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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Matheus Szpoganicz da Silva RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS Curitibanos 2021

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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Page 1: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Matheus Szpoganicz da Silva

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Curitibanos

2021

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Matheus Szpoganicz da Silva

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em

Medicina Veterinária do Centro de Ciências Rurais

da Universidade Federal de Santa Catarina como

requisito para a obtenção do Título de Bacharel em

Medicina Veterinária.

Orientadora: Profa. Dra. Grasiela Rossi de Bastiani

Supervisor: M.V. Eider Edoardo Saldanha Leandro

M.V. Rudnei João de Souza

Curitibanos

2021

Page 3: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …
Page 4: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

Matheus Szpoganicz da Silva

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado __________ para obtenção do Título de

Médico Veterinário e __________ em sua forma final.

Curitibanos, 11 de maio de 2021.

_______________________

Prof. Dr. Malcon Andrei Martinez Pereira

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________

Prof.ª Dra. Grasiela Rossi de Bastiani

Orientadora

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

________________________

Prof. Dr. Marcos da Silva Azevedo

Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

________________________

Prof. Pedro Kutscher Ripoll

Clinica HorseMed

Page 5: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

AGRADECIMENTOS

O primeiro agradecimento em especial será dedicado aos meus pais, pela oportunidade

da realização de um sonho que é cursar Medicina Veterinária.

Aos meus familiares, namorada e amigos, por todo apoio e carinho.

Aos meus mestres dentro da graduação, bem como, profissionais que me ajudaram ao

longo desta jornada incrível.

A toda equipe da Clínica do Rancho e Rudnei João de Souza, que me deram a

oportunidade de realização do estágio final, contribuindo muito com a minha formação.

Page 6: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

RESUMO

A disciplina de estágio curricular obrigatório busca proporcionar o aprimoramento nos

conhecimentos teóricos e práticos da área almejada e escolhida para posterior formação e

atuação no mercado de trabalho. A clínica do Rancho e o Laboratório e Clínica Veterinária

Rudnei J. Souza Ltda foram os locais escolhidos para a realização do estágio curricular

obrigatório. Neste relatório serão descritas as infra-estruturas, atividades realizadas dentro da

clínica médica, cirúrgica e reprodução de equinos e, bem como casuística e discussão de alguns

casos atendidos.

Palavras-chave: Equinos. Clínica. Reprodução. Cirurgia.

Page 7: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

ABSTRACT

The mandatory curricular internship discipline aims to provide the improvement in theoretical

and practical knowledge in the desired and chosen area for further training and performance in

the labor market. The Clinica do Rancho and the Laboratório e Clínica Veterinária Rudnei J.

Souza Ltda were the places chosen for the mandatory curricular internship. This report will

describe the infrastructure, the activities performed in the equine medical, surgical and

reproductive clinic, as well as the casuistics and discussion of some of the cases treated.

Keywords: Equine. Clinics. Reproduction. Surgery.

Page 8: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fachada da Clínica. ................................................................................................. 17

Figura 2 - Cocheiras foto externa (A). Cocheiras foto interna (B). ......................................... 18

Figura 3 - Bloco cirúrgico vista exterior (A). Sala de indução vista interior (B). ................... 18

Figura 4 - Sala de paramentação (A). Equipamento anestésico (B). ....................................... 18

Figura 5 - Bloco cirúrgico (A). Farmácia (B).......................................................................... 19

Figura 6 - Troncos de contenção (A). Ambulatório (B). ........................................................ 19

Figura 7 - Ultrassonografia de abdômen (A). Sondagem nasogástrica (B). ............................ 20

Figura 8- Atendimento externo (raio-x para diagnóstico das patologias do sistema locomotor).

.................................................................................................................................................. 23

Figura 9 - Treinamento de Osteossíntese (A). Treinamento Vídeo-cirurgia (B). ................... 24

Figura 10 - Pista de propriocepção. ......................................................................................... 26

Figura 11 - Paciente no Campo Eletromagnético (A). Ultrassom Terapêutico (B). ............... 27

Figura 12 - Paciente realizando caminhadas na pista de propriocepção. ............................... 27

Figura 13 - Gráfico correspondente ao sexo dos animais atendidos. ...................................... 28

Figura 14 - Imagem trans-operatório de artroscopia de Carpo................................................ 34

Figura 15 - Radiografia lateromedial flexionada do Carpo (MTE). ........................................ 34

Figura 16 - Cicatrização com 3 dias de pós-cirúrgico (A). Cicatrização com 10 dias de pós-

cirúrgico (B). ............................................................................................................................ 35

Figura 17 - Material utilizado para artrocentese em articulação tíbio-társica. ........................ 37

Figura 18 - Artrocentese em articulação tíbio-társica. ............................................................ 37

Figura 19 - Unidade móvel, equipada para a realização dos atendimentos............................. 38

Figura 20 - Gráfico correspondente ao sexo dos animais atendidos. ...................................... 40

Figura 21 - Abcesso subsolear (A). Orquiectomia em estação (B). ........................................ 43

Figura 22 – Pitiose (A). Sarcóide (B). ..................................................................................... 43

Figura 23 – Funiculite por reação a fio de sutura (A). Hímen prolapsado (B)........................ 44

Figura 24 – Hérnia inguino-escrotal (A). Herniorrafia inguino-escrotal (B). ......................... 44

Figura 25 - Odontoplastia em equino (A). Material odontológico (B). .................................. 45

Figura 26 - Encaminhamento para centro de referência. ......................................................... 46

Figura 27 - Lote de receptoras para realização de exame ultrassonográfico para diagnóstico de

gestação. ................................................................................................................................... 47

Page 9: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

Figura 28 - Recuperação anestésica. ....................................................................................... 49

Page 10: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Palestras e aulas acompanhadas no período de estágio. ......................................... 23

Tabela 2 – Sistemas acometidos. ............................................................................................. 28

Tabela 3 – Detalhamento dos casos atendidos. ....................................................................... 29

Tabela 4 - Casuística de atendimentos..................................................................................... 40

Tabela 5 - Detalhamento dos casos atendidos. ........................................................................ 40

Page 11: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AH – Ácido hialurônico

EVA – Etileno acetato de vinila

FC – Frequência cardíaca

FR – Frequência respiratória

TPC – Tempo de preenchimento capilar

g – Grama

ml – Mililitro

kg – Quilograma

mg – Miligrama

% – Porcentagem

VO – Via oral

IV – Intravenoso

IM – Intramuscular

HT – Hematócrito

PPT – Proteína plasmática total

EDTA – Ácido etilenodiamino tetra-acético

MPA – Medicação pré-anestésica

TFDP – Tendão flexor digital profundo

TFDS – Tendão flexor digital superficial

Page 12: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

2 CLÍNICA DO RANCHO .................................................................................................... 16

2.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS .................................................................................. 16

2.2 FUNCIONAMENTO DA CLÍNICA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................. 19

2.2.1 Internação ...................................................................................................................... 19

2.2.2 Rotina da Clínica ........................................................................................................... 20

2.2.3 Atendimentos externos .................................................................................................. 22

2.2.4 Palestras e treinamentos ............................................................................................... 23

2.2.5 Casqueamento e Ferrageamento .................................................................................. 25

2.2.6 Fisioterapia ..................................................................................................................... 25

2.3 CASUÍSTICA ..................................................................................................................... 28

3 DISCUSSÃO DE CASOS ................................................................................................... 31

3.1 SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO ......................................................................... 31

3.1.1 Artroscopia de Carpo .................................................................................................... 31

3.1.2 Hemartrose idiopática .................................................................................................. 35

4 LABORATÓRIO E CLÍNICA VETERINÁRIA RUDNEI J SOUZA LTDA ............... 38

4.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS .................................................................................. 38

4.2 ATENDIMENTO CLÍNICO E EMERGENCIAL ............................................................. 39

4.3 RESPONSÁVEL TÉCNICO .............................................................................................. 39

4.4 CASUÍSTICA DE ATENDIMENTOS .............................................................................. 39

4.5 CASUÍSTICA DE ATENDIMENTOS ODONTOLÓGICOS ........................................... 45

4.6 ENCAMINHAMENTOS ................................................................................................... 46

4.7 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM ............................................................. 47

5 DISCUSSÃO DE CASOS ................................................................................................... 48

5.1 SISTEMA GENITURINÁRIO ......................................................................................... 48

Page 13: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

5.1.1 Criptorquidectomia unilateral associada a Orquiectomia ........................................ 48

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51

Page 14: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

15

INTRODUÇÃO

É com grande entusiasmo e propósito o qual procurarei transcrever com total

fidedignidade as atividades desenvolvidas no relatório da disciplina de estágio curricular

obrigatório em medicina veterinária. Cabe destacar que, ao graduando é esta uma excelente

oportunidade de lapidar os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos ao longo dos cinco

anos de graduação, assim como testar sua verdadeira vocação profissional frente a paixão que

exala de quem ama os cavalos. Ressalta-se que estagiar na área de atuação almejada na carreira

profissional é algo extremamente satisfatório, empolgante e único, o contato com os animais e,

bem como, a possibilidade de intercâmbio de experiências com outros estagiários, médicos

veterinários, e afins agregando significativamente na formação do profissional de medicina

veterinária.

Neste âmbito, tem-se como rotina de trabalho o conhecimento da dinâmica utilizada

dentro de uma clínica, acompanhamento de um profissional autônomo ou unidade hospitalar

especializada para equinos, por ser imprescindível ao estudante este contato. Ademais, enfatiza-

se, que a visualização da realização dos exames complementares e aplicação das técnicas

clínicas e cirúrgicas servem para aprimorar a capacidade de raciocínio clínico do futuro

profissional.

Além disso se destaca, outro ponto de relevância, o conhecimento do funcionamento

das empresas, as quais atuam neste setor associado ao entendimento de todas as etapas do ciclo,

para enfim identificar as perspectivas deste mercado de atuação.

Neste trabalho serão demonstradas as estruturas dos locais de estágio, rotina do

internamento e pacientes, atividades desenvolvidas nas áreas de clínica médica a campo, clínica

cirúrgica e reprodução de equinos. Estas atividades foram realizadas na Clínica do Rancho no

Estado da Bahia e Laboratório e Clínica Veterinária Rudnei J. Souza Ltda na cidade de São

José, Santa Catarina. Dentro das concedentes o estágio foi realizado sob a supervisão dos

médicos veterinários especialistas: Eider Edoardo Saldanha Leandro e Rudnei João de Souza,

durante o período de 6 de janeiro de 2021 até 23 de abril de 2021, totalizando 496 horas.

Page 15: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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2 CLÍNICA DO RANCHO

A Clínica do Rancho é um hospital particular especializado em clínica e cirurgia de

equinos, que está localizada na cidade de Camaçari no estado da Bahia. A equipe é formada

por três médicos veterinários sócios proprietários, os quais desempenham diferentes atividades

e possuem distintas áreas de atuação. Ademais, completam a equipe uma médica veterinária na

função de diretora clínica, dois médicos veterinários recém-formados que participam do

programa de residência, uma secretária para auxílio no financeiro e um funcionário geral,

responsável pela manutenção das cocheiras e alimentação dos animais.

2.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS

As instalações contam com uma casa com as seguintes acomodações: uma recepção,

dois escritórios, dois quartos para uso dos residentes, um quarto para uso dos estagiários, um

banheiro, uma cozinha, e em anexo uma sala de cursos de extensão e um laboratório clínico.

Na área externa estão situados o bloco cirúrgico e a sala de indução. A sala de indução

possui o formato quadrado, revestido com o piso emborrachado e as paredes laterais

acolchoadas, a fim de se evitar acidentes na indução e recuperação anestésica, onde os animais

são guiados por cordas presas na cabeça e cauda, conectadas por meio de argolas fixadas nas

paredes. O bloco cirúrgico é um ambiente amplo, o qual possui um banheiro, uma parede com

armários onde ficam armazenados os pijamas cirúrgicos e sapatos de uso exclusivo para o

interior do bloco, e uma pia grande que fica na sala de paramentação onde são realizadas as

lavagens. Observa-se também um sistema de refrigeração com dois aparelhos de ar-

condicionado, uma mesa cirúrgica acolchoada com regulagens de inclinação e altura, uma mesa

de cólon, uma torre para vídeo-cirurgias, um equipamento para anestesia inalatória, uma talha

hidráulica para conduzir o animal da sala de indução até o bloco.

O ambiente de acomodação dos animais conta com 13 cocheiras de alvenaria, com as

dimensões de 3x5 m², cada uma com três cochos, sendo dois para alimentação, concentrado e

suplementação com sal mineral, e um cocho de água com um balde de 20 litros para hidratação

dos mesmos. O material utilizado na cama das cocheiras é a casca de arroz e sua limpeza é

Page 16: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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realizada duas vezes por dia, além de sua estrutura contar com três cocheiras, cujo piso é

emborrachado e utilizado em pacientes específicos.

Com relação ao ambulatório, este conta com uma bancada com pia, armário e gavetas,

onde são preparadas as medicações administradas diariamente e onde ficam armazenados

alguns itens de utilização diária para limpeza dos cascos, escovas, agulhas e seringas. Nessa

área ficam os troncos de contenção, também com piso emborrachado e abertura tanto frontal

quanto nas laterais, facilitando desta forma o manejo.

Por fim, a farmácia localiza-se disposta em anexo ao ambulatório, nela ficavam

guardadas as medicações, prontuários e fichas dos animais internados, além do raio-x fixo,

computador, uma geladeira para condicionamento de vacinas, amostras e medicações.

