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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA MOTA Do reconhecimento dos tipos de bullying para a política antibullying Salvador 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

CURSO DE PEDAGOGIA

RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA MOTA

Do reconhecimento dos tipos de bullying para a política antibullying

Salvador

2012

RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA MOTA

Do reconhecimento dos tipos de bullying para a política antibullying

Projeto apresentado como requisito parcial para a obtenção da graduação em pedagogia com habilitação em anos iniciais, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Professora Mestre Heloisa Andrade.

SALVADOR

2012

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos...

A UNEB pelo espaço de pesquisa e pela significativa contribuição na minha

formação acadêmica. A meus professores que com tanto profissionalismo me

tiraram as mais complexas dúvidas que apareceram ao longo de minha vida

acadêmica. À professora Heloisa Andrade pelo companheirismo com que mediou o

conhecimento na preparação deste trabalho. Em especial ao professor Roberto

Carlos Vieira, Georgeton, Inês e Ana Lúcia pelo carinho e atenção.

Aos meus amigos/colegas Eduardo, Heloisa, Andréa, Manoela, Juliana,

Daniele, Viviane, Aila, Ismael, Luciane, Jamin, Rosana, Elizane, Jeane, Isa, Érica,

Geraldo e tantos outros que direta e indiretamente me motivaram nos momentos

mais difíceis para que eu não desanimasse nos primeiros obstáculos.

Aos meus amigos/familiares que me acompanharam ao longo de minha

existência, me motivando sempre a estudar. A meus pais por acreditarem na

importância da educação formal em nossas vidas. Ao maravilhoso Moisés, que pelo

simples fato de existir encheu minha vida de sentido, esperança e confiança. E de

que a vitória se conquista com alegria. E com o qual nunca me canso de aprender. À

minha querida Regi que sem a qual tudo parece mais difícil, obrigada pela amizade

e sintonia com que nos comunicamos. A Sérgio que sempre foi espelho de vida,

dedicação e perseverança nos estudos.

Homenagem póstuma a Durval Silva de Jesus. Pela bondade recebida, que

me ensinou o significado da paciência e que esperar é “saborear” os momentos em

que vivemos. Meus sinceros agradecimentos.

“Não acredito em atalhos violentos para o sucesso. Embora

eu possa ter simpatia por motivos dignos, e admirá-los, sou

um inflexível oponente dos métodos violentos, mesmo que

sirvam à mais nobre das causas. A experiência me

convence de que o bem duradouro não pode nunca ser

resultado da inverdade e da violência.” (Mahatma Gandhi)

RESUMO

O trabalho aborda o fenômeno bullying a necessidade de uma política antibullying na

escola. A pesquisa guiou-se por saber de que forma a identificação dos tipos de

bullying e seus respectivos personagens podem orientar a política antibullying?

Assim, escolheu-se como objetivos: Conhecer o fenômeno do bullying, destacar

quais os motivos tornam crianças em bullies, apresentar os tipos do bullying, um

breve histórico, apontar a necessidade da criação de uma política antibullying na

escola, demonstrar as consequências emocionais e identificar as possíveis

intervenções para a redução do bullying nas escolas. Como resultado pode-se dizer

que, nem toda violência é bullying. Ele ocorre quando há desequilíbrio de poder

entre as partes, e de forma repetitiva, em que a vítima se sente ameaçada

constantemente, proporcionando elevado índice de estresse. Acredita-se na

possibilidade de intervenção a partir de conscientização da escola, família e

comunidade em geral para criar e por em prática uma política antibullying. A escolha

pela abordagem da pesquisa foi a qualitativa visto que a mesma é adequada para o

tema que propomos a estudar. O trabalho apoio-se na revisão bibliográfica com

base nos autores: Fante (2005), Carpenter e Ferguson (2011), Maldonado (2011),

Chalita (2008), Silva (2008) e (2010).

Palavras-chaves: Bullying; Conscientização; Política antibullying.

ABSTRACT

The work approaches the phenomenon bullying the necessity of one politics

antibullying in the school. The research was guided for knowing of that it forms the

identification of the types of bullying and its respective personages can guide the

politics antibullying? Thus, it was chosen as objective: To know the phenomenon of

bullying, to detach which the reasons become children in bullies, to present the types

of bullying, a historical briefing, to point the necessity of the creation of one politics

antibullying in the school, to demonstrate the emotional consequências and to

identify the possible interventions for the reduction of bullying in the schools. As

result can be said that, nor all violence is bullying. It occurs when he has

disequilibrium of being able between the parts, and of repetitive form, where the

victim if feels threatened constantly, providing high index of he stress. It is given

credit the possibility of intervention from awareness of the school, family and

community in general to create and for in practical one politics antibullying. The

choice for the boarding of the research was the qualitative one since the same one is

adjusted for the subject that we consider to study. The work I on the basis of support

in the bibliographical revision the authors: Fante (2005), Carpenter and Ferguson

(2011), Maldonado (2011), Chalita (2008), Silva (2008) e (2010).

Word-keys: Awareness; Bullying; Politics antibullying.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 08

2 O QUE É BULLYING............................................................................. 10 2.1 BREVE HISTÓRICO DO BULLYING.....................................................15 2.2 DIFERENÇA ENTRE O BULLYING E OS CONFLITOS COMUNS......19 2.3 ALGUNS MOTIVOS QUE TORNAM CRIANÇAS EM BULLIES........... 21 2.4 TIPOS E MANIFESTAÇÕES DO BULLYING........................................23 3 PERSONAGENS DO BULLYING.........................................................27 3.1 VÍTIMA.................................................................................................. 27 3.2 VÍTIMA TÍPICA...................................................................................... 31 3.3 VÍTIMA PROVOCADORA..................................................................... 31 3.4 VÍTIMA AGRESSORA.......................................................................... 32 3.5 O AGRESSOR...................................................................................... 32 3.6 ESPECTADORES DO BULLYING....................................................... 36 4 A POLÍTICA ANTIBULLYING NA ESCOLA........................................ 39 4.1 CONSEQUÊNCIAS NO RENDIMENTO ESCOLAR.............................44 4.2 FAMÍLIA E ATUAÇÃO ANTIBULLYING................................................46 4.3 CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS DO BULLYING............................. 49 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 54 REFERÊNCIAS...........................................................................................58

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1 INTRODUÇÃO:

A violência é um dos principais problemas da sociedade contemporânea,

com índices crescentes de ocorrência nos noticiários. A escola que para muitos

aspirava segurança tornou-se palco de tensões e conflitos por ser o retrato da

dilaceração social. Fato este, que geralmente é abafado e quando notificado

torna-se objeto midiático por pretensões de elevar a audiência sem as devidas

implicações de se resolver o problema. No qual as pessoas cada vez mais

jovens protagonizam deveras o papel de agressor, proletando a violência

tornando difícil a vida de muitos no ambiente escolar. Notabilizada

principalmente pela queda do rendimento escolar. Por ser um grave problema

pode trazer sequelas irreversíveis.

Os problemas mais recorrentes que causam a queda do rendimento

escolar é a baixa estima com a auto desvalorização, falta de interesses

próprios, motivação e objetivos. Levando o indivíduo a considerar-se incapaz

frente às demais pessoas de seu convívio e ao isolamento. Podendo levar a

crises depressivas constantes, sinalizadas por mudanças repentinas de humor,

complexo de culpa, pessimismo exagerado, impotência em relação aos

problemas do cotidiano em que o equilíbrio pode ser fatalmente abalado por

crises de ansiedade e de pânico. Com baixa estima, a pessoa se torna

insegura com timidez exagerada e indecisa em tudo que se vá fazer pela falta

de confiança em si mesma, que pode levá-la a futuro fracassos recorrentes ou

a revoltas reveladas por atitudes agressivas.

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar realizada pelo IBGE em 2009,

com alunos do 9º ano do ensino fundamental das 26 capitais brasileiras e do

Distrito Federal em pesquisa inédita aponta um índice de violência que chega a

um terço dos alunos, cerca de (30,8%) de alunos terem sofrido bullying alguma

vez na vida. Em proporção maior entre escolas privadas cerca de (35,9%), e

escolas públicas (29,5%). Dados da pesquisa mostram que: em 30 dias

anteriores a pesquisa, (12,9%) dos estudantes se envolveram em alguma briga

com agressão física, chegando a (17,5%) entre meninos e (8,9%) entre as

9

meninas, envolvendo uso de armas brancas (6,1%) dos estudantes ou armas

de fogo declarado por (4%) dos entrevistados.

A escola que não tem uma política antibullying se mostra impotente

diante do bullying. Dessa forma, para proteger sua reputação geralmente

relativiza a frequência dos crimes, agindo como um fato simplesmente

negligenciável, não comunicando a instancias superiores e policiais.

Diante do exposto acima a indagação central consiste em saber: De que

forma a identificação dos tipos de bullying e seus respectivos personagens

podem orientar a política antibullying? Tal propósito consiste em construir um

referencial para uma futura mobilização de uma política antibullying. Para tal

traçou-se como objetivos: Conhecer o fenômeno do bullying, destacar quais os

motivos transformam crianças em bullies, apontar a necessidade da criação de

uma política antibullying na escola, apresentar os tipos do bullying, um breve

histórico, os personagens do bullying e identificar suas consequências

emocionais, qual a influência no baixo rendimento escolar e intervenções para

a redução do bullying nas escolas.

O interesse pela temática surgiu diante do sentimento de indignação

permanente frente às atitudes de violência serem recorrentes nos ambientes

escolares. As relações das pessoas são permeadas de cinismo, maledicência,

crueldade e agressão verbal e física. Esta sensação de mal estar precisa ser

melhor compreendida. Para o pedagogo o tema é fundamental visto que

permite compreender e analisar o fenômeno à luz dos pressupostos teóricos da

Psicologia e Sociologia.

A escolha pela abordagem da pesquisa foi a qualitativa visto que a

mesma é adequada para o tema que propomos a estudar. O trabalho apoio-se

na revisão bibliográfica com base nos autores: Fante (2005), Carpenter e

Ferguson (2011), Maldonado (2011), Chalita (2008), Silva (2008) e (2010).

O trabalho foi organizado em três tópicos: o primeiro tratou-se do

fenômeno do bullying, o segundo os personagens do bullying e o terceiro a

política antibullying nas escolas. E finalmente as considerações finais.

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2 O QUE É BULLYING:

Quando a violência ocorre de forma sistemática dá-se o nome de

bullying. Chalita (2008, p.81) afirma que “a palavra bullying é um verbo

derivado do adjetivo inglês bully, que significa valentão, tirano.” que denota

comportamentos violentos entre meninos e meninas, que como afirma Silva

(2010 p.21) utilizam de “abuso de poder, intimidação e a prepotência”, que

pode ser contra uma pessoa ou um grupo de pessoas. Essas atitudes são

estratégias mais adotadas pelos praticantes de bullying (os bullies) para impor

sua autoridade e “manter suas vítimas sob total domínio”.

Para Fante (2005 p.27) o bullying é “adotado em muitos países para

definir e desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e

colocá-la sob tensão; termo que conceitua comportamentos agressivos e anti-

sociais”; onde existe sempre uma situação de dominante, dominado e

espectadores, ou seja: agressor, vitimas e testemunhas, em que os envolvidos

compartilham o mesmo ambiente social, no caso do bullying escolar,

frequentam a mesma escola e geralmente pertencem a mesma sala de aula.

Em outra definição o bullying é:

O comportamento agressivo intencional que pode se expressar de diversas maneiras (verbal, física, social e emocionalmente; em relacionamentos, pela internet, ou numa combinação de vários desses fatores). É gerado pelo desequilíbrio de poder e ocorre repetidas vezes, diante um período de tempo.

(CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.19)

Dessa forma há o desejo e a intenção de ferir seja fisicamente,

emocionalmente e psicologicamente a vítima, em que o bullie ou agressor pode

aproveitar de vários meios e de outras pessoas para atingir a sua vítima.

Como o bullying é identificado por vários pesquisadores como uma

atitude intencional, o bullie ou agressor geralmente escolhe pessoas com quem

sabe que não irá revidar a seus ataques. E geralmente escolhe agir em locais

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sem supervisão de adultos, principalmente corredores, banheiros e áreas de

lazer da escola.

Carpenter e Ferguson (2011 p.20) pontuam que “as características mais

comuns do bullying são a discriminação, a chacota, apelidos pejorativos,

boatos, ameaças verbais, provocações, intimidação, isolamento ou exclusão e

agressão física”. É uma forma de violência repetitiva, cruel e sutil que atingi

suas vítimas no âmago do seu ser. Fante (2005 p.21) afirma que “é perigoso à

comunidade escolar e a sociedade como um todo, pelos danos causados ao

psiquismo dos envolvidos”.

