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PROVA ORAL Direito Processual Penal

PROVA ORAL Direito Processual Penal PROC… · Penal. Imunidades. Teoria geral do processo penal e sistemas processuais. Direitos e garantias constitucionais no Direito Processual

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Direito Processual Penal

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Aula 01

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

EDITAL UNIFICADO: TJMG/TJPR/TJRJ/TJRS

Este material foi construído com base nas obras / aulas dos seguintes

autores:

JÚNIOR, Auri Lopes. Fundamentos do Processo Penal. Saraiva, 5ª

Edição, 2019; MOUGENOT, Edilson.Curso de processo penal. Saraiva,

13ª Edição, 2019; TÁVORA, Nestor; ARAÚJDO, Fábio Roque. Código

de Processo Penal para Concursos. JusPodvm, 2020. BRITO, Alexis C.

de; FABRETI, Humberto B.; LIMA, Marco Antônio F.Processo Peal

Brasileiro. Atlas. 4º Edição, 2019. Site Dizer o Direito.

Norma processual penal. Fontes do direito processual penal. Principios

Processuais Penais. Sumula vinculante. Principios constitucionais e

infraconstitucionais aplicaveis. Principios Constitucionais do Processo

Penal. Interpretacao e integracao. A lei processual no tempo, no

espaco e em relacao as pessoas. Interpretacao da Lei Processual

Penal. Imunidades. Teoria geral do processo penal e sistemas

processuais. Direitos e garantias constitucionais no Direito Processual

Penal. Codigo de Processo Penal (Decreto- Lei no 3.689, de 3 de

outubro de 1941).

1. Quais são as fontes do direito processual penal?

A palavra fonte quer dizer “onde nasce o direito processual penal.” Assim, as

fontes são:

1 - Fontes materiais: define quem será responsável pela edição de normas sobre o

Processo Penal. CF, Art. 22, I. Compete privativamente à União legislar sobre direito

“processual”. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a

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legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Já em relação

a procedimento a competência é concorrente da União, dos Estados e do Distrito

Federal.

2 - Fontes formais - é a maneira pela qual as normas jurídicas são exteriorizadas.

- Imediata – a lei em sentido amplo, abrangendo a Constituição Federal, a legislação

infraconstitucional, os tratados, convenções e regras de Direito Internacional.

- Mediata – os costumes, a analogia e os princípios gerais de direito e as súmulas

vinculantes. Embora não vinculem a atuação do Estado, servem de importante

direcionamento na atuação Estatal.

Com relação às súmulas vinculantes, a doutrina majoritária entende ser fonte

mediata, por não possuir força de lei. Há uma corrente minoritária que entende que seria

fonte formal imediata.

2. Para que servem os princípios constitucionais processuais penais

Os Princípios Constitucionais do Processo Penal são constitutivos das chamadas

“regras do jogo”, ou do devido processo, servindo, ao mesmo tempo, como mecanismos

de limitação e legitimação do poder de punir.

Pensamos o processo penal a partir da “instrumentalidade constitucional”, ou seja,

um instrumento a serviço da máxima eficácia do sistema de garantias da Constituição e

um caminho necessário para chegar-se a uma pena (ou não pena), permeado por regras

que limitam o exercício do poder punitivo.

3. Cite alguns princípios constitucionais explícitos de conteúdo processual penal.

Exemplos de princípios constitucionais de conteúdo processual

penal explícitos:

a) Princípio da presunção de inocência (5º, LVII);

b) Princípio do contraditório (5º, LV);

c) Princípio da ampla defesa (5º, LV) e plenitude de defesa (5,

XXXVIII, a);

d) Princípio da igualdade processual ou da Paridade de Armas (5º,

caput);

e) Princípio da publicidade (5º, LX);

f) Princípio do juiz natural (5º, XXXVII);

g) Princípio do devido processo legal (5º, LIV);

h) Princípio da razoável duração do processo (5º, LXXVIII);

i) Princípio da vedação às provas ilícitas (5º, LVI).

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j) Princípio do direito ao silêncio ou não autoincriminação (5º,

LXIII);

4. Cite alguns princípios constitucionais implícitos de conteúdo processual penal.

Exemplos de princípios constitucionais de conteúdo processual

penal explícitos:

a) Princípio da da verdade real;

b) Princípio do promotor natural;

c) Princípio do duplo grau de jurisdição;

d) Princípio da não autoincriminação (nemo tenetur se detegere);

e) Princípio da iniciativa das partes ou da ação ou da demanda;

f) Princípio da correlação entre acusação e sentença (congruência);

g) Princípio do juiz imparcial;

h) Princípio da vedação à dupla imputação (ne bis in idem)

5. Fale sobre o princípio do juiz natural.

O princípio do juiz natural visa garantir a existência de um juiz

imparcial através da investidura da jurisdição e fixação de competência.

A Constituição estabelece em seu art. 5°, LIII que:

Art. 5º (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela

autoridade competente;

Este princípio possui dois desdobramentos: 1) o direito do

cidadão ser processado pela autoridade competente, isto é, o

magistrado devidamente investido da jurisdição; b) vedação à criação

de Tribunal ou Juízo de exceção, que são aqueles criados pós-fato,

especificamente para julgarem estes fatos.

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6. A conduta de uma pessoa, detida pela autoridade policial, atribuir-se falsa

identidade é típica ou configura exercício do direito à não autoincriminação?

Trata-se de conduta típica, conforme a Súmula 522 do STJ: “A conduta de

atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em

situação de alegada autodefesa”.

7. Fale das principais características do sistema inquisitivo

Características do Sistema Inquisitório:

a) gestão/iniciativa probatória nas mãos do juiz;

b) ausência de separação das funções de acusar e julgar (aglutinação das funções nas mãos

do juiz);

c) violação do princípio ne procedat iudex ex officio, pois o juiz pode atuar de ofício (sem

prévia invocação);

d) juiz parcial;

e) inexistência de contraditório pleno;

f) desigualdade de armas e oportunidades.

8. Cite algumas características do sistema acusatório.

Características do Sistema Inquisitório:

a)Gestão/iniciativa probatória nas mãos das partes (juiz-espectador = princípio acusatório

ou dispositivo);

b) radical separação das funções de acusar e julgar (durante todo o processo);

c) observância do princípio ne procedat iudex ex officio;

d) juiz imparcial;

e) pleno contraditório;

f) igualdade de armas e oportunidades (tratamento igualitário).

9. Qual o sistema adotado no Brasil?

Predomina na doutrina que o Brasil adota o sistema acusatório.

Alguns doutrinadores entendem que o CPP adotou o sistema misto, tendo em

vista que o inquérito policial é inquisitivo, sem publicidade.

Outros, ainda, entendem que o Brasil adota o sistema acusatório, mas não de forma

pura, em face da existência do inquérito, existindo, porém, uma clara predominância do

sistema acusatório, porém dadas as características do inquérito policial.

A maioria da doutrina afasta o sistema misto uma vez que o inquérito, apesar de

ser essencialmente inquisitorial, ocorre em um sistema pré-processual, de investigação

preliminar, motivo pelo qual não se pode caracterizar nosso sistema processual com base

nele.

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A Lei n. 13.964/2019 veio para determinar que o processo penal seja

orientado pelo sistema acusatório, estabelecendo essa diretriz na nova redação do

art. 3º-A, mas para isso é preciso reconhecer que o art. 156 está tacitamente

revogado, bem como diversos outros artigos do CPP que ainda atribuem ao juiz a

faculdade de agir de ofício na produção de provas

10. Fale um pouco sobre o princípio da imparcialidade

A imparcialidade corresponde ao devido distanciamento do julgador em

relação aos fatos que deve apreciar.

A imparcialidade é garantida pelo modelo acusatório e sacrificada no sistema

inquisitório, de modo que somente haverá condições de possibilidade da imparcialidade

quando existir, além da separação inicial das funções de acusar e julgar, um afastamento

do juiz da atividade investigatória/instrutória.

11. O que seria o juiz das Garantias, figura trazida pela lei do pacote anticrime?

Qual sua finalidade?

A finalidade do instituto é reforçar a imparcialidade do juiz.

Com essa nova regra, temos um juiz atuando na fase de investigação criminal,

o qual ficará impedido de atuar na fase processual.

Desta forma, o julgador que atuará na fase processual não terá conhecimento

prévio da matéria, iniciando sua atuação já sob os princípios do contraditório e ampla

defesa, preservando seu distanciamento para a instrução e julgamento.

Os dispositivos que tratam do juiz das garantias tiveram sua implantação

suspensa pelo STF em ADIs sobre o tema, ao argumento de que violaria o princípio

da iniciativa, já que trata de matéria de organização judiciária, além da ausência de

dotação orçamentária para os novos custos. A suspensão é por 80 dias a contar de

23/01/2020. Existe um grupo de trabalho estudando formas de possibilitar a

implantação das medidas.

12. Fale um pouco a respeito do princípio da presunção da inocência.

No Brasil, a presunção de inocência está expressamente consagrada no art. 5º,

LVII, da constituição, sendo o princípio reitor do processo penal. Art. 5, LVII – ninguém

será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Este princípio tem dois desdobramentos: o primeiro, de tratamento, e, por meio

dele, o réu não ode ser tratado como culpado enquanto não houver o trânsito em julgado

da condenação.

Foi em razão deste aspecto que o STF mudou o entendimento sobre a execução

provisória da pena, a qual foi admitida de fevereiro de 2016 a novembro de 2019, quando

o Supremo permitiu a prisão quando a condenação havia sido confirmada por um tribuna

de segundo grau. Em novembro de 2019 esse entendimento voltou a mudar e no

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julgamento da ADC 43/DF, da ADC 44/DF e da ADC 54/DF, o plenário julgou

procedente as ações para declarar a constitucionalidade do art. 283 do CPP. Restou

vedado o cumprimento das execuções sem o trânsito em julgado das condenações.

O segundo desdobramento é o probatório, ou seja, o ônus de provar a

culpabilidade do réu é da acusação, pois, presume-se o mesmo inocente.

13. Fale um pouco a respeito do princípio do contraditório e da ampla defesa no

Processo Penal

Ambos estão indissoluvelmente ligados, porquanto é a ampla defesa que garante

o contraditório mas também por este se manifesta e é garantida. Eis a íntima relação e

interação da defesa e do contraditório”

Tanto o contraditório como a ampla defesa são direitos constitucionalmente

assegurados no art. 5º, LV, da CB: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,

e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e

recursos a ela inerentes.

Pelo princípio do contraditório as partes devem ser cientificadas da realização dos

atos processuais, permitindo-se, ainda que possam participar de toda a relação jurídica,

influindo no convencimento do julgador.

A ampla defesa, portanto, seria mais ampla, consubstancia-se no direito das partes

de oferecer argumentos em seu favor e de demonstrá-los, nos limites em que isso seja

possível. Conecta-se, portanto, aos princípios da igualdade e do contraditório. Não supõe

o princípio da ampla defesa uma infinitude de produção defensiva a qualquer tempo, mas,

ao contrário, que esta se produza pelos meios e elementos totais de alegações e provas no

tempo processual oportunizado por lei.

A defesa pode ser exercida por meio da defesa técnica e também da autodefesa.

Enquanto a autodefesa é exercida pelo próprio acusado, a defesa técnica é exercido por

profissional habilitado, com capacidade postulatória, e conhecimentos técnicos,

assegurando assim a paridade de armas entre a acusação e a defesa.

14. Fale um pouco a respeito do princípio da motivação das decisões judiciais

Ela está expressamente prevista no art. 93, IX, da CB. Tal garantia processual

permite o controle da racionalidade e da legalidade das decisões.

Se por um lado o juiz é livre para formar seu convencimento acerca da prova, é

imperativo que exponha, motivando as decisões que proferir, os elementos de prova que

fundamentam suas decisões e as razões pelas quais esses elementos serão considerados

determinantes. A motivação inclui, ainda, a fundamentação legal da decisão, por

referência aos dispositivos normativos que, confrontados aos elementos de prova,

determinam a decisão proferida.

15. Dentro do tema lei processual no tempo, fale sobre o princípio da imediatidade

da norma processual penal

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O Princípio da Imediatidade está previsto no art. 2º do CPP - Art. 2o A lei

processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados

sob a vigência da lei anterior.

16. O que é a imunidade processual penal prevista na CF.

Certas pessoas, durante o exercício de determinadas funções, não estão

submetidas à autoridade do Poder Judiciário. Ficam, assim, excluídas do âmbito de

vigência de algumas normas processuais enquanto permanecerem no exercício da função.

17. Quais as imunidades processuais penais do Presidente da República?

O Presidente da República não pode ser preso por crimes comuns (não

relacionados à função) enquanto estiver no exercício da função, salvo por sentença

condenatória com trânsito em julgado (art. 86, § 3º, da Constituição Federal), bem como

não poderá ser responsabilizado, na vigência do seu mandato, por atos estranhos ao

exercício de suas funções (art. 86, § 4º, da CF).

18. Quais as imunidades processuais penais dos Deputados e Senadores?

Deputados e senadores não são obrigados a dar testemunho sobre “informações

recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que

lhes confiaram ou delas receberam informações” (§ 6º do art. 53 da CF). Além disso, deputados e senadores não podem ser presos senão em flagrante

delito, pela prática de crime inafiançável, caso em que ainda assim a casa legislativa

respectiva poderá deliberar sobre a prisão (art. 53, § 2º, da Constituição Federal).

O art. 53, § 3º, da Constituição prevê que, durante o trâmite do processo, até a

prolação de decisão final, a casa legislativa a que pertencer o parlamentar

processado poderá sustar o andamento da ação, determinando sua suspensão

enquanto durar o mandato. Durante o período de suspensão do processo, ficará

suspenso, também, o curso do prazo prescricional da pretensão punitiva (§ 5º do

dispositivo legal mencionado). Se eventualmente processados, possuem a garantia de

foro por prerrogativa de função, tal como disposto no art. 53, § 1º, da Constituição

Federal.

19. Os diplomatas têm imunidade processual?

Por força da Convenção de Viena, à qual aderiu o Brasil, os diplomatas, além de

gozarem de imunidade penal, não podem ser obrigados a testemunhar. Em verdade,

exercendo parcelas do poder do Estado em nome do qual desempenham suas funções, os

diplomatas e representantes de governos estrangeiros em geral não se submetem, em face

da soberania estatal, ao poder jurisdicional do país em que se encontrem.

