of 55 /55
DENISE DE CARVALHO FORTILLI A EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA E O DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL BACHARELADO EM DIREITO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2015

A EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA … · Fazenda Pública: Em sentido amplo, o conceito de Fazenda Pública traduz a atuação do Estado em juízo. Originalmente, a ideia

  • Author
    buikhue

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Text of A EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA … · Fazenda Pública: Em sentido amplo, o conceito...

  • DENISE DE CARVALHO FORTILLI

    A EFETIVIDADE DA EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A

    FAZENDA PBLICA E O DIREITO FUNDAMENTAL TUTELA

    JURISDICIONAL

    BACHARELADO EM DIREITO

    CENTRO UNIVERSITRIO DE RIO PRETO

    SO JOS DO RIO PRETO

    2015

  • DENISE DE CARVALHO FORTILLI

    A EFETIVIDADE DA EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A

    FAZENDA PBLICA E O DIREITO FUNDAMENTAL TUTELA

    JURISDICIONAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado, na

    forma de monografia, banca examinadora do

    Curso de Direito do Centro Universitrio de Rio

    Preto UNIRP, sob a orientao da Profa. Dra.

    Maria Isabel Ramalho, visando obteno do grau

    de bacharel em Direito.

    CENTRO UNIVERSITRIO DE RIO PRETO

    SO JOS DO RIO PRETO

    2015

  • DENISE DE CARVALHO FORTILLI

    A EFETIVIDADE DA EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A

    FAZENDA PBLICA E O DIREITO FUNDAMENTAL TUTELA

    JURISDICIONAL

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________

    __________________________________

    SO JOS DO RIO PRETO

    2015

  • preciso que a criatividade dos nossos legisladores

    seja colocada em prtica conforme a Constituio,

    de modo a erigir um regime regulatrio de

    precatrios que resolva essa crnica problemtica

    institucional brasileira sem, contudo, despejar nos

    ombros do cidado o nus de um descaso que nunca

    foi seu.

    Luiz Fux

  • Dedico este trabalho ao meu esposo Jorge Fernando,

    companheiro para todas as horas, aos meus pais, que

    sempre me incentivaram e me ensinaram o valor do

    aprendizado, Solange e Juliana, irms em todas as

    acepes da palavra.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo, primeiramente, a Deus pela oportunidade de cumprir mais esta etapa

    de aprendizado na minha vida.

    minha orientadora Dra. Maria Isabel Ramalho, que com seu exemplo de

    trabalho e dedicao me orientou durante todo o desenvolvimento deste

    trabalho.

    professora Oreonnilda de Souza sempre disposta a esclarecer as minhas

    dvidas sobre metodologia.

    Escola da Defensoria Pblica do Estado de So Paulo EDEPE pelo apoio

    financeiro por meio do Programa de Capacitao dos Servidores.

  • RESUMO

    O presente trabalho tem por objetivo o estudo dos procedimentos processuais para a execuo

    por quantia certa contra a Fazenda Pblica no atual Cdigo de Processo Civil e no novo

    Cdigo que entrar em vigor em 2016, assim como uma anlise das disposies

    constitucionais sobre o tema, em especial sobre o regime de precatrios, no intuito de

    demonstrar quais inovaes foram implementadas no novo CPC e quais so as propostas dos

    doutrinadores para a soluo do problema da falta de efetividade na concretizao da tutela

    jurisdicional neste tipo de execuo. Diante dos mandamentos constitucionais do acesso

    justia e da razovel durao do processo, de suma importncia a abordagem no que diz

    respeito execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica, pois as aes judiciais

    envolvendo o Estado no polo passivo representam grande parte da demanda do Judicirio.

    Assim, este trabalho de pesquisa tenta investigar por meio de estudos bibliogrficos e

    jurisprudenciais se as alteraes introduzidas nos procedimentos de execuo por quantia

    certa contra a Fazenda Pblica, com a Emenda Constitucional 62/2009 e com a entrada em

    vigor do novo CPC, poderiam acarretar maior efetividade e celeridade nos processos. O

    estudo nos permite concluir que as inovaes apresentadas pelo CPC vindouro, tentam

    amenizar a problemtica da morosidade na resoluo desses processos e tentam efetivar a

    obteno da tutela jurisdicional pretendida. Cabe ressaltar, porm, que apesar de necessrias,

    sozinhas, essas inovaes no sero suficientes para garantir o direito fundamental tutela

    jurisdicional ao demandante. Isso porque, o maior dos problemas est no descumprimento

    pela Fazenda das sentenas judiciais transitadas em julgado. Sero necessrias ainda,

    alteraes de normas de Direito material, que autorizem, por exemplo, a expropriao de bens

    pblicos dominicais e garantam o cumprimento das decises judiciais pelo Poder Executivo.

    Palavras-chave: Fazenda Pblica. Precatrios. Novo Cdigo de Processo Civil. Efetividade.

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................................... 9

    1 A FAZENDA PBLICA ...................................................................................................... 11

    1.1 O conceito de Fazenda Pblica ........................................................................................... 11

    1.2 Bens pblicos ...................................................................................................................... 12

    1.3 Prerrogativas da Fazenda Pblica em juzo ........................................................................ 14

    2 EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA .................... 17

    2.1 Ttulo executivo judicial e extrajudicial ............................................................................. 18

    2.2 Dos embargos execuo contra a Fazenda Pblica ......................................................... 19

    3 O REGIME DE PRECATRIOS ......................................................................................... 21

    3.1 Breve histrico da instituio do precatrio ....................................................................... 21

    3.2 Emenda Constitucional 62/2009 ......................................................................................... 22

    3.3 Sequestro de verbas pblicas .............................................................................................. 26

    3.4 Excees ao regime de precatrios ..................................................................................... 27

    4 A INCONSTITUCIONALIDADE DA EC 62/2009 E A MODULAO DOS SEUS

    EFEITOS .................................................................................................................................. 30

    5 A EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA LUZ DO

    NOVO CDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO ...................................................... 34

    5.1 Dos prazos processuais ....................................................................................................... 35

    5.2 Da remessa necessria ........................................................................................................ 35

    5.3 Do cumprimento de sentena que reconhea a exigibilidade de obrigao de pagar quantia

    certa pela Fazenda Pblica ....................................................................................................... 37

    5.4 Da execuo contra a Fazenda Pblica por ttulo extrajudicial .......................................... 41

    6 EFETIVIDADE DA EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA

    PBLICA ................................................................................................................................. 43

  • 6.1 Garantia da efetiva concretizao do direito tutelado? ....................................................... 43

    6.2 Solues e alternativas propostas ....................................................................................... 44

    6.3 O direito fundamental tutela jurisdicional ....................................................................... 46

    CONCLUSO .......................................................................................................................... 49

    REFERNCIAS ....................................................................................................................... 51

  • 9

    INTRODUO

    A Constituio Federal de 1988 consagrou o Estado Democrtico de Direito em que

    foram estabelecidos direitos e garantias fundamentais aos cidados, entre eles o direito ao

    acesso justia, ao devido processo legal e razovel durao do processo.

    Todavia, quando o Estado figura no polo passivo de uma relao jurdica processual,

    essa relao de Direito Pblico e, portanto, o conjunto normativo que incide sobre ele

    diferente do que incide sobre o administrado. Os fundamentos para essa diferenciao esto

    nos princpios, tambm constitucionais, da legalidade e da supremacia do interesse pblico

    sobre o interesse privado.

    Devido ao grande nmero de prerrogativas constitucionais e processuais da Fazenda

    Pblica em juzo, na maioria das vezes, quando o cidado demanda em desfavor do Estado, o

    seu direito fundamental tutela jurisdicional e razovel durao do processo acabam sendo

    suprimidos.

    Nas causas que envolvem a obrigao de pagamento de quantia certa pela Fazenda

    Pblica o procedimento para o recebimento do crdito demasiadamente moroso e pouco

    eficaz. O regime de precatrios estabelecido como meio de pagamento, pela Fazenda Pblica,

    de quantia lquida e certa proveniente de sentena judicial transitada em julgado, deficitrio

    e gera controvrsias doutrinrias quanto sua constitucionalidade.

    Com o advento do novo Cdigo de Processo Civil brasileiro, recentemente

    sancionado, que comea a vigorar a partir de maro de 2016, almeja-se maior celeridade na

    tramitao dos processos cveis em geral e especialmente dos processos que envolvem a

    execuo contra a Fazenda Pblica.

    Buscou-se neste trabalho, demonstrar como realizada a execuo por quantia certa

    contra a Fazenda Pblica nos moldes atuais, com enfoque no regime de precatrios e quais

    inovaes processuais sobre o tema sero introduzidas com a entrada em vigor do novo

    Cdigo de Processo Civil.

    Espera-se com a reforma do referido diploma, maior celeridade na tramitao dos

    processos judiciais que envolvem o cumprimento de obrigao de pagar pela Fazenda Pblica,

    porm, do ponto de vista da efetividade processual sero necessrias medidas que envolvem

    alteraes no Direito material, ou seja, na Constituio Federal e no apenas no Direito

    formal, processual.

  • 10

    Por fim, apresentam-se alternativas, propostas por estudiosos do Direito, para

    solucionar a falta de efetividade do processo de execuo por quantia certa contra a Fazenda

    Pblica, sugerindo-se alteraes constitucionais que viabilizem a concretizao do direito

    tutela jurisdicional pretendida, a exemplo do que realizado em outros pases.

  • 11

    1 A FAZENDA PBLICA

    1.1 O conceito de Fazenda Pblica

    Quando a legislao utiliza o termo Fazenda Pblica est se referindo a Unio, aos

    Estados, ao Distrito Federal, aos Municpios e as suas respectivas autarquias e fundaes de

    direito pblico, ou seja, todas as pessoas jurdicas de direito pblico da Administrao Direta

    e Indireta contidas no rol do art. 41 do Cdigo Civil brasileiro:

    Art. 41. So pessoas jurdicas de direito pblico interno:

    I - a Unio;

    II - os Estados, o Distrito Federal e os Territrios;

    III - os Municpios;

    IV - as autarquias, inclusive as associaes pblicas;

    V - as demais entidades de carter pblico criadas por lei.

    Quanto s empresas pblicas e sociedades de economia mista, a maioria dos

    estudiosos de Direito, entende tratar-se de pessoas jurdicas de direito privado, portanto no

    so consideradas Fazenda Pblica para fins processuais.