Pereira (2009 p.32) ressalta que “as agressões do bullying são

consideradas gratuitas porque a pessoa vitimada, geralmente, não cometeu

nenhum ato que motivasse as agressões”. Que geralmente é uma atitude

preconceituosa e discriminatória a uma ou varias pessoas que geralmente

sofrem caladas por medo de represálias ou não querem passar a imagem de

fragilidade diante dos pais ou responsáveis.

Os professores podem ter atitudes de bullies, para manter controle e

autoridade em sala de aula. Mas também podem se tornar vítimas de bulleis.

Portanto o bullie ou agressor independe de cor, idade, sexo, posição social. O

bullie é identificado por suas atitudes e desejo de se impor diante dos demais e

de se obter vantagens. Notabilizado pela a natureza repetitiva com que

acontece e pela desvantagem da vítima ou vítimas.

O desequilíbrio de poder caracteriza-se pelo fato de que a vítima não consegue se defender com facilidade, devido a inúmeros fatores: por ser de menor estatura ou força física; por estar em minoria; por apresentar pouca habilidade de defesa; pela falta de assertividade e pouca flexibilidade psicológica perante o autor ou autores dos ataques. (FANTE, 2005, p.28)

O bullying não atinge somente os envolvidos, mas toda comunidade

escolar sofrem com os problemas causados pelo fenômeno bullying. Que

segundo Fante (2005 p.47) com pesquisas datadas entre os anos de 2000 a

2004 que “revelou que o fenômeno bullying se faz presente em nossas escolas

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com índices superiores aos apresentados em países europeus”. Fato este

espantoso, ou dramático comprovando o índice crescente de violência em

nosso país. É uma situação em que desestabiliza até os espectadores, pois, o

ambiente escolar passa a não ser mais considerado por muitos como um

ambiente que reflete a tranquilidade e segurança tornando-se ameaçador.

Sendo a escola um local de socialização em que preza pela “formação”

do cidadão é um ambiente de trocas. Conforme explicam Abramovay, Cunha e

Calaf (2010) a escola é um local de convivência entre estudantes de diversos

graus. Dessa maneira, é um ambiente propício ao preconceito em que os

alunos buscam nessa interação serem aceitos. Aceitação esta que auxilia na

formação da sua conduta e na personalidade de cada indivíduo. Onde rejeitam

ou fazem normas de convivência, na descoberta de si mesmo e do outro. Em

geral, os estudantes procuram um pertencimento a uma “tribo”, ou seja, se

identificar com um grupo, se sentir importante, valorizado. É uma identificação

que vai lhes ajudar ou não nas escolhas importantes de suas vidas como: que

profissão seguir, que estilo de vida adotar etc.

Assim, Abramovay, Cunha e Calaf (2010 p.190) afirmam que “o

preconceito e a discriminação estão intimamente ligados à dificuldade de se

lidar com o tido como diferente da norma”. É dessa não aceitação do outro que

nasce o preconceito gerando consequências para todos os participantes do

bullying, principalmente as vítimas.

Embora o que motive os bullies a agirem dessa maneira é o preconceito,

que de acordo com Bueno (1975), no dicionário, preconceito significa “conceito

antecipado e sem fundamento razoável; opinião formada sem reflexão;

superstição; prejuízo, ódio ou aversão a outras raças, religiões.” Então, pelo

próprio conceito da palavra, preconceito seria um pré conceito, um conceito

pré-estabelecido sem justificativa, adotado por certos indivíduos na não

aceitação do diferente ou do novo, notabilizado pelo perfil geral das vítimas que

geralmente são pessoas “diferentes” da maioria.

Nesse sentido pode-se dizer que as características da maioria dos alunos conforme descritos abaixo: ”gordinhas ou

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magras demais, altas ou baixa demais; usam óculos; são “Caxias”, deficientes físicos; apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais destacados; usam roupas fora de moda; são de raça, credo, condição economicamente ou orientação sexual diferentes...Enfim qualquer coisa que fuja ao padrão imposto por um determinado grupo...Os motivos (sempre injustificáveis) são os mais banais possíveis. (SILVA, 2010, p. 38)

Dessa forma, a aparência física, hábitos, status e religião são

importantes fatores na escolha da vítima de bulleis. Mas o que lhes chamam

mesmo a atenção é o aspecto psicológico da vítima. Pois:

Os bullies escolhem propositalmente vítimas com um perfil específico: mais quietas, passivas, que não tem amigos ou que seja física ou psicologicamente mais fracas que eles... usar roupas não convencionais, não ter hábitos de higiene, ter um hobby diferente ou ser obcecado por ele, agir de maneira não aceitável socialmente ou ser excessivamente emotivo... crianças que tem hábitos estranhos também se tornam vítimas com facilidade. Aquelas que gaguejam, não gostam de falar ou são mais frágeis emocionalmente são

prediletas. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p. 103)

Porém, vítimas emotivas são especialmente escolhidas, que segundo

Carpenter e Fergunson (2011 p. 104) “Fazer alguém chorar é sua atividade

predileta. Dá a ele uma sensação de poder estar no controle das emoções dos

outros”. Principalmente quando o bullie está na presença dos colegas.

No que se refere ao desempenho escolar, os bullies ou agressores

costumam a agir de determinada forma quando precisam de ajuda nos

estudos:

Os “fortões” abusam da força física para encobrir suas fragilidades... seu sentimento de incompetência diante dos colegas mais estudiosos o motiva a escolher os nerds como alvos para que estejam a seu dispor, enquanto zomba deles por serem “cdfs”... expressam falta de motivação que, com freqüência, encobre dificuldades de aprendizagem. (MALDONADO, 2011, p.26)

Notadamente, os bullies ou agressores agem com o propósito de levar

alguma ou algumas vantagens que os motivam a manter esse tipo de atitude.

Conduta esta, motivada por um perigoso poder de liderança intensificado pela

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força física ou por um recorrente assédio psicológico a qual submete suas

vítimas. Silva diverge de Maldonado quando afirma que:

O desempenho escolar desses jovens costuma ser regular ou deficitário; no entanto, em hipótese alguma, isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais ou acima da média. O que lhes falta, de forma explicita, é afeto pelos outros. (SILVA, 2010, p.43)

A falta de empatia, afeto e o desejo de poder é o que geralmente

impulsiona os bullies a cometerem certos delitos. Certamente que a

competição estimulada pelo capitalismo exacerba este desejo. Sendo que o

mais relevante para os bullies é o objetivo alcançado, não se importando com

os meios que possam utilizar. Pois, para eles os fins sempre justificam os

meios. Então, os bullies têm dificuldades como qualquer pessoa, porém tenta

superá-las de qualquer jeito subjugando seus colegas, mesmo que para isso se

utilize de violência física, emocional ou psicológica. No caso da escola são os

colegas que podem se prejudicar em conviver com os bullies. Talvez a

sensação que eles mais buscam seja a de dominação.

Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não aceitam ser contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio público ou privado. (SILVA, 2010, p.43)

Então, os sinais de atitudes anti-sociais podem ser identificados desde

cedo, no âmbito do convívio familiar por exemplo. Sendo que o bullie ou bully

pode estar apenas reproduzindo a violência a que se submete todos os dias

em casa com pessoas a que convivem. Ou seja, em lares desestruturados com

pai ou mãe ou responsável que utilize de atitudes violentas. A criança percebe

que o mais forte é que vence as disputas utilizando muitas vezes a força física.

Esta tese se confirma nas atitudes de pais e responsáveis quando

obrigam, muitas vezes sem explicação alguma, que a criança obedeça a seus

abusos de poder, com atitudes tirânicas que geralmente vem acompanhadas

de palavras depreciativas. Ou então, com chantagens de privá-lo de algo que

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goste ou precise. Provavelmente os pais ou responsáveis submetem os mais

fracos ou frágeis físico e/ou emocionalmente, da mesma forma que foram

submetidos quando crianças. São atitudes em que a razão está pautada no

mais forte é que vence. Dessa forma, o bullie ou agressor vê a vida como um

eterno “campo de batalha” .

Assim Fante (2005, p.54) afirma que “Constatamos ainda que, 87% dos

alunos envolvidos em bullying acreditam que os maus-tratos entre os

companheiros podem ser consequências diretas da violência doméstica,

reproduzida na escola” ou seja, os bullies reproduzem o que vivem.

Uma parcela dos espectadores do bullying, principalmente crianças e

adolescentes, com o tempo vão perdendo a noção do certo e do errado numa

possível inversão de valores ou ausências de uma boa parte deles.

2.1 BREVE HISTÓRICO DO BULLYING

O bullying é um fenômeno que sempre existiu entre as relações

interpessoais. Silva (2010 p.111) acredita que: “é um fenômeno tão antigo

quanto à própria instituição denominada escola”. Mesmo assim, seu estudo

demorou muito para ter início, pois se subtendia que determinados confrontos

entre alunos eram vistos por muitos pais e educadores como próprios da fase

que o educando estava vivendo. Dessa forma, propício para o seu

amadurecimento e que contribuía para torná-los fortes estimulando-os a

enfrentar diversas situações. Que para Chalita (2008 p.102) “como se o castigo

fosse a melhor forma de aprender com os erros”.

Certas atitudes como xingar, empurrar, bater, excluir um entre os

coleguinhas desde o jardim de infância era tido como atitudes de criança.

Então, os adultos de certa forma não levavam a sério certas atitudes infantis

por serem os autores tão pequenos, e supostamente ingênuos. Temos por

exemplo a criação de apelidos que geralmente são tolerados por aqueles que

os carregam. E tolerados como atitudes consideradas como brincadeiras de

criança, que hoje é tido como uma das manifestações de bullying.

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Chalita (2008 p.100) afirma que o bullying “é um fenômeno de grupo – e

grupo em desequilíbrio”. Pelos conflitos decorrentes no ambiente e dificuldades

do docente em manter o bom rendimento escolar em sala de aula.

A preocupação sobre o tema começou primeiramente na Suécia onde

uma significativa parcela da sociedade demonstrou interesse sobre as

consequências da violência no âmbito escolar.

O bullying foi, durante muitos anos, motivo de apreensão entre pais e professores que se utilizavam dos meios de comunicação para expressar seus temores e angustias sobre os acontecimentos. Mesmo assim, as autoridades educacionais daquele país não se pronunciavam de forma oficial e efetiva diante dos casos ocorridos no ambiente

escolar. (SILVA, 2010, p.111)

Estudos sobre o bullying foram iniciados no século vinte, no inicio da

década de setenta. O interesse no estudo sistematizado sobre o bullying foi

intensificado pelo pesquisador Dan Olweus da Universidade de Bergen, na

Noruega. Antes o bullying não era considerado um problema que merecesse

intervenção social, ou seja, educacional, pois esse tipo de atitude era vista

simplesmente como brincadeira. Entretanto, muitos educadores notaram que

tais atitudes entre alunos figuravam verdadeiros problemas mediante nefastas

consequências, levando alunos ao baixo rendimento escolar, a abandonarem

as escolas ou em caso mais grave até ao suicídio. Apesar da gravidade da

violência. Fante (2005 p. 45) afirma que as autoridades educacionais não se

comprometiam oficialmente, pois ainda não existiam políticas públicas a este

respeito até a década de setenta. Um fato marcou intensamente as pesquisas:

No final de 1982, um jornal noticiava o suicídio de três crianças no norte da Noruega, com idades entre 10 e 14 anos, ato que, com toda a probabilidade, foi motivado principalmente pela situação de maus-tratos a que eram submetidas pelos seus companheiros de escola. (FANTE, 2005, p.45)

A essa irreparável tragédia Silva (2010 p. 111) acrescenta que “em

resposta à grande mobilização nacional diante dos fatos, o Ministério da

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Educação da Noruega realizou, em 1983, uma campanha em larga escala,

visando ao combate efetivo do bullying escolar”.

Nesta época Dan Olweus iniciou uma pesquisa com aproximadamente

84 mil estudantes, quatrocentos professores e cerca de mil pais de alunos.

Segundo Chalita (2008 p.101) “O material coletado deu-lhe oportunidade de

entender a natureza do bullying”. O objetivo fundamental de Olweus era avaliar

o percentual ou taxa de ocorrência entre o grupo escolar, as formas de

manifestação do bullying, suas possíveis origens, como sua extensão e

características, bem como examinou os possíveis impactos causados pelas

intervenções que já havia começado em algumas escolas na Noruega. Em

resposta a essas recentes pesquisas Dan Olweus em 1993 escreveu o livro:

Bullying at School: What We Know and What We Can Do (O bullying nas

escolas: O que se sabe a respeito e o que se pode fazer). Segundo Chalita

(2008 p.103) “O livro alcançou depressa grande notoriedade, porque não

apenas apresentava e discutia o problema, como sugeria maneiras de

identificar possíveis vítimas e autores, e indicava estratégias para intervir” no

livro Dan Olweus:

Desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma especifica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do individuo. (FANTE, 2005, p.45)

Os estudos de Olweus constataram que: um em cada sete alunos

estavam envolvidos em caso de bullying, tanto no papel de vítima como no de

agressor. Esta descoberta deu inicio a uma mobilização social de amparo legal

que deu origem a uma campanha nacional antibullying, com o devido apoio do

governo Norueguês. Em pouco tempo de atuação da campanha, houve a

redução de 50% dos casos de bullying. Com resultados bastante satisfatórios a

campanha antibullying na sua pratica serviu de exemplo em outros países

inicialmente no Canadá, Portugal e Inglaterra.

