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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ROZILENE DA COSTA BATISTA A INTERDISCIPLINARIDADE EM SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS NO CONTEXTO DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA (PNAIC) Rondonópolis MT 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROZILENE DA COSTA BATISTA

A INTERDISCIPLINARIDADE EM SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS

NO CONTEXTO DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE

CERTA (PNAIC)

Rondonópolis – MT

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROZILENE DA COSTA BATISTA

A INTERDISCIPLINARIDADE EM SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS

NO CONTEXTO DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE

CERTA (PNAIC)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, do Instituto de

Ciências Humanas e Sociais da Universidade

Federal de Mato Grosso, Câmpus

Universitário de Rondonópolis, na Linha de

Pesquisa Linguagem Cultura e Construção do

Conhecimento: perspectivas histórica e

contemporânea, como parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Sílvia de Fátima

Pilegi Rodrigues

Rondonópolis – MT

2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

B333i Batista, Rozilene da Costa.

A interdisciplinaridade em sequências didáticas desenvolvidas no contexto

do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) / Rozilene da

Costa Batista. --

2017

106 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Silvia de Fátima Pilegi Rodrigues.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de

Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-Graduação em Educação,

Rondonópolis, 2017.

Inclui bibliografia.

1. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. 2.

Interdisciplinaridade. 3.Multidisciplinaridade. 4. Sequência Didática. 5. Prática

pedagógica. I. Título.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Rod. Rondonópolis.-Guiratinga, km 06 MT-270 - Campus Universitário de Rondonópolis - Cep:

78735-901 -RONDONÓPOLIS/MT

Tel : (66) 3410-4035 - Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO : "A INTERDISCIPLINARIDADE EM SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS

DESENVOLVIDAS NO CONTEXTO DO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA

IDADE CERTA (PNAIC)"

AUTOR : Mestranda Rozilene da Costa Batista

Dissertação defendida e aprovada em 18/05/2017.

Composição da Banca Examinadora:

_____________________________________________________________________________

____________

Presidente Banca / Orientador Doutor(a) Silvia de Fátima Pilegi Rodrigues

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Interno Doutor(a) Cancionila Janzkovski Cardoso

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Externo Doutor(a) Adelma Das Neves Nunes Barros-Mendes

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

Examinador Suplente Doutor(a) Sandra Regina Franciscatto Bertoldo

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

RONDONÓPOLIS, 22/05/2017.

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Dedico ao meu esposo, Edson, e aos nossos

filhos, Eduardo e Vitor, pela compreensão,

paciência e carinho durante a trajetória

empreendida para que este sonho se tornasse

realidade.

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AGRADECIMENTOS

Registro meus agradecimentos a todos que contribuíram para que esta pesquisa se

concretizasse.

Primeiramente, agradeço a Deus, que é o meu primeiro e maior companheiro, que me

sustenta e me dá forças em todos os momentos da minha vida, que me concede oportunidades

de grandes aprendizagens, entre elas, as conquistadas no período do mestrado.

Agradeço com um carinho muito especial a minha orientadora Sílvia de Fátima Pilegi

Rodrigues, pela confiança, parceria, paciência, e por não medir esforços para me acompanhar

neste processo de construção.

A todos os professores do curso de Mestrado em Educação, pelas valiosas

contribuições na elaboração da pesquisa, bem como aos secretários e coordenadores do curso,

sempre dispostos a nos auxiliar.

À Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, pela licença qualificação a mim

conferida, permitindo-me, nestes dois anos, buscar novos conhecimentos e aprimorar-me

profissionalmente.

Aos gestores do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais de Educação –

CEFAPRO de Sinop pelo apoio no processo de ingresso no mestrado.

À professora Marli Cichelero, colega de trabalho no CEFAPRO de Sinop, que me

incentivou e me auxiliou no projeto inicial.

Aos meus colegas de curso, pela convivência e pelas aprendizagens compartilhadas

durante o mestrado.

Às professoras alfabetizadoras que se dispuseram a colaborar com a pesquisa, através

dos documentos enviados.

Ao meu pai Bernardo, minhas irmãs Ruth, Rozinete, Rozeli, meu irmão Rubens, a toda

minha família pela força e apoio durante esta jornada.

Enfim, a todos que contribuíram e apoiaram o desenvolvimento e realização de mais

um projeto em minha vida, os meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como tema central a Interdisciplinaridade no desenvolvimento de

atividades realizadas em sala de aula, com base no Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa – PNAIC. O objetivo geral foi de analisar se as propostas de Sequências Didáticas

(SD) desenvolvidas por professoras alfabetizadoras, que participaram do PNAIC, nos anos de

2013, 2014 e 2015 pautaram-se em uma perspectiva interdisciplinar. Esse objetivo se

desdobrou em dois objetivos específicos: 1 – Compreender quais concepções de

interdisciplinaridade e de sequência didática fundamentam os documentos fornecidos pelas

colaboradoras; 2 – Analisar se a organização do trabalho pedagógico, a partir de sequências

didáticas, favorece a interdisciplinaridade. A metodologia utilizada foi de abordagem

qualitativa, aliada ao método da Análise de Conteúdo através da técnica de análise

documental. Os documentos que se constituíram como objetos de análise foram as próprias

SD e os relatos da realização dessas, fornecidos por professoras alfabetizadoras participantes

do Programa, de escolas públicas das redes municipal e estadual de ensino, que colaboraram

com a pesquisa. Foram onze professoras, que atuaram, no período, em turmas dos anos

iniciais do Ensino Fundamental. Foram levantadas duas categorias de análise, que se

apresentaram em: SD Multidisciplinares e SD Interdisciplinares. Com este estudo,

constatamos que a formação do PNAIC proporcionou, a 88% das professoras alfabetizadoras

participantes da pesquisa, a realização de sequências didáticas numa perspectiva

interdisciplinar, e a 33%, uma perspectiva multidisciplinar. No entanto, evidenciou-se a

necessidade de continuar a busca pela interdisciplinaridade, para que haja maior engajamento

na esperança de que, em algum momento, essa prática se efetive.

Palavras-chave: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Interdisciplinaridade.

Multidisciplinaridade. Sequência Didática. Prática pedagógica.

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ABSTRACT

This research had as its central theme the Interdisciplinarity in the development of activities

carried out in the classroom based on the National Pact for Literacy in the Right Age -

PNAIC. The general objective was to analyze whether the proposals for Didactic Sequences

(SD) developed by literacy teachers who participated in the PNAIC in the years 2013, 2014

and 2015 were based on an interdisciplinary perspective. This objective was divided into two

specific objectives: 1 - To understand which conceptions of interdisciplinarity and didactic

sequence base the documents provided by the collaborators; 2 - To analyze if the organization

of the pedagogical work, from didactic sequences, favors the interdisciplinarity. The

methodology used was a qualitative approach, allied to the Content Analysis method through

the technique of documentary analysis. The documents that were constituted as objects of

analysis were the own DS and the reports of the realization of these, provided by literacy

teachers participating in the program, public schools of the municipal and state educational

networks, who collaborated with the research. Eleven female teachers, who worked during the

period in classes from the first years of elementary school. Two categories of analysis were

presented and presented in: SD Multidisciplinary and SD Interdisciplinary. With this study,

we found that the formation of the PNAIC provided 88% of the literacy teachers participating

in the research, didactic sequences in an interdisciplinary perspective, and 33%, a

multidisciplinary perspective. However, the need to continue the search for interdisciplinarity

was evidenced, so that there is greater engagement in the hope that, at some point, this

practice will take place.

Keywords: National Pact for Literacy in the Right Age. Interdisciplinarity.

Multidisciplinarity. Following teaching. Pedagogical practice.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa do Mato Grosso (em destaque, municípios que participaram da pesquisa) . 25

Figura 2 – Esquema da Sequência Didática ............................................................................ 39

Figura 3 – Cadernos do PNAIC de 2013 ................................................................................. 54

Figura 4 – Cadernos do PNAIC de 2014 ................................................................................ 55

Figura 5 – Jogos didáticos do PNAIC (a)................................................................................56

Figura 6 – Jogos didáticos do PNAIC (b)................................................................................56

Figura 7 – Cadernos do PNAIC de 2015 (1-6)........................................................................57

Figura 8 – Coleção PNAIC de Mato Grosso (7-10)................................................................58

Figura 9 – Coleção PNAIC de Mato Grosso...........................................................................62

Figura 10 – Coleção do PNAIC de Mato Grosso – Vol. 4......................................................63

Figura 11 – Atividade com os olhos vendados........................................................................65

Figura 12 – Atividade no Quadro Valor de Lugar (QVL).......................................................66

Figura 13 – Pesquisa LI...........................................................................................................68

Figura 14 – Atividade de produção de desenho......................................................................69

Figura 15 – Atividade de jogos................................................................................................71

Figura 16 – Atividade escrita...................................................................................................71

Figura 17 – Alunos assistindo o vídeo Nutriamigos................................................................73

Figura 18 – Escrita dos alunos a partir da pesquisa.................................................................74

Figura 19 – Interpretação escrita dos alunos............................................................................74

Figura 20 – Atividade escrita...................................................................................................76

Figura 21 – Atividade com jogos.............................................................................................76

Figura 22 – Alunos confeccionando o gráfico.........................................................................80

Figura 23 – Os alunos em momento de leitura e roda de conversa.........................................81

Figura 24 – Atividade com jogos.............................................................................................82

Figura 25 – Atividade escrita.......................................................................................................82

Figura 26 – Cartaz com os convites das crianças....................................................................84

Figura 27 – Convite individual................................................................................................84

Figura 28 – Trabalhando dias da semana e hora......................................................................85

Figura 29 – Trabalho com dinheiro.........................................................................................85

Figura 30 – Trabalhando com os meses...................................................................................86

Figura 31 – Gráfico produzido pela turma...............................................................................86

Figura 32 – Atividades sobre aniversário envolvendo figuras geométricas............................87

Figura 33 – Produção da lista de convidados...........................................................................87

Figura 34 – Convidando os colegas e lista dos nomes dos alunos da classe...........................88

Figura 35 – Medindo estaturas.................................................................................................88

Figura 36 – Trabalhando com jogos........................................................................................89

Figura 37 – Cartaz com a poesia, a representação escrita e em desenho.................................90

Figura 38 – Aula de campo e de pesquisa no laboratório de informática................................91

Figura 39 – Painel de receita e atividades de escrita...............................................................93

Figura 40 – Trabalho com os jogos do PNAIC........................................................................94

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LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Quadro 1 – Resultado por descritores – (2005/2015)..............................................................17

Quadro 2 – Quantidade de produções selecionadas (2005/2015)............................................18

Quadro 3 – Momentos da Análise de Conteúdo......................................................................21

Quadro 4 – Quantidade de material recebido em cada ano.....................................................26

Quadro 5 – Síntese dos dados que se apresentaram nas análises das SD e relatos..................96

Quadro 6 – Concepções de Sequências Didáticas (SD)..........................................................97

Gráfico 1 – Quantidade de publicações por IES......................................................................18

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALFALE

BDTD

CAPES

CEFAPRO

CHD

CUR

EJA

IBGE

IES

ICHS

LI

MEC

MT

OE

PA

PDG

PISA

PNAIC

PNBE

PNLD

PPGEdu

QVL

SD

SDI

SEA

SEDUC

UFMT

Alfabetização e Letramento Escolar

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação

Círculo Hermenêutico-Dialético

Câmpus Universitário de Rondonópolis

Educação de Jovens e Adultos

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Instituição de Ensino Superior

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Laboratório de Informática

Ministério de Educação

Mato Grosso

Orientador de Estudo

Professor Alfabetizador

Projeto Didático de Gênero

Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

Programa Nacional Biblioteca da Escola

Programa Nacional do Livro Didático

Programa de Pós-graduação em Educação

Quadro Valor de Lugar

Sequência Didática

Sequência Didática Interativa

Sistema de Escrita Alfabética

Secretaria de Estado de Educação

Universidade Federal de Mato Grosso

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12

2 PERCURSO: METODOLOGIA E TÉCNICAS DA PESQUISA...................................14

2.1 Análise de Conteúdo: opção metodológica para a presente pesquisa .......................... 19

2.1.1 Pré-análise ...................................................................................................................... 23

2.1.2 Exploração do material.................................................................................................23

2.1.3 Tratamento dos resultados ........................................................................................... 27

3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS: ALICERCE DA PESQUISA................................... 28

3.1 Mapeando conceitos: disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade.28

3.1.1 Disciplinaridade ............................................................................................................. 28

3.1.2 Multidisciplinaridade/Pluridisciplinaridade ............................................................... 30

3.1.3 Interdisciplinaridade ..................................................................................................... 31

3.1.4 Transdisciplinaridade ................................................................................................... 33

3.2 Sequência Didática (SD) - Proposta de organização do trabalho pedagógico ............ 35

3.3 Projeto Didático.................................................................................................................36

3.4 Alfabetização e letramento .............................................................................................. 43

3.4.1 Alfabetização .................................................................................................................. 44

3.4.2 Letramento ..................................................................................................................... 46

4 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL – NOVAS PERSPECTIVAS ATRAVÉS DO PNAIC

.................................................................................................................................................. 50

4.1 Breve história do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) ......... 50

4.2 O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa em Mato Grosso ...................... 59

5 REFLEXÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................................59

5.1 Bloco das SD com perspectivas multidisciplinares ........................................................ 64

5.2 Bloco das SD com perspectivas interdisciplinares ......................................................... 71

5.3 Síntese dos dados analisados............................................................................................89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 100

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 103

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa vincula-se ao programa de Pós-graduação em Educação – PPGEdu, do

Instituto de Ciências Humanas e Sociais – ICHS, da Universidade Federal de Mato Grosso,

Câmpus Universitário de Rondonópolis, na Linha de Pesquisa Linguagem, Cultura e

Construção do Conhecimento: perspectivas histórica e contemporânea e, ainda, ao Grupo de

Pesquisa Alfabetização e Letramento Escolar – ALFALE. O tema central é a

Interdisciplinaridade olhada a partir do desenvolvimento de Sequências Didáticas (SD) para

os anos iniciais do Ensino Fundamental, com delimitação nas atividades realizadas por

professoras alfabetizadoras em sala de aula a partir do Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa – PNAIC.

O interesse pelo tema nasceu da própria trajetória desta pesquisadora, que atua na rede

de ensino público de Mato Grosso há 16 anos. É pedagoga e já trabalhou em cada ano do

Ensino Fundamental 1 (1º ao 5º ano) e, desde 2009, compõe o quadro do Centro de Formação

e Atualização dos Profissionais da Educação – CEFAPRO1 do município de Sinop como

professora formadora na área da Alfabetização. Contribuiu em diversas ações formativas na

área de atribuição e em outras, mediante organização da instituição formadora, a maioria delas

envolvendo a discussões sobre a interdisciplinaridade, com o intuito de refletir na prática

pedagógica em sala de aula. Em 2013 e 2014 foi implantado e implementado, através do

governo federal, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC, assunto que

será abordado mais claramente no capítulo 4, Programa do qual a pesquisadora participou

como Orientadora de Estudo (OE), num envolvimento direto com as professoras

alfabetizadoras das escolas da rede Estadual de ensino. Os assuntos abordados pelo Programa

foram relevantes, e, nesse contato com as professoras alfabetizadoras, percebeu a necessidade

da continuidade desses estudos, aumentando a motivação para a presente pesquisa.

Iniciou o mestrado em 2015, com o pensamento de um estudo sobre as sequências

didáticas desenvolvidas pelas professoras participantes do PNAIC, porém com o foco em

Matemática, como era trabalhada pelas professoras alfabetizadoras em relação aos conceitos e

as estratégias utilizadas para a aprendizagem das crianças. Contudo, ao iniciar os estudos das

disciplinas do mestrado, a partir dos diálogos, discussões e debates sobre a preocupação com

o desenvolvimento do trabalho docente para que a aprendizagem se torne significativa ao

1 O CEFAPRO é a instituição no Mato Grosso responsável pela formação contínua dos professores da Educação

Básica. O Centro foi criado em 1997, e o CEFAPRO de Sinop, onde esta pesquisadora trabalha, iniciou seu

funcionamento em 1998 (Decreto 2319/1998). Maiores informações sobre os CEFAPROs em Mato Grosso

podem ser obtidas em Rodrigues (2004), Rocha (2010), Favretto (2006).

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educando, a participação em grupo de estudos e as orientações da professora orientadora,

concluiu que, nesse momento, seria fundamental a compreensão sobre o trabalho

interdisciplinar na alfabetização, que vinha acontecendo a partir do PNAIC, visto que a

efetivação desta prática pedagógica ainda é um desafio no ensino brasileiro. Mesmo que,

inicialmente, o foco do PNAIC tenha sido as disciplinas de Português e Matemática, já se

trabalhava a perspectiva interdisciplinar, então, a temática da pesquisa se encaminhou até se

estruturar conforme a descrição nesta dissertação. Foi um desafio enorme, visto que falar de

interdisciplinaridade é de extrema complexidade, exige muito estudo, dedicação. Então,

empreendeu-se ao desafio e empenhou-se na missão de conseguir respostas às questões

levantadas, no que se refere à interdisciplinaridade na alfabetização.

O objetivo geral da pesquisa foi de analisar se as propostas de Sequências Didáticas

(SD) desenvolvidas por professoras alfabetizadoras, que participaram do PNAIC, nos anos de

2013, 2014 e 2015, pautaram-se em uma perspectiva interdisciplinar. Esse objetivo se

desdobrou em dois objetivos específicos: 1 - Compreender qual concepção de

interdisciplinaridade e de Sequência Didática fundamenta os documentos fornecidos pelas

colaboradoras; 2 - Analisar se a organização do trabalho pedagógico, a partir de sequências

didáticas, favorece a interdisciplinaridade, tomando como objeto de análise os materiais

fornecidos pelas colaboradoras, que são as próprias SD.

Utiliza-se aqui os termos professoras alfabetizadoras e/ou colaboradoras da pesquisa

devido ao fato de serem somente mulheres que colaboraram com esta investigação. São

professoras alfabetizadoras de escolas públicas municipais e estaduais participantes do

PNAIC em Mato Grosso. Os materiais foram as proposições e relatos de experiência do

desenvolvimento de sequências didáticas (SD) em turmas do ciclo de alfabetização, que

compreende 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental.

Para alcançar os objetivos, o estudo se pautou na metodologia de Análise de

Conteúdo, numa abordagem qualitativa, com respaldo de Bardin (2011). Esta metodologia

tem o objetivo da superação da incerteza, o enriquecimento da leitura e a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção. Para a realização da Análise de Conteúdo,

são necessários os procedimentos de Pré-análise, Exploração do material, Tratamento dos

resultados, Inferência e Interpretação.

A investigação foi realizada com os subsídios teóricos das obras de diversos autores

descritos aqui, suscintamente. Na discussão sobre a disciplinaridade, multidisciplinaridade,

interdisciplinaridade e transdisciplinaridade contribuíram Japiassu (1977), Fazenda (1979;

1998), Lück (1997), Santomé (1998), Kleiman e Moraes (1999), Pombo (2004), Paviani

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(2014), e Leal (2015). Cada uma foi discutida em sua peculiaridade, iniciando pela

disciplinaridade, entendida como a raiz da multi/pluri, inter e transdisciplinaridade.

Sobre as Sequências Didáticas (SD), fundamentou-se em Zabala (1998), que trata das

sequências de atividades para a realização de certos objetivos educacionais que sejam do

conhecimento tanto dos alunos como dos professores. Oliveira (2013) respaldou a discussão

acerca da Sequência Didática Interativa – SDI, que é uma sequência de atividades com o

objetivo de construir novos conhecimentos e saberes. Dolz, Noverraz, Schneuwly e

colaboradores (2004) trazem a SD com o objetivo do ensino de um determinado gênero

textual e, para o seu desenvolvimento, propõem a produção inicial, os módulos e a produção

final, que serão discutidos claramente no capítulo das Contribuições Teóricas: Alicerce da

Pesquisa.

Falou-se dos Projetos Didáticos com amparo em Santomé (1998), Kleiman e Moraes

(1999), Zabala (2002) e Ribeiro e Micotti (2012), com o entendimento de que os Projetos

Didáticos podem servir como ferramentas para a organização do trabalho pedagógico e como

possibilidade de trabalho interdisciplinar.

Nas reflexões sobre Alfabetização e Letramento, o subsídio foi em Soares (2000;

2015), Colello (2004) e Albuquerque (2012), a fim de esclarecer cada um dos termos,

enfatizando que são processos indissociáveis que, entretanto, têm, cada um, sua

especificidade, que não pode ser negada na alfabetização.

Assim, esta dissertação possui, além da introdução, a seguinte estrutura: Capítulo 2,

denominado “Percurso: Metodologias e técnicas da pesquisa”, que discorre sobre o

movimento da pesquisa, os procedimentos adotados para a coleta e análise dos dados;

algumas das características da abordagem qualitativa e da Análise de Conteúdo e como foram

desenvolvidos no decorrer do estudo.

O terceiro capítulo 3, Contribuições Teóricas: Alicerce da Pesquisa, mapeia os

conceitos de disciplinaridade, multi/pluri, inter, transdisciplinaridade, Projeto Didático e

Alfabetização e Letramento anteriormente mencionados.

O Capítulo 4, intitulado “Alfabetização no Brasil- Novas perspectivas através do

PNAIC”, traz um breve histórico do PNAIC em nível nacional e do realizado em Mato

Grosso, mostrando alguns dados da trajetória do Programa de 2013 a 2015.

O quinto capítulo, dedicado à “Reflexão e Discussão dos Resultados”, informa o

tratamento dos dados coletados, as inferências e a interpretação, como resultado da pesquisa.

Finalizamos com as “Considerações”, com destaque aos aspectos relevantes gerados

em todo o processo de investigação proposto.

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Espera-se que o presente estudo, dentro dos seus limites e possibilidades, possa

colaborar com as discussões em torno da interdisciplinaridade e Sequências Didáticas, no que

tange ao processo de formação de professores alfabetizadores, de maneira que contribua para

reflexão e melhoria da prática pedagógica em sala de aula.

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2 PERCURSO: METODOLOGIA E TÉCNICAS DA PESQUISA

Esta seção tem a finalidade de apresentar o movimento da pesquisa, desde a opção

metodológica utilizada, que foi a Análise de Conteúdo, descrevendo como ela foi

desenvolvida durante os procedimentos para a coleta e análise dos dados, o desenrolar de cada

fase a partir do material recebido e os autores que a subsidiaram. Explicita os dados das

colaboradoras, como elas são identificadas na pesquisa e as características dos materiais que

foram fornecidos.

