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Frederico Amado Procurador Federal/INSS.
Doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social pela Universidade Catlica do Salvador UCSAL.
Mestre em Planejamento Ambiental pela Universidade Catlica do Salvador UCSAL. Especialista em Direito do Estado pelo Instituto de Educao Superior Unyahna Salvador IESUS.
Professor de Direito Ambiental e Previdencirio do Complexo de Ensino Renato Saraiva (curso pela internet www.renatosaraiva.com.br). Coordenador da ps-graduao on-line em Direito e Prtica Previdenciria
e dos cursos de prtica previdenciria do Complexo de Ensino Renato Saraiva. Coordenador da ps-graduao em Direito e Prtica Previdenciria da Faculdade Baiana de Direito.
Pgina pessoal: www.fredericoamado.com.br | E-mail: [email protected]: @FredericoAmado | Pgina no Facebook: Frederico Amado | Instagram: @fredericoamado
20157 edio: reformulada, e atualizada
CURSO DE DIREITO E
PROCESSOPREVIDENCIRIO
Inclui:
Anlise global da seguridade social Regime Geral de Previdncia Social Aes revisionais de benefcios Processo administrativo e judicial
previdencirio Regimes Prprios de Previdncia
Social (regras gerais) Regime Prprio da Unio
(Lei 8.112/90) Previdncia dos militares da Unio Previdncia complementar dos
servidores federais Previdncia complementar privada Principais crimes previdencirios
Conforme:
Emendas Constitucionais 86/2015 (alterou regras da sade/repasses de recur-sos federais) e 88/2015 (alterou a aposentadoria compulsria do servidor);
LC 150/2015 (novos direitos previdencirios do empregado domstico); Lei 13.134/2015 (novas regras do seguro-desemprego/defeso); Lei 13.135/2015 (mini-reforma previdenciria); MP 676/2015 (regra 85/95 para flexibilizar o fator previdencirio na aposenta-
doria por tempo de contribuio); MP 680/2015 (Programa de Proteo ao Emprego); Lei 13.146/2015 (Lei Brasileira de Incluso da Pessoa com Deficincia, com
alteraes em janeiro de 2016 na Lei 8.213/91 e 8.742/93); Decretos 8.424 e 8.499/2015 (alteraram regras do Regulamento da Previdncia
Social referentes ao segurado especial/pescador artesanal); Insero de novos julgados e smulas do STF, STJ e TNU neste ano de 2015. Regimento Interno do INSS (Decreto 7.556/2011) Regimento Interno do CRPS (Portaria MPS 548/2011) Instruo Normativa 971/2009, da Receita Federal do Brasil (custeio) Smulas da Advocacia-Geral da Unio Smulas do Conselho de Recursos da Previdncia Social Smulas do Frum Nacional dos Juizados Federais
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Disposies gerais sobre a seguridade social
1Disposies gerais
sobre a seguriDaDe socialSumrio 1. Introduo 2. Definio e natureza jurdica 3. Competncia legislativa 4. Princpios: 4.1. Universalidade da cobertura e do atendimento; 4.2. Uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes urbanas e rurais; 4.3. Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios; 4.4. Irredutibilidade do valor dos benefcios; 4.5. Equidade na forma de participao no custeio; 4.6. Diversidade da base de financiamento; 4.7. Gesto quadripartite; 4.8. Solidariedade; 4.9. Precedncia da Fon-te de Custeio ou Contrapartida; 4.10. Oramento Diferenciado; 4.11. Tabela dos princpios da seguridade social 5. Assistncia social: 5.1. Introduo; 5.2. Definio; 5.3. Objetivos; 5.4. Princpios; 5.5. Diretrizes; 5.6. Organizao e gesto; 5.7. Benefcio do amparo assis-tencial do idoso ou deficiente carente; 5.8. Seguro-Desemprego (inclusive seguro-defeso do pescador artesanal); 5.9. Outros benefcios assistenciais 6. Sade: 6.1. Introduo; 6.2. Definio e natureza jurdica; 6.3. O Sistema nico de Sade; 6.4. Princpios 7. Pre-vidncia Social: 7.1. Introduo; 7.2. Evoluo histrica mundial; 7.3. Evoluo histrica no Brasil; 7.4. Definio e abrangncia; 7.5. Classificao dos sistemas previdencirios; 7.6. Planos previdencirios brasileiros: 7.6.1. Planos bsicos; 7.6.2. Planos complementa-res 8. O Direito Previdencirio: 8.1. Autonomia; 8.2. Definio; 8.3. Relao com demais ramos jurdicos; 8.4. Interpretao, fontes e hierarquia da legislao previdenciria 9. Pilares da Proteo Social no Brasil 10. Questes comentadas de concursos pblicos; 10.1. Evoluo, composio e cobertura do sistema de seguridade social; 10.2. Princpios e objetivos da seguridade social; 10.3. Temas gerais sobre assistncia social; 10.4. Amparo assistencial do idoso ou deficiente; 10.5. Sade; 10.6. Planos previden cirios; 10.7. Evolu-o histrica da previdncia social.
