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MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO - Identificar os tipos de responsabilidades civis nas relações de consumo e suas principais diferenças; - conceituar e diferenciar "fato" de "vício" do produto e do serviço; - identificar a figura dos responsáveis pelo fato e pelo vício do produto e do serviço, entendendo os seus alcances; - reconhecer as hipóteses de exclusão da responsabilidade civil nas relações de consumo.

Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

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Page 1: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE

CONSUMO

- Identificar os tipos de responsabilidades civis nas relações de consumo e

suas principais diferenças;

- conceituar e diferenciar "fato" de "vício" do produto e do serviço;

- identificar a figura dos responsáveis pelo fato e pelo vício do produto e do

serviço, entendendo os seus alcances;

- reconhecer as hipóteses de exclusão da responsabilidade civil nas relações

de consumo.

Page 2: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Unidade 1 - A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço

Como vimos no módulo anterior, foi na Constituição de 1988 que a defesa do

consumidor passou a ser considerado um direito fundamental e um princípio

geral da ordem econômica.

Com o zelo de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, foi elaborado

o código de defesa do consumidor (CDC), que prevê duas espécies de

responsabilidade civil nas relações de consumo, vejamos:

a primeira, pelo fato do produto ou serviço, com regramento previsto nos arts.

12 a 17;

e a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal nos arts. 18 a

25.

Antes de estabelecer as principais diferenças entre as modalidades de

responsabilidades, vejamos o que o CDC versa sobre a matéria:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o

importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de

projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,

apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”

Page 3: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 2 - Fato e vício

Vamos entender primeiramente o que caracteriza o fato

Fato significa ocorrência, acontecimento, evento. O CDC fala em fato

acompanhado de defeito; é, portanto, o fato que apresenta um defeito causador

de um dano.

Como diferenciar “fato” de “vício”?

No vício, o problema encontrado no produto ou no serviço frustra o consumidor

tão somente pelo erro encontrado neles próprios, acarretando o mau ou

impossível funcionamento. No fato do produto ou do serviço, por outro lado,

este “erro” é externalizado, saindo do domínio do produto ou serviço para

atingir a esfera particular do consumidor, causando-lhe um dano material, físico

ou moral.

Sérgio Cavalieri Filho (2011, p. 208) define que:

“A palavra-chave neste ponto é o defeito. Ambos decorrem de um defeito do

produto ou do serviço só que no fato do produto ou do serviço o defeito é tão

grave que provoca um acidente que atinge o consumidor, causando-lhe dano

material ou moral. O defeito compromete a segurança do produto ou serviço.

Vício, por sua vez, é defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço

em si; um defeito que lhe é inerente ou intrínseco, que apenas causa o seu

mau funcionamento ou não funcionamento”.

Page 4: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 3 - Exemplos

Fato x Vício

Um carro que esquenta demais e pega fogo.

Trata-se de vício ou de fato?

Vejamos como é fácil identificar quando se lida com o vício e quando é o fato

que atinge o consumidor, por meio dos seguintes exemplos:

1. O seu refrigerador parou de gelar

Vício: Foi inserido pouco gás refrigerante no refrigerador de ar, que, por isso,

para de gelar.

Fato: Ao invés do gás refrigerante normal, foi colocado um gás letal no

refrigerador de ar, intoxicando as pessoas que ali estavam.

2. Um cosmético que promete eliminar rugas

Vício: Simplesmente não faz qualquer efeito.

Fato: O cosmético que promete eliminar rugas causa dilacerações na pele.

3. Um carro cujo motor esquenta demais

Vício: O motor do carro esquenta demais e para de funcionar.

Fato: O motor do carro esquenta demais e pega fogo.

4. Serviço de limpeza contratado

Vício: A empresa que deixa partes sujas.

Page 5: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Fato: O mesmo serviço de limpeza usa um produto que causa fortes náuseas

nas pessoas que ali habitam.

Pág. 4

Estando clara a noção de fato, é hora de conhecer os possíveis responsáveis.

