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EDIÇÃO 16 Leonel Dias Espírito Santo PIS E COFINS NOVAS PERSPECTIVAS DE APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS SEGUNDO ENTENDIMENTO DO CARF E TRF Como sabemos, com a vigência das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, as contribuições para o PIS e a COFINS passaram a ser apuradas pelo regime não-cumulativo para as pessoas jurídicas optantes pelo regime de apuração pelo Lucro Real, ou seja apura-se o valor das Receitas (débitos) menos o valor das entradas das mercadorias consumidas na empresa (créditos), e sobre a diferença aplica-se uma alíquota de 1,65% para o PIS e de 7,60% para a COFINS. A RFB tem como entendimento que somente os insumos como matéria prima, material de embalagem e material intermediário aplicados no processo produtivo da empresa dão direito ao crédito na apuração das devidas contribuições, utilizando-se do mesmo critério aplicado na apuração do IPI. Ocorre, porém que o IPI incide apenas na industrialização de produtos, por isso a restrição aos créditos utilizados no processo de industrialização. No caso do PIS e da COFINS, os mesmos incidem sobre a totalidade das receitas auferidas pela atividade desenvolvida pela empresa, assim todos os gastos e despesas efetuados pela empresa no desenvolvimento de suas atividades devem dar direito à apropriação dos respectivos créditos, pois no caso de restrição dos mesmos por parte do Fisco, a não-cumulatividade introduzida pela legislação acima apontada teria o mero efeito de elevar as alíquotas dessas contribuições, o que transferiria para o legislador ordinário, matéria de conteúdo de previsão constitucional, ferindo a hierarquia das normas. Os Contribuintes se deparam ainda com grande dificuldade em apurar esses créditos, uma vez que o rol contido no artigo 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 apresenta em seus incisos diversos pontos que podem ser interpretados de maneiras diferentes. Para tentar dirimir essas divergências, recentes decisões têm sido proferidas na esfera administrativa, através de respostas a consultas formuladas a MF/SRF ou em recursos julgados pelo CARF, que tem entendido de forma mais ampla o conceito dos créditos que são permitidos sua apropriação, permitindo aos contribuintes que formulam a consulta a apropriação de alguns créditos que não constam de forma explicita nesse rol do artigo 3º. Como exemplo a Solução de Consulta nº. 145 de 21 de Setembro de 2012 que autoriza a apropria- ção de créditos provenientes de despesas com avaliação da conformidade de produtos industrializados IMMETRO – “Os custos incorridos relativos à aquisição de serviços ligados à avaliação da conformidade de produtos industrializados, decorrentes de exigências legais, podem compor a base de cálculo dos créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep.” Sobre esse novo entendimento, a 2ª Turma da 2ª Câmara do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ao apreciar o Recurso Voluntário interposto por Móveis Ponzani Ltda no processo administrativo nº. 11020.001952/2006- 22, por unanimidade, alargou o conceito dos insumos que geram o direito aos créditos de PIS e COFINS na modalidade não-cumulativa. Segue os termos da decisão: “É de se concluir, portanto, que o termo ‘insumo’ utilizado para o cálculo do PIS e da COFINS não cumulativos deve necessariamente compreender os custos e despesas operacionais da pessoa jurídica, na forma definida nos artigos 290 e 299 do RIR/99, e não se limitar apenas ao conceito trazido pelas Instruções Normativas nº. 247/02 e 404/04 (embasadas exclusiva- mente na (inaplicável) legislação do IPI).” O judiciário, através do TRF - Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por meio do acórdão prolatado no julgamento da Apelação Cível nº. 0029040- 40.2008.404.7100/RS, seguiu o entendimento do CARF que ampliou o conceito de insumos para a sistemática não cumulativa do PIS e da COFINS, dando procedência ao pedido do contribuinte. Mais recentemente, o Relator Juiz Federal Leandro Paulsen do TRF da 4ª Região ao julgar a Apelação Cível nº. 0000007- 25.2010.404.7200/SC também proferiu acórdão em favor do contribuinte, seguindo o entendimento de amplitude do direito aos créditos, vejamos um dos pontos do acórdão: “ 5. O rol de despesas que enseja creditamento, nos termos do art. 3º das Leis 10.637/02 e 10.833/03, possui caráter meramente exemplifi- cativo. Restritivas são as vedações expressamen- te estabelecidas por lei.” Por fim, apresentamos acima, um novo entendimento que vem se formando nas esferas superiores administrativas e na esfera judiciária, assim, é recomendável a realização de uma revisão quanto aos procedimentos fiscais adotados pelo contribuinte, pois os contribuintes que não revisarem sua metodologia de apuração dos créditos das referidas contribuições, para a adequação a este novo posicionamento jurisprudencial estarão perdendo competitivida- de no mercado, frente às empresas que adotam a revisão periódica de suas apurações fiscais e conseguem identificar possível redução da carga tributária no planejamento futuro, ou ainda o levantamento de créditos com direito ao ressarcimento junto as SFR, referente aos fatos geradores dos últimos 05 (cinco) anos, proporcionando as empresas um bom retorno financeiro. Valor Econômico Legislação e Tributos

