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1 DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL Princípio da legalidade: previsto no art. 1 o do Cód. Penal, ... não há crime sem lei anterior que o defina, no há pena sem previa cominação legal (art. 5 o , XXXIX, da CF). Há dois princípios inseridos neste princípio: princípio da reserva legal (somente há crime e pena mediante lei) e princípio da anterioridade (a lei que define o rime e comina a pena deve ser anterior ao fato praticado). Este princípio deve ser observado somente na norma penal incriminadora. A norma penal não incriminadora, para ser aplicada, não precisa ser anterior ao fato, beneficiando o réu. LEI PENAL NO TEMPO Princípio tempus regit actum a eficácia da lei penal no tempo é regida pelo princípio do tempus regit actum. Se alguém praticar um fato criminoso a lei a ser aplicada é a lei vigente ao tempo do fato. .Primeiro deve existir a lei vigente ao tempo do fato. A lei deve ser anterior ao fato e deve estar em vigência ao tempo do fato. Vacatio legis: é o período compreendido entre a publicação de uma lei e sua vigência, art. 1 o da LCC. Na falta de estipulação expressa, a lei passa a vigorar 45 dias de sua publicação. Se uma lei penal for publicada, mas ainda não entrou em vigor, este período é denominado vacatio legis. Ainda que alguém pratique o fato descrito nesta lei como sendo criminoso, não praticará crime. Porque essa lei somente será exigida quanto entrar em vigor (tempus regit actum). Com a publicação, a lei será conhecida por todos, entrará em vigor após a vacatio legis e permanecerá em vigência até ser revogada. A revogação pode ser: Revogação expressa: quando a lei posterior declara expressamente a revogação da anterior (... ficam revogadas as disposições em contrário). Revogação tácita; embora a lei não fale expressamente que a lei anterior foi revogada, existe incompatibilidade entre elas (leis). Revogação parcial: derrogação Revogação total: ab-rogação. Costume não revoga lei (art. 2 o , § 1 o , da LICC). Enquanto a lei não for revogada por outra, permanecerá em vigor. 1

Direito penal 7ª apostila

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DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Princípio da legalidade: previsto no art. 1 o do Cód. Penal, ... não há crime sem lei anterior que o defina, no há pena sem previa cominação legal (art. 5o, XXXIX, da CF). Há dois princípios inseridos neste princípio: princípio da reserva legal (somente há crime e pena mediante lei) e princípio da anterioridade (a lei que define o rime e comina a pena deve ser anterior ao fato praticado).

Este princípio deve ser observado somente na norma penal incriminadora. A norma penal não incriminadora, para ser aplicada, não precisa ser anterior ao fato, beneficiando o réu.

LEI PENAL NO TEMPO

Princípio tempus regit actum a eficácia da lei penal no tempo é regida pelo princípio do tempus regit actum. Se alguém praticar um fato criminoso a lei a ser aplicada é a lei vigente ao tempo do fato.

.Primeiro deve existir a lei vigente ao tempo do fato. A lei deve ser anterior ao fato e deve estar em vigência ao tempo do fato.

Vacatio legis: é o período compreendido entre a publicação de uma lei e sua vigência, art. 1 o da LCC. Na falta de estipulação expressa, a lei passa a vigorar 45 dias de sua publicação. Se uma lei penal for publicada, mas ainda não entrou em vigor, este período é denominado vacatio legis. Ainda que alguém pratique o fato descrito nesta lei como sendo criminoso, não praticará crime. Porque essa lei somente será exigida quanto entrar em vigor (tempus regit actum).

Com a publicação, a lei será conhecida por todos, entrará em vigor após a vacatio legis e permanecerá em vigência até ser revogada.

A revogação pode ser:

• Revogação expressa: quando a lei posterior declara expressamente a revogação da anterior (... ficam revogadas as disposições em contrário).

• Revogação tácita; embora a lei não fale expressamente que a lei anterior foi revogada, existe incompatibilidade entre elas (leis).

• Revogação parcial: derrogação • Revogação total: ab-rogação.

Costume não revoga lei (art. 2 o, § 1 o , da LICC). Enquanto a lei não for revogada por outra, permanecerá em vigor.

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Conflito intertemporal ou conflito de leis no tempo

Conflito intertemporal é o conflito de leis penais no tempo. Ocorre quando leis penais, que tratam do mesmo assunto, mas de maneira (modo) diversa, sucedem-se no tempo, havendo a necessidade de se decidir qual a aplicável.

No caso, resolve-se a problemática com a aplicação conjunta de dois princípios:

• Irretroatividade da lei mais severa e • Retroatividade da lei mais benéfica.