Nesse ponto, em vez de simplesmente imputar a responsabilidade aos

fornecedores, quis o CDC restringir os personagens. Então, de acordo com seu

art. 12, são responsáveis pelo fato do produto e do serviço:

o fabricante - aquele que fabrica e coloca no mercado de consumo produtos

industrializados;

o produtor - aquele que fabrica e coloca no mercado de consumo produtos não

industrializados;

o construtor, nacional ou estrangeiro - aquele que introduz produtos imobiliários

no mercado de consumo, através de fornecimento de bens ou serviços;

o importador - aquele que faz circular produto estrangeiro dentro do país.

Atenção

Logo se percebe a ausência do comerciante, contudo sua exclusão não é

absoluta, há exceção, conforme se verificará mais à frente.

Page 6: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 5

A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço é objetiva e solidária:

Objetiva, porque independe da demonstração de culpa (imprudência,

imperícia ou negligência) do responsável. Basta, portanto, a

demonstração de que houve um dano, e o nexo causal entre este e o

defeito no produto ou serviço que o gerou. Assim, a simples colocação

no mercado de determinado produto, ou prestação de serviço, ao

consumidor, já é suficiente para ensejar a responsabilização.

Solidária, uma vez que havendo mais de um responsável pela

colocação do produto, ou serviço, defeituoso à disposição dos

consumidores, todos podem ser demandados, e a responsabilidade de

um não exclui a do outro.

Em todos os casos, concorre solidariamente o fabricante da peça ou do

componente do produto fabricado, produzido, construído ou importado, assunto

a ser abordado mais detalhadamente na Unidade 3.

Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço

Page 7: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 6 - Profissionais liberais

Haveria alguma diferença no entendimento das responsabilidades dos

profissionais liberais?

“Art. 14 (...)

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada

mediante a verificação de culpa.”

O CDC incluiu a possibilidade de responsabilização dos profissionais liberais

(médicos, advogados, dentistas etc.), conforme o § 4º do art. 14, acima

descrito. Entretanto, nesse caso em particular, há uma quebra da regra da

objetividade e, assim, sua responsabilização será verificada mediante

verificação de culpa. Em outras palavras, não basta o dano e o nexo causal

com o defeito no serviço do profissional liberal: há que se verificar a existência

de negligência, imperícia ou imprudência do profissional, com o fim de

responsabilizá-lo pessoalmente.

Veja jurisprudência: Profissionais Liberais

Page 8: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Há, na doutrina, quem defenda que o termo “fato” do produto e do serviço não

sinônimo de acidente de consumo e que, portanto, assim não deveria ser

tratado, como define Rizzato Nunes (2011, p.317), quando afirma que “Diga-

se, de qualquer maneira, que se tem usado tanto “fato” do produto e do

serviço, quanto “acidente de consumo”, para definir o defeito. Porém, o mais

adequado é guardar a expressão “acidente de consumo” para as hipóteses em

que tenha ocorrido mesmo um acidente: queda de avião, batida do veículo por

falha do freio, quebra da roda gigante no parque de diversões, etc., e deixar

fato ou defeito para as demais ocorrências danosas.”

Síntese

Vimos nesta unidade que fato do produto pode ser explicado pelo "erro"

apresentado no produto ou no serviço, que extrapola o simples problema de

funcionamento, causando ao consumidor um dano material, físico ou moral.

Certamente, agora você já está apto a identificar os possíveis responsáveis,

de acordo com a norma legal vigente.

Seguiremos buscando compreender a nova disciplina do vício. Bons estudos!

Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço

Page 9: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Unidade 2 - A nova disciplina do vício

Vamos relembrar.

Na unidade anterior, vimos que o Código de Defesa do Consumidor (CDC)

prevê duas espécies de responsabilidade civil nas relações de consumo:

- a primeira, pelo fato do produto ou serviço; e

- a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal nos arts. 18 a

25, que veremos a seguir.

