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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 654 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Economia global sofre deterioração, diz presidente do Banco Central Rodolfo Tazoniero Curitiba, sexta-feira, 30 de setembro de 2011 Alexandre Tombini esteve em Curitiba nesta quinta-feira (29) para participar do CONEF, Con- gresso Nacional de Executivos e Fi- nanças, e palestrou sobre a situação na economia mundial e nacional. Tom- bini acredita que, apesar do cenário hostil, a economia brasileira está com o crescimento mo- derado. Pág. 3 Esporte Brasil vence a Argentina, apresenta melhor futebol e diminui a crise, por Marcelo Fontinele. Pág 6 Internacional O complexo conflito Israel- Palestina, por Thomas Mayer. Pág.6 Ensaio fotográfico Retrato em branco e preto, por Marcos Monteiro. Pág.7

LONA 654 - 30/09/2011

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO

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Curitiba, sexta-feira, 30 de setembro de 2011

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O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 654Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Economia global sofre deterioração,diz presidente do Banco Central

Rodolfo Tazoniero

Curitiba, sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Alexandre Tombini esteve em Curitiba nesta quinta-feira (29) para participar do CONEF, Con-gresso Nacional de Executivos e Fi-nanças, e palestrou sobre a situação na economia mundial e nacional. Tom-bini acredita que, apesar do cenário hostil, a economia brasileira está com o crescimento mo-derado.

Pág. 3

EsporteBrasil vence a Argentina, apresenta melhor futebol e diminui a crise, por Marcelo Fontinele. Pág 6

InternacionalO complexo confl ito Israel-Palestina, por Thomas Mayer. Pág.6

Ensaio fotográficoRetrato em branco e preto, por Marcos Monteiro.Pág.7

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Expediente

Editorial

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Con-sentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientado-res: Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Daniel Zanella, Laura Beal Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30 Fone: (41) 3317-3044.

Opinativo

Compositor de destinos

Juliano GondimO jornal que você lê é a representação de

um esforço coletivo bem mais amplo do que suas quatro cores e manchete principal.

Uma edição normal do Lona, com suas oito páginas, duas a três factuais diárias, opinativos, drops, duas colunas e maté-rias produzidas pelos estudantes para Jor-nalismo Gráfico, conta, na média, com a colaboração de vinte e cinco pessoas.

São editores-chefes, redatores, estagiá-rios voluntários, fotógrafos, profissionais do laboratório de fotografia e televisão, revisores, coordenadores, ombudsmen - empenhados na construção de um perió-dico capaz de entender o espírito de um tempo tão volátil e de díficil recebimento crítico. (O isolamento intrínseco em cada rede social virtual pulveriza ainda mais o feedback: não há como saber se o que se produz é validado ou não).

A relevância de um periódico como o Lona é o seu caráter de permanência e re-gistro da passagem dos dias e a possibili-dade imensurável que a equipe envolvida diretamente no processo de produção tem de sentir a experiência de fechamento de um jornal, a corrida diante dos prazos, a dinâmica de produção de conteúdo, a necessidade de se posicionar, escolher as fontes, editar e exercer primariamente o Jornalismo como um organismo vivo.

Por fim, é salutar entendermos que o bom trabalho e empenho de todos - mes-mo sendo uma equipe restrita - não retira do Lona o seu caráter de veículo represen-tante do curso de Jornalismo e que cada um que ajuda em sua divulgação coopera, de fato, com o curso inteiro.

Uma boa leitura a todos.

DrOps

Por Mila Bastos

Dentistas em greve

Sorriam!Na última quarta-feira (28), em reunião com o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (SISMUC), o prefei-to da capital Luciano Ducci apresentou uma proposta aos cirurgiões dentistas. Ducci ofereceu um reajuste nos salá-rios em escala. Para janeiro de 2012, seriam 15%; em janeiro do ano seguinte, 15% e 10% em janeiro de 2014.

Não é bem issoDesde o dia 22 de setembro, os cirurgiões estão em greve, por tempo indeterminado. A cate-goria reivindica uma correção de 100% nos salários, equiva-lente a R$ 4 mil, equiparado ao dos médicos. São 642 dentistas trabalhando nas unidades de saúde da prefeitura. E ontem, chegou a 100% a paralisação.

