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Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),
Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X
NARRATIVAS ENTRECRUZADAS DE PROFESSORAS NEGRAS NO EXTREMO SUL:
(RE)INVENES (IM)POSSVEIS
Treyce Ellen Silva Goulart1
Mary Rangel2
Resumo: este trabalho apresenta os caminhos investigativos percorridos a partir de narrativas
autobiogrficas de trs professoras negras no municpio de Rio Grande/RS. A produo dos dados
foi inspirada na metodologia de atelis biogrficos de projeto e deu-se por meio de encontros
coletivos e individuais. As narrativas autobiogrficas foram problematizadas a partir de um vis
interseccional interpelado pelas perspectivas terico-polticas dos Estudos Feministas Decoloniais e
Negros. As aproximaes com as falas das docentes possibilitaram a compreenso dos diversos
atravessamentos e imbricao entre as questes de raa/racismo, gnero/sexismo e classe/classismo
de modo a percebermos estes elementos no enquanto estruturas slidas, atmicas ou imutveis,
mas como um amlgama que interpretado/interpelado e interpreta/interpela as docentes em seus
cotidianos. As tticas criadas por cada uma e o investimento sobre si na construo de suas
narrativas autobiogrficas foram peculiares, delineadas/o pelas suas experincias singulares,
sublinhando que as performatividades das mulheres negras, dentro deste microcosmo, no so
categorias atmicas, unssonas ou uniformes. E, por outro lado, que frente s objetividades culturais
e econmicas do racismo, as especificidades do sexismo, que tambm reiteram suas
subalternidades, so diludas.
Palavras-chave: Feminismos. Narrativa autobiogrfica. Decolonialidade.
Este artigo apresenta as reflexes possibilitadas a partir das narrativas autobiogrficas de trs
docentes atuantes na educao bsica que reconheo e se auto reconhecem enquanto negras. As
professoras lecionam no extremo sul do Brasil e se reuniram de 2006 a 2013 em torno de uma
prtica poltico-pedaggica direcionada efetivao da Lei Federal 10.639/2003. Com o estudo,
pretendo investigar como se constituem/so constitudas as mulheres negras enquanto sujeitas e
interpelaes do racismo, sexismo e classismo. Deste decorrem os seguintes objetivos especficos
da pesquisa: a) interrogar nas narrativas, as diversas configuraes assumidas pela colonialidade de
gnero e como essa produziu efeitos na forma com que essas sujeitas ocupam os espaos sociais; b)
questionar os discursos que buscam hierarquizar as opresses vivenciadas por mulheres negras; e c)
problematizar a relevncia das narrativas autobiogrficas e de auto representao para o
protagonismo de mulheres negras.
1 Doutoranda no Programa de Ps-Graduao em educao da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro,
Brasil. 2 Centro Universitrio La Salle do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro, Brasil.
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Durante a pesquisa, sobretudo a partir das teorizaes sobre as narrativas autobiogrficas e
formao, promovidas por Marie-Christine Josso (2004) e Christine Delory-Momberger (2008),
decidi inspirar-me na metodologia dos atelis biogrficos de projeto, criados por essa ltima. Este
procedimento foi adotado como inspirao por apoiar-se sobre duas prticas complementares: a da
autobiografia, ou seja, do trabalho realizado sobre si mesma a partir da fala que, dita ou escrita,
sempre um ato de escrita de si; e a da heterobiografia, isto , o trabalho de escuta/leitura e
compreenso da narrativa autobiogrfica feita pela outra. Estas duas prticas, possibilitadas pelo
espao construdo, objetivaram, tambm, a compreenso da fala autobiogrfica da outra, sobretudo,
a partir das construes de relaes de sentido da ouvinte ou da leitora consigo mesma e com sua
prpria construo biogrfica.
Cada uma das etapas3 foi repensada e adaptada s vicissitudes da investigao desenvolvida.
Aps o incio das atividades de campo efetivamente, realizamos trs encontros coletivos e seis
encontros individuais. Todos os encontros foram gravados, com a autorizao das professoras.
Dessa forma, o primeiro, segundo e terceiro encontro coletivo duraram, respectivamente, 30
minutos, 1 hora e 16 minutos, 2 horas e 06 minutos. Quanto aos encontros individuais, os de Lusa4,
Tereza5 e Aqualtune6, duraram, respectivamente, 1 hora e 54 minutos/1 hora e 58 minutos, 1 hora
40 minutos/ 40 minutos e 1 hora e 09 minutos/30 minutos.
