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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PALMAS 1 EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚLBLICA DA COMARCA DE PALMAS O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus agentes adiante assinado, no uso de suas atribuições legais junto à 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PALMAS/PR, com base no Inquérito Civil n.º MPPR-0097.09.000010-6, que tramitou nesta 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Palmas-PR, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 129, inciso III, 37, caput e § 4º, e 15, inciso V, todos da Constituição Federal; artigo 25, inciso IV, alíneas "a" e "b", da Lei n.º 8.625/93; artigos 1º e 5º, da Lei n.º 7.347/85 e artigos 5º, 10, incisos I, VIII, XI e XII, e 11, todos da Lei n.º 8.429/92, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR, em face de: JOÃO DE OLIVEIRA, brasileiro, inscrito sob o RG nº 1.182.439-09 (SSP/PR), nascido em 14/11/1938, natural de Tijuca/SC, filho de Teotonia Pereira de Oliveira e de Osvaldo Manoel de Oliveira, residente e domiciliado na rua Pedro de Souza Vieira, nº 136, bairro Centro, nesta cidade e Comarca de Palmas/PR; MARI LÚCIA ZAMIN, brasileira, inscrita sob o RG nº 402.707.766- 1/RS, CPF nº 313.681.820-20, nascida em 13/12/1958, natural de Planalto/RS, filha de Ouvidio Zamin e de Eva Maria de Quadros Zamin, residente e domiciliado na rua Pedro de Souza Vieira, nº 136, bairro Centro, nesta cidade e Comarca de Palmas/PR

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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PALMAS

1

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA

FAZENDA PÚLBLICA DA COMARCA DE PALMAS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus

agentes adiante assinado, no uso de suas atribuições legais junto à 2ª PROMOTORIA

DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PALMAS/PR, com base no Inquérito Civil n.º

MPPR-0097.09.000010-6, que tramitou nesta 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de

Palmas-PR, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 129, inciso

III, 37, caput e § 4º, e 15, inciso V, todos da Constituição Federal; artigo 25, inciso IV,

alíneas "a" e "b", da Lei n.º 8.625/93; artigos 1º e 5º, da Lei n.º 7.347/85 e artigos 5º, 10,

incisos I, VIII, XI e XII, e 11, todos da Lei n.º 8.429/92, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR, em

face de:

JOÃO DE OLIVEIRA, brasileiro, inscrito sob o RG nº 1.182.439-09

(SSP/PR), nascido em 14/11/1938, natural de Tijuca/SC, filho de

Teotonia Pereira de Oliveira e de Osvaldo Manoel de Oliveira,

residente e domiciliado na rua Pedro de Souza Vieira, nº 136, bairro

Centro, nesta cidade e Comarca de Palmas/PR;

MARI LÚCIA ZAMIN, brasileira, inscrita sob o RG nº 402.707.766-

1/RS, CPF nº 313.681.820-20, nascida em 13/12/1958, natural de

Planalto/RS, filha de Ouvidio Zamin e de Eva Maria de Quadros

Zamin, residente e domiciliado na rua Pedro de Souza Vieira, nº 136,

bairro Centro, nesta cidade e Comarca de Palmas/PR

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JOSÉ ADILSON SOARES, brasileiro, inscrito sob o RG nº 8.009.180-

0/PR, CPF nº 007.145.149-85, nascido em 19/03/1981, natural de

Palmas/PR, filho de Verônica Martins Soares e de Valdevino de Jesus

Soares, residente e domiciliado na Av. Bento Munhoz da Rocha Neto,

nº 1761, bairro Klubegi, Palmas/PR ou Rua Érico Veríssimo, nº 145,

Lages/SC, sócio gerente da empresa Andrade, Soares & Bendlin

LTDA., posteriormente nominada como C.M Andrade & Soares

LTDA.

JÚLIO CÉSAR DRESCH, brasileiro, inscrito sob o RG nº 7.038.238-5,

CPF nº 026.335.569-14, nascido em 27/10/1980, nascido em Palmas/PR,

filho de Maria de Lourdes Luciano Dresch e de Francisco Luiz Dresch,

residente na Av. Presidente Getúlio Vargas, nº 257, bairro Lagoão,

Palmas/PR;

1 – DO OBJETO DA AÇÃO: A presente ação civil pública de improbidade administrativa tem por

objetivo a condenação dos réus nas sanções previstas no artigo 37, § 4º, da

Constituição Federal e na Lei nº 8.429/92, em razão da prática de atos de improbidade

administrativa, tipificados nos artigos 10 e 11 da Lei 8429/92.

