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22/09/2012 Por: Vitor Emmanuel Nogueira. Traumatismo Cranioencefálico (TCE) Introdução O TCE é responsável por pelo menos 50% das mortes associadas ao trauma. A presença de TCE é o principal determinante isolado de mortalidade nestes pacientes. A população jovem, com idade entre 15 e 24 anos, é o grupo mais acometido pelo TCE. O sexo masculino supera o feminino em incidência Os traumas relacionados com transporte (acidentes automobilísticos e atropelamento) são as causas mais comuns de TCE, representando mais da metade das lesões graves (Glasgow 3-8) e dos óbitos. Outras causas incluem quedas (crianças e idosos), violência interpessoal e trauma associado a atividades esportivas e recreacionais. Anatomia dos Envoltórios do SNC Da porção mais externa, podemos identificar 3 camadas que envolvem o encéfalo e o tronco cerebral: couro cabeludo, crânio e meninges. O couro cabeludo caracteriza-se por sua rica irrigação, podendo suas lacerações levar a sangramentos importantes, principalmente em crianças. O crânio pode ser dividido em duas porções: abóbada, que recobre o encéfalo, e a base. A abóbada é mais fina nas regiões temporais, o que explica seu frequente envolvimento nas fraturas de crânio. Linhas de fratura na região temporal devem chamar atenção para possível lesão associada da artéria meníngea média, causadora do hematoma extradural. Já a base é firme e áspera, ocasionando lesões por meio de movimentos de aceleração e desaceleração, comuns no TCE. As meninges constituem o revestimento mais interno. São formadas por três camadas: dura- máter, aracnóide e pia-máter. A dura-máter é constituída por dois folhetos de tecido conjuntivo denso, um em contato com o periósteo craniano e outro com a aracnóide. Em algumas regiões, como por exemplo, na parietal, o folheto externo encontra-se frouxamente aderido à tábua interna do crânio, facilitando o acúmulo de sangue nesta topografia, formando o hematoma extradural, ou epidural. Já o folheto interno, em alguns pontos, forma dependências que determinam compartimentos neste espaço, como a foice do cérebro, que o divide em dois hemisférios, a tenda do cerebelo ou tentório. Este delimita a loja que abriga o cerebelo e divide a cavidade craniana em duas porções: supratentorial (que compreende a fossa cerebral anterior e média) e infratentorial

Traumatismo Cranioencefálico

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Page 1: Traumatismo Cranioencefálico

22/09/2012Por: Vitor Emmanuel Nogueira.

Traumatismo Cranioencefálico (TCE)

IntroduçãoO TCE é responsável por pelo menos 50% das mortes associadas ao trauma. A presença de TCE é o principal determinante isolado de mortalidade nestes pacientes.

A população jovem, com idade entre 15 e 24 anos, é o grupo mais acometido pelo TCE. O sexo masculino supera o feminino em incidência

Os traumas relacionados com transporte (acidentes automobilísticos e atropelamento) são as causas mais comuns de TCE, representando mais da metade das lesões graves (Glasgow 3-8) e dos óbitos. Outras causas incluem quedas (crianças e idosos), violência interpessoal e trauma associado a atividades esportivas e recreacionais.

Anatomia dos Envoltórios do SNCDa porção mais externa, podemos identificar 3 camadas que envolvem o encéfalo e o tronco cerebral: couro cabeludo, crânio e meninges.

O couro cabeludo caracteriza-se por sua rica irrigação, podendo suas lacerações levar a sangramentos importantes, principalmente em crianças.

O crânio pode ser dividido em duas porções: abóbada, que recobre o encéfalo, e a base. A abóbada é mais fina nas regiões temporais, o que explica seu frequente envolvimento nas fraturas de crânio. Linhas de fratura na região temporal devem chamar atenção para possível lesão associada da artéria meníngea média, causadora do hematoma extradural.

Já a base é firme e áspera, ocasionando lesões por meio de movimentos de aceleração e desaceleração, comuns no TCE.