Linha de frenteA diretora jurídica do SIS-MUC, Irene Rodrigues dos Santos, informou que a dire-ção do Sindicato apenas con-duz a reivindicação, mas não é responsável pela decisão. Ela reitera que é a categoria que deve avaliar a proposta e de-cidir qual é a melhor alterna-tiva e se deve continuar com a greve.

DecisãoNa noite de ontem, ocorreu uma Assembleia Geral com os dentistas, convocada pelo SISMUC, na qual foi discutida a proposta oferecida pelo Pre-feito Luciano Ducci. Mas até o final desta edição o Sindicato não havia se pronunciado ofi-cialmente.

Nesta semana estreou a nova novela das seis da Rede Globo. “A Vida da Gente”, escrita por Lícia Manzo, tem como princi-pais temas a afetividade, as relações familiares e o tempo. O elemento tempo está presente na música “Oração ao Tempo” re-gravada por Maria Gadú, tema de abertura da tra-ma. A música de 1979 na voz de Caetano Veloso foi inspiração para a autora. É um dos únicos pontos fortes, quando levada em consideração a criativida-de do audiovisual.

A abertura é compos-ta por fotografias em mo-vimento revezadas com vídeos. As imagens reme-tem às relações familiares. Durante toda a exibição, aparecem pessoas sorrin-do e em alguma situação feliz na vida. Seria assim a vida da gente? A autora quer que o povo se iden-tifique com sua obra. Es-pero que o povo se iden-tifique no decorrer da história.

O macete para se tes-tar a eficiência de uma abertura de novela é tirar sua melodia e assisti-la ao som de outras músicas dos mais diversos gêneros. Se acontecer o “casamento perfeito” entre som e ima-gem, ela cumpre seu papel de reforçar a identidade da produção. A abertura de “A Vida da Gente” não é criativa. A impressão depois da primeira visua-lização é de “só isso?”. E geralmente a primeira im-pressão é a que fica.

A equipe de arte res-ponsável por esta aber-tura deixou a desejar. Po-demos fazer um paralelo entre o horário das seis e o demais horários. A aber-tura das sete são desenhos de um dinossauro e de um robô, que interagem de acordo com o nome da no-vela, “Morde & Assopra”. No horário das nove, uma moça refletida em diver-sos espelhos. Os espelhos remetem a um diamante que por sua vez é ligado ao nome “Fina Estampa”. E no horário das onze todo e quanto é tipo de coisa esotérica passa pela tela, todas elas ligadas ao “Astro”. Três aberturas muito bem feitas, muito bem pensadas.

Voltando ao horário das seis, o audiovisual que abre os capítulos faz lembrar a abertura de “Por Amor”, de Manoel Carlos. Quem sabe só faça lembrar mas não tenha nenhuma relação. Pelo bem da criatividade e dos criadores, é preferível pensar assim. Ainda bem que acertaram na música. Ela poeticamente indica o tempo como “compositor de destinos”.

Que o tempo compu-nha o destino desta aber-tura e que faça o povo se acostumar. Caso contrá-rio, teremos que nos con-formar com tamanha falta de criatividade nas cenas que antecedem o noticiá-rio local. A final de con-tas, entretenimento serve para melhorar a vida da gente.

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Curitiba, sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ECONOMIA

O crescimento da economia está moderado, diz Presidente do BC

Rodolfo Tazoniero do Amaral

Alexandre Tombini comentou os desafios e perspectivas da economia brasileira

Começou em Curitiba o 22º Congresso Nacional de Executivos de Finanças, CO-NEF. O evento aconteceu na manhã de quinta-feira (29), no centro de convenções da FIEP, em Curitiba. Alexandre Tombini, o atual presidente do Banco Central do Brasil foi um dos principais convi-dados para falar no CONEF. O congresso teve sua abertu-ra oficial na quarta-feira (28), com a presença de Luiz Antô-nio Giacomazzi Cavet, presi-dente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (IBEF-PR), Luiz Afon-so Cerqueira, presidente do CONEF e Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Federa-ção das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). O evento traz a Curitiba palestras im-portantes com profissionais de renome no ramo da eco-nomia e representantes do governo federal. O congres-so está acontecendo no CIE-TEP, o centro de convenções da FIEP, no Jardim Botânico, em Curitiba. Segundo a orga-nização do evento, cerca de 480 pessoas estão inscritas no congresso.