Figura 1 - Fachada da Clínica.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 17: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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Figura 2 - Cocheiras foto externa (A). Cocheiras foto interna (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 3 - Bloco cirúrgico vista exterior (A). Sala de indução vista interior (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 4 - Sala de paramentação (A). Equipamento anestésico (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 18: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

19

Figura 5 - Bloco cirúrgico (A). Farmácia (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 6 - Troncos de contenção (A). Ambulatório (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

2.2 FUNCIONAMENTO DA CLÍNICA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

2.2.1 Internação

Page 19: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

20

No que concerne ao procedimento para internação dos pacientes, segue-se um padrão,

onde os mesmos são filmados no momento do desembarque do transporte, posteriormente

seguem para pesagem com o auxílio da fita, e é realizada a mensuração dos parâmetros clínicos

como: frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), tempo de preenchimento capilar

(TPC), coloração da mucosa oral, temperatura corporal e ausculta gastrointestinal, sendo estes

registrados em uma ficha clínica específica do paciente. Após a realização do exame clínico, de

acordo com a necessidade, alguns exames complementares são prontamente realizados, tais

como: hematócrito (HT), proteína total (PPT), lactato sérico, lactato peritoneal. Quando

necessário, também são efetuados exames complementares de imagem, como: endoscopia,

radiografia digital e ultrassonografia. Concomitante a realização do exame clínico e/ou exames

complementares, já se realiza a fixação do catéter intra-venoso, sondagem nasogástrica,

fluidoterapia, estabilização do paciente ou, realização de curativos de acordo com a afecção.

Figura 7 - Ultrassonografia de abdômen (A). Sondagem nasogástrica (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

2.2.2 Rotina da Clínica

Importante faz-se registrar a disciplina aplicada quanto a rotina de internação clínica,

a qual iniciava impreterivelmente no horário das 7h da manhã. Ao estagiário responsável cabia

se apresentar no ambulatório, vestindo um pijama cirúrgico verde, portando estetoscópio e um

Page 20: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

21

termômetro. Inicialmente, era administrada a alimentação dos animais, realizada de duas a três

vezes por dia, sendo a dieta à base de volumoso (feno de alfafa, feno de azevém e tifton) e

concentrado (ração à base de milho, aveia e melaço). Frisa-se que a frequência e porção da

mencionada alimentação, se dava com base no peso, sexo, idade e requerimento energético do

animal.

Salienta-se que, na continuidade dos procedimentos os animais quando retirados da

cocheira eram escovados e tinham os cascos limpos, com o auxílio de um limpador de cascos,

para posteriormente serem levados ao ambulatório, onde eram realizados os exames clínicos

diários, administração das medicações, limpeza das feridas, limpeza de síntese cirúrgica, troca

de bandagens, manutenção dos acessos periféricos, hidroterapia, crioterapia e rotina da

fisioterapia. Todas essas atividades eram acompanhadas pelos residentes e diretora clínica, que

faziam as anotações nas fichas de internação, a fim de manter organizada a rotina. O

acompanhamento também tinha a finalidade importante e fundamental em observar a evolução

dos pacientes, e caso necessário, modificar a terapia prescrita.

É de máxima importância consignar que os internados em terapia intensiva eram

avaliados com uma maior frequência, dada a gravidade do quadro necessitarem de maior

atenção, quanto aos parâmetros clínicos e administração dos fármacos. Com isto uma escala de

plantão era montada pela equipe para que fosse dado o devido suporte a estes pacientes, e desse

modo o acompanhamento seguia madrugada a dentro.

Alguns dos exames complementares eram realizados no laboratório da clínica, como

por exemplo a mensuração do HT, que se realiza da seguinte forma: primeiramente a coleta de

sangue em tubo com anticoagulante (EDTA), em seguida faz-se o preenchimento de dois

capilares com sangue, uma das extremidades é selada com o auxílio de fogo e posicionamento

dos capilares na centrífuga, onde irão permanecer por um período de cinco minutos. Por fim,

utiliza-se uma placa com escala de 0 a 100 para interpretação do exame, além de um

refratômetro para a avaliação da PPT. Esses valores quando associados ao TPC são de extrema

importância para se estimar o grau de desidratação corporal do paciente.

Faz-se prudente evidenciar que os exames de endoscopia, ultrassonografia e

radiografia digital eram disponibilizados e utilizados conforme a necessidade de cada caso.

Aponta-se que, para suprir as necessidades da Clínica do Rancho, haviam dois aparelhos

digitais de raio-x, sendo um CR, fixo para uso interno, e outro DR, que era utilizado nos

Page 21: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

22

atendimentos externos. Quanto aos aparelhos de ultrassonografia, destacam-se dois: um com a

finalidade de utilização para reprodução, o qual contava com uma probe linear retal, já o outro

aparelho com color doppler, utilizado principalmente para imagens de exame do sistema

locomotor e imagens de abdômen, dispondo de probes linear e convexa.

Cabe salientar que exames como: hemograma, bioquímico, cultura e antibiograma de

líquidos corporais eram coletados e enviados diariamente para um laboratório externo parceiro

da clínica. Um motoboy frequentava diariamente o hospital para efetuar o recolhimento das

amostras, garantindo desta forma, a eficiência no envio das mesmas. Após a conclusão das

análises, os resultados eram postados no sistema digital para posterior leitura.

2.2.3 Atendimentos externos

Para um melhor entendimento do corpo clínico, a equipe da Clínica do Rancho possui

profissionais especialistas em diversas áreas dentro da clínica de equinos. Desta forma, os três

sócios realizam atendimentos externos com frequência, cabendo a equipe organizar na véspera

o material que seria utilizado no atendimento do dia posterior, assim como verificar a

necessidade de reposição de medicamentos e materiais. Nesses atendimentos os estagiários

tinham a oportunidade de acompanhar, de acordo com a escala montada, fazendo um

revezamento.

Nos casos em que os animais não eram encaminhados ao hospital, eram realizados

atendimentos emergenciais externos, portanto, havia uma caixa de atendimento emergencial

pronta com o material necessário. Oportunamente ressalta-se que, parte destes atendimentos

emergenciais eram feitos pela diretora clínica do hospital, que permitia o acompanhamento de

um estagiário para auxílio.

Page 22: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

23

Figura 8- Atendimento externo (raio-x para diagnóstico das patologias do sistema locomotor).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

2.2.4 Palestras e treinamentos

Durante o período de estágio semanalmente os estagiários preparavam apresentações

de casos clínicos, que eram repassados no formato de slides em power point, e acompanhado

por toda a equipe da Clínica.

Rotineiramente haviam apresentações e treinamentos dos Doutores sobre algum tema

dentro da Clínica Médica e Cirúrgica de equinos. Essa rotina de aulas e apresentações será

demonstrada na tabela 1.

Tabela 1 - Palestras e aulas acompanhadas no período de estágio.