O Programa de Prevenção do Bullying, adotado em todas as escolas norueguesas como política pública, é considerada um dos mais eficazes para reduzir a incidência dos ataques

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e melhorar a qualidade das relações sociais no ambiente escolar. (MALDONADO, 2011, p.42)

O suicídio na Noruega chamou a atenção mundialmente para os

possíveis problemas ocasionados pelo bullying, que como afirma Maldonado

(2011 p. 41), o livro “propõe programas para reduzir a incidência desses

comportamentos violentos nas escolas”. Bem como serviu de inspiração e

objeto de pesquisa para pesquisadores em vários países.

Hoje, o pesquisador é considerado a maior autoridade mundial no assunto. Suas pesquisas pioneiras e programas de prevenção desempenharam, e ainda desempenham, um papel importante na conscientização de que o bullying é um problema social crescente e deve ser encarado com seriedade por pesquisadores, educadores, legisladores, pais, alunos e pela sociedade em geral. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p. 22)

Tornando Dan Olweus o maior representante no combate e resistência contra o

bullying, suas pesquisas servem de referência mundial na prevenção, identificação e

combate ao mesmo. No Brasil a preocupação com o bullying e suas consequências é

recente, onde o questionário sobre o tema criado por Dan Olweus – Modelo TMR

(Training and Mobility of Researchers) com tradução e adaptação por, Mora-Mérchan,

Ortega, Pereira & Menesini (1999) Singer e Lera) é adaptado a realidade do país que

o utilizará. No Brasil, no caso, o questionário pode ajudar na produção de dados para

melhorar a identificação da vítima/agressor e na compreensão sobre o bullying e

elaboração de propostas para combatê-lo.

No Brasil temos como pioneiros registros sobre o bullying datado de 1997 com

Marta Canfield professora da Universidade Federal de Santa Maria no Rio Grande do

Sul. Em 2000 e 2001 notifica-se os estudos dos professores Israel Figueira e Carlos

Neto. E em 2000 importantes contribuições com Cléo Fante e José Augusto. Sendo

que todos estes pesquisadores aplicaram o questionário de Olweus com as devidas

adaptações.

Para Fante (2005) escolas brasileiras são mais violentas que as escolas

européias. Sendo assim, se torna maior a necessidade de se prevenir, divulgar e

combater o problema.

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Como pesquisadora, Fante abordou o bullying socialmente visando a

conscientização geral que resultou em um programa para identificá-lo e combatê-lo de

nome “Educar para a Paz”. Servindo de proposta para debates públicos sobre o

bullying e estratégias para atuação em escolas.

Pesquisas estas sem financiamento do governo. Onde o recurso limitado só

proporcionou a pesquisa em poucas escolas com média de entrevistas de 450 alunos

por grupo com a intenção de:

Conscientizar pais, professores, alunos, psicólogos, psiquiatras, pediatras e demais profissionais envolvidos no processo educacional. Procuramos demonstrar que é possível reduzir os índices de sua manifestação por meio das estratégias que desenvolvemos e sugerimos no Programa Educar para a Paz. (FANTE, 2005, p.50)

Evidenciando inicialmente a diminuição de casos comprovados de bullying em

50% nas escolas em que foram aplicadas o programa elaborado por Fante. E a

constatação de que é um fenômeno que ocorre em todos os ambientes escolares. Em

decorrência a tais pesquisas pioneiras sobre o assunto a CEMEOBES (2008) (Centro

Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar) iniciou o

mapeamento do bullying escolar no Brasil, com a estimativa de ocorrência do

fenômeno bullying de 45% entre jovens e crianças.

A ABRAPIA ano de 2003 (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à

Infância e adolescência) Implantou o Programa de Redução do Comportamento

Agressivo em 2002 com estudantes de 5ª a 8ª series (6º e 9º ano escolar) no Rio de

Janeiro, com cerca de 5.875 estudantes entrevistados. Dos quais 40,5% estavam

envolvidos, com 16,9% de vítimas, 10,9% de vítimas autores e 12,7% de agressores.

2.2 DIFERENÇA ENTRE O BULLYING E OS CONFLITOS COMUNS

Onde há interação humana há conflitos. Que geralmente são motivados

por desentendimentos comuns, do dia a dia, normalmente associados por

diálogos insuficientes ou inexistentes. Entre adultos essa relação é geralmente

recheada de desentendimentos gerando confrontos abertos ou não. Porém,

mais conflitante é a relação de pessoas que ainda estão se descobrindo no

mundo, ou seja, construindo a sua própria identidade.

20

Certas brigas no entanto são normais e até ajudam a criança e ou

adolescente a se posicionar frente a certos problemas, fazendo parte do seu

amadurecimento pessoal. Porém, se certo desentendimento persistir e nele

constar a intenção de intimidar, magoar, humilhar e que exista desequilíbrio de

poder e ameaças de que a perseguição continuará, se trata de um caso de

bullying. Que é uma “nova” modalidade de violência, deixando de ser um

conflito comum.

A diferença básica é que no caso do bullying a violência se repetirá

causando danos por vez significativos à vítima, minando a sua resistência e

levando a ter prejuízos sociais, psicológicos, emocionais e até materiais.

O bullying não é um simples conflito comum. Ele pode acontecer por um

motivo banal, que é o que geralmente acontece, e pode vir se arrastar por

meses ou até mesmo anos, caso o agressor tenha alguma oportunidade de se

beneficiar com essas atitudes.

Carpenter e Ferguson (2011, p.28) consideram que o bullying é uma

forma de violência perversa que precisa de intervenção de terceiros. Abordam

que “forçar a vítima a ser mediadora ou a se reconciliar com o agressor não é

justo, nem recomendado”. Para eles geralmente o bullying se instala pela falta

de habilidade da vítima em se defender desde o primeiro ataque, dando

margens a possíveis ataques futuros.

O bullying existe, é uma modalidade de violência repetida e que precisa

ser identificada e prevenida. Os autores ressaltam que “conflitos fazem parte

da vida e ensinam as crianças a serem mais fortes. Já o bullying é exatamente

o oposto: torna-as fracas e com baixa autoestima” (p.28). Pode prejudicar as

vítimas com o passar do tempo em sua saúde física, mental e emocional.

21

2.3 ALGUNS MOTIVOS QUE TORNAM CRIANÇAS EM BULLIES

Há varias razões que possibilitam o surgimento de um bullie ou

agressor. O condicionamento social é um deles, principalmente as que estão

voltadas ao estilo permissivo e autoritário de educação, porque:

As referências e os valores que guiam os comportamentos individuais e, consequentemente, as ações educativas dos adultos para com os jovens, com freqüência, entram em crise, porque também estão em crise os sistemas sociais, culturais, econômicos e familiares em que reproduzem a visão de mundo que esses sistemas refletem. Com isso, as novas gerações, muitas vezes, se ressentem de uma base sólida e segura sobre a qual elas possam se estruturar de forma gradual e, até mesmo, modificar suas próprias referências. (SILVA, 2010, p. 57)

Então, uma das razões é o condicionamento social que para Carpenter e

Ferguson (2011, p.60) “é a adaptação da criança ao seu ambiente cultural” Ou seja, a

criança aprende a porta-se mediante os exemplos observados nos lugares em que

mais convive, em especial a sua própria casa. Por exemplo: se pais ou responsáveis

costumam se relacionar de forma agressiva, a criança consciente e inconscientemente

irá deduzir que não há nada errado em ser agressiva. Por isso, os autores defendem

que “os bullies precisam de tanta assistência e tratamento quanto suas vítimas, e

quanto mais cedo melhor. É muito mais fácil modificar os padrões de comportamento

de uma criança do que de um adulto”(p.60).

O fato é que até dois anos a criança ainda não tem uma comunicação

satisfatória e tenta impor os seus desejos. Então, cabe aos pais se empenharem na

tentativa de ensinar a criança a controlar a impulsividade expressa pela agressividade,

a respeitar os coleguinhas e a esperar a sua vez nas brincadeiras.

Como explica Carpenter e Ferguson (2011) o motivo que contribui para

formação de um futuro bullie ou bully é o estilo permissivo de educação. Os autores

afirmam que “Pais permissivos são aqueles que permitem à criança ter crises de raiva

e fazer todo escândalo que desejar sem intervir. O máximo que fazem é tentar

negociar com ela ou chantageá-la para que se acalme” (61). Atitudes como estas,

fazem com que a criança tenha cada vez mais dificuldade em dominar-se e aprende

que agindo mal vai sempre conseguir qualquer coisa. Dessa forma aos dez anos a

criança, “saberá exatamente quais limites ultrapassar e como se comportar para que

22

todos os seus desejos sejam satisfeitos. E não irá ceder até receber algo em troca.

Para ela, ameaças e força resolvem tudo” (p.61).

Pais e responsáveis muito permissivos, praticamente não ensinam limites e

regras de disciplina deixando as crianças ter e fazer qualquer coisa. Sendo que

ignoram ou acusam os outros pelos problemas comportamentais proporcionados pelos

atos de suas crianças.

Estudiosos comprovam que para as crianças aprenderem a conviver em

sociedade, elas precisam de limites e orientação necessária. Assim Fante (2005, p.76)

afirma que “especialistas alertam que a ausência de limites e o excesso de mimos

podem fazer com que a criança fique chata, egoísta, agressiva ou, ainda, que não se

adapte e não consiga seguir as regras básicas de convivência em grupo”. Tornando a

interação social por vezes conflituosa. Outro motivo que pode influenciar na forma de

pensar da criança é o estilo autoritário de educação, ou seja:

Aquele em que os pais comandam a criança com mãos de ferro. Pais muito rígidos se preocupam tanto em manter o controle e a disciplina de seus filhos que o relacionamento acaba deixando a desejar em termos de amor, afeto e atenção. Isso não significa que não amem suas crianças, mas que a amor esta condicionado à capacidade delas de obedecer. (CARPENTER e FERGUSON, 2011, p.62)

Neste tipo de educação a disciplina é muitas vezes imposta por meio de

surras que passam a ideia de que “força é poder”. Os autores afirmam que “o

perigo desse tipo de educação é que a criança se torna perita em obedecer,

mas não desenvolve disciplina interior” (p.62). Dessa forma, passa a acreditar

que com o uso da força se pode conseguir o que se quer/deseja. Pois, desde

cedo à criança toma surras para controlar a sua raiva e acaba se tornando

mais agressiva.

Para Fante (2005, p.76) “nem sempre os pais se dão conta de que

certos comportamentos que o filho manifesta são aprendidos em casa, como

resultado do tipo de interação entre os familiares que é percebida por ele”.

Dessa forma, é acompanhando seu comportamento fora de casa, no caso sua

vida escolar, incentivando, mostrando companheirismo que os pais poderão

23

evidenciar certas atitudes que podem estar relacionadas com situações

provindas do ambiente em que convive em casa.

2.4 TIPOS E MANIFESTAÇÕES DO BULLYING

Há varias formas de manifestações do bullying, para Carpenter e

Ferguson (2011, p.33) os tipos mais encontrados são: verbal, físico, social em

relacionamentos, emocional, extorsão, direto, indireto e ciberbullying.

No bullying verbal há quem diga que palavras cruéis não vão atentar

contra a dignidade de uma pessoa. Mas, por mais segura de si que uma

pessoa possa se sentir, as palavras tanto podem ajudar, de certa forma, uma

pessoa se recuperar de uma doença, como podem ser perniciosas. Pois,

“palavras podem ser usadas como armas e atingir profundamente a auto-

estima das pessoas. Não faz diferença se a zombaria ou os comentários tem

um fundo de verdade” (p.33). E geralmente vem acompanhada de violência

física.

A agressão física é a forma mais conhecida de bullying. Pois suas

marcas são visíveis, que por sua vez chamam a atenção dos adultos –

funcionários da escola. Para Carpenter e Fergunson:

O bullying físico pode ocorrer mesmo sem agressão física propriamente dita. Um bullying pode fazer gestos ameaçando socar a vítima; atirar longe um livro, para impressionar, ou mesmo invadir sua privacidade. É um jogo de dissimulação para intimidar e assustar... outra forma de bullying físico esta relacionado ao assédio sexual ou a ações que intimidam. Um bullie pode levantar a saia de uma menina, baixar as calças de um menino...(CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.37)

Para expor a vítima ao ridículo no ambiente social em que frequenta.