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20. As imunidades formais dos deputados federais se estende aos estaduais?

Sim, por expressa determinação do art. 27 da CF, segunda parte.

21. E aos Vereadores?

Não. Aos vereadores, a Constituição garante apenas a inviolabilidade “por suas

opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município” (art.

29, VIII). Silencia, portanto, sobre as imunidades processuais.

Por se tratar de garantia de cunho político e processual, de competência privativa

da União, os Municípios não podem estabelecer, para seus vereadores, a imunidade

processual, motivo pelo qual essa garantia não se aplica aos vereadores.

22. Quanto aos Governadores, há necessidade de prévia autorização da Assembléia

Legislativa para o recebimento da denúncia ou queixa pelo STJ?

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento de três Ações Diretas de

Inconstitucionalidade (ADIs 4798, 4764 e 4797), confirmou o entendimento de que as

unidades federativas não têm competência para editar normas que exijam

autorização da Assembleia Legislativa para que o Superior Tribunal de Justiça (STJ)

instaure ação penal contra governador e nem para legislar sobre crimes de

responsabilidade. Também foi confirmado que, no caso de abertura de ação penal, o

afastamento do cargo não acontece automaticamente.

Ao pacificar esse entendimento, os ministros aprovaram, por unanimidade, uma

tese segundo a qual “é vedado às unidades federativas instituírem normas que

condicionem a instauração de ação penal contra governador, por crime comum, à

previa autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça

dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,

inclusive afastamento do cargo”.

23. O foro por prerrogativa de função se aplica a todos os crimes cometidos durante

o exercício do mandato?

Não, segundo tese definida pelo STF na AP 937 QO: O foro por prerrogativa de

função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados

às funções desempenhadas.

24. Cessando o mandato, cessa o foro por prerrogativa de função? Tem exceção?

Em regra sim, cessando o mandato, remete-se o processo para o juízo de primeira

instância.

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No entanto, o STF firmou entendimento, na AP 937 QO, no sentido de: Após o

final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para

apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais

não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou

deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.

25. O art. 3º do CPP prevê que a lei processual penal admitirá interpretação

extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais

de direito. O que seria interpretação extensiva?

Interpretação extensiva é aquele em que o intérprete amplia o conteúdo da lei,

quando ela disse menos do que deveria. É um método de interpretação.

Exemplo: Ex.: quando se cuida das causas de suspeição do juiz (art. 254, CPP),

deve-se incluir também o jurado, que não deixa de ser um magistrado, embora leigo. Onde

se menciona no Código de Processo Penal a palavra réu, para o fim de obter liberdade

provisória, é natural incluir-se indiciado. Amplia-se o conteúdo do termo para alcançar o

autêntico sentido da norma. Também o art. 581 que prevê a possibilidade de recurso em

sentido estrito contra a decisão que rejeita a denúncia, mas não diz nada em relação ao

aditamento da denúncia, que, se for rejeitado, por uma interpretação extensiva, poderá ser

atacado pelo mesmo recurso.

26. O art. 3º do CPP prevê que a lei processual penal admitirá interpretação

extensiva e aplicação analógica, bem como o suplementos dos princípios gerais

de direito. O que seria analogia e interpretação analógica?

A interpretação analógica é um processo de interpretação, usando a

semelhança indicada pela própria lei. É o que se vê, por exemplo, no caso do art. 254

do Código de Processo Penal, cuidando das razões de suspeição do juiz, ao usar na lei a

expressão “estiver respondendo a processo por fato análogo”.

Analogia, por sua vez, é um processo de integração do direito, utilizado para

suprir lacunas. Aplica-se uma norma existente para uma determinada situação a um caso

concreto semelhante, para o qual não há qualquer previsão legal. No processo penal, a

analogia pode ser usada contra ou a favor do réu, pois não se trata de norma penal

incriminadora, protegida pelo princípio da reserva legal, que exige nítida definição do

tipo em prévia lei.

27. O que significa o princípio da imediatidade da lei processual penal?

Também conhecido como princípio da aplicação imediata das normas

processuais, O Princípio da Imediatidade está previsto no art. 2º do CPP - Art. 2o A lei

processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados

sob a vigência da lei anterior.

A lei processual penal se aplica imediatamente, a partir de sua entrada em

vigor. Esse é o mandamento do art. 2º do Código de Processo Penal. Isso significa que

assim que uma lei processual cumprir seu período de vacatio legis – se houver –, passará

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a ser aplicada a todos os processos, mesmo aos que tiverem por objeto um delito praticado

antes de sua vigência.

28. Com relação às leis mistas ou híbridas, o que são e o que decidiu o STF quanto

à sua aplicação?

Não se pode pensar o direito penal desconectado do processo penal e vice-versa,

devendo ser feita uma análise à luz do sistema penal.

Assim, existem leis que são consideradas mistas ou híbridas, tendo preceitos de

ordem material e processual em seu bojo.

O STF já pacificou o entendimento de que, neste caso, não pode haver cisão,

devendo ser aplicada de forma total, prevalecendo o aspecto material (penal). Portanto,

cabe ao intérprete concentrar-se nesse aspecto da referida lei, ou seja, no aspecto material,

e avaliar se é benéfico ou maléfico.

Se for benéfico, retroagirá, e a parte processual da lei terá aplicação a partir da sua

vigência, já que os atos processuais eventualmente já praticados reputam-se válidos.

Sendo maléfico, não há retroação, e a parte processual da lei só é aplicada aos

crimes ocorridos após a sua entrada em vigor, ou seja, nenhum aspecto da norma é

aplicada aos delitos anteriores.

29. Dentro do tema lei processual no espaço, fale sobre o princípio da

territorialidade da lei processual penal.

Tal princípio está consagrado no art. 1º do CPP, não havendo a mesma

problemática do direito penal, que admite a extraterritorialidade. Assim, a lei penal pode

ser aplicada fora do território nacional nos casos do art. 7º do CP, mas as leis processuais

penais não podem, pois não possuem extraterritorialidade.

Alguns doutrinadores apontam algumas exceções, como: a) território nullius; b)

concordância do território estrangeiro em aplicar a lei processual penal brasileira; c)

territórios ocupados em tempo de guerra.

Com relação à aplicação da lei processual penal, temos algumas exceções no

território brasileiro, como processos de competência da justiça militar, da jurisdição

política (ex. julgamento do presidente perante o senado por crime de responsabilidade),

agentes diplomáticos etc.

30. O Brasil pode entregar um brasileiro para ser julgado pelo Tribunal Penal

Internacional?

Sim, por expressa previsão do art. 5º, § 4º, da CF, o Brasil aderiu à jurisdição do

Tribunal Penal Internacional, podendo, portanto, entregar o autor de crime praticado em

solo nacional para julgamento pelo referido Tribunal, sendo espécie de jurisdição

complementar à brasileira.

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Investigacao criminal e orgaos investigativos. Inquerito policial.

Auto de prisao em flagrante delito. Acao penal. Da Compete ncia.

Extincao da punibilidade no CPP e na Lei no 9.099, de 26 de

setembro de 1995. Acao civil ex delicto. Jurisdicao e compete ncia.

Questoes e procedimentos incidentes. Provas. Sujeitos do processo.

Atos e prazos processuais. Citacoes e intimacoes. Sentenca e

provimentos judiciais. Coisa julgada. Processo e procedimentos em

especie. Nulidades. Recursos. Revisao criminal. Habeas Corpus.

Mandado de seguranca criminal.

31. Qual a natureza jurídica do inquérito policial? Para que serve?

Quanto à natureza jurídica, é um procedimento administrativo pré-

processual.

O inquérito busca investigar o fato aparentemente criminoso constante na notícia-

crime ou descoberto de ofício pela autoridade policial. Ele nasce no campo da

possibilidade de que exista um fato punível e pretende atingir o grau de probabilidade

(fumus commissi delicti) para que acusação seja exercida.

O modelo brasileiro de investigação preliminar é policial (a autoridade

encarregada é a polícia judiciária) e destina-se à apuração das infrações penais e da sua

autoria (art. 4º do CPP).

32. Quais as formas de iniciar um IP?

O Inquérito Policial pode se iniciar de diversas formas, conforme o crime seja de

ação pública, pública condicionada ou privada:

1) De ofício (art. 5º, I) - Sendo a Autoridade Policial a encarregada da presidência

dos autos de Inquérito Policial, sempre que receber a comunicação de um crime público,

ou seja, que será apurado em uma ação penal pública, deverá, por oficialidade e

indisponibilidade, instaurar o inquérito policial.

2) Por requisição (art. 5º, II) - O termo requisição indica uma ordem. Por vezes, a

notícia de uma infração penal poderá ser dirigida ou mesmo constatada por uma

autoridade judiciária ou por um membro do Ministério Público. A terceira autoridade a

que se concede a incumbência de requisitar a instauração de um Inquérito Policial é o

Ministro da Justiça, nos casos de ação condicionada a esta requisição.

3) Por requerimento (a pedido) - O ofendido também poderá solicitar a instauração

do Inquérito Policial. O requerimento representa um pedido do interessado para a

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movimentação da máquina administrativa que deverá conter a narrativa detalhada dos

fatos, suas circunstâncias, indicar as testemunhas e, quando possível, identificar a autoria.

Contudo, embora se trate de um pedido, o Delegado de Polícia estará obrigado a instaurar

o inquérito policial em caso de um requerimento que noticie um delito a ser objeto de

uma Ação Penal Pública, desde que haja verossimilhança nas alegações constantes do

requerimento. Em se tratando de um delito de Ação Penal Pública Condicionada, o

requerimento terá a validade de uma representação, e sendo a ação privada, o

requerimento será peça inicial que autorizará o início das investigações, não podendo

proceder a Autoridade Policial antes deste pedido, conforme expressamente reza o art. 5º,

§ 5º do CPP.

4) Por auto de prisão em flagrante - se o autor do fato for surpreendido cometendo

ou logo após o cometimento de uma infração penal, sua captura poderá dar ensejo à

realização de uma prisão em flagrante. O auto, presidido pelo delegado de polícia, será a

peça inicial do inquérito policial, não havendo a necessidade de outra peça a inaugurar o

procedimento. Ao término do auto, a Autoridade Policial colocará seu despacho

determinando que o escrivão de polícia autue e registre o auto de prisão em flagrante,

bem como as demais peças, que darão início ao inquérito policial.

5) Por auto de apresentação espontânea - Ao contrário de ser surpreendido

cometendo o ilícito, o autor de uma conduta típica poderá espontaneamente procurar a

autoridade e comunicar-lhe a ocorrência de uma infração, até então desconhecida. Nesse

caso, a exemplo do auto de prisão em flagrante, o inquérito policial será iniciado pelo

respectivo auto de apresentação.

33. Havendo nulidade do auto de prisão em flagrante, há algum efeito sobre a ação

penal?

Eventual irregularidade do auto de prisão em flagrante invalida apenas a prisão,

não contaminando a posterior ação penal, desde que a prova do delito tenha sido obtida

licitamente.

34. É possível que um inquérito seja deflagrado com base em notícia jornalística?

Sim.

Segundo decidiu o STJ no julgamento do RHC 98.056/CE (j. 04/06/2019), a

publicação na imprensa pode caracterizar a notitia criminis espontânea e, portanto, é

uma fonte legítima para a instauração de investigação policial. A Corte Especial assentou que a investigação criminal pode ser deflagrada a partir de elementos obtidos

pelo desempenho de atividades ordinárias da autoridade policial, que pode tomar

conhecimento da possível prática de um crime pelos mais diversos meios, dentre eles

as notícias veiculadas pela imprensa:

35. O que seria o indiciamento?

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O indiciamento é um ato formal e fundamentado, através do qual a autoridade

policial afirma a existência de um “feixe de indícios convergentes” que apontam

para certa pessoa como autora de um fato aparentemente criminoso.

Não há previsão no CPP do momento no qual deve ocorrer o indiciamento, se no

final do inquérito (no relatório) ou no curso da investigação (tão logo surjam elementos

que apontem concretamente para alguém). O indiciamento é situacional, provisório, pois

o indiciado de hoje pode não ser acusado depois no processo, e tampouco vincula o

Ministério Público.

36. O Inquérito Policial se submete ao contraditório?

O inquérito policial, como se viu, é procedimento meramente informativo,

destinado à investigação de um fato possivelmente criminoso e à identificação de seu

autor, com vistas à obtenção de elementos suficientes para a propositura de uma ação

penal. Por isso, não integrando o processo penal em sentido estrito, conforme pacífica

jurisprudência do STF e do STJ, não está sujeito ao princípio do contraditório ou da

ampla defesa. O suspeito ou indiciado apresenta-se apenas como objeto da atividade

investigatória, resguardados, contudo, seus direitos e garantias individuais.Importante

ressalar que, embora o art. 5º, LV, da CF, preconize que “aos litigantes, em processo

judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e

ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”, o inquérito tem natureza de

procedimento e não de processo.

37. A parte pode requerer diligências?

Pode, porém, sua realização ou não ficará a juízo da autoridade policial, nos

termos do art. 14 do CPP.

38. Mas a parte em acesso a todas as diligências e provas?

Importante ressaltar que sobre as diligências recairá sigilo absoluto até que sua

realização esteja concluída. Lembre-se de que não se aplica o princípio da ampla defesa

ao inquérito policial, por ser procedimento meramente informativo de natureza

administrativa, e cujo necessário sigilo pode ser imprescindível para as investigações,

reconhecendo a prevalência do interesse público sobre o privado. Após sua conclusão,

entretanto, o acesso às informações obtidas por meio das investigações deverá ser

franqueado ao investigado e a seu advogado.

Assim, o art. 7º, § 11, da Lei n. 8.906/94, incluído pela Lei n. 13.245/2016, prevê

que “a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de

prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos,

quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das

diligências”.

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Esse novo dispositivo veio consolidar a solução que a jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal havia dado com o julgamento do Habeas Corpus n. 82.354, versando

sobre o direito do advogado da parte de obter acesso aos autos de inquérito no qual se

realizavam diligências de caráter sigiloso, decidindo-se que “o direito do indiciado, por

seu advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito,

não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso”.

