Juan Posadas - A Função Historica Das Internacionais

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    J. POSADAS

    A FUNO HISTRICADAS INTERNACIONAIS

    Edies Cincia Cultura e Poltica

    ECCP

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    Autor: J. PosadasTtulo: A funo histrica das InternacionaisEdio em lngua portuguesaAno: 2013

    Edies Cincia Cultura e PolticaCaixa postal 6275, Braslia (DF), [email protected]

    Ediciones Ciencia Cultura y Poltica

    [email protected]

    Editions Science Culture et Politique

    Rue des Cultivateurs, 621040 Bruxelles, Belgiquewww.science-culture-et-politique.orgescp@quatrieme-internationale-posadiste.org

    Scientific Cultural and Political EditionsSuite 252, 61 Praed St, London W2 1NS, UK www.scientific-cultural-and-political-editions.orgmlsculturaleditions@yahoo.com

    raduo: Samantha Iono SassiCapa: Gustavo Leite

    Impresso por: Kaco GrficaBraslia - Brasil

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    Dedicamos esta edioem lngua portuguesa a todos os

    revolucionrios tombados na luta pelosocialismo, e em particular, memria

    dos brasileiros, que deram a vidapelas ideias contidas nesta obra:

    Paulo Roberto Pinto (Jeremias)Olavo Hansen (Alfredo)

    Rui Oswaldo Aguiar Futzenreuter(Marcos Vinicius)

    Sidney Fix Marques dos Santos (Lalo)

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    Nota Dos Editores

    Os artigos deste livro como em geral os que estamos publicando so

    uma seleo dos mais importantes trabalhos tericos e polticos de J. Posadassobre o tema. A grande maioria dos textos do autor est formada, na realidade,

    por transcries de intervenes gravadas em fitas magnticas. Alguns trabalhosso o resultado de vrias intervenes sobre o mesmo tema, feitas durante confe-rncias ou reunies, que depois foram reunidas em um texto nico.

    Com o objetivo de elaborar e desenvolver suas ideias, J. Posadas utili-zava este mtodo porque era a nica forma de intervir simultaneamente e demaneira dialtica sobre diferentes problemas, considerando a sua funo de di-rigente poltico e organizador da Quarta Internacional Posadista. Dessa forma,ele encontrava as condies que lhe permitiam trabalhar inclusive durante asviagens que a funo exigia. Com frequncia, ele se reunia com militantes de

    pases diferentes. Nessas reunies, Posadas fazia anlises e dava orientaes quedepois eram organizadas por temas e davam origem s publicaes.

    Essa informao sobre o mtodo de trabalho de J. Posadas permite aoleitor compreender a forma peculiar de seus textos, que representam uma ori-

    ginal contribuio do autor formao do pensamento revolucionrio baseadono marxismo. Assim trabalhava e vivia J. Posadas.

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    Este livro foi extrado das seguintes conferncias oferecidas por J. Posadas:

    Histria do movimento operrio e da Quarta Internacional.28 de setembro de 1972

    Escola Mundial de Quadros

    Os 26 anos de Voz Proletria, sua apario na imprensa e a histria da

    Quarta Internacional8 de julho de 1973

    O Partido, a luta de classe e a Quarta Internacional7 de julho de 1977

    XI Congresso Mundial Extraordinrio

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    A funo histrica das Internacionais

    APRESENTAO 1

    AS BASES DA PRIMEIRA INTERNACIONAL 7

    O Manifesto Comunista de Marx e Engels 10A Primeira Internacional foi a materializao prtica do Manifesto 15A polmica de Marx e Engels com o movimento anarquista 18A Comuna de Paris 20A experincia histrica da Primeira Internacional 22

    O PENSAMENTO E A AODE MARX E ENGELS 25Marx no teria existido sem as grandes lutas proletrias 26

    Engels e a continuidade do marxismo 29A Revoluo Russa materializou o pensamento marxista 31Marx e Engels criaram o conceito do salto dialtico 34

    SEGUNDA INTERNACIONAL E A SOCIALDEMOCRACIA NA RSSIA 37O surgimento das correntes reformistas 38A organizao do Partido Socialdemocrata na Rssia 43

    LNIN E O PARTIDO BOLCHEVIQUE DE 1905 GUERRA MUNDIAL 47O Partido um instrumento fundamental para o proletariadotomar o poder e dirigir a sociedade 49O papel dos sovietes 52A revoluo de 1905 53

    A REVOLUO RUSSA DE 1917 E A TERCEIRA INTERNACIONAL 57O derrotismo revolucionrio na guerra de 1914-1918 57A revoluo russa e a funo de Lnin e de rotsky 59

    rotsky e a revoluo permanente 65A erceira Internacional fundada em 1919 68Os quatro primeiros Congressos da Internacional Comunista 76

    O STALINISMO E A DISSOLUO DA TERCEIRA INTERNACIONAL 81As condies histricas da criao da burocracia de Stalin e doconceito do socialismo em um s pas 82O programa da Oposio de Esquerda 85A dissoluo da erceira Internacional em plena guerra mundial 87

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    DA QUARTA INTERNACIONAL MORTE DE TROTSKY E A PROVA DASEGUNDA GUERRA MUNDIAL 89A criao da Quarta Internacional em 1938 com O Programa de ransio 90

    rotsky e a defesa da legitimidade da Revoluo Russa edo Estado Operrio Sovitico 98

    A QUARTA INTERNACIONAL APS A GUERRA 101Depois do assassinato de rotsky pela burocracia em 1940 102O peronismo, os movimentos militares e o nacionalismo revolucionrio 106A revoluo cubana A funo da guerrilha 110O entrismo interior e a regenerao parcial do movimento comunista 112

    A guerra atmica e o ajuste final de contas 117

    CONSTITUIO DA QUARTAINTERNACIONAL POSADISTA 121O enfrentamento final dos Estado operrios contra o sistema capitalista mundial 121A funo da Quarta Internacional e a Regenerao Parcial 125A funo da crtica hoje 128Os Posadistas fazem parte do movimento comunista mundial 137

    ANEXOS 139

    LEMBRANAS E REFLEXES DOGCI E DO JORNAL VOZ PROLETRIA 141

    O GCI e o jornal VOZ PROLERIA 150HUGO CHVEZ PROPE CRIAR A QUINTA INTERNACIONAL SOCIALISTA 161Encontro dos Partidos de Esquerda 16

    O CHAMADO DE HUGO CHVEZ PELA QUINTA INTERNACIONALREABRE A LUTA PELO SOCIALISMO NO SCULO XXI 167O imprescindvel debate terico e balance histrico do desaparecimento da URSS 171

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    Apresentao

    Este livro, que apresentamos com o ttulo de A Funo Histrica dasInternacionais, uma coletnea de vrios textos que J. Posadas elaborou entre1969 e 1977. Na Nota Preliminar aparecem os respectivos ttulos e datas decada texto utilizado nesta publicao; alguns deles a serem publicados na n-tegra em futuras edies.

    Com esta publicao, Edies Cincia, Cultura e Poltica pretende co-

    locar esta obra ao alcance de todos aqueles que estiverem interessados emaprofundar a compreenso sobre a evoluo do pensamento revolucionrio eda organizao consciente para transformar a sociedade e construir o socia-lismo. O autor defende a tese de que, alm da elaborao do programa antica-pitalista, existe a necessidade permanente de desenvolver um instrumento queseja capaz de incorporar e organizar todas as foras para esse objetivo.

    Neste sculo XXI, no casual que surge um Hugo Chvez que coloca

    a necessidade de uma Internacional Socialista em pleno I Congresso Extraor-dinrio do PSUV (Partido Socialista Unificado Venezuelano) e no EncontroInternacional de Partidos de Esquerda (Caracas, novembro de 2009). Essaproposta assume importncia histrica, sobretudo, porque provm de ummilitar que teve a audcia de dirigir a transformao da Venezuela em umEstado Revolucionrio e demonstra que, para continuar avanando, precisoaplicar um programa de transformaes sociais e organizar um instrumentopara enfrentar o sistema capitalista em escala internacional, com metas rumoao socialismo.

    O eixo das anlises de J. Posadas que apresentamos neste livro parte dasua profunda convico, sustentada pela anlise da Histria humana do pontode vista do marxismo, de que a humanidade est madura para o socialismo,mesmo reconhecendo em outro princpio basilar, este formulado por Leonrotsky sua poca, de que a crise da humanidade a crise de sua direo.

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    Para isso, fundamental a compreenso da funo histrica que cumpriu cadauma das Internacionais.

    Conhecer a histria das Internacionais de grande utilidade paracompreender de onde viemos, para onde vamos e, enquanto isso, o que fa-zemos. A funo de cada uma das Internacionais, as condies objetivas desua criao, desenvolvimento e desaparecimento no foram um fracasso; aocontrrio, deixaram uma experincia til para enriquecer as lutas e os pro-cessos atuais.

    A Primeira Internacional fundada por Marx e Engels cumpriu um

    papel histrico. O Manifesto Comunista expressava a tomada de conscinciado proletariado, do seu papel central para acabar com o capitalismo e assentaras bases para uma sociedade socialista. Foi a primeira organizao dos revolu-cionrios que rompeu as barreiras das fronteiras dos Estados e onde Marx fazo chamado: Proletrios de todos os pases, uni-vos!.

    A Segunda Internacional, da qual participaram Marx e sobretudo En-gels, teve o mrito de unir o proletariado principalmente o europeu e, em

    parte, o latino-americano em organizaes de massa e serviu para medir afora social que possua. O abandono do marxismo por parte das direessocialistas da poca, a submisso defesa nacional na guerra intercapitalistae a iluso na perspectiva parlamentar e na possibilidade de reformar progres-sivamente o capitalismo fez com que capitulasse frente prova da PrimeiraGuerra Mundial.

    A erceira Internacional comunicou, ao mundo inteiro, o triunfo his-

    trico da Revoluo Russa sob a direo do Partido Bolchevique, de Lnin erotsky, e incorporou setores que divergiam da capitulao da Segunda Inter-nacional. Os quatro primeiros congressos, entre 1918 e 1922, criaram uma ri-queza imensa de ideias, programas e organizaes, para expandir a revoluosocialista.

    Entretanto, o fracasso da revoluo em outros pases da Europa, a po-breza e o posterior isolamento da Unio Sovitica levaram a burocracia ao

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    poder, conduziram ao triunfo do estalinismo e concepo do socialismo emum s pas. Stalin ordenou a perseguio dos comunistas revolucionrios daOposio de Esquerda, incluindo rotsky.