Os atos de improbidade a serem apurados são: (a) contratações

irregulares pelo MUNICÍPIO DE PALMAS da empresa ANDRADE, SOARES &

BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA. nos procedimentos licitatórios nº 32/2007 (Modalidade Convite nº 16/2007) e

nº 117/2006 (Modalidade Convite nº 63/2006).

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2 – DA LEGITIMIDADE ATIVA Quanto à legitimidade do MINISTÉRIO PÚBLICO na promoção de

Ação Civil Pública, trata-se de questão bastante sedimentada na doutrina e na

jurisprudência. Senão vejamos: Súmula nº. 329 (STJ): O Ministério Público tem

legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público.

Portanto, a matéria não guarda segredos, o que torna prescindível

tecer outros comentários a respeito.

3 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA Os art. 1º e 2º, da Lei nº. 8.429/92 estão assim redigidos:

Art. 1º - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinquenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta Lei. Art. 2º - Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Da mesma forma, tem-se que a pessoa jurídica ANDRADE, SOARES

& BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA., representada por seu administrador, JOSÉ ADILSON SOARES, bem como

por JÚLIO CÉSAR DRESCH, ao contratar de forma irregular com o MUNICÍPIO

DE PALMAS estão sujeitos às sanções da Lei de Improbidade Administrativa,

conforme leitura dos art. 3º e 5º deste diploma legal, que preceitua:

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Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Art. 5º. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

4 – DOS FATOS:

Nas eleições do ano de 2004, foi eleito Prefeito Municipal de Palmas

para o período 2005-2008 o demandado JOÃO DE OLIVEIRA, casado com a

demandada MARI LÚCIA ZAMIN, vindo esta a exercer as funções de Primeira

Dama do MUNICÍPIO DE PALMAS.

Ambos são empresários conhecidos deste MUNICÍPIO DE PALMAS,

desenvolvendo a demandada MARI LÚCIA ZAMIN atividade com as empresas: (i)

Mari Zamin Factoring; (ii) Mari Lúcia Zamin – Agência de Viagens e Turismo; e (iii)

Mari Zamin Corretora de Seguros.

Durante os anos de 2006 e 2007, foram realizados os procedimentos

licitatórios que seguem:

A – Procedimento Licitatório nº 117/2006, Modalidade Convite nº 63/2006 (Doc. 01).

Item Objeto

01 Publicações Legais, sendo: Publicações em Jornais Locais, Regional e a nível de Estado de todos os atos institucionais do município.

02

Publicações e Divulgações Institucionais, sendo: veiculação em Rádios Locais e Regionais de todos os Atos e Matérias Institucionais do Município. Criação, organização, execução e divulgação de todas as matérias institucionais do município.

03 Campanhas Educativas e Informativas: criação, organização, execução e divulgação de toda e qualquer campanha do município, seja com intuito educativo ou informativo.

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04

Desenvolvimento de Material de Apoio aos Departamentos: Criação, organização, apresentação e execução de todo e qualquer tipo de material de apoio ao desenvolvimento das atividades de cada departamento dessa municipalidade, sendo: cartazes, foolder’s/Panfletos, Outdoor’s, adesivos, envelopamentos de veículos, placas comemorativas, placas de homenagens, placas informativas, faixas em geral, banner’s, jornais informativos, calendários comemorativos, cartões postais, cartões de visitas, crachás, padronização de uniformes – criar arte/modelo, dingle educativos e informativos, demais serviços congêneres

Neste procedimento, a empresa vencedora em todos os itens,

consoante “ata de abertura de envelopes, documentação e julgamento das propostas” foi a

empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.

O valor total do contrato foi de R$ 78.114,00 (setenta e oito mil, cento e

quatorze reais), sendo o contrato nº 262/2006 firmado em 18 de dezembro de 2006

B – Procedimento Licitatório nº 32/2007, Modalidade Convite nº 16/2007 (Doc. 02).

Item Objeto

01 Publicação Materiais, sendo: Publicações em Jornais Locais, Regional e a nível de Estado de todos os atos institucionais do município.

02

Publicações e Divulgações Institucionais, sendo: veiculação em Rádios Locais e Regionais de todos os Atos e Matérias Institucionais do Município. Criação, organização, execução e divulgação de todas as matérias institucionais do município.

