Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL DE GÊNERO E ETNIA SOBRE AS LIMITAÇÕES
NA EFICÁCIA DA CONVENÇÃO PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE
DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER (CEDAW) NO BRASIL
Gabriela M. Kyrillos1
Resumo: Desde a ratificação da CEDAW pelo Brasil em 1984, diversas ações estatais demonstram
a busca por cumprir os preceitos da Convenção, tais como a igualdade de gênero na vida
pessoal/profissional e o fim da violência contra a mulher. Estatisticamente, sabe-se que estes
preceitos não foram concretizados e isso ocorre por muitas razões. Nessa pesquisa, toma-se como
hipótese que uma delas é a ausência de uma perspectiva interseccional. Considerando que o Brasil é
majoritariamente composto por pessoas negras e pardas e que possui uma significativa diversidade
de povos indígenas, a ausência de uma perspectiva interseccional que inclua a categoria raça no
texto da CEDAW tem consequência direta na inivisibilidade das especificidades que afetam a vida
das mulheres não-brancas. Assim sendo, toma-se como ferramenta analítica a interseccionalidade,
cunhada primeiramente por Kimberlé Crenshaw (1989). Tal conceito reconhece que existe na
atualidade um complexo de estruturas de opressão (múltiplas e simultâneas), que precisam ser
analisadas como um sistema de desempoderamento. Desse modo, a pesquisa busca por meio da
análise do texto da CEDAW e dos relatórios que o Estado brasileiro produziu (de 1984 a 2014),
averiguar como a precária articulação de gênero e raça prejudica a construção das estratégias para o
fim da discriminação contra as mulheres, com o intuito de avançar na construção de uma
perspectiva interseccional que possa contribuir para tornar mais eficaz a CEDAW no país.
Palavras-Chave: Gênero. Etnia. Interseccionalidade. CEDAW. Direitos Humanos.
Introdução
O Brasil ratificou a Conveção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra
a Mulher (CEDAW, sigla em inglês) em 1984. Desde então, o país assumiu o compromisso com
com as recomendações contidas no texto da Convenção, inclusive aquelas contidas no Protocolo
Adicional de 1999, no qual se compromete a enviar periodicamente relatórios acerca da
implementação de medidas que busquem atingir o próposito da CEDAW no país, em especial,
promover condições igualitárias para homens e mulheres e combater as diversas formas de
violência por elas sofrida.
Apesar da CEDAW ser parte do ordenamento jurídico brasileiro há mais de três décadas,
ainda é possível identificar diversos aspectos nos quais as brasileiras continuam sofrendo
discriminações na esfera pública e privada. É provável que a não concretização do escopo da
CEDAW no Brasil se dê por diversos motivos. Na presente pesquisa, parte-se da hipótese de que
1 Doutoranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina –
Bolsista CAPES. Florianópolis, Brasil. Mestra em Política Social na linha de Direitos Humanos e Acesso à Justiça pela
Universidade Católica de Pelotas – tendo sido Bolsista FAPERGS. Especialista em Direitos Humanos pelo Centro
Universitário CLARETIANO. Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande. E-mail:
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
um deles é a ausência de uma postura interseccional de gênero e raça quando se trata de buscar
implementar a CEDAW no Brasil. Considerando que o Brasil é majoritariamente composto por
pessoas negras e pardas e que possui uma significativa diversidade de povos indígenas, a ausência
de uma perspectiva interseccional que inclua a categoria raça no texto da CEDAW tem
consequência direta na inivisibilidade das especificidades que afetam a vida das mulheres não-
brancas.
Desse modo, toma-se como ferramenta analítica a interseccionalidade, cunhada
primeiramente por Kimberlé Crenshaw (1989). Tal conceito reconhece que existe na atualidade um
complexo de estruturas de opressão (múltiplas e simultâneas), que precisam ser analisadas como um
sistema de desempoderamento. Desse modo, a pesquisa busca por meio da análise do texto da
CEDAW e dos relatórios que o Estado brasileiro produziu (de 1984 a 2014), averiguar como se dá a
articulação de gênero e raça na busca pela implementação da CEDAW no Brasil. Após a análise dos
documentos, é possível perceber que apesar do Estado brasileiro reconhecer que raça e gênero
interagem de modo que os índices mostram que as mulheres não-brancas são as mais prejudicadas
pelas estruturas de discriminação existentes na sociedade brasileira, não há abordagem e propostas
de criação de estratégias a partir da perspectiva interseccional. A mera presença da categoria raça ou
etnia não garante que de fato estejam sendo construídas estratégias e diagnósticos interseccionais. É
possível identificar a busca pela transversalidade de gênero, em especial nos relatórios mais
recentes, que foram criados após o surgimento da já extinta Secretaria de Políticas para as Mulheres
(SPM) que tem como um de seus propósitos contribuir para que se incluam discussões de gênero de
forma transversal em outras instâncias e órgãos do Governo Federal. Essa pesquisa constatou que
não há uma abordagem interseccional de gênero e raça da CEDAW pelo Estado brasileiro. Espera-
se com isso, que esse seja apenas um primeiro diagnóstico que ainda poderá ser revisitado após a
análise de outros documentos e que dessa forma seja possível contribuir para a construção de
melhores estretégias para tornar mais eficaz a CEDAW no país.