1. INTRODUO
preciso que o Estado proteja o seu povo contra eventos previsveis, ou no, aptos a causar a sua misria e intranquilidade social, providenciando recursos para manter, ao menos, o seu mnimo existencial e, por conseguinte, a dignidade humana, instituindo um eficaz sistema de proteo social.
Eventos como o desemprego, a velhice, a morte, a priso, a infncia, a doena, a maternidade e a invalidez podero impedir temporria ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros visando atender s suas necessidades bsicas e de seus dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessrio.
Mas nem sempre foi assim no Brasil e no mundo. No estado absolutista, ou mesmo no liberal, eram tmidas as medidas governamentais de providncias positivas, porquanto, no primeiro, sequer exista um Estado de Direito, enquanto no segundo vigorava a doutrina da mnima interveno estatal, sendo o Poder Pblico apenas garantidor das liberdades negativas (direitos civis e polticos), o que agravou a concentrao de riquezas e a dissemi-nao da misria, pois, como brilhantemente j afirmou o Padre Lacordaire, entre o fraco e o forte a liberdade escraviza e a lei liberta1.
1. Lacordaire apud Herkenhoff, Joo Batista. Justia, Direito do Povo. 2 ed. Rio de Janeiro: Thex, 2002, p. 71.
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Nessa evoluo natural entrou em crise o estado liberal, notadamente com as guerras mundiais, a Revoluo Sovitica de 1917 e a crise econmica mundial de 1929, ante a sua inrcia em solucionar os dilemas bsicos da populao, como o trabalho, a sade, a moradia e a educao, haja vista a inexistncia de interesse regulatrio da suposta mo livre do mer-cado, que de fato apenas visava agregar lucros cada vez maiores em suas operaes mercantis.
Deveras, com o nascimento progressivo do Estado Social, o Poder Pblico se viu obri-gado a sair da sua tradicional contumcia, passando a assumir gradativamente a responsa-bilidade pela efetivao das prestaes positivas econmicas e sociais (direitos fundamen-tais de segunda dimenso), valendo destacar em nosso tema os direitos relativos sade, assistncia e previdncia social.
De efeito, a Constituio Federal de 1988 foi a primeira a instituir no Brasil o sistema da seguridade social2, que engloba as aes na rea da previdncia social, da assistncia social e da sade pblica, estando prevista no Captulo II, do Ttulo VIII, nos artigos 194 a 204, que contar com um oramento especfico na lei oramentria anual3.
De efeito, conquanto no haja previso expressa na Constituio Cidad, certo que a seguridade social forma um Sistema Nacional, pois regulada por um conjunto normativo harmnico e por rgos e entidades estatais que objetivam concretizar os direitos funda-mentais sade, previdncia e assistncia social.
Nesse sentido, dispe o artigo 5, da Lei 8.212/91, que as aes nas reas de Sade, Previdncia Social e Assistncia Social, conforme o disposto no Captulo II do Ttulo VIII da Constituio Federal, sero organizadas em Sistema Nacional de Seguridade Social, na forma desta Lei.