O mtodo biogrfico escolhido foi ancorado em uma perspectiva dos estudos no/do/com os
cotidianos. Tal escolha apresentou-se enquanto poltica, terica e metodolgica uma vez que se
alinhava a uma postura de desconstruo crtica da colonialidade, s suas generalizaes e
universalismos que banalizam o vivido no/com o cotidiano (Oliveira, 2007, p. 61). Ao mesmo
tempo, este aporte terico metodolgico reconhece, conforme sublinha Oliveira (2007), que cada
um/a de ns sofre de uma cegueira epistemolgica, ou seja, nossa viso parcial e somos
cegos/as para uma srie de elementos que nosso olhar no consegue captar. Para a autora, esta
inabilidade relaciona-se ao carter notadamente conotativo de nossa linguagem. Dessa forma, a
3 A partir do que Delory-Momberger propunha, os atelis seriam compostos por seis etapas: a) Primeira etapa:
informao sobre o procedimento, objetivos do ateli e os dispositivos adotados. E estabelecimento de um pacto de
discrio e reserva sobre o narrado no ateli; b) Segunda etapa: elaborao, negociao e ratificao coletiva do
contrato biogrfico; c) Terceira etapa e quarta etapa: dois dias destinados escrita da primeira narrativa autobiogrfica e
a sua socializao; d) Quinta etapa: socializao da narrativa autobiogrfica; e) Sexta etapa: duas semanas depois, seria
um momento de sntese. Em reunio coletiva, cada participante apresentaria e argumentaria sobre seu projeto. Em um
ltimo encontro, que aconteceria um ms depois dessa sesso, faria se o balano da incidncia dos encontros para a
formao do projeto profissional/pessoal de cada uma. 4 Nome fictcio. 5 Nome fictcio. 6 Nome fictcio.
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leitura do/no/com o cotidiano d-se dinamicamente a partir da negociao dos diversos sentidos
instalados nas relaes entre as pessoas e dessas com o mundo.
Dessa forma, se compreendo que os discursos tm sido espaos de (im)possibilidades para
ns mulheres negras, reivindico as narrativas, localizadas e no generalizantes, de mulheres negras
enquanto bases relevantes para uma anlise mais aprofundada das condies de subalternidade e
resistncia dentro de uma sociedade racializada e generificada, como a nossa. Conforme nos
sublinha Delory-Momberger:
[...] a narrativa no apenas o meio, mas o lugar: a histria da vida acontece na narrativa. O
que d forma ao vivido e experincia dos homens [e das mulheres] so as narrativas que
eles[elas] fazem de si. Portanto, a narrao no apenas o instrumento da formao, a
linguagem na qual se expressaria: a narrao o lugar no qual o indivduo toma forma, no
qual ele/a elabora e experimenta a histria de sua vida. (2008, p. 56)
A narrativa autobiogrfica instala um sistema de interpretao e construo que situa, une e
faz significar os acontecimentos da vida como elementos organizados dentro de um todo. Ao
mesmo tempo implica, por um lado, em um projeto de si (projeo e em um projetar-se enquanto
possibilidade), dentro de uma construo biogrfica cujos acontecimentos organizados puxam este/a
sujeito/a para o futuro, o/a justificando retrospectivamente. Por outro lado, implica tambm na
reflexividade biogrfica em que o/a autobigrafo/a representa sua vida enquanto um todo unitrio e
estruturado, articulando e atribuindo sentidos a cada experincia dentro do curso de sua vida. Neste
caso, compreendo as narrativas enquanto construo de si a partir do revisitar, reorganizar e
remexer com as experincias.
Reflexes decoloniais
Quando reflito sobre a historicidade das relaes de poder que atravessam todas as relaes
estabelecidas no mbito da colonialidade7, encontro em Quijano (2005) algumas provocaes a
partir do conceito de raa nos territrios invadidos durante a colonizao. O autor, em um exerccio
de anlise sobre as relaes sociais pautadas na explorao com fins de acmulo de renda por um
grupo restrito, discorre sobre como estas estabeleceram a dinmica relacional entre colonizadores e
7 A colonialidade constitutiva da modernidade e envolve as relaes de poder emergidas do contexto da colonizao
europeia com relao Amrica Latina, frica e sia. Esse legado tem associado dominao/subordinao, bem
como colonizador/colonizado e atinge praticamente todos os aspectos das vidas das pessoas, permanecendo presente
nos modos como projetado e concebido o ser, o conhecimento e as relaes de poder.
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colonizados/as. Da depreende-se e relacionam-se ideais eurocntricos de modernidade8 para a
concepo do mundo em que, em primeiro plano, a histria da civilizao humana retratada como
uma trajetria que parte de um estado de natureza e culmina na Europa; e, em segundo plano, so
outorgadas enquanto diferenas de natureza (racial) e no de histria do poder, as diferenas entre
europeus e no europeus. o que Santos (2007, p. 27) afirma enquanto simetria dicotmica, que,
ainda que parea simtrica, esconde uma hierarquia e busca manter a racionalidade refm da ideia
de totalidade e complementaridade. Deste modo, no possvel pensar o sul sem o norte, a mulher
sem o homem, o escravo sem o amo. E dessa forma, gerada a invisibilizao, a produo ativa da
no-existncia daqueles/as que se encontram em posio inferior nesta hierarquizao naturalizada.
Tais reflexes so alargadas por Mara Lugones quando a pesquisadora discorre sobre a
colonialidade de gnero9. As discusses propostas pela autora no artigo Rumo a um feminismo
decolonial apresentam uma leitura bastante interessante das abordagens trazidas por Quijano
(2005), entre outros/as autores/as. A dinmica estabelecida com o discurso Aint I a Woman? (E no
sou eu uma mulher?) - proferido por Sojouner Truth em 1851, na Womens Rights Convention em
Akron, Ohio, Estados Unidos - causa certo desconforto quando lida distraidamente. Lugones inicia
suas problematizaes respondendo pergunta cerne da fala de Sojourner Truth e informa que a
resposta colonial seria No. No texto em questo, a autora estabelece, a partir de um ponto de
vista decolonial das relaes de gnero, apontamentos que buscam negritar que:
Comeando com a colonizao das Amricas e do Caribe, uma distino dicotmica,
hierrquica entre humano e no humano foi imposta sobre os/as colonizados/as a servio do
homem ocidental. Ela veio acompanhada por outras distines hierrquicas dicotmicas,
incluindo aquela entre homens e mulheres. Essa distino tornou-se a marca do humano e a
marca da civilizao. S os civilizados so homens ou mulheres. Os povos indgenas das
Amricas e os/as africanos/as escravizados/as eram classificados/as como espcies no
humanas como animais, incontrolavelmente sexuais e selvagens. [...] A imposio dessas
categorias dicotmicas ficou entretecida com a historicidade das relaes, incluindo as
relaes ntimas. (Lugones, 2014, p. 936)
8 A utilizao do termo em caixa baixa busca, a partir de um vis decolonial (Mignolo, 2008; Quijano, 2005) e de
desobedincia epistmica (Mignolo, 2008), denotar a viso de modernidade no enquanto um perodo histrico (da
viso heroica e triunfante), mas sim como fenmeno cultural e histrico especfico, uma narrativa (por exemplo, a
cosmologia) do capitalismo imperial (havia outros imprios que no eram capitalistas) e da modernidade/ colonialidade
(que a cosmologia do moderno, imperial e dos imprios capitalistas da Espanha Inglaterra e dos Estados Unidos).
Dessa forma, nega-se aqui essa narrativa hierarquizante e seu evolucionismo unilinear que passou a organizar e
classificar o mundo a partir de valores eurocntricos que se afirmavam universais. 9 Sobre o conceito de colonialidade do gnero, Lugones explica Ao usar o termo colonialidade, minha inteno
nomear no somente uma classificao de povos em termos de colonialidade de poder e de gnero, mas tambm o
processo de reduo ativa das pessoas, a desumanizao que as torna aptas para a classificao, o processo de
sujeitificao e a investida de tornar o/a colonizado/a menos que seres humanos.[...] a colonialidade do gnero ainda
est conosco; o que permanece na interseco de gnero/classe/raa como construtos centrais do sistema de poder
capitalista mundial. Lugones, Maria. Rumo a um feminismo decolonial. In: Estudos Feministas. Florianpolis, 22(3):
320, setembro-dezembro, 2014, p. 939.
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Nestes termos, a brutalidade do sistema colonial produzia ativamente por meio de seus
discursos e prticas a no existncia e a desumanizao das populaes escravizadas. Para a autora,
assim como para Quijano (2005), a hierarquia dicotmica entre o humano e o no humano a
dicotomia central da modernidade. A essas discusses somam-se as desenvolvidas no mbito do
feminismo interseccional.
Em decorrncia destas relaes, a pesquisadora afirma que a interseco entre o homem
negro e a mulher branca expe a ausncia da mulher negra, no sua presena. Sendo assim, a
colonialidade presente na linguagem atomizada nos apresenta uma lgica dicotmica em que
conseguimos considerar apenas o ente dominante quando nomeamos algo. Portanto, quando nos
referimos a negro, logo pensamos em homens negros, e, quando mencionada a figura da
mulher, esta branca10. Assim, nesta interseco as mulheres negras no teriam vez, nem voz,
como diria Lusa. Nestes termos, a interseccionalidade importante quando mostra a falha das
instituies em incluir discriminao ou opresso (Lugones, 2014, p. 942 - nota de rodap) contra
mulheres negras.