Interseccionalidade
Para abordar a história da interseccionalidade é preciso iniciar antes mesmo do conceito ser
nomeado por Kimberlé Crenshaw em 1989. Esse é o entendimento de Patricia Hill Collins e Sirma
Bilge (2016), bem como de Anna Carastathis (2016, p. 34) para quem a interseccionalidade deve
ser entendida como representando uma síntese entre os movimentos sociais e o conhecimento
acadêmico crítico. É comum, no entanto, que os históricos sobre a interseccionalidade ignorem que
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
tal conceito surgiu nos Estados Unidos a partir da luta dos Movimentos Sociais, em especial,
daqueles que tinham como protagonistas mulheres negras. Minimizar tal origem tende a diminuir o
potencial transformador e crítico da própria interseccionalidade2. Mesmo no campo acadêmico é
preciso destacar que discussões que articulavam gênero3 e raça4 foram predecessoras fundamentais
para a construção do próprio conceito de interseccionalidade. Importante destacar que tais debates
levado a cabo por militantes do feminismo negro também se fez presente no Brasil, como é possível
identificar, por exemplo, nos textos de Sueli Carneiro (1995; 2003) e de Lélia Gonzalez (1984).
O primeiro texto no qual foi cunhado o termo interseccionalidade, Kimberlé Crenshaw
(1989) buscou examinar o modo pelo qual a tendência de tratar raça e gênero como categorias de
análises e de experiências concretas como sendo mutuamente exclusivas, se perpetua devido a
forma de eixo-único que domina a produção das leis contra a discriminação racial e as teorias
feministas e antirracistas. A autora compreende análises que se baseiam em um eixo-único
invisibilizam as mulheres negras na conceitualização, identificação e na remediação quanto a
discriminação de raça e gênero, sendo limitadas pelas experiências dos outros membros do grupo,
mais privilegiados – no caso do movimento antirracista os privilegiados são os homens negros, e no
caso da discriminação de gênero as privilegiadas são as mulheres brancas – criando análises
distorcidas sobre racismo e discriminação de gênero (CRENSHAW, 1989, p.140). Tal distorção
ocorre por que “[...] as concepções operativas de raça e sexo se tornam ancoradas em experiências
2 No livro intitulado ‘Intersectionality’ (2016) de autoria das sociólogas Patricia Hill Collins e Sirma Bilge (ainda sem
tradução para o português), as autoras demonstram como a ausência sobre os movimentos sociais nos históricos sobre
interseccionalidade não é apenas uma falha na contextualização do conceito mas, sobretudo, um equivoco ao assumir
que a interseccionalidade se resume a mais um campo acadêmico (COLLINS; BILGE, 2016, p. 64), ignorando que a
interseccionalidade parte da sinergia entre a pesquisa crítica (critical inquiry) e a práxis crítica (critical praxis).