Primeiramente, apresenta-se o resultado do mapeamento realizado conforme as

orientações a partir de uma das disciplinas do mestrado, pois este contribui para o

esclarecimento das informações desejadas. Segundo Soares (2000), essas pesquisas podem

levar à compreensão teórica e metodológica que fundamenta os trabalhos sobre determinados

temas. Nesse sentido, procurou-se fazer um levantamento dos dados disponibilizados por

meios eletrônicos: na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), na Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no Portal Domínio Público,

biblioteca virtual, para compreender como está o envolvimento de pesquisadores sobre as

perspectivas das práticas interdisciplinares e o desenvolvimento das sequências didáticas

pelas professoras alfabetizadoras no Brasil.

A pesquisa buscou dados sobre as teses e dissertações dos últimos dez anos (2005-

2015), que investigaram sobre a metodologia interdisciplinar e o desenvolvimento de

sequências didáticas utilizadas em sala de aula nos três primeiros anos do Ensino

Fundamental. Foram utilizados como descritores: Alfabetização; Interdisciplinaridade nos

anos iniciais; Interdisciplinaridade na alfabetização; Sequência didática nos anos iniciais;

Sequência didática na alfabetização; Prática docente na alfabetização; PNAIC ou Pacto

Nacional pela Alfabetização na Idade Certa; e Metodologia de ensino na alfabetização.

Buscou-se, nas três fontes de pesquisa, cada um dos descritores, analisando os resumos

encontrados de acordo com o tema proposto. As questões que nortearam esse mapeamento

foram: Existem produções no período de 2005 a 2015 referentes à Interdisciplinaridade e

Sequência Didática nos anos iniciais do Ensino Fundamental? As produções a partir do

PNAIC, realizadas de 2013 a 2015, contemplaram as temáticas da Interdisciplinaridade e

Sequência Didáticas na Alfabetização? Há produções que revelam a prática docente numa

perspectiva interdisciplinar?

Ao pesquisar o descritor Alfabetização, nos três bancos de dados, verificou-se que

aparecem mais dissertações do que teses. Na CAPES, encontrava-se a maior quantidade dos

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trabalhos sobre alfabetização, com 245 dissertações e 62 teses. O segundo maior número foi

localizado na BDTD, somando 198 dissertações e 83 teses e, por fim, no Portal Domínio

Público, havia 105 dissertações e 18 teses. No entanto, várias produções estão contempladas

nos demais descritores que serão tratados posteriormente.

O Quadro 1, apresenta o resultado das buscas pelas publicações dos demais descritores

que continham informações sobre o trabalho com a interdisciplinaridade ou sequência didática

nos anos iniciais do Ensino Fundamental:

Quadro 1 – Resultado por descritores (2005/2015)

Descritor BDTD CAPES Domínio

Público Total

Interdisciplinaridade

na alfabetização 1 1 - 2

Interdisciplinaridade

nos anos iniciais 1 1 - 2

Sequência didática

nos anos iniciais 3 2 - 5

Sequência Didática

na Alfabetização 3 3 - 6

Prática docente na

alfabetização - - - -

PNAIC - - - -

Metodologia de

ensino na

alfabetização

- - - -

Fonte: Dados organizados pela autora, com base no Banco de Teses e Dissertações do BDTD, Capes e Portal

Domínio Público.

O Quadro 1 demonstra que o descritor com maior quantidade encontrada é o da

Sequência didática na alfabetização. Depois, Sequência didática nos anos iniciais, sendo

possível verificar que as produções resultantes de cada um desses descritores eram produções

diferentes. O mesmo aconteceu com os descritores Interdisciplinaridade na alfabetização e

Interdisciplinaridade nos anos iniciais. Nos descritores Prática docente na alfabetização e

Metodologia de ensino na alfabetização, não apareceu nenhum trabalho voltado para os anos

iniciais. Na busca pelo descritor PNAIC ou Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa,

no site do BDTD apareceram quatro dissertações e duas teses, mas não correspondiam ao

objetivo proposto na pesquisa. Na Capes e no Portal Domínio Público, não foi encontrado

nenhum resultado. Isso pode ser justificado pelo fato de o PNAIC ser um programa novo e

ainda em andamento nesse período, visto que a consulta às bases foi feita entre os meses de

maio a julho do ano de 2015.

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Dentre as produções selecionadas, percebeu-se que o total de produções com

referência à interdisciplinaridade e sequência didática nos anos iniciais foi um total de quinze,

havendo apenas uma tese, os demais foram dissertações e a maioria deles em instituições

públicas, num total de doze trabalhos, sendo apenas três de instituições privadas. Esses dados

informam que as instituições públicas têm maior investimento nas pesquisas no âmbito

educacional, conforme indica o quadro seguinte:

Quadro 2 – Quantidade de produções selecionadas (2005/2015)

Total de

Trabalhos Teses Dissertações

Natureza das IES

Pública Privada

15 1 14 12 3 Fonte: Dados organizados pela autora, com base no BDTD, Capes e Portal Domínio Público.

Entre os resumos analisados, encontrou-se um número bem reduzido dos que tratavam

sobre a interdisciplinaridade e sequência didática nos anos iniciais dentro dos propósitos

desejados.

O Gráfico 1 mostra a quantidade das produções científicas referentes a esses

descritores em cada Instituição de Ensino Superior – IES.

Gráfico 1 – Quantidade de publicações por IES

Fonte: Dados organizados pela autora com base no BDTD, Capes e Portal Domínio Público.

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As Instituições de Ensino Superior (IES) públicas, em que apareceram procuções,

foram: UFRGS (01), UTFP (02), USP (03), UFRN (03), UFSC (01), UECE (01) e UFSM

(01). As universidades com maior número de produções se localizam em São Paulo e Rio

Grande do Norte, portanto, são os estados com maiores investimentos nas pesquisas,

especificamente no caso desta pesquisa, sobre os descritores já mencionados. No entanto,

quando se busca publicações sobre alfabetização, interdisciplinaridade ou sequência didática,

destacam-se os trabalhos que foram desenvolvidos na Educação de Jovens e Adultos – EJA

ou em turmas de anos posteriores ao ciclo de alfabetização. Evidencia-se que, nas fontes

pesquisadas nos últimos dez anos, com relação ao número de dissertações e teses levantadas e

mencionadas anteriormente, ainda é bem reduzida a quantidade de pesquisas realizadas com o

foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental, referentes a essas temáticas. Estes dados

serviram para fortalecer o interesse e o desenvolvimento da investigação revelada nesta

dissertação.

2.1 Análise de Conteúdo: opção metodológica para a presente pesquisa

Esta pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa, isto porque, como argumenta

Minayo (2010), durante a investigação esta abordagem propicia melhor conhecimento dos

processos sociais, além da elaboração de novos conceitos e categorias. Segundo a referida

autora, esta abordagem é viável em “investigações de grupos e segmentos delimitados e

focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos

e de documentos” (MINAYO, 2010, p. 57). Esta abordagem foi considerada viável nesta

pesquisa, por se tratar de uma investigação documental, que tem, como documentos

analisados, as Sequências Didáticas e relatos acerca da realização destas, desenvolvido pelas

professoras alfabetizadoras em sala de aula.

Bardin (2011, p. 145) enfatiza que a abordagem qualitativa “corresponde a um

procedimento intuitivo, mas também mais maleável e mais adaptável a índices não previstos,

ou à evolução das hipóteses”. A autora acrescenta que a análise qualitativa possui algumas

características particulares e tem risco de erros porque trabalha com elementos isolados e,

para se evitar os erros, é fundamental considerar o contexto da mensagem. Para isso, algumas

questões são necessárias: “quem é que fala a quem e em que circunstâncias? Qual será o

montante e o lugar da comunicação? Quais os acontecimentos anteriores ou paralelos?”

(Idem, p. 145). Portanto, a principal característica da análise qualitativa é a inferência, e,

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embora ela não rejeite toda e qualquer forma de quantificação, é fundada na presença do

índice (tema, palavra, personagem etc.) e não na frequência de sua aparição.

No caso desta pesquisa, temos como índice o tema, que é a Interdisciplinaridade e o

desenvolvimento de Sequências Didáticas. De posse do material a que foi disponibilizado,

necessitou de cuidado na análise, a fim de evitar erros, considerando os contextos em que os

trabalhos foram realizados, com atenção a cada detalhe descrito pelas professoras em seus

trabalhos. Procurando responder as questões anteriormente explicitadas, colocadas por

Bardin, explicou-se que, nesta pesquisa, as colaboradoras “falam” por meio destes materiais,

enviados por elas próprias e/ou com suas anuências.

Conforme já dito antes, a pesquisa contou com a participação de 11 colaboradoras,

resultando em18 documentos para análise, entre Sequências Didáticas e relatos de Sequências

Didáticas desenvolvidas pelas professoras. Esse total foi a partir do passo-a-passo da Análise

de Conteúdo, que será detalhado posteriormente. Se apresentam como acontecimentos

anteriores, os cadernos do PNAIC, que foram elaborados em 2012 e já apontavam para a

perspectiva interdisciplinar; a formação para os professores formadores, professores

orientadores de estudo e professores alfabetizadores, que aconteceu em 2013, efetivando o

início do Programa e as formações em 2014 e 2015. O próprio PNAIC foi se aperfeiçoando no

decorrer destes três anos, configurando-se também como acontecimento anterior.

Ao tratar da pesquisa qualitativa, Bogdan e Biklen (1991, p. 47) apresentam cinco

aspectos que a caracterizam:

1 - A fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador se torna o principal

instrumento;

2 - A investigação qualitativa é descritiva;

3 - O interesse dos investigadores é maior no processo do que nos resultados ou

produtos;

4 - A tendência para a análise dos dados é na forma indutiva;

5 - O significado é fundamental nessa abordagem.

Tomando estes autores como referência, em relação a presente pesquisa, é importante

ressaltar que, embora a fonte direta dos dados seja de análise documental, a pesquisadora

participou diretamente do processo do PNAIC, na condição de orientadora de estudo, nos

anos de 2013 e 2014, sendo, ainda, professora da rede Estadual de Ensino o que contribuiu na

compreensão do processo do desenvolvimento do Programa e da pesquisa. A investigação tem

caráter descritivo, pois houve a apresentação dos materiais recebidos, passando pela descrição

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de todo o procedimento de análise, que aconteceu de forma indutiva, trazendo a inferência e a

interpretação dos dados para dar significado à pesquisa.

Com amparo desta abordagem, foi utilizado como método de pesquisa a Análise de

Conteúdo, tendo como referencial base a proposta metodológica de Laurence Bardin (2011),

que a define como:

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) dessas mensagens. (BARDIN, 2011, p. 48)

Segundo a autora, é uma metodologia de grande importância para as ciências da

comunicação, desenvolvida nos Estados Unidos, no início do século XX, mas que,

atualmente, se estendeu como uma técnica que pode ser utilizada em pesquisas de qualquer

área do conhecimento.

Para Franco (2012, p. 21 – grifo do autor), “O ponto de partida da Análise de

Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa,

documental ou diretamente provocada. Necessariamente ela expressa um significado e um

sentido”. Assim, os dados dos conteúdos das mensagens devem se relacionar e esta relação

deve ser representada por alguma teoria. Para a aplicação da Análise de Conteúdo, Bardin

(2011, p. 125) orienta a organização da análise em três momentos, conforme se pode verificar

no Quadro 3 que segue:

Quadro 3 – Momentos da Análise de Conteúdo

Pré-análise A exploração do material Tratamento dos resultados,

inferência e interpretação

Momento da escolha dos

documentos, formulação das

hipóteses e objetivos e a

elaboração de indicadores que

serão base para a interpretação

final. Esses fatores não se

sucedem, obrigatoriamente,

segundo uma ordem

cronológica, embora estejam

ligados uns aos outros; vai

depender do objetivo

estabelecido para a exploração

do material a ser analisado.

Momento da codificação,

decomposição e enumeração a

partir das regras previamente

formuladas.

Momento da tradução dos

resultados brutos, tornando-os

significativos, fiéis e válidos.

Fonte: Elaborado a partir de Bardin (2011).

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Ainda neste capítulo, são descritas estas três fases no processo da pesquisa, para

mostrar o que ocorreu em cada uma delas, a partir dos materiais disponíveis.

Um dos aspectos importantes da Análise de Conteúdo é produzir inferência, tendo em

vista que

Pressupõe a comparação dos dados, obtidos mediante discursos e símbolos,

com os pressupostos teóricos de diferentes concepções de mundo, de

indivíduo e de sociedade. Situação concreta que se expressa a partir das

condições da práxis de seus produtores e receptores acrescida do momento

histórico/social da produção e/ou recepção. (FRANCO, 2012, p. 34)

A produção de inferência, comparação e interpretação dos dados, conforme sugere a

autora, foram realizadas com os subsídios teóricos mencionados neste estudo, com as

observações das situações expressas nos materiais, em relação à produção e recepção, e são

apresentados mais detalhadamente no capítulo 5, que trata da Reflexão e discussão dos

resutlados.

O processo dedutivo ou inferencial, segundo Bardin (2011, p. 47), é comum na prática

científica, de acordo com os índices ou indicadores levantados em determinada área da

ciência. No entanto, na Análise de Conteúdo a superficialidade está relacionada com a leitura

e a compreensão da mensagem.

Por se tratar de documentos escritos, nos quais as professoras alfabetizadoras

planejaram uma SD a partir de orientações recebidas da formação do PNAIC e a

desenvolveram em sala de aula com seus alunos, algumas delas elaboraram relatos sobre a

realização do trabalho, que se constituíram, igualmente, em documentos para a pesquisa.

Assim sendo, o referido método foi considerado como o mais apropriado para o

desenvolvimento desta pesquisa.

O caminho percorrido para a realização da pesquisa será explícito a partir da questão

central: As propostas de Sequências Didáticas (SD) fornecidas por professoras alfabetizadoras

pautaram-se em uma perspectiva interdisciplinar?

No intuito de responder a essa indagação e alcançar os objetivos da pesquisa, utilizou-

se as técnicas da Análise de Conteúdo, tomando como objeto de análise os documentos

fornecidos pelas colaboradoras da pesquisa, que são sujeitos participantes do Pacto Nacional

pela Alfabetização na Idade Certa, do período de 2013 a 2015. Tais documentos são as

sequências didáticas e os relatos sobre o trabalho com as sequências didáticas desenvolvidas

por professoras alfabetizadoras de diversas escolas da rede pública estadual e municipal no

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Estado de Mato Grosso, em turmas do 1º ciclo ou ciclo de alfabetização, compreendendo os

anos iniciais (1º, 2º e 3º anos) do Ensino Fundamental.

2.1.1 Pré-análise

O percurso iniciou-se com a organização da análise no primeiro polo, a pré-análise,

que “É a fase da organização propriamente dita. ” (BARDIN, 2011, p. 125). Essa fase tem

como primeira atividade a leitura flutuante, que representa o contato inicial com os

documentos que, a princípio, foram os anais do encerramento do PNAIC dos anos de 2013,

2014 e 2015 do Estado de Mato Grosso. Em parceria com a colega do mestrado Júlia

Emanuelly de Oliveira, fizemos a leitura de 1.013 (um mil e treze) resumos de professores

Orientadores de Estudo (OE), sendo 315 (trezentos e quinze) de 2013, 376 (trezentos e setenta

e seis) de 2014 e 322 (trezentos e vinte e dois) de 2015.

A segunda atividade foi a escolha dos documentos, pois, como pondera Bardin (2011,

p. 126), é necessário escolher o “universo de documentos suscetíveis de fornecer informações

sobre o problema levantado”. Para cumprir esta etapa é preciso seguir algumas regras:

Da exaustividade – não deixar de fora nenhum elemento desse corpus (conjunto de

documentos);

Da representatividade – amostra;

Da homogeneidade – deve obedecer a critérios para não ter muita singularidade;

Da pertinência – os documentos devem ser adequados à análise que se pretende.

Nesse caso, buscou-se, dentre os resumos, aqueles que traziam diretamente o termo

interdisciplinaridade e/ou variações, somando-se 36 (trinta e seis) resumos, número bem

reduzido, correspondente a 3,5% do total de resumos disponíveis para a busca desejada. Em

seguida, selecionou-se os que mencionavam abertamente serem interdisciplinares, obtendo

um total de 16 (dezesseis), diminuiu ainda mais, sendo 1,5% do mesmo montante. Esses

dados chamaram à atenção, para tentar entender o porquê de tão poucos trabalhos

interdisciplinares, visto que o PNAIC abordou essa temática desde o início, em 2013, quando

o foco era linguagem sendo trabalhado especificamente a interdisciplinaridade em 2015, mas

durante todo o processo a perspectiva foi o interdisciplinar. Portanto, é uma curiosidade que

sugere uma outra pesquisa.

A partir desses relatos, foi elaborada uma carta de solicitação de colaboração para a

pesquisa, apresentando o objetivo e fazendo a solicitação das SD mencionadas nos anais, que

foram planejadas e desenvolvidas em sala de aula pelas professoras alfabetizadoras (PA). A

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carta foi enviada às professoras orientadoras de estudo (OE) do PNAIC via e-mail, tendo em

vista a diversidade de localidades de onde se originavam as OEs cujos relatos eram

pertinentes à pesquisa.

A partir desta solicitação, as OE que tinham em arquivo os trabalhos realizados os

enviaram diretamente às pesquisadoras, via e-mail. As que não possuíam o material arquivado

informaram o endereço eletrônico ou telefone das PA, para facilitar o contato direto com elas.

Assim, conseguiu-se o contato com as professoras alfabetizadoras, a fim de conseguir

maiores informações sobre o desenvolvimento da sequência didática em sala de aula. Doze

delas responderam aceitando colaborar com a pesquisa.

Desse modo, inicia a “regra da representatividade” (BARDIN, 2011, p. 127) com 12

(doze) PA colaboradoras, sendo que seis delas enviaram dois trabalhos (SD e relato de

experiência), que serão categorizados adiante, e outras seis encaminharam somente as SD.

Além disso, uma PA enviou um projeto realizado, totalizando 19 (dezenove) trabalhos

recebidos. No entanto, o material enviado por uma colaboradora foi dispensado, pois estava

no formato Power Point©, em que prevalecem imagens, com ausência de registro escrito

sobre a proposição e sem o relato de como aconteceu o desenvolvimento das atividades, o que

inviabilizou realizar inferências. Decidiu-se, também, não trazer para análise o projeto

recebido, visto que, por ser único, não haveria parâmetro para comparação dos dados. Sendo

assim, o número de colaboradoras foi de 11 (onze) com 18 (dezoito) trabalhos para se

analisar.

No mapa de Mato Grosso (Figura 1), aparecem em destaque as cidades das quais

foram recebidas as contribuições para a pesquisa, por meio das professoras alfabetizadoras.

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Figura 1 – Mapa do Mato Grosso com destaque dos municípios que participaram da pesquisa2

Fonte: IBGE (2010).

Esses dados surgiram, também, a partir da “regra da homogeneidade” (critérios

precisos para a escolha), bem como da “regra da pertinência” (documentos como fonte de

informação adequada ao nosso objetivo), de acordo com o que preconiza Bardin (2011, p.

128).

O Quadro 4 indica o material analisado:

2 As setas foram inseridas pela pesquisadora para indicar a localização, no mapa, dos municípios onde atuam as

professoras alfabetizadoras participantes desta pesquisa.

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Quadro 4 – Quantidade de material recebido em cada ano

Ano Sequência Didática

(SD)

Relato de

Experiência Projeto

2013 01 01 ---

2014 09 04 ---

2015 01 01 01

TOTAL 11 06 01

Fonte: Dados da pesquisa.

Com a finalidade de preservar a identidade das professoras, a opção foi utilizar

codinomes, sendo que os sujeitos cujos trabalhos vincularam-se numa perspectiva

multidisciplinar tiveram seus nomes iniciados pela letra "M". Já aquelas que suas proposições

apontaram para uma perspectiva interdisciplinar tiveram seus nomes iniciados pela letra "I".

Seguindo esse critério, os dados foram analisados em dois blocos, constituídos pelos seguintes

nomes:

Bloco 1: Mariza, Maiane e Meire.

Bloco 2: Irma, Isaura, Isadora, Isabel, Inês, Isabela, Iracema e Iara.

2.1.2 Exploração do material

Este é o polo dois que, segundo Bardin (2011, p. 131), é uma “fase, longa e fastidiosa,

consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em

função de regras previamente formuladas”. A partir das operações realizadas na pré-análise,

iniciou-se o efetivo manuseio dos documentos levantados. Com isso, os sujeitos se

evidenciaram – as professoras através da proposição e realização de cada sequência didática

e/ou relato de sequência didática, se identificaram as que possuem perspectivas

multidisciplinares e as interdisciplinares, procurando compreender as concepções de

interdisciplinaridade e de sequência didática que transparecem nestes trabalhos. Para tanto,

observou-se como as sequências foram iniciadas, se houve, primeiramente, uma proposição

seguida da realização e do relato da mesma; se foram atividades coletivas da escola ou por

turma; quantas e quais disciplinas estiveram envolvidas no processo; atentou-se para entender

se os objetivos estavam bem esclarecidos para os professores e para os alunos; se utilizaram

os materiais disponibilizados pelo Programa, como as literaturas e jogos; como aconteceu a

participação das crianças. Com tais informações, as categorias de análise foram definidas,

que, segundo Bardin (2011, p. 147), “[...] é uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto por diferenciação [...]” a partir de características comuns com o

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objetivo de organizar os dados para simplificar as informações. Portanto, foram organizadas

duas categorias de análise representadas em:

Bloco das SD multidisciplinares – as que são organizadas com o envolvimento

entre duas ou mais disciplinas, com diversas atividades, porém, mantendo o

compartilhamento do conhecimento de cada uma delas estabelecendo algumas relações para a

construção de novos saberes;

Bloco das SD interdisciplinares – quando se envolve duas ou mais disciplinas se

relacionando com a integração e compartilhamento do conhecimento, possibilitando a

construção de um novo saber. Outros detalhes serão evidenciados no capítulo 5-Reflexão e

Discussão dos Resultados.

2.1.3 Tratamento dos resultados

O polo três se refere ao tratamento dos resultados obtidos e à interpretação, momento

em que, como a autora afirma, “Os resultados brutos são tratados de maneira a serem

significativos (“falantes”) e válidos” (Idem, p. 131 – grifos da autora) e buscou-se detectar as

mensagens para propor as inferências e interpretações de maneira lógica, de acordo com os

objetivos pretendidos ou diante de descobertas inesperadas. Esta etapa também será

esclarecida no capítulo 5, em que são analisados os dados.