Na manhã de quinta-fei-ra (29), Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil, deu uma palestra sobre os desafios e perspec-tivas da economia brasileira. Ele está no cargo desde ja-neiro quando foi escolhido pela presidenta Dilma Rous-seff para substituir Henri-que Meirelles, presidente até então. Alexandre Tombini é formado em economia pela Universidade de Brasília e

tornou-se doutor na mesma área pela Uni-versidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Tombini falou so-bre o cenário econô-mico internacional que tem sido pauta de várias discussões. Ele explicou que du-rante a crise mundial de 2008, a ampla co-ordenação mundial do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) evitou uma crise bancária ainda mais aguda e uma depressão eco-nômica ainda maior. Segundo ele, o maior legado da crise de 2008 foi o aumento da dívida pública em relação ao produto interno bruto (PIB). Durante esse perí-odo, os países com economias maduras tiveram baixo cresci-mento, o que levou os bancos centrais dos EUA e de alguns países da União Europeia a adotarem políticas mone-tárias expansionistas para regulamentar a economia. “Dentre as medidas adota-das, os bancos centrais redu-ziram a taxa de juros e am-pliaram seus balanços com a aquisição de ativos. Isso pro-moveu uma política expan-sionista sem precedentes”, explicou o presidente do BC. Alexandre Tombini também falou sobre a desaceleração da economia global. Segundo o Banco Central do Brasil, a economia global está obser-vando uma forte deteriora-ção.

Alexandre Tombini tam-bém abordou a economia

brasileira. Ele explicou que o Brasil sempre foi aberto ao capital estrangeiro, porém, diante do cenário interna-cional complexo no início de 2011 e da velocidade e in-tensidade de ingresso de re-cursos estrangeiros, o Banco Central e o Governo do Brasil tomaram uma série de medi-das para proteger o Sistema Financeiro Nacional (SFN) e a própria economia brasileira. Dentre elas, o Banco Central reduziu a exposição cambial dos bancos para valorizar o real e moderou o crescimento do crédito pessoal.

Tombini também abordou a inflação no Brasil e a sua convergência para a meta de 2012. A inflação sofreu uma forte elevação no primeiro

trimestre de 2011. Esse fato ocorreu devido a grande alta dos preços das mercadorias internacionais em 2010, fa-tores climáticos e a alta dos preços administrativos atípi-cos, como passagens de ôni-bus e combustíveis. Ele afir-mou que a inflação está sob controle e em uma previsão feita pelo Banco Central do Brasil, ela deve ficar em 6,40% em 2011 e atingir no máximo 4,9% em 2012. No final de sua palestra, Alexandre Tombini disse que o crescimento da economia brasileira está mo-derado, como consequência das políticas domésticas e do cenário internacional, mas ainda é possível transitar no ambiente hostil do mercado internacional.

O 22º Congresso Nacional de Executivos de Finanças vai até a sexta-feira (30) e ainda conta com uma série de pales-tras. Na sexta, o presidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) fará uma palestra sobre inclusão fiscal e carga tributária, que também vai abordar a apro-vação da Emenda 29. Também na sexta-feira, o CONEF terá uma palestra sobre formação e qualificação profissional na área de economia com o economista e professor Cláudio de Moura Castro e o vice-governador do estado do Paraná e Secretário de Educação, Flávio Arns e o ex-governador do estado do Paraná, Jaime Lerner, que fará uma palestra especial de encer-ramento.

Divulgação

Tombini alega que o BC está tomando as medidas necessárias para equilibrar a economia nacional

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ESPORTE

A capoeira é o esporte mais brasileiro do país. Criado no século XVI pelos africanos como uma luta, hoje é uma arte marcial praticada como espor-te. Além de tudo, é uma dança e uma incrível ferramenta de educação.

Valdecir Antonio Petri Fi-lho começou a fazer capoeira com 8 anos. “Eu era uma crian-ça muito ativa, vivia quebran-do os objetos de decoração dentro de casa. Me interessei pela capoeira logo que me foi sugerida, pois como eu vivia pulando, resolvi que ia apren-der vários tipos de pulos, gos-tava da beleza e agilidade dos movimentos e também a ques-tão da disputa.”