Portanto, a lei mais benéfica sempre será aplicada ao réu, art. 2 o, § único do Cód. Penal e art. 5o, XL da CF.

No Direito Penal o conflito intertemporal será solucionado sempre com a aplicação da lei mais benéfica.

Alguém pratica um fato durante a vigência da lei A. Depois a lei B revoga a lei A, qual será aplicada?

Se a lei B for mais benéfica para o agente, será aplicada a quem cometeu o crime quando da vigência da lei A = lei retroativa.

Se a lei A for mais benéfica para o agente, embora revogada pela lei B, continuará a ser aplicada no caso concreto = lei ultrativa.

E, nesse caso a Lei B será = irretroativa.

Hipótese de conflito intertemporal mencionadas pela doutrina:

• Abolitio criminis: ocorre quando a lei posterior (nova) não considera crime (descriminaliza) conduta antes considerada crime, (art. 240, caput do Cód. Penal). Ex: crime de adultério, art. 240 do Cód. Penal, foi revogado pela lei n° 11106/2005; crime de sedução, revogado pela Lei 11106/2005. A abolitio criminis faz cessar4 a execução e os efeitos penais (principais e secundários), salvo os efeitos civis, que não cessam. A abolitio criminis tem natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade.

• Novatio legis incriminadora: A lei nova tipifica uma situação como crime, que antes era considerada lícita. A lei nova incriminadora nunca poderá um fato passado (pretérito) -princípio da legalidade.

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• Novatio legis in mellius: embora considere ou mantenha o fato como crime, trata de forma mais benéfica a situação do autor. Nesse caso, por ser mais favorável, sempre retroage para beneficiar o réu (art. 2 o, § único do Cód. Penal).

• Novatio legis in pejus: a nova lei que, mantendo o fato como crime, passar a tratar de forma mais grave (menos benéfica) a situação do réu. Aplicando-se, no caso o princípio da irretroatividade da lei mais severa (a primeira continua a ser aplicada, mesmo que já revogada = ultrativa). Ex. a lei Maria da Penha, n. 11340/2006 alterou os dispositivos, a redação do art. 9 o e acrescentou o §11 ao art. 129 do Cód. Penal, tratando de forma mais gravosa o crime de lesão corporal praticado em violência doméstica. Não retroage para alcançar fatos anteriores à sua vigência, pois aumentou a pena para esse crime.

É possível combinar duas leis? A lei A e a lei B, sendo a lei A melhor em um aspecto e a lei B em outro? Sim, sentido afirmativo é a corrente majoritária. Assim como o Supremo Tribunal Federal já admitiu combinação de lei para beneficiar o acusado (Damásio de Jesus, Frederico marques, Rogério Greco, Cesar Roberto Bitencourt, Magalhães Noronha).

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A competência para aplicação da Lei mais benéfica é antes da sentença, o juiz de primeiro grau; durante recurso é do Tribunal encarregado de julgar o recurso. Após o transito em julgado da sentença condenatória é do juiz de execução, não sendo admitida em Revisão Criminal, art. 66, I da Lei de Execuções Penais, n. 7210/84 e Súmula 611 do Supremo Tribunal Federal.

Crimes Permanentes e Crimes continuados

Crime permanente é aquele cujo momento consumativo se alonga protrai-se, perdura no tempo.

Crime continuado ocorre quando o agente, por meio de mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie em condições objetivas semelhantes, sendo os crimes subsequentes tidos como continuação do primeiro. Ex: crime de sequestro, art. 148 do Cód. Penal.

A sequestra B e a pena do sequestro é de 1 a 3 anos. No dia seguinte, quando A ainda mantém B em seu poder, entra em vigor uma nova lei aumentando a pena do crime de sequestro e ele é preso. A lei a ser aplicada, é a lei nova, embora mais grave, tanto faz se melhor ou pior. Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal. A lei penal mais grave aplica-se ao crime

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continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Leis temporárias e leis excepcionais

. As leis temporárias e leis excepcionais são feitas para durar por período (tempo) determinado (intermitentes).

São editadas para regular situações transitórias e, portanto, vigoram por período determinado. Já trazem no próprio texto quando serão revogadas (autorrevogção).

Lei temporária é aquela cujo prazo de vigência vem predeterminado no próprio texto.

Lei excepcional é a elaborada pra vigorar enquanto durar a situação excepcional que a determinou, art. 3 o do Cód. Penal.

Essas leis, embora tenham tempo prazo de duração para serem revogada, a cessação das ocorrências que a determinam são ultrativas, ou seja, continuarão sendo aplicadas aos casos que aconteceram durante sua vigência.

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Tempo do Crime

Existem três teorias acerca do tempo do crime:

• Atividade: considera-se praticado o crime no memento da prática da conduta (ação ou omissão), não importando o resultado.