Entre os direitos sociais expressamente previstos no artigo 6, da Lei Maior, encon-tram-se consignados a sade, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, bem como a assistncia aos desamparados, reafirmando a sua natureza de fundamentais.
Convm de logo advertir que juridicamente as expresses seguridade social e seguro social tm acepes diversas, pois esta ltima se refere a uma relao de cobertura previ-denciria, sendo mais restrita por se limitar previdncia social, enquanto a seguridade deve ser interpretada como segurana social.
Dentro da seguridade social coexistem dois subsistemas: de um lado o subsistema con-tributivo, composto apenas pela previdncia social, que pressupe o pagamento (real ou presumido) de contribuies previdencirias dos segurados para a sua cobertura e dos seus dependentes.
Do outro, o subsistema no contributivo, integrado pela sade pblica e pela assistn-cia social, pois ambas so custeadas pelos tributos em geral (especialmente as contribuies
2. A expresso seguridade social foi utilizada oficialmente pela primeira vez pelo Social Security Act (1935), editado pe-los EUA como poltica do New Deal (idealizada pelo Presidente Roosevelt), que abarcava Previdncia e a Assistncia Social naquele pas.
3. Artigo 165, 3, III, da CRFB.
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destinadas ao custeio da seguridade social) e disponveis a todas as pessoas que delas ne-cessitarem, inexistindo a exigncia de pagamento de contribuies especfi cas dos usurios para o gozo dessas atividades pblicas.
Em sntese, preciso contribuir para ter uma cobertura pela previdncia social, o que no ocorre na assistncia social e na sade pblica.
Essa classifi cao do Sistema Nacional de Seguridade Social em subsistema contribu-tivo (previdncia social) e subsistema no contributivo (assistncia social e sade pblica) bastante importante na defi nio do regime jurdico de cada campo da seguridade social, inclusive na interpretao dos princpios e objetivos do sistema, refl etindo efeitos que se-ro debatidos ao longo desta obra.
possvel afi rmar que o objetivo genrico do sistema brasileiro de seguridade social preservar a dignidade da pessoa humana, mediante a realizao do bem-estar e da justia social, tendo em vista ser integrante do Ttulo VIII, da Constituio Federal, que regula a Ordem Social.
2. DEFINIO E NATUREZA JURDICA
A seguridade social no Brasil consiste no conjunto integrado de aes que visam a assegurar os direitos fundamentais sade, assistncia e previdncia social, de iniciativa do Poder Pblico e de toda a sociedade.
Destarte, no apenas a Unio, os estados, o Distrito Federal e os municpios atuaro para a efetivao dos direitos fundamentais seguridade social, pois tambm contaro com a colaborao das pessoas naturais e das pessoas jurdicas de direito privado.
Nesse sentido, so exemplos dessa participao da iniciativa privada na seguridade so-cial a atuao das entidades de previdncia privada, dos hospitais particulares que atendem pelo Sistema nico de Sade e as doaes feitas pelas pessoas fsicas em favor das pessoas em situao de misria.
Atualmente, a seguridade social ostenta simultaneamente a natureza jurdica de direito fundamental de 2 e 3 dimenso ou gerao, vez que tem natureza prestacional positiva (direito social 2 gerao) e possui carter universal (natureza coletiva 3 gerao).
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3. COMPETNCIA LEGISLATIVA
Em regra, caber privativamente Unio legislar sobre seguridade social, na forma do artigo 22, inciso XXIII, da CRFB:
Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:
[...]
XXIII seguridade social;
Contudo, ser competncia concorrente entre as entidades polticas legislar sobre pre-vidncia social, proteo e defesa da sade, dos portadores de deficincia, da infncia e juventude, na forma do artigo 24, incisos XII, XIV e XV, da CRFB:
Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
[...]
XII previdncia social, proteo e defesa da sade;
[...]
XIV proteo e integrao social das pessoas portadoras de deficincia;
XV proteo infncia e juventude;
Note-se que os municpios tambm entraro na repartio dessas competncias, pois aos mesmos caber legislar sobre assuntos de interesse local, assim como suplementar a legislao estadual e federal no que couber4.