    A Segunda Guerra Mundial mostrou os dficits da direo da UnioSovitica e dos Partidos Comunistas e levou paralisia e dissoluo da er-ceira Internacional por parte de Stalin em 1943. No entanto, serviu para por prova a fora histrica da URSS e o herosmo imenso das massas que resis-tiram ao assdio de Stalingrado e derrotaram o fascismo.

    A Quarta Internacional foi criada por rotsky em 1938, dois anos antes

    de seu assassinato. Os trotskistas participaram da Resistncia durante a guerrae defenderam a Unio Sovitica, mesmo encerrados em prises stalinistas. AQuarta Internacional no tinha fora. Enraizou-se mais profundamente naAmrica Latina, com a criao do Grupo Quarta Internacional (GCI)1por J.Posadas na Argentina e depois em outros pases da Amrica Latina.

    O desenvolvimento impetuoso da revoluo colonial depois da Se-gunda Guerra se expressou na Argentina com o triunfo do primeiro governo

    de Pern. A contribuio decisiva de J. Posadas foi a compreenso do pero-nismo e a participao da Quarta Internacional no processo nacionalista re-

    volucionrio na Argentina. Esta foi uma das suas mais importantes contri-buies ao marxismo contemporneo, por ele sintonizado na expresso: donacionalismo revolucionrio ao socialismo, no conceito de Estado Revolucio-nrio, que ilustravam as novas formas que, na ausncia de direes revolucio-nrias marxistas, os processos de luta de massas adquiriram.

    Posteriormente, J. Posadas d uma nova contribuio ao marxismo aopropor o conceito da regenerao parcial, fundamentalmente na Unio Sovi-tica. Analisou e apoiou a interveno necessria da Unio Sovitica no Afe-ganisto, em toda a frica, em Angola e Moambique nos anos 70, que eleconsiderou como a forma parcial em que se manifestava a revoluo poltica

    1 Grupo Quarta Internacional, mais conhecido como GCI (Grupo Cuarta Internacional, em espanhol). Ver ahistria da sua criao e atividade contada por um dos seus fundadores, Daniel Malach (1924-2009), no Anexo

    I deste livro

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    prevista por rotsky. At a sua morte, em 1981, Posadas organizou os quadrosda Quarta Internacional para que se preparassem para ser a ala trotskista-po-sadista do movimento comunista mundial.

    O desaparecimento de J. Posadas e as contradies internas do Estadooperrio, na ausncia de uma Internacional comunista de massas, frente fragmentao dos movimentos revolucionrios a nvel mundial, e tenaci-dade como as castas burocrticas defendiam o seu poder, impedindo o pro-gresso ao comunismo na URSS e outros Estados operrios, conduziram con-trarrevoluo, e ao desmembramento do sistema socialista, com gravssimasconsequncias para o movimento operrio e revolucionrio mundial, sentidas

    at os nossos dias.

    anto a direo da Unio Sovitica como a dos outros Estados Ope-rrios e Partidos Comunistas no compreenderam as contradies e crisesdo capitalismo e perderam a confiana nos instrumentos e nos objetivos darevoluo mundial. Os Partidos Socialistas e as direes reformistas se ofere-ceram como alternativa perante esta crise, mas sua submisso e aplicao depolticas neoliberais apenas conduziram a derrotas e perdas de conquistas domovimento operrio.

    Este terrvel golpe ao processo revolucionrio teve consequnciasenormes de retrocessos nas conquistas trabalhistas em todo o mundo, au-mento da explorao das massas, retrocesso brutal das condies de vida nosex-pases socialistas, manifestaes de neocolonialismo e guerras abertas porparte do imperialismo.

    Entretanto, o capitalismo, que proclamou precocemente o fim da His-tria, gerou uma catstrofe ainda maior, o novo ciclo de crise econmica efinanceira, que o conduz diretamente ao declnio irreversvel. Isso, em grandeparte s lutas das massas que nunca cessaram, e terminaram por expressar-seem mudanas e progressos, especialmente nos pases rabes e Amrica Latina,e ao surgimento de novas direes, recuperando a tradio e a experinciahistrica da luta pelo socialismo. Da surge este novo polo articulador, entre

    Cuba, Venezuela e os pases da ALBA, a nova unificao da Amrica Latina,

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    os acordos China-Rssia, o papel antimperialista do Iro, todos fatores queprocuram enfrentar, conjuntamente, esta etapa de desagregao do sistemacapitalista e de preparao da sua resposta militar.

    O capitalismo, em situao de esgotamento total, arrasta o mundopara catstrofes de todas as classes, rumo guerra generalizada. No entanto,no tem nenhuma capacidade de se estabilizar e ganhar base de apoio social.Isso explica porque tenta manter desesperadamente o monoplio de todos ospoderes e no tolera nenhuma oposio. Enfrenta os povos da Oriente Mdio,frica, sia, Europa e Estados Unidos com uma violncia desproporcional.Hoje, toda a humanidade vive um momento histrico decisivo. A reunificao

    de todas as foras revolucionrias e progressistas do mundo imprescindvel.Esta a principal concluso que se pode extrair da leitura dos textos queapresentamos.

    Atravs deste libro, A funo histrica das Internacionais, transmi-timos vanguarda mundial o pensamento vivo de J. Posadas. Um de seusobjetivos centrais era tirar concluses da histria do movimento operrio, dasua funo como eixo da luta anticapitalista e das Internacionais para levar compreenso da necessidade de uma nova Internacional de massas. Espe-ramos, com esta publicao, contribuir para o debate sobre as tarefas que cor-respondem necessidade desta etapa da histria.

    Na parte final desta edio em lngua portuguesa, acrescentamosuma seo de Anexos ligados ao tema deste livro, no qual est inseridoo debate sobre a conjuntura atual de guerra, de crise mundial do capita-lismo, e a necessidade histrica e imprescindvel de instrumentos de Frentenica internacional e anti-imperialista, reforada pelo apelo de HugoChvez a uma V Internacional para o socialismo neste sculo XXI: Es-critos de Daniel Malach, que foi membro do Grupo Quarta Internacional,na Argentina, junto a J. Posadas (Anexo I); Extratos de Discursos de HugoChvez chamando Quinta Internacional no I Congresso Extraordinriodo PSUV e no Encontro Internacional dos Partidos de Esquerda, em Ca-

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    racas (2010) (Anexo II); O Chamado de Hugo Chvez Quinta Internacional(Anexo III).

    A dedicatria introdutria deste livro dirigida a bravos militantestrotskistas-posadistas brasileiros que foram assassinados lutando contra aditadura militar e contra as oligarquias no Brasil. Paulo Roberto Pinto (Je-remias), dirigente e organizador dos trabalhadores rurais da Zona da Mata,assassinado em amb (PE - 1963). Olavo Hansen, dirigente sindical qumicode So Paulo, dirigente do Partido Operrio Revolucionrio rotskista, presono 1o. de maio de 1970 e assassinado pelo DOPS. Rui Oswaldo Aguiar Pfut-zenreuter (Marcos Vinicius), jornalista de Nova Orleans (SC) e dirigente do

    POR-Posadista, assassinado pela ditadura em 1972. Sidney Fix Marques dosSantos (Lalo), ex-editor responsvel do jornal Frente Operria, desaparecidodesde 1976 na Argentina.

    Os Editores

    Bem unidos faamosNesta luta finalUma terra sem amos

    A Internacional (*)

    (*) Refro do Hino da InternacionalLetra e Msica: Eugne Pottier (1870) e Pierre Degeyter (1888)

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    As bases da Primeira Internacional

    As Internacionais so instrumentos para a construo do socia-lismo. Embora no haja uma relao direta ou aparente entre elas, existe umacontinuidade e uma estrutura comum indestrutvel, porque a construo dosocialismo est ligada concepo de observao do processo da sociedade etambm da natureza e do cosmos. Depende da compreenso, da capacidadede previso do curso da histria, de para onde vai a economia, para onde ela sedirige e como determina o comportamento da sociedade e dos seres humanos.

    A economia determina as relaes sociais, a forma de pensar, sentir ese relacionar. A capacidade de previso depende da capacidade de anlise e decompreenso da economia: prever o surgimento de fenmenos, reaes e basespara poder intervir e direcionar o processo, organizando a atividade social eas foras que surgem do curso da economia; para poder determinar, dessaforma, como utilizar esse processo a fim de construir de forma consciente asforas possveis de serem organizadas, que surgem das relaes econmicas.

    As Internacionais no surgem apenas porque necessrio um orga-nismo de classe nico. Essa a razo histrica. Um organismo de classe, comuma funo superior de partido, serve para organizar em escala mundial aluta contra o sistema capitalista, para tomar o poder, coordenar, organizar,homogeneizar e planejar a atividade a fim de derrubar o sistema capitalista econstruir o socialismo.

    diferena do sistema capitalista, o socialismo uma sociedade ba-seada na anlise cientfica. o capitalismo , pelo contrrio, um produto doempirismo que no precisou da cincia para se organizar. Usou a cincia paraa explorao, para o comrcio e porque era uma necessidade para o desenvol-

    vimento da humanidade, tanto para a medicina como para a fsica, a qumica,etc. Era necessrio o conhecimento do funcionamento da natureza, para serelacionar com ela e extrair as matrias-primas para transform-las em funoda necessidade do capitalismo. Essa foi a base do desenvolvimento da grande

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    cincia dirigida pelo capitalismo. A humanidade, ao se desenvolver, foi ele-vando a conscincia e utilizou a cincia para outros fins. J no apenas parao uso comercial ou capitalista, mas para elevar a conscincia, a compreenso,

    as relaes humanas e compreender o curso da economia. A humanidadeaprendeu a extrair os meios para organizar as foras polticas, as foras sociaisrevolucionrias, para dirigir conscientemente o curso da histria.