Sendo que o bullying físico pode ser motivo de suspensão na escola onde ele

ocorreu, e ser notificado pelos jornais caso seja denunciado.

O bullying social comenta Chalita (2008 p. 105) é uma “manipulação

feita frequentemente para dificultar a aceitação dentro de um grupo” que

24

acontece quando a humilhação e depreciação ocorre na presença de outras

pessoas conhecidas ou não, como – amigos e colegas – é prejudicial à estima

da vítima e normalmente ocorre entre meninas. Carpenter e Ferguson (2011

p.39) descrevem o bullying em relacionamentos como “aquele em que a vítima

se sente excluída ou maltratada em virtude de sua posição social”. O objetivo

desse bullying é isolar a vítima de seus amigos ou possíveis amigos. É mais

sutil e difícil de identificar, pois não deixam marcas físicas, tornando dessa

forma difícil de ser comprovado. Chalita (2008 p.107) afirma que os agressores

“utilizam o relacionamento para ferir... e acabam conseguindo a tolerância dos

educadores, mediante a minimização da intencionalidade de ferir o outro”. Pois,

geralmente alegam que foi uma brincadeirinha ou que foi provocado primeiro.

O bullie faz intrigas no ambiente social e a vítima tem dificuldades de

fazer e manter amizades. Sendo que as humilhações sofridas pelas vítimas

tem um impacto negativo na estima delas.

Carpenter e Ferguson (2011 p.40) pontuam que “o bullying emocional

usa manipulação para conseguir o que deseja... exigir exclusividade e isola sua

vítima de todo o grupo”. Para dessa forma, fazer pedidos injustos de

exclusividade com ameaças. A fim de explicar como tal fenômeno ocorre,

pode-se compreender que geralmente o agressor exige que a vítima lhe

obedeça para não perder a amizade. É uma das formas mais sutis de controle

praticada pelos bullies.

No bullying de extorsão o bullie pode desejar objetos ou dinheiro

pertencentes a vítima para usufruir ou destruí-los por puro prazer. O bullie pode

se utilizar de ameaças ou força física para obter tais pertences, prejudicando as

vítimas de duas maneiras: uma é pelo o roubo privando-as de utilizar o seu

objeto e a outra pela satisfação que a vítima deverá dar em casa por não mais

possuí-los. Sendo que, a vítima pode ser forçada a praticar certos atos como o

roubo para satisfazer o bullie. É um dos confrontos diretos mais abusivos entre

agressor e vítima.

O bullying direto é uma modalidade de ataque físico, que ocorre com

mais frequência entre agressores meninos. São ataques abertos entre agressor

25

e vítima, é um confronto pessoal com tapas, chutes, empurrões, socos,

xingamentos, ofensas públicas, murros, apelidos ofensivos repetidos,

humilhação verbal e exclusão. Em que a vítima sempre sabe quem é o

agressor. Diferente do bullying indireto em que há certa dificuldade da vítima

em descobrir quem é o bullie.

O bullying indireto não é menos cruel que o direto. A vítima tende a se

isolar socialmente, pois o bullying indireto destrói a reputação da vítima no

ambiente em que frequenta, no caso a escola. Também ocorre com mais

frequência entre meninas. O bullie proporciona um terror psicológico contra a

vítima tentando destruir de todas as maneiras a sua reputação, se utilizando

dos meios de comunicação com boatos cruéis, difamações, fofocas e intrigas.

Quando a perversidade permeia o campo virtual dá-se o nome de

ciberbullying. É quando se pratica o bullying através de meios eletrônicos e de

comunicações. Esta é a forma mais moderna de bullying, que para Maldonado

(2011, p.61) “é a prática da crueldade online..." que mais propicia o anonimato

e a segurança ao agressor nos seus ataques possivelmente durante um bom

tempo. Em que agride com insultos e boatos que poderá se espalhar facilmente

via internet ao maior número possível de pessoas ao mesmo tempo. Podendo

o autor atingir sua vítima a qualquer momento e lugar.

(...) Caracteriza-se por ataques usando mensagem de texto do celular, câmeras, ou o computador por meio de redes sociais, sites de vídeos, e-mails com o objetivo de depreciar, humilhar, difamar, fazer ameaças e aterrorizar uma pessoa ou um grupo escolhido como alvo. (MALDONADO, 2011, p. 61)

Através de torpedos, blogs, sites de relacionamento e fotoblogs como

afirmam Carpenter e Fergunson (2011 p. 43) as vítimas podem receber

“mensagens de ameaça, ter sua caixa de e-mails invadida, boatos espalhados

a seu respeito ou fotografias comprometedoras divulgadas na internet sem seu

consentimento”. Geralmente o ciberbullying tem consequências devastadoras

pela rapidez em que são divulgadas.

26

Em geral os bullies tentam atingir sua vitima de todas as formas

possíveis, permeando as várias modalidades de bullying ao mesmo tempo.

Seja diretamente ou indiretamente manipulando outras pessoas para atingir

seu alvo. Que para Chalita (2008 p.108) “é um ato de perversidade” entre pares

não importando a forma como venha se manifestar.

Já existem sanções para tais atos, a vítima deve ter a cópia se possível

de todas as mensagens e não excluí-las do computador. Pois já é possível

rastreá-las por especialistas pelo IP da máquina e descobrir qual foi o

computador que foi utilizado no envio da mensagem. E identificar seu dono

responsabilizando-o pelo seus atos podendo dar queixa na delegacia sobre o

ocorrido.

Diante do exposto acima, faz-se necessário conhecer os personagens

do bullying a fim de compreender a problemática do desvio que permeia o

universo das relações sociais.

27

3 PERSONAGENS DO BULLYING

Os personagens do bullying são os atores do bullying. Que se

diferenciam mediante as relações que estabelecem entre si e com papeis

distintos que por vezes se repelem. A dinâmica do bullying é baseada nesta

tríade: agressor, vítima e espectador.

3.1 VÍTIMA

Na tríade do bullying a vítima é o personagem no qual pesquisadores

concentraram sua atenção para tentar descobrir o que poderiam classificá-las

como vítimas. Carpenter e ferguson (2011, p.71) pontuam que é “a maneira

como ela reage são o foco da ação”. Dessa forma, as atitudes da vitima tem

importância para o agressor, pois:

As vítimas ou alvos de bullying são personagens escolhidos, sem motivo evidente, para sofrer ameaças, humilhações, intimidações. O comportamento, os hábitos, a maneira de se vestir, a falta de habilidade em algum esporte, a deficiência física ou aparência fora do padrão de beleza imposto pelo grupo, o sotaque, a gagueira, a raça podem ser motivos para a escolha de uma vítima. (CHALITA, 2008, p. 87)

Maldonado (2011) descreve os principais sinais de que a criança ou

adolescente esta sofrendo ataque de bullying e ou ciberbullying. Dentre eles

nota-se ansiedade ao ler mensagens de texto no celular ou no computador,

falta de concentração ao fazer as atividades escolares em casa e diariamente

nas aulas, desculpas para faltar as aulas e sair mais cedo da escola com

queixas recorrentes de doenças e até pedidos para trocar de sala. Conforme o

raciocínio da autora os pais ou responsáveis podem notar alguns sinais de que

tem algo errado acontecendo com o estudante, os principais são:

De ter sido fisicamente agredido, com roupas amassadas ou rasgadas, pertences quebrados ou roubados; mudanças de humor e comportamento mais agressivo, ficar irritadiço, arredio, angustiado ou deprimido; começar a se isolar, evitando o contato com os colegas; dificuldade para

28

adormecer, acordar com pesadelos, perder o apetite ou, ao contrário, comer muito que o habitual, por ansiedade. E, sobretudo, dar mostras de baixa autoestima.

(MALDONADO, 2011, p.88-89)

Estes sinais não aparecem de imediato. A medida que os ataques se

intensificam mudanças comportamentais começam a aparecer, pois:

Os danos internos começam lentamente a se manifestar com o surgimento das conseqüências externas, que vão se tornando visíveis a pais e educadores. A dor e a angustia, vivenciadas solitariamente, destroem o encantamento pela escola e até pela vida. Do baixo rendimento escolar à resistência para ir à escola, os efeitos pioram a medida em que a intensidade e a regularidade das agressões vão evoluindo e se agravando. (CHALITA, 2008, p. 88)

As vítimas geralmente sofrem em silêncio por vergonha de parecerem

fracas ao relatarem as violências sofridas e/ou pelo medo das agressões se

intensificarem, devido a ameaças constantes. Se sentem solitárias e

incompetentes por não conseguirem enfrentar os agressores e resolver este

problema. As vítimas temem serem criticadas pelos pais ao mostrar suas

fragilidades e pelo fato de terem se tornado vítimas.

O medo, bem como a sensação de impotência e de desamparo, cresce quando a criança e o adolescente não encontram na família ou na escola adultos em que possam confiar para revelar o que esta acontecendo, com a segurança de que serão compreendidos. (MALDONADO, 2011, p. 90)

Nota-se que a vitimização de uma criança está relacionada com a

maneira que ela se vê e se coloca no mundo. Esta diretamente ligada a sua

estima infantil.

Há estudos favoráveis sobre a influência da estima no desenvolvimento

psicológico e social das crianças. Em que, a estima é um potencial elemento

na formação e na concepção de mundo que a criança venha a ter, e a

significativa influência na forma de ver, agir e reagir no mundo.

A estima é o termômetro do amor próprio, o respeito que se deve manter

para consigo mesmo. E a esse respeito, a do amor próprio, é que se dá desde

29

os primeiros momentos de vida, e vai aumentando a depender da forma de

como a criança é tratada, a atenção e o carinho recebido, pois:

A chave do ser humano está nas atitudes com que os pais a trataram. Se a criança tiver sorte de ter pais que se sentiram orgulhosos dela, que a queriam e a queriam assim exatamente como era, esta criança chega a fase adulta com confiança em si e amor próprio, continua a ter segurança, a ser forte e capaz de sobrepujar o que tiver que enfrentar. (ROGER, 1987, p.110)

Esta aceitação faz com que a criança se sinta merecedora e

pertencedora do mundo em que vive, e é primordial na formação da sua

estima. A boa saúde mental se apresenta com uma estima elevada, com

atitudes positivas e otimistas. E isto se reflete na aprendizagem e nos

resultados escolares. Do contrário a violência e a desestruturação familiar

podem gerar sérias consequências como:

Certos acontecimentos vivenciados na infância, eram determinantes principais de distúrbios de personalidade... e a importância dos primeiros anos de vida na estruturação da personalidade, determinando o curso do seu desenvolvimento futuro no sentido da saúde mental e da adaptação social adequada ou da patologia. (RAPPAPORT, 1981, p.2)

A formulação dos próprios conceitos pela criança se dá primeiramente

de fora para dentro. É da forma que o mundo a vê e de como ela é tratada que

servirá como “balança” para o nível de importância que, pelo menos

inicialmente, ela dará a si mesma. Como por exemplo: se ela não é

compreendida, é maltratada, agredida verbalmente ou fisicamente pelos seus

pais ou responsáveis. Então, ela tenderá a responder a violência com violência

e em contra partida vai acabar se violentando com atitudes pessimistas ou

privando-se de alguma forma como retaliação a violência recebida pelos pais.

Terá seu amor próprio rebaixado por isso, diminuindo o respeito que senti por

si mesma.

[...] há pois que gostariam deles se mudassem, se fossem diferentes; se fossem mais inteligentes ou melhores... Os filhos desses pais têm mais dificuldades porque nunca

30

tiveram o sentimento de aceitação. Estes pais não gostam realmente desses filhos, gostariam deles se fossem como outras pessoas. (ROGERS, 1987, p. 110)

É da forma que sentimos que as pessoas mais próximas nos aceitam,

nos amam ou consideram que começamos a nos aceitar, amar e considerar.

Sendo esta a “pedra filosofal” da nossa formação emocional, espiritual,

educacional. A “chave” do nosso sucesso produtivo e realizador como ser

humano.

Na escola é nitidamente visível a diferença comportamental entre

crianças vindas de famílias estruturadas e as de famílias não estruturadas.

Pois, as chances das primeiras de concluírem os estudos é bem maior do que

as que não tem uma boa base familiar.

A falta de aceitação externada por seus pais, ás vezes é reflexo de

frustrações que eles carregam pelas experiências de vida que tiveram, e que

refletem no tratamento que dão a seus filhos. São feridas psíquicas não

curadas, externadas pelo desequilíbrio e agravadas pela baixa estima.

