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[email protected] @jornallona lona.redeteia.com Ano XIII - Número 723 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, sexta-feira, 25 de maio de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Desemprego cai para 6% em abril Dados do IBGE mostram que o índice é o menor desde 2002. Segundo especialista, bom desempenho da economia se deve a medidas adotadas pelo governo para enfrentar crise europeia. Pág. 3 ESPECIAL A história de uma escola na RMC que luta pela educação Págs. 4 e 5 SINDIJOR Chapa única é eleita com 96% dos votos dos jornalistas aptos a votar Pág. 3 LITERATURA Caetano Galindo fala sobre a sua tradução de “Ulysses” Pág. 8 Diego Henrique da Silva

LONA 723 - 25/05/2012

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, sexta-feira, 25 de maio de 2012

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Ano XIII - Número 723Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, sexta-feira, 25 de maio de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Desemprego cai para 6% em abril

Dados do IBGE mostram que o índice é o menor desde 2002.Segundo especialista, bom desempenho da economia se deve a medidas adotadas pelo governo para enfrentar crise europeia.

Pág. 3

ESPECIAL

A história de uma escola na RMC que luta pela educação

Págs. 4 e 5

SINDIJOR

Chapa única é eleita com 96% dos votos

dos jornalistas aptos a votar

Pág. 3

LITERATURA

Caetano Galindo fala sobre a sua tradução

de “Ulysses”

Pág. 8

Diego Henrique da Silva

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Curitiba, sexta-feira, 25 de maio de 20122

ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orien-tadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Peluso | Pauteira: Renata Pinto| Editorial: Oscar Cidri

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curi-tiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

Termina hoje o prazo para a presidente Dilma Rousseff vetar ou então sancionar de forma total ou parcial o texto do novo Código Flo-restal, que chegou à Casa Civil há mais de duas semanas.

Conforme palavras da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a presidente Dilma está trabalhando de maneira intensa na análise do Código. A grande questão é o aproveitamento do que é bom e a exclusão do que a equipe, que está se reunindo desde o início da semana com a chefe do executivo, considera ruim. Um dos pontos críticos, dentre os vários que podem ser elencados, é a possibilidade de se anistiar os que desmataram ilegalmente e, também, a redução das terras de proteção nas encostas, ao longo de cursos de rios e topos de morros.

Um sério problema para as cirúrgicas decisões que precisam ser tomadas pelo executivo é a possibilidade de se criar lacunas na legis-lação ambiental que, sem encontrar os termos necessários, correrá o risco de ser submetida a decretos, medidas provisórias, resoluções, ou ainda, projetos de lei. Segundo Ideli Salvatti, “o objetivo central é buscar aproveitar o que de bom, principalmente daquele acordo pro-duzido no Senado, restou no texto. Agora, é claro que aproveitar o que veio do acordo do Senado tem implicações de técnica legislativa”.

O texto que saiu do Senado foi aprovado num acordo entre ambien-talistas e ruralistas e agradava bastante o executivo. Passando pela Câmara dos Deputados, sofreu modificações que só agradaram a ban-cada ruralista, e ainda, desprezou o acordo das lideranças partidárias que havia sido pactuado entre os senadores.

Indiferente aos apelos populares –ontem o Governo recebeu uma lista de 2 milhões de assinaturas contrárias ao texto aprovado na Câ-mara -, ou calculando as consequências políticas de um veto total, o fato é que, conforme a própria ministra Ideli Salvatti já anunciou, isto só ocorrerá se for “absolutamente necessário” .

Dilma Rousseff e equipe trabalham em torno de uma questão de-licadíssima, mas como esta terceira gestão de um Governo, pretensa-mente popular, já não se acanham em explicitar sua obediente servi-dão aos interesses do poder econômico, decerto a decisão desagradará menos, aos proprietários das motosserras do que aos que lutam pelo futuro da Vida em nosso planeta.

OpiniãoEditorial

Um pouco de tintaMaximilian Rox

Apontamos inúmeras reclamações aos órgãos que zelam pelos di-reitos públicos: das faltas de reajuste salarial dos professores em universidades federais aos atrasos de ônibus que nos levam à fa-culdade – e que nos rendem algumas desculpas aos nossos queridos professores. Mas há também os protestos a respeito da falta de sina-lização de trânsito, recorrentes devido às crescentes taxas de aciden-tes de trânsito em nossa cidade.

Simples ações podem constituir as mais reflexivas críticas, ainda mais quando elas contam com um elemento inusitado, diferente. E assim pensou uma moradora do bairro Alto da XV, quando com uma latinha de tinta pintou faixas de pedestre e um aviso de “pare” em um dos cruzamentos do bairro. Cansada dos inúmeros problemas causados pela falta de sinalização, sua contribuição foi eficaz: “de-pois disso, não teve mais acidentes”, conta a moradora.