(Re) Invenes (im)possveis
Quanto s sujeitas desta investigao, o que os dados fornecidos pelo Estado11 permitem
vislumbrar a localizao distinta em que essas se encontram. Dentre outros marcadores
financeiros sobre os quais poderia apenas conjecturar, mas que sinalizam uma situao econmica
de estabilidade, as trs concluram a graduao e engajaram-se na ps-graduao/especializao ou
tem planos de retornar universidade para o mestrado. Isto j as inclui em um estrato muito restrito,
de 7,9% daquelas mulheres negras que estudaram mais de 12 anos. Este dado, conforme Mrcia
Lima, Flavia Rios e Danilo Frana (2013), as localiza, por exemplo, no grupo de sujeitas com
menor teor de desemprego, entre as mulheres negras12. Quando reencontro as falas das sujeitas, a
forma como as trs tm logrado alcanar determinados cargos ou espaos parece que sua incluso
10 Aqui no podemos perder de vista que tampouco esta mulher ou este negro sero membros da populao de
Lsbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis e que este marcador tambm gerador de desigualdades e
opresses. 11 O Retrato das desigualdades de gnero e raa um compilado de informaes a respeito da situao de mulheres,
homens, negros e brancos em nosso pas. Para tanto, apresenta indicadores oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domiclios (PNAD), do IBGE, para o perodo de 1995 a 2012, sobre diferentes campos da vida social, de forma a
disponibilizar para pesquisadores/as, estudantes, ativistas dos movimentos sociais e gestores/as pblicos um panorama
atual das desigualdades de gnero e de raa no Brasil, bem como de suas interseccionalidades. 12 Segundo, as autoras e o autor, nas extremidades do extrato, ou seja, no grupo de mulheres negras com menor e maior
nmero de anos de estudo se localizam as menores taxas de desemprego.
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neste cenrio se d de modo a modific-lo por meio da afirmao/valorizao/socializao de uma
outra cultura, sem que, necessariamente estes movimentos se oponham/ameacem a existncia
desta estrutura social complexa. Nestes termos, suas falas as localizam ao lado de outras/os sujeitas
excntricas/os que vm pautando sua excluso dentro da democracia. Nesse sentido, a produo dos
dados e respectiva anlise permitem perceber que as professoras se apoiaram em diferentes
marcadores para a sua construo pessoal enquanto sujeitas, conforme podemos vislumbrar a partir
de suas autobiografias:
Tereza: Sou casada, tenho uma filha de 6 anos e uma vida bastante corrida, dividindo-me
nas funes domsticas, familiares e profissional. A minha permanncia no magistrio
em funo de minha irm e minha prima. Em nenhum momento eu tive professores que me
incentivaram a isso, muito pelo contrrio. Temos que tomar muito cuidado com relao ao
que dizemos na escola. Tinham muitas professoras/es que me diziam que era muito quieta,
que no falava nada. Como se eu estivesse fadada ao fracasso, pelo fato de ser quieta, por
isso temos que ter muito cuidado com o que falamos para os alunos, pois no sabemos o
que vai ser no futuro, o que aquela criana vai ser. Aquelas professoras que diziam aquilo
de mim talvez nunca imaginaram que eu iria me tornar uma professora. De aluna, virei
colega
Tivemos uma infncia tranquila em termos econmicos, de acesso cultura e a lazer. A
gente percebia isso muito cedo porque principalmente essa diferenciao que as pessoas
faziam porque como eu te falei... eu no vim de uma famlia que passou dificuldade, claro
no ramos da alta sociedade. Nos foram ofertadas coisas que para a maioria das pessoas
negras, no foi. Onde a gente ia, os lugares que a gente frequentava, acabam sendo
frequentados por uma minoria negra que participava. Fui estudante de escola pblica no
ensino fundamental e mdio, na graduao e na ps-graduao tambm. Me orgulho disso,
pois grande parte da sociedade acredita que quem estuda em escola pblica est
predestinada ao fracasso. Quando prestei vestibular, no fiz curso preparatrio e obtive
xito na primeira tentativa, o mesmo acontecendo com a minha irm. Escolhi a carreira do
Magistrio por influncia de minha irm e por ter afinidade com a carreira. Tenho quinze
anos dedicados educao e fui me qualificando para atualizar-me e ter novas
oportunidades de trabalho. J fui Supervisora Pedaggica dos Anos Iniciais, Anos Finais e
atualmente estou na funo de Vice-diretora de uma escola de Ensino Fundamental.