A influência familiar, no contexto social em que está inserida, tem

significativa importância na formação da criança. Pois, nascendo no seio

familiar, se torna fruto de uma sociedade que direta ou indiretamente transmite

sua cultura, norteando as atitudes dos indivíduos. E essa adequação é que

geralmente determinará se esses indivíduos se sentirão bem aceitos e

acolhidos por esta mesma sociedade. Exemplificados por comportamentos

que muitas vezes não são bem entendidos e direcionados pela escola que é

um dos principais núcleos sociais da sociedade e que lhe compete amplamente

“socializar”, ou melhor, educar para o Estado. O individuo termina por “podar”

não só comportamentos, mas inibir, castrar talentos naturais “formatando” a

personalidade. Tirando da criança o pleno desenvolvimento natural de

aptidões, submetendo-o a ideologias dominantes incutindo-lhes muitas vezes a

resignação, preconceitos e até mesmo a revolta.

Estudiosos do fenômeno bullying classificaram em três os tipos de

vítimas do bullying: a vítima típica, a vítima provocadora e a vítima agressora.

31

3.2 VÍTIMA TÍPICA

São aquelas vítimas geralmente encontradas em maior número neste

papel de vítima, facilmente classificadas por Silva (2010, p.37) como:

“alunos que apresentam pouca habilidade de socialização. Em geral são

tímidas ou reservadas e não conseguem reagir aos comportamentos

provocadores e agressivos dirigidos contra ela”. Pois costumam ser retraídas,

passivas, sem amigos que lhes dê apoio ou as protejam. Fante acrescentam

que suas características mais comuns são:

Aspectos físicos mais frágil que o de seus companheiros; medo de lhe causem danos ou de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas, sobretudo no caso dos meninos; coordenação motora deficiente, especialmente entre os meninos; extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa auto-estima, algumas dificuldades de aprendizado, ansiedade e aspectos

depressivos. (FANTE, 2005, p.72)

Além da extrema dificuldade de impor respeito nos ambientes em que

frequenta, a vítima apresenta geralmente uma conduta não-agressiva, que de

certa forma denuncia ao agressor que se trata de uma “presa fácil” que

provavelmente não irá revidar caso seja agredido, e que será facilmente

dominado.

3.3 VÍTIMA PROVOCADORA

Silva (2010, p.40) afirma que as vítimas provocadoras “são aquelas

capazes de insuflar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas. No

entanto, não conseguem responder aos revides de forma satisfatória. Elas, em

geral discutem ou brigam quando são atacadas ou insultadas”. No geral

provocam tensão nos ambientes em que frequentam despertando o interesse

de agressores. Podem ser tolas, hiperativas, imaturas, dispersivas, impulsivas,

ofensoras, costumam ser irritantes, demonstrando assim sua insegurança.

32

3.4 VÍTIMA AGRESSORA

Para Silva (2010, p.42) a vítima agressora “reproduz os maus-tratos

sofridos como forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda

mais frágil e vulnerável, e comete contra ela todas as agressões sofridas”. Pois,

elas são tão ansiosas quanto agressivas, tem dificuldade de convívio social e

são muito impulsivas. São geralmente um tipo inquieto e irritante propenso a

níveis elevados de estresse.

A tendência que a vítima agressora tem em reproduzir os maus tratos,

assegura Fante (2005, p.72) “ tem sido evidenciada entre as vítimas, fazendo

com que o bullying se transforme numa dinâmica expansiva, cujos resultados

incidem no aumento no número de vítimas”. Tornando o bullying uma epidemia

mundial pelo circulo vicioso a que se forma, na complexidade de suas relações

e reproduções se tornando um problema difícil de se controlar.

3.5 O AGRESSOR

O que realmente caracteriza o agressor ou bullie é a sua personalidade.

Para Silva (2010,p.43) “Traços de desrespeito e maldade e, na maioria das

vezes... associadas a um poderoso poder de liderança que, em geral, é obtido

ou legitimado através da força física ou de intenso assédio psicológico”. Como

pode se notar, para Carpenter e Ferguson (2011) os bullies apresentam

características tais como: uma forte necessidade de atenção do outro, de

sentir poderoso e de dominar a situação além de se sentir superior aos demais

pessoas de sua convivência. São pessoas que não sentem remorso, nem

empatia e facilmente demonstram a sua agressividade. “Gostam de maltratar e

de fazer outras pessoas sofrerem” (p.58).

Os agressores de ambos os sexos apresentam desde muito cedo

problemas em aceitar as normas, intolerância com atrasos dentre outros.

Dessa forma, Silva (2010, p.43) afirma que “geralmente estão envolvidos em

atos de pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição

33

do patrimônio público ou privado”. Geralmente mostram desde cedo

comportamentos anti-sociais.

Para Carpenter e Ferguson (2011, p. 59) ”os bullies, sejam eles crianças

ou adultos, tem sempre uma visão imperfeita e distorcida da opinião dos outros

a seu respeito”. Pois as pessoas de seu convívio, na sua maioria têm medo da

vingança do bullie e de se tornar a próxima vítima. Então, tenta não se indispor

com ele, ocultando sua verdadeira opinião sobre as atitudes do bullie, que de

certa forma contribui para estima elevada do agressor. Isso prova que “o bully

perde contato com o seu círculo social e deixa de ter relacionamentos

verdadeiros” (p.59). Por não saber sua verdadeira reputação em seu meio

social.

Autores como Silva (2010), Fante (2005), Carpenter e Ferguson (2011),

Chalita (2008) e Maldonado(2011) acreditam que os bullies frequentemente

são membros de famílias desestruturadas, que tem seu cunho afetivo

deficitário total ou parcialmente, como pode ser atitudes oriundas da própria

índole do indivíduo. Portanto, filhos de bullies tem uma maior chance de se

tornarem bullies.

No que diz respeito ao desempenho escolar desses jovens, Silva (2010,

p.43) afirma que “costuma ser regular ou deficitário; no entanto em hipótese

algum, isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte

deles. Muitos apresentam, nos anos iniciais, rendimentos normais ou acima da

média”.

O que realmente surpreende são as atitudes negativas que geralmente

desenvolvem no convívio escolar pela falta de afeto demonstrada nas relações

interpessoais. Existem algumas características ou tendências que podem

revelar um futuro bullie:

Baixa tolerância a frustração; dificuldade de se adaptar e seguir regras; pouco ou nenhum respeito por autoridade. Impulsividade; comportamento antissocial (vandalismo, faltar às aulas, uso de entorpecentes); crueldade com animais. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p. 59)

34

Explicitamente existem sinais mais minuciosos, na forma de relacionar-

se, de que o bullying ou ciberbullying podem estar acontecendo. No momento

em que o potencial agressor age de determinadas maneiras em diversas

situações do cotidiano, é que podem ser notadas tais atitudes abusivas pelos

pais e/ou responsáveis dos bullies:

Faz questão de exibir seu poder de dominar os outros; quando insiste exaustivamente em fazer valer sua vontade sem levar a dos outros em consideração; sente muita dificuldade em se colocar no lugar dos outros para perceber os efeitos de suas ações; acha divertido causar sofrimento ou implicar com os outros até exausperá-los; quer sempre levar vantagem e não se conforma em sair perdendo; luta com todos os meios para conseguir o que quer, até mesmo manipulando as pessoas como se fossem objetos a seu dispor; justifica seu comportamento inaceitável com argumentos do tipo “só reagi à provocação”, “ela mereceu o que eu fiz”, “a culpa não é minha”; não hesita em mentir e em acusar os outros para se isentar da responsabilidade pelos próprios atos; apresenta comportamento desafiador diante das autoridades, das leis e dos pactos de convivência”. (MALDONADO, 2011, p.95)

Para Carpenter e Ferguson (2011, p.59), “estudos mostram que crianças

bullies sofrem grande risco de depressão e isolamento social e que podem ter

uma vida adulta repleta de agressão e de problemas com a lei”. Ou seja, o

bullying pode prejudicar consideravelmente tanto as vítimas, por conta dos

ataques de violência repetitivos e variados, como também ao agressor, por

conta das atitudes criminosas praticadas por eles e ter que responder, caso ele

seja maior de idade, ou levar seus pais ou responsáveis a responderem por

seus crimes por penas previstas na lei. Assim pode-se dizer que:

Talvez o maior desafio na identificação dos atores dessa triste “peça” chamada bullying seja distinguir os agressores que podem ser dissuadidos desse papel e transformados em guerreiros contra a violência escolar, daqueles que já exibem, desde muito cedo, uma natureza desprovida de afetividade. Perceber essa diferença é tal separar o joio do trigo. (SILVA, 2010, p. 51)

Mesmo jovens com comportamentos violentos podem estar refletindo as

violências vivenciadas em casa e por problemas oriundos de uma educação

35

excessivamente permissiva ou autoritária. Dando continuidade ao raciocínio do

autor é possível dizer que:

Tais jovens mesmo com atitudes erradas, merecem nossa ajuda e precisam dela, pois eles sofrem com seus atos e suas respectivas consequências. É justamente o sentimento de culpa, remorso ou arrependimento diante de suas ações que nos dá a plena certeza de que são comportamentos apenas transitórios. Sua essência é boa e eles estão à espera de alguém que os resgate de maneira adequada. (SILVA, 2010, p.52)

Estes precisam de ajuda da sociedade. Embora existam outros tipo de

agressores, que como diz Silva (2010, p.52) “com traços genuinamente

perversos” demonstrados muito cedo na infância: falam mentiras, são cruéis

com irmãos, coleguinhas e animais, demonstram acesso de fúria quando

frustrados ou contrariados, não se sentem constrangidos quando pegos em

flagrantes, e com atos de violação de regras em ambientes sociais. Além

destes, existem ainda outros agravantes tais como:

Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos e furtos; uso precoce de drogas; sexualidade precoce e exacerbada, podendo chegar a atos extremos, como violentar crianças ou adolescentes mais frágeis; atos de vandalismo, com destruição do patrimônio público e alheio; nítida tendência a manipular fatos e pessoas para se livrarem das responsabilidades de seus atos. Isto é, costumam dizer que são sempre inocentes, ou que a culpa é do outro; histórico de homicídio. (SILVA, 2010, p. 52)

Já este segundo tipo de bullie ou bully, denotam que tais atitudes

comportamentais apresentadas recorrentemente por jovens de até 18 anos, é

denominada pela psiquiatria como transtorno de conduta, também conhecido

como delinquência que como afirma a autora “não é algo passageiro, mas um

transtorno grave, de difícil controle, caracterizado por um padrão repetitivo e

persistente de condutas antissociais” (p.53). Pois, “os jovens com esse perfil,

regras e limites muito claros devem ser estabelecidos e fiscalizados para se

evitar comportamentos manipuladores e violação das normas sociais” (p.53).

Que se identificados pela família ou escola e diagnosticados por especialistas,

podem por em prática, se possível ainda na infância destas crianças um plano

de educação a favor delas.

36

3.6 ESPECTADORES DO BULLYING

Os espectadores são todos aqueles que assistem voluntariamente ou

não as ações dos agressores contra suas vítimas. Para Carpenter e Ferguson

(2011, p.80) “é a última dos personagens na dinâmica do bullying. Mas pode

ser a mais importante”. É significativamente representada pela grande maioria

dos estudantes, no caso da escola. Sendo que o bullying geralmente acontece

na frente dos demais colegas. Pois o bullie ou agressor precisa mostrar para

alguém o seu poder, então ele age para ter popularidade e que para isso

precisa de platéia. A essa platéia é dado o nome de espectadores ou

testemunhas, que presenciam os atos de violência, seja ele do tipo físico,

verbal, ou excludente e que geralmente não toma nenhuma atitude em defesa

da vítima. Para os autores:

O termo “testemunha” sugere que se trata de pessoas neutras e sem envolvimento emocional com o evento. Mas, quando se tratam de colegas de classe, as coisas são um pouco diferentes. As testemunhas são profundamente afetadas pelo drama que presenciam. Assistir a cenas de assédio ou violência as deixa confusas, agitadas e com medo. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.79)

A violência presenciada causa desequilíbrio na escola em que ocorre.

Perpetrando uma sensação de desarmonia e insegurança em todo ambiente

escolar.

Silva (2010 p.45) divide os espectadores em três tipos: Os espectadores

passivos, - os que são amedrontados pelos bullies ou agressores que não

concordam mas não tomam nenhuma atitude, e que “estão propensos a sofrer

as consequências psíquicas, uma vez que suas estruturas psicológicas

também são frágeis” (p.46); já os espectadores ativos podem não se envolver

diretamente mas apreciam as cenas de violências incentivando com palavras e

risadas. Sendo que, os verdadeiros mentores dos ataques podem estar no

meio deles dissimulados posando de bons moços. E finalmente os

espectadores neutros que por conviverem com a violência são acometidos do

que a autora chama de “anestesia emocional” (p.46). Devido a certa

familiaridade de um cotidiano violento tornando-se insensíveis a certos atos de

37

crueldade. Que para Chalita (2008, p.88) “Quem assiste à dinâmica da

violência e aprende a conviver com ela ou a simplesmente, escapar dela. São

igualmente personagens desse pesadelo.” A omissão faz com que não

defendam a vítima nem denunciam os agressores. Dessa forma contribuindo

para o crescimento da prática do bullying nas escolas.