Uma ação tímida e silenciosa como essa é capaz de despertar a prefeitura para os problemas de trânsito que nossa cidade enfrenta nos últimos tempos. Não foi necessário parar o fluxo de carros com habitantes revoltosos segurando placas e gritando pelos seus direi-tos. O manifesto está lá, registrado, resolvendo um problema que os responsáveis por ele deveriam resolver com suas extensas burocra-cias; apontando os erros que só seriam notados depois de notícias em jornais de acidentes trágicos ou manifestações populacionais.

Poderíamos pensar agora se nossas reclamações seriam muito mais eficazes com um pouco de tinta na rua do que fervorosas dis-cussões e paralisações.

Por que Dilma não veta tudo?

Guarda responsávelElisa Schneider

Amar os animais e zelar por seu bem estar é se preocupar também com a saúde do homem. O abandono de bichinhos de estimação é grande em países emergentes como Brasil e China, por exemplo. Esse é mais um dos problemas sociais que crescem junto com a economia e depende quase que exclusivamente da conscientização dos humanos. Cães e gatos que vagam pelas ruas vieram de algum lugar e por eles, teoricamente, existe um res-ponsável.

A guarda de um animal, seja ele de grande ou de pequeno porte, requer informação ao dono e respeito com o animal. O descuido proposital é pas-sivo de multa e denota falta de compaixão por um ser mais fraco, nesse caso, a consciência deve doer no bolso mesmo.

Em comunidades carentes a eutanásia é a solução para acabar com o sofrimento de animais doentes que precisam de tratamento, mas seus donos não possuem condições nem mesmo para comprar a ração de cada dia. O valor de uma consulta particular pode ultrapassar R$ 100, sem falar nos remédios e possíveis tratamentos de doenças que geralmente são ocasio-nadas por má alimentação, vermes e machucados. Tem gente que dá todo dia arroz pra cachorro e polenta pra cavalo, não é maldade, é reflexo de carinho abundante, mas de dinheiro escasso, motivo que leva as pessoas a desistirem de cuidar de seus animais e optarem por sua morte.

Lá na China, a preocupação com o abandono e com a disseminação de zoonoses já está entre as políticas urgentes de saúde pública. Foi criado um mecanismo que controla e cadastra as pessoas que possuem animais, mas antes de levar o bichinho para casa, cada pessoa deve passar por um curso de dois dias. O caminho encontrado por eles foi a educação, qual será o nosso?

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Desemprego de abril atinge menor taxa desde 2002

Rafael Giublin

Número de desempregados cai de 6,2% em março para 6% em abril

Dados divulgados on-tem pelo Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa de desemprego no país em abril caiu para 6%. Conforme a última medição, realizada em março, o índice estava em 6,2%. O número de abril é o menor para o mês desde 2002.

De acordo com o econo-mista Diego Veiga, o número é mérito das políticas econô-micas da presidente Dilma Rouseff: “O governo está ten-tando aquecer a economia in-terna para não ser afetada pela crise internacional, como foi feito em 2008”.

Por outro lado, o baixo ín-dice de desemprego, somado à

queda na taxa de juros imposta pelo governo no mês passado, pode gerar outros problemas: “A grande dificuldade diante

desses números é controlar a inflação, que é um dos maio-res desafios econômicos hoje no Brasil”, comenta Veiga.

Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, enquanto o desemprego diminuiu, a renda média da população empre-

gada caiu 1,2% em relação a março, mas subiu 6,2% em re-lação a abril do ano passado.

Todas essas políticas, so-madas às baixas de IPI na chamada linha branca (gela-deiras, fogões e máquinas de lavar), na indústria automoti-va e a baixa nos buscam o au-mento no consumo do cidadão brasileiro e consequentemente um aumento no PIB, que tem previsão de desaceleração neste ano.

Veiga ainda considera um difícil feito controlar infla-ção, manter o emprego em alta e incentivar o consumo interno. “É como se o governo fosse um malabarista tentando equilibrar um número muito grande de objetos ao mesmo tempo, sem deixar nenhum cair”, explica, completando: “Se der certo, será um grande feito”.

Chapa eleita no Sindijor teve 96% dosvotos válidos dos jornalistasVitória Peluso

Após três dias de votações, terminaram no final da tar-de da última quarta-feira as eleições para a nova direto-ria do Sindicato dos Jornalis-tas Profissionais do Paraná (Sindijor). A chapa eleita vai comandar o Sindijor durante três anos, até 2015.

Para o novo presidente, Guilherme Carvalho, embora a participação dos profission-ais da área tenha sido signifi-

cativa, é preciso aproximar os jornalistas do sindicato.

“Como venho dizendo o Sindijor não é o sindicato, não é o prédio, somos nós jor-nalistas”, afirma. “Temos com um dos objetivos trazer de volta os jornalistas que estão afastados do sindicato”, com-pleta Carvalho.

Ele acredita que será um desafio, mas pretende trabal-har para isso. “Pretendemos dar continuidade ao trabalho iniciado pela gestão anterior e colocar em prática as nossas metas”, conta o presidente.

Guilherme Carvalho, 32, conta que desde que se for-

mou em Jornalismo sempre trabalhou em sindicatos e es-teve presente em movimentos sindicais.

