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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS Trabalho de Conclusão de Curso Diogo Beck Franken Santa Maria, RS, Brasil 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES

TRIGONOMÉTRICAS

Trabalho de Conclusão de Curso

Diogo Beck Franken

Santa Maria, RS, Brasil

2015

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MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Diogo Beck Franken

Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura Matemática da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentado como

requisito final para obtenção do grau de Licenciado em Matemática.

Orientadora: Professora Dra. Carmen Vieira Mathias

Santa Maria, RS, Brasil

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2015

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Naturais e Exatas

Departamento de Matemática

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a conclusão de curso

MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

elaborado por Diogo Beck Franken

como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Matemática

COMISSÃO EXAMINADORA:

Carmen Vieira Mathias, Dra. (Presidente/Orientador)

AntonioCarlos Lírio Bidel,Dr. (UFSM)

Karine FaverzaniMagnago, Dra. (UFSM)

Santa Maria, 03 de Dezembro de 2015.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida e me possibilitar um novo

dia todo amanhecer. Por me dar força e me guiar nos momentos de dúvidas e

aflições.

Aos meus pais, que estão sempre ao meu lado e ao de meus irmãos nos

apoiando, incentivando e dando o suporte necessário para que alcancemos nossos

objetivos. Por nunca faltar amor na nossa família, que é o que nos sustenta em

todos os momentos. Aos meus irmãos e irmãs por estarmos sempre juntos, mesmo

que não fisicamente, sempre torcendo uns pelos outros.

Queria agradecer ao meu pai em especial, por me ensinar a tocar violão com

10 anos e sempre me incentivou no desenvolvimento do raciocínio lógico

despertando o interesse pela matemática.

Aos amigos, por compartilhar inúmeros momentos de alegria durante toda a

minha trajetória em Santa Maria, me tornando uma pessoa melhor e mais feliz. Sem

vocês eu nada seria.

À minha orientadora Carmen Vieira Mathias, por aceitar este desafio junto a

mim, que sempre me incentivou, apoiou e acreditou na construção desta ideia, com

muita paciência não me deixando desistir e contribuindo muito para a realização

deste trabalho, além de um grande exemplo como docente.

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RESUMO

Trabalho de Graduação

Curso de Matemática Licenciatura

MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

AUTOR: Diogo Beck Franken

ORIENTADORA: Carmen Vieira Mathias. Data e local da defesa: Santa Maria, 03 de Dezembro de 2015.

Esse trabalho trata-se de uma pesquisa do tipo bibliográfica que relaciona

matemática e música, assuntos que geralmente são tratados como saberes completamente isolados um do outro. Pretende-se apresentar as proximidades desses dois conhecimentos, utilizando aplicações como uma estratégia para o ensino da matemática. Mostraremos a música como um elemento motivador para se estudar funções trigonométricas no Ensino Médio, a partir da introdução da teoria musical, tendo como principal relação o som, sendo representado por uma onda senoidal. Faz-se o uso do aplicativo Geogebra como recurso tecnológico como facilitador das representações e transformações gráficas das funções trigonométricas, além de poder reproduzir os sons descritos por produto das funções estudadas.

Palavras-Chave: Música e Matemática. Geogebra. Funções Trigonométricas.

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ABSTRACT

Undergraduate Final Work GraduateProgram in Mathematics Federal Universityof Santa Maria

MUSIC , MATHEMATICS AND TECHNOLOGY : A PATH TO

TEACHING FUNCTIONS TRIGONOMETRIC

AUTHOR: Diogo Beck Franken INSTRUCTOR: Carmen Vieira Mathias.

Date anddefense site: Santa Maria,December 03, 2015. This work it is a survey of bibliographic type that relates Mathematics and Music, subjects which are usually treated like know ledge completely isolated from one another. It is intended present the vicinity of both know ledges, using applications as a strategy for teaching mathematics. We show music as a motivator to studying trigonometric functions in high school, from the introduction of music theory with the main relationship sound, it is represented by a sine wave. It makes the use of Geogebra application as technological resources as a facilitator of representations and graphical transformations of trigonometric functions, and can reproduce the sounds described by product of the studied functions. Key-Words: Music and Mathematics. Geogebra. Trigonometric Functions.