Ainda, não se pode deixar de mencionar, sobre o tema, que o Supremo Tribunal

Federal editou a Súmula Vinculante 14, que dispõe: “É direito do defensor, no interesse

do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em

procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia

judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

39. Além do Inquérito Policial, temos outras formas de investigação criminal

previstas em nosso ordenamento?

Sim, apesar de o inquérito policial ser a principal modalidade de investigação

criminal, temos o Inquérito Parlamentar, das Comissões Parlamentares de Inquérito, o

Inquérito Policial Militar, o Inquérito da Câmara dos Deputados e a investigação do

Ministério Público.

Súmula 397 do Supremo Tribunal Federal: “O poder de polícia da Câmara

dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências,

compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do

inquérito”.

40. Quais as condições da ação penal?

Condições da ação são requisitos exigidos por lei para que a ação penal seja

exercida validamente e, assim, desencadeie uma decisão judicial meritória.

São condições da ação penal:

a) legitimidade ad causam – é a pertinência subjetiva da ação, ou seja, a possibilidade

conferida pela lei para que alguém integre um dos polos da relação jurídica processual

(MP ou ofendido no polo ativo e maior de 18 anos no polo passivo).

b) interesse de agir – constituído pelo trinômio necessidade-adequação-utilidade;

c) possibilidade jurídica do pedido – Está condicionada à existência de um tipo penal

descrevendo a conduta criminosa imputada ao réu na peça inicial (fato típico);

d) justa causa - é o lastro probatório mínimo que embasa a acusação. Binômio: prova da

materialidade do crime e indícios de autoria ou participação. Para alguns doutrinadores a

justa causa estaria inserida no interesse processual, sob aspecto adequação

Ao lado dessas, existem outras condições da ação (que alguns chamam de

condições de procedibilidade), como, por exemplo, representação do ofendido,

requisição do Ministro da Justiça. Anote-se que para Grinover a representação do

ofendido e a requisição do Ministro da Justiça configuram, em verdade, elementos da

possibilidade jurídica do pedido.

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41. Qual a regra geral do prazo para conclusão do Inquérito policial?

Regra Geral do CPP - 10 dias se o indiciado estiver preso e 30 dias se estiver solto.

Polícia Federal – 15 dias (prorrogável por + 15) se estiver preso e 30 dias se estiver

solto

Crimes contra a Economia Popular – 10 dias se estiver preso ou solto

Lei antitóxicos – 30 dias (prorrogável por + 30) se estiver preso e 90 dias

(prorrogável por + 90) se estiver solto

Inquéritos Militares – 20 dias se estiver preso e 40 dias (prorrogável por + 20) se

estiver solto

42. No CPP existe previsão, nos crimes praticados por funcionário público, da

necessidade de defesa preliminar. O que seria isso?

Trata-se da previsão do artigo 514 do CPP, de necessidade de, nos crimes comuns

afiançáveis praticados por funcionário público, haver a notificação prévia do mesmo para

se manifestar, antes do recebimento da denúncia ou queixa.

43. Se a ação penal foi instruída por inquérito policial, fica dispensada essa defesa

prévia?

Para o STJ sim, conforme Súmula 330: É desnecessária a resposta preliminar de

que trata o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito

policial.

O STF, no entanto, não coaduna deste entendimento:

Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.

OBRIGATORIEDADE DE DEFESA PRÉVIA. ART. 514 DO CPP. NULIDADE

RELATIVA. NECESSIDADE DE DEMONSTRAR O EFETIVO PREJUÍZO.

CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. RECURSO ORDINÁRIO A QUE SE

NEGA PROVIMENTO. I – A partir do julgamento do HC 85.779/RJ, passou-se a

entender, nesta Corte, que é indispensável a defesa prévia nas hipóteses do art. 514 do

Código de Processo Penal, mesmo quando a denúncia é lastreada em inquérito

policial.... (RHC 120569, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,

Segunda Turma, julgado em 11/03/2014, PROCESSO ELETRÔNICO

DJe-059 DIVULG 25-03-2014 PUBLIC 26-03-2014).

44. Com a alteração do art. 28 do CPP pelo Pacote Anticrime, continua a haver a

homolocação do pedido de arquivamento do Inquérito?

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Sim, continua a haver o controle da legalidade (homologação) do arquivamento do

IP ou investigação de outra natureza.

A diferença é que agora é realizado exclusivamente no âmbito do próprio Ministério

Público. E o MP ordena, não mais requer ao juiz.

O órgão do Ministério Público que ordenou o arquivamento encaminhará os autos

para a instância de revisão ministerial.

Além disso, deve comunicar à vítima, ao investigado e à autoridade policial o

arquivamento.

45. Quais as condições da ação penal?

São condições da ação processual penal:

a) prática de fato aparentemente criminoso (fumus commissi delicti);

b) punibilidade concreta;

c) legitimidade ativa e passiva;

d) justa causa (na sua dupla dimensão, de “existência de indícios razoáveis de autoria e

materialidade” e “controle processual do caráter fragmentário do direito penal - tipicidade

material”).

Ao lado dessas, existem outras condições da ação, v.g., representação, requisição,

procuração com poderes especiais para queixa crime etc.

46. Quais são as espécies de ação penal, quanto à iniciativa?

Para essa classificação consideramos a pessoa que poderá atuar no polo ativo da

relação jurídica a ser instaurada. A perspectiva agora é quanto ao início da ação, quem

possui legitimidade ativa para intentá-la. Em uma primeira divisão, poderá ser:

a) pública: relevância do interesse público sobre o interesse do ofendido;

b) privada: relevância do interesse do ofendido sobre o interesse público.

A Ação Penal sempre será ou pública ou privada, independentemente das

subdivisões. Daí, inicialmente, duas premissas devem ficar bem claras: (1) se ação for

pública, o polo ativo será sempre ocupado pelo promotor; se for privada, será sempre

ocupado pelo ofendido (ou seu representante); (2) se for pública, sempre será iniciada

através de denúncia; se for privada, sempre através de queixa-crime.

A ação penal pública pode ser: incondicionada ou condicionada.

A ação penal privada poderá ser principal (ou exclusiva), subsidiária da ação

penal pública ou personalíssima.

47. Quais são os princípios da ação penal pública?

a) Princípio da oficialidade ou investidura: O titular da ação penal pública é o

Ministério Público, instituição oficial, pertencente ao Estado.

b) Obrigatoriedade (ou compulsoriedade): O representante do Ministério Público,

se dispuser de elementos suficientes para amparar a acusação (prova da materialidade e

indícios suficientes da autoria), estará obrigado a oferecer denúncia, exercendo o poder-

dever de ação.

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c) Indisponibilidade: Não pode o Ministério Público desistir da ação penal (art. 42

do Código de Processo Penal). Com efeito, o órgão do Parquet, ao ajuizar a ação e

conduzir a acusação, não age em interesse próprio. Representa o Estado, titular do direito

defendido, que em última análise pertence à sociedade como um todo.

d) Divisibilidade: Há discordância acerca da aplicabilidade, no caso de ação penal

pública, do princípio da indivisibilidade da ação penal, insculpido no art. 48 do Código

de Processo Penal. Tourinho Filho defende a indivisibilidade da ação penal pública, o que

equivaleria a dizer que a ação penal obrigatoriamente deverá ser ajuizada contra todos os

autores da infração penal, havendo exceção somente nos casos de separação do processo.

Em posicionamento contrário, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal reconhece

expressamente a divisibilidade da ação penal pública, tendo decidido no sentido de que

“embora a ação penal pública seja pautada, como regra, pelo princípio da obrigatoriedade,

o Ministério Público, sob pena de abuso no exercício da prerrogativa extraordinária de

acusar, não pode ser constrangido, diante da insuficiência dos elementos probatórios

existentes, a denunciar pessoa contra quem não haja qualquer prova segura e idônea de

haver cometido determinada infração penal”. A posição do tribunal supremo chancela a

majoritária da jurisprudência, que reconhece ser a ação penal pública regida pelo princípio

da divisibilidade. Dessa forma, especialmente em casos complexos em que estejam

envolvidos diversos investigados, o Ministério Público poderá oferecer denúncia em face

daqueles acerca dos quais houver reunido indícios suficientes de autoria. Com a

continuidade das investigações, poderá, mais tarde, aditar posteriormente a denúncia para

a inclusão de corréu(s), ou mesmo propor, separadamente, nova ação penal contra os

indivíduos cuja autoria somente venha a ser suficientemente esclarecida em ocasião

posterior.

48. O princípio da obrigatoriedade tem alguma exceção?

O princípio da obrigatoriedade, antes considerado absoluto, veio a ser relativizado

com o advento da Lei n. 9.099/95, que instituiu um modelo consensual no processo penal,

adotando o princípio da discricionariedade regrada, também chamado de princípio da

disponibilidade mitigada, para as infrações de menor potencial ofensivo. Exceção

também foi trazida pelo art. 4º da Lei n. 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas)

em razão de acordo feito em delação premiada.

A mais recente hipótese é a do acordo de não persecução penal trazido pela

Lei Anticrime (13.964/19), que incluiu o art. 28-A no CPP.

49. Em que consiste o ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL?

O acordo de não persecução penal é uma medida despenalizadora, ou seja,

objetiva solucionar o caso penal sem a imposição de uma pena. É mais um instituto de

“justiça negociada”, ao lado da transação penal, suspensão condicional do processo e

colaboração premiada, ainda que sejam distintos e submetidos a diferentes requisitos e

consequências.

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Especificamente o acordo de não persecução penal é uma forma de negociação

entre Ministério Público e o imputado, que evita o processo, sempre que, nos termos

do art. 28-A,“não sendo sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado

formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça

e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor

acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e

prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e

alternativamente”.

O dispositivo estabelece requisitos para realização, causas impeditivas e as

condições a serem cumpridas. O imputado poderá aceitar ou não (caso em que a acusação

prosseguirá), mas uma vez aceito e cumprido integralmente o acordo, o juiz deverá

declarar a extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito, exceto o registro para

o fim de impedir um novo acordo no prazo de 5 anos (§ 2º, inciso III). Em caso de rescisão

por não cumprimento, deverá o MP oferecer denúncia e o feito prosseguirá sua

tramitação.

50. Qual recurso cabível da decisão do juiz que recusa a homologação do acordo de

nã persecução penal?

Recurso em sentido estrito, tendo essa hipótese sido incluída no rol do art. 581 do

CPP pelo Pacote Anticrime.

51. Qual o prazo geral para oferecimento da denúncia no caso de ação penal pública

incondicionada?

Ação Penal de iniciativa pública incondicionada: é a regra geral, sendo exercida

através de denúncia do MP (prazo: 5 dias em caso de acusado preso e 15 se estiver

solto).

Exceções:

a) crime eleitoral – 10 dias

b) Tráfico de drogas – 10 dias

c) Crime contra a economia popular – 2 dias

52. Quais os requisitos da denúncia?

Os requisitos da peça acusatória estão colocados no art. 41 do CPP: “A denúncia

ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a

qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a

classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.

53. A indicação da infração na denúncia vincula o juiz na tipificação do crime, ao

prolatar a sentença?

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Ocorre a emendatio libelli quando o juiz, sem modificar a descrição do fato

contida na peça acusatória, dá a ele classificação diversa, mesmo que tenha que aplicar

pena mais grave. O juiz, no momento da sentença, fica vinculado ao que foi narrado na

peça acusatória, mas não se vincula à classificação do crime.

Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, é a sentença o momento

processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do CPP.

De forma excepcional, jurisprudência e doutrina afirmam que é possível antecipar

o momento da emendatio libelli nas hipóteses em que a inadequada subsunção típica

(tipificação): (i) macular a competência absoluta; (ii) o adequado procedimento; ou (iii)

restringir benefícios penais por excesso de acusação (5ª Turma, STJ, HC 258.581/RS.

Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgada em 18/02/2016).

54. O juiz pode reconhecer agravantes na sentença não constantes na denúncia?

Isto não ofende o princípio da congruência?

Sim, o juiz poderá reconhecer as agravantes de ofício, não havendo, neste caso,

violação ao princípio da correlação.

Assim, não ofende o princípio da congruência a condenação por agravantes não

descritas na denúncia. Isso é autorizado pelo art. 385, do CPP, que foi recepcionado pela

CF/88. (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1612551/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da

Fonseca, julgado em 02/02/2017; STJ. 6ª Turma, HC 381.590/SC. Rel. Min. Antonio

Saldanha Palheiro. julgado em 06/06/2017).

Este artigo do CPP recebe muitas críticas pois permitiria o reconhecimento de

agravantes sequer alegadas pela acusação. Porém, o que se vê dos julgados do STF e do

STJ é o entendimento sobre a recepção do referido artigo.

55. O que seria Mutatio Libelli?

A mutatio libelli ocorre quando, durante a instrução processual surge prova de

circunstância ou elementar não contida na peça acusatória. Nesse caso, a fim de se

preservar o contraditório e a ampla defesa, o MP deve aditar a peça acusatória, ouvindo-

se a defesa em seguida. (ex: denúncia por furto e, no curso do processo percebe-se que

houve violência – o juiz não pode condenar direto por roubo, havendo necessidade de

permitir que o MP emende a inicial e que a defesa se manifeste).

56. Existe prazo para o oferecimento da representação, nos casos de ação penal

pública condicionada à representação? Qual a natureza desse prazo?

Sim. O exercício da representação está sujeito ao prazo decadencial de 6 meses

(art. 38, caput, do CPP). O termo a quo desse prazo será o dia em que o ofendido (ou seu

representante) vem a saber quem é o autor do crime.

O prazo, como dito acima, é decadencial, peremptório e não será suspenso ou

prorrogado.

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No caso de sucessão por morte ou declaração de ausência, o prazo também será de

seis meses, contados do dia em que o sucessor teve conhecimento de quem seja o infrator.

57. E se o ofendido é menor e o representante não exerce o direito de representação

no prazo decadencial?

Sendo a vítima menor ou incapaz, o prazo decadencial não se inicia para ela, que

não pode, em razão da incapacidade, exercer o direito. Se o representante deixa passar o

prazo e nada faz o prazo decadencial fluirá para ele e, quando a vítima completar a

maioridade, poderá exercer o direito, sendo-lhe devolvido o prazo, que começará a

fluir do dia em que atingir a plena capacidade.