Palestrante Tema

Dr. Alexandre Tinoco Treinamento teórico/ prático de Osteossíntese

Drª. Márcia Costa Palestra – Cólica Equina Intensivismo

Page 23: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

24

Drª Débora Nascimento

Treinamento prático atendimento de Abdômen

Agudo

Dr. Alexandre Tinoco Treinamento em bloco cirúrgico de Vídeo-

Cirurgia (Artroscopia)

Dr. Reinaldo de Campos

e Dr. Sérgio Portilho

Demonstração e Treinamento de Radiologia

Digital (Abla Import™)

Júlia Peixoto Caso Clínico – Hérnia Inguino Escrotal

Maria Clara Caso Clínico – Eastenia Cutânea

Yandra Pesqueira Caso Clínico – Artroscopia de Carpo

Matheus Szpoganicz

Caso Clínico – Síndrome da Rabdomiólise

Equina

Total 9

Figura 9 - Treinamento de Osteossíntese (A). Treinamento Vídeo-cirurgia (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 24: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

25

2.2.5 Casqueamento e Ferrageamento

A necessidade destas atividades era avaliada semanalmente em conjunto pelos

profissionais da clínica, a fim de verificar quais pacientes internados necessitavam de

casqueamento corretivo e ferrageamento ortopédico. Durante o período de estágio esse trabalho

foi realizado por um profissional Médico Veterinário especialista em podologia/podiatria

equina. Alguns animais tinham o seu trabalho corretivo guiado por radiografia digital,

permitindo assim a realização de um trabalho técnico ideal.

2.2.6 Fisioterapia

No tocante ao setor de fisioterapia, que possuía uma intensa casuística, os animais que

haviam indicação passavam por esses métodos de tratamento em associação aos

medicamentosos. Dando prosseguimento a este Relatório, serão comentadas as principais

atividades efetuadas no setor de fisioterapia durante o período de estágio.

Relevante tema é a crioterapia utilizada com a intenção de atenuar os sinais clínicos

clássicos do processo inflamatório, ela é indicada desta forma, para se obter analgesia do tecido

e diminuição do metabolismo. No tratamento de lesões articulares e tendíneas, quando as lesões

são agudas a crioterapia é o tratamento fisioterápico mais eficaz no controle da inflamação. Em

pacientes que apresentam sinais clínicos em fase aguda, como por exemplo a laminite, o frio

deve ser aplicado por até 72 horas (MIKAIL; PEDRO, 2006).

Um equipamento amplamente utilizado é o ultrassom terapêutico, que visa a produção

de calor profundo no local da lesão, objetivando provocar a vasodilatação local, drenagem de

líquidos produzidos pelo processo inflamatório, além de analgesia. Essa técnica é indicada no

tratamento de tendinites crônicas e contraturas articulares por promover a reparação das fibras

musculares e tendíneas. Sua utilização também abrange as afecções articulares, uma vez que o

aquecimento da região promove aumento da elasticidade do colágeno, e consequentemente

aumento da extensão dos movimentos (McILWRAITH, 2000 apud MIKHAILENKO, 2012, p.

19).

Outro importante segmento no ramo da fisioterapia é o campo eletromagnético

pulsátil, definido como um condutor em espiral pelo qual passam correntes elétricas, que criam

Page 25: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

26

um campo magnético ao seu redor. A frequência utilizada varia de acordo com o estágio da

afecção, alternando em casos agudos e crônicos. Dentre os benefícios da utilização dessa

técnica destaca-se a influência direta no metabolismo celular, propriedades antiedematosas e

analgesia (TEIXEIRA, 2019).

Neste contexto cabe elucidar que a estrutura da clínica contava com uma pista de

propriocepção, com cerca de 25 metros de comprimento, possuindo diferentes tipos de terreno

(areia, brita, borracha, grama e palha), onde os animais eram estimulados a caminhar, buscando

a correção do tônus muscular através do encorajamento do apoio, proporcionando maior

equilíbrio e coordenação motora. Com base nas imagens a seguir apresentam-se algumas das

atividades de fisioterapia, destacando-se que durante a realização dos procedimentos sempre se

busca proporcionar ao animal um momento prazeroso, portanto, algumas atividades eram

realizadas dentro da cocheira permitindo que o animal se alimentasse durante a sessão, além da

utilização de um EVA para manter o membro do animal apoiado e confortável.

Figura 10 - Pista de propriocepção.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 26: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

27

Figura 11 - Paciente no Campo Eletromagnético (A). Ultrassom Terapêutico (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 12 - Paciente realizando caminhadas na pista de propriocepção.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 27: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

28

2.3 CASUÍSTICA

O gráfico demonstrado na figura 13, apresenta um maior número de pacientes do

gênero masculino em comparação ao gênero feminino, com média de idade de 11 e 6 anos

respectivamente. Os sistemas acometidos são apresentados na tabela 2, onde o sistema músculo

esquelético apresentou a maior casuística, totalizando mais de 50% dos atendimentos, seguido

do sistema tegumentar. Um maior detalhamento dos casos atendidos é explanado na próxima

tabela 2.

Figura 13 - Gráfico correspondente ao sexo dos animais atendidos.

Fonte: Autor (2021).

Tabela 2 – Sistemas acometidos.

Sistema

Total

nº %

Músculo Esquelético 21 56,76

Tegumentar 7 18,92

Gastrointertinal 4 10,81

Reprodutor 2 05,41

Respiratório 1 02,70

Sensorial Especial 1 02,70

43,25

%56,75

%

SEXO ANIMAIS

Fêmeas Machos

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29

Vascular 1 02,70

Total 37 100

Fonte: Autor (2021).

Tabela 3 – Detalhamento dos casos atendidos.

Patologias

Total

nº %

Sistema Músculo Esquelético

Abscesso Subsolear 2 05,40

Desvios Flexurais 2 05,40

Laminite Aguda 2 05,40

Tendinite Crônica em Tendões Flexores (Superficial e

Profundo)

2 05,40

Desmite Proximal de Ligamento Suspensório do Boleto 1 02,70

Entesopatia de Ligamento Colateral na Articulação

Interfalangeana Distal

1 02,70

Fratura Completa - Fechada Oblíqua de Corpo III Metacarpo 1 02,70

Fratura Distal em Salter Harris tipo II na Tíbia 1 02,70

Fratura da Falange Distal tipo III 1 02,70

Fratura de Superfície Dorsal de Escápula 1 02,70

Hemartrose Idiopática 1 02,70

Laminite Crônica 1 02,70

Osteoartrite em Carpo Radial 1 02,70

Ruptura Completa de TFDP e TFDS 1 02,70

Ruptura do Tendão Fibular III 1 02,70

Síndrome da Rabdomiólise Equina 1 02,70

Tendinite Crônica em TFDS

1 02,70

Sistema Geniturinário

Endometrite 1 02,70

Funiculite por reação a fio de sutura

1 02,70

Page 29: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

30

Sistema Respiratório

Edema de epiglote

1 02,70

Sistema Tegumentar

Habronemose 2 05,40

Dermatofitose 1 02,70

Eastenia Cutânea 1 02,70

Ferida em transporte 1 02,70

Fibrose Cutânea

1 02,70

Sistema Gastrointestinal

Sobrecarga Gástrica 2 05,40

Abdome Agudo 1 02,70

Hérnia Inguino-Escrotal 1 02,70

Sistema Vascular

Tromboflebite de Veia Jugular Externa

1 02,70

Sistema Sensorial Especial

Carcinoma de Células Escamosas 1 02,70

Total 37 100

Fonte: Autor (2021).