EDIÇÃO 16 PIS E COFINS - Innocenti Advogados Associados · 2019-09-16 · EDIÇÃO 16 Leonel Dias Espírito Santo PIS E COFINS – NOVAS PERSPECTIVAS DE APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS

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EDIÇÃO 16

Leonel Dias Espírito Santo

PIS E COFINS – NOVAS PERSPECTIVAS DEAPROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS SEGUNDO

ENTENDIMENTO DO CARF E TRF

Como sabemos, com a vigência das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, as contribuições para o PIS e a COFINS passaram a ser apuradas pelo regime não-cumulativo para as pessoas jurídicas optantes pelo regime de apuração pelo Lucro Real, ou seja apura-se o valor das Receitas (débitos) menos o valor das entradas das mercadorias consumidas na empresa (créditos), e sobre a diferença aplica-se uma alíquota de 1,65% para o PIS e de 7,60% para a COFINS.

A RFB tem como entendimento que somente os insumos como matéria prima, material de embalagem e material intermediário aplicados no processo produtivo da empresa dão direito ao crédito na apuração das devidas contribuições, utilizando-se do mesmo critério aplicado na apuração do IPI. Ocorre, porém que o IPI incide apenas na industrialização de produtos, por isso a restrição aos créditos utilizados no processo de industrialização.

No caso do PIS e da COFINS, os mesmos incidem sobre a totalidade das receitas auferidas pela atividade desenvolvida pela empresa, assim todos os gastos e despesas efetuados pela empresa no desenvolvimento de suas atividades devem dar direito à apropriação dos respectivos créditos, pois no caso de restrição dos mesmos por parte do Fisco, a não-cumulatividade introduzida pela legislação acima apontada teria o mero efeito de elevar as alíquotas dessas contribuições, o que transferiria para o legislador ordinário, matéria de conteúdo de previsão constitucional, ferindo a hierarquia das normas.

Os Contribuintes se deparam ainda com grande dificuldade em apurar esses créditos, uma vez que o rol contido no artigo 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 apresenta em seus incisos diversos pontos que podem ser interpretados de maneiras diferentes. Para tentar dirimir essas divergências, recentes decisões têm sido proferidas na esfera administrativa, através de respostas a consultas formuladas a MF/SRF ou em recursos julgados pelo CARF, que tem entendido de forma mais ampla o conceito dos créditos que são permitidos sua apropriação, permitindo aos contribuintes que formulam a consulta a apropriação de alguns créditos que não constam de forma explicita nesse rol do artigo 3º.

Como exemplo a Solução de Consulta nº. 145 de 21 de Setembro de 2012 que autoriza a apropria-ção de créditos provenientes de despesas com avaliação da conformidade de produtos industrializados IMMETRO – “Os custos incorridos relativos à aquisição de serviços ligados à avaliação da conformidade de produtos industrializados, decorrentes de exigências legais, podem compor a base de cálculo dos créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep.”

Sobre esse novo entendimento, a 2ª Turma da 2ª Câmara do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ao apreciar o Recurso Voluntário interposto por Móveis Ponzani Ltda no processo administrativo nº. 11020.001952/2006-22, por unanimidade, alargou o conceito dos insumos que geram o direito aos créditos de PIS e COFINS na modalidade não-cumulativa.

