a correo monetria e a taxa de juros sobre o dbito, restando uma clusula abusiva e com finalidade especfica de locupletamento do Agente Financeiro sobre o Muturio/Consumidor.

e) Seja declarada nula a clusula dcima segunda por ser incompatvel com a espcie de financiamento um novo reclculo da prestao a cada perodo de trs meses, sobremaneira pelo sistema price, pelos motivos j expostos;

f) Seja declarada nula a clusula dcima terceira para tambm declarar a liberdade de os Requerentes/Consumidores de contratar livremente com qualquer seguradora do Mercado Financeiro;

g) Como conseqncia dos requerimentos anteriores sejam revistos os valores das prestaes e do saldo devedor do financiamento dos Requerentes com a Requerida, adequando-os aos princpios enunciados nesta inicial e nos termos apurados na necessria percia.

h) DA TUTELA ANTECIPADA - A fim de salvaguardar os direitos dos Requerentes, ante o real e iminente risco de incorrerem em inadimplncia face aos exorbitantes aumentos lanados nas prestaes dos mtuos pelos abusos cometidos pela Requerida, situao que inclusive s ainda no ocorreu em virtude do sacrifcio com abdicao de outras necessidades dos Autores e para que no venham a sofrer dano irreparvel com eventual retardo no provimento jurisdicional da matria discutida na presente ao, em virtude do gil mecanismo executrio de que dispe o agente financeiro contra muturios em mora, qual seja, a temvel "execuo extrajudicial" instituda pelo Decreto-lei n 70/66 (cuja constitucionalidade h muito tem sido discutida, antes mesmo da promulgao da CF/88), vm os Autores agora pleitear receando perder seu imvel ao agente financeiro antes mesmo de uma deciso judicial final deste processo a antecipao dos efeitos de eventual sentena procedente, na forma do art. 273, I, do CPC c/c o artigo 84 da Lei 8.078/90, determinando como resultado prtico equivalente ao adimplemento o pagamento das prestaes diretamente Requerida ou por depsito judicial no valor expresso na planilha de clculo juntada, haja vista a verossimilhana do direito invocado, que se traduz no fumus boni iuris; este, encontra-se aqui flagrante, tendo em vista a vedao legal da capitalizao de juros contida no bojo do Decreto-lei 22.626/33, e tambm a vinculante deciso proferida na Smula 121 considerando imprestvel a Tabela Price para os contratos com previso de correo monetria futura, e ainda a abundante doutrina e jurisprudncia de nossos Tribunais corroborando e legitimando a pretenso da Autora.

De igual modo resta patente in casu o periculum in mora, pois, caso no seja antecipada (ainda que parcialmente) a tutela judicial pretendida, podero os Requerentes, a qualquer momento, se tornar inadimplentes ante a onerosidade dos ilegais aumentos exigidos pela Requerida, existindo nesse caso o perigo de terem expropiados sumariamente seus respectivos imveis (dano irreparvel), mediante o excepcional e "violento" procedimento da execuo extrajudicial, que corre margem do Judicirio, sem observncia das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditrio ao muturio executado.No concedida a tutela agora, h o efetivo risco de terem os Requerentes seu direito solapado, antes da prolao de uma deciso judicial final do litgio, a qual, se pela procedncia do pedido, poder no lhes ser de proveito, eis que j teriam sido expropriados os imveis pelo agente financeiro. Cumpre asseverar que o deferimento da tutela antecipada no representa qualquer perigo Requerida, pois estea continuar tendo em seu favor as garantias reais traduzidas nas hipotecas dos imveis. i) Os benefcios legais da interpretao contratual favorvel aos muturios-consumidores (CDC, art. 47) e da possibilidade de inverso do nus da prova em proveito dos mesmos (CDC, inciso VIII, art. 6), em reconhecimento da sua hipossuficincia frente aos Requeridos (CDC, inciso I, art. 4);

j) Outrossim, requer a CITAO doa Requerida no endereo desta Capital (retro) para que, querendo, conteste os termos da presente sob as penas da lei, e a CIENTIFICAO do ilustre Representante do Ministrio Pblico Federal, custos legis, de conformidade com o art. 92, da Lei 8.078/90.

k) Seja ao final julgado procedente o pedido com a condenao da Requerida, tambm, em custas processuais, honorrios advocatcios e demais cominaes legais.

Sendo a matria toda de direito e documental a prova, desnecessria, data venia, a dilao probatria, salvo a percia tcnica; entretanto, caso assim no entenda Vossa Excelncia, protesta pela juntada posterior de documentos, e pelos depoimentos pessoais dos representantes legais dos Requeridos, sem prescindir de outros meios de prova em Direito admitidos e moralmente legtimos.

D-se causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), nos termos do artigo 259 do Cdigo de Processo Civil

Termos em que,

Com os inclusos documentos

P. e E. Deferimento

Vitria(ES), 13 de maro de 2002.

Advogado

AO ORDINRIA REVISIONAL DE CLUSULAS CONTRATUAIS DO CONTRATO PARA AQUISIO DE IMVEL HABITACIONAL NO TOCANTE AO CREITRIO DE REAJUSTE DOS ENCARGOS MENSAIS E DO SALDO DEVEDOR, cumulada com PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA