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LEITURAS 25 Domingo 20 de Setembro de 2020 Quando este ano cair, passará uma década desde que, a partir de 2010, enquanto muitos jovens andavam distraídos pelo CAN, nas viagens pelo mundo e nas maratonas em leito oral, alguns imberbes vindos do proletariado começaram a pensar na literatura angolana que já ia sem a sagrada esperança e as utopias dos anos 80 do século XX João Fernando André Esses jovens quase não herdaram nada, porque quase não houve uma geração de escritores de 90 ou de 2000 na Instituição Literatura An- golana. A maior parte dos jovens dos anos 90 estava a servir na guerra. Dos poucos escritores que os fastidiosos anos 90 deram à Instituição Literatura Angolana temos os casos de Cristóvão Neto, Sapyruka Mukwaxy, David Ca- pelenguela e Pombal Maria. Do dealbar do novo século (XXI) até 2010, debruçando-nos sobre a literatura em sentido restrito, sur- giram outros poucos poetas e pro- sadores. Tais foram os casos de Abreu Paxe, Nok Nogueira, Ondjaki, Nguimba Ngola, Gociante Patissa e Kardo Bestilo. O grande movi- mento que nasceu naqueles tempos, o Leva'Arte, seguiu, durante muito tempo, com a máscara de um mo- vimento literário, mas de literário só tinha os versos quilométricos dos seus associados, encontrados na sua colectânea “Palavras” (2007). Como o tempo é um juiz, daqueles anos só se firmaram, qualitativa- mente, Ondjaki, Nguimba Ngola, Gociante Patissa, Abreu Paxe e Nok Nogueira. Os outros tombaram na literatura de palco. Muitos deles são hoje mestres da palavra dita, aliás, slammers do famigerado Spo- ken Word. A máscara de movimento literário do tão propalado Leva'Arte e dos seus símiles foi arrancada com o passar do tempo, fruto dos estudiosos que foram surgindo. Ia nua a Literatura Angolana. Apesar da existência dos cinco grandes da Geração 4 de Abril. Qua- se toda a pista era reservada para os monstros da Geração de 80. Quantos da Geração de 80 não venderam o discurso niilista da falta de leitura no seio dos jovens aspirantes a escultores da palavra transfigurada nos anos 90 e 2000? Quantos membros da Geração de 80 não julgaram os jovens mesmo não tendo criado oficinas literá- rias? Quantos escritores da Ge- ração de 80 não disseram que não havia crítica literária e ensaística no seio dos jovens? Quantos au- tores da Geração de 80, ao invés de acolherem, não cometeram violência simbólica contra os pou- cos jovens que queriam caminhar na estrada da escrita, chaman- do-os de insurrectos, vaidosos, arrogantes e ingratos? O Nazareno exortou: “Conhe- cereis a verdade e a verdade vos libertará”. De 2010 até aqui, os jo- vens escritores que vão marcando a sua época foram enchendo as suas cabeças, dialecticamente, com a História da Literatura Angolana, com a teoria da literatura actual e actuante e com os acontecimentos bizarros do mundo, em geral, e de Angola, em particular: fome, seca, guerra, mortes injustas, racismo, pilhagem, tráfico, corrupção, de- lapidação do erário, desemprego, tecnologia, coronavírus e outros assuntos. Por toda essa carga de entraves da Modernidade Líquida (Zygmunt Bauman), consideramos esses jovens como constituintes da Geração da Insana Idade (2010- 2020). Por um lado, ela tem muitos problemas. Assim sendo, são poucos os que terão um lugar ao sol da Ins- tituição Literatura Angolana. Por outro lado, ela tem muitos meios para ir brilhando. Tem a Paz Efectiva, a facilidade de acesso às informações, a santa Internet e uma sociedade com aconteci- mentos inéditos. Ora, os que sou- berem aproveitar esses factos, poderão, com certeza, ser muito bons escritores, como o foram al- guns nos séculos XIX, XX e no dealbar do século XXI. Uma geração com obras De 2010 até aqui, 2020, a obra da Geração da Insana Idade fala por si: 1. Oito académicos e críticos literários que têm penas afiadas: Hélder Simbad, Hamilton Artes, João Fernando André, Agostinho Gonçalves, Mabanza Kambaka, Domingas Monte, Pedro Maya- mona, Waxyakulu Francisco (la- deados de mais alguns que vão injectando sangue fresco nas veias da Crítica Literária e da En- saística Angolana, nomeadamen- te: Destino Ventura, A.C. Khamba, Edmira Cariango, Fernando Dya- kafunda e outros poucos); 2. Uma poetisa e prefaciadora de mãos cheias: Cíntia Gonçalves; 3. Uma vanguarda inorgânica da Literatura Angolana: o Movi- mento Litteragris; 4. Mais de oito bons cronistas: Luefe Khayari, David Gaspar, Kaz Mufuma, Kugiza, Dias Neto, Edy Lobo, Cobarde da Silva, aliás, Hélder Simbad, João Fernando André, aliás, Kalunga, Mário-Henda, aliás, Mário Henriques, Sapo Sexy Lee, Pedro Kamorroto, Carlos Maneco e mais um ou outro; 5. Um naipe de poetas que sen- tem a palavra, de entre eles, Job Sipitali, Zola Vida, Ema Nzadi, Tchi- wale, Destino Ventura e Gonçalves Handyman, para não citar os filó- sofos-poetas Mabanza Kambaka, Ybinda Kayambu, aliás, Hélder Simbad, Agostinho Gonçalves, Mangabi e Kalunga ou, de entre outros, os experimentalistas: Mus- sungo Moko, África Sonjamba e A.C. Khamba; 6. Seis contistas de gema: Dias Neto, Ernesto Daniel, Oliver Qui- teculo, Lourenço Mussango, Tchi- wale e Sérgio Fernandes; 7. Um romancista policial: Je- remias Sebastião Manuel; 8. Uma novelista: Stella Cons- tantino; 9. Uma romancista: Luaia Gomes Pereira; 10. Uma revista online sobre artes e cultura: Palavra & Arte; 11. Uma editora de e-books, obras electrónicas: a Edições Handyman; 12. Três editoras de livros em papel verdadeiro: Editora Azul, Asa de Papel e Chela Editora; 13. Prémio António Jacinto: Ybinda Kayambu, Oliver Quite- culo, Ema Nzadi. Prémio Jovens da Banda: Job Sipitali. FEJETEC: Cíntia Gonçalves. Concurso In- ternacional de Poesia, Contos e Crónicas (Brasil): Kalunga. Prémio Sagrada Esperança: Dias Neto. 14. Crítica da Angolanidade Literária: Hélder Simbad. Crítica dos Sete Períodos da Literatura Angolana segundo Pires Laran- jeira, aliás, Pires Laranjeira e a Falácia dos Sete Períodos da Li- teratura Angolana: João Fer- nando André; 15. Criação do Programa On- line Literatura em 30 dias (Edi- tora Azul). À guisa de conclusão, esta ge- ração, a Geração da Insana Idade, em verdade vai colocando blocos, tijolos ou adobes sobre “os ali- cerces do mundo” e do sistema semiótico-literário da Instituição Literatura Angolana, pelo que, os membros dela merecem res- peito e os seus “pedaços de pão”. A bem da juventude e da Ge- ração da Insana Idade! * Professor, escritor e membro da Frente Cultural da Língua Portuguesa (Brasil) LITERATURA ANGOLANA (2010-2020) A Geração da Insana Idade DR