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Sumário

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

1.TEORIA MUSICAL .......................................................................................... 10

2.REVISANDO AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ....................................... 17

2.1 Função Seno ...................................................................................................... 17

2.2 Função Cosseno: .............................................................................................. 21

3. A ONDA COMO FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ....................................... 25

3.1. Soma e Produto de Funções Trigonométricas .............................................. 25

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 29

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 31

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INTRODUÇÃO

As relações entre matemática e música, embora sejam consideradas por

muitos, áreas totalmente distantes, são conhecidas e estudadas desde a antiguidade

e sempre se mantiveram muito próximas uma da outra (BIBBY, 2003). A matemática

grega só pode ser interpretada juntamente à filosofia, à astronomia, à moral, à

música, enfim, na Paideia - nome dado para o conjunto de conhecimentos

organizados de forma circular, ou seja, não hierárquica, formando um todo

necessário à formação do indivíduo (JAEGER, 2013).

Segundo Abdounur (2002), o primeiro matemático a relacionar razões de

cordas vibrantes a intervalos musicais foi Pitágoras. Este experimento foi feito no

monocórdio - Instrumento composto por uma única corda estendida entre dois

cavaletes fixos sobre uma prancha ou mesa, possuindo um cavalete móvel colocado

sob a corda para dividi-la em duas seções. Resultando no quarto ramo da

matemática, compondo o quadrivium, que são as quatro ciências matemáticas:

álgebra, geometria, astronomia e música.

Acredita-se importante mencionar BRASIL (2008), que se refere à lei nº

11.769, na qual fica determinado que a música deva ser conteúdo obrigatório em

toda a Educação Básica. Segundo Craveiro (2012) "O objetivo não é formar

músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos”.

A partir não somente desta obrigatoriedade em termos de lei, mas também da

consciência da importância de um trabalho interdisciplinar, julga-se profícuo ter a

música como disciplina escolar. Ela está presente no dia a dia dos alunos e isso faz

com que possamos ter este despertar para a matemática por meio da música,

mostrando aplicações da matemática no cotidiano.

Além disso, acredito que seja relevante mencionar meu histórico já que minha

relação com a música e a matemática começou cedo, a partir da figura do meu pai,

que me “tomava” a tabuada quando podia me levar para a escola e também ao me

ensinar alguns acordes no violão. Desde o início quando escolhi a licenciatura

pensei que poderia utilizar de alguma forma a música para despertar o interesse nos

alunos. Pelo fato de estar em sala de aula, pude observar a dificuldade que os

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alunos têm em fazer uma ligação entre as relações trigonométricas e as funções

trigonométricas, ou seja, é muito complicado para o aluno estipular semelhanças e

diferenças e entre seno ou cosseno de um ângulo (trigonometria no triângulo

retângulo) e seno ou cosseno de um número real (funções trigonométricas).

Nesse sentido, vem a proposta desse trabalho de conclusão de curso, que foi

realizar uma pesquisa sobre as relações existentes entre matemática e música e

verificar, onde essa relação poderia ser encaixada dentro do currículo escolar.

Verificamos que, uma vez que a música esta presente na vida de todos diariamente,

ela pode ser um objeto motivador para se trabalhar não só as funções

trigonométricas como também, fazer o estudo do conjunto dos números racionais no

Ensino Fundamental. Observamos nas escolas a dificuldade de os alunos

aprenderem esse conteúdo, e a música pode tornar o assunto mais interessante e

proporcionar uma melhoria no entendimento do mesmo. Essas duas áreas, em

geral, são tratadas como campos de saber distintos e isolados um do outro.

Acreditando que a utilização do saber da música pode ser uma ferramenta

motivadora para o ensino da matemática, pretende-se mostrar as similaridades e

ligações entre elas, que podemos utilizar no intuito de desenvolver o ensino de

matemática. Além disso, utilizaremos como apoio o software GeoGebra com o

objetivo de facilitar a construção dos gráficos das funções trigonométricas e suas

transformações.

A primeira parte deste trabalho expõe uma pequena introdução à teoria

musical e sua relação com a matemática a partir de Pitágoras que fez medições em

um instrumento de uma corda e relacionou com números fracionários, formalizando

a construção desta teoria. Apresenta também as frequências sonoras para

relacionar estas com as funções trigonométricas.

Em seguida, apresentam-se as funções trigonométricas seno e cosseno,

realiza-sea construção de seus gráficos com o auxilio do aplicativo GeoGebra.

Utilizando os recursos do software se faz possível verificar de forma simples, as

transformações desses gráficos, que são descritas de forma detalhada neste

trabalho. Na terceira parte, apresenta-se algumas especificidades do aplicativo

Geogebra, que permite, a partir de combinações de funções trigonométricas, tocar

alguns sons. E para finalizar, são descritas as conclusões do trabalho.