Então, analisemos o que o CDC versa sobre a matéria:

“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis

respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os

tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes

diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as

indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem

publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o

consumidor exigir a substituição das partes viciadas.”

Page 10: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 2 - Vício

O que é o vício do produto e serviço?

Quando falamos em vício do produto ou do serviço, estamos nos referindo a

qualquer problema relacionado ao produto ou ao serviço que, de alguma forma,

prejudique sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim ao qual se

destinam.

No vício, ao contrário do que vimos em relação ao fato, a falha não extrapola a

esfera do produto ou serviço. Não atinge pessoalmente a figura do consumidor,

de forma a lhe causar um dano material, físico ou moral. É a falha sem

acidentes ou consequências graves.

Pode-se dizer que o fato é um vício com algo a mais?

Sim, esse algo a mais seria o dano pessoal. Diz-se também que todo fato por

origem é um vício, uma vez que para gerar o dano ao consumidor, o produto ou

serviço tem necessariamente que apresentar uma falha antecessora e

causadora do dano. Já a recíproca, obviamente, não é verdadeira.

Page 11: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 3 - Tipos de vícios

Quais são os tipos de vícios?

Além dos “vícios ocultos” previstos no Código Civil de 1916 pelos chamados

“vícios redibitórios”, o CDC inovou acrescentando os “vícios de qualidade” e

“vícios de quantidade”, ainda que aparentes ou de fácil constatação, quando

tornam os produtos impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam

ou lhe diminuam o valor.

Acrescente-se, ainda, que o CDC facultou ao consumidor uma gama de

possibilidades de reparação mais abrangente que o Código Civil, incluindo a

substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições

de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,

sem prejuízo de eventuais perdas e danos, o abatimento proporcional do

preço, a complementação do peso ou medida.

Page 12: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

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Vejamos os seguintes tipos de vícios:

1. Vícios redibitórios

Os vícios redibitórios são os defeitos ocultos da coisa, que fazem com que o

negócio jurídico de compra e venda não produza um dos efeitos ao qual se

destina, qual seja a perfeição do bem alienado.

Além da exigência de que o vício seja oculto, nos vícios redibitórios a coisa

recebida deve originar-se de uma relação contratual e possuir defeito grave e

contemporâneo à celebração do contrato. A nova disciplina do vício derrubou

essas amarras. A responsabilização quanto ao vício, como previsto no CDC,

independe de um contrato entre as partes, não há distinção quanto à

gravidade, e pode ocorrer antes, durante ou depois da realização do negócio.

Exemplos: comprar um cavalo manco ou estéril; alugar uma casa que tem

muitas goteiras; receber em pagamento um carro cujo motor aquece nas

subidas.

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2. Vícios de qualidade

Apresentam-se nos produtos ou serviços com erros que diminuem as funções

ou o valor que é normal se esperar deles. A qualidade que se encontra é

inferior à corretamente presumida pelo consumidor.

Exemplos: televisão cujo som não funciona, carro com problemas de

aquecimento, ferro de passar roupa que esquenta pouco, roupa descosturada,

serviço de limpeza mal executado, prazo de validade vencido etc.

Ver jurisprudência: Vício de Qualidade

Síntese

3. Vícios de quantidade

Page 14: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Nos produtos ou serviços em que a prestação pode ser quantificada, o

consumidor recebe menos do que o que lhe foi ofertado. Decorrem das

disparidades com as indicações constantes do recipiente, embalagem,

rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de

sua natureza, que se dá quando a perda de certo conteúdo durante o processo

distributivo já é esperada como consequência natural do produto.

Ainda, produtos com peso ou, quando divisíveis, em número menor que o

anunciado. Está diretamente ligado ao dever do fornecedor de informar.

Exemplos: frango congelado cuja quantidade de água eleva o peso real do

produto; vidro de mostarda de 200ml que só tem 150ml; caderno de 100

páginas com apenas 80; serviço de tevê por assinatura que retira canais de

sua programação sem o prévio aviso ao consumidor etc.

