36
Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai www.paulomargotot.com.br Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF Turma VII

Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai Escola Superior de Ciências

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Caso Clínico:Cetoacidose diabética

Bruno Oliveira LimaBruno Nogueira César

Coordenação: Luciana Sugaiwww.paulomargotot.com.br

Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF

Turma VII

Page 2: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PS- HRAS – 16/01 - 13:42

ID: ACCL, 6a e 6m, parda, estudante,natural de Taguatinga-DF, procedente de Recanto das Emas – DF.

QP: `` Vômitos há 18 horas``

HDA: Mãe refere que paciente iniciou iniciou vômitos há 18 horas, cerca de 10 episódios. Relata que criança pedia várias vezes para tomar água, mas vomitava tudo. Refere ainda cefaléia e dor abdominal. Nega diarréia, febre, TCE. Forneceu metoclopramida via oral , que logo em seguida foi rejeitada pela criança. Diurese presente e normal. Ultima refeição há 20 horas: cachorro-quente e refrigerante.

RS: Às vezes sente fraqueza e sudorese.

Page 3: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PS- HRAS – 16/01 - 13:42

Antecedentes:

Fisiológicos:

Parto cesáreo devido a desproporção céfalo-pélvica, sem intercorrências, a termo, com 3,5kg e 51cm(SIC). Mãe não traz cartão da criança, mas relata gestação sem outras intercorrências, realizou pré-natal ( 8 consultas) com realização de sorologias, exame de imagem sem alterações. Aleitamento exclusivo materno até os 6 meses. Falou e Andou com 1 ano. Bom rendimento Escolar.

Patológicos:

Cartão de vacinas completo (sic – mãe não trouxe cartão da criança). Refere 4 internações prévias: 1a, 3a, 3a e 6m: Pneumonias ;4 anos: otite média supurada. Quadros com boa resolução sem complicações ou sequelas. Nega cirurgias prévias utilização de medicação controlada, doenças crônico-degenerativas, trauma ou transfusão sanguinea. Nega alergia medicamentosa ou a outras substâncias.

Page 4: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PS- HRAS – 16/01 - 13:42 Antecedentes:

Fisiológicos:

Parto cesáreo devido a desproporção céfalo-pélvica, sem intercorrências, a termo, com 3,5kg e 51cm(SIC). Mãe não traz cartão da criança, mas relata gestação sem outras intercorrências, realizou pré-natal ( 8 consultas) com realização de sorologias, exame de imagem sem alterações. Aleitamento exclusivo materno até os 6 meses. Falou e Andou com 1 ano. Bom rendimento Escolar.

Patológicos:

Cartão de vacinas completo (sic – mãe não trouxe cartão da criança). Refere 4 internações prévias: 1a, 3a, 3a e 6m: Pneumonias ;4 anos: otite média supurada. Quadros com boa resolução sem complicações ou sequelas. Nega cirurgias prévias utilização de medicação controlada, doenças crônico-degenerativas, trauma ou transfusão sanguínea Nega alergia medicamentosa ou a outras substâncias.

Page 5: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PS- HRAS – 16/01 - 13:42

Antecedentes:

Familiares:

Mãe, 29 anos, hígida. Pai, 28 anos, hígido. Irmã, 11 anos, hígida. Avó materna apresenta DM tipo II. Nega história de HAS, CA ou outras condições crônico-degenerativas na família.

Hábitos de vida:

Mora em zona urbana, em casa de alvenaria, com saneamento básico, luz com 3 pessoas. Sem animas de estimação. Condição socioeconômica satisfatória e pais com ensino médio completo.

Page 6: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PS- HRAS – 16/01 - 13:42

Exame físico:

BEG, eupnéica, hipocorada, desidratada (2+/4), anictérica, não toxemiada.

Abdome- plano, flácido, sem VMG ou massas palpáveis. RHA+. Blumberg negativo.

AR- MVF, sem RA, sem tiragens. FR- 22 irpm.

ACV- RCR, 2T, BNF, sem sopros. FC- 120 bpm.

Orofaringe- otoscopia- normais.

SNC- hipoativa. Sem SIM. Glasgow 15.

Pele- sem petéquias ou equimoses.