H uma aparente antinomia de dispositivos constitucionais, pois a seguridade social foi tema legiferante reservado Unio pelo artigo 22, inciso XXIII, enquanto a previdn-cia social, a sade e temas assistenciais (todos inclusos na seguridade social) foram reparti-dos entre todas as pessoas polticas.
Essa aparente antinomia solucionada da seguinte maneira: apenas a Unio poder legislar sobre previdncia social, exceto no que concerne ao regime de previdncia dos servidores pblicos efetivos dos estados, do Distrito Federal e dos municpios, que podero editar normas jurdicas para institu-los e disciplin-los, observadas as normas gerais editadas pela Unio e as j postas pela prpria Constituio.
Outrossim, os estados, o Distrito Federal e os municpios tambm podero editar normas jurdicas acerca da previdncia complementar dos seus servidores pblicos, a teor do artigo 40, 14, da Constituio Federal.
Contudo, entende-se que apenas a Unio possui competncia para legislar sobre a previdncia complementar privada, pois o tema deve ser regulado por lei complementar federal, conforme se interpreta do artigo 202, da Constituio Federal, tendo sido pro-mulgada pela Unio as Leis Complementares 108 e 109/2001.
No que concerne sade e assistncia social, a competncia acaba sendo concor-rente, cabendo Unio editar normas gerais a serem complementadas pelos demais entes
4. Artigo 30, incisos I e II, da CRFB.
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polticos, conforme as suas peculiaridades regionais e locais, tendo em conta que todas as pessoas polticas devem atuar para realizar os direitos fundamentais na rea da sade e da assistncia social.
Nesse sentido, as normas gerais sobre a sade foram editadas pela Unio atravs da Lei 8.080/90, que dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sa-de, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes, e da assistncia social pela Lei 8.742/93, que dispe sobre a organizao da assistncia social no Brasil.
4. PRINCPIOS
Com o advento do constitucionalismo ps-positivista, os princpios passaram cate-goria de normas jurdicas ao lado das regras, no tendo mais apenas a funo de integrar o sistema quando ausentes as regras regulatrias, sendo agora dotados de coercibilidade e servindo de alicerce para o ordenamento jurdico, pois axiologicamente inspiram a elabo-rao das normas-regras.
possvel defi nir os princpios como espcie de normas jurdicas com maior carga de abstrao, generalidade e indeterminao que as regras, haja vista no disciplinarem por via direta as condutas humanas, dependendo de uma intermediao valorativa do exegeta para a sua aplicao.
Com propriedade, prevalente que no atual patamar do constitucionalismo o con-fl ito entre princpios no se resolve com o sacrifcio abstrato de um deles, devendo ser equacionada a tenso de acordo com o caso concreto, observadas as suas peculiaridades, manejando-se o Princpio da Proporcionalidade.
Outrossim, preciso destacar que muitas vezes o prprio legislador j operou a pon-derao entre princpios ao elaborar as regras, no cabendo ao intrprete (juiz, adminis-trador pblico e particulares) contrariar a deciso legislativa, salvo quando atentar contra a Constituio Federal.
De sua vez, a maioria dos princpios informadores da seguridade social encontra--se arrolada no artigo 194, da CRFB, sendo tratados como objetivos do sistema pelo constituinte, destacando-se que a sua interpretao e grau de aplicao variar dentro da seguridade social, a depender do campo de incidncia, se no subsistema contributivo (pre-vidncia) ou no subsistema no contributivo (assistncia social e sade pblica).
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4.1. Universalidade da cobertura e do atendimento
A seguridade social dever atender a todos os necessitados, especialmente atravs da assistncia social e da sade pblica, que so gratuitas, pois independem do pagamento de contribuies diretas dos usurios (subsistema no contributivo da seguridade social).
Ao revs, a previdncia ter a sua universalidade limitada por sua necessria contribu-tividade, vez que o gozo das prestaes previdencirias apenas ser devido aos segurados (em regra, aqueles que exercem atividade laborativa remunerada) e aos seus dependentes, pois no Brasil o sistema previdencirio contributivo direto.