    Em cada etapa da histria, houve correntes socialistas, no apoiadasna sociedade, na economia, mas no desejo. As correntes antes de Marx sebaseavam tanto o socialismo utpico como o humanismo de Tomas More2ou de Campanella3 na vontade e no desejo de suprimir a desigualdade, a

    pobreza, o desemprego, a misria, a fome e as guerras. Partiam dessa aspi-rao. entavam convencer as pessoas sobre a necessidade de se opor guerra, fome e desigualdade. A atitude era humana, mas no cientfica. O povoestava contra a guerra, mas no podia decidir. O domnio da sociedade es-tava em mos dos que a dirigiam, os que ainda representavam um fator deprogresso na economia e, portanto, na sociedade. Essa foi a estrutura desdeo nascimento da vida humana e, desde ento, eles tm as alavancas da socie-

    dade. endo as alavancas da economia, eles tm as alavancas da sociedade:cincia, arte e poltica se desenvolveram de acordo com essa necessidade. Apassagem de um regime a outro trouxe como resultado a mudana do regimede propriedade e do sistema de produo, mas no da relao social entre opoder e a propriedade. A propriedade privada subsistiu desde a escravido ato feudalismo e o capitalismo e continuou determinando a mentalidade e opensamento. As foras originadas pela economia dependiam do interesse in-dividual. anto a escravido como o feudalismo e o capitalismo eram produto

    do interesse individual e originaram, em consequncia, os fatores determi-nantes da sociedade, conduzidos pelo interesse privado. Eles se associaram edepois construram o Estado para defender o interesse privado.

    A economia determinava o curso da histria. O interesse privado eraquem definia o curso, os interesses, as iniciativas, o impulso cincia, arte,

    2 Tomas More, 1478-1535. Escreveu Utopia (1516); jurista e pensador ingls, conselheiro de Henrique VIII.

    3 Campanella, 1568-1639. Padre dominicano, filsofo italiano. Contemporneo de Galileu. Escreveu A Ci-

    dade do Sol em 1602.

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    cultura. O desenvolvimento da sociedade, da economia e da cincia, promo-veram a inteligncia humana, a capacidade de pensar, de compreender, e aospoucos foi originando tendncias, correntes, setores opostos submisso, ao

    regime de produo, ao patro, injustia humana, desigualdade, guerra, misria, fome. Desse processo surgiram todos os movimentos utpicos,todas as correntes comunistas e socialistas que tentavam suprimir a desigual-dade, a injustia, atravs da vontade e do desejo, convencendo as pessoas. Elass podiam ser convencidas em pequena escala, porque no havia ainda uminstrumento social capaz de concentrar e de representar essa compreenso ede ser um fator determinante na economia. Este instrumento nasceu com oproletariado.

    O nascimento do proletariado na sociedade capitalista cria as con-dies para desenvolver a luta da humanidade contra a injustia, a misria,a explorao e ter um instrumento para poder organizar conscientemente oprogresso. O que faltava era verificar, compreender e provar na prtica o com-portamento da classe, do proletariado. As outras classes se desenvolviam como interesse privado. Associavam-se para poder explorar o resto da sociedade.

    O proletariado nasce da sociedade. o capitalismo significa produo coletivae apropriao individual.

    Mas, para se desenvolver, o grande capital devia concentrar e centra-lizar a produo. Da surge o proletariado moderno, diferente do proletariadoque existia desde a poca romana, que era proletariado por causa da relaode dependncia da produo, mas no pela funo social. J na sociedade ca-pitalista surge um proletariado que , ao mesmo tempo, o eixo da economia:

    estrutura-se obrigatoriamente pela funo que exerce dentro da economia emforma coletiva. Surge ento a classe antagnica ao capitalismo que, para se de-senvolver como classe, precisa desenvolver ao mesmo tempo toda a sociedade.As outras classes surgiam da classe anterior o feudalismo da escravido, ocapitalismo do feudalismo , para se impor de forma individual uns contra osoutros; competiam entre si para formar o novo regime de propriedade. Poroutro lado, o proletariado originado no processo da grande indstria, para sedesenvolver, se libertar como classe e gerar progresso, devia suprimir o capi-

    talismo e, ao mesmo tempo, se suprimir a si mesmo porque no podia gerar

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    um novo poder, uma nova forma de propriedade privada. Por isso, chama-seEstado proletrio e no propriedade proletria. O proletariado no assumea funo de dono da propriedade como uma nova classe; ao contrrio, tende

    abolio de toda forma de propriedade.

    Da surge o pensamento cientfico do marxismo. Surge a capacidadede pensar, de prever, pela primeira vez na histria, para onde vai a sociedade.O marxismo o instrumento que permite ver como a economia se relacionacom a sociedade, como a sociedade se relaciona em suas diferentes camadas eque perspectivas surgem dessas relaes. Da surge, pela primeira vez na his-tria, a capacidade de ser um instrumento que pode prever o futuro. Um ins-

    trumento que organiza o pensamento, as ideias, o programa, a poltica, paraorganizar a atividade poltica, sindical e revolucionria.

    No Manifesto Comunista est expressa a anlise concreta e objetivadesse momento da histria e de qual a sua perspectiva. Em pleno auge dosistema capitalista, Marx e Engels analisam a sociedade capitalista e chegam concluso de que um regime transitrio que vai ser substitudo, por meioda luta revolucionria, pelo proletariado; o desenvolvimento do capitalismoproduz o nascimento do proletariado e este, para avanar e promover o pro-gresso, deve se anular a si mesmo como classe. Sua funo na sociedade e naeconomia lhe impede de tomar o poder individualmente. Ele precisa tomar opoder de forma coletiva porque o desenvolvimento da grande indstria de-termina esse comportamento: a concentrao, onde milhares e milhares deoperrios exercem a produo. Milhes e milhes exercem a produo e o

    vnculo que eles tm com a produo no de propriedade individual, mas de

    funcionamento coletivo.

    O Manifesto Comunista de Marx e Engels

    O Manifesto Comunista a primeira base da Internacional para or-ganizar a ao das massas contra o sistema capitalista em desenvolvimento.Antes de Marx existiam os sindicatos. Havia grandes movimentos sindicais,na Inglaterra, na Frana, na Alemanha; movimentos revolucionrios, movi-

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    mentos sindicais muito potentes, porm parciais em seus objetivos. Havia ten-tativas do proletariado de se unificar e de se relacionar mundialmente, mas aausncia da capacidade cientfica de prever e organizar a observao, a anlise,

    a concluso cientfica e poltica em forma de palavra de ordem, de ttica, deprograma, impedia o proletariado de se unificar ou combinar suas experin-cias e lutas. Era necessrio um movimento que unificasse as perspectivas quesurgiriam da luta mundial entre o capitalismo e o proletariado. o capitalismo,representando os interesses da sociedade exploradora; o proletariado, repre-sentando a si mesmo e a todas as massas exploradas e oprimidas. Da surge aPrimeira Internacional.

    Naquele momento, a titnica ao de Marx teve pouco efeito, mas deuo resultado mais importante: mostrar ao melhor da humanidade, vanguardarevolucionria intelectual e proletria, tanto naquela etapa como hoje, que eranecessrio um instrumento mundial em que o objetivo e as perspectivas eramcomuns. Ainda no surgia nitidamente do desenvolvimento do capitalismo,mas era a previso baseada na anlise de o que era o capital, para onde levavao desenvolvimento do capitalismo, e era a capacidade de previso de Marx que

    j antecipava essas concluses.Por isso, organizou a Internacional como instrumento de coordenao

    da ao das massas, de transmisso das experincias, qualidades e capacidades,de centralizao da fora do proletariado. Ela lhes permitia atuar como classe,

    j que, apesar de serem igualmente exploradas, tanto em um como em outropas, a capacidade de discernimento, de anlise e de organizao da capaci-dade comunista era desigual. Era preciso concentrar tudo em um instrumento

    que homogeneizasse a capacidade mais elevada de pensar, de raciocinar e deorganizar.

    Organizou-se a Primeira Internacional. Mas, a Primeira Internacionalno encontrou as condies histricas para triunfar. O peso do proletariado, onmero, as experincias ainda no lhe permitiam assimilar. Ainda no tinhasuficiente influncia sobre os intelectuais e os cientistas para ganh-los a ummovimento comunista mundial. Era necessrio um processo mais desenvol-

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    vido do capitalismo e da luta de classe. Marx previu esse processo e se dedicou preparao cientfica de todos os textos. Neles se resume um conhecimentode todo o passado, de como foi a luta de classe, como se preparou a ascenso

    do capitalismo e como prever o futuro atravs da ao consciente e organizadado proletariado. Ele se dedicou a elaborar esses documentos. A polemizar,discutir e organizar os textos necessrios com todas as correntes cientficas,literrias, polticas que existiam naquela poca. anto dentro do movimentodo pensamento cientfico geral como do pensamento poltico concreto. Aqualidade de Marx era a de um gigante do pensamento que havia alcanadoum domnio da compreenso do desenvolvimento da sociedade e da natureza.

    Era preciso elaborar o instrumento que lhe permitisse fazer isso. Haviatodo um processo histrico de polmicas, de discusses, de elevao aindainsuficiente do pensamento cientfico, sobre a forma em que se desenvolviao processo da histria. Por isso, existia todo tipo de correntes filosficas, doidealismo at o materialismo.

    Faltava um instrumento para compreender o porqu do comporta-mento da classe operria, o porqu do comportamento da sociedade, a causadesse processo. O mistrio da produo, da economia, da relao entre osseres humanos e a economia; parecia um mistrio, um processo escondido,inacessvel ao conhecimento humano, no qual aparecia a economia comodona de tudo e o capitalismo como patro. o capitalismo tinha a natureza,deus e o cu em suas mos e impunha a economia, enquanto o homem deviase submeter a ele. Marx tirou o cu, deus, a mentira, a mstica e demonstrouque a economia era um produto da organizao e do trabalho humanos. Pro-

    duto de um processo que tinha uma origem, um antecedente: um processoque determinava outros processos. Ele encara a aplicao do mtodo, do ins-trumento, para compreender a histria. Marx integra a anlise da economiapoltica e do desenvolvimento da luta de classe, o mtodo da interpretao,que o materialismo dialtico.

    A base essencial do marxismo : toda a histria uma luta de classe. a base essencial, o pedestal onde se apoia a concepo que vai permitir a cons-

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    truo do socialismo. Essa a base, que tem uma estrutura cientfica, assimcomo o conhecimento sobre o tomo. A concepo de que toda a histria uma luta de classe, de onde surgem todos os fenmenos da sociedade, a

    base para interpretar e compreender o desenvolvimento da histria, que antesparecia cego, emprico e inacessvel. Marx se dedicou ao estudo e elaboraode documentos, onde inclua toda a anlise da economia, as lutas econmicas,a luta de classe, o sindicato, o proletariado, os partidos, as ideias socialistas, odesenvolvimento socialista. Mostrava que a luta de classe, como a natureza e asociedade, se desenvolvia em um processo dialtico, que surgia de um pontode partida, por sua vez originado em um processo anterior.