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3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS: ALICERCE DA PESQUISA

Este capítulo tem a finalidade de apresentar a fundamentação teórica que subsidia a

análise dos dados da pesquisa. Considerando que há dois conceitos chave no presente estudo

– interdisciplinaridade e sequência didática – e que eles suscitam diferentes concepções e

abordagens, faz-se necessário explicitar a bibliografia que sustenta as análises aqui

desenvolvidas.

3.1 Mapeando conceitos: disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade

A respeito do termo interdisciplinaridade, entende-se a necessidade de se tratar dos

conceitos “vizinhos”, termo utilizado por Japiassu (1976, p. 72), as mais conhecidas e

utilizadas que são a multi/pluri e transdisciplinaridade, antes, porém, traz-se o radical de tais

conceitos, a disciplinaridade, pois é a partir dela que as demais passaram a existir. Os autores

consultados sobre a interdisciplinaridade foram Japiassu (1976), Fazenda (1979; 1998), Lück

(1997), Pombo (2004), Paviani (2014), Kleiman e Moraes (1999) e Leal (2015), Santomé

(1998).

3.1.1 Disciplinaridade

Para a compreensão e conceituação de interdisciplinaridade é necessário entender o

sentido de disciplina, que é o seu radical. Para haver interdisciplinaridade, é necessário que

haja disciplinas, como enfatiza Santomé (1998):

As propostas interdisciplinares surgem e desenvolvem-se apoiando-se nas

disciplinas; a própria riqueza da interdisciplinaridade depende do grau de

desenvolvimento atingido pelas disciplinas e estas, por sua vez, serão

afetadas positivamente pelos seu contatos e colaborações interdisciplinares.

(SANTOMÉ, 1998, p. 61)

Para este autor, uma disciplina existe como uma forma de organizar e demarcar um

espaço de trabalho e, dentro de uma determinada visão, concentrar a pesquisa e a experiência.

A disciplina trará uma imagem particular da realidade de acordo com seu objetivo.

Historicamente, segundo Santomé (1998, p. 60), o paradigma positivista tem controlado a

ciência por muito tempo o que contribuiu fortemente para a fragmentação do trabalho,

surgindo, então, a necessidade das especializações. Paralelamente a esse processo, as

transformações sociais, a era da industrialização e o fortalecimento do capitalismo exigiram

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também um conhecimento especializado, dando origem ao conceito de disciplina com um

objeto de estudo, marcos conceituais, métodos e procedimentos específicos. As disciplinas

são consideradas frutos de um devir histórico e estão em constante transformação e evolução.

Japiassu (1976, p. 61) também afirma que falar de interdisciplinaridade é falar de

interação das disciplinas. Para ele disciplina e ciência são sinônimas, entretanto, destaca que o

termo disciplina é mais empregado como o ensino de uma ciência enquanto o termo ciência

vincula-se a uma atividade de pesquisa.

Pombo (2004, p. 34) trata a disciplina como raiz dos contextos de inter, multi, pluri e

transdisciplinaridade e afirma que disciplina é um radical que carrega três sentidos diferentes:

1) sentido cognitivo, como sinônimo de ciência particular, área de estudo ou ramo do

saber ou ainda campo de investigação;

2) sentido escolar, para se referir ao conhecimento de um componente curricular de

um determinado sistema ou instituição de ensino;

3) sentido normativo, como normas e leis para estruturar e organizar o comportamento

do indivíduo em um determinado grupo.

Conforme a autora, esses sentidos de disciplina podem se constituir em dispersão e

não em aproximação como deveriam, eis um dos motivos que justifica a falta de consenso na

concepção e o uso indiscriminado de cada termo. Nesse sentido, como afirma Paviani (2005,

p. 16), “o uso inadequado e superficial do conceito de disciplina é uma fonte de equívocos e

de dificuldades de ensino e de pesquisa.”

Lück (1994, p. 37) apresenta dois enfoques na utilização do termo disciplina: um

epistemológico e outro pedagógico. No enfoque epistemológico é uma atividade de

investigação; cada um dos ramos do conhecimento. Nesse aspecto, o saber se dá por

especialidades, sem levar em consideração a totalidade. Os múltiplos aspectos e a diversidade

de conhecimento existente são gerados a partir deste enfoque e, para haver benefícios, é

necessária uma visão conjunta e interativa do saber especializado.

No enfoque pedagógico, disciplina é atividade de ensino ou o ensino de uma área da

ciência; ordem e organização do comportamento, em que o conhecimento já produzido sob o

enfoque epistemológico deve ser apreendido pelos estudantes, consequentemente, uma

reprodução do conhecimento. O ensino, nessa concepção disciplinar, distancia o ser humano

da participação enquanto cidadão, pois será instigado a criar, elaborar ou construir

conhecimento de forma crítica na sociedade. Forma-se, então, a alienação e passividade da

pessoa humana e, no contexto escolar, surge a denominada expressão do aluno disciplinado

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ou indisciplinado, usada para fazer referência ao comportamento dentro ou não da ordem

determinada na organização da instituição.

O método da construção da disciplina é fundamentado nos pressupostos

epistemológicos da fragmentação, do reducionismo, da linearidade, da estabilidade, visto que

o objetivo do modelo positivista é de explicar e controlar os fenômenos através do

conservadorismo. "A disciplina ou disciplinaridade é resultado do paradigma positivista que

vem orientando a produção do conhecimento" (LÜCK, 1994, p. 41), que pressupõe que o

universo poder ser compreendido de forma descontextualizada, que o processo de

conhecimento é neutro e tem a verdade como absoluta. Como consequência, surgem os vários

subconjuntos das disciplinas, a sobreposição das disciplinas, uma diversidade de teorias das

disciplinas sem interação umas com as outras e a visão da realidade de maneira oposta.

O ensino por disciplina, dissociado, causa, segundo a autora, uma fixidez do objeto de

análise e uma fragmentação do conhecimento a partir das especificidades e, como

consequência, a visão da realidade atual, que é complexa, se torna limitada. Portanto, percebe-

se a necessidade da interação e da complementaridade dos conhecimentos disciplinares.

3.1.2 Multidisciplinaridade/Pluridisciplinaridade

Alguns pesquisadores utilizam os termos multi e pluri como equivalentes, a exemplo

de Pombo (2004, p. 03), que afirma que a multi e pluri têm a mesma ideia: “juntar muitas, pô-

las ao lado uma das outras”. Japiassu (1976, p. 73 – grifos do autor) defende que “Tanto o

multi quanto o pluridisciplinar realizam apenas um agrupamento, intencional ou não, de

certos “módulos disciplinares”, a diferença é que o multi se dá sem relação entre as

disciplinas e o pluri com algumas relações. O autor faz esta distinção: a multidisciplinaridade

compreende uma gama de disciplinas que propomos simultaneamente, mas sem fazer

aparecer as relações que podem existir entre elas, enquanto a pluridisciplinaridade envolve a

justaposição de diversas disciplinas situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e

agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas.

Fazenda (1979, p. 39) acrescenta que, em nível de multi e pluri, apenas haveria uma

atitude de justaposição das disciplinas heterogêneas ou a integração de conteúdos numa

mesma disciplina alcançando ao máximo a integração de métodos, teorias ou conhecimentos.

Pode haver contribuições para uma ou cada disciplina em específico, mas a perspectiva

continua sendo a disciplinar.

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Portanto, qualquer currículo é composto de diversas disciplinas, conforme afirma

Paviani (2014, p. 21). Assim, aparentemente o multidisciplinar não traz problema de

compreensão e até pode ser considerado o primeiro passo para o interdisciplinar.

3.1.3 Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade tem sido assunto muito comum em diversas esferas

educacionais na atualidade. As discussões já foram mais intensas nas décadas de 1980 e 1990,

no Brasil, atualmente diminuídas, dando a ideia de que já se consolidou a prática

interdisciplinar no âmbito escolar. No entanto, sabe-se, por inúmeros fatores, que ainda está

longe de se efetivar essa prática.

Japiassu (1976, p. 48) vem esclarecer que o tema interdisciplinaridade não é uma

descoberta do nosso tempo, pois, desde o século XVII, os grandes sábios já tinham a intenção

de “congregar num único corpo os elementos dispersos do domínio da ciência”. Porém, com o

surgimento das especializações das ciências, no século XIX surge o que é chamado pelo autor

de “cancerizações epistemológicas”, para se referir à fragmentação do conhecimento,

processo esse que ocorre de maneira bem acelerada. Contudo, em meio a essa problemática,

tem-se o anseio pela integração do conhecimento, mas esse esforço, segundo o autor, se dá,

inicialmente, através do multidisciplinar. Japiassu (1976) também afirma que, para se chegar à

interdisciplinaridade, é necessário, primeiramente, conhecer as noções de disciplinaridade,

multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade. Isso não é tarefa fácil, pois

existem diferentes definições sobre a interdisciplinaridade ou, conforme descreve Pombo

(2003), não há uma estabilidade na definição do conceito, existindo, porém, o consenso de

que há a necessidade do trabalho interdisciplinar. E, ainda, é importante lembrar que a palavra

disciplina é a raiz das quatro palavras, multi, pluri, inter e transdisciplinaridade. Ela está

sempre presente em cada uma delas, o que nos permite concluir que todas elas tratam de

qualquer coisa que tem a ver com as disciplinas. Disciplinas que se pretende juntar. Seja

multi, pluri, a ideia é a mesma: juntar muitas, pô-las ao lado umas das outras. Ou então

articular, pô-las inter, em inter-relação, estabelecer entre elas uma ação recíproca. O sufixo

trans supõe um ir além, uma ultrapassagem daquilo que é próprio da disciplina (POMBO,

2005, p. 05).

Diante desses vários prefixos, o que importa é o pensar que acontece a partir e através

dessas palavras. O pensar interdisciplinar, que, segundo Fazenda (1991, p. 17), permite o

diálogo com outras formas de conhecimento. Este pensar não despreza o conhecimento do

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senso comum, pois é ele que dá sentido à vida e se amplia no diálogo com o conhecimento

científico.

Lück (1995, p. 80) afirma que “Não há receitas para a construção interdisciplinar na

escola”. A interdisciplinaridade se constrói a partir da intercomunicação, por meio de

encontro e desencontro, dificuldades, avanços, recuos, sendo necessário o engajamento e o

diálogo para a superação da fragmentação no ensino.

A autora (1994, p. 64) traz um conceito de interdisciplinaridade elaborado num estudo

sobre o tema, pelos professores do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina (Entre-Rios,

Guarapuava – PR), que a definiram como:

[...] o processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num

trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo escolar entre si e

com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a

formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a

cidadania, mediante uma visão global de mundo e serem capazes de

enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual.

(LÜCK, 1994, p. 64)

Portanto, a interdisciplinaridade não desvaloriza o conhecimento das disciplinas, mas

exige articulação desses conhecimentos em todo o contexto escolar para envolver cada

indivíduo. Nas palavras de Fazenda (1979, p. 41), a interdisciplinaridade não é o que garantirá

o ensino adequado, o saber unificado, mas viabilizará a reflexão crítica sobre o seu

funcionamento e a superação das barreiras disciplinares.

A interdisciplinaridade é entendida por Santomé (1998, p. 65) como “um processo e

uma filosofia de trabalho que entra em ação na hora de enfrentar os problemas e questões que

preocupam em cada sociedade”. São diversos os processos e as ações, no entanto, existem

alguns passos em comum em qualquer intervenção interdisciplinar, são eles:

Definir o problema;

Determinar os conhecimentos necessários;

Desenvolver um marco integrador e as questões a serem pesquisadas;

Especificar os estudos;

Reunir os conhecimentos atuais e buscar nova informação;

Resolver conflitos entre as diferentes disciplinas implicadas;

Construir e manter a comunicação através de técnicas integradoras;

Comparar todas as contribuições;

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Integrar os dados obtidos individualmente para determinar um modelo coerente e

relevante;

Ratificar ou não a solução ou resposta oferecida;

Decidir sobre o futuro da tarefa e sobre a equipe de trabalho. (KLEIN, 1990, p.

188-189 apud SANTOMÉ, 1998, p. 65).

O trabalho em equipe é fundamental e, conforme o autor, deve haver uma negociação

entre as pessoas da equipe para que haja todo tipo de esclarecimentos, debates sobre as

questões metodológicas, conceituais e ideológicas. Destaca que “A interdisciplinaridade é um

objetivo nunca completamente alcançado e por isso deve ser permanentemente buscado”

(SANTOMÉ, 1998, p. 66).

Seguindo a concepção de Lück (1994) a respeito da efetivação da

interdisciplinaridade, a partir do engajamento de todos os educadores, possibilitando a

interação entre as disciplinas do currículo escolar e com a realidade cotidiana e visando à

superação da fragmentação do conhecimento, Mendes, Gomes e Silva (2015, p. 12) enfatizam

a necessidade do planejamento para a seleção, organização e distribuição do conhecimento, a

fim de permitir aos alunos se apropriarem deste e a possibilidade de agir com autonomia,

criatividade e criticidade a fim de promover mudança nos contextos vivenciados.

3.1.4 Transdisciplinaridade

É um termo não muito comum entre nós. Embora haja algumas discussões em torno

do assunto, ele é entendido por alguns autores como condição distante de se alcançar, visto

que ainda nem a interdisciplinaridade tem se efetivado no âmbito educacional. No entanto é

um termo já utilizado por Piaget e retomado por Japiassu (1976):

Enfim, à etapa das relações interdisciplinares, podemos esperar que se

suceda uma etapa superior, que não se contentaria em atingir interações ou

reciprocidade entre pesquisas especializadas, mas que situaria essas ligações

no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas entre as

disciplinas. (JAPIASSU, 1976, p. 75)

Conforme este autor, a transdisciplinaridade consiste na “coordenação de todas as

disciplinas do sistema de ensino inovado, sobre a base de uma axiomática geral”. Fazenda

(1979, p. 39) corrobora com Japiassu no entendimento de que a transdisciplinaridade é a etapa

mais elevada do envolvimento das disciplinas, sendo iniciada pelos níveis da multi, pluri e

interdisciplinaridade.

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Para Paviani (2014, p. 21), a transdisciplinaridade tem o significado de além, fusão,

holismo e, embora indique um fenômeno importante, em geral não é mencionada nem

estudada. Para ele, apesar de haver confusão e má compreensão no uso desse prefixo do termo

disciplina, o maior engano acontece entre a inter e a transdisciplinaridade, que muitas vezes

são concebidas como sinônimas, ou entendidas com diversos sentidos, pois nem sempre são

distinguidas com nitidez.

A condição epistemológica da transdisciplinaridade, numa primeira

definição, reside na possibilidade de ultrapassar o domínio das disciplinas

formalmente estabelecidas e, numa segunda definição, consiste na

possibilidade de estabelecer uma ponte entre os saberes. (PAVIANI, 2014, p.

22).

Sendo assim, Pombo (2004) e Paviani (2014) salientam que, ainda hoje, as

possibilidades da interdisciplinaridade não se efetivaram, mesmo tendo em vista que já há

muito se fala do termo transdisciplinaridade. Isso quer dizer que há necessidade de constantes

diálogos, discussões, reflexões sobre a interdisciplinaridade, na busca da sua efetivação na

prática e para romper com a fragmentação que ainda está presente em muitos contextos. Exige

também um esforço grandioso e um envolvimento de todos os sujeitos, neste caso, daqueles

que atuam na educação.

Como se percebe, diante das concepções desses autores supracitados, as discussões

sobre a interdisciplinaridade já têm ocorrido há algumas décadas. No Brasil, foram iniciadas

por Japiassu, na década de 1970, mas fica evidente que é uma temática que ainda merece

estudos, discussões, para que haja a sua real compreensão, uma definição na concepção, uma

mudança na prática pedagógica. É curioso notar, também, quando se olha para outras áreas

fora da educação, como a saúde, por exemplo, que a interdisciplinaridade acontece mais

espontaneamente, enquanto na educação ainda persiste certa dificuldade, principalmente para

se realizar dentro das áreas do conhecimento escolar, justificada, inicialmente, pela

organização curricular por disciplina que, uma vez que, segundo Pombo (1993, p. 20), a

instituição “visa transmitir às gerações mais novas os saberes disciplinares que se vão

constituindo, a Escola, no seu interior, pela sua estrutura e funcionamento, reflete e promove

essa mesma disciplinaridade.” Um segundo fator, a incompatibilidade de horário para

momentos de discussão e planejamento, ainda abordado pela autora como rigidez na

organização desses horários, “Num tal sistema não estão previstos quaisquer tempos livres

que possibilitem o trabalho transversal de colaboração entre duas ou mais disciplinas”

(POMBO, 1993, p. 21). Já no ensino fundamental 1, a unidocência (1º ao 5º ano) facilita o

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envolvimento do conhecimento entre as áreas/disciplinas, já que depende do educador que

nela atua a vontade e o comprometimento para desenvolver um trabalho interdisciplinar. Isso

foi percebido nessa pesquisa. É preciso ressaltar, no entanto, que nessa tentativa ocorreu

também o trabalho na perspectiva multidisciplinar e isso pode ser considerado um avanço. É

fato que a interdisciplinaridade não é a solução para todos os problemas que envolvem a

escola, mas, como afirma Pombo (1993):

Ela é uma resposta significativa que, em conjugação com outras orientações

e inovações necessárias à reestruturação dos atuais sistemas de ensino, pode

permitir à escola ultrapassar as barreiras disciplinares que tradicionalmente a

configuram e contribuir para contribuir para contrariar os efeitos perversos

da fragmentação e especialização dos saberes na consciência dos alunos.

(POMBO, 1993, p. 23)

A presente pesquisa foi realizada na concepção de que a interdisciplinaridade vai além

da interação entre as disciplinas, é o envolvimento real e o compartilhamento dos saberes de

cada disciplina – sem perder suas especificidades – para buscar resolver problemas e

favorecer a construção de novos saberes.

3.2 Sequência Didática (SD) – Proposta de organização do trabalho pedagógico

São apresentadas as abordagens de Sequência Didática nas concepções de Zabala

(1998), Schneuwly, Dolz, Noverraz, Schneuwly e colaboradores (2004) e Sequência Didática

Interativa (SDI) em Oliveira (2013). Sobre os projetos didáticos, Dubeux e Teles (2012) e

Kleiman e Moraes (1999) contribuíram para as reflexões sobre essa forma de organização do

trabalho pedagógico.

O trabalho pedagógico organizado em sequência didática tem sido uma das práticas

adotadas por muitos professores, inclusive dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Foi a

partir de práticas como essas, consideradas inovadoras e desafiadoras, que se dispõe a analisar

algumas propostas realizadas por professoras que participaram do PNAIC.

De acordo com Zabala (1998), Sequência didática é definida como: “um conjunto de

atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos

educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos

alunos.” (ZABALA, 1998, p. 18 – grifos do autor). Toda prática pedagógica exige uma

organização metodológica para a sua execução e a aprendizagem do aluno se concretiza a

partir da intervenção do professor no cotidiano da sala de aula. O autor afirma a importância

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de ter em mente duas perguntas chave, denominadas como perguntas capitais, para justificar a

prática educativa: “Para que educar? Para que ensinar?” (ZABALA, 1998, p. 21). Dessa

maneira, a organização do trabalho pedagógico acontece como intervenção reflexiva através

do planejamento, aplicação e avaliação.

Zabala (1998) utiliza os termos sequência didática e sequência de atividade como

sinônimos e entende que se trata de um dos caminhos mais indicados para aprimorar a prática

pedagógica.

Este autor (1998, p. 54) aponta as quatro fases de uma sequência didática de modelo

tradicional:

1 - Comunicação da lição;

2 - Estudo individual sobre o livro didático;

3 - Repetição do conteúdo aprendido;

4 - Julgamento ou avaliação.

Descreve também (Idem, p. 55) as fases de uma sequência de modelo “estudo do

meio”:

Atividade motivadora relacionada com uma situação conflitante da realidade

experiencial dos alunos;

Explicação das perguntas ou problemas;

Respostas intuitivas ou hipóteses;

Seleção e esboço das fontes de informação e planejamento da investigação;

Coleta, seleção e classificação dos dados;

Generalização das conclusões tiradas;

Expressão e comunicação.

O objetivo da sequência didática, afirma o autor, deve ser inserir, nas diversas formas

de intervenção, as atividades que favoreçam melhor atuação do educador em sala de aula a

partir de conhecimento mais aprofundado, de maneira que possa refletir no processo de

aprendizagem de cada criança.

Ao planejar uma sequência didática, Zabala (1998) recomenda a consideração às

relações interativas entre professor/aluno, aluno/aluno e as influências dos conteúdos nessas

relações, o papel do professor e o papel do aluno, a organização para os agrupamentos, a

organização dos conteúdos, a organização do tempo e espaço, a organização dos recursos

didáticos e avaliação.

Na mesma perspectiva, Oliveira tem a seguinte definição de sequência didática:

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É um procedimento simples que compreende um conjunto de atividades

conectadas entre si, e prescinde de um planejamento para delimitação de

cada etapa e/ou atividade para trabalhar os conteúdos disciplinares de forma

integrada para uma melhor dinâmica no processo ensino-aprendizagem.

(OLIVEIRA, 2013, p. 40)

Para Oliveira (2013), os passos básicos de uma sequência didática são:

Escolha do tema a ser trabalhado;

Questionamentos para problematização do assunto a ser trabalhado;

Planejamento dos conteúdos;

Objetivos a serem atingidos no processo de ensino-aprendizagem;

Delimitação da sequência de atividades, levando-se em consideração a formação

de grupos, material didático, cronograma, integração entre cada atividade e etapas, e avaliação

dos resultados (OLIVEIRA, 2013, p. 40).

A referida autora destaca que é fundamental a participação dos alunos desde o

planejamento, em que todos devem ter o conhecimento dos objetivos da realização da

sequência didática até o final, momento da avaliação e informação dos resultados obtidos.

Nesse sentido, Oliveira (2013, p. 43) traz uma nova proposta didático-metodológica: a

Sequência Didática Interativa (SDI), considerada como um desdobramento da metodologia

interativa, que utiliza a técnica do Círculo Hermenêutico-Dialético (CHD), pois entende que a

dialogicidade acontece no processo de interação entre as pessoas de modo que, a partir de

uma visão global, possa permitir a construção e reconstrução da realidade.