    Vejamos o entendimento da professora Regina Helena Costa, sobre o conceito de

    Fazenda Pblica:

    Em sentido amplo, o conceito de Fazenda Pblica traduz a atuao do Estado em

    juzo. Originalmente, a ideia de Fazenda ligava-se estritamente s finanas estatais e

    ao errio propriamente dito, mas com o tempo alargou-se, hoje servindo para

    designar o nome que toma o Estado quando atua em juzo. Atualmente pacfico

    que o conceito de Fazenda Pblica abrange as pessoas jurdicas de Direito Pblico,

    vale dizer, as pessoas polticas que integram a Federao, alm das autarquias e das

    fundaes pblicas. No esto includas nesse conceito as empresas pblicas e as

    sociedades de economia mista porque so, no obstante, entes componentes da

    administrao pblica indireta, pessoas investidas da personalidade de direito

    privado1.

    1 COSTA, Regina Helena. As prerrogativas e o interesse da justia. In: SUNDFELD, Carlos Ari; BUENO,

    Cassio Scarpinella (Coord.). Direito processual pblico: a Fazenda Pblica em juzo. So Paulo: Malheiros,

    2000. cap. 3, p. 79.

  • 12

    No mesmo sentido, expe Vicente Greco Filho:

    Fazenda Pblica a pessoa jurdica de direito pblico, Unio, Estados e Municpios,

    Distrito Federal e respectivas autarquias, inclusive os territrios, cujo regime

    financeiro, oramentrio e contbil pblico. Empresas pblicas, sociedades de

    economia mista ou fundaes que no tem regime oramentrio pblico e o

    privilgio da impenhorabilidade de seus bens no so Fazenda Pblica2 [...].

    Para o cidado comum, muitas vezes, o termo Fazenda Pblica se confunde com o

    errio, ou seja, com o patrimnio pblico, entendido como o conjunto de bens pblicos

    pertencentes ao Estado. Um dos motivos para esse entendimento pode ser o fato de que s

    ser Fazenda Pblica a pessoa jurdica detentora de bem pblico. Neste contexto, o estudo do

    conceito de Fazenda Pblica para fins de execuo necessariamente nos leva ao estudo dos

    bens pblicos, que veremos a seguir.

    1.2 Bens pblicos

    O Cdigo Civil, em seu art. 98, define bens pblicos como os bens do domnio

    nacional pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico interno, assim pblico o bem

    pertencente a qualquer das pessoas jurdicas elencadas no art. 41 do mesmo cdigo, quais

    sejam: a Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas autarquias e

    fundaes de direito pblico. Em seguida, o art. 99 classifica os bens pblicos em trs

    categorias, a saber:

    1) bens de uso comum do povo: rios, mares, estradas, ruas e praas;

    2) bens de uso especial: edifcios ou terrenos destinados a servio ou

    estabelecimento da administrao pblica;

    3) bens dominicais: constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direito

    pblico, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

    2 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 16. ed. atual. So Paulo: Saraiva, 2003, p. 94.

  • 13

    Para a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro3, o critrio dessa classificao o da

    destinao ou afetao dos bens pblicos, ou seja, os bens de uso comum do povo so

    destinados pela prpria natureza ou pela lei ao uso coletivo; os de uso especial so destinados

    ao uso da Administrao Pblica, como os imveis onde so instaladas as reparties pblicas

    ou os bens mveis utilizados para a realizao dos servios pblicos, como por exemplo,

    veculos oficiais, materiais de consumo, entre outros. J os bens dominicais no tem

    destinao pblica especfica, podendo, portanto, ser utilizados pela Administrao Pblica

    para a obteno de renda. So exemplos de bens dominicais: as terras devolutas, terrenos da

    marinha, imveis no utilizados pela Administrao Pblica, bens mveis que se tornam

    inservveis, entre outros.

    So caractersticas dos bens pblicos a inalienabilidade, a imprescritibilidade, a

    impenhorabilidade e a impossibilidade de onerao. A inalienabilidade, no entanto, no

    absoluta, com exceo daqueles bens que por sua prpria natureza no podem ser passveis de

    valorao patrimonial, como por exemplo, os mares, os rios, as praias.

    De acordo com o art. 100 do Cdigo Civil, os bens de uso comum do povo e os de

    uso especial so inalienveis, enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a lei

    determinar. J o art. 101 do mesmo cdigo diz o seguinte: os bens pblicos dominicais

    podem ser alienados, observadas as exigncias da lei.

    Quanto aos bens inalienveis em decorrncia de sua destinao legal, podem perder a

    inalienabilidade caso percam a destinao pblica, o que a doutrina chama de desafetao

    do bem pblico, ou seja, o bem possua destinao especfica, mas perde essa destinao e

    passa a ser um bem dominical. Da mesma forma, um bem dominical, que no tem destinao

    definida, pode passar a ter uma destinao pblica deixando assim de ser dominical e

    passando a ser de uso especial, a chamada afetao do bem pblico.

    Sobre este assunto Di Pietro declara:

    Em razo de sua destinao ou afetao a fins pblicos, os bens de uso comum do

    povo e os de uso especial esto fora do comrcio jurdico de direito privado; vale

    dizer que, enquanto mantiverem essa afetao, no podem ser objeto de qualquer

    relao jurdica regida pelo direito privado, como compra e venda, doao, permuta,

    hipoteca, penhor, comodato, locao, posse ad usucapionem etc. Se isto j no

    decorresse da prpria afetao desses bens, a concluso seria a mesma pela anlise

    dos artigos 100, 102 e 1.420 do Cdigo Civil. O primeiro estabelece a

    inalienabilidade dos bens de uso comum do povo e dos bens de uso especial,

    enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a lei determinar. O segundo

    determina que os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio; e o terceiro

    3 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. So Paulo: Atlas, 2012, p. 726.

  • 14

    estabelece que s os bens que se podem alienar podero ser dados em penhor,

    anticrese ou hipoteca. A tudo isso, acrescente-se o art. 100 da Constituio Federal,

    que exclui a possibilidade de penhora de bens pblicos, ao estabelecer processo

    especial de execuo contra a Fazenda Pblica4.

    Os requisitos para alienao de bens pblicos constam no art. 17 da lei 8.666/93, o

    qual exige a comprovao de interesse pblico devidamente justificado, prvia avaliao,

    licitao, e ainda, autorizao legislativa quando se tratar de bem imvel. Quando se tratar de

    alienao de bem imvel de domnio da Unio depender ainda de autorizao do Presidente

    da Repblica, segundo o art. 23 da lei 9.636/98.

    1.3 Prerrogativas da Fazenda Pblica em juzo

    Quando a Fazenda Pblica figura como parte em uma relao jurdica processual,

    dizemos que essa relao jurdica de Direito Pblico e, portanto, o conjunto normativo que

    incide sobre essa relao diferente do que incide na relao jurdica de Direito Privado. Os

    fundamentos para essa diferenciao esto nos princpios constitucionais da legalidade e da

    supremacia do interesse pblico sobre o interesse privado.

    O princpio da legalidade consiste em dizer que o Estado ou Administrao Pblica s

    poder agir quando autorizado por lei, ou seja, para que a Administrao Pblica possa agir

    sua conduta deve estar sempre prevista em lei.

    O princpio da supremacia do interesse pblico sobre o interesse privado, por sua vez,

    significa que o Estado em toda a sua atuao deve buscar um objetivo fundamental: a

    satisfao do interesse pblico. Assim, a sua finalidade a realizao do bem comum, do

    interesse coletivo, que se sobrepe ao interesse particular.

    Diante desses princpios a legislao confere a Fazenda Pblica diversas prerrogativas,

    que para muitos doutrinadores causam um desequilbrio entre as partes, quando de um lado

    temos o cidado que busca a satisfao de um interesse seu, particular e de outro o Estado que

    busca a satisfao do interesse coletivo.

    Prerrogativas so vantagens lcitas conferidas a Fazenda Pblica em juzo, mas no ao

    particular. Lembrando que prerrogativa diferente de privilgio, pois privilgios so

    vantagens ilcitas e prerrogativas so determinadas por lei.

    4 Op. cit., p. 731.

  • 15

    Entre as principais prerrogativas processuais da Fazenda Pblica podemos destacar

    algumas delas:

    1) prazos em qudruplo para contestar e em dobro para recorrer, conforme dispe

    o art. 188 do Cdigo de Processo Civil, alm do prazo de 30 dias (acrescentado pela Medida

    Provisria 2.180-35 de 2001) para opor embargos nas aes de execuo em que figura como

    devedora;

    2) intimao pessoal nas execues fiscais, de acordo com o art. 25 da lei

    6.830/80;

    3) iseno de custas, prevista no art. 27 do CPC;

    4) impenhorabilidade de seus bens na ao de execuo em que for parte

    sucumbente, conforme o disposto no artigo 100 do CC e artigos 648 e 649 do CPC;

    5) reexame necessrio, pelo tribunal competente, quando houver sentena

    condenatria de valor superior a 60 salrios mnimos, em desfavor da Fazenda Pblica,

    conforme previsto no art. 475 do CPC:

    Art. 475. Est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito seno

    depois de confirmada pelo tribunal, a sentena:

    I proferida contra a Unio, o Estado, o Distrito Federal, o Municpio, e as

    respectivas autarquias e fundaes de direito pblico;

    II que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo de dvida

    ativa da Fazenda Pblica.

    Dispe ainda o 1 do art. 475 do CPC que o juiz ordenar a remessa dos autos ao

    tribunal, haja ou no apelao, devendo o presidente do tribunal avoc-los, caso o juiz de 1

    instncia no os remeta. No entanto, os pargrafos 2 e 3 do mesmo artigo estabelecem

    algumas ressalvas quanto aplicao do reexame necessrio: quando a condenao ou o

    direito controvertido for de valor certo no excedente a 60 (sessenta) salrios mnimos, bem

    como na procedncia dos embargos do devedor na execuo de dvida ativa de mesmo valor,

    no se aplica o disposto no art. 475 do CPC. Tambm no se aplica o dispositivo quando a

    sentena estiver fundada em jurisprudncia ou smula do Supremo Tribunal Federal (STF) ou

    do tribunal superior competente.

    Boa parte da doutrina acredita que as prerrogativas da Fazenda Pblica em juzo, alm

    de ferirem o princpio da isonomia entre as partes, causam demasiada morosidade ao

  • 16

    processo, ferindo assim, mais um princpio constitucional: a razovel durao do processo, e

    ainda dificultam o alcance da efetividade da tutela jurisdicional almejada. Todavia, h

    doutrinadores que defendem essa diferenciao como sendo necessria, com base nos

    princpios da igualdade e razoabilidade, pois a lei deve tratar igualmente os iguais e

    desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades, sendo que ao haver diferena de

    interesses entre as partes, j que, uma visa o interesse particular e a outra o interesse pblico,

    estaria correto o legislador de diferenci-los de maneira razovel. As prerrogativas se

    justificariam pelo fato de que no momento em que a Fazenda Pblica condenada, contesta

    uma ao ou recorre de uma deciso, o que est protegendo o errio pblico, isto , est

    defendendo na realidade o interesse de todos os cidados, que supera o interesse particular.