Antes de fazer parte da chapa que disputou as eleições do Sindijor, Carvalho trabal-hou como jornalista-editor no Sindicato dos Servidores Pú-blicos Municipais de Curitiba (Sismuc).

“Devido a minha experiên-cia, sei como funciona e como é a rotina da um sindicato, mas só o meu conhecimento não é o suficiente se não tivermos a mobilização dos jornalistas”, alega o presidente.

Segundo o presidente da

Comissão Eleitoral, Hamil-ton Cezario, depois de encer-radas as votações, teve iní-cio a contagem dos votos, e por volta das 21 h o Sindijor começou a divulgar dos re-sultados. De acordo com o sindicato, a chapa “Juntos So-mos Mais Fortes” teve mais de 96% de aprovação com 480 dos 494 dos votos válidos. “Tivemos apenas cinco votos nulos e doze votos em bran-cos”, diz Cezario. Ao todo o sindicato possui 636 profis-sionais de jornalismo filiados e aptos a votar.Foram eleitos para fazer parte do Conselho Fiscal os

jornalistas Roger Azevedo Pereira, com 307 votos, Már-cio Miranda Filho com 275 e Maria Aparecida Bacaycoa de Ribeiro que recebeu 265 vo-tos. A cerimônia de posso da chapa eleita acontece no dia 18 de junho. As eleições ac-onteceram durante três dias, 21, 22 e 23 por meio de urnas fixas na sede do sindicato e nas subseções de Ponta Gros-sa, Cascavel e Foz do Iguaçu e urnas itinerantes espalhadas por locais, onde há jornalistas tralhando como órgãos públi-cos e assessorias de imprensa e empresas de comunicação.

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De luz não se faz a ESCURIDÃO

*Quando, seu moço / Nas-

ceu meu rebento / Não era o momento / Dele rebentar / Já foi nascendo / Com cara

de fome / E eu não tinha nem nome / Pra lhe dar / Como fui levando / Não sei lhe

explicar / Fui assim levando / Ele a me levar / E na sua meninice / Ele um dia me disse / Que chegava lá...

*

Para chegar à Escola Mu-nicipal Antônio José de Car-valho, em Campina Grande do Sul, cidade a 30 quilômetros de Curitiba, é preciso uma certa dedicação. Primeiro se pega a Estrada do Corredor, uma obscura entrada de pe-dras com grandes buracos e muito barro nos dias de chu-va, ao lado da Rodovia do Ca-qui, ainda próximo da Rodo-via Regis Bittencourt. Depois é necessário andar seis qui-lômetros, atravessar algumas chácaras, o Centro de Trei-namento novo do Coritiba, pesque-pagues, espremer-se quando caminhões surgem no sentido contrário, passar por uma fábrica mambembe de reciclagem, avistar casas mal ajambradas, cachorros de ruas e vacas pastando. Chegamos, então, à escola, com seus mu-ros cinzentos e vinte e três marcas de pichação.

Estamos no Bairro Eugênia

Daniel Zanella Marcos Monteiro

Maria.O Eugênia Maria é um

dos bairros mais violentos de Campina Grande do Sul, rota elementar do tráfico de dro-gas, altos índices de desem-prego e presença constante no noticiário policial. Muitas professoras que foram trans-feridas à escola da região co-mentam o pavor dos amigos e familiares diante da futura ocupação. Em um passado não tão distante, crianças ameaça-vam esfaquear umas às outras na saída de aula. Luiz Assun-ção, prefeito da cidade, não acredita que o bairro seja tão violento assim. “Estamos me-lhorando a infraestrutura de todos os bairros da cidade. O Eugênia Maria já esteve mais precário...”, contemporiza.

A Escola Antônio José de Carvalho atende 359 crianças, de pré a quinta série do fun-damental. No Índice de De-senvolvimento da Educação Básica (IDEB), exame bienal que avalia o nível do ensino no Brasil, a escola tirou em 2007 a nota de 4.1, numa es-cala que vai de 0 a 10.

Foi a pior nota do municí-pio.

*Olha aí! / Ai o meu guri, olha aí! / Olha aí! /É o meu guri e ele chega! /Chega suado / E veloz do batente / Traz

sempre um presente / Pra me encabular / Tanta corrente de ouro / Seu moço! / Que haja

pescoço / Pra enfiar / Me trouxe uma bolsa / Já com

tudo dentro / Chave, caderne-ta / Terço e patuá / Um lenço e uma penca / De documen-

tos / Pra finalmente / Eu me identificar...

*

Simoni Ferrarini de Souza Millek é a atual diretora da es-cola. Mora no Anibeli Ferrari-ni, conjunto a cinco minutos de seu trabalho. Está desde 1989. Já foi aluna, professo-ra, supervisora e diretora por dois mandatos do Antônio José de Carvalho. Conhece to-das as famílias que levam suas crianças para serem educadas por sua equipe de 16 profes-soras. “Minha vida toda está neste bairro”.