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LEITURAS 25Domingo20 de Setembro de 2020

Quando este ano cair, passará uma década desde que, a partir de 2010, enquanto muitos jovens andavam distraídos peloCAN, nas viagens pelo mundo e nas maratonas em leito oral, alguns imberbes vindos do proletariado começaram a pensar

na literatura angolana que já ia sem a sagrada esperança e as utopias dos anos 80 do século XX

João Fernando André

Esses jovens quase não herdaramnada, porque quase não houve umageração de escritores de 90 ou de2000 na Instituição Literatura An-golana. A maior parte dos jovens dosanos 90 estava a servir na guerra. Dospoucos escritores que os fastidiososanos 90 deram à Instituição LiteraturaAngolana temos os casos de CristóvãoNeto, Sapyruka Mukwaxy, David Ca-pelenguela e Pombal Maria. Do dealbar do novo século (XXI)

até 2010, debruçando-nos sobre aliteratura em sentido restrito, sur-giram outros poucos poetas e pro-sadores. Tais foram os casos deAbreu Paxe, Nok Nogueira, Ondjaki,Nguimba Ngola, Gociante Patissae Kardo Bestilo. O grande movi-mento que nasceu naqueles tempos,o Leva'Arte, seguiu, durante muitotempo, com a máscara de um mo-vimento literário, mas de literáriosó tinha os versos quilométricosdos seus associados, encontradosna sua colectânea “Palavras” (2007).Como o tempo é um juiz, daquelesanos só se firmaram, qualitativa-mente, Ondjaki, Nguimba Ngola,Gociante Patissa, Abreu Paxe e NokNogueira. Os outros tombaram naliteratura de palco. Muitos delessão hoje mestres da palavra dita,aliás, slammers do famigerado Spo-ken Word. A máscara de movimentoliterário do tão propalado Leva'Artee dos seus símiles foi arrancada

com o passar do tempo, fruto dosestudiosos que foram surgindo. Ia nua a Literatura Angolana.

Apesar da existência dos cincograndes da Geração 4 de Abril. Qua-se toda a pista era reservada paraos monstros da Geração de 80. Quantos da Geração de 80 não

venderam o discurso niilista dafalta de leitura no seio dos jovensaspirantes a escultores da palavratransfigurada nos anos 90 e 2000?Quantos membros da Geração de80 não julgaram os jovens mesmonão tendo criado oficinas literá-rias? Quantos escritores da Ge-ração de 80 não disseram que nãohavia crítica literária e ensaísticano seio dos jovens? Quantos au-tores da Geração de 80, ao invésde acolherem, não cometeramviolência simbólica contra os pou-cos jovens que queriam caminharna estrada da escrita, chaman-do-os de insurrectos, vaidosos,arrogantes e ingratos?O Nazareno exortou: “Conhe-

cereis a verdade e a verdade voslibertará”. De 2010 até aqui, os jo-vens escritores que vão marcandoa sua época foram enchendo assuas cabeças, dialecticamente, coma História da Literatura Angolana,com a teoria da literatura actual eactuante e com os acontecimentosbizarros do mundo, em geral, e deAngola, em particular: fome, seca,guerra, mortes injustas, racismo,pilhagem, tráfico, corrupção, de-

lapidação do erário, desemprego,tecnologia, coronavírus e outrosassuntos. Por toda essa carga deentraves da Modernidade Líquida(Zygmunt Bauman), consideramosesses jovens como constituintesda Geração da Insana Idade (2010-2020). Por um lado, ela tem muitosproblemas. Assim sendo, são poucosos que terão um lugar ao sol da Ins-tituição Literatura Angolana.Por outro lado, ela tem muitos

meios para ir brilhando. Tem aPaz Efectiva, a facilidade de acessoàs informações, a santa Internete uma sociedade com aconteci-mentos inéditos. Ora, os que sou-berem aproveitar esses factos,poderão, com certeza, ser muitobons escritores, como o foram al-guns nos séculos XIX, XX e nodealbar do século XXI.

Uma geração com obrasDe 2010 até aqui, 2020, a obra daGeração da Insana Idade fala por si:

1. Oito académicos e críticosliterários que têm penas afiadas:Hélder Simbad, Hamilton Artes,João Fernando André, AgostinhoGonçalves, Mabanza Kambaka,Domingas Monte, Pedro Maya-mona, Waxyakulu Francisco (la-deados de mais alguns que vãoinjectando sangue fresco nasveias da Crítica Literária e da En-saística Angolana, nomeadamen-te: Destino Ventura, A.C. Khamba,Edmira Cariango, Fernando Dya-

kafunda e outros poucos);2. Uma poetisa e prefaciadora

de mãos cheias: Cíntia Gonçalves;3. Uma vanguarda inorgânica

da Literatura Angolana: o Movi-mento Litteragris;

4. Mais de oito bons cronistas:Luefe Khayari, David Gaspar, KazMufuma, Kugiza, Dias Neto, EdyLobo, Cobarde da Silva, aliás, HélderSimbad, João Fernando André,aliás, Kalunga, Mário-Henda, aliás,Mário Henriques, Sapo Sexy Lee,Pedro Kamorroto, Carlos Manecoe mais um ou outro;

5. Um naipe de poetas que sen-tem a palavra, de entre eles, JobSipitali, Zola Vida, Ema Nzadi, Tchi-wale, Destino Ventura e GonçalvesHandyman, para não citar os filó-sofos-poetas Mabanza Kambaka,Ybinda Kayambu, aliás, HélderSimbad, Agostinho Gonçalves,Mangabi e Kalunga ou, de entreoutros, os experimentalistas: Mus-sungo Moko, África Sonjamba eA.C. Khamba;

6. Seis contistas de gema: DiasNeto, Ernesto Daniel, Oliver Qui-teculo, Lourenço Mussango, Tchi-wale e Sérgio Fernandes;

7. Um romancista policial: Je-remias Sebastião Manuel;

8. Uma novelista: Stella Cons-tantino;

9. Uma romancista: Luaia GomesPereira;

10. Uma revista online sobreartes e cultura: Palavra & Arte;

11. Uma editora de e-books,obras electrónicas: a EdiçõesHandyman;

12. Três editoras de livros empapel verdadeiro: Editora Azul,Asa de Papel e Chela Editora;

13. Prémio António Jacinto:Ybinda Kayambu, Oliver Quite-culo, Ema Nzadi. Prémio Jovensda Banda: Job Sipitali. FEJETEC:Cíntia Gonçalves. Concurso In-ternacional de Poesia, Contos eCrónicas (Brasil): Kalunga. PrémioSagrada Esperança: Dias Neto.

14. Crítica da AngolanidadeLiterária: Hélder Simbad. Críticados Sete Períodos da LiteraturaAngolana segundo Pires Laran-jeira, aliás, Pires Laranjeira e aFalácia dos Sete Períodos da Li-teratura Angolana: João Fer-nando André;

15. Criação do Programa On-line Literatura em 30 dias (Edi-tora Azul).À guisa de conclusão, esta ge-

ração, a Geração da Insana Idade,em verdade vai colocando blocos,tijolos ou adobes sobre “os ali-cerces do mundo” e do sistemasemiótico-literário da InstituiçãoLiteratura Angolana, pelo que,os membros dela merecem res-peito e os seus “pedaços de pão”.A bem da juventude e da Ge-

ração da Insana Idade! * Professor, escritor e membro da

Frente Cultural da LínguaPortuguesa (Brasil)

LITERATURA ANGOLANA (2010-2020)

A Geração da Insana Idade DR

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MÚSICA26 Domingo20 de Setembro de 2020

CARLOS LAMARTINE

Imbondeiroda canção revolucionária

Autor de algumas das canções mais fortemente evocativas e nostálgicas da música angolana, o veteranoCarlos Lamartine protagonizou o último Show do Mês Live, que a TPA levou a ver em casa dos seus

telespectadores e continua disponível na Internet. É a música angolana ao mais alto nível

Analtino Santos

Carlos Lamartine, uma das prin-cipais vozes do movimento da can-ção de intervenção, animou maisuma edição do Show do Mês Live.Do seu vasto reportório não faltoua interpretação de “Kimbemba”,tema em homenagem ao PresidenteNeto. Um dos temas que mais me-xeu com os ânimos nacionalistasno período que precedeu a Inde-pendência, “Pala Ku mu Abesa oMuxima” também trouxe a nos-talgia aos internautas e telespec-tadores, assim como “ZuatenoMilele la Xikelela”, uma homena-gem àqueles que tombaram e nãopuderam ver o país independente. Lamartine além de artista é mi-

litante do MPLA, movimento parao qual cantou nas refregas ideo-lógicas contra os outros movi-mentos (FNLA e UNITA), comoregistado em “Etu Tuana Ngola”,onde afirma que o seu movimentoera o “certo”. Estamos a falar dosanos agitados da transição para aIndependência. Cantou ainda, na-quela fase, “Dipanda Wondo TulaKia” onde afirma que a Indepen-dência está a chegar e agradece aNeto pelo seu empenho. Segundoo autor, esta canção é uma das pri-meiras de cariz revolucionário,tendo sido gravada três meses de-pois do 25 de Abril. Lamartine abriu o concerto ao

som de “Guia para Libertação deÁfrica”, uma composição do amigo,poeta e médico Mendonça, quenão escapou ao 27 de Maio de 1977.Um outro grande momento foi aencenação do movimento das tur-mas, numa conversa com CirineuBastos e o acompanhamento per-

cussivo do colectivo Kufikisa, jovensdo Marçal liderados por Jorge Mu-lumba. As histórias dos bairrosMarçal e Indígena foram contadaspor Cireneu Bastos e o próprio Car-los Lamartine. Notável foi a ho-menagem aos Kissueias, grupoonde Lamartine esteve com Zecado Marçal e Bonga Kwenda; foramrecordadas canções como “Ka-makove”, “Ngana”, “Weza MuchalaNgolo Yetu” e “Cidrália”. As duasúltimas em clima de Carnaval. Mais uma vez, Kizua Gourgel

conduziu a conversa do painel decomentadores, desta feita compostopelos jornalistas Paulo MirandaJúnior e Raimundo Salvador e opromotor cultural Júlio Silva. Osintervenientes contaram as suasexperiências com a música de La-martine e, num sentido mais amplo,com o movimento cultural. Man Lamas, como Carlos La-

martine é igualmente chamado,fez questão de interpretar tambémtemas para o público que nãoviveu a Independência: “Kamui-ne”, “Damba Maria”, “Miguel”,“Kubonga”, “Caravana para Del-fina”, e “Nvunda Ku Musseque”,os dois últimos “obrigatórios”para esta geração de apreciadoresda obra do músico.Carlos Lamartine tem um tema

em que o coro diz “oh wiri é makado kayaya” e, de facto, isto acon-teceu com a presença do jovemguitarrista Texas, que foi um dosconvidados propostos pela pro-dutora Nova Energia. Chamadopara tocar dois instrumentais con-cebidos pelo artista do Show doMês Live, Texas não apenas re-produziu os solos eternizados porMarito e Brando como deixou a

marca da sua própria malha. Em“Memórias de Lamartine”, o as-sobio de Lamartine dedilhado porMarito dos Kiezos ficou registadono grande diálogo geracional dojovem guitarrista com o agora Dr.Teddy Nsingui. Em “Bassooka”,o grito lançado em 1975 para ani-mar os guerrilheiros, Texas mos-trou toda a sua genialidade eajudou a fazer a festa. Texas, assimcomo Carlos Lamartine, é naturalde Benguela, cidade que musi-calmente ainda esteve presentenos temas “Comprei um Casaco”,do compositor Joaquim Cordeiroe “O Ka Si Tchiwa”. Ambos sãointerpretações em Umbundu.

Participação de Prado PaimOutro convidado de Lamartinefoi Prado Paim, o artista que em1975 recebeu o disco de ouro pelaCDA. O ex-craque de futebol noscampos do Sambizanga mostrouque ainda é craque nos palcos.Com a sua marca, microfone notripé, fruto da influência do queouvia nas músicas do Congo eda pompa do seu tempo de ju-ventude, Prado Paim também éconhecido por Papá Bolingó. Ovelho músico passeou sucessosseus como “Engrácia”, “Nzenze”e “Bartolomeu”. A propósito de “Bartolomeu”

um jornalista confidenciou o

seguinte: “Senti a força destamúsica no aeroporto da entãocidade de Nova Lisboa, em 1974-75, quando Savimbi chegou etodos dançavam essa música”.Ao que Prado Paim respondeu: “É possível, porque na altura

o s ingle ‘Bartolomeu’ era omais vendido, mas, mesmoassim, não aceitei gravar umLong Play. Joãozinho Morgado,Carlitos Vieira Dias, Zé Keno,Zeca Tirilene e outros dos Me-rengues tocaram a mús ica .‘Bartolomeu’ é uma homena-gem ao meu amigo que morreu.Fiz a música no cemitério, nomomento do funeral”.

DR

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MÚSICA 27Domingo20 de Setembro de 2020

No passado domingo, no chamado “Palco da Diversidade Rítmica” ou “Ao Vivo no Kubico”, os ritmos daancestralidade dos grupos provenientes de Cabinda, Namibe e Lunda-Norte provaram que é real a revolução musicalque agora está a invadir os ecrãs da televisão, com a parceria TPA/Platinaline. Cangato, Ntunda Nzola e Chetekela

“pipocaram” a tarde fazendo dançar quer cidadãos anónimos, quer figuras públicas

Analtino Santos

Depois de ter sido convidadopara a edição do Carnavalde Luanda em 2016, na suaversão banda, os NtundaNzola voltaram a encantaro país. Com o seu ritmo prin-cipal, o Kintwene, fizeramrecurso aos seus principaissucessos “Mayombe Ngom-be”, “Dr Mayuya”, “TalangaBana”, “Keni Mundiatulo”“Bala Kumbala, “BatsleleKubi Tsiami”, “Bissina”,“Kinvuela” e outros, inter-pretados pelos vocalistasMambueni, Massota, Mana-bela e Afonso. O grupo apre-sentou temas dos álbuns “KuMaiombe”, “Mbazu Bisuka”e “Buissi ku Makia”.

