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C A P Í T U L O 0 3

PRINCÍPIOS AMBIENTAIS3.1. Princípio da prevenção. 3.2. Princípio da precaução. 3.3. Princípio do desenvolvimento sustentável. 3.4. Princípio do poluidor-pagador. 3.5. Princípio do usuário-pagador. 3.6. Princípio do protetor-recebedor. 3.7. Princípio da cooperação entre os povos. 3.8. Princípio da participação co-munitária ou cidadã. 3.9. Princípio da natureza pública (ou obrigatoridade) da proteção ambiental. 3.10. Princípio do limite ou controle. 3.11. Princípio da informação. 3.12. Princípio do pacto intergeracional ou equidade. 3.13. Princípio da função socioambiental da propriedade. 3.14. Princípio da proi-bição do retrocesso ambiental.

AdefiniçãodoroldeprincípiosinformadoresdoDireitoAmbien-talnãoétarefafácil,diantedagrandecontrovérsiadoutrináriasobreotema.Adoutrinaambientaldivergebastante,inclusivequantoaocon-teúdojurídicodemuitosdele.Considerandoqueoobjetivodestaobraéapreparaçãoparaconcursospúblicos,seráapresentadaumalargalistagem dos princípios ambientais, de acordo com o entendimentomajoritário.

3.1. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

O Princípio da Prevenção informa expressamente o Direito Am-bientalnoBrasil,tendoemvistaasuaprevisãoeminúmerosdiplomaslegais,aexemplodasLeis11.428/2006(MataAtlântica)e12.187/2009(PolíticaNacionaldeMudançadoClima).

Écertoque,tecnicamente,emregra,odanoambientaléirreparávelin natura.Porexemplo,umaflorestanativadesmatadanãopoderásercolada.Nestecaso,mesmoquehajaumreflorestamento(compensaçãoambiental),nasceráoutroecossistemasimilar,masnuncaserárestabe-lecidooestadoanteriordobemambientallesionado.

Cuida-sedeprincípiodacerteza científica.Trabalhacomorisco certo,conhecidoouconcreto,poisoórgãoambientallicenciadorjáco-nheceaexistência,naturezaeextensãodosimpactosambientaiscau-sadospordeterminadaatividade,jávastamenteestudadapelaciênciaambiental.

Logo, se o Poder Público exige um potente filtro na chaminé deumatradicional fábricaprodutoradebiscoitoscomocondiçãoparaa

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concessãoda licençaambiental, trata-sedeaplicaçãodoPrincípiodaPrevenção,vezquejáhácertezacientíficasobreosimpactosambien-taispositivosenegativosdessaatividadehumanajásecularmentede-senvolvida.

3.2. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

É previsto expressamente no ordenamento jurídico pátrio emdezenasdeatosnormativos,pioneiramentenaConvençãodoClimaenaConvençãodaDiversidadeBiológica,ratificadaspeloBrasilnoanode1994porocasiãodaECO92,promovidapelaONUnoRiodeJaneiro.

É o princípio dadúvida científica. Trabalha com risco incerto, desconhecidoouabstrato.Normalmenteéinvocadoemgrandespolê-micas,ondesãocriadasnovasatividadeseconômicasfrutododesen-volvimento tecnológico, quandonão se sabeao certoquaisosdanosambientaisaseremcausadospeloprojetoesuaintensidade.

\ ATENÇÃOSe no Direito Penal existe o in dubio pro reo, no Direito Ambiental há o in dubio pro natura ou salute, em aplicação ao Princípio da Precaução. Conforme pontificado no princípio 15 da Declaração do Rio em 1992, “de modo a proteger o meio ambiente, o princípio da pre-caução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economica-mente viáveis para precaver a degradação ambiental”.

Destarte,nadúvidaemfavordoambienteedasaúde.Obenefíciodadúvidadeverámilitaremfavordaspessoas,enãodopodereconômico.Contudo,éprecisoquerealmentehajaumacontrovérsiacientíficaso-bre os danos ambientais advindos da atividade estudada, não podendo seralgoremoto,poiséutopiasepensarqueexiste“riscozero”.