Depois da duvidosa con-decoração de pior escola de Campina Grande do Sul, o Antônio José recebeu auxílio em 2008 do Mais Educação, programa do governo federal que aumenta a oferta educa-tiva nas escolas públicas por meio de atividades multi-disciplinares que englobam acompanhamento pedagógico, atividades esportivas, cultu-rais e de saúde.

A aluna Amanda*, da 4º Sé-

rie, está com dez anos e mora há poucos meses no bairro. Escreveu a seguinte redação sobre a cidade:

“Por vários locais já fiz moradia. Novamente a minha mãe dá a notícia que mudare-mos. Fico triste, estou cansa-da de fugir. Meu pai era do-ente viciado em crack, minha mãe sonhadora. Ela sempre acreditou que um dia tudo iria mudar. Viemos pra cá. Sentia que aqui nossas vidas iriam mudar.

E mudou. Fui para a es-cola e minha mãe ficou muito satisfeita com a educação de lá. Minha mãe encontrou em-prego e logo fizemos amigos, que nos ajudaram quando a doença venceu meu pai...”

A partir de 2008, a escola passou a desenvolver diversos projetos que integram o coti-diano de aula com a realidade local. Passou também a ofere-cer ensino em período integral e simulados das avaliações do IDEB, chamados de Projeto

ESPECIAL

Chico Buarque, IDEB, violência e literatura no cotidiano da pior melhor escola de Campina Grande do Sul

Prova Brasil. Na reforma da escola, por exemplo, foi im-plantado um projeto que res-gatou ex-alunos em situação de risco e desempregados – e trouxe-os para os serviços ge-rais como pintor e pedreiro. A iniciativa deu certo e muitos seguem trabalhando em obras das demais escolas de Campi-na Grande do Sul.

*Chega no morro / Com

carregamento / Pulseira, cimento / Relógio, pneu, gra-vador / Rezo até ele chegar / Cá no alto / Essa onda de assaltos / Tá um horror / Eu consolo ele / Ele me consola / Boto ele no colo / Pra ele

me ninar / De repente acordo / Olho pro lado / E o danado

já foi trabalhar...*

“Uma Mão Lava a Outra” é um projeto da escola que permite que alunos com maior capacidade de aprendizagem auxiliem no contra-turno aqueles estudantes mais no-

Rita

Lim

a

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vos com dificuldades em de-terminadas matérias, além de produzirem cartazes e recor-tes para os conteúdos. Isabel Reis, professora da escola há 26 anos, alega que a atividade leva os alunos com dificulda-de a quererem atingir o nível dos mais velhos. “É uma com-petição especial. Sabemos que muitas vezes não conse-guimos entender as crianças em sua completude. Eles se entendem e crescem”.

Belzaque Ferreira não era um aluno fácil. Era conside-rado um dos mais desordei-ros e desobedientes a passar por toda a história da escola. Professoras tremiam ao ouvir o seu nome. A uma delas ele chamava de carvão. Mães se dirigiam até a diretoria para reivindicar que seus filhos não estudassem com tal elemento. O filho Natanael, hoje na 4º série, conta que o pai mudou após uma conversa serena com uma das professoras, que o fez rever seu comportamento. Hoje, Natanael tem aula com a mesma professora Isabel. Os pais mantêm linha dura com as atividades do filho.

A escola faz também en-caminhamentos médicos para psicólogos e terapeutas, além de acompanhar a rotina dos

alunos que tomam algum tipo de medicação.

*Chega estampado / Man-

chete, retrato / Com venda nos olhos / Legenda e as

iniciais / Eu não entendo essa gente / Seu moço! / Fazendo alvoroço demais / O guri no mato / Acho que tá rindo /

Acho que tá lindo / De papo pro ar / Desde o começo eu não disse / Seu moço! / Ele disse que chegava lá / Olha aí! Olha aí! / Olha aí! / É o

meu guri!...*

Em 2009, a Escola Antô-nio José tirou 5.3 no exame do IDEB. Foi a maior nota do município. Além das reuniões mensais com os pais, passe-atas e campanhas regionais de conscientização da impor-tância da família no processo pedagógico, as professoras desenvolvem diversas ativida-des com os jornais da região. “Temos dois importantes pro-jetos de leitura. São o Ler e Pensar, premiado recentemen-te pela RPC, e o Mel Encanta-da, realizado com crianças de 8 e 9 anos, buscando despertar o lado fantasioso e lúdico da leitura. Outra coisa que mu-

dou consideravelmente nosso dia a dia foi a melhora da ali-mentação e a maior interação dos pais no processo educati-vo”, alega Simone.

A educação no Brasil apresentou melhorias signi-ficativas nos últimos vinte anos, com quedas da taxa de analfabetismo, aumento da escolaridade média e da fre-quência escolar. No entanto, os índices de educação estão diretamente entrelaçados com aspectos locais de cada comu-nidade, suas desigualdades e incoerências. O bairro Eugê-nia Maria não tem academia ao ar livre, praça de esportes, teatro ou cinema.

Professoras relatam que cer-ta vez uma avó ligou para dizer que o trabalho feito pela escola era em vão: o seu neto já esta-va fadado ao mundo do crime depois de completar os estudos.