As meninges constituem o revestimento mais interno. São formadas por três camadas: dura-máter, aracnóide e pia-máter.

A dura-máter é constituída por dois folhetos de tecido conjuntivo denso, um em contato com o periósteo craniano e outro com a aracnóide. Em algumas regiões, como por exemplo, na parietal, o folheto externo encontra-se frouxamente aderido à tábua interna do crânio, facilitando o acúmulo de sangue nesta topografia, formando o hematoma extradural, ou epidural.

Já o folheto interno, em alguns pontos, forma dependências que determinam compartimentos neste espaço, como a foice do cérebro, que o divide em dois hemisférios, a tenda do cerebelo ou tentório. Este delimita a loja que abriga o cerebelo e divide a cavidade craniana em duas porções: supratentorial (que compreende a fossa cerebral anterior e média) e infratentorial

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(que compreende a fossa cerebral posterior). Através de um orifício existente no tentório, passam as estruturas que formam o tronco cerebral em direção à coluna vertebral.

O sistema venoso cerebral drena para os seios venosos, dentre eles o sagital (especialmente sensível ao trauma pela localização superior na linha média), que se encontra entre os folhetos da dura.

A aracnóide é formada por uma camada frouxamente aderida à dura-máter e apresenta prolongamentos digitiformes que a comunicam com a pia-máter, a camada mais interna. O líquido cefalorraquidiano (LCR) corre neste espaço, entre a aracnóide e a pia-máter. Existem pequenas veias que unem a dura à aracnóide (binding veins). Estas estruturas, quando lesadas podem levar ao acúmulo de sangue entre a dura e a aracnóide, formando o hematoma subdural.

AvaliaçãoA avaliação inicial do paciente com TCE deve seguir o ABCDE do exame primário, dando prioridade à manutenção de uma via aérea pérvia e à proteção da coluna cervical, além de uma boa oxigenação. Qualquer alteração hemodinâmica deve ser corrigida. Uma boa oxigenação associada à correção das perdas de volume são elementos fundamentais na prevenção das lesões cerebrais secundárias.

O choque hipovolêmico nos pacientes com TCE não é decorrente de sangramento intracraniano. Esta perda sanguínea não é volumosa; quando presente deve-se buscar a origem do choque em outra hemorragia.

Após as medidas iniciais, procede-se um exame neurológico mínimo, visando estimar o nível de comprometimento das funções neurológicas e permitir intervenção cirúrgica precoce, quando necessário.

Este exame consiste em: (1) Avaliação do nível de consciência pela escala de coma de Glasgow. Lembrar sempre de afastar outras causas de diminuição do Glasgow, como alcoolismo, uso de drogas, hipercapnia, entre outras. Fora estas ressalvas, alteração do nível de consciência é sinal de lesão intracraniana.

(2) Avaliação da função pupilar: são avaliados simetria e o reflexo fotomotor. Qualquer assimetria maior que 1 mm (anisocoríase) deve ser considerada indicativa de acometimento cerebral. Lesões expansivas cerebrais (hematomas) graves levam ao aumento da pressão intracraniana (PIC) e fazem com que a parte medial do lobo temporal, o uncus, sofra herniação através da tenda do cerebelo e comprima o III par craniano (oculomotor) no mesencéfalo; este fenômeno ocasiona midríase e perda do reflexo fotomotor ipsilateral à lesão do III par (portanto, ipsilateral à lesão expansiva).

Outro achado da herniação de uncus é o surgimento de déficit motor lateralizado, contralateral à lesão expansiva, devido à compressão do trato corticoespinhal (primeiro neurônio motor) em sua passagem pelo mesencéfalo; é importante lembrar que lesões motoras no SNC são referidas contralateralmente pela decussassão das pirâmides no bulbo (antes de descer na medula).