03 Campanhas Educativas e Informativas: criação, organização, execução e divulgação de toda e qualquer campanha do município, seja com intuito educativo ou informativo.

04

Desenvolvimento de Material de Apoio aos Departamentos: Criação, organização, apresentação e execução de todo e qualquer tipo de material de apoio ao desenvolvimento das atividades de cada departamento dessa municipalidade, sendo: cartazes, foolder’s/Panfletos, Outdoor’s, adesivos, envelopamentos de veículos, placas comemorativas, placas de homenagens,

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placas informativas, faixas em geral, banner’s, jornais informativos, calendários comemorativos, cartões postais, cartões de visitas, crachás, padronização de uniformes – criar arte/modelo, dingle educativos e informativos, demais serviços congêneres

Neste procedimento, a empresa vencedora em todos os itens,

consoante “ata de abertura de envelopes, documentação e julgamento das propostas” foi a

empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.

O valor total do contrato foi de R$ 78.060,00 (setenta e oito mil, e

sessenta reais), sendo o contrato nº 191/2007 firmado em 16 de julho de 2007.

C – CONTRATO EXPOFRIO 2006 (Doc. 03)

Em 23 de junho de 2006, a Administração do MUNICÍPIO DE

PALMAS contratou, diretamente, sem a realização de processo licitatório ou de

procedimento de dispensa ou inexigibilidade de licitação, a empresa ANDRADE,

SOARES & BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE &

SOARES LTDA. para a realização de serviços de “criação, organização, execução e

divulgação de toda campanha de divulgação impressa da Expofrio/2006, icluindo

cartazes, folders, faixas, outdoors, panfletos da programação e credenciais”.

O serviço foi contratado pelo valor, à época, de R$ 7.980,00 (sete mil,

novecentos e oitenta reais).

5 – DAS IRREGULARIDADES: Conforme se verificará adiante, tem-se que a constituição da empresa

ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M

ANDRADE & SOARES LTDA., em 06 de fevereiro de 2006 – quando já vigente o

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mandato eletivo do demandado JOÃO DE OLIVEIRA – teve o simples objetivo de

possibilitar a contratação de serviços prestados por pessoas vinculadas aos

demandados JOÃO DE OLIVEIRA e MARI LÚCIA ZAMIN, com desvio dos

impedimentos trazidos no artigo 9º da Lei nº 8.666/93:

Art. 9o Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: (...) III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação. (...) § 3o Considera-se participação indireta, para fins do disposto neste artigo, a existência de qualquer vínculo de natureza técnica, comercial, econômica, financeira ou trabalhista entre o autor do projeto, pessoa física ou jurídica, e o licitante ou responsável pelos serviços, fornecimentos e obras, incluindo-se os fornecimentos de bens e serviços a estes necessários. § 4o O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos membros da comissão de licitação.

Analisando o dispositivo, Marçal Justen Filho1 aponta que:

As vedações do art. 9º retratam derivação dos princípios da moralidade pública e isonomia (...). Considera um risco a existência de relações pessoais entre os sujeitos que definem o destino da licitação e o particular que licitará. Esse relacionamento pode, em tese, produzir distorções incompatíveis com a isonomia. A simples potencialidade do dano é suficiente para que a lei se acautele (...). O impedimento consiste no afastamento preventivo daquele que, por vínculos pessoais com a situação concerta, poderia obter benefício especial e incompatível com o princípio da isonomia. O impedimento abrange aqueles que, dada a situação específica em que se encontram, teriam condições (teoricamente) de frustrar a competitividade, produzindo benefícios indevidos e reprováveis para si ou terceiro.

1 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed., São Paulo, Dialética, 2012, p. 186 - 195.

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E diversas são as irregularidades que apontam a estreita relação entre

o Prefeito Municipal JOÃO DE OLIVEIRA e sua esposa MARI LÚCIA ZAMIN com

a empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA., posteriormente nominada

como C.M ANDRADE & SOARES LTDA. e seus sócios.

A empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.,

posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES LTDA. possuía como

sede o endereço Rua Coronel João Gualberto, nº 42, bairro Centro, cidade de Palmas,

Estado do Paraná (Vide contrato social – Doc. 04).

Este mesmo endereço também era utilizado pela empresa MARI

LÚCIA ZAMIN AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO, conforme alteração

contratual n.º 6, de propriedade da demandada MARI LÚCIA ZAMIN (Doc. 05 e

06).