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1. TEORIA MUSICAL

Segundo Abdounur (2002), poucos filósofos, muito menos cientistas,

souberam adaptar elementos sensíveis às suas teorias com tanto acerto como

Pitágoras. A famosa teoria Pitagórica da harmonia das esferas era muito mais

profunda que a mera conjectura da consonância das notas que os astros produzem

nos seus movimentos regulares. A música era, para os pitagóricos, um símbolo de

harmonia do cosmos e, simultaneamente, um meio de alcançar o equilíbrio interno

do espírito do homem.

Observa-se que a harmonia que Pitágoras descobriu nos números, 1, ½, 1/3,

¼, fez com que acreditasse que todo o Universo era controlado por música, motivo

pelo qual cunhou a expressão “música das esferas” (CAMPOS, 2009).

Nesse trabalho é importante deter-se no inventor de um aparelho capaz de

relacionar a harmônica musical com os números. Tal instrumento, inventado por

Pitágoras é o monocórdio, que era composto por uma única corda estendida entre

dois cavaletes fixos sobre uma prancha ou mesa possuindo um cavalete móvel

colocado sob a corda para dividi-la em duas seções. (ABDOUNUR, 2002)

Esta corda produzia um som que Pitágoras tomou como som fundamental: o

tom.Fez, a seguir, marcas na corda, as quais a dividiam em doze partes iguais,

conforme apresenta a Figura 1.

Figura 1: Marcações feitas por Pitágoras no Monocórdio Fonte: Camargos (2003)

Cunha (2006) relata que Pitágoras tocou a corda na 6ª marca e observou que

se produzia a oitava. Tocou depois na 9ª marca e resultava na quarta. Ao tocar na 8ª

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marca, obtinha-se a quinta. Além disso, segundo o mesmo autor, Pitágoras verificou,

ainda, que os sons produzidos, ao tocar em outras marcas, resultavam discordes,

ou, pelo menos, não tão acordes como os anteriores. Isso significa que os números

1, 2, 3 e 4, cuja soma é 10, formavam a beleza do som, pois consideravam o 10 um

número mágico, evidenciando uma interconexão entre a Matemática e a Música.

De acordo com Abdounur (2002) e Cunha (2006), atribui-se o descobrimento

dos intervalos consonantes a Pitágoras, embora provavelmente esses já fossem

conhecidos desde muito antes em distintas culturas antigas. Os intervalos

pitagóricos, tomando como ponto inicial uma corda cujo valor hipotético de

comprimento é 1, percorrem a escala por quintas ascendentes e transpõem as notas

obtidas à oitava relativa, obtendo frações, representando as notas musicais em

relação ao tamanho da corda (figura 2).

Figura 2: Escala de Notas

Fonte: Camargos (2010)

De acordo com Rodrigues (1999), para os pitagóricos, a harmonia dos sons

estava em correspondência direta com a aritmética das proporções, o produto de 2/3

(fração associada à quinta) por 3/4 (fração associada à quarta) dá a fração 1/2

associada à oitava; a sua divisão está associada à fração 8/9 = (2/3):(3/4) que

representa um tom. Contudo, podemos deduzir que, como citado anteriormente, pelo

percurso das quintas e pelas médias aritméticas dos intervalos, os pitagóricos

chegaram às frações anteriores.

Por exemplo, ao pensarmos em um piano, composto de oito oitavas

(sequência de Dó à Si), se tomarmos o Dó central como referência, verificamos que

o Dó uma oitava abaixo, terá uma fração de 8/9 em relação ao tamanho do Dó

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central, o que implica na frequência sonora e, portanto, ouvimos a mesma nota

porém mais aguda.

Hipoteticamente, tomemos o tamanho da corda como igual a uma unidade,

logo já teria o Dó igual a 1. Pitágoras teria também a quarta, a quinta e a oitava

notas, respectivamente, 3/4, 2/3 e 1/2. Isso possibilitou que obtivessem as frações

correspondentes às outras notas, utilizando o que chamamos de “Ciclo de Quintas”

conforme a Figura 3.

Figura 3: Ciclo de Quintas (Sentido Anti-horário)

Fonte: Garland e Kahn (1995), pg. 61.

Garland e Kahn (1995) observaram que os pitagóricos haviam obtido suas

gamas, correspondentes às notas musicais, utilizando o ciclo ou percurso das

quintas, como nos mostra a Figura 4.