Assim, na narrativa de Tereza, desde os primeiros encontros, houve referncias forma
como o estrato social ocupado por ela e sua famlia conformou-se enquanto um marcador relevante
para sua construo enquanto pessoa negra. Saliento esse ponto, sobretudo porque, me parece, esta
tem sido a tnica de seu discurso, aquilo que mais instantaneamente a sujeita relaciona s
discusses propostas em nossos encontros coletivos e individuais. Neste sentido, parece-me que o
recorte de classe, para ela, tem sido a lente atravs da qual ela organiza e projeta a narrativa de sua
vida, assim como informa suas percepes sobre o enfrentamento ao racismo para a populao
negra gacha. Superar a pobreza seria, para ela, etapa crucial no enfrentamento ao racismo.
A cada exemplo trazido de pessoas que venceram na vida, a cada demonstrao de
orgulho por sua trajetria, ali estavam presentes sobretudo noes de empoderamento econmico e
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ocupao de cargos enquanto sinnimo de enfrentamento estrutura racista gacha e, mais
amplamente, a brasileira. Da mesma forma, ocupar determinados espaos sociais mediados pelo
capital, tais como bares, restaurantes, bal de sua filha, e mesmo as viagens relatadas eram
evocaes daquilo que compreendo como seu projeto de transformao social e de enfrentamento
ao racismo. Por outro lado, tambm suas prprias narrativas apresentam, para mim, os limites desta
projeo.
Lusa, por sua vez, apresenta-se como uma mulher solteira, de 54 anos, filha, irm,
professora, especialista, militante. Tem sua narrativa marcada fortemente por uma trajetria de
ascenso e acesso a bens de consumo. A sujeita migra, como sua autobiografia nos conta, de um
contexto de extrema explorao da fora de trabalho de sua me, ocupando na infncia uma posio
enquanto filha da empregada e atravessada de afetividades dentro da casa dos patres dessa assim
como apresenta os primeiros momentos em que identifica o racismo atravessado de questes de
classe e gnero, na escola. A quase totalidade de sua fala busca afirmar um exacerbado orgulho de
suas conquistas, a partir do acesso Educao Superior, prtica poltica e pedaggica que tem
garantido a ela a ampliao de suas redes, o que a sujeita interpreta enquanto um avano quando
contrape essa abertura ao passado (e aqui houve vrias referncias ditadura militar) j que
agora possvel a ela falar de sua/nossa cultura e, sobretudo, ser ouvida. Lusa afirma e reafirma a
necessidade de a escola preparar cidads/os negras e negros que para estar l, l em cima na
pirmide.
Luza: Sou a mais velha de duas filhas. Estudei sempre no Instituto de Educao Juvenal
Miller, vaga que foi difcil de conseguir, pois na poca de sessenta, ou melhor, na dcada,
para ingressar nessa escola, tinha que morar perto da mesma. Morvamos em um bairro
perifrico e foi colocado o endereo da casa de famlia, onde minha me trabalhava. Casa
esta que minha av j havia trabalhado... Fui criada junto com essa famlia. Fazia as
refeies junto com eles. Fato que para a poca era impossvel acontecer. Com eles,
aprendi muitas e muitas coisas, me preparando para a vida. Eles fizeram de tudo para que
no (trabalhasse tambm como domstica l). Eles nos ofereceram, nos deram
oportunidades para virar. A me tambm. A me no queria isso para ns, queria que a
gente estudasse. Que eu estudasse, que a minha irm estudasse. Tinha que estudar, tinha
que estudar. Inclusive a questo do magistrio. Teve uma poca em que eu no queria
magistrio, eu queria jornalismo. Mas fazer jornalismo de que maneira? No tinha como.
Mas... mesmo que tu no v dar aula, eu quero o diploma. E, graas a ela, ao esforo da
me, ao esforo do pai e dessa famlia que deu um suporte muito grande. Nos ensinaram,
me ensinaram muita coisa, coisas muito prticas sabe? E que hoje eu penso assim Que
coisa boa que eu sei. Que bom que eles me ensinaram. Se eu estivesse em outro lugar, eu
no saberia essas coisas que eu sei. Boas maneiras, como me comportar nos lugares,
apesar de eu ser muito esparrenta. Mas como me comportar... como sentar mesa. Me
ensinaram valores, cidadania, me ensinaram muitas coisas. Se esforaram muito, nos
deram muita cobertura.