Da mesma forma, a empresa MARI ZAMIN FACTORING realizou as

2ª a 7ª Assembleias Gerais Extraordinárias e as 2ª a 4ª Assembleia Geral Ordinária no

mesmo endereço (vide contrato social – Doc. 07).

Da mesma forma, também era utilizada pela empresa CLAUDITUR

AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO LTDA, que será objeto de outra Ação Civil

Pública por ato de Improbidade (Doc. 08).

Nos documentos entregues à Comissão Permanente de Licitação,

identificado no “Certificado de Habilitação – 00512/2006” e “Solicitação de Registro

Cadastral”, é indicado o telefone para contato como sendo: 3263-1003 (Doc. 09)

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Esse mesmo número de telefone era utilizado pela empresa MARI

LÚCIA ZAMIN AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO, de propriedade da

demandada MARI LÚCIA ZAMIN (Doc. 06).

Da mesma forma, também era utilizada pela empresa CLAUDITUR

AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO LTDA, que será objeto de outra Ação Civil

Pública por ato de Improbidade (Doc. 10).

Ainda, na “Solicitação de Registro Cadastral” é indicado como

endereço eletrônico (e-mail) o de [email protected], sendo o documento

assinado pelo representante legal da empresa, o demandado JÚLIO CÉSAR

DRESCH (Doc. 11).

Ainda, os demandados JOSÉ ADILSON SOARES e JÚLIO CÉSAR

DRESCH, sócio e representante da empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN

LTDA, respectivamente, também constam como empregados das empresas de

propriedade da demandada MARI LÚCIA ZAMIN, consoante informação prestada

pelo INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL:

JOSÉ ADILSON SOARES, funcionário da empresa MZ FACTORING

S/A, no período de 02/06/2003 a 15/01/2007, voltando a trabalhar no período de

02/05/2005 a 26/10/2012, agora na empesa MARI LÚCIA ZAMIN AGÊNCIA DE

VIAGENS E TURISMO (Doc. 12).

JÚLIO CESAR DRESCH, foi funcionário da empresa CAMPOS DE

PALMAS S/A (da qual o demandado JOÃO DE OLIVEIRA foi sócio) no período de

22/03/1991 a 16/11/1999; posteriormente, da empresa MZ FACTORING S/A, no

período de 01/03/2003 a 25/10/2004; funcionário comissionado do Município de

Palmas, no período de 01/01/2005 a 12/02/2007, durante gestão do demandado JOÃO

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DE OLIVEIRA; por fim, a contar de 01/11/2006 junto à empresa CLAUDITUR

AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO LTDA (não há informação sobre rescisão do

vínculo trabalhista), a qual, como referido anteriormente, será objeto de outra ação

civil pública, pela prática de condutas do mesmo modus operandi (Doc. 13)..

O montante repassado à empresa, portanto, foi de R$ 170.517,20 (cento

e setenta mil, quinhentos e dezessete reais, e vinte centavos), conforme planilhas

apresentadas pelo MUNICÍPIO DE PALMAS, muito embora a soma dos contratos

tenha sido de R$ 164.154,00 (cento e sessenta e quatro mil, cento e cinquenta e quatro

reais) (Doc. 14).

6. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: No presente caso, são indiscutíveis as irregularidades na contratação

pelo MUNICÍPIO DE PALMAS da sociedade empresária ANDRADE, SOARES &

BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA para a prestação de serviços.

A criação da sociedade empresária ANDRADE, SOARES &

BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA. teve como único objetivo possibilitar a contratação de pessoas indiretamente

vinculadas à administração, violando os princípios elementares que devem pautar a

Administração Pública, em especial o art. 37 da Constituição da República e as

disposições tocantes à lei de Licitações.

Ainda, é indiscutível a contratação direta de prestação de serviços

relacionados à “criação, organização, execução e divulgação de toda campanha de

divulgação impressa da Expofrio/2006, incluindo cartazes, folders, faixas, outdoors,

panfletos da programação e credenciais”, com inobservância das formalidades

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pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade de licitação, violando os princípios

elementares que devem pautar a Administração Pública, em especial o art. 37 da

Constituição da República e as disposições tocantes à lei de Licitações.

O artigo 26 da Lei 8.666/93 exige que os procedimentos de dispensa ou

inexigibilidade sejam devidamente justificados:

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.