Segue os termos da decisão: “É de se concluir, portanto, que o termo ‘insumo’ utilizado para o cálculo do PIS e da COFINS não cumulativos deve necessariamente compreender os custos e despesas operacionais da pessoa jurídica, na forma definida nos artigos 290 e 299 do RIR/99, e não se limitar apenas ao conceito trazido pelas Instruções Normativas nº. 247/02 e 404/04 (embasadas exclusiva-mente na (inaplicável) legislação do IPI).”

O judiciário, através do TRF - Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por meio do acórdão prolatado no julgamento da Apelação Cível nº. 0029040-40.2008.404.7100/RS, seguiu o entendimento do CARF que ampliou o conceito de insumos para a sistemática não cumulativa do PIS e da COFINS, dando procedência ao pedido do contribuinte.

Mais recentemente, o Relator Juiz Federal Leandro Paulsen do TRF da 4ª Região ao julgar a Apelação Cível nº. 0000007-25.2010.404.7200/SC também

proferiu acórdão em favor do contribuinte, seguindo o entendimento de amplitude do direito aos créditos, vejamos um dos pontos do acórdão: “ 5. O rol de despesas que enseja creditamento, nos termos do art. 3º das Leis 10.637/02 e 10.833/03, possui caráter meramente exemplifi-cativo. Restritivas são as vedações expressamen-te estabelecidas por lei.”

Por fim, apresentamos acima, um novo entendimento que vem se formando nas esferas superiores administrativas e na esfera judiciária, assim, é recomendável a realização de uma revisão quanto aos procedimentos fiscais adotados pelo contribuinte, pois os contribuintes que não revisarem sua metodologia de apuração dos créditos das referidas contribuições, para a adequação a este novo posicionamento jurisprudencial estarão perdendo competitivida-de no mercado, frente às empresas que adotam a revisão periódica de suas apurações fiscais e conseguem identificar possível redução da carga tributária no planejamento futuro, ou ainda o levantamento de créditos com direito ao ressarcimento junto as SFR, referente aos fatos geradores dos últimos 05 (cinco) anos, proporcionando as empresas um bom retorno financeiro.

Valor EconômicoLegislação e Tributos

Page 2: EDIÇÃO 16 PIS E COFINS - Innocenti Advogados Associados · 2019-09-16 · EDIÇÃO 16 Leonel Dias Espírito Santo PIS E COFINS – NOVAS PERSPECTIVAS DE APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS

A Medida Provisória 540 de 2011, também convertida em lei, caso venha a recolher pela retificar as devidas declarações, gerando créditos chamada de Plano Brasil Maior, trouxe em seu alíquota máxima, passará a pagar R$ 12.500,00. que poderão ser utilizados para pagamento dos bojo a desoneração da folha de pagamento para A diferença entre a forma antiga de recolhimento e valores posteriores de imposto.alguns setores, todavia, desatentou-se ao fato de a nova forma pode ser ainda mais significativa que para algumas empresas desses setores a dependendo da empresa. Esse prejuízo ocorrerá referida medida pode ter onerado ao invés de em empresas com alto faturamento e que não desonerado. necessitam de um elevado número de funcionários.O plano prevê a substituição da Contribuição Se o Plano previsse a possibilidade de as empresas Patronal Previdenciária (CPP) de 20% pela optarem ou não pela aderência, seria mais justo, contribuição de 1,5% ou 2,5% sobre a receita mas não é o caso, portanto é possível discutir sua bruta auferida por determinadors seguimentos. aplicação judicialmente.Entre os seguimentos beneficiados estão as A Medida Provisória 563 de 2012, amplia a indústrias de confecções, couro e calçados, TI e desoneração para outros setores, como o de Call Center. serviços, que eventualmente podem sofrer Dentre esses seguimentos, empresas de TI onerações, que deverão ser avaliadas caso a caso.principalmente podem ser prejudicadas, senão Com relação à forma de contribuição previdenciá-vejamos. Uma empresa constituída por 30 ria, ou seja, 20% sobre a folha de pagamento deve-funcionários, com uma média salarial de R$ se atentar que diversas verbas que não deveriam 1.800,00, e um faturamento de R$ 500.000,00. No ser incluídas na base de cálculo podem ter sido sistema antigo, a empresa pagaria R$ 10.800,00. incluídas, gerando desta forma um pagamento Por conta da referida Medida Provisória, já indevido / ou a maior de INSS, sendo possível

Conselho Editorial: Marco Antonio Innocenti, Ricardo Innocenti e Ana Regina G. Innocenti.