A sequência didática interativa é uma proposta didático-metodológica que

desenvolve uma série de atividades, tendo como ponto de partida a aplicação

do círculo hermenêutico-dialético para identificação de conceitos/definições,

que subsidiam os componentes curriculares (temas), e que são associados de

forma interativa com teoria(s) de aprendizagem e/ou propostas pedagógicas

e metodologias, visando à construção de novos conhecimentos e saberes.

(OLIVEIRA, 2013, p. 44)

De acordo com essa definição, o objetivo da SDI é a construção de um novo

conhecimento, de um novo saber. A autora propõe alguns passos básicos que julga serem

imprescindíveis, com dois momentos/blocos:

Primeiro momento/bloco – sequência de atividades:

1) Definir o tema e componente curricular a ser trabalhado, entregar uma ficha ao

participante, para que escreva seu conhecimento inicial sobre o assunto;

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2) Dividir a classe/turma em pequenos grupos para que sintetizem os conceitos

surgidos em uma só frase;

3) Eleger um líder de cada grupo para formar um novo grupo, no qual também farão

uma síntese, formando apenas uma frase sobre o assunto;

4) Concluir a primeira sequência de atividade com uma definição sobre o tema em

estudo.

Segundo momento/bloco de atividades (OLIVEIRA, 2013, p. 46):

1) Desenvolvimento do embasamento teórico sobre o assunto;

2) Depois da realização do embasamento teórico, o professor/coordenador escolhe

uma atividade para o fechamento do tema que pode ser um seminário, confecção de pôsteres

ou outras.

Nas palavras de Oliveira (2013, p. 47), “Este procedimento, além de facilitar a

integração entre docentes, discentes, dos educandos entre si e coordenadores, tem como

desfecho final a sistematização de conhecimentos pré-existentes, e a construção de um novo

saber”.

A partir das concepções de Zabala (1998) e Oliveira (2013), se percebe que uma

sequência didática deve ser desenvolvida na perspectiva do ensino de conteúdos através de

atividades sequenciadas, organizadas com objetivos bem definidos e esclarecidos para os

professores e alunos, que contribuirão para a aprendizagem e construção do conhecimento e

de novos saberes. Deve, também, servir para a reflexão sobre a prática docente, por meio da

observação do seu processo de desenvolvimento e interação entre todos os envolvidos.

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) apresentam uma concepção diferente, porém

muito importante, pautada na preocupação com o ensino da expressão oral e escrita.

Sequência didática, para eles, é

[...] um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira

sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito. [...] tem

precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de

texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais

adequada numa dada situação de comunicação. (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHNEUWLY, 2004, p. 97 – grifo dos autores).

Nesta concepção, a SD tem um fim específico, que é o ensino e a aprendizagem do

gênero textual. Esta proposta também apresenta alguns passos, denominados pelos autores de

esquema da sequência didática:

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Apresentação da situação – momento em que o professor traz para a sala de aula

uma situação para saber o que o aluno sabe sobre determinado gênero, com o propósito de

prepará-lo para a produção inicial;

Produção inicial – os alunos produzirão um texto com o gênero selecionado a

partir de sua compreensão inicial;

Módulos 1, 2, N – são as atividades ou exercícios que darão instrumentos

necessários para o domínio do gênero. Não tem, portanto, um limite de módulos;

Produção final – neste momento, o aluno poderá demonstrar o conhecimento que

foi adquirido, podendo observar, junto com o professor, o progresso obtido durante o

processo.

Figura 2 – Esquema da Sequência Didática

Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98).

Os autores alertam para que a sequência didática não assuma a totalidade do trabalho

para o desenvolvimento da aprendizagem e domínio da língua e demais conteúdos, isto é, a

gramática, a sintaxe e a ortografia devem ter espaços para serem trabalhadas, não devem ser,

necessariamente, desenvolvidas dentro da SD, porém, não podem ser esquecidas. Destacam,

igualmente, algumas especificidades no procedimento da sequência didática, como os

princípios teóricos, as possibilidades de diferenciação durante os módulos, a diferença entre

os trabalhos com a oralidade e com a escrita (Idem, p. 108).

Nas concepções de Zabala (1998), Oliveira (2013) e Dolz, Noverraz e Schneuwly

(2004), o trabalho organizado em sequências didáticas é um dos caminhos mais indicados

para a construção do conhecimento, do desenvolvimento do trabalho pedagógico em sala de

aula e que permite ao docente a reflexão sobre a sua prática, de maneira que possa aprimora-

la.

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3.3 Projeto didático

O trabalho com projeto didático é uma das maneiras indicadas para o ensino e

aprendizagem dos educandos, pois possibilita um trabalho interdisciplinar com o

envolvimento e a interação entre professor/aluno/comunidade escolar. Contudo, não será

objeto de análise nesse estudo, tendo em vista que não houve dados que pudessem servir de

parâmetro, visto que apenas uma professora disponibilizou um projeto para a pesquisa.

Entretanto, entende-se a importância de trazê-lo como estudo teórico, por se tratar de uma

metodologia adotada pelo PNAIC, como proposta de desenvolvimento e organização da

prática pedagógica para o processo de alfabetização e também por se tratar enfoque na

interdisciplinaridade e o trabalho com projetos tem trazido experiências bem sucedidas nesse

processo.

Ao atentar para o seu sentido, se percebe que “Projetar é lançar para frente, é antever

sua realização no futuro” (KLEIMAN e MORAES, 1999, p. 40). Isso quer dizer

planejamento, e é através dele que o professor vai organizar seu trabalho diário, com objetivos

definidos para alcançar a meta desejada. O planejamento deve ser flexível, de maneira a

contemplar a realidade de cada criança e da sala de aula, bem como o espaço e o tempo, que

precisam fazer parte deste planejamento. É um momento que também servirá para que o

professor reflita sobre suas ações, sua prática, podendo revê-la ou até reorganizá-la para que

atenda aos anseios dos alunos e às necessidades de aprendizagem.

Trata-se de uma metodologia que possibilita a interdisciplinaridade, pois pode

envolver uma única sala no interior da escola ou alcançar toda a comunidade escolar, bem

como pode abarcar todas as disciplinas do componente curricular conforme o objetivo que se

pretender.

A prática da pedagogia por projetos favorece o desenvolvimento de sentido

para atividades escolares, tornando-as significativas para os alunos, pois

estas surgem dos seus interesses e por eles são planejadas juntamente com a

professora. Deste modo, essa proposta prevê que os alunos participem da

definição e organização do trabalho escolar; a participação nas decisões

favorece a adesão às atividades e faz com que se sintam responsáveis por

elas. Essa proposta favorece abertura da escola, à família, bairro e

comunidade, uma vez que as realizações dos escolares nos projetos são

socializadas, compartilhadas. (RIBEIRO; MICOTTI, 2012, p. 09)

Para Santomé (1998, p. 203 – grifos do autor), o método de projetos “É uma forma de

integração curricular que se preocupa pela característica de ‘interessante’ que deve

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acompanhar a realização do trabalho nas salas de aula, pela proposta de problemas

interessantes que os alunos devem resolver em equipe”. Segundo o autor, os projetos

pressupõem quatro passos:

Decidir o propósito do projeto;

Realizar um plano de trabalho para sua resolução;

Executar o plano projetado e

Julgar o trabalho realizado (SANTOMÉ, 1998, p. 204).

Nessa concepção, a finalidade dos projetos é a de resolver problemas cotidianos dos

alunos, ao passo que favorece a unidade entre as diferentes disciplinas, e que possam

contribuir para comprovar aos discentes que podem resolver esses problemas a partir de

conhecimentos adquiridos na escola.

Zabala (2002, p. 209) apresenta os projetos de trabalho global como forma de

intervenção pedagógica na perspectiva da globalização, com o objetivo de criar situações que

favoreçam a organização, compreensão e assimilação das informações. Para o

desenvolvimento do projeto, o autor apresenta alguns passos:

1 - Escolha do tema;

2 - Planejamento do desenvolvimento do tema;

3 - Busca da informação;

4 - Tratamento da informação;

5 - Desenvolvimento dos diferentes tópicos do índice;

6 - Elaboração do dossiê de síntese;

7 - Avaliação;

8 - Novas perspectivas.

Seguindo esses passos, inicia-se com a proposição de diversos temas para que seja

escolhido um deles, coletivamente, por alunos e docente; escolhido o tema, elaboram o índice

do dossiê, fazem a organização do tempo e das tarefas, e o docente apresenta os objetivos e

conteúdos que pensam trabalhar. Assim, partem para a busca das informações com pequenos

grupos ou individualmente para a realização da tarefa. Seguem para a fase do tratamento da

informação com a classificação e ordenamento da informação coletada para se chegar à

conclusão e, na sequência, à fase da elaboração de novas perguntas. Com essas informações,

organizam o índice com os conteúdos, que vai gerar o dossiê de síntese, que é o produto do

projeto. Partem, então, para a avaliação, que acontece em nível interno e externo. No nível

interno, a criança tem a oportunidade de rever e refletir o que realizou e aprendeu. No nível

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externo, a criança fará isso com a ajuda do professor, visando o aprofundamento do processo,

a fim de que possa fazer relações e comparações que possibilitarão uma conceituação. O

momento final é o das novas perspectivas de continuidade para um novo projeto.

Observa-se também a proposta de projeto apresentada por Kersch e Guimarães (2012),

que desenvolveram a noção de Projeto Didático de Gênero (PDG), cuja finalidade é

representar “uma co-construção de conhecimento para uma prática social que possa se

inscrever em situações significativas para os aprendizes e para seus docentes”. O projeto pode

ser iniciado a partir de um tema, uma prática social, um gênero mesmo, do oral ou do escrito,

um conteúdo gramatical direcionado a um fim específico e deve estar aberto à perspectiva

interdisciplinar. Possui algumas características básicas, como o trabalho com a leitura verbal e

não verbal. O foco deve ser no máximo em dois gêneros que tenham relações claras com a

comunidade envolvida. Logo, o objetivo principal é o ensino de um gênero específico. O

projeto pode ser organizado em módulos ou oficinas durante várias aulas, numa sequência de

acordo com a estrutura do gênero a ser trabalhado. É importante ter presente a produção

inicial para conhecer o que já sabem sobre o determinado gênero, para o encaminhamento da

produção final. Esta concepção de projeto é muito semelhante à concepção de Sequência

Didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004).

Dubeux e Teles (2012, p. 48) destacam a importância da organização do trabalho

pedagógico em projetos didáticos, pois favorece a alfabetização e o letramento, bem como as

situações de apropriação do sistema de escrita alfabética, incluindo atividades de leitura e

escrita através de gêneros textuais diversos.

O projeto didático, portanto, pode ser desenvolvido de diversas maneiras, com a

possibilidade de se tornar parte da rotina da turma, conforme o objetivo esperado. O que deve

sempre ser considerado é o interesse, a participação dos alunos, os conhecimentos prévios

sobre o assunto, para que todos se envolvam. As autoras apresentam algumas características

fundamentais de um projeto, com base em Leite (1998):

1. Proposta de intervenção pedagógica;

2. Uma atividade intencional e social;

3. Aborda conhecimento em uso;

4. Estimula a cooperação e responsabilidade mútua;

5. Estimula a autonomia e a iniciativa;

6. Exige produção autêntica, resultante das decisões tomadas;

7. Contempla a divulgação do trabalho.

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É importante ressaltar que o desenvolvimento de projeto possibilita o trabalho

interdisciplinar, porém, as diversas disciplinas dos componentes curriculares só deverão fazer

parte se for contribuir para alcançar o objetivo proposto. A divulgação do trabalho pode ser a

partir da produção de livros e jornais escolares, organização de feiras literárias, dentre outras

propostas, como produção final do projeto.

De acordo com as concepções de SD abordadas, são consideradas metodologias que

possibilitam a construção de novos saberes tanto aquelas que têm por objetivo o

desenvolvimento de atividades organizadas num conjunto, para melhor desempenho da

prática pedagógica no processo de ensino e aprendizagem do aluno e que permite a

interdisciplinaridade com a integração do conhecimento de diferentes áreas conforme Zabala

(1998) e Oliveira (2013), quanto as sequências que têm por finalidade o ensino de um gênero

textual, segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Pode-se identificar como características

comuns entre SD e projetos a interação de aluno/aluno/professor, o envolvimento para a

organização e planejamento, visto que são momentos que devem estar claros para os

participantes em relação a ações e objetivos, para proporcionar melhor desempenho e

autonomia do estudante e a construção do conhecimento. Se destacam como pontos diferentes

entre essas duas metodologias, que o projeto dá maior ênfase à curiosidade do aluno no

sentido de incentivar o início do projeto pela investigação a partir do seu interesse, na

expectativa de resolver um determinado problema, e ao final, ter uma maior socialização, que

pode ser entre os pares, escola e comunidade, conforme o objetivo previsto.

São metodologias que fazem parte do cotidiano do educador que prima pela

transformação, não se acomoda e quer sempre buscar novas estratégias para intervir na

realidade vivenciada. Como afirma Tavares (2013, p.142), “O educador necessita estar

sempre incomodado. É ele que contribui para despertar a busca, a pesquisa e o

desenvolvimento de novas competências”.

3.4 Alfabetização e letramento

Para a discussão sobre alfabetização e letramento, Soares (2000; 2015), Colello

(2004), Albuquerque (2012) nos permitiram tratar de uma alfabetização não dissociada do

letramento, que se soma à concepção de alfabetização de Paulo Freire voltada para a

conquista de uma aprendizagem libertadora e crítica, com a valorização da realidade

cotidiana.

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Esta temática é abordada devido a sua relevância nesta pesquisa, por se referir ao ciclo

de alfabetização, em que se dirige a atenção e a preocupação com relação ao final dos três

anos, na perspectiva de que as crianças tenham acesso à aprendizagem integral, de forma que

elas possam não apenas ler e escrever, mas que tenham habilidades de fazer uso social da

leitura e escrita em seu contexto real.

Soares (2000) e Colello (2004) tratam da importância do alfabetizar letrando, que

possibilita às crianças não somente a inserção no mundo da leitura e escrita, mas também dos

usos sociais no cotidiano. Há uma preocupação muito grande pelos professores

alfabetizadores em garantir à criança a apropriação do sistema de escrita alfabética, para que a

criança possa ler e escrever nas mais diversas situações diárias, o que acaba por privilegiar a

disciplina de língua portuguesa, deixando a desejar os conhecimentos dos demais

componentes curriculares. Isso deve ser debatido, dialogado nas instituições de ensino, para se

buscar meios que garantam os direitos de aprendizagem da criança ao conhecimento de todos

os componentes curriculares, o que propiciará a prática do letramento sem perder a

especificidade da alfabetização.

Outra preocupação é a de oportunizar esses conhecimentos em um tempo resumido

para tal, considerando os três anos iniciais destinados à alfabetização. Para Pessoa (2015, p.

64), o primeiro passo é a organização do tempo pedagógico, o que se faz com um bom

planejamento, com objetivos claros e a partir do conhecimento dos alunos, valorizando o

contexto em que vivem, elaborando atividades importantes, avaliando e registrando os

desafios e avanços das crianças.

3.4.1 Alfabetização

A alfabetização tem sido um assunto muito discutido no Brasil, mais especificamente,

no século XX. Segundo Soares (2015, p. 14), isso se evidencia desde a década de 40, na

esteira da democratização da educação, quando a escola passou a receber um número maior

de alunos e com aprendizagens heterogêneas. Devido ao fracasso escolar na alfabetização,

muitos pesquisadores se empenharam na tentativa de descobrirem o real motivo desse

fracasso. Todavia, os resultados foram diversificados, com dados muitas vezes incoerentes ou

não conclusivos. Soares (2015, p. 14) atribui esta situação às diferentes perspectivas do

processo de alfabetização, envolvendo diferentes áreas do conhecimento, cada uma buscando,

a partir de sua especificidade, compreender a questão ora com enfoque no aluno, ora no

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contexto cultural, familiar, no professor, no material didático e assim por diante. A autora

ressalta que são fatores que fazem parte da complexidade do processo de alfabetização.

Entretanto, essa multiplicidade de perspectivas e essa pluralidade de

enfoques não trarão colaboração realmente efetiva enquanto não se

articularem em uma teoria coerente da alfabetização que concilie resultados

apenas aparentemente incompatíveis, que articule análises provenientes de

diferentes áreas do conhecimento, que integre estruturadamente estudos

sobre cada um dos componentes do processo. (SOARES, 2014, p. 14)

Essa preocupação – e vontade – de encontrar soluções ao problema do fracasso na

alfabetização, acabaram por gerar também muitos significados para a alfabetização, alguns

muito abrangentes e outros até muito simplistas. O surgimento do conceito de letramento (que

abordaremos a seguir) veio contribuir, de certa forma, para uma melhor compreensão de cada

termo. Entretanto, também ele exige atenção para não recair na simplificação, confusão no

entendimento e na sua utilização. Mas é importante lembrar que, segundo a autora, foi neste

momento de transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o

termo surgiu para ampliar o sentido de alfabetização.

Soares (2014, p. 15) assevera que não é apropriado que o termo alfabetização “designe

tanto o processo de aquisição da língua escrita quanto o de seu desenvolvimento” e que estes

são os conceitos predominantes em seu sentido específico de processo de aquisição do código

escrito, das habilidades de leitura e escrita. Além disso, existe um aspecto tão importante

quanto os anteriores, que é o social, visto que a conceituação de alfabetização não é a mesma

em todas as sociedades, quando, por exemplo, se pergunta: “Em que idade a criança deve ser

alfabetizada? Para quê? Que tipo de alfabetização? ”, as respostas não serão as mesmas, visto

que partem de diferentes contextos sociais, culturais etc. Assim, a autora esclarece que o

conceito de alfabetização “é um conjunto de habilidades, o que a caracteriza como um

fenômeno de natureza complexa, multifacetado” (SOARES, 2014, p. 15 – grifos da autora) e

isso o torna um objeto de estudo de várias ciências, assunto que não será abordado neste texto.

Colello (2004, p. 107), reforça os princípios de Vygotsky e Piaget sobre a

aprendizagem através da relação entre o sujeito e a cultura vivenciada em um contexto que

fornece informações e aprendizagens significativas, além de possibilitar a aplicação desta

aprendizagem nas situações vividas, uma vez que, nesta relação, são inúmeros os agentes

mediadores que devem ser valorizados, além do professor e da escola.

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3.4.2 Letramento

Soares (2000, p. 45) lembra que o termo letramento foi utilizado pela primeira vez, no

Brasil, por Mary Kato, em 1986, a partir do momento em que o analfabetismo foi sendo

superado, quando os sujeitos foram se apropriando da leitura e escrita, o que não significava,

necessariamente, porém, que incorporavam isso às práticas sociais de leitura e escrita. A

evidência estava na ausência de leitura de livros, jornais, revistas, na dificuldade para redigir

ofícios, requerimentos, preencher formulários, dentre outras. Este era um novo fenômeno e

que necessitaria de ser nomeado, e, assim, surge a palavra letramento, com a seguinte

definição por Soares (2000):

Estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e

exerce as práticas sociais que usam a escrita.

Cultiva = dedica-se a atividades de leitura e escrita

Exerce = responde às demandas sociais de leitura e escrita. (SOARES,

2000, p. 47 – grifos da autora)

Neste sentido, compreende-se que o processo deve ser o de alfabetizar letrando,

“ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que

o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” (Ibid., p. 47).

A concepção de alfabetização do PNAIC está baseada numa visão plural, pois utiliza

as concepções de autores que não se coadunam, mas, com isso, buscou trazer aspectos

importantes que contribuíram na realização do Programa. Trata da alfabetização na

perspectiva do letramento, fundamentado em Soares (2000, p. 47), que dissemina os dois

termos, e contribuiu para o entendimento de que alfabetizar e letrar são duas condições

distintas e indissociáveis, considerando a alfabetização a aprendizagem da técnica, domínio

do código convencional da leitura e da escrita e das relações fonema/grafema, e letramento, o

uso social da leitura e escrita. Todavia, não quer dizer que seja necessário a criança

primeiramente aprender a ler e escrever para depois aprender como, onde e para que usá-las,

explica Soares (2003, p. 2). Ferreiro e Teberosky (1999), ao discutirem sobre a psicogênese

da escrita, trouxeram um novo sentido aos erros em relação à escrita, compreendendo-os

como escritas não convencionais, e identificaram as hipóteses de escrita das crianças. Essa

concepção tem sido relevante no processo de alfabetização, no sentido de reconhecer cada

fase e propiciar condições para o avanço na aprendizagem. Assim, o que era entendido como

dificuldade, incapacidade, passa a ser compreendido como crescimento e construção. Quanto

à alfabetização e letramento, ferreiro difere de Soares no entendimento de que o letramento

está implícito na alfabetização, o que tornaria desnecessária a utilização dos dois termos.

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Nesse sentido, a autora defende que “[...] o desenvolvimento da leitura e da escrita começa

muito antes da escolarização” (FERREIRO, 2011, p. 63) e destaca que, embora as famílias e a

sociedade ainda que não compreendam esse processo de aprendizagem,

Felizmente, as crianças de todas as épocas e de todos os países ignoram esta

restrição. Nunca esperam completar 6 anos e ter uma professora à sua frente

para começarem a aprender. Desde que nascem são construtoras de

conhecimento. No esforço de compreender o mundo que as rodeia, levantam

problemas muito difíceis e abstratos e tratam, por si próprias, de descobrir

respostas para eles. Estão construindo objetos complexos de conhecimento e

o sistema de escrita é um deles. (FERREIRO, 2011, p. 64)

Assim como elas, outros pesquisadores, com uma nova visão, acreditam na

alfabetização da criança até os oito anos de idade.

Para o enfrentamento à problemática do fracasso escolar nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, os debates foram intensificados a respeito do investimento em políticas para a

formação de professores, paralelamente aos métodos e metodologias para a alfabetização,

devido às críticas atribuídas aos métodos construtivistas no ensino da leitura e escrita,

responsabilizando-os pelo fracasso escolar.

Defender, no entanto, a alfabetização centrada em qualquer método sintético

ou analítico, como meio de superar o atual contexto de fracasso escolar na

alfabetização, é desconsiderar as contribuições das pesquisas que analisam o

processo de construção dos sujeitos na aprendizagem da leitura e da escrita e

os estudos sobre letramento. (ALBURQUERQUE, 2012, p. 18)

Na década de 1980, o desenvolvimento do trabalho sobre a psicogênese da escrita

trouxe uma mudança conceitual a respeito da aprendizagem da escrita. Com isso, houve

também, afirma Soares (2003, p. 17), a perda da especificidade da alfabetização em privilégio

ao letramento, pensando-se que apenas a convivência com o material de circulação social já

fosse o suficiente para o processo de alfabetização, não havendo mais a necessidade de

nenhum método de alfabetização, dentre outras facetas da alfabetização apresentadas pela

autora, o que acarreta na necessidade da reinvenção da alfabetização.