Figura 4: Sequência das Notas

Fonte: O Autor

É importante observar que, na Figura 3, a quinta de Dó (C) é a nota Sol (G); e

que a quinta de Sol é a nota Ré (D); logo, como Sol corresponde a 2/3 de Dó, a nota

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Ré será correspondente a 2/3 de Sol (G); logo, como Sol corresponde a 2/3 de Dó, a

nota Ré será correspondente a Ré = 2/3.(Sol) = (2/3).(2/3) = 4/9 (C).

Como a fração 4/9 não está entre Dó = 1 e sua oitava Dó = 1/2, os pitagóricos

poderiam ter multiplicado seu valor por 2 e obtido a nota Ré, correspondente a 8/9.

Em seguida, para obter a quinta da nota Ré, o Lá,usou-se o mesmo

procedimento:

Lá =2/3(Ré) = (2/3).(8/9) = 16/27 (C) .

Continuando pelo mesmo processo:

Mi = 2/3 (Lá) = (2/3).(16/27) = 32/81, que não está entre 1 e 1/2, logo,

multiplicando também por 2 teremos, Mi = 64/81.

Si = 2/3 (Mi) = (2/3).(64/81) = 128/243 .

Segundo Abdounur (2002), que a influência das gamas pitagóricas percorreu

toda a Idade Média, sendo substituída, gradativamente, a partir do século XVI, com

a descoberta dos logaritmos e com o chamado Temperamento Musical. Isso está de

acordo com Rodrigues (1999), ao relatar sobre essa gama cromática pitagórica, que

foi aperfeiçoada a partir de Zarlino (1517-1590), quando ele acrescentou o número 5

às relações de frequências pitagóricas. Assim, construía-se a escala de maneira que

o intervalo de terça maior passava a possuir relação de frequências 5/4, existente na

série harmônica. Supondo-se que a primeira nota, dó, tenha frequência 1, obteremos

para as outras notas as frequências conforme a Figura 5.

Figura 5: Frequência das Notas.

Fonte: Autor

Ainda de acordo com Rodrigues (1999), as primeiras aproximações

numéricas das gamas, daquilo que viria a ser chamado de Temperamento musical,

eram geométricas e mecânicas, e os matemáticos da época utilizavam um

instrumento chamado de Mesolábio (Figura 6).

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Figura 6 :O Mesolábio, Fonte: RODRIGUES (1999)

Segundo Rodrigues (1999), o instrumento apresentado na Figura 6, foi

inventado pelos gregos e foi reproduzido da edição de 1573 de Institutioniarmoniche,

de F. Zarlino foi um dos três métodos que ele expôs na sua obra

“Sopplimentimusicali” (Veneza, 1588), para “dividir a oitava diretamente em 12

partes ou semitons iguais e proporcionais”. Este instrumento, descrito em textos

gregos antigos, consiste em três paralelogramos retangulares móveis e permite

obter as linhas CD e EF como duas médias proporcionais de AB e GH epoderia ter

sido utilizado por Zarlino, na tentativa de achar mecanicamente médias

proporcionais das notas correspondentes à escala musical da época.

Além disso, podemos pensar na música como ondas sonoras, que segundo

Halliday (2009) ondas são movimentos causados por uma perturbação que se

propagam no meio. As ondas sonoras são ditas ondas mecânicas e se propagam

com a variação de pressão do meio. Dependendo da fonte emitente, as ondas

sonoras podem apresentar qualquer frequência, desde poucos Hertz (Hz) (como as

ondas produzidas por abalos sísmicos), até valores extremamente elevados

(comparáveis às frequências da luz visível). Porém, nós, seres humanos, só

conseguimos ouvir ondas sonoras cujas frequências estejam compreendidas entre

20 Hz e 20.000 Hz, sendo chamadas, genericamente, de sons.

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A representação geométrica de uma onda sonora origina gráficos que podem

ser utilizados para estudar conceitos de funções trigonométricas. A Figura 7 ilustra

um gráficocom componentes básicos de uma onda, realizado com o auxílio do

software GeoGebra.

Figura 7: Representação geométrica de uma onda sonora

Fonte: O Autor

Observando o gráfico, temos que crista é a parte mais alta da onda e o vale a

parte mais baixa da onda. A distância do eixo x com uma crista ou vale é

denominada amplitude (A). A distância entre duas cristas ou dois vales consecutivos

é chamada de Comprimento de Onda (λ) equivale a uma volta completa no ciclo

trigonométrico. O número de vezes que o comprimento de onda se repete é

denominada frequência e medida em Hertz.