Seoórgãoambientallicenciadorestiveranalisandoumpedidodelicençaparaumanovaatividade,aexemplodaliberaçãonoorganismodenovovegetaltransgênico,existindosériacontrovérsianacomunida-decientíficasobreosmalesaseremcausadospelaatividade,nadúvida,mesmosemsaberseelesocorrerão,devecondicionaraconcessãodalicençaambientalàadoçãodemedidasdemitigaçãodosimpactosam-bientalduvidosos.

É que um pedido de desculpas posterior ou todo o dinheiro domundo não tem o poder de reverter diversos impactos ambientais

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negativos, impondo-seumamedidadeprecaução. Se forumcasodeumaatividaderealmenteperigosa,épossívelquealicençaambientalsejadenegadacomfundamentonoPrincípiodaPrecaução.

ÉcomfulcronoPrincípiodaPrecauçãoqueoSTJveminvertendooônusdaprovaemaçõescivispúblicasdereparaçãodosdanosam-bientais.

\ POSIÇÃO DO STJ

“PROCESSUAL CIVIL – COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE EXECUÇÃO FISCAL DE MUL-TA POR DANO AMBIENTAL – INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL - PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - OMISSÃO - NÃO-OCORRÊNCIA - PERÍCIA - DANO AMBIENTAL - DIREITO DO SUPOSTO POLUIDOR - PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO - INVER-SÃO DO ÔNUS DA PROVA. 1. A competência para o julgamento de execução fiscal por dano ambiental movida por entidade autárquica estadual é de competência da Justiça Estadual. 2. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentada-mente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 3. O princípio da precaução pressu-põe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva. 4. Nesse sentido e coerente com esse posicionamento, é direito subjetivo do suposto infrator a realização de perícia para comprovar a ineficácia po-luente de sua conduta, não sendo suficiente para torná-la prescindível informações obtidas de sítio da internet. 5. A prova pericial é necessária sempre que a prova do fato depender de conhecimento técnico, o que se revela aplicável na seara ambiental ante a complexidade do bioma e da eficácia poluente dos produtos decorrentes do engenho humano. 6. Recurso especial provido para determinar a devolução dos autos à origem com a anulação de todos os atos decisórios a partir do indeferimento da prova pericial” (REsp 1.060.753, 2ª Turma, Rel Min. Eliana Calmon, de 01.12.2009).

3.3. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

OPrincípiodoDesenvolvimentoSustentáveltambémfoipositivadoexpressamentenoBrasil,sendoprevistonasLeis12.187/09(PolíticaNacionaldeMudançadoClima)enaLei12.305/2010(PolíticaNacio-naldeResíduosSólidos).

Deveefeito,esteprincípiopartedapremissadequeodesenvolvi-mentoeconômiconãopoderáocorreratodocusto,tendoemvistaqueoplanetaTerranãotemumacapacidadeilimitadadesuportarapolui-ção.Logo,éprecisoqueoPoderPúblico,comacolaboraçãodetodaasociedade,mantenhaosíndicesdepoluiçãodentrodospadrõesimpos-tospelasnormasambientais.

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\ ATENÇÃODe acordo com o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Brundtland, elaborado pela ONU em 1987, assim se considera “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Também é possível definir o desenvolvimento sustentável comoaquelequerespeitaacapacidadedesuportedepoluiçãodosecossiste-mas,afimdemanteraperenidadedosrecursosnatutais.

Tomemosumexemploconcreto.Écertoqueumadasfunçõesdaságuasédiluirosefluentes(esgoto)produzidospelohomem.Entretan-to, o Poder Público somente autorizará o seu lançamento nas águasapósodevidotratamentoemesmoassimatéacapacidadedesuportedesseecossistema,afimdemanterumbompadrãodevida.

Olançamentodeefluentessemtratamentoe/oualémdomáximosuportávelpelocursod’águaviolaoPrincípiodoDesenvolvimentoSus-tentável,poisiráprejuidicaravidaanimalevegetal,alémdetornarosrecursoshídricosimprópriosàutilizaçãohumana.

É possível afirmar que implicitamente a Constituição Federal de1988recepcionouesteprincípionoseuartigo225eprincipalmentenoartigo170.ÉqueaOrdemEconômica,quesefundanavalorizaçãodotrabalhohumanoenalivreiniciativa,temcomoprincípioaDefesadoMeioAmbiente,inclusivemediantetratamentodiferenciadoconformeo impactoambientaldosprodutose serviçosedeseusprocessosdeelaboraçãoeprestação,nãosendoexagerointitulá-ladeOrdem Eco-nômica Ambiental.