Para Fante (2005, p.73) os espectadores “representam a grande

maioria dos alunos que convivem com o problema e adota a lei do silêncio por

temer se transformar em um novo alvo para o agressor”. Mesmo presenciando

as cenas diariamente de violência. Embora, como diz Chalita (2008, p. 88)

“parte desse grupo de espectadores entende o bullying como normal. Talvez

acreditando que os alunos considerados esquisitos ou diferentes mereçam ser

ridicularizados por outros”. O que pode fazer com que uma parcela se

mantenha omissa ou até apóie o agressor com risadas, piadinhas etc.

Fante (2005, p.74) pontua que “Alguns espectadores reagem

negativamente. Uma vez que seu direito de aprender em um ambiente seguro

e solidário foi violado, o que pode influenciar sua capacidade e progresso

acadêmico e social.” Por ter que conviver com a violência é comum as

testemunhas se omitirem quando presenciam atitudes de bullying. Mas Silva

(2010 p. 46) ressalta que “a omissão, nesses casos, também se configura em

uma ação imoral e/ou criminosa, tal qual a omissão de socorro diante de uma

vítima de um acidente de trânsito”. Então, essa omissão na pratica contribui

para o agressor ou agressores continuarem a repetir os ataques de bullying

principalmente com aquela vítima, aumentando a violência e a frequência dos

ataques no ambiente escolar.

Assim Chalita (2008, p. 88) afirma que “há estudos que comprovam que

quando há intromissão de outras pessoas, que se manifestam em defesa das

vítimas, os casos de intimidação se reduzem drasticamente” E é principalmente

nesse ponto que uma intervenção por parte das testemunhas, ou seja, dos

colegas, poderá ser aplicada. Pois se o bullie não tiver a aprovação de

testemunhas, isso irá desestabilizar a ação do agressor, que provavelmente irá

espaçar os ataques ou até mesmo desistir dessa vítima. Conforme explica

Maldonado, a platéia protetora geralmente é:

38

Composta por espectadores que, por compaixão e solidariedade se aliam às vítimas inibindo ou desarmando as ações de bullying. Isso pode acontecer pela simples presença ao lado da pessoa atacada, evitando que ela se exponha sozinha ao agressor, atuando como escudo protetor, ou por iniciativas de criticar e desprestigiar o comportamento de bullying... (MALDONADO, 2011, p.34)

Comportamento este que leva o espectador a enfrentar o bullie é de

risco. Pois ele pode sofrer retaliação por parte dos mentores do bullying e se

tornar a próxima vítima. A tal risco a platéia protetora deva levar ao parecer de

professores, funcionários e até a direção da escola a fim de se proteger de

possíveis ataques violentos recorrentes, que é o que caracteriza o bullying.

Parte desses espectadores como afirma Chalita (2008,p. 89) “Afetados

pelo ambiente contaminados, sentem-se culpados, carregando consigo essa

sensação de culpa por toda vida. Aprendem a ser omissos e passivos para se

defender”. Muitas vezes pressionados pelo medo e egoísmo reagem com

atitudes de tentar justificar as injustiças sociais. E só vão de encontro ao

problema no caso de serem afetados diretamente.

Tais personagens ajudam na compreensão dos atores do bullying,

possibilitando o entendimento e a formulação de ações práticas para a

elaboração das política antibullying na escola.

39

4 A POLÍTICA ANTIBULLYING NA ESCOLA

Entende-se que política antibullying são ações que a escola deve propor.

Que para Carpenter e Ferguson (2011) trata-se de uma política integrada, que

tem como objetivo a construção de práticas que valorizem a criança e o seu

desenvolvimento. A fim de resgatar respeito, valores e dignidade da pessoa

humana.

A política antibullying precisa fazer parte da proposta pedagógica da

escola. E tem como meta combater todo tipo de violência que possa aparecer

em seu meio.

Em primeiro lugar, para Silva (2010, p.162) a escola deve “reconhecer a

existência do bullying (em suas diversas formas) e tomar consciência dos

prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento socioeducacional e para

estruturação da personalidade de seus estudantes” para que então sejam

tomadas todas as iniciativas cabíveis com o intuito de minimizar o problema.

Mas essa política só é eficaz quando o corpo docente, funcionários,

direção, coordenadores e membros da comunidade escolar juntamente com os

pais estiverem unidos formando uma campanha contra o bullying. Dessa forma,

Carpenter e Ferguson (2011, p.253) afirmam que todos os participantes da

política antibullying “se conscientizam de que o desenvolvimento emocional e

social das crianças é tão importante quanto o acadêmico”. Pois, Maldonado

(2011, p.118) afirma que o bullying “ocorre em todas as escolas, tanto da rede

pública quanto as particulares”. Se tornando um problema universal que só

será minimizado mediante essa conscientização.

Para Fante (2005, p.92 ) as medidas preventivas contra o bullying deve

iniciar “pela capacitação dos profissionais de educação, afim de que saibam

identificar, distinguir e diagnosticar o fenômeno, bem como conhecer as

respectivas estratégias de intervenção e de prevenção hoje disponíveis". É

preparar a equipe escolar para poder estabelecer uma política antibullying

eficaz.

40

Maldonado (2011,p.118) afirma que para se combater o bullying é

preciso“construir uma cultura de paz na escola, é necessário criar um programa

sob medida para a realidade de cada contexto, que esteja profundamente

inserido no projeto pedagógico da escola a ser aplicado por um longo tempo”.

É consideravelmente recomendado fazer redações diagnósticas e palestras.

Porém, não é suficiente para extirpar certos níveis de relações agressivas na

escola. Pois, a violência é de certa forma banalizada pela mídia em geral na

nossa sociedade, pelas cenas de desrespeito presenciadas diariamente nos

telejornais, filmes, jogos entre outros meios de comunicação e que vão de certa

forma, sendo assimiladas como normal entre os estudantes.

Para diminuir essa violência Fante (2005, p.94) acrescenta que "os

alunos, por meio de interiorização de valores humanos, desenvolvam a

capacidade de empatia". Para isso Maldonado (2011, p.118) afirma que é

necessário "um ambiente escolar em que todos se sintam seguros, bem

cuidados e capazes de desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal

que possibilite criar vínculos de amizade em clima de cooperação". Ou seja,

uma escola aberta, democrática em suas decisões, que priorize a cordialidade

a começar pela esfera administrativa, servindo de exemplo para as demais

áreas da escola.

Do contrário uma escola autoritária, que não compartilham nem

negociam suas decisões, acaba por desconsiderar a diversidade em seu meio.

Como explica Chalita (2008, p.201) que "não se abre para negociações

permanentes é um verdadeiro desastre educativo, pois não permite que os

alunos desenvolvam habilidades para negociação para encaminhar os conflitos

pessoais e sociais" aos próprios dirigentes da escola.

Chalita apud Piaget (2008, p.201) afirmam que a autonomia é "um

poder que não se adquire senão de dentro e que não se exerce senão no seio

da cooperação". Para Chalita (2008, p.201) "ter autonomia não é fazer o que

se quer e como se quer. É usar a liberdade com responsabilidade" mediante

relações conflituosas que precisam ser mediadas pela escola.

41

Mas é preciso considerar, como pontua Fante (2005, p.92) que "cada

escola possui sua realidade e a partir dela é que se devam desenvolver

estratégias e ações cotidianas e continuas". Para Carpenter e Ferguson (2011

p.246) Um dos passos importantes nos primeiros momentos da campanha

antibullying é "identificar o problema, sua extensão, estabelecer um plano para

reduzir os ataques e solicitar a cooperação de todos para que haja uma

mudança de comportamento (dos pais,educadores,funcionários e alunos)".

Para os autores é preciso "promover pesquisas anônimas com os

alunos, conversar com alguns deles individualmente, discutir a questão do

bullying com os professores e avaliar o ambiente e como todos se

sentem"(p.246). Dessa forma, um diagnóstico inicial é indispensável, como por

exemplo, redações feitas pelos os estudantes com os títulos de: minha vida

familiar e minha vida escolar. Para avaliar como é a convivência familiar e

escolar deles. E identificar quem são os integrantes da tríade do bullying, quem

são as vítimas, os agressores e espectadores. A partir daí fica mais fácil à

escola traçar alguns programas de conscientização na campanha antibullying,

com planos de atingir a toda comunidade mediante a extensão do problema.

Depois do resultado das redações, Fante (2005, p.109) orienta que se

inicie uma “ação direta, ou seja a primeira dose do tratamento: a entrevista

pessoal”. É utilizado o método de entrevistas para agressores e vítimas do

pesquisador Anatole Pikas. Como afirma Fante (2005, p.109) com “conversas

individuais com cada aluno envolvido... com entrevista de acompanhamento e

reunião de grupo com todos os envolvidos”. A entrevista é feita com uma

pessoa especifica (tutor) e bem preparada para saber ouvir, avaliar e fazer o

acompanhamento de cada caso, mediante anotações.

Para Fante (2005, p.109) nas entrevistas “seu foco de atuação é

desorganizar para depois organizar as redes sociais que a sustentam, com

base em sistemas de apoio”. Para desestruturar as relações dominantes,

levando os estudantes a reflexões. Em que o tutor vai pedir e propor

altenativas (possíveis soluções) para resolver os conflitos existentes entre

agressor e vítima.

42

Para haver uma prevenção eficaz nas escolas, a comunidade escolar,

ou seja, o corpo discente, docente e funcionários devem estar conscientes e

trabalhando por um objetivo comum. Dessa forma, alguns conceitos devem ser

aprendidos:

O que é bullying; como ele ocorre; por que ele ocorre com vitimas de características especificas ou pertencentes a determinados grupos; diferença entre bullying praticado entre meninos e entre meninas; o que e ciberbullying e por que ele é um problema; o que o aluno deve fazer caso se torne vitima de bullies; o que o aluno deve fazer caso suspeite ou presencie um caso de bullying; como denunciar;qual deve ser a postura e as providencias de professores e administradores diante de casos de bullying. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.247)

Para se ter bons resultados é melhor "estabelecer um programa de

prevenção que já tenha se mostrado eficaz em outras escolas... é preciso

iniciar a campanha entre alunos mais jovens e mantê-la durante os anos

seguintes" (p.277). Ou seja, as iniciativas escolares podem minimizar as

agressões através de estratégias e prevenções. Para Chalita (2008, p.208) "as

formas de coibir as agressões devem ser tão variadas e criativas quanto as

próprias agressões". Maldonado (2011, p.119) acrescenta que “é preciso

paciência e persistência para, no decorrer do tempo, perceber e valorizar os

índices graduais de redução das ações do bullying". Para se adotar novas

medidas caso necessário.

Para Chalita (2008, p.203) este trabalho coletivo deve envolver todos os

profissionais da escola e "estabelecer uma estratégia de ação focada em três

objetivos: neutralizar os agressores; auxiliar e proteger as vítimas e transformar

os espectadores em aliados". Carpenter e Ferguson (2011, p.248) acrescentam

que "as escolas devem incorporar determinadas estratégias para reforçar a

conscientização. Uma delas é uma declaração de compromisso que cada aluno

deve assinar no inicio do ano escolar". Nesta declaração o estudante se

compromete a respeitar os colegas, a ajudar as vítimas e colaborar em

denunciar e erradicar o bullying da escola. A declaração deverá ser

devidamente assinada pelos estudantes, pais ou responsáveis.

43

Outra estratégia com resultados satisfatórios é o grupo de apoio. Este é

formado por estudantes que são treinados por profissionais e com o desafio de

sigilo e confidencialidade. Em que vão ouvir e mediar seus colegas, apoiá-los

com os problemas diários, em que:

Crianças e adolescentes se sentem mais à vontade ao conversar com alguém de sua idade; os conselheiros do grupo de apoio servem de modelo positivo para os outros; o grupo funciona como mediador entre os alunos e a direção da escola; ao confiar e se abrir com os conselheiros, os alunos estabelecem uma rede de apoio, muito importante e necessária para todos. (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.249)

Sendo o grupo de apoio uma alternativa viável em que estudantes

ajudam as vítimas e observam possíveis casos iniciais de bullying. Devendo

ser sempre auxiliados pelos professores.

Para Chalita (2008, p.208) " se um professor deixa claro que todos são

tratados da mesma forma, os alunos vêem nisso um sinal para não excluir

outros do grupo". O professor tem papel importante ao dar exemplos a serem

seguidos e auxiliar os estudantes a refletir sobre seus atos.