Logo, embora exista, a universalidade previdenciria mitigada por sua necessria contributividade, haja vista limitar-se aos beneficirios do seguro, no atingindo toda a populao.
O artigo 13, da Lei 8.213/91, faculta a toda pessoa maior de 14 anos que no trabalhe a possibilidade de filiao ao Regime Geral de Previdncia Social, na qualidade de segura-do facultativo, desde que verta contribuies ao sistema previdencirio, a fim de realizar ao mximo a universalidade do sistema.
Este princpio busca conferir a maior abrangncia possvel s aes da seguridade so-cial no Brasil, de modo a englobar no apenas os nacionais, mas tambm os estrangeiros residentes, ou at mesmo os no residentes, a depender da situao concreta, a exemplo das aes indispensveis de sade, revelando a sua natureza de direito fundamental de efetivao coletiva.
Todavia, preciso advertir que a universalidade de cobertura e do atendimento da se-guridade social no tem condies de ser absoluta, vez que inexistem recursos financeiros disponveis para o atendimento de todos os riscos sociais existentes, devendo se perpetrar a escolha dos mais relevantes, de acordo com o interesse pblico, observada a reserva do possvel5.
Segundo Marcelo Leonardo Tavares6, a universalidade, alm do aspecto subjetivo, tambm possui um vis objetivo e serve como princpio: a organizao das prestaes de seguridade deve procurar, na medida do possvel, abranger ao mximo os riscos sociais.
Em sntese, a vertente subjetiva deste princpio determina que a seguridade social alcance o maior nmero possvel de pessoas que necessitem de cobertura, ao passo que a objetiva compele o legislador e o administrador a adotarem as medidas possveis para cobrir o maior nmero de riscos sociais.
possvel cindir este princpio a fim de ligar a Universalidade da Cobertura aos riscos sociais abarcados pelo Sistema Nacional de Seguridade Social (aspecto objetivo), enquanto a Universalidade do Atendimento se refere s pessoas destinatrias das prestaes securit-rias (aspecto subjetivo).
5. A reserva do possvel (expresso cunhada por J. J. Gomes Canotilho) tem bero doutrinrio e jurisprudencial na Alema-nha, pregando que a efetividade dos direitos sociais condiciona-se a efetiva disponibilidade de recursos pblicos, sendo que essa deciso cabia ao Parlamento e ao Governo na formulao do oramento pblico.
6. Direito Previdencirio, 11 edio, Impetus, p. 3.
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exemplo de aplicao da acepo subjetiva do Princpio da Universalidade da Co-bertura e do Atendimento no campo da Previdncia Social, a progressiva celebrao de tratados internacionais pelo Brasil, visando o reconhecimento do tempo de contribuio prestado por brasileiros no exterior para o pagamento de benefcios previdencirios por totalizao, existindo tratados celebrados com pases do MERCOSUL, Grcia, Itlia, Por-tugal e Japo, dentre outras naes.
Outrossim, os 127 e 138, do artigo 201, da Constituio Federal, insertos pela Emenda 47/2005, que tratam do sistema especial de incluso previdenciria dos tra-balhadores de baixa renda e dos que exercem trabalho domstico sem renda prpria, tambm decorrem de concretizao do Princpio da Universalidade da Cobertura e do Atendimento na esfera previdenciria, pois previstas carncias e alquotas inferiores para fomentar a incluso previdenciria, sendo atualmente regulamentos pelo artigo 21, da Lei 8.212/91, com redao dada pela Lei 12.470/2011.
4.2. Uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes ur-banas e rurais
Cuida-se de corolrio do Princpio da Isonomia no sistema de seguridade social, que objetiva o tratamento isonmico entre povos urbanos e rurais na concesso das prestaes da seguridade social.
Enquanto os benefcios so obrigaes de pagar quantia certa, os servios so obriga-es de fazer prestados no mbito do sistema securitrio.
Com efeito, no mais possvel a discriminao negativa em desfavor das populaes rurais como ocorreu no passado, pois agora os benefcios e servios da seguridade social devero tratar isonomicamente os povos urbanos e rurais.