Ver jurisprudência: Vício de Quantidade

Síntese

Nesta unidade, vimos que vício do produto e do serviço pode ser caracterizado

por qualquer problema relacionado a eles que, de alguma forma, prejudique

sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim ao qual se destinam.

Ainda aqui, percebemos o alcance do Código de Defesa do Consumidor, que

permitiu ao consumidor uma gama de possibilidades de reparação ,

mostrando-se bem mais abrangente e pormenorizado que o Código Civil.

Page 15: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Unidade 3 - As responsabilidades subsidiária do comerciante e

solidária do fornecedor

Agora que já identificamos as diferenças entre fato e vício do produto e do

serviço, vamos estudar os principais conceitos e a abrangência das

responsabilidades dos agentes da relação de consumo.

Iniciaremos por conhecer as responsabilidades subsidiárias do comerciante.

Por responsabilidade subsidiária, para efeito do estatuído no CDC, entenda-se

aquela em que B passa a ser responsável quando A não pode ser identificado.

Já na responsabilidade solidária, tanto A quanto B são responsáveis, e é uma

faculdade do consumidor escolher se vai demandar A, B ou ambos. Vejamos:

“Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo

anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser

identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,

construtor ou importador;

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.”

Page 16: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 2

Com a imputação da responsabilidade subsidiária do comerciante, o CDC

previne duas situações que poderiam gerar falhas no processo de

responsabilização pelo fato:

Com a retirada do comerciante da regra de responsabilização porque com isso

evita-se que ele pague por erro que não cometeu. O que se quer nos casos em

que a segurança do consumidor está sob risco é punir e educar aquele que de

fato deu causa para a ocorrência do dano.

Ao prever a responsabilidade do comerciante nos casos em que os

responsáveis originários não puderem ser identificados com precisão. Nada

mais justo. Afinal, ao colocar o produto em circulação sabendo que o

responsável pela sua fabricação, construção, produção ou importação não

pode ser identificado com clareza, o comerciante assume o risco e atrai para si,

então, essa responsabilização. É como se o comerciante dissesse: “Ok, esse

produto não é identificável, mas eu o garanto”.

Ver jurisprudência: Responsabilidade subsidiária do comerciante

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Vamos agora à responsabilidade solidária do fornecedor:

“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis

respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os

tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes

diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as

indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem

publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o

consumidor exigir a substituição das partes viciadas.” (Grifos nossos.)

O termo “solidariamente” que remete diretamente ao princípio da

solidariedade, em que mais de uma pessoa pode ser titular de um direito ou

dever, está presente, no CDC, em vários artigos além do acima citado, ao

imputar responsabilidade comum àquelas pessoas que contribuíram para a

colocação, no mercado, de produto ou serviço defeituoso.

Consulte: CDC - arts. 7º, parágrafo único; 19; 25, §§ 1º e 2º; 28, § 3º; e, 34.

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No vício do produto ou serviço, a solidariedade é a regra. Porém, há duas

exceções. São elas:

1. Produtos in natura, isto é, produtos artesanais, que não sofreram processo

de industrialização. Nesse caso, quando não identificado claramente o seu

produtor, o responsável será o fornecedor imediato. - Art. 18, § 5º do CDC.

2. Produtos pesados ou medidos na presença do consumidor utilizando

instrumento (balança, trena etc.) não aferido segundo os padrões oficiais.

Igualmente, responsabilidade do fornecedor imediato. - Art. 19, § 2º do CDC.

Exemplo:

João compra um carro e ao dirigi-lo à noite percebe que os faróis subitamente

se apagam e voltam a acender algum tempo depois. João, nesse caso, pode

demandar o fabricante do carro, assim como aquele que fornece a peça para o

fabricante e, ainda, tendo ocorrido somente o vício e não o fato, o comerciante

que vendeu o carro para João. Caso seja impossível identificar o fabricante do

carro e o fornecedor da peça, João pode demandar o comerciante inclusive

quando o defeito gerou um dano passível de configuração do fato do produto,

como já vimos na responsabilidade subsidiária do comerciante.