    Nesse diapaso, declara o professor Jos Roberto de Moraes, a respeito da prerrogativa do

    reexame necessrio:

    Em verdade, a existncia da remessa de ofcio tem causado certa perplexidade,

    talvez a resida a maior crtica s chamadas prerrogativas para alguns, privilgios

    da Fazenda Pblica. Em primeiro lugar, porque parte o legislador de uma absoluta

    desconfiana do juiz de 1 instncia. Em segundo lugar, porque alguns dizem que

    este reexame s acaba servindo para atrasar o processo ou, pelo menos, para

    delongar o trnsito em julgado da deciso proferida contra a Fazenda Pblica. Em

    terceiro lugar, porque existem aqueles que sustentam que o reexame necessrio

    tambm serve para evitar que a omisso de um procurador relapso, que no recorreu

    quando devia recorrer, prejudique o errio. Com o duplo grau obrigatrio fica

    garantido, independentemente da atuao do Procurador, o reexame daquela matria

    pelo Tribunal.

    [...] Na sentena condenatria contra a Fazenda Pblica os verdadeiros condenados

    so todos os cidados e no , especificamente, o administrador. Ainda mais, como

    j mencionamos, quando inexiste uma efetiva responsabilizao poltica5.

    5 MORAES, Jos Roberto. As prerrogativas e o interesse da Fazenda Pblica. In: SUNDFELD, Carlos Ari;

    BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Op. cit., p. 75-76.

  • 17

    2 EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA

    O processo de execuo contra a Fazenda Pblica, que se presume solvente, ocorre,

    quando esta, estando no polo passivo da relao jurdica, parte sucumbente, condenada a

    pagar quantia certa ao demandante.

    Como sabemos os bens pblicos so inalienveis enquanto destinados ao uso pblico e

    por consequncia so impenhorveis. Apesar de haver a possibilidade de um bem pblico

    dominical se tornar alienvel pela desafetao, invivel a utilizao deste procedimento para

    o fim de satisfazer o direito do credor na ao de execuo contra a Fazenda Pblica. Por este

    motivo, parte da doutrina nega a existncia do processo executivo propriamente dito, j que

    no h expropriao forada de bens, como ocorre nas demais execues. Para Humberto

    Theodoro Junior6, por exemplo, h to somente uma execuo imprpria por ter dinmica

    diferenciada, que no segue o modelo tradicional. Alexandre Freitas Cmara7, por sua vez, diz

    tratar-se de mdulo processual executivo que tem por fim a realizao de um crdito do

    demandante.

    A execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica regulada pelos artigos 730 e

    731 do CPC, conforme seguem:

    Art. 730. Na execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica, citar-se- a

    devedora para opor embargos em 10 (dez) dias, se esta no os opuser, no prazo

    legal, observar-se-o as seguintes regras:

    I o juiz requisitar o pagamento por intermdio do presidente do tribunal

    competente;

    II far-se- o pagamento na ordem de apresentao do precatrio e conta do

    respectivo crdito.

    Art. 731. Se o credor for preterido no seu direito de preferncia, o presidente do

    tribunal, que expediu a ordem, poder, depois de ouvido o chefe do Ministrio

    Pblico, ordenar o sequestro da quantia necessria para satisfazer o dbito.

    Importante frisar, que o art. 1-B da lei 9.494/97, acrescentado pela Medida Provisria

    n 2.180-35 de 24 de agosto de 2001, conforme j mencionado, alterou o prazo para oposio

    de embargos pela Fazenda Pblica, para 30 dias.

    6 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual civil. 49. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

    p. 407. 7 CMARA, Alexandre Freitas. Lies de direito processual civil. 23. ed. So Paulo: Atlas, 2014. p. 351.

  • 18

    A Constituio Federal de 1988 estabelece, em seu art. 100, um sistema diferenciado

    para o pagamento do crdito do demandante por meio da expedio de precatrios. Precatrio

    o instrumento pelo qual o Poder Judicirio requisita, Fazenda Pblica, o pagamento a que

    esta tenha sido condenada em processo judicial transitado em julgado.

    2.1 Ttulo executivo judicial e extrajudicial

    A execuo, em regra, o modo como se d a satisfao do crdito decorrente de

    condenao judicial no adimplida pelo devedor de maneira espontnea. Todo processo de

    execuo baseia-se num ttulo executivo judicial (art. 475-N do CPC) ou extrajudicial (art.

    585 do CPC).

    No caso da execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica o texto do art. 100 da

    CF em seu caput e pargrafos 1, 3, 5 e 6, a princpio, leva a crer que o ttulo hbil para se

    realizar a execuo de crditos pecunirios perante a Fazenda Pblica deve ter origem numa

    sentena judicial transitada em julgado, ou seja, num ttulo executivo judicial. Durante muito

    tempo houve divergncias na doutrina e jurisprudncia a respeito da possibilidade de

    execuo contra a Fazenda Pblica por ttulo extrajudicial em razo da interpretao literal

    desse dispositivo, no entanto, a Smula 279 do STJ que dispe: cabvel execuo por ttulo

    extrajudicial contra a Fazenda Pblica pacificou essa questo.

    Vejamos a apelao cvel n 10024102436250001 do Tribunal de Justia de Minas

    Gerais, nesse sentido:

    Ementa: Execuo - honorrios periciais - parte beneficiria da assistncia

    judiciria - ttulo executivo extrajudicial - art. 585, VI, do Cdigo de Processo

    Civil - Enunciado 279, da smula do STJ - adequao da via eleita - recurso ao qual

    se nega provimento. 1- Devem ser pagos pelo Estado os honorrios de perito

    nomeado para atuar em processo no qual a parte sucumbente beneficiria da

    assistncia judiciria. 2 - A sentena que homologa os honorrios periciais possui

    natureza de ttulo executivo extrajudicial, conforme art. 585, VI, do Cdigo de

    Processo Civil. 3 - Conforme consolidado pelo Enunciado 279, da smula do STJ,

    cabvel execuo por ttulo extrajudicial contra a Fazenda Pblica8.

    8 BRASIL. Tribunal de Justia de Minas Gerais. 2. Cmara Cvel. Apelao n. 10024102436250001. Relator:

    Marcelo Rodrigues. Data de julgamento: 06 de agosto de 2013. JusBrasil. Disponvel em: . Acesso em: 20 out.

    2014.

  • 19

    Quanto execuo contra a Fazenda Pblica por ttulo judicial, observa-se que a

    palavra sentena no texto constitucional foi utilizada de maneira pouco tcnica, segundo o

    entendimento de Araken de Assis9, pois, via de regra, o ttulo transitado em julgado, no que se

    refere s aes contra a Fazenda Pblica, se baseia num acrdo (art. 163 do CPC), devido a

    prerrogativa do reexame necessrio que determina que toda sentena condenatria proferida

    contra a Unio, o Estado, o Distrito Federal, o Municpio, e suas respectivas autarquias e

    fundaes de direito pblico (art. 475 do CPC), deve se submeter ao duplo grau de jurisdio.

    Como j visto, isso quer dizer que, necessariamente toda sentena condenatria, com

    valor acima de 60 salrios mnimos, proferida em 1 instncia contra qualquer um dos entes

    pblicos mencionados, sem fundamento em jurisprudncia ou smula do STF, dever se

    submeter ao julgamento de 2 instncia para que ocorra o trnsito em julgado.

    2.2 Dos embargos execuo contra a Fazenda Pblica

    Segundo Misael Montenegro Filho10

    , os embargos execuo descritos nos artigos

    741 a 743 do CPC podem ser opostos pela Fazenda Pblica tanto na execuo por quantia

    certa fundada em ttulo judicial como na fundada em ttulo extrajudicial. J para Humberto

    Theodoro Junior11

    , nos embargos execuo fundados em ttulo extrajudicial, a Fazenda

    Pblica pode alegar qualquer matria que lhe seja lcito apresentar como defesa no processo

    de conhecimento (art. 745, incisos I a IV). Sendo a execuo fundada em ttulo judicial, a

    regra a observar a do art. 741 do CPC.

    Em sentido contrrio, afirma Scarpinella Bueno12

    que, tratando-se de execuo

    fundada em ttulo extrajudicial imprescindvel que a Fazenda Pblica seja previamente

    citada para apresentar os embargos do art. 741 do CPC.

    Marinoni e Arenhart, afirmam, sem distinguir se a execuo por ttulo judicial ou

    extrajudicial, que a Fazenda Pblica s pode alegar em seu favor, nos embargos execuo,

    9 ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 1108.

    10 MONTENEGRO FILHO, Misael. Cdigo de processo civil comentado. So Paulo: Atlas, 2012. p. 334.

    11 THEODORO JUNIOR, Humberto. Op. cit., p. 419.

    12 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso esquematizado de direito processual civil. 2. ed. rev. atual. ampl. So

    Paulo: Saraiva, 2009. p. 407.

  • 20

    as matrias elencadas no art. 741 do CPC, sendo caso de indeferimento liminar da petio

    inicial a extrapolao deste rol taxativo13

    .

    Assim, no h consenso na doutrina sobre os procedimentos previstos no art. 741 do

    CPC para os embargos execuo quando se tratar de execuo fundada em ttulo

    extrajudicial. De acordo com o referido artigo, os embargos s podero versar sobre: falta ou

    nulidade da citao, se o processo correu revelia; inexigibilidade do ttulo; ilegitimidade das

    partes; cumulao indevida de execues; excesso de execuo; qualquer causa impeditiva,

    modificativa ou extintiva da obrigao, como pagamento, novao, compensao, transao

    ou prescrio, desde que superveniente sentena; incompetncia do juzo da execuo, bem

    como suspeio ou impedimento do juiz.

    A exceo de incompetncia do juzo, bem como a alegao de impedimento ou

    suspeio, devem ser oferecidas em petio autnoma, juntamente com os embargos (art. 742

    do CPC).

    H excesso de execuo quando o credor pleiteia quantia superior do ttulo; quando

    recai sobre coisa diversa daquela declarada no ttulo; quando se processa de modo diferente

    do que determinou a sentena; quando o credor sem cumprir a prestao que lhe corresponde,

    exige o adimplemento do devedor, e se o credor no provar que a condio se realizou, assim

    dispe o art. 743 do CPC.