Extremidades- bem perfundidas, sem edema. TEC=2"

Orofaringe- otoscopia- normais

Page 7: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Hemograma completo:

Hemácias 4.74 x106/uL

Hemoglobina 13.7g/dl

Hematócrito 38.5%

VCM 81.2fl ; HCM 28.9pg; CHCM 35.6g/dl; RDW 14.5%

Leucócitos 26.000 (seg 93% - eos 0% - bas 0% - lif 6% - bast 0,5%)

Plaquetas 332.000

Eletrólitos:

Ca 11,2 mg/dl

P 6,1mg/dl

K 4,7 meq/L

Na 142 meq/L

Page 8: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS?

Page 9: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Dx=390mg/dl

GASA: pH=7,31 pO2=88,5 mmHgpCO2=20,9 mmHg HCO3=10,4 Meq/l satO2= 96,5%

EAS:

Dens 1010PH 5,6Prot +Cet +++Hem 0Cilindros hialinos

Page 10: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Bruno Oliveira LimaBruno Nogueira César

Turma VIIMedicina – ESCS

Page 11: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Cetoacidose = Acidose metabólica causada por altas concentrações de cetoácidos.

Etiologia:

- DM - Primodescompensação -Omissão de insulina -Infecções (PNM, ITU) - Excesso alimentar

Outros:- Drogas que aumentam metabolismo de carboidratos

(corticóide, B-Bloq)

Page 12: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Fisiopatologia

Page 13: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Fisiopatologia

Page 14: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

1)Baixa de insulina → aumento de hormônios contra-reguladores →

Glicogenólise, gliconeogênese e diminuição da utilização periférica de glicose → hiperglicemia

1) Aumento de glucagon → inibição de malonil-CoA → aumento de CPT → aumento de oxidação de ác. graxos → Cetose

Page 15: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Fisiopatologia

Page 16: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

2) Hiperglicemia → Glicosúria → Diurese osmótica → Desidratação/choque

3) Cetose → Acidose metabólica

4) Edema cerebral – por mecanismo vasogênico inicial de quebra da barreira hematoliquórica ou por inadequada terapia.

Page 17: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências
Page 18: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose DiabéticaQuadro Clínico- Agudo ( 2 – 48 hrs)- Vômito, desconforto abdominal, poliúria e polidipsia.

EF: -Desidratado; -Alerta(50%), letárgico (40%) ou insconsciente(10%).- T < 34ºC (* febre → infecção?)- Respiração de Kussmaul- Hálito cetônico

Page 19: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose DiabéticaQuadro Clínico- Agudo ( 2 – 48 hrs)- Vômito, desconforto abdominal, poliúria e polidipsia.

EF: -Desidratado; -Alerta(50%), letárgico (40%) ou insconsciente(10%).- T < 34ºC (* febre → infecção?)- Respiração de Kussmaul- Hálito cetônico

Respiração com uma inspiração profunda, mas bastante rápida, seguida de uma pausa; uma expiração súbita e gemente, seguida igualmente por nova pausa; trata-se de uma hiperventilação alveolar que tende a compensação

Page 20: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cetoacidose diabética

Laboratório- Glicemia > 300mg/dl- ph < 7,3- HCO3- < 15meq/l- Moderada cetonúriaOutros:- Baixa de Na+- K+ alto ou normal

Page 21: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Tratamento

Protocolo de tratamento de cetoacidose metabólica

European Society for Pediatric Endocrinology

Lawson Wilkins Pediatric Endocrine Society

Departamento de End. Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria

Page 22: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Princípios do tratamento

• Corrigir distúrbios hidreletrolíticos,

• Restabelecer função cardiovascular e

ventilatória,

• Insulinoterapia (interromper formação ácido),

• Corrigir a acidose,

• Monitorar e tratar co-morbidades e

complicações.

Page 23: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Hidratação

• Reposição da desidratação com soro fisiológico 0,9% em

6h*, + hidratação de manutenção (Holiday).

• Em caso de choque: SF 0,9% a 20 ml/kg/hora, repetir se

necessário.

• Excesso de líquido está associado a edema cerebral!

* Se osmolaridade > 320,repor depleção em 12h.

Osm= 2x(Na+K) + glicose /18+uréia/6

Page 24: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Cálculo da hidratação

• Deve-se calcular o Volume do compartimento extra-celular e seu deficit.