    O proletariado foi gerado pelo capitalismo. Para se desenvolver comoclasse, o capitalismo precisava desenvolver a grande indstria e responder necessidade de produo e de concorrncia. o capitalismo soube organizar ocomrcio que estava relacionado em todas as fronteiras do mundo. Para de-senvolver a concorrncia, precisava desenvolver a grande indstria. A grandeindstria desenvolve a grande concentrao proletria. A grande concen-trao proletria d ao proletariado a noo da fora que possui, do seu peso

    na sociedade. No o pequeno artesanato, a pequena fbrica, e sim a grandeconcentrao industrial o que d ao proletariado a noo da sua fora na his-tria e o que seria a origem do pensamento comunista da classe.

    oda a histria uma luta de classe, onde as classes disputam o poder.Mas, diferena das outras classes, o proletariado, nascido na grande con-centrao industrial, devia eliminar o sistema que o havia gerado, para se de-senvolver e eliminar a opresso. Portanto, ele devia se organizar como classe.

    Mas, ao mesmo tempo, para dirigir a sociedade, progredir e superar o sistemacapitalista, no podia criar um novo regime de propriedade privada. Sua re-lao com a economia no era a de proprietrio em disputa. Da surge a basepara a compreenso da aplicao do materialismo dialtico.

    Marx transfere a luta de classe ao conceito de materialismo dialtico.O processo que d origem luta, chamado tese, em seu desenvolvimentoproduz o antagonismo. o capitalismo produz o proletariado, que a anttese.

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    E o proletariado, para superar o sistema capitalista que lhe deu origem, nopode produzir uma nova forma de poder individual; ao contrrio, deve anularos dois: o capitalismo e o proletariado. Anular o capitalismo, porque a forma

    de produo antiquada, no serve ao desenvolvimento nem necessidadehumana. Anular o proletariado, porque o papel na economia no de pro-prietrio e sim de elaborador da produo, especialmente gerado na grandeindstria. Ento ele nega o capitalismo, nega-se a si mesmo e d por resultadoa luta pelo socialismo e o socialismo.

    A elaborao do pensamento cientfico feita por Marx parte do Ma-nifesto Comunista, no qual ele d as premissas da histria. O Manifesto Co-munista to til hoje, como o foi em sua poca. O programa muda: era oprograma para 1848, mais de 100 anos atrs, mas a premissa histrica igual.A afirmao de Marx: Os proletrios nada tm a perder, a no ser seus gri-lhes, e tm um mundo a ganhar, significava que ele j previa e organizava opensamento cientfico, o programa, a ttica, contando com o comportamentohistrico revolucionrio do proletariado. No contava com que o texto ga-nharia e convenceria outras pessoas, como os Utpicos.

    Marx queria desenvolver a conscincia de que o proletariado, pela pr-pria funo que exerce na economia e na sociedade, deve ser revolucionrioou no ser nada. E como a sua funo na sociedade o mantm nesta funorevolucionria, o proletariado tem que transformar a sociedade: ele o eixo, abase das mudanas da sociedade.

    OManifesto Comunistad a segurana histrica de qual vai ser o cursoda histria. Em 1848, o texto d uma viso e um panorama prvio do que vaiser o mundo. Nele, Marx desenvolve tambm a ttica de apoio a movimentosradicais liberais. Ele formula princpios de ttica aos quais, hoje, tratamos dedar continuidade. Por exemplo: apoiar todo movimento que, em cada etapa,independentemente de ns, tem o poder de mobilizao da opinio pblica,das massas ou dos instrumentos que possam significar progresso. Apoiar todomovimento sem se identificar com ele, nem se submeter a ele. Apoi-lo comottica para impulsionar um progresso que desenvolve a compreenso e unifica

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    a vontade das massas para derrubar o sistema capitalista, estimulando-as aoperar como direo. J Marx impunha uma base essencial histrica da ttica.

    O Manifesto Comunista continua vigente, embora tenha perdido aaplicao programtica pela qual foi elaborado em 1848. Hoje existem muitosEstados Operrios. Mas a concepo histrica do Manifesto Comunista erato boa antes como agora. Do ponto de vista programtico, j no neces-srio. Mas aquela era a primeira vez na histria em que algum dava a visoda estrutura do mundo. Enquanto as cincias naturais se desenvolviam e umasrie de cientistas se dedicava a cultivar o conhecimento individual, para a in-dstria e para o capitalismo, surgia a necessidade desse conhecimento essen-

    cial: para onde vai a humanidade? Para onde vamos? O Manifesto Comunistadiz para onde vamos. J a ttica e a poltica de Marx era: enquanto isso, o quefazemos?

    Ao escrever O Capital, Marx assentou as bases: de onde viemos? Aorigem o sistema capitalista, produto da histria anterior. Para onde vamos?Rumo ao comunismo. Enquanto isso, o que fazemos? O Manifesto Comunista a organizao cientfica da atividade baseada na compreenso dialtica doprocesso. eve uma aceitao to grande que hoje continua sendo um dosinstrumentos essenciais do pensamento.

    A Primeira Internacional foi a materializao prtica do Manifesto

    O marxismo era um mtodo de interpretao, um mtodo para orga-nizar o pensamento e a capacidade de compreenso. Faltava uma comprovao

    material histrica que significasse que as massas o acolhiam, o aceitavam, ba-seavam-se nele para desenvolver a histria. A Primeira Internacional, antes,e mais tarde, os Estados Operrios soviticos e os outros Estados Operriosque se formaram so a comprovao material da verdade histrica, do ins-trumento histrico necessrio, porque sobre a base do marxismo que essesEstados foram construdos.

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    Eis a uma concluso prtica da ttica que surge do Manifesto Comu-nista: apoiar-se na luta que o capitalismo, na sua concorrncia mundial, estobrigado a fazer, para tomar pontos de apoio para o progresso da humanidade.

    Partir de circunstncias histricas, de conjunturas que o inimigo est obrigadoa fazer, para ter a base e os pontos de apoio para o processo revolucionrio.

    OManifesto Comunistaprepara essa compreenso. No d normas te-ricas, nem polticas concretas. No d a orientao programtica nem a t-tica porque no poderia , mas o instrumento para compreender as classes,a sua funo histrica e a concluso que deve tirar o Partido na etapa concreta.Entre o surgimento doManifesto Comunistae a criao da Primeira Interna-

    cional, acontece uma srie de revolues, movimentos, greves e mobilizaesdas massas na Europa que deram ao Marx a segurana do comportamentoincontvel do proletariado. Faltava uma verificao histrica. A compreensode Marx chegou concluso histrica ao escrever o Manifesto Comunista epropor a Primeira Internacional, depois da comprovao prtica dos fatos ma-teriais, do comportamento da classe operria, das grandes greves da Frana,da Alemanha, da Inglaterra e da ao revolucionria do proletariado. O prole-

    tariado apoiou a greve, a revoluo de 1848 na Alemanha e isso era uma justi-ficao, uma demonstrao da previso histrica doManifesto Comunista, quedepois daria origem Primeira Internacional.

    A Primeira Internacional foi a primeira tentativa de criar um instru-mento que homogeneizasse a capacidade de previso do processo da histriapara organizar a atividade da classe operria, para atrair o resto da populaoque no era de origem proletria. A Internacional no se dispunha apenas a

    apoiar as greves e as lutas do proletariado, mas todas as lutas pelo progressocientfico revolucionrio. Propunha-se ser o instrumento que harmonizasseo progresso da humanidade, para ser dirigido e assumido pelo movimentorevolucionrio atravs da Primeira Internacional como organismo mundialda classe operria. Era a primeira vez que existia um partido revolucionrioconsciente.

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    Os partidos como o Partido rabalhista ou o Partido Fabiano4, sur-gidos na Inglaterra, eram uma combinao de movimento sindical e movi-mento poltico. No tinham uma origem nem uma perspectiva de classe. Lu-

    tavam contra o patro, faziam greves, para melhorar o nvel de vida. Um setormelhora o seu nvel de vida, o resto no. o capitalismo, com a concorrncia,renova constantemente os meios, os mtodos e as condies de explorao.Portanto, preciso derrubar o sistema capitalista.

    Era preciso analisar se o capitalismo era um regime que tinha umaperspectiva inesgotvel de progresso ou se inevitavelmente enfrentaria crisesprovocadas por seu prprio funcionamento. Ainda em plena expanso, o ca-

    pitalismo tinha um progresso limitado. Quem determinaria essa limitao?A incapacidade econmica ou o enfrentamento de classe provocaria a lutado proletariado que limitaria essa perspectiva. Inevitavelmente, o capitalismolevaria cegueira histrica. O desenvolvimento da economia e da produoconduziria a uma etapa na qual as foras produtivas seriam contidas, sujeitas,desorganizadas pelo prprio sistema capitalista.

    O capitalismo seria impotente para utilizar o desenvolvimento da tc-nica e da cincia, porque a estrutura do sistema capitalista, a origem de classe,impedia criar um desenvolvimento ilimitado, de acordo com o impulso e afora que surgia da produtividade. No poderia dar resposta a isso. A con-corrncia interna do sistema capitalista conduziria a guerras, ao retrocesso dahumanidade e insegurana social. Enquanto que o proletariado daria a se-gurana do progresso. O desenvolvimento da economia obrigaria a formas deproduo e de propriedade, que o capitalismo j no poderia suportar, porque

    passava da propriedade privada, do monoplio, dos cartis a formas de plane-jamento, porque j a tcnica e as foras de produo superariam a capacidadee o interesse individual do capitalismo. Seria necessrio o planejamento geral,que faz parte da previso que Marx depois desenvolve em O Capital.

    4 Partido Fabiano, ou Fabian Society, centro poltico de centro-esquerda no Reino Unido, criado em 1884,interveio na formao do Partido rabalhista em 1900.

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    A polmica de Marx e Engels com o movimento anarquista

    sobre essa base que se apoia a Primeira Internacional, no no desejorevolucionrio como no caso de Bakunin, que era de origem nobre e mani-festava a prpria reao contra a classe de onde havia nascido. O impulso, osentimento de justia, no com base cientfica, mas apoiada no empirismoindividual, no favorecia a organizao. A injustia, a fome, a guerra e a mi-sria provocavam sempre reaes humanas, tambm no campo religioso e nanobreza. E no casual. o resultado direto da brutalidade da opresso dopovo russo. Era uma reao que chegava at eles, uma reao contra a explo-

    rao humana porque era a servido prxima da escravido. Essa opressodas massas russas fez surgir Chekhov5, Bakunin, olstoi6, que eram crticos sociedade russa, mas no organizadores polticos das massas. Expressavamtanto uma crtica individual, como um desejo e um sentimento cristos. Masfaltava o pensamento cientfico.