Segundo Halliday (2009), a função trigonométrica que representa uma onda é

uma senóide do tipo f�x� � A sin�Bx � C� � D, em que A é amplitude da onda e

caracteriza a Intensidade sonora, e B a frequência, calculada por B � 2π λ� ,

responsável pela altura do som.

Como veremos a seguir, se modificamos a frequência, o som ficará mais

agudo (frequência alta) ou mais grave (frequência baixa). A figura 8ilustra as

frequências da escala musical.

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Figura 8: Frequências da escala Musical (em Hertz)

Fonte:Simões (2015)

Podemos observar estas frequências a partir do que apresenta Bortolossi

(2013) que utiliza um applet1 que reproduz sons. Esse applet (Figura 9) mostra o que

descrevemos acima, de forma interativa. Ou seja, alterando o controle deslizante

aumentando ou diminuindo as frequências é possível ouvir o som mais grave ou

mais agudo. A figura 8 apresenta a variação de frequência de 440Hz (Lá) para

550Hz (Dó). Com o auxílio do applet o aluno pode ouvir cada uma das frequências

além de visualizar as alterações no gráfico.

Figura 9: Ouvindo uma onda Senoidal

Fonte Bortolossi (2013)

No que segue, apresentaremos de forma detalhada as transformações que os

coeficientes A, B, C e D da função f�x� � A sin�Bx � C� � D, realiza nos gráficos das

funções trigonométricas seno e cosseno, bem como a relação existente entre a onda

sonora e essas funções a fim de realizar uma ligação entre os conteúdos específicos

vistos no Ensino Médio e a Música.

1 Applet é um pequeno software que executa uma atividade específica, dentro (do contexto) de outro programa maior (como

por exemplo um web browser), geralmente como um Plugin. O termo foi introduzido pelo AppleScript em 1993.

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2 REVISANDO AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Como vimos no capítulo anterior, uma onda pode ser representada pelo

gráfico da função trigonométrica seno. Seguiremos aqui o estudo das funções

trigonométricas, conforme CARMO, MORGADO e WAGNER (2001).

2.1 Função Seno

Seja a função trigonométrica y � sen x. Por meio do Geogebra, pode-se

construir o gráfico desta função e utilizando o recurso Controle Deslizante, é

possível realizar um estudo do comportamento da mesma. A figura 10 apresenta o

gráfico da função construída no aplicativo acima citado, assim como ocorre com

todos os demais gráficos apresentados nesse capítulo.

Figura 10: Gráfico da função y � senx

Fonte: O Autor

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O recurso Controle Deslizante no Geogebra permite modificar valores

numéricos por um meio de controle visual de valores, que podemos definir conforme

configurações do applet.

É importante salientar a relação que o gráfico da função tem como ciclo

trigonométrica de raioum, que pode ser explorado a partir de um applet construído

no Geogebra, conforme o apresentado na Figura 11.

Figura 11: O ciclo trigonométrico- Função seno

Fonte: Lutz (2015)

Por meio desta construção podemos observar que o conjunto imagem é o

intervalo compreendido entre -1 e 1, ou seja, o intervalo [-1, 1], pois percorrendo um

ciclo inteiro (360°ou2πrad) o gráfico não ultrapassa os valores indicados acima.

Temos também que o Período da função é igual a 360°ou2πrad.

Podemos ainda ampliar nosso estudo, analisando agora variações da função

Seno dadas por funções do tipof�x� � A sin�Bx � C� � D, em que A, B, C e D são

números reais.Com o auxílio da ferramenta Controle Deslizante do software,

podemos analisar a influência que cada um dos coeficientes A, B, C e D possuem no

comportamento do gráfico da função.

Primeiramente consideremos uma função do tipo f�x� � A sin�x�. Ao

tomarmos valores para 0<A<1 notamos que o gráfico comprime no sentido do eixo y,

Quando tomamos valores para A<-1 ou A>1o gráfico da função se expande no

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sentido do eixo y, interferindo diretamente na imagem da função, conforme a Figura

12.

Figura 12: Gráfico da função y� 2senx à esquerda e y� �� senxà direita

Fonte: O Autor

Consideremos a seguir a função do tipof�x� � sen�Bx�. De maneira análoga

ao gráfico anterior, ao tomarmos valores distintos para B modificamos o gráfico da

função f�x� � sen�x�, agora no sentido do seu período. Com 0<B<1 temos que o

gráfico da função expande no sentido do eixo x, e para B>1 o gráfico se comprime,

conforme a Figura 13.