58. É possível retratação da representação?

Sim, o art. 25 do Código de Processo Penal, repetido pelo art. 102 do Código Penal,

determina que a representação é retratável enquanto o órgão acusatório não oferecer a

denúncia.

A doutrina majoritária entende, ainda, ser possível a retratação da retratação (ou a

revogação da retratação). Nesse caso, basta que o ofendido ofereça nova representação,

após haver-se retratado, para que possa prosseguir a persecução penal (desde que não

expirado o prazo decadencial correspondente).

59. A requisição do Ministro da Justiça é necessária em quais crimes?

Na legislação penal (Código Penal, Processual Penal e Penal Militar), encontramos

os seguintes casos condicionados à requisição do Ministro da Justiça:

crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República ou contra

chefe de governo estrangeiro (CP, art. 145, parágrafo único);

crimes cometidos contra brasileiro no estrangeiro (art. 7º, § 3º, b);

Código Penal Militar, art. 141, combinado com o art. 122.

60. Qual o prazo para o Ministro da Justiça fazer essa requisição?

Diferentemente da representação, o exercício da requisição não está sujeito à

decadência. Poderá ser exercida a qualquer tempo, enquanto não surgir causa extintiva da

punibilidade (prescrição da pretensão punitiva, por exemplo).

61. Essa requisição obriga o Ministério Público a oferecer a denúncia?

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Não, a requisição do Ministro da Justiça não vincula o MP, diante da independência

e livre convencimento atribuídos pela Constituição Federal aos membros do Parquet,

tendo estes total autonomia na formação da opinio delicti.

62. Quais as principais características ou princípios específicos da ação penal

privada?

Ao lado dos princípios gerais, aplicáveis a qualquer ação penal, existem princípios

específicos da ação penal privada

1. Oportunidade ou conveniência: De fato, a lei confere à vítima ou a seu

representante legal a faculdade, e não a obrigação, de promover a ação penal. O particular

é livre para formar seu próprio juízo de conveniência. Somente iniciará o processo,

ajuizando a ação penal, se assim o desejar, ou seja, se julgar que o ajuizamento da ação é

conveniente para si.

2. Disponibilidade: O querelante pode desistir do prosseguimento da ação intentada

por meio do perdão ou da perempção.

3. Indivisibilidade (art. 48): Apesar de poder optar por não processar ou autores do

crime, caso resolva ingressar com a ação deverá oferecer a queixa contra todos os autores

do crime que tenham sido identificados. Não pode escolher os autores contra os quais vai

propor a ação, deixando outros de fora.

63. Diferencie ação penal privada exclusiva, personalíssima e subsidiária da

pública.

Ação Penal Privada Exclusiva: É a regra geral da ação penal privada, ou seja,

quando a iniciativa da ação penal é da vítima ou de seu representante legal. Ou seja, a

ação pode ser proposta pelo próprio ofendido ou por seu cônjuge, ascendente,

descendente ou irmão, sendo possível também a substituição processual em caso de morte

durante o transcorrer da ação.

Ação Penal Privada Personalíssima: A morte da vítima gera a extinção da

punibilidade do autor do crimes, por ser vedada a propositura da ação ou seu

prosseguimento, por qualquer outra pessoa. Só ocorre nos crimes de induzimento a erro

essencial ou ocultação de impedimento para casamento. O crime de adultério, que

também se enquadrava nesta hipótese, foi expressamente revogada ela Lei 11.106/2005.

Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: Cabível quando, em crime de ação

pública, o Ministério Público não oferece qualquer manifestação dentro do prazo legal,

hipótese em que o ofendido pode oferecer queixa subsidiária, no prazo de 6 meses a contar

do término do prazo do Ministério Público. É prevista tanto na CF (ART. 5º, LIX), quanto

no CP (art. 100, §3º) e no CPP (art. 29). Só é cabível no caso de inércia. Se o MP promove

o arquivamento do feito ou requer novas diligências à polícia, não cabe a queixa

subsidiária.

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64. Havendo a queixa crime subsidiária da pública, o MP pode atuar nesta ação?

Não só pode como deve. Nesse caso, o Ministério Público atuará como

interveniente adesivo obrigatório (assistente litisconsorcial), tendo amplos poderes para:

O art. 29 do CPP determina a obrigatória intervenção do órgão do Parquet, no

processo que se originar do ajuizamento de ação privada subsidiária para:

a) aditar a queixa, suprindo qualquer omissão da peça acusatória, seja para incluir outros

autores da infração, seja para adicionar novos elementos ou circunstâncias olvidados pelo

querelante;

b) repudiar a queixa oferecida, se reconhecê-la inepta, oferecendo nesse caso denúncia

substitutiva;

c) intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade (art. 564, III, d, do

Código de Processo Penal). A nulidade resultante da não intervenção do Ministério

Público, nesses casos, constituirá nulidade relativa, sanável e arguível apenas em caso

de prejuízo (art. 563 do Código de Processo Penal);

d) fornecer elementos de prova, participando ativamente da instrução, comparecendo a

audiências e requerendo a produção das provas que julgar relevantes;

e) interpor recurso;

f) retomar a ação como parte principal, a qualquer tempo, no caso de negligência do

querelante na condução do processo. A existência desse dever torna inexistente nos

casos de ação penal privada subsidiária o fenômeno da perempção. Nas hipóteses de o

querelante abandonar a ação ou mesmo perdoar o réu, caberá ao Ministério Público

assumir a posição de parte do processo, passando a conduzir a acusação.

65. Se recorda em que crimes o STF admite ação penal privada concorrente ou a

chamada legitimidade concorrente, tanto do MP quanto do ofendido?

A Súmula 714 do Supremo Tribunal Federal preconiza que “é concorrente a

legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à

representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor

público em razão do exercício de suas funções”.

O que a súmula autoriza é que se o ofendido em sua honra for servidor público e

a ofensa decorrer do exercício de suas funções, a vítima poderá optar entre representar ao

Ministério Público para que inicie uma ação pública, ou ela mesma oferecer queixa--

crime, e conduzir uma ação de natureza privada.

66. Qual a natureza jurídica dos institutos da renúncia, do perdão e da perempção?

São formas de extinção da punibilidade previstas, em regra, apenas para a ação

penal privada exclusiva e personalíssima.

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67. O que é a extinção da punibilidade? Extingue a pretensão punitiva ou

executória?

A extinção da punibilidade é a perda do direito do Estado de punir o agente

autor de fato típico e ilícito, ou seja, é a perda do direito de impor sanção penal ou de

executar a pena imposta.

As causas de extinção da punibilidade estão espalhadas no ordenamento jurídico

brasileiro e podem atingir tanto a pretensão punitiva quanto a pretensão executória,

dependendo da causa extintiva e/ou do momento em que ocorrer.

68. Cite algumas causas de extinção da punibilidade previstas no CP?

Nos termos do Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

1. pela morte do agente;

2. pela anistia, graça ou indulto;

3. pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

4. pela prescrição, decadência ou perempção;

5. pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação

privada;

6. pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

7. pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

69. A partir de que momento os efeitos da extinção da punibilidade começam a

operar? Faça uma distinção em relação a antes e depois do trânsito em julgado?

Os efeitos podem ser ex tunc (retroativos) ou ex nunc (não retroativos, a depender

da causa que acarreta a extinção da punibilidade.

A retroatividade dos efeitos da extinção da punibilidade não é regra, ocorrendo

apenas em casos específicos. No entanto, quando operada é capaz de apagar todos os

vestígios do crime.

Em regra, ocorrendo uma dessas causas, extingue-se a possibilidade do Estado

de impor uma pena ao agente, embora remanesça o crime praticado.

Há duas exceções que permitem a exclusão do próprio delito: anistia e abolitio

criminis.

Quanto às demais hipóteses, tem-se que a suas consequências dependem do

momento de ocorrência.

Quando a causa extintiva da punibilidade aparece antes do trânsito em julgado da

sentença, ela obsta, por conseguinte, qualquer efeito decorrente dela.

Por outro lado, se ela ocorre após o trânsito em julgado do decreto condenatório,

já que estamos falando de causa extintiva ex nunc, os seus efeitos se restringirão à

aplicação da pena. Em outras palavras, o agente é condenado, mas não terá uma pena

imposta. Nesse caso, porém, os efeitos secundários da condenação serão mantidos, por

exemplo, a obrigação de indenizar a vítima na esfera cível, lançamento do nome do

condenado no rol dos culpados, etc.

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70. No caso de morte do agente, qual documento deve ser apresentado?

Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito,

e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.

A certidão de óbito é o documento comprobatório da morte, não podendo ser

substituída nem mesmo pela declaração de óbito, firmada prlo médico.

71. E se for declarada a extinção da punibilidade com base em certidão de óbito

falsa?

Conquanto haja grande discussão doutrinária e jurisprudencial, o Supremo

Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça têm sustentado que a decisão que

declarou extinta a punibilidade não faz coisa julgada, haja vista ter se assentado em

premissa falsa e inexistente, revelando-se, por conseguinte, passível de anulação, sem

afronta à coisa julgada

Segundo o STJ, a formalidade não pode ser levada a ponto de tornar imutável uma

decisão lastreada em uma falsidade. O agente não pode ser beneficiado por sua própria

torpeza.

Para o STF, as questões que não existem para o mundo jurídico e, sequer para o

mundo dos fatos, podem ser desconsideradas e não há sobre elas sequer o trânsito em

julgado.

72. O que seria a renúncia?

Renúncia: é possível a renúncia ao direito de queixa (e também de representação

se for o caso), de forma unilateral pelo ofendido, podendo ser expressa ou tácita (arts. 49

e 50 do CPP; 104, parágrafo único, do CP e 57 do CPP). É feita antes de a parte exercer

o direito de representação ou de queixa.

É ato unilateral, pois independe de aceitação.

Havendo duas vítimas, a renúncia por parte de uma não atinge o direito da outra.

Pode ser expressa ou tácita (esta decorre de atos incompatíveis com o direito de

queixa e admite qualquer tipo de prova)

Nos termos do art 49 do CP a renúncia em relação a um dos autores do crime

a todos se estende.

73. O art. 104 do CP estabelece que a aceitação de reparação pecuniária pelos danos

causados pelo crime não implica renúncia tácita. O candidato lembra de alguma

exceção na legislação?

Essa disposição encontra exceção naqueles casos em que o rito cabível é o da

Lei n. 9.099/95. Isso porque a referida lei, em seu art. 74, parágrafo único, determina que

o acordo civil homologado acarreta renúncia ao direito de queixa e de

representação.

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A regra geral, portanto, é a de que a aceitação de indenização civil não implica

renúncia, exceto nos casos em que se manifesta o rito da Lei n. 9.099/95, aplicável por

especialidade.

Ainda sobre a hipótese do art. 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099, se a infração

houver sido cometida por vários agentes, a composição civil dos danos somente implica

renúncia com relação ao autor que houver concordado em reparar o dano, salvo se ocorrer

reparação integral. Assim também, quando houver pluralidade de vítimas, o acordo civil

celebrado por uma delas para obter o ressarcimento do dano que lhe toca não impedirá

que a outra exerça seu direito de representação ou de queixa.

74. Além da renúncia tácita prevista no art. 74 da Lei 9.099/95, existe algum outro

caso de extinção da punibilidade na referida lei?

Ocorre a extinção de punibilidade pelo cumprimento das condições impostas na

decisão que concedeu o “susis processual”, previsto no art. 89 da Lei 9.099/95.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a

um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,

poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado

não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes

os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código

Penal ).

§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

Além de não estar sendo processado ou não ter sido condenado por outro crime, é

necessário, segundo o art. 77 do CP, que:

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem

como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;

III - Não seja indicada ou cabível a substituição por pena restritiva de direitos.

75. Fale sobre o perdão.

Perdão: ato bilateral, que ocorre durante o processo penal e que deve ser aceito

pelo querelado para surtir efeitos. Pode ser oferecido a partir do recebimento da queixa e

até que ocorra o trânsito em julgado (art. 106, § 2º, do CP).

O perdão oferecido a um dos réus a todos aproveita, mas só produz efeito em

relação aos que o aceitarem (art. 51 do CPP).

Pode ser expresso ou tácito (tanto o oferecimento quanto a aceitação).

Ressalte-se que o perdão do querelante não se confunde com a figura do perdão

judicial, concedido por sentença, que configura, também, uma causa extintiva da

punibilidade.

76. Seria possível o perdão do ofendido em sede de Recurso Extraordinário, no

STF?

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Sim, é possível, pois, consoante art. 106, §2º, CP, pode ocorrer até antes do

trânsito em julgado da ação penal.

77. Conceitue perempção.

Perempção: art. 60 do CPP. É uma sanção de natureza processual imposta ao

querelante negligente e que conduz à extinção do processo e da punibilidade.

A perempção compreende, na verdade, duas espécies distintas de fatos.

a) Compreende aquelas hipóteses em que a ação penal é abandonada pelo seu autor,

que simplesmente deixa de prover-lhe movimento, deixando-a extinguir por inércia, e

também aquelas em que desaparece o autor da ação sem que alguém lhe suceda.

Em ambos os casos, a perempção constituirá causa de extinção da punibilidade

(art. 107, IV, do Código Penal).

Por sua própria natureza, a perempção somente pode ocorrer depois de proposta a

ação penal, já estando em curso o processo penal. Ademais, somente se há que falar em

perempção nos casos de ação privada exclusiva, em que somente se procede mediante

queixa, excluindo-se, portanto, a possibilidade de perempção no caso da ação penal

privada subsidiária da pública.

A lei processual arrola quatro hipóteses que ensejam a perempção (art. 60 do

Código de Processo Penal):

I – Quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de promover,

injustificadamente, o andamento do processo durante 30 dias consecutivos.

II – Quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não

comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias,

qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (rol do art. 36 do Código de Processo

Penal).

III – Quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer

ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de

condenação nas alegações finais. O entendimento que predomina é que

IV – Quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar

sucessor. Se houver sucessão, prazo de 60 dias, por analogia ao inciso II.

78. O que é a Ação Civil Ex Delicto.

Trata-se da ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização

pelo dano causado pelo crime, quando existente. Há delitos que não provocam prejuízos,

passíveis de indenização – como ocorre com muitos crimes de perigo. O dano pode ser

material ou moral, ambos passíveis de indenização, ainda que cumulativa.