Os Ntunda Nzola fizeramrecurso tanto a instrumentostípicos dos Ibindas comoaos mais convencionais.Foram fiéis representantesde Cabinda, com a sua mú-sica a casar-se muito bemcom a dança.

A presença do grupo re-sultou de um esforço do Go-verno Provincial de Cabinda,que foi determinante para aorganização deste Live no Ku-bico, cujos promotores forampressionados a trazer o ritmoda província mais a Norte.

Cangato, o ex-futebolistaDo Namibe veio uma dasprincipais figuras da músicalocal, Cangato, que reforçoua intenção da diversidade eda pluralidade rítmica na-cional. Cangato antes de bri-lhar nos palcos deu alegriasao público nos campos defutebol, tendo envergado acamisola do Petro de Luanda.

A participação musicaldo Namibe no Live no Ku-bico, tal como a de Cabinda,não foi apenas musical. Agastronomia e outras mani-festações culturais ajudarama colorir o cenário do Live.

Cangato apresentou-secom a banda de suporte deChetekela e com um formato,mais reduzido, das cerimó-nias dos Mucubais. As pal-mas, a percussão e algunstoques do Ngolo, que segundopesquisadores está na géneseda Capoeira, marcaram a ac-tuação original de Cangatona interpretação dos temas“Ndombeshow”, “Eolindow”e “Kamamico”.

O artista também fez in-cursão no Semba. Do seu re-portório o destaque foi para“Namibe”, “Sofia Rosa”,“Eme Kimguejiami”, “Ndon-doro Danuma”, “Juju” e “Sa-

mungari”. Por outro lado, apresença do grupo carnava-lesco Santa Rita mostrou aforça do Carnaval do Namibecom os temas “Foca Fofinha”.e “Recordar é Viver”.

A actuação de Cangato foia prova de que no Namibeexiste um oásis musical. Elemexeu com os Kimbaris emAngola e no exterior.

Chetekela: dupla pertençaDas três propostas do Liveno Kubico Chetekela foi oúnico que não atravessou asbarreiras sanitárias impostaspelas autoridades. O artista,que representou a Lunda-Norte, abriu o concerto mos-trando a forte influência quetem do Congo Democrático,com uma performance àFally Pupa e Ferry Gola, como tema “Superação”. Fez ain-da alguns covers da sua ac-tuação como Gato Rivers noEstrelas ao Palco.

Interessante foi a sua in-cursão ao ritmo Mutuaji, quetem na congolesa TshalaMwana uma das principaisreferências. Com esse estiloo músico revelou a sua cos-tela Baluba, grupo étnicotransfronteiriçoangolano/congolês-demo-crático. Depois de temas au-torais como “Adrenalina doAmor”, “Obrigado Mãe”,“Wsona”, “Pho wa Kalunda”,“Kima Kimoshi” e “Kase-mumuna”, dentre outros, omúsico chamou ao palcoSandra Nhakatolo, com quempartilhou a interpretação dotema “Nha Tshissola”, ummomento de Cianda e deexaltação aos valores cultu-rais do Leste.

Chetekela ainda deu o seu“toque” em “Namuleleno”,Cianda que saiu da Mukandae hoje é dos principais temasrepresentativos do estilo tra-zido à ribalta da modernidadepelo grupo Sagrada Espe-rança, uma das formaçõesmusicais originárias da Lun-da-Norte que mais brilhouno panorama nacional.

Os últimos Live do Ku-bico, com as suas incursõesna musicalidade tradicionaldas várias regiões do país eo manifesto sucesso no seiodos telespectadores e inter-nautas, fazem pensar queos angolanos estão a des-pertar e a regressar, na esteirado poema de Agostinho Neto“Havemos de Voltar”, à apre-ciação dos sons dos batu-ques, das marimbas e deoutros “cheiros” sonorosangolanos de raiz.

LIVE NO KUBICO

Ntunda Nzola, Cangato e Chetekelafazem público mergular na tradição

DR

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ENTREVISTA28 Domingo20 de Setembro de 2020

DR

No primeiro contacto percebemos logo queVuty detesta dar entrevistas, e que não gostaque lhe escrutinem a vida pessoal. Ele é das

maiores referências do motociclismo deAngola. Tudo o que conquistou foi por méritopróprio. Hélder Coelho “Vuty”, 44 anos, é umhomem do motociclismo, com uma cultura detrabalho apertada. É isto que o move. Durante

a tarde em que decorreu a nossa conversamanteve-se sempre ligado, nunca parou de

trabalhar. Dois telemóveis no silêncio,pousados por cima da mesa, vão-lhe dando

conta do que se está a passar. Na sala dereuniões da empresa transportadora de cargas,transitária e operadora de terminais portuá-rios e aeroportuários – Unicargas - as marcasde óleo, fruto do trabalho que faz, são visíveisnas mãos de Vuty. No que toca a motorizadas,Vuty está como peixe na água. Dentro e fora

da pista, mantém o foco de um atleta que sabeo seu valor. O caderno Fim-de-Semana

conversou com ele sobre a sua carreira, a suachegada ao motociclismo e os seus sonhos

Ferraz Neto

Fale-nos um pouco de si,sobre a sua história. Quem éo Hélder Coelho “Vuty”dentro e fora das pistas?Estou registado com o nomecompleto de Hélder WalviutyDias Rodrigues Coelho. OVuty descende do nome Wal-viuty, que segundo a minhamadrinha é um nome de ori-gem russa, mas que não seio seu significado. Na verdade,o meu nome de registo levariaWalviuty Quevela, mas nahora do registo recusaram.Sou natural de Luanda, maisconcretamente do Bairro dasIngombotas. Curiosamente,nasci a 500 metros da maiormaternidade do país, Lucré-cia Paim, mas infelizmentenão nasci numa maternidade.Nasci em casa, por mais es-tranho que pareça. Nasci nodia 19 de Setembro de 1976,quer dizer que no próximosábado (ontem) celebrarei44 anos de idade.

Diz-se que aos 9 anos deidade Vuty já era umadmirador de motos. O queé que uma criança com estaidade sente, quando issoacontece?Curiosamente, poucas pes-soas sabem que antes dasmotorizadas fui admirador

de camiões. Desde pequenoque adoro camiões. Comeceia conduzir o camião N10 damarca Volvo aos 9 anos deidade, do meu pai. Ele eravendedor de areia. Nos tem-pos livres dedicamo-nos atrabalhos agrícolas na quintafamiliar, localizada na zonada Funda - Cacuaco. Recordoque por ser pequeno, na al-tura, para tocar nos pedaisda embraiagem e no travãosocorria-me de uma lata deleite Nido. Todas as vezesque a Lagoa da Kilunda inun-dasse ou ameaçasse estragara plantação, tínhamos quenos juntar e ajudar o pai aestancar a fúria da água comterra, para impedir que aágua transbordasse até aocultivo. Foi nestas circuns-tâncias que fui tendo contactodirecto com carros pesadoscomo camiões e tractores.Recordo-me de passar o diaem cima do tractor, a ma-nusear terra para frente epara trás. Por isso, a minhagrande paixão no início eramcamiões e tractores.