Enquanto o primeiro diz respeito ao desenvolvimento da interseccionalidade na academia, como ferramenta analítica
para a construção de pesquisas e análises críticas; o segundo refere-se a forma como as pessoas, seja individualmente,
seja enquanto coletivos, produzem e usam a estrutura da interseccionalidade no seu dia a dia (COLLINS; BILGE, 2016,
p. 32). Um exemplo válido de como as discussões que articulam raça e gênero são muito anteriores ao surgimento do
conceito da interseccionalidade e se desenvolveu fora do campo acadêmico é o discurso de Sojourner Truth ‘Não sou
uma mulher?’. 3 Gênero, de acordo com a historiadora Joan Scott “É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das
identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta
sobre um corpo sexuado. […] O uso do ‘gênero’ coloca a ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o
sexo, mas que não é diretamente determinado pelo sexo nem determina diretamente a sexualidade.” (SCOTT, 1995, p.7) 4 O conceito de raça não deve ser entendido como foi utilizado do século XVI ao XIX, para reproduzir ideias da
colonialidade moderna que compreendia a existência de uma hierarquia racial. Nessa pesquisa, assim como ocorre
quando o conceito raça é utilizado no Movimento Negro e por algumas e alguns intelectuais das Ciências Sociais na
atualidade, está se partindo de uma nova interpretação, tal qual apresentado por Nilma Lino Gomes (2005, p. 45), que
se baseia na dimensão social e política do conceito de raça. A utilização do termo raça é uma escolha política adequada
para o Brasil posto que a forma como se dá a discriminação racial no país, desenvolve-se não apenas a partir de
elementos da identidade étnica de determinado grupo, mas também em razão dos aspectos físicos possíveis de ser
observados na estética corporal dos membros desse grupo (GOMES, 2005, p. 45). Ou seja, “raça ainda é o termo que
consegue dar a dimensão mais próxima da verdadeira discriminação contra os negros, ou melhor, do que é o racismo
que afeta as pessoas negras da nossa sociedade.” (GOMES, 2005, p. 45).
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
que, na realidade, representam apenas um subconjunto de um fenômeno muito mais complexo”
(CRENSHAW, 1989, p.140) 5 . É fundamental compreender que, de acordo com Crenshaw (1989, p.
140) para resolver o problema da invisibilidade da mulher negra quanto aos processos de exclusão e
marginalização, não basta incluí-las em uma já estabelecida estrutura de análise. Isso se dá por que
a experiência interseccional é maior do que o racismo e o sexismo pensados separadamente,
consequentemente, uma análise que não tome em consideração a interseccionalidade não será capaz
de lidar com a situação particular de subordinação que é imposta às mulheres negras.
No texto intitulado “Demarginzing the Intersection of Race and Sex: a Black Femininst
Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics” (1989), quando
Crenshaw apresenta a interseccionalidade pela primeira vez ela o faz utilizando o conceito como
uma metáfora, a autora apresenta o cruzamento das ruas de trânsito como analogia para pensar
sobre a forma como diferentes categorias de discriminação se entrecruzam. Nessa metáfora,
Crenshaw (1989, p. 149) apresenta a interseccionalidade como uma forma de compreender melhor a
situação das pessoas que se encontram no meio desse cruzamento, onde há tráfego indo e vindo de
todas as direções. No texto posterior, intitulado “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity
Politics, and Violence Against Women of Color” (1991), Crenshaw já apresenta a
interseccionalidade como uma ferramenta analítica capaz de contribuir para a solução de problemas
muitas vezes invisibilizados. Conforme Kimberlé Crenshaw (2002, p.177): “A interseccionalidade é
uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da
interação entre dois ou mais eixos da subordinação”. A autora traça algumas distinções conceituais
fundamentais, além de relacionar sua teoria com situações concretas nas quais as mulheres negras
estão mais propensas à violências, estupros e desigualdades, e, principalmente, o modo como essas
experiências possuem características e consequências específicas.
Já em um texto de 1997 Crenshaw afirma que a “Interseccionalidade é ao mesmo tempo um
conceito fundamentalmente provisório e ilustrativo.” (CRENSHAW, 1997, p. 248) . Ou seja, depois
de seus primeiros textos sobre interseccionalidade, Crenshaw concilia o caráter de metáfora com a
ideia de um conceito analítico provisório. Interseccionalidade é, portanto, “[...] uma categoria
transitória que liga os conceitos correntes com suas consequências políticas [...]” (CRENSHAW,
1997, p. 248).
Apesar do esforço de Crenshaw de incorporar o fato de que a interseccionalidade deve ser
um processo de conhecimento construído de baixo para cima, como por exemplo, a partir da
5 Essa, assim como as demais citações ereferentes aos textos da Crenshaw de 1989, 1991 e 1997, são traduções nossa.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
realidade cotidiana das mulheres negras; a incorporação do termo no universo acadêmico foi sendo
majoritariamente transformada em “[...] projetos de conhecimento de cima para baixo cujos
contornos estruturais foram cada vez mais moldados pelas práticas normativas da academia.”