Entre os benefícios do es-porte está o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora, além de ajudar na for-mação das crianças, que apren-dem o respeito pelo próximo. Valdecir explica que a capoeira foi essencial no seu crescimen-to. “A questão da formação do caráter, do respeito com os colegas do grupo, no conheci-mento das minhas limitações, da interatividade com a cultu-ra brasileira e de outros povos me ajudaram muito, percebi que cada dia evoluímos um pouco, que não é preciso ma-chucar uma pessoa para se de-fender e que o treinamento em qualquer área que seja, te leva ao desenvolvimento. No caso da capoeira, físico, espírito e mente”.

O projeto Educando com Arte, do Kauande Capoeira, dá a oportunidade para crian-ças sem condições financeiras

Larissa Beffa

Um dos esportes mais praticados do país, concilia valores morais com técnica

aprenderem o esporte. A filo-sofia do grupo é trabalhar a ca-poeira como meio de educação. O único requisito para se juntar ao grupo é estar na escola.

O grupo Kauande Capoeira foi criado em 1988. Mestre Déa iniciou o grupo cobrando pelas aulas, mas já percebia a neces-sidade de um projeto social para crianças que não podiam pagar. “Alguns alunos que não tinham condições não paga-vam, então eles chegavam mais cedo, me ajudavam a arrumar a sala”. Desde o início ele exi-giu dos alunos que fossem bem na escola.

Criou o Educando com Arte, um projeto social total-mente voluntário, em parceria com a Fundação de Ação So-cial de Curitiba (FAS) e o Ins-tituto Pró-Cidadania de Curi-tiba (IPCC). “O supermercado Muffato foi o único que abriu as portas e foi socialmente responsável”, conta o Mestre. Hoje a equipe de educadores do Mestre Déa atende mais de mil crianças em diversas cre-ches e escola, além do espaço fornecido pelo Super Muffato, no 2º subsolo da unidade Por-tão. “Depois de um mês de adaptação, se eles quiserem continuar, eles ganham o aba-dá, o uniforme”.

Maria Luiza Leal é pedago-ga, e como já conhecia os bene-fícios da capoeira, colocou seus dois filhos nas aulas: Gabriela, de 5 anos, e João Pedro, de 9. Eles já fazem há 3 anos, nas terças e quintas, por uma hora. “A capoeira é um esporte com-pleto, tem música e os movi-mentos, envolve a psicomotri-cidade”. Também afirma que o projeto incentiva o estudo, com o programa Capoeirista Bom de Nota.

Capoeira: esporte, arte e educação

O programa Capoeirista Bom de Nota trabalha a mo-tivação das crianças, que pre-cisam mostrar o boletim todo bimestre. No final do ano eles fazem a média dos alunos, e os alunos acima da média são pre-miados com mochilas, material escolar, livros, troféus e meda-lhas. A média geral do ano pas-sado foi de 9,5.

Ana Maria Cardosa é a avó de Leonardo, 9, e Guilherme, 7. Os dois faziam aulas particula-res, mas descobriram o projeto, que é de graça. “Eles gostam bastante”, diz. Já Silvana Apa-recida Gonçalves dos Santos acompanha o filho Lucas, de 13 anos. O colégio o encaminhou para as aulas de capoeira, que ele já pratica há 5 anos. A mãe diz que o comportamento dele em casa melhorou muito.

Essas são algumas das mui-tas histórias das crianças que participam do projeto. Dentro do grupo também há crianças

com necessidades especiais, que são tratadas como iguais. “A capoeira é uma ferramenta de educação e inclusão social”, afirma Mestre Déa. “A capoei-ra é a única arte marcial bra-sileira, a única com um ritmo próprio e a única que divulga a cultura brasileira no mundo”.

As aulas são segundas e quartas ou terças e quintas. Sexta-feira é dia de roda, onde os alunos colocam em prática tudo o que aprendem nos trei-nos. Além das aulas gratuitas existe também a oficina de be-rimbau alternativo: o berim-balata, feito com cano de PVC e lata de leite. “Um berimbau oficial custa de R$ 80 a R$ 100 reais, enquanto que o berim-balata é feito com material re-ciclável e produz um som inte-ressante”, comenta o Mestre.

Pratique capoeira“Pratique capoeira – Va-

mos juntos dar uma rasteira

nas drogas” é o lema utilizado por muitos grupos de capoei-ra que foram contra a Marcha da Maconha. Em maio, como ato de repúdio, o Kauande Capoeira organizou uma roda de capoeira com vários outros grupos.

“Eu vejo o esporte como re-pelente para as drogas”, afir-ma Mestre Déa. Ele acredita que a maior parte dos proble-mas sociais são por causa das drogas. “O cigarro e o álcool são drogas lícitas, mas são porta de entrada par a outras drogas”.