Valesalientar,porfim,queodesenvolvimentosustentávelousim-plesmentesustentabilidade,tãocitadoempropagandaspolíticasedegrandesempresas,tambémpossuiumavertentesocial,poispressupõeareduçãodasdesigualdadessociaisedapobreza.

3.4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

Adegradaçãoambientaléaalteraçãoadversadascaracterísticasdomeioambiente(artigo3º,incisoII,daLei6.938/81).Jáapoluiçãoéumaespéciededegradaçãoambiental causadapelohomem, resul-tantedeatividadesquediretaouindiretamenteprejudiquemasaúde,asegurançaeobem-estardapopulação;criemcondiçõesadversasàs

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atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota;afetemascondiçõesestéticasousanitáriasdomeioambiente;lancemmatériasouenergiaemdesacordocomospadrõesambientaisestabe-lecidos.

Poderáaserpoluiçãolícitaouilícita.Ailícitaéacausadasemlicen-çaouautorizaçãoambientalouemdesacordocomaobtida.Jáapolui-çãolícitaéaamparadaemregularlicenciamentoambiental,ondesãocumpridastodasasexigênciasdoPoderPúblico.

Ohomemprecisapoluirpara viver, pois inexistepoluição “zero”.Mesmooshomensdascavernasnecessitavamcortarasárvoresepro-duziamresíduossólidoselíquidosqueafetavamnegativamenteoam-biente.Contudo,apoluiçãoprecisaserlimitadaàcapacidadedesupor-tedosecossistemas,devendosersustentável.

\ ATENÇÃOO Princípio do Poluidor-pagador parte da premissa de que não é justo que o empreendedor internalize os lucros e socialize os prejuízos ambientais. Logo, deverá o poluidor arcar com os custos sociais da degradação causada, internalizando as externalidades negativas.

É previsto expressamente na Lei 12.305/2010, bem como emdiversasnormasambientaisbrasileiras.Tambémconstadoprincípio16,daDeclaraçãodoRio:

“Tendoemvistaqueopoluidordeve, emprincípio, arcar comocustodecorrentedapoluição,asautoridadesnacionaisdevempro-curarpromoverainternalizaçãodoscustosambientaiseousodeinstrumentoseconômicos,levandonadevidacontaointeressepú-blico,semdistorcerocomércioeosinvestimentosinternacionais”.

Outrossim, é objetivo da PolíticaNacional doMeioAmbiente, naformadoartigo4º,incisoVII,daLei6.938/81,

“àimposição,aopoluidoreaopredador,daobrigaçãoderecupe-rare/ouindenizarosdanoscausados”.

Compropriedade,oexemplogenéricodeconcretizaçãodoPrincí-piodoPoluidor-pagadoréodeverambientaldereparaçãooucompen-saçãodosdanosambientais,mesmoqueapoluiçãoestejaamparadaemlicençaouautorizaçãoambiental.

Umexemploespecíficoconstadoartigo1º,daResoluçãoCONAMA416/2009,queprevêque

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“os fabricantes e os importadores de pneus novos, com peso uni-táriosuperiora2,0kg(doisquilos),ficamobrigadosacoletaredardestinaçãoadequadaaospneusinservíveisexistentesnoter-ritórionacional,naproporçãodefinidanestaResolução”.

Por conseguinte, os fabricantes e importadores de pneus, por te-reminternalizadooslucros,sãoresponsáveispeladestinaçãoambien-talmenteadequadadosmesmosapósouso,inclusiveporsuacoleta.

Entretanto,esteprincípionãoéumaaberturaincondicionadaàpo-luição,desdequesepague.ÉPoluidor-pagador,enãoPagador-polui-dor.Apoluiçãosóserá licenciadaatéospadrõesmáximosadmitidospelalegislaçãoambiental,conformeprevistonalicença,mesmoqueoproponentedoprojetoseproponhaapagarmilhõespelaliberaçãodeumadegradaçãoadicional,nãoadmitidananormatizaçãoambiental.