Figura 13: Gráfico da função y � sen �� x! à esquerda e y� sen�4x� Fonte: O Autor

Seguindo a análise, agora vamos observar o comportamento do gráfico da

função f�x� � sen�x � C�, conforme as Figura 14.

Figura 14: Gráfico da função y � sen�x � 3� à esquerda e y� sen�x − 4� à direita Fonte: O Autor

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Observamos que a tomarmos valores distintos de C o gráfico desloca no

sentido do eixo x, quando o valor tomado for positivo desloca o gráfico para

esquerda enquanto que para valor negativo desloca o gráfico para direita.Para

finalizar a análise do gráfico vamos considerar a função f�x� � sen�x� � D, cujo

gráfico está ilustrado na Figura15.

Figura 15: Gráfico da função y � sen�x� � 1 à esquerda e y� senx − 2 à direita Fonte: O Autor

Assim, verificamos que ao obtermos valores distintos para o coeficiente D o

gráfico desloca todo o gráfico no sentido vertical, do eixo y, também influenciando na

imagem da função.

Analogamente faremos o estudo da função cosseno.

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2.2 Função Cosseno:

Seja a função trigonométrica y � cos x. Por meio do GeoGebra, pode-se

construir o gráfico desta função e utilizando alguns recursos do software é possível

realizar o estudo detalhado do comportamento da mesma. A figura 16 apresenta

nosso objeto de estudo.

Figura 16: Gráfico da função y � cos�x�

Fonte: O Autor

Pode-se utilizar aqui o mesmo aplicativo anterior, Porém, ao invés de escolher

a função seno, escolhemos a função cosseno e se pode realizar a investigação

anterior, conforme ilustra a Figura 17.

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Figura 17: O ciclo trigonométrico- Função cosseno

Fonte: Lutz (2015)

Assim, por meio do aplicativo podemos observar que o conjunto imagem

também é o intervalo compreendido entre -1 e 1, ou seja, o intervalo [-1, 1], pois

percorrendo um ciclo inteiro (360°ou2πrad) o gráfico não ultrapassa os valores

indicados acima. Temos também que o Período da função é igual a 360°ou2πrad.

Podemos ainda ampliar nosso estudo, analisando agora variações da função

Cosseno dadas por funções do tipo f�x� � A cos�Bx � C� � D, onde A, B, C e D são

números reais.

Com o auxílio das ferramentas do software, podemos analisar a influência que

cada um dos coeficientes A, B, C e D possuem no comportamento do gráfico da

função.Primeiramente consideremos uma função do tipo f�x� � A cos�x�. Ao

tomarmos qualquer valor para A, notamos que o gráfico pode ampliar ou diminuir no

sentido do eixo y, interferindo diretamente na imagem da função, conforme a Figura

18.

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Figura 18:Gráfico da função y � �� cos�x� à esquerda ey � 2cos�x�à direita

Fonte: O Autor

Consideremos a seguir a função do tipof�x� � cos�Bx�. De maneira análoga

ao gráfico anterior, ao tomarmos valores distintos para B modificamos o gráfico da

função f�x� � sin�x�, agora no sentido do seu período, conforme a Figura 19.

Figura 18:Gráfico da funçãoy � cos��� x� à esquerda e y � cos�4x�à direita Fonte: O Autor

Seguindo a análise, agora vamos observar o comportamento do gráfico da

função f�x� � cos�x � C�, conforme a Figura 20.

Figura 20: Gráfico da função y � cos�x � 3� à direita e y � cos�x − 2� à esquerda

Fonte: O Autor

Observamos que a tomarmos valores distintos de C o gráfico desloca no

sentido do eixo x, quando o valor tomado for positivo desloca o gráfico para

esquerda enquanto que para valor negativo desloca o gráfico para direita.

Para finalizar a análise vamos considerar o gráfico da função f�x� � sin�x� �D. Conforme a Figura 21.

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Figura 21: Gráfico da funçãoy � cos�x� − 1à esquerda e y � cos�x� � 1à direita

Fonte: O Autor

Assim, verificamos que ao obtermos valores distintos para o coeficiente D o

gráfico desloca todo o gráfico no sentido vertical, do eixo y, também influenciando na

imagem da função.

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3. A ONDA COMO FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Segundo Bortolossi (2012) a Análise de Fourier é usada no estudo de sinais:

funções que trazem consigo informações sobre o comportamento ou a natureza de

um fenômeno que varia com o tempo ou com o espaço. Sons são exemplos de

fenômenos que geram sinais: ondas sonoras produzem variações de pressão cujos

valores mudam com o tempo.