Assim, mesmo para os casos de dispensa/inexigibilidade de licitação, a

Lei 8.666/93 impõe um procedimento a ser observado, apresentando a devida

fundamentação, impondo-se a ratificação do ato pela autoridade superior. Essa

formalidade, porém, não existiu no caso em análise.

Sobre o tema, tem-se os ensinamentos de Marçal Justen Filho:

(...) A contratação direta não significa que são inaplicáveis os princípios básicos que orientam a atuação administrativa. Nem se caracteriza por uma livre atuação administrativa. O administrador está obrigado a seguir um procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar (ainda nesses casos) a prevalência dos princípios jurídicos fundamentais. Permanece o dever de realizar melhor contratação possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis contratantes.

Portanto, a contratação direta não significa eliminação de dois postulados consagrados a propósito da licitação. O primeiro é a existência de um procedimento administrativo. O segundo é a vinculação estatal à realização de suas funções2.

(...) Tal como afirmado várias vezes, é incorreto dizer que a contratação direta

exclui um ‘procedimento licitatório’. Os casos de dispensa e inexigibilidade de licitação envolvem, na verdade, um procedimento especial e simplificado para seleção do contrato mais vantajoso para a Administração Pública. Há uma série ordenada de

2 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed., São Paulo, Dialética, 2012, p. 329.

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atos, colimando selecionar a melhor proposta e o contratante mais adequado. ‘Ausência de licitação’ não significa desnecessidade de observar formalidades prévias (tais como a verificação da necessidade e conveniência da contratação, a disponibilidade de recursos, etc.). Devem ser observados os princípios fundamentais da atividade administrativa, buscando selecionar a melhor contratação possível, segundo os princípios da licitação3.

E ainda que possa argumentar a urgência na contratação do serviço,

tal situação não dispensa os gestores públicos de formalizar o ato, apresentando e

fundamentando a situação que caracteriza a situação de emergência.

O administrador público não pode simplesmente ignorar os princípios

que norteiam os procedimentos licitatórios ou de dispensa ou inexigibilidade de

licitação, uma vez que o fim precípuo da licitação é a obtenção de negócios mais

vantajosos para a Administração e assegurar obediência aos princípios da isonomia e

da indisponibilidade do interesse público.

A Constituição Federal estabelece que a Administração Pública direta,

indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, obedecerá aos princípios da legalidade (o qual estabelece

que na lei está o fundamento e o limite das ações da administração), impessoalidade

(segundo o qual devem ser evitados quaisquer favoritismos ou discriminações

impertinentes), moralidade (que exige do administrador comportamento escorreito e

honesto), publicidade (impondo que os atos e termos emanados do Poder Público

sejam efetivamente expostos ao conhecimento de quaisquer interessados) e eficiência

(o qual obriga a Administração Pública a realizar todos os seus atos com o objetivo

de promover o bem comum, de maneira eficaz e qualitativa, evitando esbanjamento e

prejuízos ao erário e garantindo maior e melhor rentabilidade social).

3 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed., São Paulo, Dialética, 2012, p. 442.

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Infere-se, pois, que o procedimento licitatório é preceito

constitucional de caráter indeclinável para o gestor público, admitindo-se apenas as

ressalvas disciplinadas pelo ordenamento jurídico. A regra mãe nos contratos da

Administração Pública é a realização da competição, sendo que os casos de dispensa

e inexigibilidade devem ser interpretados de forma restritiva.

A Administração Pública não pode se afastar dos princípios

constitucionais (principalmente os da legalidade, isonomia, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência) e infraconstitucionais (em especial aqueles

elencados na Lei n.º 8.666/93) que devem, obrigatoriamente, reger sua atuação, sob

pena de emergirem nulos os atos e contratos dela decorrentes.