3.5. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

OPrincípiodoUsuário-pagadornãopossuiexatamenteomesmoconteúdojurídicodoPrincípiodoPoluidor-pagador.Émaisamplo.Porele,aquelesqueutilizaremrecursosnaturais,principalmentecomfina-lidadeseconômicas,deverãopagarporsuautilização.

Entende-sequeoPrincípiodoUsuário-pagadorenglobaoPrincípiodoPoluidor-pagador.Issoporquetodosquepoluemestãonecessaria-menteusandoumrecursonatural.Masnemtodosqueestãousando,estarãonecessariamentepoluindo.

OpagamentopelautilizaçãoadequadadaáguaéumexemplodeconcretizaçãodoUsuário-pagador.Autilizaçãoracionaldaáguanãoseenquadranoconceitodepoluição,razãopelaqualessacobrançanãodecorredoPoluidor-pagador,esimdoUsuário-pagador.

Eporquesedevecobrarpelamerautilizaçãodeumrecursonatu-ral?Pararacionalizaroseuuso,educarapopulaçãoeangariarrecursosparasereminvestidosnaproteçãoambiental.Ademais,aextraçãoderecursosnaturais,patrimônioimaterialdetodaacoletividade,afetaatodos,sendojustoqueosusuáriosarquemcomoscustos.

Nessesentido,éobjetivodaPolíticaNacionaldoMeioAmbiente,naformadoartigo4º,incisoVII,daLei6.938/81,àimposição,aousu-ário,dacontribuiçãopelautilizaçãoderecursosambientaiscomfinseconômicos.

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Contudo,essacobrançanãopoderágerarumadiscriminaçãone-gativaambiental,afimdeprivarosmaispobresdoacessoaosrecur-sosnaturais,devendoserisonômica,comoocorrecomopagamentodacontadeágua,poisexistemtarifasprogressivasconformeacapacidadecontributivadousuário.

A legislação ambiental brasileirapositivouesteprincípio, previs-tonaLei11.428/06(BiomaMataAtlântica)enaResoluçãoCONAMA357/2005(classificaçãodoscorposd’água),dentreoutrasnormas.

3.6. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR

EsteprincípioéoopostodoPoluidor-pagador.Seporumladoéjustoqueaquelesquepoluamarquemcomoscustossociaisdadegradaçãocausada,poroutroé igualmentecorretoqueaquelesqueprotejamomeioambientesejampremiadosporsuasiniciativas.

Em vários países domundo há várias formas de pagamento porserviçosambientais(PSA),ouseja,aquelaspessoasquepreservamasflorestas,osolo,osanimaissilvestres,aságuasouoarrecebemalgumbenefício,poisestãocolaborandocomtodaasociedadenarealizaçãododireitofundamentalaomeioambienteecologicamenteequilibrado.

NoBrasil,oPrincípiodoProtetor-recebedorfoipositivadonaLei12.305/2010,queaprovouaPolíticaNacionaldeResíduosSólidos.

Háumacontrovérsiamuitograndesobreograudeincidênciadesteprincípio.Paramuitos,apenasdevemserpagososserviçosambientaisdaquelesqueprotegemanaturezaalémdoqueédeterminadopelale-gislaçãoambiental.Ouseja,aquelequeapenascumpreasnormasam-bientais,semprotegeralémdela,nãomereceserpremiado.

3.7. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS

Cuida-se de princípio fundamental da Constituição Federal, quedeveránortearasrelaçõesinternacionaisbrasileiras.Outrossim,éumimportanteprincípioambiental,poisapenascomacolaboraçãomútuaentreasnaçõesserápossívelocontroleglobaldapoluição.

Compropriedade,oplanetaTerraéformadoporumconjuntodeecossistemasque formamaBiosfera, todos ligados entre si. A polui-çãoexageradaemdeterminadapartedoplanetapoderáafetarumpaís

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distante,comoocorrecomamaciçaemissãodosgasesquecausamoefeitoestufa,queelevamatemperaturadaTerracomoumtodo.

Portudoisso,pregaoPrincípiodaCooperaçãoentreosPovosquetodasasnaçõesdeverão cooperarmutuamentepara implantarode-senvolvimento sustentável, sendo praticamente inócuas a adoção depolíticaspúblicasambientaisisoladas.