Quando foi que tevecontacto pela primeira vezcom uma motorizada?Curiosamente entrei para omundo das motorizadas porconta de um vizinho, o Va-dinho Queimado. Foi porconta deste e do João Serrador

que abracei o mundo dasmotorizadas. Sempre tiveuma especial admiração peloJoão Serrador, por ele ser oúnico, na época, que con-seguia parar no semáforocom a roda dianteira no ar,sem tocar os pés no chão.Infelizmente as motorizadasque eles conduziam já eramcaras. Como não tinha re-cursos financeiros decidialugar motos. Várias vezesfui ao mercado do RoqueSanteiro, onde para andarde moto durante 15 a 20 mi-nutos tinha de pagar. Falode motos de marca Zundape outras que já não existem.O Vadinho Queimado viuem mim talento e decidiuapostar. Levou-me a fazerteste no circuito localizadona conhecida Rotunda doGamek, no local onde estáhoje o Nosso Centro e o edi-

fício da seguradora AAA. In-felizmente, não fui aceitenos testes, por haver na épocauma selecção rigorosa. In-conformado com a realidade,o Vadinho Queimado pediuemprestada uma motorizadade um amigo. Era uma DT.Competi num teste ao ladode corredores profissionais.Recordo-me de ter tido umaqueda aparatosa e um dosmelhores tempos, para sur-presa de todos.

O que é que mais o motivounesta modalidade?Olha, foi o facto de um dossenhores do motociclismoem Angola ter confiado emmim. Falo do senhor Ro-berto Talaia, que me cedeuuma motorizada da marcaKawasaki. Havia muitasequipas na altura e eu nãoestava integrado em ne-nhuma delas. Comecei acompetir com uma moto-rizada de 50 centímetroscúbicos e depois passei paraoutra categoria. Fomos aBenguela, numa competiçãoque juntava os melhoresnomes do motociclismo deAngola. Falo de Bianchi,Vítor Santos (Vitó), Talaia,Mancha, Adão Costa, entreoutros nomes. Curiosamen-te, corri e consegui o quintolugar no meio daqueles cor-redores poderosos. Foi um

marco na minha jovem car-reira. Nunca mais parei.

É dos primeiros angolanos achegar à elite domotociclismo. Como seconsegue alcançar estepatamar? Quantos troféusganhou?Na verdade perdi a conta dequantos títulos tenho na mi-nha galeria. Na altura emque comecei a correr, nãohavia campeonatos e ascompetições eram organi-zadas por instituições do Es-t ado ou p r ivada s . Oimportante nessa época eravencer o troféu e mais nada.Os prémios eram aliciantes.Falo de prémios como fogão,geleiras e televisores a cores.Como os meus pais não meapoiavam, por ser uma mo-dalidade de risco e por nãoagregar valor, o meu desafioera levar para casa um pré-mio, para mostrar aos meuspais que o desporto dava-me algum benefício.

Quantos anos demotociclismo acumulou?É um caminho longo. Foramaproximadamente 28 anosde motociclismo, com com-petições dentro e fora dopaís. Lembro-me que a mi-nha primeira corrida fora deAngola realizou-se em Por-tugal, numa equipa da Endur,

HÉLDER COELHO (VUTY)

PILOTO DE MOTOCROSS

“O meu sonhoé criar uma escola para motociclistas”

“É necessárioensinarmos

os elementosbásicos da

condução defensiva,os cuidados a ter

na estrada”

onde tive como colegas Mi-guel Falajota e Bianque Prata,que actualmente está ligadoao Rally Paris-Dakar. Foiuma experiência muito boa.

Numa entrevista recente,você disse que já nãocompetiria. que deixaria decorrer profissionalmente...É verdade. Como profissionaljá me afastei por causa daidade e das responsabilidadesacrescidas que tenho vindoa granjear nos últimos anos.Estou formado em Electri-cidade pelo Instituto MédioIndustrial de Luanda (IMIL)e estou a tentar meter emprática a minha formaçãoacadémica. Também fiz osegundo ciclo de MecânicaGeral pelo IMIL. Estas va-lências fizeram-me pensarem apostar nas duas áreas.

“No dia-a-dia sintoreceio de permitir

que eles façam usode motorizadas.

A nossa realidaderequer de mim

muitos cuidados”

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DR

29

Mesmo assim, não abdiquei,na totalidade, do motoci-clismo. Faço rally e outrasmodalidades por gosto, paraincentivar os mais jovens.

Está vinculado actualmenteà Unicargas. Qual é a suatarefa nesta empresavocacionada ao transportede cargas?Estou lá há dois anos comoefectivo. Entrei como técnicoespecialista de manutençãodo Departamento de Enge-nharia e Manutenção. Ac-tualmente sou o responsávelpelo Departamento de Me-cânica-Geral. Tem sido umdesafio tal que vocês nãotêm noção da dimensão dopessoal ligado à minha área.Falo de um universo de 115técnicos, só nesta área, des-de mecânicos, serralheiros,pintores, bate-chapas, ele-tricistas-auto... A nossa res-ponsabilidade é manter ofuncionamento dos meios.Muitos deles já são antigose manter a frota operacionalem todo o país é o nossodesafio. Outrossim, é reac-tivar os activos que a Uni-cargas tem em delegaçõescomo Cabinda, Luau (Mo-xico) e Benguela.

Hélder Coelho “Vuty”também está ligado àformação de polícias. Falo,concretamente, no domínioda Brigada Motorizada....Sim, tive a felicidade de serum dos pilotos chamadospara dar aulas na área domotociclismo. Na verdade,isso começou em 2005-2006.Tudo começou a convite doex-comandante-geral Ekui-kui. Como conhecia bem onosso trabalho e porque, porvárias vezes, fomos chama-dos a dar suporte em termos

de conhecimento, fui con-vidado a participar da for-mação de policiais, visandodar resposta ao combate àcriminalidade. Abracei estacausa. Inicialmente abraceio desafio sozinho, mas depoistive que convidar outros co-legas da área. Comecei porparticipar na formação de200 efectivos, mas depoissubiu para 500, então houvenecessidade de partilhar aexperiência com outros co-legas. Falo do Bruno Ouro,Miguel Ângelo e Djamir Ma-daleno. Trabalhava para ogrupo Valentim Amões, naépoca em que fui seleccio-nado para fazer parte da rein-tegração de ex-militares queestavam localizados nas re-giões de Mavinga, Menonguee Luanda. Fui o coordenadordesta missão e a cumpri comzelo. Tenho continuado e,muito recentemente, termi-námos uma formação de 120efectivos, que devem sairnos próximos dias.