Entretanto, é possível afir-mar que muitas vezes dentro de um livro, de uma peça de teatro ou de um acompanha-mento psicológico pode estar uma via alternativa para que crianças em situações de ris-co não sejam cooptadas pelo mundo da violência e das dro-gas, o professor também atua como agente da transforma-ção social.

São 10.444.526 de habi-tantes e Produto Interno Bruto de R$ 179.270.215,00 sendo 1,3% de analfabetos entre 10 e 14 anos, e 6,3% com mais de 15 anos. São mais de dois milhões de estudantes, com 6,4% desse coeficiente com mais de dois anos de atraso nos estudos, embora a média nacional seja de 13%.

Se no comparativo com a educação nacional, o Paraná aparece com índices pouco alarmantes, quando observa-mos os índices educacionais de países de Primeiro Mundo, o cenário se inverte.

De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os três países com as menores taxas de analfabetismo são Cuba, Estónia e Letônia, todos com apenas 0,2% de pessoas sem saber ler nem escrever. Burkina Faso é o país com o maior índice, são 77,4% dos habitantes sem instrução es-colar básica.

Mesmo estando à frente se comparado com o cenário nacional, a educação munici-pal de Curitiba gera contro-vérsias, sobretudo nas pontas opostas do poder político da cidade.

“Hoje o município de Curi-tiba não tem uma política prioritária na alfabetização de jovens e adultos. Eu acredi-

to que Curitiba já poderia ter erradicado o analfabetismo, mas nós não sentimos, já faz algumas gestões, uma priori-zação nesta área”, afirmou a Vereadora (PT-PR), Professo-ra Josete.

Mesmo com bons indica-dores, Curitiba não encabeça a lista das cidades mais al-fabetizadas do estado. Com apenas 3.646 habitantes [nú-meros Censo 2010 do IBGE], Quatro Pontes se destaca en-tre as cidades com os maiores números de moradores alfabe-tizados. O índice é europeu: 97.8% de alfabetização. Com belos números, a modesta ci-dade da região oeste do esta-do tem ainda o segundo me-lhor IDH do Paraná, 0,851. A capital tem o melhor índice: 0.856.

“Há regiões [em Curitiba] que historicamente têm pro-blemas e não se resolve. Prin-cipalmente na região sul, en-tão falta mesmo a construção de escolas para atender esta demanda. Existe uma distri-buição espacial que não é mais adequada. Ao longo do tempo você tem que ir planejando. Já passou do momento de Curiti-ba fazer um planejamento em conjunto. Essa é uma tarefa da rede Municipal e Estadu-al: um mapeamento seguindo os crescimentos das cidades”, completou a vereadora.

Contrastes e distorções marcam as estatís-ticas educacionais no estado

Retrato da educação no Paraná

Índices de alfabetização do estado:

01) 97.7 - Quatro Pontes02) 96.9 - Curitiba03) 96.7 - Entre Rios do Oeste04) 96.0 - Mal.Cândido Rondon05) 95.6 - Nova Santa Rosa06) 95.2 - Pato Bragado07) 95.1 - Maringá08) 94.8 - Araucária09) 94.8 - Mallet10) 93.8 - Cascavel

01) 74.3 - Godoy Moreira02) 75.4 - Ortigueira03) 77.1 - Adrianópolis04) 78.2 - Rio Branco do Ivaí05) 78.5 - Cerro Azul06) 78.7 - Laranjal07) 79.2 - Nova Tebas08) 79.5 - Rosário do Ivaí09) 79.8 - Mirador10) 80.9 - Quinta do Sol

Os Dez Melhores Os Dez Piores

Rita

Lim

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ELE E O DIABO

Luíz Zavan [email protected]

Música

Era uma vez, um jovem negro pa-rado em uma encruzilhada, vestindo um terno amarrotado e segurando um violão. Não há nada por perto, nenhu-ma casa, nenhuma garagem, nada. E ali ele se encontra, com olhar de pre-ocupação de quem espera alguém ou alguma coisa acontecer. Quando o seu relógio de bolso marca meia-noite, ele vê um carro Ford preto, com os faróis ligados, mas ao invés da luz amarela comum desse modelo de automóvel, a luz é vermelha e forte.

O carro se aproxima do jovem, que tenta não mostrar medo. Então, o carro para e um homem branco desse dele. Este homem veste um terno preto im-pecável, sapatos muito bem engraxa-dos e um chapéu que cobre os olhos. Com uma das mãos, ele segura um cigarro e com a outra cumprimenta o jovem negro. O jovem se apresenta e diz que seu nome é Robert Johnson. O

homem não fala seu nome e pede para ele to-

car uma música. Johnson tenta alguns acordes, mas o violão está completa-mente desafinado.

O homem pede o violão emprestado e o afina com rapidez. Johnson ficou feliz que seu violão estava afinado, mas falou que só devolveria o violão se eles fizessem um acordo. O homem disse que só devolveria o violão e lhe daria talento musical se Johnson lhe desse a alma.