3.8. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA OU CIDADÃ

Assim comoo princípio anterior, o Princípio daParticipaçãoCo-munitáriaouCidadã(tambémconhecidocomoPrincípioDemocrático)nãoéexclusivodoDireitoAmbiental.ASupremaCorte,quandoadmitea intervençãoamicus curiae (amigoda corte)nas ações abstratasdecontroledeconstitucionalidade,permitindoqueacomunidadeforneçaelementostécnicosparaaformaçãodoconvencimentodosMinistros,aplicaoPrincípiodaParticipaçãoCidadã.

Este princípio foi previsto expressamente na Lei 12.187/2009(PolíticaNacional deMudança do Clima), ganhando grande força naáreaambiental,vistoqueosimpactosambientaispositivosenegativossão sentidospor toda a coletividade, especialmentepor aqueles queresidemoupassampelasáreasafetadas.

Assimsendo,comosãoaspessoasquesofremosimpactosambien-tais,nadamaisjusto,emtermosdedemocraciaambiental,queopovosejaouvidoantesdatomadadadecisãopolíticaambiental,mesmoquetaloitivanãovinculeoórgãoambientalcompetentenadecisãodecon-cederounãoalicença.

Cadavezmaisexisteminstitutoscriadosparaaparticipaçãopopu-larnocampoambiental.SãoexemplosdeconcretizaçãodoPrincípiodaParticipaçãoComunitária:aaçãopopularemdefesadomeioambiente,aserpropostaporqualquercidadão;aaudiênciapúblicaparadebateroEstudodeImpactoAmbientaleseRelatório(EIA-RIMA);aconsultapúblicaqueprecedeacriaçãodasunidadesdeconservação.

3.9. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA (OU OBRIGATORIDADE) DA PROTEÇÃO AMBIENTAL

Poresteprincípio,implicitamenteconsagradonacabeçadoartigo225,daConstituiçãoFederal,impõe-seaoPoderPúblicoeàcoletividade

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odeverdedefenderepreservarodireitofundamentalaomeioambien-teecologicamenteequilibradoparaaspresentesefuturasgerações.

Destarte,háumdevercominadoaoEstadoparaprotegeromeioambiente,enãomeradiscricionariedadepolíticaouadministrativa,ra-zãopelaqualnormalmenteopoderdepolíciaambientalévinculado.

3.10. PRINCÍPIO DO LIMITE OU CONTROLE

Trata-sedenormaprincipiológicaque impõeaoPoderPúblicoodeverdecontrolarapoluiçãomedianteainstituiçãodepadrõesmáxi-mosdetolerância,afimdemantê-ladentrodeníveisaceitáveis,visan-dopreservaroequilíbrioambientaleasaúdehumana.

DecorredoPrincípiodoLimiteaediçãodaResolução18/1986,doConselhoNacionaldoMeioAmbiente-CONAMA,queinstituiunacio-nalmenteoProgramadeControledaPoluiçãodoArporVeículosAuto-motores–PROCONVE,queobjetivareduzirosníveisdeemissãodepo-luentesporveículosautomotoresvisandoaoatendimentoaosPadrõesdeQualidadedoAr,especialmentenoscentrosurbanos.

3.11. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃOOPrincípio da Informaçãonão é exclusivo doDireitoAmbiental,

sendoinformadordeoutrosramosjurídicos,comooDireitodoConsu-midor.ALei11.428/2006inseriucomoseuprincípioatransparênciadasinformaçõesambientais,sendo,portanto,expressamentepositiva-donoBrasil.

Oconhecimentodasinformaçõesambientaiséimprescindívelparaaparticipaçãodacomunidadenaquestãoambiental.Dadossonegadosoudistorcidospodemprejudicaraparticipaçãosocialnaproteçãoam-biental,razãopelaqualosórgãospúblicosambientaisestãosujeitosaumavançadoregimedepublicizaçãodasinformações.

Nessesentido,pontificaaLei10.650/03queosórgãoseentida-despúblicosambientaissãoobrigadosapermitiroacessopúblicoaosdocumentos, expedientes e processos administrativos que tratemdematériaambientalea fornecer todasas informaçõesambientaisqueestejamsobsuaguarda,emmeioescrito,visual,sonorooueletrônico.