Citando o mesmo autor para o caso de fenômenos periódicos, a ideia básica

da Análise de Fourier é a seguinte: sinais periódicos podem ser aproximados por

somas de funções trigonométricas da formay � Asen�Bx � C�, com A,Be

Cconstantes. É justamente esse princípio que vamos investigar aqui, usando, para

isso, experimentos sonoros. Veremos como os parâmetros A, Be C afetam o gráfico

da função y � Asen�Bx � C� e as propriedades do som correspondente e, também,

como somas de funções desse tipo podem ser usadas para representar sons mais

complexos.

3.1. Soma e Produto de Funções Trigonométricas

Como já observamos, uma das ondas mais simples é a onda senoidal, ou

seja, aquela que é descrita por uma função do tipo y � Asen�Bx � C�. Podemos

reescrever essa equação conforme Benson (2008)como uma onda senoidal com

freqüência ν em Hertz, amplitude ce fase φ de forma:

y � csen�2πνt � φ� A quantidade ω � 2πν é chamada a velocidade angular . A função do ângulo

φ é para nos dizer onde a onda senoidal atravessa o eixo de tempo (eixo horizontal).

Por, exemplo, uma onda do tipo cosseno está relacionada com uma onda senoidal

pela equaçãocos x � sin x � *�!, de modo que uma onda “cosseno” é realmente

apenas uma onda senoidal com uma fase diferente.

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Por exemplo, a nota Lá (A) de 440hz, pode ser representada pela onda da

forma:

csin�880πt � φ�. Isto pode ser convertido como uma combinação linear de senos e cossenos,

utilizando fórmulas conhecidas, como a de soma de arcos, para o seno e cosseno:

sen�A � B� � senA. cosB � cosA. senB (1)

cos�A � B� � cosA. cosB − senA. senB (2)

Então função que representa a onda fica:

y � csen�ωt � φ� � a cos�ωt� � bsen�ωt� , com a � c. senφ e b � c. cosφ.

Podemos nos questionar o que ocorre quando duas ondas senoidais ou

cossenoidais “puras” são jogados no mesmo tempo? Por exemplo, por que é que

quando duas notas muito próximas são jogados simultaneamente, ouvimos ”beats2”?

Uma vez que este é o método pelo qual cordas em um piano, por exemplo, estão

sintonizadas, é importante entender as origens dessas batidas.

A resposta a esta questão também está nas identidades trigonométricas (1) e

(2). Desde que o sen (-B) = -senB e cos (-B) = cosB , substituindoB por -B nas

equações citadas temos

sen�A − B� � senAcosB − cosAsenBcos�A − B� � cosAcosB � senAsenB.

Adicionando as equaçõessen�A � B� � senA. cosB � cosA. senB e sen�A −B� � senAcosB − cosAsenB

temos:sen�A � B� � sen�A − B� � 2senAcosB.

O que podemos reescrever como:

senAcosB � 12 .sen�A � B� � sen�A − B�/.

Da mesma forma, adicionando e subtraindo as expressões

cos�A � B� � cos�A − B� � 2cosAcosBcos�A − B�− cos�A � B� � 2sinAsinB

2 Beats são vibrações ocasionadas por ondas sonoras de frequências muito próximas, o que popularmente

entendemos por “batida da música”.

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obtemos

cosAcosB � 12 �cos�A � B� � cos�A − B��

e

sinAsinB � 12 .cos�A − B� − cos�A � B�/.

Isso nos permite escrever qualquer produto de senos e cossenos como uma

soma ou diferençade senos e cossenos.Porém, estamos interessados no processo

oposto. Então, tomamos u � A � Bev � A − B. Para A e B, resultaA � 1/2�u �v�eB � 1/2�u − v�.

Substituindo nas equações

sen�A � B� � sen�A − B� � 2sinAcosB, cos�A � B� � cos�A − B� � 2cosAcosB

e

cos�A − B�− cos�A � B� � 2sinAsinB

obtemos:

senu � senv � 2sen �u � v�2 cos �u − v�

2

cosu � cosv � 2cos �u � v�2 cos �u − v�

2

cosv − cosu � 2sen �u � v�2 sen �u − v�

2 .