O Mestre também conta que o projeto Educando com Arte trabalha com a prevenção do envolvimento de crianças e adolescentes com as drogas, não com a recuperação. Ele tem orgulho de nunca ter usa-do qualquer tipo de droga, e quer que seus alunos o vejam como exemplo.

Larissa Beffa

Projeto social consegue reunir praticante de diversas gerações

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CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Intensidade femininaAlmodóvar revela histórias de mulheres que passam por altos e baixos como em um flamenco

Em 121 minutos, mais uma vez é possível pres-tigiar as cores de Pedro Almodóvar, em Volver, de 2006. O terceiro filme com Penélope Cruz traz a atriz espanhola no papel de Raimunda, mãe de Paula, uma adolescente de 14 anos. A dedicação de Rai-munda faz com que ela trabalhe, incansavelmente, para manter a casa. Como se isso não bastasse, seu marido, Paco, tenta abusar sexualmente de sua filha. A menina, em legítima defesa, assassina o homem. Depois dessa morte, mãe e filha unem-se ainda mais.

Soledad, a Sole, é irmã de Raimunda, e abriga Irene. A mulher é a mãe das irmãs que, até então, acreditavam piamente na morte dessa personagem. A volta de Irene faz surgir revelações do passado. A partir daí desvendam-se segredos de família. Mes-mo com essas tragédias, o diretor apresenta a tra-ma com humor. Volver tem um enredo vivo, com personagens intensas. Cada uma com uma história própria e forte, com razão para estarem ali.

Assim como em Kika (1993), Tudo sobre minha mãe (1999) e Fale com ela (2002), por exemplo, Al-modóvar traz uma história atípica, porém com a sua característica espanhola de contar. Volver, assim como o próprio título já revela, é uma narrativa de voltas, sejam elas boas ou ruins, mas que na verda-de, a intenção é colocar tudo em seu devido lugar. Por isso, nada mais propício que uma volta inespe-rada e inusitada, a la Almodóvar.

A mãe que retorna da morte é interpretada por Carmem Maura. A atriz, veterana em filmes de Al-modóvar, depois de 17 anos longe dos sets do di-retor, encarna essa matriarca que havia deixado as filhas, por ter provocado uma reviravolta no passa-do. Esse motivo avassalador tem ligação direta com Raimunda que, até reencontrar a mãe, guardava mágoas. No entanto, o “fantasma” de Irene reapa-rece para esclarecer as adversidades ocorridas, que a fez desaparecer.

Apesar do encargo dramático, um dos tons en-graçados é o motivo que faz Irene ser reconhecida. Quando essa personagem retorna, Sole apesar do medo de pessoas mortas, acolhe sua mãe, natural-mente. Irene tenta um disfarce de cabeleireira russa, no salão de beleza de Sole, mas não por muito tem-po, isso porque um certo odor a denuncia.

Dessa vez, Almodóvar retorna com suas histó-rias femininas, de personalidades fortes. Mulheres que não têm receio de recomeçar, que buscam sem-pre o melhor, não somente em benefício próprio, mas para o bem comum. Essa coragem é exempli-ficada em várias cenas, desde o momento em que Raimunda sai à procura de um lugar para esconder o corpo do marido, com a ajuda da filha, passando pelo abraço entre Irene e Raimunda em um banco de praça. Nessa cena, a força é demonstrada em for-ma de união, após uma conversa reveladora entre mãe e filha. Porém, um dos pontos altos do filme é o instante em que Raimunda canta “Volver”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, interpretada por

Nathalia Cavalcante

Estrella Morente. A cena mostra Penélope Cruz em uma bela atuação com os olhos marejados. Outra homenagem é ao cineasta italiano Lucchino Viscon-ti, em que um dos trechos de Belíssima, de 1951, é admirado por Irene.

Desde a primeira cena no cemitério onde um forte vento atrapalha a arrumação das irmãs no tú-mulo da mãe, ao encerramento, Almodóvar liga as imagens ao texto. Não para reforçar o que já foi dito ou apresentado, apenas como ponto de ligação, para a compreensão da história dessas quatro mulheres, que conduzem o enredo. Não é uma narrativa que entrega os fatos, mas sim, que possibilita o entendi-mento de cada movimento.