O Código Penal e o Código de Processo Penal cuidam, com particular zelo,

embora não com a amplitude merecida, do ressarcimento da vítima, buscando incentivá-

lo, sempre que possível.

O Código Penal estabelece como efeito da condenação a obrigação de reparar o

dano (art. 91, I). Firma, ainda, uma causa de diminuição da pena, caso o agente repare o

dano ou restitua a coisa ao ofendido (art. 16). Estabelece como atenuante genérica a

reparação do dano (art. 65, III, b). Incentiva-a para a substituição das condições genéricas

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da suspensão condicional da pena por condições específicas (art. 78, § 2.º). Fixa como

condição para a concessão do livramento condicional a reparação do dano, salvo

impossibilidade efetiva de fazê-lo (art. 83, IV). Enaltece-a, como condição para a

reabilitação (art. 94, III). Permite a extinção da punibilidade no caso de peculato culposo

cujo dano é devidamente ressarcido (art. 312, § 3.º).

O Código de Processo Penal, por sua vez, ao cuidar da ação civil, proporciona

meios mais eficazes para a vítima buscar reparação. Além disso, garante a utilização do

sequestro (art. 125), da busca e apreensão (art. 240), do arresto (art. 137) e da hipoteca

legal (art. 134). Após a reforma normativa de 2008, admite-se que a vítima ingresse na

ação penal como assistente de acusação também para pedir a condenação do réu na

reparação dos danos.

79. Tício foi absolvido com fundamento em uma excludente de ilicitude. Cabe

ajuizamento da ação civil ex delicto?

Sim, se não foi o prejudicado culpado pela situação de perigo.

Faz coisa julgada no cível:

1) Absolvição penal por excludente de ilicitude

2) Absolvição criminal fundada na circunstancia de estar provada a inexistência

do fato (art. 386, I, do CPP)

3) Absolvição criminal por estar provado não ter o réu concorrido para a infração

penal (art. 386, IV, CPP)

Isto significa que estas questões não podem mais ser discutidas no civil. No

entanto, no caso de absolvição por excludente de ilicitude não impedirá o ajuizamento da

ação civil quando:

a) Reconhecido o estado de necessidade, o prejudicado não tiver sido o culpado

pela situação de perigo;

b) Reconhecida a legítima defesa putativa, a vítima ou seus herdeiros devem ser

ressarcidos, uma vez que a pessoa atingida não estava agredindo o agente que, por erro,

supôs estar sendo agredido;

c) Reconhecida a defesa real, mas o autor tiver, por erro de pontaria (aberratio ictus

ou aberratio criminis), causado danos a terceiros.

80. Em regra, qual o critério para fixação da competência quanto ao lugar da

infração? Qual a teoria adotada? E no caso de tentativa?

No regime do CPP, a competência territorial fixa-se, via de regra, pelo local da

consumação da infração penal, como sinal de franca adoção da teoria do resultado,

aplicando-se a fixação da competência pelo local da execução nos casos de tentativa.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se

consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último

ato de execução.

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81. Quais os critérios estabelecidos pelo CPP como possíveis para determinação da

competência?

A resposta está no art. 69 do CPP

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:

I - o lugar da infração:

II - o domicílio ou residência do réu;

III - a natureza da infração;

IV - a distribuição;

V - a conexão ou continência;

VI - a prevenção;

VII - a prerrogativa de função.

82. Competência por prerrogativa de função - Se uma pessoa com prerrogativa de

foro comete o crime junto com um particular, como fica o julgamento?

Como regra geral, sendo caso de conexão ou continência, deveria haver reunião

para julgamento simultâneo, ou seja, todos os agentes seriam julgados no tribunal

competente para julgar o detentor do cargo. Essa é a regra geral prevista no art. 79 do

CPP.

Contudo, existe uma tendência muito forte no STF de cindir, desmembrar,

separar as pessoas, ficando no tribunal apenas o detentor do cargo. Permaneceria

reunido apenas quando houvesse interesse probatório ou para a investigação.

83. E o conflito entre Prerrogativa de Função versus Tribunal do Júri:

Se alguém com prerrogativa de função, prevista na Constituição Federal, cometer

um crime doloso contra a vida (competência do júri), será julgado no Tribunal competente

em razão da prerrogativa. O júri, órgão de primeiro grau, perde no confronto com

qualquer tribunal de segundo grau ou tribunal superior.

Porém, se a prerrogativa de função é prevista apenas na Constituição Estadual,

prevalece a competência do júri, conforme a Súmula vinculante 45: A competência

constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função

estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

84. Existe Prerrogativa de Função para vítima de crime?

Como regra não há qualquer alteração da competência pelo fato de a vítima

ter prerrogativa de função. Exceção: quando se tratar de crime contra a honra, em

que o querelante (autor) tem prerrogativa de função e é oposta a exceção da verdade

pelo querelado (réu). É a situação do art. 85 do CPP, em que a exceção da verdade será

encaminhada para o tribunal que seria competente para julgar o detentor da

prerrogativa de função.

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85. Qual a natureza jurídica da conexão e da continência no processo penal?

A prorrogação de competência consiste na modificação das regras de

competência, previamente fixadas, por conveniência legal.

Conexão e continência são causas legais (art. 76 e 77 do CPP) de prorrogação

de competência por força das quais se opera uma modificação das regras ordinárias de

fixação de competência, acarretando a ampliação da competência de um juízo

(prevalente) para o processo e julgamento de uma infração penal cuja apreciação,

originalmente, não lhe incumbia.

86. Cite as hipóteses de conexão intersubjetiva?

Conexão intersubjetiva (art. 76, I, do Código de Processo Penal). É a hipótese em

que a conexão se afigura recomendável pela existência de circunstâncias que relacionam,

por um ou outro motivo, os sujeitos da prática delituosa (seus autores). Existem três

critérios de determinação da conexão intersubjetiva:

1. Por simultaneidade (também conhecida como conexão subjetivo-objetiva, ou

meramente ocasional): ocorre quando duas ou mais infrações houverem sido praticadas

por várias pessoas ocasionalmente reunidas (sem a intenção de reunião), em um só

contexto espacial e temporal. Por exemplo, o saque praticado por diversos agentes contra

determinado armazém, não estando presente qualquer liame subjetivo entre eles.

2. Por concurso (conexão subjetiva concursal): ocorre quando duas ou mais infrações

são praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar. É o

caso, por exemplo, de dois agentes que praticam furtos em várias cidades no decorrer de

um mês.

3. Por reciprocidade: é a hipótese em que duas ou mais infrações sejam cometidas por

várias pessoas, umas contra as outras. A doutrina cita o exemplo de agressões praticadas

entre integrantes de grupos rivais.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo,

por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o

tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras (conexão intersubjetiva)

87. Fale sobre as espécies de conexão objetiva.

Conexão objetiva (art. 76, II, do Código de Processo Penal):

1. Teleológica: ocorre quando uma ou mais infrações houverem sido cometidas para

facilitar a prática de outra ou outras. Ex.: matar o caseiro para roubar a casa da fazenda.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as

outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas

(conexão lógica ou material);

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2. Consequencial: verifica-se sempre que uma ou mais infrações houverem sido

praticadas para ocultar a prática de outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem

em relação a qualquer delas. A conexão, nesse caso, tem por finalidade obter a prova da

existência da agravante prevista no art. 61, II, b, do Código Penal e da circunstância

qualificadora do crime de homicídio prevista no art. 121, § 2º, V, do Código Penal.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as

outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas

(conexão lógica ou material);

88. O que seria a conexão probatória ou instrumental?

Conexão Probatória (instrumental). Ocorrerá quando a prova de uma infração

ou de qualquer de seus elementos influir na prova de outra infração. Está disciplinada no

art. 76, III, do Código de Processo Penal. Por exemplo, a situação em que se esteja a

apurar a prática dos crimes de furto e receptação acerca das mesmas mercadorias.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias

elementares influir na prova de outra infração (conexão probatória ou instrumental).

89. Defina o que são questões prejudiciais no CPP?

Questão prejudicial é a questão jurídica que se apresenta no curso da ação penal,

que se refere a elemento integrante do crime e cuja solução provoca a suspensão daquela

ação.

Por exemplo, para que se tipifique a bigamia, faticamente é necessário que se

tenha casado duas vezes. Mas se um dos casamentos foi anulado – elemento do tipo “casar

sendo casado” –, ainda que de fato tenha havido dois casamentos, não haverá o delito de

bigamia por ausência de um dos elementos do tipo penal do art. 235. Sem a resolução

dessa questão prejudicial (ação em que se discute a nulidade de um dos casamentos), não

há como julgar a ação penal.

90. O que são questões prejudiciais obrigatória?

Prejudicialidade obrigatória ou de devolução absoluta: a existência do crime

depende de prévia decisão de jurisdição extrapenal. Sempre que a questão versar sobre

o estado civil das pessoas, o juiz criminal estará impedido de decidi-la e deverá

remeter a discussão ao juízo civil. O processo penal será suspenso (e a prescrição) até que

a controvérsia seja dirimida por sentença transitada em julgado (art. 116).

O art. 92 do Código de Processo Penal cuida das questões prejudiciais obrigatórias

ou devolutivas absolutas, estabelecendo seus pressupostos:

a) a controvérsia deve versar sobre o estado civil das pessoas (político, familiar, civil e

individual);

b) a questão deve influir sobre a própria existência da infração penal;

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c) a questão deve ser séria e fundada, isto é, deve possuir fundamento jurídico e fático,

afastando-se a prejudicial meramente protelatória. Esta deve ser levantada no momento

da instrução processual.

91. O que são questões prejudiciais facultativas?

Prejudicialidade facultativa ou relativas: o juiz poderá suspender o processo

criminal quando a questão versar sobre circunstância ou elementar do crime, que não seja

“estado civil das pessoas” e tampouco sobre direito cuja prova a lei civil limite, e de difícil

solução.

92. Defina exceções processuais

As exceções são formas de defesa indireta, que não atacam o mérito do pedido.

Estão previstas nos arts. 95 a 112 do CPP, e podem ser alegadas na resposta à acusação,

art. 396-A. São autuadas em apartado, podendo ser opostas por escrito ou verbalmente e,

como regra, não suspendem o andamento do processo, podendo ser conhecidas de ofício

pelo juiz, em qualquer fase do processo.

As exceções podem, assim, fundar-se na alegação de inexistência dos

pressupostos processuais e das condições da ação. Podem ter por finalidade prolongar o

curso do processo (exceção dilatória), ou mesmo extingui-lo (exceção peremptória).

93. Indique alguma exceção processual penal

São exceções processuais penais:

a) Suspeição,

b) Incompetência de juízo,

c) Litispendência,

d) Ilegitimidade de parte, e

e) Coisa julgada.

94. Existe diferença entre conflito de jurisdição e de competência. Explique

O conflito será de jurisdição quando ocorrer entre órgãos jurisdicionais de “justiça

diferente”(entre especial e comum; militar e eleitoral, federal ou estadual).

Será de competência quando ocorrer entre julgadores da mesma “justiça”,

vinculados ao mesmo tribunal. O conflito será sempre resolvido por um órgão de

jurisdição superior àqueles entre os quais se estabeleceu o conflito.

95. Fale um pouco sobre os três sistemas de valoração da prova

Sistema legal de provas: em que o legislador fixa uma tabela de valoração das

provas, o peso de cada prova vem previsto em lei. Com menor rigor, é o art. 158 do CPP

que representa um resquício deste sistema. O inconveniente do modelo é que retira a

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capacidade de valoração e avaliação do julgador, caindo no erro de pretender uma

objetividade matemática para a prova.

Intima convicção: é a superação do modelo anterior, mas caindo no outro extremo,

em que o julgador está completamente livre para valorar a prova e decidir. É o erro do

decisionismo, permitindo uma decisão autoritária. Ainda é adotado no Tribunal do Júri,

em que os jurados decidem por íntima convicção e sem fundamentar.

Livre convencimento motivado ou persuasão racional: é o modelo adotado, art.

155 do CPP. Não há regras objetivas e critérios matemáticos de julgamento, cabendo ao

juiz formar sua convicção pela livre apreciação da prova, sendo que nenhuma prova tem

maior valor ou prestígio que as demais. Todas são relativas. Contudo, não se pode cair no

decisionismo. A decisão do juiz, ainda que liberta de tarifa probatória, deve estar adstrita

à prova válida, lícita, produzida em contraditório judicial, bem como delimitada pela

estrita legalidade.

96. Fale um pouco sobre o princípio da identidade física do juiz

Identidade Física do Juiz: prevista no art. 399, § 2º, do CPP, segundo o qual, o

juiz que presidir a instrução deverá, como regra, ser o mesmo que irá proferir sentença.

Contudo tal regra passou a ser objeto de várias exceções (por exemplo, art. 132 do antigo

CPC) a ponto de enfraquecê-lo substancialmente.

97. Fale um pouco a respeito da prova emprestada

Diz-se emprestada a prova produzida em um processo e depois trasladada a outro,

com o fim de nele comprovar determinado fato.

Pode ser qualquer meio de prova: o depoimento de uma testemunha, um laudo de

exame de corpo de delito, um documento, a confissão do acusado, enfim, todo meio de

prova.

Parte da doutrina tem entendido que, muito embora a produção da prova seja

perfeitamente lícita, sua introdução no novo processo seria ilegítima, por violação ao

princípio do contraditório.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que é admissível a

prova emprestada no processo criminal, desde que tenha sido produzida legalmente, seja

dada ciência a ambas as partes e garantido o contraditório, não podendo, ainda, ser o único

elemento de convicção a respaldar o convencimento do julgador.

Paradigmática também a decisão prolatada pelo STF que autorizou utilização de

interceptação telefônica realizada com autorização judicial em processo penal para fazer

prova em procedimento disciplinar: “Dados obtidos em interceptação de comunicações

telefônicas e escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção da prova em

investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em

procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em

relação às quais foram colhidos”.

98. O que é uma prova pericial ?

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Perícia é o exame realizado por pessoa que detenha “expertise” sobre determinada

área do conhecimento, a fim de prestar esclarecimentos.

A prova pericial é, portanto, uma prova técnica, mediante a qual são trazidos ao

processo conhecimentos que estão fora do saber ordinário.