Durante o período de estágio no estado da Bahia observou-se que o maior número de

atendimentos se tratam do exame do sistema locomotor dos equinos, principalmente em animais

da raça Quarto de Milha. Adverte-se que, essa rotina se dá pela capacidade da clínica em chegar

aos diagnósticos por meio da realização dos exames complementares, além de questões

culturais onde a maior parte dos animais da região são atletas que competem no esporte da

Vaquejada.

Segundo Xavier (2002) citado por Meneses et al. (2014, p. 256) durante as provas de

vaquejada os animais são expostos a uma exigência física elevada, pois devem realizar

manobras de rápida largada, mudanças de direção e paradas abruptas, além da força física

Page 30: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

31

exercida no momento da derrubada do boi. Com isso a rotina de treinamentos semanais somada

a participação em eventos durante os finais de semana fazem com que esses animais tenham

uma exigência de atletas de alto nível.

O exame de claudicação tem como objetivo inicial identificar qual o membro

claudicante, e o que a está alavancando. O histórico do animal é de extrema importância para

auxílio do caso, além de se buscar seguir uma sequência lógica no exame, que tem por início a

inspeção visual estática do animal, seguida da inspeção dos cascos quanto a sua

estrutura/casqueamento (ângulo, comprimento, largura, simetria e talões), pulso digital

alterado, qualidade da ranilha. Um instrumental imprescindível é a pinça de casco, ela

demonstra se existe algum ponto de sensibilidade na sola, através da pressão nas regiões do

talão, quarto, ombro, pinça, ranilha e sulco. Quando o animal se mostra reativo ao pinçamento,

possivelmente o estímulo de dor é proveniente da região pinçada. (STASHAK et al., 2008).

3 DISCUSSÃO DE CASOS

3.1 SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO

3.1.1 Artroscopia de Carpo

3.1.1.1 Relato de Atendimento

A título elucidativo artroscopia é uma técnica cirúrgica, de característica endoscópica,

que tem por finalidade visualizar o interior de uma cavidade articular de forma funcional. Esta

técnica permite a visualização de tecidos não ósseos, tais como: membrana sinovial, vilos

sinoviais, cartilagem articular, ligamentos e meniscos. Consiste numa técnica amplamente

utilizada nos equinos atletas, uma vez que os mesmos são submetidos a uma alta exigência,

gerando estresses as estruturas do aparelho locomotor (MICHELON, 2018).

O artroscópio é um instrumento tubular com sistema de lente e uma fibra óptica que

conduz luz, podendo variar de 2 até 6 mm de diâmetro. Salienta-se que esse equipamento

permite examinar o interior das articulações e efetuar certas intervenções cirúrgicas

(MICHELON, 2018).

Page 31: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

32

Dentre as vantagens desta técnica podemos destacar: pouco tempo de hospitalização,

prognóstico de retorno esportivo mais rápido, ampliação da visualização das estruturas,

procedimento pouco invasivo, e visualização de lesões não evidenciadas radiograficamente.

Segundo Stashak (2008), fragmentações nas articulações cárpicas são comuns em

equinos destinados à corrida, e nestes casos os pacientes apresentam efusão sinovial e

claudicação em diferentes graus. Cabe destacar que a maioria das fraturas se encontram no

bordo distal e proximal do osso carpo radial, e seu diagnóstico é confirmado por meio de exames

radiológicos, porém a radiografia não capacita a visualização de alguns fragmentos, bem como

o grau de lesão articular em associação. Nestes casos a cirurgia artroscópica para a remoção

desses fragmentos osteocondrais é indicada, promovendo um alívio rápido dos sinais clínicos,

assim como busca por prevenção do desenvolvimento posterior de osteoartrite.

Relata-se que na data de 02 de fevereiro do presente ano foi encaminhado ao hospital

uma égua da raça Quarto de Milha, linhagem de corrida, com histórico de claudicação grau II

no membro torácico esquerdo, após a participação em uma prova equestre de velocidade.

Posteriormente a realização de exames complementares de imagem, o paciente teve indicação

da cirurgia artroscópica por parte do clínico que conduziu o atendimento, em virtude de uma

proliferação óssea situada na articulação intercárpica, mais especificamente no osso carpo

radial, na fileira proximal do carpo, sugestivo de osteoartrite em carpo radial.

Nesse contexto, com a entrada do animal no hospital, realizou-se o exame clínico, e

repetição dos exames de imagem nas seguintes projeções: dorsopalmar, lateromedial,

lateromedial flexionada, dorsolateral palmaromedial, dorsomedial palmarolateral, além dos

exames pré-operatórios: hemograma completo, uréia, creatinina, fibrinogênio, ppt e jejum de

12 horas.

Para tanto, no dia 07 de fevereiro do corrente ano o paciente foi encaminhado para a

cirurgia, onde o protocolo anestésico adotado constituiu-se de: medicação pré-anestésica

Xilazina (10%) na dose de 1 mg/kg (IV). A indução foi feita com a associação do Diazepam,

na dose de 0,2 mg/kg (IV) e Quetamina na dose de 2,2 mg/kg (IV). Já a manutenção anestésica

foi conduzida por meio da anestesia inalatória com o fármaco Isofluorano.

Esclarece-se que a escolha do decúbito se dá pela articulação que irá ser observada, no

caso em questão foi adotado o decúbito dorsal, pois o mesmo reduz as chances de hemorragia,

além de um melhor acesso a articulação visualizada.

Page 32: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

33

O procedimento inicia-se com a fixação de um acesso venoso, lavagem da cavidade

oral, tricotomia ampla da região do carpo, antissepsia com iodo degermante, iodo tópico e

álcool 70%. Posteriormente coleta-se líquido sinovial da articulação, para depois distendê-la

com solução eletrolítica (Ringer com lactato), que será bombeada durante todo o processo por

uma válvula de entrada de fluidos da bainha do artroscópio, promovendo distensão e retirada

de qualquer material indesejado. O acesso intra-articular é realizado com duas incisões, para

entrada do artroscópio e instrumental. A primeira incisão foi realizada na porção mais proximal

da expansão da cápsula, já a segunda incisão mais próxima ao local da lesão articular, com isto,

forma-se o chamado princípio da triangulação. O trocater é um instrumento pontiagudo inserido

por meio de uma cânula, que após ser inserido o mesmo é substituído pelo artroscópio que está

acoplado a bainha, completando a penetração na articulação. Após inicia-se o exame da cápsula

articular pela imagem do artroscópio, que é conduzida para um monitor de televisão por uma

vídeocâmera, acoplada a uma lente ocular, que permite o registro e arquivo das imagens por

parte da equipe cirúrgica.

Vale destacar que, ao longo da cirurgia são utilizados vários instrumentais, os quais

auxiliam na técnica, sendo eles: sondas, fórceps, elevadores de periósteo, osteótomos, curetas,

lâminas de Shaver.

Durante a avaliação completa da articulação, confirmou-se a presença de uma

proliferação óssea na borda do carpo radial, compatível com um osteófito. Esse fragmento foi

retirado, juntamente com uma quantidade significativa de fímbrias, indicando uma inflamação

considerável da membrana sinovial.