As cores tão presentes em seus filmes ficam, es-pecialmente, para Raimunda. Nos momentos fortes do filme, lá está o vermelho, justificando a sua pre-sença. Pedro Almodóvar não é apenas o responsá-vel pela direção, ele também é dono do roteiro. Até porque ele só dirige o que escreve; fato que dá mais legitimidade à obra. Além disso, é impossível se es-pantar com histórias nesse tom, quando a assinatura é almodovariana.

Em companhiaDesde 1997, Penélope Cruz e Pedro Almodóvar

trabalharam juntos em quatro longas-metragens. O primeiro, em uma participação em Carne Trêmu-la, com Javier Bardem no elenco. Dois anos depois, veio Tudo sobre minha mãe. Um filme dramático, com uns toques não convencionais. Nele, Penélope interpreta a freira Rosa, que contrai o vírus HIV.

Volver a consolidou como a atriz de Almodó-var. Uma personagem forte, presente na família. O longa-metragem rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz. Na sequência, Los Abrazos Rotos, de 2009. Mais um drama, dessa vez em flashback. Penélope interpreta Lena, uma mulher que se torna atriz de cinema.

O último filme de Almodóvar, La Piel que Ha-bito, de 2011, não traz Penélope Cruz no elenco. A vez ficou para Antonio Banderas, responsável pela interpretação de Ledgard, um cirurgião plástico que promete vingança pela filha. Essa é a quinta partici-pação do ator em filmes de Almodóvar. O primeiro foi em 1986, com Matador. No ano seguinte, A Lei do Desejo reúne novamente diretor e ator. Mulheres à beira de um ataque de nervos, de 1988, traz Bande-ras e Carmem Maura, no papel principal. A última parceria, até então, foi em Ata-me!, de 1989.

O novo filme com Banderas irá abrir o Festival do Rio, que acontece entre os dias 6 e 18 de outubro. A presença de Almodóvar não está con-firmada, mas quem for ao festival conhecerá a atriz Marisa Paredes, que interpreta a governanta do ci-rurgião plástico, Ledgard. A atriz já trabalhou com o diretor em outras produções como: Maus Hábitos (1983), De Salto Alto (1991), A flor do meu segredo (1995), Tudo sobre minha mãe (1999) e Fale com ela (2002).

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Quase um TIME

Palavras

E na terra onde Jesus nasceu, como dizia Jardel, o Brasil se sagrou campeão da Copa Roca. Ontem (28) tivemos o jogo de volta en-tre Brasil e Argentina, com vitória pelo placar de 2x0 e título brasileiro. Assim, a seleção conseguiu sua primeira vitória sobre um grande adversário no co-mando de Mano Menezes.

A seleção começou com o time bastante ofensivo, com três atacantes, além de contar com Ronaldinho Gaúcho na armação das jo-gadas e o inspirado late-ral esquerdo Cortês, que participou dos dois gols e saiu aplaudido de campo.

Ainda assim, o primeiro tempo foi bastante truncado - ou ruim mesmo – os argen-tinos chegavam firme, não aliviavam. Teve até sangue. Borges, Lucas e, principal-mente, Neymar, sofreram com a forte marcação dos hermanos. O Brasil criou oportunidades de gol, mas esbarrou na defesa argenti-na. E o resultado do primeiro tempo ficou mesmo sem gols.

Na volta do intervalo o Brasil pressionou ainda mais. Só que o gol não saia. E os argentinos que até então, só se defendiam, começaram a gostar do jogo. Liderados pelo craque do Cruzeiro,

O conflito Palestina versus Israel deu mais um passo nos úl-timos dias. Está sendo analisada a possibilidade dos palestinos conquistarem um lugar como Estado-membro da Organização das Nações Unidas. Se forem ob-tidos nove votos favoráveis sem nenhum veto no Conselho de Segurança, a Palestina conquis-ta sua vaga. É dado como certo, entretanto, que isso não vai acon-tecer: Barack Obama já anunciou que os Estados Unidos, históri-cos aliados de Israel, vão exer-cer, como membro permanente do Conselho, o direito a veto.

Caso vetada a entrada, ainda há a possibilidade de se enviar a votação à Assembleia Geral da ONU para que todos os outros países-membros possam partici-par, e é aí que as coisas mudam. Nesse caso, é dado como certo que os palestinos recebam a maioria de votos favoráveis. É bem ver-dade que, caso ganhe nessa vota-ção, a Palestina pode no máximo ser elevada ao status de “Esta-do observador permanente”.