99. Qual o valor probatório da prova pericial?

O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em

parte (art. 182 do CPP), vez que vige o princípio do livre convencimento motivado.

100. Quando a infração deixa vestígios, a confissão do acusado supre o laudo do

exame de corpo de delito? Qual a razão? E se não for possível a realização do

exame?

Não, o art. 158 do CPP considera indispensável a realização do exame pericial

sempre que a infração deixar vestígios.

Por que a confissão se refere à autoria do delito, ao passo que a materialidade

somente pode ser comprovado por meio de exame específico, de acordo com o art. 158

do CPP.

Por sua vez, o art. 167 do mesmo diploma legal, afirma que, quando

impossibilitada a realização do exame pelo desaparecimento ou deterioração dos

vestígios, pode ele ser suprido pelo depoimento de testemunhas.

101. Defina prova ilegítima

Prova Ilegítima: é aquela que viola uma regra de direito processual no momento

da sua produção em juízo, no processo. Ex.: juntada de prova fora do prazo, após

encerrada a instrução.

102. O reconhecimento pessoal é meio de prova?

Sim, é o meio de prova, formal, pelo qual alguém é chamado para verificar e

confirmar a identidade de uma pessoa que lhe é apresentada com outra que viu no

passado.

103. O Processo Penal estabelece procedimento para conferir validade ao

reconhecimento pessoal?

Sim, o procedimento está expresso no artigo 226 do CPP. Há algumas cautelas:

descrição prévia do suspeito; sua colocação ao lado de pessoas com características físicas

semelhantes; a pessoa que irá fazer o reconhecimento deve apontar a pessoa a ser

reconhecida; se houver necessidade será providenciado para que a pessoa a ser

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reconhecida não consiga ver a pessoa que fará o reconhecimento; lavratura de um auto

relatando todo o procedimento.

104. A não observância desse procedimento acarreta nulidade?

Sim, mas é uma nulidade relativa, devendo ser provado o prejuízo, segundo

entendimento do STJ.

105. Existe possibilidade de reconhecimento pessoal por videoconferência?

Sim, tendo em vista a lei 11.900/2009, ao modificar a redação do art. 185 do CPP,

disciplinando o interrogatório pelo sistema de videoconferência, autorizou a utilização

desse aparato tecnológico para a realização de outros atos processuais que dependam da

participação de pessoa que esteja presa, como acareação, reconhecimento, inquirição de

testemunha etc.

106. É admitido o reconhecimento por fotografia?

Sim, o reconhecimento por fotografia é considerada uma prova inominada (não é

reconhecimento de pessoa, especificamente).

O STJ e o STF consideram idôneo o reconhecimento fotográfico, permitindo a

condenação, desde que acompanhado de outras provas.

107. E o retrato falado?

O retrato falado não é considerado como meio de prova, por sua fragilidade,

servindo apenas para fins de colaboração com a investigação policial.

108. O que é a acareação? É cabível acareação de quais sujeitos processuais?

A acareação é providência excepcional, pela qual se coloca “cara a cara” qualquer

dos que possam prestar declarações: vítimas, testemunhas e réu.

Entre eles, qualquer tipo de combinação é válido.

Mas devido ao constrangimento que sempre a acompanha, a acareação somente

deverá ser utilizada se houver contradição sobre fatos ou circunstâncias relevantes.

109. Existe possibilidade de reconhecimento pessoal por videoconferência?

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Sim, tendo em vista a lei 11.900/2009, ao modificar a redação do art. 185 do CPP,

disciplinando o interrogatório pelo sistema de videoconferência, autorizou a utilização

desse aparato tecnológico para a realização de outros atos processuais que dependam da

participação de pessoa que esteja presa, como acareação, reconhecimento

110. Defina prova ilícita

Prova Ilícita: quando há violação de uma norma de direito material (Código Civil,

Penal etc.) ou da Constituição no momento de sua coleta, fora do processo. Ex.: busca e

apreensão em domicílio sem o respectivo mandado, quebra ilegal de sigilo telefônico ou

bancário, confissão extraída mediante tortura ou ameaça etc. Contudo, o art. 157 do CPP

não adotou a distinção entre provas ilegítimas e provas ilícitas, consagrando ambos os

casos como prova ilícita.

111. Defina a teoria dos frutos da árvore envenenada.

A denominação de teoria ou doutrina “do fruto da árvore envenenada”, literal

tradução do inglês (fruit of the poisonous tree doctrine), diz respeito a um conjunto de

regras jurisprudenciais nascidas na Suprema Corte norte-americana, segundo as quais as

provas obtidas licitamente, mas que sejam derivadas ou sejam consequência do

aproveitamento de informação contida em material probatório obtido com violação dos

direitos constitucionais do acusado, estão igualmente viciadas e não podem ser admitidas

na fase decisória do processo penal. Vale dizer: tal teoria sustenta que as provas ilícitas

por derivação devem igualmente ser desprezadas, pois “contaminadas” pelo vício

(veneno) da ilicitude do meio usado para obtê-las.

112. Defina a teoria da fonte independente

Teoria da fonte independente (independent source doctrine): é quando se

demonstra que não há nexo causal entre as demais provas e aquela considerada ilícita. A

fonte de uma prova independente é geneticamente desvinculada da ilícita, sendo,

portanto, válida. Não se estabelece um nexo de causa e efeito. Tal teoria está prevista no

§ 1º do CPP.

Existem efetivamente duas fontes de prova, uma lícita e outra ilícita, porém

mesmo após a exclusão da fonte ilegal, o elemento de prova subsiste por ter relação de

causalidade com a fonte lícita.

Esta teoria surgiu em 1988 com o caso Murray v. United States. Nesse caso, os

policiais haviam percebido uma atividade suspeita de tráfico de drogas em uma

residência, entraram ilegalmente na casa e confirmaram a suspeita; posteriormente

requereram um mandado judicial para busca e apreensão indicando apenas as suspeitas e

sem mencionar a anterior entrada e, de posse do mandado, entraram novamente na

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residência e apreenderam as drogas. A Corte entendeu que a prova era válida, pois ainda

que os policiais não houvessem realizado a primeira violação, de qualquer forma seria

obtido o mandado a justificar a segunda entrada legal, com base apenas nos indícios

iniciais.

Da leitura do leading case, verifica que a Corte Americana considerou a prova

(droga) obtida por meio de busca e apreensão lícita, uma vez que reconheceram duas

fontes independente, quais sejam: por meio ilícito – busca e apreensão sem o mandado

judicial; e por meios lícita – busca e apreensão autorizada pelo MM. Juiz de Direito.

Sendo assim, a entrada dos policiais na casa do investigado foi considerada lícita,

pois, foi realizada através de mandado judicial de busca e apreensão, somente em razão

das suspeitas levantadas pelos policiais, antes mesmo de invadirem a residência sem a

devida autorização da autoridade competente. Para facilitar na distinção das teorias

supracitadas é só lembrarmos os seguintes casos já mencionados: “Caso do Mensalão”

(Teoria da Fonte Independente), onde havia a presença concreta de dois meios para a

obtenção das informações bancárias, um meio lícito e outro ilícito.

113. Defina a teoria da descoberta inevitável

Teoria da descoberta inevitável (inevitable discovery exception): quando se

demonstra que a prova poderia ser obtida por qualquer outra forma; seria descoberta de

outra maneira, inevitavelmente. Mas a carga de provar que a descoberta era inevitável.

Esta teoria tem como leading case o caso Nix. V. Williams, julgado em 1984.

Nesse precedente, o acusado havia matado uma criança e escondido o corpo; iniciado um

processo de busca por 200 voluntários, os municípios vizinhos foram divididos em zona

de busca; durante a busca, o acusado realizou uma confissão, obtida ilegalmente, na qual

especificou o local onde se encontrava o corpo; foi paralisada a busca, que estava algumas

horas de descobrir onde o corpo estava, dirigindo-se a policia ao lugar indicado na

confissão e apreendido o corpo. A Corte considerou que a confissão do acusado sobre o

local onde o corpo se encontrava era uma prova ilícita, mas a pressão do corpo era válida,

pois sua descoberta era inevitável. Também se entendeu, pelo voto concorrente do Juiz

Stevens, que o ônus da prova sobre conjectura da descoberta inevitável recai sobre a

acusação.

Verifica-se assim que, no leading case acima não havia a necessidade da

determinação de forma legal para a realização da busca do corpo, após a confissão forçada

do réu, pois em razão da força tarefa realizada pelos moradores, o corpo seria descoberto

de qualquer forma, mesmo sem a confissão ilícita do réu e mesmo sem a busca realizada

pelas autoridades policiais.

Veja-se que no entendimento da Suprema Corte Norte Americana o fato,

descoberto através de prova derivada da ilícita, seria apurado de qualquer maneira, por

isso, não havia portanto, motivo para o desentranhamento da prova, pois não houve

verdadeiramente a contaminação desta.

O § 2º do art. 157 do CPP, ao trazer o conceito de fonte independente, na

verdade acaba por conceituar a teoria da descoberta inevitável.

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114. O que seria a serendipidade (crime achado)?

A serendipidade consiste na descoberta fortuita de delitos que não são objeto

da investigação. Sua origem, tradução literal da palavra inglesa serendipity, remonta ao

conto persa intitulado “Os três príncipes de Serendip”, em que eram feitas várias

descobertas inesperadas.

No curso de uma medida de investigação que adote medidas que mitiguem direitos

fundamentais do investigado, como, e. g., a interceptação telefônica ou busca e apreensão

domiciliar, a autoridade policial não está imune à sorte de identificar elementos de prova

sobre outros crimes, até então desconhecidos.

Se a prova tem conexão com o delito investigado vai servir de prova no próprio

processo. Se não tem conexão, deve ser considerada notícia do crime suficiente para

deflagrar uma outra investigação. Este o atual entendimento do STJ e STF, considerando

válida a serendipidade, mesmo quando não há conexão entre os crimes. Uma posição

minoritária entende que seria prova ilegal.

115. Fale um pouco sobre a produção antecipada de provas

PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS: quando na investigação preliminar

surgir uma prova relevante e imprescindível, que corra o risco de não poder ser repetida

em juízo (risco de perecimento), deve ser colhida antecipadamente.

Não está suficientemente disciplinada no CPP. É uma medida excepcional e sua

eficácia está condicionada aos requisitos mínimos de jurisdicionalidade (ser produzida na

frente do juiz das garantias), contraditório, defesa e fiel reprodução na fase processual

(filmagem e gravação).

116. Qual a natureza jurídica do interrogatório do réu?

É um meio de defesa por excelência (natureza jurídica), mas também tem valor

probatório.

Previsto nos arts. 185 a 196.

Momento em que poderá ser exercido o direito de defesa pessoal positivo ou

negativo (silêncio).

Imprescindível a presença de defensor, que poderá fazer perguntas.

117. Qual o valor probante da confissão? É divisível? É retratável?

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Prevista nos arts. 197 a 200, tem valor relativo, é divisível e retratável. O art.

198 deverá ser lido à luz do direito constitucional de silêncio, de modo que o exercício

do direito de silêncio não pode ser utilizado em prejuízo do réu.

118. Qual o sistema adotado na colheita da prova testemunhal, quem faz as

perguntas à testemunha?

De acordo com o art. 212 do Código de Processo Penal, com redação dada pela

Lei nº 11.690/2008, as testemunhas serão inquiridas diretamente pelas partes (cross-

examination), e não mais pelo juiz, como ocorria na sistemática anterior. Atualmente, as

partes formulam suas indagações diretamente às testemunhas – primeiramente a acusação

e depois a defesa, sob pena de nulidade –, podendo o juiz indeferi-las caso as considere

prejudiciais ou impertinentes. Quando as testemunhas a serem ouvidas forem as da

acusação, esta perguntará primeiro, passando-se a palavra à defesa.

Quando forem as testemunhas da defesa, ocorrerá o inverso. Caso algum ponto

não tenha ficado esclarecido, o juiz poderá complementar a inquirição, a teor do parágrafo

único do art. 212 do CPP.

A função do juiz na audiência é a de presidir o ato, mas sem protagonismo no que

tange à coleta da prova testemunhal. A inversão nesta ordem, com o juiz iniciando as

perguntas, viola a regra do art. 212, mas tal nulidade tem sido considerada como “relativa”

pelo STJ e pelo STF.

119. Indique alguma testemunha que pode se recusar a depor

O Art. 206 do CPP estabelece que poderão recusar-se a depor, salvo quando

impossível obter-se a prova por outro modo:

a) ascendente,

b) descendente,

c) afim em linha reta,

d) cônjuge, ainda que separado ou divorciado,

e) irmão,

f) pai,

g) mãe e

h) filho adotivo

120. Indique as testemunhas que estão impedidas de depor

Conforme o art. 207 do CPP, estão proibidas de depor aquelas pessoas que, em

razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se,

desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar seu testemunho (ex.: psiquiatra,

psicólogo, advogado, padre, contador etc.). Deve haver nexo causal entre o conhecimento

do fato criminoso e a relação profissional.

121. O que significa contraditar uma testemunha

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É uma forma de impugnar a testemunha, apontando os motivos que a tornam

suspeita ou indigna.

122. Quais as espécies de busca e apreensão?

O CPP prevê dois tipos de busca e apreensão: a domiciliar e a pessoal.

123. No processo penal, quem são os sujeitos?

Podem ser elencados como sujeitos do processo:

1. Juiz

2. Ministério Público

3. Assistente de acusação

4. Querelante

5. Defensor

6. Peritos e auxiliares da justiça

7. Assistente técnico

124. Em que fase do processo pode ser admitido o assistente de acusação?

Devidamente habilitado, o assistente de acusação pode atuar em qualquer fase

do processo, desde que não tenha transitado em julgado.

125. O MP pode se opor à admissão do assistente de acusação?

O Ministério Público deve ser, obrigatoriamente, ouvido a respeito da admissão

do assistente no processo, nos termos do disposto no art. 272 do CPP, somente podendo

se opor ao ingresso do assistente de acusação em caso de algum aspecto formal ter sido

desrespeitado, como, por exemplo, não ter legitimidade para tanto, seu advogado não

estar munido do instrumento de procuração, etc.