    Bakunin chega Primeira Internacional com ideias empricas base-adas na impacincia que expressava a sua origem, a superficialidade, o empi-

    rismo, a resistncia e a oposio ao mtodo cientfico: organizar um partido declasse que vivesse e se baseasse no proletariado. Enquanto Bakunin se baseavanas aes empricas das massas, Marx se apoiava na ao, na organizao, nainfluncia histrica do proletariado.

    Bakunin levava Primeira Internacional o empirismo anarquista: esti-mular a luta de hoje e... amanh veremos. Marx tinha a previso de organizaras foras da revoluo para incorporar o resto da sociedade. Bakunin estava

    interessado em promover escndalos e desordens, com intenes revolucio-nrias. Marx utilizava as greves e a agitao das massas para construir umadireo, unific-las com o resto da populao e organizar o partido. A grevepor si s no podia atrair a populao; sim a solidariedade e a simpatia, masno a organizao poltica para poder derrubar o sistema capitalista. Bakuninno se dedicava a essa atividade.

    5 Antn Pavlovitch Chekhov, 1860-1904, mdico, dramaturgo e escritor russo.

    6 Liev Nikolaievich olstoi, 1828-1910, novelista e escritor russo.

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    Proudhon7baseava a crtica ao sistema dizendo: o capitalismo umroubo. E orientava a prpria ao a partir deste pensamento. Marx disse aele: No, o capitalismo no um roubo, um regime de produo. Prou-

    dhon partia dessa concepo terica, embora com uma inteno muito boa,j que era um idealista. Ele se fechava na ideia de que o capitalismo era umroubo porque o operrio trabalhava, dedicava-se produo e o capitalista aexpropriava. Ento Marx demonstrou: Bom, devemos impedir que roubem,mas a relao da produo est determinada pela capacidade de produzir amenor custo. O sistema capitalista comete o roubo, no em forma individual,e sim como sistema. um sistema de produo que permite a acumulao, areproduo e o reinvestimento do capital. No um roubo qualquer: o sistemacapitalista o roubo histrico. Mas a forma de produzir e essa forma deveser transformada.

    Era preciso esperar o desenvolvimento das foras produtivas que serebelariam contra o capitalismo, porque o impulso da tcnica, da cincia edo proletariado geraria condies s que o capitalista no poderia responder.No poderia, porque chegaria uma etapa em que a concentrao da produo

    e a reorganizao do investimento do Capital levariam a um grau de centra-lizao da produo que o capitalismo no poderia dominar porque a cinciaseria superior limitao da capacidade e ao interesse de aplicao do sistema.

    O capitalismo usou a tcnica de acordo com a prpria necessidadee no em funo do interesse humano. Mas o desenvolvimento da tcnicalevaria convico de que existem as condies e as possibilidades do desen-

    volvimento ilimitado. Ao mesmo tempo, a produo exigiria, como agora, um

    nvel de organizao da funo da propriedade, da produo e da distribuioque supere a propriedade privada, o interesse privado de produzir, acumular ereinvestir. Ento a economia, a tcnica e a cincia exigiriam uma coordenaosuperior, que o capitalismo no poderia ter. Isso criava as condies que opu-nham o sistema capitalista ao desenvolvimento necessrio da histria.

    7 Pierre-Joseph Proudhon, 1809-1865, filsofo poltico e revolucionrio anarquista francs.

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    A polmica de Marx e Engels com o movimento anarquista na cons-truo da Primeira Internacional era uma diferena histrica sobre a capaci-dade cientfica. No eram divergncias de ttica. Mas se traduzia em diver-

    gncias de ttica entre Marx e Engels, por um lado, e Bakunin, os anarquistase um setor de intelectuais, por outro; entre a Liga dos Comunistas e outrossetores apenas atrados pelo comunismo. Marx via a Internacional como uminstrumento de organizao do pensamento cientfico, da organizao prticapara a ao histrica do proletariado a fim de derrocar o sistema capitalista econstruir o comunismo. Para Bakunin era um instrumento de ao, que serviapara organizar as massas, mobiliz-las e depois vejamos o que acontece8.

    Por isso houve a polmica histrica com os anarquistas na PrimeiraInternacional. Bakunin lutava concretamente contra a injustia, sem ter umaperspectiva do objetivo futuro. Essa era a divergncia histrica entre o movi-mento anarquista e o movimento comunista. Marx e Engels criaram oMani-

    festo Comunistae a Primeira Internacional baseados nessa concluso.

    A Comuna de Paris

    A Comuna de Paris pe prova a existncia da Internacional. Ficoudemonstrado que a Primeira Internacional no tinha fora, organizao, nempeso histrico. No pde intervir para ajudar a Comuna de Paris, no pdemobilizar as massas da Europa. Mas serviu como instrumento para a experi-ncia e a organizao cientfica do pensamento comunista. Serviu para que osrevolucionrios posteriores a Marx e Engels tivessem como base a Comuna

    de Paris e elevassem a capacidade de organizao, dominassem mais os fa-tores que intervm na revoluo e soubessem medir a vontade e a organizaodas massas, compreendessem a crise do sistema capitalista, a combinao detodos esses fatores e a atrao do resto da sociedade, ganha pelo proletariado,para derrubar o sistema capitalista. A Primeira Internacional contribuiu paracaracterizar estas etapas, das quais deriva o conceito de ttica.

    8 Liga dos Comunistas, fundada por Marx e Engels em 1848 em Bruxelas, a partir da Liga dos Justos fundada

    com operrios alemes em Paris em 1836.

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    A Primeira Internacional no pde dar um apoio importante Co-muna de Paris. Porm, mobilizou nos Estados Unidos e na Amrica Latinaum apoio que no podia ser expresso em forma de movimento de massas, de

    solidariedade concreta. A Comuna de Paris atraiu uma quantidade imensa depessoas do mundo todo e foi motivo de discusso e disputa no seio do capita-lismo mundial, que a viu como um antecedente do crescimento das foras doproletariado para construir a sociedade socialista.

    O capitalismo mundial ficou abalado. Entrou em estado de pnicoem todo o mundo, inclusive na Amrica Latina, onde os tericos liberais docapitalismo, em particular da Argentina, condenaram a Comuna de Paris.

    ambm na Europa, enquanto Garibaldi9apoiava a Primeira Internacional e,em parte, a Comuna, Mazzini10estava contra.

    A concluso mais importante, que serviu para a experincia e para acapacidade do movimento comunista mundial de pensar, de raciocinar e deorganizar foram os textos de Marx, como depois os de Lnin, sobre a Comunade Paris. Naquela etapa, a Primeira Internacional mandou uma saudao Comuna de Paris. Mas, ao mesmo tempo, criticou-a. Mesmo sendo uma men-sagem de apoio e um texto comovido e comovedor de Marx e Engels, o textoexpressa a crtica s falhas da direo e a necessidade de aprender, corrigir ese basear nas limitaes da direo. Havia duas concluses fundamentais: aausncia de um partido e de condies objetivas para que triunfasse um movi-mento revolucionrio e socialista. Mas, por outro lado, existia a possibilidadede ter se desenvolvido um movimento de unificao da populao atravs dereinvindicaes democrticas, espera de uma etapa posterior de desenvolvi-

    mento. Era um antecedente da revoluo permanente. No era a formulaoterica plena da revoluo permanente; era um antecedente que conduzia concluso e prtica da revoluo permanente11. Marx mostra a seguranahistrica que transmitiu a todo mundo.

    9 Garibaldi, 1807-1882, militar e poltico italiano. Quando se formou a Primeira Internacional em 1864, Ga-ribaldi se declarou internacionalista.

    10 Mazzini, 1805-1872, filsofo, poltico e nacionalista italiano.

    11 O autor faz referencia a que Marx j identificava elementos de Revoluo Permanente, cujo desenvolvimento

    terico viria posteriormente, em 1905, com rotsky.

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    A Comuna de Paris foi um fator essencial na construo do PartidoBolchevique. A Comuna de Paris demonstrou que no era possvel fazer umpartido espordico, espontneo, com bases carentes de firmeza e resoluo,

    um partido que se dedicasse apenas atividade parlamentar ou sindical. Eranecessrio um partido profissional, dedicado a elaborar a teoria, a assimil-la,a expandir a sua aplicao, a se comunicar com a populao por meio do pro-grama e da poltica, intervindo em todos os problemas das massas. Um par-tido dedicado a viver as experincias, aplicar o programa, avaliar, comparar asexperincias e criar a equipe com a resoluo de tomar o poder, vivendo comessa conscincia, esse sentimento e essa resoluo. Lnin criou esse partido: oPartido Bolchevique.

    A Comuna de Paris foi uma experincia histrica completa: delaemerge a necessidade do partido revolucionrio, do funcionamento do par-tido, da comunicao com o resto da populao atravs do partido, de unir aluta sindical de fbrica, de bairros, camponeses, intelectuais atravs do par-tido. O partido o eixo que deixa a experincia intergiversvel. Marx e Engels,e depois Lnin e rotsky, se apoiaram nisso. A Comuna de Paris uma expe-

    rincia histrica que permitiu que de uma derrota surgisse uma experinciavantajosa, assim como a derrota de 1905 serviu para organizar o triunfo de1917.

    A experincia histrica da Primeira Internacional

    A Primeira Internacional foi dissolvida, mas deixou a experincia his-trica de que era necessria e era possvel uma organizao mundial. Naquela

    poca o proletariado no tinha o peso decisivo que tem hoje. Mas, em toda aEuropa na Itlia, na Inglaterra, principalmente na Frana e na Alemanha ,o movimento operrio tinha um grande peso de classe, mas no tinha aindauma suficiente atividade independente. Desenvolvia-se na poltica liberal ousindical-liberal e sem o partido, sem a concepo direta de classe.

    No entanto, as grandes greves gerais de 1848 demonstraram que o pro-letariado estava disposto a assumir a direo, mas tinha que envolver o resto

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    da sociedade. Como ganh-la? Essa era a funo do partido. Como educar epreparar a sociedade para transform-la. Ganhar uma greve no era difcil.Motivado pela necessidade da vida, o proletariado era capaz de ganhar greves,

    como demonstrou na Alemanha, na Frana, na Inglaterra. Mas dirigir a socie-dade para transform-la requeria o conhecimento cientfico, o instrumento, opartido, que vinculasse os sindicatos com o resto da populao. Era precisoeducar e elevar a populao para essa funo, para que adquirisse a experi-ncia, a capacidade de pensar, de raciocinar, de aplicar e compreender todosos problemas e que a soluo diante do sistema capitalista s podia ser encon-trada derrubando esse sistema e inaugurando uma nova forma de sociedade.