Esse é o mito que roda a história misteriosa de Robert Johnson, o nome mais importante do blues de raiz. Ro-bert Johnson que nasceu em 1911 no Mississipi. Não se sabe muito sobre a vida deste musico. Ele começou a tocar em bares locais aos 18 anos de idade e apresentava um talento fora do comum.

Seus conterrâneos e parceiros do blues diziam que nunca viram ninguém tocar violão com tanta facilidade e es-

crever músicas tão criativas e sinistras como “Me and The Devil”, “Cross Road Blues”, “Sweet Home Chicago” e “Hellhoud on My Trail”. Seu amigo e conterrâneo David “honeyboy” Edwar-ds (que faleceu ano passado com 96 anos de idade) disse que Johnson era um sujeito calado, calmo, educado, e que seu ponto fraco eram as mulheres e whisky. Ambos tocavam nos mesmos bares junto com outro ícone do blues Son House. Edwards disse em entre-vistas que Johnson sempre tocava de costas para o publico, para que outros músicos não copiassem seu estilo.

Robert Johnson pode ter mantido seus acordes em segredo, mas não dei-xou de influenciar músicos de todos os estilos. Desde Elvis Presley até Led Zeppelin afirmaram que Robert Jo-hnson foi uma grande influência para eles. O guitarrista dos The Rolling Sto-nes Keith Richards afirmou que John-son é seu musico preferido desde que era jovem. Chuck Berry, Ike Tunner, Eric Clapton, Jeff Beck, The Beatles e várias outras bandas e artistas citam

Robert Johnson como uma das prin-cipais influências. Isso sem falar nos conceito de “bluesman” que foi total-mente baseado na sua imagem. Estilo adotado por vários outros “bluesman” como BB King, Muddy Waters, John Lee Hooker e Buddy Guy.

Esporte Local

Em uma semana em que todos os holofotes deveriam estar voltados para as partidas decisivas de Coritiba e Atlético na Copa do Brasil, outras questões burocráticas, envolvendo os dirigentes da dupla Atletiba e do Paraná, ganharam maior destaque na imprensa local.

Ainda sem estádio definido para jogar o Campeonato Brasileiro da Série B, o Furacão publicou na ma-nhã da última segunda-feira, em seu site oficial, uma carta assinada pelo seu presidente, Mario Celso Petra-glia, acusando o presidente do Alvi-verde, Vilson Ribeiro de Andrade, de traição.

A denúncia, segundo o mandatá-rio atleticano, foi feita pois Andrade havia prometido, em uma reunião, que emprestaria o Couto Pereira para o Atlético mandar seus jogos da se-

Victor Hugo [email protected]

gunda divisão nacional e, logo de-pois, teria quebrado o suposto acor-do firmado entre eles, alegando que o Conselho Deliberativo do Coritiba não aprovou a proposta.

A discussão acerca do assunto “empréstimo do Couto Pereira” é complicada e desgastante. Como se isso já não bastasse, o ego dos man-datários se sobrepõem ao ponto de criar uma espécie de conflito pesso-al que, em alguns momentos, parece ser mais importante do que qualquer solução proposta para erradicar de vez o problema em evidência. Estu-fam os pulmões, cada um puxa para o seu lado e o consenso é palavra inexistente no vocabulário dos dois dirigentes.

Vila CapanemaCom a negativa por parte do Cori-

tiba em ceder sua praça esportiva ao maior rival, aliada a liminar cedida pelo TJD-PR ao clube do Alto da Gló-ria, a CBF indicou a Vila Capanema para o Atlético disputar o Brasileiro da Série B.

Contudo, a cúpula diretiva do Pa-raná não aceitou a imposição e enviou um ofício a entidade, reiterando o de-sejo de não ceder o Durival Britto ao Furacão. Um dos motivos seria o gran-de número de jogos que estão sendo disputados no estádio, já que o Tricolor disputa a Série Prata do Campeonato Paranaense e o Campeonato Brasileiro da Série B de forma simultânea, o que gera um grande desgaste no gramado.

Diante dessa situação, o Paraná só aceita ceder a Vila Olímpica, que pre-cisará de várias reformas se o Atlético quiser utilizá-la.

É claro o descaso com o time da

Fora das quatro linhas

Vila Capanema que, nada mais é, do que vítima de todo esse processo que deveria ter sido resolvido muito ante-cipadamente, tanto pela omissa FPF, quanto pela ociosa CBF, que simples-mente não souberam explorar outras alternativas para resolver o imbróglio.

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Curitiba, sexta-feira, 25 de maio de 2012 7 Geral

“Carro antigo é feito para andar”

Rafael Giublin

Apaixonado por carros e um dos fundadores do Museu do Automóvel, Luiz Gil de Leão mantém coleção pessoal de 33 veículos antigos, todos funcionando, com seu filho

CULTURA

O automóvel é item funda-mental para a vida do ser huma-no, partindo da locomoção pes-soal e indo até o transporte de cargas. Inventado em 1769 pelo francês Nicolas-Joseph Cugnot, ainda com motor a vapor, era idealizado para ser um veículo para servir as necessidades bási-cas do homem. Mal sabia Cug-not que sua invenção passaria por inúmeras transformações e acabaria se tornando objeto de adoração e símbolo de status na sociedade moderna.