Carpenter e Ferguson (2011, p.250) afirmam que "os pesquisadores

sugerem que as escolas estabeleçam regras gerais de conduta em sala de

aula". Elaboradas com os próprios estudantes, essas regras contribuiria para o

bom andamento dos trabalhos e melhoras nos relacionamentos interpessoais

entre os estudantes, principalmente os de sua mesma sala.

Outra meta da política antibullying são atividades de aprendizado

cooperativo, em que estudantes são levados a ajudar uns aos outros em prol

de objetivos comuns. Melhorando o desempenho individual incentivando a

ajuda mutua, em que o sucesso do grupo é mais importante que o individual.

Dessa forma, é preciso que "as crianças desenvolvam habilidades sociais e de

relacionamento interpessoal, espírito de liderança, habilidade de resolver

conflitos e de tomar decisões" (p.251). São características que ajudam a evitar

que elas se tornem futuras vítimas de bullying.

44

Outra alternativa é a supervisão redobrada das áreas de risco. Que pode

ser feita pelo revezamento entre professores (caso tenham tempo),

funcionários, pais de alunos e até mesmo pelos "conselheiros do grupo de

apoio das series mais adiantadas podem ajudar supervisionando os mais

jovens" (p.252). Podendo também instalar câmeras nas áreas de maior

incidência de bullying, como por exemplo: corredores e área de lazer da escola.

Os autores afirmam que a prevenção ao bullying " é mais eficaz quando

é coordenada por um grupo de representantes de todas as áreas da

comunidade escolar"(p.252). Por exemplo: alguém da administração, um

assistente, um professor de cada nível, um pai ou mãe, um funcionário da

lanchonete e todos que possam se dispor a ajudar.

Em suma a possibilidade de criar uma política antibullying é urgente nas

escolas brasileiras. Daí ser necessário na formação do pedagogo compreender

as diversas reflexões entorno do fenômeno bullying. A fim de ser um

profissional com consistência teórica para contribuir com a política antibullying

na escola.

4.1 CONSEQUÊNCIAS NO RENDIMENTO ESCOLAR

Tanto o bullying direto, como o indireto geralmente afetam

significativamente o rendimento escolar do estudante podendo levá-lo ao

fracasso. Segundo Charlot, (2000, p.24) “é verdade que o fracasso escolar tem

alguma relação com a desigualdade social. Mas isso não permite, em absoluto,

dizer que a origem social é a causa do fracasso escolar”. Pois, varias crianças

de classe social menos favorecida conseguem concluir seus estudos e

ingressar no mercado de trabalho, altamente competitivo, no caso do sistema

capitalista.

A escola por vezes avalia o estudante não visando os vários aspectos

que podem influenciar nas possíveis causas que levam a queda do rendimento

escolar, se eximindo, por vezes de suas possíveis falhas. Dessa forma, Sousa

(1995, p.113) pontua que “a avaliação do rendimento escolar é uma atividade

45

socialmente determinada.” Em que cabe a escola o acompanhamento

educacional do estudante.

Em escolas contemporâneas é notório o índice de aproveitamento das

disciplinas, quando se trata de rendimento escolar, não visando outros

aspectos que possam influenciar nos resultados. E a aprendizagem passa a

ser evidenciada pelo sucesso ou fracasso no caso do rendimento escolar. Para

Charlot (2000, p.16) “o fracasso escolar não existe; o que existe são alunos

fracassados, situações de fracasso, histórias escolares que terminam mal”.

Situações essas que podem ser consideradas, analisadas e modificadas por

não serem uma condição permanente e sim momentânea de fracasso

estudantil. Cada história escolar é singular, que contempla todo um contexto

que pode propiciar a queda do rendimento escolar em sua avaliação

quantitativa, pois:

A analise se defronta com uma dificuldade particular: a noção de fracasso escolar remete para fenômenos designados por uma ausência, uma recusa, uma transgressão – ausência de resultados, de saberes, de competência, recusa de estudar, transgressão das regras... (CHARLOT, 2000, p.17)

Vale destacar como agravante que o bullying pode levar ao fracasso

escolar como uma condição permanente. E não um estado de fracasso

momentâneo em que a vítima pode chegar até a duvidar de sua capacidade de

aprender, sendo que pode levar a situações de revolta, abandono da escola ou

até em situações extremas ao homicídio e ou suicídio.

O estudante nesta situação de bullying pode ter uma queda significativa

nos estudos e até a se recusar a fazer os trabalhos devido a falta de estímulos,

devido a níveis elevados de estresse e dificuldades de concentração. Pois, a

escola acaba se tornando um ambiente cada vez mais hostil para ele, em

virtude do bullying ser de natureza velada e por isso mesmo repetitiva ficando

difícil sua identificação. Além de outros fatores como: conhecimento necessário

no desempenho das avaliações e a falta dos recursos materiais por vezes

extorquidos pelo agressor ou agressores agravando a situação.

46

O processo de avaliação de uma boa parte das escolas ainda esta

sendo arcaico. Que geralmente direciona a culpa do baixo rendimento tão

somente ao educando, com uma avaliação meramente tradicional, excludente,

que responsabiliza o estudante como o único culpado por seus fracassos.

Diante do exposto acima, é fundamental que o pedagogo, em sua

prática pedagógica, afirme a necessidade da criação da política antibullying no

ambiente escolar. Monitorando o desempenho acadêmico do estudante frente

aos contextos e manifestações do bullying.

4.2 FAMÍLIA E ATUAÇÃO ANTIBULLYING

Receber apoio da família é fundamental para que a vítima de bullying

consiga aos poucos compreender o que esta acontecendo na escola, entender

o quanto ela é importante e amada e de que não esta sozinha em meio a tanta

violência cotidiana.

O amor e o respeito dos pais para com seus filhos é fundamental nesta

hora. Para que eles não internalizem tais agressões, conseguindo proteger o

seu emocional. Pois, alguns pais se limitam em culpar as crianças e

simplesmente deixam que elas resolvam os problemas com o bullying

sozinhas. Para Carpenter e Ferguson (2011,p.127) as vítimas “conseguem

superar e evitar problemas com o bullying quando recebem apoio adequado

em seu lar” ou seja, a criança e o adolescente vítima precisam receber mais

atenção, carinho, segurança e amor do que vem recebendo normalmente. Para

que se recupere psicologicamente, emocionalmente e até fisicamente mais

rápido.

O fato de verbalizar esse amor que os pais sentem, neutraliza o poder

destrutivo de frases como: “ninguém gosta de você” ou “não comente nada

porque ninguém vai te ajudar”.

Estimular o filho a fazer amizades, aumenta a sensação de não estar

sozinho pelos conselhos compartilhados, companheirismo, carinho, atenção

que ajudam a diminuir o sofrimento causado pelo impacto do bullying.

47

Para os autores “se o bullying não conseguir afetar a autoestima e a

segurança do seu filho, não poderá fazer mal a ele em longo prazo” (p.127).

Justificável por Chalita (2008,p.165) quando comenta que é na família que “a

criança e o adolescente vão suprir sua necessidade de amor, de valorização,

de limites e de coerência. Valores que contribuem para o desenvolvimento de

habilidades de autodefesa e auto-afirmação.” propiciando um bom

desenvolvimento emocional da criança. O autor afirma que “é fundamental

considerar que os pais são os principais modelos de identificação dos filhos”

(p.166). Que esta aprendendo o tempo todo principalmente pelos exemplos

presenciados em casa, e pela forma em que são notados e tratados pelos

seus genitores.

Cabe aos pais serem atenciosos com seus filhos. Silva (2010, p.171)

afirma que “é imprescindível que os pais encontrem tempo para uma

convivência saudável com seus filhos, estabelecendo um diálogo permanente

sobre suas vidas, dúvidas, angústias, expectativas e o universo ao seu redor.”

É tratar eles com a devida atenção, dar de si mesmo, de sua companhia. É ser

um amigo para seu filho, alguém que ele possa confiar. Assim, pode-se dizer

que é importante “reservar um espaço para que, de uma forma franca e

transparente, possam expressar seus sentimentos e pensamentos a respeito

deles” (p.171). Que deve acontecer quando o diálogo é permeado de respeito e

confiança.

Destaca a autora, que é fundamental “antes de repreender os filhos é

preciso ouvi-los com sincera disposição de ajudá-los” (p.171). Para isto, os pais

precisam ter um relacionamento amigável com eles. Uma relação em que se

reconhece verbalmente e com atitudes os acertos e qualidades do filho,

fortalecendo assim sua autoconfiança. Pois, ”somente os jovens que possuem

confiança em si e apoio de seus familiares conseguem, quando vitimados,

romper o silêncio que alimenta o bullying e denunciar seus agressores” (p.171).

Que é essencial para a resolução do problema bullying.

Assim a autora afirma que “as soluções mais eficazes ocorrem quando

se estabelece uma parceria que envolve a escola, os pais dos jovens vítimas e

os pais dos autores de maus-tratos” (p.173). Pois, se os pais das vítimas

48

tentarem resolver o problema sozinhos tentando intimidar o agressor,

procurando os pais dos mesmos ou encorajando o revide dos próprios filhos

não surtirá bons efeitos. Porque “essas atitudes de contra-ataque só tendem a

agravar o problema, potencializando a violência entre os estudantes” (p.173).

Dificultando a solução dos conflitos.

O mais indicado é recolher provas, ex: bilhetes com ofensas, mensagens

de email intimidadores e humilhantes. Enfim, todos os tipos de provas cabíveis

e procurar a direção da escola e expor o problema. A autora recomenda a

leitura da legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). E explica

que “Dessa maneira todos podem se informar, orientar e refletir sobre seus

atos e comportamentos bem como as consequências que deles podem surgir”

(p.167).

Caso a escola não tenha uma política antibullying, neguem o fato ou não

se disponha em ajudar, é aconselhado: “buscar auxilio de outros profissionais

ou de instituições comprometidas com a proteção integral de crianças e

adolescentes” (p.167). O Conselho Tutelar poderá dar o suporte inicial de

orientação a alunos e a seus familiares. Pois, o Estatuto da Criança e

Adolescente prevê “de forma clara, medidas protetivas e socioeducativas a

jovens (menores de 18 anos) que cometam atos infracionais” (p.168).

Os pais ou responsáveis podem fazer o registro da ocorrência em uma

delegacia. Através de um boletim de ocorrência no caso de difamação ou

injúria, calúnia, agressão física (lesão corporal), mostrando as provas

impressas no caso do ciberbullying, bilhetes maldosos recebido pelo filho e

apresentar testemunha (s).

É importante os pais procurarem ajuda de especialista nos casos mais

graves. A autora esclarece que “se a escola não informar ao Conselho Tutelar,

poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos

infracionais (ou ilícitos), a escola também tem o dever de fazer a ocorrência

policial” (p.168). Sendo assim, haverá a devida averiguação dos fatos e os

culpados responsabilizados por seus atos. Além de combater o crescimento da

impunidade e da violência com jovens que precisam da devida orientação com

49

medidas socioeducativas terão a devida atenção. As ocorrências registradas

contribuirão para pesquisas e elaboração de políticas públicas e futuras leis

contra o bullying.

No Brasil existe um Projeto de Lei (nº 228 de 2010) do senador Gim

Argello (PTB-DF), de acordo a ementa, o Projeto:

Altera a Lei nº 9.394 , de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional), para incluir entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino a promoção de ambiente escolar seguro e a adoção de estratégias de prevenção e combate ao bullying. (Atividade Legislativa–Projetos e Matérias, 2011)

Esta proposta foi aprovada pela Comissão de Educação do Senado no

dia 14 de junho de 2011. E caso seja aprovado pela Câmara dos Deputados, o

projeto será encaminhado para a sanção da presidente Dilma Rousseff e

poderá se tornar a primeira lei antibullying do Brasil. De caráter obrigatório, a lei

deve abranger escolas e faculdades brasileiras a utilizar estratégias contra o

bullying (combate e prevenção). Pois fará parte das normas que rege a nova

LDB, mediante o acréscimo da ementa já citada. Como está em tramitação

ainda no Congresso, é necessário que os pedagogos acompanhem a

promulgação pela presidente Dilma Rousseff, para um processo de subsidiar a

escola em sua pratica profissional.

4.3 CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS DO BULLYING

As vítimas do bullying são as que mais sofrem com essa violência, que

por ser repetitiva e se apresentar das mais variadas formas geram

consequências negativas. Porém, todos os envolvidos são afetados em maior

ou menor grau a depender do tempo em que se exponham (de forma ativa ou

passiva) ao bullying.