A reinvenção seria a recuperação da especificidade da alfabetização, o que não quer

dizer retroceder, voltar ao que já foi superado, correndo o risco de dissociar a alfabetização do

letramento, pois, “Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois

processos são simultâneos” (SOARES, 2003, p. 11). Assim sendo, a autora sugere que o que

deve acontecer é a integração da alfabetização e do letramento, respeitando a especificidade

de ambos, reconhecendo as muitas facetas de um e de outro, compreendendo a diversidade de

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métodos que cada faceta exige, além de levar em consideração as características individuais

de cada criança, o que irá, também, exigir ações pedagógicas diferenciadas.

Nesse sentido, o PNAIC propõe atividades que levem a criança a vivenciar, pensar e

refletir sobre as características do sistema de escrita alfabética de forma lúdica, a partir da

leitura e escrita de diversos gêneros textuais. Para que este processo se concretize, percebeu-

se como necessária a definição dos direitos de aprendizagem para cada eixo do ensino da

língua portuguesa, quais sejam: leitura, produção de textos escritos, oralidade e análise

linguística, com capacidades propostas para serem desenvolvidas pelos alunos até o final do

3º ano do Ensino Fundamental. Da mesma maneira, foram definidos os direitos de

aprendizagem e os eixos dos demais componentes curriculares trabalhados no decorrer do

Programa. Tais capacidades podem ser introduzidas em um ano, aprofundadas em outro e

consolidadas no seguinte, assim como pode haver algumas que podem ser introduzidas,

aprofundadas e consolidadas em um único ano.

Ao reconhecer o ciclo de alfabetização como uma parte da fase da infância da criança,

que corresponde ao período dos 6 aos 8 anos de idade, o PNAIC também prevê a importância

da ludicidade no tempo e espaço escolar dessa criança, propondo uma aprendizagem

significativa por meio do brincar, de jogos e brincadeiras, conceitos que foram abordados no

decorrer do Programa. Assim,

[...] o lúdico traz benefício físico para o crescimento da criança e para o

desenvolvimento das habilidades motoras e de expressão corporal. Em

relação ao desenvolvimento cognitivo, o brincar estimula as ações

intelectuais, desenvolve habilidades perceptuais, como a atenção e,

consequentemente, a memória. As contribuições sociais são percebidas

quando a criança simboliza uma realidade que ainda não pode alcançar,

mesmo considerando a fruição, e aprende a interagir com outras pessoas,

compartilhando, relacionando-se. A criança também recorre ao lúdico para

representar e significar com outros sentidos situações vividas, não se

restringindo apenas à fantasia de um vir a ser, de um desejo ainda não

alcançado. (BERNARDELLI, 2015, p. 25)

A brincadeira não pode ser vista como um passatempo, como um momento supérfluo,

pois faz parte do desenvolvimento da criança, durante a qual ela estará aprendendo com a

situação, com os pares e, em muitas ocasiões, estará aprendendo algo que será necessário para

sua vida adulta, como, por exemplo, ao brincar de faz-de-conta, quando utilizam múltiplas

linguagem e vão desenvolvendo a autonomia. É importante ter claro, também, que o lúdico

não é apenas a brincadeira, mas é a maneira com que se conduz o processo de ensino, onde se

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torna o tempo e o espaço agradável, com sentido para a criança, que instigue a curiosidade e a

busca do saber.

Portanto, o lúdico terá o papel de auxiliar no desenvolvimento e na aprendizagem dos

componentes curriculares, atuando como recurso facilitador para uma educação inclusiva e

contribuir na dimensão individual e coletiva de cada criança. Permite um trabalho dinâmico,

que contemple a heterogeneidade, de modo a incluir não apenas as crianças com deficiência,

mas também as crianças tímidas que têm maior dificuldade de interagir no grupo. É essa a

perspectiva do PNAIC, por isso, trouxe este assunto para reflexão do professor alfabetizador,

para que, em face destes debates e discussões, possam propiciar, na escola, um ambiente

agradável, lúdico e contextualizado, que garanta à criança os seus direitos, inclusive o de ser

criança.

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4 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL - NOVAS PERSPECTIVAS ATRAVÉS DO PNAIC

Este capítulo tem o objetivo de apresentar o Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa (PNAIC), como ocorreu sua implantação e implementação em âmbito nacional e

também no Mato Grosso, especificamente. A fundamentação teórica se deu à luz de alguns

dos teóricos que contribuíram na elaboração dos cadernos de estudo, os objetivos, a estrutura,

organização e abrangência, bem como os materiais disponibilizados para que o Programa

acontecesse.

4.1 Breve história do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)

Com base nos dados do IBGE 2010, mostrados no Caderno de Apresentação do

PNAIC (BRASIL, 2015, p. 18), o Brasil alcançou uma taxa média de alfabetização de 84,8%

entre as crianças até oito anos de idade, indicando que a taxa de analfabetismo, nessa faixa

etária, decresceu. No entanto, a preocupação em torno deste cenário, continua, principalmente

pelo fato de que a pergunta feita, pela pesquisa, se “a criança sabe ler e escrever” (BRASIL,

2015, p. 18 – Caderno de Apresentação), é muito simplória e não reflete a concepção de

alfabetização que o programa PNAIC defende.

O baixo desempenho escolar trouxe a preocupação dos gestores em elaborarem

estratégias na tentativa de superar as fragilidades encontradas, e, a partir de reflexões e

discussões em torno do assunto, chegou-se ao entendimento de que seria necessário um

investimento na formação continuada dos professores alfabetizadores. Ainda conforme o

Caderno de Apresentação, vários programas de formação para os professores foram

realizados, sendo o Pró-letramento, realizado em 2005, após a sua avaliação positiva junto ao

MEC, a referência para a implantação e implementação do mais recente e abrangente

programa, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC. Vale lembrar que

“O objetivo do Pró-Letramento era favorecer a melhoria do desempenho escolar de alunos em

leitura, escrita e matemática.” (BRASIL, 2015, p. 15 – Caderno de Apresentação).

Com a melhora significativa do desempenho das crianças na leitura e escrita, as

reflexões e discussões sobre a formação continuada foram ampliadas e houve a mobilização e

o levantamento de novas estratégias, como a criação de um novo programa, visto que as

avaliações externas (Prova Brasil, Provinha Brasil e PISA) ainda constataram desafios no

processo de alfabetização. Estas avaliações apontaram que muitas crianças estavam

terminando o ciclo de alfabetização sem estarem alfabetizadas integralmente. O PNAIC, um

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programa do Ministério da Educação – MEC, em parceria com os governos Estaduais e

Municipais, foi implementado sob a portaria 867/12. Estes órgãos governamentais assumiram

o compromisso de trabalhar em prol da alfabetização das crianças até os oito anos de idade.

“O Ministério da Educação – MEC concebe que estar alfabetizado significa ser capaz de

interagir por meio de textos escritos em diferentes situações, significa ler e produzir textos

para atender a diferentes propósitos” (ARAÚJO, 2015, p. 19). O PNAIC configurou-se como

um investimento na formação continuada de professores alfabetizadores, com o objetivo de

“assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º

ano do ensino fundamental” (Idem, p. 19). A autora ainda assegura que, em 2013, houve a

participação de 5.420 municípios, 27 estados e o Distrito Federal, somando-se a esse total

mais 77 municípios, em 2014. Participaram aproximadamente 310 mil professores

alfabetizadores e mais de 15 mil professores orientadores entre 2013 e 2014.

Rolkouski e Leal (2015, p. 28) elucidam como o PNAIC foi estruturado, numa

articulação entre universidades, secretarias de educação e escolas, para a formação dos

professores alfabetizadores que atuam em sala de aula. Três grupos de professores compõem

esta estrutura: Professor Formador (PF) – selecionado pelas universidades públicas

brasileiras, é responsável pela formação dos Professores Orientadores de Estudo (OE), que

são selecionados pelos municípios, e, por sua vez, se incumbem da formação dos Professores

Alfabetizadores (PA) que atuam em sala de aula.

Quatro cursos foram organizados: um para professores alfabetizadores de cada ano do

Ensino Fundamental e um para os professores alfabetizadores de classes multisseriadas. Os

cursos tiveram o propósito de articular os diferentes componentes curriculares. Entretanto, a

cada ano foi dado um enfoque central: 2013 teve foco em Linguagem, com carga horária de

120 horas; 2014, em Matemática, com 160 horas, e em 2015, com 80 horas, contemplando

todas as áreas do currículo da Educação Básica, enfatizando a interdisciplinaridade.

São quatro os eixos de atuação do PNAIC: 1. formação continuada presencial para

professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo; 2. materiais didáticos, obras

literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais; 3. avaliações

sistemáticas; 4. gestão, controle social e mobilização (ARAÚJO, 2015 p. 19). Diante das

mudanças ocorridas na política, na educação, na sociedade em geral, a formação do

profissional da educação também mudou, sendo, atualmente, conhecida e reconhecida como

formação continuada. Na concepção abordada pelo Programa em questão, conforme caderno

de formação (BRASIL, 2012, p. 11), amparado em Ferreira e Leal (2010), a formação

continuada difere da formação inicial pelo fato de ser uma formação para o profissional já

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atuante que tem, simultaneamente, a função de estudante, enquanto que, na formação inicial,

mesmo que a pessoa atue como profissional, não necessariamente integrará um grupo de

profissionais, poderá ser somente de estudantes. Outro ponto destacado é que, às vezes, na

formação inicial, a teoria é mais enfatizada, e, na formação continuada, a prática é o aspecto

priorizado. Mas o que se deve buscar, nas formações, é o equilíbrio entre teoria e prática. O

que se constata, a partir de muitos estudos, é que a formação continuada vem como um dos

caminhos para a melhoria da qualidade da educação.

O objetivo do PNAIC, na formação dos professores, é de contribuir para o

aprofundamento da compreensão sobre alfabetização e letramento, currículo, os direitos de

aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento, avaliação, inclusão, ludicidade, a

organização do tempo e espaço, bem como a organização do trabalho pedagógico em projetos

e sequências didáticas, para favorecer a aprendizagem das crianças, numa perspectiva

interdisciplinar. (BRASIL, 2012, p. 31)

Leal (2015, p. 99), apresenta a concepção de interdisciplinaridade do PNAIC baseada

em alguns princípios: como princípio curricular, para proporcionar a aprendizagem articulada

às vivências fora da escola; como princípio de um ensino problematizador, que instigue a

criança a desenvolver uma atitude crítica e investigativa, sobretudo, uma interdisciplinaridade

que valorize as diferentes culturas e garanta a aprendizagem de todos os estudantes.

Entre o material disponibilizado pelo PNAIC encontra-se o caderno 03 de 2015, que

trata especificamente da interdisciplinaridade e tem como título “A Interdisciplinaridade no

Ciclo de Alfabetização”, com os objetivos de:

• Compreender o conceito de interdisciplinaridade e sua importância no Ciclo de

Alfabetização;

• Compreender o currículo em uma perspectiva interdisciplinar;

• Refletir sobre como crianças e professores avaliam as experiências de aulas

desenvolvidas em uma perspectiva interdisciplinar;

• Conhecer possibilidades do uso da leitura no trabalho interdisciplinar;

• Conhecer, analisar e planejar formas de organização do trabalho pedagógico como

possibilidades de realização de um trabalho interdisciplinar, mais especificamente, por meio

de sequências didáticas e projetos no Ciclo de Alfabetização.

Oferece subsídios para que o professor alfabetizador possa desenvolver um trabalho

interdisciplinar e traz, também, exemplos de práticas interdisciplinares, para que fossem

discutidos na formação continuada, no decorrer do Programa.

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Para a realização do eixo 1 da atuação do PNAIC – formação continuada –, o

Programa estabelece, no caderno de formação (BRASIL, 2015, p. 13-19), alguns princípios

considerados necessários para a formação dos profissionais de forma a aprimorar a prática

pedagógica: A prática reflexiva – processo que exige a alternância entre prática/teoria/prática;

a mobilização dos fazeres docentes – que propicia ao professor o reconhecimento de que o

conhecimento que ele já possui pode ser modificado, melhorado, trocado, ratificado,

reconstruído, refeito ou abandonado; a constituição da identidade profissional – o uso das

experiências e memórias individuais contribui para o desenvolvimento da prática pedagógica;

a socialização – para exercitar a comunicação com todos os envolvidos; o engajamento –

provoca o professor com desafios e questionamentos; a colaboração – leva à aprendizagem

coletiva.

Algumas estratégias foram pensadas, a fim de que haja um maior envolvimento dos

professores para a concretização desses princípios. Estas estratégias foram previstas para o

desenvolvimento de todo o curso: Leitura deleite – momento que aproxima o professor de

diversos textos literários; tarefas de casa e da escola – atividades diversificadas, algumas a

serem desenvolvidas em sala de aula; estudos dirigidos de textos – favorecer a reflexão da

prática, a compreensão de conceitos, teorias para ampliar ou aprofundar o conhecimento;

planejamento de atividades para serem desenvolvidas nas aulas, após o encontro; socialização

de memória – resgatar memórias através de textos escritos ou orais, de experiências vividas

pelos professores; vídeo em debates – sugestões de debates, programas com entrevistas, cenas

de sala de aula para aprofundamento dos debates nos grupos; análises de situações de sala de

aula, registradas ou filmadas e de atividades de alunos; análise de relatos de rotinas,

sequências didáticas, projetos didáticos e de planejamentos de aulas; análises dos recursos

didáticos disponíveis na escola; exposição dialogada para a valorização dos conhecimentos

dos professores; elaboração de instrumentos de avaliação e seus resultados; avaliação da

formação – trazer informações ao formador para melhoria dos próximos encontros. Estas

estratégias estão descritas no caderno de formação (BRASIL, 2015, p. 32), no qual também

fica esclarecido que são orientações norteadoras, flexíveis, de modo que contemplem as

diferentes realidades sociais de cada local de desenvolvimento do Programa.

Os professores participantes do Programa receberam diversos materiais de apoio

pedagógico. No ano de 2013, conforme o caderno de formação de professores (2012, p. 34)

foi distribuído um kit, contendo oito cadernos, para cada professor, cada kit correspondente a

um ano do ciclo de alfabetização do Ensino Fundamental e um kit de oito cadernos para cada

professor de turmas multisseriadas. Cada professor recebeu, também, um caderno de

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apresentação do programa e um caderno de avaliação. Os professores orientadores receberam

um caderno de formação de professores e os oito cadernos de cada ano.

Figura 3 – Cadernos do PNAIC de 2013

Fonte: Prefeitura de São José, SC (2013).

Em 2014, segundo o caderno de apresentação (2013, p. 16), os professores

alfabetizadores receberam os kits de oito cadernos de Matemática, na mesma estrutura do ano

anterior, incluindo um caderno de apresentação, um caderno de jogos, um caderno de

Educação Matemática do Campo e um de Educação Inclusiva. Houve uma mudança na

elaboração dos cadernos a partir de 2014. Diferentemente do ano anterior, que contava com

um caderno para cada ano do ciclo de alfabetização, os cadernos de 2014 contemplaram os

três anos em uma unidade e, em vez de um kit para cada ano do ciclo, sendo que o professor

recebia os cadernos do respectivo ano de atuação, ficou apenas um kit, que cada professor

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recebeu, independentemente do ano de atuação. Foi necessária essa reorganização, por

perceberem que estava sendo inviável a estrutura anterior, com gastos desnecessários. Foram

distribuídos, ainda, para as escolas que ofertam o ciclo de alfabetização, materiais didáticos

como jogos de alfabetização, acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE,

acervos do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD Obras Complementares, além dos

livros didáticos. A Figura 4 mostra a organização dos cadernos de 2014.

Figura 4 – Cadernos do PNAIC de 2014

Fonte: Prefeitura de Itápolis, SP (2014).

As Figuras 5 e 6, apresentadas a seguir, mostram os jogos de alfabetização enviados

para as escolas.

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Figura 5 – Jogos didáticos do PNAIC (a)

Fonte: Escola Municipal Taquaral (2014).

Figura 6 – Jogos didáticos do PNAIC (b)

Fonte: Prefeitura de Presidente Médici (RO) (2013).

Em 2015, foram 10 cadernos de formação, um caderno de apresentação e um de gestão

escolar no ciclo de alfabetização, conforme o caderno de apresentação (BRASIL, 2015, p.

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25). Todo material disponibilizado tem o objetivo de dar suporte ao professor alfabetizador no

processo de ensino, para favorecer a aprendizagem das crianças dos anos iniciais do ensino

fundamental.

Figura 7 – Cadernos do PNAIC de 2015 (1-6)

Fonte: PNAICUFC/CE (2015).

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Figura 8 – Cadernos do PNAIC de 2015 (7-10)

Fonte: PNAICUFC/CE (2015).

Este material, conforme o caderno de gestão (BRASIL, 2015, p. 47), foi estruturado

com propostas de atividades em modalidades organizativas de projeto didático, sequência de

atividade/didática, atividades permanentes ou atividades de sistematização.

A concepção adotada no âmbito do PNAIC é a da Alfabetização na

perspectiva do Letramento. Ou seja, entende-se e defende-se que é preciso

que a criança domine o sistema de escrita Alfabética, mas que também

desenvolva habilidades de fazer uso desse sistema em diversas situações

comunicativas, com autonomia. (ARAÚJO, 2015, p. 21).

Assim, a preocupação da educação passa a não ser mais apenas a de ensinar a criança

a ler e a escrever, mas de lançar mão de recursos que possibilitem a integralidade do

conhecimento para que ela possa vir a fazer o uso social da leitura e da escrita dentro da sua

realidade.

O material do PNAIC, especificamente a unidade 06 de 2012 e o caderno 03 de

interdisciplinaridade, de 2015, tratam da importância da organização do trabalho pedagógico

por meio de sequências didáticas. As concepções de SD que permeiam este material são de

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Zabala (1998), Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), Nery (2007) e Dubeux e Souza (2012, p.

28) discutem a reflexão feita por Leal (2005) sobre as situações didáticas defendidas por

Brousseau. Em 2013, por ser o ano com o enfoque em linguagem na formação do PNAIC, a

concepção prevalecente de sequência didática foi de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), que

tem por objetivo o ensino e a aprendizagem de um determinado gênero textual, mas sempre

trabalhando a importância da interdisciplinaridade.

O trabalho a partir de SD é uma das maneiras que o PNAIC apresenta para os

alfabetizadores desenvolverem suas práticas cotidianas. Pessoa (2015, p. 64) destaca que “Um

aspecto importante do uso das sequências didáticas é a possibilidade de desenvolver um

trabalho interdisciplinar e, desse modo, poder contemplar, por meio de atividades

diversificadas e articuladas, variados componentes curriculares”, pois a construção do

conhecimento pelo aluno será facilitada e acontecerá de maneira significativa.

No entanto, diante das concepções apresentadas, Lima, Leal e Teles (2012, p. 23),

enfatizam que alguns aspectos devem ser observados ao escolher em que perspectiva se deseja

trabalhar a sequência didática: os objetivos a partir das necessidades dos alunos, a intenção do

educador diante do ensino e o eixo de articulação (tema, gênero textual, um conteúdo

específico, etc.). Outras dimensões também devem ser consideradas, como o tempo destinado

à SD, as etapas a serem trabalhadas, a forma de organização dos alunos, os recursos didáticos

e a avaliação. Durante a realização da sequência didática a mediação do professor é um

aspecto relevante, uma vez que ele deve estar atento a cada um dos alunos, descobrir o

conhecimento que já possuem e onde está a necessidade de intervenção. Foram apresentados,

no caderno de formação, exemplos de SD realizadas por alguns professores em sala de aula,

para que fossem discutidos nos estudos, com o intuito de fortalecer a prática pedagógica do

professor alfabetizador a partir desta organização.

4.2 O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa em Mato Grosso

O Estado de Mato Grosso também tem buscado estratégias para combater o

analfabetismo, o analfabetismo funcional e o baixo desempenho escolar. A partir de muitos

debates, entende-se que há a necessidade de investimentos na formação inicial e continuada.

A Lei Complementar 49/98, artigo 109, já assegura a valorização dos profissionais, e é

fortalecida pela Lei Complementar 50/98, no artigo 2, que defende carreira, piso salarial e

jornada de trabalho, para garantir ao profissional docente períodos reservados a estudos,

planejamento e avaliação.

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Mato Grosso aderiu ao programa PNAIC em parceria com a Universidade Federal de

Mato Grosso (UFMT), Secretarias Estadual e Municipais de Educação, assumindo o

compromisso, sugerido pelo MEC, de alfabetizar toda criança até os oito anos de idade. Para

o desenvolvimento desta ação, segundo a Cardoso, Rodrigues e Ferrarini, (2013, p. 13) houve

investimento na formação dos alfabetizadores e no aprimoramento da infraestrutura.

Foi uma mobilização intensa entre as instituições parceiras e os educadores, com o

propósito de realizar as ações necessárias para atender a demanda e alcançar as crianças mato-

grossenses. Isso traduz a complexidade do problema da alfabetização no país, por isso, o

Estado de Mato Grosso se engajou no compromisso de contribuir para a melhoria da

qualidade da educação.

O curso de formação docente foi realizado na mesma estrutura da proposta Nacional,

destacando-se os seminários de encerramento de cada ano, onde se reuniam todos os

professores formadores e orientadores de estudo para socializarem as experiências

vivenciadas nos municípios através do Programa.