    13

    MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Srgio Cruz. Execuo. 2. ed. rev. atual. So Paulo: Revista dos

    Tribunais, 2008. p. 405.

  • 21

    3 O REGIME DE PRECATRIOS

    3.1 Breve histrico da instituio do precatrio

    Segundo Ana Paula Simo14

    , at a Constituio de 1934 no havia a exigncia de

    previso oramentria nem metodologia para a realizao de pagamentos ao credor na

    execuo contra a Fazenda Pblica. Assim, imperavam os favorecimentos, pois os

    pagamentos eram realizados diretamente pelos caixas dos respectivos rgos pblicos, sem

    qualquer controle.

    Somente com a Constituio de 1934 que se estabeleceu a sistemtica de

    pagamentos de dvidas da Fazenda Pblica mediante ordem de apresentao dos precatrios.

    O art. 182 da Constituio de 1934 estabelecia: Os pagamentos devidos pela Fazenda

    Federal, em virtude de sentena judiciria, far-se-o na ordem de apresentao dos precatrios

    e conta dos crditos respectivos, sendo vedada a designao de casos ou pessoas nas verbas

    legais15

    . Entretanto, como se pode perceber, o art. 182 se referia a Fazenda Federal, o que

    ocasionava dvidas quanto ao alcance da norma para a Fazenda estadual e municipal.

    A Constituio Federal de 1937 manteve as disposies anteriores, referindo-se apenas

    Fazenda federal, no entanto, o Cdigo de Processo Civil de 1939, elaborado na vigncia da

    referida Constituio, dispunha em seu art. 918, pargrafo nico, que os presidentes dos

    tribunais de apelao e do Supremo Tribunal Federal eram competentes para expedir as

    ordens de pagamento, gerando assim o entendimento de que a norma se aplicava tambm as

    Fazendas Pblicas estadual e municipal devido a figura dos presidentes dos tribunais.

    A Constituio Federal de 1946, em seu art. 204 caput, atualizou o dispositivo e

    incluiu no texto constitucional as Fazendas estadual e municipal.

    Com a Constituio de 1967 houve significativa inovao no ordenamento

    constitucional com a incluso da previso oramentria dos recursos financeiros necessrios

    ao pagamento dos dbitos constantes dos precatrios. O Cdigo de Processo Civil de 1973,

    elaborado sob a gide da Constituio de 1967, regulou a execuo contra a Fazenda Pblica

    14

    SIMO, Ana Paula. A efetividade da execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica. 2009. 130 f.

    Dissertao (Mestrado em Direito) - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2009. p. 44.

    Disponvel em: . Acesso em 30 set.

    2014. 15

    BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de 1934). Disponvel

    em: . Acesso em: 20 out. 2014.

    https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/362641da8a5bde02032569fa00742174?OpenDocument&Highlight=1,&AutoFramedhttps://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/362641da8a5bde02032569fa00742174?OpenDocument&Highlight=1,&AutoFramed

  • 22

    incluindo o precatrio como forma de pagamento, em seus artigos 730 e 731, em vigncia at

    os dias atuais.

    Por fim, a Constituio de 1988, em seu art. 100, consagrou o precatrio como forma

    de pagamento de dbitos devidos pela Fazenda Pblica. Este dispositivo, porm, sofreu vrias

    alteraes com as Emendas Constitucionais - EC ns 20/1998, 30/2000, 37/2002 e mais

    recentemente com a polmica EC 62/2009, declarada inconstitucional pelo STF, sobre a qual

    trataremos a seguir.

    3.2 Emenda Constitucional 62/2009

    A EC 62/2009 alterou a redao do art. 100 da Carta Magna e acrescentou o art. 97 ao

    Ato das Disposies Constitucionais Transitrias - ADCT, determinando a forma de

    realizao do regime de pagamentos devidos pela Fazenda Pblica por meio de precatrios,

    todavia, esta emenda sofreu mais de uma Ao Direta de Inconstitucionalidade ADI, como

    por exemplo, as ADIs N 4357 e N 4425 do STF, que trataremos mais adiante.

    O caput do art. 100 da CF, ento, alterado pela EC 62/2009, determina que os

    pagamentos devidos pela Fazenda Pblica federal, estadual, distrital e municipal, em virtude

    de sentena judiciria, far-se- exclusivamente na ordem cronolgica de apresentao dos

    precatrios e conta dos crditos respectivos.

    Nesse sentido, quando houver execuo de ttulo extrajudicial, conforme explica

    Humberto Theodoro Junior16

    , mesmo na ausncia de embargos, o juiz ter que proferir

    sentena para autorizar a expedio do precatrio, pois, para o autor, a execuo pelo sistema

    do precatrio tem que fundar-se sempre em sentena judiciria, conforme impe o art. 100

    da Constituio.

    Desta forma, seja a execuo por ttulo executivo judicial ou extrajudicial, dever o

    juiz da execuo requisitar o pagamento por intermdio do presidente do tribunal competente,

    pois cabe ao presidente do tribunal, conforme dispe o art. 731, inciso I, do CPC e conforme o

    art. 100, 6 da CF, determinar a expedio do precatrio, ou seja, a reivindicao de

    pagamento dirigida Fazenda Pblica devedora.

    Os precatrios sero pagos na ordem cronolgica em que forem apresentados

    Fazenda Pblica, no entanto, o 1 do art. 100 da CF prescreve que os crditos de natureza

    16

    THEODORO JUNIOR, Humberto. Op. cit., p. 409.

  • 23

    alimentcia, compreendidos como aqueles decorrentes de salrios, vencimentos, proventos,

    penses e suas complementaes, benefcios previdencirios e indenizaes por morte e

    invalidez, fundadas em responsabilidade civil da Fazenda Pblica, sero pagos com

    preferncia sobre todos os demais, exceto sobre os crditos, tambm de natureza alimentcia,

    cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais, na data da expedio do precatrio

    ou sejam portadores de doena grave, definidas em lei, conforme dispe o 2 do mesmo

    artigo.

    O 2 do art. 100 da CF prev ainda que os titulares de crdito de natureza alimentcia

    que tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais, na data da expedio do precatrio, ou que

    sejam portadores de doena grave, definidas em lei, recebero com preferncia at o limite de

    3 (trs) vezes o valor estipulado para as obrigaes consideradas de pequeno valor (que so

    reguladas pelo 3 do mesmo dispositivo e sero analisadas no prximo tpico deste

    trabalho). Alm do mais, ser admitido, nestes casos, o fracionamento do crdito para que a

    parcela devida, at o limite mencionado, seja recebida com prioridade, o restante ser pago na

    ordem cronolgica de apresentao do precatrio.

    Compreende-se desse dispositivo constitucional, a existncia ento, de duas ordens a

    serem respeitadas: a lista dos credores com privilgio, referente aos precatrios de natureza

    alimentcia, e a lista dos demais credores que possuem crditos de natureza diversa da

    alimentcia, que comear a ser paga aps a satisfao dos crditos preferenciais. No entanto,

    foi estabelecida uma preferncia sobre aquela que j existia, ou seja, dentre os crditos de

    natureza alimentcia, aqueles que cujos titulares se enquadrem nos critrios de idade e doena

    grave, tero preferncia sobre os demais, tambm de natureza alimentcia.

    Pedro Lenza observa essa questo com certa preocupao. Em sua opinio a medida

    no razovel e pode ferir o princpio da isonomia, vejamos:

    A novidade mostra-se interessante e at louvvel, mas no razovel se imaginarmos

    pessoas que esto na fila do pagamento e completam 60 anos ou passem a portar

    doena grave. Ser que no haveria violao isonomia?

    Outro ponto a limitao da preferncia em relao a somente o triplo do valor

    considerado pela lei como de pequeno valor. Se o discrimen era a idade, porque

    limitar o valor ao triplo? Referido fracionamento no se mostra razovel17

    .

    17

    LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. rev. atual. ampl. So Paulo: Saraiva, 2012. p.

    778.

  • 24

    Sobre a problemtica apontada por Pedro Lenza, quanto aos titulares de crdito que

    aguardam na fila completarem 60 anos ou se acometerem de doena grave, a Resoluo 115

    do Conselho Nacional de Justia (CNJ), que regulamenta a gesto de precatrios no mbito do

    Poder Judicirio, tenta regular o assunto dispondo em seus artigos 12 e 13 pargrafo nico, o

    seguinte:

    Art. 12. Sero considerados idosos os credores originrios de qualquer espcie de

    precatrio, que contarem com 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data da

    expedio do precatrio em 9 de dezembro de 2009, data da promulgao da EC

    62/2009, sendo tambm considerados idosos, aps tal data, os credores originrios

    de precatrios alimentares que contarem com 60 (sessenta) anos de idade ou mais,

    na data do requerimento expresso de sua condio, e que tenham requerido o

    benefcio.

    Art. 13. Pargrafo nico. Pode ser beneficiado pela preferncia constitucional o

    credor portador de doena grave, assim considerada com base na concluso da

    medicina especializada comprovada em laudo mdico oficial, mesmo que a doena

    tenha sido contrada aps o incio do processo. (Redao dada pela Resoluo n

    123, de 09 de nov. 2010).

    Como podemos observar, o CNJ considera para fins de preferncia o credor alimentar

    que contar com 60 anos de idade ou mais, na data de expedio do precatrio at 09 de

    dezembro de 2009, data da promulgao da EC 62/2009, conforme tambm dispe o 18 do

    art. 97 do ADCT. Aps esta data, o credor alimentar que contar com 60 anos ou mais na data

    do requerimento expresso dessa condio e que tenha requerido o benefcio far jus a

    preferncia constitucional. Observa-se jurisprudncia dos tribunais nesse sentido:

    RECURSO ORDINRIO EM AGRAVO REGIMENTAL. PRECATRIO.

    PAGAMENTO PREFERENCIAL. IDOSO. RESOLUO N 115 DO

    CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA. VALIDADE E EFICCIA DA

    RESOLUO MESMO APS O JULGAMENTO DAS ADIs 4357 E 4425 PELO

    STF. legal e escorreito o ato administrativo da Desembargadora Presidente do

    Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio que reconheceu o direito de preferncia

    aos exequentes da Fazenda Pblica Estadual em regime de precatrio especial que

    contavam com mais de 60 (sessenta) anos de idade na data do requerimento, com

    fundamento no art. 12 da Resoluo n 115/10 do CNJ, cuja redao permanece

    inclume, j que, na parte do precatrio de natureza alimentar, em nada conflita com

    o entendimento do STF exarado no julgamento das ADIs 4357 e 4425. Precedentes

    deste rgo Especial. Recurso ordinrio conhecido e no provido18

    .