Qual é o segredo para serum bom piloto de motocrosse de automobilismo?Não aderir ao álcool e nãoperder noites desnecessa-riamente. Elimine discote-cas , festas e convíviosnocturnos. Dedicar-se aosestudos e fazer pesquisasfrequentes sobre o mundodo motocross e do automo-bilismo. Outro dos segredosé ser rigoroso na dieta ali-mentar. Temos que comermuita fruta e legumes. Nãoconsumir drogas.

Nota-se uma letargia domotocross e doautomobilismo em Angola...É verdade. É um trabalho di-fícil, mas não é impossívelde ser feito. É necessário quehaja pessoas que acreditemneste desporto, como o Fer-nando Varela acreditou. Foiele que depois de 1975 con-seguiu trazer de volta o mo-tocross a Angola. Recordoque quando tínhamos com-petição com a participaçãode pilotos estrangeiros, ascompetições da FederaçãoAngolana de Futebol não re-gistavam público nenhum.Lembro-me que houve um

jogo Petro de Luanda-1º deAgosto, na Cidadela, quenão teve público. Tudo por-que havia uma corrida in-ternacional onde o Vuty eo Georginho teriam quedefender o título. Teve dehaver consenso para a rea-lização da corrida. Com osurgimento da Federaçãode Desportos Motorizadosjulgo que as condições es-tão criadas para o impulsoà modalidade.

Tem quatro filhos...Nenhum deles aindademonstrou o bichinho pormotorizadas?São os mais novos que mos-tram essa apetência. Na ver-dade, não tenho sido umgrande incentivador, por termedo. Preocupo-me muitocom a formação de cada umdeles, para que possam estarpreparados a enfrentar osdesafios da vida. No dia-a-dia sinto receio de permitirque eles façam uso de mo-torizadas. A nossa realidaderequer de mim muitos cui-dados. Até hoje desloco-mede motorizada para o serviçoe para casa. Foi sempre umdesafio para mim pegar namotorizada e andar pelasruas de Luanda.

Quais são os seus planospara o futuro?Um dos meus sonhos, quenão quero deixar morrer, éa abertura de uma instituiçãode ensino que possa ajudara juventude na condução deuma motorizada. Algumasvozes rejeitaram-me e outrasaté desacreditaram o pro-jecto. Mais de 90 por centodos motociclistas do país

não têm licença para o exer-cício da actividade de mo-to-táxi, muito menos estãohabilitados a conduzir mo-torizadas. É uma grandepreocupação para mim, en-quanto condutor de motoprofissional. A OrganizaçãoMundial da Saúde estimaque ocorrem entre 3 a 4óbitos por acidente de mo-torizada. Foi aí que decidifazer alguma coisa. Já tenhoa empresa criada e chama-se Vuty Motors. Não saiudo papel por falta de finan-ciamento. Em Angola nãotemos uma instituição vo-cacionada à formação demotociclistas. É necessárioensinarmos os elementosbásicos da condução de-fensiva, os cuidados a terna estrada.

O que impede amaterialização desteprojecto?Falta de espaço. Falo de ins-talações apropriadas paraaulas teóricas e práticas. Játenho contactos avançadoscom a Escola de ConduçãoAcadémica, para que o pro-jecto seja materializado.Foi acordado que eles fi-cariam com a parte teóricae a mim competiria as aulaspráticas. Outra das ques-tões é a localização da mes-ma. Estamos a pensar ematingir todos os municípiosde Luanda e os menos des-favorecidos. Seriam mi-nistradas aulas intensivasdurante 15 a 30 dias. Ospreços seriam módicos,visando atender o maiornúmero de clientes. A es-cola teria também aulasde desportos radicais e tudomais. A esperança é a úl-tima a morrer.

Pouco disse sobre os seuspais e irmãos...O meu pai é uma referênciana zona da Funda, em Ca-cuaco. Chama-se Fernandoda Conceição RodriguesCoelho, mais conhecido porkota Coelho da Funda. Nãohá quem não o conheça. Nazona do Retiro da Letra todosconhecem o meu pai. A mi-nha mãe é a dona Maria deJesus Afonso Dias RodriguesCoelho, técnica de labora-tório de análises clínicas.Trabalhou durante décadasnos hospitais Josina Machele Américo Boavida. São pes-soas humildes, camponesase me orgulho bastante deles.Sou o terceiro filho no seiode quatro irmãos. O primo-génito é o Carlos, engenheiromecânico. Segue uma me-nina formada em RelaçõesInternacionais e a caçula queé engenheira de petróleos.Repare que sou o único quenão tem formação superior.

P E R F I L

NOME

Hélder WalviutyDias Rodrigues

Coelho.

Data denascimento

19 de Setembro de1976.

FiliaçãoFernando daConceição

Rodrigues Coelho eMaria de JesusAfonso Dias

Rodrigues Coelho.

Estado civilCasado há 19 anos.

OcupaçãoResponsável peloDepartamento deMecânica-Geral da

Unicargas.

Sabe cozinhar? Sei. O que mais faço

na cozinha sãodoces, bolos de

cenoura e de laranjasei fazer

perfeitamente.

Onde passa asférias?

Joanesburgo -África do Sul.

Cidadespreferidas?

Joanesburgo eLuanda.

“Foi sempre umdesafio para mim

pegar namotorizada e andar

pelas ruasde Luanda”

“Comecei a conduzir

o camião N10 da marca Volvo

aos 9 anos de idade,do meu pai. Ele eravendedor de areia”

Domingo20 de Setembro de 2020ENTREVISTA

DR

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CRÓNICA30 Domingo20 de Setembro de 2020

Pombal Maria

Há cerca de meia décadaabandonei o bairro que meviu crescer, o Neves Bendi-nha. No Cassenda, encontreia sombra de outro tecto juntoao Aeroposto Internacional,com vista ao mar, mais pró-ximo a lua, no último andarde um “arranha-céus“ dosanos setenta, no tempo deoutra senhora.

Com vizinhos mais ou me-nos breves, inquilinos de curtaduração, uns com nariz em-pinado e outros até muito bemeducados, fui-me adaptandoaos olhares ambíguos da adultajuventude ociosa. Estrangeiroautóctone, uns confundem-me com maliano e outros comsenegalês. Mas eu, de pedrae cal, sempre como os Nha-neca-Humbi, Bangalas, He-reros, Mucubais, Khoi-San e

outros povos da terra no centrodos meus batimentos cardía-cos, ainda ao ralenti.

Nesta mudança, o que maisme marcou foi o meu encontrocom um astro do futebol an-golano, também residente noCassenda. Uma velha lendado futebol. Não foi necessárioolhar para o céu. Certo dia,há quatro ou cincos anos, ain-da pouco ambientado com oeco madrugador dos auto-móveis, da música ensurde-cedora, dos bêbados e cãesvadios, precisei, à mesa, doalimento mais sagrado domundo, feito de farinha detrigo, fermento, sal e água.Tornou-se necessário des-cobrir os pontos de venda.