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Em poucos casos, a lesão de massa pode empurrar o lado oposto do mesencéfalo contra a tenda do cerebelo, comprimindo a via motora contralateral à lesão expansiva, fenômeno que provoca hemiplegia do mesmo lado do hematoma; esta condição é conhecida como síndrome de Kernohan. Nesses casos, o III par contralateral à lesão expansiva não é afetado, por isso somente haverá midríase e perda de reflexo ipsilaterais, em conjunto com hemiplegia ipsilateral.

(3) Déficit motor lateralizado: deve ser observada a presença de assimetria nos movimentos voluntários ou desencadeada por estímulos dolorosos, nos pacientes comatosos.

Com base neste exame, classificamos como TCE grave o paciente que apresenta: (1) pupilas assimétricas; (2) assimetria motora; (3) fratura aberta de crânio com perda de LCR ou exposição de tecido cerebral; (4) Glasgow menor ou igual a 8 ou queda maior que 3 pontos na reavaliação e (5) fratura de crânio com afundamento.

Estes pacientes requerem atenção imediata da neurocirurgia e devem ser tratados em centros de terapia intensiva.

Procedimentos diagnósticosTomografia computadorizada (TC) de crânio de urgência deve ser realizada após a normalização hemodinâmica. O exame deve ser repetido na presença de alterações neurológicas e, de rotina, 12 e 24h após o trauma em casos de contusão ou hematoma na primeira TC.

Achados relevantes na TC incluem inchaço do couro cabeludo ou hematomas subgaleais na região do impacto. As lesões de maior gravidade incluem hematoma intracraniano, contusões e desvio da linha média (efeito de massa).

O septo pelúcido, que fica entre os dois ventrículos laterais, deve estar localizado na linha média. O desvio de linha média é diagnosticado e quantificado pelo grau de afastamento do septo pelúcido contralateral ao hematoma e o grau de desvio real usando uma escala impressa ao lado da imagem tomográfica. Um desvio de 5 mm ou mais é frequentemente indicativo da cirurgia para evacuar o coágulo ou contusão causadora do desvio.

A radiografia de crânio é, geralmente, dispensável, exceto em alguns casos de suspeita de lesão em osso temporal, onde a presença de um traço de fratura pode estar relacionada ao surgimento de hematoma extradural. Nos traumas penetrantes, geralmente o exame clínico e a inspeção da ferida fornecem informações mais importantes do que o raios-X.

Tipos particulares de TraumaDe forma geral, o tratamento do TCE envolve duas fases. Inicialmente, tratam-se as lesões que podem levar à morte imediata do paciente, como em qualquer outro politraumatizado, seguida de um suporte clínico que visa impedir as lesões secundárias, geralmente resultado de acidose, hipovolemia ou hipóxia.

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1 – Fratura de CrânioSão frequentes, mas não estão relacionadas obrigatoriamente com um quadro clínico adverso; pode haver muitos casos de lesão cerebral grave sem que haja uma fratura craniana.

Portanto, o diagnóstico de uma fratura no crânio nunca deve retardar a avaliação ou o tratamento de uma lesão cerebral. O principal significado clínico das fraturas é que este grupo de pacientes apresenta maior risco de hematomas intracranianos.

Identificam-se quatro grupos de fraturas:

Fraturas lineares simples, que não necessitam de tratamento cirúrgico devendo-se apenas observar se a linha da fratura cruza algum território vascular no raio-X de crânio, o que aumenta a probabilidade de hematomas intracranianos.

Fraturas com afundamento, seu tratamento é dirigido para a lesão cerebral subjacente, havendo indicação de fixação cirúrgica apenas nos casos em que a depressão supera a espessura da calota craniana, porque há risco de sequelas neurológicas, como crises convulsivas.

Fraturas abertas são aquelas em que há rompimento da dura-máter e comunicação entre o meio externo e o parênquima cerebral. Necessitam de desbridamento e sutura das lacerações na dura-máter.

Fraturas da base do crânio geralmente passam despercebidas no exame radiológico, sendo seu diagnóstico clínico feito através da presença de fístula liquórica através do nariz (rinorréia) ou do ouvido (otorréia); equimoses na região mastóidea (sinal de Battle) e equimoses periorbitárias (sinal do guaxinim) que resultam de fraturas da lâmina crivosa. Podem ser observadas lesões do VII e VIII pares cranianos provocando paralisia facial e perda da audição.