Isso no quer dizer que no possa existir tratamento diferenciado, desde que haja um fator de discrmen justificvel diante de uma situao concreta, conforme ocorre em bene-fcio das populaes rurais por fora do artigo 195, 8, da CRFB, que prev uma forma especial de contribuio previdenciria baseada na produo comercializada, porquanto so consabidas as dificuldades e oscilaes que assolam especialmente a vida dos rurcolas que labutam em regime de economia familiar para a subsistncia.
Logo, em regra, os eventos cobertos pela seguridade social em favor dos povos urbanos e rurais devero ser os mesmos, salvo algum tratamento diferenciado razovel, sob pena de discriminao negativa injustificvel e consequente inconstitucionalidade material.
7. 12. Lei dispor sobre sistema especial de incluso previdenciria para atender a trabalhadores de baixa renda e queles sem renda prpria que se dediquem exclusivamente ao trabalho domstico no mbito de sua residncia, desde que pertencentes a famlias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefcios de valor igual a um salrio-mnimo.
8. 13. O sistema especial de incluso previdenciria de que trata o 12 deste artigo ter alquotas e carncias inferiores s vigentes para os demais segurados do regime geral de previdncia social.
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Nesse sentido, como poltica de ao afirmativa previdenciria, vez que o trabalho no campo desgastante em razo da exposio aos fatores climticos, os trabalhadores rurais tero direito reduo de cinco anos na aposentadoria por idade, no havendo qualquer-violao a este princpio.
4.3. Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios
A seletividade dever lastrear a escolha feita pelo legislador dos benefcios e servios integrantes da seguridade social, bem como os requisitos para a sua concesso, conforme as necessidades sociais e a disponibilidade de recursos oramentrios, funcionando como limitadora da universalidade da seguridade social.
Deveras, como no h possibilidade financeira de se cobrir todos os eventos desejados, devero ser selecionados para a cobertura os riscos sociais mais relevantes, visando melhor otimizao administrativa dos recursos, conforme o interesse pblico.
Na medida em que se operar o desenvolvimento econmico do pas, dever o Poder Pblico expandir proporcionalmente a cobertura da seguridade social, observado o ora-mento pblico, notadamente nas reas da sade e da assistncia social.
Demais disso, como base no Princpio da Seletividade, o legislador ainda ir escolher as pessoas destinatrias das prestaes da seguridade social, consoante o interesse pblico, sempre observando as necessidades sociais.
Dessarte, se determinada pessoa necessite de uma prtese para suprir a carncia de um membro inferior, existindo disponveis no mercado um produto nacional de boa quali-dade que custe R$ 1.000,00, e uma importada de excelente qualidade no importe de R$ 10.000,00, o sistema de sade pblica apenas dever custear a nacional, pois certo que inexiste dinheiro pblico em excesso, sendo a melhor opo beneficiar dez pessoas com a prtese nacional do que apenas uma com a importada.
Outro exemplo de aplicao do Princpio da Seletividade ocorreu na Emenda 20/1998, que restringiu a concesso do salrio-famlia e do auxlio-recluso para os dependentes dos segurados de baixa renda, conforme a atual redao do artigo 201, inciso IV, da Consti-tuio Federal.
Ademais, se uma pessoa apenas se encontra temporariamente incapaz para o trabalho habitual, ela no ser selecionada para o benefcio previdencirio da aposentadoria por invalidez, mas apenas do auxlio-doena, pois no est invlida permanentemente.
Por seu turno, a distributividade coloca a seguridade social como sistema realizador da justia social, consectrio do Princpio da Isonomia, sendo instrumento de descon-centrao de riquezas, pois devem ser agraciados com as prestaes da seguridade social especialmente os mais necessitados.
Assim, como exemplo, apenas faro jus ao benefcio do amparo assistencial os idosos e os deficientes fsicos que demonstrem estar em condio de miserabilidade, no sendo uma prestao devida aos demais que no se encontrem em situao de penria.