Mas, voltando ao lugar em que fui alfabetizada e conclu o ento 2 grau: a discriminao
e o preconceito era uma constante. Sempre fui muito alta e usava culos fundo de
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garrafa. Deveria us-los para com quinze anos no precisar mais dele. Porm, mexiam
muito comigo, me chamavam de negra macaca, temporal, quatro olhos etc, etc,
etc. para ser aceita pelos colegas, acredito que foi isso... parei de usar os culos e
enxergava muito pouco e sentada sempre atrs, por ser como j falei muito alta!! O tempo
passou e somente por volta dos quinze ou dezoito anos, no recordo bem, voltei a usar os
culos e at hoje fao uso deles, pois os problemas iniciais aumentaram. Minha famlia
fazia sacrifcio para comprar os mesmos que eram feios uma vez que tinham muito grau.
Mas nunca me deixaram ficar sem, por falta de dinheiro. Hoje, consigo mandar faz-los da
maneira que fique bem com o meu formato de rosto, cor de pele, etc. Quando conclu a
Universidade, fui a primeira da famlia a ter um curso superior e....olha a ironia do
destino: a formatura seria em um clube de uma Sociedade que antes era s da raa
branca e de quem tinha muitas condies. Primeira vez que entrava l. Entrei de cabea
erguida, emocionada para receber o meu to esperado diploma. A emoo foi enorme...eu
cheguei l.
Tendo em vista as perspectivas que sua narrativa sugere, parece-me que sua militncia se
organiza, sobremaneira, em torno de um modelo de cidadania mediado pelo acesso aos bens de
consumo. Entretanto, esse no pode ser alcanado sem a valorizao/afirmao de uma identidade
cultural negra. Em seu caso, a corporalidade tambm acionada enquanto elemento que apoia sua
performatividade de mulher negra. A sujeita reivindica para si, por exemplo, o uso de roupas
(muitas vezes customizadas) e acessrios que, para ela, referenciam essa cultura negra. So
estampas, turbantes, colares, bolsas que ornam seu corpo e, intencionalmente, quebram as
expectativas sociais em torno da esttica das mulheres gachas. Lusa denuncia a todo tempo, com
sua risada cheia, sempre alta, com suas roupas e irreverncia a sua inteno de no passar
desapercebida, dentro e fora da escola. Aproxima-se, ento, de uma esttica que, ao mesmo tempo
em que pode denotar um vis de nosso agenciamento, tambm, cada vez mais, tem se configurado
enquanto uma exigncia e atestado que confere legitimidade essa performatividade
principalmente, para mulheres negras.
Aqualtune narra-se como mulher, negra, solteira, filha, irm, professora, militante. Quando
penso em sua figura, quase impossvel deixar de evocar as caractersticas citadas por sua ex-
colega durante o embate narrado pela sujeita. A sujeita, com pouqussimas excees, usa
maquiagem, utiliza roupas que denotam elegncia, apresenta seus cabelos alisados/relaxados, loiros
e curtos. altiva e suas colocaes so feitas com seriedade. Em nossas conversas,
recorrentemente, houve uma narrativa e projeo de si que se organizava em torno de um discurso
vitorioso. De fato, Aqualtune, quando possvel, salientava sua no concordncia com aquelas
militncias que apenas debruam-se e produzem sobre a camada populacional negra que est em
uma situao socioeconmica desfavorvel. Assim, advoga a reforo de elementos culturais
africanos e afro-brasileiros enquanto forma de enfrentamento ao racismo e possibilidade de
ascenso econmica.
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Aqualtune: Eu sou a mais nova de cinco filhos, n o que se diz a raspa do tacho. Filha
de professora, de mulher, mulher negra obviamente, que, numa poca em que mulher no
se divorciava, no se desquitava, numa cidade de interior como Rio Grande
preconceituosa. Havia preconceito em relao minha me: mulher, j se torna uma
dificuldade. Tu sabe que a nossa sociedade, o simples fato de nascer mulher j uma
culpa, um erro, n. Embora ela que d a vida, que faa tudo, j um erro ter uma filha
mulher. Depois, negra mais um pecado, alm de nascer mulher tu negra. Terceiro
pecado, pobre. Alm de ser mulher negra, tu pobre. E o quarto pecado, tu desquitada
aquilo que, na poca, a mulher sozinha j no era boa coisa, uma mulher com filho
desquitada no era bem vista. Ento, so preconceitos que vm todos eles juntos de uma
vez s por voc ter todas essas condies. E as pessoas sempre olhavam de uma forma
diferente da situao. Embora minha me trabalhava, era professora, era respeitada,
sempre tinha um olhar equivocado dos demais. Conseguiu criar cinco filhos, dar educao
pra todos com um curso de f, sem muita frescura tudo simples. Conseguiu arrecadar
bens... conseguiu construir bens pros filhos. Ento, uma mulher de fibra que serve de
exemplo para muitas outras mulheres que ficam se lamentando s vezes por nada.