2 – Lesões Cerebrais DifusasSão produzidas pela desaceleração súbita do SNC dentro do crânio com interrupção da função cerebral. Esta interrupção pode ser temporária, como na concussão, ou pode determinar envolvimento estrutural definitivo, como na lesão axonal difusa (LAD).

Concussão Cerebral. A concussão cerebral manifesta-se clinicamente por uma perda temporária da função neurológica, que nas suas formas mais brandas consiste em amnésia ou confusão, associada, frequentemente, à perda temporária da consciência. Todas essas alterações tendem a desaparecer de forma rápida, geralmente antes da chegada do paciente à sala de emergência. Uma amnésia retrógrada é a regra.

Concussão leve, sem perda de consciência, mas com distúrbio temporário da função neurológica. Concussão clássica, com perda temporária da consciência por um período inferior a 6 horas.

A memória usualmente é recuperada em uma sequência temporal, com os eventos mais distantes do trauma sendo relembrados primeiro.

LAD. A LAD é primariamente um diagnóstico da patologia, sendo caracterizado por dano microscópico distribuído por todo o cérebro. No entanto, correlações clínicas e em métodos

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de imagem têm sido encontradas. A LAD manifesta-se com a presença de coma decorrente de TCE com duração de mais de 6h.

As alterações estruturais ocorrem por lesão por cisalhamento dos prolongamentos axonais, em ambos os hemisférios. O mecanismo do trauma parece ser explicado por aceleração rotacional da cabeça.

A LAD costuma distribuir-se de forma difusa, mas estruturas inter-hemisféricas (corpo caloso) e a porção rostral do tronco encefálico costumam ser mais acometidas. Existe uma elevada frequência de lesões centromedianas associadas: hemorragia intraventricular e encefálica múltipla, assim como hemorragias do fórnix, cavum e septo pelúcido.

Clinicamente, observa-se alteração importante do nível de consciência já no momento do trauma. O estado comatoso dura obrigatoriamente mais de 6h, diferenciando a LAD da concussão cerebral leve e clássica. A LAD grave é aquela em que o estado comatoso perdura por mais de 24h e coexistem sinais de envolvimento do tronco encefálico, como decerebração ao estímulo doloroso.

O diagnóstico é confirmado pela TC de crânio, que exclui a possibilidade de lesões expansivas e hipertensão intracraniana. Achados sugestivos dificilmente são visualizados, como pontos de hemorragias no corpo caloso e centro semioval. Dentro de alguns dias do trauma a RM é capaz de demonstrar lesões difusamente distribuídas pela substância branca. O tratamento é o suporte clínico, não há indicação de tratamento cirúrgico.

3 – Lesões FocaisEstas lesões são restritas a uma determinada área do encéfalo; podem exercer efeito de massa, com desvio da linha média, ou podem levar à hipertensão intracraniana, caso atinjam volume significativo. Como em muitos casos o tratamento é cirúrgico, todos os esforços propedêuticos devem ser direcionados no diagnóstico precoce.

As principais lesões focais incluem o hematoma subdural, o epidural e o intraparenquimatoso.

Hematoma subdural Agudo. Entre as lesões focais, o hematoma subdural é o mais frequente, sendo a causa mais comum de efeito de massa no TCE. Esta lesão pode estar presente em até 30% dos traumas graves. Idosos e alcoólatras, por aumento do espaço subdural devido à atrofia cerebral, e pacientes em uso de anticoagulantes representam a população mais suscetível.

O hematoma subdural geralmente é consequência de lesão de pequenas veias localizadas entre a dura e a aracnóide, seguida do acúmulo progressivo de sangue no espaço subdural. A lesão é unilateral em 80% dos casos e a localização mais comum é a região frontotemporoparietal.