Page 19: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Ver jurisprudência: Responsabilidade Solidária do Fornecedor

Síntese

Nesta unidade pudemos perceber a diferença entre a responsabilidade

subsidiária e a solidária. Exemplificando, à luz do CDC, a primeira é aquela em

que B passa a ser responsável quando A não pode ser identificado, e a

segunda, tanto A quanto B são responsáveis e é uma faculdade do

consumidor escolher se vai demandar A, B ou ambos.

Page 20: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Unidade 4 - Excludentes de Responsabilidade Civil

Entendendo a responsabilidade subsidiária do comerciante e a solidária do

fornecedor, passaremos, agora, aos casos de exclusão da responsabilidade do

fornecedor, de acordo com o CDC.

Analise atentamente o caput do art. 12 do CDC e seu § 3º:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o

importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de

projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,

apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

(...)

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será

responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.”

Page 21: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Pág. 2 - Exclusão da responsabilidade do fornecedor

Como se percebe, são três as hipóteses de exclusão da responsabilidade do

fornecedor:

1. Quando provar que não colocou o produto no mercado: Naturalmente,

estando o produto no mercado presume-se que o fornecedor o colocou. Cabe,

porém, a este, rebater essa presunção, quando puder demonstrar através de

provas que não foi o responsável. Tal situação pode ocorrer quando, por

exemplo, há produtos falsificados em circulação ou quando o fornecedor foi

vítima de furto ou roubo de produto ainda incompleto para ser colocado no

mercado.

2. Inexistência do defeito: Ainda que posto em circulação normal, o

fornecedor prova que na verdade não há defeito. Aqui, sendo provado que o

defeito inexiste, o próprio fato gerador da responsabilidade é fulminado. Trata-

se do caso em que há uma percepção equivocada por parte do consumidor

quanto ao defeito questionado. É o caso, por exemplo, da pessoa que pensa

ter passado mal por causa da ingestão de um queijo, quando percebe que este

se encontra mofado. Eis que o fornecedor demonstra que o bolor encontrado

nesse queijo não só é tolerado como desejado, que é uma característica

intrínseca daquele tipo de queijo e que o passar mal do consumidor, portanto,

não teve qualquer ligação com um defeito naquele laticínio, sendo tal defeito,

assim, inexistente.

3. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: Igualmente à

inexistência do defeito, mais uma vez, caso provada pelo fornecedor a culpa

Page 22: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

exclusiva do consumidor ou de terceiro, o fato gerador da responsabilidade,

qual seja, o defeito, é desconstituído. Pois se há culpa exclusiva do consumidor

ou de terceiro, não há o que se falar em defeito do produto. Este foi posto em

circulação pelo fornecedor em sua perfeição; porém, ao alcançar seu

destinatário (o consumidor) ou o terceiro, estes provocam o problema, seja por

descuido, mau uso ou até mesmo intencionalmente. Tal condição pode ser

verificada, por exemplo, quando a despeito de aviso claro no medicamento

sobre a posologia, o indivíduo toma o dobro da dose recomendada. Ou seja,

não há defeito no medicamento e sim culpa exclusiva daquele que tomou dose

superior à que se indicou.

Síntese

Constatado o vício ou fato do produto ou serviço, verificamos que as hipóteses

nas quais o fornecedor é eximido de responsabilidade são: quando ele provar

que não colocou o produto no mercado, quando da inexistência do defeito ou

quando provada a culpa do consumidor ou de terceiro.

Ver jurisprudência: Excludentes de Responsabilidade Civil

Page 23: Introdução Ao Direito Do Consumidor - Módulo II

Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II do curso Introdução ao Direito do

Consumidor (parceria ILB e ANATEL).

Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma

releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não

influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu

domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a

correção imediata das suas respostas!