Ns vivemos em uma sociedade em que o fato de ser mulher j algo muito pesado, onde a
mulher no pode isso, no pode aquilo. Mulher chamada de vrias determinaes
pejorativas em determinado momento... ento isso incomoda. Porque mesmo ns estando
em uma sociedade onde se tem maior abertura para as mulheres, onde as mulheres esto
atuando em vrios segmentos, ainda existe esse rano que vrias pessoas ainda carregam
consigo... essa ideia que foi colocada alguns anos atrs que mulher no podia fazer quase
nada. Isso incomoda bastante, atrapalha bastante, mas no me impede de seguir adiante.
Bem pelo contrrio. Me d mais vontade de mostrar que por ser mulher eu posso fazer a
mesma coisa, com a mesma capacidade, com a mesma desenvoltura, ou talvez at mais.
No quero ser radical e dizer que a mulher melhor. No. A mulher pode e deve fazer tudo
aquilo que ela quiser fazer, ela no pode se colocar abaixo em uma situao. Ento, dentro
da nossa sociedade ainda tem muito para ser vencido. Eu creio que eu venci bastante essa
funo de ser mulher em uma sociedade machista e isso a algo que d fora. Para mim,
Aqualtune, isso me d fora. Eu vou adiante. Isso uma histria pessoal minha. Em
relao a ser negra, no tive grandes dificuldades. Creio eu, outras mulheres negras
teriam ou tenham. Mas eu no tive grandes dificuldades por ser negra. Isso eu no tive,
dizer que eu no venci, que no fiz isso ou aquilo porque era negra. Muito pelo contrrio.
Eu fiz, fao e vou continuar fazendo. Independentemente de ser mulher, negra, pobre ou
qualquer tipo de identificao. Isso no impeditivo para algum crescer e evoluir ao
longo da vida. Ser mulher e ser mulher negra no contraria muito a minha forma de viver.
Eu vivo, vivo muito bem, independentemente de ser negra, loira, ou magra, gorda, alta,
baixa. Ento, a questo que deve ser trabalhada a questo da negritude, da identidade da
mulher negra, para valorizar. Mas a mim a questo de ser negra no me bateu, no me
entristeceu e nem foi impeditivo para chegar onde eu cheguei. [...]
Dentre as trs discentes, Aqualtune talvez seja, ao menos a interpretao que tenho das
narrativas sugere, a que mais esteve imersa, durante toda sua vida, em espaos de sociabilidade
negra, tais como os clubes sociais negros, os nichos dentro da militncia poltica ou do movimento
social. Ao mesmo tempo, interessante notar como, em sua narrativa, ela foi a nica dentre as
sujeitas que negou a relao direta entre sua corporalidade generificada e racializada e as
dificuldades encontradas durante sua vida. Acredito que esta posio denuncie no a desvinculao
entre gnero/sexismo e raa/racismo, mas sim possa sinalizar que, para ela, ser mulher negra no
tenha se configurado enquanto uma questo porque seus referenciais eram negros quando se referia
aos possveis entraves ao seu avano por ser mulher negra. Ou seja, quando ela nos sublinha o
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sexismo em primeiro lugar, no estaria essa sujeita denunciando as interaes sexistas dentro do
prprio movimento negro ou espaos de sociabilidade negra em que esteve inserida? No seriam
ento os homens negros, nessas relaes de poder e opresso, seus principais interlocutores?
Acredito que as falas de Aqualtune apontem para a complexidade das redes de significados
que vamos construindo e que nos interpelam. Em geral, nossa percepo sobre nossas vidas regida
por uma viso de ambiguidades, dicotomias, elementos que no se comunicam, mas se opem.
um aspecto da colonialidade. Sendo assim, quase automaticamente, aplicamos esta lgica de
oposio e complementariedade anlise de nossa conjuntura social. Neste sentido, quando nos
debruamos sobre as relaes estruturais de opresso de gnero, classe e raa, novamente aquelas
estruturas de opressor/a-oprimido/a teimam em vir tona. Com a fala de Aqualtune, entendo que
ela esteja sublinhando a incompletude de um olhar que apenas considere sua conformao enquanto
corpo generificado e racializado em oposio a esse outro, branco. Por outro lado, leva-me a
questionar, junto a outras feministas, o lugar de outro do outro, de subalternidade que se busca
relegar s mulheres negras, dentro da populao negra. Ou seja, denuncia que, em uma sociedade
racializada, generificada e atravessada pelas relaes de classe, pertencer a esses grupos
subalternizados no nos priva da reproduo e retroalimentao desta estrutura.