Dois grandes exemplos de paixão por carros são os admi-nistradores de empresa Luiz Gil de Leão, de 78 anos, e seu filho Luiz Gil de Leão Filho, o Lui-zinho, 48. Ambos possuem uma coleção que totaliza 33 veículos, partindo de modelos dos anos 50 até alguns mais recentes, dos anos 90, mas não menos raros.

A coleção começou por aca-so. Em 1954, Luiz Gil trouxe do Rio de Janeiro um Volkswa-gen conversível do mesmo ano. Desde lá ele não se desfez de nenhum carro que comprou, e passou a procurar modelos raros para reformar.

Questionado sobre qual veí-culo era o mais raro da coleção, Luizinho não hesitou, “sem dú-vidas é nosso Cadillac Eldora-do”. O modelo teve a produção limitada a 532 modelos, sendo o presente na coleção o único exis-tente no Brasil. O automóvel foi fabricado em 1953 e está com a família desde 1965. Curiosamen-te, grande parte das peças utili-zadas na restauração do modelo veio de ferros velhos. “Naquela época ainda tinha Cadillac em ferro velho”, destaca Luizinho. Outro fator que torna este Eldo-rado ainda mais raro é a placa AAA-0002, adquirida em leilão no lançamento das placas com três letras e quatro números em território nacional.

Uma marca se destaca em meio a tantas raridades: a Jaguar. Um terço da coleção é composta por modelos da montadora in-glesa. Quando questionado sobre qual seu xodó, Luiz Gil pai ci-tou um Jaguar, mas rapidamente mudou de ideia e escolheu outro modelo da montadora, trocando por um terceiro, também um Ja-guar. Depois assumiu, em meio a risadas: “na verdade eu não sei de qual eu gosto mais, mas com certeza é um dos jaguares”.

Luiz Gil pai não gosta do tí-tulo de “colecionador”. Ele se considera um “juntador”. A di-ferença está nos objetivos finais da coleção. Enquanto o colecio-nador mantém os carros apenas para exposição, o juntador usa-os no dia a dia. “Carro antigo é feito para andar, é automóvel, e não ‘autoimóvel’”, pontua Luiz Gil Pai. “Nós gostamos de usar os carros para passear, por isso todos eles estão funcionando”, diz. Luizinho completa: “Nos fins de semana sempre escolho

O colecionador Luis Gil de Leão

Rafael Giublinum modelo diferente para sair de casa”.

Além de c o l e c i o n a -dor, Luiz Gil de Leão pai é um dos sócios f u n d a d o r e s do Museu do A u t o m ó v e l , localizado ao lado do Parque Barigui. Em 1976 os mem-bros do Clube de Automóveis e Antiguidades Mecânicas do Paraná (Ca-amp), lidera-dos pelo pró-prio Luiz Gil, receberam o terreno da pre-feitura e cons-truiram o mu-seu. Os veículos de sua coleção pessoal se revezam no acervo do

museu, que é modificado a cada dois meses.

Biblioteca Pública promove literatura lusófona

Hoje, às 10h, na Biblioteca Pública do Paraná, acontece a leitura de textos de autores lusófonos sobre o tema “Ci-dades: frestas e sombras”. Os textos apresentados serão: “Língua que não sabemos que sabíamos”, de Mia Cou-to; “História de um olhar”, de Eliane Brum;“Esquina”, de Ondjaki;“A casa ilhada”, de Milton Hatoum; “Nova-York-Lisboa”, de Miguel Sousa Tavares; “O assalto”,de José

Eduardo Agualusa; “O espa-lha-bundinhas”, de Luis Hen-rique Pellanda e “O homem que sabia português”, de José Castello.Os leitores e responsáveis pela escolha do repertório são Flávio Stein, especialista em Estudos Literários, atuando nas áreas de teatro, música e dança, e Walter Lima Torres, coordenador geral do projeto e dramaturgo. “Só posso di-zer que é um grande privilé-gio poder ler esses autores tão distintos entre si. E agradecer a própria língua portuguesa

o contato com esses autores que eu acabei descobrindo aos poucos por conta do próprio projeto”, declara Torres.Esta descoberta é abordada por outro ângulo pelo chefe da Divisão de Difusão Cultural da BPP, Luiz Rebinski Junior. “Há uma descoberta do nosso mercado editorial/público dos autores de língua portuguesa fora do Brasil, principalmente das ex-colônias de Portugal. E esses autores viram no Brasil um nicho de mercado impor-tante”, afirma.Stein, por sua vez, explica que

o objetivo do projeto é tornar acessível ao público curitiba-no uma literatura pouco co-nhecida que explora a nossa língua de formas diferentes devido as diversas origens de seus autores: Brasil, Portugal, Moçambique e Angola, veri-ficando pontos em comum e divergências. Ele enfatiza ainda a recupe-ração da prática da leitura em público devido ao prazer da narrativa sem a cena ou qual-quer outra atração, conquis-tando as pessoas somente por meio das palavras.