• Resultado: considera-se o crime praticado no momento da produção do resultado.

• Mista ou Ubiquidade: momento do crime é tanto o da prática da conduta quanto o da produção do resultado.

O Cód. Penal brasileiro adotou a teoria da atividade, art. 4 o.

A atirou para matar B e a bala se alojou na cabeça da vítima, os médicos não a removeram. Alguns meses depois, B morre em consequência disso, mas em um hospital em São Paulo para onde foi removido. Mesmo que passado vários meses, a causa morte foi o disparo efetuado por A.

A com 17 anos de idade atira em B. algum tempo depois B vem a morrer, quando A já havia completado 18 anos de idade, nesse período. A é inimputável, em decorrência da prática do crime quando tinha 17 anos, adolescente - Vara da Infância e Juventude.

Conflito aparente de normas

Ocorre o conflito aparente de normas quando duas ou mais normas parecem regular o mesmo fato. Diz-se aparente porque não há conflito, isto porque, somente uma norma poderá regular o fato e existem princípios que, aplicados ao caso, irão indicar a norma a ser realmente aplicável.

Elementos do conflito:

• Existência de uma norma; • Pluralidade de normas; • Aparente aplicação de todas as normas à espécie; • Aplicação exclusiva de somente uma norma à espécie por força

de princípios.

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Princípios a serem aplicados:

Principio da especialidade: a norma especial é aquela que possui todos os elementos da norma geral e mais alguns denominados especializantes. Sendo assim, prevalecerá sobre a geral. A norma especial afasta a aplicação da norma geral. As duas disposições (especial e geral) podem estar contidas na mesma lei ou em leis distintas. Ex: a norma que define o infanticídio é especial em relação à que descreve o homicídio, que é geral. O furto simples (art. 155, caput) é excluído pelo privilegiado (art. 155, § 2o).

Princípio da subsidiariedade: a norma mais ampla (primária) absorve a menos ampla (secundária). A norma é principal quando descreve um grau maior de lesão ao bem jurídico, restando à aplicação da subsidiaria somente quando o principal não incidir (soldado de reserva). A figura típica subsidiária está contida na principal. Ex: art. 213 e 146 do Cód. Penal - constrangimento ilegal é subsidiária do estupro. A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita.

í. Expressa ocorre quando a norma, em seu próprio texto, dispõe ser aplicável se outra não o for (art. 132 do CP).

Tácita quando a norma funciona como elementar ou circunstancia legal específica de outra norma (crime de dano é subsidiário do crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo).

Princípio da consunção: o fato mais grave absorve outros menos graves. Os fatos menos graves funcionam como meio necessário ou fase forma de preparação ou execução ou mero exaurimento de outro crime. Relação entre meio e fim. Ex: crime de homicídio com pauladas ou tiros, não se pune o infrator pela lesão corporal anterior. A lesão corporal é absorvida pelo homicídio. Crime de furto qualificado por rompimntõo de obstáculo, não se pune a violação de domicilio.

Hipóteses:

1. Crime progressivo: o agente deseja a realização de um resultado mais grave e, para alcançá-lo, pratica diversas lesões ao bem jurídico. O ultimo ato absorve todos os anteriores, respondendo o agente pelo resultado mais grave, ficando absorvidas as violações anteriores ao bem jurídico tutelado. Ex: homicídio - matar alguém = ameaça + lesão corporal. O resultado mais grave, homicídio, absorve as condutas anteriores.

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2. Progressão criminosa: a) progressão criminosa em sentido estrito: o agente, inicialmente, pretende praticar o crime menos grave e, após sua realização, resolve praticar nova infração, mais grave. Ex: lesão corporal (lesionar a vítima), sequencia, resolve mata-la. O homicídio absorve a lesão corporal; b) antefactum não punível: ocorre quando um crime é realizado como meio necessário para prática de outro. O primeiro fica absorvido pelo último. Ex: uso de documento falso (art. 304 do CP) e estelionato (art. 171) - Súmula 170 do Supremo Tribunal Federal; c) posfactum não punível: depois de realizado o crime, o agente ataca novamente o mesmo bem jurídico, visando aproveitar-se de seu comportamento anterior. Ex: furto / destruição do objeto, o crime de dano é absorvido pelo furto.

Princípio da alternatividade: uma infração penal pode ser praticado de diversas formas; trata-se dos denominados crimes de ação múltiplas ou conteúdo variado, onde há previsão de mais de uma ação (verbo). Nesse caso se o agente realizar mais de uma haverá somente um crime. Ex: art. 18° do Código Penal - verbo - adquirir, conduzir, ocultar veículo produto de roubo cometerá somente um crime de receptação.

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