(COLLINS; BILGE, 2016, p. 84)6. Essa apropriação do termo pela academia pode justificar, em
parte, o fato de que ele tem se espalhado de modo bastante rápido no campo das pesquisas sobre
gênero. Nessa percepção, como Collins e Bilge (2016, p. 85) observam, é como se o termo não
existisse até ser nomeado e legitimado pela academia, por meio do que elas denominam como uma
aminésia institucional que fez com que grupos de pessoas que eram centrais para o conceito, fossem
totalmente apagadas do canône da interseccionalidade.
A concepção de interseccionalidade considerada apropriada na presente pesquisa é aquela
sintetizada por Carastathis (2016, p. 62): “Adequadamente recontextualizada, a interseccionalidade
representa a condensação do movimento social e dos conhecimentos acadêmicos críticos, motivados
por intenções insurrecionais, visões transformadoras e lutas coletivas.”. Dessa forma, pensar no
acesso das mulheres aos direitos humanos via interseccionalidade é buscar construir uma análise a
partir de um conceito provisório, que até o momento é o que melhor expressa a importância de se
abandonar as visões conceituais monolíticas que acabam perpetuando a exclusão de uma
significativa parcela de mulheres, tornando frustradas as estratégias e propostas como as contidas na
CEDAW.
Análise da CEDAW e dos Relatórios Que o Brasil Enviou ao Comitê CEDAW
A CEDAW é tida como um marco na história dos direitos humanos pois, até o presente
momento, é o mais importante texto internacional que versa sobre os direitos humanos das
mulheres. A Convenção surgiu em 1979, adotada pela Assembleia Geral da ONU. Pela doutrina é
considerada como “[...] a Declaração Universal dos Direitos da mulher” (TOMAZONI; GOMES,
2015, p. 51). Essa compreensão sobre a Convenção decorre do fato de que há nela um agrupamento
de diversos princípios que já tinham se tornado aceitos no cenário internacional acerca dos direitos
humanos das mulheres, além do fato de que o texto inclui temas concernentes a diferentes áreas da
vida como saúde, família, trabalho e educação (TOMAZONI; GOMES, 2015, p. 51). Em outras
palavras, um dos grandes motivos que faz da CEDAW a principal carta de direito internacional
sobre os direitos das mulheres é sua capacidade de abarcar e compilar em um só texto questões
concernentes a diversas esferas da vida das mulheres.
6 Todas as traduções dos livros de Collins e Bilge (2016), bem como o de Carastathis (2016), são traduções nossas.
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O Brasil ratificou a CEDAW em 1984, naquele momento, o país formulou reservas a alguns
artigos da Convenção7. A Convenção é dividida em seis partes e um preâmbulo. O Brasil também
ratificou em 2002 o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher conhecido como Protocolo Adicional. Tal texto versa sobre o
Comitê CEDAW e a sua competência para receber relatórios dos Estados-Partes.
Uma relevante limitação da Convenção conforme destacado pela jurista Meghan Campbell,
no texto da Convenção
Não há referências às experiências das mulheres com discriminação
baseadas na raça, religião, etnia, nacionalidade, identitdade sexual,
orientação sexual, deficiência, idade ou status socio-econômico ou em
situação de violência, conflito armado ou no sistema de justiça. O preâmbulo
faz referência à pobreza, discriminação racial, colonialismo e
neocolonialismo; contudo, não há previsões substanciais sobre essas
questões na Convenção. (CAMPBELL, 2015, p. 486)8
Os caminhos encontrados para lidar com as lacunas existentes no texto original da
Convenção são a partir das ações do Comitê CEDAW. A criação do Comitê CEDAW está prevista
no texto original da Convenção. A Parte V, que inclui do artigo 17 ao 22, é integralmente dedicada à
criação e às especificidades do Comitê CEDAW. Consta no artigo 17 o propósito de tal Comitê,
definido como: “[...] examinar os progressos alcançados na aplicação desta Convenção [...]”.
O artigo 18 da CEDAW apresenta o compromisso dos Estados-Partes de remeteram ao
Secretário-Geral das Nações Unidas “[...] um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,
administrativas ou outras que adotarem para tornarem efetivas as disposições desta Convenção e
sobre os progressos alcançados a esse respeito.” (Art. 18 CEDAW). Tal relatório deve ser analisado
pelo Comitê CEDAW e remetido ao mesmo um ano após a entrada em vigor da Convenção para o
Estado e, depois disso, periodicamente pelo menos a cada quatro anos e também quando o Comitê
solicitar.
7 As reservas realizadas pelo Brasil no momento de ratificação da CEDAW dizem respeito aos artigos 15 e 16, e ao
artigo 29. Os artigos 15 e 16 falam especialmente dos direitos civis e da igualdade de direito nas relações matrimoniais.