    18

    BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso Ordinrio n. 6312-39.2012.5.04.0000. Relator: Hugo Carlos

    Scheuermann. Data de julgamento: 03 de junho de 2013. JusBrasil. Disponvel em:

    . Acesso em 17 out. 2014.

  • 25

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. PRECATRIO. PAGAMENTO

    PREFERENCIAL. IDADE. idoso, na forma do art. 12 da Resoluo n 115 do

    Conselho Nacional de Justia, de 29 de junho de 2010, o credor originrio de

    precatrio alimentar que contar com 60 anos de idade ou mais na data do

    requerimento expresso de sua condio. DIREITO DE PREFERNCIA. DOENA

    GRAVE. Tendo os exequentes comprovado serem portadores de doena grave

    (neoplasia maligna), na forma do caput do art. 13 da Resoluo n 115 do CNJ,

    fazem jus ao direito de preferncia requerido. Agravo Regimental a que se nega

    provimento19

    .

    De acordo com o 3 do art. 100 da CF, no se aplica o sistema de expedio de

    precatrios aos pagamentos de obrigaes definidas em leis como sendo de pequeno valor. A

    fixao desse valor, conforme dispe o 4, poder ser realizada pelas entidades de direito

    pblico, por meio de leis prprias, segundo as diferentes capacidades econmicas de cada

    entidade, sendo o valor mnimo igual ao do maior benefcio do regime geral de previdncia

    social.

    Dispe ainda o 5 do art. 100 que os precatrios apresentados at o dia 1 de julho de

    um ano sero includos no oramento do rgo devedor para o ano seguinte, enquanto os

    precatrios apresentados aps 1 de julho sero inseridos no oramento do ano subsequente ao

    seguinte. Por exemplo, um precatrio apresentado at dia 01/07/2014 ser includo no

    oramento de 2015 do rgo pblico devedor, o precatrio que for apresentado aps essa data

    dentro do mesmo ano, ser includo no oramento de 2016.

    Isto se deve ao fato de que o Poder executivo tem at o dia 31 de agosto de cada ano

    (at quatro meses antes do encerramento do exerccio financeiro, conforme dispe o art. 35,

    2, I, do ADCT), para apresentao ao Poder Legislativo, do projeto de Lei Oramentria

    Anual LOA, que conter a fixao das despesas e a previso das receitas para o exerccio

    seguinte (art. 165, pargrafos 5 e 6 da CF/88). O projeto da LOA fica sujeito aprovao

    pelo Poder Legislativo e a execuo das despesas fica condicionada arrecadao das receitas

    previstas na LOA.

    19

    BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio. Agravo Regimental: 00066180820125040000 RS

    0006618-08.2012.5.04.0000. Relator: Maria Helena Mallmann. Data de julgamento: 28 de setembro de 2012.

    JusBrasil. Disponvel em: . Acesso em 19 out. 2014.

  • 26

    3.3 Sequestro de verbas pblicas

    A execuo de dvidas pblicas como j observado, segue sistema diferenciado para a

    satisfao do direito do credor. Cumpre-se a execuo contra a Fazenda Pblica, requisitando-

    se a incluso dos recursos financeiros necessrios no oramento do rgo pblico devedor e

    aguardando-se que a satisfao do crdito ajuizado seja realizada pelo obrigado.

    Caber ao presidente do tribunal a expedio dos mandados de levantamento das

    quantias necessrias para pagamento dos dbitos, o que dever ser feito observando-se a

    ordem cronolgica de apresentao dos precatrios.

    O presidente do tribunal que expediu o precatrio poder, a requerimento do credor,

    determinar o sequestro de verbas pblicas se verificar que ocorreu a no alocao do recurso

    necessrio ao pagamento do dbito no oramento da entidade devedora ou se o credor foi

    preterido em seu direito de precedncia ou preferncia, com fundamento no 6 do art. 100 da

    Constituio, bem como no art. 731 do CPC.

    Tratando-se de credor preterido em seu direito de preferncia, caber ao presidente do

    tribunal que expediu o precatrio, aps ouvir o chefe do Ministrio Pblico (que neste caso

    atua como fiscal da lei) determinar o sequestro da quantia necessria para o pagamento do

    crdito daquele que foi preterido.

    Vrios doutrinadores destacam que a utilizao do termo sequestro inadequada,

    porque, a nomenclatura tcnica utilizada para a apreenso de valores ou bens destinada a

    assegurar a execuo por quantia certa, arresto.

    Outra questo controversa na doutrina a que diz respeito legitimidade passiva da

    referida apreenso. Para Freitas Cmara20

    , o sujeito passivo to somente o credor que

    recebeu antes do momento oportuno. Levando-se em conta a impenhorabilidade dos bens

    pblicos, o autor defende que o ente pblico no poder figurar no polo passivo, j que o bem

    apreendido no poder ser alienado.

    Para Araken de Assis21

    , a legitimidade passiva deve se vincular ao endereo da

    providncia executiva, ou seja, o sujeito passivo o credor beneficiado nos casos em que

    recebeu o crdito antes do momento apropriado, porm nas demais situaes, como por

    exemplo, a no alocao do recurso no oramento do ente pblico executado, lcito o

    sequestro de rendas pblicas, figurando a Fazenda Pblica no polo passivo.

    20

    CMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 357. 21

    ASSIS, Araken de. Op. cit., p. 1124.

  • 27

    J para Ernane Fidlis dos Santos22

    , a orientao para apreenso de valores do credor

    que recebeu sem atender a ordem de preferncia no correta. Segundo o autor, havendo

    dotao oramentria, por disposio constitucional, autorizada a apreenso de verbas da

    receita da Fazenda Pblica, para o pagamento de suas obrigaes, na forma da lei.

    3.4 Excees ao regime de precatrios

    Conforme j observado, no se sujeitam ao pagamento pelo regime de precatrios, os

    crditos definidos em lei como de pequeno valor, que a Fazenda Pblica seja devedora em

    virtude de sentena judicial transitada em julgado (3 do art. 100 da CF). Cabe ento, lei

    ordinria estipular os valores para identificao das Obrigaes de Pequeno Valor - OPV.

    A lei 10.259 de 2001, que instituiu os juizados especiais cveis no mbito da justia

    federal, definiu como sendo de pequeno valor, as causas cujo valor seja de at 60 (sessenta)

    salrios mnimos (art. 3, caput). Assim, atribuiu-se este valor como regra a ser aplicada nas

    execues de obrigaes devidas pela Fazenda Pblica Federal.

    Quanto s esferas estadual, distrital e municipal, o art. 87 do ADCT, modificado pela

    EC 37/2002, estabeleceu o seguinte: 40 (quarenta) salrios mnimos para execues de

    crditos perante a Fazenda dos Estados e Distrito Federal e 30 (trinta) salrios mnimos

    perante a Fazenda dos Municpios.

    Estes valores foram mantidos pelo art. 97 do ADCT, acrescentado pela EC 62/2009.

    Vale lembrar, porm, que o art. 100, 4 da CF deu autonomia aos entes federativos para a

    fixao dos valores das OPVs, de acordo com a sua capacidade oramentria, desde que

    nunca sejam inferiores ao maior benefcio do regime geral de previdncia social23

    .

    Nos casos em que o valor da condenao, atualizada at a data da requisio,

    considerada de pequeno valor, a requisio de pagamento no se d por meio de precatrio,

    mas, por meio de requisio direta de pagamento de obrigao de pequeno valor, cujo

    pagamento ocorrer em at 60 (noventa) dias da data de apresentao entidade devedora,

    conforme dispe o art. 17 da lei 10.259/2001. Nesses casos, segundo o mesmo dispositivo, a

    Requisio de Pequeno Valor - RPV expedida pelo juiz da causa ao rgo estatal

    competente para realizar o pagamento, sem intermdio, portanto, do presidente do tribunal.

    22

    SANTOS, Ernane Fidlis. Manual de direito processual civil. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 2010. p. 285. 23

    A Portaria Interministerial MPS/MF n 13/2015. DOU de 12.01.2015, em seu art. 2, estabeleceu, a partir de

    1 de janeiro de 2015, o valor de R$ 4.663,75, como o maior benefcio do regime geral de previdncia social.

  • 28

    Reza ainda o art. 13 da lei 10.259/2001, que nas causas de que trata esta lei, no haver

    reexame necessrio.

    Importante salientar que com relao ao prazo para pagamento da RPV h disposies

    diversas em leis estaduais, o que tem gerado questionamentos quanto ao fato de uma lei

    estadual contrariar a lei federal.

    Vejamos um julgado do tribunal de justia do Rio Grande do Sul, onde lei estadual

    estabeleceu o prazo de 180 dias para pagamento da RPV:

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUO DE SENTENA. PRAZO PARA

    PAGAMENTO DA RPV. APLICAO DO DISPOSTO NA LEI 13.756/11. A

    partir da entrada em vigor da Lei Estadual 13.756/11, o prazo para pagamento da

    RPV em montante superior a sete salrios mnimos de 180 dias contados do

    protocolo perante o rgo competente para o seu pagamento. AGRAVO DE

    INSTRUMENTO PROVIDO24

    .

    Sobre o regime de pagamento de pequeno valor pela Fazenda Pblica, cabe ainda

    mencionar que o pargrafo nico do art. 87 do ADCT preconiza:

    Se o valor da execuo ultrapassar o estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-,

    sempre, por meio de precatrio, sendo facultada parte exequente a renncia ao

    crdito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o

    precatrio, da forma prevista no 3 do art. 100.

    Assim, pode o credor, renunciar a diferena do crdito que ultrapassar o valor

    considerado como OPV, para que desta maneira, possa receber o crdito remanescente pelo

    regime diferenciado da RPV, considerado mais clere do que o regime de precatrios.

    De toda forma, no se admite a expedio de precatrios complementares ou

    suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartio ou quebra do valor da

    execuo para fins de recebimento de parcela do valor total pelo regime da RPV, o que

    dispe o 8 do art. 100 da Constituio Federal. O dispositivo tenta evitar que o mesmo

    credor pretenda execuo separada de crditos provenientes de um s ttulo judicial. No

    24

    BRASIL. Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul. 3. Turma. Agravo de Instrumento n. 70046289088.