Não poderá, no entanto, valer-se de argumentos subjetivos para negar o auxílio do

assistente, como, por exemplo alegar que seu advogado não possui experiência em

plenário do Júri e que, por isso, sua presença somente irá dificultar a acusação.

126. Existe a possibilidade de substituição processual no processo penal?

Ocorre a substituição processual na hipótese de ação penal privada subsidiária da

pública, quando o ofendido postula no polo ativo, onde deveria estar o MP, a princípio.

É o caso de legitimação extraordinária, onde terceiro postula em seu próprio nome um

direito alheio.

127. Cite causas de impedimento do juiz no processo penal?

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A existência de qualquer das hipóteses previstas no art. 252 do Código de Processo

Penal torna o juiz impedido de atuar no processo, vedando-lhe o exercício de jurisdição

especificamente no caso concreto em que o impedimento venha a ocorrer. Essas situações

são de natureza objetiva e determinam uma presunção absoluta da parcialidade do juiz.

Será impedido de atuar no processo o magistrado:

a) quando seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na

colateral até o terceiro grau, inclusive, houver funcionado no processo como defensor

ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou

perito (art. 252, I);

b) quando ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou

servido como testemunha (art. 252, II);

c) quando tiver funcionado como juiz em outra instância, pronunciando-se, de

fato ou de direito, sobre a questão (art. 252, III);

d) quando ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha

reta ou na colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente

O rol do art. 252 é numerus clausus, não comportando interpretação extensiva

ou analógica.

Tratando-se de juízo coletivo, estarão impedidos de servir no mesmo processo os

juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou na colateral,

até o terceiro grau, inclusive (art. 253).

Há alguma controvérsia no que diz respeito aos efeitos jurídicos da atuação, no

processo, de juiz impedido. Parte da doutrina entende que os atos do juiz impedido serão

juridicamente inexistentes, enquanto outra parte entende ser caso de nulidade absoluta

de todos os atos por ele praticados no processo.

128. Cite causas de suspeição do juiz

O art. 254 do Código de Processo Penal enumera as situações em que o juiz será

considerado suspeito. A suspeição deve ser reconhecida de ofício, entretanto é dado às

partes argui-la caso isso não ocorra. São hipóteses de suspeição:

a) a existência de amizade íntima ou inimizade capital entre o juiz e qualquer

das partes. A relação de amizade ou inimizade, destaque-se, refere-se exclusivamente às

partes do processo, não configurando hipótese de suspeição ser o magistrado amigo

íntimo ou inimigo capital do advogado da parte ou do membro do Ministério Público (art.

254, I);

b) a circunstância de que o magistrado, seu cônjuge, ascendente ou descendente

esteja respondendo penalmente por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja

controvérsia (art. 254, II);

c) a circunstância de que o julgador, seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou

afim, até o terceiro grau, inclusive, esteja a sustentar demanda ou responder processo

que tenha de ser julgado por qualquer das partes (art. 254, III);

d) o fato de haver o juiz aconselhado qualquer das partes (art. 254, IV);

e) ser o juiz credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes (art.

254, V);

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f) ser o magistrado sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada

no processo.

Segundo determina o art. 564, I, do Código de Processo Penal, a atuação no

processo de juiz suspeito é causa de nulidade.

129. A intervenção do Ministério Público é obrigatória?

No processo penal, a intervenção do Ministério Público será sempre obrigatória,

qualquer que seja a natureza da ação penal.

Na ação penal de iniciativa pública, ele atua enquanto parte (art. 257, I, do CPP),

entretanto, na condição implícita e sempre presente de fiscal da lei; na ação penal

subsidiária da pública ele é custos legis (art. 257, II, do CPP), sem perder a condição

latente de parte; na ação penal de iniciativa privada, ele é exclusivamente custos legis

(art. 257, II, do CPP).

130. O que o STF decidiu sobre os poderes investigatórios do MP?

O Supremo Tribunal Federal reconheceu a possibilidade de investigação do

Parquet, aduzindo que “é princípio basilar da hermenêutica constitucional dos ‘poderes

implícitos’, segundo o qual, quando a Constituição Federal concede os fins, dá os meios.

Se a atividade-fim – promoção de ação penal pública – foi outorgada ao ‘Parquet’ em

foro de privatividade, não haveria como não lhe oportunizar a colheita de prova para

tanto, já que o CPP autoriza que ‘peças de informação.

131. O advogado é indispensável na ação penal, mesmo que haja atuação do MP

como custus legis?

O advogado é indispensável à administração da justiça (art. 133 da Constituição

Federal, regulamentado pela Lei n. 8.906/94, que instituiu o Estatuto da Advocacia).

Isto significa que não pode a parte ser processada sem a assessoria de um

advogado, seja nomeado ou dativo.

Outrossim, o art. 261 do Código de Processo Penal estabelece que nenhum

acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem a presença

de defensor, sendo dever do juiz nomear ao acusado que se apresente sem defensor

constituído um advogado dativo (art. 263).

Mesmo havendo atuação do MP, necessária a presença de defensor, ante o direito

à ampla defesa e à paridade de armas.

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132. A deficiência da defesa pelo advogado causa alguma consequência no

processo?

Segundo a Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal: “No processo penal, a falta

de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova

de prejuízo para o réu”.

Portanto, a deficiência da defesa, sendo provado o efetivo prejuízo, ocasionará a

anulação do ato processual.

133. Quais são os atos jurisdicionais?

De acordo com o seu objeto, podem ser classificados em:

a) despachos: pronunciamentos do juiz com vistas à movimentação do

processo, caracterizando-se por não conter carga decisória;

b) decisões: têm por conteúdo um julgamento acerca de qualquer questão, ou

acerca do próprio mérito da causa.

As decisões, por sua vez, se classificam em:

a) decisões interlocutórias, quando proferidas durante o processo;

b) sentenças, quando for a última decisão.

134. O que é a citação?

É o ato de comunicação processual por meio do qual se dá ciência ao réu da ação

penal, chamando-o a juízo para que ofereça a sua defesa.

135. Quais as espécies de citação?

A citação pode ser:

a) real ou pessoal, quando realizada na pessoa do acusado. Pode ser feita por mandado,

carta precatória, rogatória ou de ordem, ou mediante requisição;

b) ficta ou presumida, quando feita mediante edital ou com hora certa.

136. O que acontece se o acusado, citado por edital, não comparece nem constitui

advogado?

Ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, nos termos do art.

366 do CPP.

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137. Durante a suspensão?

Ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, nos termos do art.

366 do CPP.

O STJ entende que o prazo de suspensão da prescrição será determinado de

acordo com o prazo de prescrição da pretensão punitiva em abstrato. Súmula 415:

O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena

cominada.

De acordo com o STF, contudo, a prescrição deve permanecer suspensa por prazo

indeterminado. (RE 460.971/RS, Rel. Min. Sepúlvida Pertence).

138. O art. 366 do CPP prevê que a intimação da sentença, no caso de réu solto,

pode ser feito alternativamente ao réu ou ao seu defensor. Prevalece esta

alternatividade?

O entendimento é que não prevalecem diante da garantia constitucional da ampla

defesa, que compreende a autodefesa e a defesa técnica; assim, em qualquer situação, não

basta seja intimado tão somente o réu ou exclusivamente o defensor, seja ele constituído

ou dativo, pois o ato somente atinge sua finalidade com a cientificação de ambos.

O prazo recursal inicia da última intimação.

139. O que é uma sentença absolutória imprópria?

É aquela em que se reconhece a inimputabilidade do réu, com base no art. 26, caput,

do Código Penal.

Note-se que a existência de causa excludente de culpabilidade gera absolvição

imprópria, isentando o acusado da pena mas lhe imputando a medida de segurança.

Nesse particular, aplica-se a Súmula 422 do Supremo Tribunal Federal, segundo a

qual “a absolvição criminal não prejudica a medida de segurança, quando couber, ainda

que importe privação da liberdade”.

140. Fale sobre a coisa julgada no processo penal?

A coisa julgada está relacionada à definitividade. Uma vez proferida uma decisão

decisão final, seus atos adquirem imutabilidade, fazem coisa julgada (res judicata), não

podendo ser atacadas.

Vale ressaltar que o atributo da definitividade e, por consequência, a imutabilidade

da coisa julgada, em especial no âmbito do direito penal, encontram certa mitigação.

Conquanto uma decisão final absolutória adquira o status de imutável quando

transita em julgado, as decisões condenatórias não se submetem ao mesmo efeito,

podendo sempre ser rescindidas nos casos em que sejam apurados novos fatos (revisão criminal), desde que os efeitos jurídicos desses novos fatos sejam favoráveis ao

condenado (abrandando sua situação ou impondo sua absolvição). Trata-se de uma

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situação excepcional que privilegia o direito fundamental da liberdade daquele que é

condenado injustamente em detrimento do valor da segurança jurídica, ensejada pelo

reconhecimento de que também o Estado é passível de cometer erros.

Finalmente, caso essa relação já tenha sido tratada em outro processo, e já tenha

sido definitivamente decidida, com absolvição ou condenação, poderá ser oposta a

exceção de coisa julgada.

141. Quais os efeitos extrapenais específicos de uma sentença penal condenatória?

Os efeitos extrapenais podem ser subdivididos em:

a) Efeitos extrapenais genéricos (obrigatórios): São obrigatórios, operando-se

automaticamente, tais como: obrigação de reparar o dano, perda em favor da União dos

instrumentos do crime, etc.

b) Efeitos extrapenais específicos: Serão específicos, pois para se operarem dependem

de uma declaração fundamentada na sentença condenatória. Não são obrigatórios, pois

dependem de uma motivação. Não é toda a sentença que haverá esse mandamento. Ex:

perda do cargo, função ou mandato eletivo

142. Esses efeitos são automáticos?

Os efeitos obrigatórios são automáticos.

Os específicos para se operarem dependem de uma declaração fundamentada na

sentença condenatória.

143. Quais os tipos de procedimento de uma ação penal?

O procedimento poderá ser comum ou especial, conforme disposto no art. 394,

caput, do CPP. O procedimento comum, por sua vez, será ordinário, sumário ou

sumaríssimo, de acordo com a pena:

a) ordinário, se ao crime for cominada abstratamente pena máxima privativa de liberdade

igual ou superior a 4 anos;

b) sumário, se ao delito for cominada abstratamente, pena máxima privativa de liberdade

inferior a 4 anos; e

c) sumaríssimo, nos casos de infração de menor potencial ofensivo, na forma da Lei n.

9.099/95.

144. Qual o prazo de encerramento da instrução no procedimento comum e no

sumário?

O CPP, em seu art. 400, prevê o prazo de o prazo de 60 (sessenta) dias para o

encerramento da instrução no procedimento ordinário e o prazo de 30 (trinta) dias no caso

de encerramento do procedimento sumário.

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Esses prazos são impróprios, pois o legislador não estabeleceu nenhum preceito

sancionatório para o seu descumprimento, nem mesmo a preclusão.

Na verdade, deve-se observar a razoabilidade, podendo a duração do processo

variar de acordo com a gravidade e a complexidade dos fatos e a necessidade de extensão

da instrução.

Se esse prazo fosse fatal, estar-se-ia objetivando o processo penal e estabelecendo

uma situação de desequilíbrio para o seu desenvolvimento seguro, vinculando-o somente

à ideia de celeridade, em detrimento da eficiência.

145. Qual o número de testemunhas previstas para cada um dos tipos de

procedimento?

Ordinário: Cada parte poderá arrolar até 8 testemunhas (art. 401, caput), não sendo

computadas nesse número as testemunhas que não prestem compromisso (informantes ou

declarantes) e as referidas (art. 401, § 1º).

Sumário: no rito sumário permite-se que cada parte arrole até 5 testemunhas (art.

532).

Sumaríssimo: não há previsão legal mas se entende que são 3 ou 5 testemunhas,

dependendo da corrente adotada.

Júri: 8 testemunhas na primeira fase e 5 testemunhas no plenário.

146. Em quais hipóteses o juiz pode rejeitar a denúncia ou queixa?

Segundo o art. 395 do CPP, a denúncia ou queixa poderá ser rejeitada quando:

I. For manifestamente inepta: verifica-se ou que o fato narrado evidentemente não

constitui crime, ou a ausência de subsídios mínimos de fato e autoria.

II. Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal: diz

respeito às formalidades da formação do processo. Por exemplo, se for manifesta a

ilegitimidade de partes, representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça

III. Faltar justa causa para o exercício da ação penal: diz respeito à ausência de

requisitos mínimos de materialidade e autoria.

147. Recebida a denúncia, qual o recurso cabível?

Não há nenhum recurso cabível para a decisão que recebe a denúncia, restando,

se for o caso de ilegalidade ou abuso de poder, a impetração de habeas corpus.

148. Havendo rejeição da denúncia ou queixa, qual o recurso cabível?

Segundo o art. 581 do CPP, caberá recurso em sentido estrito da decisão que não

receber a denúncia ou a queixa.

149. Recebida a denúncia ou queixa, qual o prazo para a resposta do réu, nos

procedimentos ordinário e sumário?

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Entendendo que a denúncia ou queixa preenche os requisitos formais legalmente

exigidos, as condições da ação e os pressupostos processuais, deverá o juiz recebê-la,

cabendo-lhe determinar a citação do réu para oferecer resposta escrita no prazo de 10

dias.

150. Cite algumas diferenças entre nulidade absoluta e relativa no processo penal?

De acordo com o grau do interesse protegido pela norma, a nulidade pode

ser:

a) Absoluta. atingem o interesse público, violam diretamente dispositivos (ou

princípios) constitucionais, jamais precluem (podem ser alegadas a qualquer momento),

podem ser reconhecidas de ofício (pelo juiz) e o prejuízo se presume (não precisará

ser demonstrado).

b) Relativa. Atingem o interesse privado, dependem de arguição da parte

prejudicada, o prejuízo deve ser demonstrado, precluem se a parte não se manifestar

no momento oportuno.

A questão do prejuízo ser presumido na nulidade absoluta, apesar de ser

adotada pela doutrina, não vem sendo aceita pelo judiciário, que tem exigido a

demonstração do prejuízo em qualquer hipótese para a decretação da nulidade.

151. Recebida a denúncia ou queixa, qual o prazo para a resposta do réu, nos

procedimentos ordinário e sumário?