Alteração do nível de consciência, déficits lateralizados, anisocoria, posturas patológicas e arritmia respiratória são encontrados em combinações variadas. Dependendo do volume e da velocidade de instalação do hematoma, pode ocorrer efeito de massa significativo, com desenvolvimento de síndrome de hipertensão intracraniana; esta se manifesta muitas vezes por meio da tríade de Cushing: hipertensão arterial, bradicardia e bradipnéia.

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A tríade de Cushing está relacionada à presença de hipertensão intracraniana grave, com herniação transtentorial iminente.

A TC de crânio é o exame de escolha. O método evidencia, na totalidade dos casos, imagem hiperdensa que acompanha a convexidade cerebral. Edema cerebral e desvios da linha média usualmente são encontrados.

A abordagem do hematoma com desvio da linha média de 5 mm ou mais é cirúrgica. A drenagem deve ser realizada através de craniotomia ampla. O prognóstico é sombrio, principalmente por causa das lesões parenquimatosas adjacentes, sendo a mortalidade de até 60%.

Hematoma Epidural Agudo. Hematoma bem menos frequente que o subdural, ocorrendo em apenas 0,5 a 0,9% dos casos de TCE. As lesões representam sangue no espaço entre a face interna da calota craniana e o folheto externo da dura-máter.

Este acúmulo de sangue é decorrente de lesões dos ramos da artéria meníngea média que cruzam o osso temporal, onde estão expostos ao trauma direto; em poucos casos o hematoma resulta da lesão do seio venoso sagital, da veia meníngea média e das veias diplóicas. Embora seja decorrente de um trauma craniano grave, o hematoma epidural não costuma vir acompanhado de grande dano ao córtex cerebral subjacente.

Devido a sua origem arterial frequente, o hematoma epidural é de instalação imediata. O aumento progressivo do hematoma descola a dura-máter do osso, o que faz com que alcance grandes volumes em um breve intervalo de tempo. O aumento da pressão intracraniana e a herniação de uncus são complicações temidas.

Clinicamente, a perda inicial da consciência é decorrente da concussão cerebral; após um tempo inferior a seis horas, o paciente recobra a consciência (intervalo lúcido); quando sangue que está acumulado no espaço extradural atinge volume considerável, o doente apresenta piora neurológica súbita, podendo evoluir com herniação do uncus.

Em relação ao intervalo lúcido, em alguns doentes a perda inicial da consciência por concussão cerebral pode não acontecer. Apenas 55 a 60% dos pacientes com hematoma epidural apresentam intervalo lúcido.

A radiografia simples de crânio tem valor. O achado de fratura de crânio que cruza o trajeto dos ramos da artéria meníngea média ou dos seios sagitais pode ser de auxílio diagnóstico.

Assim como no hematoma subdural, a TC de crânio é o método diagnóstico de escolha. O hematoma caracteriza-se por lesão hiperdensa, biconvexa na maioria dos casos. Outros achados que podem ou não estar presentes incluem edema cerebral, desvios da linha média, apagamento de cisternas superficiais e apagamento das estruturas do sistema ventricular. As localizações temporal, temporoparietal e fontotemporoparietal são as mais frequentes.

O tratamento cirúrgico está indicado nos hematomas sintomáticos com pequenos desvios na linha média maiores ou iguais a 5 mm e nos hematomas assintomáticos com espessura maior do que 15 mm. Uma craniotomia ampla frontotemporoparietal, seguida de tratamento da

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lesão com remoção do hematoma e coagulação bipolar das áreas de hemorragia, é o procedimento correto a ser utilizado. A intervenção neurocirúrgica precoce (primeiras duas horas) melhora muito o prognostico do paciente.

Contusão cerebral. Comprometimento da superfície do cérebro (córtex e subcórtex). Consiste em graus variados de hemorragia petequial, edema e destruição tecidual. Assim como os hematomas intracerebrais, a contusão é decorrente de um fenômeno de desaceleração que o encéfalo sofre no crânio, chocando-se contra sua superfície.