    A concepo marxista era destruir o sistema capitalista e transfor-m-lo em uma nova forma de sociedade, permitir a passagem para uma novasociedade. Marx no via a cada do capitalismo como o resultado de uma aode desespero das massas, motivada pela fome, a misria e a necessidade, mascomo o produto da ao consciente que surge da fome, da misria e da neces-sidade contra a guerra capitalista para transformar a sociedade. Mas para isso preciso o instrumento. Era necessrio extrair, de todas as aes de classe ba-

    seadas no antagonismo entre proletariado e sistema capitalista, a experinciapara educar a vanguarda e as massas. Ao mesmo tempo, ir desenvolvendo acapacidade programtica e terica da classe, para se preparar como classe di-rigente para construir a nova sociedade. Para construir, no para se apropriarda nova sociedade.

    oda a interveno importante da classe estava e est determinadapor essa necessidade histrica: a classe como dirigente da nova sociedade.

    Dirigente, e no dona. Dirigente significa que, pela sua funo na economiae na sociedade, tem a objetividade, a capacidade, o desinteresse individual,a formao da conscincia, os sentimentos, os objetivos de lutar pelo bem-estar humano, porque a funo que surge do seu papel na economia e nasociedade.

    O partido ensina as bases das qualidades humanas. O capitalista ego-sta, assassino e criminoso, porque a qualidade que nasce da sua funo napropriedade, na economia e na sociedade. No proletariado ao contrrio: a

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    sua funo na economia e na sociedade o obriga, o educa, o organiza parater a fraternidade humana, o sentimento objetivo da solidariedade, a obje-tividade em todos os problemas e a inclinao e a orientao para tentar se

    unir, resolver os problemas de acordo com a populao. Mas no tem nem aconscincia de como fazer isso, nem os meios, nem a compreenso cientfica.Era preciso entender como fazer, onde fazer e quando fazer.

    Isso acontece em cada pas. Mas o que ocorre no resto do mundo? En-quanto o proletariado realiza uma ao em um pas, o que acontece no resto?Como dar a segurana histrica ao proletariado de que um problema geralde todo o sistema capitalista? Era preciso organizar, portanto, a compreensodo proletariado. Se no era possvel fazer isso com toda a classe, podia ser feitocom a sua vanguarda: a transformao da sociedade era uma consequnciainevitvel e, partindo da, deviam ser construdas medidas, meios, formas,para construir uma sociedade socialista. E assentar as bases da compreensocientfica, criando o instrumento que desse ao proletariado a capacidade deorganizar a sociedade. Ver o curso que conduzia s crises e s guerras.

    O progresso da sociedade capitalista estava determinado por doiscentros fundamentais: o desenvolvimento da produo e o desenvolvimento

    da concorrncia capitalista, que se resolvia na forma de guerras capitalistas.Era necessrio organizar no proletariado a segurana de que, para suprimir acrise e as guerras capitalistas, era preciso derrubar quem as produzia. No erauma questo de colocar melhores dirigentes, mas de derrubar o regime que oshavia gerado, desenvolver a sociedade e a economia na forma de previso. E aclasse, o proletariado, podia fazer isso.

    inha as foras para cumprir essa tarefa devido ao seu papel na eco-nomia e na sociedade, mas no tinha o pensamento cientfico nem a pre-

    parao terica. O seu lugar na sociedade dava-lhe as condies sociais decompreender e assimilar; influa pela sua ao, pela sua objetividade, pela suaabnegao histrica e desenvolvia qualidades. O proletariado demonstrava asqualidades humanas mais completas: a objetividade, o desinteresse, o senti-mento humano mais desenvolvido. Faltava o intrprete que se preocupassede dar formas cientficas a essas qualidades do proletariado, que se expres-savam socialmente, mas que no podiam ser determinadas nem programadasde forma cientfica.

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    O pensamento e a aode Marx e Engels

    Marx, originrio da burguesia, representa o pensamento poltico ecientfico mais completo da classe qual no pertence. Lnin tambm. A pre-ocupao cientfica os identificou com o proletariado, porque este era o ins-trumento do progresso da humanidade. O progresso da humanidade encon-trou em Marx o intrprete mais completo, que desenvolveu o mtodo baseadono materialismo dialtico, na anlise da histria, da natureza, para poder in-

    tervir, unir, transformar: para poder prever o curso do processo e preparar asforas. O proletariado encontra em Marx o prprio representante. No texto

    As trs fontes e as trs partes integrantes do marxismo, Lnin afirma: Marx foio representante cientfico completo das necessidades histricas representadaspela funo histrica do proletariado. Essa a demonstrao de que o pensa-mento mais progressista da poca e as formas mais elevadas do conhecimentoforam colocados a servio do progresso da humanidade, expressado na classeoperria, que naquela etapa ainda no podia triunfar.

    O domnio da anlise cientfica da histria levou Marx determi-nao, em 1848, setenta anos antes do triunfo da Revoluo Russa, de que Ocapitalismo estava condenado morte: o prprio regime conduzia a um pro-cesso que criaria as foras que o esmagariam. As massas no podiam adquiriro conhecimento cientfico por si mesmas como classe, mas podiam elaboraras foras histricas de atrao, de impulso, de organizao, que encontrariam

    os meios cientficos, as foras, a fraternidade, a solidariedade e os elementospara constituir esse pensamento cientfico.

    O marxismo une Marx ao proletariado mundial porque com o mar-xismo, com oManifesto Comunista, com a estruturao do mtodo marxista ea organizao do Partido Comunista que materializa o comunismo a funohistrica do proletariado produz o progresso de classe em si para si. O prole-tariado lutava objetivamente para se defender do sistema capitalista. A incor-

    porao do marxismo criou a necessidade de construir um partido de classe

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    para lutar para si. Como no podia lutar para si em nome da substituiode um dono o capitalista por outro dono o proletariado , ao mesmotempo em que lutava como classe em si, por reivindicaes econmicas, lu-

    tava como classe para si, para enfrentar o poder e suprimir a estrutura depropriedade e o sistema de produo que provocavam a explorao e todas assuas consequncias.

    Marx representa conscientemente essa etapa da histria. Ele foiatrado, como demonstram seus textos, pela fsica, a qumica, as cincias na-turais. Possua uma grande compreenso e um grande domnio das matem-ticas. Mas foi atrado tambm pelas lutas sociais, que respondiam aos sen-

    timentos mais profundos e mais completos da conscincia e do sentimento.Era a forma mais elevada de desenvolver a inteligncia humana sem limites,sem enquadramentos pessoais. Era o pensamento aplicado sem limitaes; osentimento humano servindo de base para desenvolver a inteligncia e a fra-ternidade humana. Era a forma mais completa que as ideias podiam produzire a inteligncia mais nobre e objetiva.

    Marx no teria existido sem as grandes lutas proletrias

    Sem a existncia do proletariado e sem as grandes greves do proleta-riado, Marx no teria existido. Ele no apenas um produto da inteligncia,mas tambm das grandes lutas da sua poca e da preocupao cientfica queo proletariado no podia ter. E ao se juntar com o proletariado, este adquireo instrumento consciente e cientfico no qual Marx no um agregado, e sim

    um representante da sua funo histrica.Essa uma prova da coordenao homognea entre o desenvolvi-

    mento objetivo da economia e da sociedade e a representao consciente cien-tfica. Marx dedicou-se ao cultivo, preocupao de desenvolver as ideias, asanlises, os textos que serviram de educao aos nossos mestres e a ns, paracompreender o desenvolvimento da histria e a concluso da necessidade his-trica do socialismo. No foi produto da bondade, do desejo, do sentimento

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    ou da solidariedade: foi produto da compreenso cientfica. Por isso chama-sesocialismo cientfico.

    Marx e Engels se dedicaram a desenvolver o mtodo dialtico. Elespolemizavam com Dhring12, porque ele transformava o mesmo mtodocom o mtodo empirista e seguidista, que a metafsica. Em nome da dial-tica, Dhring afirmava que o socialismo no era possvel se no houvesse umagente que o determinasse. E o que estava em discusso era que o socialismo resultado da necessidade que surge do crescimento da produo e que odesenvolvimento da propriedade privada leva o capitalismo a um beco semsada. Como no pode desenvolver a produo para que a humanidade pro-

    grida, o capitalismo resolve a relao de concorrncia por meio da guerra. Jo proletariado pode levar a economia ao crescimento sem limites porque notem interesses prprios nem de competio; ao contrrio, desenvolve a socie-dade para responder ao interesse do progresso humano.

    Mas o proletariado precisa ter a conscincia cientfica da sociedade,que dada pelo partido. Por isso a necessidade da construo do partido e agigantesca preocupao de Marx em demonstrar a necessidade da transfor-mao socialista, em questionar todas as mentiras da sociedade capitalista eorganizar o mtodo dialtico de pensar, principalmente, sobre a luta de classe escala mundial. Mostrar que toda a histria da humanidade o resultado daluta de classe.

    odos os historiadores anteriores a Marx polticos, cientficos, so-cilogos , todos apresentavam o desenvolvimento da humanidade como oresultado de qualidades como a bondade ou de mentiras. Segundo eles, emcerto momento, a sociedade estaria composta por boas pessoas e ento ha-

    veria progresso. Eles construam a concepo filosfica, terica, programtica,com base nesse pensamento histrico.

    Ao contrrio, Marx analisava que a luta de classe o trem do progressoda histria. Da sociedade primitiva escravido, do feudalismo ao capita-

    12 Dhring, 1833-1921, filsofo e economista alemo, muito crtico ao marxismo.

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    lismo: tudo luta de classe. odo o processo at a sociedade capitalista estdeterminado pela luta de classe, pelos interesses e as determinaes de classe.

    Esse processo leva a uma concentrao das foras produtivas e o capi-talismo deve continuar competindo, mas escala mundial, levando em con-siderao estes fatores: a grande concentrao da produo e das finanas, oprocesso de capital-mercadoria-capital em uma reproduo dinmica e con-centrada. A concorrncia intercapitalista levava a um retrocesso constante donvel do progresso social alcanado. Enquanto a humanidade descobria o fogoe deixava de depender das foras cegas da natureza, o progresso gerado peloregime de propriedade privada era feito na forma de guerra. E a guerra era

    um retrocesso to grande como o progresso alcanado. Ento, o progressomaterial econmico que o sistema capitalista produzia e o retrocesso que sig-nificava a guerra, orientavam as pessoas no sentido de que era preciso mudaro sistema, porque destrua as riquezas produzidas pelo ser humano.