Como peregrino fui atra-vessando largos, ruas, à pro-cura do pão. Passei pelofamoso beco do Xixi, umadas saídas da Rua 3 para a

Rua 8. Aportei na pastelariaBelinha, adaptada no quintalde uma velha vivenda dotempo colonial. O sol estavana linha do horizonte. Ospostos de iluminação públicaapagados, mas acesos no meuimaginário. Muito gentil, umhomem da idade de Cristoabriu a porta. Acompanhou-me até ao quintal oposto aoda entrada. No espaço bemorganizado, com uma luz tê-nue, estava um homem sen-tado de costas para mim,camisa alva e uma banheirade pão entre as pernas abertascomo uma parturiente noAugusto Ngangula. Em An-gola, as grandes estrelas en-contramos na terra e não nocéu. Uma cordial saudaçãonos aproximou. O rosto dohomem sentado era-me fa-miliar, já o tinha visto algures.Comprei o pão. Coloquei no

saco. Na porta de saída paraa rua o meu coração palpitou,senti ter visto uma estrelanaquele quintal. Fixei o olharno rosto do senhor que meacompanhava à porta. Tími-

do, já me estava a mostraros olhos da rua. Perguntei-lhe se o homem que me aten-deu era, de facto, o JoaquimAntónio Diniz. Para meu es-panto, ele rapidamente con-cordou, abanando a cabeça.

“É ele mesmo, o senhorDiniz“, disse. Até hoje aindasinto o eco daquela resposta.Meu Deus, senti que o ca-marada não conhecia bema dimensão da estrela. Umagrande estrela do futebol an-golano naquele modestoquintal de betão armado.

Sei que não havia caídodo céu naquele momento.Fiquei boquiaberto. Era jus-tamente o homem que mefez correr às bilheteiras, mefez gritar loucamente no es-tádio da Cidadela, era a gran-de lenda do futebol angolano.Eu estava diante do meu ídolodo futebol. Esqueci o pão.

Para os meus botões, mur-murei como as águas da lagoaem pleno cacimbo: “Ele foio melhor jogador da mini-copa de 1972, uma lenda dofutebol mundial”… Meus pul-mões encheram-se de or-gulho. Voltei a entrar navivenda, o homem olhou

para mim boquiaberto. Ofe-reci um forte abraço ao grandeJoaquim Diniz, ou simples-mente o “Brinca n’Areia”.Doces lágrimas secas saíramdos meus olhos. Encontreium dos grandes orgulhos deser angolano. Dei dois passosà rectaguarda. Desenfastei.Olhei para o astro como seestivesse a ver um homemque saiu dos recortes de jor-nal. Diniz. Homem simples,de trato fácil e de poucas pa-lavras. Trocamos algumasfalas. A minha admiraçãonão me permitiu o habitualchá de boca.

JOAQUIM DINIZ, O “BRINCA N’AREIA”

Estrela cintilante num quintal do Cassenda

Olhei para o astro como se estivesse a ver um homem que saiu dos recortes de jornal. Diniz.Homem simples, de trato fácil e de poucas palavras. Trocamos algumas falas. A minha admiração

não me permitiu o habitual chá de bocaDR

“Na porta de saídapara a rua o meucoração palpitou,senti ter visto umaestrela naquelequintal. Fixei oolhar no rosto dosenhor que meacompanhava àporta. Tímido, jáme estava a

mostrar os olhos darua. Perguntei-lhese o homem que meatendeu era, defacto, o JoaquimAntónio Diniz

“Nesta mudança,o que mais me

marcou foi o meuencontro com umastro do futebol

angolano, tambémresidente noCassenda”

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CRÓNICA 31Domingo20 de Setembro de 2020

Mas a história que andoude boca em boca e fez mo-rada na mente de muito boagente, foi a da forma comoa nossa grande estrela dofutebol foi parar aos Leõesde Alvalade. Homens comolhar de água desceram daTuga para o observar. Che-garam num fim-de-semana.Havia trumuno rijo no campodo São Paulo, debaixo deuma tempestade amiga. Diniznão fazia parte da partida.

A pedido dos olheiros lu-sos, o homem foi “caçado“e colocado em campo. A suaesquipa estava a perder poruma bola a zero. Em menosde trinta minutos o “Brincan’Areia“ fez gosto ao pé, sa-cudiu duas vezes as redesda baliza adversária comdois disparos e virou o pró-prio placar. A plateia adver-sária ficou muda. JoaquimDiniz estava contratado para

jogar futebol na Europa. O ano de 1972 foi o auge

da sua carreira, sobretudo naMini-Copa, onde mostrou osseus dotes e foi consideradoo melhor jogador. Tinha namesa um contrato para vestira camisola do Flamengo doBrasil. Mas acontece a Revo-lução dos Cravos na terra deEça de Queirós, Angola pre-para-se para conquistar a in-dependencia nacional, ocraque decide então rejeitarfabulosos contratos para, poramor à Pátria, voltar à terraque ouviu o seu primeiro chorode bebé. Na época, Diniz eraadorado pelos amantes dofutebol, havia músicas popu-lares em sua homenagem. Aoatravessar as ruas, ouvíamosos kotas cantando: “Man Di-nas… meu colega Man Di-nas…” Outra canção, maispopular, dizia: “Brinca n’Areia∕ N’Areia ∕ Brinca n’Areia ∕ N’A-

reia“. Muitos políticos de hoje,homens podres de dinheiro,corriam para o ver jogar, can-tavam “Diniz Brinca n’Areia“. Quando Angola se apuroupara o Mundial da Alemanha,em 2006, uma equipa da FIFAveio a Angola conhecer asnossas estruturas desportivas,se havia capim ou relvado

nos campos, se havia banca-das ou pedras improvisadasnos estádios.

No aeroporto 4 de Feve-reiro o lendário Franz Beken-bauer assustou-se ao ver queJoaquim Diniz, a grande lendado futebol angolano e mun-dial, não se fazia presente.De imediato perguntou onde

estava o Diniz. Certamentedeveria estar na Rua 8 doCassenda, provavelmentea ajudar na venda do pão.Não passara pela cabeça denenhum sábio da FAF que apresença do craque ango-lano seria marcante para aestrela mundial Franz Be-kenbauer. Nada mais foi dito

sobre o assunto. Acreditoque ele terá visto o Diniz nosdias sequentes. Por portase travessas ouvimos que ocraque está ou esteve doen-te, com problemas no joelho.“Brinca n’Areia ∕ N’Areia ∕Brinca n’Areia ∕ N’Areia”…

Oxalá Man Dinas estejabem de saúde.

História que fez morada

Trajectória fantásticaNa verdade, eu vi, pela pri-meira vez, o Diniz jogar nohistórico jogo Angola/Cuba,no Estádio da Cidadela, noano de 1977, na presença de50 mil almas, entre as quaismilitares cubanos, exímiosmanejadores de canhões.Depois voltei-o a ver coma camisola do Clube Des-portivo 1º de Agosto. Es-tava eu na idade de entrarnos r i to s de in i c i açãomasculina. Pena é que jánão estava no seio da triboNhaneca. Não ouvia maiso mujir do boi sagrado.

No ano da Revoluçãodos Cravos em Portugal, aminha família voltou paraa terra da Kianda, vindade Sá da Bandeira. O meuvelho, que Deus o tenha,era o enfermeiro queridodos Nhaneca na terra deKundi Paihama.