Deve-se concluir, portanto, que não havendo obediência ao

procedimento previsto em lei para contratação de prestação de serviços, a

contratação direta é nula, conforme assenta a jurisprudência:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E 535 DO CPC. CONTRATO ADMINISTRATIVO NULO. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE O ENTE PÚBLICO EFETUAR O PAGAMENTO PELOS SERVIÇOS EFETIVAMENTE PRESTADOS. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. (...) 2. Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, "ainda que o contrato realizado com a Administração Pública seja nulo, por ausência de prévia licitação, o ente público não poderá deixar de efetuar o pagamento pelos serviços prestados ou pelos prejuízos decorrentes da administração, desde que comprovados, ressalvada a hipótese de má-fé ou de ter o contratado concorrido para a nulidade" (AgRg no Ag 1056922/RS, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJ de 11 de março de 2009). (...) Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1383177/MA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe 26/08/2013)

E como consequência da nulidade da contratação realizada, tem-se a

necessidade de ressarcimento de danos, uma vez que, consoante posição do Superior

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Tribunal de Justiça acima apontada, “não poderá o ente público deixar de efetuar o

pagamento pelos serviços prestados (...) ressalvada a hipótese de má-fé ou de ter o contratado

concorrido para a nulidade”.

Dessa forma, o parágrafo único do artigo 59 da Lei nº. 8.666/934, apesar

de proteger a boa-fé do contratado, expressamente, determina a promoção da

responsabilidade de quem deu causa à nulidade.

Assim, os atos imputados aos demandados caracterizam atos de

improbidade administrativa e dão ensejo à aplicação das sanções previstas na Lei n.º

8.429/92, bem como indenização pelos prejuízos causados ao erário.

Assim dispõe a Lei nº 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; (...)

Segundo Waldo Fazzio Júnior5: “Frustrar a licitude de processo licitatório

é fraudá-lo. Fraudar licitação é distrair procedimento licitatório. Consiste em subtrair ao

domínio da lei o que lhe deveria estar sujeito”.

Assim, os demandados JOÃO DE OLIVEIRA, MARI LÚCIA

ZAMIN, JOSÉ ADILSON SOARES e JÚLIO CÉSAR DRESCH devem ser

4 Art. 59. (...). Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa. 5 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa e crimes de prefeitos: de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 132.

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condenados às sanções previstas no art. 12, inciso II (DUAS VEZES), da Lei nº

8.429/92, por terem frustrado a licitude de procedimento licitatório, vez que

celebraram contrato com empresa que mantinha vínculos estreitos com os

administradores, e nada mais eram do que prepostos/longa manus dos gestores

públicos, bem como celebraram contrato sem a observância das formalidades

pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade de licitação.

Todavia, hipoteticamente, caso se entenda que a conduta da

demandada não se enquadra nos referidos atos de improbidade administrativa

previstos no artigo 10 da Lei nº 8.429/1992, ainda assim, verifica-se o enquadramento

nas disposições do art. 11 da referida lei, em razão da violação aos princípios da

administração pública.

Segundo Waldo Fazzio Júnior6:

O ato que agride os princípios administrativos não é simplesmente ilegal, mas

o que carrega a substância intrínseca da imoralidade. É o ato desonesto, não o produto de peculiaridades pessoais negativas, como a inabilidade e o despreparo cultural, que não objetivam enfrentar a lei. A improbidade administrativa, mais que um ato contra a legalidade, deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-fé. É a conduta que “destoa nítida e manifestamente das pautas morais básicas transgredindo, assim, os deveres de retidão e de lealdade ao interesse público”.

No caso em questão, houve violação ao princípio da legalidade, pois

não foram obedecidas as formalidades previstas na lei; impessoalidade e isonomia,

decorrente da contratação de empresa cujos sócios eram ligados aos demandados

JOÃO DE OLIVEIRA e MARI LÚCIA ZAMIN; moralidade, uma vez que houve

violação ao comportamento escorreito e honesto; publicidade, já que não houve

qualquer publicidade da contratação da empresa quando ao serviço da Expofrio2006.

6 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade Administrativa e crimes de prefeitos: de acordo com a lei de responsabilidade fiscal. 2ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2001, pp. 180-181.

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A criação de uma empresa com o único propósito de frustrar a licitude

de procedimento licitatório, bem como dispensa licitação sem a observância das

formalidades legais causa aversão a qualquer cidadão, ferindo o conceito de

probidade e honestidade, os bons costumes, as regras de boa administração, os

princípios de justiça e equidade, e a ideia comum de decoro.

Saliente-se que não é necessário que a conduta se enquadre

perfeitamente em qualquer dos incisos do art. 11 da Lei nº 8.429/92, visto que são eles

penas exemplificativos7 de condutas que violam os princípios da administração

pública.