Page 25: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Hidratação de manutenção (Holiday)

• Deve ser instituída no início do tto.• Eletrólitos calculados normalmente.• Escolha do SG depende da glicemia.

Transformação com glicose 50%:

SG 5% em 7,5% volume 17SG 5% em 10% volume 8

Page 26: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Potássio

• Cálculo do Kcal:• 0-10Kg: 1Kg= 1Kcal• 10-20Kg: 10 Kcal + 0,5 Kcal/ Kg >10 kg• >20Kg: 15 Kcal + 0,2 Kcal/ Kg >20kg

Page 27: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Bicarbonato

• Somente se pH 6,9 ou hipotensão ou arritmia

• Bic a administrar (mEq) = (12 – Bic encontrado) x EEC(L) x 2

• A solução de Bic 8,4% fornece 1mEq/ml. Deve-se diluir o Bic 8,4% com água destilada 1:6 para torná-la mais fisiológica.

• Metade da correção será infundida em 6 horas.

• Volume do Bic não deve ser contabilizada na hidratação de correção.

• Bicarbonato em bolus pode precipitar arritmia cardíaca (Agus et al, 2005).

Page 28: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Insulina

• Insulina regular

• 0,1UI/kg/hora,

• EV ou IM,

• até cetonúria ≤ 2+

&

glicemia < 300mg/dL

Page 29: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Insulina• Monitorar glicemia capilar e cetonúria de h/h até correção da acidose.

• A glicemia deve idealmente diminuir 70mg/dl por hora.

• Com 6 h de evolução coletar controle de gasometria e eletrólitos.

• Se acidose for corrigida (pH>7.3 e bicarbonato >15) e já foram

aplicadas pelo menos 3 doses de insulina IM, o paciente passa a

receber insulina regular subcutânea a cada 4 horas, como manutenção,

conforme tabela.

Page 30: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Resolvida a acidose

Page 31: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Dieta

• Paciente sem acidose, consciente e sem vômitos,

• Iniciar com líquidos ricos em potássio,

• Volume calórico de acordo com peso, dividido em 6 refeições,

• Dispor de lanche extra para corrigir possíveis hipoglicemias.

Page 32: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Complicações

• Hipoglicemia• Hipopotassemia• Hiponatremia dilucional

Na desejado - Na encontrado x 0,6 x P (Na desejado = 125-130mEq/l)

• Pseudo-hipoNa: lipídeos séricos • Hipocalcemia• Hipofosfatemia (corrigir se P < 2,5) • Insuficiência renal aguda• Edema cerebral!!!!

Page 33: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Iniciar insulina

• Iniciar após resolvida acidose, pela manhã em paciente com dieta oral.

• Atualmente SES/DF disponibiliza insulina glargina e ultra rápida para DM I.

• Calcula-se o total de insulina utilizada na correção conforme glicemia em 24h.

• Metade dessa dose deve ser prescrita para cada insulina.

Page 34: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

PONTOS IMPORTANTES DURANTE AJUSTE DA DOSE:FENÔMENO DO ALVORECER:

Aumento nas glicemias que ocorrem nas primeiras horas da manhã, entre 05h e 08h. Nesse momento, o corpo libera contra-reguladores que estimulam a liberação de glicose pelo fígado e suprimem a atividade da insulina, causando aumento nas glicemias pela manhã.

TRATAMENTO: aumentar a dose de insulina basal (NPH, glargina ou detemir) ou uso se bomba de insulina.

EFEITO SOMOGYI:

A liberação de hormônios contra-reguladores após hipoglicemia na madrugada provoca hiperglicemia de rebote pela manhã.

TRATAMENTO: diminuir a dose de insulina basal (NPH, glargina ou detemir) e/ou fornecer mais alimentos na ceia.

Page 35: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

Período de lua-de-mel

• Pacientes com DM I que recuperam parcialmente função pancreática após abertura do quadro.

• Necessidade de insulina mínimas ou mesmo não necessitam de insulina temporariamente.

Page 36: Caso Clínico:Cetoacidose diabética Bruno Oliveira Lima Bruno Nogueira César Coordenação: Luciana Sugai  Escola Superior de Ciências

FIM!