Concluses
As narrativas das trs sujeitas nos sublinham que cada uma tem se movimentado entre as
interseccionalidades projetadas sobre seus corpos de formas diversas. Entretanto, seus diferentes
modos de estar sendo mulher negra parecem atravessados de um interesse de incluso dentro de
valores de cidadania e democracia mediados pela valorizao daquilo que elas entendem como
cultura africana e ao poder aquisitivo. Ainda que polmico, o estatuto de opressor e oprimido parece
encarnar e se estabilizar nas marcas raciais, no entendimento dessas professoras. Entretanto, essas
caractersticas trazem mais que fentipos. Elas evidenciam o mapa do poder econmico.
Com suas narrativas percebo que o fentipo europeu branco sinnimo de proprietrio dos
meios de produo e consumidor das condies estabelecidas cidadania, ao passo que o fentipo
negro traduzido como o oprimido, a fora de trabalho e o sujeito a conquistar a cidadania negada
pela sua condio econmica. Em outras palavras, as posies de negra e mulher negra so
atravessadas pela dicotomia direta ao sujeito/a branco/a, proprietrio e judaico-cristo. Ainda que o
fato de serem mulheres lhes posicionem diferentemente quando comparadas aos homens na
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estrutura objetiva do racismo no mundo capitalista, essa marca, em geral, se dissolve em sua
militncia antirracista. A luta se estabelece no fora, com aquele que o adversrio direto: as
posies do/a branco/a europeu/ia. Com isso, as redes de opresso contra as negras constitudas nas
relaes entre mulheres e homens negros so relegadas em funo do racismo que, mesmo vivido
diferentemente, so reivindicados como iguais, como aparenta ser o caso das falas de Tereza e
Lusa.
Por esta razo, confidencio minhas dvidas sobre o que a subalternidade pode ter imposto
enquanto limite para a matriz desestabilizadora do contar de si. Minha compreenso aproxima-se
fortemente quela provocao trazida por Jurema Werneck (2013) sobre invisibilidade enquanto
produo ativa da no existncia. Entretanto, parece-me que os limites a que me refiro aqui tm
uma relao mais estreita com o que a subalternidade outorga em forma de invisibilizao de/sobre
ns mesmas. Ou seja, quando narramo-nos, esses limites nos acompanham, tornando este espao de
falar de si um lugar, tambm, da rara possibilidade de experimentao de si, j que para responder
pergunta como chego a ser aquilo que sou, seria preciso considerar O que sou, afinal?.
O contar de si exige que nos movimentemos a partir destas projees sobre nossos corpos,
generificados e racializados, mesmo naqueles espaos que compreendemos e criamos como
eu/ns/dentro. O movimento de ratificao ou refutao dessas projees parece-me atravessado
pela subalternidade que suportamos carregar sobre nossos corpos. Contudo, acredito que essa
escrita, com todas as suas limitaes, se apresente para o grupo de sujeitas como um exerccio de
debater-se contra a subalternidade, ousar tocar em seus limites, ou mesmo subvert-los.
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Intercrossing narratives of black teachers in the far south: (im)possible (re)inventions
Abstract: this work presents the investigative paths covered by autobiographical narratives of three
black female teachers on Rio Grande city, Rio Grande do Sul. The datas production was inspired
by the methodology of biographical project ateliers and occurred through collective and individual
meetings. The autobiographical narratives were problematized from an intersectional bias called by
the theoretical-political perspectives of Decolonial and Black Feminist Studies. The approximations
with the teachers' statements made it possible to understand the various crossings and imbrications
between the issues of race / racism, gender / sexism and class / classism in order to perceive these
elements not as solid, atomic or immutable structures, but as an amalgam Is interpreted /
interpellated and interprets / challenges teachers in their daily lives. The tactics created by each one
and the investment on them in the construction of their autobiographical narratives were peculiar,
outlined by their unique experiences, emphasizing that also the performativities of black women,
within this microcosm, are not atomic, unison or uniforms categories. Beside, in the face of the
cultural and economic objectivities of racism, the specificities of sexism, which also reiterate their
subalternities are diluted.
Keywords: Feminisms. Autobiographical narrative. Decoloniality.