O artigo 16 pode ser um dos elementos que fez com que a CEDAW tenha recebido tantas resalvas de distintos Estados,
pois busca assegurar, dentre outras coisas, o direito de escolha livre do conjugê, mesmos direitos e responsabilidades de
mulheres e homens sobre os filhos e nos casos de divórcio, direito de escolha do sobrenome e ocupação e afirma ainda
que “[...] o casamento de uma criança não terão efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de caráter
legislativo, serão adotadas para estabelecer uma idade mínima para o casamento [...]” (Art. 16, 2 - CEDAW). Como a
legislação brasileira na década de 1980 não assegurava direitos iguais entre mulheres e homens quando de relações
matrimoniais, o país realizou a reserva, tendo sido retirada em em 1994. A reserva ao artigo 29 permanece, nele está
previsto que em caso de controvérsia entre Estados sobre a aplicação ou a interpretação da Convenção, não havendo
acordo por meio de negociações, quaisquer das partes pode pedir que a controvérsia seja submetida à arbitragem. 8 Tradução nossa.
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Na presente pesquisa, analisou-se, além do texto da Convenção, todos os sete Relatórios
apresentados pelo Estado brasileiro ao Comitê CEDAW até o momento. De acordo com as análises
do texto da CEDAW e dos Relatórios produzidos pelo Estado brasileiro para o Comitê CEDAW, é
possível identificar a presença de termos como raça, etnia, cor e até mesmo interseccionalidade e
intersecção. Há diferenças importantes entre esses documentos que precisam ser destacadas.
A CEDAW, como já dito anteriormente, só cita a categoria raça no seu preâmbulo. Não há
na Convenção menção a termos como interseccionalidade ou intersecção. Ao longo do seu texto o
que se pode identificar como mais próximo de considerar outras categorias para além do gênero são
expressões como “Os Estados-Partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas
formas.” (Artigo 2). Elementos como esse fazem com que Campbell (2015) compreenda que o
escopo da CEDAW de eliminar todas as formas de discriminação contra as mulheres e promover a
igualdade de gênero necessariamente inclui o compromisso de considerar a discriminação
interseccional9 – já que sem isso, seria impossível fazer com que todas as mulheres fossem incluídas
dentro desses princípios norteadores da CEDAW. A própria Crenshaw compreende que no geral as
Convenções de direitos humanos são interpretadas a partir da lógica de eixo-único de análise, mas
que nelas há o potencial para que se alargue essa interpretação, de modo que não se trata
necessariamente de produzir novas declarações de direitos, mas sim de promover “protocolos
interpretativos a fim de romper com os limites das interpretações e práticas existentes, os quais
reduzem os direitos das vítimas de subordinação interseccional. (CRENSHAW, 2002, p. 182).
Tomando em consideração tal aspecto apresentado por Crenshaw, é válido considerar como
o Estado brasileiro tem lidado com as demandas da CEDAW. Para isso, os relatórios analisados são
uma fonta altamente relevante. O primeiro relatório apresentado pelo Estado brasileiro ao Comitê
CEDAW se deu apenas em 2002. Nesse documento, o Brasil afirmou estar apresentando os cinco
relatórios que deveriam ter sido entregues nos anos de 1985, 1989, 1993, 1997 e 2001. Tal relatório
foi produzido por um consórcio de organizações e pessoas10 sob a coordenação do Estado brasileiro,
por meio do Ministério das Relações Exteriores – vale observar que os demais Relatórios
9 Tal conceito utilizado por Campbell foi criado por Crenshaw, para quem: “A discriminação interseccional é
particularmente difícil de ser identificada em contextos onde formas econômicas, culturais e sociais silenciosamente
moldam o pano de fundo, de forma a colocar as mulheres em uma posição onde acabam sendo afetadas por outros
sistemas de subordinação. Por ser tão comum, a ponto de parecer um fato da vida, natural ou pelo menos imutável, esse
pano de fundo (estrutural) é, muitas vezes, invisível. O efeito disso é que somente o aspecto mais imediato da
discriminação é percebido, enquanto que a estrutura que coloca as mulheres na posição de receber tal subordinação
permanece obscurecida. Como resultado, a discriminação em questão poderia ser vista simplesmente como sexista (se
existir uma estrutura racial como pano de fundo) ou racista (se existir uma estrutura de gênero como pano de fundo).”