Independentemente de for-malidades, já é um começo. E isso não é um manifesto con-trário a Israel, mas favorável à igualdade. Não julgo aqui quem está correto e quem está equivo-cado, apenas analiso a possibili-dade de atuação dos principais envolvidos na situação, atua-ção essa que não é igualitária.

Do Tratado de Westfália, um marco na histórica consti-tuição do Estado-nação, tem-se que cada país é soberano. Em outras palavras, não existe país

Futebol Internacional

Marcelo Fontinele Thomas Mayer Rieger

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@marcelofonti

Cursa o 4º período da noite.

@tthms

Cursa o 6º período da manhã.

Montillo, os argentinos tive-ram uma boa oportunidade, obrigando o goleiro Jéferson a fazer uma grande defesa. Mas no lance seguinte, a se-leção brasileira armou um grande contragolpe, inicia-do por Cortês, e depois um lindo passe de primeira de Danilo, que deixou Lucas livre de marcação (no meio de campo) e ele disparou até o gol, fuzilando o golei-rão argentino: 1 a 0 Brasil. E 20 minutos depois saiu o segundo gol. Cortês, me-lhor jogador em campo, fez grande jogada pela esquer-da e cruzou rasteiro, Ney-mar só escorou para o gol.

O resultado final do jogo foi justo. O Brasil foi superior durante os 90 minutos, teve mais posse de bola, criou as melhores oportunidades. A Argentina pouco fez, ten-tou alguns contra-ataques, mas sem muito sucesso.

No fim, ainda deu tempo para Ronaldinho e Neymar fazerem graça, abusaram de dribles e jogadas de efeito. E a torcida veio junto, gritando a cada passe ‘olé’. A seleção brasileira voltou a mostrar seu futebol e convenceu, fez uma grande partida. E como diria Galvão Bueno: “Ga-nhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor”.

superior a qualquer outro no sis-tema internacional. Todos têm os mesmos direitos e deveres, e devem coexistir a partir dessa premissa. É claro que isso não é respeitado integralmente, como se vê ao longo da história em situações de conflitos e guerras internacionais, mas o conceito é tradicionalmente seguido por or-ganizações internacionais como a ONU. Só que isso não se perce-be dentro dessa organização ao se analisar a situação palestina. Não se percebia, pelo menos.

Além de aliado da maior po-tência mundial, Israel dispõe de poder de resposta, tanto diplo-mática quanto armada. Há, por-tanto, poder para a autodeter-minação de seu povo, elemento considerado vital para qualquer Estado. A Palestina, por outro lado, vive um cenário diferente: para começar, não tem terra. O povo palestino é praticamente nômade, e não dispõe da força dos israelenses. Num diálogo civilizado, pressupõe-se que as partes envolvidas tenham as mesmas habilidades e forças. Mas como um Estado sem ter-ra consegue dialogar com uma potência do Oriente Médio?

Com essa discussão na ONU aproxima-se a possibilidade da Palestina se equiparar a Isra-el – não em termos bélicos, que deveriam ser ignorados, mas em termos de constituição es-tatal. Ao serem admitidos com esse status superior, os pales-tinos deterão um poder maior que qualquer armamento ou aliado: o poder da palavra.

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Perfilar fotograficamente é um exercício de atenção e busca. Para encontrar a camada além da imagem, o fotógrafo preci-sa também ele desenvolver uma autoanálise de percepção do mundo externo - e do que cada rosto significa e reflete em seu momento capturado.

ESPELHOS EM BRANCO E PRETO

Fotos: MARCOS MONTEIRO Texto: DANIEL ZANELLA

ENSAIO FOTOGRÁFICO

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Curitiba, sexta-feira, 30 de setembro de 2011

PERFIL 8

“Eu sou difícil!”

“O teatro se renova a cada dia, lá eu posso ser quem eu quiser.”

Ele achava que gostar de animais era o necessário para se tornar veterinário,mas a vida veio e lhe pregou uma peça

O hipocondríaco Bernardo das Dores. A vida nos palcos é uma questão de liberdade.

Laís Marques

Difícil, essa é a pa-lavra que ele usa pra se definir. Difícil de se li-dar, de conviver, de agra-dar... “mas eu também sou legal.” Acrescenta ele. A personalidade forte faz dele um homem determinado que desistiu de faculdade para seguir a carreira teatral.