A gravidade do déficit neurológico varia conforme o tamanho da lesão. Um quadro semelhante ao AVE isquêmico em território de artéria cerebral média é típico. Uma complicação tardia das contusões é a formação de cicatrizes corticais, que favorecem o aparecimento de epilepsia pós-traumática.

Hemorragias profundas no parênquima (hematomas intraparenquimatosos) podem ser observadas alguns dias após o TCE e contribuir de forma súbita para um aumento inesperado da PIC.

4 – Lesões aos Pares Cranianos decorrentes do TCENervo Olfatório (I par). Anosmia e perda da sensibilidade gustativa para sabores aromáticos. O nervo é comprometido nas fraturas do osso frontal, quando seus filamentos são lesados na placa cribriforme.

Nervo Óptico (II par). Cegueira unilateral completa ou diminuição importante da acuidade visual. Ocorre raramente nas fraturas do osso esfenóide. A pupila é não reativa, entretanto o reflexo consensual encontra-se preservado.

Nervo Troclear (IV par). Diplopia na mirada para baixo. Geralmente a lesão ocorre no TCE leve, e a clínica surge após alguns dias do trauma. O acometimento do nervo troclear é consequente a fraturas da asa menor do esfenóide.

Nervo Facial (VII par). Lesão direta decorrente da fratura de base de crânio, ocorrendo em cerca de 3% dos casos. A paralisia facial pode surgir após cerca de 5 a 7 dias do trauma.

Nervo Vestibulococlear (VIII par). Perda da audição, vertigem e nistagmo logo após o trauma. A lesão é decorrente de fratura do osso petroso. O quadro vertiginoso faz diagnóstico diferencial com a dissecção traumática da artéria vertebral. Além da lesão do VIII par, a perda da audição no TCE pode ter outras etiologias, como hemotímpano, envolvimento direto dos ossículos do ouvido médio e comprometimento da cóclea.

Tratamento em Terapia Intensiva das Lesões GravesPIC, PCC e Monitorização no TCE: Alguns minutos após o TCE ocorre perda da capacidade de auto-regulação cerebrovascular, ou seja, os vasos arteriais do encéfalo são incapazes de se acomodar a diminuições ou aumentos súbitos da PAM.

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Em indivíduos saudáveis, aumentos da PAM fazem com que os vasos cerebrais se contraiam (proteção do SNC da onda de pressão arterial elevada) e diminuições da PAM fazem com que haja vasodilatação cerebral, para manter o fluxo sanguíneo para o encéfalo.

No TCE grave, há uma elevação intensa do fluxo sanguíneo cerebral (sem correlação com a demanda metabólica) em um sistema que perdeu a auto-regulação; este fenômeno é responsável por elevação da PIC.

Lesões expansivas (causam efeito de massa) e um aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica são fenômenos que também agravam a hipertensão intracraniana.

Nos pacientes comatosos com TCE grave (Glasgow <9) e alterações na TC de crânio está indicada monitorização da PIC. Nesses casos, os valores da PIC servem como guia terapêutico, visto que os procedimentos empregados podem comprometer a perfusão cerebral (hiperventilação com consequente diminuição do PCO², levando à vasoconstrição pode causar isquemia). O posicionamento de um cateter de monitorização dentro do ventrículo cerebral é o método de escolha para monitorar a PIC.

Em pacientes com PIC monitorada, é comum que sejam observadas interrupções da PIC de repouso por ondas em plateau, que representam aumento súbito do fluxo sanguíneo cerebral. O surgimento dessas ondas pode ocorrer de forma espontânea ou após procedimentos como aspiração de secreções, fisioterapia e administração excessiva de fluidos. O ideal é que se mantenha a PIC em níveis <20 mmHg.

A PPC é a diferença entre a PAM e a PIC. O ideal é mantermos a PPC em um valor maior ou igual a 70 mmHg.