(CRENSHAW, 2002, p. 176). 10 Composto por: ADVOCACI, AGENDE, CEPIA, CFEMEA, CLADEM, GELEDES, NEV, THEMIS.
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
(referentes a 2001-2005 e 2006-2009) foram produzidos sem a participação direta de organizações
não-governamentais, razão pela qual, existem os denominados Relatórios Sombras ou Contra-
Informes da Sociedad Civil que não serão analisados na presente pesquisa.
No grande relatório de 2002 é possível identificar a presença da palavra interseccionalidade:
Conforme os dados apresentados, referentes às desigualdades econômicas e sociais,
o acesso à igualdade está muito marcado pela inter-seccionalidade entre as condições
de classe, etnia, idade, escolaridade, enfim, pelas diferenças existentes entre as
próprias mulheres. A vulnerabilidade às violações dos direitos humanos das mulheres
atinge especialmente as mais pobres, criando distintos obstáculos que devem ser
superados para a realização do proposto pela CEDAW. (2002, p. 83)
Apesar dessa ser a única menção ao termo interseccionalidade, já pode ser considerado um
ponto positivo a preocupação com a forma como outras categorias interagem com o gênero, além de
reconhecer a importância desse elemento para a concretização da CEDAW. Infelizmente, é possível
interpretar esse reconhecimento como sendo pontual. Nas 275 páginas de tal relatório, a presença
da categoria raça/etnia, em regra, surge de modo aditivo, como sendo apenas mais uma categoria
dentre outras que são apresentadas por que devem ser consideradas para a superação das
discriminações, sem de fato interconectá-las. Além disso, raça/etnia surge quando se apresentam
dados relevantes que demonstram como a desigualdade de gênero e raça deixam as mulheres
brasileiras não-brancas em situações materiais de desigualdade piores que as mulheres brancas ou
que os homens negros. Não se menciona ação já realizada pelo Governo Federal na busca pela
implementação da CEDAW que tenha tomado em consideração as intersecções entre as categorias
de raça e gênero.
O VI e o VII Relatório têm em comum a total ausência de termos como interseccionalidade
ou intersecção. Ambos apresentam como ponto positivo a presença aparente da articulação da
categoria raça e gênero em estratégias especialmente na área da educação, com a disponibilização
de cursos de capacitação que abordam as temáticas de gênero e raça e suas implicações nas salas de
aula. Contudo, não fica claro até que ponto essas categorias são apresentadas de modo articulado ou
são tidas como categorias de análise excludentes. O que se observa é que no geral em tais relatórios
predomina uma perspectiva de transversalização do gênero e, com menor visibilidade, também da
raça. Vale destacar que a interseccionalidade não se confunde com o princípio da transversalidade
que foi introduzido a partir de 1995 pela Conferência de Beijing e posteriormente incluído nas
propostas da União Europeia, a transversalidade
Parte da consideração de que as ações, as políticas e os programas têm
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
resultados diferentes para homens e mulheres. Por esse motivo, a perspectiva
das mulheres deve ser considerada no desenho, na implementação, no
surgimento e na avaliação das políticas e dos programas em todos os
âmbitos, com o objetivo de que homens e mulheres sejam beneficiados
igualmente e que a desigualdade não se perpetue. Incluindo atividades
específicas e ações positivas por que as posições de largada para homens e
mulheres não são iguais. (MOLINA, 2012, p. 205)
A transversalidade, portanto, é um princípio extremamente relevante no campo do direito
internacional pois contribuiu para se pensar além do discurso pretensamente universalizante que
acabava por excluir as mulheres. Porém, a transversalidade não se confunde com a
interseccionalidade pois essa remete a qualquer processo de marginalização que interage com outras
categorias excludentes, criando uma situação específica de vulnerabilidade. Como muito bem
destacado pela professora espanhola Carmen Molina (2012, p.205), os dois conceitos são
ferramentas complementares na busca pela superação das desigualdades de gênero, na medida em
que a interseccionalidade contribui para tornar visível as diferentes realidades nas quais se
encontram as mulheres, podendo assim, melhorar a própria estratégia política.