    Relator: Rogerio Gesta Leal. Data de julgamento: 16 de fevereiro de 2012. Lex. Disponvel em:

    . Acesso em: 21 out.

    2014.

  • 29

    entanto, segundo os entendimentos de Theodoro Junior25

    e de Scarpinella Bueno26

    , a restrio

    aplica-se apenas aos casos em que a titularidade de todas as verbas da condenao pertena ao

    mesmo credor. Diversa a situao em que vrios credores sejam contemplados numa s

    sentena, nestes casos, o valor a ser recebido por cada um dos exequentes que permitir a

    requisio direta ou no de seu pagamento. Isto significa que, se houver litisconsrcio ativo,

    cada um dos credores poder executar sua parte dos crditos separadamente.

    No se pode pretender, porm, a execuo separada de honorrios de sucumbncia,

    como crdito de pequeno valor. Embora o advogado tenha direito verba honorria e esta

    possa ser objeto de precatrio expedido diretamente em seu favor, a soma desse acessrio

    com o principal da condenao, no pode ultrapassar o valor limite necessrio para ser

    considerada obrigao de pequeno valor.

    25

    THEODORO JUNIOR, Humberto. Op. cit., p. 414. 26

    BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p. 406.

  • 30

    4 A INCONSTITUCIONALIDADE DA EC 62/2009 E A MODULAO DOS SEUS

    EFEITOS

    A ADI n 4357 proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

    (OAB), Associao dos Magistrados Brasileiros (AMB), Associao Nacional dos Membros

    do Ministrio Pblico (CONAMP), Associao Nacional dos Servidores do Poder Judicirio

    (ANSJ), Confederao Nacional dos Servidores Pblicos (CNSP) e Associao Nacional dos

    Procuradores do Trabalho (ANPT), questiona a constitucionalidade da Emenda Constitucional

    n 62, de 09 de dezembro de 2009, que alterou o art. 100 da Constituio Federal e

    acrescentou o art. 97 ao ADCT.

    O julgamento da ADI 4357 foi realizado em conjunto com as ADIs 4425, 4372 e 4400

    que tratam do mesmo assunto.

    Alegam os requerentes, primeiramente, a inconstitucionalidade formal de toda a

    Emenda Constitucional n 62/2009, por violao ao inciso LIV do art. 5 e ao 2 do art. 60,

    ambos da Constituio Federal. Alegam tambm numerosos vcios de inconstitucionalidade

    material, assim resumidos:

    1) 2 do art. 100 da CF: a expresso na data de expedio do precatrio

    ofenderia os princpios da igualdade, da razoabilidade e da proporcionalidade, por no

    considerar preferenciais os crditos de pessoas que venham a completar 60 (sessenta) anos de

    idade aps a expedio do precatrio;

    2) 9 e 10 do art. 100 da CF: ao tornar obrigatria a compensao do crdito a

    ser inscrito em precatrio com dbitos lquidos e certos, inscritos ou no em dvida ativa, os

    novos dispositivos constitucionais violariam os direitos de liberdade e propriedade dos

    indivduos, alm da garantia de razovel durao do processo;

    3) 12 do art. 100 da CF, inciso II do 1 e 16, ambos do art. 97 do ADCT:

    esses dispositivos, acrescentados pela Emenda Constitucional 62/2009, violariam o direito de

    propriedade, os princpios da igualdade, da moralidade, da eficincia e da separao dos

    Poderes, alm da segurana jurdica, pois:

    a) o ndice de remunerao bsica da caderneta de poupana no reflete a real

    desvalorizao do poder aquisitivo da moeda;

  • 31

    b) ao ter suas dvidas atualizadas por ndice inferior ao que atualiza seus crditos,

    o Estado instaura desigualdade desproporcional entre as partes;

    c) os membros do Poder Judicirio perdero a autonomia para fixar o critrio que

    considerem adequado para atualizao do dbito, atingindo tambm a coisa julgada;

    d) a possibilidade de o Poder Pblico dilatar por quinze anos a completa execuo

    das sentenas judiciais transitadas em julgado, significaria desrespeito s garantias do livre

    acesso ao Judicirio, do devido processo legal e da razovel durao do processo, alm de

    afrontar a autoridade das decises judiciais j transitadas em julgado.

    A Emenda 62/2009 deixaria ainda, de acordo com o entendimento dos requerentes, o

    Estado praticamente imune aos comandos do Poder Judicirio, alm de transformar o

    adimplemento de precatrios em mera escolha poltica dos governantes, havendo assim,

    violao separao dos Poderes.

    Tambm haveria vcio de inconstitucionalidade nos pargrafos 14 e 15 do art. 97 do

    ADCT, pois acabou por transformar o pagamento do precatrio, que era transitrio, em algo

    permanente. O fato que nunca se esgotaria o estoque de precatrios.

    O pedido de declarao de inconstitucionalidade da EC 62/2009 foi julgado

    procedente em parte, em 14 de maro de 2013. O STF considerou inexistente a ofensa

    constitucionalidade formal e declarou a inconstitucionalidade parcial, sem reduo da

    expresso independentemente de sua natureza, contida no art. 100, 12, da CF, para

    determinar que, quanto aos precatrios de natureza tributria, sejam aplicados os mesmos

    juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crdito tributrio.

    No 2 do art. 100, foi considerada inconstitucional a expresso na data de expedio

    do precatrio, que restringe o pagamento preferencial queles que j tm 60 anos completos

    quando da expedio do ttulo judicial. Segundo o voto do ministro Ricardo Lewandowski,

    excluir da preferncia o sexagenrio que completa a idade ao longo do processo ofende a

    isonomia e tambm a dignidade da pessoa humana e o princpio da proteo aos idosos,

    assegurado constitucionalmente27

    .

    Quanto aos pargrafos 9 e 10 do art. 100 da CF foram declarados inconstitucionais,

    com o fundamento de que a compensao dos dbitos da Fazenda Pblica, inscritos em

    27

    BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Precatrios: STF comea a analisar proposta de modulao de ADIs.

    Data da publicao: 24 out. 2013. Disponvel em:

    . Acesso em 25

    out. 2014.

  • 32

    precatrios, embaraa a efetividade da jurisdio, desrespeita a coisa julgada material, vulnera

    a separao dos Poderes e ofende a isonomia entre o Poder Pblico e o particular.

    Sendo assim, foram julgados inconstitucionais em parte os pargrafos 2, 9, 10 e 12

    do art. 100 da CF, assim como o art. 97 do ADCT.

    Todavia, o STF concluiu em 25 de maro de 2015 o julgamento sobre a modulao

    dos efeitos da declarao de inconstitucionalidade da EC 62/2009, isto , quanto ao alcance

    dos efeitos dessa deciso.

    Segundo o julgamento da Suprema Corte28

    , fica mantido parcialmente o regime de

    pagamento de precatrios criado pela EC 62/2009 pelo perodo de cinco exerccios

    financeiros, contados a partir de primeiro de janeiro de 2016. Foi ainda fixado um novo ndice

    de correo monetria e estabelecida a possibilidade de compensao de precatrios vencidos

    com crditos j inscritos em dvida ativa.

    No caso da compensao de precatrios vencidos com a dvida ativa, a deciso no

    tem aplicao imediata, uma vez que o Plenrio delegou ao CNJ a regulamentao do tema,

    com a apresentao ao STF de uma proposta normativa. Tambm caber ao CNJ, nos mesmos

    termos, a regulamentao do uso compulsrio de 50% dos depsitos judiciais tributrios no

    pagamento de precatrios.

    Quanto correo monetria decidiu-se considerar vlido o ndice bsico da caderneta

    de poupana (TR) para a correo dos precatrios, at o dia 25 de maro de 2015, aps esta

    data, a correo ser pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). Os

    precatrios federais seguiro regidos pelo disposto nas Leis de Diretrizes Oramentrias

    (LDOs) quanto aos anos de 2014 e 2015, caso em que j foi fixado o IPCA-E como ndice de

    correo.

    Quanto s formas alternativas de pagamento previstas pela EC 62/2009, ficam

    mantidas as compensaes, leiles e pagamentos vista, realizados at o dia 25 de maro de

    2015, vedada a possibilidade realizao aps esta data. A possiblidade de realizao de

    acordos diretos com os credores de precatrios permanece pelo perodo de cinco exerccios,

    observada a ordem de preferncia, com reduo mxima de 40% do valor do crdito

    atualizado. Isso para se evitar uma posio draconiana da Fazenda Pblica, ou seja, para se

    28 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenrio define efeitos da deciso nas ADIs sobre emenda dos

    precatrios. Data da publicao: 25 mar. 2015. Disponvel em:

    . Acesso em 27 mar. 2015.

  • 33

    evitar que a Fazenda oferea acordo muito desvantajoso para o administrado que ser

    compelido a aceitar para no ter que ficar esperando indefinidamente.

    Tambm pelo perodo de cinco exerccios financeiros fica mantida a vinculao de

    percentuais mnimos da receita corrente dos estados e municpios ao pagamento de

    precatrios, e mantidas as sanes para o caso de no liberao dos recursos. Foi ainda

    atribuda ao CNJ a competncia para supervisionar o pagamento de precatrios.

  • 34

    5 A EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA LUZ

    DO NOVO CDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

    A lei 13.105/2015 instituiu o novo Cdigo de Processo Civil brasileiro, sancionado em

    16 de maro de 2015 pela Presidente Dilma Rousseff. O novo CPC encontra-se ainda em

    perodo de vacatio legis e entrar em vigor em 17 de maro de 2016 em substituio ao atual

    Cdigo de Processo Civil que vigora desde 1973.

    O principal objetivo da reforma do Cdigo de Processo Civil (CPC) a busca de

    maior celeridade e efetividade da tutela jurisdicional.

    Segundo Costa e Tucci29

    : O CPC aprovado, em suas linhas gerais, no descurou a

    moderna linha principiolgica que advm do texto constitucional. Pelo contrrio, destacam-se

    em sua redao inmeras regras que, a todo o momento, procuram assegurar o devido

    processo legal.

    O novo Cdigo traz inmeras modificaes, como a supresso de artigos em desuso ou

    de procedimentos considerados protelatrios, a reformulao de dispositivos j existentes e

    algumas inovaes nos procedimentos processuais.

    Algumas dessas modificaes tero impacto direto nos processos judiciais que

    envolvem a Fazenda Pblica, e especialmente no processo de execuo por quantia certa

    contra a Fazenda.