Registra-se que, após a exploração da articulação é realizada a retirada dos

instrumentais, para posteriormente realizar a síntese das duas incisões, que foram feitas no

padrão de sutura simples interrompido, com o fio de sutura Nylon 2-0. Em seguida é realizada

a bandagem, que foi no método de Robert Jones, com os materiais: algodão hidrófilo, atadura

elástica e bandagem elástica vetrap. Por fim, o animal é reconduzido para a sala de indução,

para recuperação anestésica e com o intuito de facilitar no retorno é realizado um repique de

Xilazina (10%) na dose de 0,5 mg/kg (IV).

Já na etapa do pós-operatório é prescrita a restrição de exercícios por 10 dias, onde

após esse período será realizada a retirada dos pontos. A medicação receitada contempla:

Gentamicina na dose de 8,8 mg/kg (IV) no primeiro dia, e do segundo até o sétimo dia 7,2

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34

mg/kg (IV); anti-inflamatórios: Fenilbutazona na dose 2,2 mg/kg (IV) dose única 24 horas após

o procedimento e Firocoxibe na dose 0,1 mg/kg (Oral) por dez dias. No terceiro dia de pós-

operatório foi realizada a troca da bandagem, para visualizar a cicatrização e limpeza da ferida

com Clorexidine degermante e pomada cicatrizante, mantendo essa troca e limpeza a cada dois

dias. No décimo dia fez-se a retirada dos pontos, deixando a ferida aberta. Finalmente, após

dois dias o animal teve alta médica, acompanhada de imagens radiográficas atualizadas.

Figura 14 - Imagem trans-operatório de artroscopia de Carpo.

Fonte: Imagem cedida pela Clínica do Rancho (2021).

Figura 15 - Radiografia lateromedial flexionada do Carpo (MTE).

Fonte: Imagem cedida pela Clínica do Rancho (2021).

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Figura 16 - Cicatrização com 3 dias de pós-cirúrgico (A). Cicatrização com 10 dias de pós-

cirúrgico (B).

Fonte: Imagem cedida pela Clínica do Rancho (2021).

3.1.2 Hemartrose idiopática

3.1.2.1 Relato de Atendimento

No dia 24 de fevereiro deste ano, realizou-se uma visita a um Haras da raça de cavalos

Mangalarga Marchador, para a inspeção dos animais e alguns atendimentos do sistema

locomotor. Nas dependências do haras, inspecionou-se um potro de 1,5 anos, que apresentava

aumento de volume bastante considerável na articulação tíbio-társica. Vale ressaltar que, o

animal ainda não havia sido introduzido no esporte/ treinamentos, não tinha sinais de alopecia,

laceração, descartando a hipótese de trauma ocasionado por outro animal, deixando desta forma

as suspeitas bastante limitadas, não sendo possível excluir um trauma mecânico.

Vallance et al. (2012), comentam em seus estudos que as articulações afetadas pela

hemartrose idiopática são as intercárpicas e tarsocrural, com destaque para o derrame articular

grave associado a uma claudicação pouco expressiva no caso do tarso. O diagnóstico desta

afecção dá-se por meio da citologia do líquido sinovial com presença de hemorragia, e com o

descarte por parte dos exames complementares de imagem de patologias osteocondrais, como

Page 35: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

36

por exemplo, fragmentos e fraturas articulares. Como terapias, a literatura cita que o repouso e

medicações anti-inflamatórias são componentes importantes e apresentam excelentes

resultados nestas afecções.

Tokateloff et al. (2011) corroboram que nos casos de hemartrose em que não se

visualizam achados radiográficos importantes, além da presença de distensão articular. Ainda

comentam que existe uma diferença significativa na apresentação dos casos agudos e crônicos,

onde nos casos agudos na artrocentese teremos presença de sangue puro, que apresenta alívio

imediato para o paciente logo após sua drenagem.

Ressalta-se que durante o exame clínico o animal apresentava uma biomecânica

alterada por conta do aumento de volume da região, restringindo desta forma a sua mobilidade,

interferindo diretamente na sua deambulação, mas em contrapartida, as flexões não se

demonstravam positivas.

Como exame complementar de imagem, foi realizado o raio-x, onde não se observaram

alterações dignas de nota na região, existindo apenas a evidência de distensão articular nos

recessos medial e lateral da articulação tíbio-társica. Diante do exposto, fez-se a preparação da

região para posterior artrocentese e drenagem de conteúdo para melhor avaliação.

Com o animal devidamente contido em um tronco de contenção, realizou-se a

antissepsia ampla da região, com clorexidine degermante, clorexidine tópico e álcool 70%. A

artrocentese foi realizada no recesso medial da articulação tíbio-társica pelo cirurgião

responsável com luvas estéreis, e o auxiliar fez a compressão do recesso lateral para ajudar na

drenagem total dos conteúdos. Para realizar o acesso e drenagem utilizou-se uma agulha 40x12

mm, pois a 30x8 mm não foi efetiva, o aspecto do líquido era sanguinolento, com coloração

vermelho vivo e grande quantidade de fibrina, drenou-se 80 ml de conteúdo. Posteriormente

fez-se a deposição intra-articular de ácido hialurônico na dose de 20 mg. Outra terapia

medicamentosa recomendada foi a utilização contínua de Firocoxibe (VO) na dose de 0,1

mg/kg, até a regressão total do quadro.

A utilização do AH funciona como um lubrificante dos tecidos articulares, e sabe-se

que a viscosidade do líquido sinovial está diretamente relacionada com a quantidade e qualidade

de AH secretado pela membrana sinovial (ROCHA, 2008).

Page 36: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

37

O paciente seguiu sendo avaliado com frequência, e sua evolução foi satisfatória, as

posteriores drenagens foram de um volume de líquido reduzido, sem sinais de contaminação

por sangue, a distensão diminuiu significativamente, bem como a pressão intra-articular.

Figura 17 - Material utilizado para artrocentese em articulação tíbio-társica.

Fonte: Imagem cedida pela Clínica do Rancho (2021).

Figura 18 - Artrocentese em articulação tíbio-társica.

Fonte: Imagem cedida pela Clínica do Rancho (2021).

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4 LABORATÓRIO E CLÍNICA VETERINÁRIA RUDNEI J SOUZA LTDA

O profissional Rudnei J. Souza trata-se de um médico veterinário autônomo, atuante

no ramo de clínica médica, cirúrgica e reprodução de equinos há 34 anos, tendo formação na

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, e diversas especializações dentro da área.

O mesmo atua em todo o Estado de Santa Catarina, com destaque para as cidades da região da

Grande Florianópolis.

4.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS

A estrutura do profissional conta com um galpão localizado em São José (SC), no

bairro Forquilhas, rua Vidal Vicente de Andrade, possuindo 30 cocheiras que alojam animais

particulares e mensalistas, piquetes, lavador para os animais, e um rancho para realização de

procedimentos eletivos.