    O proletariado adquire no apenas a convico de que necessrio oprogresso constante, mas tambm de que ele capaz de produzi-lo. Era pre-ciso estruturar os rgos que respondessem relao entre o proletariado ea produo, organizar o sindicato e, ao mesmo tempo, chegar a uma organi-zao que superasse a luta imediata pelo salrio, pelas condies de trabalho,pela distribuio da riqueza produzida. Era preciso levar uma luta superiorna defesa do nvel de vida, uma luta pela participao na direo do pas; de-monstrar a capacidade de dirigir e atrair o resto da populao como a classeque resolve os problemas que o capitalismo incapaz de resolver. E isto signi-fica tomar posio, programa, objetivos que respondam aos interesses de toda

    a populao: sejam econmicos, produtivos, de bem-estar social, fazendohospitais, estradas, transportes, luz, gua, etc. O proletariado devia mostrarque ele representava os interesses de toda a populao e sobre tudo que eracapaz de tomar a direo da produo para desenvolv-la sem limitaes.Devia se apresentar como a classe que dirigiria a sociedade para eliminar aconcorrncia, o interesse privado e, por conseguinte, os elementos da guerraintercapitalista.

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    Isso exigia uma especificao cientfica: significava programa, poltica,unidade entre a luta imediata sindical, a luta pelas conquistas das massas econtra o sistema capitalista e a necessidade de ensinar, comunicar classe

    todos os ensinamentos, as experincias para dirigir a sociedade. Dirigir opoder antes de tom-lo, seja atravs dos sindicatos ou do partido. Dirigi-lo sig-nificava lutar por um programa, por objetivos que respondessem ao interesseda vida imediata da populao, junto criao de bases que desenvolvessem aproduo, junto direo da sociedade, a maior parte composta pelas massasoprimidas: operrios, camponeses, pequena burguesia. Ao mesmo tempo, erapreciso mostrar que o progresso no seria conquistado por meio da guerra,da destruio, da competio, e sim eliminando a concorrncia e a guerracapitalista.

    Era preciso educar o proletariado, convenc-lo da necessidade do par-tido revolucionrio. Convenc-lo significava atrai-lo para a compreenso dapossibilidade prtica da organizao e do funcionamento do partido revolu-cionrio. No era dizer a ele como deveria agir. O proletariado sabia agir comoclasse. Mas era necessrio dar a ele os conhecimentos cientficos que, pela sua

    funo na sociedade, na produo, na economia, ele no podia elaborar. Nopossua os meios nem a preparao. Marx sim. E da surge a sua unio com oproletariado.

    Engels e a continuidade do marxismo

    Depois da morte de Marx, Engels foi para os Estados Unidos. Os seusbigrafos escrevem com muito carinho sobre ele, mas no compreendem

    quem era. No mostram a riqueza da sua vida, a influncia das ideias de jus-tia humana que o trouxeram ao campo revolucionrio. No foi a especulaocientfica, mas o sentimento de justia humana que o atraiu para a revoluo,como no caso de Marx, e encontrou na elaborao do instrumento que fezcom Marx a resposta ao prprio sentimento de justia humana. E para issodevia se unir ao proletariado; caso contrrio, no haveria justia da classe nemda histria.

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    Engels foi para os Estados Unidos de forma consciente e movido pelanecessidade de conhecer o regime capitalista que mais avanava e que seria omais desenvolvido da histria do capitalismo. Antes que os Estados Unidos

    crescessem, Engels foi conhecer o pas que seria a maior potncia imperialistado sistema capitalista. Ele elaborou textos, memrias e escritos sobre o tema.E predisse um desenvolvimento grande dos Estados Unidos. Quando Engels

    voltou de l, escreveu nas prprias memrias a necessidade de contar nas pr-ximas etapas com este pas como o carro-chefe do capitalismo mundial. Nopodia prever as formas que tomaria, mas enxergava a sua potncia dinmica,inclusive, a constituio do imperialismo ianque pelas massas vindas da Ingla-terra e principalmente da Irlanda.

    No por casualidade que lembramos a preocupao com a qualatuou Engels, pela sua minuciosa preocupao pela funo investigativa domarxismo, de anlise, de comunicao, e de generalizao da experincia. preciso levar em conta que Engels estava s. Era muito querido e apreciado.Mas, como ele mesmo dizia, o tratavam como um livro de biblioteca: que nose mexesse, no se agitasse, no escrevesse, e que fosse um bom marxista,

    porque a aristocracia operria e a socialdemocracia no precisavam de todoo marxismo. Utilizava o marxismo dosificado para compreender o curso docapitalismo e vender seu conhecimento e sua funo, mas quando Engelsdava o programa, diziam: No, velhinho, fica quieto. E Engels continuouescrevendo.

    Com relao sua funo com Marx, Engels diz: ramos um dueto eo primeiro violino era Marx. Ele no minimizava a prpria ao que, em de-

    terminadas esferas, era superior de Marx e conta que, referindo-se sua vidacom ele, s vezes, nas discusses, eu tinha a iniciativa, mas bastava que abrissea boca para pronunci-la, para que Marx a tomasse e, como uma asa poderosae invencvel, desenvolvia imediatamente o seu pensamento. Estavam at oitohoras discutindo e intercambiando as ideias mais importantes e mais cons-trutivas da histria, sem meios (Marx teve que vender a camisa para enterraro filho). Estavam preocupados em desenvolver a capacidade de anlise, de

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    pesquisa, de concluso do pensamento, com a certeza de que, mesmo que elesno o pudessem presenciar, a humanidade o utilizaria atravs do proletariado.

    A Revoluo Russa materializou o pensamento marxista

    A Revoluo Russa, mais tarde, materializou esse pensamento. Porisso, a Revoluo Russa e o Estado Operrio sovitico so o marxismo mate-rializado. So as ideias, o pensamento, a anlise histrica e concreta de Marx,expressados e materializados na forma de Estado Operrio. a confirmaohistrica na forma de Estado Operrio.

    A ao de Marx e Engels, que se preocupavam por elevar a capacidadedo pensamento humano, baseou-se na compreenso da funo de classe his-trica do proletariado. No era qualquer pensamento. Marx e Engels tinham aqualidade de dominar todo o desenvolvimento, todo o processo cientfico dahumanidade, mas se dedicaram principalmente a isso. Como o prprio Marxdiz, o marxismo um instrumento invencvel, mas se preocupou fundamen-talmente, no exclusivamente, pela luta de classe, para mostrar que toda a his-tria da humanidade a histria da luta de classe e que as revolues, atravsda luta de classe, so o motor da histria.

    No um processo j determinado: depende do curso da histria,onde o fator consciente decisivo. A classe operria, organizada consciente-mente, une prpria necessidade de subsistncia a funo histrica de ser oconstrutor da nova sociedade. No porque ela queira, e sim porque est obri-gada a fazer isso para no perecer.

    O marxismo iria se tornar um instrumento para o progresso humano,que se apoiava na luta de classe, que o motor da histria. Agregava luta declasse a concepo, o programa, o objetivo revolucionrio consciente baseadona classe operria. Marx e Engels se dedicaram a mostrar essa necessidade.Por isso, as polmicas mais benficas para a humanidade provocadas por elesso as que esto orientadas discusso das ideias do desenvolvimento so-

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    cial, do programa, da experincia humana, de como construir o progresso dasociedade.

    O progresso cientfico, econmico e tcnico atraa. A burguesia ofe-recia lugares honorficos, toda classe de reais academias. Marx rejeitou tudoisso. Uma vez, quando no tinha como manter a famlia, ofereceu-se comofuncionrio em uma empresa ferroviria de Londres e foi despedido por letraruim. Engels diz: Ainda bem que foi despedido, porque se no Marx estariaobrigado a ficar a.

    Marx aguentou a situao at que Engels pde ajud-lo. Muitos bi-

    grafos cometem injustias atrozes e apresentam Marx como algum que vivia custa de Engels. Engels critica isso e os seus bigrafos ignoram ou anulamessa parte. Engels opunha-se indignado a estas concluses. Se Marx tivesse sededicado funo de ganhar dinheiro, teria acumulado uma riqueza superiora tudo o que tinha Engels.

    Marx e Engels se dedicaram tarefa de preparar o pensamento revolu-cionrio, as ideias, os escritos, a organizao da mente, do Partido, para a luta

    pelo futuro da humanidade, que devia ser feita atravs da luta de classe. Paraisso era necessrio o Partido, a Frente nica, a compreenso de como era aFrente nica e dar as ideias e a segurana de que o regime capitalista era tran-sitrio. No era um regime que podia permanecer estvel a vida toda e, pelasua natureza, levaria a crises, guerras e revolues. Era preciso se prepararpara derrub-lo.

    oda a polmica de Marx naquela poca foi para mostrar essa neces-

    sidade e para tentar influenciar, ganhar, atrair todos os cientistas que, emborativessem origem no sistema capitalista e servissem ao sistema capitalista, eraminfluenciados pela verdade cientfica. Alguns, mesmo sem conscincia, se pro-nunciariam a favor do processo do mtodo dialtico e do progresso cientficoda humanidade. Por isso Marx quis ganhar o naturalista Charles Darwin13.

    13 Charles Robert Darwin, 1809-1882, naturalista ingls. Elaborou a teoria da evoluo das espcies.

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    Quando Darwin tirou as prprias concluses sobre a origem do serhumano, Marx e Engels comemoraram com grande carinho e aplaudiram essegrande progresso da cincia porque, assim como eles demonstraram que o

    desenvolvimento da sociedade e da economia no era nenhum mistrio e queo motor era a luta de classe, tambm era necessrio mostrar nas cincias natu-rais, entre elas a antropologia, que somos produto da terra, resultado de umaorganizao emprica da natureza, e no produto da mo de Deus e de ummistrio indesvendvel.

    Marx e Engels comemoraram com tanto carinho a descoberta de Da-rwin que se propuseram ganh-lo. Era a demonstrao do mtodo dialtico,

    do qual Darwin no tinha nenhuma noo, mas o aplicava. Entre o primata eo ser humano de hoje, existe um espao de tempo muito mais importante doque dizem os antroplogos.

    A descoberta de Darwin era uma incorporao muito grande para acincia, em uma etapa em que o sistema capitalista estava em plena expanso.Uma expanso que dominava o curso do pensamento e que criava a ideia deque a humanidade passava da indigncia, da necessidade, da precariedade grande abundncia do sistema capitalista.