Na pesquisa de Marília Ortiz (2013) é possível perceber de que modo a interseccionalidade
tem se aproximado do campo das políticas públicas no Brasil, em especial a partir das Secretarias
que lidavam com conceitos como raça e gênero de modo transversal – sendo uma delas a já extinta
SPM responsável por coordenar os últimos dois relatórios do Brasil à CEDAW. A conclusão
apresentada pela autora é de que predomina no Brasil apenas uma superinclusão de termos e a
permanência de uma estrutura pensada para lidar com categorias monolíticas de discriminação. Tal
constatação é semelhante à concluão do estudo de Emanuela Lombardo e Mieke Verloo (2009)
sobre a possível institucionalização da interseccionalidade na União Européia. Nessa pesquisa, as
autoras concluíram que os marcos legais da União Europeia não estão de fato usando a
interseccionalidade em sua complexa e transformadora concepção, mas sim, justapondo categorias
de desigualdades sem, de fato, intersecta-las. Tais diagnósticos parecem ser semelhantes com o aqui
apresentado acerca da postura do Estado brasileiro quanto a implementação da CEDAW. É
coerente, portanto, a preocupação de Crenshaw de que não se confunda interseccionalidade com a
mera adição de conceitos (CRENSHAW, 2002, p. 175). E é esse entendimento limitado que parece
estar presente nas estratégias de gestoras(es) que buscam efetivar os direitos humanos das mulheres.
Por essa razão, vale retomar a crítica apresentada por Collins e Bilge (2016, p. 86) segundo a
qual as interpretações existentes na academia sobre interseccionalidade após sua institucionalização
minou parte do potencial crítico do conceito. Anna Carastathis também identifica esse mesmo
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
problema na forma como a interseccioalidade foi incorporada pela academia e no campo político:
Inicialmente, a interseccionalidade objetivava explicitamente contestar essas
dinâmicas representativas, discursivas e intersubjetivas dentro dos
movimentos antirracistas e feministas que buscavam transformar as relações
sociais. No entanto, muito do que a análise de Crenshaw revelou sobre
identidades, opressões e luta política foi esquecida – alguns dizem
sistematicamente (Bilge 2013) – à medida que a interseção tornou-se
integrada como um projeto intelectual institucionalizado. Embora a
interseccionalidade tenha se tornado um axioma da teoria e da pesquisa
feministas e tenha sido "institucionalizada" (Nash 2008) em discursos
acadêmicos e, cada vez mais, em discursos sobre direitos humanos e na
estrutura política, abundantes ou vagas referências à "interseccionalidade" se
proliferaram e podem obscurecer uma crítica sólida dos hábitos cognitivos
profundamente enraizados que informam o pensamento feminista e
antiracista sobre opressão e privilégio. Em outras palavras, paradoxalmente,
o sucesso da interseccionalidade pode marcar seu fracasso, a ampla viagem
do conceito se dá por sua apreensão superficial. (CARASTATHIS, 2016, p.
42)
Desse modo, é preciso que se construam análises críticas sobre a ampliação do uso da
interseccionalidade na academia, no campo das políticas públicas e do acesso aos direitos humanos.
O uso de termos como interseccionalidade ou de outras categorias para além do gênero em
documentos sobre os direitos humanos das mulheres não caracteriza, por si só, a presença de uma
visão interseccional.
Conclusão
A presente pesquisa analisou a CEDAW e os sete relatórios produzidos pelo Brasil para o
Comitê CEDAW acerca do acesso de todas as mulheres aos direitos contidos na Convenção. Tal
análise se deu com o próposito de averiguar se há a inclusão de uma perspectiva interseccional de
gênero e raça por parte do Estado brasileiro na busca por tornar eficaz o disposto na CEDAW.
A interseccionalidade foi cunhada em 1989 por Kimberlé Crenshaw, mas sua história
inciou-se nas décadas anteriores, em especial dentro do feminismo negro, a partir do
reconhecimento pelas mulheres negras das limitações do discurso do feminismo e do movimento
antirracista que repetidamente ignorava as necessidades e demandas das mulheres negras. No caso
do Estado brasileiro e a CEDAW, os dados demonstram que as propostas de igualdade e de uma
vida livre de violência para as mulheres ainda não é uma realidade, sendo ainda mais crítico quando
se trata de mulheres não-brancas. Ainda assim, não foi possível identificar uma abordagem
interseccional por parte do Estado brasileiro.
Considerou-se as críticas sobre o modo como a institucionalização da interseccionalidade
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
tem recorrentemente minado seu potencial crítico, bem como, o fato de que têm sido limitadas ou
inexistentes as estratégias que buscam abandonar a compreensão monolítica de conceitos como
gênero e raça. Dessa forma, reconhece-se como indispensável a ampliação acerca da complexidade
da interseccionalidade, bem como, a importância da construção de estratégias que leve seriamente
em consideração as interseccionalidades existentes no cotidiano da maior parte da população. É
possível identificar na interseccionalidade os elementos necessário para a construção de pesquisas
críticas e estratégias mais eficazes para o acesso das mulheres aos direitos humanos, mas isso só
será possível se estiver sempre presente o fato de que no âmago da interseccionalidade está a busca
por justiça social.