O jeito descontraído e a facilidade de falar em publico só ajudaram a ter a plena certeza de que queria ser ator. “O palco é minha casa!” afirma com um brilho nos olhos. Apesar de praticamente um zoológico em casa

– cachorro, gato, jibóia, passarinho –e gostar de animais, é no palco que ele se realiza. Chegou a cursar medicina veter-inária, mas largou para fazer um curso de teatro. “O teatro se renova a cada dia, lá eu posso ser quem eu quiser. Sempre tem o nervoso de um es-tréia e a liberdade pra se expressar do jeito que quiser”.

Seu primeiro person-agem foi o Bernardo das Dores, um hipocondríaco e era praticamente um monólogo onde analisa e via doenças em tudo. Sua maior satisfação é ver as pessoas comentando e elogiando seu trabalho e o melhor, recebendo os prêmios. Depois de in-

terpretar o maníaco por doença ele teve a certe-za que tinha achado seu lugar no mundo profis-sional.

Bernardo das Dores foi o personagem que mais gostou de interp-retar, mas a melhor peça foi a infantil “Cozinha de Pierre” que levou seis prêmios e muitas criti-

cas positivas. Com isso, o retorno de mais peças começou a vir e sua atu-ação cada vez melhor.

Mas a vida nem sem-pre foi nos palcos, an-tes de optar pelo teatro se formou pelo colégio Nossa Senhora do Sion e já tinha pensado em administração, mas sua personalidade já dizia que o palco era sua vida. Quando eu perguntei se ele tinha algum modelo, sem titubear me respon-deu de peito cheio: Ivete Sangalo e Ingrid Gui-marães.

Em 2006 sua vida mu-dou. Quando decidiu via-jar para ver de perto Ive-te Sangalo pela primeira vez. Foram horas na fila, cartazes, faixas...

Tudo isso para um mero “tchau” de longe, lá do palco. Mas todo esforço valeu a pena. Juntando a mesada por meses e o dinheiro do “recreio”, ele realizou a primeira de grandes aventuras: sua primeira viagem pra Bahia para ver mais de perto a musa. Um vôo di-reto a Salvador, uma casa com apenas um banheiro para mais 19 pessoas ;ar-roz e feijão era luxo. Os 30 dias que ele passou por lá o miojo era café-da-manhã, almoço e janta e de quebra, sobremesa.

Foi assim que ele me relatou sua grande aven-tura dos 18 anos de quase três mil quilômet-ros. Bem longe de casa, dos cuidados da mãe, não se arrepende e repetiu a dose por mais duas vezes subseqüentes. “Conheci pessoas maravilhosas, me desprendi de casa, fiz amizades realmente que valeram a pena e conheci um lugar maravilhoso. E

consegui me aproximar mais de Ivete” me disse sorrindo. Depois de tan-tos shows, caravanas, cartazes ele passou a ser um conhecido de Ivete, não um mero fã. São fo-tos e mais fotos ao lado da cantora e um carinho e admiração enorme por ela. Nem só de Ivete se vive Marcelo, ele respira Ingrid Guimarães. “Con-heci Ingrid do mesmo

jeito que Ivete, indo aos teatros, ficando horas na fila e consegui me tor-nar realmente próximo dela”. Conta também que isso o ajudou a entender e perceber que o mundo artístico era seu mundo. Um mundo sem tabus, que todos podem ser o que quiser e entre cada personagem um Marcelo melhor é formado como ator e como pessoa.

“Quem entra no mun-do artístico com uma mente fechada acaba sen-do prejudicado, porque nesse meio não existem tabus, nem preconceitos com nada nem ninguém. Se um homossexual acaba sendo vítima num outro ambiente de trabalho, aqui ele sempre vai ser recebido e é extrema-mente normal porque o mundo do teatro permite essa liberdade de pensa-mento.”

“Eu sou difícil.” Foi assim que ele se de-screveu pra mim, difícil em tudo. Difícil de de-sistir também, pois nem sempre teve o apoio da mãe quando optou em seguir a carreira de ator. “Foi uma briga quando eu quis largar a facul-dade, minha mãe pergun-tava ‘vai viver de quê?’”, mas hoje a mãe vê que o talento do filho já traz re-sultados e prêmios.

Arquivo pessoal

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