A formação foi organizada, em 2013, em três polos, conforme dados obtidos junto à

Coordenação Geral do PNAIC: Cuiabá com quatro turmas, Rondonópolis com seis turmas e

Sinop com quatro turmas. A equipe era formada por:

01 Coordenadora Geral

01 Coordenadora Adjunta

03 Supervisoras

14 Professores Formadores ligados à UFMT, sendo um professor formador da área

de linguagem;

02 Apoios

139 Coordenadores Locais

336 Orientadores de Estudo oriundos das redes estadual e municipais de ensino;

5.964 Alfabetizadores

Em 2014, os polos foram unificados, ficando apenas um polo, o de Cuiabá, contando

com:

01 Coordenadora Geral

02 Coordenadoras Adjuntas

03 Supervisoras

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28 Professores Formadores ligados à UFMT, com dois professores formadores por

turma, um da área de linguagem e outro de matemática, por essa razão, o número

de professores dobrou em relação a 2013;

02 Apoios

142 Coordenadores Locais

317 Orientadores de Estudo advindos das redes estadual e municipais de ensino;

6.591 Alfabetizadores

Durante o ano de 2015, ainda de acordo com a Coordenação Geral, a formação do

PNAIC continuou em Cuiabá, contando com:

01 Coordenadora Geral

02 Coordenadoras Adjuntas

04 Supervisoras

13 Professores Formadores ligados à UFMT, sendo um por turma, da área de

linguagem ou de matemática;

02 Apoios

142 Coordenadores Locais

322 Orientadores de Estudo pertencentes às redes estadual e municipais de ensino;

5.957 Professores alfabetizadores

Os seminários realizados no final de cada ano tiveram como objetivo a troca de

experiências entre professores formadores e orientadores de estudo a partir das vivências em

seus municípios, junto aos professores alfabetizadores que estavam diretamente envolvidos

com os alunos. Essas experiências ficaram registradas nos anais dos seminários,

disponibilizados em CD-ROM para cada ano. Também foi publicada a Coleção PNAIC de

Mato Grosso: memórias de alfabetização - Histórias, experiências e reflexões: Pacto pela

alfabetização em Mato Grosso (2013), que reúne artigos e relatos de experiências da quase

totalidade dos professores orientadores dos três polos de estudos do PNAIC do ano de 2013,

distribuídos em três volumes (um livro por polo).

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Figura 9 – Coleção PNAIC de Mato Grosso

Fonte: Acervo da Coordenação Geral UFMT/PNAIC.

O objetivo desta coleção, segundo Cardoso, Rodrigues e Ferrarini (2015) enfatizam na

apresentação, foi o de dar voz aos participantes do PNAIC de Mato Grosso, da cidade, do

campo e das aldeias, a partir das experiências vivenciadas com avanços significativos, mas

também os desafios que ainda precisam ser superados.

Em 2017 foi lançado o quarto volume da coleção, nomeado Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa em MT: cenários e histórias da alfabetização. Segundo as

organizadoras Cardoso, Rodrigues, Kimura e Ferrarini (2016), é composto por dezenove

artigos com relatos de experiência de autores que ocupam diferentes funções nesse Programa,

como professores formadores, supervisores, orientadores de estudo, coordenadores locais,

professores alfabetizadores e membros da coordenação geral, de diversos municípios do

Estado.

Este livro se insere na perspectiva de pesquisas em educação e de ações de

formação continuada que tem como mote um interesse específico pelo

professor. Fundamentalmente, se deseja dar voz aos professores, valorizando

suas experiências que, paulatinamente, passam a ser registradas. (As

Organizadoras, 2016)

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Figura 10 – Coleção do PNAIC de Mato Grosso

– Vol. 4

Fonte: Acervo Batista (2017).

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5 REFLEXÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo dedica-se à análise dos 17 materiais recebidos como amostra, segundo as

etapas realizadas na pré-análise, constituindo-se na fase do “Tratamento dos resultados

obtidos e interpretação”, em que “Os resultados brutos são tratados de maneira a serem

significativos (“falantes”) e válidos” (BARDIN, 2004, p. 131 – grifos da autora), como foi

destacado anteriormente. Os dados aqui analisados são registros em documentos enviados

pelas colaboradoras. Portanto, é isso que é tomado como objeto de análise, para inferir se

consistiram em propostas interdisciplinares ou não. Para tanto, os dados foram organizados

em dois blocos: sequências didáticas multidisciplinares, em que, embora tenha havido a

participação de duas ou mais disciplinas, não houve uma integração do conhecimento, e

sequências didáticas interdisciplinares, nas quais se percebe a interação e integração do

conhecimento entre duas ou mais disciplinas.

5.1 Bloco das SD com perspectivas multidisciplinares

Professora Mariza

A PA Mariza atuou numa turma de 3º ano do Ensino Fundamental em uma Escola

Municipal no ano de 2014, onde elaborou uma proposta de SD em parceria com outra

professora de 3º ano a partir do conto “Chapeuzinho Vermelho”, primeiramente na versão de

Charles Perralt e depois a versão dos Irmãos Grimm e colaborou com a nossa pesquisa

enviando a proposta de SD e o relato do seu desenvolvimento em sala de aula. Na proposição

da SD constam os eixos de Leitura, Produção de texto, Oralidade, Análise linguística do

componente curricular de Língua Portuguesa e compreensão do sistema de numeração

decimal, habilidade de cálculo com números de várias ordens, de matemática. Apresentou

também os direitos de aprendizagem das três disciplinas selecionadas para o trabalho,

relativos aos eixos descritos anteriormente e os conteúdos pretendidos conforme descreveu:

Ler textos com autonomia; estabelecer relação de intertextualidade entre

textos; organizar o texto, dividindo-o em tópicos e parágrafos; participar de

interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e

respeitando os turnos de fala; reconhecer gêneros textuais e seus contextos

de produção; compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentes

propósitos; antecipar sentidos e ativar conhecimentos prévios relativos aos

textos a serem lidos pelo professor ou pela criança; localizar informações

explicitas em textos de diferentes gêneros e temáticas lido pelo professor ou

leitor; associar a denominação do número a sua respectiva representação;

utilizar diferentes estratégias para quantificar e comunicar quantidade de

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elementos de uma coleção, nas brincadeiras e em situações nas quais as

crianças reconhecem sua necessidade: Contagem oral, pareamento

estimativo e correspondência de agrupamento; reconhecer termos como

dezena e meia dezena centena e meia, associando as suas respectivas

quantidades; perceber e constatar que o corpo humano percebe os estímulos

através dos sentidos. (PA Mariza, 2014)

Teve como objetivo: “Conhecer diferentes versões da história Chapeuzinho Vermelho,

ampliar o vocabulário, construir e compreender de maneira lúdica o valor posicional de cada

algarismo e os cinco sentidos do corpo através da história”. (PA Mariza, 2014)

No relato enviado, a PA Mariza descreveu o passo a passo do desenvolvimento, do

conjunto de atividades conforme Zabala (1998). Organizou-a em alguns passos, como

proposto por Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004): 1º momento, 2º momento..., mas não

objetivou o ensino de um gênero específico, embora tenha iniciado pelo gênero conto. Os

momentos de atividades descritos aconteceram com certa fragmentação dos saberes das

disciplinas selecionadas conforme indica no excerto “Depois de trabalhar com a história do

chapeuzinho vermelho vamos jogar ganha 100 com tapetinho para assimilação da centena

dezena e unidade” (PA Mariza, 2014). A professora disponibilizou alguns registros das

crianças realizando as atividades conforme as Figuras 11 e 12 apresentam.

Figura 11 – Atividade com os olhos vendados

Fonte: Acervo da Professora Mariza (2014).

Nessa atividade, as crianças foram motivadas a aguçar os sentidos, inclusive o tato,

procurando perceber ou descobrir qual era o objeto manuseado.

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Figura 12 – Atividade no Quadro Valor de Lugar (QVL)

Fonte: Acervo da professora Mariza (2014).

Essa figura mostra uma aluna utilizando o quadro valor de lugar, para resolver uma

situação problema, para compreender o sistema de numeração decimal e desenvolver

habilidades de cálculo. As demais atividades foram impressas a partir do conto trabalhado,

contemplando as disciplinas envolvidas. Utilizou o jogo ganha cem, propiciou a interação

entre os alunos, porém, não houve o compartilhamento, a integração dos conhecimentos de

cada uma. Nesse caso, aconteceu com a perspectiva multidisciplinar, percebida através das

atividades realizadas que foram mencionadas na proposta e foram descritas no relato,

conforme trecho a seguir: “Segundo, foi solicitado que respondessem perguntas referentes à

história no caderno, completassem um trecho da história, pintassem no texto palavras com nh

– lh e escolhessem duas formas e formassem frases ” (PA MARIZA, 2014).

Para finalizar, a professora ainda passou uma versão mais atualizada da história no filme

“Deu a louca na Chapeuzinho Vermelho” versão original Hoodwinked (2005), pelo diretor

Cory Edwards, com a finalidade de que os alunos fizessem a relação entre as três histórias

“As crianças ficaram muito atentas e quando acabou o filme questionei qual a diferença entres

as três histórias já ouvida e assistida” (PA Mariza, 2014) onde a professora solicitou que as

crianças escrevessem um final diferente para o conto.

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Professora Maiane

A PA Maiane nos forneceu a SD com o tempo previsto de 2 aulas de 4 horas cada uma

e o relato do seu desenvolvimento numa turma de 1º ano do Ensino Fundamental, realizada

em 2015, em uma Escola Municipal. Em sua proposição, destaca os eixos e direitos de

aprendizagem dos componentes curriculares de Português - oralidade Análise linguística:

discursividade, textualidade e normatividade; Matemática – grandezas e medidas; alguns dos

direitos de aprendizagem de Ciências, História e Geografia, que estão previstos nos cadernos

do PNAIC, e trabalhou também a disciplina de Artes, mas não apresentou quais foram os

direitos de aprendizagem trabalhados. Teve como objetivo geral:

Promover momentos de ensino aprendizagem com a utilização de recursos

curriculares, pedagógicos, espaço e tempo de todo e qualquer ambiente

escolar onde se pretende instigar à criança a construção de novos

conhecimentos e da aquisição do prazer pela leitura e compreensão textual

das mais variadas situações socioculturais que o aluno vivencie. (PA

MAIANE, 2015)

Como metodologia, previu que trabalharia “Na perspectiva de produção de Schneuwly

que parte de um gênero textual, sendo o gênero utilizado a obra complementar do PNAIC

“Balas, Bombons, Caramelos”, de Ana Maria Machado, ilustração de Elisabeth Teixeira” (PA

Maiane, 2015). Iniciou pelo gênero conto, como introdução para as demais atividades,

posteriormente, utilizou outros gêneros, como panfleto, bilhete, convite e texto informativo.

No entanto, não teve como objetivo o ensino de um gênero específico.

A SD foi organizada em momentos, conforme sugere o autor, mas foram momentos

estabelecidos em hora e vez da fala, hora da observação, hora da pesquisa, hora do raciocínio,

hora da produção escrita, hora da produção artística. Isso nos leva a inferir que, apesar do

trabalho ser descrito pela professora como interdisciplinar, este se aproximou mais do

multidisciplinar. Vejamos a seguir o excerto retirado da proposição da SD:

Investir em produções coletivas e individuais (com a interdisciplinaridade

entre as áreas do conhecimento linguagem escrita (português e artes),

linguagem matemática e ciências), ciências humanas e sociais buscará a

integração de situações de ensino e aprendizagem que exalte e que garante a

criança, direitos de aprender brincando. (PA MAIANE, 2015)

Nesse excerto, compreende-se que a professora teve a intenção de uma SD

interdisciplinar, no entanto, no decorrer da SD, ela apresenta parcialmente como foi o

desenvolvimento das atividades, e informa sobre os momentos, conforme segue:

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[...] um total de dezenove atividades que contemplam direitos e habilidades

de aprendizagem para os alunos do 1º ano da escola pública municipal

Professor José Olavo da Silva Ghiraldi. Separado em seis momentos

distintos: hora e vez da fala, hora da observação, hora da pesquisa, hora do

raciocínio, hora da produção escrita, hora da produção artística. (PA

MAIANE, 2015)

Os momentos de atividades revelam que o trabalho aconteceu numa perspectiva

multidisciplinar, em que diversas disciplinas foram envolvidas, porém, não houve a

integração dos conhecimentos das disciplinas trabalhadas e o fato de as atividades serem

organizadas em momentos como mencionado no excerto anterior, acabou por favorecer certa

fragmentação do conhecimento.

As Figuras 13 e 14 mostram algumas atividades realizadas pelos alunos no

Laboratório de Informática (LI), atividade escrita onde os alunos foram pesquisar sobre

alguns animais da história a partir de questões direcionadas. Em seguida, as crianças

produzindo desenhos para representar a história.

Figura 13 – Pesquisa LI

Fonte: Acervo da professora Maiane (2015).

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Figura 14 – Atividade de produção de desenho

Fonte: Acervo da professora Maiane (2015).

Houve um esforço por parte da docente em desenvolver um trabalho interdisciplinar,

com características aproximadas, que é o caso do envolvimento de mais de duas disciplinas,

participação efetiva da turma, mas o quesito de integrar o conhecimento não se concretizou.

Professora Meire

A PA Meire enviou uma proposição de SD e o relato do desenvolvimento dessa SD

realizada numa turma de 2º ano do Ensino Fundamental, de uma Escola Municipal, no ano de

2014 com o tempo de duração previsto para cinco encontros. A PA definiu como tema “Quem

vai ficar com o pêssego”, da obra literária de Yoon Ah-Hae, que faz parte do acervo

complementar do PNAIC para o ano 1. Esse foi o ponto de partida para o desenrolar das

atividades. O objetivo geral foi o de desenvolver a leitura, a escrita e a interpretação de

situações problemas do campo aditivo. Elencou como objetivos específicos:

Aprimorar o gosto pela leitura; Recontar com suas palavras a história: Quem

vai ficar com o pêssego? Resolver e elaborar problemas aditivos que envolva

sentido de juntar/acrescentar, separar/retirar e comparar quantidades;

Produzir coletivamente situações problemas que envolva problemas aditivos;

Interpretar o texto lido pelo professor, realizando inferências; Segmentar

palavras em silabas comparando suas silabas, quantidades de vogais e

consoantes; Escrever a partir das imagens do texto. (PA MEIRE, 2014)

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Esses objetivos foram descritos na proposta elaborada, que a professora complementa

no relato: “Para atingirmos o nosso objetivo iniciamos o trabalho partindo da história “Quem

vai ficar com o pêssego”? (PA MEIRE, 2014). Utilizou os eixos e direitos de aprendizagem

apresentados pelo PNAIC, dos componentes curriculares de Português e Matemática, que

foram selecionados para o trabalho.

A SD foi organizada como um conjunto de atividades, que entendemos que teve a

perspectiva de Zabala (1998), pois houve delimitação em momentos e, embora tenha utilizado

os passos da SD proposta por Schneuwly (2004) (1º momento, 2º momento...), não teve como

objetivo o ensino de nenhum gênero textual. Tiveram atividades de leitura dialogando sobre a

história, as quais a professora considerou como produtivas, assim como demostra o trecho que

segue: “O primeiro momento foi bem produtivo, os alunos participaram bastante, prestaram

atenção em cada detalhe da história. Nesta atividade observaram a capa do livro, buscando

informações de título, autor, imagem etc”.(PA MEIRE, 2014).

Foram intercaladas, nos momentos descritos, atividades das disciplinas de Português e

Matemática, os alunos realizaram situações problemas, produziram textos, um deles que foi

destacado foi um relato sobre como foi o momento de resolução das situações problemas,

como produção final: “Para finalizar esta proposta didática, pedi aos alunos a construção de

um relato que conte como foi produzir esses problemas. As produções foram realizadas com

grande afinco, querendo demonstrar em cada linha como foi esse momento.” (PA MEIRE,

2014).

A partir da proposição e do relato do desenvolvimento da SD, se percebe que foi

realizada numa perspectiva multidisciplinar, com a justaposição dos conteúdos com certa

fragmentação do conhecimento, e isso fica revelado na fala seguinte: “O terceiro momento

entregamos situações problemas impressas; de princípio, ficaram eufóricos com os problemas,

já queriam saber se é de mais ou de menos”. (PA MEIRE, 2014)

Procurou envolver as disciplinas, houve boa interação dos alunos, porém, a integração

do conhecimento, de acordo com as concepções constantes nessa pesquisa, não se efetivou,

pois a interdisciplinaridade exige um verdadeiro envolvimento e troca de saberes que

contribua para a construção de novos saberes. A professora disponibilizou algumas imagens

dos alunos realizando as atividades (Figuras 15 e 16).

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Figura 15 – Atividade de jogos

Fonte: Acervo da professora Meire (2014).

Figura 16 – Atividade escrita

Fonte: Acervo da professora Meire (2014).

A partir das atividades realizadas e descritas pelas professoras Mariza, Maiane e

Meire, compreende-se que a organização se encaminhou numa perspectiva multidisciplinar,

pois envolveram diversas disciplinas do componente curricular, e, de acordo com os autores

que embasaram esta pesquisa, houve uma interação entre essas disciplinas. No entanto, não

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houve o esforço de compartilhamento dos saberes entre elas. Isso foi demostrado quando

acontecia a ruptura entre uma atividade e outra, como no caso da professora Maiane, quando

especifica hora e vez da fala, hora da observação, hora do raciocínio, etc., ou, ainda, a

separação entre uma disciplina e outra, o que ocorreu com a professora Meire, quando

intercalou atividades de Português e de Matemática, uma seguida da outra, e assim por diante.

No entendimento da interdisciplinaridade como um movimento complexo e que

acontece processualmente na educação, considera-se o desenvolvimento das SD realizadas

como parte desse movimento, amparados em Japiassu (1978, p. 85) que pressupõe uma

passagem gradual do multidisciplinar ao interdisciplinar. Por esse motivo, foram interpretadas

como avanço na prática pedagógica das alfabetizadoras em questão.

Isso significa que a busca deve ser constante, no pensar, no agir, na mudança de

atitude, para haver o movimento entre as disciplinas, conforme afirma Yared (2013, p. 171),

sobre a interdisciplinaridade: “[...] é um ato de reciprocidade e troca, integração e voo;

movimento que acontece entre o espaço e a matéria, a realidade e o sonho, o real e o ideal, a

conquista e o fracasso, a verdade e o erro, na busca da totalidade que transcende a pessoa

humana”.

5.2 Bloco das SD com perspectivas interdisciplinares

Professora Irma

A professora Irma enviou uma SD constando a proposição com os objetivos gerais de

desenvolver a oralidade; estimular os alunos a se alimentarem com alimentos nutrientes e

saudáveis; valorizar a importância de uma boa alimentação para ter uma vida saudável;

identificar os alimentos naturais e industrializados. Selecionou as disciplinas de Português,

Matemática e Ciências, para um período previsto de seis aulas, para ser desenvolvida no ano

de 2013, numa turma de 3º ano do Ensino Fundamental. Descreveu as atividades que foram

realizadas com recursos de vídeo, aulas no laboratório de informática, na biblioteca e

disponibilizou imagens dos alunos realizando-as. O material não fornece todas as informações

desejadas, mas traz o necessário para o objetivo que se pretende. A SD foi intitulada de

“Alimentação saudável”, com atividades referentes à alimentação, saúde, estímulo para bons

hábitos alimentares, conforme evidencia a declaração abaixo, em que a professora faz a

avaliação final do trabalho realizado:

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A partir da aplicação das atividades, os mesmos compreenderam a

composição química dos alimentos e a necessidade de cada nutriente para a

manutenção de um organismo saudável e como uma alimentação balanceada

pode auxiliar na prevenção de doenças (PA IRMA, 2013).

Figura 17 – Alunos assistindo o vídeo Nutriamigos

Fonte: Acervo da professora Irma (2013).

A Figura 17 mostra o momento inicial da SD, onde as crianças estão assistindo ao

vídeo Nutriamigos, um vídeo realizado pelo Programa de educação Nutricional – PEN em

parceria com a Nestlé para incenstivar a alimentação saudável e equilibrada e em seguida,

desenvolverem as demais atividades previstas. A professora declara, na fala a seguir, qual foi

a importância desse momento: “Com este vídeo, logo em seguida os alunos registram por

escrito ou por desenhos o que entenderam sobre a importância de tomar café da manhã e

aprender a consumir frutas e verduras nas alimentações diárias”. (PA IRMA, 2013)

A Figura 18 é o registro de uma atividade escrita a partir da pesquisa realizada na

biblioteca sobre a origem de algumas frutas e legumes.

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Figura 18 – Escrita dos alunos a partir da pesquisa

Fonte: Acervo da professora Irma (2013).

Na Figura 19, as crianças tiveram a oportunidade de registrar, através de desenho e

escrita, a interpretação que tiveram sobre as atividades desenvolvidas, especialmente da

leitura deleite realizada neste dia, da fábula “A raposa e as uvas”, atribuída a Esopo, escritor

grego e que foi reesceita por Jean La Fontaine.

Figura 19 – Interpretação escrita dos alunos

Fonte: Acervo da professora Irma (2013).

Inferimos que a SD foi realizada em sequências de atividades, o que nos leva a crer

que tem uma base em Zabala (1998). Teve uma perspectiva interdisciplinar, pois

compreendeu atividades diferenciadas de pesquisa, trabalhos com rótulos, dentre outros, de

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maneira que integrou os conhecimentos das disciplinas envolvidas, o que fica evidenciado no

trecho a seguir, em que a professora enfatiza o objetivo do trabalho com rótulos de alimentos:

“Fazer a leitura de rótulos das embalagens, compreendendo a importância de, ao comprar o

produto, observar a data de validade. Registrar as datas de fabricação e validade de cada

produto” (PA IRMA). Segundo a professora, houve interação e participação efetiva dos

alunos, que contribuiu para a aprendizagem significativa dos mesmos. Relata a professora:

“[...] enquanto professora, observei o quanto todos alunos interagem e participam nas

atividades propostas, tornando as aulas mais prazerosas e aperfeiçoando o conhecimento de

cada um” (PA IRMA, 2013).

Professora Isaura:

Analisamos a proposta da PA Isaura, que trabalhou numa turma de 2º ano do Ensino

Fundamental de uma Escola Municipal, no ano de 2014. Na proposta, explicita a utilização

dos componentes curriculares de Matemática e Português, dos eixos Números e Operações/

Leitura e Análise Linguística e os direitos de aprendizagem que trabalharia nessas disciplinas.

Deixou claro, da mesma forma, os objetivos geral e específicos da SD, que foram:

Objetivo Geral: Desenvolver habilidades de leitura, produção e compreensão

de diferentes gêneros. Objetivos Específicos: Ler e localizar informações

explícitas no conto; Organizar frases de acordo com a sequências dos fatos;

Ler, interpretar, resolver e elaborar situações-problema; Utilizar o algoritmo

convencional da adição e da subtração para efetuar operações; Segmentar

palavras em silabas e identificar a quantidade de letras e sílabas; Utilizar

agrupamento de 10 para facilitar a contagem. (PA Isaura, 2014 – Dados da

pesquisa)

Trabalhou jogos e organizou o cantinho da leitura. Iniciou a SD a partir do conto do

“Livro dos Números, Bichos e Flores”, da autora Cléo Busatto, das obras complementares do

PNAIC.