Referências
CAMPBELL, Meghan. CEDAW and Women’s Intersecting Identities: a Pioneering New Approach
to Intersectional Discrimination. Revista Direito GV. n. 11 [2], jul-dez, 2015. p. 479-504
CARASTATHIS, Anna. Intersectionality – Origins, Contestations, Horizons. Nebraska:
University of Nebraska Press, 2016.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir
de uma perspectiva de gênero. In: Racismos contemporâneos.Ashoka Empreendimentos Sociais e
Takano Cidadania (Orgs.). Rio de Janeiro: Takano Editora, 2003. p. 49-58.
_____. Mulheres em Movimento. Estudos Avançados. v. 17, nº 49, 1995, p. 117-132.
COLLINS, Patricia Hill. BILGE, Sirma Bilge. Intersectionality. Cambridge: Polity Press, 2016.
CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist
Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. The University of
Chicago Legal Forum. n. 140 p.139-167, 1989.
_____. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence Against Women of
Color. Stanford Law Review, Vol. 43, No. 6, Jul., 1991. p. 1241-1299
_____. Beyond Racism and Misogyny: Black Feminism and 2 Livre Crew. In: Feminist Social
Thought: A Reader. Diana Tietjens Meyers (org). New York and London: Routledge, 1997. p.
246-263
_____. Documento para o Encontro de Especialistas em Aspectos da Discriminação Racial
Relativos ao Gênero. Revista Estudos Feministas. Ano 10 (1). Florianópolis, 2002. p.171-188
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no
Brasil: uma breve discussão. In: Educação Anti-racista: caminhos abertos pela Lei federal nº
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
10.639/03. Brasília, MEC, Secretaria de educação continuada e alfabetização e diversidade, 2005. p.
39-62
GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje,
Anpocs, 1984. p. 223-244.
LOMBARDO, Emanuela. VERLO, Mieke. Institutionalizing Intersectionality in the European
Union? International Feminist Journal of Politics n. 11 v. 4 dez, 2009. p. 478-495
MOLINA, Carmen Expositó. ¿Qué es eso de la interseccionalidade? Aproximación al tratamiento
de la diversidad desde la perspectiva de género em España. Investigaciones Feministas. vol. 3,
2012. p. 203-222
ORTIZ, Marilia. Desvendando Sentidos e Usos para a Perspectiva de Interseccionalidade nas
Políticas Públicas Brasileiras. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2013. p. 1-15
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade. Porto
Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995. p. 71-99
TOMAZONI, Larissa. GOMES, Eduardo B. Afirmação Histórica dos Direitos Humanos das
Mulheres no Âmbito das Nações Unidas. Cadernos da Escola de Direito UNIBRASIL. vol. 2, nº
23, jul/dez, 2015, p. 44-59
An intersectional gender/ethnicity analysis about the limits in the effectiveness of the
convention on the elimination of all forms of discrimination against women (cedaw) in brazil
Since CEDAW's ratification in Brazil in 1984, several government actions have shown the intent to
follow the precepts of the Convention, such as gender equality in personal and professional life, as
well as the ending of violence against women. Statistically, this precepts have not been fulfilled, for
many different reasons. In this paper, we hipothesize that one of this reasons is the absence of an
intersecctional perspective. Considering that Brazil is mostly composed of black and brown people
and that the country has a large diversity of native people, the absence of an intersecctional
perspective that includes race as a category in CEDAW's text has a direct impact on the
invisibilization of the issues that affect the life of non-white women. We employ the concept of
intersectionality, first created by Kimberlé Crenshaw (1989) as an analytical tool. The concept
recognizes that there is a complex of oppresion structures that are multiple and simultaneous and
need to be analized as a system of disempowerment. Through the analysis of CEDAW's original
text and the reports made by the brazilian government (from 1984 to 2014) this research seeks to
assess how the precarious link between gender and race hurts the development of strategies towards
the ending of discrimination against women, with the aim of contributing towards an intersectional
perspective that can increase CEDAW's eficiency in Brazil.
Keywords: Gender. Ethnicity. Intersectionality. CEDAW. Human Rights.