Portanto, em razão da ilicitude das contratações, sem a observância

das formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade de licitação, bem como

da estreita ligação dos gestores públicos com os administradores da empresa

demandada – pode-se dizer, inclusive, que a empresa ANDRADE, SOARES &

BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA. nada mais eram do que prepostos/longa manus dos gestores públicos –, tem-se

como presente a nulidade da contratação, o dano ao patrimônio público e a prática

de atos de improbidade administrativa previstos no artigo 10, caput, e inciso VIII, e,

artigo 11, caput, e inciso I, todos da Lei nº. 8.429/92.

6. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS O demandado JOÃO DE OLIVEIRA concorreu para o ato de

improbidade na medida em que, na condição de Prefeito do Município de Palmas no

período de 2005-2008, juntamente com a demanda MARI LÚCIA ZAMIN, organizou

e arquitetou a contratação da empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.,

7 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa: aspectos constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal; legislação e jurisprudência atualizadas. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 114.

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posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES LTDA, ciente das

irregularidades no procedimento e do propósito de criação da empresa para o fim tão

somente de fraudar procedimento licitatório, frustrando procedimento de licitação,

bem como autorizar, ordenar e contratar a empresa ANDRADE, SOARES &

BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES

LTDA sem a realização do procedimento licitatório devido.

A demandada MARI LÚCIA ZAMIN, na condição de Primeira Dama

do MUNICÍPIO DE PALMAS, organizou e arquitetou a contratação da empresa

ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA., posteriormente nominada como C.M

ANDRADE & SOARES LTDA, ciente das irregularidades no procedimento e do

propósito de criação da empresa para o fim tão somente de fraudar procedimento

licitatório, frustrando procedimento de licitação.

O demandado JOSÉ ADILSON SOARES concorreu para o ato de

improbidade na medida em que, ciente das irregularidades no procedimento e do

propósito de criação da empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.,

posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES LTDA, celebrou

contratos com o MUNICÍPIO DE PALMAS, fraudando procedimento licitatório,

inclusive sem a realização do procedimento licitatório devido.

O demandado JÚLIO CÉSAR DRESCH concorreu para o ato de

improbidade na medida em que, ciente das irregularidades no procedimento e do

propósito de criação da empresa ANDRADE, SOARES & BENDLIN LTDA.,

posteriormente nominada como C.M ANDRADE & SOARES LTDA, apresentava-

se como representante da empresa junto ao MUNICÍPIO DE PALMAS, auxiliando na

celebração dos contratos com o MUNICÍPIO DE PALMAS, fraudando procedimento

licitatório, inclusive sem a realização do procedimento licitatório devido.

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7. DA INDISPONIBILIDADE DE BENS A cautelar de indisponibilidade de bens é perfeitamente cabível

quando houver indícios da prática de ato de improbidade administrativa. Tal medida

é prevista expressamente nos artigos 7° e 16 da Lei nº 8.429/92, in verbis:

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. – sem o destaque no original. Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. § 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. § 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais. Assim leciona Marino Pazzaglini Filho: Assim, nos casos da improbidade administrativa, tipificados no art. 9º da LIA, dos quais resulta enriquecimento ilícito do agente público ou de terceiro conluiado, e no art. 10 da LIA, que causam dano patrimonial concreto ao Erário, o provimento cautelar tem a natureza assecuratória da efetividade da futura sentença de ação de improbidade administrativa na qual o autor pleiteia, quanto a improbidade administrativa que acarreta enriquecimento ilícito, a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio do agente público e/ou de terceiro e, quando houver, ressarcimento integral do dano (art. 12, I), e, no tocante a improbidade administrativa lesiva ao Erário, o ressarcimento integral do dano patrimonial concretamente ocasionado por aquele8 – sem o destaque no original.

8 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada: aspectos constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal; legislação e jurisprudência atualizadas. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 190.

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A medida cautelar de sequestro e de indisponibilidade de bens

configura meio hábil a assegurar a restituição ao ente público do dano causado ao

erário, sobretudo considerando que a demora na conclusão do feito possa inviabilizar

futuramente o ressarcimento.

Vale dizer que a decretação do sequestro e da indisponibilidade não

equivale à perda sumária dos bens, mas corresponde a mera medida judicial que

tende a garantir a recomposição do prejuízo suportado pelo patrimônio público.

No presente caso, não restam dúvidas de que as condutas amoldam-se

em hipóteses elencadas como ato de improbidade administrativa, conforme previsto

no art. 10 da Lei 8.429/92.