As Figuras 20 e 21 ilustram momentos em que as crianças trabalhavam atividades de

escrita e com jogos.

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Figura 20 – Atividade escrita

Fonte: Acervo da professora Isaura (2014).

Figura 21 – Atividade com jogos

Fonte: Acervo da professora Isaura (2015).

Observa-se que a professora elaborou a proposta da SD e um relato descrevendo como

aconteceu o seu desenvolvimento em sala de aula, explicando sua atuação, a participação dos

alunos e as inferências necessárias para acontecer a aprendizagem, como é possível notar na

transcrição abaixo:

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Ao realizarmos o estudo escrito da capa do livro, observei que apesar das

explicações dadas no cantinho da leitura, alguns alunos ainda não

conseguiam localizar as informações requisitadas. Então mostrei cada

informação contida neste suporte e utilizei outros livros do nosso acervo para

que pudessem compreender melhor. (PA ISAURA, 2014)

Utilizou as orientações sugeridas pelo Programa, dentre elas, a organização do

cantinho da leitura, quando relata que fez a “Organização dos alunos no cantinho da leitura,

para que possam acompanhar a história” (PA ISAURA, 2014). Realizou também a leitura

deleite como parte da rotina diária e os jogos para favorecer a aprendizagem significativa.

Ficou evidente que a SD tem base em Zabala (1998), compreendida como sequência

de atividades, mesmo que a professora tenha organizado as atividades em momentos, como

preconiza Schneuwly, contudo, não objetivou o ensino de um gênero específico. Mesmo que

não tenha utilizado nem na proposição nem no relato o termo interdisciplinaridade ou similar,

percebemos que a professora desenvolveu um trabalho interdisciplinar, ao fazer uma

integração dos saberes entre os componentes curriculares selecionados. O recorte a seguir

demonstra parte desta compreensão, através da fala do aluno, direcionada à professora:

“Professora, eu percebi que os animaizinhos do jardim vão aumentando porque antes eles

estavam dormindo, e quando o dia amanheceu, acordaram e foram passear então, o livro conta

a história dos números.” (PA Isaura, 2014).

A professora destaca como foi importante a participação do aluno ao declarar o que

entendeu da história: “Este comentário contribuiu para que outros alunos também

percebessem a sequência numérica contida na história” (PA ISAURA, 2014).

Professora Isadora

A PA Isadora enviou pela OE o material impresso, com a proposição de SD a ser

realizada numa turma de 2º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Estadual, no ano de

2014. O que atestou a realização da SD foi o relato da OE, que foi anexo com a proposição da

professora, onde descreve como aconteceu o desenvolvimento das atividades em sala de aula,

enfatizando que as acompanhou por um período de 31 (trinta e um) dias.

Dentro da proposta elaborada pela professora, consta como objetivo geral:

Aprender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêneros, lidos pelo

professor ou leitor experiente. Estimular a leitura, a pesquisa e a curiosidade

em relação aos assuntos referentes ao processo de metamorfose da lagarta,

bem como as principais características de algumas espécies de animais. (PA

Isadora, 2014)

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Também descreve como objetivos específicos:

Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas; Reconhecer

a finalidade dos textos lidos; ler e interpretar textos; relacionar fonemas e

grafemas; decodificar palavras e frases; Observar, registrar e socializar

informações; pesquisar assuntos específicos; ampliar o vocabulário;

relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema de escrita,

as variantes linguísticas e os diferentes gêneros textuais; utilizar estratégias

diferenciadas na solução de situações problema; associar a denominação do

número e sua respectiva representação simbólica; comparar, agrupar e

ordenar quantidades; observar o processo de metamorfose da lagarta;

relacionar as informações científicas lidas com conhecimentos anteriores;

identificar as principais características de alguns animais; estimular a

criatividade e a coordenação motora fina; realizar a releitura de imagens.

(PA Isadora, 2014)

Elencou os conteúdos e as atividades para alcançar cada objetivo de acordo com os

componentes curriculares selecionados para o trabalho, que foram Português, Matemática,

Ciências e Artes. Iniciou as atividades a partir do conto “O caso da lagarta que tomou chá de

sumiço”, de Milton Célio de Oliveira Filho. Para melhor compreensão da história, a

professora realizou uma pesquisa com os alunos, com a ajuda de um borboletário, para o

conhecimento do processo da metamorfose. O excerto do relato da OE, enviado para a

pesquisa sobre a SD desenvolvida pela PA Isadora revela que acompanhou de perto as aulas e

como houve a interação do conhecimento:

A curiosidade e o desempenho das crianças foram tamanhos que a cada dia

chegavam com novas informações, filmes, livros sobre o assunto e outras

lagartas e casulos de variadas espécies, trazidas de casa para socializar com

os colegas. O lúdico também esteve presente por meio de jogos propostos,

como o da memória, explorando a leitura do nome de animais, bem como o

voo da borboleta (adaptação da corrida de carrinhos sugerida no caderno de

jogos de matemática) no qual foram exploradas situações problematizadoras,

estimulando o raciocínio lógico, a adição, a subtração e a sequência

numérica. À medida que as crianças iam desenvolvendo as atividades de

leitura e escrita, paralelamente, iam observando, no borboletário, admirados

e curiosos, os ovos que se rompiam, o desenvolvimento e o crescimento dos

casulos e o tempo que levavam para se transformarem em borboletas.

Segundo a professora, foi gratificante vivenciar com os alunos a surpresa e

emoção ao presenciarem o nascimento de várias borboletas, a necessidade

que tinham de tocar, fotografar, desenhar, soltá-las no pátio da escola e

observar o voo livre, imaginando para onde iriam, e a felicidade ao encontrar

alguma voando nos ambientes da escola. (Orientadora de Estudo, 2014)

A PA Isadora não informou qual é a concepção de SD utilizada, mas depreendemos

que se apoia em Zabala (1998), com a compreensão de SD como sequência de atividades.

Também segundo o relato da OE, a PA utilizou, em um dos momentos, a SD na concepção de

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Schneuwly (2004), mas, ainda que tenha trabalhado diversos gêneros textuais (conto, poema,

cantiga, texto informativo), teve como foco o ensino do gênero poema, seguindo as etapas

propostas pelo autor, e, como produção final, a composição de um poema coletivo com os

alunos. A professora não enviou nenhuma imagem das crianças ao realizar as atividades.

Visualizamos a SD com perspectiva interdisciplinar, em que houve a interação e

integração do conhecimento demonstrada na proposição da SD realizada pela PA Isadora e

confirmada pelo relato da OE.

Professora Isabel

A PA Isabel nos encaminhou uma SD desenvolvida em 2014 e um Projeto

desenvolvido em 2015, numa turma multisseriada de Educação Infantil e 1º ao 5º ano do

Ensino Fundamental de uma Escola Municipal, ambos em arquivo formato Power Point™.

Tendo em vista que o foco central dessa pesquisa é a Sequência Didática e que apenas esta PA

enviou projeto didático, ele não será foco de análise nessa dissertação.

A SD foi intitulada de “Animais do meu sítio”, e partiu da leitura da obra literária

“Vamos Passear”, de Sue Williams, não faz parte do acervo do PNAIC, faz parte das obras já

constante no acervo da escola. Principiou com a produção inicial, o que evidencia que a base

de sua concepção de SD foi a de Schneuwly, embora não o identificasse em sua proposição, e

também não teve como objetivo a produção de um gênero específico. Utilizou os eixos

Leitura e escrita, números e operações para trabalhar os componentes curriculares de

Português e Matemática; descreveu os objetivos específicos para o desenvolvimento da SD:

Proporcionar aos educandos o desenvolvimento corporal, artístico e oral;

despertar no educando o interesse pela leitura e escrita; proporcionar ao

educando um maior entendimento sobre números e numerais, interpretação

das situações problemas; identificar os animais que têm no sítio dos

educandos; reconhecer a importância desses animais para a vida do ser

humano; ler e interpretar pequenos textos; identificar rimas na história;

compor palavras, frases e pequenos textos; analisar informações com base

em dados coletados; construir gráficos a partir de dados coletados; fazer a

relação de números e quantidades; resolver situações problemas. (PA

ISABEL, 2014)

Nas atividades diárias estava presente a leitura deleite e a realização de alguns jogos,

o que demonstra que a professora estava levando para a sala de aula as orientações do PNAIC.

Forneceu imagens das crianças realizando as atividades, confeccionando gráficos da pesquisa

que realizaram em sala de aula sobre as espécies de animais que faziam parte da história.

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Na Figura 22, apresentada logo a seguir, é possível observar os alunos confeccionando

um gráfico.

Figura 22 – Alunos confeccionando o gráfico

Fonte: Acervo Professora Isabel (2014).

Inferimos que a SD foi desenvolvida numa perspectiva interdisciplinar, pois houve

interação e integração do conhecimento, como fica evidenciado no seguinte relato:

Depois de feita a leitura do livro “Vamos Passear?” foi feito um cartaz com a

história do livro, dei a história digitada para os alunos ler, interpretar e

escrever o que mais chamou a sua atenção na história. Depois dei como

tarefa a pesquisa sobre que espécie de animais eles têm no seu sítio. Após o

levantamento de dados sobre as espécies de animais existente no sítio, foi

desenvolvido um trabalho com gráficos. (PA ISABEL, 2014)

A professora também procurou valorizar a realidade das crianças, proporcionando a

construção do conhecimento, visto que se trata de uma escola rural e multisseriada suas

especificidades devem ser contempladas. Embora ela não tenha mencionado em nenhum

momento da descrição do desenvolvimento da SD o termo interdisciplinaridade ou similar, os

registros na proposição e no relato nos permitem tal compreensão, pois conseguiu envolver as

disciplinas selecionadas para o trabalho compartilhando os conhecimentos de cada uma.

Professora Inês

A PA Inês enviou apenas o relato sobre o desenvolvimento da SD em sala de aula

numa turma de 2º ano do Ensino Fundamental, de uma Escola Municipal, em 2013. A PA

explica que o objetivo da SD era o ensino do gênero receita e envolveu os componentes

curriculares de Português, Matemática e Geografia. Compreendemos que a professora

pretendia desenvolver uma SD na perspectiva de Schneuwly, quando diz que o objetivo era o

ensino do gênero receita: “Coloquei para a turma que o objetivo era ensinar o gênero textual

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receita, e que uma receita está dividida em duas partes: ingredientes e modo de fazer.

Juntamente com a turma fizemos a produção de uma receita no coletivo” (PA Inês, 2013).

Ela descreve que apresentou à turma diversos livros contendo receitas culinárias e

pediu que os alunos pesquisassem, em casa, alguma receita para levarem à escola. Depois,

propôs a produção de uma receita coletivamente, conforme segue:

Expliquei para a turma que há umas infinidades de receitas tais como: receita

de bolo, de pão, pudim, canjica, farofa etc. E também há receita de como

arrumar uma gaveta, como lavar a cabeça, como fazer sabão caseiro, enfim

vários outros tipos de receitas foram citadas. A partir desse conhecimento

solicitei aos alunos que pesquisassem receita junto com a família para

montar um mural na sala de aula. Essa receita deveria ser aquela que a

mamãe sempre usa em casa na preparação de algum prato. (PA INÊS, 2013)

Declara que, a partir do conhecimento do gênero, interagiu com o conhecimento de

Matemática e Geografia, o que faz entender que houve um trabalho interdisciplinar, com

jogos, roda de conversa, piquenique, de forma que a aprendizagem aconteceu de forma lúdica.

Conseguiu envolver diversas atividades e conhecimentos sem perder o foco, que foi o ensino

do gênero receita culinária.

Figura 23 – Os alunos em momento de leitura e roda de conversa

Fonte: Acervo da Professora Inês (2013).

A Figura 23 mostra um momento agradável de leitura e roda de conversa, sobre o

gênero estudado, depois, retornaram para a sala de aula, onde continuaram as atividades,

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dentre elas, a elaboração de um gráfico com os aniversariantes da turma para aprender sobre a

medida do tempo em dia, mês e ano. Confeccionaram, ainda, um relógio para manusear e

aprender sobre a medida do tempo em horas e minutos.

Figura 24 – Atividade com jogos

Fonte: Acervo da Professora Inês (2013).

Figura 25 – Atividade escrita

Fonte: Acervo da Professora Inês (2013).

A Figura 25 mostra atividades de escrita das crianças na interpretação de texto e

confecção de um calendário dentre outras atividades desenvolvidas.

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Professora Isabela

A SD da PA Isabela, que foi desenvolvida numa turma de 2º ano do Ensino

Fundamental de uma Escola Municipal, em 2014. A professora enviou o material em arquivo

formato Power Point ™, apresentando todo o desenvolvimento da SD com imagens dos

alunos. Traz o objetivo geral: “Garantir aos estudantes do 2º ano vespertino, através da

sequência didática a ser proposta, os direitos de aprendizagem, com ênfase na matemática, na

leitura e escrita, com o intuito de ampliar os conhecimentos dos mesmos.” (PA Isabela, 2014)

os eixos e direitos de aprendizagem dos componentes curriculares selecionados para o

trabalho, que foram Português e Matemática. Escolheu como tema “Convite de Aniversário” e

definiu um período de 15 (quinze) dias para a realização das atividades. A professora

mantinha, na rotina, o momento da leitura deleite e foi a partir daí que iniciou a SD com a

leitura do conto “A festa do Jabuti”, contida no livro didático de língua portuguesa “Porta

Aberta” de Flávia Muniz, como ponto de partida para o ensino do gênero textual convite de

aniversário. Em diversos momentos, questionou os alunos sobre o conhecimento inicial do

gênero, através de algumas indagações, e prosseguiu com as atividades previstas, como

modelos de convites, leitura, releitura dos textos. Em sua fala observamos a participação das

crianças na escolha do convite: “A partir de todo esse diálogo fizemos uma votação entre os

estudantes, o qual o convite foi o vencedor, dando continuidade ao trabalho com este gênero

textual o convite de aniversário”. (PA Isabela, 2014).

Houve a transição entre as concepções de SD de Schneuwly e Zabala, sem se perder

de seus propósitos. Constituiu a SD com atividades sequenciadas (ZABALA, 1998. A

professora afirma que: “estes trabalhos desenvolvidos em sala com sequência é mais uma

forma, o qual possibilita o educador refletir e avaliar a sua própria prática docente analisando

os pontos positivos e negativos”. (PA Isabela, 2014)

Objetivou o ensino do gênero convite de aniversário e conseguiu trabalhar outros

gêneros textuais (lista, conto e cartaz), e solicitou que os alunos produzissem um convite do

próprio aniversário e outro para os pais, para uma comemoração do dia dos pais na escola,

como demonstra esse trecho: “Neste quinto momento também que os estudantes constroem o

seu primeiro convite”. (PA Isabela, 2014)

A Figura 26 evidencia como o trabalho foi desenvolvido e a produção dos convites,

pelas crianças.

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Figura 26 – Cartaz com os convites das crianças

Fonte: Acervo Isabela (2014).

Figura 27 – Convite individual

Fonte: Acervo Isabela (2014).

No decorrer da SD conseguiu fazer uma integração dos conhecimentos de Português e

Matemática sem perder o foco do ensino do gênero convite. Este movimento nos permite

entender que o trabalho foi desenvolvido numa perpectiva interdisciplinar, mesmo que a PA

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não tenha mencionado nenhum termo relacionado à interdisciplinaridade. Isso fica evidente

em sua descrição seguida das imagens que ilustram como o trabalho foi realizado.

Figura 28 – Trabalhando dias da semana e hora

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

A professora envolveu as crianças com atividades de diagramas, orientando que

destacassem os dias da semana, assim como trabalhou as horas, tudo para compreenderem

como podem medir o tempo, conforme a figura 28 apresentada.

A Figura 29 apresenta as atividades realizadas pelos alunos envolvendo o raciocínio

através do cálculo a partir de material concreto – o dinheiro.

Figura 29 – Trabalho com dinheiro

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

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Na Figura 30, vemos a professora ensinando como registrar a data de nascimento,

para, assim, compreenderem a utilização da medida do tempo no dia-a-dia.

Figura 30 – Trabalhando com os meses

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

As crianças deram sequência às atividades desenvolvidas, havendo momentos em que

discutiam a data de aniversário de cada um, o mês, o ano, e criaram um gráfico com as

informações da turma, que expuseram na sala de aula para exploração dos dados.

Figura 31 – Gráfico produzido pela turma

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

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São atividades importantes para a interação da turma, maior aproximação com os

colegas, aprendizagem de diversos conceitos matemáticos, bem como o desenvolvimento da

oralidade e da escrita.

A professora registrou, também, momentos importantes de trabalhos com figuras

geométricas e da escrita, como mostram as Figura 32 e 33, com a produção da lista de

convidados.

Figura 32 – Atividades sobre aniversário envolvendo figuras geométricas

Fonte: Acervo Professora Isabel (2014).

Figura 33 – Produção da lista de convidados

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

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O momento foi oportuno também para o a escrita e o conhecimento dos nomes

completos de cada aluno da classe, ocasião em que eles elaboraram convites para convidar os

colegas, listaram os nomes dos convidados e, na sequência, fizeram a lista dos nomes dos

alunos em um cartaz, para contarem quantos alunos tinham o nome com as mesmas iniciais, a

partir do alfabeto, como vemos na Figura 34.

Figura 34 – Convidando os colegas e lista dos nomes dos alunos da classe

Fonte: Acervo Professora Isabela (2014).

Trabalharam também a medida da estatura de cada um, numa interação significativa,

como se estivessem brincando, desenvolvendo habilidades importantes, aprendendo de

maneira lúdica, como registrado na Figura 35.

Figura 35 – Medindo estaturas

Fonte: Acervo da Professora Isabela (2014).

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A Figura 36 confirma que os jogos estão presentes na rotina das crianças da classe da

professora Isabela.

Figura 36 – Trabalhando com jogos

Fonte: Acervo Professora da Isabela (2014).

Verifica-se que a professora Isabela teve o cuidado de registrar cada atividade

desenvolvida por seus alunos, nessa sequência didática que ela se propôs a realizar como meio

de acrescentar informações sobre sua prática pedagógica, como fica declarado neste trecho

“[...] estes trabalhos desenvolvidos em sala é mais uma forma que possibilita ao educador

refletir e avaliar a sua própria prática docente analisando os pontos positivos e negativos” (PA

Isabela, 2014). Houve a possibilidade de maior discussão a respeito dessa sequência didática,

pelo fato de a professora ter disponibilizado mais detalhes astravés de imagens e do registro

relatando o desenvolvimento das atividades do que as demais SD e relatos recebidos.

Professora Iracema

A PA Iracema, nos encaminhou duas SD para análise, uma aplicada a uma turma de 1º

e outra de 2º ano do Ensino Fundamental. A análise é iniciada pela SD intitulada “Brincando

com as formas”, realizada no 1º ano de uma Escola Municipal, em 2014. O material foi

enviado em arquivo formato Power Point™, e seus slides contém a descrição do trabalho

realizado e as imagens das crianças em atividade. Esta SD teve o tempo estimado de duas

semanas. A professora elencou os eixos e direitos de aprendizagem das disciplinas

selecionadas, que foram Português, Matemática e Arte. Possui a prática da leitura deleite e foi

nesse momento que iniciou a SD, ao ler a obra “É o bicho”, de Jean-Claude R. Alphen, e, em

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outro momento, da obra “Clact, clact, clact”, de Liliana e Michele Iacocca, ambos presentes

no acervo de obras complementares do PNLD, enviados como suporte ao PNAIC. A SD traz

como objetivo o ensino das formas geométricas. Compreende-se que houve uma interação

entre as concepções de SD de Zabala (1998), como um conjunto de atividades, e de

Schneuwly (2004), com o propósito do ensino de um gênero textual, pois, no decorrer das

atividades, a professora trouxe o gênero poesia, utilizando a poesia “Rimas e formas

geométricas” para o ensino da estrutura da poesia. Entretanto, não houve a produção final do

gênero estudado. Definiu, como produto final, a confecção de um painel com a turma, com o

uso de pedacinhos de papel com as figuras geométricas. No trecho abaixo se percebe essa

interação:

Neste momento percebi a necessidade de trabalhar a poesia “Rimas e formas

geométricas” realizei a leitura individual, depois realizamos todos juntos,

até que perceberam as formas geométricas, por algumas vezes retomamos a

leitura do cartaz, depois de fixar bem a poesia, direcionei atividades em

formas de perguntas. Quantas letras tem cada palavra das formas

geométricas? Quantas estrofes? Quantas linhas o poema possui? Quais

números foram citados no poema? E várias outras, assim podendo registrar

os conteúdos.Trabalhamos o desenho com as formas, passei alguns exemplos

na lousa. (PA Iracema, 2014)

A a poesia foi escrita em um cartaz, para ficar mais visível e para facilitar o

entendimento dos alunos, conforme Figura 37. A figura apresenta, também, uma atividade de

interpretação, feita também através de desenho.

Figura 37 – Cartaz com a poesia, a representação escrita e em desenho

Fonte: Acervo Professora da Iracema (2014).

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Essa SD, proposta e realizada pela professora Iracema, demonstra a perspectiva

interdisciplinar, visto que houve a “desconstrução do tradicional e com o cotidiano tarefeiro

escolar” apontado por Trindade (2013, p. 88), as disciplinas selecionadas foram envolvidas

sem perder suas especificidades ao compartilhar o conhecimento e isso é percebido na

declaração da professora, já mencionada anteriormente.

A outra SD da PA Iracema, denominada “Matar Sapo dá Azar”, tal como a obra de

Hardy Guedes, também do acervo complementar do PNAIC, foi desenvolvida numa turma de

2º ano do Ensino Fundamental da mesma Escola Municipal, em 2014. O material foi em

arquivo formato Word™, contendo a descrição do trabalho realizado com os alunos e as

imagens das crianças em atividade. A professora utiliza os eixos e direitos de aprendizagem

das disciplinas envolvidas, isto é, Português, Ciências, Matemática e Artes. Iniciou a SD com

a leitura deleite da obra acima citada e, então, introduziu os demais conteúdos das disciplinas

em foco, com atividades em sala de aula, no pátio da escola e no laboratório de informática.

Figura 38 – Aula de campo e de pesquisa no laboratório de informática

Fonte: Acervo da Professora Iracema (2014).