Grande parte da estrutura encontra-se no automóvel do mesmo, onde são levadas

caixas de instrumentais cirúrgicos, farmácia com medicações, caixa com equipamentos

odontológicos, ultrassom reprodutivo, e demais equipamentos, para realização dos

atendimentos externos.

Figura 19 - Unidade móvel, equipada para a realização dos atendimentos.

Fonte: Imagem cedida pela Rudhorse (2021).

Page 38: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

39

4.2 ATENDIMENTO CLÍNICO E EMERGENCIAL

Os atendimentos emergenciais são prioritários, desta forma, os proprietários entram

em contato por meio de ligação ou mensagens eletrônicas, e o profissional se mobiliza para ir

de encontro ao paciente. Destaca-se que a casuística ocorre principalmente em haras, cabanhas,

centros de treinamentos e hotelarias.

Os atendimentos eletivos são agendados ao longo da semana, onde o profissional

organiza as visitas para realização dos procedimentos, bem como a preparação do material que

será utilizado, visto que algumas medicações precisam ser encomendadas com antecedência.

Com grande frequência são realizadas coletas para exames de anemia infecciosa

equina e mormo, além de hemograma e bioquímico. Essas amostras são levadas até o

laboratório parceiro da Clínica, e quando prontas são lançadas no sistema, fazendo com que os

resultados sejam ágeis.

4.3 RESPONSÁVEL TÉCNICO

Grande parte da jornada semanal é destinada a visitação de centros equestres nos quais

o profissional desempenha o cargo de Responsável Técnico.

Dentre as atividades desenvolvidas, estão: inspeção das cocheiras, atendimentos

clínicos e cirúrgicos, controle e manutenção dos exames de anemia e mormo, vacinação para

influenza equina e raiva, administração de vermífugo periódico da tropa, atividades de

responsabilidade técnica em eventos equestres, realização de curativos e medicações além do

acompanhamento nutricional dos animais.

Dentre os locais de atuação, ganham destaque o CTG Os Praianos, que conta com 88

animais estabulados e a Sociedade Hípica Catarinense que conta com 78 animais estabulados e

realização periódica de eventos equestres.

4.4 CASUÍSTICA DE ATENDIMENTOS

A seguir será apresentada a casuística de atendimentos realizados durante o período de

estágio. O gráfico 2 demonstra que o atendimento em animais do gênero feminino foi superior

Page 39: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

40

quando em comparação com o gênero masculino, e a média de idade observada foi de 7 anos e

10 anos respectivamente. Conforme demonstrado na tabela 4, o sistema músculo esquelético

seguido do sistema gastrointestinal foram os de maior relevância. A tabela 5 mostrará com mais

detalhes as patologias atendidas, e em seguida serão demonstradas algumas imagens referentes

as afecções visualizadas.

Figura 20 - Gráfico correspondente ao sexo dos animais atendidos.

Fonte: Autor (2021).

Tabela 4 - Casuística de atendimentos.

Sistema

Total

nº %

Músculo Esquelético 32 39,00

Gastrointestinal 18 21,96

Tegumentar 12 14,64

Geniturinário 10 12,21

Respiratório 6 07,31

Vascular 4 04,88

Total 82 100

Tabela 5 - Detalhamento dos casos atendidos.

Total

68%

32%

SEXO ANIMAIS

Fêmeas Machos

Page 40: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

41

Patologias nº %

Sistema Músculo Esquelético

Abscesso Subsolear 12 14,62

Feridas com comunicações sinoviais 3 03,66

Síndrome Podotroclear 3 03,66

Tendinite aguda em tendões flexores (superficial e profundo) 3 03,66

Desvios Flexurais 2 02,44

Desmite Proximal do Ligamento Suspensório do Boleto 2 02,44

Fixação Dorsal de Patela 1 01,22

Fratura completa fechada de IV Metacarpiano 1 01,22

Fratura completa exposta de III Metatarsiano 1 01,22

Fratura por avulsão de osso Sesamóide Proximal 1 01,22

Laminite Crônica 1 01,22

Síndrome da Rabdomiólise Equina 1 01,22

Subluxação de 2ª Falange

1 01,22

Sistema Geniturinário

Orquiectomia eletiva em estação 5 06,09

Criptorquidectomia unilateral + Orquiectomia 2 02,44

Degeneração Testicular 1 01,22

Funiculite por reação a fio de sutura 1 01,22

Hímen Persistente

1 01,22

Sistema Respiratório

Adenite Equina 4 04,88

Obstrução Recorrente das Vias Aéreas Superiores 2 02,44

Sistema Tegumentar

Feridas ocasionadas por trauma 4 04,88

Page 41: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

42

Miíse 4 04,88

Sarcóide (região auricular e região axial) 2 02,44

Pitiose quartela membro torácico direito 1 01,22

Melanoma 1 01,22

Sistema Gastrointestinal

Sobrecarga gástrica 12 14,63

Compactação ceco-cólica 2 02,44

Hérnia inguino-escrotal 2 02,44

Enterolitíase flexura-pélvica 1 01,22

Intussuscepção jejunojejunal 1 01,22

Sistema Vascular

Hemoparasitose 4 04,88

Total 82 100

Fonte: Autor (2021).

Page 42: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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Figura 21 - Abcesso subsolear (A). Orquiectomia em estação (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 22 – Pitiose (A). Sarcóide (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 43: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

44

Figura 23 – Funiculite por reação a fio de sutura (A). Hímen prolapsado (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Figura 24 – Hérnia inguino-escrotal (A). Herniorrafia inguino-escrotal (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

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4.5 CASUÍSTICA DE ATENDIMENTOS ODONTOLÓGICOS

Dentre os atendimentos eletivos a prática da inspeção dentária juntamente com a

odontoplastia ganham um destaque, uma vez que fazem parte da rotina. Atualmente os

proprietários de animais de esporte/ cavalgadas voltam a sua atenção para possíveis reações a

embocadura, dificuldades mastigatórias, presença dos primeiros pré-molares, conhecidos como

dente de lobo, presença de capas dentárias ou pontas de esmalte.

A odontologia equina é uma área importantíssima na clínica médica de equinos, uma

vez que estes animais possuem dentes em erupção contínua ao longo de sua vida. No tocante a

problemas dentários dentro desta espécie, destacam-se os problemas de oclusão, por conta de

irregularidades na superfície oclusal, que dificultam a mastigação interferindo diretamente na

digestibilidade (SANTOS, 2015).

Os atendimentos odontológicos iniciam-se com uma inspeção completa do paciente,

avaliação dos parâmetros fisiológicos, coloração das mucosas, lavagem da cavidade oral com

água corrente, pesagem e certificação de que o animal se encontra em jejum, para

posteriormente passar pela sedação. O sedativo de eleição para estes procedimentos é a

Detomidina na dose de 0,02 – 0,04 mg/kg, variando com a idade e índole do animal. Em caso

de extrações, como por exemplo, o primeiro pré-molar, são realizadas aplicações locais de

Cloridrato de Lidocaína sem vasoconstrictor.