As condutas feriram a moralidade administrativa e causaram prejuízo

aos cofres públicos, sendo essencial, no presente momento, o deferimento de medida

liminar de indisponibilidade dos bens.

O prejuízo inicial sofrido pelo patrimônio público é de R$ 170.517,20

(cento e setenta mil, quinhentos e dezessete reais, e vinte centavos), sem o cômputo

dos juros de mora e da correção monetária. Assim, o bloqueio imediato dos bens dos

demandados é medida legítima para assegurar o ressarcimento do dano causado ao

erário.

8. DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto e por tudo mais que dos autos consta, o

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ requer:

1 – a decretação de medida cautelar de sequestro e de

indisponibilidade, a recair sobre bens e valores dos demandados, em montante

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equivalente R$ 170.517,20 (cento e setenta mil, quinhentos e dezessete reais, e vinte

centavos), referente ao dano ao patrimônio público;

2 – a expedição de ofícios à Secretaria da Receita Federal do Brasil, ao

DETRAN/PR, Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários (CVM),

Cartórios de Registro de Imóveis de domicílio dos demandados, requisitando, no

interesse da identificação dos bens sobre os quais há de recair o sequestro postulado

e a indisponibilidade, informações sobre a movimentação financeira e existência de

bens em nome dos demandados;

3 – seja a presente registrada e autuada (juntamente com os

documentos que a acompanham – (documentos extraídos do Inquérito Civil n.º

MPPR-0097.09.10-6) e recebida como AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE

RESSARCIMENTO DE DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E IMPOSIÇÃO DE

SANÇÕES POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, notificando-se

previamente os requeridos para se manifestar sobre a inicial antes do seu

recebimento (art. 17, §§ 7º e 8º da Lei n.º 8.429/92), processando-se o presente feito,

sob o rito ordinário.

4 – com o recebimento da inicial, a citação dos demandados para que

ofereçam resposta à presente ação, com as cautelas dos artigos 285 e 172, § 2º, do

Código de Processo Civil, sob pena de revelia.

5 – a notificação do MUNICÍPIO DE PALMAS para integrar a lide (17,

§ 3º, da Lei n° 8.429/92 c/c art. 6º, § 3º da Lei n° 4.717/65).

6 – A produção de todas as provas permitidas, especialmente

documentais, periciais, testemunhais, cujo rol será oportunamente apresentado e os

depoimentos pessoais dos requeridos na audiência de instrução e julgamento, sob

pena de confissão.

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7 – seja JULGADA PROCEDENTE a presente demanda, a fim de

condenar os requeridos JOÃO DE OLIVEIRA, MARI LÚCIA ZAMIN, JOSÉ

ADILSON SOARES e JÚLIO CÉSAR DRESCH nas sanções do artigo 12, incisos II,

ou, subsidiariamente, nas sanções do artigo 12, inciso III, da Lei de Improbidade

Administrativa, por terem cometido os atos ímprobos supramencionados, os quais

subsumem-se nas figuras descritas nos artigos 10 e 11, da Lei 8.429/92, bem como ao

ressarcimento integral do dano;

8 – A produção de todas as provas permitidas, especialmente

documentais, periciais, testemunhais, cujo rol será oportunamente apresentado e os

depoimentos pessoais dos requeridos na audiência de instrução e julgamento, sob

pena de confissão.

9 – Sejam os requeridos condenados ao ônus de sucumbência e demais

cominações legais.

Dá-se à causa o valor de R$ 170.517,20 (cento e setenta mil, quinhentos

e dezessete reais, e vinte centavos).

Palmas, ..... de março de 2014.

JULIANA MITSUE BOTOMÉ DAVID KERBER DE AGUIAR Promotora de Justiça Promotor de Justiça.

FELIPE LISBOA BARCELOS, Promotor de Justiça.

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) NILO UMBERTO DEITOS JUNIOR, Vereador, podendo ser encontrado junto à

Câmara Municipal de Vereadores ou endereço residencial na Rua Bernardo Ribeiro

Viana, nº 27, Palmas/PR (Doc. 15)

2) JEANE CRISTINA BENDLIN, brasileira, residente na Rua Henrique José Berhost,

nº 428, bairro Divino, Palmas/PR (Doc. 16).

JULIANA MITSUE BOTOMÉ DAVID KERBER DE AGUIAR Promotora de Justiça Promotor de Justiça.

FELIPE LISBOA BARCELOS, Promotor de Justiça.