Essas fotografias nos revelam que as crianças tiveram a oportunidade de participar de

uma aula de campo, e, com a orientação da professora, fizeram seus registros bem como

fizeram pesquisa no laboratório de informática, sobre os seres vivos e não vivos. A

professora, então, propôs organizá-los em lista para facilitar o trabalho e a compreensão do

assunto. Na sequência das atividades e com a integração das disciplinas em seus

conhecimentos, as crianças montaram cartazes, trabalharam a partir da leitura deleite de

literaturas infantis, utilizaram algumas das obras complementares disponíveis, leitura,

reflexão e interpretação de texto, resolução de situação problema, confecção de dobradura de

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personagem da história, dentre outras atividades. Para finalizar, produziram, coletivamente,

um texto, com base nas histórias lidas e ouvidas e criaram outro cartaz com desenhos feitos

por eles para exposição na sala de aula.

A SD foi com base em Zabala (1998), composta por atividades sequenciadas com uma

finalidade comum aos alunos e à professora, que trabalhou os gêneros conto, cartaz e lista.

Contudo, não teve o objetivo do ensino de nenhum deles especificamente.

Analisamos que essa SD aconteceu interdisciplinarmente, pois, além de haver o

compartilhamento dos saberes disciplinares, houve interação e cooperação entre aluno/aluno e

professora/alunos, demonstrado no relato que segue: “[...] percebemos a interação do aluno

com os demais colegas e cooperação de todos com o trabalho” (PA Iracema, 2014).

Professora Iara

A PA Iara enviou uma SD e o relato do seu desenvolvimento em uma turma de 3º ano,

enviou também o relato da sua OE, que acompanhou de perto a realização das atividades.

Organizou a SD com o objetivo geral de reconhecer estruturas e a característica do gênero

textual receita, elencou alguns objetivos específicos, conforme os trechos a seguir: “Objetivo

Geral: Desenvolver nos alunos habilidades para reconhecerem estruturas e a característica do

gênero textual receita no seu cotidiano” (PA Iara, 2014), e os objetivos específicos:

Desenvolver a capacidade de ler diversos gêneros textuais; produzir alguns

gêneros textuais: receitas; reconhecer os gêneros textuais receitas e seus

contextos de produção; Interpretar situações problemas do campo

multiplicativo; montar um painel com receitas; identificar palavras chaves do

texto; reconhecer a ordem alfabética. (PA Iara, 2014)

Selecionou os eixos Leitura, produção textual, oralidade, análise linguística e números

e operações e os direitos de aprendizagem dos componentes curriculares de Português e

Matemática para o trabalho e teve como ponto de partida a leitura da obra “Que delícia de

Bolo”, de Elza Calixto e Sílvia Calixto, das obras complementares do PNAIC. Os direitos de

aprendizagem foram os seguintes:

Compreender as ideias da multiplicação, notadamente, proporcionalidade,

combinação e disposição retangular; produzir textos de diferentes gêneros

com autonomia atendendo a diferentes finalidades; participar de interações

orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando

os turnos de falas; reconhecer finalidades de textos lidos pela professora ou

pelas crianças; dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e

seu valor sonoro, de modo a ler escrever palavras e textos. (PA Iara, 2014)

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Ao final da proposição da SD, disponibilizou as imagens das crianças realizando as

atividades. Como base para o desenvolvimento da SD, a concepção é de Schneuwly (2004),

em função do objetivo de ensinar o gênero textual receita, tendo estruturado o trabalho em

diversos momentos, em que levou modelos desse gênero para o conhecimento dos alunos e

produziram uma receita coletivamente:

Após um bom tempo de discussão, pudemos produzir a receita coletiva.

Optamos por fazer a receita de uma salada de frutas, por acharem mais fácil,

pois os ingredientes eram apenas as frutas. Alguns alunos já conheciam os

ingredientes. Questione [...] se nesta receita poderíamos colocar qualquer

tipo de fruta, a resposta foi bastante diversificada, alguns disseram que nem

todo tipo de fruta poderia ser colocado, pois ficaria ruim. (PA Iara, 2014)

Embora a professora tivesse o objetivo do ensino do gênero textual em questão, ela

conseguiu envolver os conhecimentos das duas disciplinas selecionadas, proporcionando a

construção do conhecimento, através da interdisciplinaridade, conforme informações do

trecho a seguir:

Fizemos a leitura e discussão das curiosidades apresentadas no livro sobre o

chocolate, o pão e o óleo, onde a maioria dos alunos fizeram suas inferências

e o que mais chamou a atenção foi a curiosidade sobre o pão. Realizamos

situações problemas oralmente. Fizemos a experiência com fermento, onde

as crianças puderam perceber o efeito que este componente químico faz no

bolo. (PA Iara, 2014)

Nas Figuras 39 e 40, aparece o registro do painel com as receitas escritas pelos alunos

e as crianças desenvolvendo atividades de escrita.

Figura 39 – Painel de receita e atividades de escrita

Fonte: Acervo da Professora Iara (2014).

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A professora trabalhou alguns dos jogos do PNAIC com as crianças, fazendo as

adaptações necessárias (Figura 40).

Figura 40 – Trabalho com os jogos do PNAIC

Fonte: Acervo da Professora Iara (2014).

Os educandos também tiveram aprendizagem através de jogos aplicados para o

desenvolvimento de conceitos matemáticos, como mostram as figuras anteriores. A professora

e a orientadora de estudo trouxeram informações de que houve a participação e o

envolvimento dos alunos, isso é o que se espera do trabalho interdisciplinar, que se esclarece

no relato a seguir:

Ao longo do desenvolvimento da sequência Didática percebi no relato e na

vivência da professora sua motivação, juntamente com seus alunos, pois

ficou evidente que durante as aulas o ambiente alfabetizador favoreceu o

aprendizado, pois a professora teve a preocupação em relacionar o saber

científico com o conhecimento prévio dos alunos, o que contribuiu no

desenvolvimento de estratégias tanto na linguagem como na matemática por

parte dos alunos. (Orientadora de Estudo, 2014)

As professoras Irma, Isaura, Isadora, Isabel, Inês, Isabela, Iracema e Iara, realizaram as

SD na perspectiva da interdisciplinaridade, durante as quais envolveram as disciplinas

selecionadas para o trabalho em um compartilhamento do saber de cada uma delas, sem

perder a especificidade de cada uma. Conforme afirma Lück (1994, p.64), como já

mencionado neste trabalho, é necessária uma articulação entre os conhecimentos para

envolver o indivíduo. A professora Isabela interagiu e integrou as disciplinas, a exemplo do

momento em que, a partir do gênero convite de aniversário, discutiram sobre a data de

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95

aniversário de cada aluno e elaboraram um gráfico para o registro das informações levantadas.

No mesmo sentido, a professora Iara, no desenvolvimento do gênero receita de bolo, instigou

a curiosidade dos alunos sobre alguns ingredientes, como o fermento, e relata o seguinte:

“Fizemos a experiência com fermento, onde as crianças puderam perceber o efeito que este

componente químico faz no bolo.” (PA Iara, 2014). Com a mesma intenção, as demais

professoras, anteriormente citadas neste bloco, realizaram as atividades com seus alunos na

construção do interdisciplinar, na busca da superação da fragmentação dos saberes. Para

reforçar, retomamos Santomé (1998, p. 66), ao assegurar que a interdisciplinaridade é um

objetivo a ser permanentemente buscado.

5.3 Síntese dos dados analisados

Essas foram as inferências realizadas sobre os documentos recebidos (SD, relatos de

sequências didáticas). Segundo Franco (2012, p. 32), a inferência é a fase intermediária entre

a descrição e a interpretação, sendo a “descrição” a primeira etapa, com o tratamento inicial,

em que acontece um resumo das características do texto, e a última etapa é a interpretação, na

qual se faz a significação dessas características, então, a inferência é a passagem da descrição

à interpretação. Assim,

[...] produzir inferências em análise de conteúdo tem um significado bastante

explícito e pressupõe a comparação dos dados, obtidos mediante discursos e

símbolos, com os pressupostos teóricos de diferentes concepções de mundo,

de indivíduo e de sociedade. (FRANCO, 2012, p. 33)

No quadro 5 a seguir, são apresentados os dados revelados nessa pesquisa sobre as SD

Multidisciplinares e Interdisciplinares e sobre os relatos Multidisciplinares e

Interdisciplinares:

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Quadro 5 – Síntese dos dados que se apresentaram nas análises das SD e relatos

Dados das SD

Multidiciplinares

Dados das SD

Interdisciplinares

Dados dos relatos

da aplicação das SD

Multidisciplinares

Dados dos relatos da

aplicação das SD

Interdisdicpilnares

03 SD 09 SD (duas SD de uma

mesma professora) 03 relatos 03 relatos

duas ou mais

disciplinas envolvidas

duas ou mais disciplinas

envolvidas

duas ou mais

disciplinas

envolvidas

duas ou mais

disciplinas envolvidas

Justaposição de

conteúdo/fragmentação

do conhecimento

Integração e

compartilhamento do

conhecimento dos

componentes

curriculares a que se

propuseram a trabalhar

Justaposição de

conteúdo/fragmentaç

ão do conhecimento

Integração e

compartilhamento do

conhecimento dos

componentes

curriculares a que se

propuseram a trabalhar

Interação e

participação dos alunos

Interação

aluno/aluno/professora

Interação e

participação dos

alunos

Interação

aluno/aluno/professora

Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora.

Das 11 (onze) professoras colaboradoras, três desenvolveram as SD e os relatos numa

perspectiva multidisciplinar, somando seis trabalhos com duas ou mais disciplinas, numa

perspectiva multidisciplinar, com a justaposição de conteúdos, embora tenham feito a

tentativa de um trabalho interdisciplinar.

Foram oito as professoras colaboradoras que desenvolveram as SD numa perspectiva

interdisciplinar; lembrando que uma delas enviou duas SD, portanto, nove trabalhos. Três

dessas professoras fizeram também o relato confirmando o trabalho interdisciplinar, somaram

então, mais 12 (doze) trabalhos e o total foi de dezoito trabalhos analisados.

O Quadro 5 aponta que as práticas pedagógicas em sala de aula estão cada vez mais se

modificando, há uma preocupação por parte dos docentes em realizar um trabalho voltado

realmente para o desenvolvimento da aprendizagem, no qual devem ser adotadas

metodologias que promovam a aprendizagem significativa, e isso ficou evidente nas SD

realizadas pelas professoras, tanto as que constituíram o bloco multidisciplinar quanto as do

bloco interdisciplinar. Estão buscando estratégias mais eficazes, que contemplem a realidade

da criança e que valorizem seus saberes prévios. Sobretudo, é do entendimento dos estudiosos

pesquisadores que a interdisciplinaridade ainda não se efetivou na prática devido a muitos

fatores, alguns deles muito comuns, como a questão do engajamento de todos no processo, do

querer e da busca, dentre muitos outros.

No entanto, é um processo que deve ser constantemente almejado, como se pode

perceber na afirmação a seguir:

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Entende-se todo esforço orientado por uma intenção de construção da

interdisciplinaridade, como parte de um processo contínuo, caracterizado por

estágios sucessivos de significação cada vez mais ampla, como uma

verdaeira práxis, que vai alargando o entendimento dos professores

envolvidos, ao mesmo tempo que vai transformando a realidade pedagógica.

(LÜCK, 1994, p. 79)

Esse esforço foi percebido na postura das professoras, que ao desenvolver um trabalho

interdisciplinar, organizando as atividades pedagógicas conforme as propostas das SD em

questão. O resultado mostrou que 88% delas conseguiram trabalhar interdisciplinarmente e

33%, de modo multidisciplinar. Considera-se um dado importante de transformação no

processo educativo, nesse caso, no ensino e aprendizagem dos anos iniciais do ensino

fundamental, em que Lück (1994, p. 83) afirma que é objetivo da educação contribuir para a

integralidade do ser humano, para que seja capaz de resolver problemas e construir

conhecimento de maneira que contribua para a renovação da sociedade. A utilização da

metodologia de SD permitiu a compreensão de que se trata de uma das maneiras de

possibilitar a interdisciplinaridade.

O Quadro 6 retoma as concepções de SD, já comentadas no capítulo 3 dessa

dissertação.

Quadro 6 – Concepções de Sequências Didáticas (SD)

SD Concepção de Zabala (1998) SD Concepção de

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004)

“[...] um conjunto de atividades ordenadas,

estruturadas e articuladas para a realização de

certos objetivos educacionais, que têm um

princípio e um fim conhecidos tanto pelos

professores como pelos alunos. ” (ZABALA,

1998, p. 18 – grifos do autor).

“[...] um conjunto de atividades escolares

organizadas, de maneira sistemática, em torno

de um gênero textual oral ou escrito. [...] tem

precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a

dominar melhor um gênero de texto, permitindo-

lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira

mais adequada numa dada situação de

comunicação.” (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHNEUWLY, 2004, p. 97 – grifo dos

autores). Fonte: Dados elaborado pela pesquisadora com base em Zabala (1998) e Schneuwly (2004)

O Quadro 6 evidencia a diferença entre as concepções de Zabala (1998) e (DOLZ;

NOVERRAZ; SCHNEUWLY (2004), que permitiu a inferência sobre qual das concepções ou se

utilizaram-se das duas para o desenvolvimento do trabalho em sala de aula. Com isso, surge o

seguinte resultado:

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Duas PA transitaram entre a perspectiva de Schneuwly e Zabala, tiveram o

propósito de ensinar um determinado gênero textual, envolveram diversas

atividades e conhecimentos das disciplinas selecionadas para o trabalho, sem

perder o foco, que era o ensino/aprendizagem e a produção de um gênero textual

específico.

Três PA tiveram a predominância da concepção de Zabala em suas SD.

Duas PA tiveram a predominância da concepção de Schneuwly.

Apenas uma destacou a perspectiva de Schneuwly com o objetivo de ensinar um

determinado gênero textual. No entanto, no desenrolar das atividades propostas

prevaleceu a perspectiva de Zabala, como sequência de atividades.

Três não destacaram com qual concepção trabalharam, mas, pelas atividades

desenvolvidas e os relatos, percebemos que a base foi a concepção de Zabala.

No decorrer dos dois blocos, o das SD multidisciplinares e o das SD interdisciplinares,

destacou-se a utilização das obras pertencentes ao acervo do PNAIC, a organização do

cantinho de leitura, a leitura deleite, os direitos de aprendizagem e a utilização dos jogos,

visto que fazem parte dos eixos de atuação do Programa, mencionados no capítulo 4.

Embora não tenha sido objetivo da nossa pesquisa, apresenta-se aqui – por entender

como um fato importante – a utilização das obras literárias do acervo fornecido pelo PNAIC

para o desenvolvimento das SD. A maioria fez uso desse acervo, para leitura deleite ou como

ponto de partida para as atividades. Algumas escolheram outras obras para desenvolver em

sala de aula, como textos do livro didático ou outras literaturas disponíveis na escola.

Apresentaram diversos gêneros textuais para leitura, mas nem todas tiveram o objetivo do

ensino de um gênero específico. Se percebeu, também, a boa utilização dos jogos fornecidos

pelo PNAIC, bem como a adesão à prática de leitura deleite e a organização do cantinho da

leitura na sala de aula. Foram recursos e estratégias oferecidos ou sugeridos pelo Programa

para o trabalho na sala de aula que, pelo que se pôde observar, trouxeram contribuições

positivas, possibilitando, portanto, a mudança na prática pedagógica no processo da

alfabetização.

É importante refletir sobre as concepções de SD utilizadas pelas professoras: a de

Zabala (1998) e a de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), as quais foram trabalhadas no

programa PNAIC. Destaca-se o fato de não se prenderem a uma única concepção e

conseguirem fazer a interação das duas, o que se pode dizer, então, é que surge uma nova

metodologia para o desenvolvimento das SD, em que existe a possibilidade de se trabalhar a

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aprendizagem de um gênero textual com o envolvimento de outras disciplinas do componente

curricular para o trabalho de outros conteúdos, sem perder o foco, que é o gênero textual.

Depende, sobretudo, de um bom planejamento, com objetivos claros quanto àquilo que se

pretende alcançar com determinadas atividades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta seção, se destacam os aspectos relevantes que emergiram através das análises

realizadas a partir das investigações sobre interdisciplinaridade e desenvolvimento de

sequências didáticas nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Considerando que os objetivos desta pesquisa foram de analisar se as propostas de

Sequências Didáticas fornecidas por professoras alfabetizadoras que participaram do Pacto

Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), nos anos de 2013, 2014 e 2015,

pautaram-se em uma perspectiva interdisciplinar, acrescentados dos objetivos específicos, que

foram de compreender qual concepção de interdisciplinaridade e de sequência didática

fundamenta os documentos/materiais fornecidos pelas colaboradoras bem como de analisar se

a organização do trabalho pedagógico com base em sequências didáticas favorece a

interdisciplinaridade, tomando como objeto de análise os documentos/materiais fornecidos

pelas colaboradoras, verifica-os como alcançados, mas não finalizados, visto que, diante de

algumas respostas, surgem outras curiosidades para investigação. Uma delas diz respeito ao

fato de a temática discutida, a interdisciplinaridade, ser de nível bastante complexo, o que

exige muito estudo, pesquisa, esforço e dedicação para chegar à sua real compreensão, de

modo a conseguir exercê-la com segurança.

Uma das questões a este respeito é: por que, embora muito discutida, debatida e

pesquisada, ainda pode-se considerar a interdisciplinaridade, em seu aspecto real de interação

e integração do conhecimento, distante de se efetivar na prática pedagógica? Isso porque sua

efetivação na prática ainda é um processo que, se pode dizer, já de longa data, conforme os

teóricos afirmaram que é uma temática há muito discutida, está presente nos debates em

reuniões, seminários, simpósios, dentre outros eventos da Educação e de outras áreas, mas, no

campo educacional, essa é a realidade, então, surge a questão: Por que a mudança ainda não

ocorreu e não há consenso na concepção?

As respostas para essas questões são inferidas a partir da pesquisa, visto que se

percebe que a organização do trabalho interdisciplinar demanda tempo, dedicação e esforço,

assim como o envolvimento dos pares, e isso nem sempre é possível, principalmente quando

se volta para a realidade escolar em relação aos horários destinados ao planejamento dos

professores, que nem sempre correspondem à disponibilidade das áreas do conhecimento para

o diálogo necessário. Como foi verificado, essa possibilidade é maior para os unidocentes,

pois estão responsáveis por todas as disciplinas do componente curricular, dependendo,

fundamentalmente, deles próprios para a efetivação da interdisciplinaridade. Há também o

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101

quesito medo da mudança, da transformação, do novo, quando a pessoa se depara com o

desafio de tentar, porém, sem saber se vai ter sucesso ou não, às vezes, enfrenta, ao mesmo

tempo, a insegurança. Ou ainda, porque demanda maior compreensão do sentido do

interdisciplinar, mais estudos, mais engajamento, mais esforço, mais vontade e mais

envolvimento de todos da instituição. Por isso, se entende que é necessária a continuação dos

estudos e outras pesquisas na tentativa de se chegar a um consenso ou uma maior

aproximação entre as concepções, bem como mais tentativas práticas para o desenvolvimento

de metodologias interdisciplinares.

Para o movimento das análises foram identificados, primeiramente, dois tipos de SD:

as sequências didáticas com perspectivas disciplinares e as sequências didáticas com

perspectivas interdisciplinares. Mas, considerando o foco, duas categorias de análise se

apresentaram: SD Multidisciplinares e SD Interdisciplinares. Para tanto, utilizou-se como

base as propostas de sequência didática elaboradas pelas professoras, para a realização em

sala de aula, e o relato de experiência da SD realizada, que algumas delas enviaram junto à

proposta de SD. Contamos com 11 (onze) professoras colaboradoras, com um total de 18

(dezoito) documentos (sequências didáticas e relatos de algumas SD). São professoras

alfabetizadoras de escolas públicas, dez delas da rede municipal de ensino e apenas uma da

rede estadual de ensino.

Três professoras alfabetizadoras realizaram as sequências didáticas numa concepção

de multidisciplinaridade, mesmo selecionando duas ou mais disciplinas, ocorreu a

justaposição de conteúdo, cada disciplina com o conhecimento específico, deixando os

saberes fragmentados.

Oito professoras realizaram sequências didáticas com perspectivas interdisciplinares,

compreendidas como interação e integração do conhecimento, conseguiram envolver as

disciplinas – duas ou mais –, ocorrendo o compartilhamento de conhecimento possibilitando a

construção de novos saberes. Portanto, constituíram elos entre os conhecimentos das

disciplinas envolvidas com o contexto da sala de aula no processo de aprendizagem das

crianças.

Nos casos analisados, a quantidade de disciplinas variou de duas a cinco, de acordo

com os objetivos estabelecidos para o momento. Houve a diversificação da organização do

trabalho pedagógico, que oportunizou às educadoras a compreensão e importância das

sequências didáticas, assim como dos projetos didáticos, promovendo maior interação entre

professores e alunos. Isso fica evidenciado nos relatos de experiência de algumas professoras,

quando revelam o empenho para participar das formações do PNAIC e realizar na prática um

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trabalho conforme as orientações recebidas, bem como o empenho para planejar e executar as

SD e projetos. Isso significa que a formação do PNAIC contribuiu para a prática pedagógica

das professoras alfabetizadoras, para um pensar e agir interdisciplinar que possibilite a

aprendizagem integral da criança e que, até os oito anos de idade, esteja alfabetizada na

perspectiva do letramento.

Ficou evidente que o desenvolvimento de sequência didática possibilita a

interdisciplinaridade, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por se tratar

do professor unidocente, que tem a responsabilidade de trabalhar todas as disciplinas do

componente curricular escolar na mesma turma. Isso propicia ao professor conhecer melhor

seus alunos, para compreender onde, em que e quando eles necessitam da sua inferência.

Depende da clareza na concepção de interdisciplinaridade para que o professor

unidocente possa aproveitar essa possibilidade e estabelecer relações entre os conhecimentos

de cada disciplina com a realidade para oportunizar novos conhecimentos e assim superar a

fragmentação que ainda acontece no ensino. Embora tenha sido possível observar avanços

significativos a partir da formação do PNAIC, com a contribuição para a melhora da prática

pedagógica, entende-se que, realmente, a formação para o professor deve ser contínua, para

aprimoramento e fortalecimento de uma prática que de fato efetive a interdisciplinaridade. De

acordo com os autores que alicerçaram esta pesquisa, a efetivação da interdisciplinaridade

está num processo, num caminhar, mas deve ser uma busca constante, precisa-se querer

alcançá-la e é a partir dessas pequenas atitudes, individuais e coletivas, que se abarca a

educação nesse propósito.

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103

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