    As principais alteraes nos procedimentos para execuo da Fazenda Pblica

    encontram-se no artigo 496 do CPC de 2015, que trata do reexame necessrio, nos artigos 534

    e 535 que tratam do cumprimento de sentena que reconhea a exigibilidade de obrigao de

    pagar quantia certa pela Fazenda Pblica e no artigo 910 que trata da execuo contra a

    Fazenda Pblica fundada em ttulo extrajudicial.

    Destacamos ainda o artigo 183 que modificou os prazos processuais para as

    manifestaes da Fazenda Pblica em juzo, revogando-se o prazo em qudruplo para

    contestar e mantendo-se o prazo em dobro para todos os atos processuais da Fazenda. Ento,

    vejamos:

    29

    COSTA, Marcos da; TUCCI, Jos Rogrio Cruz e. Consultor Jurdico. Disponvel em:

    . Acesso em 28 mar.

    2015.

  • 35

    5.1 Dos prazos processuais

    Art. 183. A Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas

    autarquias e fundaes de direito pblico gozaro de prazo em dobro para todas as

    suas manifestaes processuais, cuja contagem ter incio a partir da intimao

    pessoal.

    O dispositivo supra pe fim ao prazo em qudruplo para a Fazenda Pblica apresentar

    defesa. A Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas autarquias e

    fundaes tero prazo em dobro, seja para apresentar defesa, seja para recorrer, seja para

    qualquer manifestao nos autos.

    Do ponto de vista da celeridade processual este artigo inova de forma favorvel, h,

    porm, procuradores que alegam que devido a enorme demanda em face da Fazenda Pblica a

    diminuio do prazo para contestar seria prejudicial Fazenda Pblica, que muitas vezes tem

    dificuldades para conseguir, junto Administrao Pblica, os documentos necessrios para

    sua defesa. Contudo, optou o legislador por manter apenas o prazo em dobro, o que se

    acredita ser suficiente para as necessrias providncias em todas as manifestaes processuais

    da Fazenda Pblica.

    5.2 Da remessa necessria

    Art. 496. Est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito

    seno depois de confirmada pelo tribunal, a sentena:

    I - proferida contra a Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e

    suas respectivas autarquias e fundaes de direito pblico;

    II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo

    fiscal.

    1o Nos casos previstos neste artigo, no interposta a apelao no prazo

    legal, o juiz ordenar a remessa dos autos ao tribunal, e, se no o fizer, o presidente

    do respectivo tribunal avoc-los-.

    2o Em qualquer dos casos referidos no 1

    o, o tribunal julgar a remessa

    necessria.

    3o No se aplica o disposto neste artigo quando a condenao ou o proveito

    econmico obtido na causa for de valor certo e lquido inferior a:

  • 36

    I - 1.000 (mil) salrios-mnimos para a Unio e as respectivas autarquias e

    fundaes de direito pblico;

    II - 500 (quinhentos) salrios-mnimos para os Estados, o Distrito Federal, as

    respectivas autarquias e fundaes de direito pblico e os Municpios que

    constituam capitais dos Estados;

    III - 100 (cem) salrios-mnimos para todos os demais Municpios e

    respectivas autarquias e fundaes de direito pblico.

    4o Tambm no se aplica o disposto neste artigo quando a sentena estiver

    fundada em:

    I - smula de tribunal superior;

    II - acrdo proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior

    Tribunal de Justia em julgamento de recursos repetitivos;

    III - entendimento firmado em incidente de resoluo de demandas

    repetitivas ou de assuno de competncia;

    IV - entendimento coincidente com orientao vinculante firmada no mbito

    administrativo do prprio ente pblico, consolidada em manifestao, parecer ou

    smula administrativa.

    O que se observa de imediato que o artigo 496 do CPC de 2015 substitui o art. 475

    do CPC de 1973 que trata do reexame necessrio, agora chamado pelo legislador de remessa

    necessria, em virtude de ter o juiz de primeira instncia o dever de ordenar a remessa dos

    autos ao tribunal, ainda que no interposta a apelao pela Fazenda Pblica, se no o fizer, o

    presidente do respectivo tribunal avoc-los-.

    O novo dispositivo segue a tendncia de restrio na aplicao do reexame necessrio.

    Isso pode ser percebido com o aumento do valor das causas sujeitas ao reexame obrigatrio

    pela segunda instncia e com a maior quantidade de situaes que autorizam a no aplicao

    do instituto.

    No CPC em vigncia somente as causas em que a sentena condenatria for de valor

    certo no excedente a 60 salrios mnimos, preferida contra entes pblicos de qualquer das

    esferas de governo, ficam desobrigadas do reexame necessrio. Com o novo Cdigo passaro

    a ser desobrigadas as causas com valor lquido e certo inferior a 1.000 (mil) salrios mnimos

    no mbito federal, ou seja, em face da Unio e suas respectivas autarquias e fundaes de

    direito pblico, 500 (quinhentos) salrios mnimos para os Estados, o Distrito Federal, suas

    respectivas autarquias e fundaes de direito pblico e os Municpios que constituam capitais

    dos Estados e 100 (cem) salrios mnimos para todos os demais Municpios e suas respectivas

    autarquias e fundaes de direito pblico.

    Com a nova legislao tambm no se aplica a remessa necessria quando a sentena

    for fundada em smula do tribunal, em acrdo proferido pelo STF ou pelo STJ em

    julgamento de recursos repetitivos, no entendimento firmado em incidente de resoluo de

  • 37

    demandas repetitivas ou de assuno de competncia e no entendimento coincidente com

    orientao vinculante firmada no mbito administrativo do prprio ente pblico, consolidada

    em manifestao, parecer ou smula administrativa.

    Contudo, ao realizarmos uma anlise crtica sobre o novo artigo, percebemos que nas

    causas de alto valor dificilmente a Fazenda Pblica no interpor apelao, o que nos faz

    pensar sobre a necessidade e aplicabilidade prtica deste artigo.

    5.3 Do cumprimento de sentena que reconhea a exigibilidade de obrigao de

    pagar quantia certa pela Fazenda Pblica

    Art. 534. No cumprimento de sentena que impuser Fazenda Pblica o dever de

    pagar quantia certa, o exequente apresentar demonstrativo discriminado e

    atualizado do crdito contendo:

    I - o nome completo e o nmero de inscrio no Cadastro de Pessoas Fsicas ou no

    Cadastro Nacional da Pessoa Jurdica do exequente;

    II - o ndice de correo monetria adotado;

    III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

    IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correo monetria utilizados;

    V - a periodicidade da capitalizao dos juros, se for o caso;

    VI - a especificao dos eventuais descontos obrigatrios realizados.

    1o Havendo pluralidade de exequentes, cada um dever apresentar o seu prprio

    demonstrativo, aplicando-se hiptese, se for o caso, o disposto nos 1o e 2

    o do

    art. 113.

    2o A multa prevista no 1

    o do art. 523 no se aplica Fazenda Pblica.

    A lei 11.232/2005 alterou em parte o CPC de 1973, inserindo alguns dispositivos que

    prescrevem a desnecessidade de se iniciar um novo processo para obter o cumprimento de

    uma sentena judicial transitada em julgado nos casos de obrigao de pagar quantia certa. O

    cumprimento de sentena passou a ser uma fase processual, mera continuidade do processo e

    no um processo distinto. Com isso, obteve-se maior celeridade na obteno da tutela

    jurisdicional pretendida.

    Esta alterao, porm, no alcanou a Fazenda Pblica quando parte sucumbente.

    Assim, na sistemtica atual, para que se possa buscar a efetividade da sentena condenatria

    transitada em julgado contra a Fazenda Pblica, h a necessidade da instaurao de um novo

    processo, o processo de execuo contra a Fazenda Pblica.

  • 38

    No CPC de 2015, a partir da leitura do art. 534, caput, compreende-se que o

    cumprimento de sentena passa a ser aplicvel Fazenda Pblica como devedora de ttulo

    fundado em sentena judicial, reservando-se o processo de execuo e os prprios embargos

    execuo para as execues fundadas em ttulos executivos extrajudiciais, conforme se pode

    constatar com a leitura do caput do art. 910 do mesmo diploma.

    A expresso No cumprimento de sentena que impuser Fazenda Pblica o dever de

    pagar quantia certa presente no caput do art. 534 do novo CPC deixa claro que o

    procedimento ser o cumprimento de sentena, ao passo que o artigo 730 do atual CPC,

    equivalente, traz a expresso Na execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica

    demonstrando a necessidade de processo autnomo de execuo.

    Esta modificao pode se tornar um grande avano processual nas aes de obrigao

    de pagar quantia certa pela Fazenda Pblica, pois garante maior celeridade na tramitao do

    processo e maior clareza na aplicao dos procedimentos.

    Nesse sentido, opina Scarpinella Bueno:

    O art. 534, disciplinando a sistemtica constitucional, aprimora (e muito) o art. 730

    do CPC atual, eliminando, a um s tempo, dvidas derivadas da aplicabilidade da

    Lei n. 11.232/2005 s execues movidas em face da Fazenda Pblica e

    harmonizando esta especial execuo s novidades propostas desde o Anteprojeto e

    acolhidas na verso final do novo CPC30

    .

    Do artigo 534, destaca-se ainda em seu 2, a no aplicao da multa de 10% (dez por

    cento) prevista no 1 do art. 523, tambm do novo CPC, pelo no cumprimento espontneo

    da sentena judicial que estabeleceu a obrigao de pagar quantia certa.

    Art. 523. No caso de condenao em quantia certa, ou j fixada em liquidao, e no

    caso de deciso sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentena

    far-se- a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o

    dbito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

    1o No ocorrendo pagamento voluntrio no prazo do caput, o dbito ser acrescido

    de multa de dez por cento e, tambm, de honorrios de advogado de dez por cento.

    30

    BUENO, Cassio Scarpinella. Novo cdigo de processo civil anotado. So Paulo: Saraiva, 2015. p. 364.

  • 39

    Esta multa j era prevista no art. 475-J do CPC em vigncia, que dispe sobre os

    procedimentos para o cumprimento de sentena, porm no se aplica Fazenda Pblica, que a

    propsito, ainda no se submete ao cumprimento de sentena at a entrada em vigor do novo

    Cdigo.

    Uma possvel justificativa para a no aplicao da multa, ainda que a Fazenda Pblica

    se submeta ao procedimento do cumprimento de sentena, pode ser a impossibilidade de

    pagamento judicial pela Fazenda por outra forma que no seja a expedio de precatrio ou

    RPV, que possuem prazo superior de pagamento se comparados aos 15 dias para

    cumprimento espontneo aps a intimao, conforme dispe o art. 523 supracitado.