Figura 25 - Odontoplastia em equino (A). Material odontológico (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 45: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

46

4.6 ENCAMINHAMENTOS

Dentro do atendimento clínico a campo de equinos, por diversas vezes nos deparamos

com casos que são grandes desafios para o médico veterinário. No âmbito da clínica e cirurgia,

os profissionais atuantes devem trabalhar em parceria, para desta forma, obterem os melhores

resultados.

Alguns pacientes demandam de terapias intensivas, acompanhamentos 24 horas,

cirurgias que devem ser realizadas a nível de bloco cirúrgico e diagnósticos que demandam de

centros de referência para sua conclusão.

Cabe ao clínico saber o momento correto de encaminhar o seu paciente, uma vez que

tempo e questões financeiras pesam nessa hora. Para a realização de um encaminhamento o

paciente deve estar estável, sob o efeito de analgésicos, o tutor e clínico devem estar em contato

com o hospital e o animal precisa de um transporte especializado.

Ao longo do estágio alguns pacientes foram encaminhados para centros de referência,

a figura 30 retrata uma égua, com sintomas de síndrome do abdômen agudo, parâmetros

fisiológicos alterados, presença de refluxo, sem resposta satisfatória à analgesia. Devidamente

estabilizada, sondada, sendo encaminhada para um centro de referência.

Figura 26 - Encaminhamento para centro de referência.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

Page 46: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE …

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4.7 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM

Ao longo do período de estágio muitos pacientes necessitaram de exames de imagem,

tais como radiografia, ultrassonografia do sistema locomotor, ultrassonografia transretal para

diagnóstico de gestação.

Sempre que um paciente tem a indicação de exames complementares de imagem,

exceto para as imagens reprodutivas, um profissional parceiro radiologista é contratado. Desta

forma as imagens são terceirizadas, porém o clínico sempre recomendava que o estagiário

participasse da realização destas, em busca de aprendizado e acompanhamento de todas as

etapas de atendimento. Com isso, foi possível acompanhar diversos atendimentos para

realização de raio-x e ultrassonografia.

As imagens reprodutivas são feitas pelo próprio profissional, então com recorrência

deslocava-se para locais a fim de realizar diagnósticos de possível gestação em éguas.

Figura 27 - Lote de receptoras para realização de exame ultrassonográfico para diagnóstico

de gestação.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

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5 DISCUSSÃO DE CASOS

5.1 SISTEMA GENITURINÁRIO

5.1.1 Criptorquidectomia unilateral associada a Orquiectomia

5.1.1.1 Relato de atendimento

Foi atendido um equino macho, da raça Crioula, 4 anos de idade, com histórico de

apresentar somente um testículo na bolsa escrotal e ter comportamento de garanhão.

Após uma minuciosa palpação da bolsa escrotal e do anel inguinal, verificou-se que o

paciente em questão apresentava criptorquidismo unilateral, pois era possível palpar do lado

esquerdo uma massa compatível com o testículo na região do anel inguinal. O proprietário tinha

o interesse em realizar a criptorquidectomia unilateral e orquiectomia, uma vez que não havia

a intenção de manter o animal como garanhão, por se tratar de uma patologia altamente

transmissível para sua prole.

O criptorquidismo representa uma falha na descida dos testículos para o escroto, e é

mencionado como a diferenciação anômala mais comum do sistema genital masculino na

espécie. As causas anatômicas desta afecção são: encurtamento dos vasos espermáticos, ducto

deferente ou músculo cremáster, aderências peritoneais, anéis inguinais ou canais inguinais

subdesenvolvidos e formações escrotais errôneas. Geralmente os animais que apresentam

criptorquidia unilateral possuem o testículo retido hipoplásico, de consistência mole (SILVA et

al., 2007).

Com base na apresentação do testículo no anel inguinal esquerdo, e a gônada escrotal

direita presente na bolsa, a técnica cirúrgica escolhida foi o acesso inguinal esquerdo.

O procedimento iniciou com um exame clínico do paciente, pesagem, e administração

da medicação pré-anestésica Detomidina na dose de 0,02 mg/kg (IV).

Posteriormente foi realizada a indução anestésica, com a associação dos fármacos:

Cetamina na dose 2,2 mg/kg (IV) e Diazepam na dose 0,04 mg/kg (IV), em seguida o animal é

posicionado em decúbito dorsal, e é realizada a antissepsia com iodo degermante, iodo tópico

e álcool 70%. Na região de acesso inguinal, é feito um botão anestésico local em leque na linha

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de incisão de cloridrato de lidocaína 20 ml, além de 20 ml intra-testicular no testículo direito e

20 ml no cordão espermático.

Com o auxílio de um bisturi se realizou uma incisão de cerca de 4 cm, para posterior

identificação do testículo ectópico, que tem seus vasos e ductos pinçados por uma piça do tipo

Doyen Atraumática, e para a orquiectomia utilizou-se o emasculador, a fim de se assegurar a

ausência de hemorragia. Na inspeção do testículo ectópico, o mesmo, apresentava um tamanho

reduzido e consistência amolecida, característico de hipoplasia. Para a síntese utilizou-se sutura

padrão simples interrompido com fio Nylon 2-0. A orquiectomia do testículo hígido foi

realizada por meio da incisão da bolsa escrotal, exposição das túnicas vaginais, caracterizando

a técnica aberta, com pinçamento dos vasos e ductos, e posterior utilização do emasculador. O

animal foi mantido em decúbito o máximo de tempo possível para que sua recuperação

anestésica acontecesse da forma mais segura possível. Fez-se administração de soro antitetânico

(IM).

No pós-operatório foi recomendado a utilização de Flunixina Meglumina na dose de

1,1 mg/kg (IV) por cinco dias, além de uma composição de 3 antimicrobianos à base de

Penicilina, na dose de 25.000 UI, por sete dias. Repouso e realização de duchas 3 vezes ao dia.

Figura 28 - Recuperação anestésica.

Fonte: Arquivo pessoal (2021).

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6 CONCLUSÃO

Por fim, a opção de associar estágio em hospital e atendimentos clínicos a campo foi

muito satisfatória, pois possibilitou visualizar a rotina, desafios e entraves em cada setor de

atuação. Escolher dois locais de referência contribuiu significativamente para o aprendizado,

evolução e aperfeiçoamento do acadêmico. Além disso, foi possível identificar as similaridades

e diferenças entre um ambiente hospitalar e o atendimento a campo. Ressalta-se ainda nesses

dois ambientes a visualização dos protocolos, instrumentos, equipamentos e técnicas utilizadas.

Destaca-se que, acompanhar os setores de clínica, cirurgia e reprodução, possibilitou

uma base muito significativa para meus estudos dentro da clínica de equinos, tendo a

oportunidade de presenciar atendimentos em diversas áreas, com diferentes metodologias e

abordagens.

Contempla-se nesse desfecho a sensação de evolução da prática e do conhecimento

por meio da experiência adquirida ao longo destes meses que é indiscutível. Enfim, deixa-se o

sentimento de gratidão pela oportunidade oferecida e a sensação de dever cumprido.

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