A monitoração da saturação de oxigênio no sangue venoso jugular (Sjvo²) tem como base o seguinte princípio: o cérebro isquêmico extrai mais oxigênio que o normal. Este fenômeno faz com que a saturação de oxigênio no sangue jugular, ou seja, o sangue que retorna do cérebro, diminua. Isto é importante para guiar a ventilação. Na presença de aumentos da PIC, a intensificação da hiperventilação pode ser obtida, contanto que não haja queda da saturação do Sjvo².

Recomendações Gerais de Tratamento: Os cuidados intensivos têm como principal objetivo a prevenção da lesão secundária (por isquemia e/ou hipóxia) em um cérebro já comprometido. O paciente comatoso ou torporoso deve ser submetido à intubação orotraqueal e acoplado à prótese ventilatória. É importante que o neurocirurgião instale um cateter para a medida da PIC, que geralmente funciona como guia para a terapêutica. Os cateteres em posição intraventricular (ventriculostomia) apresentam dispositivos que permitem drenagem liquórica em casos de elevação da PIC.

Para obtermos uma PAM adequada, a pressão sistólica deve ser mantida em níveis maiores do que 100 mmHg, mesmo que para isso sejam utilizados vasopressores e infusão de cristalóides.

O aumento da PIC >20 mmHg por mais de 5 min caracteriza a hipertensão intracraniana e requer terapia imediata. As medidas empregadas com este fim incluem:

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(1) Cabeceira do leito elevada a 30º

(2) Administração de manitol (0,25ª 1g/kg a cada 3/3 ou 6/6h), objetivando seu efeito diurético osmótico.

(3) Administração de furosemida (0,3 a 0,5 mg/kg). Pode ser utilizada juntamente com o manitol.

(4) Hiperventilação controlada: o ideal é que os pacientes em ventilação mecânica sejam mantidos em normocapnia (PaCO² ≥35 mmHg). Mas na presença de déficit neurológico agudo, a terapêutica ventilatória é recomendada. Esta tem como base o princípio de que: Uma redução na PaCO² leva à vasoconstrição cerebral, o que ocasiona diminuição do hiperfluxo para o sistema nervoso, levando a uma queda da PIC. O respirador é ajustado para manter uma PaCO² por curtos períodos entre 30-34 mmHg. Uma PaCO² inferior a 30 mmHg (hiperventilação agressiva) está associada à isquemia cerebral e só pode ser objetivada em casos de aumentos refratários da PIC.

(5) Administração de barbituratos (indução de coma barbitúrico): provoca supressão metabólica do tecido neuronal, produzindo um efeito teórico de proteção cerebral. Todavia, esta droga só traz benefício quando há monitorização eletroencefalográfica confiável. Além disso, não pode ser empregada na presença de hipotensão ou hipovolemia. Embora efetivamente reduzam a PIC, os barbituratos não alteram a mortalidade no TCE grave.

(6) Uso de anticonvulsivantes (fenitoína e carbamazepina) de forma profilática é recomendado apenas na prevenção de convulsões pós-traumáticas precoces, ou seja, aquelas que ocorrem na primeira semana do TCE. É importante lembrarmos que os episódios convulsivos aumentam perigosamente a PIC.

(7) Indução de hipotermia leve (34-35ºC) tem sido utilizada em alguns serviços de terapia intensiva como medida de proteção cerebral no paciente crítico. Esta medida faz com que o cérebro, frente a uma PIC elevada, tolere a isquemia por mais tempo sem apresentar lesão neuronal.

(8) A drenagem periódica do LCR através do cateter de ventriculostomia é outra medida que pode ser recomendada no tratamento da PIC elevada.

Outras medidas envolvidas no tratamento intensivo do paciente consistem em manutenção do pH gástrico acima de 3,5 (evitar úlceras – úlceras de Cushing), tratamento de níveis elevados de pressão arterial sistêmica, quando presentes (betabloqueadores e inibidores da enzima conversora de angiotensina são as melhores drogas), correção dos fatores que venham a agravar a lesão neurológica (hipertermia, acidose, hiperglicemia, hiponatremia e hipóxia) e profilaxia de TVP (uso de heparina subcutânea em dose profilática).