Oacessoaessas informaçõesé franqueadoaqualquer indivíduo,independentementedacomprovaçãodeinteresseespecífico,mediante

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requerimentoescrito,noqualassumiráaobrigaçãodenãoutilizarasinformaçõescolhidasparafinscomerciais,sobaspenasdaleicivil,pe-nal,dedireitoautoraledepropriedadeindustrial,assimcomodecitarasfontes,caso,porqualquermeio,venhaadivulgarosaludidosdados.

Apenasfugirãoaoregimedepublicidadeasinformaçõesambien-taisprotegidasporsigilocomercial,industrial,financeiroouqualqueroutroprotegidoporlei.

3.12. PRINCÍPIO DO PACTO INTERGERACIONAL OU EQUIDADE

Háumpacto fictícioentreasgeraçõespresenteseas futurasemqueasatuaissecomprometemaconsumirosrecursosnaturaisdema-neirasustentável,deixandoasporçõesnecessáriasàsustentabilidadedasnovasgerações.

Este princípio encontra-se implicitamente consignado na cabeçadoartigo225,daConstituiçãoFederal,poisédeverdoPoderPúblicoedacoletividadedefenderepreservaromeioambienteecologicamenteequilibradoparaaspresentesefuturasgerações.

Outrossim,aLei11.428/06(BiomaMataAtlântica)expressamenteconsignouesteprincípioambiental,denominando-odeEquidadeInter-geracional.

Estanormaprincipiológicarealiza-sequando,porexemplo,seevitaaextinçãodeespéciesdafaunaefloranativas,poisasfuturasgeraçõesdeverãoteracessoaosrecursosnaturaispararealizarasuadignidadeambiental.

3.13. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Odireitofundamentaldepropriedadeégarantido,desdequeasuautilizaçãoatendaafunçãosocial,nosmoldesdoartigo5º,incisosXXIIeXXIII,daLeiMaior.Porsuavez,écurialqueoproprietáriocumpraalegislaçãoambientalparaqueousodesuapropriedadeatendaaosinteressesdasociedade,sobpenadesesujeitaràssançõeslegais, in-clusiveaperdadodireito.

Deefeito,dentreoutrospressupostos,apropriedaderuralapenasatenderáasuafunçãosocialsehouverutilizaçãoadequadadosrecur-sosnaturaisdisponíveisepreservaçãodomeioambiente,nosmoldesdoartigo186,incisoIII,daConstituiçãoFederal.

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Logo,mesmoquesetenhanaterraumusoracionaleadequado,bemcomoumrespeitoàsnormastrabalhistas,oproprietárioruralqueinfrin-girasnormasambientaisnãoatenderáàfunçãosocialdapropriedade.

Jáapropriedadeurbanaapenascumpriráafunçãosocialserespei-tarosditamesdoplanodiretor.Este,porsuavez,éoinstrumentobá-sicodapolíticadedesenvolvimentoeexpansãourbana,aseraprovadopelaCâmaraMunicipal,devendoobservartodasasnormasambientaisfederais,estaduaisemunicipais,sobpenadeilegitimidade.

Portudoisso,conclui-sequetantoapropriedadeurbanaquantoa propriedade rural deverão respeitar asnormas ambientais, razãopelaqualadoutrinaambientalserefereàfunçãosocioambientaldapropriedade.

OprincípiodafunçãosocioambientaldapropriedadefoiprevistoliteralmentenaLei11.428/2006,queregulaoBiomaMataAtlântica.

3.14. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTALCadavezmaisohomemvemdegradandoomeioambiente,colo-

candoemriscoaexistênciadignadasfuturasgerações.Porconseguin-te,oEstadodeveeditarnormasjurídicasambientaiscadavezmaisres-tritivas,comoobjetivoderealizar/restabelecerodireitofundamentalaomeioambienteecologicamenteequilibrado.

DeacordocomoPrincípiodaProibiçãodoRetrocessoAmbiental,deveráo legisladorevoluirnaediçãodenormasambientaiscadavezmaisprotetivas,nãodevendo,emregra,flexibilizarasnormasambien-tais,queseriaumgranderetrocesso.