Geralmente a vítima possui uma baixa autoestima que se torna mais

grave devido às perseguições do bullying. Silva (2010, p.25) afirma que a

vitima “pode abrir quadros graves de transtornos psíquicos e/ou

50

comportamentais que, muitas vezes trazem prejuízos irreversíveis”. Refletidos

em praticamente todos os aspectos de sua vida. A vítima poderá sobrepujar o

trauma ou não, o que para Fante (2005, p.79) vai depender “das características

individuais de cada vítima, bem como da sua habilidade de se relacionar

consigo mesma, com o meio social e, sobretudo, com a sua família”.

O bullying, se prolongado proporciona uma carga de estresse muito

grande as suas vítimas, que geralmente tem muita dificuldade de relaxar. Pois,

precisam ficar alerta o tempo todo tentando se defender dos ataques e acabam

sofrendo de esgotamento emocional, absorvendo a tristeza, a raiva com

tendência a se isolar das pessoas. Sendo que o isolamento dá margem ao

aumento dos ataques dos bullies ou agressores.

Carpenter e Ferguson descrevem os sintomas da vítima, que acaba se

tornando:

Mal humorada e retraída; deprimida e irritada; propensa a ter ataques subtos de raiva; estranha, agindo de maneira diferente;excessivamente emotiva, ansiosa, triste e reservada; desanimada,demonstrando baixa autoestima (pode dizer frases negativas sobre si mesma como “sou idiota” ou não sirvo para nada”); preocupada em excesso com a própria segurança; suicida em potencial (fala sobre morte, dizer que gostaria de estar morta, começar a se desfazer de objetos, perde o interesse por tudo e de repente demonstrar alegria, o que pode significar que decidiu dar cabo da própria vida e está feliz com sua decisão). (CARPENTER E FERGUSON, 2011, p.123)

A vítima começa a perder o ânimo pela vida. Tal situação é preocupante,

visto que a pessoa apresenta dificuldade de estabelecer rede de relações

sociais. E futuramente, como salientam os estudiosos, podem desenvolver

quadro de depressão.

A depressão não é simplesmente um momento de melancolia, para Silva

(2010) “trata-se de uma doença que afeta o humor, os pensamentos, a saúde e

o comportamento” (p.28). E tem como principais sintomas: tristeza constante,

sentimento de culpa, dificuldade de concentração, insônia, perda ou aumento

de apetite, ideias ou tentativas de suicídio, irritabilidade, inquietação, sensação

51

de desânimo, desamparo, dificuldade de tomar decisões, excesso de sono e

pessimismo. Com o passar do tempo a vítima fica susceptível a desenvolver

quadros de fobia escolar, transtorno do pânico, bulimia e anorexia.

Entre outros infortúnios, a fobia escolar está entre um dos principais

problemas que geralmente pode se desenvolver em uma vítima de bullying

prolongado. É um veemente medo de frequentar a escola, e que causa

problemas de aprendizagem-assimilação dos conteúdos, repetência(s) de ano

pelas faltas frequentes as aulas e até mesmo pode levar a vítima a abandonar

de vez a escola.

Quem sofre de fobia escolar “passa a apresentar diversos sintomas

psicossomáticos e todas as reações do transtorno do pânico, dentro da própria

escola” (p.26). Ou seja, é muito difícil e doloroso a permanência no ambiente

onde sofreu os ataques, pois as lembranças aterrorizantes do bullying, para

quem se encontra com fobia escolar, proporciona uma sensação “asfixiante”,

ou seja um desconforto emocional mesmo estando acompanhada. É como se

lembrar fosse viver novamente os acontecimentos passados.

Quanto ao transtorno do pânico a autora afirma que “o indivíduo é

tomado por uma sensação enorme de medo e ansiedade, acompanhada de

uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios, boca seca, dilatação da

pupila, suores etc.), sem razão aparente” (p.26). O transtorno de pânico é uma

das maiores aflições vivenciadas por uma pessoa. E que tem duração média

de 20 a 40 minutos. A sensação vivenciada pelo indivíduo é de

enlouquecimento, de um ataque cardíaco ou de que se vai morrer

iminentemente.

Quando as vítimas de bullying são adolescentes elas podem estar

vulneráveis não só ao transtorno de pânico, mais também estão propensas a

desenvolver transtornos alimentares, na tentativa de cessar os ataques

motivados por apelidos pejorativos, como por exemplo: baleia, manilha, que

podem estimular a bulimia e/ou anorexia nervosa em indivíduos em formação.

Isto pode acontecer pelo o que Cury (2011, P.161) afirma ser o “padrão tirânico

e exclusivista de beleza [que] é devastador” e excludente em nossa sociedade.

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Como descreve Silva (2010, p.38) em que as vítimas “apresentam

alguma “marca” que as destaca da maioria dos alunos: são gordinhas ou

magras demais...” a anorexia nervosa é o “pavor descabido e inexplicável que

a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua imagem corporal”

(p.38). Ou seja, que mesmo visualmente magras imaginam estar acima do

peso, pois pretendem satisfazer os padrões socioculturais midiáticos, com

rígidos regimes alimentares. A anorexia pode levar a morte principalmente pela

desnutrição e desidratação.

A bulimia também é um problema de distorção da própria imagem. Em

que o medo é tão grande de engordar caracterizado como “ingestão

compulsiva e exagerada de alimentos, geralmente muito calóricos, seguida por

um enorme sentimento de culpa em função dos “excessos” cometidos” (p.29).

A ansiedade e impulsividade é o que podem levar geralmente uma

garota a comer compulsivamente. E tem como consequência um forte

sentimento de culpa na tentativa de eliminar tais alimentos através de

diuréticos, laxantes e o mais comumente usado os vômitos auto induzidos.

Tanto a bulimia quanto a anorexia são doenças graves que fogem do

controle de quem sofre dessas patologias. E que precisam de diagnósticos

para terem os tratamentos adequados e com o devido acompanhamento

psicológico.

As consequências do bullying a longo prazo e a superação dos traumas

decorrentes deste tipo de violência variam de pessoa para pessoa. Depende do

nível de resiliência desenvolvido por ela e do apoio que possa receber dos

pais, responsáveis; de como a escola vê e trabalha este assunto; do nível de

comprometimento dos professores e até da abertura da comunidade em

entender e dialogar sobre o bullying. Fante afirma que:

A não-superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que

para buscar sua auto-superação. (FANTE, 2005, p.79)

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Então, a vítima tenderá a mudar seu comportamento para atender ao

padrão estabelecido pelo bullie ou agressor, no intuito de cessar os ataques.

Atitude esta que geralmente não surtirá os resultados esperados e aumentará

os problemas. Pois, a vítima tenderá a não buscar a ajuda necessária em

curto prazo, para resolver os conflitos intensificados pelas agressões

recorrentes, proveniente do bullying. Silva (2010,p.25) afirma que o bullying

“agrava o problema preexistente, assim como pode abrir quadros graves de

transtornos psíquicos e/ou comportamentais que, muitas vezes, trazem

prejuízos irreversíveis” principalmente no bullying a longo prazo.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar o fenômeno bullying pode-se perceber que o bullying se

manifesta nas suas mais variadas formas em qualquer ambiente, no caso da

pesquisa, no ambiente escolar. Constatou-se teoricamente que nem toda

violência é bullying. Ele ocorre quando há desequilíbrio de poder entre as

partes, e de forma repetitiva, no qual a vítima se sente ameaçado

constantemente, proporcionando elevado índice de estresse. Nota-se que

apesar do fenômeno ser mundial, nem todas as escolas dão a devida

importância ao problema. Desconhecem medidas de prevenção e combate

para uma política antibullying. Mereceu destaque na pesquisa os motivos que

tornam crianças em bullies. Tais como o condicionamento social pelo estilo

permissivo e o estilo autoritário de educação.

No que se refere aos tipos de bullying, pode-se dizer que ajuda aos

pedagogos a uma ação mais consciente. Com a intenção de assegurar ao

educando o direito a vida, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência

em comunidade. A intenção é esclarecer o assunto, a fim de que se possa

traçar um mapa, para melhor visualização da violência e para a devida

intervenção no ambiente escolar.

No que tange o histórico do bullying no Brasil, o fenômeno começou a

ser estudado em 1997, e se faz presente em nossas escolas com índices

superiores aos apresentados em paises europeus. O estudo identificou que

existe um movimento visando a conscientização geral que engloba programas

para identificá-lo e combatê-lo, em nome de uma educação pacificadora,

estimulando a debates públicos sobre o bullying e estratégias para a atuação

nas escolas.

Acredita-se que o estudo do referencial teórico sobre os tipos de bullying

facilitam a compreensão dos personagens, além de contribuir com a criação da

política antibullying norteada por princípios de que cada criança seja tratada

com dignidade e respeito.

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Para que haja uma política antibullying é preciso uma escola aberta a

comunidade, democrática em suas decisões para então se construir uma

cultura de paz. Todos os profissionais de educação devem se unir e se

capacitar para diagnosticar o fenômeno, bem como conhecer estratégias de

intervenções e prevenções.

Diante disso, entende-se que as intervenções podem ser feitas com

redações diagnósticas, palestras e temas com reflexões que enfatizem valores

humanos. Promovendo pesquisas, discutir a questão do bullying e avaliar como

todos se sentem. Enfim, ter por base um programa de prevenção que já tenha

se mostrado eficaz em outras escolas, com iniciativas para minimizar as

agressões através de estratégias de prevenções e ação focada em três

objetivos: neutralizar os agressores, auxiliar e proteger as vítimas e transformar

os espectadores em aliados.

O professor deva tratar todos da mesma forma e criar regras gerais de

conduta em sala com os próprios alunos. Juntamente com atitudes de

supervisão redobrada das áreas de risco pelo revezamento de professores ou

funcionários. E através de câmeras de segurança ajudam a minimizar o

problema.

No que tange a família é relevante que esta tenha um bom

relacionamento com o filho. Dando carinho, segurança, amor, e se

interessando pelo o seu dia a dia e estimulando-o a fazer amizades para que

ele rompa o silêncio que alimenta o bullying. Quando constatado os conflitos,

os pais devem recolher provas e procurar a direção da escola para expor o

problema. É preciso que os pais da vítima estabeleçam com a escola e com os

pais dos agressores uma parceria para se iniciar a resolução do problema.

Sugere-se com esse estudo que a família se empenhe em conhecer o

conteúdo do Estatuto da Criança e Adolescente, a fim de manter-se informado

e conhecedor dos preceitos legais. Caso a escola não tenha uma política

antibullying, é aconselhável fazer o registro da ocorrência nas delegacias e

buscar auxilio profissional e de instituições como o Conselho Tutelar.

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A importância da escola como mediadora do conhecimento e na

resolução de conflitos que permeiam suas relações, intensifica dessa forma

seu interesse no desenvolvimento afetivo e social de seus educandos.

Procurando minimizar problemas comuns como: dificuldade de adaptação a

regras sociais, dificuldade de empatia entre estudantes, a valorização da

conduta violenta, autoritárias, abusivas e delituosas. Propondo regras de

convivência e prevenindo o bullying com a formação de grupos de apoio e

atividades de aprendizado cooperativo entre os alunos. E palestras com a

comunidade tentando orientar e ajudar aos estudantes que se encontram

envolvidos no bullying. Para que os educandos não desenvolvam futuramente

condutas delituosas como o assédio moral e até mesmo violência doméstica.

Além disso, para que seja possível identificar quais os principais

problemas que os envolvidos enfrentam, mais especificamente as vítimas, tais

como: ansiedade, aflição, insegurança, irritabilidade, em casos mais graves até

pensamentos suicidas e/ou homicidas. Para devidas intervenções da escola

em trabalho de conscientização em conjunto com professores, direção,

coordenadores, funcionários, educandos, família e a comunidade em geral.

Finalmente a criação de uma política antibullying tem que estar alinhada

ao Projeto Político Pedagógico da escola. É criar um programa sobre medida

para a realidade escolar. Com metas a serem planejadas e executadas para

combater as consequências nefastas no campo emocional e no rendimento

acadêmico. Tais ações deverão ser acompanhadas por profissionais, tais

como: professor, orientador, coordenador, diretor, familiares, psicólogos,

assistente social. Constituindo assim uma força tarefa de enfrentamento ao

quadro da violência no ambiente escolar.

PERSPECTIVAS FUTURAS

A situação é tão agravante no Brasil que já existe no Senado Federal

uma mobilização a fim de tratar o fenômeno com responsabilidade. A comissão

de Educação do Senado aprovou no dia 14 de junho de 2011 um Projeto de Lei

de número 228 de 2010 do senador Gim Argello (PTB-DF), que será analisado

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pela Câmara dos Deputados. Há perspectivas de que sendo aprovado pelo

senado, o projeto seguirá direto para a sanção da presidente Dilma Rousseff,

tornando-se a primeira lei antibullying do país.

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