    Art. 535. A Fazenda Pblica ser intimada na pessoa de seu representante judicial,

    por carga, remessa ou meio eletrnico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e

    nos prprios autos, impugnar a execuo, podendo arguir:

    I - falta ou nulidade da citao se, na fase de conhecimento, o processo correu

    revelia;

    II - ilegitimidade de parte;

    III - inexequibilidade do ttulo ou inexigibilidade da obrigao;

    IV - excesso de execuo ou cumulao indevida de execues;

    V - incompetncia absoluta ou relativa do juzo da execuo;

    VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigao, como pagamento,

    novao, compensao, transao ou prescrio, desde que supervenientes ao

    trnsito em julgado da sentena.

    1o A alegao de impedimento ou suspeio observar o disposto nos arts. 146 e

    148.

    2o Quando se alegar que o exequente, em excesso de execuo, pleiteia quantia

    superior resultante do ttulo, cumprir executada declarar de imediato o valor que

    entende correto, sob pena de no conhecimento da arguio.

    3o No impugnada a execuo ou rejeitadas as arguies da executada:

    I - expedir-se-, por intermdio do presidente do tribunal competente, precatrio em

    favor do exequente, observando-se o disposto na Constituio Federal;

    II - por ordem do juiz, dirigida autoridade na pessoa de quem o ente pblico foi

    citado para o processo, o pagamento de obrigao de pequeno valor ser realizado

    no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisio, mediante depsito na

    agncia de banco oficial mais prxima da residncia do exequente.

    4o Tratando-se de impugnao parcial, a parte no questionada pela executada

    ser, desde logo, objeto de cumprimento.

    5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se tambm

    inexigvel a obrigao reconhecida em ttulo executivo judicial fundado em lei ou

    ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou

    fundado em aplicao ou interpretao da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo

    Tribunal Federal como incompatvel com a Constituio Federal, em controle de

    constitucionalidade concentrado ou difuso.

  • 40

    6o No caso do 5

    o, os efeitos da deciso do Supremo Tribunal Federal podero ser

    modulados no tempo, de modo a favorecer a segurana jurdica.

    7o A deciso do Supremo Tribunal Federal referida no 5

    o deve ter sido proferida

    antes do trnsito em julgado da deciso exequenda.

    8o Se a deciso referida no 5

    o for proferida aps o trnsito em julgado da deciso

    exequenda, caber ao rescisria, cujo prazo ser contado do trnsito em julgado da

    deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

    A leitura do art. 535 do CPC de 2015 nos permite uma relao com os artigos 741 a

    743 do CPC de 1973. Observamos ainda que foi convalidado o prazo de 30 dias para a

    apresentao de defesa, nos prprios autos, que o legislador optou por chamar de impugnao

    execuo. Assim, a impugnao execuo, em linhas gerais, pode versar sobre as mesmas

    alegaes previstas no art. 741 do CPC em vigncia.

    A intimao da execuo ser realizada na pessoa do representante judicial do ente

    pblico, por carga, remessa ou meio eletrnico.

    O pargrafo 3 dispe em seu inciso I, que no sendo impugnada ou sendo rejeitadas

    as arguies da executada, expedir-se- o precatrio em favor do exequente, por meio do

    presidente do tribunal competente, observadas as disposies da Constituio Federal para o

    pagamento dos precatrios. Em seu inciso II destaca que quando o pagamento recair sobre

    obrigao de pequeno valor (OPV) ser realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da

    entrega da requisio, mediante depsito na agncia de banco oficial mais prxima da

    residncia do exequente.

    O pargrafo 4o prev que se tratando de impugnao parcial, a parte no questionada

    pela executada ser, desde logo, objeto de cumprimento.

    Os respectivos pargrafos trazem inovaes importantes, em especial com a fixao de

    prazo para o pagamento das OPVs, cujo assunto tem sido motivo de controvrsias

    jurisprudenciais, conforme j discutimos.

    Vale ressaltar que os artigos 534 e 535 do novo Cdigo tratam to somente do

    cumprimento de sentena, ou seja, da execuo contra a Fazenda Pblica fundada em ttulo

    judicial. A execuo contra a Fazenda fundada em ttulo extrajudicial ficou regulamentada no

    art. 910 que analisaremos adiante.

  • 41

    5.4 Da execuo contra a Fazenda Pblica por ttulo extrajudicial

    Art. 910. Na execuo fundada em ttulo extrajudicial, a Fazenda Pblica ser

    citada para opor embargos em 30 (trinta) dias.

    1o No opostos embargos ou transitada em julgado a deciso que os rejeitar,

    expedir-se- precatrio ou requisio de pequeno valor em favor do exequente,

    observando-se o disposto no art. 100 da Constituio Federal.

    2o Nos embargos, a Fazenda Pblica poder alegar qualquer matria que lhe seria

    lcito deduzir como defesa no processo de conhecimento.

    3o Aplica-se a este Captulo, no que couber, o disposto nos artigos 534 e 535.

    O artigo 910 do CPC de 2015, como podemos constatar, trata da execuo contra a

    Fazenda Pblica baseada em ttulo executivo extrajudicial. Essa definio expressa dos

    procedimentos de acordo com o tipo de ttulo, judicial ou extrajudicial, acaba com

    controvrsias doutrinrias como as mencionadas no captulo 2 deste trabalho em que os

    autores divergiam sobre os procedimentos a serem aplicados e sobre a matria que poderia ser

    alegada na defesa em cada uma das espcies de execuo. Para Scarpinella Bueno:

    O art. 910 pe fim a esta discusso passando a admitir e a regular expressamente a

    disciplina da execuo contra a Fazenda Pblica quando ela for fundada em ttulo

    executivo extrajudicial. E o faz harmonicamente com o art. 100 da CF e com o

    modelo de pagamentos l estabelecido31

    .

    Como podemos notar o legislador optou por chamar embargos execuo apenas a

    defesa execuo fundada em ttulo extrajudicial e ratificou o prazo de 30 dias para a sua

    apresentao, conforme j vinha sendo aplicado com base na Medida Provisria 2.180-35 de

    2001 que acrescentou o art. 1-B da lei 9.494/97.

    O pargrafo 1 dispe que no opostos os embargos execuo ou transitada em

    julgado a deciso que os rejeitar, expedir-se- precatrio ou requisio de pequeno valor em

    favor do exequente, observando-se o disposto no art. 100 da Constituio Federal. O

    dispositivo no menciona se a expedio do precatrio ser por intermdio do presidente do

    tribunal competente, mencionando apenas que dever seguir o disposto no art. 100 da CF.

    31

    Op. cit., p. 554.

  • 42

    Aplicando-se subsidiariamente o disposto nos artigos 534 e 535 e analisando-se o pargrafo 6

    do art. 100 da CF fica subentendido que o precatrio dever ser expedido pelo presidente do

    tribunal competente, porm as requisies de pequeno valor nos termos da legislao atual

    podem ser expedidas pelo juiz da causa.

    Fica especificado tambm no pargrafo 2 que neste tipo de execuo a defesa poder

    versar sobre qualquer matria que lhe seria lcito deduzir como defesa no processo de

    conhecimento, consagrando o entendimento de Theodoro Junior32

    .

    O pargrafo 3, por sua vez, estabelece que, no que couber, aplica-se o disposto nos

    artigos 534 e 535 do mesmo Cdigo, ficando assim definido que nos casos omissos, aplicam-

    se subsidiariamente os procedimentos previstos no cumprimento de sentena.

    32

    THEODORO JUNIOR, Humberto. Op. cit., p. 419.

  • 43

    6 EFETIVIDADE DA EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA

    PBLICA

    6.1 Garantia da efetiva concretizao do direito tutelado?

    A efetividade do processo, segundo Flvio Luiz Yarshell33

    , quando o mesmo est

    apto a produzir os resultados que almeja, ou seja, o processo efetivo quando capaz de

    proporcionar a efetiva concretizao do direito tutelado.

    Tratando-se de processo de execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica,

    frustrante perceber que, por mais que os magistrados se esforcem, muito difcil conseguir

    dar efetividade jurisdio quando a Fazenda condenada a realizar um pagamento de

    quantia certa em dinheiro.

    Para Simes34

    a efetividade na execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica

    ocorre quando h o cumprimento voluntrio da deciso judicial. A impossibilidade de real

    coero contra a Fazenda impe ao credor a expectativa de que a Administrao Pblica

    cumpra espontaneamente a obrigao decorrente de deciso judicial.

    A anlise da efetividade do processo de execuo por quantia certa contra a Fazenda

    Pblica est na maneira pela qual se dar o cumprimento s ordens judiciais, pois, envolve

    necessariamente conflitos de valores jurdicos em um contexto no qual se busca o interesse

    pblico em face do particular.

    So constantes as crticas ao inadimplemento da Fazenda Pblica nas aes de

    execuo por quantia certa e a insatisfao de seus credores. H demasiado contrassenso

    quando comparada a execuo contra um particular pela Fazenda Pblica. A Fazenda na

    condio de credora conta com medidas judicias e prerrogativas processuais em excesso para

    concretizar o crdito pretendido. No entanto, quando est na condio de devedora, as

    medidas de efetividade processual so escassas.

    Segundo o professor Flvio Luiz Yarshell:

    Em relao a Fazenda Pblica a questo da efetividade relaciona-se intrinsecamente

    com o cumprimento da ordem judicial. Afinal, quando a Fazenda Pblica est em

    33

    YARSHELL, Flavio Luiz. A execuo e a efetividade do processo em relao Fazenda. In: SUNDFELD,

    Carlos Ari; BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Op. cit., cap. 7, p. 215. 34

    SIMES, Ana Paula. Op. cit., p. 109-110.

  • 44

    juzo, trata-se de uma relao Estado contra Estado, com todas as vicissitudes

    institucionais da decorrentes, dentre elas, os constantes conflitos entre interesses

    pblicos primrios e interesses pblicos secundrios, quando o conceito de

    interesse pblico deveria ser um s, o princpio da proporcionalidade, que busca

    explicar ou atenuar os conflitos entre os valores democrticos35

    .

    O autor afirma ainda que as dificuldades da execuo contra a Fazenda Pblica

    nascem no prprio Direito Material. Segundo seu entendimento, a maneira peculiar de

    execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica justifica-se por fora do nosso Direito

    Constitucional Material.

    No mesmo sentido, observamos que mesmo com todas as inovaes acrescentadas

    pelo novo Cdigo de Processo Civil de 2015, pode ser que ainda no se alcance, de forma

    plena, a efetividade no processo de execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica, pois

    o problema nesta modalidade de execuo no encontra soluo apenas no Direit