    Era necessrio demonstrar que no era assim, que era o resultado derelaes que vinham de pocas anteriores e que o que determinava o cursode toda atividade humana era a passagem de regimes sociais, de regimes depropriedade e de sistemas de produo. Era preciso demonstrar que era umprocesso dialtico, que tinha origem na natureza e que criava novas formassuperando as anteriores e se apresentando em forma superior.

    O Partido intervm no processo de organizao, de desenvolvimento edetermina a concluso; supera o empirismo do sindicalismo e do anarquismo,que no sabiam para onde iam e no criavam as condies para organizar asmassas como representantes de toda a sociedade. Eles eram representantes dodesespero e da injustia criada pela sociedade capitalista, enquanto o PartidoComunista devia ser o representante consciente da necessidade de organizar

    as massas para transformar a sociedade. Portanto, Marx e Engels comemo-

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    ravam com uma alegria infinita tudo o que surgisse como comprovao emoutros campos da cincia.

    No era a alegria pessoal de ver que sua tese era confirmada, e sim ade sentir que eles representavam a necessidade do progresso da humanidade.Eles foram os primeiros que estabeleceram, de forma organizada, a funo debem pblico da histria. Houve antes outros cientistas em todas as reas dacincia, da poltica e da sociedade, mas Marx e Engels foram os que se dedi-caram compreenso desse processo e de uma fase especfica desse processo,que era decisiva para as mudanas na histria: o chamado salto dialtico.

    Marx e Engels criaram o conceito do salto dialtico

    Eles comprovaram cientificamente esse princpio e se basearam nelepara a atividade revolucionria do proletariado. O processo dialtico partede uma origem, qualquer que ela seja, na natureza ou na sociedade, e levadentro de si, em sua prpria estrutura, todos os elementos que constituem essaorigem, que se desenvolvem, crescem e criam foras antagnicas interiores.

    Nesse processo, o capitalismo cria o proletariado. O proletariado sedesenvolve antagonicamente ao sistema capitalista, ao mesmo tempo em quesurgem as contradies no seio da prpria classe. So contradies entre osinteresses de uma ou outra camada. Mas o que determina o curso o inte-resse comum. No caso da classe operria, o interesse comum deriva do fatode serem todos explorados. Portanto, o problema encontrar a representaocientfica dessa unidade de interesses objetivos, mas no conscientes, para or-ganizar a classe em defesa dos interesses comuns e dar a ela a conscincia daprpria funo histrica. Para conquistar a organizao das foras e o ins-trumento social para triunfar necessrio o Partido, que o centro histricodesse processo e permite dar o salto dialtico.

    Isso significa que, para passar de uma etapa a outra, para que haja trans-formao, o processo no pode ser feito de forma gradual, mas repentina. As

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    condies de centralizao dos fatores determinam a passagem de uma etapa outra. A passagem no pode ser feita gradualmente, e sim violentamente.

    A concepo da revoluo essa. odos os tericos antes de Marx e deEngels aceitavam a necessidade de mudanas e de transformaes sociais, masde forma gradual e reformista. Kautsky, como chefe parlamentar, demons-trava que as mudanas podiam ser feitas atravs do parlamento ou colocandoministros. Marx e Engels mostraram que era impossvel, porque o que deveser transformado no a funo do parlamento e sim a estrutura do pas queest baseada na propriedade privada. E a estrutura jurdica defende a proprie-dade privada. O parlamento um ramo que no tem nenhuma importncia,

    porque o capitalismo d golpes de Estado ou faz a guerra quando lhe interessa.No o parlamento quem determina. Por isso, preciso retirar as alavancasdo poder do capitalismo. E quem deve cumprir essa tarefa o Partido.

    Engels dizia: O marxismo a conscincia do processo inconsciente dahistria e realizava essa formulao porque a economia, dirigida pelo sistemade propriedade privada, havia alcanado, da escravido at o capitalismo, umprocesso ininterrompido, porm lento, de centenas de anos, de concentraodo sistema capitalista.

    Essencialmente, o processo da histria havia sido determinado, comona natureza, por um processo de centenas de anos, que havia levado con-centrao do sistema capitalista e criado as condies e a necessidade de cen-tralizao, de concentrao industrial, de uma economia, de uma forma depropriedade, de uma forma de planejamento que o capitalismo no podia dar.

    Era preciso intervir conscientemente na sociedade capitalista por meiodo Partido e superar as contradies antagnicas do sistema por meio da re-

    voluo, tomando o poder rumo a formas conscientes. Era preciso unificar,centralizar a produo, responder necessidade dos seres humanos e, dessaforma, eliminar qualquer fator de guerra, antagonismo, contradio, disputa,opresso e, portanto, todos os outros fatores das relaes antagnicas, agres-sivas, contraditrias e de disputa humana. Por isso, o marxismo a consci-

    ncia do processo inconsciente da histria.

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    Segunda Internacional e aSocialdemocracia na Rssia

    Os sindicalistas e os anarquistas eram a primeira expresso orgnicada classe e da rebelio contra a explorao capitalista e contra a injustia. Oproletariado se desenvolveu e pesou como classe na sociedade e deu origem aomovimento socialista. Portanto, era preciso partir dos socialistas, anarquistase sindicalistas para construir o partido revolucionrio. Depois da Comunade Paris e da Primeira Internacional, essa tarefa comea a ser realizada. Umadas razes que limitaram o desenvolvimento da Primeira Internacional, que a

    desintegraram, foi a imaturidade de uma direo mundial, a falta de peso pro-letrio suficiente e o fato de que o capitalismo estava em processo de ascenso.

    A Segunda Internacional foi um retrocesso do marxismo, mas, aomesmo tempo, foi um progresso muito grande, porque uniu todos os partidossocialistas e uniu a classe em um partido prprio. Foi um progresso socialhistrico, no programtico ou poltico.

    O marxismo foi se deslocando dos centros industriais da Europa echegou Rssia. Demonstrava a prpria validez histrica, tanto para os pasesindustriais como para os pases atrasados. Porque era um mtodo de interpre-tao e permitia resolver os problemas do atraso da Rssia por meio do pro-grama e da poltica dirigidos pelo proletariado. A burguesia no podia fazerisso; o proletariado, sim.

    Era preciso criar o Partido. O que existia era um partido socialdemo-

    crata formado para o progresso parlamentar, para o progresso quantitativo.No era um partido para tomar o poder. Estava cheio de travas e falhas, comum funcionamento que restringia e limitava a capacidade de ao e no per-mitia pensar e operar revolucionariamente. Dirigia a discusso e a atividadeapenas aos progressos, e no a criar a vontade de tomar o poder e cumprir astarefas necessrias para passar do czarismo revoluo democrtico-burguesae dela revoluo proletria. Era necessrio formar o partido apto para isso!

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    Era uma poca de grande desenvolvimento dos investimentos nas co-lnias: no s de invases militares, como as do imperialismo ingls, francs,belga, holands, mas tambm de investimentos que faziam avanar a economia

    dos pases capitalistas; na poltica e no campo sindical ocorreu a mesma coisa.Surgiram os elementos para a organizao poltica do reformismo porque odesenvolvimento do capitalismo permitiu investir e reproduzir o capital naproduo e na organizao da aristocracia operria, para conseguir o apoioda classe operria.

    O surgimento das correntes reformistas

    Desse contexto surgem as correntes reformistas do movimento socia-lista mundial. Da surgiram Hilferding14, Bernstein15e o aplicador no mbitoparlamentar, Kautsky16. Hilferding foi o terico da economia que afirmava queo desenvolvimento do capitalismo criava as condies para o socialismo e queo monoplio era um passo adiante em benefcio do socialismo, porque con-centrava a propriedade, a produo e facilitava a tarefa.

    Hilferding e Bernstein foram os tericos polticos do imperialismo.Kautsky, que havia se formado como dirigente revolucionrio com Engels,desenvolveu a ttica parlamentar, que era a de ganhar cadeiras no parlamentoe inclusive ministrios. Quanto mais ministrios ganharmos, mais consegui-remos dominar o imperialismo por dentro. Essa elaborao do reformismo,da poltica do desenvolvimento gradual, tinha uma base histrica e estava de-terminada pelo fato de que o capitalismo estava em expanso. Criava mais

    riqueza, mas criava tambm mais lutas, mais resistncia nas classes e na popu-lao explorada e conduzia adaptao ao sistema capitalista.

    O reformismo, em qualquer lugar do mundo, levava adaptao aosistema capitalista; no a se vender diretamente ao patro ou a falar em nome

    14 Hilferding, 1887-1941, economista e poltico alemo.

    15 Bernstein, 1850-1932, pensador e ativista socialdemocrata alemo.

    16 Kautsky, 1854-1938, pensador marxista alemo, que se tornou reformista na socialdemocracia

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    dele, mas a ficar espera, no falso desenvolvimento. Essa anlise dava a ideiade que haveria um desenvolvimento gradual das riquezas criadas pelo sistemacapitalista que permitiria, em um determinado momento, que o proletariado

    fosse maioria e a distribuio da economia se nivelasse.

    Essa era a concepo reformista desenvolvida por Kautsky. o capita-lismo ingls, francs e alemo cresceu investindo nas colnias, mas tambmmandando tropas e exrcitos. Desenvolveu as colnias, explorando-as e sub-metendo-as ao interesse da metrpole. Como o movimento do proletariadose opunha a essa poltica, como a luta de classe em cada pas avanava apesardo desenvolvimento da economia, o capitalismo criou as bases da chamada

    aristocracia operria. Dedicou uma parte dos lucros a pagar alto salrios emfunes de chefia ou de capatazes incorporando dirigentes operrios ao apa-rato capitalista, seja como tcnicos, dirigentes, assessores de fbricas, exer-cendo uma funo na economia que requeria certas condies superiores ouespecializadas destacando-os do conjunto, ou cooptando para o aparato doEstado, de forma parlamentar ou ministerial, dirigentes do Partido Socialista.

    A Segunda Internacional exerceu a funo de corromper o movimentooperrio. A corrupo no foi produto da capacidade intelectual de Bernstein,de Hilferding e de Kautsky. Foi o desenvolvimento do sistema capitalista quecriou a iluso da possibilidade, a crena de que a economia avanaria e facili-taria a substituio do capitalismo. A Segunda Internacional criou os grandespartidos socialistas. Exerceu, de qualquer forma, uma funo necessria: criargrandes partidos socialistas na Europa.

    O marxismo foi enterrado e desapareceu. Os dirigentes socialistas dis-seram: Para que queremos o marxismo? Se a concentrao da produo eo monoplio demonstram