OSuperiorTribunaldeJustiça,aojulgarorecursoespecial302.906,de26.08.2010,reconheceuaexistênciadesteprincípio:

“[...]Oexercíciodoius variandi,paraflexibilizarrestriçõesurba-nístico-ambientaiscontratuais,haveráderespeitaroatojurídicoperfeitoeolicenciamentodoempreendimento,pressupostogeralque,noDireitoUrbanístico,comonoDireitoAmbiental,édecor-rênciadacrescenteescassezdeespaçosverdesedilapidaçãodaqualidadedevidanascidades.Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, prin-cípio da proibição de retrocesso), garantia de que os avanços urbanístico-ambientais conquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes[...]”(passagemdojulgadogrifadapeloautor).

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TÓPICO-SÍNTESE

Prevenção

Éoprincípiodacertezacientífica.Trabalhacomoriscocerto,conhecidoouconcreto,poisoórgãoambientalli-cenciadorjáconheceaexistência,naturezaeextensãodosimpactos ambientais causados por determinada atividade, jávastamenteestudadapelaciênciaambiental.

Precaução

Éoprincípiodadúvidacientífica.Trabalhacomriscoin-certo,desconhecidoouabstrato.Normalmenteéinvocadoemgrandespolêmicas,ondesãocriadasnovasatividadeseconômicasfrutododesenvolvimentotecnológico,quandonãosesabeaocertoquaisosdanosambientaisaseremcausadospeloprojetoesuaintensidade.Nadúvidaemfavordoambienteedasaúde.

Desenvol-vimento Sustentável

Éodesenvolvimentoquesatisfazasnecessidadespresen-tes,semcomprometeracapacidadedasgeraçõesfuturasdesuprirsuasprópriasnecessidades.

Poluidor-pa-gador

Nãoéjustoqueoempreendedorinternalizeoslucrosesocializeosprejuízosambientais.Logo,deveráopoluidorarcarcomoscustossociaisdadegradaçãocausada,inter-nalizandoasexternalidadesnegativas.

Usuário-pa-gador

Aquelesqueutilizaremrecursosnaturais,principalmen-tecomfinalidadeseconômicas,deverãopagarporsuautilização.

Protetor-re-cebedor

Aquelesqueprotegemomeioambientedevemserpremia-dosporsuasiniciativasemrazãodaprestaçãodeserviçosambientaisqueaproveitamatodaasociedade.

Cooperação entre os Povos

Asnaçõesdeverãocooperarmutuamenteparaimplantarodesenvolvimentosustentávelatravésdemedidasglobaisdecontroledapoluição.

Participação Comunitária

Comosãoaspessoasquesofremosimpactosambientais,nadamaisjusto,emtermosdedemocraciaambiental,queopovosejaouvidoantesdatomadadadecisãopolíticaambiental,taiscomoarealizaçãodeaudiênciaseconsultaspúblicas.

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Princípios ambientais

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Natureza Pública da Proteção Ambiental

Impõe-seaoPoderPúblicoeàcoletividadeodeverdede-fenderepreservarodireitofundamentalaomeioambienteecologicamenteequilibradoparaaspresentesefuturasgerações.

Limite ou Controle

ÉdeverdoPoderPúblicocontrolarapoluiçãomedianteainstituiçãodepadrõesmáximosdetolerância,afimdemantê-ladentrodeníveisaceitáveis,visandopreservaroequilíbrioambientaleasaúdehumana.

Informação

Osórgãoseentidadespúblicosambientaissãoobrigadosapermitiroacessopúblicoaosdocumentos,expedienteseprocessosadministrativosquetratemdematériaam-bientaleafornecertodasasinformaçõesambientaisqueestejamsobsuaguarda,emmeioescrito,visual,sonorooueletrônico,independentementedeinteresseespecífico.

Pacto Inter-geracional ou Equidade

Háumpactofictícioentreasgeraçõespresenteseasfutu-rasemqueasatuaissecomprometemaconsumirosrecur-sosnaturaisdemaneirasustentável,deixandoasporçõesnecessáriasàsustentabilidadedasnovasgerações.

Função Socio-ambiental da Propriedade

Écurialqueoproprietáriourbanoeruralcumpraalegislaçãoambientalparaqueousodesuapropriedadeatenda aos interesses da sociedade, sob pena de se sujeitar àssançõeslegais,inclusiveaperdadodireito.

Proibição do Retrocesso Ambiental

Deveráolegisladorevoluirnaediçãodenormasambien-taiscadavezmaisprotetivas,nãodevendo,emregra,flexibilizarasnormasambientais,queseriaumgranderetrocesso.

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