Na altura, Angola prepa-rava-se para abandonar alonga noite colonial. No bair-ro Neves Bendinha outrosfilhos de antigos trabalha-dores da administração co-lonial começavam tambéma voltar às origens. Com aDipanda, abria-se a janelade oportunidades para osangolanos voltarem a viverlivremente na sua própriaterra. Jeremias, companheirodas barrocas, irmão maisvelho de outro João Louren-ço, não se cansava de falardos craques do futebol an-golano. O “Brinca n’Areia”morava já na sua boca.

Fomos adeptos dos mes-mos clubes, fãs dos mes-

mos jogadores. Seguíamosas pegadas de Diniz. Nãoé ao acaso que hoje aindatorcemos pelo SportingClub de Portugal e peloClube Militar em Angola.No Escola do Zangado e noASA, clubes onde man’-Dinas também brilhou, nãoo pudemos ver: acabáva-mos de chegar do Céu, nobico da cegonha.

Havia histórias impres-sionantes sobre os clubesda época e seus jogadores,estórias com o sabor dosmitos da nossa terra. Di-zia-se que o Escola doZangado jogava de preto,cor da noite sem estrelas,porque havia morrido al-guém afecto ao clube… Acor preta passou então apintar o clube.

DR

“Ele foio melhor jogadorda mini-copa

de 1972, uma lenda do

futebol mundial”…Meus pulmõesencheram-se

de orgulho. Voltei a entrar na vivenda,o homem olhoupara mim

boquiaberto”

DR

DR

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EDUCAÇÃO32 Domingo20 de Setembro de 2020

DR

Tânia J.A. Costa |*

De repente, nos deparamoscom mudanças drásticas naeconomia global e não existemais a expressão “estabili-dade financeira”. Vivencia-mos tempos de contínuasmudanças e resta-nos apenassobreviver com as ferramen-tas adequadas.

Indubitavelmente, po-demos dizer que a educa-ção financeira, embora sejaum tema à primeira vistapouco atractivo, é a chavepara uma economia sau-dável e o desenvolvimentodas sociedades do séculoXXI. A educação financeira,muitas vezes distorcida, jáfaz parte do nosso quotidiano,seja no nosso orçamento, nagestão familiar, nas poupan-ças, nos investimentos, noscréditos… Todos os dias de-paramo-nos com mil e umamaneiras de despender di-nheiro (bufunfa).

Os temas do sector finan-ceiro, como a bolsa de va-lores, títulos de tesouro,depósitos a prazo, comissõesbancárias e outros conceitosde elevado grau de comple-xidade, ganharam destaqueentre nós. No entanto, fica

ainda difícil perceber até queponto cada um de nós en-tende o que está a ser dito.

Mas ter uma boa relaçãocom o dinheiro está próximode ser uma realidade no seiodos angolanos, sendo que,a partir de 2022, o Governoangolano incluirá no sistemade ensino a disciplina de“Introdução de conteúdossobre educação financeira”(Portal do MINFIN 2020).Isso é uma mais valia e umpasso crucial para uma so-ciedade desenvolvida.

Aprender sobre educaçãofinanceira é uma necessidade

Apostar na boa gestão das finanças pessoais

transversal a todas as idades,mas, quanto mais cedo secomeçar melhor. Como dizo ditado, “é de pequeninoque se torce o pepino”. Co-meçar mais cedo será umauxílio às gerações futuras,no desenvolvimento decomportamentos e atitudesracionais face às questõeseconómicas e financeiras.

O ensino das bases fi-nanceiras adequadas naidade escolar permitirá daràs nossas crianças e jovensferramentas úteis, que irãodesenvolver ao longo dasua vida, contribuindopara que sejam cidadãosmais informados e cons-cientes das oportunidadese riscos financeiros.

Segundo a Organizaçãopara Cooperação e Desen-volvimento Económico (OC-DE) educação financeira é“o processo mediante o qualos indivíduos e as sociedadesmelhoram a sua compreen-são em relação aos conceitose produtos financeiros”.Noutras palavras, é a habi-lidade para entender comoo dinheiro funciona, a artede dominar o dinheiro e usá-lo em favor próprio com se-gurança, para aproveitar avida com menos preocupa-

ções e ter uma reforma felizsem contar apenas com oINSS e a ajuda de familiares.Não se trata apenas de umprocesso de economizar,cortar gastos, poupar, in-vestir, empreender ou dequanto você tem na conta,mas do uso que você fazdo que tem.

Para tal, na educação fi-nanceira encontramos sub-temas e ferramentas quevisam ajudar o cidadão adesenvolver um equilíbriofinanceiro diário e a usar oseu dinheiro com a devidaparcimónia. Muitos escri-tores de educação financeiraafirmam que, com a men-talidade e os hábitos certos,aos poucos o cidadão podeorganizar o seu orçamentoe começar a construir a suasegurança financeira semser controlado pelo dinheiro,como acontece em muitoscasos, em que as pessoastrabalham apenas para hon-rar compromissos mensaiscomo o pagamento da renda,telefone, água, electricidade,gás e supermercado.

É necessário, primeiro,revermos os nossos concei-tos de maturidade e respon-sabilidade entre “necessitar”e “querer”, e, de igual modo,

aplicar e praticar os con-ceitos, sendo que de nadavalem os conhecimentosadquiridos se não forempostos em prática. E comdinheiro não é diferente.

Segundo, cada um deveauto-capacitar-se sobre fi-nanças pessoais. Para issonão precisamos de um di-ploma em Economia. Na In-ternet podemos encontrar,gratuitamente, conteúdos,palestras, e workshops quefocam no tema. Concomi-tantemente, já existem an-go l anos mento re s emfinanças pessoais que do-minam a matéria de acordocom a nossa realidade e,muitas vezes, os mesmoscostumam ministrar aulasgratuitas sobre o assunto.

Por conseguinte, de acor-do com algumas metodo-logias ensinadas pelos gurusde finanças pessoais, de-ve-se tomar medidas como,por exemplo, negociar asdívidas; cortar gastos su-pérfluos; estabelecer metase objectivos e, por último,anotar todos os gastos dia-riamente para saber, comclareza, onde se gasta maise, dessa maneira, poder fa-zer cortes e adaptações sem-pre que for necessário. Em

vista disso, aplicando o aci-ma exposto, não importan-do o tamanho do salário oua classe social, o dinheirodeixa de ser preocupaçãoe passa a ser parte de umrelacionamento com o únicoobjectivo de atingir o bem-estar e a independência fi-nanceira. O cidadão passaa viver uma vida de paz equalidade, tendo o controlodas suas finanças pessoais.

* Consultora de Carreira e Negócios

LITERACIA FINANCEIRA

Gurus das finanças pessoais ensinam, como caminho para a independência financeira, negociar asdívidas, cortar os gastos supérfluos, estabelecer metas e anotar todos os gastos diariamente. O cidadão

passa a viver, assim, uma vida de paz e qualidade, com o controlo das suas finanças

“O dinheiro deve deixar

de ser preocupaçãopara ser parte

de umrelacionamentocom o único

objectivo de atingiro bem-estar

e a independênciafinanceira”

“A partir de 2022o Governo

angolano incluiráno sistema de

ensino a disciplinade Introduçãode conteúdossobre educação

financeira” (Portaldo MINFIN 2020)