Isso nos permite escrever qualquer soma ou a diferença de ondas senoidais e

ondas senocomo um produto de senos e cossenos. Por exemplo, ao plotarmos as

funções y � sen�12x� � sen�10x� ou a função y � 2sen�11x�cos�x� (Figura 22) obtemos

o mesmo gráfico, o que ocorre exatamente pelo que foi exposto anteriormente.

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Figura 22: Gráfico das funções y � sen�12x� � sen�10x� à esquerda e y � 2sen�11x�cos�x� à direita

Fonte: O Autor

Assim, por exemplo, suponha que um afinador de piano afinou uma das três

cordas correspondentes à nota Lá (A) acima do Dó(C) central a 440 Hz. O segundo

string (cadeia) ainda está fora de sintonia, de modo que ela ressoa em 436 Hz. A

terceira está sendo amortecida, de modo a não interferir com o ajuste da segunda

cadeia. Ignorando fase e amplitude por um momento, as duas cordas junto soarão

como

sin�880πt� � sin�872πt�.

Usando a equação senu � senv � 2sen �456�� cos �476�

� podemos reescrever

esta soma como

2sin�876πt�. cos�4πt�.

O GeoGebra possui a ferramenta TocarSom, que permite gerar um som a

partir de um produto de funções seno e cosseno como esta citado acima. Assim ao

digitar o comando TocarSom[2sen�876πx�cos�4πx�,0,2π]na caixa de entrada (figura

23) o Geogebra literalmente toca o som correspondente a essa expressão.

Figura 23: Comando Tocar Som

Fonte: OAutor.

Ainda é possível, utilizar alguns recursos já elaborados e divulgados, como o

apresentado em Bortolossi (2012). O autor denomina o applet produzido de

“gerando sons mais complexos com a superposição de duas ondas”. Nesse

aplicativo é possívelmodificar as amplitudes (A1 e A2 ), frequências (k1 e k2 ) e

fases (C1 e C2 ) de duas ondas sonoras e, então, ouvir o som da superposição

correspondente. O autor apresenta vários exemplos de como realizar atividades a

partir do aplicativo que tem um apelo didático muito interessante, tratando de ondas

no sentido da Física.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao pensar nesse trabalho, em um primeiro momento, a ideia era apresentar

uma proposta de ensino das funções trigonométricas no Ensino Médio, tendo como

motivador o estudo da teoria musical e a relação da música com a matemática.

Porém, ao amadurecer o conceito do que de fato deveria ser um Trabalho Final de

Graduação, resolvemos delimitar o trabalho para realizar uma pesquisa sobre as

relações existentes entre matemática e música e verificar, em que essa relação

poderia ser encaixada dentro do currículo escolar. Além de encontrar a relação

apresentada, percebemos que as funções trigonométricas não estão presentes

apenas nas ondas sonoras, mas tambémnas frequências e tons de discagem de

telefones: Os telefones e celulares modernos possuem o sistema de discagem

DTMF (Dual-ToneMulti-Frequency). Nesse sistema, cada tecla emite um som que é

resultante da superposição de duas ondas senoidais, uma de frequência baixa, outra

de frequência alta Bortolossi(2012).

Também podemos encontrar aplicações das funções trigonométricas

nosbatimentos cardíacos, que conforme Bortolossi(2012), o fenômeno de batimento

ocorre quando duas ondas senoidais com frequências próximas são superpostas.

Assim, percebemos que esse trabalho ampliou nossos horizontes, pois

percebemos outras formas de apresentar o conteúdo de funções trigonométricas

para os alunos.Além disso,acreditamos que o uso do aplicativo Geogebra, pode

dinamizar e concretizaros conceitos matemáticos estudados, tornando literalmente

audível e visual o que o professor pode propor. Também, com a utilização deste

recurso foi permitido a construção, manipulação e análise do comportamento das

funções trigonométricase suas transformações, o que acreditamos que possa

auxiliar no processo de ensinar e aprender.

Acredita-se, enquanto professor, que é possível utilizar esse aplicativo em

sala de aula, bem como as relações e aplicações aqui apresentadas. Pois, uma vez

que as tecnologias estão cada vez mais presentes na vida dos alunos, ao entrar em

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uma sala com algo diferente do usual, espera-se despertar maior interesse aos

mesmos. A tecnologia como ferramenta para auxiliar o ensino, pode ser muito

satisfatória, já que aplicativos como o apresentado permitem que o aluno possa ter

mais elementos de aprendizagem, saindo do mundo abstrato, do campo das ideias,

indo para a parte prática, do cotidiano, tornando a aprendizado mais atrativo de

forma interdisciplinar e dinâmico.

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