Entendendo que a denúncia ou queixa preenche os requisitos formais legalmente

exigidos, as condições da ação e os pressupostos processuais, deverá o juiz recebê-la,

cabendo-lhe determinar a citação do réu para oferecer resposta escrita no prazo de 10

dias.

152. Quais os recursos existentes no CPP?

São os seguintes os recursos previstos no CPP:

1. Apelação

2. Recurso em Sentido Estrito

3. Embargos de Declaração – para alguns autores não se trata de recurso

4. Embargos Infringente e de Nulidade

5. Carta Testemunhável

6. Correição Parcial

7. Recurso Extraordiário

8. Recurso Especial

9. Recurso Ordinário Constitucional

153. Cite os pressupostos recursais.

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Para que haja conhecimento do recurso pelo órgão ad quem, deverá este conter os

requisitos previstos em lei, sob pena de não recebimento.

Pressupostos objetivos:

a) cabimento, autorização ou previsão legal;

b) tempestividade: à parte prejudicada cabe interpor o recurso dentro do prazo legal, sob

pena de preclusão do direito de recorrer, situação em que a peça recursal não será

conhecida e, consequentemente, julgada;

c) observância das formalidades legais;

d) ausência de fatos impeditivos e extintivos (renúncia ao direito de recorrer);

Pressupostos subjetivos:

a) interesse (sucumbência);

b) legitimidade.

154. Quem são os legitimados a recorrer?

O Ministério Público,, o querelente, o réu e o procurador ou defensor do acusado.

155. O que seria a proibição da reformatio in pejus direta e indireta?

Quanto à reformatio in pejus, temos a direta e indireta:

i) direta: trata-se da vedação da reforma em prejuízo do recorrente, em julgamento de seu

próprio recurso.

ii) indireta: é a vedação de imposição de situação mais gravosa ao recorrente, que obteve

anulação de uma decisão, em nova sentença proferida em substituição àquela. A

decisão anulada fixa o limite que poderá alcançar a condenação. Na hipótese de anulação com consequente nova definição jurídica do fato, mesmo

que se atribua crime mais grave ao condenado, não será possível prejudicá-lo

agravando sua situação, vez que seria ilógico que uma garantia constitucional do réu,

como é a revisão criminal, pudesse prejudicá-lo.

156. Qual o prazo de interposição da apelação? E as razões?

Como regra geral definida pelo art. 593, caput, do Código de Processo Penal, o

prazo para apelar (interpor apelação) é de 5 (cinco) dias e as razões 8 (oito) dias.

Esse prazo é aplicável ao acusado, ao defensor, ao querelante e ao Ministério

Público.

Com relação ao ofendido, se não estiver habilitado, o prazo será de 15 dias, a

contar do encerramento do prazo do Ministério Público, já que nessa hipótese o

recurso do assistente é supletivo e somente terá vez se o parquet não o interpuser (art. 598

do Código de Processo Penal). As razões, no aso do assistente de acusação, será sempre

de 3 (três) dias e sempre após o MP. Se o MP não recorrer, o prazo será o integral de 8

dias.

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157. Quais os efeitos da apelação?

Devolutivo: O principal efeito da apelação é a devolução da matéria à jurisdição,

que pode ser parcial ou plena, dependendo de o apelante querer rediscutir todos os pontos

da sentença ou apenas parte deles.

Suspensivo: este efeito dependerá da natureza da sentença, se condenatória ou

absolutória, bem como de quem a interpõe. Se a sentença for absolutória, a apelação

interposta pelo Ministério Público não tem efeito suspensivo, ou seja, o recurso não

impede que o réu seja colocado imediatamente em liberdade, caso tenha respondido o

processo preso preventivamente. Se a sentença for condenatória e o réu estiver solto ou

preso, para que seja decretada ou mantida sua prisão, nos termos do parágrafo único do

art. 387 do Código de Processo Penal, o juiz deverá fundamentar, com base nas hipóteses

possíveis, se há cautelaridade suficiente para a decretação de prisão preventiva (art. 387,

§ 1º, do CPP).

Extensivo: É possível, nos termos do art. 580 do Código de Processo Penal, de

forma que se apenas um dos corréus interpôs o recurso e ele foi conhecido e provido e

não se funda em motivos de caráter pessoal, a decisão favorável se estenderá aos demais

acusados, mesmo que não tenham recorrido.

Não há na apelação o chamado efeito regressivo.

158. O rol do art. 581, relativamente ao cabimento do recurso em sentido estrito, é

taxativo ou exemplificativo?

Segundo a maioria da doutrina e da jurisprudência, as hipóteses de cabimento

do recurso em sentido estrito previstas no art. 581 do Código de Processo Penal são

taxativas, isto é, somente seria cabível o recurso nessas hipóteses específicas.

Porém, outros entendem que haveria a possibilidade de interpretação extensiva

e analógica do dispositivo, nos termos do art. 3º do Código de Processo Penal. Nesse

sentido, o art. 581 prevê a possibilidade de recurso em sentido estrito contra a decisão

que rejeita a denúncia, mas não diz nada em relação ao aditamento da denúncia, que, se

for rejeitado, por uma interpretação extensiva, poderá ser atacado pelo recurso em sentido

estrito. STJ tem várias decisões neste sentido.

159. Qual o prazo para interposição do Agravo de Instrumento?

Nos termos do art. 586, caput, do Código de Processo Penal, o prazo para

interposição do recurso em sentido estrito é de 5 (cinco) dias, e, tal qual na apelação,

pode ser feito por simples petição, que não precisa estar acompanhada das razões

recursais.

Interposto o recurso, nos termos do art. 588, caput, do Código de Processo Penal,

o recorrente será intimado para apresentar as razões em 2 (dois) dias.

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Na hipótese de impetração do recurso para discutir a inclusão ou exclusão do

jurado da lista definitiva, nos termos do parágrafo único do art. 586 do Código de

Processo Penal, o prazo é de 20 (vinte) dias.

160. Qual a regra quanto aos efeitos do Agravo de Instrumento?

Efeito devolutivo. Em regra, não há efeito suspensivo salvo nas hipóteses do art.

584, caput, do Código de Processo Penal, que são:

(1) decisão que determina a perda da fiança; e

(2) decisão que denegar a apelação ou julgar deserta a apelação.

161. Quais as hipóteses de cabimento dos Embargos de declaração?

Pelo Código de Processo Penal, serão cabíveis quando houver na decisão

ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

Na Lei nº 9.099/95, a previsão é para as hipóteses de obscuridade, contradição

ou omissão.

162. Podem ter efeitos infringentes?

A jurisprudência tem admitido a possibilidade de oposição de embargos de

declaração com efeitos infringentes, isto é, modificar o conteúdo do julgado, mas desde

que condicionados à existência de efetiva omissão, contradição ou obscuridade no

julgado.

Por exemplo, imagine que a parte dispositiva condenava e a fundamentação

absolvia ou que o juiz tivesse sido omisso em relação a uma nulidade e com os

embargos ela é reconhecida. O julgamento, nestes casos, será modificado quanto ao

mérito, à conclusão.

163. Qual o efeito que os embargos de declaração tem em relação a outros recursos?

O Código de Processo Penal é omisso em relação a essa questão, porém não o é a

Lei nº 9.099/95, que nos termos do art. 83, § 2º, prevê a interrupção do prazo dos demais

recursos.

Ainda, nos termos do art. 3º do Código de Processo Penal, aplica-se

analogicamente o art. 1.026 do Código de Processo Civil, que prevê a interrupção do

prazo para outros recursos até o julgamento dos embargos declaratórios.

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164. Fale sobre os embargos infringentes ou de nulidade?

Os embargos infringentes e de nulidade são privativos da defesa e têm como

fundamento a existência de voto divergente em apelação ou recurso em sentido estrito.

Tem como finalidade ampliar a composição da turma julgadora para que o

voto divergente possa prevalecer e modificar a decisão prejudicial à defesa.

Os embargos serão infringentes quando a divergência se fundamentar em uma

questão de direito material, como, por exemplo, a condenação ou absolvição do réu.

Os embargos serão de nulidades quando a divergência se limitar a uma questão

processual, como, por exemplo, a não observância do devido processo legal pela inversão

dos atos processuais.

O prazo é de 10 (dez) dias a contar da publicação do acórdão.

165. Qual a função da Carta Testemunável?

A carta testemunhável, para a maior parte da doutrina, tem natureza recursal.

Tem cabimento para levar ao conhecimento do órgão ad quem uma decisão do

órgão a quo que denegou ou não deu prosseguimento a um recurso interposto pela

parte. A carta testemunhável está prevista nos arts. 639 a 646 do Código de Processo

Penal e sua interposição é subsidiária, ficando limitada a quando não houver previsão de

outro recurso ou medida. Assim, atualmente, limita-se aos casos de recurso em sentido

estrito e agravo em execução.

Nos termos do art. 640 do Código de Processo Penal, o prazo para interposição é

de 48 horas, mas na prática forense tem sido considerado o prazo de dois dias.

166. Fale sobre a Correição Parcial.

É um remédio processual que permite às partes corrigir error in procedendo dos

juízes que acarretam inversão tumultuária da ordem processual, quando o ato judicial não

estiver sujeito à impugnação por via recursal.

Pressupostos:

I – ato decisório judicial viciado (erro ou abuso);

II – inversão tumultuária da ordem processual;

III – gravame causado a uma das partes;

IV – inexistência de recurso específico para impugnar o ato judicial gravoso.

Deverá ser interposto em 10 dias a contar da ciência da decisão. Cabível tanto na

fase do inquérito policial quanto durante a relação jurídica processual.

167. Qual o conceito e a natureza jurídica da revisão criminal?

A revisão criminal é ação penal de natureza constitutiva, de competência

originária dos tribunais, tendo por fim o reexame e a modificação de decisão

condenatória transitada em julgado.

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Trata-se, portanto, de uma ação autônoma de impugnação de decisões com

trânsito em julgado.

Ela dá ensejo à criação de nova relação jurídico-processual, uma vez imutável o

processo que resultou no decreto condenatório atacado.

Ocorre, aqui, a mitigação da coisa julgada, que só pode ocorrer em favor do réu.

168. Quem tem legitimidade para propor a revisão criminal?

O art. 623 do CPP cuida da legitimidade ativa, dispondo que a revisão poderá ser

pedida:

1. Pelo próprio réu;

2. Por procurador legalmente habilitado;

3. Pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, em caso de morte do réu.

Legitimado passivo será o Estado, representado pelo Ministério Público. Este,

ausente previsão legal a respeito, fica impossibilitado de requerer a revisão criminal a

favor do condenado.

169. Quais as hipóteses de cabimento da revisão criminal?

As hipóteses de cabimento da revisão criminal correspondem a elenco números

Clausius, devendo servir apenas aos casos estritamente admitidos em lei, conforme a

previsão do art. 621 do CPP:

I – sentença condenatória contrária a texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos;

II – sentença condenatória que se funda em depoimentos, exames ou documentos

comprovadamente falsos;

III – se, posteriormente à sentença, forem descobertas novas provas de inocência do

condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

O pedido de revisão criminal não se sujeita a prazo preclusivo, podendo ser

requerida a qualquer tempo, indiferentemente se for antes ou após a extinção da pena,

conquanto tenha havido trânsito em julgado.

170. Conceitue Habeas Corpus?

É o remédio jurídico-constitucional destinado a proteger a liberdade de locomoção

do indivíduo, ameaçada por qualquer ilegalidade ou abuso de poder.

Em que pese estar estabelecido no Código de Processo Penal dentro do capítulo

que trata dos recursos em geral, apresenta natureza jurídica de ação, caracterizando-se

como meio autônomo de impugnação.

É admissível para a defesa de direito líquido e certo não amparado por habeas

corpus ou habeas data. Entende-se por direito líquido e certo aquele que prescinde de

dilação probatória para ser demonstrado, podendo ser evidenciado de plano através de

provas pré-constituídas, pois sua existência é isenta de dúvidas.

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171. Quais as espécies de Habeas Corpus?

Duas são as espécies de habeas corpus:

a) Liberatório ou repressivo: voltado para afastar constrangimento à liberdade já

consumado, com vistas à restituição do status libertatis de alguém.

b) Preventivo: quando sua finalidade for afastar o constrangimento à liberdade antes

mesmo de se consumar. Baseia-se, portanto, na iminência da violência ou coação ilegal e

na possibilidade próxima da restrição da liberdade individual.

172. Quem pode impetrar?

Por força do art. 654, caput, do CPP, qualquer pessoa poderá impetrar habeas

corpus, em seu favor ou de outrem, assim como o representante do Ministério Público.

Até mesmo a pessoa jurídica pode impetrá-lo.

173. Cabe Mandado de Segurança em matéria criminal?

Sim. No âmbito criminal, o writ constitucional é meio hábil sobretudo para

impugnar atos jurisdicionais, revelando-se como verdadeira garantia contra as

arbitrariedades do Estado, uma vez que somente poderão ser agentes do ato abusivo ou

ilegal as autoridades públicas, representadas nas figuras dos juízes e dos membros dos

tribunais.

No que diz respeito à natureza jurídica, o mandado de segurança é ação

constitucional e, mesmo quando utilizado no âmbito criminal, conserva natureza civil.

174. Se o MP impetra um mandado de segurança contra decisão no processo, a

autoridade coatora será o juízo ou tribunal que proferiu a decisão. Há

necessidade de citar o réu?

Nas ações de mandado de segurança contra ato jurisdicional penal, a autoridade

coatora é aquela que proferiu a decisão, sendo esta o sujeito passivo.

Nos termos da Súmula 701 do STF: Quando o mandado de segurança for

impetrado pelo Parquet contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a

citação do réu como litisconsorte passivo.

175. O MS pode ser impetrado pelo MP para conferir efeitos suspensivo a recurso?

Não nos termos da súmula 604 do STJ: “Mandado de segurança não se presta

para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público”. .

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176. E relativamente a uma decisão judicial transitada em julgado. Cabe MS?

Não, existe vedação expressa na Lei do MD (12.016/09) e o STF também já

enfrentou o tema. Conforme o caso, seria cabível a revisão criminal ou o Habeas corpus,

mas não o Mandado de Segurança.

Súmula 268 do STF, onde se tem que, "não cabe mandado de segurança contra

decisão judicial com trânsito em julgado".