Endereço: Rua Líbero Badaró, 377 – 23º andar. Cep 01009-906, São Paulo, SP

Fone: (11) 3291-3355 – Fax: (11) 3105-5232

e-mail: [email protected] - site: www.innocenti.com.br

Redação: Innocenti Advogados Associados - Projeto Gráfico e Diagramação: Art Graphic - 11 4223-3980

Os textos desta publicação são de responsabilidade do Conselho Editorial e têm fins meramente

informativos, não devendo ser considerados como orientação jurídica ou opinião legal.

Tiragem: 1.200 exemplares.

O regime de substituição tributária, ou seja, a Vejamos alguns dos principais pontos causadores • Ressarcimento nos casos em que se comprove antecipação de imposto encontra amparo no artigo de dúvidas aos contribuintes: que na operação final com mercadoria ou serviço 150, parágrafo 7°, da Constituição Federal de 1988. ficou configurada obrigação tributária de valor • Apuração do Estoque (quais mercadorias Trata-se de uma forma de arrecadação, que inferior à presumida (válido para fatos geradores devem ser consideradas), como calcular o IVA, substitui a responsabilidade pelo pagamento do até 12/2008).momento do recolhimento, etc; tributo. O substituto tributário paga o tributo

Por fim, apresentamos acima, apenas alguns temas • Falta de consenso entre os Estados sobre os devido pela operação do substituído, antecipando o objeto de dúvidas por parte da maioria dos produtos que estão sujeitos a esse regime de recolhimento aos cofres públicos.contribuintes causados pela complexidade imposta tributação, bem como sobre as margens de valor

A princípio, a substituição seria utilizada como pelo fisco, que na maioria das vezes se transfor-agregado (MVA) e forma de cálculo do mesmo, instrumento de fiscalização no caso de itens em que mam em divergências na apuração e escrituração causando aos contribuintes constantemente, existe uma alta concentração na produção e do tributo por parte da empresa. verdadeiras barreiras entre Estados, onde o fisco dispersão na distribuição como, por exemplo, exige o recebimento antecipado do imposto.

Assim, é recomendável a contratação de bons bebidas, ou em itens de alto valor como veículos.

• Forma de cálculo na aplicação da substituição especialistas para realizar uma revisão quanto aos Porém, como antecipa o recebimento do imposto

tributária em empresas optantes do Simples seja procedimentos fiscais adotados pelo contribuinte, pelos Estados e facilita a fiscalização, o sistema

como substituída ou como substituta, onde terá que pois somente assim será possível a identificação de passou a ser utilizado para qualquer tipo de produto

pagar a alíquota do produto em separado e realizar eventual passivo oculto, ou até mesmo o levanta-indistintamente.

uma contabilidade a parte. A EPP ou ME recolhe o mento de créditos com direito ao ressarcimento imposto antes de receber pelo produto, gerando a Ocorre que no dia a dia das empresas, a substitui- junto as Secretarias de Fazenda, referente aos fatos necessidade de um maior capital de giro, trazendo ção tributária, vem sendo tema de diversas dúvidas geradores dos últimos 05 (cinco) anos, proporcio-grande dificuldade para as empresas consideradas e preocupações devido a sua complexidade, pois o nando as empresas um bom retorno financeiro.de pequeno porte;contribuinte é obrigado a se sujeitar às constantes

modificações nas normas legais, na maior parte das • Como proceder ao Ressarcimento junto ao fisco vezes, interpretativos e imprecisos, o que causa quando o ICMS/ST foi pago sobre uma operação certa insegurança nos procedimentos fiscais que não ocorreu;adotados pelo contribuinte.

Leonel Dias Espírito Santo

Fabio Vasconcelos Balieiro

PLANO BRASIL MAIOR PODE PREJUDICAR AOINVÉS DE INCENTIVAR ALGUNS SETORES

O ICMS SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA E SUACOMPLEXIDADE

Opinião - , eDCI