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Como muito bem afirmado por Sergio Pinto Martins, seleciona para poder distribuir9. Considerando que a assistncia social apenas ir amparar aos necessitados, nos termos do artigo 203, da Constituio, entende-se que neste campo que o Princpio da Distributividade ganha a sua dimenso mxima, e no na sade e na previdncia social, pois redistribui as riquezas da nao apenas em favor dos miserveis.
que a sade pblica gratuita para todos, podendo uma pessoa abastada se valer de atendimento pelo sistema nico de sade. J a previdncia social apenas proteger os segurados e seus dependentes, no bastando ter necessidade de proteo social para fazer jus s prestaes previdencirias.
4.4. Irredutibilidade do valor dos benefcios
Por este princpio, decorrente da segurana jurdica, no ser possvel a reduo do valor nominal de benefcio da seguridade social, vedando-se o retrocesso securitrio.
Com propriedade, no seria possvel que o Poder Pblico reduzisse o valor das pres-taes mesmo durante perodos de crise econmica, como a enfrentada pelo mundo em 2008/2009, ao contrrio do que poderia ocorrer com os salrios dos trabalhadores, que excepcionalmente podem reduzidos se houver acordo coletivo permissivo10.
No que concerne especificamente aos benefcios previdencirios, ainda garantido constitucionalmente o reajustamento para manter o seu valor real, conforme os ndices definidos em lei11, o que reflete uma irredutibilidade material.
Esta disposio atualmente regulamentada pelo artigo 41-A, da Lei 8.213/91, que garante a manuteno do valor real dos benefcios pagos pelo INSS atravs da incidncia anual de correo monetria pelo INPC, na mesma data de reajuste do salrio mnimo.
Ou seja, esta norma principiolgica atinge a sua mxima efetividade na previdncia social (em razo do seu carter contributivo), vez que, alm de no poder reduzir o valor nominal do benefcio previdencirio, o Poder Pblico ainda obrigado a conceder um reajuste anual para manter o seu poder aquisitivo.
Logo, v.g., se um benefcio da sade pblica ou da assistncia social por pago no valor de R$ 200,00 por largo perodo, no haver violao constitucional, pois apenas o seu va-lor nominal no poder ser diminudo, inexistindo determinao para o seu reajustamento peridico visando manter o poder real de compra, certamente em razo do seu carter no contributivo.
Contudo, no caso de um benefcio previdencirio, alm de no poder reduzir o seu valor nominal, o Poder Pblico ainda dever garantir o seu reajustamento peridico, a teor da ordem insculpida no artigo 201, 4, da Constituio, em funo do carter contribu-tivo que marca a previdncia social no Brasil.
9. Direito da Seguridade Social, 29 edio, Atlas, p. 55.10. Artigo 7, inciso VI, da CRFB.11. Artigo 201, 4, da CRFB.
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Irredutibilidade pelo valor nominal Sade pblica e assistncia social
Irredutibilidade pelo valor real Previdncia social
Impende salientar que a jurisprudncia do STJ no vinha admitindo a aplicao de ndice negativo de correo monetria no perodo de deflao para os benefcios previ-dencirios. De acordo com a Corte Superior, considerando a garantia constitucional de irredutibilidade do valor dos benefcios (art. 194, pargrafo nico, IV da CF) e o fim social das normas previdencirias, no h como se admitir a reduo do valor nominal do benefcio previdencirio pago em atraso, motivo pelo qual o ndice negativo de correo para os perodos em que ocorre deflao deve ser substitudo pelo fator de correo igual a zero, a fim de manter o valor do benefcio da competncia anterior (perodo mensal)12.
Contudo, no ano de 2012, a jurisprudncia do STJ se firmou em sentido contr-rio. Com base em precedente da Corte Especial, a 3 Seo passou a admitir a aplicao de ndices negativos de inflao na atualizao dos benefcios previdencirios, desde que respeitada irredutibilidade do valor total a ser pago a ttulo de parcelas atrasadas:
EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL N 1.142.014 RS
Publicado em 11/10/2012
PREVIDENCIRIO. EMBARGOS DE DECLARAO NO AGRAVO REGIMEN-TAL NO RECURSO ESPECIAL. POSSIBILIDADE DE APLICAO DE NDICE INFLACIONRIO NEGATIVO SOBRE A CORREO MONETRIA, DESDE QUE PRESERVADO O VALOR NOMINAL DO MONTANTE PRINCIPAL.