Segundo Stein, elementos como a música e a iluminação dão um toque importante que contribui para criar o clima para cada grupo de textos.Um aspecto importante do evento é o fato das pessoas poderem se manifestar, pois após as leituras é sugerida uma conversa, em que podem haver perguntas e comentários sobre literatura e cultura em geral.O projeto acontece até o final de junho, todas às quartas, às 19h00, e sextas às 10 da ma-nhã.

Sophia Chueke

Page 8: LONA 723 - 25/05/2012

Curitiba, sexta-feira, 25 de maio de 20128

Um ‘Ulysses’ em tradução abusada

No ano de 1922, enquanto uma série de mo-vimentos e publicações balançavam as bases da arte no mundo ocidental, era publicado o romance “Ulysses”, do irlandês poliglota James Joyce. A obra - que leva a Odisseia de Homero como refe-rência – relata 24 horas na vida Leopold Bloom, em torno dos dias 15 e16 de junho de 1904.

Após consagrar-se como um dos clássicos da literatura moderna, ou melhor, “o” clássico, o li-vro foi traduzido por três vezes no Brasil. A últi-ma versão, recém-lançada, foi levada a cabo ao longo de 10 anos pelo curitibano Caetano Galindo que, em entrevista ao LONA, mostrou que nem só de neologismos e palavras-valises vive o tradutor de Joyce.

A tradução de Galindo foi publicada neste mês pela editora paulista Companhia das Letras.

LONA: Como Ulysses, de James Joyce, contrapõe o projeto histórico da Ilíada e da Odisseia, de Homero?

Galindo: Numa via de mão dupla, que desautoriza o mito (ao jogar Odisseu na pele de um mero “publicitário corno”, como dizia o Paulo Francis) ao mesmo tempo em que se serve dele para propiciar um estatuto maior para a realidade mais comezinha.

O que se depreende da escolha de Joyce em travar

uma história em somente um dia, deixando o aspecto externo para a exploração do universo interno de seu personagem? Esta escolha - e as referências - são pro-positais?

Tudo, no Ulysses, parece proposital. Ele queria ser abundante. Ele era abundante. E o jeito mais produtivo que ele encontrou para dar plenas rédeas a essa sua tendência maximizadora foi minimizar o seu ponto de partida. Fechar o foco. E ao se concentrar nesse mundo limitado ele podia demonstrar o quanto era, na verdade, amplo e inesgotável.

No processo de tradução você ambicionou fazer com que a leitura de Ulysses, que exige certa maturidade intelectual, fosse facilitada ou prezou pela fidelidade/integridade da obra de Joyce?

Caetano Galindo conversou com o LONA sobre o desafio de ter vertido para o português a obra máxima de James Joyce

“Facilitada”, não. O horizonte sempre foi o de obede-cer ao projeto e aos planos do Joyce, mantendo os mes-mos graus de dificuldade e tal. Por outro lado, ao manter essa “fidelidade” a gente pode até ter “facilitado”, porque uma das características do livro é justamente uma varia-bilidade e um “colorido” que nem sempre as traduções conseguiram atingir. Ou seja, pode parecer mera frase de efeito, mas às vezes pode ser bem ao dificultar o Ulysses, ao atender a todas as suas esquisitices, que a gente facili-ta, ou ao menos possibilita, o acesso do leitor.

Quais foram as dificuldades em transpor as idios-sincrasias e sonoridades específicas da obra ao portu-guês?

De todo tipo, claro. Mas a maior sempre é ter que reco-nhecer (e os tradutores têm de se haver com isso o tempo todo) o fato de que a tradição da literatura de língua por-tuguesa é menos abrangente e menos abundante que a de língua inglesa. Até porque, ora, um livro como o Ulysses já tem seu efeito “lá” há noventa anos. Aqui, certas coisas ainda precisam ser “forçadas”, e nem sempre o tradutor pode se apoiar numa experiência já realizada.

Quais outros desafios, além da linguagem, Ulysses impõe ao leitor contemporâneo?

Há sempre a questão das referências. Literalmente mi-lhares de dados, canções, frases feitas, versos, persona-gens históricos, que faziam sentido talvez apenas, imedia-tamente, na cabeça de Leopold Bloom, mas que um leitor irlandês da época identificava com relativa facilidade. Era tudo já mais difícil, mesmo em 1922, para, digamos, um nova-iorquino. Imagine então para um brasileiro do sécu-lo 21.

No que a sua tradução se diferencia das outras tra-duções?

A “tentativa” (dizer se isso virou “resultado” não é o meu trabalho!) foi fazer uma coisa mais “colorida” e mais “variada”, mais “democrática”, do que a do Houaiss e, também, mais abusada e mais “abusiva” que a da profes-sora Bernardina. Mas sei lá. Acho que o Marcelo Tápia tem razão, num texto da Folha. Cada uma há de ocupar o seu lugar.