1. A Corte Especial deste Tribunal no julgamento do REsp n 1.265.580/RS, Relator o Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 18/4/2012, modificou a compreenso ento vigente, passando a adotar o entendimento segundo o qual desde que preservado o valor nominal do montante principal, possvel a aplicao de ndice inflacionrio negativo sobre a correo monetria de dbitos previdencirios, porquanto os ndi-ces deflacionados acabam se compensando com supervenientes ndices positivos de inflao.
2.Embargos de declarao acolhidos com excepcionais efeitos modificativos.
4.5. Equidade na forma de participao no custeio
O custeio da seguridade social dever ser o mais amplo possvel, mas precisa ser iso-nmico, devendo contribuir de maneira mais acentuada aqueles que dispuserem de mais recursos financeiros, bem como os que mais provocarem a cobertura da seguridade social.
Alm de ser corolrio do Princpio da Isonomia, possvel concluir que esta norma principiolgica tambm decorre do Princpio da Capacidade Contributiva, pois a exign-cia do pagamento das contribuies para a seguridade social dever ser proporcional riqueza manifestada pelos contribuintes desses tributos.
12. Passagem do julgamento do REsp 1.144.656, de 26.10.2010.
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Apndice 8 Smulas previdencirias do STF, STJ, TNU, AGU e CRPS
apnDice 8 smulas previDencirias Do sTF, sTJ, Tnu, agu e crps
SUPREMO TRIBUNAL FEDERALSmula vinculante 02 inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consrcios e sorteio, inclusive bingos e loterias.
Smula vinculante 03 Nos processos perante o tribunal de contas da unio asseguram-se o contraditrio e a ampla defesa quando da deciso puder resultar anulao ou revogao de ato administrativo que beneficie o in-teressado, excetuada a apreciao da legalidade do ato de concesso inicial de aposentadoria, reforma e penso.
Smula vinculante 08 So inconstitucionais o pargrafo nico do artigo 5 do Decreto-Lei n 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei n 8.212/1991, que tratam de prescrio e decadncia de crdito tributrio.
Smula vinculante 22 A Justia do Trabalho competente para processar e julgar as aes de indenizao por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empre-gador, inclusive aquelas que ainda no possuam sentena de mrito em primeiro grau quando da promulgao da Emenda constitucional 45/04.
Smula vinculante 33 Aplicam-se ao servidor pblico, no que couber, as regras do Regime Geral de Previ-dncia Social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, pargrafo 4, inciso III, da Constituio Federal, at edio de lei complementar especfica.
Smula 730 A imunidade tributria conferida a instituies de assistncia social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, c, da Constituio, somente alcana as entidades fechadas de previdncia social privada se no houver contribuio dos beneficirios.
Smula 729 A deciso na ao direta de constitucionalidade 4 no se aplica antecipao de tutela em causa de natureza previdenciria.
Smula 726 Para efeito de aposentadoria especial de professores, no se computa o tempo de servio pres-tado fora da sala de aula.Observao No julgamento da ADI 3772 (DJe n 59/2009), o Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, por maioria, decidiu que as funes de direo, coordenao e assessoramento pedaggico integram a carreira do ma-gistrio, desde que exercidos, em estabelecimentos de ensino bsico, por professores de carreira, excludos os especialistas em educao, fazendo jus aqueles que as desempenham ao regime especial de aposentadoria estabelecido nos arts. 40, 4, e 201, 1, da Constituio Federal.
Smula 689 O segurado pode ajuizar ao contra a instituio previdenciria perante o juzo federal do seu domiclio ou nas varas federais da Capital do Estado-Membro.
Smula 688 legtima a incidncia da contribuio previdenciria sobre o 13 salrio.
Smula 687 A reviso de que trata o art. 58 do ADCT no se aplica aos benefcios previdencirios concedi-dos aps a promulgao da Constituio de 1988.
Smula 669 Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigao tributria no se sujeita ao prin-cpio da anterioridade.